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MONOGRAFIA - ALEX

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26
PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL
ALEX SANDRO BRAZ SILVEIRA
A PROTEÇÃO DAS VÍTIMAS E A PENALIZAÇÃO DA 
“REVENGE PORN” NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Feira de Santana-BA
2018
ALEX SANDRO BRAZ SILVEIRA
A PROTEÇÃO DAS VÍTIMAS E A PENALIZAÇÃO DA 
“REVENGE PORN” NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO
Feira de Santana-BA
2018
RESUMO
O presente trabalho aborda a revenge porn que se refere a divulgação e/ou publicação não autorizada de imagens, sons, vídeos íntimos, e-mails ou mesmo mensagens escritas enviadas por aplicativos ou em rede sociais, sob a ótica do Direito Penal Brasileiro bem como na perspectiva da violação de direitos fundamentais da pessoa, tais como a proteção a imagem, privacidade, honra e intimidade. Busca uma compreensão do que é a revenge porn, suas características e meios de prática, e, como o ordenamento jurídico brasileiro busca combater esse delito e protege as vítimas submetidas a essa violência. Perfaz um estudo da pornografia da vingança em seus aspectos históricos no mundo e no Brasil, conceito e suas características como violência em decorrência de relação íntimas. Verifica a atual situação do ordenamento jurídico brasileiro, em sede de Direito Penal, no que concerne ao combate e criminalização dessa prática criminosa, além de possíveis inovações legislativas e projetos de leis em tramite para penalização e punição do infrator, e, como deve ocorrer a proteção as vítimas da revenge porn, com previsão dos mecanismos eficientes a coibir a prática e, por conseguinte, de garantir a minimização dos danos causados. Utilizou-se o método indutivo, com estudo e pesquisa doutrinária e jurisprudencial a respeito da conceituação da vingança pornográfica, suas características e aspectos determinantes, analisando o ordenamento jurídico brasileiro no tocante ao tema, com pesquisa bibliográfica na doutrina pátria de Direito Constitucional, Direito Penal – Parte Geral, tendo como aporte teórico BUZZI, Vitória de Macedo (2015), GORGA, Maria Luiza (2018), PRADO, Luiz Régis (2016), VALENTE, Mariana Giorgetti. NERIS, Natália. RUIZ, Juliana Pacetta. BULGARELLI, Lucas (2016), dentre outros, que permitiram, através de suas obras a abordagem do tema de forma didática, sendo possível a compreensão dos principais aspectos pertinentes e necessários para a confecção do presente estudo.
Palavras-chave: Revenge porn. Vingança pornográfica. Proteção aos direitos fundamentais. Imagem, honra e intimidade. Crimes na internet. Direito penal. Criminalização e responsabilização do autor.
SUMÁRIO
5INTRODUÇÃO
71 A REVENGE PORN OU PORNOGRAFIA DE VINGANÇA
81.1 ORIGEM HISTÓRICA E ASPECTOS IMPORTANTES DA REVENGE PORN
151.2 DISTINÇÃO ENTRE PORNOGRAFIA NÃO-CONSENSUAL E REVENGE PORN
201.3 A REVENGE PORN COMO FORMA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO E AS CONSEQUÊNCIAS PARA AS VÍTIMAS
262 A PORNOGRAFIA DA VINGANÇA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E SUA CRIMINALIZAÇÃO EM SEDE DE DIREITO PENAL
292.1 A VINGANÇA PORNOGRÁFICA E A LEI MARIA DA PENHA
322.2 LEI Nº 12.737, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2012: “LEI CAROLINA DIECKMANN”
342.3 A VINGANÇA PORNOGRÁFICA E O MARCO CIVIL DA INTERNET
373 PROJETOS DE LEIS E INOVAÇÕES LEGISLATIVAS PARA PENALIZAÇÃO DA VINGANÇA PORNOGRÁFICA
373.1 A LEI MARIA DA PENHA VIRTUAL: PROJETO DE LEI Nº 5.555/2013
393.2 PROJETO DE LEI DO “ESTUPRO VIRTUAL”: PROJETO 6.630/2013
413.3 PROJETOS DE LEI CORRELATOS
444 CONSIDERAÇÕES FINAIS
475 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem como objeto A PROTEÇÃO DAS VÍTIMAS E A PENALIZAÇÃO DA “REVENGE PORN” NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO, abordando sua conceituação, aspectos históricos, a distinção entre a pornografia não consensual e a pornografia da vingança, como o ordenamento jurídico brasileiro trata dessa forma de violência de gênero, as leis existentes em nosso país e como as mesmas abordam o tema, e prossegue com um estudo sobre os projetos de leis que visam alterar, seja a Lei Maria da Penha, seja o Código Penal, para fins de criminalização do delito.
Neste ínterim, o trabalho de pesquisa voltou-se para o seguinte questionamento: O que é a pornografia da vingança e quais medidas protetivas às vítimas desse crime estão presentes no ordenamento jurídico brasileiro?
A revenge porn que pode ser traduzida para o português como “pornografia de vingança”, refere-se a prática de divulgação ou publicação não autorizada, na internet, blogs, redes sociais ou aplicativos de conversa, de imagens, vídeos, conversas, sons, mensagens que contenham contexto sexual, erótico ou íntimo da vítima.
Muito se discute sobre a motivação ou o objetivo por trás da pessoa que, primeiramente, sem autorização, divulga ou publica o conteúdo, e das dezenas de outras pessoas que, tendo acesso ao conteúdo o compartilham na rede, causando danos irreparáveis na vida das vítimas. As conclusões, todavia, parecem-nos absolutamente superficiais. O trabalho aqui apresentado, muito além de ser uma pesquisa exploratória, propõe-se a contribuir com densidade ao tema da pornografia de vingança.
No primeiro capítulo tratamos da revenge porn, sua conceituação, análise dos seus aspectos e origem histórica, além da compreensão da distinção necessária entre os institutos da revenge porn e da pornografia não-consensual, e, por fim, buscando uma compreensão de que a pornografia da vingança é uma forma de violência de gênero, devendo ser tratada de forma dura e dentro dos rigores da Lei Penal e da Lei Maria da Penha.
No segundo capítulo, apresenta-se a pornografia da vingança no seio do ordenamento jurídico brasileiro, analisando as ferramentas de proteção das vítimas e punição dos infratores, com enfoque no que já existe de lei sobre o tema, e de que forma as leis existentes tratam em seus textos.
O terceiro e último capítulo pretende expor, primeiramente, os projetos de leis em tramite no congresso que possuem a finalidade de tipificar como um crime sexual a pornografia a vingança, seja com alteração do Código Penal, criando-se um tipo novo, ou mesmo com a inclusão na Lei Maria da Penha, estendendo, assim, a proteção já existente para os casos onde a violência praticada é realizada na rede mundial de computadores.
O objeto principal desta pesquisa é o fenômeno da pornografia de vingança, com o objetivo de verificar sua utilização como mecanismo para reprodução da violência de gênero perpetrada contra a mulher pelo homem. Para tanto, será utilizado o método de abordagem dedutivo, empregando, como técnica de pesquisa, levantamentos de material bibliográfico, análise de reportagens veiculadas em grandes jornais, levantamentos de dados, pesquisa jurisprudencial e análise legislativa.
Como hipótese principal desta pesquisa, tem como enfoque determinante a compreensão de que a pornografia da vingança ou revenge porn consiste no ato de divulgação ou distribuição de imagens sexuais ou sensuais sem o consentimento, através da rede mundial de computadores ou aplicativos de conversas com o objetivo de vingança ou humilhação, violando assim a honra, imagem e privacidade da vítima. Apesar de uma prática extremamente comum em nossa sociedade, onde diariamente vítimas, em sua maioria mulheres, sofrem com a destruição de sua imagem, ainda não há em nosso ordenamento jurídico instrumentos legais próprios para o julgamento e punição desta conduta.
Necessário e fundamental ressaltar que trata-se de um tema ainda recente em nossa sociedade, principalmente nos meios acadêmicos, onde muito pouco material fora produzido, sem publicação de doutrinas ou estudos, onde toda a pesquisa lastreou em buscar fontes que não comprometam a veracidade da informação disponibilizada.
1 A REVENGE PORN OU PORNOGRAFIA DE VINGANÇA
Compreensível é, que no concernente aos conflitos, agressões e formas de violência que podem vir a ocorrer durante um relacionamento, seja ele heterossexual ou entre pessoas do mesmo sexo, muitas são as formas buscadas para machucar e ferir, seja física ou psicologicamente, mas, com o advento da internet e o avanço das tecnologias de comunicação e da criaçãodas redes sociais, uma nova prática de violência surgiu, muitas vezes tratada de forma silenciosa, como uma brincadeira em grupo de conversas, e que, pela vergonha da vítima sequer acaba entrando nas estatísticas de crimes em sede de violência doméstica.
A revenge porn que pode ser traduzida para o português como “pornografia de vingança”, refere-se a prática de divulgação ou publicação não autorizada, na internet, blogs, redes sociais ou aplicativos de conversa, de imagens, vídeos, conversas, sons, mensagens que contenham contexto sexual, erótico ou íntimo da vítima.
Vitória de Macedo Buzzi assim conceitua a revenge porn:
O termo “pornografia de vingança”, tradução da expressão em inglês “revene porn”, nomeia ato de disseminar, sobretudo na internet, fotos e/ou vídeos privados de uma pessoa, sem a sua autorização, contendo cenas de nudez ou sexo, com o objetivo de expô-la através da rápida viralização do conteúdo, e assim causar estragos sociais e emocionais na vida da vítima. (BUZZI, 2015, p. 29)
Matheus Fellipe de Paula Silva e Sorhaya Allana Rodrigues Ferreira (2018) compreendem a revenge porn como “trata-se de meio de vingança, intencional e que objetiva causar danos morais e psicológicos à parte lesada. A divulgação desse material busca envergonhar, humilhar e causar pânico à vítima dele”.
Leciona Lorena de Andrade Trindade que a revenge porn pode ser compreendida como:
O ato de disseminar imagens íntimas (sejam fotos ou vídeos) de alguém com quem esteja ou tenha se relacionado (paqueras, parceira ou parceiro sexual frutos de relacionamentos casuais ou duradouros, mulher ou marido, namorada ou namorado, por exemplo), sem consentimento ou conhecimento da outra parte. (TRINDADE, 2017, p. 19)
Ana Paula Schwelm Gonçalves define revene porn “divulgar, através da internet, fotos ou vídeos contendo cenas de nudez ou sexo, sem autorização da pessoa que está sendo exposta, com o propósito de causar dano à vítima.” (GONÇALVES, 2017).
Em igual entendimento conceitua Cristhiano Botelho Arrais a revenge porn:
Arriscaria dizer que o pornô vingativo, seria uma junção do cyberbulling e sexting, já que estas duas condutas envolvem a exposição de material de cunho sexual, o não consentimento da pessoa que aparece nas imagens e a intenção do autor em prejudicar e destruir a honra da sua ex-companheira. (ARRAIS, 2014)
Possível, destarte, compreender a revenge porn ou pornografia de vingança como a prática dolosa de divulgação ou publicação de imagens, vídeos, vídeos, mensagens, textos de caráter íntimo e privado, com teor erótico e sensual, na internet, redes sociais, aplicativos de conversa ou por qualquer outro meio disponível, movido por sentimento de ciúmes, raiva ou vingança, com o fim atingir a vítima, mediante destruição de sua honra social, imagem e privacidade.
1.1 ORIGEM HISTÓRICA E ASPECTOS IMPORTANTES DA REVENGE PORN
Quando se pensa em violência praticada contra vítimas, sejam elas homens ou mulheres, apesar destas serem, em sua grande maioria, as que mais sofrem com a vingança de pornografia, mister destacar que a prática deste ato não remonta tão somente ao surgimento da internet, ao contrário, antes mesmo da utilização de sites e redes sociais, esse tipo de violência já existia, inclusive não de forma restrita, mas com alcance público, seja por meio de revistas ou publicações de fotografias.
Conforme ensinamentos de Gonçalves (2017), a origem do que conhecemos hoje como revene porn nos leva a década de 1980, quando, nos Estados Unidos, uma publicação masculina passou a circular uma seção específica em suas páginas denominada “Beaver Hunt”, ou em tradução para o português “caçada ao castor”. Esta seção tinha como objetivo a divulgação, em suas páginas, de fotos de mulheres não famosas, nuas ou seminuas, em poses cotidianas. Tal ideia caiu como uma bomba na sociedade americana, que se viu inundada de imagens de mulheres, expostas em situações íntimas ou até mesmo em locais públicos, sem que as mesmas jamais tivessem autorizado a captação ou publicação da fotografia. Verifica-se, já neste momento, características da revenge porn, embora, há época não se mostrou possível verificar o dolo de todos os autores das publicações, mas, se pode constatar a presença de alguns requisitos da vingança de pornografia, quais sejam, publicação de imagens das vítimas em situações íntimas, com conteúdo sensual ou erótico, não autorização ou conhecimento da divulgação das referidas imagens pelas vítimas.
Segundo Buzzi (2015), nos anos 2000, com o advento da internet e com um número maior de pessoas acessando a rede mundial de computadores e desenvolvimento de novas tecnologias de fotografias e vídeos, verificou-se que o interesse de quem acessava a internet por determinados tipos de pornografia aumentou, e, com isso, o número de sites com conteúdo de vídeos e imagens de conteúdo pornográficos não autorizadas aumentou, ou seja, a divulgação de cenas de sexo ou intimidades não autorizadas não só servia como vingança, mas como objeto de interesse do público.
Nesse sentido descreve Vitória de Macedo Buzzi:
Apesar de não haver remissão exata do início da prática de pornografia de vingança, em 2000, o pesquisador italiano Sergio Messina notou crescer, entre os usuários da Usenet78, uma das mais antigas redes de comunicação por computador, um novo gênero de pornografia que se destacava dos marcadores tradicionais de hardcore e softcore por sua autenticidade e realismo total, nomeada por ele “real core pornography” (pornografia amadora, em tradução livre): tratava-se de fotos e vídeos de ex-namoradas dos usuários do site, compartilhadas entre os próprios membros. (BUZZI, 2015, p. 31)
Conforme ensina Buzzi (2015), em meados do ano de 2008 o número de casos de divulgação de imagens ou vídeos íntimos aumentou ainda mais, vez que agora, qualquer pessoa com uma câmera digital portátil podia produzir todo tipo de conteúdo digital, e, não havia, ainda, mecanismos de proteção e combate a esse tipo de conteúdo, a internet havia se tornado “terra de ninguém”, sem regras quanto a questão da revenge porn ou ao conteúdo pornográfico não autorizado, que no final caracterizam-se por serem a mesma coisa, ou as duas faces de uma mesma moeda.
Complementa Vitória de Macedo Buzzi quanto a problemática do aumento de números de revenge porn ou divulgação de vídeos e imagens íntimas sem autorização na internet em meados de 2008:
No ano de 2008, o site de pornografia XTube informou em sua página que estava recebendo de duas a três reclamações semanais de mulheres expostas em vídeos hospedados no site, cuja publicação não fora consensual, alegando serem vítimas de ex-parceiros. Começam, então, a surgir sites e blogs dedicados ao novo “gênero de pornografia” – a pornografia não-consensual –, que misturavam vídeos reais, submetidos pelos usuários, e vídeos de simulação, filmados profissionalmente pela indústria pornográfica. (BUZZI, 2015, p. 31)
Baseado nos ensinamentos de Lira (2014) a divulgação não autorizada de vídeos ou imagens íntimas com conteúdo erótico, sexual ou sensual na internet, apesar de presente e de conhecimento público, ainda era tratado como uma prática reservada, existente tão somente na chamada deep web (conjunto de conteúdos da internet que não são acessados diretamente por sites de busca, com acesso restrito), até que nos idos do ano de 2010 dois fatos podem ser considerados como relevantes para a revelação pública do que acontecia na rede mundial de computadores: a condenação à prisão de Joshua Ashby, neozelandês, pela prática de revenge porn contra sua ex-namorada, e a criação do site IsAnyOneUp.com, cuja finalidade era exclusiva a divulgação e publicação de conteúdo pornográfico.
Aduz nesse sentido Vitória de Macedo Buzzi:
Em 2010, é dada a primeira sentença de prisão por publicação online de conteúdo pornográfico com objetivo de vingança. Joshua Ashby, neozelandês de então 20 anos, após o término do relacionamento com sua ex-namorada, ameaçou-a de morte e cortou todos seus vestidos. Em seguida, acessoua conta pública que a garota mantinha no site Facebook e, fazendo-se passar por ela, alterou a foto de perfil por uma foto nua que a ex-parceira o enviara durante o relacionamento, trocando ainda a senha da conta para que a foto não pudesse ser apagada. Doze horas depois, o site encerrou a conta, mas o conteúdo já havia viralizado por toda a internet. (BUZZI, 2015, p. 31)
E, acrescenta ainda Buzzi (2015) acerca do marco inicial para a preocupação com revenge porn na internet:
Apesar dos precedentes, foi apenas após a criação do site “IsAnyoneUp” (“Tem alguém afim?”, em tradução livre) pelo australiano Hunter Moore que a pornografia de vingança ganhou a atenção internacional da mídia. O site, que se auto intitulava “especializado em pornografia de vingança”, permitia aos usuários enviarem fotos de pessoas em sua maioria mulheres (ex-parceiras, conhecidas, desconhecidas, famosas, etc.) nuas que, após certificar de que vítima era maior de 18 anos, disponibilizava a foto para o acesso livre de todos os visitantes. Ainda, foi o primeiro a incluir, juntamente com as fotos, o nome completo, emprego, endereços e perfis das redes sociais da vítima. (BUZZI, 2015, p. 31)
Compartilhando desse raciocínio, escreve Ana Paula Schwelm Gonçalves sobre o conhecimento público da prática de revenge porn no mundo:
Em 2010, a pornografia de vingança entrou oficialmente na pauta da sociedade norte-americana diante da criação do site IsAnyOneUp.com, cujo serviço resumia-se à publicação de conteúdo pornográfico disponibilizado anonimamente pelos próprios usuários. Não demorou para a aplicação ser dominada por conteúdo sexual não autorizado e ainda protegido pelo anonimato, o que acabou por provocar uma investigação do FBI em razão da suspeita de atividades de hackers na obtenção do conteúdo íntimo das vítimas e de sua posterior publicação no site. Seu fundador, o americano Hunter Moore, por algum tempo escapou ileso às investidas judiciais de vítimas, diante da ausência de legislações específicas para regular o assunto. Mas, em pouco tempo, a sociedade norte-americana passou a repreender os sucessivos escândalos de vazamentos de fotos pornográficas de pessoas tanto famosas como comuns, o que, enfim, levou ao encerramento de suas atividades dois anos depois, após a prisão de Moore por outros crimes praticados por aquele que ficou conhecido como o ”o homem mais odiado da internet”. (GONÇALVES, 2017)
Aduz Buzzi (2015) que após um longo processo de apuração e julgamento, tão somente em 2012 o americano Hunter Moore e seu cúmplice Charles Evans foram presos, sob acusação de crimes de divulgação de vídeos e imagens de mulheres sem autorização, com fim de obter lucro. No mesmo ano foi criado o site “endrevengeporn.org” por um grupo americano que defendia a tese que a revenge porn trata-se de um crime sexual, e, portanto, deveria ser combatido. No ano de 2013, no Estado americano da Flórida, foi proposta no mundo a primeira lei para tipificação da revenge porn como um crime grave, imputando ao infrator a pena de até cinco anos de prisão em regime fechado. Mas, embora todo o engajamento e apoio popular, o projeto foi arquivado, sem aprovação da lei.
De forma pioneira, conforme Buzzi (2015), o Estado de Israel, torna-se a primeira nação a possuir em seu ordenamento jurídico a tipificação da revenge porn como um crime, tratando ao autor do crime como um criminoso sexual, equiparado a quem estupra, assedia ou violenta sexualmente alguém. Com a repercussão e cada vez maior o conhecimento mundial acerca da prática desse tipo de comportamento delituoso, os Estados Unidos e outros países passaram, seja pela aplicação da Lei, seja pela criação de órgãos e entidades, a intensificar a perseguição dos crimes sexuais praticados na internet, seja pelo assédio, seja pela pedofilia, seja pela revenge porn.
Leciona nesse interim Vitória de Macedo Buzzi:
Em fevereiro do ano de 2015, em decisão noticiada mundialmente, Kevin Bollaert, criador e moderador de sites dedicados exclusivamente a divulgação e gerenciamento de arquivos de pornografia de vingança, é condenado pelo Estado da Califórnia (EUA) a 18 anos de prisão por crimes relacionados a roubo de identidades e extorsão.
A crescente repercussão que a pornografia de vingança alcançou na mídia, impulsionada inclusive pelos debates iniciados pelos movimentos feministas, expôs diversas falhas procedimentais incorridas por empresas de serviços online e redes de relacionamentos ao serem confrontadas com casos reais. Buscando coibir novas práticas, tais empresas editaram normas mais severas relacionadas ao compartilhamento de material pornográfico não autorizado.
Conforme Vitória de Macedo Buzzi (2015, p. 34) “no ano de 2016, 36 estados americanos editaram ou já dispunham de leis criminalizando quem publica sem consentimento conteúdo erótico, seja com a intenção de revenge porn ou não”.
É o que explica Vitória de Macedo Buzzi:
Diversas nações também têm iniciado o combate ao compartilhamento de pornografia não-consensual, tomando medidas legislativas neste sentido. Atualmente, países como as Filipinas, Japão, França, Inglaterra e o País de Gales, por exemplo, bem como o estado australiano Victoria e dezesseis estados norte-americanos, adaptaram ou produziram leis específicas para o tratamento de pornografia não-consensual. (BUZZI, 2015, p. 35)
No Brasil, apesar de todo o clamor mundial ante o número imenso de vítimas e casos, a revenge porn não possui até a presente data nenhuma legislação específica para punição do infrator, aplicando-se por vezes os artigos 139 e/ou 140 do Código Penal, ou seja, crime de difamação ou injúria, respectivamente. Mesmo com o advento da Lei do Marco Civil da Internet, falta previsão legal para tipificação e penalização do crime de revenge porn no Brasil, o que demonstra um certo atraso legislativo do Estado Brasileiro no concernente a responsabilização do autor, restando poucas alternativas de proteção as vítimas desse tipo de crime.
Nesse sentido é o esclarecimento de SILVA e FERREIRA:
No Brasil, as discussões ainda são incipientes, sendo que o início da preocupação com os crimes virtuais se deu apenas na última década, com o aumento e a popularização da Internet, impondo a necessidade de assegurar os direitos das vítimas de crimes cibernéticos. No contexto nacional, o diploma de maior relevo sobre o tema é a Lei nº 12.737/2012, conhecida popularmente como Lei Carolina Dieckmann, a qual tipifica alguns delitos no ambiente cibernético, tais como produção e disseminação de códigos maliciosos e a clonagem de cartões, trazendo alterações ao Código Penal brasileiro, ao definir certas condutas como crimes eletrônicos. A penalidade básica dos crimes prevê detenção de três meses a um ano e multa. Alguns crimes não se enquadram especificamente nesta lei por já estarem previstos na Constituição Federal, como, por exemplo, crimes de danos morais, falsa identidade, entre outros. (SILVA, et al. 2016)
Sobre a ausência de lei específica ou previsão legal no ordenamento jurídico pátrio, seja no Código Penal, seja na Lei Maria da Penha, expõe Ana Paula Schwelm Gonçalves:
No entanto, como não há, no Brasil, legislação específica para regular a questão, seja no âmbito civil, seja na esfera penal, doutrina e jurisprudência tentam amoldar-se como podem, face a um ordenamento jurídico precário em matéria digital. A começar pela forma como essa conduta passou a ser referenciada –fruto de uma tradução literal da língua inglesa, o que, por si, já traz consequências sociais relevantes. (GONÇALVES, 2017)
E complementa seu raciocínio a autora Ana Paula Schwelm Gonçalves:
Quando as vítimas são adultas, a conduta que compreende o conceito de “vingança pornô” pode abranger um rol extensivo de crimes, a depender do caso. Em geral, estão previstos no Código Penal: (i) injúria e (ii) difamação, (iii) ameaça, (iv) extorsão, (v) furto de dados eletrônicos, (vi) falsidade ideológica e até mesmo (v) estupro, para casos mais graves relacionados à possibilidadede difusão dessas imagens. Isso significa que, em alguns casos, o ônus de promover a ação é da vítima, que deverá constituir advogado para apresentar uma queixa-crime, o que atrai o o prazo de decadência de seis meses para que se exerça o direito de queixa, a partir do momento que toma conhecimento do autor do delito.
Tais infrações são processadas pela Lei 9.099/95, que trata de crimes de menor potencial ofensivo, e julgados nos Juizados Especiais Criminais (JECRIM), nos quais se denota que os procedimentos são mais próximos de uma conciliação do que de um julgamento. (GONÇALVES, 2017) 
Faz-se necessário, portanto, compreender que ainda não há, em nosso ordenamento jurídico, no que concerne ao Direito Penal, um dispositivo específico referente a revenge porn, utilizando-se, por vezes, dispositivos legais extremamente amenos, muitas vezes em sede de Juizados Especiais/Lei 9.099/95 que acabam por aplicar penas meramente simbólicas, mas que não resultam na finalidade principal da lei penal que seria a penalização de uma conduta considerada imprópria, referente ao autor, e a prevenção social do fato, no tocante a sociedade como um todo.
Neste interim destaca Emerson Wendt:
Sob o ponto de vista do direito penal, a tipificação adequada à hipótese de postar, divulgar, compartilhar na Internet fotos íntimas de ex-parceira(o) pode configurar os delitos previstos nos arts. 139 e 140 do Código Penal, respectivamente, difamação (pena de 3 meses a 1 ano) e injúria (pena de 1 a 6 meses), com possibilidade de aumento de pena do art. 141, III, ou seja, a utilização de meio que facilite a divulgação da difamação ou da injúria. A situação fica evidente, como no caso Rose Leonel, quando o compartilhamento de fotos íntimas se dá em conjunto com textos retratando a vítima como prostituta, “expondo-a a para angariar clientes e programas”. (WENDT, 2016, p. 1)
O que se percebe, em nosso país, com o avanço da tecnologia de comunicação (smartphones) aliada ao desenvolvimento das redes sociais (Facebook, WhatsApp, Instagram, Snapchat) é que os casos são extremamente frequentes, para não dizer que diários, mas seja pela falta de informação, seja pela ausência de educação em relação ao tema ou por desrespeito mesmo, a revenge porn é tratada com risadas e expressões de criminalização e críticas as vítimas, principalmente, quando estas são mulheres, e os autores homens, independente da possível responsabilização pelo reenvio ou divulgação das imagens, se a internet é realmente terra de ninguém, no que se refere a revenge porn, no Brasil, isso é ainda mais comprovado.
Lorena de Andrade Trindade sobre o aumento de casos de revenge porn no Brasil, acrescenta:
O aumento da disseminação de imagens, que são fruto da troca de sextings ou do registro das relações sexuais, se dá também em função do crescimento do acesso às novas tecnologias, aos dispositivos que capturam e enviam as imagens. Tablets e smartphones, por exemplo, conseguem registrar e enviar fotos e vídeos em questão de segundos. Gomes (2014) afirma que embora existam registros da pornografia de vingança ainda nos anos 1980, é com o advento da internet que o assédio é extensivamente multiplicado. “O aparecimento das mídias sociais (aplicativos de bate-papo e redes sociais) também contribuiu devido à precária regulamentação, principalmente no Brasil” (GOMES, 2014, p. 7). Em “As genis do século XXI: análise de casos de pornografia de vingança através das redes sociais”, a jornalista Marilise Mortágua Gomes dedicou sua pesquisa à investigação das configurações de casos de pornografia de vingança nas redes sociais. (TRINDADE, 2017, p. 28)
A revenge porn no Brasil, seja pela ausência de punição severas, seja pela própria cultura social onde, ainda a mulher é vista como uma propriedade do homem, tratando-se pois de um problema de violência de gênero, acaba por, na maioria das vezes apontar a vítima como culpada pela divulgação do conteúdo, pois, como característica da revenge porn, há um consentimento inicial da vítima para a realização do vídeo, imagens ou ambos, por vezes em razão da confiança que possui no seu parceiro/parceira, mas que nunca consentiu a divulgação para terceiros ou mesmo para sites de internet. 
Eis, portanto, um dos grandes cernes emblemáticos da revenge porn: como tratar de um problema, que, em sua maioria das vezes, pela sociedade não é visto como um fato que deva causar responsabilização ao autor, mas é entendido de forma tão divergente, que pune a vítima, a responsabiliza, a julga e a incrimina.
1.2 DISTINÇÃO ENTRE PORNOGRAFIA NÃO-CONSENSUAL E REVENGE PORN
 Como todo delito penal, a revenge porn também possui uma configuração de atos que a caracterizam como tal, sob risco de ser confundida com a “pornografia não-consensual” ou o “estupro virtual”, gênero do qual é uma espécie. Há de se compreender a diferença entre o gênero “pornografia não-consensual” com a revenge porn. 
A pornografia não-consensual, também conhecida como “estupro virtual”, se refere a distribuição de imagens ou vídeos sexuais de um indivíduo sem o seu consentimento, destacando que a captação ocorre sem o conhecimento, autorização ou permissão da vítima, mediante utilização de equipamentos escondidos. Na revenge porn, no entanto, em um primeiro momento, há o conhecimento, a autorização e a permissão da vítima para a captação das imagens sensuais, eróticas ou sexuais ou vídeos do ato sexual, ou mesmo de seu corpo, na maioria das vezes na constância de um relacionamento amoroso, não havendo, contudo, a autorização ou permissão para a publicação ou divulgação de suas imagens/vídeos.
Acerca desta distinção entre pornografia não-consensual e revenge porn assevera Vitória de Macedo Buzzi:
Apesar de comumente se utilizarem os termos “pornografia de vingança” e “pornografia não-consensual” como sinônimos, a pornografia de vingança é uma espécie do gênero conhecido como “pornografia não-consensual” ou “estupro virtual”, que envolve a distribuição de imagens sexualmente gráficas de indivíduos sem o seu consentimento. Este gênero inclui desde fotos/vídeos registrados originalmente sem o consentimento da pessoa envolvida –como gravações escondidas ou gravações de agressões sexuais –, bem como fotos/vídeos registrados com consentimento, geralmente no contexto de um relacionamento privado ou até mesmo secreto –como gravações disponibilizadas consensualmente a um parceiro que, mais tarde, distribui-as sem o consenso do outro envolvido. É este último caso que se convencionou chamar pornografia de vingança. (BUZZI, 2015, p. 30)
Outra característica distintiva entre a revenge porn e a pornografia não-consensual trata exatamente do dolo do autor, que é específico. 
Na pornografia não-consensual, este se perfaz em publicar o conteúdo, seja imagens/vídeos ou qualquer outro de conteúdo com o único fim a divulgação do conteúdo, sem a intenção de vingança, de humilhação ou exposição da vítima por razões pessoais, vez que, o próprio conteúdo foi obtido de forma não-autorizada, não-consensual, muitas vezes por invasão de computadores, celulares ou locais onde as imagens/vídeos estejam armazenadas, ocorrendo, inclusive, tentativa de extorsão mediante chantagem da vítima. 
Um caso muito conhecido para exemplificar a pornografia não-consensual foi o da atriz Carolina Dieckmann, ocorrido em maio de 2012, quando, em razão da invasão de seu computador pessoal, e, por conseguinte, a divulgação na internet de trinta e seis fotos íntimas, em razão do não pagamento da quantia de dez mil reais.
Verifica-se, pois, que no caso da pornografia não-consensual, não há o consentimento da vítima em fornecer o conteúdo, seja do tipo que for, não há o conhecimento da mesma que o conteúdo foi obtido, não há a sua autorização para a divulgação, e o dolo do agente não está relacionado a nenhum tipo de motivação em decorrência de relacionamento amoroso anterior, seja do tipo que for.
Quando da resolução do caso Carolina Dieckmann, as autoridades policiais acabaram por se deparar frente a um obstáculo jurídico: em qual dispositivoos mesmos seriam incursos: Tentativa de extorsão, furto, invasão, difamação? No fim, os autores do delito, ante o vácuo legislativo existente a época, foram acusados tão somente de furto, extorsão e difamação.
Nesse sentido leciona Leide de Almeida Lira apud CRESPO (2013):
A ação judicial promovida por Carolina deparou-se, porém, com um obstáculo jurídico, o mesmo que vem atenuando a punição em casos semelhantes que ocorreram há mais de uma década no Brasil. “Se eu invadisse uma máquina e me valesse de informações confidenciais para ter um proveito financeiro, eu poderia responder por concorrência desleal, por extorsão, mas não pela invasão”. [...], Por isso, os invasores responderão por crimes que a legislação brasileira já tipifica: furto, extorsão e difamação. (LIRA, 2014, p. 39)
Esse episódio serviu como um marco temporal no que concerne a criminalização dos crimes cometidos na internet, eis que, acabou por demonstrar de forma muito clara a necessidade do Estado brasileiro em legislar sobre o tema, advindo, por consequência na promulgação da Lei 12.737/12 | Lei nº 12.737, de 30 de novembro de 2012, que dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos; altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, acrescendo os arts. 154-A e 154-B.
Significativas mudanças também ocorreram nos artigos 266 e 298 do Código Penal Brasileiro, tipificando a interrupção ou perturbação de serviço informático, telemático ou de informação de utilidade pública e a falsificação de cartões de débito e crédito, respectivamente. Mister trazer à baila do presente estudo o inteiro teor da referida Lei, in verbis:
LEI Nº 12.737, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2012.Dispõe sobre a tipificação criminal de delitos informáticos; altera o Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal; e dá outras providências.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
”Invasão de dispositivo informático”
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
§ 4º Na hipótese do § 3º, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidas.
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; 
IV - Dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
 Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.
Art. 3o Os arts. 266 e 298 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, passam a vigorar com a seguinte redação: 
“Interrupção ou perturbação de serviço telegráfico, telefônico, informático, telemático ou de informação de utilidade pública”
Art. 266. ........................................................................
§ 1º Incorre na mesma pena quem interrompe serviço telemático ou de informação de utilidade pública, ou impede ou dificulta-lhe o restabelecimento.
§ 2º Aplicam-se as penas em dobro se o crime é cometido por ocasião de calamidade pública. 
“Falsificação de documento particular”
Art. 298. ........................................................................
“Falsificação de cartão”
Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o cartão de crédito ou débito. 
Art. 4º Esta Lei entra em vigor após decorridos 120 (cento e vinte) dias de sua publicação oficial. (BRASIL. Lei 12.737, nov. 2012 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12737.htm)
Com as informações anteriores acerca das características do gênero “pornografia não-consensual” faz-se possível, agora, um parâmetro com a espécie “revenge porn”, que, não se refere a mesma situação. Nesta, como já mencionado alhures, não há o furto ou obtenção indevida do conteúdo erótico, vez que há um consentimento da vítima para a produção das imagens e/ou vídeos, por se tratar de um fato concernente a condição anterior de existência de um relacionamento amoroso, seja da forma que for e com o lapso temporal que tiver. Na revenge porn a publicação e/ou divulgação do conteúdo também não é autorizado ou de conhecimento da vítima.
A última condição distintiva refere-se ao dolo do agente, qual seja, ele não busca proveito financeiro, não há intenção de ganho material, todo o dolo está voltado para uma situação de vingança, de revanche ou puramente humilhação da vítima. Pode haver a chantagem, mas esta não está ligada a vantagens materiais, mas sim, a exigência de reatar o relacionamento ou mesmo vantagens sexuais contra a vítima.
Nesse sentido escreve Vitória de Macedo Buzzi:
Nos casos que chegaram à mídia, vídeos e fotos gravados pela vítima ou em que figuram a vítima, sobretudo mulher, juntamente com seu(s) parceiro(s) sexual(is) ou destinados somente ao(s) seu(s) parceiro(s) sexual(is), nunca pretendendo alcançar todo e qualquer público, são disponibilizados a terceiros pelo(s) próprio(s) parceiro(s) ou ex-parceiro(s), sem o consentimento da envolvida, juntamente com informações pessoais da vítima, com o objetivo de humilhá-la publicamente, expondo-a a linchamento moral, sobretudo após o término do relacionamento. As vítimas desta divulgação não-consensual, expostas na internet para o livre acesso de qualquer interessado, passam a ser humilhadas, intimidadas, perseguidas e assediadas, em um ciclo conhecido pela teoria feminista como slut-shaming
. (BUZZI, 2015, p. 30)
Ainda sobre o dolo do agente na revenge porn escreve Valéria Diez Scarance Fernandes:
A “revenge porn” no âmbito afetivo ocorre por um motivo: porque o homem não aceita o NÃO da parceira. Então, para se assegurar de que ela pague pelo que fez, em uma versão cibernética da tradicional ameaça “se não for minha não será de mais ninguém” – o homem esmera-se em preparar mensagens, postar fotos ou vídeos em sites pornográficos, emails de amigos, conhecidos, até no ambiente escolar dos filhos, para denegrir e macular de morte a imagem da ex-parceira. (FERNANDES, 2016)
Para Larissa Soares Duarte de Lima e Silva, na revenge porn o dolo do agente é específico em obter como resultado a máxima humilhação da vítima, constrangendo-a e a humilhando ao ponto de destruir sua imagem social:
Compreende-se que o principal objetivo do agressor é punir a vítima, constrangendo-a mediante da exposição de fotos, vídeos ou áudios íntimos dela, geralmente motivado por não aceitar o término da relação amorosa ou por qualquer outro motivo que achar conveniente. Vale ressaltar que na maioria dos casos as vítimas sãomulheres, porém também estão sujeitos a sofrer o constrangimento os homens, os transexuais e os travestis.
Uma vez divulgado o conteúdo sexual, a vítima passa a ser apontada como culpada, principalmente quando se trata do sexo feminino. Estas exposições não autorizadas coloca a vítima em situações vexatórias, julgando-a, culpando-a e a oprimindo seja no âmbito pessoal, seja no profissional. (SILVA, 2017)
Complementa, ainda Larissa Soares Duarte de Lima e Silva:
Ao executar a pornografia de vingança, ela tenta demonstrar que detêm um poder sobre a outra pessoa, agredindo-a moralmente, repreendendo-a e violando a sua honra, reputação e liberdade sexual. (SILVA, 2017)
No momento da elaboração da lei 17.737/2012, o Brasil acabou por perder uma excelente oportunidade em resolver a situação de milhares de casos de revenge porn que acabam por serem tratados pelo código penal brasileiro, meramente, como crimes de baixo potencial ofensivo, vez que, em seu bojo não há nenhuma previsão descritiva quanto a penalização deste tipo de violência sexual praticada entre pessoas que mantiveram um relacionamento amoroso, ou seja, o vácuo legislativo quanto a esta conduta delitiva persiste, e os agentes não recebem a punição que realmente deveria ser aplicada, e as vítimas, acabam por sofrerem duplamente os impactos do ato criminoso, seja pela divulgação do conteúdo erótico, destruição de sua imagem perante a sociedade, sua família, ambiente escolar ou de trabalho, vez que não recebe o tratamento de vítima que merece, mas de responsável, e, também, por posteriormente, ao final do processo ver o autor do fato livre, vez que respondeu a um crime incurso nos ritos dos Juizados Especiais.
1.3 A REVENGE PORN COMO FORMA DE VIOLÊNCIA DE GÊNERO E AS CONSEQUÊNCIAS PARA AS VÍTIMAS
Faz-se pertinente, a priori, destacar que o termo “gênero
” refere-se, neste momento, tão somente a classificação mulher e homem, não se relacionando em nenhuma hipótese com a escolha sexual de cada indivíduo, trataremos a questão da revenge porn como um espectro de violência praticada contra homens e mulheres, onde, englobam heterossexuais, homossexuais, transexuais, lésbicas ou qualquer outra forma de orientação escolhida por aqueles que compõe o relacionamento amoroso, trata-se de uma análise da questão da violência praticada pela revenge porn.
Vitória de Macedo Buzzi traz a conceituação do que é a violência de gênero:
No tocante à expressão “violência de gênero”, a Declaração para a Eliminação da Violência Contra Mulheres, elaborada pela Organização das Nações Unidas, a define como “qualquer ato violento baseado no gênero que resulte em, ou é passível de resultar em dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico”. (BUZZI, 2015, p. 43)
Por se tratar de um tipo de violência de gênero, e, considerando que as maiores vítimas ou o maior número de vítimas são mulheres, conforme ensinamentos de Vitória de Macedo Buzzi (2015), falar de “violência de gênero” é especificamente falar de violência praticada contra as mulheres, sendo possível conceber que uma expressão acaba por ser sinônimo da outra.
Em igual entendimento discorre Lorena de Andrade Trindade:
Seguindo a tendência dos casos de revenge porn, dos 84 atendimentos realizados pela Safernet através do chat, 65 eram denúncias de mulheres, ou seja, quase 80% das queixas partiram de mulheres. Talvez, apenas os números bastassem para comprovar a afirmação de que a pornografia de vingança é também violência de gênero. Contudo, algumas colegas, igualmente pesquisadoras deste fenômeno recente, observam o ciberespaço como extensão do que ocorre fora dele. (TRINDADE, 2017, p. 81)
Lorena de Andrade Trindade apud BUZZI (2015), complementa:
Para Buzzi (2015), a pornografia de vingança existe enquanto um instrumento de reafirmação do poder masculino. E é justamente no movimento de insubordinação da mulher ao homem, rompendo a lógica de uma existência condicionada aos desejos masculinos, que a mulher é simbolicamente punida. Ela é “relembrada de que nas mãos masculinas reside o poder de decisão sobre o corpo feminino: poder dispor do corpo da mulher, senão para o seu próprio prazer, mas para dar prazer (não consentido) a outros olhares masculinos” (BUZZI, 2015, p. 42). (TRINDADE, 2017, p. 81)
Não se concebe errôneo afirmar que a revene porn em quase sua totalidade é um tipo de violência familiar e doméstica praticada contra a mulher. Sim, os homens também podem e são vítimas, mas, perfazem uma parcela muita pequena dos casos, e, na maioria das vezes, salvo casos de traição ou relacionamentos homo afetivos secretos, a divulgação de imagens de um homem quase sempre soa como um prêmio, como algo de orgulho, vez que, a mulher é que sempre será banalizada com estigmas.
Aduz desse entendimento Larissa Soares Duarte de Lima e Silva:
A pornografia de vingança pode ser considera como violência de gênero quando a vítima do sexo feminino é a detentora da culpa da disseminação do material de conteúdo sexual e tem sua dignidade arruinada enquanto o agressor segue com sua vida. O agressor não é devidamente punido por causa da culpabilização da vítima, visto que, a sociedade desvaloriza a conduta ocorrida julgando os hábitos, ambientes frequentados e atitudes da vítima, procurando a culpabilidade da mesma na conduta e desta forma retira a atenção do verdadeiro causador, aquele que por motivo fútil espalha as fotos de maneira vingativa para justamente prejudicar a reputação da vítima. (LIMA E SILVA, 2017)
Ana Paula Schwelm Gonçalves (2017) traz dados estatísticos que comprovam a questão da revenge porn, quase sempre ser uma questão de violência de gênero contra a mulher, onde nove em cada dez casos de pornografia de vingança são praticados contra pessoas do sexo feminino, em geral, por um ex-parceiro:
Uma pesquisa realizada em 2014 pela organização EndRevengePorn revelou que 90% das pessoas que alegaram terem sido vítimas de “pornografia da vingança” eram mulheres. Destas, 57% alegaram que o conteúdo pornográfico foi disponibilizado por um ex-namorado, juntamente com o nome completo da vítima (59%) e perfil na rede social (49%). (GONÇALVES, 2017) (destaque nosso)
Para Valéria Diez Scarance Fernandes a revenge porn é uma violência de gênero, praticada em imensa maioria por homens contra mulheres, e, quase sempre por não aceitação do termino do relacionamento:
A “revenge porn” no âmbito afetivo ocorre por um motivo: porque o homem não aceita o NÃO da parceira. Então, para se assegurar de que ela pague pelo que fez, em uma versão cibernética da tradicional ameaça “se não for minha não será de mais ninguém” – o homem esmera-se em preparar mensagens, postar fotos ou vídeos em sites pornográficos, e-mails de amigos, conhecidos, até no ambiente escolar dos filhos, para denegrir e macular de morte a imagem da ex-parceira. (FERNANDES, 2017)
Quando pensamos na revenge porn como uma violência praticada tendo como ferramenta a rede mundial de computadores, faz-se indispensável destacar que, somente no Brasil, conforme pesquisa realizada no site www.brasil.gov.br, a 11ª edição da pesquisa TIC Domicílios
 realizada no ano de 2015 revelou que em torno de 58% da população brasileira utiliza a internet, o que alcança, aproximadamente, o número de 102 milhões de brasileiros, sendo que deste número, 89% dos usuários acessam a internet através de um dispositivo móvel/celular.
Os números se tornam ainda mais reveladores quando, conforme descreve Valeria Diez Scarance Fernandes (2017), citando a pesquisa “Violência contra a mulher: O jovem está ligado
”, realizado pelo Instituto Avon e Data Popular descreve que, de um total de 2.046 entrevistados no ano de 2014, 59% dos homens entrevistados receberam algum tipo de conteúdo erótico, seja fotos ou vídeos de mulheres nuas; 41% dos homens receberam conteúdo erótico de mulheres conhecidas; e, cerca de 28% repassaram essas imagens. 
Conclui-se, portanto, que passados quatro anos desta pesquisa, o cenário encontra-se, certamente, mais estarrecedor.
Ao compreender que a revenge porn refere-se aum tipo de violência de gênero, em geral, praticado contra mulheres, importante ainda mais aduzir que como toda forma de violência, as sequelas e consequências para as vítimas, que podem ser danos físicos e psicológicos, são graves e acabam por demonstrar a necessidade de se debater sobre este tema e a urgência em se ter uma política pública voltada a criminalizar e combater esse crime.
Geralmente quem recebe e visualiza uma foto ou um vídeo em seu celular, e depois o compartilha, dificilmente se preocupa com as sequelas e consequências causadas aquela pessoa cujo conteúdo erótico foi espalhado, seja na vida pessoal, familiar e/ou profissional.
Dentre as piores consequências, possível elencar conforme Fernandes (2017), a depressão, autoflagelação, isolamento e até nos casos mais graves, o suicídio:
Em 2013, duas jovens enforcaram-se após serem vítimas de divulgação íntima não autorizada e deixaram em suas redes de relacionamento mensagens de despedida: 
“Hoje a tarde dou um jeito nisso, não vou ser mais um estorvo para ninguém” (Giana Laura Fabi, 16 anos)
“É daqui a pouco que tudo acaba. Eu te amo. Desculpe não ser a filha perfeita, mas eu tentei... Desculpa, eu te amo muito. Eu to com medo, mas acho que é tchau pra sempre” (Julia Rebeca, 17 anos).
Vitória de Macedo Buzzi (2017), em sua obra, traz fragmentos de uma entrevista realizada com Rose Leonel, vítima de revenge porn, no Estado do Paraná, em meados do ano de 2006, onde relata tudo que passou, após um ex-namorado publicar e enviar fotos intimas suas, para todos os seus familiares, amigos e colegas de trabalho, além de distribuir panfletos da vítima, onde insinuava que a mesma era uma garota de programa:
Quando terminamos, em outubro de 2005, ele me ameaçou e disse que se eu não ficasse com ele, destruiria a minha vida. Não imaginei como seria essa destruição”, desabafou à época. Rose aparecia sem roupas em fotos compiladas em uma apresentação de slides anexada ao e-mail. O título da mensagem, permeado de sarcasmo, demonstrava a intenção do remetente: “Apresentando a colunista social Rose Leonel –Capítulo 1”.147As legendas das fotos davam a entender que o material era o portfólio de uma garota de programa.
Estava enganada. Eduardo iniciou naquele mesmo dia o que se tornariam uma série de ataques virtuais contra a ex-parceira. Ao todo, foram três anos e meio de violência virtual. Reiteradamente, mandava e-mails a milhares de destinatários com fotos dela nua, nomeando os arquivos como “Capítulos 2, 3, 4 ...”. Além das fotos íntimas, utilizava-se de montagens feitas com imagens pornográficas, em que inseria digitalmente o rosto de Rose. Como é típico nestes casos, fornecia os dados pessoais dela, inclusive seus telefones pessoais, do trabalho, e até mesmo dos filhos da jornalista, que eram adolescentes à época. “Sofri um assassinato moral e psicológico perdi tudo. Vi a vida dos meus filhos desabando. Meus telefones não paravam de tocar. A cada dez dias ele disparava uma leva de fotos para 15 mil e-mails da região e imprimiu centenas de panfletos para distribuir no comércio. Foi uma campanha contra mim.” (BUZZI, 2015, P. 46-47)
Em outro caso extremamente conhecido e que ficou famoso no Brasil como “o caso Fran”, Vitória de Macedo Buzzi (2017) traz o relato do episódio vivido pela Jovem Francyelle dos Santos Pires, que ocorreu no ano de 2013, onde, além do próprio vídeo íntimo, um gesto realizado pela vítima acabou por viralizar, sendo repetido em todo o país, por anônimos e famosos, em uma demonstração clara de total falta de preocupação com o que havia sido causado a vítima, e, que acabou envolvendo sua filha, com dois anos a época, além de ser um obstáculo em sua vida profissional:
Em 03 de outubro de 2013, dia em que gravaram o vídeo que viralizou na internet, o casal discutiu mais uma vez e Francyelle rompeu a relação, afirmando que nunca mais queria vê-lo. Sérgio procurou contato ao longo do dia, mas ela não respondeu suas mensagens. Ele então enviou para os amigos vídeos íntimos do casal (em todos, somente Francyelle era claramente identificada), e, no mesmo dia, as gravações viralizaram através do aplicativo de celular WhatsApp. Rapidamente, descobriram a identidade da moça, e espalharam seu endereço, local de trabalho, telefone pela internet. “Dormi, acordei, e minha vida tinha virada de cabeça para baixo”, relatou.
Passados mais dois dias, relatou que sua vida já havia “virado um inferno”. O link de um único vídeo fora compartilhado milhares de vezes. Por um gesto que aparece fazendo na filmagem, Francyelle virou piada na internet e na cidade. Ignorando a seriedade do fato, milhares de pessoas, inclusive celebridades, compartilharam fotos em que apareciam repetindo o sinal. Além dos vídeos, a filha de Francyelle, com então dois anos, também foi exposta na internet, pois aparecia em várias fotos publicadas no perfil que a mãe mantinha no site de relacionamentos Facebook, e que foram compartilhadas à exaustão por desconhecidos. Por causa da repercussão das filmagens, sua rotina foi radicalmente transformada. “Ele tirou a minha vida, eu não tenho mais vida. Eu não consigo sair, não consigo estudar, trabalhar”, disse. A estudante teve que mudar completamente seu visual e se afastar do seu emprego de vendedora em uma loja na cidade. Saía de casa somente para conversar com os advogados do processo que movia contra o ex-parceiro. A situação chegou ao ponto de influenciar suas colegas de trabalho: “Chegavam na loja e ofereciam programa pra elas. (BUZZI, 2015, p. 50-51)
Em outros casos o desfecho não foi apenas com reflexos a honra, imagem e convivência social da vítima. A revenge porn é um tipo de violência sexual que, assim como o estupro, traumatiza as vítimas, causa sequelas psicológicas irreversíveis e, em alguns casos, movidas pela vergonha pessoal e pelo julgamento familiar ou da sociedade acaba por empurrar a vítima para o suicídio. 
Vitória de Macedo Buzzi aduz sobre dois casos ocorridos no Brasil, onde as vítimas, por não suportarem a humilhação e a vergonha da família, acabaram por tirar suas vidas, como aconteceu com Júlia Rebeca e Giana Fabi:
No dia 10 de novembro de 2013, a adolescente Júlia Rebeca dos Santos foi encontrada morta em seu quarto, como fio da prancha alisadora enrolado no seu pescoço. Horas antes, nos perfis que mantinha nas redes sociais Twitter e Instagram, ela deu indícios do suicídio, avisando: “é daqui a pouco que tudo acaba”
Logo após, Júlia compartilha uma montagem com fotos dela e da mãe e se desculpa: "Eu te amo, desculpa eu n ser a filha perfeita mas eu tentei...desculpa desculpa eu te amo muito mãezinha...desculpa desculpa...!! Guarda esse dia 10.11.13”[sic].Sua última postagem diz: “Eu tô com medo mas acho que é tchau pra sempre”
O motivo que levou Júlia, com então 17 anos, ao suicídio, foi a repercussão da divulgação não autorizada de gravações em que aparecia fazendo sexo com seu namorado e uma amiga do casal, todos menores de idade.
A primeira versão era de que o vídeo havia sido filmado pela própria adolescente, que em seguida o compartilhou com algumas pessoas em quem confiava.
Contudo, a polícia atualmente investiga a participação de uma quarta pessoa que teria filmado e compartilhado o vídeo nas redes sociais. (BUZZI, p. 56-57)
[...]
Quase quatro mil quilômetros de distância separavam Júlia Rebeca de Giana Fabi. Quatro é também o intervalo de dias entre ambas as mortes. No dia 14 de novembro de 2013, Giana, de 16 anos, foi encontrada morta em seu quarto, na cidade de Veranópolis (RS), enforcada por um cordão de seda. O motivo é o mesmo: a exposição não consensual de sua intimidade na internet. O suicídio da adolescente teria sido motivado pelas consequências do compartilhamento de uma foto em que aparece mostrando os seios. Giana não sabia que seria fotografada quando, atendendo aos pedidos de um colega de escola com quem conversava pelo programaSkype, tirou seu sutiã para a webcam.
A imagem ficou guardada por ele, sigilosamente, durante algum tempo. Especula-se que o motivo era usá-la como chantagem: o rapaz queria um relacionamento com Giana, e ela, no entanto, não estava interessada. Quando a adolescente começou um relacionamento com outra pessoa, ele enviou a foto aos amigos, como forma de vingança. Em pouco tempo, a imagem viralizou na internet.
De certo, é que não há motivos para virar as costas para esse terrível problema da revenge porn e suas consequências destrutivas para as vítimas. A divulgação de imagens e vídeos atinge a vida das vítimas como um tsunami, destruindo tudo que durante anos foi construído, os comentários, muitas vezes feitos de forma anônima através de usuários fakes vão se tornando mais agressivos e preconceituosos, e, deve-se ainda considerar que uma vez publicada na rede mundial de computadores, o conteúdo lá permanecerá, por todo o sempre, como uma marca impossível de ser retirada e que a cada dia, em razão do preconceito continua a causar mais danos.
2 A PORNOGRAFIA DA VINGANÇA NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO E SUA CRIMINALIZAÇÃO EM SEDE DE DIREITO PENAL
Verifica-se, pois, conforme mencionado alhures, que a prática da vingança pornográfica, seja no Brasil como em todo os demais países, é algo comum, envolvendo milhares de mulheres todos os anos, mas, que, ao contrário das legislações estrangeiras, não tem, ainda, instrumentos necessários para sua punição. O marco civil da internet, a Lei Maria da Penha, a Lei Carolina Dieckmann, apesar de lei inovadoras, ainda, não trazem em seu bojo a previsão de aplicação de uma punição ao autor da vingança pornográfica, o que, deve ser imensamente lamentado, pois, essa ausência em nosso ordenamento jurídico, acaba por provocar duas consequências, quais sejam, a certeza da impunidade pelo infrator e o desestímulo à vítima para buscar os órgãos competentes para a denúncia, pois, além da vergonha de toda a exposição provocada, de per si, tem a certeza que, sem a existência de um dispositivo penal punitivo, de certo, o autor do crime não será punido da forma necessária e adequada, vez que responderá nos rigores da Lei 9.099/95, com possibilidade de transação penal.
Em sede de Direito Penal, no que se refere à pornografia da vingança é possível constatar no ordenamento jurídico brasileiro um vácuo legislativo, vez que, não há nenhum dispositivo específico para este delito criminal, e, na ausência de uma previsão legal, aplica-se, tão somente o disposto nos arts. 139 e 140 do Código Penal, quais sejam, difamação e injúria.
Art. 139 - Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Quando comparado a outros países do mundo, o Brasil, nessa questão encontra-se extremamente atrasado, vez que, é um dos poucos, como já afirmado, que não possui sequer previsão legal para essa conduta, cuja pena limita-se tão somente aos limites da lei 9099/95.
Nesse sentido leciona Valéria Diez Scarance Fernandes:
Ao redor do mundo, aos poucos, as legislações começaram a tipificar a conduta. Em 2009, nas Filipinas, foi criado o crime de divulgar fotos e vídeos íntimos, com pena de 03 a 07 anos. Nesta lei, há previsão das condutas de fotografar ou filmar pessoas sem o consentimento ou em situações com expectativa de privacidade, bem como copiar, reproduzir, vender e publicar pela internet ou outros meios. Além disso, se a divulgação for feita por pessoa jurídica, revoga-se a licença ou franquia.
Seguiram-se leis na Austrália (2013), Israel (2014), Canadá (2014), Inglaterra (2015) e Nova Zelândia (2015).
Nos Estados Unidos, em que a legislação Penal e Processual é Estadual, a conduta já está criminalizada em 27 Estados: Alaska, Arkansas, California, Colorado, Columbia, Delaware, Florida, Georgia, Hawai, Idaho, Illonois, Lousiana, Maine, Maryland, Nevada, New Jersey, New Mexico, North Carolina, North Dakota, Oregon, Pensylvania, Texas, Utah, Vermont, Virginia, Washington e Wisconsin. (FERNANDES, 2016) (destaques nosso)
Em nosso ordenamento, por não existir uma legislação específica, a aplicação da lei dependerá da idade da vítima. Em se tratando de menores de 18 anos, aplicar-se-á o Estatuto da Criança e do Adolescente, na hipótese da vítima ser maior de 18 anos, aplica-se o Código Penal, pela configuração dos crimes de difamação (art. 139) ou injúria (art.140). 
Há de se observar que, no caso da vítima ser maior, pela tipificação da revenge porn como injuria/difamação a pena será irrisória, sujeita à ação penal privada (quando há necessidade de manifestação/interesse da vítima) e, o prazo decadencial é de apenas 06 meses, fatores estes que acabam por transformar o delito em impunível, vez que, muitas das vítimas sequer movem a ação penal necessária.
Nesse sentido informa Rafael Maciel:
Não há, mesmo fora do âmbito da lei contra a violência doméstica, em todo o ordenamento jurídico brasileiro, punição criminal para quem envia vídeos ou imagens íntimas sem autorização, ficando apenas uma aplicação, muitas vezes forçada, como crime de difamação ou injúria, os quais possuem penas brandas e, por assim ser, não inibem a prática do delito. (MACIEL,2013)
Em Direito Penal, pode-se afirmar que houve, após a entrada em vigor da lei 12.737/12, conhecida como Lei Carolina Dieckmann, uma enorme evolução no sentido de punir os crimes de divulgação de dados, fotos ou vídeos íntimos na rede mundial de computadores, porém, ainda que podendo ser considerado um avanço, no que se refere à pornografia da vingança, nada evoluiu. 
No caso da referida Lei, a mesma teve como marco de movimentação social, com manifestações e protestos, o caso da atriz Carolina Dieckmann que vivenciou um caso de extorsão quando hackers invadiram seu computador, pegaram fotos íntimas suas e cobraram um pagamento para não divulgarem e com a repercussão das imagens de conteúdo sexual íntimo. 
Ainda que todas as providências tenham sido tomadas pelo legislador para punir tais delitos, o mesmo, não incluiu em nenhum dos pontos da referida lei um artigo quanto à possibilidade de punição para aquele que pratica a pornografia da vingança.
O Poder Judiciário continua a enquadrar os atos de pornografia da vingança em normas que se adequam aos casos, ante a ausência de uma legislação específica com regras efetivas para punir a prática deste delito, não há como, por exemplo aplicar o art. 154-A do Código Penal, vez que o mesmo não se refere em nenhuma forma à pornografia da vingança.
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
Mister abordar que, em alguns casos a pornografia da vingança, em sede de penalização, pode ser enquadrada com a lesão corporal grave, cuja pena pode ser de reclusão de 1 a 5 anos, quando, decorrer de sua prática sequelas psicológicas para a vítima, nos termos do art. 129, do Código Penal.
Nesse sentido leciona Nelson Hungria apud Rogério Greco:
O crime de lesão corporal consiste em qualquer dano ocasionado por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou a saúde (fisiológica ou mental) de outrem”. Ele define a lesão corporal como toda e qualquer ofensa ao funcionamento do corpo ou organismo humano que o desvie da plena normalidade.
Casos como o de Rose Leonel, em que o estado depressivo decorrente do repúdiosocial foi caracterizado encontra perfeito enquadramento com a posição da doutrina majoritária, sendo necessária, para a caracterização da lesão corporal, por essa via, a comprovação da patologia psíquica bem como do nexo de causalidade. Todavia, não necessariamente o revenge porn terá associado a si a deflagração de um estado de patologia psíquica, pois não se trata de uma consequência fechada em si. (HUNGRIA, 2011, p. 253)
Importa e faz e necessário compreender que não se pode haver confusão entre a vingança pornográfica e o crime de extorsão, uma vez que neste, o objetivo é constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa (art. 158, Código Penal). Na vingança pornográfica sequer há o dolo de se conseguir vantagem indevida, a vontade do autor é dirigida tão somente a causar a lesão na imagem ou honra da vítima, por motivo fútil, por vingança em razão de um término de relacionamento ou por vontade de destruir a reputação da pessoa em seu ambiente social, familiar ou no trabalho, não se almeja vantagem nenhum.
2.1 A VINGANÇA PORNOGRÁFICA E A LEI MARIA DA PENHA
A vingança pornográfica deve ser inserida dentre as inúmeras formas de violência de gênero praticadas, tão grave quanto todas as formas de violências físicas e psíquicas impostas às mulheres no mundo. Trata-se de um comportamento delituoso, onde o autor, movido por uma superioridade de poder, vez que, sendo homem, encontra-se amplamente protegido dos danos causados à vítima que tem as fotos e/ou vídeos divulgados, pois, com toda a evolução, no caso do vazamento ocorrer expondo o homem, este em regra não terá o mesmo julgamento social a que é submetido a mulher.
Esse é o entendimento de Ana Paula Schwelm Gonçalves:
A sexualidade, o desejo e a exposição do corpo feminino ainda são vistos como reflexos da degradação moral. Isso ocorre porque as construções culturais e a dominação patriarcal impuseram a homens e mulheres determinados papéis, que acabaram criando rotulações e padrões de comportamento sobre o que seria ou não permitido a cada um deles socialmente, mais fortemente ainda no âmbito da intimidade pessoal. Partindo-se da premissa de que a “pornografia da vingança” é a consequência de um contexto histórico e sociológico de dominação masculina sobre a autonomia e a sexualidade femininas, tal delito passa a ser uma forma particular de violência perpetrada contra as mulheres pelos homens, o que reclama um olhar específico sobre a questão. (GONÇALVES, 2017).
Sendo a mulher a principal vítima dessa forma de violência, ante todo o constrangimento e humilhação sofrida, em razão da divulgação de fotos íntimas ou de ato sexual, sofre ainda com todo o julgamento que ocorrerá pela sociedade, que, quase sempre tende a acusar a vítima de ser a responsável por tudo que a mesma está submetida, e, por vezes, ainda entende que o agressor não deve ser punido. 
A saúde física e mental de toda mulher é assegurada logo no artigo segundo da Lei Maria da Penha demonstrando de forma clara que a mulher deve ser protegida de qualquer forma de violência, bem como garantido o seu pleno desenvolvimento social, intelectual e moral.
Art. 2º Toda mulher, independentemente de classe, raça, etnia, orientação sexual, renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social.
Em seu artigo 5º está disposto o que configura a violência doméstica e familiar contra a mulher, vejamos:
Art. 5º. Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Em breve análise do referido art. 5º, faz-se possível compreender que a Lei Maria da Penha não busca unicamente proteger a vítima tão somente de atos de violência física, mas também objetiva a proteção da sua integridade psicológica, e, não restringe que a violência tenha que ocorrer no âmbito da unidade doméstica, expandindo a proteção a qualquer e toda relação íntima de afeto.
Compartilha e defende esse entendimento Vitória de Macedo Buzzi:
Se entre a vítima da pornografia de vingança e o responsável pelo vazamento do material houve relacionamento íntimo, independente de coabitação ou de violência material, o caso pode ser apurado nos termos definidos por esta lei. (BUZZI, 2015, p. 75)
Como forma de esclarecer as formas de violência doméstica, exemplifica a Lei Maria da Penha em seu art. 7º, incluindo-se neste rol a violência psicológica:
Art. 7º. São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre
outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria
Verificando o conteúdo destes dispositivos denota-se perfeitamente concluir que os delitos de vingança pornográfica devem ser caracterizados como crimes sujeitos à aplicação da Lei Maria da Penha, e não, tão somente a imputação de difamação e injúria, vez que se encontram plenamente configurada tanto a violência psicológica como a moral.
Defende e compartilha da posição de que nos casos de vingança pornográfica a legislação a ser aplicada deve ser a Lei Maria da Penha e justifica Vitória de Macedo Buzzi:
As ameaças sofridas antes da liberação do conteúdo e sua consequente intimidação e manipulação, a humilhação causada às vítimas e o isolamento decorrente são condutas praticadas por parceiros e ex-parceiros que implicam em prejuízo à saúde psicológica, à autodeterminação e ao desenvolvimento pessoal da mulher.
Embora o artigo 22 não preveja solução específica para os casos em que a violência é praticada com a utilização de meios eletrônicos, seu parágrafo primeiro deixa claro que o juiz poderá lançar mãos de outros expedientes previstos na legislação emvigor. Assim, com base no poder geral de cautela, pode o magistrado buscar em outras fontes normativas medidas aptas e garantir a segurança da vítima. (BUZZI, 2015, p. 76).
Seria por deveras importante na efetivação da punição da vingança pornográfica a aplicação da Lei Maria da Penha, uma vez que, ao infrator, nos termos do art. 41 da referida Lei, restando configurada situação de violência entre pessoas nos termos do supracitado art. 7º, não há possibilidade de aplicar a Lei dos Juizados Especiais.
2.2 LEI Nº 12.737, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2012: “LEI CAROLINA DIECKMANN”
Trata-se da Lei que dispõe sobre a tipificação criminal dos delitos praticados em informática. A referida lei acrescentou os artigos 154-A e 154-B ao Código Penal Brasileiro, alterando ainda o teor dos artigos 266 e 298 do mesmo diploma legal.
Como já exposto, a referida Lei tipificou a invasão de dispositivo informático alheio, que encontra-se conectado ou não à rede mundial de computadores, seja através de violação do equipamento com rompimento do mecanismo de segurança (senha), para fins de alterar, obter, destruir dados, informações, arquivos, sem a anuência do proprietário do equipamento, ou mesmo, com a instalação de programas ou vírus/vulnerabilidades no sistema para com isso obter alguma vantagem ilícita, seja pela invasão ou mediante extorsão.
Art. 154-A. Invadir dispositivo informático alheio, conectado ou não à rede de computadores, mediante violação indevida de mecanismo de segurança e com o fim de obter, adulterar ou destruir dados ou informações sem autorização expressa ou tácita do titular do dispositivo ou instalar vulnerabilidades para obter vantagem ilícita:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem produz, oferece, distribui, vende ou difunde dispositivo ou programa de computador com o intuito de permitir a prática da conduta definida no caput.
§ 2º Aumenta-se a pena de um sexto a um terço se da invasão resulta prejuízo econômico.
§ 3º Se da invasão resultar a obtenção de conteúdo de comunicações eletrônicas privadas, segredos comerciais ou industriais, informações sigilosas, assim definidas em lei, ou o controle remoto não autorizado do dispositivo invadido:
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa, se a conduta não constitui crime mais grave.
§ 4º Na hipótese do § 3o, aumenta-se a pena de um a dois terços se houver divulgação, comercialização ou transmissão a terceiro, a qualquer título, dos dados ou informações obtidos.
§ 5º Aumenta-se a pena de um terço à metade se o crime for praticado contra:
I - Presidente da República, governadores e prefeitos;
II - Presidente do Supremo Tribunal Federal;
III - Presidente da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, de Assembleia Legislativa de Estado, da Câmara Legislativa do Distrito Federal ou de Câmara Municipal; ou
IV - dirigente máximo da administração direta e indireta federal, estadual, municipal ou do Distrito Federal.
Art. 154-B. Nos crimes definidos no art. 154-A, somente se procede mediante representação, salvo se o crime é cometido contra a administração pública direta ou indireta de qualquer dos Poderes da União, Estados, Distrito Federal ou Municípios ou contra empresas concessionárias de serviços públicos.
Sobre a importância e finalidade da referida Lei, assevera Eudes Quintino de Oliveira Junior:
Extrai-se do texto legal a finalidade de incriminar a conduta do agente que invade, driblando os mecanismos de segurança, e obtém, adultera ou destrói a privacidade digital alheia, bem como a instalação de vulnerabilidades para obtenção de vantagem ilícita. Observa-se, contudo, a necessidade da existência de um mecanismo de segurança no sistema do aparelho, uma vez que a lei condiciona a ocorrência do crime com a violação indevida deste. Assim, a invasão do dispositivo informático que se der sem a violação do mecanismo de segurança pela inexistência deste será conduta atípica. Por tal razão torna-se cada vez mais importante proteger os aparelhos com antivírus, firewall, senhas e outras defesas digitais. (OLIVEIRA JUNIOR, 2017).
Essa lei recebeu o nome da atriz Carolina Dieckmann, após o episódio de vazamento de suas fotos íntimas por um hacker, e publicadas em sites pornográficos, foram cerca de 36 fotos da atriz que foram publicadas sem a autorização da mesma, após a negativa de pagamento da quantia de dez mil reais. As fotos foram furtadas após a invasão do e-mail da atriz, depois que os hackers instalaram um malware (programa de invasão) em seu computador.
Apesar do consenso acerca do avanço legislativo desta Lei, verificam-se críticas apontadas em referencia a seus dispositivos, considerados por especialistas como confusos, bem como, de que as penas aplicadas não possuem o caráter inibidor que a mesma necessitava, sem falar que acabou tratar apenas dos casos onde há invasão do equipamento ou dispositivo, deixando de fora, como já mencionado, os casos que configuram a vingança pornográfica, e não há invasão do dispositivo, mas decorre em face da existência de uma relação íntima/doméstica.
Nesse sentido é o comentário de Eudes Quintino de Oliveira Junior:
Depois de promulgada, a lei tem recebido severas críticas de juristas, de peritos e especialistas, além de profissionais de segurança da informação, uma vez que seus dispositivos são bastante confusos, com muita abrangência e que podem gerar dupla interpretação ou interpretações subjetivas, podendo ser mesmo utilizada para enquadramento criminal de condutas banais ou para a defesa e respaldo de infratores cibernéticos, fazendo com que a lei se torne injusta e ineficaz.
Alguns especialistas também alegam que as penas previstas na Lei Carolina Dieckmann são pouco inibidoras, podendo muitas das situações serem enquadradas nos procedimentos dos Juizados Especiais, e que isso poderia contribuir para a não eficiência no combate ao crime cibernético no Brasil. (OLIVEIRA JUNIOR, 2017)
Há de se esperar do legislador, que verificada a necessidade de uma normatização da conduta referente à vingança pornográfica, necessidade essa de toda a sociedade, pois, o judiciário ainda persiste em desconsiderar essa lesão à vítima como um crime a ser incurso nas regras da Lei Maria da Penha, acabe por criar um mecanismo que realmente aborde o tema, pois nesse vácuo de lei, vidas estão sendo destruídas.
2.3 A VINGANÇA PORNOGRÁFICA E O MARCO CIVIL DA INTERNET
A lei 12.965/14, conhecida como Marco Civil da Internet, representa um importante e necessário avanço para as questões concernentes à rede mundial de computadores, bem como, legisla sobre o uso da rede, proteção ao usuário e sobre o conteúdo disponibilizado.
Vitória de Macedo Buzzi denomina essa lei como a Constituição da Internet, ante sua importância: 
Também apelidada de “Constituição da internet”, visa regulamentar o uso da internet no Brasil, estabelecendo princípios, garantias, direitos e deveres para usuários e prestadores de serviços na rede, determinando, inclusive, diretrizes para a atuação do Estado. (BUZZI, 2015, p. 79).
Apesar de toda a abordagem dessa Lei, a mesma não trata dos crimes praticados na rede mundial de computadores, aborda, precipuamente, os temas relacionados ao princípio da neutralidade, à reserva da jurisdição e normatiza a responsabilidade dos provedores.
Estabelece uma proteção à privacidade dos usuários, bem como das comunicações privadas realizadas por meios eletrônicos, algo que até a entrada em vigor do Marco Civil não existia, restringindo-se tão somente aos meios de comunicação tradicionais, tais como cartas e conversas telefônicas. Estipula também a atuação dos provedores, determinando um tratamento igualitário a tudo que circula na rede mundial de computadores.
No tocante à vingança pornográfica, como não trata de crimes praticados na rede mundial de computadores, mas, abarcou em seu texto inovações quando da ocorrência de divulgação de conteúdos íntimos não autorizados, sem a necessidade de uma anterior ordem judicial, podendo a vítima, diretamente, solicitar a

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