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183 Recreação e exercício físico para a Terceira Idade Luís Fernando Ferreira Resumo: Este trabalho é o sumo de uma pesquisa realizada entre os anos de 2007 e 2010, em Quintão, onde se tenta mostrar, através dos resultados obtidos, que o exercício físico abordado não só de uma forma recreativa, mas utilizando essa técnica, pode ser benéfico para uma ampla melhora dos indicadores biopsicossociais do grupo em questão. Para o melhor entendimento do trabalho, ele foi dividido em três grandes partes: (1) Conhecendo a turma, onde o autor divide quem pode ou não ser considerado terceira idade, através de pesquisa bibliográfica e também por meio do trabalho realizado ao longo dos dois anos; (2) Pedagogia da recreação para a terceira idade, onde a pesquisa é conduzida para um ângulo metodológico, isso é, tentando mostrar o que deu e o que não deu certo com os mais de duzentos idosos que passaram pelo programa, e sugerindo atividades que se mostraram muito eficazes ao longo do processo; (3) Aspectos biofisiológicos da terceira idade, quando, através de pesquisa na literatura disponível e dados estatísticos do trabalho de pesquisa, foram colocados alguns parâmetros de saúde e prevenção, assim como características do envelhecimento em uma visão geral. Ao final da pesquisa puderam-se notar importantes mudanças no grupo de idosos que participou do programa, tanto no âmbito físico, como no psicológico e no social, pois ao término do processo foi possível que se fizessem importantes considerações, reforçando aquilo que o trabalho propôs inicialmente, já que muitos dos alunos tiveram melhoras significativas dos indicadores biofisiológicos, por vezes até abandonando o uso de alguns medicamentos; melhoraram as relações interpessoais, já que o grupo, antes de qualquer coisa era um grande convívio social; e por fim a autoconfiança teve mudanças rápidas e permanentes, uma vez que eles perceberam-se úteis, estando na ginástica ou não. Palavras Chave: Terceira idade, Recreação, Ginástica, Jogos Cooperativos. Resumén: Este documento es resultado de una encuesta celebrada entre los años de 2007 y 2010 en Quintao, donde se pretende demostrar con estos resultados, que se trataba no sólo de ejercicio físico de manera recreativa, pero gracias a esta técnica puede ser beneficioso de indicadores amplios biopsicosocial de mejoría en el grupo. Para una mejor comprensión de la obra, se divide en tres partes principales: (1) Conocer la clase, donde el autor divide a quienes pueden o no pueden ser considerados personas mayores, a través de la literatura y también a través del trabajo llevado a cabo más de dos años, (2) Pedagogía de la recreación para las personas mayores, donde la investigación se lleva a cabo a un ángulo metodológico, es decir, tratando de mostrar lo que funcionó y lo que no trabajamos con más de trescientas personas de edad avanzada que han pasado por el programa, y actividades sugeridas que resultó ser muy efectiva en todo el proceso, (3) los aspectos bio-fisiológicos de las personas mayores, cuando, mediante la búsqueda en la literatura y las estadísticas disponibles de la investigación fueron colocados en algunos parámetros de la salud y prevención, así como las características del envejecimiento una visión general. Al final del estudio se pudo observar grandes cambios en el grupo de los adultos mayores que participaron en el programa, tanto en lo físico, como en el psicológico y social, porque al final del proceso fue posible que si se tratara de consideraciones importantes, lo que refuerza lo que el trabajo propuesto inicialmente, ya que muchos de los estudiantes tuvieron una mejoría significativa de los indicadores bio-fisiológicos, a veces incluso el abandono del uso de algunos medicamentos, mejorar las relaciones interpersonales, como el grupo, antes que nada fue una gran vida social, y finalmente tuvo la confianza rápida y permanente, una vez que se dieron cuenta de su utilidad, siendo en el gimnasio o no. Palabras clave: Personas mayores, Recreación, Gimnasia, Juegos Cooperativos. 184 Introdução e considerações iniciais Todas as informações deste trabalho foram coletadas entre abril de 2007 e outubro de 2010, durante as aulas de ginástica para a terceira idade da Academia Popular e as aulas de recreação do projeto Dia Da Atividade, em Quintão. Mais de 300 idosos passaram pelas atividades. Os resultados coletados, sejam metodológicos, físicos, psicológicos ou sociais encontram-se espalhados ao longo deste artigo sob uma forma resumida, com uma linguagem informal e de fácil entendimento. Além disso, os assuntos disponíveis foram divididos em três grandes partes: Conhecendo a turma, onde eu dividi quem pode ou não ser considerado terceira idade, através de pesquisa bibliográfica e também por meio do trabalho realizado ao longo dos dois anos; Pedagogia da recreação para a terceira idade, onde a pesquisa é conduzida para um ângulo metodológico, isso é, tentando mostrar o que deu ou não certo com os mais de trezentos idosos que passaram pelo programa, e sugerindo atividades que se mostraram muito eficazes ao longo do processo; Aspectos biofisiológicos da terceira idade, quando, através de pesquisa na literatura disponível e dados estatísticos do trabalho de pesquisa, foram colocados alguns parâmetros de saúde e prevenção, assim como características do envelhecimento em uma visão geral. O objetivo dessa pesquisa foi mostrar que o exercício físico, quando realizado de uma forma lúdica pode ser assimilado de uma forma mais facilitada por esse grupo tão especial, mas que ainda hoje oferece muita resistência à prática do exercício físico, por infinitos motivos, sendo um deles, e muito incidente, por culpa de nós, professores. Normalmente um idoso que procura uma academia procura não só o exercício físico por uma questão de saúde. Ele também quer 185 atenção, quer convívio social, quer carinho, o que não é oferecido muitas vezes pelos professores. Sendo melhor assimilado, o trabalho rende frutos muito mais rapidamente que o esperado. Só compete a nós, enquanto educadores, modificar essa realidade. Por que Trabalhar com Terceira Idade? A “terceira idade”, ou “melhor idade”, ou “idosos” (Lorda, 1995), como se queira, é o grupo de pessoas que mais cresce atualmente no Brasil, mas que segue sendo inexplorado, senão inexplorado, maltratado por nós, educadores físicos. Este grupo exige um tratamento especial, que não se encontra em qualquer outro grupo de pessoas. Hoje em dia nós temos acesso a muito material impresso e virtual sobre o tema, mas não há interesse. Veja um bom exemplo por mim: através de um boca-boca rápido constatei que, dos cinquenta colegas que ingressaram no curso comigo, somente três trabalham com terceira idade. Isso é 6% dos alunos trabalha com uma população que cresce 8% ao ano. A balança pesa contra nós. Veja os dados do IBGE (2002) para o crescimento estimado da terceira idade até 2020. Note que no primeiro gráfico (em azul) é mostrado o crescimento em números de pessoas para as idades de 15 a 29 anos e de 60 a 69 anos, este último o nosso foco. Enquanto a população de 15 a 29 anos deve pular de 48 milhões a pouco menos de 50 milhões em dezessete anos, o público da terceira idade terá um salto de 7,5 milhões a mais de 15 milhões no mesmo período. Isso demonstrado em percentual de crescimento, como no segundo gráfico (em vermelho) é ainda mais gritante, pois quando o público jovem avança 3%, a terceira idade avança 100%. Isso é, para cada pessoa que entra na puberdade, 33 passam a ser considerados terceira idade. 186 Conhecendo a Turma Para começar este trabalhode pesquisa, primeiro fiz um levantamento bibliográfico para saber o que é terceira idade, ou quem pode fazer parte desse grupo, cheguei a seguinte informação: Terceira Idade são aqueles com idade igual ou superior a 65 anos, segundo a legislação brasileira, pois já tem idade para sair do mercado de trabalho, isso é, aposentar-se. Além disso, após algum tempo de trabalho e alguns testes bem sucedidos pude notar o seguinte: 0 10.000.000 20.000.000 30.000.000 40.000.000 50.000.000 2003 2020 15 a 29 Anos 60 a 69 anos 0 20 40 60 80 100 2020 15 a 29 Anos 60 a 69 Anos 187 Também podem se encaixar indivíduos adultos com mais de 45 anos que tiveram alguma patologia que deixou sequelas, como AVC ou outras cardiopatias, Alzheimer ou outras doenças degenerativas do SNC, patologias que refletem no desempenho, como diabetes e hipertensão e traumas físicos. Aspectos da Turma É bom que se perceba três aspectos principais para o trabalho com a terceira idade, aspectos esses que devem ser abordados à exaustão, para que índices possam ser melhorados. São eles: Aspectos Sociais: Vários autores (Ramos, 1999; Lorda, 1995 e; Farias Ramos, 1999) ressaltam que muitos deles são aposentados, viúvos e/ ou sem família, por isso a solidão toma conta de suas vidas, fazendo com que tenham bloqueios às relações interpessoais, por isso comecei, aos poucos, a fazer amizade com eles, para que me considerassem parte da família. Isso é muito importante para eles, pois pode ser um forte pilar para que eles se apóiem, evitando ou amenizando os sintomas de depressão, que acomete grande parte desse público. Aspectos Psicológicos: Com esses problemas sociais eles acabam se achando um peso para a família (caso haja uma) ou para a sociedade, reforçando o sentimento de incapacidade e inutilidade ante aos desafios da vida cotidiana, podendo-se assim afirmar que os aspectos psicológicos refletem a condição social do idoso e vice-versa, segundo Carneiro e Falcone (2004) e Carlos, Jacques, Larratéa e herédia (1999). Aspectos físico-motores: Diversos autores da área da fisiologia e treinamento físico-desportivo (Guyton, 2002 e Bompa, 2002) ressaltam que idosos já têm, naturalmente, problemas físicos por culpa da queda bruta de hormônios, conseqüentemente a diminuição da massa muscular e óssea, o envelhecimento dos tecidos que levam a doenças e os maus hábitos da vida toda que acabaram transformando-se eu uma 188 patologia evitável, entre outras coisas. Essas patologias que apontei como “evitáveis” são muito comuns entre esse grupo, por isso listei algumas que podem refletir na capacidade físico-motora do aluno: Patologia Incidência dentre os pesquisados Sintomas refletidos na capacidade relevantes à pesquisa Diabetes 25% Baixa força e velocidade de reação e dores musculares e articulares, por inchaço. Hipertensão 60% Tonturas e náuseas. AVC, derrame e isquemia 1% Incapacidade física, dificuldades de fala e por vezes cognitiva. Obesidade 54% Imobilidade, fadiga e dores musculares e articulares. Cardiopatias adquiridas¹ 7% Baixa resistência aeróbia. Respiratórias adquiridas¹ 35% Baixa resistência aeróbia. ¹Quando não se tem hereditariedade, ou quando os hábitos reforçaram a hereditariedade. Adaptado de ACSM (2003) e Ramos (1999). A partir destes fatores listados acima, consegui coletar algumas informações importantes, fazendo uma dualidade entre terceira idade sedentária, cujos dados foram coletadas através de alunos iniciantes no programa, e também do trabalho de doutorado do Professor Júlio Alejandro Jélvez, do qual fui pesquisador, e terceira idade ativa, com dados coletados na própria pesquisa aqui apresentada. 3ª Idade Sedentária 3ª Idade Ativa Envelhecimento acelerado. Redução nos sintomas do envelhecimento. Respiração pesada. Respiração saudável. Stress. Reduz a ansiedade e tensão. Depressão. Melhora significativa no quadro de depressão. 189 Pouca ou nenhuma mobilidade motora. Ampliação da mobilidade. Fadiga. Bem estar físico. Má-vontade, indisposição. Disposição física ampla. Fraqueza para eventos cotidianos. Força. Eventos cotidianos passam a se tornar mais fáceis. Falta de consciência corporal. Domínio corporal. Auto piedade. Auto confiança. Ações e reações negativas. Ações e reações positivas. Alterações sociais. Vida social ativa. Opacidade. Desânimo. Vitalidade. Um peso para a família. Evitar ser um peso para a família. Sem vontade de viver. Cada dia a mais de vida é “lucro”, segundo eles mesmos. Vontade de viver, é um vencedor! Adaptado de Farias Junior, 1999. A divisão do que é ou não terceira idade, que descrevi anteriormente, no princípio deste capítulo, foi feita por que, através de estudos realizados em sala de aula no curso de graduação, eu pude ter uma importante informação em mãos: adultos jovens (em sua maioria) não se adaptam a jogos recreativos, principalmente se estes forem cooperativos, já idosos, assim como crianças, adaptam-se muito bem a esse tipo de atividade, pois tem uma mente mais aberta e livre de pudores existentes na puberdade e adultês. Claro que não podemos subestimar o idoso, colocando brincadeiras exclusivamente infantis nas aulas, mas vale fazer uma adaptação à realidade deles e utilizar os mesmos artifícios pedagógicos que com turmas infantis. Mais tarde, no terceiro capítulo (pedagogia da recreação na terceira idade) abordaremos mais a fundo esse assunto. Todas as informações que serão dadas foram recolhidas através de acertos e erros ao longo do trabalho. 190 Pedagogia da Recreação na Terceira Idade Aqui abordo importantes questões para nós, enquanto educadores físicos e educadores em um âmbito geral. São sugestões de trabalho, montagem de grupo e plano de aula e comportamento, a partir de atividades e/ou atitudes que foram bem aceitas pelo grupo. Aquelas que não foram satisfatórias para o caminho do projeto, optei por deixar de fora do trabalho. Como me portar enquanto Professor? Ao longo do projeto coletei importantes informações de como deve ser o comportamento do professor de ginástica e/ou recreação para a terceira idade. Claro que essa não é a verdade absoluta, até por que ela não existe, mas é válido saber algumas coisas básicas quando vou começar um trabalho com esse grupo. Demonstro essas sugestões em formato de lista com suas respectivas explicações abaixo: Sempre sorrir. O tempo todo; O professor, mais do que um educador ou um “facilitador” está ali como animador da turma. Não há aula se o professor estiver com uma tristeza profunda estampada no rosto. Isso irá se refletir nos alunos e a aula vai acabar ficando maçante e chata, perdendo assim um de seus principais apelos: “A aula de recreação é divertida”. Não ficar desanimado nunca, por pior que esteja sendo a sua aula; Uma aula divertida é aquela onde, além do professor estar feliz, a turma também está. Isso cansa, é muito desgastante, pois o professor, ao menor sinal de desânimo do aluno deve incentivá-lo a continuar, dizendo palavras de apoio e as vezes até algumas engraçadas. “Vamos lá, se mexa. Está com raízes nos pés?...” “quer que eu coloque uma musiquinha de ninar?...” 191 Mas infelizmente nem sempre a aula é boa. Mesmo assim não desanime, continue sorrindo e animando como se essa fosse a melhor aula da sua vida, mesmo que seja o contrário. Chamar a si mesmo de “Professor”, e não apenas pelo nome; Lembre-se que, mesmo queos alunos sejam mais velhos, você é o professor, isso irá impor uma relação de respeito mútuo, fazendo com que eles confiem naquilo que você, professor, está dizendo. O trabalho com a terceira idade passa em grande parte pela confiança. Sem uma relação professor-aluno não há confiança. Nunca excluir ninguém por incapacidade física; A confiança passa também pela sua capacidade de resolver problemas. Um grande problema é propor uma atividade que um ou mais alunos não poderia executar por incapacidade física. Não os exclua, pois isso demonstrará uma incapacidade pedagógica sua. Refaça as regras ou atribua outras funções a essas pessoas, por isso sempre é bom se ter uma atividade “coringa”, para utilizar numa hora difícil. Sempre ter uma carta na manga; Tudo pode dar errado. Tenha isso em mente. Tudo pode dar muito certo, mas também pode ir por água abaixo em um piscar de olhos. Tenha uma saída preparada. Faça seu plano de aula normalmente, mas coloque duas ou três atividades extras para serem utilizadas no momento em que algo der errado. Mantenha contato visual sempre. Físico só se você não constatar nenhuma hostilidade; Idosos gostam muito daquele que lhes olham nos olhos. Isso demonstra autoconfiança e honestidade. Sempre olhe nos olhos do aluno. Nunca dê instruções aos pés ou aos joelhos deles, pois assim você pode estar perdendo a confiança deles, ou nunca chegar a tê-la. O contato físico ainda é um tabu, principalmente para idosos que foram criados no interior e que casaram cedo. Somente toque ou abrace aquele aluno caso note um terreno amigável nas 192 pequenas coisas, por exemplo, se ele dá a mão sem problemas nas atividades ou abraça colegas para dar oi ou tchau. Não saia abraçando seu aluno enlouquecidamente já no primeiro encontro. Vá devagar. Respeite. Respeitar para ser respeitado. Só obterá o respeito deles se oferecer o mesmo. Não seja hostil ou ríspido, seja atencioso sem ser chato, ou seja chato sem ser abusado, não os subestime ou os “poupe”. Respeito e confiança são as palavras chave para trabalhar com terceira idade. O Que Fazer? Os idosos que procuram este tipo de atividade, em geral, vão por vontade própria e têm a mente aberta a brincadeiras e atividades que estimulem o imaginário, por isso vale propô-los atividades assim como para crianças pequenas, sem subestimá-los. Também é bom que estimulemos potenciais que estão adormecidos ou debilitados nos idosos, como força, equilíbrio, velocidade de reação e agilidade. Dou sugestões de trabalho que funcionaram comigo no andamento das aulas, dentro dos conhecimentos da recreação. Como para qualquer outro tipo de grupo, para a terceira idade também não existe uma “Receita de bolo” para montar as aulas, mas é válido dar uma lida no que segue. Jogos Cooperativos; Uma idéia muito válida é trabalhar jogos cooperativos, pois nessa fase da vida as pessoas não costumam prezar muito a vitória, caso seja necessário derrotar o outro para se chegar a isso. Eles gostam muito do sentimento de “trabalho em equipe”. Uma questão que pra nós hoje é fundamental daqui a alguns anos não será mais: “VENCER”. Em uma certa idade a vitória não é mais importante. Todos os idosos têm consciência de que já adquiriram tudo aquilo que era possível. Por isso cooperação é uma boa pedida. Eles trabalham muito melhor, uns sendo incentivados pelos outros e sabendo que nenhuma falha sua pode significar grande perda. 193 Jogos Simbólicos; Sempre tente colocar um sentido nas atividades. Em vez de “pular o step”, porquê não “pular a poça d’água”? Faça com que eles entendam situações cotidianas nas tarefas; Ou então invente histórias para que a turma entenda aquilo como uma fantasia. Também dá muito certo. Jogos Populares; Ou Jogos Folclóricos. têm caráter tradicional, não são regulamentados e o espaço de jogo depende da disponibilidade. Na maioria são jogos que recuperam algo esquecido ou perdido na infância. Como exemplos recreativos temos rodas cantadas, amarelinha, peteca, queimado e brincadeiras com bola e danças. Faça uma pesquisa com sua turma e pergunte do que eles brincavam ou gostariam de ter brincado na infância, depois pesquise e aprenda para utilizar nas aulasl. Contestes; “Eu quero ver quem consegue...”. Mesmo não ligando muito pra vitória os idosos ainda estão muito preocupados com sua capacidade. Leva tempo para aceitar que seu corpo já não é mais aquilo que foi há 30 anos atrás. Claro que não podemos propor atividades de adolescentes, mas podemos dar a entender que é. Propondo uma atividade e antes de pedir que executem, diga que é muito difícil mesmo pra você. Com certeza eles iriam conseguir executá-la de qualquer jeito, mas assim o sentimento de capacidade é muito estimulado, e só tende a melhorar. Materiais alternativos; Com o discurso politicamente correto que há hoje em dia sobre reciclagem, também é legal que trabalhemos isso com nossa turma de terceira idade. Materiais como jornal e papelão são ótimos para brincadeiras de motricidade ampla. Já a sucata em geral é boa para trabalhar a motricidade fina, como a montagem de equipamentos para as aulas ou até mesmo o artesanato, que não deixa de ser uma forma de recrear, e que os idosos gostam muito. Aulas temáticas. Posso utilizar e muito alguma data festiva para ser o tema da minha aula, como por exemplo as festas juninas, 194 semana farroupilha, carnaval, entre outras datas. Contextualize sua aula com o que está acontecendo, fazendo assim com que ela se torne mais interessante. Biofisiologia da Terceira Idade Muito importante, talvez, mais do que a própria metodologia de ensino, é conhecer como funciona o organismo de um idoso, saber que a grande maioria tem patologias sérias que refletem na capacidade e nos indicadores vitais, e que todos têm sua capacidade de produção de força e sustentação diminuídas por uma consequência natural do tempo. Saiba como funciona e como prevenir acidentes. Aqui dou uma rápida passada pelos aspectos biofisiológicos deste grupo e trago sugestões de cuidados e prevenção que colhi durante o andamento do projeto. Envelhecimento Adiante veremos algumas conseqüências inevitáveis do envelhecimento através de dados coletados nas obras de Bompa (2002), Guyton (2002), ACSM (2003) e Ramos (1999): A potência muscular aos 75 anos é 50-75% menor que aos 20 anos. Este fato reduz seriamente a capacidade de reação à quedas. Aos 80 anos a massa muscular foi reduzida pela metade em destreinados. Conseqüentemente mitocôndrias e fosfagênios também desaparecem, reduzindo a capacidade de produzir energia e gastar calorias em repouso. Com o exercício físico regular há a possibilidade de redução nos sintomas da artrite, as articulações ficam mais fortes e o inchaço e a dor diminuem. Há também uma acentuada diminuição no risco de quedas e fraturas, por haver também melhora na velocidade de resposta muscular (agilidade), melhor equilíbrio e caminhar mais 195 seguro. Veja a tabela a seguir que mostra a perda de massa óssea e muscular em destreinados. É bom lembrar que esta é uma visão geral, pois em mulheres essa queda é ainda mais acentuada do que nos homens. Idade Perda de massa óssea Perda de massa muscular 20 anos - Fase lenta de perda 35 anos 1% por década = 50 anos 1,5 a 2% por década Fase rápida de perda 65 anos 20% de perda = 80 anos 30% de perda 50% de perda em destreinados Habilidades Motoras Nesta faixa etária a motricidade fina já está muito debilitada, tal como a força musculare muitas vezes também o equilíbrio e a velocidade de reação, estes últimos dois menos comuns que os primeiros, mas ainda assim bastante incidentes. Proponha atividades que venham de encontro com a dificuldade deles, mas em doses homeopáticas. Comece com atividades moderadas na primeira aula e vá estimulando essas habilidades ao longo do tempo. Caso seja uma aula esporádica, esqueça essa dica. Esse é um trabalho que leva tempo para que apareçam os resultados. Saúde e Indicadores Vitais Quando vou trabalhar com a terceira idade é bom que eu tome alguns cuidados e adote medidas de precaução. O ideal é que se faça uma anamnese e uma 196 avaliação física, além de analisar exames clínicos, coletar bulas e tudo o mais que possa dizer respeito à saúde do meu aluno idoso. Mas, caso você não tenha tempo disso, saiba de algumas coisas: Terá pelo menos um aluno cardiopata e/ou diabético, por isso pegue leve nas atividades aeróbicas; A maioria terá artropatias e osteopatias, por isso não faça muitos exercícios com impacto; Pelo menos uma pessoa terá labirintite. Já pergunte antes do alongamento quem sofre disto, pois o aluno poderá sofrer uma queda em uma atividade simples. Sabendo quem sofre de labirintite, faça com que este(s) não execute(m) muitas viradas de cabeça e mudanças bruscas de direção; A grande maioria terá hipertensão arterial. Cuidado com jogos recreativos que submetem os alunos a uma pressão muscular prolongada; Uma medida que se pode adotar sem muita dificuldade é medir a frequência cardíaca da turma antes, depois e, se possível, durante a aula, pedindo que cada um conte seus batimentos no punho ou na artéria aorta (lado esquerdo do pescoço) por 15 ou 30 segundos, depois multiplique. Para se ter uma base do que é seguro faça a conta 220-idade. Se o batimento do aluno estiver ultrapassando este nível é bom tomar cuidado, principalmente se for um hipertenso e/ou cardiopata. Considerações Finais Todas as informações descritas no artigo foram coletadas na prática durante a pesquisa, em livros e sites confiáveis, na pesquisa de doutorado do Professor Júlio Alejandro Jélvez e em conversas minhas com meus professores da graduação. É bom ressaltar alguns acontecimentos importantes da turma durante o processo: 197 Alguns alunos abandonaram o uso de medicamentos diuréticos, antidepressivos e para insônia; Muitos diminuíram a dose de medicamentos, assim como obtiveram uma melhora significativa em seus indicadores vitais; Todos que levaram a sério o programa tiveram significativa melhora na força física, estabilização e equilíbrio e resistência aeróbica; As relações interpessoais melhoraram, fazendo com que eles tornassem-se pessoas mais felizes... E dois novos casais formaram-se durante as aulas! Referências: AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE (ACSM) - Diretrizes do ACSM para os testes de esforço e sua prescrição – 6ª Edição. Rio de Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 2003. BEVILAQUA, Contursi E; Cossenza, C. E. – Manual do Personal Trainer. Rio de janeiro: Editora Sprint, 1998. BOMPA, T. O . Periodização. Teoria e Metodologia do Treinamento. São Paulo: Phorte editora, 2002. EM DEZEMBRO DE 2009 ALCIDES E IVONE RETOMARAM UM ANTIGO NAMORO THEREZINHA E JOSÉ CARLOS CONHECERAM- SE DURANTE AS AULAS, EM 2009. 198 BROTTO, Fabio Otuzzi. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como um exercício de convivência. São Paulo: Projeto Cooperação, 2001. FARIAS JUNIOR, Alfredo Gomes. Ginástica, dança e desporto para a terceira idade. Brasília: SESI / DN: INDESP, 1999. GUYTON, Arthur C. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 9ª Edição. HEYWARD, V. H. – Avaliação Física e Prescrição de Exercício – Técnicas Avançadas. 4ª Edição. Porto Alegre: Editora ArtMed, 2004. LORDA, Raúl C. Recreação na terceira idade. Rio de Janeiro: Sprint, 1995. RAMOS, A. T. – Atividade Física – Diabéticos, gestantes, 3ª Idade, Criança e Obesos. Rio de Janeiro: Sprint, 1999. SOLER, Reinaldo. Brincando e aprendendo na Educação Física especial: planos de aula. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.
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