Prévia do material em texto
DIREITO PROCESSUAL PENAL Autores: Jorge Roberto Krieger Rudglai Beroni Blois Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Reitor: Prof. Dr. Malcon Tafner Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Hiandra B. Götzinger Montibeller Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Profa. Jociane Stolf Revisão de Conteúdo: Rodrigo Koenig França Revisão Gramatical: Profª Camila Thaisa Alves Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci 345.05 K926d Krieger, Jorge Roberto Direito Processual Penal / Jorge Roberto Krieger e Rudglai Beroni Blois Souza. Indaial : Uniasselvi, 2012. 298. p.: il Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-545-1 1. Direito processual penal. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Copyright © UNIASSELVI 2012 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Rudglai Beroni Blois Souza Possui habilitação profissional plena de Magistério (1987) pelo Instituto Juvenal Miller. Graduada no Curso Superior de Letras Português - Licenciatura Plena - Habilitação Português e Literaturas e Língua Portuguesa pela Fundação Universidade do Rio Grande – FURG (Rio Grande – RS /1990). Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI (2005). Juíza Mediadora e Arbitral – Lei n° 9.307/96. Curso de Pedagogia pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI. Pós-Graduada em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci. Participou de vários Congressos, Cursos, Seminário, Simpósios durante sua caminhada acadêmica. Jorge Roberto Krieger Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC (1990) e graduação em Direito pela Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB (1997). É especialista em direito processual pela FURB (2000) e mestre em Direito pela UFSC (2002). Tem experiência profissional e docente em direito penal, processual penal e prática penal. É professor universitário desde 1998 e da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI) desde 2004. Autor de livro e artigos, bem como palestrante da área do direito penal. Sumário APRESENTAÇÃO ..................................................................... 7 CAPÍTULO 1 Fundamentos do Processo Penal ..................................... 11 CAPÍTULO 2 Lei Processual Penal .......................................................... 33 CAPÍTULO 3 Inquéríto Policial ............................................................... 61 CAPÍTULO 4 Ação Penal ......................................................................... 101 CAPÍTULO 5 Denúncia e Queixa .............................................................. 155 CAPÍTULO 6 Provas Penais .................................................................... 173 CAPÍTULO 7 Prisão ................................................................................... 213 CAPÍTULO 8 Recursos em Geral ........................................................... 243 CAPÍTULO 9 Juizados Criminais Especiais ............................................ 277 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): São os homens e não as leis que precisam mudar. Quando os homens forem bons, melhores serão as leis. Quando os homens forem sábios, as leis, por desnecessárias, deixarão de existir. Mas isto, será possível somente quando as leis estiverem escritas e atuantes no coração de cada um de nós. (Hermógenes) Há que se dizer, o Ensino a Distância e sua operacionalidade se apresenta como uma alternativa desencadeadora na melhoria da qualidade de ensino, por possibilitar maior acesso à Educação. Dentre as vantagens apresentadas, Leobons (1984) destaca que o EAD pode alcançar um grande número de pessoas e grupos, se adapta ao ritmo de cada participante, é versátil, além de possibilitar o autodidatismo, como processo de conquista processual, desencadeado pelo próprio indivíduo que se redimensiona a partir dele e para ele. Isto posto, apresentamos a nossa proposta educativa: buscar a contextualização do processo ensino-aprendizagem como ação objetiva e sistemática, que é mais que a mera instrução, embora esta possa ser um dos componentes do ensino, pois enquanto a instrução visa à erudição, o ensino no sentido pleno busca a compreensão e a sabedoria de vida. Neste viés, apresentamos o caderno de estudos da Disciplina de Direito Processual Penal, que tem como objetivo ensejar o aprendizado de Processo Penal a partir do paradigma Constitucional e análise crítica dos Institutos e o respeito por suas categorias jurídicas próprias. A ideia inicial deste estudo é proporcionar aos Bacharéis em Direito o conhecimento e a análise das particularidades relevantes e úteis do conteúdo da Disciplina. Ao priorizar o ensino-aprendizagem do pós-graduando, pensou-se em esclarecer alguns dos princípios norteadores do ensino, os quais objetivam dar fundamentação teórica a uma ação prática: o Espírito Democrático propicia ao pós-graduando e ao educador “ter vez e voz” dentro do processo educativo, desenvolvendo o espírito de cidadania e o ideal de realização, com audácia e esperança; a Simplicidade promove o encontro entre pós-graduando e educadores, pois por esta atitude e maneira de ser e de agir, barreiras de relacionamento e comunicação interpessoais são derrubadas, permitindo o acesso 8 fácil à pessoa do outro como recurso pessoal, transparente, disponível; o Diálogo- construtivo, usado como facilitador do relacionamento humano, esclarecedor de ideias; a Liberdade e o Respeito à Individualidade – respeito à liberdade de pensamento e expressão responsáveis, preparar o cidadão comprometido e crítico; o Espírito Crítico: favorecer uma consciência avaliativa de fatos, eventos ou situações concretas numa relação de integração como saber construído anteriormente nas diversas áreas do conhecimento humano; o Senso Crítico – capacidade de discernimento, de análise na recepção de fatos e ocorrências. Pelo senso critico, os valores são classificados e as prioridades ordenadas constituindo um impulso para a busca e alcance da verdade. O que nos propusemos a realizar é escrever este caderno de estudos de forma didática, direta, para que aluno possa ler, compreender e estudar. Logo, permitimo-nos, como educadores da área de Direito, sair do vocabulário rebuscado para a linguagem direta, de forma que o aluno possa gostar da leitura não pelas expressões utilizadas, mas simplesmente por entender o assunto sem, contudo, perder a formalidade que o Direito anuncia. Bom trabalho! Lista de Abreviaturas, Siglas, Símbolos e Expressões § Parágrafo, na legislação brasileira Apud Citado por, conforme ou segundo (do latim ) CC Conflito de competência Cciv/1916 Código Civil 1916 – Lei 3.071/1916 Cciv/2002 Código Civil 2002 – Lei 10.406/2002 CE Constituição do Estado CF Constituição Federal. O mesmo que CR (Constituição da República Fede- rativa do Brasil) CPC Código de Processo Civil – Lei 5.869/1973 CPI Comissão Parlamentar de Inquérito COM Código Penal Militar – Decreto – Lei 1.001/1969 de lege ferenda da lei a ser criada (do latim) de lege lata da lei já criada, em vigor (do latim) des. Desembargador des. fed. desembargador federal DJ Diário da Justiça ou Diário Judiciário EC Emenda Constitucional ECA Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/1990 HC Habeas Corpus inc. Inciso LC Lei Complementar LCP Lei da Contravenções Penais – Decreto– Lei 3.688/1941 Lei de Imprensa Lei 5.250/1967 LICC Lei de Introdução ao Código Civil – Decreto – Lei 4.657/1942 Ministério PúblicoMP RE Recurso extraordinário RISTF Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal RT Revista dos Tribunais STF Supremo Tribunal Federal STJ Supremo Tribunal de Justiça STM Supremo Tribunal Militar TACRIMSP Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo TAMG Tribunal de Alçada Criminal de Minas Gerais (extinto) TFR Tribunal Federal de Recursos (extinto) TJ Tribunal de Justiça TJM Tribunal de Justiça Militar TRE Tribunal Regional Eleitoral TRF Tribunal Regional Federal v. Volume (nas referências bibliográficas) ou versus (nas citações de juris- prudência estadunidense), conforme o caso CAPÍTULO 1 Fundamentos do Processo Penal A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Compreender a importância do Direito Processual Penal como instrumento de garantia do cidadão; � Ler, interpretar e pesquisar documentos e bibliografias diversas sobre o ordenamento Jurídico; � Desenvolver a capacidade de pesquisa e análise na Legislação, doutrina e Jurisprudência; � Identificar a dinâmica do Processo Penal como instrumento do jus puniendi do Estado e ao mesmo tempo instrumento de garantia. 13 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 Contextualização Falar em Direito Processual Penal suscita apresentar a mecânica e o funcionamento do Direito Penal e do Direito Processual Penal, utilizando como ferramentas questionamentos à luz da ética, do ordenamento jurídico pátrio e do Direito Comparado. Além disso, faz-se imprescindível o sentido e o significado deste Instituto e, sobretudo, construir, a partir do referencial existente, um conceito próprio de processo penal, para alcançar os efeitos que ele produz sobre a formação dos direitos e garantias do cidadão brasileiro. Neste capítulo, trataremos dos Fundamentos do Processo Penal com o intuito de proteger bens e interesses relevantes para a sociedade, dando ênfase ao Conceito de Processo, a Natureza Jurídica, Conteúdo, Conceito e Autonomia do Direito Processual Penal, apontando as Fontes das Normas Processuais Penais. Partindo deste pressuposto, daremos início à Disciplina através de estudos, discussões e debates acerca da temática que envolve este caderno. Atividade de Estudos: 1) Para você, qual o significado do Direito Processual Penal? Ao ouvir o nome deste Instituto, que relações você estabelece? Como você conceituaria Direito Processual Penal? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 14 Direito Processual Penal Direito de Punir Uma das tarefas do Estado é regulamentar a conduta do cidadão brasileiro, através de Normas, sem as quais a vida em sociedade seria impossível.Portanto, regras são estabelecidas para regulamentar a convivência entre os indivíduos e as possíveis relações destes com o Estado, entidade dotada de poder soberano, sendo titular exclusivo do Direito de Punir. Há que se dizer que o Estado, por ter o dever de proteger os direitos mais essenciais da sociedade, apreende para si o monopólio daquele direito. Verifica-se, de um lado, o agente do crime, que pugna, por todos os meios de defesa em direitos admitidos, preservar o seu direito de liberdade, o jus libertatis. Em síntese, observamos a seguinte situação – problema: o Estado apreende alguns valores como essenciais ao convívio dos seus indivíduos e, por sua vez, protege esses valores por meio de normas jurídicas de direito penal, em que sua transgressão ou ameaça é cominada a uma consequência, a sanção penal. Quando o indivíduo pratica uma conduta descrita no tipo penal incriminador e não é acobertada por uma excludente de ilicitude, pratica um injusto penal. O Estado, então, que enxerga a norma que foi ofendida, passa a ter o interesse de punir o ofensor, direito de punir aquele que lesa um valor defendido - ente estatal. Já o acusado ao ver seu direito de liberdade ameaçado, tendo interesse em se ver livre das consequências previstas pelo tipo penal incriminador, faz uso do seu jus libertatis. Entre o réu e o Estado surge um conflito de interesses qualificados pela pretensão punitiva do Estado e pela pretensão conferida pelo réu em defesa do jus libertatis. A este conflito dá-se o nome de lide ou litígio. A lide ou litígio que se instaura entre estes deve se desenrolar por uma série de atos coordenados que caminham para a solução ou composição do conflito, determinando o Estado-juiz por sua vez qual direito deve imperar. A esse conjunto de atos coordenados dá-se o nome de processo. O conceito de lide e de processo é único, haja vista que a jurisdição é uma, mas para efeitos de organização judiciária e para melhorar a persecução da justiça, se divide o litígio em cível e penal e o processo, por conseguinte, em cível e penal. Desta forma, o processo penal é a fórmula encontrada pelos Estados para comporem lides de natureza criminal. Segundo Mougenot (2011, p.33), “é certo que a presença do Estado enquanto entidade interfere cotidianamente na vida da sociedade, direcionando sua atuação, impondo restrições ao que os indivíduos podem ou não fazer, reprimindo Uma das tarefas do Estado é regulamentar a conduta do cidadão brasileiro, através de Normas, sem as quais a vida em sociedade seria impossível. Já o acusado ao ver seu direito de liberdade ameaçado, tendo interesse em se ver livre das consequências previstas pelo tipo penal incriminador, faz uso do seu jus libertatis. 15 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 os infratores que afrontam bens ou interesses da Sociedade ou do próprio Estado”. Uma vez violada a Norma Penal, com ato concreto de conduta típica, e a consequente lesão a um interesse público, surge para o Estado o Direito de Punir - direito de concretizar a sanção prevista abstratamente na lei penal. Ensina Bonfim (2005) que, para valer o seu jus puniendi, o Estado deve utilizar-se de um instrumento que seja capaz de punir os culpados; de consentir que se desenvolva uma atividade voltada para o descobrimento da veracidade dos fatos; de assegurar ao acusado os meios de defesa necessários para opor-se à presunção estatal. HIEROS GAMOS: maior site jurídico do mundo. www.hg.org Vale a pena refletir: Jus puniendi opõe-se inexoravelmente ao Jus libertatis do acusado – binômio que confirma a lide penal. Ao realizar a conduta proibida pela norma penal, aquele jus puniendi desce do plano abstrato para o concreto, eis que o Estado assume o dever de aplicar a pena ao autor da conduta proibida. Com o aparecimento do crime ou contravenção, surge a pretensão punitiva. A partir daí, o Estado exige que o interesse do criminoso em conservar sua liberdade se subordine ao seu, restringindo com a aplicação da pena o jus libertatis. O direito de punir é genérico. Em um primeiro momento, direciona-se a todos. É abstrato e existe antes da prática do ilícito penal. Portanto, esse Direitode Punir, por ser diplomado pelo Estado, é genérico e impessoal, pois não se restringe especificamente contra esta ou aquela pessoa, mas destina-se à coletividade como um todo. Uma vez violada a Norma Penal, com ato concreto de conduta típica, e a consequente lesão a um interesse público, surge para o Estado o Direito de Punir – direito de concretizar a sanção prevista abstratamente na lei penal. http://www.hg.org 16 Direito Processual Penal O Conflito de Interesses Surge a Partir da Lide Penal O Estado tem a pretensão de punir o infrator, enquanto este oferecerá resistência a essa pretensão, exercitando sua defesa técnica (pelo advogado) e pessoal (autodefesa). Esse conflito de interesses caracteriza a lide penal que será solucionada por meio de atuação jurisdicional. Não existe a coação direta, mas sim a coação indireta ou processual, ou seja, se é exigida prévia cominação legal para o crime, igualmente se exigirá sentença condenatória para a imposição de pena. A Jurisdição, por sua vez, só pode atuar e resolver o conflito por meio do processo, que funciona como garantia de sua legítima e regular atuação. É, portanto, um dos modos de solução do conflito de interesses. Observa-se a presença da autotutela ou autodefesa, na qual o titular do direito impõe seu ponto de vista e a autocomposição. Este último ressurgiu com a lei nº 9.099/95, permitindo a transação e a suspensão condicional do processo. “O processo penal, em termos genéricos, é o conjunto de atos visando disciplinar a pena ao acusado” (CARNELUTTI, 1950, p. 78). Informa-se que fazem parte do processo as pessoas interessadas, que são os sujeitos em conflito, e a pessoa desinteressada, que é o órgão jurisdicional. Logo, Processo é o meio pelo qual se resolve o conflito e pelo qual se exerce a jurisdição. Importante: só o juiz possui jurisdição – Poder do Estado em aplicação da pena. O processo também é o meio de exercício da ação penal. Direito Processual Penal Segundo o ensinamento de Cintra, Crinover e Dinamarco, “Direito Processual é o conjunto de normas e princípios que regem [...] o exercício conjugado da Jurisdição pelo Estado-Juiz, da ação pelo demandante e da defesa pelo demandado” (MALHEIROS, 1993, p.41). Trazendo a definição ao campo que realmente nos interessa, afirmamos que o Direito Processual Penal é o conjunto de princípios e normas da composição das lides penais por meio da aplicação do direito penal objetivo. Estado tem a pretensão de punir o infrator, enquanto este oferecerá resistência a essa pretensão, exercitando sua defesa técnica (pelo advogado) e pessoal (autodefesa). Processo é o meio pelo qual se resolve o conflito e pelo qual se exerce a jurisdição. Importante: só o juiz possui jurisdição – Poder do Estado em aplicação da pena. O processo também é o meio de exercício da ação penal. O Direito Processual Penal é o conjunto de princípios e normas da composição das lides penais por meio da aplicação do direito penal objetivo. A Jurisdição, por sua vez, só pode atuar e resolver o conflito por meio do processo, que funciona como garantia de sua legítima e regular atuação. 17 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 Na definição de José Frederico Marques, “é o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do direito penal, bem como as atividades persecutórias da polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos em função jurisdicional e respectivos auxiliares” (MARQUES, 2001, p. 20). Do conceito formulado pelos autores citados acima se infere que o Direito Processual Penal é o conjunto de normas (leis, por exemplo as previstas no CPP ) e princípios ( exemplo, o da ampla defesa), que regulam ou disciplinam a composição das lides penais, por meio da aplicação do Direito Penal Objetivo (aquele que prevê o crime), a sistematização dos órgãos de jurisdição (juízes e tribunais) e respectivos auxiliares (escreventes, oficiais de justiça), bem como a persecução penal como se aplica a pena (sentença); quem é o juiz competente (que vai decidir a lide) e como a persecução se dá em juízo (citação, defesa prévia...) - essas são questões disciplinadas pelo Direito Processual Penal. As sanções penais (as penas e as medidas de segurança) são objeto do Direito Penal. A aplicação do ramo penal é que pertence ao Direito Processual Penal. Tomando por base as informações até aqui levantadas, pode-se definir o Direito Processual Penal como o ramo jurídico que estuda o conjunto de princípios e normas acerca da aplicação jurisdicional do Direito Penal Material. Por seu turno, o Direito Processual Penal abrange a aplicação do Direito Penal e a disciplina dos órgãos de Jurisdição e da persecução penal, tendo em vista, como descreve Mougenot (2011), que: O processo penal é o instrumento do Estado para o exercício da jurisdição em matéria penal. O direito processual penal, portanto, pode ser definido como o ramo do Direito Público que se ocupa da forma e do modo (i.e.: o processo) pelos quais os órgãos estatais encarregados da administração da Justiça concretizam a pretensão punitiva, por meio da persecução penal e consequente punição dos culpados. Como já foi dito anteriormente, a partir do momento em que o homem passou a conviver em sociedade, surgiu a necessidade de manter a ordem, de estabelecer uma forma de controle, para isso foi criado um sistema de coordenação e composição dos mais variados Não existe sociedade sem direito, o qual desempenha a função de ordenar as relações sociais. E princípios (exemplo, o da ampla defesa), que regulam ou disciplinam a composição das lides penais. O processo penal é o instrumento do Estado para o exercício da jurisdição em matéria penal. Mougenot (2011). 18 Direito Processual Penal e controversos interesses que se erguem da vida em comunidade, objetivando a solução dos conflitos desses interesses, que lhe são próprios, bem como a coordenação de todos os instrumentos disponíveis para a realização dos ideais coletivos e dos valores que persegue. Sem este controle não se dá o nascimento da convivência social, pois cada um dos integrantes da coletividade faria o que bem quisesse, invadindo e violando, os limites, a esfera de liberdade do outro. Há que se dizer, então, que não existe sociedade sem direito, o qual desempenha a função de ordenar as relações sociais. Seu objeto é o de regulamentar e harmonizar as faculdades naturais do ser humano em prol do convívio social em que estes estão inseridos. Direito Material é aquele que desempenha a função de ordenar as relações sociais. Seu objetivo é regulamentar e harmonizar as faculdades naturais do ser humano, em prol do melhor convívio social. Insta mencionar, por fim, que a Jurisdição só pode atuar e resolver o conflito através do processo, que funciona como garantia de sua legítima e regular atuação. É, portanto, um dos modos de solução do conflito de interesses. Observa-se a presença da autotutela ou autodefesa, em que o titular do direito impõe seu ponto de vista e a autocomposição. Este último item ressurgiu com a lei nº 9.099/95, permitindo a transação e a suspensão condicional do processo. “O processo penal, em termos genéricos, é o conjunto de atos visando disciplinar a pena ao acusado” (CARNELUTTI, 1950). Natureza Jurídica Para que se possa compreender a natureza jurídica do Direito Processual Penal, há que se informar que as normas do Direito são divididas em normas de Direito Público e de Direito Privado. No âmbito do Direito Público enquadram-se as normas nas quais prepondera a especial presença do poder estatal, ao passo que o Direito Privado constitui-se das normas que regulam as relações entre os particulares, nas quais predomina o interesse da ordem privada. A Jurisdiçãosó pode atuar e resolver o conflito através do processo, que funciona como garantia de sua legítima e regular atuação. As normas do Direito são divididas em normas de Direito Público e de Direito Privado. 19 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 Portanto, o Direito Processual Penal é Público porque só o Estado possui o direito de punir, constituindo-se em exercício da soberania. O processo tem por finalidade propiciar a solução jurisdicional do conflito de interesses entre o Estado e o infrator. Como decorrência, tem-se uma sequência de atos que compreendem a formulação da acusação, a produção das provas, o exercício de defesa e o julgamento da lide. O processo compreende: a) o procedimento – sequência ordenada de atos interdependentes, direcionados à preparação de um provimento final. Na verdade, é a sequência de atos procedimentais até a sentença; b) relação jurídica e processual que se configura entre os sujeitos do processo, titularizando inúmeras posições jurídicas, expressáveis em direitos, obrigações, faculdades, ônus e sujeições processuais. De acordo com o artigo 394 do Código Processo Penal, com a redação determinada pela lei n. 11.719, de 20 de junho de 2008, o procedimento será comum ou especial. O procedimento comum divide-se em ordinário – crime cuja sanção máxima conferida for igual ou superior a quatro anos de pena privativa de liberdade, salvo se não se submeter a procedimento especial; sumário – crime cuja sanção máxima conferida seja inferior a quatro anos de pena privativa de liberdade, salvo se não se submeter a procedimento especial; sumaríssimo – infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da Lei nº. 9.099/95, ainda que haja previsão de procedimento especial. Enquadram-se nesse conceito as contravenções penais e os crimes cuja pena máxima não supere dois anos (com a respectiva redação determinada pela Lei n. 11.313, de 28/06/2006). Verifica-se que a distinção entre os procedimentos ordinários e sumários dar-se-á em função da pena máxima conferida à infração penal e não mais em benefício de esta ser apenada com reclusão ou detenção. Poucas diferenças restaram entre os ritos ordinários e sumários. Ambos passaram a evidenciar o princípio da celeridade processual ( cf. art. 8º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, aprovada pelo Decreto Legislativo n. 27, de 25/09/1992, promulgada pelo Decreto n. 678 /06/11/1992, e art. 5º, LXXVIII da Carta Magna de 1988), com a primazia de aprimoramento da colheita da prova, de onde surgiram alguns reflexos: 1- Concentração dos atos processuais em audiência única; 2- Imediatidade; 3- Identidade física do juiz. 4- Deste breve aporte, a de se dizer, também nos processos de Competência do Tribunal do Júri em que o procedimento observará as disposições estabelecidas nos art. 406 a 497 do CPP, com a respectiva redação determinada pela Lei n. 11.689 de 9/06/2008. O Direito Processual Penal é Público porque só o Estado possui o direito de punir, constituindo- se em exercício da soberania. O processo tem por finalidade propiciar a solução jurisdicional do conflito de interesses entre o Estado e o infrator. 20 Direito Processual Penal A relação jurídica do processo se estabelece entre os chamados sujeitos processuais, atribuindo a cada cidadão direitos, obrigações, faculdades, ônus e sujeições. Nesta relação processual aplicam-se os chamados princípios constitucionais do processo, garantindo às partes: direitos, como o contraditório, a publicidade, o de ser julgado pelo juiz natural da causa, a ampla defesa. Sobre processo, procedimento e relação jurídica, informa-se, outrossim, que oportunamente tais assuntos serão tratados de forma mais pormenorizada. O direito processual é autônomo porque possui objeto e métodos próprios. Logo, o objeto é o processo penal e, por sua vez, o método é o técnico-jurídico, abrangendo a exegese, a dogmática e a crítica. Não se discute a autonomia do Direito Processual Penal, porquanto possui objeto, normas e princípios próprios, características mestras que fazem um ramo possuir a própria identidade dentro da dogmática jurídica. Só se fala em Direito Processual Penal se, quando e por conta da existência do Direito Penal, não menos certo é que este último não teria qualquer aspecto de funcionalidade enquanto não pudesse ser efetivamente aplicado aos casos concretos levados à composição pelo Estado-Juiz. Via de consequência de tudo que foi exposto, vê-se o Direito Processual Penal como ser autônomo do direito material, que nesse caso é o direito penal. A autonomia se faz presente pela existência de um CPP e pela constatação de que os princípios reguladores do Processo Penal não têm ponto de contato com os princípios que norteiam a definição de crime. Portanto, pode–se e deve-se afirmar que ambos se completam. E que o Direito Processual Penal é instrumento do Direito Penal, contudo mantém sua autonomia. O direito processual é autônomo porque possui objeto e métodos próprios. Direito Processual Penal como ser autônomo do direito material, que nesse caso é o direito penal. 21 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 Fontes das Normas Processuais Penais “Fonte” deriva do latim – fontanus, fons, fontis – nascente. Nesse sentido, fonte é o lugar de onde o direito provém ou os modos de sua exteriorização, as formas de elaboração. Por utilizarmos as expressões norma e lei, faz-se necessário diferenciá-las. Norma é o comando ou ordem processual penal. Lei é a forma mais comum de exteriorização da norma. Em face dos preceitos delineados, vislumbra-se que, no Direito Processual Penal, as fontes são divididas em Fontes Materiais e Fontes Formais. A origem das normas jurídicas pode ser vista sob dois aspectos, daí é que se origina a dicotomia entre fontes maturais e fontes formais. As fontes materiais – também chamadas de fontes de produção ou substanciais – dizem respeito à origem dos conteúdos que compõem o direito, enquanto que as fontes formais de revelação ou de cognição relacionam- se à forma pela qual esses conteúdos se manifestam por intermédio de normas jurídicas (MOUGENOT, 2011,p.40, grifos nossos.). A principal fonte de produção do Direito Processual Penal é o Estado. Contemplando o ponto de vista cientifico, teríamos de considerar fontes de produção também todos aqueles que praticam atos jurídicos processuais penais. Exemplo: os órgãos jurisdicionais também são fonte de produção e a jurisprudência, por conseguinte, é fonte formal. • Quem é o Estado? • Quem pode legislar sobre o direito processual? • A Lei complementar Federal pode autorizar os Estados membros A principal fonte de produção do Direito Processual Penal é o Estado. 22 Direito Processual Penal o direito processual penal, em questões específicas? • A União, os Estados-membros e o Distrito Federal têm competência concorrente para legislar, sob custas dos serviços forenses? Didaticamente, a fonte material ou de produção é aquela que cria o direito e, por sua vez, fonte formal ou de cognição é a forma de expressão da norma jurídica processual, isto é, aquela que revela o direito. a) Fontes Materiais, de Produção ou Substanciais Menciona-se, neste sentido, como fonte material a que cria o Direito. No Direito Processual, a União é a única fonte material, dotada de poder para a criação de normas que a disciplinam (art. 22, І da CF). Porém, a competência da União é privativa – e não exclusiva – de modo que poderá a lei estadual versar, através de lei complementar, sobre questões referentes à matéria processual penal. Já sobre a matéria de procedimento, a competência é concorrente entre a União os Estados e Distrito Federal (art. 24, XІ, da CF); competência concorrenteem matéria penitenciária (art. 24,І, da CF), delimitando organização e funcionamento de presídios; custas dos serviços forenses ( art. 24, ІV), determinado preços de fotocópias, custas na ação penal privada. Além da criação, funcionamento e processo dos juizados especiais criminais (art.24, X, da CF). Quem produz, concretamente, o direito processual penal? Via de regra, é a lei federal. Cabe somente à União – a elaboração pelo Congresso Nacional e sanção do Presidente da República a elaboração da lei. Para Guardar: Quem pode fazer a lei processual penal? 1. Só a União, se for Direito Processual Penal. Didaticamente, a fonte material ou de produção é aquela que cria o direito e, por sua vez, fonte formal ou de cognição é a forma de expressão da norma jurídica processual. 23 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 2. A União, os Estados e o Distrito Federal, se for procedimento, direito penitenciário, custas e juizados especiais criminais. b) Fontes Formais, de Cognição ou de Revelação As fontes formais do direito são os meios que expressam as normas jurídicas. Por isso, são chamadas de fontes de revelação. A lei, em sentido mais amplo, é fonte formal imediata. O direito processual penal compõe-se de normas relativas específicas no que tange ao processo penal. Essas normas expressam-se através de diferentes tipos de dispositivos legais. Portanto, não só a lei, mas a Constituição Federal traz em seu interior disposições que regem o processo judicial, constituindo processo penal. Cumpre salientar que a parcela mais substancial das normas de direito processual penal introduzida no ordenamento por meio de leis ordinárias, produzidas pelo poder Legislativo, é o Código de Processo Penal (Decreto lei nº 3689, de 3/10/1941), o diploma principal a reger a matéria, sendo assim classificado como fonte primária. Como fontes secundárias encontram-se as inúmeras leis extravagantes que possuem conteúdo processual penal. Ao lado destas leis ordinárias, aparecem ainda os tratados, convenções e regras de direito internacional, destacando-se a Convenção Americana de Direitos Humanos, as Constituições Estaduais e em especial a nossa Carta Magna de 1988, com suas normas de natureza processual penal e de índole garantista. Isto posto, vislumbra-se da lição de Mongenot: [...] assim como fontes secundárias: na Lei n. 9.099/95, que cria e disciplina os Juizados dos Especiais e Criminais; na Lei n. 7.210/84, que disciplina a execução penal (determinando a forma de cumprimento das decisões judiciais de conteúdo penal), e em diversos outros dispositivos, que integram o conjunto de normas de direito processual penal, mas que, por localizarem-se em sede formal diversa (ou seja, por serem veiculadas por fontes formais separadas do Código de Processo Penal), são denominadas leis extravagantes. Ainda como fontes secundárias, encontram-se as inúmeras outras leis extravagantes que possuem conteúdo processual penal, estabelecendo procedimentos especiais, fixando a organização e a estrutura dos órgãos judiciais e regulando a execução penal. Ao lado dessas leis ordinárias aparecem ainda os tratados, convenções e regras de direito internacional, expressamente admitidas pela Constituição Federal ( art. 5º, Como fontes secundárias encontram-se as inúmeras leis extravagantes que possuem conteúdo processual penal. 24 Direito Processual Penal § 2º), com destaque para a Convenção Americana de Direitos Humanos, as Constituições estaduais e mesmo a Constituição Federal de 1988, como suas normas de natureza processual penal e de índole garantista (MOUGENOT, 2011, p. 41). Em contrapartida, Tourinho Filho ( 2010) classifica como fonte primária não o Código de processo penal, mas as leis no sentido amplo. As fontes secundárias para ele são o direito externo, a doutrina, legislações passadas de importância histórica. Elenca-se, ademais, que no tocante às fontes formais mediatas, temos como regra os costumes, a analogia, os princípios gerais do direito – previstos no art. 4º da Lei de Introdução ao Código Civil - bem como a doutrina, a jurisprudência e o direito comparado. Insta mencionar que é possível localizar a fonte formal na própria lei, nos tratados e convenções e nos próprios princípios gerais do direito. Embora ditos como fonte formal, os costumes são mais localizáveis como forma de interpretação da norma e não propriamente como fonte. Fonte Material se refere a quem produz a norma processual penal (União) e Fonte Formal quer dizer de onde vem a norma. Como já vimos anteriormente, as Fontes dividem-se: Figura 1 - Divisão das Fontes Fonte: Os autores. É possível localizar a fonte formal na própria lei, nos tratados e convenções e nos próprios princípios gerais do direito. FONTES MATERIAIS UNIÃO PROCESSO PENAL LEI, TRATADOS, CONVENÇÕES COSTUMES, PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO, JURISPRUDÊNCIA FORMAIS IMEDIATAS MEDIATAS 25 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 Neste sentido, assinala Feitoza (2008), a fonte formal pode ser: • Imediata: a lei, (sentido amplo). Exemplo: Constituição Federal, lei complementar, lei ordinária, resoluções, decretos legislativos (incorporando as normas de tratados e convenções internacionais). Tratado é o termo genérico que abrange expressões como acordos, protocolos, pactos, declarações, convenções, ajustes, concordatas, convênios. A palavra Tratado é utilizada para acordos solenes, enquanto Convenção é o tratado que cria normas gerais. Logo, há autores que reservam o termo tratado para atos jurídicos considerados mais importantes, de natureza política, destinados a ter longa duração, utilizando para as demais situações, de natureza não-política, a palavra convenção. O Tratado, por sua vez, pode ser considerado como um ato de consentimento recíproco de duas ou mais nações para constituir, regular, modificar, alterar ou extinguir um vinculo de Direito ou um ato jurídico, em que dois ou mais Estados concordam sobre a criação, modificação ou extinção de um direito. • Mediata: costumes, princípios gerais do direito e regras de direito internacional. Costume é o conjunto de normas de comportamento às quais as pessoas obedecem de maneira uniforme e constante, pela convicção de sua obrigatoriedade jurídica, o que vem distingui-la do hábito, porque quanto a este não há convicção de sua obrigatoriedade jurídica. De acordo com Feitoza ( 2008), os costumes se dividem em: Figura 2 - Costumes Fonte: Os autores, baseados em Feitoza (2008). A palavra Tratado é utilizada para acordos solenes, enquanto Convenção é o tratado que cria normas gerais. Ato de consentimento recíproco de duas ou mais nações para constituir, regular, modificar, alterar ou extinguir um vinculo de Direito ou um ato jurídico. COSTUME Contra Legem É o que se forma em sentido contrário ao da lei, isto é, consiste na inaplicabilidade da lei. Secundum Legem É o costume que está previsto na própria lei, reconhece sua eficácia obrigatória. Praeter Legem É aquele que tem como objetivo suprir a lei nos casos omissos, preen- cher as lacunas da lei – artigo 4º da LICC. 26 Direito Processual Penal Princípios também são fontes do direito. Por ser um vocábulo com uma imensa variedade de significações, podemos dizer que princípios do direito são normas de caráter geral que se constituem em diretrizes do ordenamento jurídico. Os princípios possuem uma dimensão de peso (importância). Para Robert Alexy, as normas se dividem em regras e princípios, não existindo somente uma diferença gradual, mas também qualitativa. O ponto decisivo para distinção entre regras e princípios é que os princípios são normas que ordenam que algo seja realizadona maior medida possível, dentro das possibilidades jurídicas reais e existentes. Portanto os princípios são mandados de otimização, que estão caracterizados pelo fato de podem ser cumpridos em diferente grau e que a medida devida de seu cumprimento não somente depende das possibilidades reais senão das jurídicas. O âmbito das possibilidades é determinado pelos princípios e regras opostos. Ao contrário, as regras, são normas que somente podem ser cumpridas ou não. Se uma regra é válida, então deve fazer exatamente o que ela exige, nem mais nem menos. Portanto, as regras contêm determinações no âmbito do fática e juridicamente possível. Isto significa que a diferença entre regras e princípios é qualitativa e não de grau. Toda norma é uma regra ou principio (ALEXY, Teoria de los derechos fundamentales, 2001, p. 86 ). Jurisprudência é a decisão reiterada dos juízes e tribunais em um mesmo sentido. Há divergência sobre a aceitação desta como fonte formal: de um lado, a mesma não cria o direito que emana da lei ( BITENCOURT, Tratado de Direito Penal, 2010 ) e de outro, que o juiz na prática cria o direito penal, ou seja, compete ao juiz explicitar as lacunas deixadas pelo legislador (GOMES, Direito Penal, 2009 ) . Observa-se que a questão ganha ainda mais força com as chamadas Súmulas vinculantes do STF, que têm como características em seu corpo a imperatividade – acolhida de forma obrigatória, e a coercibilidade – no caso de não observação, cabe reclamação ao STF. TRATADOS: são acordos assinados entre países em assuntos de natureza política, incluindo os crimes. CONVENÇÕES: também são acordos, entretanto, assinados por vários países. Jurisprudência é a decisão reiterada dos juízes e tribunais em um mesmo sentido. 27 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 Compete ao Presidente da República privativamente celebrar o tratado ( art.84, VIII, da CF ), competindo ao Congresso sua resolução definitiva ( art. 49, I ), transformando-o em decreto. É exemplo de Convenção que se tornou norma processual penal a Convenção Americana dos Direitos Humanos – Pacto de São José da Costa Rica , sendo que o Governo depositou a Carta de Adesão em 25/9/1992 e, em 6/11/1992, promulgou-a através do Decreto n. 678 de 1992. Atividade de Estudos: 1) Complete as lacunas: a) Compete ao__________ privativamente celebrar o Tratado, ( art.84, VIII,da CF ), competindo ao _________________sua resolução definitiva (art.49,І ), transformando-o em __________. b) É exemplo de Convenção que se tornou norma processual penal a ______________________ (Pacto de ________________), em que o governo depositou a Carta de Adesão em 25/9/1992 e em ______________, promulgou-a através do_______________ nº _______. c) Discute-se também sobre o fim da _________________________. 2) A Emenda Constitucional nº 45/2004 instituiu a súmula vinculante como fonte jurídica formal e, portanto, os órgãos jurisdicionais são fontes jurídicas de produção não apenas cientificamente, mas também do ponto de vista jurídico-dogmático. Conceitue Súmula: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 28 Direito Processual Penal 3) Defina Tratado e Convenção. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ AS DUAS FACES DE UM CRIME – Direção de Gregory Hoblit – 1996 (EUA). Atores: Richard Gere, Laura Linney, John Mahoney e Alfre Woodard. Em Chicago, um arcebispo (Stanley Anderson) é assassinado com 78 facadas. O crime choca a opinião pública e tudo indica que o assassino pode ser um jovem de 19 anos (Edward Norton) que foi preso com as roupas cobertas de sangue da vítima. Todavia, um ex- promotor (Richard Gere), que se tornou um advogado bem sucedido se propõe a defendê-lo – tendo um motivo para isto: adora ser coberto pela mídia, além de ter uma incrível necessidade de vencer. O SOL É PARA TODOS – Direção de Robert Mulligan – 1962 (EUA). Na pequena cidade sulista de Maycomb - Alabama, Atticus é um advogado muito simples que vive com seus dois filhos. Eles já aprenderam com o pai os princípios da Justiça, do respeito e da igualdade. As duas crianças promovem cenas de pura sensibilidade, além de grande valor e significação para uma melhor convivência. A relação entre pai e filhos é harmoniosa, terna e solidificada, já que Atticus é pai e mãe ao mesmo tempo. Quando aceita defender o negro Tom Robinson, acusado de estuprar uma moça branca, Atticus passa a sofrer o ódio e o racismo de alguns habitantes da cidade. Ao mesmo tempo em que leva o caso adiante, tenta proteger os filhos dos mesmos sentimentos de 29 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 que é vitima. No dia do julgamento, Atticus prova a inocência do réu, evidenciando a hipocrisia e o cinismo de tal acusação de caráter preconceituoso, uma vez que jamais ele deveria ter sido levado a julgamento, visto a falta de provas evidenciais. Ainda assim o veredicto não envereda pelos caminhos da justiça e o desfecho da história é surpreendente. Fonte: Disponível em: <www.interfilmes.com/filme_13178_ as.duas. faces.de.um.crime.html>. Acesso em: 10 de nov. de 2011. Algumas Considerações Neste primeiro capítulo, estudamos os Fundamentos do Processo Penal com o intuito de proteger bens e interesses relevantes para a sociedade. Compreendeu- se que dos bens ou interesses tutelados pelo Estado, quando violados, afetam as condições de vida em sociedade. Podemos inserir como exemplos neste contexto o direito à vida, à honra à integridade física. Assim sendo, uma das tarefas do Estado é regulamentar a conduta do cidadão brasileiro, por meio da aplicação de normas, as quais são estabelecidas para regulamentar a convivência entre os indivíduos e as possíveis relações deste com o Estado, entidade dotada de poder soberano, sendo titular exclusivo do direito de punir. Importante lembrar que o Direito Constitucional é fundamental para a compreensão e análise e interpretação do Direito Processual. O domínio conceitual e dos referentes basilares possibilitam uma melhor desenvoltura na temática, simples e empolgante como o próprio direito material. Saber de onde vem, qual a finalidade, quais os princípios orientadores faz toda a diferença para o desenvolvimento do raciocínio jurídico pertinente à ciência em estudo. Referências ALEXY, Robert. Teoría de los derechos fundamentales. Trad. Castelhama Ernesto Garzón Valdés. Revisão Ruth Zimmerling. 2. Reimpr. Madrid: Centro de Estudios Políticos y Constitucionales. 2001. ALVIM, ARRUDA. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo, Revista dos Tribunais, 1977. 30 Direito Processual Penal BITENCOURT, Cesar Roberto. Tratado de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2010. BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. ______ Processo Penal 1- Dos Fundamentos a Sentença. São Paulo: Saraiva, 2005. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Promulgada em 5 de outubro de 1988. Antonio Luiz de Toledo Pinto; Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Cespedes (Colab.). 32. Ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BRASIL. Decreto-Leinº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1940. Disponível em: < https:/www.planalto. gov.br /ccivil _03/Dcreto-Lei/Del 2848. htm>. Acesso em 28 de fevereiro de 2012. BRASIL. Decreto lei nº 3.689 de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. [Diário Oficial da União]. Brasília, 3 de outubro de 1941. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Decreto Legislativo nº 27 de 25 de setembro de 1992. Autoriza a Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República a concluir Acordo de Composição Amistosa com vistas ao encerramento dos casos nº 12.426 e 12.427 em trâmite perante a Comissão Internacional de Direitos Humanos. [Diário Oficial da União]. Brasília, 25 de setembro de 1992. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Decreto nº 678 de 06 de novembro de 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José as Costa Rica), de 22 de novembro de 1969[Diário Oficial da União]. Brasília, 6 de novembro de 1992. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 9.099 de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 26 de setembro de 1995. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 11.313 de 28 de junho de 2006. Altera os arts. 60 e 61 da Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, e o art. 2º da Lei nº 10.259, de 12 julho de 2001, pertinentes à competência dos Juizados Especiais Criminais, no âmbito https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br 31 Fundamentos do Processo Penal Capítulo 1 da Justiça Estadual e da Justiça Federal. Diário Oficial da União]. Brasília, 28 de junho de 2006. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 11.689 de 9 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto- Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 9 de junho de 2008. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 11.719 de 20 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto- Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos à suspensão do processo emendatio libeli, mutatio libeli e aos procedimentos [Diário Oficial da União]. Brasília 20 de junho de 2008. Disponível em: <https:// www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. CARNELUTTI, Francesco. Lecciones sobre el processo penal. Buenos Aires: Ediciones Jurídicas Europa- América, Bosch y Cia. Editores 1950. DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do Processo. 8 ed. São Paulo: Malheiros, 2000.z. São Paulo: Malheiros, 2003. GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal, Parte Geral. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. V.2. ISHIDA, Válter Kenji. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2010. JESUS. Damásio E. de. Código penal anotado. 12. ed. São Paulo: Saraiva. 2002. LEOBONS, Solange G. P. Delegação, descentralização, diversificação: pontos básicos para otimizar-se a rádio educativa. Série Estudos e Pesquisas, São Paulo: ABT, 1984. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2006. _______. Código de Processo Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 2010. PACHECO, Denilson Feitoza. Reforma Processual Penal: uma abordagem sistêmica. Rio de Janeiro: Impetus, 2008. https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br 32 Direito Processual Penal PERRENOUD, Philippe. Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2009. TOURINHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. VENOSA, Silvio de Salvo. Novo Código Civil: Texto Comparado – Código Civil de 2002 e Código Civil de 1916. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004 CAPÍTULO 2 Lei Processual Penal A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Examinar a doutrina, a legislação e a jurisprudência, conforme os preceitos teóricos; � Aprender os conceitos e definições, visando aplicá-los na prática; � Descobrir e criar seu próprio tempo reflexivo, com intuito de absorver o cabedal teórico do curso; � Empregar o uso da tecnologia e métodos variados para a compreensão e aplicação do Direito e Processo Penal; � Ler, compreender e interpretar textos jurídicos, documentos e bibliografias diversas sobre o Ordenamento Jurídico. 35 Lei Processual Penal Capítulo 2 Contextualização No capítulo anterior, enfatizou-se que o Direito Processual Penal objetiva apresentar a mecânica e o funcionamento do Direito Penal e do próprio Direito Processual Penal, o que exige o desenvolvimento de questionamentos éticos, do ordenamento jurídico pátrio e até mesmo utilizando o Direito Comparado. Ressaltou-se a importância de compreender o sentido e o significado deste Instituto, construindo um conceito próprio de processo penal e refletindo sobre os efeitos que ele produz sobre a formação dos direitos e garantias do cidadão brasileiro. Neste segundo capítulo, o objetivo é analisar os aspectos legais e doutrinários relacionados ao Direito Processual Penal no que se refere à Aplicação e Interpretação da Lei Processual Penal, Eficácia da Lei Processual Penal, além de fazer breves considerações sobre os Sistemas Processuais Penais, Norma Processual no Tempo e no Espaço. As informações até aqui sintetizadas abrem as portas para novas caminhadas e dão sentido ao trabalho cuja documentação pretende ser um referencial para servir de marco a todos quantos atuam ou buscam o Direito Processual Penal. O ato de ensinar é um referencial definidor, mas não definitivo, pois a educação é um processo dinâmico que não permite paradas e estagnações. O compromisso com a educação e o ato de ensinar – Direito – é uma das matérias primas para a construção de uma sociedade mais justa. Aplicação da Lei Processual Penal A princípio, e de acordo com a constituição de 1988, ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o processo com a decisão transitado e julgado. Portanto, todas as medidas cautelares, inclusive as prisões, sejam estas preventivas, temporárias, decorrentes de sentença de pronúncia para apelar e a prisão em flagrante, são constitucionais. Por sua vez, o artigo 1º do CPP determina que as regras processuais penais gerais serão utilizadas somente dentro do território nacional, independente das regras do direito penal da extraterritorialidade. Logo, em território estrangeiro poderá ser aplicada a lei penal, se compatível, porém jamais será aplicada a lei processual. A princípio, e de acordo com a constituição de 1988, ninguém será privado de sua liberdade ou de seus bens sem o processo com a decisão transitado e julgado. 36 Direito Processual Penal Isto posto, cumpre dizer que os incisos do art. 1° do CPP têm referência em matéria de competência. As pessoas citadas no inciso II e a justiça nos demais, por sua vez, serão tratadas a partir do artigo 69 do CPP. O objetivo do art. 1° do CPP é determinar que as regras processuais gerais serão utilizadas somente dentro território nacional, independentemente das regras de direito penal da extraterritorialidade, pois em território estrangeiro poderá ser aplicada a lei penal, se compatível, porém a lei penal jamais será aplicada à lei processual. Ademais, foi adotado o principio da aplicabilidade imediata. Desta forma, todas as leis processuais terão aplicaçãoimediata logo que entram em vigor. De acordo com a doutrina, a lei processual que trouxer matéria penal (Lei Processual Mista) também deverá observar as regras do direito material. Portanto, será necessário verificar sempre se o procedimento beneficia ou prejudica o réu. Prejudicando, somente terá aplicação nos novos processos, permanecendo os anteriores até o encerramento. Assinalamos o art. 3° e 4° do CPP, em que a lei processual penal admitirá interpretação extensiva e analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais do direito. O art. 3° do CPP determina que poderão ser utilizados todos os demais meios de interpretação e aplicação analógica, para que a persecução – investigação e ação penal tenham aplicação imediata. Hermenêutica no Brasil O mundo é marcado por incertezas, crises, mudanças, inquietações e apreensões. A educação, em sentido geral e neste cenário, não foge ao todo e vive momentos difíceis. Numa breve análise de nosso tempo, encontramos traços de grande destaque a marcá-lo, como acelerados avanços tecnológicos e científicos na produção humana, maiores e mais numerosos que no restante da história universal do homem. O conhecimento se desenvolve vertiginosamente graças à crescente e múltipla edição de livros e à produção de textos, à informática e aos meios de comunicação que colaboram para que a transmissão e a construção do saber ocorram num volume e rapidez cada vez maiores. O principio da aplicabilidade imediata. Desta forma, todas as leis processuais terão aplicação imediata logo que entram em vigor. 37 Lei Processual Penal Capítulo 2 O mundo moderno não mais se espanta com a infinidade de hipóteses para interpretação de filmes, composições musicais, de obras científicas e literárias e até de sonhos. Se fôssemos traçar linhas de comparação entre as versões da Hermenêutica jurídica, teríamos a de cunho histórico e teórico, passando em pauta as questões tradicionais de contextualização histórica, conceito, objeto, autonomia, natureza jurídica, interpretação e analogia. E outra de cunho totalmente crítico, fundamentando-se na relação de dogmática do direito e sua concretude histórica e social. É impossível padronizar a conduta de um intérprete predisposto a iniciar a solução de um problema com suas próprias expectativas ideológicas e o clima de liberdade ocasionalmente desfrutado. Vê-se que a palavra interpretação não é exclusiva dos estudiosos em direito. Ao contrário, é empregada com frequência nos vários ramos do conhecimento e na vida comum de cada indivíduo. Há sempre alguém que produz o pensamento de seus pares, de seus companheiros. E os homens parecem gostar da interpretação, porque esta mexe com o raciocínio, quebra a monotonia, empolga, transcende... Interpretar é explicar, é precisar, é revelar o sentido. Interpretar não implica, necessariamente, no fato de se tornar claro, mas requer a revelação do conteúdo, balizado pelo alcance da lei, independentemente até de vontade do legislador ou do significado literal do texto. A interpretação do texto legal é parte importante do processo de aplicação do direito. Pode ser definida como a atividade pela qual o jurista “traz à compreensão o sentido de um texto que se lhe torna A atividade pela qual o jurista “traz à compreensão o sentido de um texto que se lhe torna problemático” (LARENZ, Metodologia da ciência do direito, p. 439). O mundo moderno não mais se espanta com a infinidade de hipóteses para interpretação de filmes, composições musicais, de obras científicas e literárias e até de sonhos. 38 Direito Processual Penal problemático” (LARENZ, Metodologia da ciência do direito, p. 439). Tem por desígnio extrair o exato significado de uma norma, servindo também para decidir conflitos normativos surgidos da contradição entre os preceitos legais. O sistema legal brasileiro funda-se essencialmente em normas positivadas. Logo, a Constituição, as leis, decretos e outros dispositivos normativos são elaborados pelo Estado. Conforme observação de Mougenot (2010, p.114): O ordenamento jurídico brasileiro encontra-se consubstanciado em um extenso conjunto de textos legais. Para aqueles que aplicam o direito, seja julgando, seja demandando perante os órgãos de Estado, portanto, torna-se imprescindível proceder à interpretação destes textos legais, de modo a deles extrair as normas jurídicas aplicáveis aos casos concretos. A atividade interpretativa, portanto, precede a aplicação legal. Interpretação é atividade que consiste em extrair da norma seu exato alcance e real significado. Deve buscar a vontade da lei, não importando a vontade de quem a fez (LICC, art. 5º). A interpretação é objeto da hermenêutica e consiste em extrair o conteúdo e o sentido de uma norma, de modo que possa ser aplicado ao caso concreto. O interprete está vinculado ao texto, não lhe cabendo acrescentar ou subtrair qualquer elemento ao material interpretado. Salienta-se, ainda, que o Código de Processo Penal, por ser fonte primária do Direito Processual Penal, não é exclusivo. Existem em nosso ordenamento infrações que escapam à sua incidência. Algumas dessas exceções são encontradas no próprio art. 1º do CPP. Por sua vez, o processo e o julgamento de determinados crimes de responsabilidade, são excluídos da competência do Poder Judiciário, sendo transferidos ao Poder Legislativo, os quais exercem o que se denomina “jurisdição política”. A Justiça Militar tem competência para processar e julgar crimes militares. Integra-se neste rol a Justiça Militar Federal e a Justiça Militar Estadual. A interpretação é objeto da herme- nêutica e consiste em extrair o con- teúdo e o sentido de uma norma, de modo que possa ser aplicado ao caso concreto. O interpre- te está vinculado ao texto, não lhe ca- bendo acrescentar ou subtrair qualquer elemento ao mate- rial interpretado. A Justiça Militar tem competência para processar e julgar crimes militares. Integra-se neste rol a Justiça Militar Federal e a Justiça Militar Estadual. 39 Lei Processual Penal Capítulo 2 Porém, quando houver em outras leis a previsão de procedimentos especiais, aplica-se subsidiariamente o dispositivo no Código de Processo Penal, como sustenta Mougenot (2011, p. 120 ). Em alguns desses casos, serão diversos também os órgãos encarregados do exercício da jurisdição. O processamento e o julgamento de determinados crimes de responsabilidade, por exemplo, são excluídos da competência do Poder Judiciário, sendo transferidos ao Poder Legislativo, que exerce o que se denomina “jurisdição política”. Já os crimes militares estão sob a jurisdição da Justiça Militar, integrada pela Justiça Militar Federal e pela Justiça Militar Estadual. Cumpre ressaltar que não mais existe no Brasil o Tribunal de Segurança Nacional, previsto no art. 122, nº 17, da Constituição de 1937 e extinto pela Lei Constitucional nº14/45. Quanto à Lei de Imprensa, o Supremo Tribunal Federal ( STF ), no que se refere ao julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental ( ADPF ) nº 130, declarou por maioria como não recepcionada pela Constituição Federal de 1988 o conjunto de dispositivos da Lei Federal nº 5.250/67 – chamada de Lei de Imprensa. Conforme Mougenot (2011,p.120), cumpre ressaltar que não mais subsiste a restrição prevista no art. 1º, V, passando-se a incidir à legislação comum – Código Civil, Penal, Processo Civil e Processo Penal – as causas decorrentes das relações de imprensa. Por seu turno, descreve Tourinho Filho ( 2005 ), embora haja omissão na enumeração das ressalvas feitas pelo art. 1º do CPP, podemos dizer ser este inaplicável às infrações eleitorais e às que lhe forem conexas. Mesmo que o art. 364 do Código Eleitoral faça a ressalva quanto à possibilidade da aplicação subsidiária do CPP, logo quando houver, emoutras leis, a previsão de procedimentos especiais, aplicar-se-á subsidiariamente o disposto no Código de Processo Penal – art.1º, parágrafo único. No que se refere ainda à interpretação das normas jurídicas, enquadram-se em um contexto: a) Linguístico: a linguagem legislativa, por ser uma subclasse da linguagem vulgar, ostenta peculiaridades semânticas. Tanto a linguagem leiga quanto o vocabulário legal estão cheios de indeterminações os quais possibilitam variadas compreensões de seus significados pelo intérprete; 40 Direito Processual Penal b) Sistêmico: por integrar um sistema, a norma jurídica não pode ser contraditória ou incoerente com o conjunto em que está inserida. c) Funcional: a atividade do intérprete consiste em perquirir de onde proveio a norma a ser interpretada. Há que se dizer, ainda, sobre duas teorias que têm como objetivo elucidar a finalidade da interpretação: a) Teoria subjetivista ou da vontade: busca-se a mens legislatoris (a mente do legislador). O intérprete deverá sempre buscar o conteúdo da vontade histórica e psicológica do legislador. b) Teoria subjetivista: busca-se a mens legis (intenção consubstanciada na própria lei). A atividade interpretativa deve estar voltada para o descobrimento do sentido que é inerente à própria lei que, com o passar do tempo, adquire vida própria, regulando muitas vezes fatos não previstos ou nem sequer previsíveis quando de sua elaboração. Métodos de Interpretação na figura de Mougenot: a) Gramatical, literal ou sintática: busca o significado comum, geral, dos termos e frases que compõem a lei, constata-se que a linguagem do direito, apesar de técnica, não se encontra desvinculada da linguagem comum. Leva- se em conta o sentido literal das palavras. b) Lógico: o sentido de cada termo é dado não só pelos seus significados isolados, mas pelas funções que desempenham em relação aos termos a ele associados. c) Sistemático: este método supõe que o preceito legal é parte integrante de regulação mais ampla. Tal preceito deve ser tomado em um sentido que esteja em concordância com outra disposição, conferindo compatibilidade com a regulação à qual pertence em última análise com o ordenamento jurídico. d) Teleológico: exige que se interprete a lei de forma que esta atinja a finalidade a que se destina. Implica buscar, a partir de texto da lei, um sentido que, aplicado aos casos concretos, resulte no alcance dos fins a que se destina a lei interpretada. A atividade de interpretação deverá permitir que a norma alcance o resultado para o qual foi idealizado. 41 Lei Processual Penal Capítulo 2 e) Histórico: Método Hermenêutico que busca o sentido do texto legal por meio da investigação das circunstâncias históricas nas quais determinado preceito legal foi concebido e positivado. Busca-se conhecer os precedentes normativos, os processos legislativos, as discussões que cercaram a elaboração do dispositivo interpretado, tudo de forma a reconstruir o contexto histórico de sua criação. f) Método comparado: diz respeito principalmente à matéria de direitos e garantias fundamentais, referendadas por tratados e pactos internacionais e cuja a matéria é preocupação mundial. É utilizado quando se dá uma abertura ao exterior dos textos constitucionais para indagar o sentido dos direitos fundamentais próprios de toda Constituição. g) Progressivo ou Evolutivo: deve ter por princípio a preservação da norma jurídica. Dispositivos que por razões históricas passem a conter referências a conceitos que tenham significado diverso do original devem ser interpretados com razoabilidade, de modo a adaptar-se o sentido original às circunstancias atuais. Expressões como chefe de polícia ou Tribunal de Apelação, presentes no Código de Processo Penal, passam a ser entendidas como Secretário da Segurança Pública e Tribunais de Segundo Grau, entidades que atualmente exercem as funções e atribuições que originalmente cabiam àquelas mencionadas no texto legal. h) Interpretação conforme a Constituição: é um critério hermenêutico, também denominado Princípio do Constitucionalismo ou Princípio da Conformidade. Trata-se, na verdade, de uma especificação do método sistemático acima mencionado em vista da estruturação hierarquizada do ordenamento jurídico. Segundo o Princípio da Hierarquia das Normas jurídicas, o da legislação infraconstitucional, para ter validade, deve estar em harmonia com as normas e princípios estabelecidos na Lei Maior. Nas ocasiões em que se reconhecer num mesmo preceito legal a possibilidade de existirem duas ou mais interpretações diferentes, deverá o intérprete fazer prevalecer aquela que não viole o texto constitucional ou que com ele melhor se harmonize. Conforme o resultado alcançado por meio da interpretação, esta classifica-se como: a) Extensiva: quando o alcance do preceito legal é ampliado, atribui-se à norma um sentido que não estava explícito no legal. Um exemplo de tal ampliação é o que acontece no artigo 33 do CPP, que faz menção somente à queixa. Nas ocasiões em que se reconhecer num mesmo preceito legal a possibilidade de existirem duas ou mais interpretações diferentes, deverá o intérprete fazer prevalecer aquela que não viole o texto constitucional ou que com ele melhor se harmonize. É utilizado quando se dá uma abertura ao exterior dos textos constitucionais para indagar o sentido dos direitos fundamentais próprios de toda Constituição. 42 Direito Processual Penal b) Restritiva: a Interpretação Restritiva diminui o alcance do texto, pois apresenta em fase de sua linguagem excessiva. Quando restringe o limite da norma, o artigo 174, IV, do CPP, menciona que, na colheita dos padrões gráficos, “a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado”. A interpretação literal seria que todos devem fornecer o material gráfico. Contudo, realizando uma interpretação restritiva, compatível com o principio da não autoincriminação. Isto é, a autoridade não pode obrigar, somente poderá convidar a pessoa a fornecer o material gráfico. c) Declarativa: se coloca exatamente entre as duas mencionadas, e por isso mesmo não estende nem restringe a aplicação do texto. O legislador consignou o que desejou consignar, que o sentido encontrado condiz precisamente com a fórmula empregada. Dá à lei o seu sentido literal, sem restrição ou extensão. Um exemplo é quando alguém pratica o crime de furto: é aquele que se enquadra no tipo, nem mais, nem menos. Há que se dizer que existem lacunas na norma, que são preenchidas pelos recursos complementares. Os instrumentos para complementação são os previstos no art. 3º do CPP, ou seja, a analogia e princípios gerais de direito. O costume, não mencionado no referido art. 3º, está previsto no art.4º da Lei de Introdução ao Código Civil. O Costume e os princípios gerais do direito são inicialmente fontes e não institutos de integração da norma, porém podem ser usados como forma de preenchimento da lacuna do ordenamento jurídico processual penal por expressa permissão da Lei. O costume como elemento integrador, muitas vezes utilizado na práxis forense como forma de adaptação da lei processual ao procedimento, significa que, sobrevinda nova lei, sua adaptação ao procedimento muitas vezes se dará consoante sua utilização prática. Analogia É a autointegração da lei, isto é, aplica o regramento a uma hipótese semelhante não prevista por lei. Segundo Mougenot (2010, p.114), “analogia é o processo de integração da norma jurídica escrita por meio do qual, diante do silêncio da lei sob determinada situação, se utiliza outro preceito legal que regesituação semelhante”. Mougenot (2010, p.114), “analogia é o processo de integração da norma jurídica escrita por meio do qual, diante do silêncio da lei sob determinada situação, se utiliza outro preceito legal que rege situação semelhante”. 43 Lei Processual Penal Capítulo 2 O art.3º do CPP determina que a lei processual admitirá interpretação analógica. Vê-se que tanto a interpretação analógica quanto o emprego da analogia são legalmente permitidos. Porém, há diferenças entre ambos. A analogia não é fonte imediata do Direito Processual Penal. É forma de autointegração da lei. Ela consiste em aplicar o regramento a uma hipótese semelhante não prevista em lei. E, como se diz, é forma de integração da lei penal. Destacam-se: a) Analogia legal: quando existe um preceito legal que rege um caso semelhante a ser aplicado a um caso previsto na lei. Temos como exemplo o art. 28 do CPP utilizado para o caso do juiz discordar do arquivamento do Promotor de Justiça. E se no caso de falta de proposta de transação ou de suspensão condicional do Processo? Em razão da soberania do MP, para proposta de benefícios, tem-se que, não havendo proposta, o juiz deve remeter os autos ao Procurador Geral da Justiça. Base legal: na falta de disposição legal, em hipótese semelhante, por analogia, utilizar-se-á o art.28 do CPP e encaminhar-se-ão os autos ao Procurador Geral de Justiça. b) Analogia Jurídica: quando há aplicação do preceito consagrado pela doutrina, jurisprudência e princípios gerais do direito ocorrem quando o princípio para o caso omitido se deduz do espírito e do sistema do ordenamento jurídico considerado em seu conjunto. Em muito se aproxima à aplicação de um princípio a uma hipótese sem referência a uma norma. Temos como exemplo: o juiz criminal vê-se diante do pedido de restituição de um veículo com adulteração de chassis, porém sem possibilidade de ver a identificação do chassi original. Não há prova da adulteração pelo agente criminoso e nem prova da receptação. Nesse caso, não há documentação do veículo e, baseando-se no princípio da prevalência do interesse do réu, em razão da lacuna da lei e nada havendo para disciplinar o caso mesmo que por analogia, deve o juiz criminal liberar o veículo, utilizando-se da analogia jurídica. Atividade de Estudos: 1) Reflita sobre o assunto Interpretação Analógica e, com base no exemplo dado (art. 28 do CPP), pesquise outros exemplos e transcreva-os abaixo. A analogia não é fonte imediata do Direito Processual Penal. É forma de autointegração da lei. 44 Direito Processual Penal ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Analogia jurídica – aplica-se o preceito consagrado pela doutrina, jurisprudência e Princípios Gerais do Direito.Tal analogia se aproxima da aplicação de um princípio a uma hipótese sem referência a uma norma. Exemplifique. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Figura 3 - Analogia Jurídica Fonte: Os autores. Dos conceitos delineados, observa-se que haverá casos em que o ordenamento não traz previsão ou, em outros prevê explicitamente. Assim, existem determinadas situações em que se coloca o aplicador da lei diante do que se convencionou chamar lacuna da lei. Vê-se que há lacuna sempre que inexista uma norma aplicável ao fato concreto. Nesses casos, a aplicação da lei deverá ser precedida pela atividade de integração. Vê-se que há lacuna sempre que inexista uma norma aplicável ao fato concreto. Nesses casos, a aplicação da lei deverá ser precedida pela atividade de integração. Analogia jurídica Princípio Constante do Processo Penal 45 Lei Processual Penal Capítulo 2 O conceito de Analogia, segundo Mougenot (2010), é um processo de integração da norma jurídica escrita por meio do qual, diante do silêncio da lei sobre determinada situação, se utiliza outro preceito legal que rege situação semelhante. A analogia consiste na aplicação de uma norma a um caso nela não previsto. Não é, portanto, método de interpretação, mas sim de integração. A interpretação analógica é método hermenêutico, interpretativo, que se aplica àqueles dispositivos legais que trazem um rol de fórmulas que explicam ou exemplificam. Dos casos citados do texto legal, é possível inferir - por meio do raciocínio indutivo, uma regra genérica, que permitirá identificar casos implicitamente previstos no preceito normativo. O artigo 2º da lei nº 12.037/2009 prevê, nos incisos de I a V, um rol de documentos que servem para atestar a identificação civil das pessoas, eximindo-as, portanto, da identificação criminal (art. 1º do mesmo diploma legal). O inciso VI do artigo dispõe, no entanto, que a identificação cível poderá ser atestada por outro documento público. O artigo 3º do código de processo penal prevê a adoção, em caráter suplementar, dos princípios gerais do direito, a fim de suprir as lacunas da lei. Estes são regras gerais que se podem inferir da apreciação do ordenamento jurídico estatal como um todo. É, pois, o ato de aplicar à lacuna uma regra que coaduna com o sistema, resolvendo o caso concreto de forma harmônica com as normas destinada a outros casos. Os princípios gerais conferem coesão e unidade ao sistema jurídico, retirando seu fundamento da própria ideia de direito. Sua utilização terá, assim, natureza integrativa. Atividade de Estudos: 1) Diferencie Analogia Legal de Analogia Jurídica. ____________________________________________________ ____________________________________________________ Os princípios gerais conferem coesão e unidade ao sistema jurídico, retirando seu fundamento da própria ideia de direito. Sua utilização terá, assim, natureza integrativa. A analogia consiste na aplicação de uma norma a um caso nela não previsto. Não é, portanto, método de interpretação, mas sim de integração. 46 Direito Processual Penal ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Complete as sentenças a seguir: a) ______________________________é o meio pela qual se deve interpretar a lei, a fim de que se tenha dela o exato sentido ou o fiel pensamento do_________________________. b) De acordo com o art. 5º da Lei de Introdução do Código Civil, uma das regras da hermenêutica é de que o juiz deve sempre atingir aos___________________________ a que ela se dirige ______ _____________________________. 3) Como pode ser a interpretação (formas) Penal ( formas ) quanto ao sujeito? Explique. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) Complete o quadro de acordo com a Interpretação da Lei Penal quanto ao modo: 47 Lei Processual Penal Capítulo 2 a) Gramatical: ___________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Lógica: ______________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ c) Histórica: _____________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ `5) A Interpretação da Lei Processual Penal quanto ao resultado divide-se em: (A) Declarativa ( ) pratica o crime de furto aquele que se enquadra no tipo, nem mais, nem menos. (B) Restritiva ( ) roubo com arma de brinquedo. (C) Extensiva ( ) na representação nos crimes de ação Penal Pública condicionada – ,CPP fala em representante legal – art.38 do CPP. 6) Complete: a) A interpretação extensiva – o termo está implícito (dentro da norma). No art. 96 III, da CF, quando se fala crime, está implícita ___________________________________________ . b) Analogia – o termo não está dentro da _____________________. 48 Direito Processual Penal O _______________________ deve buscar a solução em outra _________________________________. c) Os Princípios Gerais do Direito devem ser entendidos como regras gerais que conferem____________________________. Interpretação Constitucional A interpretação constitucional tem por fundamento a hierarquia do sistema judiciário, que exige que toda a legislação infraconstitucional, para ser válida, esteja em plena harmonia com as normas e os princípios estabelecidos na Lei Maior. Neste sentido, quando se conhecer em um mesmo preceito legal a possibilidade de existirem duas ou mais interpretações diferentes, prevalecerá aquela que não viole o texto constitucional ou que com ele melhor se harmonize. Vale dizer que sempre se conferirá importância à interpretação que dê à norma sentido e alcance conforme a Constituição. Isso posto, ressalta-se que na Constituição Federal há toda uma carga genética, que informa e condiciona todos os demais ramos do Direito. No Tempo: a lei processual penal aplica-se desde logo, sem prejuízo dos atos realizados ( art. 2º ). Não há retroatividade. Prevalece o Princípio do tempus regit actum. Exemplo: Lei n. 10.792/2003 – interrogatório com perguntas pelas partes. Sempre se conferirá importância à interpretação que dê à norma sentido e alcance conforme a Constituição 49 Lei Processual Penal Capítulo 2 Aplica-se o sistema de isolamento dos atos processuais, considerando o ato processual: se já foi praticado durante a lei velha, é válido. Se ainda não foi, deve ser praticado de acordo com a nova lei. No Espaço: a lei processual penal aplica-se a todas as infrações cometidas em território brasileiro. Aos processos realizados no Brasil, aplica-se a lei processual nacional (lex fori), como exercício da soberania. Atividade de Estudos: 1) Assinale a alternativa correta. a) A prescrição da pretensão punitiva não tem consequências distintas da prescrição da pretensão executória. b) A interpretação analógica é permitida para beneficiar somente o acusado. c) Quando o fato punível constituir delito autônomo, uma vez descaracterizado este, é possível o enquadramento do fato em outro tipo penal. d) A edição da lei caracterizadora em abolitio criminis faz cessar os efeitos penais e os efeitos civis da sentença condenatória. e) A Constituição de 1988 permite a edição de Medida Provisória em matéria penal somente nos casos em que houver relevância e urgência. 2) Um navio mercante brasileiro de propriedade privada naufragou em alto mar. Os tripulantes passaram para os barcos salva- vidas. Num desses barcos, houve briga, tendo um tripulante francês matado um tripulante americano e ferido um alemão. A competência para processar e julgar esses delitos é da justiça? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 50 Direito Processual Penal ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) O prazo de natureza penal fixado em um mês inicia-se no dia 13 de janeiro de 2010, quarta-feira, portanto expirou-se no dia: a) 12 de fevereiro de 2010, sexta-feira. b) 15 de janeiro de 2010, sexta-feira. c) 14 de fevereiro de 2010, domingo. d) 11 de fevereiro de 2010, quinta-feira. e) 12 de fevereiro de 2011, sábado. 4) Considere a afirmativa, decidindo se é falsa ou correta, e justifique. Por meio do princípio constitucional da irretroatividade da lei penal, veda-se que a norma penal posterior incida sobre fatos anteriores, assegurando-se, assim, eficácia e vigor à estrita legalidade penal. Isso posto, reza a Constituição Federal de 1988, garantindo a ultratividade da lei penal mais benéfica. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ 51 Lei Processual Penal Capítulo 2 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 5) Sobre o princípio da extraterritorialidade da lei penal brasileira, assinale a alternativa correta. a) Aplica-se a lei brasileira à hipótese de crime praticado a bordo de navio da marinha mercante em portos estrangeiros. b) Consoante o princípio de Justiça Universal, aplica-se a lei brasileira ao crime cometido fora do Brasil que afete o interesse nacional. c) A sujeição de crime de genocídio à lei brasileira, quando praticada em território estrangeiro e o agente for brasileiro, domiciliado no Brasil, configura a hipótese de extraterritorialidade condicionada. d) Todas as afirmativas são falsas. 6) No que se refere à lei penal, analise a afirmação a seguir, decidindo se está correta ou incorreta e justificando a sua resposta. O direito penal brasileiro adotou expressamente a teoria absoluta da territorialidade quanto à aplicação da lei penal, adotando a exclusividade da lei brasileira e não reconhecendo a validez da Lei Penal de outro Estado. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 52 Direito Processual Penal ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 7) Cabe ao legislador proteger os mais diferentes bens jurídicos, cominando as sanções de acordo com a importância para a sociedade. Assim, haverá o ilícito administrativo civil e penal. Este último interessa ao direito penal justamente por proteger os bens jurídicos mais importantes. Assinale a alternativa correta: a) A Natureza fragmentária protege os bens jurídicos mais importantes, pois os demais são protegidos por outro ramo do direito. b) A natureza minimalista ocupa-se dos bens jurídicos de valor irrisório. c) A Natureza burguesa volta-se para a proteção daqueles que gerenciam o poder produtivo e a economia estatal. d) O Direito público e privado protegem bens que pertencem ao Estado, como os de propriedade individualizada. e) Admite a perquirição estatal por crimes não previstos estritamente em lei como a retroação do lex gravior. 8) Tendo em conta o princípio da reserva legal, é correto afirmar que: a) É vedado o uso da analogia para punir o autor de um fato não previsto em lei como crime, mesmo sendo semelhante a outro por ela definido. b) É lícita a aplicação da pena não prevista em lei se o fato praticado pelo agente for definido como crime no tipo penal. c) O juiz pode fixar a pena a ser aplicada ao autor do delito acima do máximo previsto em lei, aplicando os costumes vigentes na localidade que ocorreu. d) Fica ao arbítrio do juiz determinar a abrangência do preceito primário de norma incriminadora se a descrição do fato delituoso na norma penal for vaga e indeterminada. e) O juiz tem o poder de impor sanção penal ao autor de um fato não descrito como crime na lei penal, se esse for imoral, antissocial ou danoso à sociedade. 53 Lei Processual Penal Capítulo 2 Eficácia da Lei Processual Penal As leis precisam se apresentar aptas a produzir seus efeitos jurídicos. A integração das leis ao ordenamento jurídico não se dá de maneira ilimitada, havendo a possibilidade de restrições de ordem territorial e espacial. No caput do artigo 1º do CPP, fazendo menção às normas do próprio Código, vigora para a lei processual penal o princípio geral da territorialidade. A lei brasileira aplica-se em todo território nacional (brasileiro) de forma única, inclusive no que concerne às cartas rogatórias que tiverem de ser cumpridas no Brasil – art. 484 § 1º do CPP. Os tratados, convenções e outras regras de direito internacional, celebrados ou adotados pelo Brasil, são aplicados segundo o que diz o inciso I do art. 784, § 1º, do CPP. Por força da Convenção de Viena, os diplomatas, além de gozarem de imunidade penal, não podem ser obrigados a testemunhar. Os cônsules, por sua vez, nos crimes praticados no exercício de suas funções, estão imunes à jurisdição brasileira. Segundo Mongenot (2011 p. 117), “eficácia é a aptidão de determinada norma jurídica para produzir efeitos jurídicos, uma norma é eficaz, portanto, se está apta a produzir efeitos. As principais limitações à eficácia das normas jurídicas, e das normas de direito processual penal, são de ordem espacial e temporal”. Analogamente, ensina Capez (2010, p. 92), A lei processual penal aplica-se a todas as infrações penais cometidas em território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional. Vigora o principio da absoluta territorialidade, que impõe a aplicação da lex fori ou locos regiti actum, segundo a qual aos processos e julgamentos realizados no território brasileiro aplica-se a lei processual penal nacional. A exegese justifica-se por ser a função jurisdicional a manifestação de uma parcela da soberania nacional, podendo ser exercida apenas nos limites do respectivo território. E no que tange à aplicação da lei processual no tempo, vem A lei processual penal aplica- se a todas as infrações penais cometidas em território brasileiro, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional. Vigora o principio da absoluta territorialidade, As leis precisam se apresentar aptas a produzir seus efeitos jurídicos. 54 Direito Processual Penal disciplinado no art. 2º do CPP, que adota o princípio da imediata aplicação da norma, mesmo que esta seja mais gravosa ao acusado. Logo, a alteração da legislação processual penal alcançará os processos que estejam em curso, respeitando os atos processuais já praticados. A lei penal não tem efeito retroativo. No que tange à regra de incidência imediata da lei, aplica-se somente as normas que tenham por conteúdo matéria processual em sua exclusividade; as normas mistas não estão aqui relacionadas, mesmo que versem também sobre questões de direito material. Para essas, há que se dizer que aplica-se o princípio da retroatividade da lei mais benéfica ao acusado. Contudo, assinala Mougenot (2011, p. 121), O período compreendido entre a entrada em vigor de uma lei e sua revogação denomina-se atividade, significando com isso sua plena aptidão para a regulação e aplicação da lei a fatos ocorridos nesse interstício temporal. Assim, o art. 2º do CPP determina que a lei processual penal aplicar-se-á desde logo. E consubstanciação do principio da imediata aplicação da norma processual penal. (....) O atos já findos, bem como aqueles que já estejam sendo praticados, não serão afetados. Não tem, portanto, a lei processual penal efeito retroativo, já que nãoalcança os fatos jurídicos passados. Vê-se que a Lei nº 9.099/95, em seu art. 90, vedou a aplicação de suas disposições aos processos que já estejam na fase de instrução, excepcionando o dispositivo no art. 2º do CPP. Mas estas regras não se aplicam às normas de natureza penal constantes na Lei 9.099/95 ( art. 74, parágrafo único, 76,78 e 89 ). Podemos citar, como exemplo importante do Princípio da aplicação imediata, o “protesto por novo júri”, que foi abolido do ordenamento jurídico brasileiro com o advento da Lei nº 11.689/2008. Haja vista ser uma norma eminentemente processual, os casos que forem julgados após a entrada em vigor da Lei não mais comportarão a referida modalidade recursal. Porém, os recursos julgados pelo Tribunal do Júri antes da entrada em vigor da nova legislação deveriam conferir ao réu a possibilidade Regra de incidência imediata da lei, aplica-se somente as normas que tenham por conteúdo matéria processual em sua exclusividade Haja vista ser uma norma eminentemente processual, os casos que forem julgados após a entrada em vigor da Lei não mais comportarão a referida modalidade recursal. 55 Lei Processual Penal Capítulo 2 de se valer daquela modalidade recursal, uma vez que, quando da publicação da decisão, o mesmo possuía o direito subjetivo de utilizá-la. A seguir, vamos conhecer os Sistemas Processuais Penais e as características de cada sistema. Sistemas Processuais Primeiramente, tece-se um aporte histórico do surgimento dos sistemas processuais penais do Processo Penal, que tem como destaque o inquisitório, o acusatório e o misto. Enfoca-se, no entanto o papel do juiz: o de apenas julgar ou também acusar. Portanto, a referência é principalmente histórica, ou seja, em determinado período, os julgamentos eram feitos de modo mais arbitrário e depois foram paulatinamente sendo garantidores do direito de defesa do réu. Já estudamos que a atividade jurisdicional possui como objetivo a descoberta do que se busca chamar de “Verdade Real” (o princípio da verdade real quer dizer que o juiz deve buscar a verdade real, do que realmente aconteceu, ou seja, finalidade tão utópica quanto a própria concepção de verdade). Esse Princípio está vinculado ao sistema de provas. O Princípio da Verdade Real esclarece que o juiz deverá buscar a verdade real e não a verdade formal, como ocorre no processo civil, para a consequente aplicação de sanção. Esse princípio está vinculado ao sistema de Produção de Provas. A doutrina menciona, por sua vez, em títulos específicos, três sistemas distintos de processo, conforme a distribuição da titularidade de julgar, acusar e defender, como comenta Mougenot, em seu Curso de Processo Penal (2011): a) Sistema inquisitivo ou inquisitorial. b) Sistema acusatório. c) Sistema misto. A doutrina menciona, por sua vez, em títulos específicos, três sistemas distintos de processo, conforme a distribuição da titularidade de julgar, acusar e defender 56 Direito Processual Penal O Processo inquisitório possuía sua origem no direito romano – (período do Império). Através dele, o juiz iniciava a acusação. Teve o seu apogeu durante a Idade Média e sofreu sua decadência (declínio) durante a Revolução Francesa. Assinala um procedimento escrito e secreto, ausente o contraditório e muitas vezes a defesa, em que a figura do juiz confunde-se com a do acusador. Características: a) Autoridade ( inquisidor ) assume a persecução desde a apuração até o julgamento. b) Abrange as funções de acusador e julgador. c) O direito de defesa é limitado. d) Não há publicidade. e) A falta de publicidade gera uma instrução escrita. f) O acusado é objeto do processo e uma parte do processo. g) A confissão é a rainha das provas. h) O objetivo não é a elucidação da verdade real, mas a punição do acusado. No Direito Processual Penal brasileiro, um exemplo de processo inquisitório são os antigos processos sumários das contravenções da Lei nº 4.611/65, revogados tacitamente pelo art.129, I da CF, que possibilitavam o início da ação penal por portaria do magistrado. Figura 4- Sistema inquisitivo ou inquisitorial Fonte: Os autores. Sistema Acusatório teve sua origem na Grécia e em Roma. O Estado assume a acusação ao invés do particular. Caracterizado pela divisão entre as funções de acusar e de defender o procedimento, o Assinala um procedimento escrito e secreto, ausente o contraditório e muitas vezes a defesa, em que a figura do juiz confunde-se com a do acusador. JULGADOR JULGA ACUSA O procedimento é público e realizado em contraditório, permitindo-se o exercício de uma defesa ampla. 57 Lei Processual Penal Capítulo 2 procedimento é público e realizado em contraditório, permitindo-se o exercício de uma defesa ampla. As partes (par conditio) têm garantido o direito à prova, busca da Verdade Real. Características: • Assegura-se ao imputado igualdade. • O réu é tratado como sujeito e não como objeto. • O princípio da oralidade pode ou não ser adotado. • Considerado como uma tendência, com a denuncial oral, as alegações orais e a adoção de ritos sumaríssimos. Figura 5 - Sistema acusatório Fonte: Os autores. O Sistema Misto, constituído pela junção dos modelos anteriores, é composto por uma fase inquisitiva (de instrução ou investigação preliminar) sigilosa, escrita e não contraditória, e por uma segunda fase acusatória, informada pelos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. É a combinação da forma inquisitória com a acusatória. Primeira fase: instrutória, secreta e escrita, presidida por juiz com poderes inquisitivos. Composto por uma fase inquisitiva (de instrução ou investigação preliminar) sigilosa, escrita e não contraditória, e por uma segunda fase acusatória, informada pelos princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa. SISTEMA ACUSATÓRIO O JUIZ JULGA O ACUSADOR ACUSA 58 Direito Processual Penal Segunda fase: contraditória, admitindo o exercício da ampla defesa. Brasil adotou o sistema acusatório. O inquérito policial, todavia, é inquisitivo. Algumas Considerações Ao findar esse capítulo, foi possível compreender que, por mais modernas e atualizadas que sejam, as teorias jurídico-penais não conseguem padronizar a conduta do intérprete emocionalmente predisposto a indicar a solução inerente a suas próprias expectativas ideológicas. O intérprete, por sua vez, as conhece muito bem e sabe que estas teorias apontam para caminhos divergentes: por sua vagueza e por seus traços de ambiguidade, ora permitem o sim ora permitem o não, assim como ocorrem com as leis, costumes, razão, justiça, equidade e bom senso. As regras de hermenêutica jurídica que foram construídas historicamente permanecem válidas como subsídio retórico daqueles que se despem da força bruta para, com honestidade intelectual, contribuir com seu próprio gesto para o direito que repute o possível e o justo, em consonância com um clima de liberdade e responsabilidade que sejam socialmente compartilhadas. Referências ALVIM, ARRUDA. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977. AMORIM, de Oliveira Marcelo. Código Eleitoral Comentado. 1º ed. São Paulo: Futura, 2008. BONFIM MOUGENOT, Edilson. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988: Promulgada em 5 de outubro de 1988. Antonio Luiz de Toledo Pinto; Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Cespedes (Colab.). 32. Ed. São Paulo: Saraiva 2005. 59 Lei Processual Penal Capítulo 2 BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1940.Disponível em: < https:/www.planalto. gov.br /ccivil _03/Dcreto-Lei/Del 2848. htm>. Acesso em: 28 fev. 2012. BRASIL. Lei nº 9.099 de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 26 de setembro de 1995. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 1º mar. 2012. BRASIL. Lei nº 10.792 de 1º de dezembro de 2003. Altera Lei nº 7.210 de 11 de junho de 1984 – Lei de Execução Penal e o Decreto Lei nº 3.689 de 3 de outubro de 1941– Código de Processo Penal, e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília 1º de dezembro de 2003. Disponível em: <https://www.planalto. gov.br>. Acesso em: 1º mar. 2012. BRASIL. Lei nº 11.689 de 9 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto- Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília 9 de junho de 2008. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em: 1º mar. 2012. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. ISHIDA, Válter Kenji. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2010. JESUS. Damásio E. de. Código penal anotado. 12. ed. São Paulo: Saraiva. 2002. LARENZ, Karl. Metodologia da Ciência do Direito. Trad. José Lamago. Calouste- Gulbenkian: Lisboa, 1997. MIRABETE, Julio Fabbrini. Código de Processo Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 2010. _______. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2006. _______. Código de Processo Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 2010. PERRENOUD, Philippe. Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2009. TOURINHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br 60 Direito Processual Penal TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Código de Processo Penal Comentado. São Paulo: Saraiva, 2001. VENOSA, Silvio de Salvo. Novo Código Civil: Texto Comparado – Código Civil de 2002 e Código Civil de 1916. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004 CAPÍTULO 3 Inquéríto Policial A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Aprimorar o uso da linguagem jurídica e do raciocínio lógico; � Pesquisar a dogmática jurisprudencial; � Ler, compreender e interpretar textos jurídicos, documentos e bibliografias diversas sobre o Ordenamento Jurídico; � Conhecer e pesquisar as particularidades relevantes e úteis do conteúdo da Disciplina, com visão sistêmica e multidisciplinar; � Apresentar e explicar discussões de temas sociais sob a perspectiva jurídica; � Articular observando a norma culta; � Solucionar os problemas que se apresentam na aplicação concreta da lei penal. 63 Inquéríto Policial Capítulo 3 Contextualização A questão cujo estudo se propõe neste capítulo é a de recapitular o que foi estudado anteriormente, tendo como objetivo compreender criticamente a necessidade de adquirir novas competências. Que no decorrer de mais um capítulo possamos juntos solucionar com êxito as questões e conteúdos que serão apresentados. A Disciplina de Direito Processual Penal torna-se cada vez mais apaixonante para aqueles que interagem com a mesma. Acaba sendo um estímulo que finda por arrancar, tanto o professor quanto o aluno, do mundo do simples, do ter, do produzir, agir e agitar, para transportá-lo para o mundo do ser, do experimentar, do usufruir, fazendo vivenciar o que existe de profundo no ato de “estudar” e de “educar”. É sempre bom deixar um tempinho livre para refletir sobre a dimensão do papel do professor, pois educar não é apenas transmitir conhecimento, como infelizmente muitos pensam. Sabe-se que o próprio exercício de educador, apesar do desgaste físico, vem carregado do Eros interior da experiência profunda de ser possuído por esta vocação. Pois este só será Educador quando tiver o propósito de produzir, transformar a realidade em benefício do ser humano. É assim que o professor-educador transforma o aluno desconhecedor de determinada matéria em possuidor do conhecimento. Considerando a mística em nossa missão, no nosso dia-a-dia, criando espaço para projetos que visem à realização do bem social, é que concretizamos a prática da cidadania, no horizonte da justiça e da solidariedade, além de evidenciar o valor que cada indivíduo dispensa àquilo que faz com amor... Faz-se necessário dizer que o Direito lembra-nos o aspecto inconstante do mar, que se mostra sob várias faces, distintas aos olhos de quem o vê. Que seu infinito aguce a busca pelo conhecimento, e que seu mistério estimule o aprimoramento em áreas desconhecidas. Que ele possa ser a fonte não apenas do sustento, como também de satisfação pessoal. Espera-se que cada Pós-Graduando reflita sobre o tema exposto nesta contextualização, pois, como professores autores, nosso objetivo é o de permitir que cada um possa explorar os conhecimentos ora ministrados, proporcionando- lhes também a tranquilidade necessária para que possam “ir à luta”. 64 Direito Processual Penal Bom mesmo é ir a luta com determinação, abraçar a vida e viver com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, pois o triunfo pertence a quem se atreve... E a vida é muito para ser insignificante. (CHARLES CHAPLIN) Investigação Criminal Figura 6 - Investigação Criminal Fonte: Os autores. Falar de Inquérito Policial significa, antes de mais nada, estudar a persecução penal, a qual abarca a fase administrativa e também a processual. O conceito de persecução abrange a propositura da ação penal e ainda a simples investigação e a atribuição a alguém de um fato delituoso (MARQUES, 1965). O Estado tem interesse em manter a Paz e a harmonia entre seus cidadãos. Quando se comete uma infração penal, põe-se em risco aqueles bens jurídicos, e surge para o Estado o jus puniendi, o direito de punir. Porém, para que o Estado possa punir, é preciso de antemão recolher elementos probatórios necessários que indiquem a prática de uma infração penal e apontem a autoria do mesmo. Surge, assim, a necessidade de ir atrás da infração penal, e persegui-la, investigando-a e denunciando-a. A essa atividade se dá o nome de persecução penal (persecutio criminis). Falar de Inquérito Policial significa, antes de mais nada, estudar a persecução penal, a qual abarca a fase administrativa e também a processual. Investigação Criminal Inquérito Policial 65 Inquéríto Policial Capítulo 3 Para Ishida (2011,p.41): Persecutio criminis in judicio: Atividade desenvolvida pelo Ministério Público para repressão das infrações penais no caso da ação penal pública. O Estado (Administração) deverá procurar os elementos comprobatórios do fato infringente penal (crime ou contravenção). Seguindo essa linha de pensamento, há que se dizer que, para se propor a ação penal, entretanto, faz-se necessário que o Estado disponha de um mínimo de elementos probatórios que indiquem a ocorrência de uma infração penal e sua autoria. O meio mais comum, embora não exclusivo, para a colheita desses elementos é o Inquérito Policial. Nos itens que se seguem, restringiremos a nossa abordagem à primeira fase da persecução penal, o Inquérito Policial. Figura 7 – Persecução Penal Conceito de Persecução Penal Persecutio Criminis Fonte: Os autores. Assevera, porém, Mougenot (2011, p. 130): Persecução penal é o caminho que percorre o Estado – Administração para satisfazer a pretensão punitiva, que nasce no exato instante da perpetração da infração penal. A persecutio criminis divide- se em três fases: investigação preliminar ( compreende a apuração da pratica de infrações penais, com vistas a fornecer elementospara que o titular da ação penal possa ajuizá-la); ação penal ( atuação junto ao Poder Judiciário, no sentido de que seja aplicada a condenação aos infratores, realizando assim a concretização dos ditames do direito penal material diante de cada caso concreto que se apresentar) e execução penal ( satisfação o direito de punir estatal, reconhecido definitivamente pelo Poder Judiciário). O meio mais comum, embora não exclusivo, para a colheita desses elementos é o Inquérito Policial. 66 Direito Processual Penal Praticado o crime, o direito de Punir passa do plano abstrato para o concreto. Porém, existe uma autolimitação do Estado no exercício do direito de punir em razão do direito de liberdade. Nesse sentido, o Estado somente pode aplicar a pena através do processo. Mas para que o governo venha a se manifestar materialmente, existe uma intensa atividade dos órgãos do Estado ou do próprio particular, visando notificar ao Estado-Juiz a prática de um crime. Assim, a atividade do Estado (Polícia Judiciária, Ministério Público) e do Particular (ofendido) de notificar ao Estado-Juiz a prática do fato típico (materialidade) e autoria denominam-se persecução criminal. Nesse sentido, a persecução penal abrange a propositura da ação penal e ainda a simples investigação e a atribuição a alguém de um fato delituoso. Portanto, numa primeira fase, a polícia judiciária coleta elementos comprobatórios do fato típico e de sua autoria. Finalizada a fase investigatória, essas informações coletadas são encaminhadas ao MP na chamada ação penal pública ou do particular na ação penal privada. Persecução Criminal é a atividade dos órgãos estatais ou do particular objetivando notificar ao Estado-Juiz a prática da persecutio criminis e a ação penal ou fase da persecutio criminis in indicio. A investigação é a atividade estatal da persecutio criminis destinada a preparar a ação penal. A lei penal prevê condutas associadas a sanções. Portanto, se determinado individuo subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel, por exemplo, determina a lei que este seja punido com pena de reclusão de um a quatro anos e multa. A ocorrência do delito de furto, portanto, supõe que seja seguida da aplicação ao infrator de sansão que lhe seja correspondente ou que obedeça aos parâmetros fixados na lei. Complementando este raciocínio, Mougenot (2011, p. 129) diz que: [...] a aplicação de sanções é, hoje, função privativa do Estado, isto é, o Estado é o único autorizado a impor uma pena a um infrator, ainda que essa pena seja determinada em lei. Desta forma, é preciso assegurar um meio pelo o qual a A investigação é a atividade estatal da persecutio criminis destinada a preparar a ação penal. A lei penal prevê condutas associadas a sanções. 67 Inquéríto Policial Capítulo 3 ocorrência do crime chegue ao conhecimento do Estado. Se isso não ocorrer - se um órgão do Estado não vier a conhecer com mínima precisão o autor e as circunstâncias da prática delituosa -, abre-se oportunidade para que ocorram inúmeras injustiças, consubstanciadas na condenação de pessoas inocentes, ou na impunidade de quem seja culpado. Tais situações são indesejáveis aos olhos da sociedade. Por isso, melhor será o Sistema Jurídico se o Estado, por sua atividade jurisdicional, distribuir com efetividade a Justiça. Vê-se que é absolutamente essencial para o funcionamento do Sistema Penal que o Estado tenha o mais pleno conhecimento – a respeito da ocorrência do crime e de sua autoria antes que qualquer sansão seja aplicada. Vislumbra-se que os elementos que demonstram a ocorrência de um crime (provas) representam-se claros e completos. Por vezes, tem-se notícia da ocorrência de um crime, mas não se sabe o autor da prática do delito. Por outras, há apenas mera suspeita da prática de crime, sem que se conheça com detalhes as circunstâncias em que teria aquele ocorrido. Portanto, havendo notícias da suposta alegação da ocorrência de transgressão, será necessário agir de modo a buscar, primeiro a apuração do fato, de modo a haver certificação sobre o fundamento da suspeita. Sendo esta confirmada, pode-se buscar a aplicação exata da punição prevista em lei para o autor do fato. Conforme anteriormente exposto, cabe ao Estado a aplicação da Pena ao transgressor da norma jurídica. A aplicação de pena e a expressão, no âmbito do direito penal, de função jurisdicional, conforme já se viu, é exercida, na maioria, das vezes, pelo Poder Judiciário. Da mesma forma, também a persecução aos infratores e apuração dos fatos que se suspeita constituírem crimes caberão, em regra, ao Estado (há referentes exceções). Insta salientar que o jus puniendi, cujo titular é o Estado, mais do que um direito, é um dever estatal com resultado, na sua obrigação de manter a ordem e a paz social. Ou seja, quando afrontada pelo comportamento transgressor, faz-se necessária a punição. Vislumbra Mougenot (2011, p. 130): O Estado proíbe o exercício, por seus cidadãos, da autotutela, o que configura, ainda, que o crime previsto no art. 345 do CP (exercício arbitrário das próprias razões). Como contra- partida deve Insta salientar que o jus puniendi, cujo titular é o Estado, mais do que um direito, é um dever estatal com resultado, na sua obrigação de manter a ordem e a paz social. 68 Direito Processual Penal prover a punição aos que afrontam os bens e interesses relevantes à sociedade. Ao contrário da jurisdição que, no mais das vezes, somente se manifesta sob provocação (vide princípio da inércia, referente à jurisdição acima), a persecução penal, na grande maioria dos casos, deverá ser exercida de ofício, independentemente de provocação. Se a persecução aos infratores da lei penal constitui um serviço que o Estado deve prover à sociedade, o desempenho da atividade persecutória, em regra, será independente, inclusive, da manifestação do próprio ofendido A superação dos pressupostos autoritários e a ruptura com o regime de exceção inspiraram a realização do esforço constituinte, em que o ponto culminante foi o legado de uma nova ordem estatal, instituída pela vigente Constituição da República de 1988. Para uma nação submetida a espasmos ditatoriais, carente da concretização de vários interesses sociais e das mais basilares garantias individuais, o título das garantias fundamentais representou evidente avanço conquistado com a promulgação da Carta Magna de 1988. Criou-se uma definição externa e minuciosa das prerrogativas, competências e atribuições dos diversos órgãos e autoridades políticas responsáveis pelo funcionamento do aparato judiciário e das funções essenciais à Justiça. E é também do art. 129, inciso I da Constituição, que se extrai a exclusividade da iniciativa do parquet na promoção da ação penal pública. A ordem jurídica já admitiu a instauração de ação penal mediante portaria de autoridade policial, de acordo com o disposto no art. 26 do CPP em vigor. Há, portanto, clara evidência de que não mais se admite o exercício de pretensão acusatória pelo órgão de polícia judiciária na nova ordem constitucional. Entretanto, é nosso objetivo destacar que, mesmo contrariando a norma, a autoridade policial muitas vezes ainda tenta exercer este papel, por meio do inquérito policial. Consideramos confuso e cientificamente impreciso, além de logicamente incorreto, o uso indiscriminado da expressão “fase pré-processual” para designar todas as ações investigatórias realizadas sob um alegado “crivo jurisdicional” do órgão de polícia judiciária. Polícia O vocábulo “polícia” advém do grego politeia, ou seja, “a arte de governar”. Seguindo nesta esteira histórica, para os romanos, o mesmo vocábulo tinha como significado a “manutenção da ordem pública” e, posteriormente, passou a designar Há, portanto, clara evidência de que não mais se admiteo exercício de pretensão acusatória pelo órgão de polícia judiciária na nova ordem constitucional. 69 Inquéríto Policial Capítulo 3 o órgão estatal ao qual cabia proteger a segurança dos cidadãos. Como estamos aqui tratando de inquérito policial, faz-se necessário compreender a terminologia. Polícia é uma instituição de direito público que se reserva a assegurar a segurança, a paz, a incolumidade e a ordem pública. Conclui-se, portanto, que polícia é um órgão estatal incumbido de prevenir a ocorrência de infrações penais, de apurar a autoria e materialidade das já perpetradas, sem prejuízo de outras funções não atinentes à persecução penal. É o artigo 144 da Constituição Federal que apresenta as atribuições e a competência de cada uma das instituições que tem a segurança pública como alvo de ação. A polícia é geralmente dividida em: polícia administrativa, de caráter preventivo das infrações penais, e polícia judiciária, com o intuito de reprimir as infrações penais. A primeira visa prevenir a prática de delitos e contravenções; a segunda, que surge após o cometimento do ilícito penal, tem por fim investigá-lo, apurá-lo, para que sejam recolhidos seus elementos de materialidade e autoria, a fim de que seja deduzida, pelo titular da ação penal cabível, a pretensão punitiva. Pode ainda ser dividida a polícia em civil, federal e militar. Esta última tem caráter ostensivo, e o inquérito policial militar serve para apurar as infrações militares, porém não todas. Observa-se, portanto, que quando um não-militar é preso por policiais militares, este será levado à presença da Polícia Civil e o que se instaurará é um inquérito policial presidido por Delegado de carreira e não um inquérito policial militar. Inquérito Policial Conceito – Natureza Jurídica – Finalidade É o procedimento administrativo pré-processual e de caráter A polícia é geralmente dividida em: polícia administrativa, de caráter preventivo das infrações penais, e polícia judiciária, com o intuito de reprimir as infrações penais. É o procedimento administrativo pré-processual e de caráter facultativo, tem como fim apurar infrações penais e sua respectiva autoria, 70 Direito Processual Penal facultativo, tem como fim apurar infrações penais e sua respectiva autoria, dispensável e presidido pelas autoridades policiais, delegado estadual e delegado federal, e de caráter inquisitivo. Isto posto, chama-se atenção para o seguinte fato: não há ampla defesa e nem contraditório, que tem por finalidade colher provas da infração e indícios de autoria, tornando viável (exequível) o exercício da ação penal. Estabelece-se que à soma da atividade investigatória realizada na ocasião do Inquérito Policial com a propositura da ação penal, promovida pelo Ministério Público ou pelo ofendido dá-se o nome de persecução penal (persecutio criminis). É por meio desta que se busca tornar efetivo o jus puniendi consequente ou decorrente da prática da infração penal, a fim de se impor ao seu autor a sanção cabível. Por ocasião das análises acima levantadas, constatou-se que falar de Inquérito Policial significa, antes de tudo, estudar a persecução penal que abrange a fase administrativa e a processual. A atividade persecutória não se cinge à fase processual apenas. Ela é integrada por dois momentos distintos: • uma investigação preliminar ,seguida de uma fase processual. Portanto, no entender de Mougenot, (2011), essa fase pré- processual realiza-se por meio do Inquérito Policial, conduzido pela Polícia Judiciária e presidido por uma autoridade policial, o delegado de polícia, função de carreira. O Decreto nº 4824, de 22 de novembro de 1871, instituiu o Inquérito Policial separando a Polícia da Justiça, aduzindo no art. 42 que “O inquérito policial consiste em todas as diligências necessárias para o descobrimento do fato criminoso de suas circunstâncias e dos seus autores e cúmplices”. O inquérito policial encontra-se disciplinado nos arts. 4 a 23 do Código de Processo Penal – CPP (Decreto-Lei nº 3.689, de 03.10.1941). O inquérito policial consiste em todas as diligências necessárias para o descobrimento do fato criminoso de suas circunstâncias e dos seus autores e cúmplices. 71 Inquéríto Policial Capítulo 3 Segundo a definição do Professor Fernando Capez, (2011, p. 44 ), “o inquérito policial é o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”. Portanto, no entender do Professor Julio Fabbrini Mirabete (2004), o inquérito não tem características de ser um “processo”, mas um “procedimento administrativo”, informativo, destinado a oferecer ao órgão de acusação o mínimo de elementos necessários à propositura da ação penal. Trata-se de uma instrução provisória, preparatória e informativa, que não se confunde com a instrução criminal do processo, descrita nos arts. 394 a 405 do CPP. Com base nas características reconhecidas atualmente pela Doutrina e pela Jurisprudência, informa Mougenot (2011, p. 136): O inquérito policial é o procedimento administrativo, preparatório e inquisitivo, presidido pela autoridade policial, e constituído por um complexo de diligências realizadas pela polícia, no exercício da função judiciária com vistas à apuração de uma infração penal e identificação de seus autores. Assim, levando-se em consideração as condições particulares, pode-se dizer que o inquérito policial constitui uma fase investigatória, operando-se em âmbito administrativo. Uma vez que o inquérito precede o início da ação penal (fase judicial), a ele não se aplicam (ou pelo menos não são de observância estritamente obrigatória) diversos dos princípios basilares informadores do processo penal, como o princípio do contraditório, o princípio do juiz natural etc. O inquérito policial, conforme o caso, pode ser instaurado de ofício, por portaria da autoridade policial e pela lavratura de flagrante, mediante representação do ofendido, por requisição do juiz ou do Ministério Publico e por requerimento da vítima. Se o inquérito policial é procedimento administrativo, os atos nele praticados são administrativos. Tais atos são dotados de discricionariedade. O inquérito policial não tem contraditório e nem ampla defesa. O advogado pode peticionar na fase do inquérito e o delegado pode autorizar ou não o pedido de determinada diligência, diante do seu poder discricionário. Vale mencionar, ainda, que a Carta Magna de 1988, no seu art.129, O inquérito policial, conforme o caso, pode ser instaurado de ofício, por portaria da autoridade policial e pela lavratura de flagrante, mediante representação do ofendido, por requisição do juiz ou do Ministério Publico e por requerimento da vítima. 72 Direito Processual Penal VІ, destaca como função institucional do Ministério Público o exercício do controle externo da atividade policial, na forma das respectivas leis complementares. E observa-se o poder investigatório do Ministério Público. Cabe ao órgão ministerial apenas a função de receber as provas provenientes da fase administrativa ou poderá realizar as investigações de forma direta? Conforme nossos pretórios, a resposta a tal indagação é que o comando da fase administrativa cabe à autoridade policial, porém isso não impede (obsta) a investigação direta pelo órgão ministerial. Por seu turno, o STJ decidiu que é permitido ao Ministério Público conduzir a investigação, pois isso é um consectário lógico de sua própria função, a de titular da ação penal. No entanto, a Segunda Turma do STF considerou, por unanimidade, em julgamento datado de 06/05/2003, que: O Ministério Público não tem poderes para realizar diretamente investigações, mas sim requisitá-lasà autoridade policial competente, não lhe cabendo, portanto, inquirir diretamente pessoas suspeitas da autoridade de crime, dado que a condução do inquérito policial e a realização das diligências investigatórias são função de atribuição exclusiva da polícia judiciária “ ( cf. Informativo STF nº 307, 5 a 9-5-2003 – RHC 81.326- DF ). Já se entendeu também que não podem coexistir dois procedimento, um policial e o outro aberto pelo MP ( STJ, HC 32.586- MG, j. 16-3-2004 ) (ISHIDA, 2010, p.47). Todavia, em decisão recente, outra foi a decisão do Supremo numa sessão realizada em 02-02-2009: Função de polícia judiciária e função de investigação penal: uma distinção conceitual relevante, que também justifica o reconhecimento, ao Ministério Público, do poder investigatório em matéria penal. Doutrina. É PLENA A LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE INVESTIGAR DO MINISTÉRIO PÚBLICO, POIS OS ORGANISMOS POLICIAIS (EMBORA DETENTORES DA FUNÇÃO DE POLÍCIA JUDICIÁRIA) NÃO TÊM, NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, O MONOPÓLIO DA COMPETÊNCIA PENAL INVESTIGATÓRIA. – O poder de investigar compõe, em sede penal, o complexo de funções institucionais do Ministério Público, que dispõe, na condição de “dominus litis” e, também, como expressão de sua competência para exercer o controle externo da atividade policial, da atribuição de fazer instaurar, ainda que em caráter subsidiário, mas por autoridade própria e sob sua direção, procedimentos de investigação penal 73 Inquéríto Policial Capítulo 3 destinados a viabilizar a obtenção de dados informativos, de subsídios probatórios e de elementos de convicção que lhe permitam formar a “opinio delicti”, em ordem a propiciar eventual ajuizamento da ação penal de iniciativa pública. Doutrina. Precedentes: RE 535.478/SC, Rel. Min. ELLEN GRACIE – HC 91.661/PE, Rel. Min. ELLEN GRACIE – HC 85.419/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO – HC 89.837/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO- HC 89.837-DF, Rel, Min. CELSO DE MELLO. (Segunda Turma, STF, Relator, Ministra Ellen Gracie. 2009) (ISHIDA, 2010, p.49). Atividade de Estudos: 1) Considerando a experiência adquirida até o presente momento, aproveite para testar seus conhecimentos, aprimorar o uso da linguagem jurídica e do raciocínio lógico, explicando e analisando as afirmações abaixo. • O Ministério Público pode acompanhar as investigações policiais, tendo o poder para promover as mesmas e depois de finalizadas as diligências. Pode mesmo oferecer denúncia, não cabendo alegação de suspeição ou impedimento, já que a atuação anterior não lhe suprime a necessária imparcialidade na atuação como Estado-Administração. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 74 Direito Processual Penal ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Existem duas correntes que apresentam argumentos contra e a favor da Investigação do MP. Portanto, aproveite o momento para conhecer e pesquisar estas particularidades relevantes e úteis do conteúdo estudado. Para realizar as questões abaixo, o Leo dá a dica! • art.144,§ 1º, IV da Constituição Federal de 1988. • art.144,§ 1º,II da Constituição Federal de 1988. Agora é a sua vez... Bom Trabalho ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 3) Assim como a Jurisprudência está dividida, a Doutrina, por sua vez, também apresenta argumentos contra e a favor da investigação feita pelo MP. Transcreva os argumentos utilizados pela corrente contrária à possibilidade do MP realizar a investigação. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 75 Inquéríto Policial Capítulo 3 ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 4) No entanto, há uma corrente favorável às investigações criminais do MP. Apresente estes argumentos examinando a doutrina, a legislação e a jurisprudência. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ O Inquérito Policial é função da Polícia judiciária. Esta, por sua vez, possui outras funções, como a de trazer informações necessárias à instrução e ao julgamento dos processos. A Autoridade Policial, ao final, faz o relatório, que é o resumo das diligências já realizadas, sem alusão a qualquer opinião pessoal da autoridade policial. 76 Direito Processual Penal Inquéritos Extrapoliciais Nem todo o inquérito é “policial”, havendo outros que não se regem por esta denominação, porque não são presididos por autoridades policiais,além do que se norteiam pelos princípios do contraditório e da ampla defesa. São eles – Inquérito Administrativo: este inquérito visa apurar a responsabilidade de funcionário público e do Inquérito Policial Militar comandado pela autoridade policial militar, como ocorre na Polícia Militar. Outro exemplo era o antigo inquérito judicial, dos crimes falimentares. (arts. 103 a 108 revogados pelo Decreto – lei nº 7.661/45). A atual Lei de Falências (lei nº 11.101/05) acabou por revogar o inquérito judicial. Comissões Parlamentares de Inquérito – criadas pela Lei n°1579 de 1952, que tratam de investigações de maior vulto e têm como objetivo determinar e realizar diligências que forem necessárias para melhor abordar a matéria no contexto do legislativo como, por exemplo, na CPI do abuso sexual contra menores. E por último temos o inquérito civil, criado pela Lei nº 7.347/85, cuja intuito não é criminal, mas eventualmente pode embasar uma denúncia. Presidido pelo Ministério Público, destina-se à propositura da ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens de direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Deveres da Autoridade Policial Por ocasião da análise do art. 13 do CPP, observa-se que este impõe às autoridades policiais deveres que, quando não obedecidos, poderão ensejar sua responsabilidade penal e administrativa. Trata-se, pois, de deveres e não de meras faculdades de que a autoridade policial possa se privar de realizar. São eles: a) levar às autoridades judiciárias as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos; b) efetuar as diligências requisitadas pelo juiz ou pelo Ministério Público; c) cumprir os mandados de prisão expedidos pelas autoridades judiciárias; d) representar acerca da prisão preventiva. Polícia Judiciária É uma instituição de direito público com função de auxiliar a justiça. Sua finalidade é a apurar a ocorrência de infrações penais e Nem todo o inquérito é “policial”, havendo outros que não se regem por esta denominação, porque não são presididos por autoridades policiais, Polícia Judiciária É uma instituição de direito público com função de auxiliar a justiça. 77 Inquéríto Policial Capítulo 3 suas respectivas autorias, visando fornecer elementos para a propositura da ação penal por seu titular. Na esfera estadual, a polícia judiciária é atribuída às polícias civis. Conforme expressa a Carta Magna de 1988, em seu art. 144, § 4º, “às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”. No âmbito federal as funções de polícia judiciária são exercidas, com exclusividade, pela Polícia Federal, conforme expressa disposição do inciso IV do § 1º do art. 144 da CF/88. Ressalta-se que a polícia judiciária é uma atividade que será exercida pelas autoridades policiais, e não uma instituição. As instituições policiais possuem dois tipos de atividades distintas: Policiamento preventivo ou ostensivo: é a polícia de segurança pública, que é exercida pela polícia militar, rodoviária, ferroviária, florestal. Policiamento repressivo, polícia pós-crime, polícia de investigação: essa é a polícia judiciária, que é exercida pela polícia civil e pela polícia federal. Nogueira (2002, p.141) classifica as funções da polícia assim: Preventiva: tem por escopo evitar a ocorrência de crimes e contravenções. Ex: patrulhamento feito por policiais militares em determinado lugar considerado ponto de venda de drogas. Judiciária: consiste na apuração das infrações penais por meio do inquérito policial. Administrativa: como o próprio nome indica, tal função consubstancia-se na prática de atos administrativos que não se relacionam à persecutio criminis. Ex: expedição de passaporte pela polícia federal Com base no art.144,§ 4º da Constituição Federal de 1988, que estabelece incumbir às policias civis as funções judiciárias e de apuração de infrações penais, sustenta Feitoza (2006, p. 161) “que a Lei maior empregou o significado de policia judiciária tão somente para designar a atividade de auxílio ao poder judiciário em cumprimento de determinações, ao passo que a função de apurar infrações penais seria da denominada polícia investigativa.” Ressalta-se que a polícia judiciária é uma atividade que será exercida pelas autoridades policiais, e não uma instituição. 78 Direito Processual Penal Portanto, o inquérito policial é presidido por um Delegado de polícia de carreira. A competência administrativa desta autoridade, como regra geral, é determinada em razão do local de consumação da infração (ratione loci). Nada impede, entretanto, que se proceda a distribuição da competência em função da natureza da infração penal (ratione materiae), como ocorre em alguns estados, onde existem delegacias especializadas na investigação de determinados crimes. O território dentro do qual as autoridades policiais têm competência para desempenhar suas atribuições é denominado circunscrição. Não se deve utilizar a expressão jurisdição, uma vez que as atribuições das autoridades policiais são exclusivamente administrativas. Conforme o art. 22 do CPP, nas comarcas em que houver mais de uma circunscrição policial, e no Distrito Federal, a autoridade com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição de outra, independentemente de precatórias ou requisições. Sobre a lavratura do auto de prisão em flagrante, esta deve ser realizada pela autoridade policial do lugar em que se efetivou a prisão, devendo os atos subsequentes serem praticados pela autoridade do local em que a infração penal se consumou. Ressalta-se que, em razão da autoridade policial não possuir competência para processar, nem sentenciar, não está sujeito, o inquérito, à regra do art. 5º, LIII, segundo a qual “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. O transcrito inciso LIII do art. 5º da CF/88 desdobra-se em dois princípios, o princípio do promotor natural (ninguém será processado senão pelo promotor de justiça previamente indicado pelas regras legais objetivas) e o princípio do juiz natural (todos têm o direito de serem julgados pelo magistrado previamente investido segundo critérios legais objetivos). Natureza Jurídica e Características Sabe-se que o inquérito policial, por ser procedimento administrativo, não é processo, não se constituindo em relação trilateral, pois o investigado não é parte do procedimento. Portanto, o inquérito policial é presidido por um Delegado de polícia de carreira. Sabe-se que o inquérito policial, por ser procedimento administrativo, não é processo, não se constituindo em relação trilateral, pois o investigado não é parte do procedimento. 79 Inquéríto Policial Capítulo 3 Porém, os direitos fundamentais do investigado devem ser resguardados. A isso chamamos unilateralidade das investigações preparatórias a da ação penal, o que não autoriza a polícia judiciária a desrespeitar as garantias que assistem ao indiciado. Nesse sentido, seu curso não pode ser obstruído ou paralisado nem mesmo por habeas corpus, salvo hipóteses excepcionais, em que se evidencie uma atipicidade do fato. O Inquérito policial é um procedimento meramente informativo, destinado à investigação de um fato possivelmente criminoso e por sua vez a identificação do seu autor. Seu o objeto é a obtenção de elementos suficientes para a propositura da ação penal. Nesse passo, enumeram-se abaixo algumas de suas características. a) Procedimento Escrito Todas as conclusões e informações a que chegou o inquérito policial devem ser deduzidas por escrito, e remetidas ao judiciário (no caso de açãopenal pública) ou ao ofendido ou seu representante legal (no caso de ação penal privada). O art. 9º do CPP expressamente estatui que “todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilografadas (atualmente digitalizadas ) e,neste caso, rubricadas pela autoridade”. É coeso que não seria compatível com a segurança jurídica, tampouco atenderia à finalidade do inquérito policial, qual seja fornecer ao titular da ação penal os subsídios necessários à sua propositura, a realização de investigações puramente verbais sobre a prática de infração penal e sua autoria sem que, ao final, resultasse qualquer documento formal escrito. b) Procedimento Sigiloso O inquérito policial é sigiloso, para impedir que empecilhos ou obstáculos se ponham em seu regular caminho, pois, do contrário, muitas vezes as investigações ficariam inutilizadas. “Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”. Deve assegurar o direito à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem do investigado, nos termos do art. 5º, X, da CF/88. Não se deve esquecer que milita em favor de qualquer pessoa a presunção de inocência enquanto não sobrevindo o trânsito em julgado de sentença penal condenatória (CF, art. 5º, LVII). O sigilo do inquérito policial não pode ser oposto ao representante do Ministério Público, nem à autoridade judiciária. O advogado pode consultar os 80 Direito Processual Penal autos do inquérito. Entretanto, a realização de atos procedimentais não poderá ser acompanhada pelo advogado se, por sentença judicial, for decretado sigilo em determinada investigação. c) Oficiosidade Seus procedimentos devem ser dirimidos de ofício, sem necessidade de provocação da parte ofendida ou de outros interessados, até sua conclusão. A oficiosidade é consequência do princípio da obrigatoriedade da ação penal pública (legalidade). Conforme lição de Mougent (2011, p.137): A obrigatoriedade decorre da redação do art. 5º do CPP, que determina o seguinte: “Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado,, não deixando margem, portanto, para a discricionariedade da autoridade policial. No que concerne à instauração, todavia, somente haverá oficiosidade relativamente aos inquéritos instaurados para apuração de crimes sujeitos à ação pública incondicionada. Uma vez oferecida a notitia criminis – a partir do conhecimento da autoridade policial, por qualquer meio, da infração penal, objeto esta de ação penal pública incondicionada, estará a autoridade obrigada a instaurar, de ofício, o inquérito para a devida investigação. A instauração do inquérito, destarte, não pode ser efetivada de ofício nos crimes de ação penal pública condicionada à representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça e nos de ação penal privada. Uma vez instaurado o inquérito, entretanto, os atos nele praticados o serão por iniciativa da autoridade competente, de ofício. d) Indisponibilidade Do princípio da obrigatoriedade decorre a indisponibilidade do inquérito policial, consequência de sua finalidade de interesse público. Sobre esta característica, descreve Mougenot (2011,p. 137): Uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser arquivado por iniciativa da autoridade policial. O artigo 17 do CPP consagra a indisponibilidade do inquérito policial. Uma vez instaurado, deve o inquérito ser conduzido até seu encerramento, onde será concluído com a apresentação de um minucioso relatório final. No que concerne à instauração, todavia, somente haverá oficiosidade relativamente aos inquéritos instaurados para apuração de crimes sujeitos à ação pública incondicionada. 81 Inquéríto Policial Capítulo 3 A indisponibilidade representa um desdobramento da oficiosidade, ou seja, uma vez iniciado, o inquérito deve chegar à sua conclusão final, não sendo lícito à autoridade policial determinar seu arquivamento (art. 17 do CPP). Nesse sentido, informa-se que mesmo quando o membro do Ministério Público requer o arquivamento de um inquérito policial, a decisão é submetida ao juiz, como fiscal do princípio da indisponibilidade, que, discordando das razões invocadas, deve remeter os autos ao chefe da Instituição (Ministério Público). É o que estabelece o art. 28 do CPP: Art. 28. Se o órgão do Ministério Público, ao invés de apresentar a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador- geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender. e) Procedimento Inquisitivo Como consequência de sua natureza inquisitiva, não se pode opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito (art. 107 do CPP). Pelo mesmo motivo, a autoridade policial pode, a seu critério, indeferir os pedidos de diligências feitos pelo ofendido ou pelo indiciado (art. 14 do CPP). Assim, não existe o contraditório (que só existe a partir da ação penal ou atualmente em cede de juizados criminais, na audiência preliminar). Vale lembrar que a intervenção do Ministério Público, em sede de inquérito policial, é a título de custos legis. Na ação penal pública incondicionada, a Autoridade Policial tem o dever de instaurar o inquérito. O indiciado não é um sujeito de direito, consistindo num mero objeto de investigação. Porém, existe uma exceção: inquérito administrativo que vise à expulsão de estrangeiro (art. 102 da lei nº 6815/80). A indisponibilidade representa um desdobramento da oficiosidade, ou seja, uma vez iniciado, o inquérito deve chegar à sua conclusão final, não sendo lícito à autoridade policial determinar seu arquivamento (art. 17 do CPP). Como consequência de sua natureza inquisitiva, não se pode opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito (art. 107 do CPP). 82 Direito Processual Penal Destinatários O inquérito policial exibe como destinatários o imediato e o mediato. Apresenta como destinatário imediato o titular da ação a que preceda, são eles: A - nas ações penais públicas: o Ministério Público, seu titular exclusivo; B - nas ações privadas: o ofendido, titular de tais ações. E, por sua vez, pode-se dizer que como destinatário mediato do inquérito policial ter-se-á o juiz, uma vez que será a partir do inquérito que ele terá subsídios para receber a peça inicial e decidir quanto à necessidade de decretar medidas cautelares. Vale lembrar, igualmente, que o destinatário do inquérito policial é o Ministério Público, porém este será remetido ao juízo, para que possa ser identificado qual membro do Ministério Público atuará naquele inquérito. O Ministério Público é o destinatário do inquérito e não o juiz (o Poder Judiciário é inerte). Então, o inquérito será remetido ao Ministério Público para que, em cinco dias: • apresente/ ofereça denúncia; • devolva à delegacia de polícia; • requeira arquivamento. Apesar de o Código de Processo Penal, art. 10, determinar que o inquérito seja remetido ao juiz, isso não significa dizer que o juiz é o destinatário final do inquérito. Ele é ferramenta a ser utilizada pelo MP. Valor Probatório A doutrina é pacífica diante de reiterada jurisprudência de nossos tribunais. O inquérito policial é mera peça informativa destinada a fundar eventual denúncia e, uma vez que não é elaborado sob a égide do contraditório, seu valor probatório é bastante restrito. Sob pena de se contrariar o princípio constitucional do contraditório, não se admite que a sentença condenatória apoie-se única e exclusivamente nos elementos apresentados pelo inquérito policial.Na ação penal pública incondicionada, a Autoridade Policial tem o dever de instaurar o inquérito. O inquérito policial é mera peça informativa destinada a fundar eventual denúncia e, uma vez que não é elaborado sob a égide do contraditório, seu valor probatório é bastante restrito. 83 Inquéríto Policial Capítulo 3 Dispensabilidade do Inquérito Policial Já se disse que o inquérito policial é peça meramente informativa, podendo ser dispensado para o oferecimento da denúncia na ação penal pública ou da queixa crime na ação penal privada. Salienta-se que a ação penal privada está em vias de extinção, estando ainda incerto o destino dos crimes correlatos. Na redação do art. 12 do CPP é possível observar que declara a apresentação da denúncia ou da queixa, mesmo que estas não tenham por base um inquérito policial. Segundo o STF, “não é essencial ao oferecimento da denúncia a instrução de inquérito policial, desde que a peça acusatória esteja sustentada por documentos suficientes da autoria” (RTJ 76/741). Outro dispositivo que permite concluirmos pela não obrigatoriedade do inquérito para a apresentação da denúncia é o art. 27 do CPP, transcrito: “Art. 27. Qualquer pessoa do povo poderá provocar a iniciativa do Ministério Público, nos casos em que caiba a ação pública, fornecendo-lhe, por escrito, informações sobre o fato e a autoria e indicando o tempo, o lugar e os elementos de convicção.” Neste viés, insta observar a redação do art. 39 do CPP que, tratando da representação nas ações penais públicas condicionadas, traz, em seu § 5º, expresso o seguinte: “§ 5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15 (quinze) dias.” Incomunicabilidade do Indiciado Verifica-se que a redação do art. 21 do CPP traz uma regra que grande parte da doutrina considera não recepcionada pela Carta Magna de 1988. Art. 21. A incomunicabilidade do indiciado dependerá sempre de despacho nos autos e somente será permitida quando o interesse da sociedade ou a conveniência da investigação o exigir. Parágrafo único. A incomunicabilidade, que não excederá de 3 (três) dias, será decretada por despacho fundamentado do juiz, a requerimento da autoridade policial, ou do órgão do Ministério Público, respeitado, em qualquer hipótese, o disposto no art. 89, III, do Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei no 4.215, de 27 de abril de 1963) (Redação dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966). 84 Direito Processual Penal Portanto, no entender de Tourinho Filho (2011, p. 262): Se durante o estado de defesa, quando o governo deve tomar medidas enérgicas para preservar a ordem pública ou a paz social, ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza, podendo determinar medidas coercitivas, destacando-se restrições aos direitos de reunião, ainda que exercida no seio das associações, o sigilo da correspondência e da comunicação telegráfica e telefônica, havendo até prisão sem determinação judicial, tal como disciplinado no artigo 136 da CF, não se pode decretar a incomunicabilidade do preso (CF, art. 136, § 3º, І ), com muito mais razão não há que se falar em incomunicabilidade na fase do inquérito policial. Existe discussão acerca da revogação do art. 21 do CPP, em razão do disposto no art, 136, § 3º, ІV, da CF: “é vedada a incomunicabilidade do preso”. O mais forte argumento no sentido da não recepção deste dispositivo tem por base o texto constitucional, segundo o qual, na vigência do estado de defesa, é vedada a incomunicabilidade do preso. Parece evidente que se a Constituição proíbe a incomunicabilidade até mesmo na vigência de um “estado de exceção”, não seria nada razoável admiti-la em condições normais como consequência de um simples inquérito policial. Do lecionado, infere-se que a incomunicabilidade afigura- se incompatível com as garantias insculpidas no art. 5º da CF/88, principalmente com as constituídas em seus incisos LXII (a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada) e LXIII (o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado). Instauração do Inquérito Os atos que constituem o inquérito policial agrupam-se em uma sequência ordenada. Dispõe-se como causa usual da instauração do inquérito a notitia criminis. O CPP, portanto, prevê formas específicas de comunicação para o início do inquérito policial, conforme a iniciativa da ação penal exigida para a infração correspondente, seja pública incondicionada, pública condicionada à representação da vítima ou à requisição do Ministério da Justiça, ou privada. Existe discussão acerca da revogação do art. 21 do CPP, em razão do disposto no art, 136, § 3º, ІV, da CF: “é vedada a incomunicabilidade do preso”. Infere-se que a incomunicabilidade afigura-se incompatível com as garantias insculpidas no art. 5º da CF/88, 85 Inquéríto Policial Capítulo 3 Sobre a instauração do inquérito policial, esclarece Mougenot (2011, p. 144): Não obstante decorram de um poder discricionário da autoridade que o preside, os atos que constituem o inquérito policial devem agrupar-se em uma sequência ordenada. Desse fato decorre a sua natureza procedimental. O inquérito policial terá, portanto, início, meio e fim, desenvolvendo-se em um razoável lapso temporal. O inquérito policial inicia-se por meio da notittia criminis, expressão que designa, genericamente, o conhecimento pela autoridade policial da ocorrência de um fato possivelmente criminoso. O inquérito policial poderá ser iniciado: 1) de ofício; 2) mediante requisição; 3) mediante requerimento do ofendido ou seu representante; 4) a partir de delação, feita por qualquer do povo; 5) por auto de prisão em flagrante delito. Como vimos acima, o inquérito policial pode ser instaurado de diferentes formas. Usamos o termo de ofício no caso de crimes de ação penal pública incondicionada, normalmente através de portaria. Já nos crimes de ação penal pública condicionada, exige-se a representação do ofendido normalmente no prazo de seis meses ou a requisição do Ministro da Justiça, aqui sem prazo. Ação Penal Pública Incondicionada Nos casos em que a ação penal seja de iniciativa pública incondicionada, pode o inquérito policial ser instaurado de cinco formas diferentes, como podemos notar no texto abaixo, conforme ilustra Mougenot (2011): • De ofício (ex ofício ). O art. 5º, I, do CPP estabelece como regra geral que a instauração do inquérito seja feita de ofício nas ações públicas incondicionadas. A autoridade, tomando conhecimento da ocorrência do crime, deve instaurar o procedimento destinado. A Autoridade Policial, tomando ciência do delito, deverá instaurá- lo de ofício, mediante uma peça singela e sem muita solenidade chamada portaria. 86 Direito Processual Penal • Por meio de requisição: outra possibilidade é a instauração do inquérito mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, conforme previsto na parte inicial do art. 5º, II, do CPP. O atendimento à requisição é obrigatório. Quem requisita ou determina algo, ordena que algo seja feito ou realizado. Estabelece-se, nesse caso, que o Delegado, sendo requisitado pelo Ministério Público ou pelo Juiz, deverá instaurar inquérito policial, sob pena de responder por prevaricação, delito tipificado no art. 319 do CP ou sobre outro norte, para alguns doutrinadores admitem que na hipótese, haverá crime de desobediência – art. 330 do CP. • Por meio de requerimento do ofendido ou seurepresentante: requerimento é um pedido encaminhado pela vítima ou por seu representante para que a autoridade policial instaure o inquérito. Ou como prevê a parte final do art. 5º, II, do CPP. O requerimento da vítima, diferentemente da requisição tratada no parágrafo precedente, pode ser indeferido pela autoridade policial, por exemplo, na hipótese de esta entender que o fato narrado não configura crime, pelo menos em tese (fato atípico). Os Métodos de Interpretação, presentes no texto a seguir, foram extraídos de Mougenot (2011) em seu Curso de Processo Penal. Requerer é pedir, pleitear algo, e não exigir ou determinar, como no caso da requisição. O requerimento deverá conter, sempre que possível – “a narração do fato, com todas as circunstâncias; a individualização do indiciado ou de seus sinais característicos e as razões de convicção ou de presunção de ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; e a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência” – art. 5º, § 1º, do Código de Processo Penal. O requerimento conterá sempre que possível (Art. 5º, § 1º, do Código de Processo Penal): a) a narração do fato, com todas as circunstâncias; b) a individualização do indiciado ou seus sinais característicos e as razões de Requerimento é um pedido encaminhado pela vítima ou por seu representante para que a autoridade policial instaure o inquérito. 87 Inquéríto Policial Capítulo 3 convicção ou de se presumir ser ele o autor da infração, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeação das testemunhas, com indicação de sua profissão e residência. Tratando-se de Requerimento, o delegado pode deixar de atendê-lo nos seguintes casos: • quando já estiver extinta a punibilidade; • se o requerimento não mencionar o mínimo indispensável para a abertura do inquérito; • se a autoridade policial a quem foi dirigido o documento não for a competente para o caso; • se o fato for atípico; • se o requerente for incapaz. Isto posto, vale dizer que, contra eventual indeferimento do requerimento de instauração, cabe recurso administrativo para o Secretário de Segurança Pública. Por força da delatio criminis (denúncia de um fato criminoso): além do ofendido, qualquer pessoa do povo, ao tomar conhecimento da prática de alguma infração penal sujeita a ação pública incondicionada, poderá comunicá- la, verbalmente ou por escrito, à autoridade policial, que mandará instaurar o inquérito, caso sejam procedentes as informações (art. 5º, § 3º do Código de Processo Penal). Por auto de prisão em flagrante delito: por último, pode o inquérito ser instaurado pela prisão em flagrante delito, hipótese em que o auto de prisão será a primeira peça do procedimento. A instauração do procedimento de inquérito é formalizada pela edição de uma portaria pela autoridade policial, na qual esta informa haver tomado ciência da prática do crime de ação penal pública incondicionada. Não será baixada portaria quando existir requerimento, requisição ou auto de prisão em flagrante, pois estes documentos constituem, eles próprios, a peça inicial do inquérito. Vale ressaltar que, nas hipóteses de crimes de ação privada e nos delitos de ação pública condicionada, a lavratura do auto de prisão em flagrante dependerá necessariamente da manifestação do ofendido ou de seu representante legal. 88 Direito Processual Penal O inquérito não deverá ser instaurado nas hipóteses de: a) fato atípico; b) extinção de punibilidade; c) ser a autoridade incompetente para a instauração; d) não serem fornecidos elementos mínimos indispensáveis para as investigações; e e) a pessoa a ser indiciada já haver sido absolvida ou condenada por aquele fato criminoso. Ação Penal Pública Condicionada O art. 5º, § 4º, do CPP, expressamente determina: “§ 4º O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.” Para os casos de delitos de ação penal pública condicionada, o início do inquérito policial dependerá da manifestação de vontade do ofendido ou de quem o represente (por meio de representação), ou do Ministro da Justiça (mediante requisição). O Professor Mirabete define a representação como um pedido-autorização, em que o interessado manifesta o desejo de que seja proposta a ação penal pública e, portanto, como medida preliminar, seja instaurado o inquérito policial. Podem oferecer representação: 1) o ofendido; 2) o representante legal do ofendido; 3) o procurador com poderes especiais. A representação pode ser apresentada à autoridade policial, à autoridade judiciária ou ao representante do Ministério Publico. A representação torna-se irretratável após o oferecimento da denúncia. Segundo o art. 39 do CPP, que versa sobre representação: A representação pode ser apresentada à autoridade policial, à autoridade judiciária ou ao representante do Ministério Publico. A representação torna-se irretratável após o oferecimento da denúncia. 89 Inquéríto Policial Capítulo 3 “Art. 39. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, mediante declaração, escritas ou orais, feitas ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial.” § 1º A representação feita oralmente ou por escrito, sem assinatura devidamente autenticada do ofendido, de seu representante legal ou procurador, será reduzida a termo, perante o juiz ou autoridade policial, presente o órgão do Ministério Público, quando a este houver sido dirigida. § 2º A representação conterá todas as informações que possam servir à apuração do fato e da autoria. § 3º Oferecida ou reduzida a termo a representação, a autoridade policial procederá a inquérito, ou, não sendo competente, remetê-lo-á à autoridade que o for. § 4º A representação, quando feita ao juiz ou perante este reduzida a termo, será remetida à autoridade policial para que esta proceda a inquérito. § “5º O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15 (quinze) dias. Ação Penal Privada Nos delitos cuja apuração se dá mediante ação penal privada, a instauração do inquérito estará sujeita a requerimento de quem seja seu titular. Esta manifestação de vontade pode ser escrita ou oral (caso em que será reduzida a termo), não se sujeitando a formalidades. Por seu turno, tratando-se de crime cuja ação penal seja de iniciativa privada, o art. 5º, § 5º, do CPP determina que a autoridade policial somente possa proceder ao inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentar a ação. O requerimento deve ser apresentado antes do término do prazo decadencial. O CPP, em seus arts. 30 e 31, estabelece caber a iniciativa da ação privada ao ofendido ou a quem tenha qualidade para representá- lo e, no caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Nem mesmo Nos delitos cuja apuração se dá mediante ação penal privada, a instauração do inquérito estará sujeita a requerimento de quem seja seu titular. 90 Direito Processual Penal a autoridade judiciária ou o Ministério Público podem, por iniciativa própria, requisitar a instauração da investigação nos crimes de ação penal privada. Concluído o inquérito policial, seus autos serão remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado (CPP, art. 19). Atividade de Estudos: 1) Assinale as alternativas com V ou F, colocando ao lado das afirmações o artigo correspondente: ( ) O escrivão poderá requerer ao Juiz aprisão preventiva do indiciado, quando verificar que ele está se evadindo do distrito da culpa e assim dificultar a instauração do inquérito policial. __________________________ ( ) A autoridade policial somente poderá mandar arquivar o I. P. quando este for requerido contra loucos e alienados mentais. __________________________ ( ) É nula a Ação Penal quando não for dado curador ao menor. __________________________ ( ) O delegado só pode expedir mandado de busca e apreensão contra o infrator se ele for preso em flagrante. _______________ _________________________ ( ) Do despacho que indefere requerimento de abertura de Inquérito Policial, cabe recurso também ao Poder Judiciário. __________________________ ( ) A autoridade policial não poderá proceder à identificação datiloscópica do indiciado, em razão de disposição constitucional. _________________________ ( ) A autoridade administrativa não poderá apurar infrações penais, eis que essa atividade é da competência da polícia judiciária. ____________________ ( ) Quando o fato for de difícil elucidação, a autoridade policial poderá dilatar o prazo, “de ofício”. ______________________________ 91 Inquéríto Policial Capítulo 3 ( ) O irmão, nos termos do art.31 do CPP, sabendo que seu cunhado é adúltero e está difamando a irmã dele, poderá requerer a abertura de I.P contra seu cunhado. _______________________ ( ) A autoridade policial não fará relatório nos termos do artigo 10, § 1º do CPP, se a prisão ocorreu em flagrante. ____________________ ( ) O curador deve ser advogado ou estagiário de direito. ___________________ O Indiciamento É a imputação a alguém, na fase do inquérito policial, da prática de uma infração penal. A pessoa a quem foi atribuído o indiciamento é chamada de indiciada, e não se confunde com a figura do réu. Aliás, “indiciado” está para inquérito policial assim como o réu está para o processo penal já instaurado. Enquanto não há ação penal, fala- se, quando muito, em indiciado; quando já proposta a ação penal, o indiciado converte-se em réu. O CPP não faz referência expressa ao ato de indiciamento, mas menciona o “indiciado” em diversos de seus dispositivos (art. 6º, V, art. 14, art. 15 etc.). O indiciamento, conforme ensina o Professor Julio Fabbrini Mirabete (2004), é a imputação a alguém, ainda na fase de inquérito policial, portanto, administrativa, da prática do ilícito penal. Neste viés, consiste, o indiciamento em declarar alguém que até aquele momento era um simples suspeito, como sendo o provável autor do delito que se está investigando. As investigações passam, então, a concentrar- se sobre a pessoa do indiciado. No entanto, a autoridade policial procede ao indiciamento quando, como o próprio nome designa, há indícios razoáveis de autoria. Ainda segundo Mirabete (2004), o indiciamento não é um ato discricionário, mas sim um ato administrativo vinculado, uma vez que inexiste liberdade da O indiciamento, conforme ensina o Professor Julio Fabbrini Mirabete (2004), é a imputação a alguém, ainda na fase de inquérito policial, portanto, administrativa, da prática do ilícito penal. É a imputação a alguém, na fase do inquérito policial, da prática de uma infração penal. 92 Direito Processual Penal autoridade policial sobre indiciar ou não alguém contra quem haja indícios de autoria de fato delitivos. Identificação do Indiciado O art. 6º, inciso VIII, do Código Processo Penal afirma, segundo o entender de Mougenot (2011, p.157), que o dever da Autoridade Policial é “ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes”. Como se vê, a identificação é o meio pelo qual se estabelece a identidade ou o conjunto de caracteres que individualizam uma pessoa, destacando-a das demais, citando o nome, a filiação, a naturalidade, o caracteres físicos, sua alcunha, profissão e endereço. Atualmente a identificação do acusado faz-se mediante processo datiloscópico (impressões digitais), dada a certeza científica de que não existem duas pessoas com as mesmas impressões digitais. Por seu turno, a autoridade policial deve proceder à identificação do indiciado mediante o processo datiloscópico, exceto se ele já houver sido civilmente identificado, conforme expressamente prevê a Constituição de 1988, em seu art. 5º, LVIII. Entretanto, a própria CF/88 admite, nos casos em que a lei prevê, a identificação criminal do civilmente identificado. Exemplo dessa possibilidade está na Lei nº 9.034/95 – Lei do Crime Organizado, a qual estabelece, em seu art. 5º, que “a identificação criminal de pessoas envolvidas com a ação praticada por organizações criminosas será realizada independentemente da identificação civil.” Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade policial (art. 15 do CPP). O curador assistirá o indiciado no interrogatório e nos atos em que seja necessária a participação do indiciado, como acareações, simulações do delito, reconhecimento etc. O curador poderá ainda, nos termos do art. 14 do CPP, requerer diligências, que serão realizadas, ou não, a juízo da autoridade policial. A falta de nomeação do curador não torna nulo todo o inquérito e nem a ação penal subsequente, mas acarreta a nulidade de atos como a confissão do indiciado menor ou a sua prisão em flagrante. Se o indivíduo se recusar a se submeter à identificação criminal nos casos previstos em lei, pode a autoridade policial coercitivamente conduzi-lo para o ato; Se o indiciado for menor, ser-lhe-á nomeado curador pela autoridade policial (art. 15 do CPP). 93 Inquéríto Policial Capítulo 3 e se ele se recusar ainda assim, poderá o Delegado dar- lhe voz de prisão em flagrante pelo crime de desobediência (art. 330 do CP). Noutro norte, a Constituição Federal de 1988 não veda a fotografia do indiciado de frente e de perfil, pois tal procedimento não constitui, por assim dizer, identificação criminal, senão apenas peça de instrução dos autos do inquérito. O indiciamento pode se dar independentemente de qualquer identificação criminal. Prazos para Finalização do Inquérito O inquérito policial deve ser realizado dentro de um prazo determinado em lei. O art. 10 do CPP estabelece os seguintes prazos para que a autoridade policial termine o procedimento de inquérito: A - 30 dias, contados do recebimento da notitia criminis, quando o indiciado estiver em liberdade (é a regra geral); B - 10 dias, contados a partir da data de execução da ordem de prisão, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente. Atividade de Estudos: 1) Relativamente ao Princípio do Contraditório, diz-se que o Inquérito Policial: A) observa-o, necessariamente, para a elaboração do relatório final. B) tem de observá-lo, por força do dispositivo no artigo 5º, inciso LV, da Constituição Federal. C) observa-o, necessariamente, após o indiciamento. D) por se tratar de investigação de natureza inquisitiva, não o observa. 2) Nos casos de ação penal pública condicionada, a representação é retratável: A) durante o curso da ação penal. 94 Direito Processual Penal B) até o oferecimento da denúncia. C) até a sentença do juiz de primeiro grau. D) até o trânsito em julgado da sentença. 3) É possível dar início à ação penal pública incondicionada sem a conclusão do inquérito policial? A) Sim, desde que o titular da ação penal, ou seja, o Ministério Público possua elementos que o autorizem a promovê-la. B) Não, o inquérito policial é indispensável para a propositura da ação penal pública. C) Sim, desde que haja representação da vítima em dez dias contados do fato delitivo. D) Não, pois somente a Polícia Judiciáriapossui condições de apurar a autoria da infração penal. 4) O Promotor de Justiça opta pelo pedido de arquivamento de determinado inquérito policial que apura crime de roubo. Entretanto, o Juiz discorda do pedido de arquivamento, dando início ex officio à ação penal. Assinale a alternativa correta. A) O Magistrado agiu corretamente, pois compete ao Magistrado do feito, analisando as provas contidas no inquérito policial, decidir se ação penal pode ser proposta ou não. B) O Juiz não agiu corretamente, pois deveria ter remetido o inquérito ou peças de informação ao Procurador Geral de Justiça, a fim de que este oferecesse a denúncia, designasse outro Promotor de Justiça para oferecê-la, ou insistisse no pedido de arquivamento. C) O Promotor não poderia ter requerido o arquivamento dos autos inquisitoriais sem que houvesse concordância da vítima, eis que, diante do delito de roubo, a ação penal é pública incondicionada. D) O Promotor tem de aceitar o início da ação penal, mas poderá provar durante o curso da fase instrutória, que não há elementos de prova para a condenação. 5) Aponte a alternativa incorreta. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: A) o fato narrado evidentemente não constituir crime. B) o fato depender de prévia apuração em sede administrativa. C) já estiver extinta a punibilidade, pela prescrição ou outra causa. D) for manifesta a ilegitimidade da parte ou faltar condição exigida 95 Inquéríto Policial Capítulo 3 pela lei para o exercício da ação penal. 6) No processo penal brasileiro, são aplicadas, além de outras, as seguintes regras, princípios e garantias: A) disponibilidade geral da ação penal pública, contraditório em todas as fases da persecução criminal e ampla defesa. B) inadmissibilidade das provas ilícitas pro reo, livre convencimento do juiz e publicidade da votação dos jurados. C) sigilo absoluto da investigação criminal, inadmissibilidade de provas ilícitas pro societate e contraditório em todas as fases da persecução criminal. D) votação secreta no júri, presunção de não-culpabilidade e necessidade de se comunicar ao preso o seu direito ao silêncio. E) incomunicabilidade do preso, disponibilidade da ação penal privada e convicção íntima do juiz. Encerramento do Inquérito Apuradas e finalizadas as investigações, a autoridade policial deve fazer um relatório detalhado de tudo o que foi apurado no inquérito, indicando as testemunhas que não foram ouvidas e as diligências não realizadas. A autoridade não deve emitir opiniões ou qualquer juízo de valor sobre os fatos narrados, os indiciados, ou qualquer outro aspecto relativo ao inquérito ou à sua conclusão. Isto posto, menciona Tourinho Filho (2011, p. 332): Concluídas todas as diligências, terminado, enfim, o inquérito, deverá a autoridade policial fazer um relatório, nos próprios autos, de tudo quanto houver apurado nas investigações. Esse relatório não encerra, não deve nem pode encerrar qualquer juízo de valor. Concluído o inquérito, elaborado o relatório, a autoridade policial determinará a sua remessa, juntamente com os instrumentos do crime e outros objetos por acaso apreendidos e que interessarem a prova, ao juiz competente. Deve a autoridade policial, quando da feitura de quaisquer policiais, ou Termos Circunstanciados, quando se tratar de contravenção ou homicídio e lesão corporal culposos, extrair cópias dos atos praticados, formando-se, assim, autos suplementares, que ficarão arquivados na Delegacia. 96 Direito Processual Penal Concluído o relatório, os autos do inquérito serão remetidos ao juiz competente, acompanhados dos instrumentos do crime e dos objetos que interessam à prova (CPP, art. 11). Do juízo, os autos serão remetidos ao órgão do Ministério Público, a fim de que este adote as providências que entender pertinentes. Arquivamento Recebendo os autos do inquérito, pode o Ministério Público pedir ao juiz que este seja arquivado. Somente o Ministério Público é legitimado para esta prerrogativa. Assevera-se que o arquivamento poderá dar-se em função, entre outros fatores, da averiguação por parte do Ministério Público, da inexistência do fato, ou de inexistência de criminoso. Ou seja, o fato pode até ter existido, porém, ausente de qualquer dos requisitos que o tornam delituoso, a tipicidade ou a ilicitude, ou de negativa de autoria, isto é, o fato criminoso pode ter existido, mas não pode ser imputado contra o indiciado. No caso de considerar improcedentes as razões invocadas pelo órgão do Ministério Público, pelo pedido de arquivamento, deverá o juiz remeter os autos de inquérito ou as peças de informação ao Procurador Geral, que oferecerá a denúncia, designando para isto outro membro do Parquet para oferecê-la, caso em que o promotor de justiça ficará obrigado a oferecer a denúncia. Isso ocorre porque atua em nome do chefe da instituição, ou insistirá no pedido de arquivamento, quando o juiz, então estará obrigado a atendê-lo. O pedido de arquivamento, por sua vez, deve ser expresso, não se cogitando de pedidos implícitos, tácitos ou indiretos; o juiz somente acolherá os pedidos devidamente fundamentados. Insta salientar que o arquivamento inviabiliza a propositura da ação penal privada por parte do ofendido. Atividade de Estudos: Para praticar! Você é o advogado. Pedro Silva, 15 anos, estudante, foi denunciado como incurso Recebendo os autos do inquérito, pode o Ministério Público pedir ao juiz que este seja arquivado. Somente o Ministério Público é legitimado para esta prerrogativa. O pedido de arquivamento, por sua vez, deve ser expresso, não se cogitando de pedidos implícitos, tácitos ou indiretos; o juiz somente acolherá os pedidos devidamente fundamentados. 97 Inquéríto Policial Capítulo 3 nas penas do artigo 158 do Código Penal, cuja pena é de reclusão de 4 a 10 anos e multa. Na fase policial. – art. 15 do CPP – por ocasião das declarações do indiciado, o delegado nomeou curador ao menor Pedro uma pessoa analfabeta, que inclusive assinou a rogo. O juiz designou interrogatório do acusado. Como estava com pressa e sobrecarregado de serviço, por esquecimento descumpriu o art. 262 do CPP. No interrogatório, o acusado confessou a infração, em tudo tendo sido observado o art. 185 do CPP. A defesa prévia veio por defensor dativo dentro do prazo legal, que não arguiu teses, mas arrolou três testemunhas de denúncia para o fim do mês, ficando as partes para serem intimadas, conforme as fls 16 e 17. Nesse ínterim houve um desentendimento entre o acusado e o defensor dativo. Em razão disso, você foi contratado pelo acusado e, compulsando os autos, disse que juntava a procuração. Em razão dos seus conhecimentos, que tipo de manifestação você fará, via petição? ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Algumas Considerações Ao final deste estudo, observou-se de modo claro e conciso que o Inquérito Policial é o conjunto de informações sobre a infração penal e sua autoria. Que o 98 Direito Processual Penal mesmo não se trata de processo, e sim de procedimentoadministrativo. É peça investigatória, não está sujeito ao contraditório. Sua finalidade é a investigação sobre a existência de um fato criminoso e sua autoria, visando fornecer elementos probatórios para a propositura da Ação Penal. Discutiu-se questões como o significado do termo Polícia, o que é o Poder de Polícia, tipo de Polícias e suas respectivas funções, e o porquê de sua necessidade na vida em sociedade. Tratou-se do inquérito policial em si, abordando o assunto desde os princípios jurídicos informadores, a gênese do procedimento com o fato a ser apurado pela Autoridade Policial, as providências que são pertinentes para a consecução de sua finalidade, prazos para seu término, seu valor como prova e seu inexorável encerramento, Além de analisar minuciosamente o inquérito e sua relação com a Ação Penal. Importante ainda relembrar que o Inquérito Policial ainda não está devidamente ajustado às normas protetivas constitucionais, o que torna urgente e relevante o domínio dos conteúdos dos projetos de Lei que tratam das reclamadas reformas processuais. Referências BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988: Promulgada em 5 de outubro de 1988. Antonio Luiz de Toledo Pinto; Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Cespedes (Colab.). 32. Ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1940. Disponível em: < https:/www.planalto. gov.br /ccivil _03/Dcreto-Lei/Del 2848. htm >>. Acesso em 28 de fevereiro de 2012. BRASIL. Lei nº 4.215, de 27 de abril de 1963, Redação dada pela Lei nº 5.010, de 30.5.1966. Dispõe sobre a Organização da Justiça Federal de 1º Instância e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 30 de maio de 1966. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 28 de fevereiro de 2012. 99 Inquéríto Policial Capítulo 3 BRASIL. Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, Redação dada pela Lei nº9076, de 10.07.1995. Renumerado e alterado pela Lei nº 6.964 de 09.12.1981. Dispõe sobre a definição da situação jurídica do estrangeiro no Brasil, Cria o Conselho Nacional de Imigração.[Diário Oficial da União]. Brasília, 9 de dezembro de 1981. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 28 de fevereiro de 2012. BRASIL. Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995. Dispõe sobre a utilização de meios operacionais para a prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas .[Diário Oficial da União]. Brasília, 3 de maio de 1995. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 28 de fevereiro de 2012. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. ISHIDA, Válter Kenji. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2010. JESUS. Damásio E. de. Código penal anotado. 12. ed. São Paulo: Saraiva. 2002. MARQUES,Jose Frederico. Elementos do direito processual penal. Rio de Janeiro, São Paulo: Forense, 1965. v.I. _______.Elementos de direito processual penal.Campinas: Millennium Editora, 2003.v.II. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2006. _______. Código de Processo Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 2010. NOGUEIRA, Carlos Frederico Coelho. Comentários ao Código de Processo Penal. Bauru: Edipro, 2002. V. 1. PACHECO, Denilson Feitoza. Reforma Processual Penal: uma abordagem sistêmica. Rio de Janeiro: Impetus, 2008. PERRENOUD, Philippe. Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2009. TOURINHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br CAPÍTULO 4 Ação Penal A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Conhecer e pesquisar as particularidades relevantes e úteis do conteúdo da Disciplina. � Dominar conceitos e terminologias jurídicas aliadas à postura reflexiva e crítica. � - Aplicar os diversos ramos do direito na perspectiva social, econômica, política e cultural. � Aprimorar o uso da linguagem culta, do raciocínio lógico, da argumentação e da reflexão crítica. � Solucionar os problemas que se apresentam na aplicação concreta na lei processual penal, mais precisamente na rotina profissional. � Compreender o funcionamento do Direito Penal e Processo Penal, através de questionamentos à luz da ética, do ordenamento jurídico e pátrio e do Direito Comparado. � Desenvolver a fluência verbal, a técnica de persuasão e riqueza do vocabulário. 103 Ação Penal Capítulo 4 Contextualização Vimos, em capítulos anteriores, que a figura do Estado chamou para si a tarefa de administrar a justiça. Por sua vez, observou-se também que o Estado não proibiu, terminantemente, as outras formas de litígios como a “autodefesa” e a “autocomposição”, ambas são extraordinárias na resolução do litígio. Verifica-se que, na primeira, existe a imposição de uma resolução por uma das partes, a outra; enquanto que na segunda a resolução do litígio vem a ser obtida pelas próprias partes, contrastando com o processo em que a resolução da lide é decretada, imparcialmente, pelo Juiz. Nossa reflexão se volta, neste momento, para o conteúdo da Ação Penal, no que se refere ao conceito, condições da ação, princípios e espécies, visto que outros conteúdos sobre a ação penal já foram estudados no capítulo anterior. Isto posto, este capítulo fará breves considerações no que se refere à Ação Penal, porém dar-se-á destaque à Ação Civil Ex Delictio, à Jurisdição e competências. Há que se dizer que o assunto basilar deste capítulo é, sobretudo, o de orientar o Pós-Graduando(a) no que se refere ao processo penal, bem como os atos processuais e a reformulação dos procedimentos operada pelas leis nº 11.689/2008 e nº 11.719/2008. Portanto, tendo por norte estas assertivas e amparados nos objetivos do saber e do fazer, o mesmo tem como primazia propor aos Pós-Graduandos que tomem contato com problemas reais, oferecendo-lhes recursos que os ajudem no desempenho de suas atividades - a compreensão da intersubjetividade entre os aplicadores do direito. Uma vez que todo o projeto educativo não é senão o resultado da intersubjetividade entre pessoas com objetivos comuns. Ação Penal Significado: • de Ação: o que resulta do fato de agir; tudo aquilo que se faz; Direito. Meio legal para obter um direito em juízo; • de Pressuposto - pressuposição, conjectura, circunstância ou fato considerado como antecedente necessário de outro. 104 Direito Processual Penal Atividade de Estudos: 1) A ação se origina da expressão actio, significando ação judicial. Partindo desse pressuposto, o que é Ação Penal? Ao ouvir o vocábulo processo, que relações podem ser estabelecidas? Como você conceituaria Ação Penal? Utilize o espaço a seguir para registrar seu conceito inicial. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Conceito de Ação Penal Ação penal é o direito de invocar o Poder Judiciário, no sentido de aplicar o direito penal objetivo. Segundo Capez (2011), é o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal objetivo a um caso concreto. É também o direito público subjetivo do Estado-Administração, único titular do poder-dever de punir, de pleitear ao Estado-Juiz a aplicaçãodo direito penal objetivo com a consequente satisfação da pretensão punitiva. Analogamente, ensina Tourinho Filho: Assim, se o Estado chamou para si a função de dar a cada um o que é seu, ficou obrigado, desde que invocado, a solucionar o litígio. Logo, se o Estado é o titular do direito de punir e se lhe cumpre, por outro lado, manter o equilíbrio social profundamente afetado pelo crime, tem ele a evidência, o 105 Ação Penal Capítulo 4 dever jurídico de reprimir as infrações penais, contudo, não podendo fazê-lo motu próprio, pelas razões já expostas, mas sim por meio do devido processo legal, é intuitivo que, para lograr o cumprimento daquele dever, tem o direito de exigir do órgão incumbido de fazer justiça o julgamento da sua pretensão (TOURINHO FILHO, 2011, p. 355). Ação Penal é um momento da persecutio criminis que marca o início do contraditório, e enseja a aplicação da lei penal aos casos concretos (lide penal). Desenvolve-se diante dos órgãos da jurisdição cuja obrigação é exclusiva do Estado. O direito de ação também consta nas ocupações restritas do Estado (por meio de instituição própria: Ministério Público), salvo quando se tratar de crime cuja iniciativa seja privada, quer dizer, garantida por lei, ao particular ofendido, dado o caráter menos potencialmente ofensivo daquele. Isto posto, observa-se de um lado, aquele que se ocupa da pretensão punitiva a exigir do juiz uma resolução sobre a lide penal, e, do outro lado observa-se a figura do Estado-Juiz com o dever de pronunciá-la. Ainda, no entender de Tourinho Filho: O exercício desse direito é que constitui um dever do Estado- Administração. Se este deve reprimir as infrações penais e se a imposição da sanctio juris é feita pelo Estado-Juiz, logo, para poder cumprir aquele dever o Estado-Administração, impossibilitado que está de autoexecutar o seu direito de punir, tem o direito de se dirigir ao órgão jurisdicional pedindo o julgamento da sua pretensão (TOURINHO FILHO 2011. p. 369). Como consequência deste cenário, define-se Ação Penal: A ação penal é um direito público, autônomo, subjetivo e abstrato exercido em fase do Estado, que tem por objetivo a aplicação do direito penal material a um fato concreto. É o direito de exigir do Estado o exercício de sua função jurisdicional em relação a uma lide de natureza penal. 106 Direito Processual Penal Condições da Ação Penal Observa-se que são condições (requisitos) que subordinam o exercício do direito de ação. Para poder se exigir, no caso concreto, a prestação jurisdicional, é necessário o preenchimento das condições da ação. Segundo Ada Grinover: Ao lado das tradicionais condições que vinculam a ação civil, também aplicáveis ao processo penal (possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade para agir), a doutrina atribui a este algumas condições específicas, ditas condições específicas de procedibilidade. São elas: a) representação do ofendido E requisição do Ministro da Justiça; b) entrada do agente no território nacional; c) autorização do Legislativo para a instauração de processo contra Presidente e Governadores, por crimes comuns; d) trânsito em julgado da sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento, no crime de induzimento a erro essencial ou ocultamento do impedimento (GRINOVER, 2010, p.59). Isto posto, há que se dizer que a doutrina costuma dividir as condições da ação penal em condições genéricas e condições específicas. As condições genéricas viabilizam o exercício da ação penal, e as condições específicas de procedibilidade, cuja ausência importa a impossibilidade da persecução penal. São condições genéricas da ação penal: a) Possibilidade Jurídica do Pedido Somente haverá direito de ação no caso em que a pretensão de direito material deduzida ser admissível ou abstratamente prevista pelo ordenamento jurídico. Assim, nos casos de atipicidade do fato ou extinção de punibilidade, inexistiria essa condição. Assim menciona Capez: A providência pedida ao Poder Judiciário só será viável se o ordenamento, em abstrato, expressamente a admitir. Nesse passo, a denúncia deverá ser rejeitada quando o fato narrado evidentemente não constituir crime. Mencione-se que, com o advento da lei nº 11.719/2008, essa hipótese poderá, após oferecida a defesa dos arts. 396 e 396 A, do CPP, dar causa a absolvição sumária do agente (CPP, art. 397, III) (CAPEZ, 2011, p.155). Para poder se exigir, no caso concreto, a prestação jurisdicional, é necessário o preenchimento das condições da ação. A providência pedida ao Poder Judiciário só será viável se o ordenamento, em abstrato, expressamente a admitir. 107 Ação Penal Capítulo 4 A apreciação da possibilidade jurídica do pedido deve ser feita sobre a causa de pedir considerada em tese, desvinculada de qualquer prova por ventura existente. O fato é analisado como narrado na peça inicial, sem se investigar se essa é ou não a realidade dos fatos, a fim de concluir se o ordenamento penal material comina-lhe, em abstrato, uma sanção. Deixa para o mérito o ato de analisar os fatos provados; aprecia-se a causa petendi à luz das provas colhidas na instrução. Consoante ainda o referido autor: A fim de não se confundir a análise dessa condição da ação com a do mérito, a apreciação da possibilidade jurídica do pedido deve ser feita sobre a causa de pedir (causa petendi) considerada em tese, desvinculada de qualquer prova existente. Analisa-se o fato tal como narrado na peça inicial, sem se perquirir se essa é ou não a verdadeira realidade, a fim de se concluir o ordenamento penal material, comina-lhe, em abstrato, uma sanção. Deixa- se para o mérito a análise dos fatos provados; aprecia-se a causa petendi à luz, agora, das provas colhidas na instrução; é a aferição dos fatos em concreto, como realmente ocorreram não como simplesmente narrados. Nesse momento, o juiz deverá dizer na sentença se o pedido é concretamente fundado ou não direito material, ou seja, se é procedente ou improcedente (CAPEZ, 2011, p.155). Verifica-se da lição de Capez que o pedido deve ser possível, isto é, previsto no ordenamento jurídico. b) Interesse de Agir O interesse de agir consolida-se conforme a doutrina majoritária, não apenas na necessidade da parte de se valer do processo para não sofrer um prejuízo, mas na adequação da prestação jurisdicional pretendida, assim como na utilidade do provimento final. Deverá a ação penal apresentar-se embasada em elementos idôneos, que sirvam de suporte à imputação. A ação deverá vir acompanhada de elementos que comprovem a materialidade delitiva e de indícios que apontem o denunciado ou querelado como autor da ação penal. Assim, ensina Capez, em seu curso de processo penal: A necessidade é inerente ao processo penal, tendo em vista a impossibilidade de se impor pena sem o devido processo legal. Por conseguinte, não será recebida a denúncia, quando já A apreciação da possibilidade jurídica do pedido deve ser feita sobre a causa de pedir considerada em tese, desvinculada de qualquer prova por ventura existente. Deverá a ação penal apresentar- se embasada em elementos idôneos, que sirvam de suporte à imputação. 108 Direito Processual Penal estiver extinta a punibilidade do acusado, já que nesse caso, a perda do direito material de punir resultou na desnecessidade de utilização das vias processuais. Nota-se que com a edição da Lei nº 11719/2008, essa hipótese poderá, depois de oferecida a defesa dos arts. 396 e 396 A do CPP, dar causa a absolvição sumária do agente (CPP. art. 397, IV). (CAPEZ, 2011, p.156). c) Legitimidade para Agir (Legitimatio ad causam) Deverá ação penal ser proposta pelo titular do jus puniendi, o Estado, em fase do provável autor da infração penal. Observa-se, então, a legitimação ativae a legitimação passiva; nos casos em que a ação penal é proposta pelo ofendido, pleiteando direito alheio, em nome próprio, tem-se o fenômeno da substituição processual (legitimação extraordinária). É no clássico ensinamento de Alfredo Buzaid que Capez chama a atenção, em seu Curso de Processo Penal, para a pertinência subjetiva da ação: Aqui, cuida-se da legitimidade ad causam que é a legitimação para ocupar tanto o pólo ativo da relação jurídica processual, o que é feito pelo Ministério Público, na ação penal pública, e pelo ofendido, na ação penal privada (CPP, arts. 24, 29 e 30), quanto o polo passivo, pelo provável autor do fato, e da legitimidade ad processum, que é a capacidade para estar no polo ativo, em nome próprio, e na defesa de interesse próprio (CPP, arts. 33 e 34) (BUZAID, apud CAPEZ, 2011, p.156). As partes legítimas ativa e passiva são os titulares dos interesses materiais em conflito; isto é, os titulares da relação jurídica material levada ao processo. Os interesses em conflito são: o direto de punir, conteúdo da pretensão punitiva e o direito de liberdade. O titular do direito de punir é o Estado, que é, por isso, o verdadeiro legitimado, exercendo-o por intermédio do Ministério Público. Não é por outro motivo que se diz que o ofendido, na titularidade da ação privada, é senão um substituto processual (legitimação extraordinária), visto que só possui o direito de acusar, exercendo-o em nome próprio, mas no interesse alheio, isto é, do Estado. Legitimados passivos são por sua vez, os suspeitos da prática da infração, contra os quais o Estado movimenta a persecução acusatória visando à imposição de alguma pena. Assim, assinala Capez: As condições da ação devem ser analisadas pelo juiz quando do recebimento da queixa ou da denúncia, de ofício. Faltando qualquer uma delas o magistrado deverá rejeitar a peça inicial, nos termos do art. 395, II, do Código de Processo Penal, com Deverá ação penal ser proposta pelo titular do jus puniendi, o Estado, em fase do provável autor da infração penal. 109 Ação Penal Capítulo 4 redação, determinada pela lei n. 11.719/2008, declarando o autor carecedor de ação. Se não o fizer nesse momento, nada impede que ele o faça a qualquer instante, em qualquer instância, decretando, se for o caso, a nulidade absoluta do processo (CPP, art. 564, II) (CAPEZ, 2011, p. 157). Insta salientar que, com o advento da Lei nº 11.719/2008, no procedimento ordinário e sumário, uma vez oferecida à denúncia ou queixa, o juiz analisará se não é caso de rejeição liminar, para tal fim o Juiz deverá verificar e avaliar todos os requisitos do art. 395 do CPP; se não for o caso de rejeição liminar, irá recebê- la e, por sua vez, ordenará a citação do acusado para responder à acusação, por escrito, no prazo de 10(dez) dias (CPP, art. 396-A). Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e nos parágrafos deste Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar: “I – a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato; II - A existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo inimputabilidade; III – que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou IV – extinta a punibilidade do agente” (CPP, art. 397). Mougenot, no que se refere às condições, chama-nos a atenção: As condições da ação constituem fatos relacionados ao direito processual e que são necessários para que o exercício da ação penal possa originar validamente um processo penal. Já as condições objetivas da punibilidade são institutos contidos no plano do direito material. São fatos, externos ao tipo penal, que devem ocorrer para que a prática do tipo penal constitua fato punível. Constitui condição objetiva de punibilidade, por exemplo, a ocorrência de juízo no caso de crime de introdução ou abandono de animais em propriedade alheia. Também é necessário se estabelecer uma distinção entre as condições da ação e as escusas absolutórias, que atingem diretamente o direito de punir do Estado, fazendo com que a pena deixe de ser imposta por circunstâncias pessoais do agente. Como exemplo de escusas absolutórias tem a imunidade parlamentar (prevista no art. 53 da Constituição Federal) e aquelas previstas nos arts. 181 e 348, § 2º, do Código Penal (MOUGENOT, 2011, p.188 e 189). Insta salientar que uma das propriedades da condição da ação é que a mesma impede a formação da relação processual. Na ação penal privada, nos crimes contra a honra o juiz não pode receber uma denúncia do promotor de justiça, pois o mesmo não possui legitimidade ad causam. Após termos visto a divisão e as características das condições de procedibilidade da ação penal, abordaremos, ainda nesta unidade, os princípios da ação penal. Na ação penal privada, nos crimes contra a honra o juiz não pode receber uma denúncia do promotor de justiça, pois o mesmo não possui legitimidade ad causam. 110 Direito Processual Penal Princípios da Ação Penal Pública Os princípios abaixo regem ação penal pública: a) Oficialidade. A ação penal pública é aquela a qual a legitimidade ativa cabe ao Estado, aplica-se a esta ação penal o princípio da oficialidade. A mesma deverá ser proposta por um Órgão do Estado, o Ministério Público, que atuará de ofício. A Constituição Federal estabelece como uma das funções institucionais do parquet promover privativamente a ação penal pública, na forma da lei (art. 129, I), por meio de denúncia (art. 24, caput, do CPP). Assim orienta-nos Mougenot: Tendo em conta que a ação penal pública é, por definição, aquela em relação à qual a legitimidade ativa cabe ao Estado, aplicar-se-á ação penal pública o princípio da oficialidade. Segundo esse princípio, a ação penal pública somente poderá ser proposta por um órgão do Estado: o Ministério Público. Mais do que isso, o Ministério Público, conforme já se viu, desde que se convença da existência de um fato criminoso, tem o dever de ajuizar de ofício à ação penal. A prerrogativa do órgão do parquet vem consubstanciada nos ditames da Constituição Federal, que estabelece como uma das funções institucionais do Ministério Público promover privativamente a ação penal pública, na forma da lei (art. 129, I), ação essa que será exercida por meio de denúncia (art.24, caput, do Código de Processo Penal). Caracteriza-se como exceção ao referido princípio a ação penal privada subsidiária, prevista no art. 5º, LIX, da CF, art. 29 do CPP e art. 100,§ 3º, do CP (MOUGENOT, 2011, p. 204). b) Obrigatoriedade (legalidade): A propositura da ação penal é imposta aos cuidados do representante do Ministério Público. Sempre que contar com elementos suficientes a amparar a acusação, estará o mesmo obrigado a oferecer denúncia, exercendo o poder- dever da ação. Tal obrigatoriedade decorre do próprio texto legal – art. 24 do Código do Processo Penal - sendo-lhe vedada qualquer apreciação acerca da oportunidade ou conveniência da medida. Esclarece-se, outrossim, que, finalizada a investigação, o representante do Ministério Público, caso entenda não haver elementos de prova suficientes para fundamentar o ajuizamento da ação penal, deverá ele propor o arquivamento do inquérito ao juiz competente, como instrui Mougenot: O representante do Ministério Público, se dispuser de elementos suficientes para amparar a acusação (prova da materialidade e indícios suficientes da autoria), estará obrigado a oferecer denúncia, exercendo o poder- dever de A Constituição Federal estabelece como uma das funções institucionais do parquet promover privativamente a ação penal pública. O representante do Ministério Público, se dispuser de elementos suficientes para amparar a acusação (prova da materialidade e indícios suficientes da autoria), estará obrigado a oferecer denúncia, exercendo o poder-dever de ação. 111 Ação Penal Capítulo 4 ação. A obrigatoriedade decorre do próprio texto legal (art. 24 do Código de Processo Penal). Esse princípio fundamenta a vedação a que o órgão do Ministério Público, finalizado o inquérito policial, determine o seu arquivamento. Finalizada a investigação, caso o representante do Ministério Público entenda não haver elementos de prova suficientes para fundamentar o ajuizamento da ação penal (justa causa), deverá ele propor o arquivamento do inquérito ao juiz competente, ficando a decisão acerca do arquivamento sob o controle – exclusivamente no que tange ao atendimento do princípio da obrigatoriedade – do magistrado perante o qual oficia o órgão do Ministério Público. Acerca do procedimento adotado em situação de impasse entre o juiz e o órgão do parquet, veja-se o capítulo referente ao inquérito policial. Assim, tem se entendido que, para o início da ação penal pública, basta a presença de indícios suficientes de autoria e prova de materialidade delitiva. Portanto, o Ministério Público não deverá sequer adentrar o mérito da existência de causas excludentes de ilicitude ou de culpabilidade. Todavia, em situações específicas em que se afigure inequívoca e evidente a presença das referidas causas excludentes, entende-se ser possível que o Ministério Público deixe de ingressar com a ação penal, propondo o arquivamento do inquérito policial. O princípio da obrigatoriedade, antes considerado absoluto, veio a ser mitigado com o advento da Lei nº 9.099/95, que instituiu um modelo consensual no processo penal, adotando o princípio da discricionariedade regrada, também chamada de princípio da disponibilidade temperada, para as infrações de menor potencial ofensivo (MOUGENOT, 2011, p. 205). c) Indisponibilidade: Sabe-se que a obrigatoriedade da ação estende-se durante o curso do processo. O Ministério Público não pode desistir da ação penal (art. 42 do CPP). Verifica-se, ademais, que o órgão do parquet, ao ajuizar a ação e, por sua vez, conduzir a acusação, não age em interesse próprio, porquanto atua apenas no exercício de um direito que pertence ao Estado. Seguindo ainda os ensinamentos de Mougenot sobre, princípios temos: A obrigatoriedade de ação penal estende- se durante o curso do processo. Não pode o Ministério Público desistir da ação penal (art. 42 do Código De Processo Penal). Com efeito, o órgão do parquet, ao ajuizar a ação e conduzir a acusação, não age em interesse próprio. Representa o Estado, titular do direito defendido, que em última análise pertence à sociedade como um todo. Assim, não tem o Ministério Público poder de transigir, abrindo mão de o órgão do parquet, ao ajuizar a ação e, por sua vez, conduzir a acusação, não age em interesse próprio, porquanto atua apenas no exercício de um direito que pertence ao Estado. 112 Direito Processual Penal interesse que não lhe pertence. A Lei n. 9.099/95, no art. 89, ao estabelecer a possibilidade de suspensão condicional do processo, excepcionou o princípio em tela com a possibilidade de o ministério Público oferecer a suspensão do curso do processo, com a imposição de determinadas condições ao beneficiado, durante certo período de prova, que poderá levar à extinção da punibilidade (MOUGENOT, 2011, p. 205). d) Intranscendência: O princípio da intranscendência traz em seu interior que a ação penal será promovida sempre e somente contra as pessoas a quem se atribui a prática de uma infração penal (TOURINHO FILHO, 2011, p. 330). Tourinho Filho (2011) entende que a ação penal pública é informada pelo princípio da indivisibilidade, o qual obriga à propositura da ação contra todos os autores da infração penal, havendo exceção somente nos casos de separação do processo. Sob outro enfoque, contudo, existe um expresso reconhecimento do STJ (RSTJ, 23/145) no sentido de que “o fato de o Ministério Público deixar de oferecer denúncia contra quem não reconheceu a existência de indícios de autoria na prática do delito não ofende o princípio da indivisibilidade da ação penal, pois o princípio do art. 48 do CPP não compreende a ação penal pública, que não obstante é inderrogável” (MOUGENOT, 2011, p. 206). Chama-se assim a posição majoritária na jurisprudência, que reconhece ser a ação penal pública regida pelo princípio da divisibilidade, em fase da possibilidade da denúncia ser aditada posteriormente para a inclusão do corréu, ou mesmo da propositura de nova ação penal contra os outros autores do delito. A Lei nº 9.099/95, ao instituir um modelo consensual no processo penal, adotou o princípio da discricionariedade regrada, também chamada de princípio da disponibilidade temperada, para as infrações de menor potencial ofensivo. e) Divisibilidade: A divisibilidade ou indivisibilidade decorre do acentuado no art. 48 do CPP, que prevê que “a queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará ao processo de todos, e o Ministério Público velará pela sua indivisibilidade”. Há que se dizer que a questão é de mera interpretação do art. 48, 1º corrente: aplica-se o princípio da indivisibilidade: Mirabet (2004, CPP Anotado, p. 105-106) e Tourinho (2011, Manual de Processo Penal, p. 108), “no sentido de abranger todos aqueles que cometerem a infração”, Demercian Chama-se assim a posição majoritária na jurisprudência, que reconhece ser a ação penal pública regida pelo princípio da divisibilidade. 113 Ação Penal Capítulo 4 e Maluly (2001, Op. cit., 4 ª ed, p 102); 2º corrente: aplica-se, por sua vez, o princípio da divisibilidade: Machado (2007, p. 43), já que “fala-se ainda que a ação penal pública se submeta ao princípio da divisibilidade pelo fato de que, havendo já uma ação ênfase de determinado réu, será possível intentar outra pelo mesmo fato em fase de outro...”; Greco Filho (1999, p.114): “o processo pode sempre ser desmembrado [...]”. Ambas as correntes, como aponta Luiz Flávio Gomes (2007), defendem a indivisibilidade e se socorrem da obrigatoriedade e os que defendem a divisibilidade não se direcionam contra a obrigatoriedade, mas pela possibilidade de ajuizamento posterior contra outro corréu. Esclarece, contudo, Mougenot: Há discordância acerca da aplicabilidade, no caso da ação penal pública, do princípio da indivisibilidade da ação penal, insculpido no art. 48 do Código de Processo Penal. Tourinho Filho defende a indivisibilidade da ação penal pública, o que equivaleria a dizer que a ação penal obrigatoriamente deverá ser ajuizada contra todos os autores da infração penal, levando exceção somente nos casos de separação do processo. Em posicionamento contrário, a jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça reconhece expressamente (RSTJ, 23/145) a divisibilidade da ação penal púbica, tendo decidido no sentido de que “o fato de o Ministério Público deixar de oferecer denúncia contra quem não reconheceu a existência de indícios de autoria na prática do delito não ofende o princípio da ação penal, pois o princípio do art. 48 do Código de Processo Penal não compreende a ação penal pública, que, não obstante, é inderrogável”. A posição do tribunal superior chancela a majoritária da jurisprudência, que reconhece ser a ação penal pública regida pelo princípio da divisibilidade. Dessa forma, especialmente em casos complexos em que estejam envolvidos diversos investigadores, o Ministério Público poderá oferecer denúncia em fase daqueles acerca dos quais houver reunido indícios suficientes de autoria. Com a continuidade das investigações, poderá, mais tarde, aditar posteriormente a denúncia para a inclusão de corréu(s), ou mesmo propor, separadamente, nova ação penal contra os indivíduos cuja autoria somente venha a ser suficientemente esclarecida em ocasião posterior. O que pode ocorrer, evidentemente, é o Ministério Público, de forma discricionária, deixar de oferecerdenúncia em fase de um ou outro suspeito contra o qual militem provas significativas. Entretanto, essa vedação não é mais do que expressão do princípio da obrigatoriedade da ação penal (MOUGENOT, 2011, p. 206). 114 Direito Processual Penal Princípios da Ação Penal Privada O Estado ao transferir para o ofendido o exercício da ação penal, conserva em seu poder, com exclusividade, o direito de punir. O jus puniendi, que significa a atuação do Ministério Público durante a caminhada processual, com objetivo de zelar pela legalidade do processo – custos legix, inclusive nos casos de ação penal privada exclusiva. Ao permitir que o particular realize a persecutio criminis in judicio, toma por predominante o interesse da vítima de determinados crimes, a qual, segundo um juízo de conveniência, decidirá pela instauração ou não do processo. Observa-se, portanto, que nos casos de ação privada subsidiária, o que existe é a garantia da vítima de ver processado e julgado o autor da infração penal, permitindo que ela exerça o jus actionis. Esta garantia, de nível constitucional (art. 5º, LIX, da CF), salienta o princípio da inafastabilidade do poder judiciário (art. 5º, XXXV), assegurando a aplicação da lei penal material. Verifica-se que a ação privada vem disciplinada por regras processuais próprias, sujeitando-se a princípios distintos daqueles que informam a ação penal pública. De outro norte, insta salientar que a ação penal privada caminha para sua extinção, pois novas reformas penais e processuais pretendem excluí-la do ordenamento processual pátrio. a) Princípio da Oportunidade: A lei confere a vítima ou ao seu represente legal a faculdade, e não a obrigação, de promover a ação penal. Segundo um juízo de conveniência, este iniciará o processo, se quiser, podendo evitar o strepitus iudici, se julgá-lo oportuno. Observa-se que, por ser um exercício facultativo da ação pelo titular, a única restrição é que não se permite a escolha de quem vai figurar no polo passivo (arts. 48 e 49 do CPP). Essa faculdade de iniciar a ação pode vir acompanhada da renúncia. A renúncia pode ser expressa ou tácita. A renúncia expressa ao direito de queixa contará de declaração assinada pelo ofendido maior de 18 anos. Por sua vez, se este for menor, caberá ao seu representante legal. Para maiores esclarecimentos, ensina Mougenot: O princípio da oportunidade contrapõe-se ao princípio da obrigatoriedade, que rege a ação penal pública. Enquanto o órgão do Ministério Público se dispuser de elementos de prova que o convençam da prática de crime, estará obrigado a ajuizar a lei penal, no caso da ação penal privada, isso não ocorre. De fato, a lei confere à vítima ou ao seu representante legal a faculdade, e não a obrigação, de promover a ação insta salientar que a ação penal privada caminha para sua extinção, pois novas reformas penais e processuais pretendem excluí-la do ordenamento processual pátrio. 115 Ação Penal Capítulo 4 penal. O particular é livre para formar seu próprio juízo de conveniência. Somente iniciará o processo, ajuizando a ação penal é conveniente para si. Caso contrário, poderá evitar o strepitus iudici, se julgá-lo inoportuno, deixando impune a conduta criminosa ( MOUGENOT, 2011, p. 216). Do princípio da oportunidade observa-se que é a ocasião para o exercício facultativo da ação pelo titular. Verifica-se como restrição de não se permitir a escolha de quem figurará no polo passivo. Em virtude dessa característica de iniciar a ação, pode haver a renúncia. b) Princípio da Disponibilidade: Na ação penal privada, a decisão de prosseguir ou não até o final da ação é do ofendido. O exclusivo titular dessa ação é o particular, porque assim desejou o Estado, e, por isso, é dada a ele a prerrogativa de exercê-la ou não. Há que se dizer que ação privada, por pertencer ao ofendido, poderá este dela dispor, deixando de exercer seu direito – a ele renunciando, ou permitindo que ocorra a decadência – ou, durante o curso do processo, perdoando o querelado, abandonando a causa, ou ainda permitido-a. Insta salientar, no entanto, que, em face de ação privada subsidiária, não há que se falar em perempção ou perdão do ofendido como causas extintivas da punibilidade. Conforme lição de Mougenot, observamos que, ainda em contraposição ao principio da obrigatoriedade, rege a ação penal privada o princípio da disponibilidade: Segundo esse princípio, o titular da ação penal privada terá diversos meios de dela dispor, efetivamente decidindo se deseja que o suposto infrator da norma penal seja julgado. Com efeito, o titular da ação pode simplesmente deixar de exercê-la, permitindo, por sua inércia, a decadência desse direito. Poderá, também, renunciar ao direito de exercê-la. Já durante o curso do processo, poderá, ainda, simplesmente, abandoná-la. Nos casos de ação penal privada e exclusiva, o titular da ação poderá ainda perdoar o querelado ou perimi-la, possibilidades inexistentes quando a ação privada for subsidiária da ação pública (MOUGENOT, 2011, p. 217). c) Princípio da intranscendência: Ação penal privada não pode atingir pessoas estranhas à autoria do fato; esta alcançará somente os autores, coautores e partícipes da infração penal. O exclusivo titular dessa ação é o particular, porque assim desejou o Estado, e, por isso, é dada a ele a prerrogativa de exercê-la ou não. 116 Direito Processual Penal Analogamente, ensina Capez (2010), a ação penal só pode ser proposta em face do autor e do partícipe da infração penal, não podendo se estender a quaisquer outras pessoas. “Decorrência do princípio consagrado no art. 5º, XLV, da Constituição Federal de 1988” (CAPEZ, 2010, p.15). d) Princípio da indivisibilidade: O ofendido ou titular da ação penal privada não está obrigado a promover a ação penal. Porém uma vez que se decida pelo seu ajuizamento, entretanto, deverá necessariamente incluir todos os agentes da infração penal, não lhe abrindo a lei processual qualquer possibilidade de escolha. Determina expressamente o art. 48 do CPP que o oferecimento da queixa contra qualquer dos autores do crime obrigará que todos sejam processados. Como reflexo deste princípio, o art. 49 do CPP determina que a renúncia ao direito de queixa em relação a qualquer dos autores da infração deve obrigatoriamente aproveitar aos outros coautores os partícipes. A dúvida se encontra em saber se o Ministério Público poderá ou não aditar a queixa para incluir outros autores, que haviam sido excluídos. Mougenot, em processo penal, defende três posições: I – Para alguns, deve o membro do parquet, em respeito ao seu dever de velar pela indivisibilidade da ação privada, aditar a peça acusatória de forma a incluir aqueles que haviam sido omitidos. II – Para outra parte da doutrina, não poderá o Ministério Público aditar a queixa para nela incluir outros coautores, já que haveria renúncia em relação a eles, que se estenderia automaticamente a todos os responsáveis, pela incidência do art. 49 do CPP. III – Alguns autores, no entanto, reconhecem ao representante do Ministério Público a possibilidade de suscitar a omissão da queixa, abrindo a oportunidade para que o querelante proceda ao seu aditamento. É vedado, ao membro do parquet, entretanto, substituir-se ao ofendido para incluir os outros autores (MOUGENOT, 2004, p. 46). Por mais que seja vedado ao membro do parquet substituir-se ao ofendido para incluir os outros autores, existe a possibilidade de o representante do MP, ao encontrar-se com a situação em que um ou mais agentes tenham sido omitidos pelo querelante, suscite a ocorrência da omissão, oportunizando ao querelante que este proceda ao seu aditamento. O ofendido ou titular da ação penal privada não está obrigado a promover a ação penal. 117 Ação Penal Capítulo 4 Espéciesde Ação Penal A ação penal tem como critério de classificação, basicamente, o objeto jurídico do delito e o interesse da vítima na persecução criminal. No que se refere aos critérios classificatórios da ação penal, nos ensina Mougenot: Dentre os diversos critérios classificatórios da ação penal, ganhou relevância aquele que se embasa na titularidade do direito de exercê-la – vale dizer o critério de classificação segundo sujeitos que detêm legitimidade ativa. A classificação encontra sólido respaldo na doutrina e é adotada pela própria lei. De acordo com esse critério encontram-se dois gêneros de ação penal: a ação penal de iniciativa pública e ação penal de iniciativa privada, denominadas na lei e na majoritária doutrina, mais simplesmente, ação penal pública e a ação penal privada (MOUGENOT, 2004, p. 38). No entanto, como observa Capez, (2011) considerando a natureza do provimento jurisdicional invocado (de conhecimento, cautelar e de execução), no processo penal é consensual a divisão subjetiva das ações, isto é, em função da qualidade do sujeito que detém a sua titularidade. Neste sentido, as ações penais serão públicas ou privadas, conforme promovidas pelo Ministério Público ou pela vítima e seu representante legal. Art. 100, caput, do Código Penal: “A Ação Penal é Pública, salvo quando a lei, expressamente, a declara privativa do ofendido”. Assim, determinadas objetividades jurídicas de delitos fazem com que o Estado reserve para si a iniciativa da ação penal, tal a importância que apresentam. Nesse caso, estamos diante da Ação Penal Pública. A ação pública é a regra no direito processual penal. Com efeito, conforme determinação do art. 100 do Código Penal, “a ação é pública, salvo A ação pública é a regra no direito processual penal. Com efeito, conforme determinação do art. 100 do Código Penal, “a ação é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido”. A ação penal tem como critério de classificação, basicamente, o objeto jurídico do delito e o interesse da vítima na persecução criminal. 118 Direito Processual Penal quando a lei expressamente a declara privativa do ofendido”. Dessa forma, quando a lei penal, tipificando uma infração penal, não determinar expressamente que a ação deva ser movida pelo ofendido, deve-se assumir que a ação penal será de iniciativa pública (MOUGENOT, 2011, p. 203). Em outros casos, o Estado reserva ao ofendido a iniciativa do procedimento policial e da ação penal. Neste caso, estamos diante da Ação Penal Privada. A avaliação daquela importância e deste interesse dependerá das razões políticas e criminais que fomentem (suscitem) a posição estatal no sentido de admitir uma ou outra espécie de ação penal. Ação Penal Pública Estabelece-se que, de acordo com o crime, o bem jurídico possui tal importância que o Estado, obtém, para si, e para mais ninguém, a titularidade do direito da ação penal. Por sua vez, na ação penal pública, a conduta do sujeito lesa um interesse jurídico de acentuada importância, fazendo com que caiba ao Estado a titularidade da ação, que deve ser iniciada sem a manifestação de vontade de qualquer pessoa. Ensina, neste sentido, Mougenot: A ação penal pública – que, como se viu, seria mais precisamente denominada ação penal de iniciativa pública - é a ação penal (direito ou poder de obter a manifestação jurisdicional) quando exercida pelo Estado, por meio do Ministério Público, representando o próprio interesse social. “Ela intenta defender a sociedade”, como leciona Faustin Hélie, “a protegê-la, a reapertar o liame que a une, a rechaçar os atos que ameaçam esta sociedade, porque ela tem por missão fazer reinar o direito, que é o fundamento da vida social e de manter as leis, que são o patrimônio de todos os Cidadãos”(MOUGENOT, 2011, p. 203). Assim, ocorrido o delito, deve a autoridade policial proceder de ofício, tomando as medidas cabíveis. Em juízo, a ação penal deve ser exercida privativamente pelo Ministério Público (art. 129, I, da CF). Cabe exclusivamente ao Ministério Público o exercício da ação penal pública (art. 129, I, da Constituição Federal), por meio de oferecimento de denúncia, devendo, também, atuar durante todo o curso do processo até a sentença final, desenvolvendo a acusação, velando pela legalidade do procedimento e interpondo os recursos cabíveis (MOUGENOT, 2011, p 204). Estabelece-se que, de acordo com o crime, o bem jurídico possui tal importância que o Estado, obtém, para si, e para mais ninguém, a titularidade do direito da ação penal. 119 Ação Penal Capítulo 4 Quando o crime praticado lesar um bem jurídico, de suma importância para o Estado e para a sociedade, a ação penal deve ser iniciada sem ou até mesmo contra a manifestação de vontade de qualquer pessoa. Devendo ser ajuizada, neste caso, até mesmo contra a vontade do próprio sujeito passivo do crime. Espécies de Ação Penal Pública: Ação Penal Pública Incondicionada Sabe-se de antemão que a ação penal pública incondicionada não se subordina a qualquer requisito e nem depende da manifestação de vontade de qualquer pessoa. Chama-se denúncia a peça que inicia a ação penal pública incondicionada, sendo esta privativamente oferecida por membro do Ministério Público (Promotor de Justiça ou Procurador de Justiça, conforme o caso). Devendo conter a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol de testemunhas. Por seu turno, a ação penal púbica incondicionada dar-se-á no silêncio da lei, tendo em vista que, como descreve Mougenot: É aquela promovida pelo Ministério Público sem que haja a necessidade de manifestação de vontade de terceira pessoa (representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça) para sua propositura. No silêncio da lei, a ação penal pública será incondicionada. Vale dizer, a regra em nosso direito é que a ação penal pública não depende da manifestação de terceiros. A exigência de prévia manifestação, portanto, somente existirá se for expressamente prevista em lei, por meio de expressões como, “somente se procede mediante representação”, ou “somente se procede mediante requisição do Ministro da Justiça”. Se a lei nada prevê, o Ministério Público, convencendo-se da prática de crime, ajuizará a ação ex officio, oferecendo a denúncia. Há, porém, outro, critério para determinar o caráter público Chama-se denúncia a peça que inicia a ação penal pública incondicionada, sendo esta privativamente oferecida por membro do Ministério Público 120 Direito Processual Penal da ação penal. Se o delito for perpetrado em detrimento do patrimônio ou interesse dos entes políticos (União, Estados- Membros, Distrito Federal ou Municípios) a ação penal, conquanto originariamente privada, será pública (art. 24,§ 2º, do CPP) (MOUGENOT, 2011, p. 206). O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de cinco (cinco) dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial. Se o réu estiver solto ou afiançado, o prazo para oferecimento da denúncia passa a ser de 15 (quinze) dias. Resumindo, podemos ressaltar que a ação pública incondicionada: É aquela promovida pelo Ministério Público sem a necessidade de vontade de terceira pessoa (representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça) para sua propositura. Dispõe o art. 24,§ 2º, do CPP, que, nos crimes praticados em detrimento do patrimônio ou interesse da União, Estados e Municípios, a ação será sempre pública. Por ser essa espécie de ação penal a regra em nosso direito, sempre que houver silêncio da lei, omitidas as expressões, somente se procede mediante representação. Ou somentese procede mediante requisição do Ministro da Justiça, ou ainda, somente se procede mediante queixa, estar-se-á diante de uma ação penal pública incondicionada. Ação Penal Pública Condicionada Há oportunidades em que o interesse do ofendido se sobrepõe ao interesse público na repressão do crime. Geralmente, nesses casos, o processo pode acarretar maiores danos ao ofendido do que aqueles resultantes do crime. Vê-se, no entanto que a ação penal pública incondicionada é aquela O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de cinco (cinco) dias, contado da data em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial. Vê-se, no entanto que a ação penal pública incondicionada é aquela que se subordina a uma condição. Essa tanto pode ser a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal – representação – como também a requisição do Ministro da Justiça. 121 Ação Penal Capítulo 4 que se subordina a uma condição. Essa tanto pode ser a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal – representação – como também a requisição do Ministro da Justiça. Observa-se que, nesses casos, a ação penal continua sendo pública exclusiva do MP, cuja atividade está totalmente disciplinada a uma daquelas condições (CPP, art. 24; CP, art. 100, § 1º). Neste viés, como apregoa Mougenot: Em determinados casos, a lei sujeitará expressamente (art. 24, caput, do Código de Processo Penal e art. 100, § 1º, do Código Penal) a propositura da ação penal pública ao implemento de uma condição, qual seja, a representação do ofendido (ou de quem o represente), ou a requisição do Ministro da Justiça. A natureza da manifestação de vontade que condiciona o ajuizamento da ação penal é controvertida. A doutrina ora a classifica como condição suspensiva de procedibilidade, ora como condição objetiva de punibilidade, o mesmo como condição de procedibilidade. O entendimento majoritário, entretanto, é no sentido de que a representação e a requisição do Ministério da Justiça constituem instituto processual e não material. (MOUGENOT, 2011, p. 207). Por ser uma exceção à regra de que todo o crime se processa mediante ação pública incondicionada, os casos sujeitos à representação ou requisição encontram-se explícitos em lei. Confere o Estado, assim, à vítima do crime, ou a seu representante legal, a faculdade de expressar seu desejo, ou não, de ver iniciada a ação penal contra o criminoso. Esse desejo da vítima é manifestado através da representação, autorizando o Ministério Público a iniciar a persecução penal, como se vislumbra da lição de Tourinho Filho: É a manifestação de vontade do ofendido ou de quem legalmente o represente, no sentido de ser instaurado o processo contra o seu ofensor. O art. 24 do CPP, do Estatuto Processual Penal esclarece quem pode fazer a representação: o ofendido, ou quem legalmente o represente. A representação deverá conter as necessárias informações, possibilitando, assim, a apuração do fato. Bem claro é o § 2º do art. 39 do CPC (TOURINHO FILHO, 2011, p. 414). Representação, portanto, é o ato através do qual o ofendido ou seu representante legal expressam a vontade de que a ação penal seja instaurada. O direito de representação poderá ser exercido, pessoalmente ou Representação, portanto, é o ato através do qual o ofendido ou seu representante legal expressam a vontade de que a ação penal seja instaurada. 122 Direito Processual Penal por procurador com poderes especiais, mediante declarações, escritas ou orais, feitas ao juiz, ao órgão do Ministério Público, ou à autoridade policial. Ademais, pontua Mougenot: O que a lei chama de representação nada mais é do que a manifestação de consentimento no sentido de que o Ministério Público possa proceder ao ajuizamento da ação penal (ou de que a polícia judiciária possa proceder à instauração de inquérito policial), nos termos do art. 5º, § 4º, do Código de Processo Penal. A representação somente é necessária quando a lei determina expressamente o ajuizamento da ação penal é a ela condicionada. O crime de ameaça, previsto no art. 147 do Código Penal, é um exemplo de delito de ação penal pública condicionada à representação. O parágrafo único do referido dispositivo estabelece que: “Somente se procede mediante representação” (MOUGENOT, 2011, p. 207). O direito de representação deve ser exercido pelo ofendido, ou seu representante legal, dentro do prazo de 06 (seis) meses, contado da data em que vier a saber quem é o autor do crime, sob pena de decadência. No caso de ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça, não obstante o crime atingir um bem de natureza pública, por motivos políticos, a lei confere a ele a análise da conveniência de se iniciar a ação penal. Existem apenas dois casos no Código Penal em que a ação penal pública é condicionada à requisição do Ministro da Justiça: art., § 3°, b, e art. 145, parágrafo único. A ação penal pública condicionada ocorre quando a lei expressamente declarar que a ação penal somente se procederá mediante representação do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça. Tanto a representação quanto a requisição do Ministro da Justiça apenas autorizam, não obrigando o Ministério Público a promover a ação penal, vez que há outros elementos a serem apreciados pelo promotor. Representação – é a manifestação de vontade do ofendido ou de seu representante legal, no sentido de que tem interesse em ver punido o autor do crime. 123 Ação Penal Capítulo 4 Ação Penal Privada A ação penal privada tem lugar quando o Estado transfere ao particular o direito de acusar, preservando para si o direito de punir. Nesse caso, o interesse do particular, ofendido pelo crime, se sobrepõe ao interesse público, que também existe. Ocorre, assim, verdadeira hipótese de substituição processual, em que o particular defende interesse alheio (interesse público na repressão dos delitos) em nome próprio. Pode ocorrer, no entanto, que o delito ora cometido ofenda um bem jurídico da intimidade profunda do sujeito passivo. Por conseguinte, o Estado vê por bem que o sujeito passivo ou seu representante legal é o individuo que tenha a devida iniciativa para a instauração do procedimento policial e do processo penal, permitindo o ingresso da ação penal privada. Assim, verifica-se que determinadas objetividades jurídicas de delitos fazem com que o Estado guarde para si a iniciativa da ação penal, tal a relevância que estas apresentam. Neste evento estamos diante da ação penal pública. Em outros casos, o Estado reserva ao ofendido a iniciativa do procedimento policial e da respectiva ação penal. Nesta circunstância estamos frente à ação penal privada. Espécies da Ação Penal Privada Denílson Feitoza (2010) fundamenta que a ação penal de iniciativa privada também pode ser denominada ação processual penal condenatória de iniciativa privada ou, como é mais conhecida e utilizada, ação penal privada. No entender de Feitoza, tem-se: No caso da ação penal privada exclusiva ou personalíssima, fez-se o mesmo fundamento da ação penal pública condicionada à representação. Assim, varias razões são apontadas pela doutrina como fundamento político; a) evitar- se o strepitus judicii ou strepitus processus (escândalo do processo), ou seja, evitar que o processo penal cause maior mau à vítima do que ao próprio acusado; b) a infração penal afeta imediatamente o interesse particular e mediatamente o interesse geral; c) dificuldade, em certos casos, de se colher a prova sem a colaboração da vítima. Entretanto, o Estado não se limita a estabelecer uma mera condição de procedibilidade, que é a representação, mas deixando a legitimidade de agir com o Ministério Público, que propõe a ação penal segundo A ação penal privada tem lugar quando o Estado transfereao particular o direito de acusar, preservando para si o direito de punir. 124 Direito Processual Penal um juízo de legalidade (princípio da obrigatoriedade). Dessa vez, entrega a própria legitimidade de agir a um particular (normalmente o ofendido da infração penal), que poderá propor ou não a ação penal privada segundo um juízo de conveniência ou oportunidade (princípio da oportunidade) (FEITOZA, 2010, p.287). Observa-se que de acordo com a circunstância a qual enseja a determinação, sempre excepcional, da titularidade da ação penal a um particular, a ação penal privada pode ser classificada sob dois gêneros diversos: a ação penal exclusiva, que tem ainda como subespécie, a ação penal privada personalíssima, e a ação penal privada subsidiária. Ação Penal Privada Exclusiva A ação penal privada exclusiva, também chamada de ação privada propriamente dita ou ação privada principal, é aquela que deve somente ser proposta pelo ofendido ou por quem legalmente o represente para a persecução de determinados crimes, cuja apuração e julgamento ficam sujeitos, por expressa obrigação legal, à exclusiva iniciativa do ofendido. Aplicável quando a lei determina que a ação deva ser proposta mediante queixa, mas não especifica um caráter personalíssimo, nem mesmo condiciona sua propositura à falta de ação do Ministério Público em ajuizar ação penal pública. Denomina-se queixa-crime a peça através da qual se inicia a ação penal privada. Não se confunde a queixa-crime, é bom lembrar, com a notitia criminis, que é o ato através do qual qualquer pessoa noticia a ocorrência de uma infração penal, seja à autoridade policial ou judiciária, seja ao Ministério Público. Em caso de morte do ofendido, ou quando declarado ausente por decisão judicial, o direito de oferecer queixa ou prosseguir na ação passará ao cônjuge, ascendente, descendente ou irmão. Isto posto, vislumbra-se na lição de Feitoza em Direito Processual Penal – Teoria Crítica e Práxis: “A ação penal exclusivamente privada é a que pode ser proposta pelo ofendido ou por seu representante legal, ou, no caso de morte do ofendido ou de sua ausência declarada judicialmente, pelos seus sucessores processuais” (FEITOZA, 2010, p. 287). A ação penal exclusiva, que tem ainda como subespécie, a ação penal privada personalíssima, e a ação penal privada subsidiária. Aplicável quando a lei determina que a ação deva ser proposta mediante queixa, mas não especifica um caráter personalíssimo. 125 Ação Penal Capítulo 4 A queixa-crime deverá revestir-se sempre da forma escrita, devendo ser elaborada e subscrita por advogado. Deverá conter a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas. Se a parte for pobre, na acepção jurídica do termo (não puder prover as despesas processuais sem privar-se dos recursos indispensáveis à manutenção própria ou da família), o juiz nomeará advogado para promover a ação penal. O prazo para o exercício do direito de queixa é de 6 (seis) meses, contado da data em que vier o ofendido a saber quem é o autor do crime, sob pena de decadência. O Ministério Público poderá aditar a queixa-crime, intervindo em todos os termos subsequentes do processo. Ação Penal Privada Subsidiária A ação penal subsidiária da pública é aquela proposta pelo ofendido ou por seu representante legal nos crimes de ação pública, se esta não for impetrada pelo Ministério Público no prazo legal determinado. O Ministério Público deve oferecer denúncia, estando o réu preso, em 5 (cinco) dias, e estando o réu solto, em 15 (quinze) dias. Tais prazos constituem a regra, havendo algumas exceções na legislação extravagante. Caso o Ministério Público não observe os prazos para oferecimento da denúncia, para requerer alguma diligência ou para oferecer arquivamento, não obstante a ação penal ser de iniciativa pública incondicionada poderá o ofendido ou seu representante legal intentar a ação penal privada subsidiária, através da queixa-crime. O prazo para oferecimento da queixa-crime, nesse caso, será de 6 (seis) meses, contado da data em que se esgotar o prazo para manifestação do Ministério Público (denúncia, arquivamento ou diligência). A ação penal subsidiária da pública é aquela proposta pelo ofendido ou por seu representante legal nos crimes de ação pública, se esta não for impetrada pelo Ministério Público no prazo legal determinado. A queixa-crime deverá revestir-se sempre da forma escrita, devendo ser elaborada e subscrita por advogado. 126 Direito Processual Penal Ação Penal Privada Personalíssima Ação penal privada personalíssima só pode ser promovida pelo ofendido. Como consequência deste cenário, sua titularidade é atribuída única e exclusivamente ao ofendido, sendo o seu exercício vedado até mesmo ao seu representante legal, inexistindo sucessão por morte ou ausência. Pontua Capez: Assim, falecendo o ofendido, nada há que se fazer a não ser aguardar a extinção da punibilidade do agente. É, como se vê, um direito personalíssimo e intransmissível. Inaplicáveis, portanto, os arts. 31 e 34 do Código de Processo Penal. Há entre nós apenas um caso dessa espécie de ação penal: crime de induzimento a erro essencial ou ocultação de impedimento, previsto no Código Penal, art. 236, § único. O crime de adultério, revogado pela lei n. 11.106/2005, também estava sujeito a essa espécie de ação penal. No caso de ofendido incapaz, seja em virtude de pouca idade, seja em razão de enfermidade mental, a queixa não poderá ser exercida, haja vista a incapacidade processual do ofendido e a impossibilidade de o direito ser manejado por representante legal ou por curador especial nomeado pelo juiz. Resta ao ofendido apenas aguardar a cessação da sua incapacidade (Capez, 2011, p.183). Verifica-se que o falecimento do ofendido provocará a extinção da punibilidade do ofensor. Logo, se o ofendido for incapaz, o direito de promover a ação, também não será transmissível aos seus representantes. A única medida a ser tomada para remediar tal necessidade será a de aguardar a cessação da incapacidade para, aí sim, ingressar com a queixa-crime. Com base nos conhecimentos ora já adquiridos em Processo Penal, em Direito Penal, na Constituição Federal, o pós-graduando deverá: 1ª Tarefa: identificar o problema elencado no texto e solucioná- lo por meio da ação correta. 2ª Tarefa: elaborar a peça processual correta, conforme requer o texto. Correndo de um lado para o outro e sem saber o que fazer, Ação penal privada personalíssima só pode ser promovida pelo ofendido. Como consequência deste cenário, sua titularidade é atribuída única e exclusivamente ao ofendido, sendo o seu exercício vedado até mesmo ao seu representante legal, inexistindo sucessão por morte ou ausência. 127 Ação Penal Capítulo 4 Herculano ia em direção ao rio Sapucanga, um Município com apenas 10.000 habitantes, sendo a maioria deles de origem alemã. Como se sabe, a violência atualmente está em todos os lugares e cada um deve cuidar de si. Naquele dia chovia muito. O rio transbordou e o céu parecia escurecer. Não se sabe ao certo aonde ia Herculano, mas parece que queria atravessar o rio, embora estivesse muito apressado. A cidade continuava deserta. Chuviscava. Devia ser mais ou menos 17 horas do dia 28 de agosto. Dia de Santa Clarinda. Nesse dia, como de costume, todos se recolhem mais cedo. Poucos andam na rua, pois dá azar. A igreja não abriu naquele dia e o bar do Neco, de propriedade de Toninho Bebum, localizado na Rua das Laranjeiras, ainda estava aberto. Essa rua infelizmente já foi palco de muitas tragédias, pois nela, em frente ao nº 122, já morreu Amim, um pistoleiro sem religião.Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas muitas desgraças vêm acompanhadas de outros infortúnios, como é o caso de Valéria, uma mulher que morava sozinha e foi assassinada num domingo. Não tinha sucessores. No horário acima referido, o bar do Toninho Bebum ia ser fechado, quando Crô, o latoeiro, veio em direção a Herculano e, sem nada a dizer, desferiu-lhe duas pauladas na cabeça, derrubando-o e lesionando-o gravemente. Como é do conhecimento de todos, o Estado pouco tem feito para amenizar a violência. Foi feito o inquérito policial. O Ministério Público não denunciou no prazo legal. O Estado é omisso. As leis são ineficazes e as pessoas se brutalizam. Quem viu a ação de Crô foi Pererão, o catador de papelão, e Maria Tereza, uma mulher de vida fácil para uns e difícil para outros. Foi muita tristeza na casa alugada onde morava Herculano. No hospital, que fica a 80 quilômetros, já na cidade de Caieira do Sul, só tem um médico e este disse que Herculano foi salvo pela mão de Deus, embora perdesse a memória por dois dias. Sofreu muita dor e teve traumatismo craniano, mas recuperou-se em quinze dias. 1ª Tarefa: identificar o problema elencado no texto e solucioná- lo por meio da ação correta. 128 Direito Processual Penal ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 2ª Tarefa: elabore a peça processual correta, conforme requer o texto. ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ 129 Ação Penal Capítulo 4 ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ ______________________________________________________ Ação Civil Ex Delicto A ação civil ex delicto é proposta no juízo civil pelo ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros, a fim de obter a reparação do dano provocado pela infração penal cometida. Abrange tanto o ressarcimento do dano patrimonial como a reparação do dano moral. O art. 186 do Código Civil brasileiro dispõe que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência violar o direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Por sua vez observa-se que a redação do art. 927 do mesmo Estatuto declara em favor deste “aquele que, por ato ilícito (arts, 186 e 187,), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Afirma-se, conquanto independentes as áreas civil e criminal, que quando do ilícito penal resultar prejuízos de ordem material para a vítima, seus herdeiros, dependentes ou para terceiros estará confirmado o dever de indenizar. Observa- se, que por esta razão o Código Penal prevê como efeito genérico e automático, isto é, não depende de referência expressa na sentença de toda e qualquer condenação criminal, tornar certa a reparação de reparar o dano. Neste sentido o art. 63 do CPP assegura à vítima, ao seu representante legal ou aos seus herdeiros o direito de executar no civil a sentença penal condenatória transitada em julgado. Do tracejado, vislumbra se que a condenação penal (imutável) faz coisa julgada também no cível para efeito de reparação do dano ex delicto, impedindo que o autor do fato renove nesta instância a discussão do que foi decidido no A ação civil ex delicto é proposta no juízo civil pelo ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros, a fim de obter a reparação do dano provocado pela infração penal cometida. 130 Direito Processual Penal crime. Por sua vez, a sentença penal condenatória transitada em julgado funciona como título executivo judicial no juízo cível, possibilitando, dessa forma, ao ofendido obter a reparação do prejuízo sem a necessidade de propor a ação civil de conhecimento. Observa-se que a ação civil ex delicto em nada se distingue das demais ações cíveis indenizatórias. Trata-se essencialmente de ação civil, em que sua única vinculação com o juízo penal decorrerá da circunstância de que a causa de pedir de ambas as ações será um mesmo fato, pois além de constituir ilícito civil, também constituirá delito penal. Conceito de Ação Civil Ex Delicto Conforme Mougenot (2011), ação civil “ex delicto” é aquela “proposta no juízo cível pelo ofendido, seu representante legal ou seus herdeiros para obter a reparação do dano provocado pela infração penal. Abrange tanto o ressarcimento do dano patrimonial (dano emergente e lucro cessante) como a reparação do dano moral”. Figura 12- Sistemas de Reparação de Dano Fonte: Os autores. O Brasil adota o sistema da separação ou da independência, e nele se dividem os juízos penais e civis, portanto as ações deverão ser propostas separadamente perante os respectivos juízos competentes. Ao juízo criminal caberá, além de decidir a lide penal, acolhendo ou não a pretensão punitiva, fixar, em caso de condenação, um valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração penal, considerando os prejuízos do ofendido. Observa-se que a ação civil ex delicto em nada se distingue das demais ações cíveis indenizatórias. Sistema da Confusão Sistema da Solidariedade Sistema da Separação ou da independência Sistemas de Reparação do Dano Oriundo de Infração Penal 131 Ação Penal Capítulo 4 Como se vê, o Brasil adota o último sistema, mas não de forma absoluta. Pode-se dizer que o Brasil adota o Sistema da separação ou independência mitigado, uma vez que a separação, como se verá abaixo, não é completa,havendo pontos de convergência entre os juízos civil e penal (chamados efeitos transcendentes). Além, disso há que atentar para a existência de exceções na legislação brasileira, nas quais as pretensões indenizatórias podem ter lugar no bojo do Processo Penal (v.g. multa reparatória no CTB; composição civil de danos na Lei nº 9099/95). Atividade de Estudos: Pesquisar é uma maneira inteligente de estudar e aprender, não se trata de descobrir uma porção de trechos de livros e copiar uns depois dos outros. Para que a pesquisa cumpra seu papel, ela não deve só somar conhecimentos, mas multiplicá-los. Você deve acabar sua pesquisa compreendendo o assunto trabalhado. Agora é sua vez: 1) Ciente de que é possível que a vítima ingresse independentemente com ação de conhecimento, mesmo antes da condenação criminal transitada em julgado, suponha-se que nessa situação decorra, antes do final do processo civil respectivo, a condenação transitada em julgado no campo criminal. O que deve fazer o juiz civil ante essa informação? ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ 132 Direito Processual Penal 2) Como fica o caso de sentença concessiva de Perdão Judicial? Ela também perfaz título executivo judicial contra o réu? ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ ___________________________________________ 3) Numere as colunas: (a) Da redação do dispositivo supra já se conclui que tanto os crimes dolosos como culposos comportam indenização de danos materiais ou morais, já que constituem ato ilícito, no caso, penal. (b) Esse efeito é genérico (o que quer dizer que vale para toda e qualquer condenação criminal) e automático (o que quer dizer que não necessita de menção na sentença condenatória, decorrendo dela automaticamente). (c) A sentença condenatória criminal transitada em julgado é título executivo judicial no cível para fins de indenização por ato ilícito. No entanto, tal título, embora certo e exigível, não é ainda líquido, necessitando ser realizada a chamada liquidação por artigos (art. 475-A c/c 475-E, CPC) para estabelecer o valor da indenização do dano material ou moral, já que na sentença condenatória criminal, em regra, não são estabelecidos desde logo valores indenizatórios. (d) Portanto, faz-se necessário primeiro realizar a liquidação para depois promover a execução do título. Não obstante, não mais se discute o mérito da indenização, uma vez que a sentença condenatória criminal faz coisa julgada no cível, de modo que não é possível pretender renovar na instância civil o que já foi decidido na criminal. (e) Nada impede, porém, que mesmo antes de terminado o Processo 133 Ação Penal Capítulo 4 – Crime, a vítima, seu representante legal ou herdeiros ingressem com ação de conhecimento no cível para obter indenização (art. 64, “caput”, CPP). Nesse caso, não haverá ainda título executivo, como acima, tratando-se, como já dito, de um Processo de Conhecimento completo. Nesse processo poderá o juiz suspender o feito até o julgamento criminal definitivo devido à existência de certa relação de prejudicialidade entre as esferas civis e penais (Artigo 64, Parágrafo Único, CPP c/c 265, IV, “a” e § 5º, CPC). (f) Nos casos de absolvição imprópria (decisão que reconhece a prática de ilícito penal, mas absolve o agente por inimputabilidade, impondo-lhe apenas medida de segurança), não se constitui título executivo judicial. (g) Nos casos de ato infracional, o ECA (Lei 8069/90), em seu artigo 116, estabelece: “Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma compense o prejuízo da vítima”. ( ) Artigo 91, I, CP – estabelece como efeito genérico e automático da condenação criminal tornar certa a obrigação de reparar o dano. ( ) Atentar para o fato de que o artigo 63, CPP, somente menciona “condenação transitada em julgado” (“Transitada em julgado à sentença condenatória [...]”). Então, nesses casos, para a obtenção de indenização, far-se-á necessário o respectivo processo de conhecimento na seara cível. ( ) Art. 186, CC – “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. ( ) Artigo 63, CPP – Assegura à vítima, ao seu representante legal ou aos seus herdeiros o direito de executar no cível a sentença penal condenatória transitada em julgado e Artigo 475-N, CPC – “São títulos executivos judiciais: II – A sentença penal condenatória transitada em julgado”. ( ) Essa suspensão não pode exceder a um ano. Se exceder, o processo deve seguir normalmente (vide § 5º, do art. 265, CPC); entende parte da doutrina que a menção à suspensão do processo 134 Direito Processual Penal civil na pendência do processo penal sobre o mesmo fato não é mera faculdade do juiz (verbo – “poderá” – art. 64, Parágrafo Único, CPP), mas sua obrigação, tendo em vista a conjugação do dispositivo do CPP acima mencionado com o artigo 265, IV, “a”, CPC, cuja redação é imperativa (“suspende-se o processo”). ( ) Nesses casos também não haverá título executivo judicial, necessitando-se de processo de conhecimento no cível. Normalmente, responderá o patrimônio dos pais ou responsáveis pelo menor (art. 932, I e II, CC). O menor somente responderá patrimonialmente se tiver patrimônio capaz de arcar com a obrigação e não o tiverem seus responsáveis (artigo 928, CC) (vide José de Farias Tavares – Comentários à ECA – 2ª ed.- Ed. Forense – 1997, p. 99). Entende Paulo Lúcio Nogueira (ECA Comentado – Saraiva – 1991, p. 150), que o Juiz da Infância e Adolescência não pode compelir o menor à reparação, mas pode formular um acordo e homologar. Nesse caso, tal acordo serviria de título executivo judicial no cível. Caso não haja tal acordo homologado, seria necessária a via do processo de conhecimento no cível, conforme acima consignado. A competência refere-se à demarcação da área de atuação de cada juiz. Em regra, a competência se fixa pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução (art. 70 do CPP). Portanto, competência é a medida ou o limite da jurisdição. Representa, contudo, a fração do poder jurisdicional que é conferido a cada órgão investido de jurisdição. A atual legislação descrita pelo princípio da improrrogabilidade da jurisdição mostra-nos que a mesma é limitada pelo território local. Segundo os ensinamentos de Mirabete (2004), o mesmo traça o seguinte conceito: que a medida é o limite da jurisdição e a delimitação do poder jurisdicional. Porém essa medida e limitação de poder não são relevantes somente ao território. Há vários outros elementos que fazem com que um juízo seja ou não competente para aquele ato. De acordo com os ensinamentos de Greco Filho (1999), a competência é, na verdade, o poder de fazer atuar a jurisdição quetem um órgão jurisdicional diante de um caso real. E verifica-se que esse A competência refere-se à demarcação da área de atuação de cada juiz. De acordo com os ensinamentos de Greco Filho (1999), a competência é, na verdade, o poder de fazer atuar a jurisdição que tem um órgão jurisdicional diante de um caso real. 135 Ação Penal Capítulo 4 poder decorre de uma delimitação prévia, constitucional e legal, determinada segundo critérios de especialização da justiça, distribuição territorial e divisão de serviço. Atividade de Estudos: 1) Como é determinada a competência? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) O que determina a competência pelo lugar da infração? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A competência pode ser absoluta, quando a lei não admite sua prorrogação, isto é, nos casos de competência firmada em razão da matéria da prerrogativa de função, ou relativa, quando se admite a prorrogação, caso esta não seja invocada em tempo hábil. Para Lucchini (1908), a competência vem a ser a medida da jurisdição, 136 Direito Processual Penal distribuída entre os vários magistrados que compõem organicamente o poder judiciário do Estado. Segundo Altavilla (1935, p.87), “é o poder que o juiz tem de exercer a jurisdição sobre determinado conflito de interesses, surgido entre o Estado e o individuo pela execução de um crime ou contravenção penal.” Para Eduardo Espinola Filho, a competência vem a ser a porção de capacidade jurisdicional que a organização judiciária atribui a cada órgão jurisdicional, a cada juiz (ALTAVILLA, 1935, p.87 apud CAPEZ, 2011, p. 252). O código de processo penal contém, em seu art. 69, os critérios para a determinação da competência em âmbito penal: a) o lugar da infração; b) o domicílio ou residência do réu; c) a natureza da infração; d) a distribuição; e) a conexão ou continência; f) a prevenção; g) a prerrogativa de função. Atividade de Estudos: 1) A execução, iniciando-se em território brasileiro e o resultado ocorrendo fora dele, qual o foro competente? E se a execução se iniciar fora do território brasileiro e o resultado ocorrer no Brasil? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 137 Ação Penal Capítulo 4 E no que se refere à doutrina, a mesma enumera os seguintes critérios determinantes. Analogamente ensina Mougenot (2011), no que se refere a estes critérios: a) Natureza da infração – estabelecida pela Constituição, a qual sujeita os crimes dolosos contra a vida, ao julgamento do Tribunal do Júri – art. 5º, XXXVIII, e pelas leis de organização judiciária. A natureza do direito material que rege a relação jurídica delimita o que se conhece por competência ratione materiae, ou seja, determinada em razão da natureza do direito material que rege a relação jurídica levada ao conhecimento do órgão jurisdicional. No âmbito constitucional, o critério ratione materiae é adotado para estabelecer a competência dos diversos órgãos em que se divide o Poder Judiciário (servindo de critério, por exemplo, para atribuição da competência das chamadas Justiças Especiais, que serão elaboradas em detalhe adiante). Especificamente no que diz respeito ao direito processual penal, a competência pode, também, ser determinada por certas características relativas ao direito material incidente sobre os fatos apreciados. Fala-se, assim, na determinação de competência em razão da natureza da infração (MOUGENOT, 2011, p.253). b) Cargo ocupado pelo acusado ou função por ele exercida, dando origem ao chamado foro por prerrogativa de função ou foro privilegiado. O critério ratione personae é utilizado, por exemplo, para a determinação de algumas hipóteses em que serão competentes as justiças estaduais, casos esses que serão abordados em detalhe adiante. Também é esse o critério adotado nos casos em que estabelece a competência por prerrogativa de função (vulgarmente, foro privilegiado), segundo o qual a competência para o julgamento de certas causas é, excepcionalmente, originária de um tribunal, ficando afastada, destarte, a atuação dos órgãos julgadores que atuam na primeira instância (MOUGENOT, 2011, p.254). c) Território, seja do local da infração, seja do lugar do domicílio ou residência do réu. Como dito, o poder jurisdicional do Estado é uno. A jurisdição pode ser exercida em todo o território nacional. Entretanto. Os casos que se apresentam ao Poder Judiciário (ou aos outros órgãos jurisdicionais) somente poderão ser julgados pelos órgãos situados nos locais que aguardem alguma relação com os fatos que os originam. Essa essência da competência em razão do território. Para sua fixação, ora se adota como critério o local em que os fatos ocorreram, Não sendo conhecido o lugar da infração, fixa-se a competência pelo domicílio ou residência do réu (art. 2° do CPP). 138 Direito Processual Penal ora o local do domicílio ou residência do réu (MOUGENOT, 2011, p.254). Não sendo conhecido o lugar da infração, fixa-se a competência pelo domicílio ou residência do réu (art. 2° do CPP). Atividade de Estudos: 1) De quem é a competência quando o limite territorial entre duas ou mais jurisdições for incerto? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Sendo o local da infração não conhecido, qual a competência para o processamento da ação? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ Estabelece-se também a competência em razão da matéria, com atribuições específicas da Justiça Estadual, Federal, Eleitoral, Militar ou Trabalhista. Estabelece- se também a competência em razão da matéria, com atribuições específicas da Justiça Estadual, Federal, Eleitoral, Militar ou Trabalhista. 139 Ação Penal Capítulo 4 À Justiça Federal compete julgar os crimes praticados em detrimento de bens, serviços ou interesses da União, empresas públicas e suas entidades autárquicas. Excluem-se, porém, as contravenções, que são sempre julgadas pela Justiça Estadual, ainda que haja interesse da União (art. 109, IV, da CF) (Súmula 38 do STJ). A Justiça Militar julga os crimes militares, assim considerados, em tempo de paz, os arrolados no art. 9° do COM (DL 1.001, de 21/10/69). Quando, na mesma comarca, houver mais de um juiz competente para o mesmo processo, a competência será fixada pela distribuição, geralmente por sorteio. Atividade de Estudos: 1) O que se entende por competência por distribuição? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ A competência por prerrogativa de função é aquela que abrange ocupantes de cargos públicos que, em razão da sua função, são processados em outras instâncias e mediante regras especiais. É o caso, do Presidente da República, Vice Presidente, Membros do Congresso Nacional, Ministros e Procurador Geral da República que, nas infrações penais comuns devem ser processados pelo Supremo Tribunal Federal. A competência funcional é a que deriva das leis de organização judiciária, estabelecendo critérios de divisão de tarefas entre juízes do mesmo grau, ou de instâncias diferentes. É funcional, por exemplo, a competência atribuída a juízes de Varas Regionais ou Distritais. Conexão e Continência são critérios que modificam a competência, uma vez que impõem o julgamento de mais infrações ou mais pessoas no mesmo processo em determinadas circunstâncias. Portanto, havendo conexão ou continência, julgam-se num só processo duas ou mais infrações. A competência por prerrogativa de função é aquela que abrange ocupantes de cargos públicos que, em razão da sua função, são processados em outras instâncias e mediante regras especiais. 140 Direito Processual Penal Por conexão, julgam-se no mesmo processo: • infrações praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso. • infrações praticadas para facilitar ou para ocultar outras, ou ainda para conseguir impunidade, como na hipótese de homicídio e ocultação de cadáver. • quando a prova de uma infração influir na prova de outra. Por continência, julgam-se no mesmo processo: • duas pessoas acusadas pela mesma infração. • infrações praticadas em concurso formal, material e crime continuado. Atividade de Estudos: 1) O que se entende por competência por conexão? E por continência? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Dá-se a conexão quando há dois ou mais delitos relacionados entre si no modo de execução (conexão material) ou nos meios de prova (conexão probatória). A continência é uma espécie de conexão mais intensa, em que um fato encontra-se contido dentro de outro, de modo inseparável. Dá-se a continência na coautoria (art. 29 do CP), no concurso formal (art. 70 do CP), no erro de execução (art. 73 do CP) e no resultado diverso do pretendido (art. 74 do CP). Verifica-se a competência por prevenção “toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do Dá-se a conexão quando há dois ou mais delitos relacionados entre si no modo de execução (conexão material) ou nos meios de prova (conexão probatória). 141 Ação Penal Capítulo 4 processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou queixa” (art. 83 do CPP). Este critério de competência considera competente o juiz que primeiro praticar algum ato ou medida relacionada ao processo, ainda que antes do oferecimento da denúncia ou queixa, nos termos do art. 83 do CPP. Exemplo de competência por prevenção é o art. 71 do CPP: “Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção”. A competência, ainda, pode ser absoluta ou relativa. Absoluta, é a competência em razão da matéria, contudo a competência pelo lugar da infração é a relativa, que não anula o processo, se não houver arguição em tempo oportuno. Classificação da Competência • Pelo lugar da infração. • Pelo domicílio ou residência do réu. • Em razão da matéria. • Por distribuição. • Por prerrogativa de função. • Funcional. • Por conexão ou continência. • Por prevenção. • Absoluta. • Relativa. Conflito de Competência Dá-se o conflito de competência quando duas ou mais autoridades se julgam competentes ou incompetentes para julgar o mesmo crime; quando dois ou mais juízes se considerarem competentes (conflito positivo) ou incompetentes (conflito negativo) para conhecer o mesmo fato. Dá-se o conflito de competência quando duas ou mais autoridades se julgam competentes ou incompetentes para julgar o mesmo crime. Absoluta, é a competência em razão da matéria, contudo a competência pelo lugar da infração é a relativa, que não anula o processo, se não houver arguição em tempo oportuno. 142 Direito Processual Penal O conflito de competência pode ser levantado pelo juiz, perante o tribunal competente, na forma de representação. Se o conflito for negativo, pode o juiz suscitá-lo nos próprios autos. Se positivo, deve o conflito subir em apartado. O relator requisita informações, podendo determinar a suspensão do feito. Depois de ouvido o Procurador-Geral de Justiça, decide-se o conflito. Mas não é só o juiz que pode levantar o conflito de competência. A parte interessada e o Ministério Público podem também requerer sobre a matéria diretamente perante o tribunal competente, em apartado (arts. 115 e 116 do CPP). A incompetência, relativa e absoluta se resolve por meio da nulidade absoluta, abrangendo a incompetência em razão da infração ou material ou até mesmo da violação da competência funcional. A relativa, sendo territorial ou na falta na aplicação de regras, gera nulidade relativa e depende da prova do prejuízo. O conflito de atribuições é aquele que se dá entre duas ou mais autoridades administrativas. Ocorre entre o órgão de poder judiciário ou órgão de outro poder ou entre órgãos não jurisdicionais. Prevalece o entendimento de que o STF é competente para julgar conflito de atribuição entre Ministério Público Federal e dos Estados ou entre Ministério Público de um Estado e de outro (STF, Pet. 3, 631/SP, DJ, 7/03/2008). Já observamos, anteriormente que na Justiça Comum, Federal ou Estadual, a competênciaé delimitada, conforme a hipótese, pelo lugar da infração, pelo domicílio ou residência do réu, pela natureza da infração, pela distribuição, pela conexão ou continência, pela prevenção e pela prerrogativa de função. A seguir apresentamos um fragmento do Código de Processo Penal que apresenta este domínio legal. DA COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA INFRAÇÃO Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. § 1 Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução. O conflito de atribuições é aquele que se dá entre duas ou mais autoridades administrativas. Ocorre entre o órgão de poder judiciário ou órgão de outro poder ou entre órgãos não jurisdicionais. 143 Ação Penal Capítulo 4 § 2º Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir se resultado. § 3º Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção. Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de duas ou mais jurisdições, a competência firmar- se-á pela prevenção. DA COMPETÊNCIA PELO DOMICÍLIO OU RESIDÊNCIA DO RÉU Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo domicílio ou residência do réu. § 1º Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar- se-á pela prevenção. § 2º Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato. Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração. DA COMPETÊNCIA PELA NATUREZA DA INFRAÇÃO Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo a competência privativa do Tribunal do Júri. § 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, § 1º e 2º, 122, parágrafo único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. § 2º Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da competência de outro, a este será remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá sua competência prorrogada. 144 Direito Processual Penal § 3º Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à competência de juiz singular, observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2º). DA COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO Art. 75. A precedência da distribuição fixará a competência quando, na mesma circunscrição judiciária, houver mais de um juiz igualmente competente. Parágrafo único. A distribuição realizada para o efeito da concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva ou de qualquer diligência anterior à denúncia ou queixa prevenirá a da ação penal. DA COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU CONTINÊNCIA Art. 76. A competência será determinada pela conexão: I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras; II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Art. 77. A competência será determinada pela continência quando: I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1º, 53, segunda parte, e 54 do Código Penal. Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas as seguintes regras: I - no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum, prevalecerá a competência do júri; 145 Ação Penal Capítulo 4 Il - no concurso de jurisdições da mesma categoria: a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave; b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos; III - no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação; IV - no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta. Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I - no concurso entre a jurisdição comum e a militar; II - no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores. § 1º Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu, sobrevier o caso previsto no art. 152. § 2º A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer à hipótese do art. 461. Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar conveniente a separação. Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua competência, continuará competente em relação aos demais processos. Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração 146 Direito Processual Penal ou impronunciar ou absolver o acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo competente. Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência forem instaurados processos diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação das penas. DA COMPETÊNCIA POR PREVENÇÃO Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa, ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3º, 71, 72, § 2º, e 78, II, c). DA COMPETÊNCIA PELA PRERROGATIVA DE FUNÇÃO Art. 84. A competência pela prerrogativa de função é do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, dos Tribunais Regionais Federais e Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, relativamente às pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de responsabilidade. Art. 85. Nos processos por crime contra a honra, em que forem querelantes as pessoas que a Constituição sujeita à jurisdição do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais de Apelação, àquele ou a estes caberá o julgamento, quando oposta e admitida à exceção da verdade. Art. 86. Ao Supremo TribunalFederal competirá, privativamente, processar e julgar: I - os seus ministros, nos crimes comuns; II - os ministros de Estado, salvo nos crimes conexos com os do Presidente da República; 147 Ação Penal Capítulo 4 III - o procurador-geral da República, os desembargadores dos Tribunais de Apelação, os ministros do Tribunal de Contas e os embaixadores e ministros diplomáticos, nos crimes comuns e de responsabilidade. Art. 87. Competirá, originariamente, aos Tribunais de Apelação o julgamento dos governadores ou interventores nos Estados ou Territórios, e prefeito do Distrito Federal, seus respectivos secretários e chefes de Polícia, juízes de instância inferior e órgãos do Ministério Público. DISPOSIÇÕES ESPECIAIS Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República. Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais, em alto-mar, serão processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que houver tocado. Art. 90. Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo correspondente ao território brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira, dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão processados e julgados pela justiça da comarca em cujo território se verificar o pouso após o crime, ou pela da comarca de onde houver partido a aeronave. Art. 91. Quando incerta e não se determinar de acordo com as normas estabelecidas nos arts. 89 e 90, a competência se firmará pela prevenção. FONTE: Mirabete, Código de Processo Penal, 2010. 148 Direito Processual Penal Jurisdição Jurisdição deriva do latim jurisdictio – ação de dizer o direito. A jurisdição é entendida como o poder do Estado de aplicar o direito objetivo a um caso concreto, com a finalidade de restaurar a paz social muitas vezes abalada pelo nascimento do litígio, por meio da solução justa dos conflitos de interesses que surgem na sociedade. Segundo Mougenot, o termo jurisdição assume significações diversas: a) Jurisdição como poder: [...] a jurisdição é concebida primordialmente como poder, como não é a integralidade do poder do Estado, diz-se que a jurisdição é uma parcela do poder estatal e uma das formas de sua manifestação, pois este na verdade é uno e soberano. Conforme a ideia que o poder emana do povo, em favor do povo deve ser exercido. Pode-se concluir que a finalidade do exercício desse poder é a imposição de solução de conflitos que se apresentam na sociedade ( MOUGENOT, 2011, p. 47). Verifica-se de antemão que o vocábulo jurisdição designa o próprio poder investido em determinada entidade para que a mesma possa, diante da sociedade, dizer com autoridade qual é o direito perante o caso concreto. b) Jurisdição como atividade: O exercício do poder de dizer o direito não se faz em apenas um ato. A resolução útil e aceitável de um conflito levado ao poder judiciário - ou a outro órgão que excepcionalmente detenha parcela do poder jurisdiciona l- exigirá a prática de uma série de atos, indiretamente relacionados à determinação de qual norma jurídica aplicável ao caso e a imposição dessa decisão. Assim, o juiz, ao atuar em determinado processo, presidindo-o e conduzindo-o, exercendo o poder da jurisdição, praticará em nome do Estado uma série de atos. A esse conjunto de atos próprios que exerce a jurisdição, constitui a atividade jurisdicional (MOUGENOT, 2011, p.48) Por ser a Jurisdição entendida como atividade do juiz, o qual tem por mister realizar os atos processuais e, por sua vez, impulsionar o processo adiante, na busca de um provimento final. c) Jurisdição como função A jurisdição é entendida como o poder do Estado de aplicar o direito objetivo a um caso concreto, com a finalidade de restaurar a paz social muitas vezes abalada pelo nascimento do litígio, por meio da solução justa dos conflitos de interesses que surgem na sociedade. 149 Ação Penal Capítulo 4 [...] a jurisdição mais do que um poder, ou uma atividade, figura também como serviço que obrigatoriamente deve ser disponibilizado a sociedade, que tem, assim, por sua vez, também o poder de invocar a manifestação do poder judiciário, seja diretamente, seja por meio de órgão que a representem, como o MP. Assim a jurisdição é igualmente uma função organizada em torno da finalidade que é fornecer soluções aos conflitos sociais (MOUGENOT, 2011, p.48). Ao poder judiciário cabe o exercício essencial do poder jurisdicional, porém este não é exclusivo. Em alguns casos, o legislador conferiu parcela da jurisdição a outros órgãos que não fazem parte do quadro do judiciário. Como nos casos de crimes de responsabilidade atribuídos a determinados agentes públicos. Apresenta-se como uma dessas conjecturas o processo de impeachment do Presidente da República, de competência do Senado Federal (art. 52, I, § único, da Constituição Federal). Insta salientar, também, a lei nº 9307, de 23 de setembro 1996 – Lei de Arbitragem, a qual tem como objetivo tratar de matéria extra penal, e prevê a possibilidade das partes recorrerem ao juízo arbitral para a solução de conflitos que não versem sobre direitos indisponíveis, valendo a sentença arbitral como titulo executivo judicial. Elementos da Jurisdição O poder jurisdicional compõe-se de uma série de poderes concretos do juiz, que lhe permitem interferir de maneira efetiva na esfera devida dos jurisdicionados, Assim nos ensina Mougenot (2011): • Cognitio ou notio é o poder atribuído aos juízes de conhecer o processo. Trata-se do poder atribuído ao juiz para que conheça o processo, isto é, determine a prática de atos que se oponham em contato com os fatos que compõem o litígio, para que possa aplicar o direito cabível a cada caso concreto, não só por meio da prolação de decisões de mérito, mas também exercendo o controle sobre a regularidade do processo, investigando a ocorrência dos pressupostos de existência da validade da relação processual, das condições de procedibilidade e das condições da ação (MOUGENOT, 2011, p. 49). • Vocatio significa chamamento, diz respeito às pessoas que fazem parte do processo, sendo eles partes integrantes do processo ou testemunhas; é o poder de fazer comparecer em juízo as pessoas cuja presença revela-se necessária ao andamento feito. A jurisdição mais do que um poder, ou uma atividade, figura também como serviço que obrigatoriamente deve ser disponibilizado a sociedade. 150 Direito Processual Penal • Coertio ou Coertitio é o poder de coação que o órgão jurisdicional possui quando houver algo que venha prejudicar o andamento processual; em síntese, é o poder de coação inerente ao processo, concretizado por meio da imposição de certas medidas que conferem eficácia aos provimentos judiciais. • Judicium consiste no poder de julgar determinando a qualificação jurídica dos fatos concretos a ele apresentados, de acordo com os mandamentos abstratos da lei. • Executio, o poder de fazer cumprir as sentenças ou acórdãos proferidos jurisdicionalmente. Princípios A atividade jurisdicional é informada por princípios próprios, específicos, que passamos a enumerar. Para seu maior aprendizado, pesquise, pois você irá encontrar muita coisa interessante. Atividade de Estudos: Pesquisar sobre: Princípios relativos à Jurisdição 1) Anote tudo o que se refere à sua pesquisa. Use, de preferência, lápis em lugar decaneta, para poder corrigir quando errar! Anote tudo, inclusive os nomes de livros, sem esquecer-se de anotar as referências básicas. a) Princípio do juiz natural ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 151 Ação Penal Capítulo 4 b) Princípio da Investidura ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ c) Princípio da Inércia ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ d) Princípio da Improrrogabilidade da jurisdição ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ e) Princípio da Indeclinabilidade ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 152 Direito Processual Penal ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ f) “Nula poena sine Iudicio” ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ “Explicaram-me, que o fracasso não precisa ser definitivo, e que, aliás, não existe fracasso, existem resultados”. Daniel Godri Algumas Considerações Neste capítulo estudamos sobre Ação, que é o direito que todo o cidadão brasileiro, por lei, tem de invocar para si a tutela jurisdicional, a fim de que o Estado, através de atos coordenados, faça valer a lei, iniciando-se, portanto, a lide penal. Quando o crime compreende uma relação jurídica entre o sujeito ativo e passivo em torno de um objeto jurídico, surge o direito de ação penal. O seu titular é, na grande maioria das vezes, o Ministério Público, podendo ser o Particular. O titular da ação nada mais quer do que invocar a proteção do Estado para que este, investido de seu poder, aplique de acordo com a lei, a solução oportuna, impondo ou não uma sanção ao sujeito do delito, dependendo da avaliação de todas as circunstâncias, sejam estas materiais ou processuais. Além de todo conteúdo abordado sobre ação, outros pontos que destacamos com primazia foram a Competência e a Jurisdição. Abriu-se espaço também para as modificações que ocorreram durante o passar dos anos. Porém, nosso objetivo maior foi promover a integração dos pós-graduandos, a partir de uma relação de troca, respeito, solidariedade e confiança, uma reflexão ininterrupta sobre tudo o que aconteceu, acontece, ou possivelmente acontecerá 153 Ação Penal Capítulo 4 na vida de cada indivíduo e de cada grupo social. Procuramos evidenciar um necessário posicionamento individual, construído a partir de uma visão crítica e ampla dos aspectos relevantes, capazes de promover, no âmbito coletivo, um movimento de consciência, reflexão e mudança. Referências ALVIM, ARRUDA. Manual de Direito Processual Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977. BARROS, Guilherme Freire de Melo. Estatuto da Criança e do Adolescente. Salvador: Juspodium, 2010. BONFIM, Edilson Mougenot. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Promulgada em 5 de outubro de 1988. Antonio Luiz de Toledo Pinto; Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Cespedes (Colab.). 32. Ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1940. Disponível em: < https:/www.planalto. gov.br /ccivil _03/Dcreto-Lei/Del 2848. htm >>. Acesso em 28 de fevereiro de 2012. BRASIL. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências.[Diário Oficial da União]. Brasília, 13 de julho de 1990. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá outras providências.[Diário Oficial da União]. Brasília, 26 de setembro de 1995. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 11.689 de 9 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 9 de junho de 2008. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 11.719 de 20 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto- Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos à suspensão do processo emendatio libeli, mutatio libeli e aos procedimentos https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br 154 Direito Processual Penal [Diário Oficial da União]. Brasília, 20 de junho de 2008. Disponível em: <https:// www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. CAPEZ, Fernando.Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. DEMERCIAN, Pedro Enrique; MALULY, Jorge Assaf. Curso de processo penal. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2001. GOMES, Luiz Flávio. Direito Penal, Parte Geral. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. V.2. GOMES, Ordeli Savedra. Código de Trânsito Brasileiro-Comentado e legislação Complementar. 6º ed. São Paulo: Jurua, 2011. GRECO FILHO, Vicente. Manual de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 1999. GRINOVER, Ada Pellegrini. Nulidades do Processo Penal. São Paulo: Atual 1997. ISHIDA, Válter Kenji. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2010. JESUS. Damásio E. de. Código penal anotado. 12. ed. São Paulo: Saraiva. 2002. LUCCHINI, Del Código Italiano Penal – en elementi di procedura penale. 3º ed. Florença, 1908. MACHADO, Angela C. Cangiano; JUNQUEIRA, Gustavo Octaviano Diniz; FULLER, Paulo Henrique Aranda. Elementos do Direito, Processo Penal. São Paulo: Premier Máxima, 2007. MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2006. _______. Código de Processo Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 2010. MOSSIM, Antônio Heraclito. Curso de Processo Penal. São Paulo: Atlas, 1998. PACHECO, Denílson Feitoza. Reforma Processual Penal: uma abordagem sistêmica. Rio de Janeiro: Impetus, 2008. PERRENOUD, Philippe. Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2009. TOURINHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. VENOSA, Silvio de Salvo. Novo Código Civil: Texto Comparado – Código Civil de 2002 e Código Civil de 1916. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004 https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br CAPÍTULO 5 Denúncia e Queixa A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Identificar os sujeitos que atuam na relação processual, compreendendo o funcionamento do Direito Penal e Processo Penal através de questionamentos à luz da ética, do ordenamento jurídico pátrio e do Direito Comparado. � Compreender criticamente a necessidade de adquirir competências para que seja possível solucionar com êxito as questões-problema apresentadas durante as atividades. � Aplicar os conhecimentos e a técnica adquiridos, tornando-se capaz de servir o ordenamento jurídico processual na defesa da ordem e paz social. � Compreender as recentes alterações legislativas na área do Direito Processual Penal e Direito Penal, com a complementação de novos conhecimentos, em nível doutrinário e jurisprudencial. � Valorizar as habilidades e competências adquiridas, posicionando-se adequadamente sobre os casos acadêmicos e concretos que a vida irá apresentar em sua fase laboral. 157 Denúncia e Queixa Capítulo 5 Contextualização “A experiência do passado e de nossos próprios dias demonstra que a justiça não basta por si só, e que até pode levar à negação e à própria ruína se não se permite a esta força mais profunda, que é o amor, configurar a vida humana em suas dimensões.” João Paulo II O objeto desse capítulo, além de compreender criticamente a necessidade de adquirir competências, é a solução, com êxito, das questões-problema apresentadas durante a atividade laboral. É aplicar os conhecimentos e a técnica até aqui adquiridas, tornando-se capaz de servir ao ordenamento jurídico processual na defesa da ordem e da paz social. Partindo desse pressuposto, daremos início a este novo capítulo através de variadas formas de estudo, discussões e debates acerca da temática proposta. O objetivo é orientar você, Pós Graduando(a), no que se refere ao processo penal, bem como aos atos processuais cientificadores, que são aqueles que tratam da citação, intimação e notificação, além da modificação do disposto entre os artigos 351 e 372 do CPP, com a reformulação dos procedimentos operada pelas leis nº 11.689/2008 e nº 11.719/2008. Processo Penal: Atos Processuais Informa-se, de início que os fatos jurídicos são uma declaração que se traduz num ato de vontade destinado a provocar uma consequência jurídica. Contudo, são os acontecimentos que modificam, criam ou extinguem uma situação jurídica. Porém, quando o fato estende seus efeitos sobre o processo, fala-se em fato processual, como se vislumbra da lição de Mirabete: Quando os fatos que apresentam relevância jurídica consistem em uma ação humana, que se traduz por declaração de vontade, destinada a provocar uma consequência jurídica, passam eles à categoria de atos jurídicos. Quando este ato jurídico é praticado para criar, modificar ou extinguir direitos processuais é então denominado de ato processual. É ele, portanto, uma espécie do gênero do ato jurídico. É o que ocorre com o oferecimento da denúncia, o depoimento da testemunha, a sentença do juiz (MIRABETE, 2004, p. 88). Informa-se, de início que os fatos jurídicos são uma declaração que se traduz num ato de vontade destinado a provocar uma consequência jurídica. Quando este ato jurídico é praticado para criar, modificar ou extinguir direitos processuais é então denominado de ato processual. 158 Direito Processual Penal O direito, por sua vez, somente pode ser acionado no momento em que este é violado e se faz conforme descrito nos códigos de processo. No que se refere aos atos processuais, estes são considerados condutas praticadas pelos operadores do direito, juízes, representantes do ministério público, advogados e servidores do Poder Judiciário, tudo para o devido andamento do processo. Ao ato processual específico dá-se o nome de procedimento. Por sua vez, enfatiza Mougenot: Ato processual é aquele praticado com o fim de gerar efeitos no processo. Podem os atos processuais ser classificados em atos das partes e atos jurisdicionais. Os atos das partes subdividem-se em postulatórios – são aqueles que têm por escopo obter a solução de uma questão processual ou do mérito da causa; dispositivos – caracterizam-se como dispositivos atos de concessão, como se verifica, por exemplo, na conciliação prevista no procedimento dos crimes contra a honra (art. 520 do CPP), ou ainda, na audiência preliminar de composição dos danos no âmbito dos juizados especiais criminais (art. 72 da Lei n.9099/95); instrutórios consistem na atividade probatória, tendente a levar o juiz ao estado de certeza; ou reais – consubstanciam-se na entrega de determinada coisa, como, por exemplo, a prestação de garantia real de cumprimento das obrigações processuais. Já os atos jurisdicionais dividem-se em despachos e decisões (MOUGENOT, 2011, p. 499 e 500). Atos das Partes Visto ser o ato processual aquele praticado com o fim de gerar efeitos no processo, estes podem ser classificados em atos das partes e atos jurisdicionais. Os atos das partes, por sua vez, subdividem-se em: • Atos Postulatórios – ocorrem quando a parte procura obter do juiz um pronunciamento do mérito da causa ou resolução. É o pedido de tutela jurisdicional do Estado de um direito próprio descrito em lei. “São aqueles que têm por escopo obter a solução de uma questão processual ou do mérito da causa” (MOUGENOT, 2011). • Atos Probatórios - são provas reais que se manifestam por fatos, como documentos e fiança. Consiste na atividade probatória, tendente a levar o juiz ao estado de certeza: ou reais – consubstanciam-se na entrega de determinada coisa, como por exemplo, a prestação de garantia real de cumprimento das obrigações processuais (fiança) (MOUGENOT, 2011). Visto ser o ato processual aquele praticado com o fim de gerar efeitos no processo, estes podem ser classificados em atos das partes e atos jurisdicionais. 159 Denúncia e Queixa Capítulo 5 • Atos Dispositivos ou de Acusação - são o direito de pedira tutela jurisdicional. Caracterizam-se como dispositivos atos de concessão, como se verifica, por exemplo, na conciliação prevista no procedimento dos crimes contra a honra (art.520 do CPP), ou ainda na audiência preliminar de composição dos danos no âmbito dos Juizados Especiais Criminais (MOUGENOT, 2011). Como visto anteriormente, no tracejado por Mougenot, os atos jurisdicionais são aqueles emanados do poder jurisdicional, abrangendo o descrito a seguir. Classificação dos Atos Jurisdicionais Os atos praticados pelo juiz no curso do processo podem ser classificados, de acordo com seu objeto, em: a) Despachos Como exemplo de despacho temos a determinação do magistrado para que expeça um ofício comunicando a decisão proferida, ou ordem à serventia, para que retifique determinada irregularidade formal nos processos. No que se refere aos atos praticados pelo juiz no curso de processo, Mougenot os classifica da seguinte maneira: Os despachos são pronunciamentos do juiz com vistas à movimentação do processo, também chamados de despachos de mero expedientes. Caracterizam-se por não conter carga decisória, no sentido de que não representam decisões acerca de questões e pedidos deduzidos pelas partes. Quando, por sua realização indevida ou imperfeita, implicarem tumulto processual ou constituírem erro no procedimento podem ser atacados por meio de correição parcial, que é a medida administrativa disciplinar adequada (MOUGENOT, 2011, p. 500). b) Decisões Têm por conteúdo um julgamento acerca do próprio mérito da causa. Os atos decisórios é que são, propriamente, expressões do poder jurisdicional investido nas autoridades judiciárias. Constituem exemplos de decisão o ato do juiz que indefere, por impertinente, a produção de uma prova e o ato por meio do qual o juiz indefere a Têm por conteúdo um julgamento acerca do próprio mérito da causa. 160 Direito Processual Penal denúncia, dando por inepta a sentença. As decisões classificam-se, no que se refere à finalidade, ao objeto e ao órgão prolator, em: a) Sentenças – decisões que tem como finalidade encerrar o processo. Desta forma, tanto constitui sentença a decisão que indefere liminarmente a denúncia, por um dos casos previstos no art.395 do CPP, extinguindo o processo sem o julgamento do mérito, como a decisão que condena o réu a sansões previstas na lei penal, extinguindo o processo e julgando o mérito. b) Interlocutórias – são atos pelos quais o juiz decide com o processo ainda em curso. A decisão interlocutória, porém, não põe fim ao processo, diferente da sentença. Atividade de Estudos: 1) Assinale a alternativa correta: I - Se o acusado, citado por edital, não comparecer, mas constituir advogado, ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional. II - Na hipótese de citação por edital e o réu for revel, poderá o juiz determinar a produção antecipada de provas urgentes, mas não poderá decretar a prisão preventiva do acusado. III - Se o réu comparecer no curso do processo, deverão novamente ser produzidos os atos processuais já praticados. A) Todos os itens estão corretos. B) Todos os itens estão incorretos. C) Apenas os itens I e II estão corretos. D) Apenas o item I está correto. E) Apenas o item III está correto. 2) Cite as classificações das decisões quanto ao objeto e quanto ao órgão prolator. Organize o seu plano de pesquisa. As perguntas básicas você mesmo responderá. O único responsável pela tarefa é você. É preciso estar organizado para obter dados na doutrina e interpretá-los e, assim, elaborar suas próprias conclusões. I) Decisões interlocutórias: São aquelas que envolvem uma solução para uma questão surgida no curso do processo. Podem ser de dois tipos: 161 Denúncia e Queixa Capítulo 5 a) Decisões interlocutórias simples: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Decisões interlocutórias mistas: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ II) Decisões definitivas ou sentenças: por meio destas o juiz põe fim ao processo, julgando o mérito da causa que, é a pretensão punitiva do Estado, no que se refere ao processo penal. Explique-as: a) Sentenças absolutórias: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Sentenças condenatórias: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 162 Direito Processual Penal c) Decisões definitivas em sentido estrito ou terminativas de mérito: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Quanto ao órgão prolator: a) Subjetivamente simples: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ b) Subjetivamente plúrimas: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ c) Subjetivamente complexas: ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 163 Denúncia e Queixa Capítulo 5 O princípio do contraditório, consagrado no art. 5º LV da CF de 1988, nosmostra a necessidade de dar a conhecer a ação, e de todos os atos do processo, à parte. De outro lado, apresenta a possibilidade de as partes reagirem aos atos que lhe sejam desfavoráveis, o que fundamenta a comunicação dos atos processuais. Esta comunicação se dá através da citação e da intimação e da notificação. Citação É o ato pelo qual o acusado é chamado a juízo, a fim de acompanhar o processo e se defender. Apesar de o processo ter o seu início com o recebimento da denúncia ou queixa, a relação processual somente se completará com a citação do acusado. A citação é, na verdade, o chamado a juízo para que o acusado se defenda na ação. E no dizer de Marques (2003), é o ato processual com o que se dá conhecimento ao réu da acusação contra ele intentada, a fim de que possa defender-se e vir integrar a relação processual. Nna visão de Fenando Capez, “citação é ato oficial pelo qual, no início da ação, se dá ciência ao acusado de que contra ele se movimenta essa ação, chamando-o a vir a juízo, para se ver processar e fazer a sua defesa” (CAPEZ, 2011, p. 553). A ausência de citação válida gera nulidade absoluta (art. 564, III, e), a qual pode ser sanada pelo comparecimento espontâneo do réu a juízo. Como regra geral, a citação é feita por mandado, por meio de oficial de justiça, desde que o acusado esteja no território da comarca. O posicionamento doutrinário sobre a citação vislumbra que a mesma deve ser realizada com antecedência para que o réu possa preparar sua defesa. Se estiver o acusado fora do território da comarca e dentro do território nacional, a citação será feita por carta precatória. Estando o réu no exterior, a citação será feita por meio de carta rogatória. Se o acusado citado por edital não comparecer nem constituir advogado, o processo e o prazo prescricional ficarão suspensos, podendo o juiz determinar a produção antecipada de provas consideradas urgentes. Mougenot (2011) enfatiza que citação é o ato de comunicação Se o acusado citado por edital não comparecer nem constituir advogado, o processo e o prazo prescricional ficarão suspensos, podendo o juiz determinar a produção antecipada de provas consideradas urgentes. 164 Direito Processual Penal processual por meio do qual se dá ciência ao réu da ação penal, chamando-o a juízo para que ofereça sua defesa. É a in jus vocatio. A ausência de citação válida gera nulidade absoluta (art. 564, III, e CPP) e esta, por sua vez, pode ser sanada pelo comparecimento espontâneo do réu a juízo (art. 570 CPP). Por ser um ato indispensável, a citação dá início à relação processual e é, por sua vez, imperativo do contraditório. O art. 360 do CPP anteriormente dispunha que “se o réu estiver preso será requisitada a sua apresentação em juízo no dia e hora designados”. Esta redação gerava dúvidas sobre a necessidade de citar o réu requisitado. A requisição diz respeito ao ato entre juiz e a autoridade administrativa. A citação é a forma pela qual se opera a transmissão da precisa ciência dos termos da acusação, para então possibilitar-se a defesa. Representa a comunicação entre o juízo e o acusado, estabelecendo o chamamento ao processo (RTJ 106/ 564). A nova redação, dada pela Lei n.10792, de 1º de dezembro de 2003, dispondo do art. 360 do CPP, é enfático: “se o réu estiver preso, será pessoalmente citado”. • A Citação pode ser: – Real ou pessoal, quando realizada pessoalmente contra o acusado, através do mandado por oficial de justiça, por precatória ou rogatória. – Por carta de ordem corresponde à citação do Tribunal para o juiz inferior. Citação por carta de ordem é aquela determinada pelos tribunais. É ela que requisita ao juízo de primeira instância que este realize a citação do réu que se encontra em sua comarca. – Por requisição: o artigo 358 do CPP diz que a citação do militar será feita por intermédio do chefe do respectivo serviço. Deverá o militar ser requisitado para então, comparecer em juízo. Após a alteração do art. 360 do CPP, a citação do réu deverá ser feita pessoalmente. Veja: a) Citação por mandado: quando o réu encontra-se na circunscrição do juiz. Os requisitos do mandado encontram-se disciplinados no art. 352 do CPP. Observa-se o conhecimento da imputação, com a entrega da contrafé, ou seja, cópia da inicial e a menção ao dia e hora do interrogatório. Verifica-se a garantia do princípio da ampla defesa. Por ser um ato indispensável, a citação dá início à relação processual e é, por sua vez, imperativo do contraditório. 165 Denúncia e Queixa Capítulo 5 b) Citação por carta precatória: esta ocorre em local fora da jurisdição do magistrado competente. A carta precatória deverá conter os elementos descritos no art. 354 do CPP. O oficial de justiça há de agir com zelo para o cumprimento do mandado. Verificado que o réu encontra-se em outra jurisdição, o próprio juiz deprecado determinará a remessa ao juízo competente. Se houver urgência, poderá haver expedição por via telegráfica ou por fax. Na lição de Mougenot; Realizada a citação, a precatória será devolvida ao juízo deprecante, independentemente de translado. Certificado pelo oficial de que o réu se oculta para não ser citado, devolver- se-á precatória ao juízo deprecante, para que o réu seja citado por edital (art. 355, § 2º). Diz-se a precatória itinerante quando o juízo deprecado remete os autos a outro juízo para a efetivação da diligência, ao verificar a possibilidade de o réu aí se encontrar (art. 355 § 1º). “A carta tem caráter itinerante; antes ou depois de lhe ser ordenado o cumprimento, poderá ser apresentada a juízo diverso do que dela consta, a fim de se praticar o ato” (MOUGENOT, 2011, p. 505). c) Citação por carta rogatória: se o réu estiver no estrangeiro, desde que em lugar sabido. Para a consecução do ato, utilizam–se as vias diplomáticas, através do Ministério da Justiça. Por ser um ato de soberania, a carta rogatória será cumprida no estrangeiro, de acordo com a legislação processual penal daquele país. Insta salientar que, por convenção entre países, acaba-se aceitando a inviolabilidade da legação, o que não implica a aceitação de que se trata de território estrangeiro. Contudo, com o advento da Lei n.11.900/09, a emissão da carta rogatória se tornou medida excepcional, porquanto só será expedida depois de demonstrada sua imprescindibilidade. d) A citação ficta: é aquela realizada por edital ou por hora certa. Presume-se o conhecimento do acusado de que este está sendo chamado a juízo. Vale dizer que a Lei nº 11.719/2008, alterando o art. 362 do Estatuto, introduziu esta espécie de citação no crime. Ainda não se admite, no processo penal, a citação por meio eletrônico. De modo análogo, sustenta Mougenot que caberá a citação por edital se o réu não for encontrado. O prazo será de 15 dias e, sobre a lei, menciona: A lei n. 11.719/2008 revogou as demais hipóteses de citação por edital, transformando a citação do réu que se ocultava A citação ficta: é aquela realizada por edital ou por hora certa. Presume-se o conhecimento do acusado de que este está sendo chamado a juízo. Citação por carta precatória: esta ocorre em local fora da jurisdição do magistrado competente. Citação por carta rogatória: se o réu estiver no estrangeiro, desde que em lugar sabido. 166 Direito Processual Penal para não ser citado- antes editalícia em citação com hora certa. Contudo, esqueceu-se o legislador de revogar o art. 364, que prevê os prazos para as demais citações que ensejavam a citação por edital, de modo que o dispositivo não mais encontra aplicação ( MOUGENOT, 2011p. 506). Citação por edital se faz por meio de aviso ou publicação no diário oficial do poder judiciário e afixado na sede do juízo, na entrada do prédio do foro. Não é admitida nos juizados especiais criminaisem razão do princípio da celeridade. A citação por edital, usualmente, é feita quando réu não é encontrado, porém inclui as hipóteses de locais inacessíveis como epidemias, guerra ou força maior. Denomina- se citação ratione loc. A expressão “local ignorado” é aquele absolutamente não sabido e incerto (quando não se tem informação alguma), ou pode ser relativamente não sabido (conhece-se a rua, porém o número é inexistente). A prescrição é suspensa da data da decisão do juiz até o tempo correspondente à prescrição do crime em abstrato. Porém, não há suspensão do processo quando se tratar de crime de lavagem de dinheiro, por expressa disposição do § 2º do art. 2º da lei nº 9.613/98. Vale lembrar que a Citação por hora certa, art. 362 do CPP, introduzida pela Lei nº 11.719/2008 tem origem no Processo civil. É modalidade de citação ficta, pois não existe certeza se o agente criminoso tomou conhecimento da mesma, como já se disse. Ela ocorre quando se constata que o réu está se ocultando, para evitar a citação. Se o réu não comparecer, ser-lhe-á nomeado defensor dativo, prosseguindo o processo à revelia. A nova redação da Lei nº 11.719, de 20/06/2008, gerou graves efeitos processuais ao acusado. Com o novo sistema, o acusado poderá ser processado e ao final condenado sem que tenha efetivamente tomado ciência da ação penal contra ele ajuizada. Assevera Mougenot: Com a nova regulamentação do procedimento do júri (Lei n. 11.689, de 9. 6.2008), não é mais necessária a intimação pessoal do acusado da sentença de pronúncia, e inexistindo a obrigação o réu está presente em sessão plenária, poderá ele sofrer gravíssima condenação, ainda que alheio à ação penal contra si instaurada. A evidência poder-se-á argumentar que o processo assim instaurado afronta o princípio da plenitude de defesa insculpido no art. 5º, XXXVIII, a, da Constituição Federal. O legislador, contudo uma vez mais contrapôs um direito fundamental do cidadão, insculpido nos princípios da ampla defesa e do contraditório, e um interesse basilar da sociedade, Citação por edital se faz por meio de aviso ou publicação no diário oficial do poder judiciário e afixado na sede do juízo, na entrada do prédio do foro. A prescrição é suspensa da data da decisão do juiz até o tempo correspondente à prescrição do crime em abstrato. 167 Denúncia e Queixa Capítulo 5 qual seja da pronta eficaz intervenção estatal na apuração e julgamentos dos delitos (MOUGENOT, 2011, p. 509). Atividade de Estudos: 1) Percebendo que o réu está se ocultando para não ser citado em ação penal, deverá o Magistrado: A) Ordenar a citação por hora certa. B) Decretar a prisão preventiva do acusado. C) Anotar tal circunstância e julgar prejudicada a citação por este motivo. D) Determinar a citação por edital. 2) Assinale a alternativa correta. A) Se o réu for citado pessoalmente e não comparecer para o interrogatório marcado, nem constituir defensor, o juiz suspenderá o processo e o curso do prazo da prescrição. B) A intimação de réu preso da sentença condenatória pode ser feita através de seu defensor constituído. C) A notificação e a intimação podem ser efetuadas por despacho do juiz na própria petição em que forem requeridas. D) A citação do acusado no estrangeiro é feita por carta rogatória, suspende o curso do prazo de prescrição. Intimação e Notificação A intimação é a ciência dada à parte, no processo, da prática de um ato, despacho ou sentença. Por conseguinte, intimação é a comunicação de um ato processual que já foi feito, já a notificação é a comunicação de um ato processual futuro, ou seja, a audiência que 168 Direito Processual Penal vai ser realizada. Para muitos doutrinadores, na prática possuem pouca diferença, têm o mesmo objetivo: conhecimento do ato processual. Ainda sobre a distinção entre intimação e notificação, utilizamos o argumento de Mougenot: Intimação é a comunicação de ato processual já praticado. Ex.: réu intimado da sentença. A notificação por sua vez, é a comunicação para que se pratique determinada conduta. Ex.: testemunha notificada para comparecer em juízo. Código de Processo Penal utiliza no sentido acima explicitado os termos ‘intimação’ e ‘notificação’, razão pela qual se torna sem importância tal classificação. Na prática forense costuma- se utilizar somente o termo intimação abrangendo, assim, a notificação (MOUGENOT, 2011, p. 509 e 510). CONSIDERE: INTIMAÇÃO – ATO PASSADO. EX.: INTIMAÇÃO DA SENTENÇA. NOTIFICAÇÃO – ATO FUTURO. EX.: NOTIFICAÇÃO PARA COMPARECIMENTO A UMA AUDIÊNCIA. NO CPP, USA-SE INTIMAÇÃO. NA PRÁTICA, SÃO UTILIZADOS COMO SINÔNIMOS. No que se refere às formas, estas devem ser devidamente observadas, no que couber àquelas aplicáveis à citação, art. 370 do CPP e, por conseguinte, às formas especiais dos artigos 390/392 e 413/415 do Código Processo Penal. a) O artigo 370 do CPP caput, determina que as intimações tenham como meta aplicar, no que couberem, as disposições atinentes ao Capítulo que trata da Citação. b) São intimados pessoalmente o Ministério Público e o Defensor Nomeado (art. 370, §4º, do CPP), e o Defensor Público (HC nº 84.747/ SP. REL. Ministro Gilmar Mendes). As intimações ao órgão do Ministério Público serão sempre pessoais, como já fora estudado anteriormente no art. 370, § 4º, do CPP. Sob a égide da Lei nº 8625/93, art. 41 IV, prevê que constitui prerrogativa do membro do parquet receber intimação pessoal em qualquer processo e grau de jurisdição, através da entrega dos autos com vista. Na jurisprudência (inclusive do STF, 1ªT., HC83. 821 - SP, Intimação é a comunicação de ato processual já praticado. Ex.: réu intimado da sentença. A notificação por sua vez, é a comunicação para que se pratique determinada conduta. 169 Denúncia e Queixa Capítulo 5 Relator. Ministro Joaquim Barbosa. j. 1º. 6. 2004) prevalece o entendimento de que a fluência do prazo para o Ministério Público começa a partir do recebimento dos autos na instituição e não da data em que o promotor apõe o seu “ciente” nos autos (STF, HC 83255/SP, Pleno, Relator Marco Aurelio, j. 5.11.2003, DJ, 12.3.2004 p. 38) (MOUGENOT, 2011, p. 510). Verifica-se que os defensores nomeados também são intimados pessoalmente. Trata-se de nulidade absoluta quando há falta de intimação à pessoa do defensor público ou Dativo da seção de julgamento do recurso de apelação. Contudo, o STJ decidiu que resta convalidada a nulidade pelo instituto da preclusão quando o defensor dativo silenciar-se por longo tempo acerca da falta de intimação da pauta de julgamento (STJ, HC 101.703/SP, 5ª T. Relator Napoleão Nunes Maia Filho, j. 19.11.2009, DJe, 15.12.2009). (MOUGENOT, 2011, p. 510). Por seu turno, Mougenot ressalta ainda: A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do assistente é feita por publicação do Diário da Justiça, devendo-se obrigatoriamente incluir o nome do réu. Caso não haja imprensa oficial na comarca, deverá o escrivão por mandado, via postal com aviso de recebimento ou qualquer outro meio idôneo, proceder à intimação. Com a criação dos diários da justiça eletrônicos pela Lei n.11.419, de 19 de dezembro de 2006 as intimações pela imprensa oficial dar-se- ão da seguinte forma: a data da publicação será o primeiro dia útil seguinte ao da disponibilização da informação Diário da Justiça Eletrônica (art. 4º, § 3º) e os prazos processuais terão início no primeiro dia útil seguinte ao considerado como data da publicação (MOUGENOT, 2011, p. 510 e 511). Em função disto, temos que a intimação de uma decisão, se for disponibilizada no Diário da Justiça em uma segunda-feira, dia útil, será considerada como dia da publicação a terça-feira subsequente, se for dia útil, iniciando-se o prazo para a prática do ato a partir da quarta-feira, também sefor dia útil. Atividade de Estudos: Coloque V para as alternativas verdadeiras e F para as falsas: ( ) Ato processual é usado para constituição, desenvolvimento, modificação e extinção da relação processual. Trata-se de nulidade absoluta quando há falta de intimação à pessoa do defensor público ou Dativo da seção de julgamento do recurso de apelação. 170 Direito Processual Penal ( ) Citação é o ato processual que dá conhecimento ao réu da acusação. ( ) Citação por hora certa é permitida pela reforma processual penal de 2008 no art. 362 do CPP na hipótese de ocultação. ( ) Intimação é a comunicação de ato processual futuro. Algumas Considerações Os atos processuais até aqui estudados são todos jurídicos e praticados no processo e, de uma forma ou de outra, auxiliam para a melhor prestação jurisdicional. Constatou-se que podem ser praticados pelas partes (postulatórios, instrutórios, reais e dispositivos), pelos juízes (atos decisórios, instrutórios e de documentação), pelos auxiliares da justiça (atos de movimentação, de documentação e de execução) e por terceiros (interessados direta ou indiretamente). Por conseguinte, dentre outros pontos tracejados ao longo deste capítulo, compreendeu-se que as mudanças na legislação processual são inúmeras e relevantes, permitindo-nos observar que a prática forense determinará novas leituras e novas interpretações dos dispositivos ora enfocados. Referências BONFIM, Edilson Mongenot. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988: Promulgada em 5 de outubro de 1988. Antonio Luiz de Toledo Pinto; Márcia Cristina Vaz dos Santos Windt e Livia Cespedes (Colab.). 32. Ed. São Paulo: Saraiva, 2005. BRASIL. Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. [Diário Oficial da União]. Rio de Janeiro, 31 de dezembro de 1940. Disponível em: < https:/www.planalto. gov.br /ccivil _03/Dcreto-Lei/Del 2848. htm >>. Acesso em 28 de fevereiro de 2012. 171 Denúncia e Queixa Capítulo 5 BRASIL. Lei nº 9.613 de 3 de março de 1998. Dispõe sobre os crimes de “lavagem” ou ocultação de bens, direitos e valores; a prevenção da utilização do sistema financeiro para os ilícitos previstos nesta Lei; cria o Conselho de Controle de Atividades Financeiras - COAF, e dá outras providências.[Diário Oficial da União]. Brasília, 3 de março de 1998. Disponível em: <https://www.planalto.gov. br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 10.792 de 1º de dezembro de 2003. Altera Lei nº 7.210 de 11 de junho de 1984 – Lei de Execução Penal e o Decreto Lei nº 3.689 de 3 de outubro de 1941– Código de Processo Penal, e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 1º de dezembro de 2003. Disponível em: <https://www.planalto. gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 11.689 de 9 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto- Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos ao Tribunal do Júri, e dá outras providências. [Diário Oficial da União]. Brasília, 9 de junho de 2008. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 11.719 de 20 de junho de 2008. Altera dispositivos do Decreto- Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, relativos à suspensão do processo emendatio libeli, mutatio libeli e aos procedimentos [Diário Oficial da União]. Brasília, 20 de junho de 2008. Disponível em: <https:// www.planalto.gov.br>. Acesso em 1º de março de 2012. BRASIL. Lei nº 11.900 de 8 de janeiro de 2009. Altera dispositivos do Decreto- Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal, para prever a possibilidade de realização de interrogatório e outros atos processuais por sistemas de videoconferência, e dá outras providências.[Diário Oficial da União]. Brasília, 8 de janeiro de 2009. Disponível em: <https://www.planalto.gov. br>. Acesso em 1º de março de 2012. CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. GRINOVER, Ada Pellegrini. Nulidades do Processo Penal. São Paulo: Atual, 1997. JESUS. Damásio E. de. Código penal anotado. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2002. MARQUES, José Frederico. Elementos de Direito Processual Penal. Campinas: Millennium Editora, 2003. v.II. https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br https://www.planalto.gov.br 172 Direito Processual Penal MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo Penal. São Paulo: Atlas, 2006. _______. Código de Processo Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 2010. PERRENOUD, Philippe. Novas Competências para Ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2009. TOURINHO, Fernando da Costa. Processo Penal. São Paulo: Saraiva, 2011. VENOSA, Silvio de Salvo. Novo Código Civil: texto comparado – Código Civil de 2002 e Código Civil de 1916. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2004 CAPÍTULO 6 Provas Penais A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: � Identificar os diversos aspectos que envolvem a atividade forense, situando- os no contexto da realidade atual. � Utilizar raciocínio lógico e analítico para persuadir e desenvolver a reflexão critica. � Argumentar e solicitar decisões embasadas na Jurisprudência e Doutrina. � Analisar as provas em espécies. � Identificar prova inominada. 175 Provas Penais Capítulo 6 Contextualização A questão cujo estudo se propõe neste capítulo refere-se ao estudo da Teoria da Prova no Ordenamento Jurídico brasileiro, objetivando destacar os principais elementos que gravitam em torno deste instituto. Apresenta-se breve tracejo sobre a codificação da Prova no Direito Processual Penal no Brasil, prosseguindo-se a análise conceitual desta categoria operacional, passando-se ao estudo de seus objetivos, classificações, finalidades, meios e ônus da prova. No decorrer e final deste capítulo serão abordados os procedimentos probatórios, sistemas de apreciação e das provas em geral. Da Prova A expressão prova vem do latim probatio e tem como finalidade produzir um estado de certeza na consciência e mente do juiz, para sua convicção a respeito da existência ou inexistência de um fato, ou da verdade ou falsidade de uma afirmação sobre uma situação de relevância jurídica. Deve ser produzida dentro do processo, na instrução perante o juiz, conforme o sistema de livre apreciação das provas. Isso não impede, entretanto, que algumas delas sejam realizadas perante outras autoridades. Ex.: oitiva de testemunhas por precatória. Como descreve Mougenot (2011, p.347), “a prova é o instrumento usado pelos sujeitos processuais para comprovar os fatos da causa, isto é, aquelas alegações que são deduzidas pelas partes como fundamento para o exercício da tutela jurisdicional”. Assevera ainda que no Direito brasileiro, é necessário, num primeiro momento, descobrir os vários significados deste vocábulo, razão pela qual a prova pode ser entendida e assim conceituada: Atividade realizada, em regra, pelas partes, com o fim de demonstrar a veracidade de suas alegações (ex.: reconhecimento pessoal de “X”pela testemunha, observando o disposto no art. 226 do CPP); os meios ou instrumentos utilizados para a demonstração da verdade de uma afirmação ou existência de um fato (ex.: o réu apresenta atestado médico-documento, comprovando que no dia Y, horário Z, foi submetido a exames); o resultado final da atividade probatória, ou seja, a certeza ou convicção que surge no espírito de seu destinatário. 176 Direito Processual Penal Verifica-se, então o motivo pelo qual muitos dos doutrinadores falam em “conceitos” de prova, e não em “conceito”(singular). A prova tem por finalidade convencer o juiz quanto à existênciado que as partes alegam. Objeto da Prova Sabe-se que o processo é uma atividade voltada à ação ou resultado de um objetivo, o qual é a aplicação do direito e a consequente obtenção da paz social. Nesse contexto, verifica-se que a prova se disciplina, também, por regras e princípios, segundo alguns critérios. • Deve demonstrar, ou seja, é tudo o que o juiz deve adquirir para o conhecimento e convencimento necessário à resolução do litígio. • O juiz penal não está obrigado a admitir o que as partes afirmam, uma vez que lhe é dado indagar sobre tudo o que lhe pareça dúbio e suspeito. • O julgador deve procurar a verdade dos fatos tais como ocorreram historicamente e não de acordo apenas com a vontade das partes. • Independem de prova os Fatos Notórios, que são aqueles cujo conhecimento integra a cultura normal, a informação do indivíduo de determinado meio. Constitui objeto de prova, portanto, todos os fatos que devem ser demonstrados em juízo e podem influir na decisão da causa. No processo penal, não precisam ser provados: a) Os fatos notórios b) As presunções absolutas (iuris et de iure) c) As máximas de experiência d) Os fatos intuitivos ou evidentes e) Os fatos inúteis ou irrelevantes As presunções relativas admitem prova em contrário. Não se confunde a notoriedade do fato com o conhecimento do juiz, nem com a vox publica, o conhecimento de um número indeterminado de pessoas. Sobre o assunto leciona Mougenot: 177 Provas Penais Capítulo 6 Excepcionalmente, os fatos não precisam ser provados quando são notórios. Daí a máxima “notória non egent probatione” (o notório e o evidente não precisam de prova). Os fatos notórios são os que fazem parte da nossa cultura, de conhecimento comum do homem médio de determinada sociedade. No entanto, não podemos confundir notoriedade do fato com o conhecimento do mesmo pelo juiz, uma vez que este pode conhecer fato que não seja notório. Não se pode confundir igualmente notoriedade com a opinião de numero indeterminado de pessoas (Vox publica)que pode estar baseada em boatos, rumores infundados frutos da crendice popular. Presumir é tomar como verdadeiro um fato, independentemente de prova, levando-se em conta aquilo que em geral acontece. Distingui-se da presunção absoluta (juris et de jure), que não admite a prova em contrário, da presunção relativa (juris tantum) que pode ser afastada quando há prova que a contradiz. Quanto seu efeito ou valor • Direta: demonstra o fato de forma ime- diata • Indireta: ao contrário da direta, afirma por dedução ou indução a existência do fato que busca provar • Real: surge de coisa ou objeto – vestí- gios deixados pelo crime • Pessoal: procede da manifestação cons- ciente do individuo Quanto ao sujeito ou causa • Testemunhal: afirmação pessoal • Documental: feita por prova escrita ou gravada • Material: consiste em qualquer tipo de materialidade que convença o juiz sobre o fato Quanto à forma • Plena: conduz a um estado de certeza do juiz • Não Plena: Não é suficiente por si mesma para completar a convicção da veracidade de um fato Quanto seu efeito ou valor 178 Direito Processual Penal Não há limitação dos meios de provas. Na busca da verdade material, os requisitos da prova se reduzem ao mínimo de modo que as partes possam utilizar-se dos meios de prova com ampla liberdade. Como descreve Bonfim, (2010, p.352) ”meio de prova é todo o fato, documento ou alegação que possa servir, direta ou indiretamente, a busca da verdade real dentro do processo. É o instrumento utilizado pelo juiz para forma a sua convicção acerca dos fatos alegados pelas partes”. O conceito de verdade real merece atenta análise, pois tem-se que esta é essencialmente utópica e frágil, ante a consideração necessária da verdade oriunda das provas obtidas no processo, o que corresponde à verdade formal. Prevê o parágrafo único do art. 155 do CPP que no processo penal brasileiro somente quanto ao estado das pessoas (casamento, menoridade, filiação, cidadania) serão observadas as restrições no que tange às provas estabelecidas na lei civil. São inadmissíveis as provas que sejam incompatíveis com os princípios de respeito ao direito de defesa e à dignidade humana, os meios cuja à utilização se opõe às normas reguladoras do direito que, com caráter geral, regem a sociedade. Entre os meios de prova admitidos estão as perícias, o interrogatório, a confissão, as testemunhas, os documentos. Em regra geral, provam-se apenas fatos. Pode o juiz exigir a prova do teor e da vigência de direito municipal, estadual ou estrangeiro. Assevera Mougenot em seu conteúdo de processo penal que: O art. 332 do CPC dispõe que “todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste código, são hábeis para provar a verdade dos fatos em que se funda a ação ou a defesa”. Os meios de prova, desta forma, podem ser os tipificados em lei ou os moralmente legítimos, sendo estes denominados provas inominadas. São exemplos de meios de prova: a perícia local do crime(art. 169 do CPP), a confissão (art. 197 do CPP) e o depoimento do ofendido (art. 201 do CPP). Não se admite as provas ilícitas, como a interceptação de correspondência, a escuta telefônica ou a busca domiciliar sem a presença dos requisitos legais. (art.5º,LVI, da Constituição Federal). Vale lembrar a corriqueira expressão do requerimento em petição: “todos os meios de prova em direito admitidos”. Porém, a própria Carta Magna de 1988 estabelece que são inadmissíveis no processo as provas obtidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI). 179 Provas Penais Capítulo 6 O instituto que rege a prova ilegítima sempre existiu, posto que, em se tratando de prova obtida ou introduzida no processo com violação de norma processual, esta sujeita a decretação de nulidade. Em relação às provas derivadas das ilícitas, serão admitidas as provas em que o nexo de causalidade entre a ilícita e a derivada não seja evidente. Ou quando as derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras, ou seja, a prova derivada inevitavelmente seria obtida através dos procedimentos e trâmites típicos e de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal. O destino da prova ilícita é o desentranhamento e posterior inutilização. A prova é proibida toda vez que caracterizar violação de normas ou de princípios do ordenamento de natureza processual ou material. É a faculdade que tem a parte de demonstrar no processo a ocorrência de um fato que alegou em seu interesse, que se apresenta como relevante para o julgamento da pretensão. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer. O princípio decorre não só da oportunidade e na regra de experiência fundada no interesse da afirmação, mas na equidade, na paridade de tratamento das partes. Processo penal condenatório, oferecida a denúncia ou queixa cabe: a) ao acusador a prova do fato e da autoria, bem como as causas que podem aumentar pena; compete a ele, também, comprovar os elementos subjetivos, a forma de inobservância da cautela devida no crime culposo: b) a imprudência, negligência ou imperícia, bem como o dolo que no mais das vezes é presumido diante da experiência de que os atos praticados pelo homem são conscientes e voluntários (cabe ao acusado demonstrar o contrário). c) ao acusado cabe a prova das causas excludentes da antijuridicidade, da culpabilidade e da punibilidade, bem como, das circunstâncias que impliquem em diminuição da pena ou concessão de benefícios, inexistência dos fatos. Cabe a este a prova de elementos subjetivos que o possam beneficiar. Embora o juiz não deva assumir o papel de parte acusadora ou de defesa, permite a lei que em caso de dúvida, procure esclarecê-la, determinando a realização de diligências. A prova é proibida toda vez que caracterizar violação de normas ou de princípios do ordenamento de naturezaprocessual ou material. 180 Direito Processual Penal O indeferimento de requisição ou pedido de prova sem demonstração de sua necessidade é inapelável, por não constituir decisão definitiva ou com força definitiva. Pode ser alegada a nulidade por cerceamento de defesa ou acusação, em eventual recurso da decisão de mérito. Sistemas de Apreciação Informa-se, de antemão, que ao longo da história o processo conheceu vários sistemas de valoração da prova, os quais se amoldavam aos diferentes costumes e graus de desenvolvimento de cada povo. Contudo, na doutrina moderna destacam-se os três sistemas abaixo elencados. Livre Convicção ou da verdade real ou livre con- vencimento O juiz tem liberdade para formar sua convicção, pela livre apreciação da prova. Não estando adstrito a qualquer critério de valores probatórios. Essa liberdade não é absoluta, é necessária a sua devida fundamenta- ção. Certeza Moral do Legislador ou sistema da verdade legal ou formal A lei impõe ao juiz a obser- vância e o rigoroso acata- mento a regras existentes. Estabelece o valor, de cada prova, institui uma hierar- quia entre estas. O juiz fica praticamente sem liberdade de apreciação. Certeza Moral do juiz ou Íntima Convicção A lei concede ilimitada liberdade ao juiz para este decidir como quiser, não fixando qualquer regra de valorização das pro- vas. Vigora, como exceção, nas decisões proferidas por júri popular. O sistema da livre convicção é adotado pelo nosso Código de Processo Penal. O art. 155, caput (antigo art. 157) com a redação determinada pela Lei n. 11.719/2008, dispõe: “o juiz formará sua convicção pela livre apreciação da 181 Provas Penais Capítulo 6 prova produzida em contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não repetíveis e antecipadas”. Princípios Gerais das Provas • Princípio da autorresponsabilidade das partes: – Assumem as consequências de sua inatividade, erro ou atos intencionais; • Princípio da audiência contraditória: – Toda prova admite a contraprova, não sendo admissível a produção de uma delas sem o conhecimento da outra parte. • Princípio da aquisição ou comunhão da prova: – A prova produzida não pertence à parte que o produziu, servindo a ambos os litigantes e ao interesse da justiça. Na realidade, pertencem ao processo porque são destinadas à formação da convicção do julgador. • Princípio da oralidade: – Predominância da palavra falada (depoimentos, debates, alegações); a nova reforma processual penal operada pelas Leis n. 11.689/2008 e 11.719/2008, primou pelo princípio da oralidade. • Princípio da publicidade: – Os atos judiciais e a produção de provas são públicos, admitindo-se como exceção o segredo de justiça. – Princípio da concentração dos atos: – Busca-se concentrar toda a produção da prova na audiência. • Princípio do livre convencimento: – As provas não são valoradas previamente pela legislação; o julgador tem liberdade de apreciação, limitando apenas aos fatos constantes nos autos. 182 Direito Processual Penal Atividade de Estudos: 1) O princípio que autoriza o juiz no processo penal a ordenar de ofício provas necessárias à instrução criminal, denomina-se: A) Do contraditório. B) Da verdade real. C) Da oficialidade. D) Do juiz natural. 2) O Promotor de Justiça opta pelo pedido de arquivamento de determinado inquérito policial que apura crime de roubo. Entretanto, o Juiz a quo discorda do pedido de arquivamento, dando início ex officio à ação penal. Assinale a alternativa correta. A) O Magistrado agiu corretamente, pois compete ao Magistrado do feito, analisando as provas contidas no inquérito policial, decidir se ação penal pode ser proposta ou não. B) O Juiz não agiu corretamente, pois deveria ter remetido o inquérito ou peças de informação ao Procurador Geral de Justiça, a fim de que este oferecesse a denúncia, designasse outro Promotor de Justiça para oferecê-la, ou insistisse no pedido de arquivamento. C) O Promotor não poderia ter requerido o arquivamento dos autos inquisitoriais sem que houvesse concordância da vítima, eis que, diante do delito de roubo, a ação penal é pública incondicionada. D) O Promotor tem que aceitar o início da ação penal, mas poderá provar, durante o curso da fase instrutória, que não há elementos de prova para a condenação. 3) No tocante á prova, no processo penal brasileiro: A) nos processos do júri, há avaliação da prova pelos jurados segundo o sistema da convicção intima. B) só se admite interceptação telefônica em crimes de maior gravidade, com penas mínimas superiores a 4 (quatro) anos de reclusão C) juiz não pode, de oficio, ouvir testemunhas além daquelas arroladas pelas partes, mas pode determinar prova pericial. D) só podem ser admitidos os meios de prova expressamente previstos no Código de Processo Penal. E) é suficiente, para validade da prova pericial, a sua realização par um perita qualificado 183 Provas Penais Capítulo 6 4) Assinale a alternativa correta. A) A expedição de carta precatória, destinada à produção de prova testemunhal, suspende a instrução criminal até a sua devolução devidamente cumprida. B) No interrogatório, o defensor do acusado não poderá intervir ou influir, de qualquer modo, nas perguntas e nas respostas. C) O juiz não pode ouvir outras testemunhas, além das indicadas pelas partes. D) O exame de corpo de delito não pode ser realizado aos domingos e feriados. 5) No processo penal brasileiro, aplicam-se, além de outras, as seguintes regras, princípios e garantias: A) disponibilidade geral da ação penal pública, contraditório em todas as fases da persecução criminal e ampla defesa. B) inadmissibilidade das provas ilícitas pro reo, livre convencimento do juiz e publicidade da votação dos jurados. C) sigilo absoluto da investigação criminal, inadmissibilidade de provas ilícitas pro societate e contraditório em todas as fases da persecução criminal. D) votação secreta no júri, presunção de não-culpabilidade e necessidade de se comunicar ao preso o seu direito ao silêncio E) incomunicabilidade do preso, disponibilidade da ação penal privada e convicção íntima do juiz. Exame de Corpo de Delito a) Perícia: É o exame procedido por um auxiliar da justiça, compromissado, que tenha determinados conhecimentos técnicos, científicos, artísticos ou práticos acerca dos fatos, circunstâncias objetivas ou condições pessoais inerentes ao fato punível a fim de comprová-los. PERÍCIA: não é um simples meio de prova. Faça uma costura entre as subseções!!! 184 Direito Processual Penal b) Perito: O perito é um apreciador técnico, assessor do juiz, destinado a fornecer dados instrutórios de ordem técnica e a proceder à verificação e formação do corpo do delito. A perícia é um elemento subsidiário. Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos por perito oficial. Não havendo perito oficial, o exame será realizado por pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior, escolhidas, de preferência, entre as que tiverem habilitação técnica relacionada à natureza do exame. Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente desempenhar o encargo. A nomeação do perito não oficial não pode ser recusada a não ser que apresente motivo justificado pois, sendo este auxiliar da justiça assume ônus processual. E caso não compareça para realizar o exame, poderá ser conduzido coercitivamente. A sua nomeação é feita pela autoridade policial na fase de inquérito e pelo juiz, no processo. Referindo-se a lei à preferência para os que têm habilitação técnica, nada impede que, na ausência de profissionais legalmente habilitados, sejam nomeadaspessoas sem esse preparo técnico. Os peritos não oficiais devem prestar o compromisso. Já se decidiu que a ausência do compromisso constitui mera irregularidade não anulando a perícia. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade. Evitando-se a realização de perícias desnecessárias, impertinentes, procrastinatória, a lei deixa ao prudente arbítrio do juiz a sua realização, devendo a parte que a deseje convencê-lo, fundamentadamente, da sua conveniência. O indeferimento de exame pericial não comporta recurso, só pode ser desfeito pela via de reconsideração ou do remedium juris, se não constituir medida procrastinatória. Embora a lei preveja que, no exame a ser realizado por precatória a nomeação dos peritos se faça no juízo deprecado, salvo quando haja acordo entre as partes, essa concordância significa que a nomeação pode ser feita pelo juízo deprecante e não que as partes possam indicar, quando concordes, os expertos. Perícia é também chamada de prova critica. Dispõe o art. 159, com redação dada pela Lei n 11.690/ 2008, que “o exame de corpo de delito e outras pericias 185 Provas Penais Capítulo 6 serão realizadas por perito oficial, portador de diploma de curso superior. E em seu § 1º na falta de perito oficial, o exame será realizado por duas pessoas idôneas portadoras de diploma de curso superior, preferencialmente na área especifica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame”. Antes da reforma processual penal, o exame de corpo de delito e outras pericias deveriam ser feitos por dois peritos oficiais, na falta destes por duas pessoas idôneas. Por isso, foi editada a Súmula 361 do STF, segundo a qual “no processo penal, e nulo o exame realizado por um só perito, considerando-se impedido o que tiver funcionando, anteriormente, na diligencias de apreensão”. Logo, se apenas um perito subscrevesse o laudo desse exame, aplicava-se a Súmula 361, quer se tratasse de perito oficial, quer se tratasse de perito não oficial. Ensina Capez: Com as inovações operadas pela Lei n.11.690/2008, a Súmula 361 do STF apenas terá incidência na hipótese de um exame realizado por peritos não oficiais, pois, em se tratando de pericia oficial , bastará o exame de um só perito. Cuida- sede nulidade relativa, cuja a impugnação há de ser feita em tempo oportuno, bem como demonstrado o efetivo prejuízo. Finalmente, cumpre consignar que, em se tratando de pericia complexa que abrange mais de uma área de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial (§ 7º). Nessa hipótese, como se trata de faculdade conferida ao julgador, a realização do exame por um só perito oficial não enseja a nulidade da prova pericial. Se os peritos não puderem formar logo juízo seguro ou fazer relatório completo do exame, a lei lhes concede o prazo de até 5 dias para a elaboração do laudo. Em casos especiais esse prazo poderá ser prorrogado. O laudo pericial é um documento elaborado pelos peritos que deve conter: a descrição minuciosa do objeto examinado, respostas aos quesitos, fotografias, desenhos etc. No laudo destacam-se 4 partes: • Preâmbulo: nome dos peritos, títulos, e objeto da perícia; • Exposição: é a narração de tudo que foi observado; com ordem e método; • Discussão: é a análise ou crítica dos fatos observados, com exposições de argumentos, razões ou motivos que informam o parecer do perito. • Conclusão: responde sinteticamente ao s quesitos da parte. 186 Direito Processual Penal Determinação das Pericias O juiz, assim como a autoridade policial, pode determinar de oficio ou a requerimento das partes a realização de perícia. Se houver omissões ou falhas no laudo, somente o juiz pode determinar a correção, depois de ouvir as partes. No caso de divergências entre os peritos, a autoridade nomeará um terceiro, e, se este divergir, poderá ser realizado no exame. Deve-se atentar sempre para as determinações legais, como a disposta no art. 129 § 1º, I “No caso de crime de lesões corporais, se o exame visar à demonstração da qualificadora do art. 129, § 1º, I, do Código Penal, dever-se-á proceder a novo exame decorrido o prazo de 30 dias, contado da data do delito”. a) Procedimento da Perícia: Observa-se que a Lei 11.690/2008 trouxe alterações no que se refere ao sistema da prova pericial. Destaca-se o art. 159, § 3º, do CPP que faculta ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. Laudo pericial é a peça escrita onde os peritos descrevem o resultado do exame efetivado, mencionando o que observaram e consignando suas conclusões. Espécies de perícias: • Perícia “percipiendi” • Perícia “duducendi” • Perícia intrÍnseca • Perícia extrínseca • Perícia vinculatória • Perícia liberatória • Perícia oficia 187 Provas Penais Capítulo 6 Exame de Corpo de Delito: Algumas Aplicações Há infrações que não deixam vestígios, como nos crimes contra a honra. Porém, existem infrações que deixam vestígios materiais, como nos crimes de homicídio, lesões corporais, falsificação e estupro. Nesse caso, faz-se necessário a realização de um exame de corpo de delito, isto é, a comprovação dos vestígios deixados. No exame de corpo de delito os peritos descrevem suas observações e o objetivo é a comprovação da existência do delito; o corpo de delito é a comprovação do próprio crime, evidencia da tipicidade. O exame destina-se à comprovação por perícia dos elementos objetivos do tipo, principalmente o evento produzido pela conduta delituosa. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. É obrigatória a realização do exame de corpo de delito direto sob pena de nulidade. Indispensável, nos crimes de homicídio, lesão corporal, estupro e sedução, etc.. Sendo possível o exame de corpo de delito direto, não se pode aceitar o indireto. Isso não significa que a denúncia ou queixa não possa ser recebida sem a juntada do auto do exame de corpo de delito direto, pois a materialidade pode estar indicada por outras provas e o auto juntado ao processo no curso da ação. Observa-se que se a infração deixar vestígios, o art. 158 do CPP determina que haja o exame direto. Porém, se estes vestígios constituírem o próprio corpo de delito (um cadáver, por exemplo) admitir-se-á o exame indireto quando, embora desaparecido o corpo do delito, restarem ainda vestígios periféricos, como roupas com sangue da vítima, ao lado do corpo já incinerado. No entanto, o art. 167 do CPP cuida de hipótese diferente, isto é, a do desaparecimento de todos os vestígios, principais e periféricos. Nesse caso não há que se falar em pericia, podendo a prova testemunhal suprir-lhe a falta. O art. 564, III, b do CPP reforça o que foi dito anteriormente, ao prever a nulidade diante da falta exame de corpo de delito direto ou indireto, enfatiza a hipótese do art. 167. Neste caso a ausência do exame direto ou indireto não gera nulidade. Insta salientar que a lei prevê que a simples confissão do acusado não pode suprir a falta do exame de corpo de delito indireto. 188 Direito Processual Penal Atividade de Estudos: 1) São espécies de exame de corpo de delito: • Necropsia ou autópsia ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ • Exumação ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ Sendo possível e viável o exame pericial, não deve o magistrado pronunciar o non liquet, cabe-lhe ordenar, de ofício, sua realização nos termos dos artigos 156 e 502 do CPP, sob pena de nulidade da sentença, ex vi do artigo 564, III, “b”. Já se tem decidido que o laudo de exame de corpo de delito pode ser juntado aos autos durante a instrução, até as alegações finais, inaplicável o artigo 525. Por vezes as infrações não deixam vestígios ou estes não são encontrados, desaparecem, não permanecem, impossibilitando o exame direto. Ex.: homicídio praticado por afogamento em alto-mar em que o corpo da vítima não é encontrado. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. 189 Provas Penais Capítulo 6 A única restrição prevista na lei a respeito é a de que o exame de corpo de delito indireto não pode ser suprido exclusivamente pela confissão do acusado. A prova da existência do crime pode ser formada por qualquer elemento probatório, desde que não vedado em lei. Tratando-se de exame de corpo de delito direto, deve ele ser realizado logo que o fato torna-se conhecido da autoridade policial. Sempre há o risco de desaparecerem os vestígios, obrigando a realização do corpo de delito indireto. O exame de corpo de delito poderá ser feito em qualquer dia e a qualquer hora. Os cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões externas e vestígios deixados no local do crime. De modo habitual é feito quando do exame do local do crime. Para isso a autoridade providenciará de imediato que não se altere o estado das coisas, no local onde houver sido praticado o crime, até a chegada dos peritos, que podem instruir seus laudos, necroscópicos ou quaisquer outros, não só com fotografias, mas com desenhos e esquemas elucidativos. Os peritos registrarão no laudo as alterações do estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências dessas alterações na dinâmica dos fatos. Em caso de exumação para exame cadavérico, a autoridade providenciará para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado. Pode acontecer que o cadáver a ser examinado já esteja sepultado, quer por se desconhecer de início que houve a prática de um crime quer para comprovar- se ou retificar-se laudo anterior sobre o qual pairavam dúvidas. Em caso de dúvidas sobre a identidade do cadáver exumado, procede-se ao reconhecimento pelo Instituto de identificação ou repartição congênere. Os peritos devem fazer uso de todos os elementos que dispuserem como impressões digitais, palmares, plantares, fotografias, radiografias, fichas dentárias, e assim por diante. Pode ser feito também o reconhecimento pela inquirição de testemunhas, parentes ou pessoas que conheceram o de cujos. Em ambos os casos deve lavrar-se o auto de reconhecimento e de identidade. 190 Direito Processual Penal Outras Perícias Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão o material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que profícuo, os laudos serão fotográficos, microfotográficos, desenhos ou esquemas. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado. Observa-se, porém, que a escalada, na maioria das vezes não deixa vestígios, valendo a prova testemunhal ou mesmo os indícios que comprovem a qualificadora. É valido para outros exames em que se deve apurar a violência contra a coisa, crime de dano... No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que começou, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor, alem das demais circunstâncias que interessarem à elucidação do fato. Insta salientar que a apuração de todas essas circunstâncias é indispensável porque o fogo pode constituir apenas crime de dano, de fraude para recebimento de indenização ou valor do seguro. Ou ter causado perigo para a vida ou patrimônio de terceiros, caso em que pode caracterizar o crime de incêndio doloso ou culposo. Interrogatório do Acusado Interrogatório é ato processual no qual o juiz ouve o acusado sobre a imputação contra ele formulada. Trata-se de garantia de sua defesa, de sua autodefesa. Há que se dizer, no que concerne à natureza jurídica, que o interrogatório é meio de prova. Não se pode ignorar que ele é também um ato de defesa, pois não há dúvidas de que o acusado pode dele valer-se para se defender da acusação. Vislumbra-se, segundo Mougenot que quanto à sua natureza, a doutrina divide-se em três posições: 191 Provas Penais Capítulo 6 a) Para alguns doutrinadores o interrogatório é meio de prova, fornecendo ao juiz elementos de convicção. Essa é a opção do legislador ao tratá-lo no capítulo referente à prova, deixando por sua vez em segundo plano a função do interrogatório como meio de auto defesa do acusado. b) Para outros, o interrogatório é um meio de defesa, porque nele o acusado expõe a sua versão, contestando a acusação. Podendo constituir fonte de prova. c) Uma terceira corrente concilia as duas propostas anteriores atribuindo ao interrogatório natureza mista: é meio de defesa e meio de prova. Se por um lado, o interrogado ao expor suas alegações, exerce sua defesa, é inegável que suas afirmações fornecerão elementos que influirão na apuração, pelo julgador, da verdade. As leis n.10.792/2003 e 11.900/2009 alteraram a disciplina do interrogatório, substituindo todos os dispositivos a eles referentes e incorporando importantes preceitos a legislação em vigor. À nova disciplina, entretanto, conquanto empreste ao interrogatório características mais próximas então relacionadas à defesa do réu, não altera sua natureza mista, mantendo também sua função probatória. a) Necessidade do Interrogatório O acusado que for preso, comparecer espontaneamente ou em virtude de intimação perante a autoridade judiciária, no curso do processo penal, será qualificado e interrogado. O acusado deve ser interrogado no curso do processo penal, porém, a falta do interrogatório gera causa de nulidade (artigo 564, III, “e”). Conclui-se que, sendo ele possível, deve ser efetuado até o trânsito em julgado da sentença, mesmo após a decisão. A lei não determina, mas o interrogatório do réu que é preso ou se apresenta durante a instrução deve ser realizado o mais breve possível, antes da realização de outras diligências ou apresentação de provas. O Supremo Tribunal Federal decidiu que a falta do interrogatório no curso da ação penal, quando possível, gera nulidade relativa. A supressão desse termo configura prejuízo presumido, podendo o juiz decretar nulidade absoluta. Não há nulidade quando o réu for considerado inimputável, quando este se recusar a prestar declarações, quando for revel ou estiver foragido. 192 Direito Processual Penal A falta de interrogatório no auto de prisão emflagrante não invalida o ato quando o preso não estava em condições físicas ou mentais de prestar declarações. O ato deverá ser realizado durante o inquérito policial logo que desaparecer a incapacidade. b) Formalidades do Interrogatório O interrogatório é um ato público, gozando o acusado de liberdade e da garantia de que não se praticará extorsão das confissões. A única exceção à regra é a prevista pelo artigo 792, §1°, quando da publicidade do ato puder resultar escândalo, atitude inoportuna grave. Será o ato realizado, então, a portas fechadas. O defensor do acusado não poderá intervir ou incutir, de qualquer modo, nas perguntas e nas respostas. Contudo a lei processual enseja o direito a esclarecimentos, tanto para a acusação como para a defesa. O interrogatório, por sua vez, é um ato personalíssimo. Ou seja, só o acusado pode ser interrogado, não se admitindo a representação, substituição ou sucessão ou interferência do defensor ou curador. Neste sentido, Mougenot registra como características do interrogatório: O interrogatório é o ato público, personalíssimo e oral: a) públicos, pois, salvo naquelas ocasiões em que for aconselhável a decretação do sigilo, deve ele ser conduzido à vista de todos; b) personalíssimo, porque a presença do réu não pode ser substituída, inexistindo o interrogatório por procuração e admitindo-se a participação ativa de terceiros no procedimento apenas no caso do interrogatório surdo e mudo que não saiba ler e escrever (art. 192, parágrafo único); c) oral, porquanto, salvo nas hipóteses em que o interrogado seja impossibilitado de falar, nessa forma deverá ser a manifestação do réu, que será reduzida a escrito por escrivão judicial. Outra característica do interrogatório é a sua judicialidade, isto é, cabe ao juiz, interrogar o réu; como visto anteriormente é um meio de prova. É ato de instrução do processo, onde o juiz tem oportunidade de formar juízo a respeito da personalidade do inquirido. Assim ensina Mougenot: Apontava-se como característica do interrogatório, ainda, a judicialidade. Isso porque o interrogatório constituía um momento de contato direto entre o juiz e o acusado, sendo anteriormente ao advento da Lei n. 10.792/2003, vedada a intervenção do advogado, cuja presença era considerada, em princípio, facultativa. Entretanto, a atual disciplina do ato tornou 193 Provas Penais Capítulo 6 obrigatório a presença do advogado e acabou por flexibilizar a judicialidade do interrogatório, uma vez que a nova redação do art. 188 do Código de Processo Penal, impingida pela lei n.10.792/2003, reforçou seu caráter contraditório, ao permitir as partes manifestarem-se acerca dos fatos que não restaram esclarecidos após a inquirição do réu pelo juiz. Caberá ao julgador, então, formular as perguntas correspondentes, se as reputar pertinentes e relevantes. Outra característica do interrogatório é a oralidade: a palavra do acusado, circundada de sua atividade, de seus gestos, tom de voz, pode dar ao juiz um elemento de convicção insubstituível. As respostas do acusado serão, sempre que possível, gravadas em mídia, e quando não for possível a gravação, reduzidas a termo. Esta determinação tem um grande valor na formação e valoração do conjunto probatório. Se o acusado não souber escrever, não puder ou não quiser assinar, tal fato será consignado no termo. Se houver co-réus, cada um deles será interrogado separadamente. Visa-se impedir, que cada um dos acusados se beneficie das repostas dadas pelo réu o qual o antecedeu, que as declarações de um possam influir nas dos seguintes, o relato de cada acusado deve ser pleno de espontaneidade. Conteúdo do Interrogatório De acordo com art. 187 do CPP, o interrogatório será constituído de duas partes: a primeira discorrerá sobre a pessoa do acusado e a segunda terá questões sobre os fatos apurados. Portanto, o interrogatório não é só um termo do processo, com uma série de perguntas determinadas, a que o acusado dá resposta de antemão já estudadas, para não comprometer-se, mas uma franca oportunidade de obtenção de prova. A Constituição Federal assegura ao indiciado e ao réu o direito ao silêncio. Foi consagrado o princípio nemo tenetur se detegere. Não pode o acusado ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, e mais, se optar por permanecer calado, seu silêncio não importará confissão, nem será interpretado em prejuízo da defesa. Portanto a doutrina entende que o réu está obrigado a responder às perguntas sobre sua pessoa, cujo conteúdo vem disposto no art. 187, § 1º do CPP. 194 Direito Processual Penal O artigo 188 do CPP preconiza apenas o conteúdo dos assuntos a serem focalizados no interrogatório, com prevalência daqueles que constituem a imputação, possibilitando o acusado confessar ou negar a prática do ilícito penal. No que concerne ao interrogatório, este tem como finalidade: • Facultar o magistrado o conhecimento do caráter, da índole dos sentimentos do acusado - compreender-lhe a personalidade; • Transmitir ao julgador a versão dos acontecimentos pelo acusado, de que o último dispõe ou pretenda dispor, para convencer a idoneidade de sua função; • Verificar as reações do acusado, ao lhe ser dada diretamente pelo juiz, a ciência do que os autos encerram contra ele. O julgador, além das perguntas de identificação, fará as perguntas necessárias à pesquisa da verdade dos fatos, conforme evidencia o item VII da Exposição de Motivos do Código de Processo Penal. O acusado será perguntado sobre o seu nome, naturalidade, estado, idade, filiação, residência, meios de vida ou profissão e lugar onde exerce a sua atividade e se sabe ler e escrever, e, depois de cientificado da acusação, será interrogado sobre: onde estava ao tempo em que foi cometida a infração e se teve notícia desta; • as provas contra ele já apuradas; • se conhece a vítima e as testemunhas já inquiridas ou por inquirir, e desde quando, e se tem o que alegar contra elas; • se conhece o instrumento com que foi praticada a infração, ou qualquer dos objetos que com esta se relacione e tenha sido apreendido; • se verdadeira a imputação que lhe é feita; • se, não sendo verdadeira a imputação, tem algum motivo particular a que atribuí-la; se conhece a pessoa ou pessoas a que deva ser imputada a prática 195 Provas Penais Capítulo 6 do crime, e quais sejam, e se com elas esteve antes da prática da infração ou depois dela; • todos os demais fatos e pormenores, que conduzam à elucidação dos antecedentes e circunstâncias da infração; • sua vida pregressa, notadamente se foi preso ou processado alguma vez e, no caso afirmativo, qual o juízo do processo, qual a pena imposta e se a cumpriu. Se o acusado negar a imputação no todo ou em parte, será convidado a indicar as provas da verdade de suas declarações. Contudo, se o réu confessar a autoria, será especialmente perguntado sobre os motivos e circunstâncias da ação e se outras pessoas concorreram para a infração e quais sejam. Porém, não são somente essas perguntas que podem ser feitas pelo juiz. A este é facultado formular ao acusado quaisquer perguntas que julgue necessária à pesquisa da verdade. O interrogatório será nulo se não for possibilitado ao acusado o acompanhamento de advogado ou defensor público. Casos Especiais Ao surdo serão apresentadas por escrito as perguntas, que o mesmo responderá oralmente; ao mudo as perguntas serão feitas oralmente respondendo- as ele por escrito; ao surdo mudo as perguntas serão formuladas por escrito e deste mesmo modo respondidas. Sendo o acusado surdo-mudo e alfabetizado, este deve ser inquirido por escrito e responder por escrito as perguntas da autoridade, não se permitindo a comunicação por mímica, sob pena de nulidade. Assevera sobre os casos especiais Mougeno (2011 página????): Havendo mais de um acusado, serão interrogados separadamente(art.191). Se o interrogando for surdo, as perguntas serão apresentadas por escrito e respondidas oralmente (art. 192, I). Sendo ele mudo, as perguntas serão feiras oralmente e respondidas por escrito (art. 192, II). Na hipótese surdo-mudez do réu, as perguntas serão formuladas por escrito e do mesmo modo serão dadas as respostas ( art. 192, III). Finalmente se , nesse caso, o réu não souber ler nem escrever, intervirá no ato, como intérprete, pessoa habilitada a entendê-lo (art. 192, parágrafo único). Quando o acusado não falar a língua nacional, o interrogatório será feito por 196 Direito Processual Penal intérprete. Não significa que o intérprete interrogará o acusado, mas que ele é o meio de que o juiz utilizará para fazer as perguntas e receber as respostas. A intervenção do intérprete (tradutor) é necessária, mesmo que o juiz conheça o idioma, uma vez que perguntas e respostas devem ser entendidas pelo MP, acusador particular, defensor, que podem não conhecer a língua. Na hipótese de haver revelia, poderá o juiz, uma vez comparecendo o acusado, proceder ao seu interrogatório. Nos casos de citação por edital, onde o processo fica suspenso, comparecendo o acusado, observar-se-á o que dispõe os arts. 394 e seguintes do CPP (CPP,art. 363, §§1º e 4º, com a redação determinada pela Lei n.11.719/2008), o que significa então dizer que o interrogatório deverá ser realizado dentro da audiência, na forma dos artigos 400 e 531 no CPP. Confissão É o reconhecimento pelo réu da acusação que lhe é dirigida no processo penal, capazes de ocasionar-lhe conseqüências jurídicas desfavoráveis. No âmbito do direito processual penal, a confissão poderá ser judicial, quando feita em juízo, ou extrajudicial, quando produzida em sede diversa, como por exemplo, a realizada em inquérito policial, ou comissão parlamentar de inquérito. A confissão judicial, por sua vez, pode ocorrer no interrogatório ou fora dele. Neste último caso, consoante o art. 199 do CPP, a confissão será tomada por termo nos autos. SIMPLES E QUALIFICADA EXPRESSA OU EXPLÍ- CITA OU TÁCITA, IMPLÍ- CITA OU FICTA Quanto aos efeitos, pode ser: Quanto à forma, será: Valor Probatório A confissão por muito tempo ficou conhecida como regina probationum - rainha das provas. Hoje, porém, não desfruta de tanta influência, diante do sistema adotado na nossa legislação. A própria confissão do acusado não 197 Provas Penais Capítulo 6 constitui, necessariamente, prova plena de sua culpabilidade, já que todas as provas são relativas. O Código de Processo Penal, no art. 200, determina que a confissão será divisível e retratável. DIVISIBILIDADE: A confissão pode se dar no todo ou em parte. RETRATABILIDADE: O acusado pode retratar-se, isto é, negar o que já havia dito. Das Perguntas ao ofendido O ofendido é o titular do bem jurídico de interesse lesado ou posto em perigo pela prática de conduta criminosa. Na visão de Mougenot (2011) o ofendido é a vítima, ou seja, o sujeito passivo da infração penal. A vítima não é equiparada, as testemunhas, pois esta tem interesse na condenação do réu. O ofendido pode ser parte: como o querelante, na ação privada, assistente de acusação, na ação pública, recorrente, autor nos pedidos de restituição de coisas apreendidas e nos processos acautelatórios, destinados a garantir a reparação civil. O ofendido é objeto de prova no exame de corpo de delito, no reconhecimento e na busca pessoal para aquisição de prova. Sempre que possível, o ofendido será qualificado e perguntado sobre as circunstâncias da infração, quem seja ou presuma ser o seu autor, as provas que possa indicar, tomando-se por termo as suas declarações. Portanto, a vítima que casualmente conceder informações discordantes daquelas que posteriormente se confirmarem como de fato verdadeiras não comete crime de falso testemunho. Insta salientar que o ofendido não é testemunha. Sua oitiva é facultativa, não constituindo sua falta causa de nulidade. Portanto, uma vez que seja determinada sua realização o seu comparecimento é obrigatório. Se intimada regularmente, a vítima não comparecer, proceder-se-á sua condução coercitiva à presença da autoridade policial ou judicial. Qualquer das partes pode insurgir-se contra as declarações do ofendido. Menciona-se, neste sentido que a Lei n. 11.690/2008 forneceu ao ofendido algumas garantias: 198 Direito Processual Penal • Comunicação dos atos processuais de ingresso e saída do acusado, designação de audiência, de sentença e de acórdão. A comunicação poderá ser feita de endereço indicado ou pelo uso do meio eletrônico. • Na audiência terá espaço reservado. • Encaminhamento a atendimento multidisciplinar, às custas do ofensor ou do Estado, em face dos inúmeros traumas gerados por determinados crimes. • A retirada do réu da sala a fim de evitar incômodo. • Ao magistrado cabe tomar as providências necessárias ao resguardo da intimidade, vida privada, honra e imagem, podendo este decretar segredo de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras informações. Prova Testemunhal O testemunho, por ser meio de prova no processo, tem como finalidade demonstrar a veracidade de determinados fatos. É muitas vezes indispensável que sejam ouvidas as pessoas que presenciaram os fatos, no todo ou ao em parte. E aprova testemunhal, por sua vez, é a que se obtém através do relato prestado em juízo, por pessoas que conhecem o fato litigioso. Porém, só é considerada prova testemunhal a colhida com garantias que cercam o depoimento oral, que obrigatoriamente se faz em audiência na presença do juiz e das partes, sob compromisso legal de dizer a verdade, e sujeito a contradita e reperguntas. A testemunha é a pessoa que perante o juiz, declara o que sabe acerca dos fatos sobre os quais se litiga no processo penal, ou sobre suas percepções sensoriais a respeito dos fatos imputados ao acusado. A princípio podem ser testemunhas as pessoas cujas afirmações são compreendidas pelas autoridades judiciárias e outras autoridades competentes, com o intuito de facilitar a descoberta da verdade do crime. Impedimento No processo penal todas as pessoas podem testemunhar. É tarefa do julgador analisar, quando da sentença, a utilidade, pertinência e idoneidade dos 199 Provas Penais Capítulo 6 testemunhos. A pessoa chamada a depor é obrigada a fazê-lo, contudo, o Código de Processo Penal estabelece algumas exceções, no artigo 206. Atendendo aos laços afetivos e de consangüinidade que prendem as testemunhas ao acusado, procura a lei preservar a paz e a harmonia na família, não impondo a ela a obrigação de depor numa perceptível situação de constrangimento. A enumeração do artigo é limitada (taxativa), não sendo exemplificativa. Sendo obrigadas a depor, em decorrência da regra geral, o divorciado, o amasiado, o padrinho, o compadre... A lei não se opõe que as pessoas enunciadas no artigo possam oferecer seus esclarecimentos a respeito dos fatos em discussão. Prepondera o interesse geral, contra o interesse particular. Reconhece a lei, porém, que tais pessoas dificilmente prestarão o depoimento com a imparcialidade que se espera das demais testemunhas. Assim, quando prestam ou são obrigadas a fazê-lo, não se lhes exige o compromisso de dizer a verdade, conforme artigo 203 CPP. ART. 208 (in fine). Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes mentais e aos menores de 14 anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206 (art. 208). Como a enumeração da Lei é taxativa, nada impede que o silvícola deponha. O fato de uma pessoa ter a recusa do depoimento como possibilidade e, mesmo assim, prestar o compromisso não causa nulidade no processo. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão,devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho. Desta forma esclarece Bonfim, (2010,p.407), “Algumas pessoas são proibidas por lei de depor. A lei veda testemunho de quem, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu testemunho” (art. 207). Cumpre ressaltar que ao contrário de empregar o sistema de indicar especificamente as profissões compatíveis com o segredo profissional, a lei usa palavras genéricas para indicá-las. São pessoas que devem guardar segredos: 200 Direito Processual Penal • as pessoas previstas em lei; • as previstas nos regulamentos que disciplinam o exercício da atividade; • as previstas nas normas consuetudinárias; • as indicadas pela própria natureza da infração. • Função: entende-se o encargo que alguém recebe, em virtude da lei, decisão judicial ou contrato; • Ministério: encargo de atividade religiosa; • Ofício: atividade predominantemente mecânica, manual; • Profissão: atividade de natureza predominantemente intelectual; Seguramente o sigilo profissional é dever do advogado que pode recusar-se a depor como testemunha sobre fatos que teve conhecimento em razão de sua atividade profissional. Por fim o sigilo profissional do advogado, por ser peculiar, merece destaque nos ensinamentos de Mougenot: O Estatuto da Advogacia e da Ordem dos Advogados do Brasil (Lei n. 8906/94), no art. 7º, XIX, estabelece como prerrogativa do advogado “recusar-se a depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar, ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo quando autorizado ou solicitado pelo conseguinte, bem como sobre fato que constitua sigilo profissional.” Trata-se de exceção ao art. 207 do CPP, uma vez que mesmo desobrigado pelo interessado, e defeso ao advogado testemunhar nos casos mencionados. A violação de segredo profissional é crime nos termos art. 154 do Código Penal. De forma geral, as pessoas mencionadas podem depor, porém, se tiverem consentimento do titular do segredo, e desde que, evidentemente, não haja dano a terceiro. Sendo vários os titulares do segredo, necessário a anuência de todos, para que seja prestado o depoimento. Deveres da Testemunha Sabe-se que testemunha é a pessoa diversa dos sujeitos processuais chamada a juízo para narrar fatos dos quais tenha tomado conhecimento. A s testemunhas têm três obrigações: • O ato de comparecer; • De prestar compromisso 201 Provas Penais Capítulo 6 • Prestar o testemunho do que sabem, ou seja, não podem omitir e não podem mentir. O compromisso é a promessa feita pela testemunha, sob sua palavra de dignidade (honra) de dizer o que souber e do que lhe for inquirido. Porém, tal dever de prestar compromisso não é absoluto, como já se viu (artigos. 208 e 203 do CPP). Se o juiz deixar de deferir o compromisso à testemunha, parte da doutrina entende tratar-se de nulidade absoluta. Alguns entendem que a omissão gera nulidade relativa. Outros, porém, consideram que a falta desta formalidade representa mera irregularidade do ato. Nota se que a prestação do compromisso não constitui elemento do crime de falso testemunho. De acordo com a redação do art. 214 do CPP, antes de iniciado o depoimento, as partes poderão contraditar a testemunha ou argumentar sobre circunstâncias ou defeitos que a tornem suspeita de parcialidade. O juiz só excluirá a testemunha ou deixará de deferir o compromisso nos casos previstos nos arts. 207 e 208. Via de regra, intimada a testemunha esta deve comparecer a juízo para prestar depoimento. São exceções ao dever de comparecimento: • As pessoas impossibilitadas, por enfermidade ou por velhice, serão inquiridas onde estiverem (art. 220); • As pessoas enumeradas no art. 221 serão inquiridas em local, dia e hora previamente ajustados entre elas e o juiz. Integram este rol o Presidente e Vice- Presidente da República; os Senadores e Deputados Federais; os Ministros de Estado, Governadores de Estado e Territórios (bem como o Governador do Distrito Federal); os Secretários de Estado, os Prefeitos dos Municípios, os Deputados das Assembléias Legislativas dos Estados, os membros do Poder Judiciário e os membros e Ministros dos Tribunais de Contas da União, dos Estados, do Distrito Federal, bem como os do Tribunal Marítimo. Por força de Lei n. 8.625/93, art. 40, devem-se incluir nessa lista os membros do Ministério Público. • A testemunha que morar fora da jurisdição do magistrado deve ser inquirida pelo juiz do lugar de sua residência, por meio de carta precatória (art.222), intimando-se as partes. 202 Direito Processual Penal Vislumbra-se da redação das Súmulas 273 e 155 respectivamente: “intimada a defesa da expedição da carta precatória, torna-se desnecessária intimação da data da audiência no juízo deprecado”; “é relativa a nulidade do processo criminal por falta de intimação da expedição de precatória para inquirição de testemunha”. Se, regularmente intimada, a testemunha deixar de comparecer sem motivo justificado, o juiz poderá requisitar à autoridade policial a sua apresentação ou determinar seja conduzida por oficial de justiça, que poderá solicitar o auxílio da força pública. a) Direitos da Testemunha • O direito a expor, com coerência, tudo que sabe sobre o fato objeto do processo ou a respeito do que for perguntado. • O direito a um tratamento leal e respeitador, dentro do devido processo legal • O direito a compensação do dia trabalhado, conforme determinado na lei. b) Depoimento No âmbito do Direito Processual Penal, determina o art. 203 do Código de Processo Penal brasileiro que o depoimento é composto de quatro fases: • Identificação da testemunha; • Verificação de vínculo com as partes; • Advertência das penas cominadas ao crime de falso testemunho, • Inquirição dos fatos da causa que tenha conhecimento As perguntas das partes são feitas diretamente às testemunhas, sem a intermediação do juiz. • Ao juiz cabe inspecionar a inquirição, não admitindo que perguntas conduzam a resposta, bem como as que não tenham relação com a causa ou que já tinham sido respondidas pela testemunha. • Poderá o juiz completar a inquirição nos pontos ainda não esclarecidos. • Ao término da inquirição feita pelo juiz, procedem-se as reperguntas das partes. O juiz, também poderá completara inquirição nos pontosque não foram devidamente esclarecidos (art.212). 203 Provas Penais Capítulo 6 Assinala Mougenot: Não obstante, parcela da doutrina e da jurisprudência tem se inclinado no sentido de que, com a nova redação do art. 212 do Código de Processo Penal, a ordem de inquirição das testemunhas foi substancialmente modificada, cabendo primeiramente às partes (acusação e defesa, nesta ordem, salvo em relação às testemunhas arroladas pela defesa, oportunidade em que esta iniciará a inquirição) a perquirição das testemunhas, possibilitando, em seguida, a complementação dos questionamentos pelo juiz, quando entender necessários, esclarecimentos. Este é o mais recente entendimento do STJ, no qual diverge, no entanto, quanto ao caráter da nulidade oriunda da referida inversão. O depoimento das testemunhas será oral, devendo ser gravado em mídia sempre que possível, sendo de valor inquestionável este procedimento, como já se disse. Nada impede que haja consulta a anotações * Princípio da Oralidade *. O teor de depoimento poderá ser reduzido a termo, que deverá assinado pela testemunha, pelo juiz e pelas partes. Como já fora dito anteriormente, se a testemunha não souber assinar o próprio nome ou estiver impossibilitado de fazê- lo, poderá alguém que o faça por ela, depois deste lido na presença de ambos (art. 206). Insta salientar que na redação do depoimento, o juiz deverá limitar-se às expressões