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Recreação para idosos

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Recreação e exercício físico para a Terceira Idade 
 
Luís Fernando Ferreira 
 
Resumo: Este trabalho é o sumo de uma pesquisa realizada entre os anos de 2007 e 2010, 
em Quintão, onde se tenta mostrar, através dos resultados obtidos, que o exercício físico 
abordado não só de uma forma recreativa, mas utilizando essa técnica, pode ser benéfico para 
uma ampla melhora dos indicadores biopsicossociais do grupo em questão. Para o melhor 
entendimento do trabalho, ele foi dividido em três grandes partes: (1) Conhecendo a turma, 
onde o autor divide quem pode ou não ser considerado terceira idade, através de pesquisa 
bibliográfica e também por meio do trabalho realizado ao longo dos dois anos; (2) Pedagogia 
da recreação para a terceira idade, onde a pesquisa é conduzida para um ângulo 
metodológico, isso é, tentando mostrar o que deu e o que não deu certo com os mais de 
duzentos idosos que passaram pelo programa, e sugerindo atividades que se mostraram muito 
eficazes ao longo do processo; (3) Aspectos biofisiológicos da terceira idade, quando, através 
de pesquisa na literatura disponível e dados estatísticos do trabalho de pesquisa, foram 
colocados alguns parâmetros de saúde e prevenção, assim como características do 
envelhecimento em uma visão geral. Ao final da pesquisa puderam-se notar importantes 
mudanças no grupo de idosos que participou do programa, tanto no âmbito físico, como no 
psicológico e no social, pois ao término do processo foi possível que se fizessem importantes 
considerações, reforçando aquilo que o trabalho propôs inicialmente, já que muitos dos alunos 
tiveram melhoras significativas dos indicadores biofisiológicos, por vezes até abandonando o 
uso de alguns medicamentos; melhoraram as relações interpessoais, já que o grupo, antes de 
qualquer coisa era um grande convívio social; e por fim a autoconfiança teve mudanças rápidas 
e permanentes, uma vez que eles perceberam-se úteis, estando na ginástica ou não. 
 
Palavras Chave: Terceira idade, Recreação, Ginástica, Jogos Cooperativos. 
 
Resumén: Este documento es resultado de una encuesta celebrada entre los años de 2007 y 
2010 en Quintao, donde se pretende demostrar con estos resultados, que se trataba no sólo de 
ejercicio físico de manera recreativa, pero gracias a esta técnica puede ser beneficioso de 
indicadores amplios biopsicosocial de mejoría en el grupo. Para una mejor comprensión de la 
obra, se divide en tres partes principales: (1) Conocer la clase, donde el autor divide a quienes 
pueden o no pueden ser considerados personas mayores, a través de la literatura y también a 
través del trabajo llevado a cabo más de dos años, (2) Pedagogía de la recreación para las 
personas mayores, donde la investigación se lleva a cabo a un ángulo metodológico, es decir, 
tratando de mostrar lo que funcionó y lo que no trabajamos con más de trescientas personas 
de edad avanzada que han pasado por el programa, y actividades sugeridas que resultó ser 
muy efectiva en todo el proceso, (3) los aspectos bio-fisiológicos de las personas mayores, 
cuando, mediante la búsqueda en la literatura y las estadísticas disponibles de la investigación 
fueron colocados en algunos parámetros de la salud y prevención, así como las características 
del envejecimiento una visión general. Al final del estudio se pudo observar grandes cambios 
en el grupo de los adultos mayores que participaron en el programa, tanto en lo físico, como en 
el psicológico y social, porque al final del proceso fue posible que si se tratara de 
consideraciones importantes, lo que refuerza lo que el trabajo propuesto inicialmente, ya que 
muchos de los estudiantes tuvieron una mejoría significativa de los indicadores bio-fisiológicos, 
a veces incluso el abandono del uso de algunos medicamentos, mejorar las relaciones 
interpersonales, como el grupo, antes que nada fue una gran vida social, y finalmente tuvo la 
confianza rápida y permanente, una vez que se dieron cuenta de su utilidad, siendo en el 
gimnasio o no. 
 
Palabras clave: Personas mayores, Recreación, Gimnasia, Juegos Cooperativos. 
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Introdução e considerações iniciais 
 
Todas as informações deste trabalho foram coletadas entre abril de 2007 e 
outubro de 2010, durante as aulas de ginástica para a terceira idade da 
Academia Popular e as aulas de recreação do projeto Dia Da Atividade, em 
Quintão. Mais de 300 idosos passaram pelas atividades. 
Os resultados coletados, sejam metodológicos, físicos, psicológicos ou sociais 
encontram-se espalhados ao longo deste artigo sob uma forma resumida, com 
uma linguagem informal e de fácil entendimento. 
Além disso, os assuntos disponíveis foram divididos em três grandes partes: 
 Conhecendo a turma, onde eu dividi quem pode ou não ser 
considerado terceira idade, através de pesquisa bibliográfica e 
também por meio do trabalho realizado ao longo dos dois anos; 
 Pedagogia da recreação para a terceira idade, onde a pesquisa 
é conduzida para um ângulo metodológico, isso é, tentando 
mostrar o que deu ou não certo com os mais de trezentos idosos 
que passaram pelo programa, e sugerindo atividades que se 
mostraram muito eficazes ao longo do processo; 
 Aspectos biofisiológicos da terceira idade, quando, através de 
pesquisa na literatura disponível e dados estatísticos do trabalho 
de pesquisa, foram colocados alguns parâmetros de saúde e 
prevenção, assim como características do envelhecimento em 
uma visão geral. 
O objetivo dessa pesquisa foi mostrar que o exercício físico, quando realizado 
de uma forma lúdica pode ser assimilado de uma forma mais facilitada por esse 
grupo tão especial, mas que ainda hoje oferece muita resistência à prática do 
exercício físico, por infinitos motivos, sendo um deles, e muito incidente, por 
culpa de nós, professores. Normalmente um idoso que procura uma academia 
procura não só o exercício físico por uma questão de saúde. Ele também quer 
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atenção, quer convívio social, quer carinho, o que não é oferecido muitas vezes 
pelos professores. 
Sendo melhor assimilado, o trabalho rende frutos muito mais rapidamente que 
o esperado. Só compete a nós, enquanto educadores, modificar essa 
realidade. 
 
Por que Trabalhar com Terceira Idade? 
 
A “terceira idade”, ou “melhor idade”, ou “idosos” (Lorda, 1995), como se 
queira, é o grupo de pessoas que mais cresce atualmente no Brasil, mas que 
segue sendo inexplorado, senão inexplorado, maltratado por nós, educadores 
físicos. Este grupo exige um tratamento especial, que não se encontra em 
qualquer outro grupo de pessoas. Hoje em dia nós temos acesso a muito 
material impresso e virtual sobre o tema, mas não há interesse. Veja um bom 
exemplo por mim: através de um boca-boca rápido constatei que, dos 
cinquenta colegas que ingressaram no curso comigo, somente três trabalham 
com terceira idade. Isso é 6% dos alunos trabalha com uma população que 
cresce 8% ao ano. A balança pesa contra nós. Veja os dados do IBGE (2002) 
para o crescimento estimado da terceira idade até 2020. Note que no primeiro 
gráfico (em azul) é mostrado o crescimento em números de pessoas para as 
idades de 15 a 29 anos e de 60 a 69 anos, este último o nosso foco. Enquanto 
a população de 15 a 29 anos deve pular de 48 milhões a pouco menos de 50 
milhões em dezessete anos, o público da terceira idade terá um salto de 7,5 
milhões a mais de 15 milhões no mesmo período. Isso demonstrado em 
percentual de crescimento, como no segundo gráfico (em vermelho) é ainda 
mais gritante, pois quando o público jovem avança 3%, a terceira idade avança 
100%. Isso é, para cada pessoa que entra na puberdade, 33 passam a ser 
considerados terceira idade. 
186 
 
 
 
 
Conhecendo a Turma 
Para começar este trabalhode pesquisa, primeiro fiz um levantamento 
bibliográfico para saber o que é terceira idade, ou quem pode fazer parte desse 
grupo, cheguei a seguinte informação: 
 
Terceira Idade são aqueles com idade igual ou superior a 65 anos, segundo a 
legislação brasileira, pois já tem idade para sair do mercado de trabalho, isso é, 
aposentar-se. 
 
Além disso, após algum tempo de trabalho e alguns testes bem sucedidos 
pude notar o seguinte: 
0
10.000.000
20.000.000
30.000.000
40.000.000
50.000.000
2003 2020
15 a 29 Anos
60 a 69 anos
0
20
40
60
80
100
2020
15 a 29 Anos
60 a 69 Anos
187 
 
Também podem se encaixar indivíduos adultos com mais de 45 anos que 
tiveram alguma patologia que deixou sequelas, como AVC ou outras 
cardiopatias, Alzheimer ou outras doenças degenerativas do SNC, patologias 
que refletem no desempenho, como diabetes e hipertensão e traumas físicos. 
 
Aspectos da Turma 
É bom que se perceba três aspectos principais para o trabalho com a terceira 
idade, aspectos esses que devem ser abordados à exaustão, para que índices 
possam ser melhorados. São eles: 
 Aspectos Sociais: Vários autores (Ramos, 1999; Lorda, 1995 e; Farias 
Ramos, 1999) ressaltam que muitos deles são aposentados, viúvos e/ 
ou sem família, por isso a solidão toma conta de suas vidas, fazendo 
com que tenham bloqueios às relações interpessoais, por isso comecei, 
aos poucos, a fazer amizade com eles, para que me considerassem 
parte da família. Isso é muito importante para eles, pois pode ser um 
forte pilar para que eles se apóiem, evitando ou amenizando os 
sintomas de depressão, que acomete grande parte desse público. 
 
 Aspectos Psicológicos: Com esses problemas sociais eles acabam se 
achando um peso para a família (caso haja uma) ou para a sociedade, 
reforçando o sentimento de incapacidade e inutilidade ante aos desafios 
da vida cotidiana, podendo-se assim afirmar que os aspectos 
psicológicos refletem a condição social do idoso e vice-versa, segundo 
Carneiro e Falcone (2004) e Carlos, Jacques, Larratéa e herédia (1999). 
 
 Aspectos físico-motores: Diversos autores da área da fisiologia e 
treinamento físico-desportivo (Guyton, 2002 e Bompa, 2002) ressaltam 
que idosos já têm, naturalmente, problemas físicos por culpa da queda 
bruta de hormônios, conseqüentemente a diminuição da massa 
muscular e óssea, o envelhecimento dos tecidos que levam a doenças e 
os maus hábitos da vida toda que acabaram transformando-se eu uma 
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patologia evitável, entre outras coisas. Essas patologias que apontei 
como “evitáveis” são muito comuns entre esse grupo, por isso listei 
algumas que podem refletir na capacidade físico-motora do aluno: 
Patologia Incidência dentre os 
pesquisados 
Sintomas refletidos na capacidade 
relevantes à pesquisa 
Diabetes 25% Baixa força e velocidade de reação e dores 
musculares e articulares, por inchaço. 
Hipertensão 60% Tonturas e náuseas. 
AVC, derrame 
e isquemia 
1% Incapacidade física, dificuldades de fala e 
por vezes cognitiva. 
Obesidade 54% Imobilidade, fadiga e dores musculares e 
articulares. 
Cardiopatias 
adquiridas¹ 
7% Baixa resistência aeróbia. 
Respiratórias 
adquiridas¹ 
35% Baixa resistência aeróbia. 
¹Quando não se tem hereditariedade, ou quando os hábitos reforçaram a hereditariedade. Adaptado de ACSM 
(2003) e Ramos (1999). 
 
A partir destes fatores listados acima, consegui coletar algumas informações 
importantes, fazendo uma dualidade entre terceira idade sedentária, cujos dados 
foram coletadas através de alunos iniciantes no programa, e também do trabalho de 
doutorado do Professor Júlio Alejandro Jélvez, do qual fui pesquisador, e terceira 
idade ativa, com dados coletados na própria pesquisa aqui apresentada. 
 
3ª Idade Sedentária 3ª Idade Ativa 
Envelhecimento acelerado. Redução nos sintomas do 
envelhecimento. 
Respiração pesada. Respiração saudável. 
Stress. Reduz a ansiedade e tensão. 
Depressão. Melhora significativa no quadro de 
depressão. 
189 
 
Pouca ou nenhuma mobilidade 
motora. 
Ampliação da mobilidade. 
Fadiga. Bem estar físico. 
Má-vontade, indisposição. Disposição física ampla. 
Fraqueza para eventos cotidianos. Força. Eventos cotidianos passam a se 
tornar mais fáceis. 
Falta de consciência corporal. Domínio corporal. 
Auto piedade. Auto confiança. 
Ações e reações negativas. Ações e reações positivas. 
Alterações sociais. Vida social ativa. 
Opacidade. Desânimo. Vitalidade. 
Um peso para a família. Evitar ser um peso para a família. 
Sem vontade de viver. Cada dia a mais 
de vida é “lucro”, segundo eles 
mesmos. 
Vontade de viver, é um 
vencedor! 
Adaptado de Farias Junior, 1999. 
 
A divisão do que é ou não terceira idade, que descrevi anteriormente, no 
princípio deste capítulo, foi feita por que, através de estudos realizados em sala 
de aula no curso de graduação, eu pude ter uma importante informação em 
mãos: adultos jovens (em sua maioria) não se adaptam a jogos recreativos, 
principalmente se estes forem cooperativos, já idosos, assim como crianças, 
adaptam-se muito bem a esse tipo de atividade, pois tem uma mente mais 
aberta e livre de pudores existentes na puberdade e adultês. Claro que não 
podemos subestimar o idoso, colocando brincadeiras exclusivamente infantis 
nas aulas, mas vale fazer uma adaptação à realidade deles e utilizar os 
mesmos artifícios pedagógicos que com turmas infantis. Mais tarde, no terceiro 
capítulo (pedagogia da recreação na terceira idade) abordaremos mais a fundo 
esse assunto. Todas as informações que serão dadas foram recolhidas através 
de acertos e erros ao longo do trabalho. 
 
190 
 
Pedagogia da Recreação na Terceira Idade 
Aqui abordo importantes questões para nós, enquanto educadores físicos e 
educadores em um âmbito geral. São sugestões de trabalho, montagem de grupo e 
plano de aula e comportamento, a partir de atividades e/ou atitudes que foram bem 
aceitas pelo grupo. Aquelas que não foram satisfatórias para o caminho do projeto, 
optei por deixar de fora do trabalho. 
 
Como me portar enquanto Professor? 
Ao longo do projeto coletei importantes informações de como deve ser o 
comportamento do professor de ginástica e/ou recreação para a terceira idade. Claro 
que essa não é a verdade absoluta, até por que ela não existe, mas é válido saber 
algumas coisas básicas quando vou começar um trabalho com esse grupo. Demonstro 
essas sugestões em formato de lista com suas respectivas explicações abaixo: 
 
 Sempre sorrir. O tempo todo; O professor, mais do que um educador 
ou um “facilitador” está ali como animador da turma. Não há aula se o 
professor estiver com uma tristeza profunda estampada no rosto. Isso irá 
se refletir nos alunos e a aula vai acabar ficando maçante e chata, 
perdendo assim um de seus principais apelos: “A aula de recreação é 
divertida”. 
 
 Não ficar desanimado nunca, por pior que esteja sendo a sua aula; 
Uma aula divertida é aquela onde, além do professor estar feliz, a turma 
também está. Isso cansa, é muito desgastante, pois o professor, ao 
menor sinal de desânimo do aluno deve incentivá-lo a continuar, dizendo 
palavras de apoio e as vezes até algumas engraçadas. 
 “Vamos lá, se mexa. Está com raízes nos pés?...” 
 “quer que eu coloque uma musiquinha de ninar?...” 
191 
 
 Mas infelizmente nem sempre a aula é boa. Mesmo assim não 
desanime, continue sorrindo e animando como se essa fosse a melhor 
aula da sua vida, mesmo que seja o contrário. 
 
 Chamar a si mesmo de “Professor”, e não apenas pelo nome; 
Lembre-se que, mesmo queos alunos sejam mais velhos, você é o 
professor, isso irá impor uma relação de respeito mútuo, fazendo com 
que eles confiem naquilo que você, professor, está dizendo. O trabalho 
com a terceira idade passa em grande parte pela confiança. Sem uma 
relação professor-aluno não há confiança. 
 
 Nunca excluir ninguém por incapacidade física; A confiança passa 
também pela sua capacidade de resolver problemas. Um grande 
problema é propor uma atividade que um ou mais alunos não poderia 
executar por incapacidade física. Não os exclua, pois isso demonstrará 
uma incapacidade pedagógica sua. Refaça as regras ou atribua outras 
funções a essas pessoas, por isso sempre é bom se ter uma atividade 
“coringa”, para utilizar numa hora difícil. 
 
 Sempre ter uma carta na manga; Tudo pode dar errado. Tenha isso 
em mente. Tudo pode dar muito certo, mas também pode ir por água 
abaixo em um piscar de olhos. Tenha uma saída preparada. Faça seu 
plano de aula normalmente, mas coloque duas ou três atividades extras 
para serem utilizadas no momento em que algo der errado. 
 
 Mantenha contato visual sempre. Físico só se você não constatar 
nenhuma hostilidade; Idosos gostam muito daquele que lhes olham 
nos olhos. Isso demonstra autoconfiança e honestidade. Sempre olhe 
nos olhos do aluno. Nunca dê instruções aos pés ou aos joelhos deles, 
pois assim você pode estar perdendo a confiança deles, ou nunca 
chegar a tê-la. O contato físico ainda é um tabu, principalmente para 
idosos que foram criados no interior e que casaram cedo. Somente 
toque ou abrace aquele aluno caso note um terreno amigável nas 
192 
 
pequenas coisas, por exemplo, se ele dá a mão sem problemas nas 
atividades ou abraça colegas para dar oi ou tchau. Não saia abraçando 
seu aluno enlouquecidamente já no primeiro encontro. Vá devagar. 
Respeite. 
 
 Respeitar para ser respeitado. Só obterá o respeito deles se oferecer o 
mesmo. Não seja hostil ou ríspido, seja atencioso sem ser chato, ou seja 
chato sem ser abusado, não os subestime ou os “poupe”. Respeito e 
confiança são as palavras chave para trabalhar com terceira idade. 
 
O Que Fazer? 
Os idosos que procuram este tipo de atividade, em geral, vão por vontade 
própria e têm a mente aberta a brincadeiras e atividades que estimulem o 
imaginário, por isso vale propô-los atividades assim como para crianças 
pequenas, sem subestimá-los. Também é bom que estimulemos potenciais que 
estão adormecidos ou debilitados nos idosos, como força, equilíbrio, velocidade 
de reação e agilidade. Dou sugestões de trabalho que funcionaram comigo no 
andamento das aulas, dentro dos conhecimentos da recreação. Como para 
qualquer outro tipo de grupo, para a terceira idade também não existe uma 
“Receita de bolo” para montar as aulas, mas é válido dar uma lida no que 
segue. 
 Jogos Cooperativos; Uma idéia muito válida é trabalhar jogos 
cooperativos, pois nessa fase da vida as pessoas não costumam 
prezar muito a vitória, caso seja necessário derrotar o outro para 
se chegar a isso. Eles gostam muito do sentimento de “trabalho 
em equipe”. Uma questão que pra nós hoje é fundamental daqui a 
alguns anos não será mais: “VENCER”. Em uma certa idade a 
vitória não é mais importante. Todos os idosos têm consciência 
de que já adquiriram tudo aquilo que era possível. Por isso 
cooperação é uma boa pedida. Eles trabalham muito melhor, uns 
sendo incentivados pelos outros e sabendo que nenhuma falha 
sua pode significar grande perda. 
193 
 
 Jogos Simbólicos; Sempre tente colocar um sentido nas 
atividades. Em vez de “pular o step”, porquê não “pular a poça 
d’água”? Faça com que eles entendam situações cotidianas nas 
tarefas; Ou então invente histórias para que a turma entenda 
aquilo como uma fantasia. Também dá muito certo. 
 Jogos Populares; Ou Jogos Folclóricos. têm caráter tradicional, 
não são regulamentados e o espaço de jogo depende da 
disponibilidade. Na maioria são jogos que recuperam algo 
esquecido ou perdido na infância. Como exemplos recreativos 
temos rodas cantadas, amarelinha, peteca, queimado e 
brincadeiras com bola e danças. Faça uma pesquisa com sua 
turma e pergunte do que eles brincavam ou gostariam de ter 
brincado na infância, depois pesquise e aprenda para utilizar nas 
aulasl. 
 Contestes; “Eu quero ver quem consegue...”. Mesmo não ligando 
muito pra vitória os idosos ainda estão muito preocupados com 
sua capacidade. Leva tempo para aceitar que seu corpo já não é 
mais aquilo que foi há 30 anos atrás. Claro que não podemos 
propor atividades de adolescentes, mas podemos dar a entender 
que é. Propondo uma atividade e antes de pedir que executem, 
diga que é muito difícil mesmo pra você. Com certeza eles iriam 
conseguir executá-la de qualquer jeito, mas assim o sentimento 
de capacidade é muito estimulado, e só tende a melhorar. 
 Materiais alternativos; Com o discurso politicamente correto que 
há hoje em dia sobre reciclagem, também é legal que 
trabalhemos isso com nossa turma de terceira idade. Materiais 
como jornal e papelão são ótimos para brincadeiras de 
motricidade ampla. Já a sucata em geral é boa para trabalhar a 
motricidade fina, como a montagem de equipamentos para as 
aulas ou até mesmo o artesanato, que não deixa de ser uma 
forma de recrear, e que os idosos gostam muito. 
 Aulas temáticas. Posso utilizar e muito alguma data festiva para 
ser o tema da minha aula, como por exemplo as festas juninas, 
194 
 
semana farroupilha, carnaval, entre outras datas. Contextualize 
sua aula com o que está acontecendo, fazendo assim com que 
ela se torne mais interessante. 
 
Biofisiologia da Terceira Idade 
 
Muito importante, talvez, mais do que a própria metodologia de ensino, é 
conhecer como funciona o organismo de um idoso, saber que a grande maioria 
tem patologias sérias que refletem na capacidade e nos indicadores vitais, e 
que todos têm sua capacidade de produção de força e sustentação diminuídas 
por uma consequência natural do tempo. Saiba como funciona e como prevenir 
acidentes. Aqui dou uma rápida passada pelos aspectos biofisiológicos deste 
grupo e trago sugestões de cuidados e prevenção que colhi durante o 
andamento do projeto. 
 
Envelhecimento 
 
Adiante veremos algumas conseqüências inevitáveis do envelhecimento 
através de dados coletados nas obras de Bompa (2002), Guyton (2002), ACSM 
(2003) e Ramos (1999): 
A potência muscular aos 75 anos é 50-75% menor que aos 20 anos. Este fato 
reduz seriamente a capacidade de reação à quedas. Aos 80 anos a massa 
muscular foi reduzida pela metade em destreinados. Conseqüentemente 
mitocôndrias e fosfagênios também desaparecem, reduzindo a capacidade de 
produzir energia e gastar calorias em repouso. Com o exercício físico regular 
há a possibilidade de redução nos sintomas da artrite, as articulações ficam 
mais fortes e o inchaço e a dor diminuem. Há também uma acentuada 
diminuição no risco de quedas e fraturas, por haver também melhora na 
velocidade de resposta muscular (agilidade), melhor equilíbrio e caminhar mais 
195 
 
seguro. Veja a tabela a seguir que mostra a perda de massa óssea e muscular 
em destreinados. É bom lembrar que esta é uma visão geral, pois em mulheres 
essa queda é ainda mais acentuada do que nos homens. 
 
Idade Perda de massa óssea Perda de massa muscular 
20 anos - Fase lenta de perda 
35 anos 1% por década = 
50 anos 1,5 a 2% por década Fase rápida de perda 
65 anos 20% de perda = 
80 anos 30% de perda 50% de perda em destreinados 
 
 
Habilidades Motoras 
 
Nesta faixa etária a motricidade fina já está muito debilitada, tal como a força 
musculare muitas vezes também o equilíbrio e a velocidade de reação, estes 
últimos dois menos comuns que os primeiros, mas ainda assim bastante 
incidentes. Proponha atividades que venham de encontro com a dificuldade 
deles, mas em doses homeopáticas. Comece com atividades moderadas na 
primeira aula e vá estimulando essas habilidades ao longo do tempo. Caso seja 
uma aula esporádica, esqueça essa dica. Esse é um trabalho que leva tempo 
para que apareçam os resultados. 
 
Saúde e Indicadores Vitais 
Quando vou trabalhar com a terceira idade é bom que eu tome alguns cuidados 
e adote medidas de precaução. O ideal é que se faça uma anamnese e uma 
196 
 
avaliação física, além de analisar exames clínicos, coletar bulas e tudo o mais 
que possa dizer respeito à saúde do meu aluno idoso. Mas, caso você não 
tenha tempo disso, saiba de algumas coisas: 
 Terá pelo menos um aluno cardiopata e/ou diabético, por isso 
pegue leve nas atividades aeróbicas; 
 A maioria terá artropatias e osteopatias, por isso não faça 
muitos exercícios com impacto; 
 Pelo menos uma pessoa terá labirintite. Já pergunte antes do 
alongamento quem sofre disto, pois o aluno poderá sofrer uma queda em uma 
atividade simples. Sabendo quem sofre de labirintite, faça com que este(s) não 
execute(m) muitas viradas de cabeça e mudanças bruscas de direção; 
 A grande maioria terá hipertensão arterial. Cuidado com jogos 
recreativos que submetem os alunos a uma pressão muscular prolongada; 
 Uma medida que se pode adotar sem muita dificuldade é medir 
a frequência cardíaca da turma antes, depois e, se possível, durante a aula, 
pedindo que cada um conte seus batimentos no punho ou na artéria aorta (lado 
esquerdo do pescoço) por 15 ou 30 segundos, depois multiplique. Para se ter 
uma base do que é seguro faça a conta 220-idade. Se o batimento do aluno 
estiver ultrapassando este nível é bom tomar cuidado, principalmente se for um 
hipertenso e/ou cardiopata. 
 
Considerações Finais 
 
Todas as informações descritas no artigo foram coletadas na prática durante a 
pesquisa, em livros e sites confiáveis, na pesquisa de doutorado do Professor 
Júlio Alejandro Jélvez e em conversas minhas com meus professores da 
graduação. É bom ressaltar alguns acontecimentos importantes da turma 
durante o processo: 
197 
 
 Alguns alunos abandonaram o uso de medicamentos diuréticos, 
antidepressivos e para insônia; 
 Muitos diminuíram a dose de medicamentos, assim como obtiveram 
uma melhora significativa em seus indicadores vitais; 
 Todos que levaram a sério o programa tiveram significativa melhora 
na força física, estabilização e equilíbrio e resistência aeróbica; 
As relações interpessoais melhoraram, fazendo com que eles 
tornassem-se pessoas mais felizes... 
 
E dois novos casais formaram-se durante as aulas! 
 
 
 
 
 
Referências: 
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EM DEZEMBRO DE 2009 ALCIDES E 
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NAMORO 
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198 
 
BROTTO, Fabio Otuzzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um 
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FARIAS JUNIOR, Alfredo Gomes. Ginástica, dança e desporto para a 
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HEYWARD, V. H. – Avaliação Física e Prescrição de Exercício – Técnicas 
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 LORDA, Raúl C. Recreação na terceira idade. Rio de Janeiro: Sprint, 1995. 
RAMOS, A. T. – Atividade Física – Diabéticos, gestantes, 3ª Idade, Criança 
e Obesos. Rio de Janeiro: Sprint, 1999. 
SOLER, Reinaldo. Brincando e aprendendo na Educação Física especial: 
planos de aula. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.

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