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PRÁTICA PEDAGÓGICA EM DEFICIÊNCIA FÍSICA Autora: Tatiana dos Santos da Silveira Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS Reitor: Prof. Ozinil Martins de Souza Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Prof. Norberto Siegel Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Erika de Paula Alves Profa. Izilene Conceição Amaro Ewald Prof. Márcio Moisés Selhorst Revisão de Conteúdo: Profa. Ana Paula Fischer Hort Revisão Gramatical: Profa. Christiane Heemann Revisão Pedagógica: Profa. Patrícia Cesário Pereira Offial Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci 371.9 S587p Silveira, Tatiana dos Santos da Prática pedagógica em deficiência física / Tatiana dos Santos da Silveira. Indaial : Uniasselvi, 2013. 100 p. : il ISBN 978-85-7830-724-0 1. Educação especial. 2. Deficiência física. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Copyright © UNIASSELVI 2013 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Impresso por: Copyright © UNIASSELVI 2013 Ficha catalográfi ca elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (047) 3281-9000/3281-9090 Tatiana dos Santos da Silveira Doutoranda em Educação pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Mestre em educação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), possui especialização em Arte pela Universidade Regional de Blumenau, especialização em Educação a Distância: gestão e tutoria pela UNIASSELVI, graduação em Pedagogia pela Universidade do Estado de Santa Catarina e graduação em Educação Artística pela Universidade Regional de Blumenau. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Arte Educação, atuando principalmente nos seguintes temas: educação, arte-educação, inclusão, Educação a Distância. Coordenadora do curso de licenciatura em Artes Visuais - UNIASSELVI e responsável pelo Projeto de Educação Inclusiva na EAD - NUAP - UNIASSELVI. Sumário APRESENTAÇÃO ......................................................................7 CAPÍTULO 1 Deficiência fíSica: conceito, HiStórico e LegiSLação .................. 9 CAPÍTULO 2 a incLuSão e o PPP Da eScoLa: aDaPtaçõeS curricuLareS, ProceDimentoS De enSino e avaLiação ........................................ 31 CAPÍTULO 3 PráticaS PeDagógicaS incLuSivaS Para a eDucação infantiL: JogoS e materiaiS aDaPtaDoS Para criançaS com Deficiência fíSica ............................................................... 55 CAPÍTULO 4 PráticaS PeDagógicaS incLuSivaS Para o enSino funDamentaL: JogoS e materiaiS aDaPtaDoS Para a interação, o DeSenvoLvimento e a conStrução Da autonomia ...................... 79 7 APRESENTAÇÃO Caro(a) pós-graduando(a): Bem vindo à disciplina de Prática Pedagógica em Deficiência Física. Esta disciplina objetiva compreender a relação entre a legislação e a teoria e prática cotidiana da inclusão da pessoa com deficiência física, principalmente nas questões relacionadas ao Plano Político Pedagógico (PPP) da Escola, aos jogos e aos materiais adaptados. Espero que nossa discussão provoque reflexões acerca das práticas desenvolvidas em sala e aula a fim de qualificar cada vez mais a inclusão escolar. Nosso maior desafio frente ao processo de inclusão de crianças com necessidades especiais está justamente na relação entre a teoria e prática, pois muito se tem discutido e avançado nas produções referentes à inclusão, porém ainda precisamos compreender como este projeto desafiador realmente se concretiza. Nossa conversa acerca da deficiência física deverá contribuir para a reflexão da prática pedagógica a fim de ampliarmos nosso repertório de atividades e jogos adaptados, garantindo a acessibilidade e a inclusão de todas as crianças. Convido você, pós-graduando, a refletir a partir de agora sobre estas práticas e compartilhar conhecimentos através desta disciplina. Vamos lá? A autora. CAPÍTULO 1 Deficiência fíSica: conceito, HiStórico e LegiSLação A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Conceituar a defi ciência física historicamente e relacioná-la com a legislação para a educação inclusiva. Compreender a trajetória da inclusão de crianças com defi ciência física na escola. “A inclusão é uma visão, uma estrada a ser viajada, mas uma estrada sem fi m, com todos os tipos de barreiras e obstáculos, alguns dos quais estão em nossas mentes e em nossos corações”. (PETER MITTLER, 2003, p. 21). 11 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 conteXtuaLiZação Este capítulo abordará, de forma sucinta, alguns aspectos relacionados à inclusão de pessoas com necessidades especiais no Brasil. No decorrer do seu curso, certamente vários professores foram apontando características gerais e específi cas acerca da inclusão social e escolar de pessoas com defi ciência física. Neste capítulo, pretendemos relembrar essa trajetória, contextualizando com a prática cotidiana. Para sustentar nossas refl exões, utilizaremos como arcabouço teórico autores como Mittler (2003) e Vygotsky (1997), além de documentos internacionais que tratam das questões legais da inclusão, como também os documentos do Ministério da Educação (MEC). LegiSLação BraSiLeira Para incLuSão eScoLar “Inclusão é sair das escolas dos diferentes e promover a escola das diferenças” (Mantoan) Se adentrarmos na história da inclusão e exclusão, perceberemos com facilidade que se trata de um fator social presente desde os tempos mais remotos. Segundo a história da humanidade, registros indicam que nas civilizações mais antigas, por exemplo, o acolhimento ou o não acolhimento da diversidade sempre foi um assunto ditado pelas normas e leis de cada civilização. Para Gugel (2007), as obras de arte indicam pessoas com defi ciência em várias épocas, tais como o guardião de Roma e um músico anão da V Dinastia, que apresentam defi ciência física. Podemos sintetizar a história da inclusão em diferentes épocas da seguinte forma: Egito: O povo egípcio incluía na sociedade as pessoas com defi ciência , algo quase comum em uma civilização com uniões consanguíneas. A história desta civilização também é marcada pela existência comum de pessoas cegas e de papiros médicos que mostram procedimentos para curar os olhos. Grécia: o povo grego sempre cultuou o corpo e a perfeição, assim excluíam e eliminavam as crianças que nasciam com alguma defi ciência. A perfeição era condição para participação da vida social em Esparta. Se adentrarmos na história da inclusão e exclusão, perceberemos com facilidade que se trata de um fator social presente desde os tempos mais remotos. 12 Prática Pedagógica em Defi ciência Física Roma: Ainda com o culto da força física dos guerreiros, o povo romano jogava as crianças com defi ciência no Rio Tibre, pois as anormalidades caracterizavam um perigo para a continuidade da espécie. Idade Média: pessoas com defi ciência eram associadas à imagem do diabo, da feitiçaria, da bruxaria e do pecado, sendo isoladas e exterminadas. Nesse momento, as pessoas com defi ciência tinham um comportamento consequente de forças sobrenaturais. Na antiguidade clássica as pessoas com defi ciência foram consideradas possessas de demônios e de maus espíritos. [...]. Os modelos econômicos, sociais e culturais impuseramàs pessoas com defi ciência uma inadaptação geradora de ignorância, preconceitos e tabus que, ao longo dos séculos e séculos, alimentaram os mitos populares da perigosidade das pessoas com defi ciência mental e do seu caráter demoníaco, determinando atitudes de rejeição, medo e vergonha. (VIEIRA e PEREIRA 2003, p.17) Após esse período a Igreja passa a acolher e proteger as pessoas com defi ciências; no entanto, ao “acolher” essas pessoas, a Igreja os tornava uma espécie de servo trabalhador da instituição que tentava manter uma posição caritativa e fi lantrópica. Exemplo disso é a tão famosa história do “corcunda de Notre Dame”. Figura 01 - Corcunda de Notre Dame Fonte: Disponível em: <http://maniacosporfi lme.wordpress.com/2011/10/22/o-corcunda- de-notre-dame-1939-um-classico-de-partir-o-coracao/>. Acesso em: 15 jan. 2013. Foi a partir da Segunda Guerra Mundial que se percebeu uma necessidade de reorganizar a sociedade, reabilitando os homens sobreviventes da guerra. Surge 13 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 então, em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Esta declaração surge em convergência com a Declaração de Direitos Inglesa, a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão na França, e a criação da Organização das Nações Unidas (ONU) em 1945. Essa declaração serviu de base para todas as declarações e legislações posteriores que defendem a inclusão e o direito de todas as pessoas de viverem em sociedade de forma justa e igualitária. A Declaração dos Direitos Humanos surgiu com uma necessidade social justamente para reabilitar pessoas que acabaram desenvolvendo alguma defi ciência durante a Segunda Guerra. Nesse momento, a sociedade contava com um número signifi cativo de homens com defi ciência, principalmente a defi ciência física, uma condição muito comum entre soldados e civis que passaram por campos de batalha. A exemplo disso, citamos a população de Angola com um grande índice de mutilados por “minas”. O número de mutilados por minas é tão grande que o país chegou a criar um concurso de miss para as mulheres vítimas de minas terrestres. Figura 02 - Concurso miss Angola Fonte: Disponível em: <http://g1.globo.com/Noticias/ Mundo/0,,MUL259988-5602,00.html>. Acesso em: 15 jan. 2013. A Declaração dos Direitos Humanos surgiu com uma necessidade social justamente para reabilitar pessoas que acabaram desenvolvendo alguma defi ciência durante a Segunda Guerra. 14 Prática Pedagógica em Defi ciência Física Para saber mais, acesse o link: http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL259988-5602,00.html A partir da Declaração dos Direitos Humanos, como citamos anteriormente, surgiram vários documentos relacionados aà inclusão no país e no mundo, assim organizamos uma relação dos documentos internacionais norteadores das Políticas de Inclusão de pessoas com necessidades especiais: Declaração Universal dos Direitos Humanos – Aprovada em 1948 na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Esta declaração é a base da luta universal contra a opressão e a discriminação; defende a igualdade e a dignidade das pessoas e reconhece que os direitos humanos e as liberdades fundamentais devem ser aplicados a cada cidadão do planeta; assegura às pessoas com defi ciência os mesmos direitos de todos os cidadãos, tais como: direito à liberdade, a uma vida digna, à educação fundamental, ao desenvolvimento pessoal e social e à livre participação na comunidade. • Declaração dos Direitos das Pessoas Defi cientes - Resolução aprovada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em 09/12/75. O documento além de relembrar os direitos humanos, apela à ação nacional e internacional para assegurar que ela seja utilizada como base comum de referência para a proteção destes direitos para a pessoa com defi ciência. • Declaração de Jomtien – Em 1990, aconteceu em Jomtien, na Tailândia, a Conferência Mundial sobre Educação para todos, na qual o Brasil participou. Assim, ao assinar essa Declaração, o Brasil assumiu o compromisso, perante a comunidade internacional, de erradicar o analfabetismo e universalizar o Ensino Fundamental no país. • Declaração de Salamanca – Em 1994, a UNESCO organizou a Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais: acesso e qualidade, em Salamanca (Espanha), objetivando a atenção educacional aos alunos com necessidades educacionais especiais. O resultado dessa conferência é um dos principais documentos norteadores da inclusão mundial, A Declaração de Salamanca, que instituiu a inclusão social e escolar de pessoas com necessidades especiais. • Convenção de Guatemala - Trata-se de uma convenção que foi realizada na Guatemala, em 1999, e teve a participação de vários países sul-americanos, 15 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 inclusive o Brasil. Nessa convenção, o foco foi a eliminação da discriminação contra as pessoas com defi ciência. Esse documento dispõe que as pessoas com defi ciência não podem receber tratamentos diferenciados que impliquem exclusão ou restrição ao exercício dos mesmos direitos que as demais pessoas têm. • Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão – Congresso Internacional realizado em Montreal, Quebec, em junho 2001. O Congresso Internacional “Sociedade Inclusiva”, convocado pelo Conselho Canadense de Reabilitação e Trabalho, apela aos governos, empregadores e trabalhadores bem como à sociedade civil para que se comprometam com, e desenvolvam o desenho inclusivo em todos os ambientes, produtos e serviços. Esses são os principais documentos internacionais norteadores da inclusão e base da legislação brasileira. Atividade de Estudos: 1) Vamos relembrar a legislação brasileira para a inclusão de pessoas com necessidades especiais? Tente organizar em tópicos os documentos nacionais que você já conhece. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Se verifi carmos no site do MEC os documentos norteadores para a inclusão escolar facilmente perceberemos a quantidade e a diversidade de materiais 16 Prática Pedagógica em Defi ciência Física acerca desta temática disponíveis para consulta, pesquisa e conhecimento. Assim, consideramos de suma importância que cada pós-graduando acesse e verifi que este portal. Se você já conhece o portal do MEC e já pesquisou sobre a legislação e os materiais direcionados a inclusão, sugerimos que acesse constantemente, pois a cada dia o número de materiais é ampliado e atualizado. Acesse http://portal.mec.gov.br/index.php Link: Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. A partir da sua construção na atividade de estudo e da sua pesquisa, vamos analisar o que as políticas públicas brasileiras já desenvolveram em relação ao processo de inclusão escolar de pessoas com necessidades especiais. No entanto, como verifi camos, há um número amplo de documentos desenvolvidos, muitos delescom especifi cidades bem pontuais; assim, vamos destacar os principais: ECA – Estatuto da Criança e Adolescente – Este estatuto, na Lei n° 8069, de 1990, no que se refere à educação, estabelece que “toda criança e adolescente têm o direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualifi cação para o trabalho” (Art. 53). Ainda, assegura direito a educação, condições de acesso e respeito. LDB 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – A LDB 9394 reserva um capítulo exclusivo para a educação especial (Cap. V). Este capítulo reafi rma o direito à educação, pública e gratuita, das pessoas com defi ciência, condutas típicas e altas habilidades, bem como direciona a oferta e o atendimento especializado para a demanda da educação especial. 17 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva - Documento elaborado por um grupo de trabalho nomeado pelo próprio Ministério da Educação que, “acompanha os avanços do conhecimento e das lutas sociais, visando constituir políticas públicas promotoras de uma educação de qualidade para todos os alunos”. É um documento que objetiva “assegurar a inclusão escolar de alunos com defi ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação”. O mais recente documento, após a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, é o DECRETO Nº 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011– que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE), atentando para os materiais adaptados bem como para o atendimento especializado em salas multifuncionais. Neste momento de nossos estudos, cabe lembrar que, além desses documentos citados, existe uma série de decretos e portarias que tratam das especifi cidades da educação inclusiva no Brasil. Podemos desenhar a trajetória do atendimento à pessoa com defi ciência da seguinte forma: Figura 3 – Trajetória da Inclusão Escolar Fonte: A autora. Que tal agora assistir a um fi lme e se sensibilizar com uma história que envolve a defi ciência física. Vamos Lá? O mais recente documento, após a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, é o DECRETO Nº 7.611, DE 17 DE NOVEMBRO DE 2011– que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE). 18 Prática Pedagógica em Defi ciência Física Filme: De Porta Em Porta (2002). Sinopse: Bill Porter vê poucas perspectivas em seu trabalho como vendedor. Por essa razão, ele se oferece para trabalhar em um território difícil que todos rejeitam. Afi nal, o que é um mero território difícil para Bill, portador de paralisia cerebral? William H. Macy é Bill, que com um corpo, mas não um espírito defi ciente, faz uma vitoriosa carreira como vendedor de porta em porta - causando grande impacto nas vidas de seus clientes. Atividades de Estudos: 1) Após a fruição do fi lme De Porta Em Porta, está na hora de uma atividade de estudos: Tente responder as seguintes perguntas: Você já teve contato com pessoas com defi ciência física? ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 19 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 ____________________________________________________ ____________________________________________________ 2) Conhece alguma prática pedagógica inclusiva para pessoas com defi ciência física? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ conceituanDo a Deficiência fíSica: aSPectoS HiStóricoS e SociaS Segundo Silveira e Nascimento (2011), a defi ciência física refere- se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo-articular, o sistema muscular e o sistema nervoso, ou seja, este tipo de defi ciência compromete a movimentação e a deambulação do indivíduo. Devemos considerar que as alterações podem ocorrer em vários níveis: ósseo, articular, muscular ou nervoso. A defi ciência física pode apresentar diversos comprometimentos das funções motoras que poderão variar em número e grau, de pessoa para pessoa, dependendo de suas causas e abrangências. Os comprometimentos físicos podem apresentar-se como: • cambalear ao caminhar; • caminhar com necessidade do uso de aparelhos específi cos como muletas ou andadores; Segundo Silveira e Nascimento (2011), a defi ciência física refere-se ao comprometimento do aparelho locomotor que compreende o sistema ósteo- articular, o sistema muscular e o sistema nervoso. A defi ciência física pode apresentar diversos comprometimentos das funções motoras que poderão variar em número e grau, de pessoa para pessoa, dependendo de suas causas e abrangências. . 20 Prática Pedagógica em Defi ciência Física • uso de cadeira de rodas; • difi culdade de linguagem, visuais ou auditivas; • necessidade de auxílio para atividades da vida diária, dependendo do caso.; Várias podem ser as causas da defi ciência física, entre as mais comuns podemos citar: Amputações: que podem ter causas vasculares; traumas; malformações e outras. Hemiplegias: também conhecida por paralisação de um lado do corpo, que pode ocorrer após um acidente vascular cerebral; um aneurisma cerebral; tumor cerebral e outros; Lesão medular: lesão na medula que pode ocasionar a paralisação do corpo em diferentes níveis, provocada por ferimento por arma de fogo; ferimento por arma branca; acidentes de trânsito; mergulho em águas rasas, traumatismos diretos; quedas; processos infecciosos; processos degenerativos e outros. Malformações congênitas: durante a gestação a mãe pode ter passado por exposição à radiação; uso de drogas; causas desconhecidas. Artropatias: doenças nas articulações oriundas de processos infl amatórios; processos degenerativos; alterações biomecânicas; hemofi lia; distúrbios metabólicos e outros. Paralisia Cerebral: por prematuridade; anóxia perinatal; desnutrição materna; rubéola; toxoplasmose; trauma de parto; subnutrição e outras. Figura 4 – Defi ciência física Fonte: Disponível em: <http://aprenderincluindo.blogspot.com. br/2009/12/defi ciencia-fi sica.html>. Acesso em: 05 abr. 2013. 21 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 A defi ciência física nos dias atuais corresponde a 20% do número de pessoas com defi ciência em nosso país e em cada mil bebês que nascem, dois podem apresentar paralisia cerebral. Você sabe do que estamos falando? Sabe as causas e os tipos mais comuns desta lesão? comPreenDenDo a ParaLiSia cereBraL A paralisia cerebral é uma lesão no cérebro que ocorre durante osprimeiros estágios do desenvolvimento do bebê. Esta lesão pode provocar alteração intelectual, sensorial ou de linguagem, dependendo da parte do cérebro atingida, porém não é regra. Normalmente, a parte afetada atinge o desenvolvimento MOTOR da criança. O quadro não se agrava, não é progressivo e depende de estímulos para o desenvolvimento. As causas mais comuns são: • PRÉ-NATAL: Infecções congênitas (citamegalia, toxoplasmose, rubéola). Falta de oxigenação fetal. Exposição da mãe a substancias tóxicas ou radiações, álcool, drogas e certas medicações (principalmente nos primeiros meses de gestação). • PERINATAL: Falta de oxigênio ao nascer (o bebê demora a respirar, lesando parte(s) do cérebro). Lesões causadas por partos difíceis, principalmente a dos fetos muito grandes de mães pequenas ou muito jovens (a cabeça do bebê pode ser muito comprimida durante a passagem pelo canal vaginal). Trabalho de parto demorado. Mau uso do fórceps, manobras obstétricas violentas. Os bebês que nascem prematuramente (antes dos 9 meses e pesando menos de 2 quilos) têm mais chances de apresentar Paralisia Cerebral. • PÓS-NATAL: Febre prolongada e muito alta. Desidratação, com perda signifi cativa de líquidos. Infecções cerebrais causadas por meningite ou encefalite. Ferimento ou traumatismo na cabeça. Falta de oxigênio por afogamento ou outras causas. Envenenamento por gás, por chumbo (utilizado no esmalte A paralisia cerebral é uma lesão no cérebro que ocorre durante os primeiros estágios do desenvolvimento do bebê. Esta lesão pode provocar alteração intelectual, sensorial ou de linguagem, dependendo da parte do cérebro atingida, porém não é regra. 22 Prática Pedagógica em Defi ciência Física cerâmico, nos pesticidas agrícolas ou outros venenos). Sarampo. Traumatismo crânio-encefálico até os três anos de idade. Fonte: Adaptado do site: <www.apcb.org.br/paralisia.asp>. Acesso em: 10 maio 2007. Muitas pessoas confundem a paralisia cerebral com a defi ciência intelectual, o que é um grande equívoco, pois a paralisia cerebral apresenta comprometimento no desenvolvimento motor e não no cognitivo. A defi ciência intelectual pode estar associada à paralisia cerebral, porém não é regra, pois em muitos casos o cognitivo é preservado. PARALISIA CEREBRAL: MITO E REALIDADE 14/12/2007 - Jornal da AME. Paralisia Cerebral e Defi ciência Intelectual. Existem alguns mitos relacionados às pessoas com defi ciência, em geral alimentados pela sociedade em virtude da falta de convivência e familiaridade. Um deles é a associação da paralisia cerebral com defi ciência intelectual. Uma até pode estar associada à outra, mas isso não é regra, pois são quadros muito distintos. Há vários tipos de paralisia cerebral, relacionados com a localização e a extensão da lesão no cérebro, mas a lesão necessariamente não chega a atingir o intelecto. Quando a lesão está localizada nas áreas que modifi cam ou regulam o movimento, a criança apresenta movimentos involuntários, que estão fora de seu controle e permanecem durante a fase de desenvolvimento e na idade adulta. As Várias Causas da Paralisia Cerebral. Segundo a Associação de Paralisia Cerebral do Brasil (APCB), a paralisia cerebral (PC) se dá pela falta de oxigênio no cérebro durante o nascimento. Algumas doenças ou problemas durante a gestação também podem causar a PC, como, por exemplo, ameaça de aborto, choque direto no abdômen da mãe, incompatibilidade Segundo a Associação de Paralisia Cerebral do Brasil (APCB), a paralisia cerebral (PC) se dá pela falta de oxigênio no cérebro durante o nascimento. 23 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 entre o tipo sanguíneo da mãe e do pai, hipertensão arterial durante a gravidez, infecções congênitas como a sífi lis, toxoplasmose, herpes, rubéola, consumo de drogas e exposição a radiação ou qualquer outro fator que leve a uma lesão no sistema nervoso central. As causas perinatais estão relacionadas principalmente com complicações durante o parto e a prematuridade. As principais causas de PC depois do nascimento são febre prolongada e muito alta, desidratação grave, sarampo e traumatismo crânio-encefálico até os três anos de idade, entre outras. Isso se dá pelo fato de até os dois anos de vida o sistema nervoso central não estar totalmente formado. Pode se defi nir a PC como um distúrbio ou transtorno dos movimentos e da postura, que não regride e não progride, e assim não se caracteriza como doença ou síndrome. Pode trazer difi culdades nos movimentos, na locomoção, audição e visão do bebê. Mas, em 90% dos casos, a inteligência de quem tem PC é preservada. Diferenças entre Paralisia Cerebral e Defi ciência Intelectual. Segundo o neurologista infantil do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Fernando Kok, uma lesão no sistema nervoso central pode afetar a parte motora ou mental da pessoa e quando esta lesão só atinge a parte motora, denomina-se paralisia cerebral. Quando a lesão compromete a parte mental (cognitivo), resulta em defi ciência intelectual. De acordo com a Associação Americana de Defi ciência Intelectual e Distúrbio do Desenvolvimento, a pessoa com defi ciência intelectual apresenta QI menor que 70, o que necessariamente não faz relação com quem tem PC. Educação e Escola. Na questão da educação, muitas vezes quem tem PC não é acometido por nenhuma disfunção cognitiva, mas apresenta limitações físicas, como não conseguir fi car muito tempo sentado e não se comunicar ou escrever da forma convencional. Normalmente são utilizadas ajudas técnicas como cadeira e lápis adaptados, podendo estudar em escola regular. Prevenção e Diagnóstico. Existem diversos graus de limitações e não é possível reverter um quadro de PC, uma vez que a lesão do cérebro estará sempre lá, 24 Prática Pedagógica em Defi ciência Física porém, é possível preveni-lo, sendo muito importante que as mães façam o pré-natal durante toda a gestação. O diagnóstico da paralisia cerebral é feito por análises neurológicas e exames por imagem como ressonância magnética, tomografi a e ultra-som. No exame clínico é observado se há sinais de refl exos, com o exame do martelinho, se há atraso na evolução da criança, como sentar, manter o corpo mais fi rme, andar, etc. “Ao engravidar, a mulher deve procurar alimentar-se bem, evitar o álcool, o fumo e não tomar remédios sem consultar o médico. Vacinar o bebê e evitar qualquer situação de risco são essenciais”, destaca a fi sioterapeuta e doutora em Ciências pelo Departamento de Neurologia da Faculdade de Medicina da USP, Ana Paula Restiffe. Sociedade e Pessoas com Paralisia Cerebral. Por desconhecimento da sociedade em geral, as pessoas que possuem PC têm difi culdades na vida social e profi ssional. Com relação ao mercado de trabalho, o preconceito em relação ao paralisado cerebral leva ao descrédito sobre suas reais capacidades. No Brasil, onde a crise de emprego atinge parte considerável da população, a paralisia cerebral se apresenta como mais uma barreira para que o indivíduo consiga uma colocação profi ssional, e por conseqüência, aceitação na sociedade. Fonte: SILVA, Maria Isabel da. Paralisia Cerebral: Mito e Realidade. Jornal da AME, ed. 65, out. 2007. Disponível em: <http://www. bengalalegal.com/paralisia>. Acesso em: 4 abr. 2012. Segundo Silveira e Nascimento (2011), a paralisia cerebral pode ser classifi cada em: Ataxia - Caracterizada por diminuição da tonicidade muscular, incoordenação dos movimentos e equilíbrio defi ciente, devido a lesões no cerebelo ou das vias cerebelosas. Espástico- Caracterizado por paralisia e aumentode tonicidade dos músculos resultante de lesões no córtex ou nas vias daí provenientes. É o tipo mais comum de paralisia cerebral. Atetose/Distonia - Caracterizada por movimentos involuntários e variações na tonicidade muscular resultantes de lesões dos núcleos situados no interior dos hemisférios cerebrais (Sistema Extra-Piramidal) 25 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 A classifi cação da paralisia cerebral são informações que contribuem para a compreensão das necessidades de cada criança. Além do contexto, é fundamental que a escola tenha conhecimento das especifi cidades a fi m de contribuir da melhor maneira possível com o processo de inclusão escolar. aSPectoS HiStóricoS e SociaiS Da Deficiência fíSica Para fi nalizar este capítulo sobre os aspectos históricos, políticos e sociais da Defi ciência Física abordando alguns exemplos de práticas positivas e signifi cativas, gostaria de trazer um grande autor que dedicou boa parte de suas pesquisas compreendendo a pessoa com defi ciência: Vygotsky. Certamente durante o seu caminhar pela estrada da educação, você já ouviu falar deste autor; no entanto, poucas pessoas conhecem as pesquisas de Vygotsky acerca dos Fundamentos da Defectologia. Esses estudos norteiam as práticas de inclusão até hoje. Vygotsky (1997) acreditava que o ser humano é histórico e social, fruto das suas relações com o meio e com os seus pares. Defendia relações heterogêneas, pois acreditava na construção do aprendizado propiciada pelas relações e então iniciou vários estudos acerca da pessoa com defi ciência. O autor atentou para a importância de aprender por meio das relações com o outro, pois é por meio dessas relações que a criança desenvolve seu potencial, passa a observar-se e a perceber-se como sujeito de sua própria história. Vygotsky (1997) deixou perceptível, em seus escritos, que acreditava que a interação com o grupo facilita o processo de desenvolvimento e de aprendizagem, e enfatizava a importância da educação social de crianças defi cientes e o potencial da criança para o desenvolvimento normal. Afi rmava que as defi ciências corporais afetavam as suas relações sociais, e não suas interações diretas com o ambiente físico; ou seja, o defeito orgânico manifestava-se devido à situação social da criança e essa situação social poderia se agravar dependendo do modo como as pessoas tratavam tais crianças. O autor considerava, em seus estudos acerca dos fundamentos da defectologia, que crianças com defi ciências passavam por um processo Vygotsky (1997) acreditava que o ser humano é histórico e social, fruto das suas relações com o meio e com os seus pares. Para Vygotsky (1997), a educação social, baseada na compensação social dos problemas físicos, era a maneira de proporcionar uma vida satisfatória às pessoas defi cientes. 26 Prática Pedagógica em Defi ciência Física de “supercompensação”. Nesse processo mencionado pelo autor, o cérebro supercompensava um sentido, pelo desenvolvimento acentuado de outro sentido, sendo que isso se dava por meio das experiências sociais das crianças. Para Vygotsky (1997), a educação social, baseada na compensação social dos problemas físicos, era a maneira de proporcionar uma vida satisfatória às pessoas defi cientes. Partindo da legislação dos estudos de diferentes autores, inclusive os de Vygotsky, percebemos uma grande movimentação em prol da inclusão escolar; assim, hoje as crianças com necessidades especiais frequentam a escola regular e o atendimento especializado na mesma escola nas salas de apoio multifuncionais. As salas de apoio multifuncionais são mais uma conquista e um projeto que pretendem diminuir as barreiras entre o ensino regular e o atendimento especializado. O que precisamos é defender a inclusão e o direito de todos sem apegos à disputa por espaços e atendimentos. O lugar de “todas” as crianças é na escola e é justamente isto que as políticas nacionais e internacionais almejam garantir. É função do professor do AEE produzir materiais didáticos e pedagógicos, tendo em vista as necessidades específi cas desses alunos na sala de aula do ensino regular. Esse trabalho deve se realizar focalizando as atitudes do aluno diante da aprendizagem e propiciar o desenvolvimento de ferramentas intelectuais que facilitarão sua interação escolar e social. (BRASIL, 2010, p. 09) O atendimento nas salas multifuncionais ainda está em fase de implementação. Profi ssionais especializados estão desenvolvendo projetos diferenciados, com experiências positivas muitas vezes isoladas, mas que conseguimos ter acesso devido ao avanço tecnológico que nos permite pesquisas em tempo real. Vamos lá! Pesquise você também sobre práticas de inclusão de crianças com defi ciência física. Tenho certeza que você se surpreenderá com os resultados alcançados! Deixo aqui algumas dicas de fontes de pesquisa: REVISTA BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL - SCIELO REVISTA DE EDUCAÇÃO ESPECIAL - UFSM As salas de apoio multifuncionais são mais uma conquista e um projeto que pretendem diminuir as barreiras entre o ensino regular e o atendimento especializado. É função do professor do AEE produzir materiais didáticos e pedagógicos, tendo em vista as necessidades específi cas desses alunos na sala de aula do ensino regular. 27 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 REVISTA INCLUSÃO – MEC REVISTA CIRANDA DA INCLUSÃO Atividades de Estudos: 1) Além das revistas citadas anteriormente, ainda sugiro que acessem os sites das Secretarias de Educação de seus estados e municípios a fi m de descobrir as ações desenvolvidas em sua localidade. Que tal começar agora? Pesquise e em seguida pontue o que considerou signifi cativo entre as ações desenvolvidas. Lembre-se de que neste momento estamos falando da inclusão de pessoas com defi ciência física. Tenho certeza que você encontrará pelo menos uma grande relação de jogos e brincadeiras adaptadas. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Finalizo este capítulo com uma contribuição referente ao atendimento especializado nas salas multifuncionais. Sugiro que você assista ao vídeo que é apresentado na fi gura a seguir. Figura: As salas multifuncionais deixaram de ser um item a mais nas instituições de ensino e se tornaram atrativas para as crianças com necessidades especiais que frequentam o eensino regular. 28 Prática Pedagógica em Defi ciência Física Figura 5 – Salas multifuncionais Fonte: Disponível em: <http://www.youtube.com/ watch?v=gvlsEfOJX14>. Acesso em: 15 jan. 2013. aLgumaS conSiDeraçõeS Neste capítulo, atentamos para a trajetória da Educação Inclusiva no Brasil. Apontamos o modo como as pessoas com defi ciência eram tratadas na Antiguidade até a Declaração dos Direitos Humanos. A partir da Declaração dos Direitos Humanos, apresentamos os principais documentos internacionais que tratam da Inclusão como: Declaração dos Direitos das Pessoas Defi cientes, Declaração de Jomtien, Declaração de Salamanca, Convenção de Guatemala e Declaração Internacional de Montreal sobre Inclusão. Também sinalizamos para a importância em conhecer os documentos nacionais que norteiam a inclusão no país, disponibilizados nosite do Ministério da Educação; o ECA – Estatuto da Criança e Adolescente; a LDB 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional;, a Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva e o Documento mais recente do Decreto Nº 7.611, de 17 de novembro de 2011, que dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado (AEE), atentando para os materiais adaptados e para o atendimento especializado em salas multifuncionais. 29 DEFICIÊNCIA FÍSICA: CONCEITO, HISTÓRICO E LEGISLAÇÃO Capítulo 1 Finalizamos o capítulo com os estudos de Vygotsky que apontam para a supercompensação da defi ciência e também com uma refl exão acerca do trabalho nas salas multifuncionais. No próximo capítulo abordaremos a importância da inclusão no PPP da Escola. Até lá! referênciaS BRASIL. Ministério da Educação. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, MEC, 2008. Disponível em: <portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/política.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2012. ______. DECRETO Nº 7.611. Brasília, MEC 17 DE NOVEMBRO DE 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/ Decreto/D7611.htm>. Acesso em: 10 ago. 2012. GUGEL, Maria Aparecida.l. Pessoas com Defi ciência e o Direito aoTrabalho. Florianópolis : Obra Jurídica, 2007. MITTLER, Peter. Educação inclusiva: contextos sociais. Trad. WindyzBrazão Ferreira. Porto Alegre: Artmed, 2003. SILVEIRA, Tatiana dos Santos da; NASCIMENTO, Luciana Monteiro do. Educação Inclusiva. Indaial, Editora UNIASSELVI, 2011. VIEIRA, Fernando David; PEREIRA, Mário do Carmo. Se Houvera quem me ensinara...A Educação de pessoas com Defi ciência Mental. 2° ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Serviço de Educação. Gráfi ca de Coimbra, Lda : Setembro, 2003. VYGOTSKY, Lev S. Fundamentos da defectologia. Madrid: Portugal: Visor, 1997. CAPÍTULO 2 a incLuSão e o PPP Da eScoLa: aDaPtaçõeS curricuLareS, ProceDimentoS De enSino e avaLiação A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes objetivos de aprendizagem: Compreender a importância da consonância entre o PPP da escola e a Legislação referente à Educação inclusiva. Conhecer adaptações curriculares para propiciar a inclusão de crianças com defi ciência física na escola. Refl etir acerca da avaliação nos processos de inclusão de crianças com necessidades especiais na escola a partir dos documentos norteadores das Práticas Pedagógicas. 33 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 conteXtuaLiZação Este capítulo abordará um tema muito importante no que tange às discussões e aos direcionamentos para a inclusão escolar de alunos com defi ciência física: O Projeto Político Pedagógico (PPP) da Escola. Sabe-se que a compreensão da legislação é um grande passo para pensar a escola inclusiva, no entanto isto não basta se o PPP das escolas não tiver convergência com o que a lei preconiza, se não existirem adaptações curriculares e discussão acerca da avaliação neste documento. A partir de agora, discutiremos este entrelaçamento entre o PPP, a legislação, as adaptações curriculares e os processos de avaliação em busca da inclusão do defi ciente físico nas escolas. QuanDo a LegiSLação e o PPP Da eScoLa Se encontram Escola Inclusiva signifi ca educar todos os alunos em salas de aula comuns; isto signifi ca que todos, sem exceção, recebem educação e frequentam as mesmas aulas. E, consequentemente, signifi ca que todos recebem oportunidades educacionais adequadas, além disso, é necessário também que o aluno ou seu professor receba e busque também todo o auxílio que necessitar e para oferecer este ensino. Mas, além disto, a escola inclusiva é um local em que todos fazem parte, em que existe aceitação e cooperação entre seus membros. A educação inclusiva concebe a escola como um espaço de todos, no qual os alunos constroem o conhecimento segundo suas capacidades, expressam suas idéias livremente, participam ativamente das tarefas de ensino e se desenvolvem como cidadãos, nas suas diferenças. Nas escolas inclusivas, ninguém se conforma a padrões que identifi cam os alunos como especiais e normais, comuns. Todos se igualam pelas suas diferenças! (BRASIL, 2010, p.08) Neste sentido, a inclusão escolar dispõe de algumas estratégias, a saber: 34 Prática Pedagógica em Defi ciência Física • Frequência de todos os alunos em sala de aula comum com a mesma faixa etária. • Frequência do aluno com necessidades especiais em uma escola de sua comunidade.; • O professor é responsável por todos os alunos, independente de suas peculiaridades; • Inclusão do aluno na vida social da escola. Figura 06 - Inclusão escolar Fonte: Disponível em: <http:// eusouluzpazeamor.blogspot.com/>. Acesso em: 10 abr. 2013. Essas estratégias não devem ser pensadas de forma isolada e sim através do grupo de educadores das escolas a partir da legislação e da implementação nos documentos ofi ciais da escola, entre eles o PPP, como também da própria prática. “A escola comum se torna inclusiva quando reconhece as diferenças dos alunos diante do processo educativo e busca a participação e o progresso de todos, adotando novas práticas pedagógicas” (BRASIL, 2010, p.09). Segundo o documento “A escola Comum” do MEC: O Projeto Político Pedagógico é o instrumento por excelência para melhor desenvolver o plano de trabalho eleito e defi nido por um coletivo escolar; ele refl ete a singularidade do grupo que o produziu, suas escolhas e especifi cidades. (BRASIL, 2010, p.10) Para os autores deste documento, é ingenuidade pensar que ações isoladas e individualizadas garantem a inclusão na escola. A inclusão na escola comum precisa ser pensada por todos, necessita ser discutida por todos e vivenciada por todos. A organização do PPP da escola e as discussões acerca da inclusão escolar permitem um diálogo que trata das especifi cidades do É ingenuidade pensar que ações isoladas e individualizadas garantem a inclusão na escola. A inclusão na escola comum precisa ser pensada por todos, necessita ser discutida por todos e vivenciada por todos. 35 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 ambiente, da comunidade, enfi m do contexto da escola! Essa discussão deverá alicerçar, normatizar e institucionalizar as ações a serem desenvolvidas por toda a comunidade escolar. Assim o PPP deverá abordar: • O contexto da escola. • A concepção de inclusão. • A compreensão do Atendimento Educacional Especializado. • As estratégias de integração e socialização dos alunos. • Os recursos e materiais adaptados. • As adaptações curriculares. • As formas de registros e avaliação. • A função social da escola e dos sujeitos envolvidos. Figura 07- Construção coletiva Fonte: Disponível em: <http://www.trxantoniocarlos. seed.pr.gov.br>. Acesso em: 10 abr. 2013. Para ampliar nosso conhecimento sobre o PPP da escola, sugerimos a leitura do texto da professora Maria Terezinha da Consolação Teixeira dos Santos. 36 Prática Pedagógica em Defi ciência Física Este texto aponta aspectos fundamentais referentes ao PPP da Escola, bem como aspectos relacionados à inclusão escolar, dentro deste documento. PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO O PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO, AUTONOMIA E GESTÃO DEMOCRÁTICA Autora - Maria Terezinha da Consolação Teixeira dos Santos A constatação de que a realidade escolar é dinâmica e depende de todos dá força e sentido à elaboração do PPP, entendido não apenas como um mero documento exigido pela burocracia e administração escolar, mas como registro de signifi cados a serem outorgados ao processo de ensino e de aprendizagem, que demandatomada de decisões e acompanhamento de ações consequentes. O PPP não pode ser um documento paralelo que não diz respeito, que não atravessa o cotidiano escolar e fi ca restrito à categoria de um arquivo ou de uma alegoria, de caráter residual. Ele altera a estrutura escolar e escrevê-lo e arquivá-lo nos registros da escola só serve para acomodar a consciência dos que não têm um verdadeiro compromisso com uma escola de todos, por todos e para todos. Nossa legislação educacional é clara no que toca à exigência de a escola ter o seu PPP; ela não pode se furtar ao compromisso assumido com a sociedade de formação e de desenvolvimento do processo de educação, devidamente planejado. A exigência legal do PPP está expressa na LDBEN - Lei Nº. 9.394/96 que, em seu artigo 12, defi ne, entre as atribuições de uma escola, a tarefa de “[...] elaborar e executar sua proposta pedagógica”, deixando claro que ela precisa fundamentalmente saber o que quer e colocar em execução esse querer, não fi cando apenas nas promessas ou nas intenções expostas no papel. Ao sistematizar estas escolhas e decisões, o PPP, a partir de um estudo da demanda da realidade escolar cria as condições necessárias para a elaboração do planejamento e o desenvolvimento do trabalho da sua equipe e da avaliação processual das etapas e metas propostas. Para Gadotti e Romão (1997), o Projeto Político Pedagógico deve 37 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 ser entendido como um horizonte de possibilidades para a escola. O Projeto imprime uma direção nos caminhos a serem percorridos pela escola. Ele se propõe a responder a um feixe de indagações de seus membros, tais como: qual educação se quer e qual tipo de cidadão se deseja, para qual projeto de sociedade? O PPP propõe uma organização que se funda no entendimento compartilhado dos professores, alunos e demais interessados em educação. Todas as intenções da escola, reunidas no Projeto Político Pedagógico, conferem-lhe o caráter POLÍTICO, porque ele representa a escolha de prioridades de cidadania em função das demandas sociais. O PPP ganha status PEDAGÓGICO ao organizar e sistematizar essas intenções em ações educativas alinhadas com as prioridades estabelecidas. O caráter coletivo e a necessidade de participação de todos é inerente ao PPP, pois ele não se resume a um mero plano ou projeto burocrático, que cumpre as exigências da lei ou do sistema de ensino. Trata-se de um documento norteador das ações da escola que, ao mesmo tempo, oportuniza um exercício refl exivo do processo para tomada de decisões no seu âmbito. O professor, portanto, ao contribuir para a elaboração do PPP, bem como ao participar de sua execução no cotidiano da escola, tem a oportunidade de exercitar um ensino democrático, necessário para garantir acesso e permanência dos alunos nas escolas e para assegurar a inclusão, o ensino de qualidade e a consideração das diferenças dos alunos nas salas de aula. Exercer esse papel como um dos mentores do PPP não é uma obrigação formal, mas o resultado de um envolvimento pessoal do professor. Nesse sentido, vem antes a sua disposição de participar, porque contribuir é reconhecer a importância de sua colaboração para que o projeto se execute. Nos textos legais, fi ca clara a ênfase dada ao Projeto Político Pedagógico de cada escola, bem como a reiteração de que a proposta seja construída e administrada à luz de uma gestão democrática. Evidencia-se na legislação o caráter da comunidade escolar participativa e ampliada para além dos muros escolares, com compromisso conjunto nos rumos da educação dos cidadãos. A gestão democrática ampliada nos contornos da comunidade ganha, por meio do texto legal, condições de ser exercida com autonomia. Embora a escola não seja independente de seu sistema de 38 Prática Pedagógica em Defi ciência Física ensino, ela pode se articular e interagir com autonomia como parte desse sistema que a sustenta, tomando decisões próprias relativas às particularidades de seu estabelecimento de ensino e da sua comunidade. [...] [...] Entretanto, mesmo outorgada por lei, a autonomia escolar é construída aos poucos e cotidianamente. Do ponto de vista cultural e educacional, encontram-se poucas experiências de construção da autonomia e do cultivo de hábitos democráticos. [...] Os professores constroem a democracia no cotidiano escolar por meio de pequenos detalhes da organização da prática pedagógica. Nesse sentido, fazem a diferença: o modo de trabalhar os conteúdos com os alunos; a forma de sugerir a realização de atividades na sala de aula; o controle disciplinar; a interação dos alunos nas tarefas escolares; a sistematização do AEE no contra-turno; a divisão do horário; a forma de planejar com os alunos; a avaliação da execução das atividades de forma interativa. Embora já tenhamos uma Constituição, estatutos, legislação, políticas educacionais e decretos que propõem e viabilizam novas alternativas para a melhoria do ensino nas escolas, ainda atendemos a alunos em espaços escolares semi ou totalmente segregados, tais como as classes especiais, as turmas de aceleração, as escolas especiais, as aulas de reforço, entre outros. O salto da escola dos diferentes para a escola das diferenças demanda conhecimento, determinação, decisão. As propostas de mudança variam e dependerão de disposição, discussões, estudos, levantamento de dados e iniciativas a serem compartilhadas pelos seus membros, enfi m, de gestões democráticas das escolas, que favoreçam essa mudança. Muitas decisões precisam ser tomadas pelas escolas ao elaborarem seus Projetos Político Pedagógicos, entre as quais destacamos algumas, que estão diretamente relacionadas com as mudanças que se alinham aos propósitos da inclusão: fazer da aprendizagem o eixo das escolas, garantindo o tempo necessário para que todos possam aprender; reprovar a repetência; abrir espaço para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam praticados por seus professores, gestores, funcionários e alunos, pois essas são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania; valorizar e formar continuamente 39 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 o professor, para que ele possa atualizar-se e ministrar um ensino de qualidade. No nível da sala de aula e das práticas de ensino, a mobilização do professor e/ou de uma equipe escolar em torno de uma mudança educacional como a inclusão não acontece de modo semelhante em todas as escolas. Mesmo havendo um Projeto Político Pedagógico que oriente as ações educativas da escola, há que existir uma entrega, uma disposição individual ou grupal de sua equipe de se expor a uma experiência educacional diferente das que estão habituados a viver. Para que qualquer transformação ou mudança seja verdadeira, as pessoas têm de ser tocadas pela experiência. Precisam ser receptivas, disponíveis e abertas a vivê-la, baixando suas guardas, submetendo-se, entregando-se à experiência [...] sem resistências, sem segurança, poder, fi rmeza, garantias (BONDÍA, 2002). As mudanças não ocorrem pela mera adoção de práticas diferentes de ensinar. Elas dependem da elaboração dos professores sobre o que lhes acontece no decorrer da experiência educacional inclusiva que eles se propuseram a viver. O que vem dos livros e o que é transmitido aos professores nem sempre penetram em suas práticas. A experiência a que nos referimos não está relacionada com o tempo dedicado ao magistério, ao saber acumulado pelarepetição de uma mesma atividade utilitária, instrumental. Estamos nos referindo ao saber da experiência, que é subjetivo, pessoal, relativo, adquirido nas ocasiões em que entendemos e atribuímos sentidos ao que nos acontece, ao que nos passa, ao que nos sucede ao viver a experiência (BONDÍA, 2002). O reconhecimento de que os alunos aprendem segundo suas capacidades não surge de uma hora para a outra, só porque as teorias assim afi rmam. Acolher as diferenças terá sentido para o professor e fará com que ele rompa com seus posicionamentos sobre o desempenho escolar padronizado e homogêneo dos alunos, se ele tiver percebido e compreendido por si mesmo essas variações, ao se submeter a uma experiência que lhe perpassa a existência. O professor, então, desempenhará o seu papel formador, que não se restringe a ensinar somente a uma parcela dos alunos que conseguem atingir o desempenho exemplar esperado pela escola. Ele ensina a todos, indistintamente. [...] Opor-se a inovações educacionais, resguardando-se no Mesmo havendo um Projeto Político Pedagógico que oriente as ações educativas da escola, há que existir uma entrega, uma disposição individual ou grupal de sua equipe de se expor a uma experiência educacional diferente das que estão habituados a viver. 40 Prática Pedagógica em Defi ciência Física despreparo para adotá-las, resistir e refutá-las simplesmente, distancia o professor da possibilidade de se formar e de se transformar pela experiência. Oposições e contraposições à inclusão incondicional são freqüentes entre os professores e adiam projetos do ensino comum e especial focados na inserção das diferenças nas escolas. É nos bancos escolares que se aprende a viver entre os nossos pares, a dividir as responsabilidades, a repartir tarefas. Nesses ambientes, desenvolvem-se a cooperação e a produção em grupo com base nas diferenças e talentos de cada um e na valorização da contribuição individual para a consecução de objetivos comuns de um mesmo grupo. A interação entre colegas de turma, a aprendizagem colaborativa, a solidariedade entre alunos e entre estes e o professor devem ser estimuladas. Os professores, quando buscam obter o apoio dos alunos e propõem trabalhos diversifi cados e em grupo, desenvolvem formas de compartilhamento e difusão dos conhecimentos nas salas de aula. A formação de turmas tidas como homogêneas é um dos argumentos de defesa dos professores, gestores e especialistas em favor da qualidade do ensino, que precisa ser refutado, porque se trata de uma ilusão que compromete o ensino e exclui alunos. A avaliação de caráter classifi catório, por meio de notas, provas e outros instrumentos similares, mantém a repetência e a exclusão nas escolas. A avaliação contínua e qualitativa da aprendizagem, com a participação do aluno, tendo, inclusive, a intenção de avaliar o ensino oferecido e torná-lo cada vez mais adequado à aprendizagem de todos os alunos conduz a outros resultados. A adoção desse modo de avaliar com base na qualidade do ensino e da aprendizagem já diminuiria substancialmente o número de alunos que são indevidamente avaliados e categorizados como defi cientes nas escolas comuns. Os professores em geral concordam com novas alternativas de se avaliar os processos de ensino e de aprendizagem e admitem que as turmas são naturalmente heterogêneas. Sentem-se, contudo, inseguros diante da possibilidade de fazer uso dessas alternativas em sala de aula e inovar as rotinas de trabalho, rompendo com a organização pedagógica pré-estabelecida. 41 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 Ao contrário do que se pensa e se faz, as práticas escolares inclusivas não implicam um ensino adaptado para alguns alunos, mas sim um ensino diferente para todos, em que os alunos tenham condições de aprender, segundo suas próprias capacidades, sem discriminações e adaptações. A ideia do currículo adaptado está associada à exclusão na inclusão dos alunos que não conseguem acompanhar o progresso dos demais colegas na aprendizagem. Currículos adaptados e ensino adaptado negam a aprendizagem diferenciada e individualizada. O ensino escolar é coletivo e deve ser o mesmo para todos, a partir de um único currículo. É o aluno que se adapta ao currículo, quando se admitem e se valorizam as diversas formas e os diferentes níveis de conhecimento de cada um. [...] As propostas curriculares, quando contextualizadas, reconhecem e valorizam os alunos em suas peculiaridades de etnia, de gênero, de cultura. Elas partem das vidas e experiências dos alunos e vão sendo tramadas em redes de conhecimento, que superam a tão decantada sistematização do saber. O questionamento dessas peculiaridades e a visão crítica do multiculturalismo trazem uma perspectiva para o entendimento das diferenças, a qual foge da tolerância e da aceitação, atitudes estas tão carregadas de preconceito e desigualdade. Essa concepção questiona a exclusão social e demais formas de privilégios e de hierarquias das sociedades contemporâneas, indagando sobre as diferenças e apoiando movimentos de resistência dos dominados. Outras práticas educacionais inclusivas que derivam dos propósitos de se ensinar à turma toda, sem discriminações, por vezes são refutadas pelos professores ou aceitas com parcimônia, desconfi ança e sob condições. Motivos não faltam para que eles se comportem desse modo. Muitos receberam sua própria formação dentro do modelo conservador, que foi sendo reforçado dentro das escolas. Fonte: Disponível em: <http://arivieiracet.blogspot.com.br/2011/01/ projeto-politico-pedagogico.html>. Acesso em: 10 abr. 2013. 42 Prática Pedagógica em Defi ciência Física Atividade de Estudos: 1) E você pós-graduando, já participou da elaboração do PPP da sua escola? Com base no texto da professora Maria Terezinha, escreva quais são os pontos mais comuns discutidos na elaboração dos PPP´s. ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ ____________________________________________________ 43 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DEENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 A fi gura a seguir ilustra as bases para a construção de um PPP. Figura 08 - PPP escolar Fonte: Disponível em: <http://www.moodle.ufba.br/fi le.php/8854/ ACERVO/Mapa_PPP.jpg>. Acesso em: 10 abr. 2013. É importante lembrar que o PPP é um documento que deve ter sua construção alicerçada ao trabalho coletivo da escola, bem como deve estar em consonância com a legislação que o ampara. Participar da construção do PPP é um direito e uma obrigação de toda a comunidade escolar; torná-lo um documento que respeite e valorize as diferenças e institucionalizá-lo também é um dever de todos. É importante lembrar que o PPP é um documento que deve ter sua construção alicerçada ao trabalho coletivo da escola, bem como deve estar em consonância com a legislação que o ampara. 44 Prática Pedagógica em Defi ciência Física aDaPtaçõeS curricuLareS Para criançaS com Deficiência fíSica As adaptações curriculares para crianças com defi ciência física podem variar desde uma simples adaptação de material, como um engrossador de lápis, até adaptações que envolvem a comunicação alternativa, por exemplo. Tais ações dependerão da defi ciência física apresentada pela criança ou pelo adolescente. Indiferente às adaptações planejadas e organizadas, é necessário compreender as características das escolas inclusivas, afi nal será que todas as escolas apresentam tais características? Será que todas as comunidades escolares apresentam-se de forma inclusiva? A seguir apresentaremos as principais características das escolas inclusivas segundo Sassaki (1997). Figura 05 - Características das escolas inclusivas 1. Um senso de pertencer Filosofia e visão de que todas as crianças pertencem à escola e à comunidade e de que podem aprender juntas. 2. Liderança A equipe Gestora envolve-se ativamente com a escola toda no provimento de estratégias. 3. Padrão de excelência Os altos resultados educacionais refl etem as necessidades individu- ais dos alunos. 4. Colaboração e cooperação Envolvimento de alunos em estratégias de apoio mútuo (ensino de iguais, sistema de companheiro, aprendizado cooperativo, ensino em equipe, co-ensino, equipe de assistência aluno-professor etc.). 5. Novos papéis e responsabilidades Os professores falam menos e assessoram mais, psicólogos atuam mais junto aos professores nas salas de aula, todo o pessoal da escola faz parte do processo de aprendizagem. 6. Parceria com os pais Os pais são parceiros igualmente essenciais na educação de seus fi lhos. 7. Acessibilidade Todos os ambientes físicos são tornados acessíveis e, quando necessário, é oferecida tecnologia assistiva. Indiferente às adaptações planejadas e organizadas, é necessário compreender as características das escolas inclusivas. 45 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 8. Ambientes fl exíveis de aprendizagem Espera-se que os alunos se promovam de acordo com o estilo e ritmo individual de aprendizagem e não de uma única maneira para todos. 9. Estratégias baseadas em pesquisas Aprendizado cooperativo, adaptação curricular, ensino de iguais, instrução direta, ensino recíproco, treinamento em habilidades sociais, instrução assistida por computador, treinamento em habilidades de estudar etc. 10. Novas formas de avaliação escolar Dependendo cada vez menos de testes padronizados, a escola usa novas formas para avaliar o progresso de cada aluno rumo aos respectivos objetivos. 11. Desenvolvimento profi ssional continuado Aos professores são oferecidos cursos de aperfeiçoamento contínuo visando a melhoria de seus conhecimentos e habilidades para melhor educar seus alunos. Fonte: Disponível em: <http://www.inclusao.com.br/projeto_ textos_22.htm>. Acesso em: 10 abr. 2013. Quando uma escola caracteriza-se como inclusiva, constantemente avança em busca de novas estratégias para garantir a inclusão escolar, discutindo, pesquisando e inovando nas práticas educacionais. As adaptações envolvem muito mais do que organização de materiais e espaços, elas envolvem pessoas de diferentes segmentos e, segundo o documento Adaptações Curriculares do MEC (BRASIL, 2000), tais adaptações podem ser classifi cadas como de pequeno ou grande porte. As Adaptações Curriculares de Pequeno Porte (Adaptações Não Signifi cativas) são modifi cações promovidas no currículo, pelo professor de forma a permitir e promover a participação produtiva dos alunos que apresentam necessidades especiais no processo de ensino e aprendizagem, na escola regular, juntamente com seus parceiros coetâneos. São denominadas de Pequeno Porte (Não Signifi cativas) porque sua implementação encontra-se no âmbito de responsabilidade e de ação exclusivos do professor, não exigindo autorização, nem dependendo de ação de qualquer outra instância superior, nas áreas política, administrativa, e/ou técnica. (BRASIL, 2000, p.08) São consideradas adaptações de Pequeno Porte: 46 Prática Pedagógica em Defi ciência Física ADAPTAÇÕES DE PEQUENO PORTE • Criar condições físicas, ambientais e materiais para a participação do aluno. • Favorecer os melhores níveis de comunicação e de interação. • Favorecer a participação do aluno nas atividades escolares. • Atuar para a aquisição dos equipamentos, recursos e materiais específi cos. • Adaptar materiais. • Adotar sistemas alternativos de comunicação. • Favorecer a eliminação de sentimentos de inferioridade. • Posicionar o aluno de forma a facilitar-lhe o deslocamento na sala de aula, especial- mente no caso dos que utilizam cadeiras de rodas, bengalas, andadores, etc.. • Utilizar recursos ou equipamentos que favoreçam a realização das atividades propostas em sala de aula: pranchas para escrita, presilhas para fi xar o papel na carteira, suporte para lápis (favorecendo a preensão), presilha de braço, cobertura de teclado, etc. • Utilizar os recursos ou equipamentos disponíveis que favoreçam a comunicação dos que estiverem impedidos de falar: sistemas de símbolos (livro de signos, desenhos, elementos pictográfi cos, ideográfi cos e/ou outros, arbitrários, criados pelo próprio professor juntamente com o aluno, ou criado no ambiente familiar, etc.), auxílios físicos ou técnicos (tabuleiros de comunicação, sinalizadores mecânicos, tecnologia de informática). • Utilizar textos escritos complementados por material em outras linguagens e siste- mas de comunicação (desenhos, fala, etc.). Fonte: Adaptado de BRASIL, 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/cartilha06.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2013. Figura 09 - Adaptações de pequeno por te Fonte: Disponível em: <http://oolhardoeducador.blogspot.com/2010/07/o- uso-da-tecnologia-assistiva-no.html>. Acesso em 10 abr. 2013. 47 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 Para realizar as adaptações de pequeno porte, o professor inicialmente precisa rever sua prática, avaliando conteúdos, métodos, organização metodológica e didática e contexto em que seus alunos estão inseridos. Quais seriam então as adaptações de grande porte? Adaptações Curriculares de Grande Porte são ajustes cuja implementação depende de decisões e de ações técnico-político-administrativas, que extrapolam a área de ação específi ca do professor, e que são da competência formal de órgãos superiores da Administração Educacional Pública. (BRASIL, 2000, p.10) ADAPTAÇÃO DE ACESSO AO CURRÍCULO Adaptação do ambiente físico escolar. Aquisição de mobiliário específi co. Aquisição dos equipamentos e recursos materiais específi cos. Adaptação de material de uso comum. Capacitação continuada. Efetivação de ações dos profi ssionais da área especial com o professor regular. ADAPTAÇÃO DE OBJETIVOS Dentroda organização do PPP. ADAPTAÇÃO DE CONTEÚDOS ESPECÍFICOS Dentro da organização do PPP. Participação da gestão na construção das práticas metodológicas. ADAPTAÇÃO DO MÉTODO E ORGA- NIZAÇÃO DIDÁTICA Organização diferenciada na sala de aula. Número de alunos. ADAPTAÇÃO DO SISTEMA DE AVALIAÇÃO Sistematização dos resultados. Reformulações nas certifi cações. HOMOGENEIDADE ETÁRIA Organização de turmas. ADAPTAÇÃO DE TEMPORALIDADE. Reformulação do currículo escolar para atender às peculiaridades. Fonte: Adaptado de BRASIL, 2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/cartilha05.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2013. Para realizar as adaptações de pequeno porte, o professor inicialmente precisa rever sua prática, avaliando conteúdos, métodos, organização metodológica e didática e contexto em que seus alunos estão inseridos. 48 Prática Pedagógica em Defi ciência Física Figura 10 - Adaptações de Grande Porte Fonte: Disponível em: <www.defi cienteciente.com.br>. Acesso em: 10 abr. 2013. Em relação às adaptações para alunos com defi ciência física, faz-se necessário: Adaptação do edifício escolar: rampa simples com inclinação adequada, rampa deslizante, elevador, banheiro, pátio de recreio, barras de apoio, alargamento de portas, etc. Aquisição de instrumentos e de equipamentos que favoreçam a comunicação e a participação do aluno nas atividades da vida escolar: • mobiliário: cadeiras, mesas e carteiras adaptadas em função das características do aluno; • material de apoio para locomoção: andador, colete, abdutor de pernas, faixas restritoras, etc.; • material de apoio pedagógico: pranchas ou presilhas para prender o papel na carteira, suporte para lápis, presilha de braço, tabuleiros de comunicação, sinalizadores mecânicos, tecnologia microeletrônica, sistemas aumentativos ou alternativos de comunicação (baseados em elementos representativos, em desenhos lineares, sistemas que combinam símbolos pictográfi cos, ideográfi cos e arbitrários, sistemas baseados na ortografi a tradicional, de linguagem codifi cada, etc.),computadores que funcionam por contato, cobertura de teclado, etc. (BRASIL, 2000, p.15) As adaptações podem ser de pequeno ou grande porte, podem romper ou não com as barreiras atitudinais, podem propiciar ou não a inclusão; no entanto, as adaptações necessitam ser pensadas no coletivo da escola em busca da efetivação da inclusão escolar. A adequação do ambiente ou um material adaptado por si só não garante a inclusão, são necessárias atitudes em prol da escola inclusiva, a escola de todos e para todos. 49 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 Atividade de Estudos: 1) Agora que apresentamos as adaptações de pequeno e grande porte, perguntamos a você pós-graduando: quais dessas adaptações você já vivenciou em sua prática pedagógica? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Para saber mais: Fonte: Disponível em: <http:// portal.mec.gov.br/seesp/ arquivos/pdf/cartilha05.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2013. Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/ arquivos/pdf/cartilha06.pdf>. Acesso em: 10 abr. 2013. 50 Prática Pedagógica em Defi ciência Física avaLiação e incLuSão: um DiáLogo neceSSário Discutir avaliação não é uma especifi cidade da inclusão, mas sim da escola, da comunidade, da educação. É necessário refl etir acerca de possibilidades, avanços e difi culdades de aprendizagem de todas as crianças; assim, acima de tudo, é importante indagar sobre alguns pontos principais que são: • Quem avaliar? • Como avaliar? • Quando avaliar? • O que avaliar? Quando nos indagamos acerca dessas questões, pensamos na escola como um todo e respeitamos as diferenças. Quem avaliar? Implica em um olhar global que compreende que a avaliação vai além de instrumentos para verifi car a aprendizagem dos alunos, levando em consideração as práticas dos professores e a própria fi losofi a da escola. É um constante repensar, reavaliar, criticar e potencializar. Como avaliar? Esta indagação implica em um olhar diferenciado que abrange as necessidades de todos os alunos. É este o momento de o professor pensar em estratégias que realmente apresentem um cenário sobre a aprendizagem dos alunos. Pensar em estratégias e instrumentos diferenciados para a avaliação dos alunos requer pesquisa acerca das necessidades, possibilidades e adaptações necessárias. A avaliação de caráter classifi catório, por meio de notas, provas e outros instrumentos similares, mantém a repetência e a exclusão nas escolas. A avaliação contínua e qualitativa da aprendizagem, com a participação do aluno, tendo, inclusive, a intenção de avaliar o ensino oferecido e torná-lo cada vez mais adequado à aprendizagem de todos os alunos conduz a outros resultados. A adoção desse modo de avaliar com base na qualidade do ensino e da aprendizagem já diminuiria substancialmente o número de alunos que são indevidamente avaliados e categorizados como defi cientes nas escolas comuns. (BRASIL, 2000, p.15) 51 A INCLUSÃO E O PPP DA ESCOLA: ADAPTAÇÕES CURRICULARES, PROCEDIMENTOS DE ENSINO E AVALIAÇÃO Capítulo 2 O olhar do professor deve estar voltado para a heterogeneidade, respeitando e valorizando a diversidade, e enriquecendo os processos de avaliação. Figura 11 - O olhar do professor Fonte: Disponível em: <http://www.ced.ufsc.br>. Acesso em: 10 abr. 2013. Muitos alunos com necessidades especiais necessitam de avaliação adaptada, pois abrir a possibilidade de se adaptar o sistema de avaliação para determinado aluno em função de suas necessidades educacionais especiais é uma das principais vias para se conseguir avaliar a aprendizagem desse aluno com responsabilidade e profi ssionalismo, e poder, então, promover os ajustes que se tornam necessários no processo de ensino para garantir seu desenvolvimento educacional. (BRASIL, 2000, p.23). Assim, faz-se necessário também avaliar as necessidades individuais das crianças. O que e quando avaliar? O olhar do professor deve estar voltado para a heterogeneidade, respeitando e valorizando a diversidade, e enriquecendo os processos de avaliação. 52 Prática Pedagógica em Defi ciência Física A avaliação deve acontecer de forma intensiva durante todo o processo de ensino e aprendizagem. O professor deve avaliar constantemente as ações pedagógicas, bem como o modo como os alunos manifestam sua aprendizagem diante de tais ações. É necessário refl etir sobre os aspectos qualitativos, os avanços, e as necessidades de forma processual, qualifi cando o trabalho pedagógico. A avaliação pedagógica como processo dinâmico considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual de desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades de aprendizagem futura, confi gurando uma ação pedagógica processual e formativa que analisa o desempenho do aluno em relação ao seu progresso individual, prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos
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