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TEXTO 5 - Fundamentos-da-Responsabilidade-Civil-do-Terceiro-Cumplice_Paula-Greco-Bandeira CLB-2019

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PESQUISA REALIZADA PELO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. 
É PROIBIDA A REPRODUÇÃO OU A TRANSMISSÃO, CONFORME LEI DE DIREITOS AUTORAIS.
A CONFERÊNCIA DE RECONHECIMENTO DE TEXTO (OCR) NÃO FOI REALIZADA.
EDITORA PADMA LTDA. 
Presidente: Osmundo Lima Araújo 
Revista Trimestral de Direito Civil - RTDC 
Ano 8, vol. 30, abril a junho de 2007 
ISSN 1518-2010 
Diretor: Gustavo Tepedino 
Conselho Editorial 
António Pinto Monteiro, Antonio Junqueira de Azevedo, Encarn 
Roca, Jean Beauchard, Luiz Edson Fachin, Pietro Perlingieri, Ri-
cardo Pereira Lira, Ruy Rosado de Aguiar Jr. e Sálvio de Figueiredo 
Teixeira. 
Editora: Maria Celina Bodin de Moraes 
Coordenador Editorial: Bruno Lewicki 
Conselho Assessor 
Ana Luiza Maia Nevares [Atualidades-Resumos de Teses e Disserta-
ções], Anderson Schreiber [Doutrina], Caitlin Sampaio Mulholland 
[Jurisprudência], Carlos Edison do Rêgo Monteiro Filho [Ensaios e 
Pareceres], Carlos Nelson Konder [Atualidades-Notrcias], Gisela 
Sampaio da Cruz [Observador Legislativo], Leonardo Mattietto 
[Resenha Bibliográfica] 
Estagiária: Milena Cianni 
Capa e Projeto Gráfico: Simone Villas-Boas 
Editoração Eletrônica: TopTextos Edições Gráficas Ltda. 
Revisão: Fernando Guedes 
A Revista Trimestral de Direito Civil é produzida no âmbito do 
convênio de colaboração cientrfica e editorial firmado entre a Edi-
tora Padma, a Editora Renovar e o Instituto de Direito Civil-IDe. 
Contribuições, correspondências e pedidos de intercâmbio pode-
rão ser enviados para a Editora PADMA, na Rua Antunes Maciel, 
177 - São Cristóvão - RJ -CEP 20940-01 O Tel.: (21 )2580-8596, ou 
para os e-mails:rtdc@uol.com.brertdc@yahoogroups.com 
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A CONFERÊNCIA DE RECONHECIMENTO DE TEXTO (OCR) NÃO FOI REALIZADA.
ISSN 1518-2010 
C IP-Brasil. Catalogação-na-fonte 
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. 
Revista trimestral de direito civil. - v.30 (abril/junho 2007) 
. - Rio de Janeiro: Padma, 2000-. 
v. 
Gustavo Tepedino 
Trimestral 
1. Direito - Periódicos brasileiros. 
95-1227. 
CDU - 34(07) 
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Fundamentos da responsabilidade civil 
do terceiro cúmplice l 
_----------PAULA GRECO BANDEIRA 
1. Distinção estrutural entre situações jurídicas reais e obrigacionais. Princípio da Relatividade dos 
Contratos. Noção de parte e de terceiro. Relatividade e oponibilidade dos contratos. Eficácia 
interna e externa das obrigações. Aplicação direta das normas constitucionais às relações privadas. 
Funcionalização das situações jurídicas subjetivas patrimoniais aos valores constitucionais; 2. 
Fundamentos da responsabilidade civil do terceiro cúmplice: a função social do contrato, o abuso 
de direito e a boa-fé objetiva; 3. Natureza da responsabilidade civil do terceiro cúmplice. Requi-
sitos para a configuração do dever de reparar. O problema da cláusula penal. Interpretação do 
art. 608 do Código Civil. Precedentes judiciais. 
I. DISTINÇÃO ESTRUTURAL ENTRE SITUAÇÕES jURfDICAS REAIS E 
OBRIGACIONAIS. PRINCfplO DA RELATIVIDADE DOS CONTRATOS. NOÇÃO DE 
PARTE E DE TERCEIRO. RELATIVIDADE E OPONIBILlDADE DOS CONTRATOS. 
EFICÁCIA INTERNA E EXTERNA DAS OBRIGAÇÕES. APLICAÇÃO DIRETA DAS 
NORMAS CONSTITUCIONAIS ÀS RELAÇÕES PRIVADAS. FUNCIONALlZAÇÃO DAS 
SITUAÇÕES jURfDICAS SUBJETIVAS PATRIMONIAIS AOS VALORES 
CONSTITUCIONAIS 
o presente trabalho investigará a possibilidade, no ordenamento jurídico brasileiro, de 
responsabilização civil do terceiro que contribui para o inadimplemento contratual levado a 
cabo pelo devedor - o chamado terceiro cúmplice2 - violando o direito de crédito alheio, 
ao celebrar com o devedor contrato incompatível com a obrigação por este previamente 
1 A autora agradece especialmente ao Professor Gustavo Tepedino, cuja discussão das idéias aqui 
expostas revelou-se imprescindível para o desenvolvimento deste trabalho. Ao Anderson Schreiber, pelo 
incentivo. E a Milena Donato Oliva, pela preciosa reflexão conjunta. 
2 A designação terceiro cúmplice não é unânime na doutrina, tendo sido adotadas referências distintas 
ao mesmo fenômeno, como "responsabilidade delitual do terceiro em relação a um contratante" (Henri 
Lalou), "tutela aquiliana do credor contra terceiros" (Guido Tedeschi), "tutela aquiliana do crédito", 
"tutela externa do crédito" etc. 
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assumida. Tal análise não englobará as hipóteses em que o terceiro pratica um ilícito contra 
a pessoa do devedor (ex. homicídio ou lesões corporais) ou em relação à coisa objeto da 
prestação a qual o devedor se obrigou (ex. destruição ou furto), tornando impossível o 
cumprimento da obrigação. 
Em primeiro lugar, torna-se imprescindível a análise da distinção estrutural entre as 
situações jurídicas reais e as creditórias, que embasou o surgimento do princípio da relativi-
dade dos contratos. 
Tradicionalmente, atribui-se especial relevância à distinção entre direitos reais e obriga-
cionais, a qual tem por base a estrutura destas situações jurídicas. Diz-se que os direitos reais 
têm por objeto imediato uma coisa, com a qual estabelece seu titular um liame direto, sem 
intêrmediári03, podendo dela extrai todas as vantagens e utilidades sem a necessidade de 
cooperação de outro sujeito. Além disso, a situação jurídica assim constituída tem caráter 
absoluto, criando dever jurídico negativo, prevalecente erga omnes, de respeitar o exercício 
do direito real pelo seu titular.4 Afirma-se, ainda, que os direitos reais são taxativos, admitin-
do-se como tais apenas aqueles previstos em lei. Vige, portanto, o princípio do numerus 
c/ausus, segundo o qual se confere ao legislador ordinário competência exclusiva para a 
• criação de direitos reais, aos quais, por sua vez, atribui conteúdo típico, daí decorrendo um 
segundo princípio, corolário do primeiro, o da tipicidade dos direitos reais. Este último 
princípio diz com a estruturação dos poderes conferidos ao respectivo titular. 5 Desse modo, 
enquanto a taxatividade concerne à fonte do direito real, a tipicidade se refere à modalidade 
de seu exercício. 6 Costuma-se fundamentar, assim, que, ao contrário dos direitos de crédito, 
3 Segundo Julien SCAPEL, "Ie principal critere de distinction du droit réel et du droit personnel tient à 
la structure de ces droits. Le droit personnel est un droit médiat car le créancier ne peut obtenir la 
prestation consistant à donner, faire ou ne pas faire, objet du droit, que par I'intermédiaire du débiteur. 
A I'opposé, le droit réel est un droit immédiat entre une personne et une chose. Le titulaire de ce droit 
peut tirer toutes les utilités économiques de la chose sans intermédiaire. Cette premiere différence est 
fondamentale. Elle constitue la base de la distinction" (La notion d'obligation réelle. Aix-en-Provence: 
Presses Universitaires D'Aix-Marseille, Faculté de Droit et de Science Politique, 2002, p. 30). 
4 TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária. São Paulo: Saraiva, 1993, p. 58. 
5 TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária, cit., p. 82. 
6 GONDINHO, André Pinto da Rocha Osório. Direitos reais e autonomia da vontade: o princfpio da 
tipicidade dos direitos reais. Rio de Janeiro: Renovar, Biblioteca de teses, 2001, p. 16. 
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submetidos ao princípio da liberdade da autonomia privada para a sua criação, os direitos 
reais, por serem oponíveis erga omnes, devem ter seus contornos estipulados em lei.7 
Os direitos obrigacionais, ao seu turno, possuem, entre o credor e o objeto do direito (a 
prestação), o devedor, do qual aquele depende para a satisfação de seu direit0 8 Em outras 
palavras, para a satisfação do direito obrigacional afigura-se imprescindível a cooperação do 
devedor.9 No mais, as situações obrigacionais possuem caráter relativo, vinculando apenas 
credor e devedor, o que se contrapõe à natureza absoluta das situações jurídicas reais w 
Assim, afirma-se que os direitos obrigacionais se referem a um dever específico dirigido a 
uma pessoa determinada ou determinável, cujo objeto consiste em um comportamento seu 
(fazer, não fazer ou dar). Já os direitos reais correspondem a um dever geral de abstenção 
(obrigação passiva universal), que atinge toda a coletividade. 11 
Conforme leciona Pietro Perlingieri: 
A situação creditória, não tendo uma relação de inerência ou de imanência com uma 
res, se realiza mediante o adimplemento e o alcance do resultado. Característica 
saliente é o comportamento devido: a prestação. Na situação dita real a utilidade, o 
alcance do resultado útil para o titular se identifica na relação de imediatidade entre ., 
situação e utilidade oferecida pela res, sem que, normalmente, seja necessária a 
intervenção por parte de um terceiro; na situação dita creditória o interesse a favor do 
titular se realiza exclusivamente mediante a atividade, o comportamento do sujeito 
obrigado. Característica única e essencial do direito de crédito é a intermediação 
7 TEPEDINO, Gustavo. Autonomia privada e obrigações reais. In: Temas de direito civil. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2006, t. 2, p. 287. 
8 TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária, cit., p. 58. 
9 v., por todos, NONATO, Orosimbo. Curso de obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 1959, v. 1, p. 43. 
10 VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral, 10. ed. Coimbra: Almedina, 2000, v. 1, 
p.166. 
11 João de Matos Antunes VARELA ensina que" não basta, porém, o caráter absoluto do poder do titular 
para definir o direito real". Isso porque são poderes absolutos "os direitos de autor e os direitos de 
personalidade, por exemplo, que todavia não se confundem com os direitos reais". Dar a doutrina clássica 
definir o direito real como" um poder imediato sobre a coisa, não só para caracterizar o objecto especffico 
destas relações (as coisas), mas principalmente para destacar a ligação directa do titular com a res" (Das 
obrigações em geral, cit., p. 182). 
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mediante a prestação; intermediação que, quando está presente nas situações reais, 
assume um papel complementar. 12 
Na esteira desta distinção estrutural entre situações subjetivas reais e obrigacionais, a 
doutrina clássica costuma afirmar que o contrato é res inter alios acta, ali;s neque nocet neque 
prades/, vale dizer, os efeitos (aí incluídos direitos e obrigações) dele advindos atingem apenas 
as partes que consentiram na criação do vínculo obrigacional, não podendo prejudicar, nem 
beneficiar terceiros. Nas palavras de Carvalho Santos, 
"em regra, as obrigações não podem ser opostas a terceiros, nem por eles invocadas. 
É lógico que assim seja, porque sem o consentimento válido não pode ter existência o 
ato Jurídico, nem por conseguinte, a obrigação, que, para essas pessoas que na sua 
formação não intervierem, é como se não existísse. 13 " 
Consagra-se, assim, o princfpio da relatividade dos contratos, que, embora não estivesse 
positivado no Código C ivil de 1916,14 foi fartamente desenvolvido pela doutrina pátria, 
encontrando guarida também em ordenamentos estrangeiros, a exemplo do art. 406, n° 2 
G do Código Civil português,15 do art. 1.372 do Código Civil italiano 16 e do art. 1.165 do 
Código Civil francês H 
12 Perfis do direito civil: Introdução ao direito civil constitucional. Tradução Maria Cristina De Cieco. 2. 
ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002, p. 203. v., também, VAHELA, João de Matos Antunes. Das obrigações 
em geral, cit., p. 183. 
13 CAHVALHO SANTOS, J. M. Código civil brasileiro interpretado, 13. ed. Hio de Janeiro: Freitas Bastos, 
1988, v.13, p. 14; grifou-se. 
14 O Código Civil de 2002 também não dedicou um dispOSitivo especifico à diSciplina do principio da 
relatividade dos contratos. Como ressaltado por Teresa NEGHEIROS, "no Código Civil de 1916, não havia, 
como não há no novo código, um dispositivo que expressamente dispusesse sobre a ineficácia do contrato 
em relação a terceiros, embora a teoria geral dos contratos a tenha como um verdadeiro dogma em 
matéria contratual. A eficácia relativa dos contratos (à falta de disposição expressa no Código Civil) era 
dedUZida, a contrario sensu, do disposto no art. 928: 'A obrigação, não sendo personalfssima, opera, 
assim entre as partes, como entre os seus herdeiros'" (Teoria do contrato: novos paradigmas, 2. ed. Hio 
de Janeiro: Henovar, 2006, p. 213). 
15 "Art. 406, n° 2. ( ... ) em relação a terceiros, o contrato só produz efeitos nos casos e termos 
especificamente previstos na lei" . 
16 "Art. 1.372. Efficacia dei contratto. II contratto ha forza di legge tra le parti. Non puà essere sei oito 
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RTOC • VOto 30 • ABRIJUN 2007 
Para fins de aplicação deste principio, compreende-se por parte contratual o "centro di 
interessi obiettivamente omogenei" 18, podendo ser composta" di una, come di due, tre o 
piú persone (che rispetto a quel dato contratto esprimono una comune posizione di interes-
se)" 19 A noção de parte contrapõe-se a de terceiro, assim entendido como "tutti i sogc)etti 
che non ne sono 'parti', e che purtuttavia possono essere in qualche modo interessati ad esso 
o toccatl indirettamente dai suoi effeti" 20 
A partir da premissa, estabelecida pelo principio da relatividade, de que só o devedor 
está adstrito ao dever de prestar, a doutrina quase unânime concluiu que o contrato poderia 
ser lesionado apenas pelo devedor, não se admitindo que terceiros pudessem violá-lo Z1 Na 
doutrina estrangeira, Adriano de Cupis afirma que, em princípio, a tutela do crédito se exaure 
no âmbito interno da relação contratual, inexistindo dever geral de abstenção Imposto aos 
terceiros no sentido de não lesionarem o crédito alheio, não admitindo, por isso, que terceiros 
sejam responsabilizados pela sua violação n 
No mesmo sentido, sublinha Antunes Varela que 
"Se o devedor não cumprir, porque a tal tenha sido instigado por terceiro, é ele, e não 
che per mutuo consenso o per cause ammesse dalla legge (1671,2227).11 contratto non produce effetto 
rispetto ai terzi che nel casl previstl dalla legge (1239, 1300 e seguente, 1411, 1678, 1737)". 
17 "Art. 1.165. Les conventions n'ont d'effet qu'entre les partles contractantes; elles ne nUlsent pOlnt 
au tiers, et elles ne lui profitent que dans le cas prévus par I'article 1.121 " 
18 ROPPO, Enzo. /I contratto. Bologna: Socletà Editrice 11 MUlino, 1977, p. 77. 
19 ROPPO, Enzo. /I contratto, cit., p. 77. 
20 ROPPO, Enzo./1 contratto, Clt., p. 77. Sobre o tema, v. TRABUCCHI, Alberto. /stituzioni di diritto civile. 
ventiduesima edizlone agglornata con le riforme. PADOVA: CEDAM. Casa Editrice Dott. Antonio Milani, 
1977, p. 676-677. 
21 A representar exceção a esta tendência, no direito brasileiro,Serpa LOPES (Curso de direito civil: fontes 
das obrigações: contratos, 7. ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, v. 3, p. 134) e Alvino LIMA (A 
interferência de terceiros na violação do contrato. In: Revista dos 7ribunais. São Paulo: editora Revista 
dos Tribunais, v, 315, p. 17-18) cogitaram da possibilidade de responsabilização civil do terceiro cúmplice, 
com base na oponibilidade dos contratos. 
22 DE CUPIS, Adriano. /I danno: teoria generale dei la responsabilità civile. Milano: DOTT. A. Giuffre 
Editore, 1970, p. 66-68, O autor, entretanto, admite a responsabilidade de terceiro dentro de certo limite, 
na hipótese em que o terceiro obstaculiza a satisfação da prestação devida pelo credor com vistas a 
usurpar sua titularidade ou o seu exercfcio do direito de crédito (/I danno: teoria generale dei la respon-
sabilità clvile, cit., p, 72 e 55.). 
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este, que terá que indemnizar o credor. Mesmo que o não cumprimento resulte da 
colaboração de terceiro com o devedor (realização de compra e venda com violação 
do pacto de preferência que vinculava o alienante; celebração do contrato de trabalho 
com o empregado que deixa culposamente de cumprir o contrato com outra empresa, 
por causa de nova convenção), só este último, e não o terceiro (que nenhum dever 
assumiu perante o lesado), responde pela violação cometida [ ... ] Além de nenhum dever 
juridico ter assumido ou lhe ser imposto por lei em face do credor, o terceiro pode 
inclusiva mente ter partido da idéia de que o devedor prefere sujeitar-se às sanções do 
não cumprimento da primeira obrigação contraida, para cumprir a segunda ou celebrar 
o contrato posterior. 23 " 
Luiz da Cunha Gonçalves, na mesma direção, refuta cada uma das posições dos que 
defendem a responsabilidade civil do terceiro cúmplice, entendendo pela irresponsabilidade 
do terceiro. De sua minuciosa explicação destaca-se a seguinte passagem: 
"Cada contrato é independente de outro. Um contrato só pode ser violado por quem 
nêle se obrigou (V. art. 705) e não por um terceiro; e, posto que do contrato tenha 
nascido para um dos contraentes determinado direito, êste é relativo, é direito de 
obrigação; não é direito real, ou direito invocável erga omnes, que por tôda a gente 
haja de ser respeitado. Portanto, um terceiro, não podendo violá-lo, porque não lhe 
pode ser oposto, também não incorre em responsabilidade extracontratual. [ ... ] Em 
suma, temos por inexacta a construção juridica francesa da responsabilidade do terceiro 
na inexecução do contrato. Nos códigos estrangeiros, também, não se encontra o 
aspecto civilistico 24 " 
23 VARELA, João de Matos Antunes. Das obrigações em geral, cit., p. 179. Contudo, o autor admite a 
possibilidade de responsabilização do terceiro nos seguintes termos: "Para que o terceiro, ao impedir ou 
perturbar o exerdcio do crédito, aja ilicitamente, violando já o direito do credor, é necessário que a sua 
actuação exceda a margem de liberdade que a existência dos direitos de crédito ainda consente a 
estranhos à relação, pisando nomeadamente os terrenos interditos pelo abuso do direito (art. 334°)" 
(Das obrigações em geral, cit., p. 177). 
24 Tratado de direito civil em comentário ao Código Civil português, 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 
1957, v. 12, t. 2, p. 952-953 e 961. A despeito de seu entendimento, o autor logo em seguida admite 
que já se tenham manifestado algumas tendências legislativas que confirmam a responsabilidade do 
terceiro na inexecução dos contratos. 
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Contudo, tal conclusão não colhe e revela, como constatado por Menezes Cordeiro, uma 
petição de princípio, na medida em que se afirma que os créditos não seriam oponíveis a 
terceiros porque relativos, sendo que seriam relativos porque apenas oponíveis inter partes. 25 
Em outras palavras, a doutrina clássica, partindo da premissa verdadeira de que só o devedor 
está adstrito ao dever de prestar, deduz que o terceiro não pode interferir no crédito alheio, 
conclusão esta que a premissa adotada não autoriza. 
Em doutrina, é possível identificar duas principais linhas de pensamento que procuraram 
desmistificar a ilação acima referida de que os terceiros não poderiam interferir nos contratos, 
tendo em conta o princfpio da relatividade. A primeira delas, marcadamente francesa, situa 
o problema na sede dos contratos, traçando a distinção entre relatividade e oponibilidade. A 
segunda, por sua vez, enfrenta a questão em torno do direito de crédito, afirmando a 
existência de uma eficácia interna e outra externa das obrigações. De logo, esclareça-se que 
independentemente da teoria que se adote, do ponto de vista prático, chega-se ao mesmo 
resultado, qual seja, o reconhecimento da existência de um dever de terceiros de não interferir 
no contrato ou no direito de crédito alheio. 26 
Para os adeptos da primeira teoria, portanto, afigura-se imprescindível diferenciar-se o 
princípio da relatividade da oponibilidade dos contratos. O princípio da relatividade significa 
que os efeitos do vínculo contratual, vale dizer, a criação, extinção ou modificação de 
situações jurídicas subjetivas, situam-se no plano interno dos contratantes, atingindo apenas 
as partes que consentiram na formação do contrato. Dito por outras palavras, os direitos e 
deveres decorrentes do contrato vinculam apenas as partes, não obrigando, tampouco 
beneficiando terceiros. A oponibilidade, todavia, encontra-se em plano diverso, qual seja, o 
da existência do contrato, terreno em que o princfpio da relatividade não se aplica, uma vez 
que dizer que os efeitos não atingem terceiros não significa que o contrato não exista em 
face de terceiros. 27 A oponibilidade decorre do reconhecimento de que o contrato é um fato 
social. o qual reflete uma realidade exterior a si próprio, uma gama variada de interesses, 
25 CORDEIRO, Menezes. Direitos reais. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1979, v. 1, p. 434. 
26 A constatação é de SANTOS JÚNIOR, E. Da responsabilidade civil de terceiro por lesão do direito de 
crédito. Coimbra: Almedina, 2003, p. 436, 438 e 439. 
27 Em elucidativa explicação ao teor do art. 1.165 do Código Civil francês, afirma Mazeaud: "L'article 
1165 ne dit point que le contrat n'existe pas vis-à-vis de tiers, mais seulement qu'il n'a pas d'effetvis-à-vis 
des tiers. II importe de saisir la distinction" (H. e L. MAZEAUD, Traité théorique et pratique de la 
responsabilité civile délictuelle et contractuelle, t. I, 3. ed., 1938, p. 296). 
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relações, situações econômico-sociais, não se limitando a um mero conceito jurídico, 28 Deste 
modo, impõe-se a todos - partes e terceiros - a necessidade de reconhecerem a existência 
do contrato e, conseqüentemente, de o respeitarem 29 Na lição de De Page: 
"Au seil même de la matiére, et sous peine de la rendre totalement incompréhensible, 
une distinction capitale s'impose, en ce qui concerne le principe de la relativité des 
contrats: la distinction entre les effets internes de I'acte, et son existence, l.e pnnClpe 
de la relativité des contrats n'a pas, en effet, un sens absolu, 11 ne signifie pas que les 
tiers peuvent et doivent se désintéresser à tous égards d'un contrat passé entre d'autrespersonnes, Le principe de la relativité ne concerne que les effets internes du contrat, 
les DROITS et OBLlGAflONS qui en découlent. Ce sont ces droits et obligations seuls 
qUi sontpersonnels aux parties, et qui ne concernent pas les tiers, Mais pour le surplus, 
si on se place sur le terrain de I'existence du contrat, I'article 1165 ne s'applique plus, 
et c'est même un principe tout différent, celui d' opposibilité (et non celui de la relativité) 
qui joue, A cet égard, ainsi qu'on I'a três justement remarqué, I'existence du contrat 
est un FAIT dont les tiers doivent, en principe, tenir compte 30 " 
A propósito, Simone Calastreng afirma que os direitos reais, em razão da publicidade 
que lhes é inerente, seriam dotados de oponibilidade absoluta, ao passo que os direitos de 
28 Neste sentido, confira-se ROPPO, Enzo, /I contratto, cit., p, 9, 
29 Como afirma SimoneCALASTRENG: "L'effet d'un contrat, c'est le plein accomplissement, c'est la 
réalisation des volontés qui le créent, c'est, nous I'avons vu, d'apporter des changements choisls et 
préClSés dans I'activité normale des hommes ou dans leurs biens, L'opposabilité d'un contrat, c'est la 
nécessité pour tous, parties et tiers, de reconnaltre son existence et de la respecter, dans sa réalité légale, 
C'est par conséquent le devolr qui incombe à tous d'ajouter foi à son contenu" (La relativité des 
conventions: étude de I'article 1165 du Code Civil, ci1., p, 363), Na doutrina nacional, v, LOPES, Miguel 
Maria de Serpa, Curso de direito civil: fontes das obrigações: contratos, cit., p, 134; e FERREIRA DA SILVA, 
Luis Renato, A funçáo social do contrato no novo código civil e sua conexáo com a solidariedade social, 
In: SARLET, Ingo Wolfgang (coord,), O novo Código Civil e a Constituiçáo, Porto Alegre: Livrana do 
Advogado, 2003, p, 139, 
30 DE PAGE, Henri, Traité élémentaire de droit civil belge, 1 Dome ed, Bruxelles: ttablissementes tmile 
Bruylant, 1948, 1. 1, p, 154, Confira-se, ainda, na doutnna francesa, BACACHE-GIBEILI, Mireille, La 
relativité des conventions et les groupes des contrats, In: Bibliothéque de Oroit Privé, 1. 268, Paris: LGDJ, 
1996, p, 85, 
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crédito teriam oponibilidade relativa, na medida em que o respeito, por parte de terceiro, a 
este direito dependeria de seu prévio conhecimento 31 
De outra parte, a segunda corrente doutrinária antes referida afirma que as obrigações 
são dotadas de um efeito interno, dirigido contra o devedor, e um efeito externo consubs-
tanciado no dever imposto aos terceiros de respeitarem o direito de créditoiJlheio, não lhes 
sendo dado impedir ou dificultar o cumprimento da obrigação 32 O direito de crédito en-
quanto direito subjetivo deve ser respeitado por todos, dele se irradiando o dever geral de 
abstenção imposto aos terceiros de nele não interferirem. Diz-se, assim, estar-se diante da 
projeção externa do direito de crédito. 
Tais teorias, conforme aludido anteriormente, buscaram, sob prismas diversos, impedir 
que terceiros, ao argumento do princípio da relatividade, se abstivessem de respeitar o direito 
de crédito alheio, cooperando com o devedor em sua violação. Repita-se, ainda uma vez, que 
o princípio da relatividade, forjado sob a ótica voluntarista e individualista caracterizadora das 
codificações oitocentistas, encerrava as partes contratantes como num parêntese, daí a 
doutrina tradicional afirmar recorrentemente que o contrato era coisa alheia aos terceiros e 
a estes não interessava. Esta concepção convivia pacificamente com as exceções ao princípio 
da relatividade - como o contrato em favor de terceiro33 '-, admitidas em razão da crescente 
complexidade social da vida moderna, nos planos econômico, financeiro e tecnológiCO, e G 
conseqüente intensificação e imbricamento das relações contratuais, que reclamavam uma 
resposta por parte do ordenamento às situações até então carecedoras de tutela jurídica. 34 
31 La relativité des conventions: étude de I'article 1165 du Code Civil, cit., p. 398-399. 
32 Em referênCia à doutrina da eficácia externa das obrigações, explica Mario Júlio de Almeida COSTA: 
"A exposta orientação clássica opõe-se modernamente a doutrina do efeito externo. Admitem os seus 
defensores, além de um efeito interno das obrigações, dirigido contra o devedor e em todo o caso 
primacial, um efeito externo, traduzido no dever imposto às restantes pessoas de respeitar o direito do 
credor, ou seja, de não impedir ou dificultar o cumprimento da obrigação. Alude-se, a propósito, à 
chamada doutrina do terceiro cúmplice" (Direito das obrigações. Coimbra: Almedina, 1998, p. 76). 
33 Orlando GOMES invoca. ainda, outras exceções ao princfpio da relatividade. Confira-se: "O principio 
da relatividade dos contratos não é absoluto. Sofre importantes exceções. [ ... ] Há contratos que, fugindo 
à regra gerai. estendem seus efeitos a outras pessoas, quer criando, para estas, direitos, quer impondo 
obrigações. Tais são, dentre outros, a estipulação em favor de terceiro, o contrato coletivo de trabalho, 
a locação em certos casos e o fideicomisso 'inter vivos'" (Contratos, 21. ed. atual. e notas de Humberto 
Theodoro Júnior. RIO de Janeiro: Forense, 2000, p. 43-44; grifos no original). 
34 Como assevera E. SANTOS JÚNIOR: "A cada vez maior complexidade social da vida nos tempos 
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Assim, permitia-se que, em determinadas hipóteses excepcionais, os'direitos e deveres rela-
tivos ao contrato se estendessem a um terceiro, estranho ao vínculo obrigacional, para cuja 
formação não concorreu com sua vontade. 
Com a nova ordem constitucional de valores, fundada pela Constituição da República 
de 1988, e o reconhecimento da força normativa dos princípios, as normas constitucionais 
passam a incidir diretamente nas relações privadas, disciplinando os mais variados conflitos 
de interesses. As categorias de direito privado, como propriedade, empresa, família e contrato 
sofrem o influxo dos valores constitucionais e, neste passo, são remodeladas e funcionalizadas 
à realização destes valores, em especial da dignidade da pessoa humana, não mais havendo 
setores imunes a tal incidência axiológica, espécies de zonas francas para a atuação da 
autonomia privada 35 
Neste passo, os principios constitucionais da função social (CRFB, arts. 1°, IV; 170, caput) 
e da solidariedade social (CRFB, art. 3°, I), ao incidirem diretamente nas situações jurídicas 
subjetivas, remodelam o princípio da relatividade, permitindo, em alguns casos, a extensão 
de direitos e a imposição de deveres contratuais a terceiros estranhos à formação do vínculo 
obrigacional. A guisa de exemplo, invoca-se o reconhecimento do direito da vítima de 
acidente de trânsito de acionar diretamente a seguradora do ofensor e pleitear, em face dela, 
• reparação pelos danos sofridos36 Assim, para além das exceções tradicionalmente admitidas 
modernos, sob o plano económico e financeiro e sob o plano tecnológico, implicando uma teia cada vez 
mais apertada de situações interpessoais, apertou também a malha das relações contratuais - a 
expressão natural dessas situações, em tais planos -, que, muitas vezes, surgem ora encadeadas entre 
si ora cada vez mais próximas umas das outras ou, mesmo, imbrincadas umas nas outras, unidas por um 
fim comum, pela destinação na ou para a realização de uma mesma operação econõmica. Neste contexto, 
compreende-se que o princfpio da relatividade sofresse novos 'assaltos' ou tentativasde novas injunções, 
já para lhe descortinar novas excepções, já para concebê-lo numa perspectiva mais ampla, que, preten-
samente salvaguardando-o - mas seguramente, afrouxando-o -, permitisse resposta a certas situações 
carecidas de solução jurfdica" (Da responsabilidade civil de terceiro por lesão do direito de crédito. cit., 
p. 169-170). 
35 TEPEDINO, Gustavo. Do sujeito de direito à pessoa humana. In: Temas de direito civil. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2006. t. 2, p. 342. 
36 Tal é o entendimento adotado pelo STJ em diversos precedentes, como se vê de trecho do voto da 
Ministra Nancy Andrighi: "De fato, a interpretação do contrato de seguro dentro desta perspectiva social 
autoriza e recomenda que a indenização prevista para reparar os danos causados pelo segurado ao 
terceiro seja por este diretamente reclamada da seguradora. Assim, sem se afrontar a liberdade contratual 
das partes - as quais quiseram estipular uma cobertura para a hipótese de danos de terceiros -
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ao princípio da relatividade, reconhece-se sua mitigação em determinadas hipóteses nas quais 
isso se afigure indispensável à proteção de interesses, no caso concreto, merecedores de 
tutela, os quais em ponderação com a liberdade de contratar, sejam preponderantes. 
No caso específico da lesão ao direito de crédito por terceiro, entretanto, o reconheci·· 
mento de sua responsabilidade não representa mitigação ao princípio da relatividade. Como 
se verificará mais adiante, o dever de abstenção que recai sobre terceiros decorre da cláusula 
geral de boa-fé objetiva, informada pelo princípio da solidariedade constitucional, que se 
espraia por todas as situações jurídicas subjetivas, contratuais ou extracontratuais. A fonte 
deste dever, como se verá, é legal, não já decorrente do contrato, de modo que os direitos e 
deveres contratuais não se estendem aos terceiros, os qUJis, ao revés, devem obediência ao 
dever legal de não violar o direito de crédito alheio. Apenas em determinadas hipóteses, 
entretanto, ao se quantificar o dano pelo qual o terceiro cúmplice irá responder, será possível 
adotar como parâmetro deveres contratuais assumidos pelo devedor, verificando-se, aí, certo 
esmorecimento do princípio da relatividade, a fim de se evitar que a responsabilidade do 
terceiro seja mais gravosa que a do próprio devedor, que se obrigou perante o credor - o 
que representaria verdadeiro contra-senso. 
Poder-se-ia indagar se, a partir deste dever legal de terceiros não lesionarem o crédito 
alheio, se estaria diante de um dever geral de abstenção, oponível erga omnes, tal como 
ocorre com os direitos reais. A resposta, como se verá mais à frente, é negativa. Ao contrário 
maximiza-se a eficácia social do contrato com a simplificação dos meios jurfdicos pelos quais o prejudicado 
pode haver a reparação que lhe é devida. Cumpre-se o principio constitucional da solidariedade e 
garante-se a função social do contrato" (STJ, REsp 444.716-BA, 3" I, ReI. Min. Nancy Andrighi, v.U., 
julg.11.5.2004). V. tb.: STJ, REsp. 228840, 3" I, ReI. Min. Ari Pargendler, ReI. p/ acórdão Min. Carlos 
Alberto Menezes Direito, julg. 26.6.2000, publ. DJ 4.9.2000. V. também STJ, REsp. 401718, 4" T., ReI. 
Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, julg. 3.9.2002, publ. DJ 24.3.2003; STJ, REsp. 294057, 4" I, ReI. Min. 
Ruy Rosado de Aguiar, julg. 28.6.2001, publ. DJ 12.11.2001; e STJ, REsp. 97590, 4" I, ReI. Min. Ruy 
Rosado de Aguiar, julg. 15.10.1996, publ. DJ 18.11.1996. Invoque-se, ainda, a hipótese em que o STJ 
impediu a penhora de imóvel hipotecado à instituição de crédito imobiliária em garantia de dfvida da 
construtora decorrente do financiamento da construção do ediffcio, tendo em vista o contrato de 
promessa de compra e venda celebrado entre o terceiro promitente-comprador e a construtora, mediante 
o qual o promitente-comprador já teria adimplido integral ou parcialmente suas prestações. Neste caso, 
nitidamente, a financeira, terceiro em relação ao contrato de promessa de compra e venda, foi impedida 
de exercer o seu direito de seqüela inerente à garantia real hipotecária por força deste contrato. 
Confira-se: STJ, REsp. 187940, 4" I, ReI. Min. Ruy Rosado de Aguiar Júnior, julg. 18.2.1999, publ. DJ 
21.6.1999. 
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dos direitos reais, criados por lei e sUjeitos a registro, do qual decorre sua publicidade e 
conseqüente oponibilidade erga omnes, os direitos de crédito são criados pela autonomia 
privada, sem o necessário consenso social (traduzido por lei) capaz de permitir a produção 
de efeitos contra todos37 Assim, o dever legal de abstenção que se está a tratar só recairá 
sobre terceiros caso tenham ciência do direito de crédito, que como qualquer outro bem, 
deverá ser juridicamente protegid038 
Verifica-se, portanto, que a idéia clássica de relatividade segundo a qual o contrato só 
produz efeitos inter partes, constituindo negócio jurídico estranho a terceiros, não pode servir 
de escudo para que os terceiros se comportem como se o contrato não eXistisse39 , contri-
buindo com o devedor para o inadimplemento contratual e permanecendo imunes à 
responsabilização. De fato, "a relatividade das obrigações não poderia restar como 
justificativa para que pessoas alheias ao vínculo obrigacional venham a violá-lo. Este 
merece ser respeitado por toda a coletividade, como qualquer direito subjetivo, seja de 
natureza real ou obrigacional" .40 
37 TEPEDINO, Gustavo. Multipropriedade imobiliária, cit., p. 84. 
38 "Esta opinião não pode mais ser aceita: é verdade que a obrigação é relação que interessa ao devedor 
e ao credor, mas também é verdade que esta relação tem relev!lncia externa. Mesmo o crédito é, de um 
certo ponto de vista, um bem [ ... 1. um interesse juridicamente relevante, e enquanto tal deve ser 
respeitado por todos" (PERLlNGIERI, Pietro. Perfis do direito civil: introdução ao direito civil constitucional, 
cit., p. 142). 
39 AZEVEDO, Antônio Junqueira de. Principios do novo direito contratual e desregulamentação do 
mercado. Direito de exclusividade nas relações contratuais de fornecimento. função social do contrato 
e responsabilidade aquiliana do terceiro que contribui para o inadimplemento contratual. Revista dos 
Tribunais, São Paulo, v. 750, ano 87, p. 117, 1998. 
40 MAURO E SILVA, Roberta. Relações reais e relações obrigacionais: propostas para uma nova delimi-
tação de suas fronteiras. In: TEPEDINO, Gustavo (coord.). Obrigações: estudos na perspectiva civil-cons-
titucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 97. Na doutrina estrangeira, Luis DIEZ-PICAZO ressalta que 
"La tesis dogmática de la absoluta irrelevancia de !a relación obligatoria para los terceros y de la total 
separación entre la relación obligatoria y la esfera jurfdica de los terceros, se encuentra hoy en gran 
medida superada en la doctrina. En general, se propende a admitir la existencia de un deber de respeto 
dei derecho de crédito por parte de los terceros que no es nada más que una consecuencia dei deber 
general de respeto de todos los derechos subjetivos y de todas las situaciones jurfdicas que forman la 
esfera jurfdica ajena. Por ello, se ha pensado que el tercero que viola, dolosa o negligentemente, un 
derecho ajeno, asume por este solo hecho una determinada responsabilidad y debe resarcir ai titular dei 
derecho los danos que como consecuencia de ello se le siguen" (Fundamentos dei derecho civil patri-
monial: las relaciones obligatorias. 4. ed. Madrid: EditorialCivitas, 1993. v. 2, p. 604-605) 
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Hessalte-se que a autonomia privada não é livre arbítrio, tampouco configura um valor 
em si mesmo, e será merecedora de tutela somente se representar, em concreto, a realização 
de um valor constitucional 41 Daí a necessidade de terceiros respeitarem o crédito alheio do 
qual têm ciência, não se admitindo, na legalidade constitucional, que eles exerçam seu direito 
à liberdade de contratar de forma ilimitada. 
Por oportuno, diga-se entre parênteses, que, na nova ordem constitucional, a distinção 
estrutural entre as situações jurídicas reais e obrigacionais, baseada no aspecto estático das 
situações subjetivas - e da qual, repita-se à exaustão, o principio da relatividade colhe seu 
fundamento -, deve ser rechaçada, impondo-se, ao revés, que se esteja atento à função 
desempenhada pelas situações subjetivas. Com efeito, a função permite que se determine a 
disciplina jurídica aplicável ao caso concreto que melhor atenda às peculiaridades dos inte-
resses em jogo, se amoldando, portanto, à concreta ordem de interesses que se pretende 
regular. Assim, por meio da função dos institutos, é posslvel dar uma resposta por parte do 
ordenamento aos mais variados casos concretos que su rgem no seio social e que, por vezes, 
não se encaixam numa determinada estrutura predisposta pelo ordenamento. 
Nesta linha de raciocínio, o Prof. Perlingieri propõe um estudo unitário das situações 
patrimoniais, devendo-se, na verdade, estremar as situações patrimoniais das existenciais, 
fundadas em lógicas diversas 42 Na nova ordem constitucional de valores, em que a dignidade CD 
da pessoa humana representa o valor máximo do ordenamento a ser tutelado, as situações 
patrimoniais devem ser funcionalizadas às existenciais, as quais preponderam de forma 
absoluta. 
Na esteira deste entendimento, revela-se inadmissível que terceiros, cientes da existência 
do crédito alheio, cooperem com o devedor ou o induzam ao descumprimento do contrato, 
e restem imunes à responsabilização. Tal hipótese representaria verdadeira subversão da 
hierarquia de valores proposta pela Constituição, a admitir que a liberdade de contratar seja 
exercida sem limites, em violação aos deveres impostos pela cláusula geral de boa-fé objetiva, 
informada pelo princípio constitucional de solidariedade social. Como se verá a seguir, a 
doutrina e a jurisprudência têm empreendido esforços no sentido de determinar os funda-
mentos para a responsabilização do terceiro cúmplice, sustentando-a ora na função social do 
contrato, ora no abuso de direito e, ainda, na boa-fé objetiva. É ver-se. 
41 PERLlNGIERI, Pietro, Perfis de direito civil: introdução ao direito civil constitucional, cit., p. 277. 
42 PERLlNGIERI, Pietro, Perfis de direito civil: introdução ao direito civil constitucional, cit., p. 201 e 55. 
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2. FUNDAMENTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO TERCEIRO CÚlvlPLlCE: A 
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO, O ABUSO DE DIREITO E A BOA-FÉ OBJETIVA 
A época das codificações liberais do séc. XIX, vigorava a doutrina voluntarista e indivi-
dualista, consagrada pelo Código Napoleão, segundo a qual o sujeito de direito ocupava o 
centro do ordenamento jurídico e sua vontade - erigida a dogma consistia no único motor 
do direito privado. 43 Em outras palavras, o indivíduo - sujeito anônimo, neutro, abstrato e 
titular de patrimôni044 - consistia no valor fundamental do direito privado, o qual buscava 
regular, do ponto de vista formal, sua atuação, sobretudo do contratante e do proprietário, 
que, por sua vez, "aspiravam ao aniquilamento dos privilégios feudais: poder contratar, fazer 
circular as riquezas, adquirir bens como expansão da própria inteligência e personalidade, 
sem restrições ou entraves legais" 45 A vontade do indivíduo, portanto, era exercida de forma 
quase ilimitada, sofrendo limitações excepcionais por meio da ordem pública e dos bons 
costumes.46 De acordo com esta filosofia, os dois pilares do direito privado constituíam-se na 
propriedade e no contrato, esferas sobre as quais se exercia a plena autonomia do indivídu047 
Na esteira desta concepção, formularam-se os três princípios contratuais clássicos, de-
correntes da autonomia da vontade, a saber: (i) o princípio da autonomia privada, segundo 
CD o qual as partes podem convencionar o quê e com quem quiserem, sujeitas apenas aos limites 
impostos pelas normas de ordem pública; (ii) o princípio da obrigatoriedade dos contratos ou 
intangibilidade do conteúdo do contrato, de acordo com o qual o contrato adquire força de 
lei entre as partes, o denominado pacta sunt servanda; e, (iii) o princípio da relatividade dos 
contratos, pelo qual o contrato vincula apenas os contratantes, restringindo os seus efeitos 
inter partes, não beneficiando, nem prejudicando terceiros. 
Note-se que para a doutrina voluntarista e individualista a função social não se configu-
rava em princípio jurídico, sendo entendida como um princípio da ciência política ou meta-
43 GIORGIANNI, Michele. O direito privado e as suas atuais fronteiras. Separata de: Revista dos Tribunais, 
Rio de Janeiro, ano 87, v. 747, p. 39, jan. 1998. 
44 TEPEDINO, Gustavo. Do sujeito de direito à pessoa humana, cit., p. 342. 
45 TEPEDINO, Gustavo. Premissas metodológicas para a constitucionalização do direito civil. In: Temas 
de direito civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 2. 
46 TEPEDINO, Gustavo et alli. Código civil interpretado conforme a Constituição da República. Rio de 
Janeiro: Renovar, v. 2, 2006, p. 11. 
47 GIORGIANNI, Michele. O direito privado e as suas atuais fronteiras, cit., p. 39. 
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jurídico, o qual se traduzia, em matéria contratual, na função econômica desempenhada pelo 
contrato no fomento às trocas e à prática comercial como um tod048 
No Brasil, tal regime contratual clássico cede lugar a uma nova teoria contratual a partir 
da promulgação da Constituição da República de 1988, que, fundando uma nova ordem 
jurídica - personalista e solidarista -, consagrou os valores da dignidade da pessoa humana 
(CRFB, art. 1°,111), da solidariedade social (CRFB, art. 3°,1), da isonomia substancial (CRFB, art. 
3°,111) e o valor social da livre iniciativa (CRFB, arts. 1°, IV e 170, caput). Posteriormente, com 
o advento do Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990), a 
tábua de valores constitucionais foi prestigiada na disciplina legal dos contratos, permitindo-
se a consolidação definitiva de uma cultura contratual que, sob vários aspectos, mostra-se 
antagônica à cultura contratual clássica 49 Assim, afirma-se que a Constituição da República 
e o CDC constituem os marcos desta transformação do modelo contratual clássico para o 
modelo contemporâneo da teoria contratual. 50 Os princlpios contratuais clássicos, a partir de 
então, adquiriram novos contornos, remodelados pelos novos princfpios contratuais, vale 
dizer, a boa-fé objetiva, o equilfbrio econômico e a função social dos contratosS 1 Na lição de 
Gustavo Tepedino: 
48 Tal função económica do contrato é referida por Orlando GOMES nos seguintes termos: "A função 
económico-social do contrato foi reconhecida, ultimamente, como a razão determinante de suaproteção 
jurldica. Sustenta-se que o Direito intervém, tutelando determinado contrato, devido à sua função 
económico-social. Em conseqüência, os contratos que regulam interesses sem utilidade social, fúteis ou 
improdutivos não merecem proteção jurldica. Merecem-na apenas os que têm função económico-social 
reconhecidamente útil" (Contratos, cit., p. 20). 
49 MORAES, Maria Celina Bodin de. Prefácio à Teresa Negreiros. in Teoria do contrato: novos paradigmas, 
cit. 
50 TEPEDINO, Gustavo et alii. Código civil interpretado conforme a Constituição da República, cit., p. 7. 
51 Como afirma António Junqueira de AZEVEDO, "estamos em época de hipercomplexidade, os dados 
se acrescentam, sem se eliminarem, de tal forma que, aos três princlpios que gravitam em volta da 
autonomia da vontade e, se admitido como principio, ao da ordem pública, somam-se outros três - os 
anteriores não devem ser considerados abolidos pelos novos tempos, mas, certamente, deve-se dizer 
que viram seu número aumentado pelos três novos princlpios. Quais são esses novos princípios? A boa-fé 
objetiva, o equillbrio económico do contrato e a função social do contrato" (Princlpios do novo direito 
contratual e desregulamentação do mercado. Direito de exclusividade nas relações contratuais de 
fornecimento. Função social do contrato e responsabilidade aquiliana do terceiro que contribui para o 
inadimplemento contratual, cit., p. 117). 
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"A boa-fé objetiva atua preponderantemente sobre a autonomia privada. O equilíbno 
econômico da relação contratual, por sua vez, altera substancialmente a força obriga-
tória dos pactos, dando ensejo a institutos como a lesão (art. 157, Código Civil), a 
revisão e a resolução por excessiva onerosidade (arts. 317,478 e 479, Código Civil). t, 
a função social, a seu turno, subverte o princfpio da relatividade, impondo efeitos 
contratuais que extrapolam a avença negociaI. 52" 
Especificamente no que tange à função social do contrato, embora tenha sido introdu-
zida pela Constituição da República, por força de circunstância histórica já referida, ao lado 
do excessivo apego à técnica regulamentar, não suscitou de início maiores debates, vindo à 
tona apenas com a promulgação do Código Civil de 2002 que dedicou dispositivo especffico 
ao tema, in verbis: 
"Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função 
social do contrato." 
Diante desta previsão, delinearam-se, em doutrina, três principais posições acerca do 
conteúdo e do papel da função social do contrato no ordenamento jurídico brasileiro. 
A primeira delas sustenta que, a função social, embora prevista em lei, não é disciplinada 
de forma sistemática ou especffica, encontrando-se presente de forma difusa dentro do 
ordenamento jurídico, expressa por meio dos institutos já positivados. 53 Em outras palavras, 
de acordo com este entendimento, o princípio da função social do contrato não assumiria 
eficácia Jurfdica autônoma, constituindo, antes, uma espécie de orientação de política legis-
lativa constitucional, que revelaria sua importância e eficácia não em si mesma, mas em 
diversos institutos que justificariam soluções normativas especfficas, como, por exemplo, a 
resolução por excessiva onerosidade, a lesão, a conversão do negócio jurídico e a simulação 
como causa de nulidade 54 
52 TEPEDINO, Gustavo. Novos princípios contratuais e a teoria da confiança: a exegese da cláusula to 
the best knowledge of the sellers. In: Temas de direito civil, I. 2, cil., p. 250-251. 
53 "( ... ) a lei prevê a função social do contrato mas não a disciplina sistemática ou especificamente. 
Cabe à doutrina e à jurisprudência pesquisar sua presença difusa dentro do ordenamento jurfdico e, 
sobretudo, dentro dos princfpios informativos da ordem econômica e social traçada pela Constituição" 
(THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 93). 
54 "O grande espaço da função social, de certa maneira, deve ser encontrado no próprio bojo do Código 
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Entretanto, tal posição acaba por esvaziar o conteúdo do principio da função social do 
contrato, uma vez que os outros institutos positivados, por já expressarem a função social, 
dispensariam sua existência como categoria aut6noma. Adotar este entendimento significaria 
interpretar a Constituição à luz do Código Civil, subvertendo a hierarquia de valores do 
ordenamento. 
Por outro lado, a segunda corrente de pensamento, majoritária, defende que a função 
social expressa o valor social das relações contratuais, vale dizer, não apenas a vontade dos 
contratantes que concorre para a formação do contrato importa, mas também os efeitos que 
este contrato projeta na sociedade.55 Assim, o contrato se constituiria em bem que transcen-
deria a esfera individual dos contratantes, alcançando o âmbito social e, portanto, inserindo-
se no encadeamento das relações econ6micass6 Nas palavras de Adriana Schlabendorff: 
"[ ... ] O contrato possui em si um valor social - como se fossem dois lados de uma 
mesma moeda -, com projeções diferenciadas: uma no âmbito individual (no sentido 
Civil, ou seja, por meio de institutos legalmente institucionalizados para permitir a invalidação ou a revisão 
do contrato e assim amenizar a sua dureza oriunda dos moldes plasmados pelo liberalismo. 'Parece, 
portanto, que a função social vem fundamentalmente consagrada na lei, nesses preceitos e em outros, 
mas não é, nem pode ser entendida como destrutiva da figura do contrato, dado que, então, aquilo que 
seria um valor, um objetivo de grande significação (função SOCial). destruiria o próprio instituto do 
contrato', O campo propicio ao desempenho da função social, assim como à realização da eqüidade 
contratual é o da aplicação prática das cláusulas gerais com que o legislador definiu os vicias do negócio 
jurldico, os casos de nulidade ou de revisão. Seria pela prudente submissão do caso concreto às noções 
legais com que o Código tipificou as hipóteses de intervenção judicial do contrato que se daria a sua 
grande adequação às exigências sociais acobertadas pela lei civil" (THEODORO JÚNIOR, Humberto. O 
contrato e sua função social, cit., p, 106). 
55 Como salienta Adriana SCHLABENDORFF, "ao afirmar que o contrato possui um valor social, não se 
quer dizer que ele tenha perdido o seu valor intrlnseco, ao contrário, significa que conjuntamente como 
esse 'valor em si', relacionado às partes contratantes, garantindo-lhes a capacidade de livre e conscien-
temente se auto-regrar, o valor social do contrato também possui uma projeção social" (A reconstrução 
do direito contratual: o valor social do contrato. 2005. 299 f. Tese (Doutorado em Direito Civil) ,-
Universidade de São Paulo, São Paulo, p. 229). Na mesma linha de racloclnio, v. MELLO, Adriana Mandin 
Theodoro. A função social do contrato e o principio da boa-fé no novo Código Civil brasileiro. In: Revista 
Síntese de Direito Civil e Processual Civil, n. 16, p. 149, mar./abr. 2002. 
56 FERREIRA DA SILVA, Luis Renato. A função social do contrato no novo código civil e sua conexão com 
a solidariedade social, cit., p. 132. 
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da autonomia privada) e outra no âmbito social (no sentido da importânciada conser-
vação dos contratos, instrumentalizada pela boa-fé objetiva, pelo equilíbrio econômico 
e pela minoração do relativismo contratual)" S7 
Como se vê, segundo esta linha de raciocínio, o princípio da função social dos contratos 
deve significar que o contrato não pode "ser concebido como uma relação jurídica que só 
interessa às partes contratantes impermeável às condicionantes sociais que o cercam e que 
são por ele próprio afetadas" . 58 
Especificamente no que tange à responsabilização do terceiro que colabora com o 
devedor ou o induz à lesão do direito de crédito alheio, celebrando com ele contrato 
incompatível com obrigação anteriormente assumida, de acordo com esta teoria, o princípio 
da função social serviria de fundamento para a responsabilização do terceiro cúmplice, na 
medida em que propiciaria a apreensão do contrato como fato social. 59 Dito diversamente, 
o princípio da função social, baseado no princfpio da solidariedade constitucional, exigiria a 
colaboração entre os contratantes e terceiros, devendo estes últimos respeitar as situações 
jurídicas anteriormente constituídas, ainda que desprovidas de eficácia real, desde que a sua 
existência seja por eles previamente conhecida. Assim, o princfpio da relatividade não poderia 
O servir de pretexto para que terceiros desrespeitassem o direito de crédito alheio, justamente 
por não terem consentido em sua criação. Por esta razão, o princípio da função social limitaria 
o princípio da relatividade com vistas a garantir a responsabilização do terceiro cúmpliCe. 
Como sustenta Teresa Negreiros: 
"Numa sociedade que o constituinte quer mais solidária, não deve ser admitido que, 
sob o pretexto de que o direito de crédito é um direito relativo, possa tal direito ser 
57 A reconstrução do direito contratual: o valor social do contrato, cit., p. 229. 
58 NEGREIROS, Teresa. Teoria do contrato: novos paradigmas, cit., p. 207. 
59 Nas palavras de Teresa NEGREIROS, "em contraposição à concepção individualista, o principio da 
função social serve como fundamento para a relevância externa do crédito, na medida em que propicia 
uma apreensão do contrato como fato social" (Teoria do contrato: novos paradigmas, cit., p. 267). No 
mesmo sentido, v. SCHLABENDORFF, Adriana. A reconstrução do direito contratual: o valor social do 
contrato. cit., p. 246; THEODORO JÚNIOR, Humberto. O contrato e sua função social, cit., p. 29-30; 
THEODORO NETO, Humberto Theodoro. O contrato e a relatividade de seus efeitos: direitos e obrigações 
na relação entre contratantes e terceiros, 2004, 316 f. Dissertação (Mestrado em Direito Civil) -
Faculdade de Direito da UFMG, Belo Horizonte, 2004. 
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desrespeitado por terceiros, que argumentam não ter consentido para a sua criação. 
Esta ótica individualista e voluntarista deve ser superada diante do sentido de solida-
riedade presente no sistema constitucional. [ ... ] o princípio da função social cumpre o 
papel de explicar e limitar o princípio da relatividade, cujo sentido próprio não mais se 
deduz exclusivamente do princípio da autonomia da vontade. 60" 
Na esteira de tal entendimento, foi editado o enunciado 21 da 1 a jornada de direito civil 
do STJ, segundo o qual "a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código 
Civil, constitui cláusula geral a impor a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do 
contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito". 
De acordo com Teresa Negreiros, a liberdade de contratar seria dotada de uma função 
social, de modo que o exercício desta liberdade em contrariedade a esta função representaria 
abuso de direito. Assim, o terceiro que, ciente do direito de crédito alheio, firma contrato 
com o devedor incompatível com a obrigação por este anteriormente assumida, exerce sua 
liberdade de contratar de forma abusiva, em violação à função social, devendo, por isso 
mesmo, ser responsabilizado. Deste modo, o princípio da função social do contrato associado 
ao abuso de direito deveriam ser invocados como fundamentos da responsabilização do 
terceiro cúmplice.61 Acrescenta a autora, ainda, que a oponibilidade do contrato imporia aos ., 
terceiros o dever de respeito ao direito de crédito alheio do qual têm ciência, daí derivando 
a obrigação de não violarem este direito.62 
Em síntese, esta segunda corrente doutrinária acerca do conteúdo do princípio da função 
social atribui ao contrato valor social, que, portanto, projeta seus efeitos no âmbito da 
sociedade, de modo a reforçar a proteção do contratante em face de terceiros. Assim, como 
se viu, a função social consistiria em fundamento para a proteção do credor na lesão 
contratual provocada pelo terceiro cúmplice. 
Contudo, tal posição não colhe, pois acaba reduzindo a função social a um instrumento 
a mais de garantia da posição contratual do credor, desvirtuando a finalidade do instituto, o 
qual pretende impor deveres aos contratantes, não já ampliar-lhes a gama de garantias. 
Com efeito, a função social, como sustenta a terceira corrente doutrinária, deve ser 
entendida como um novo princípio que, informado pelos princípios constitucionais da digni-
60 NEGREIROS, Teresa. Teoria do contrato: novos paradigmas, cit., p. 208 e 273. 
61 Teoria do contrato: novos paradigmas, cit., p. 255. 
62 NEGREIROS, Teresa. Teoria do contrato: novos paradigmas, cit., p. 271-272. 
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dade da pessoa humana (art. 1°,111), do valor social da livre iniciativa (art. 1°, IV), da igualdade 
substancial (art. 3°, 111); e da solidariedade social (art. 3°, I), impõe deveres, e não direitos, aos 
contratantes em face de interesses socialmente relevantes alcançados pelo contrat063 
Ao propósito, esclareça-se que funcionalização compreende processo que atinge todos 
os fatos jurídicos.64 A função do fato corresponde a síntese de seus efeitos essenciais, sua 
profunda e complexa razão justificadora: ela refere-se não apenas a vontade dos sujeitos, 
mas ao fato em si, enquanto social e juridicamente relevante. Com base na função prático-
social que realiza, é possível qualificar o fato, atraindo, por conseguinte, a disciplina jurídica 
aplicável. Em matéria contratual, a função identifica-se com o problema da causa 65 
Toda situação jurídica subjetiva possui uma função social. Assim, o interesse só será 
tutelado se e enquanto atender não apenas ao interesse do titular da situação Jurídica 
subjetiva, mas também àquele da coletividade. 66 /\ função social consiste na própria razão 
de atribuição do direito, de modo que o exercício do direito somente será merecedor de tutela 
se atender a função social 67 Deste modo, a estrutura interna do direito é remodelada de 
acordo com sua função social, concretamente definida, que constitui o próprio pressuposto 
de validade do exercício do direito.68 
Em outras palavras, a função permite vincular, de forma dinâmica, a estrutura do direito, 
em especial dos fatos jurídicos, dos centros de interesse privado e das relações jurídicas, aos 
valores da sociedade consagrados pelo ordenamento no lexto Constitucional. Assim, possi-
bilita que o controle social não se limite ao exame de estruturas ou tipos abstratamente 
considerados, dando lugar ao exame do merecimento de tutela do tipo no caso concreto. 
63 Com efeito, ensina Gustavo TEPEDINO que a função social do contrato deve ser entendida como o 
"dever imposto aos contratantes de atender - ao lado dos próprios interessesIndividuais perseguidos 
pelo regulamento contratual - a interesses extra contratuais socialmente relevantes, dignos de tutela 
jurldica, que se relacionam com o contrato ou são por ele atingidos. Tais interesses dizem respeito, dentre 
outros, aos consumidores, à livre concorrência, ao meio-ambiente, às relações de trabalho" (Crise de 
fontes normativas e técnica legislativa na parte geral do Código Civil de 2002. In: Temas de direito civil, 
t. 2, Clt., p. 20). 
64 PERLlNGIERI, Pietro. Manuale di diritto civile. Napoli: Edlzione Scientifiche Italiane, 1997, p. 64 e ss. 
65 PERLlNGIERI, Pietro. Perfis de direito civil: introdução ao direito Civil constitucional, cit., p. 96 
66 PERLlNGIERI, Pietro. Perfis de direito civil: introdução ao direito civil constitucional, cit., p. 107. 
67 PERLlNGIERI, Pietro. Perfis de direito civil: introdução ao direito Civil constitucional, Clt., p. 226. 
68 TEPEDINO, Gustavo. Contornos constitucionais da propriedade privada. fn: Temas de direito civil, dt., 
p.318ess. 
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Daí afirmar-se que a função é elemento interno e razão justificativa da autonomia pnvada, 
tendo em vista que instrumentaliza as estruturas jurídicas aos valores constitucionais, permi-
tindo o controle dinâmico e concreto da atividade privada. 59 
No sistema atual, a função social amplia para o domínio do contrato a noção de ordem 
pública. Como ensina Gustavo lepedino, "tal como observado em relação à propriedade, em 
que a estrutura interna do direito é remodelada de acordo com sua função social, concre-
tamente definida, e que se constitui em pressuposto de validade do exercício do próprio 
domínio, também o contrato, uma vez funcionalizado, se transforma em um 'Instrumento 
de realização do projeto constitucional' e das finalidades sociais definidas constitucional-
mente".70 
Na dicção do art. 421 do Código Civil, considera-se a função social um fim para cuja 
realização se justifica a imposição de preceitos inderrogáveis e inafastáveis pela vontade das 
partes71 Daí dispor o parágrafo único do art. 2.03~) do Código Civil: 
"Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como 
os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos 
con tratos. " 
De acordo com a função que a situação jurídica desempenha, serão definidos os poderes 
atribuídos ao titular das situações jurídicas subjetivas. Como dito anteriormente, os legítimos 
interesses Individuais dos titulares da atividade econômica só merecerão tutela na medida em 
que interesses socialmente relevantes, embora alheios à esfera individual, sejam igualmente 
tutelados. Vincula-se, portanto, a proteção dos interesses privados ao atendimento de inte-
resses sociais, a serem promovidos no âmbito da atividade econômica 72 
69 Como sustenta Gustavo TEPEDINO, "o sentido a ser atribuldo à função social não pode se limitar a 
restrições pontuais e externas à atividade econõmica privada, inserindo-se no próprio fundamento da 
Iniciativa econômica. Assim como no direito de propriedade, quis o constituinte tornar a função SOCial 
elemento Interno dos institutos jurfdicos de direito privado" (Novos princípios contratuais e a teoria da 
confiança: a exegese da cláusula to the best knowledge of the sellers, Clt., p. 2S1). 
70 TEPEDINO, Gustavo et alii. Código civil interpretado conforme a Constituição da I?epública, v. 2, cit., 
p.l0. 
71 TEPEDINO, Gustavo et alii. Código civil interpretado conforme a Constituição da I?epública, v. 2, cit., 
p.9. 
72 PERLlNGIERI, Pietro. Perfis de direito civil: introdução ao direito civil constitucional, cit., p. 121. 
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Assim, a flexibilização do princípio da relatividade dos contratos em razão do princípio 
da função social dos contratos se efetiva por meio da imposição de deveres aos contratantes 
com vistas à promoção de interesses socialmente relevantes e não se destina à utilização como 
mera ferramenta para ampliação das garantias contratuais - o que traduziria um contra-
senso. Como argutamente observado por Gustavo Tepedino: 
"O esmorecimento do princípio da relatividade indica, como observado no texto, a 
imposição aos contratantes de deveres extracontratuais, socialmente relevantes e tu-
telados constitucionalmente. Não deve significar, todavia, uma ampliação da proteção 
dos próprios contratantes, o que amesquinharia a função social do contrato, tornan-
do-a servil a interesses individuais e patrimoniais que, posto legítimos, já se encontram 
suficientemente tutelados pelo contrato. 73 " 
Com efeito, no caso específico da lesão contratual provocada pelo terceiro cúmplice, 
busca-se tutelar interesses meramente privados do credor que sofreu lesão do seu direito de 
crédito, oriundo de relação contratual paritária, e, por isso mesmo, não se poderia cogitar da 
presença de interesses sociais relevantes que justificassem um reforço da proteção do credor 
• com fundamento na função social dos contratos. Isto constituiria verdadeira desvirtuação da 
finalidade do instituto da função social. Como já se afirmou, a função social tem por escopo 
a proteção de interesses extra contratuais socialmente relevantes e tutelados constitucional-
mente, por meio da imposição de deveres aos contratantes, como é o caso, por exemplo, da 
tutela dos interesses do consumidor e dos interesses coletivos e difusos. 
Afastada a função social como fundamento da responsabilidade civil do terceiro cúmpli-
ce, passa-se a tratar da figura do abuso de direito invocada por alguns autores como base 
desta responsabilização. 
De fato, argumentam seus defensores que o terceiro que coopera ou induz o devedor 
ao inadimplemento contratual, celebrando com ele contrato incompatível com a obrigação 
preexistente, abusa do seu direito de contratar. Dito diversamente, se o terceiro, ciente do 
direito de crédito alheio, celebra com o devedor contrato ofensivo ao direito do credor, 
exercerá de forma irregular ou abusiva sua liberdade de contratar, devendo, por isso mesmo, 
ser responsabilizado. Nesta esteira, afirma Fernando Noronha: 
73 TEPEDINO, Gustavo. Novos princípios contratuais e a teoria da confiança: a exegese da cláusula to 
the best knowledge of the sellers, cit., p. 251, nota 14. 
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"Assim, nas situações de indução ao inadimplemento de obrigação alheia, se o terceiro 
estava agindo no exercício de um seu direito (por exemplo, o direito de contratar um 
bom profissional), ele, em princípio, não terá nenhuma obrigação de indenizar, porque 
estaremos perante um ato justificado: em princípio todos têm o direito de contratar 
com qualquer pessoa. Se, porém, o direito não for exercido de forma regular, isto é, se 
houver abuso de direito, haverá responsabilidade. [ ... ] Como se vê, nas situações de 
indução ao inadimplemento a invocação da tutela externa só será possível em casos 
especiais, quando se configure um exercício abusivo de direitos. 74 " 
Nesta linha de raciocínio, há ainda quem defenda a responsabilidade do terceiro que, 
dolosamente, isto é, com intuito de prejudicar o credor, abusa do seu direito de contratar, 
restando caracterizado o ato emulativo. 75 
Na doutrina estrangeira, Ferrer Correia, ao analisar especificamente a lesãodo direito de 
crédito pelo terceiro nos pactos de preferência, isto é, na hipótese em que o terceiro, 
conhecendo o direito de preferência do credor, contrata com o devedor em violação frontal 
a este direito, sustenta a responsabilidade do terceiro com base no abuso de direito. Afirma 
que o devedor busca intencionalmente prejudicar os interesses do credor ao contratar com ® 
terceiro, pois se o credor quiser exercer a preferência terá de lhe pagar exatamente o mesmo 
preço que o terceiro lhe pagaria. Assim, o comportamento do devedor reveste-se de grave 
imoralidade, configurando ato emulativo, pelo qual também responde o terceiro. 76 
No direito brasileiro, o Código Civil de 1916 não se referiu expressamente ao abuso de 
direito, o qual era extraído pela doutrina em interpretação a contrario sensu do art. 160, 1. 77 
Posteriormente, foi disciplinado no art. 187 do Código Civil de 2002, o qual dispõe que: 
74 Direito das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2003, v. 1, p. 464-465. 
75 DINIZ, Davi Monteiro. Aliciamento no contrato de prestação de serviços: responsabilidade de terceiro 
por interferência ilfcita em direito pessoal. In: Revista Síntese de Direito Civil e Processual Civil, n. 27, p. 
91, jan.- fev. 2004. 
76 CORREIA, A. Ferrer. Da responsabilidade do terceiro que coopera com o devedor na violação de um 
pacto de preferência. In: Estudos de Direito Civil e Comercial e Criminal, 2. ed. Coimbra: Livraria Almedina, 
1985, p. 50. 
77 "Art. 160. Não constituem atos ilfcitos: l-os praticados em legrtima defesa ou no exercrdo regular de 
um direito reconhecido". 
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"Art. 187. Também comete ato illcito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede 
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou 
pelos bons costumes." 
No abuso, o comportamento do sujeito, embora formalmente lícito, viola o seu funda-
rnento axiológico-normativo, que justifica o seu reconhecimento pela ordem jurídica e segun-
do o qual se irá afem a validade do ato de exerdcio. 78 Ern outras palavras, o exercício do 
direito em contrariedade às suas finalidades econômicas ou sociais configura abuso do direito, 
impondo ao agente o dever de reparar os prejuízos causados. 79 
Note-se que a abusividade do ato é aferida objetivamente, ou seja, deve-se verificar se 
o ato de exerdcio do direito subjetivo viola o sentido deste exerdcio determinado pelo valor 
inerente e estrutural a este mesmo direito, prescindindo da análise do elemento intencional 
do agente 80 Em outras palavras, a aterição da abusividade da conduta irá depender apenas 
da verificação de desconformidade concreta entre o exerdcio da situação jurídica e os valores 
tutelados pelo ordenamento civil-constitucional, pouco importando a intenção do agente de 
prejudicar outrem ou a cornprovação do elemento culpa. Assim sendo, o abuso de direito 
configura ato lícito, ganhando autonomia na ciência jurídica do ato ilícito -~ o qual pressupõe 
a violação de um dever legal e, portanto, culpa -, de rnodo a alcançar inúmeras situações 
que, justamente por não se enquadrarem no ilícito, exigem valoração funcional quanto ao 
seu exerdcio. Deste modo, o art. 187 do Código Civil, ao afirmar que o abuso de direito 
consiste em ato ilícito, deve ser compreendido como ilicitude em sentido lato, isto é, deve 
significar contrariedade ao ordenamento Jurídico como um todo, não autorizando a equipa-
ração da etiologia do abuso de direito a do ato illcit081 
Na hipótese de lesão do direito de crédito provocada pelo terceiro cúmplice, verifica-se, 
como se verá adiante, a violação, pelo terceiro, de um dever legal de abstenção imposto pela 
78 V, sobre o tema, CARPENA, Heloisa. Abuso do direito nos contratos de consumo. Rio de Janeiro: 
Renovar, 2001, p. 56. 
79 Como observa Heloisa Carpena, "o comportamento do sujeito só aparentemente constitui exerclcio 
do direito, ultrapassando-o exatamente por violar seu sentido e seu fundamento objetivo" (Abuso do 
direito nos contratos de consumo, cit., p. 73). 
80 CARPENA, Heloisa. Abuso do direito nos contratos de consumo, cit., p. 73. 
81 No sentido do texto, ver a elucidativa explicaçâo de TEPEDINO, Gustavo et alii. Código civil interpre-
tado conforme a Constituição da República, v. 1, cit., p. 342. 
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cláusula geral de boa-fé objetiva, informada pelo princípio da solidariedade constitucional, 
do qual decorre o respeito às situações jurídicas previamente constituídas. Por esta razão, o 
terceiro que coopera com o devedor ou o induz ao inadimplemento contratual, celebrando 
com ele contrato incompatível com obrigação anteriormente assumida pelo devedor, infringe 
este dever legal, praticando, por isso mesmo, ato ilícito. Ora, se de ilícito se está a tratar, o 
abuso de direito não pode servir de fundamento para a responsabilização do terceiro cúm-
plice. Hesta, portanto, analisar o papel do princípio da boa-fé objetiva na imputação desta 
responsabilidade. 
A boa-fé objetiva foi, inicialmente, referida no ordenamento jurídico brasileiro pelo art. 
131 do Código Comercial de 1850, atualmente revogado, como critério de interpretação dos 
contratos mercantis. 82 Entretanto, o dispositivo teve aplicação insignificante e a acepção por 
ele atribuída ao princípio da boa-fé, além de fundar-se em preocupações diversas, era muito 
'mais restrita do que aquela conferida hoje à boa-fé objetiva 83 A essa época, compreendia-se 
comumente por boa-fé o estado de ânimo do sujeito caracterizado pela ausência de malícia 
e pela crença pessoal de estar agindo em conformidade com o direito. Tratava-se, portanto, 
de acepção subjetiva da boa-fé 
Posteriormente, o Código de Defesa do Consumidor trouxe, em seu art. 4", a primeira @ 
previsão moderna da boa-fé objetiva, tomada como princípio da política nacional de relações 
de consumo 84 A partir de então, a boa-fé objetiva passou a ser entendida como um dever 
82 "Art. 131. Sendo necessário interpretar as cláusulas do contrato, a interpretação, além das regras 
sobreditas, será regulada sobre as seguintes bases: 1. a inteligência simples e adequada, que for mais 
conforme à boa-fé, e ao verdadeiro espírito e natureza do contrato, deverá sempre prevalecer à rigorosa 
e restrita significação das palavras [ ... ]". 
83 Tal é a constatação de fEPEDINO, Gustavo e SCHREIBER, Anderson. A boa-fé objetiva no Código de 
Defesa do Consumidor e no novo Código Civil. In: TEPEDINO, Gustavo (coord.). Obrigações: estudos na 
perspectiva civil-constitucional, cit., p. 30. 
84 "Art. 4°. A Polftica Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessi-
dades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses 
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparênCia e harmonia das relações 
de consumo, atendidos os seguintes princfpios: [ ... ] III - harmonização dos interesses dos participantes 
das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a neceSSidade de desen-
volvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princfplos nos quais se funda a ordem 
econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre 
consumidores e fornecedores" . 
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