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A (IN)EFICÁCIA DO SISTEMA DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE COARACI-BA

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A (IN)EFICÁCIA DO SISTEMA DO JUIZADO
ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE COARACI-
BA
Dificuldades na real eficácia ao atendimento dos princípios norteadores dos Juizados
Especiais, bem como possíveis soluções para tais dificuldades.
RESUMO
O acesso à justiça versus efetividade do processo nos Juizados Especiais. O Juizado Especial Cível de Coaraci tem
cumprido seu papel de facilitador do acesso à Justiça, buscando a resolução dos litígios de forma célere e no tempo justo
do processo? Análise da importância do Juizado Especial na Comarca de Coaraci, ao verificar através desta pesquisa, a
efetividade na prestação jurisdicional do Juizado pesquisado, com o levantamento dos problemas apresentados como forma
de expor soluções para os mesmos. Através de pesquisa histórica, de dados estatísticos nos sistemas e arquivos, além de
entrevistas e apontamentos de servidores e magistrada da Unidade pesquisada, verificar as dificuldades na real eficácia ao
atendimento dos princípios norteadores dos Juizados Especiais, bem como possíveis soluções para tais dificuldades.
Palavras-chave: Justiça; Versus efetividade; Processo; Juizado; Coaraci
ABSTRACT
Access to justice versus effectiveness of the process in the Special Courts. The Small Claims Court of Coaraci has fulfilled
its role of facilitating access to justice, seeking to resolve disputes swiftly and fair process time? Analysis of the importance
of the Special Court in Coaraci County, to verify through this research, the effectiveness in the judgment of the Juvenile
Court researched, with the lifting of the problems presented as a way to expose solutions to them. Through historical
research, statistical data on the systems and files, as well as interviews and notes servers and magistrate of the surveyed
unit, check the difficulties in the real effective care of the guiding principles of the Special Courts, as well as possible
solutions to these difficulties.
Keywords: Justice. Versus effectiveness. Process. Court. Coaraci
INTRODUÇÃO
Vive-se em um mundo onde o tempo é a medida mais desejada. Busca-se cada vez mais, muitas vezes
inconsequentemente, a solução rápida para todo o tipo de problema, num menor espaço de tempo. Seja nas ciências
exatas, nas relações sociais, o tempo é fator que sempre assume grande relevo. Em um cenário capitalista, nunca o ditado
“tempo é dinheiro” fez tanto sentido.
O fenômeno da santificação do tempo nas relações sociais se deu, sem sombra de dúvida, em razão da globalização. As
distâncias, tanto físicas, como da informação, foram encurtadas. O trânsito comercial nunca foi tão intenso. Ademais, a
especialização e aperfeiçoamento da mão-de-obra é outro fator que exerceu acentuada influência sobre o tempo das
relações. Cada vez mais se formam profissionais qualificados, de forma que o critério de desempate reflete no tempo em
que conseguem desenvolver suas atividades. Quanto menos tempo, mais chances de vencer.
Como se verá, o direito não poderia ficar a par disso. É intensa a comunicação entre a realidade social e o direito. Pode-se
mesmo dizer que o direito existe para resolver situações sociais, mas sem o direito, sequer existiria a sociedade. Devido a
esta forte ligação, cabe ao direito se adaptar da forma mais adequada aos fatos sociais. Se estes passam a ser permeados
por uma nota de temporalidade acelerada, certamente o direito resta prejudicado.
Essa situação passa a ter reflexos na forma de conceber o fenômeno jurídico. Cria-se no imaginário popular a necessidade
de que os litígios devem ser resolvidos sempre de forma rápida. Mudam-se leis. Reclama-se pelo investimento do Estado
nessa área. Roga-se pela aplicação de penas mais severas àqueles que, de alguma forma, contribuem para o atraso do
processo.
Em que pese o papel principal dado ao tempo, as modificações passam a ser realizadas sem embasamento fático
suficiente. Não se busca a fundo qual a razão da morosidade, mas apenas busca-se mudar, mesmo com leis com pouco
efeito na prática. A insegurança permeia a vida jurídica, devido às normas quase temporárias que são editadas todos os
dias. Sem esse maior aprofundamento na matéria, os estudiosos se afastam da percepção de que o problema é bem mais
complexo, exigindo modificações em várias áreas. É impossível sua resolução através de simples modificações legislativas.
O Estado, mais especificamente o Poder Judiciário, ultimamente vem perdendo sua credibilidade perante a sociedade,
deixando transparecer o seu mau funcionamento, tornando-se cada vez mais distante do meio social, uma vez que o órgão
foi criado para solucionar, apaziguar conflitos e estabelecer a paz.
É essa a atual situação do Poder Judiciário e das instâncias administrativas de julgamento de processos. A demora em ter
sua pretensão atendida é tão grande, que a própria necessidade de recorrer a essa via é considerada uma punição. Os
exemplos acima são exemplos de como a sociedade precisa de soluções urgentes para a morosidade processual. Hoje,
pelo sofrimento causado por uma demanda judicial, constantemente se houve a parte demandada dizer que o autor
“apelou”, que “não precisava disso”. A verdade é que a via adequada é tida como a subsidiária: se não der certo de outro
modo, recorre-se à justiça.
Com o advento da Lei n. 9.099, promulgada em 26 de setembro de 1995, foram definidas normas para julgamento e
execução de causas cíveis de menor complexidade, ou seja, através da mencionada lei, introduziu-se no mundo jurídico um
novo sistema, destinado a rápida e efetiva atuação do direito.
Destarte, os Juizados Especiais são considerados nenhuma novidade no sistema jurídico brasileiro, quer seja no âmbito
estadual ou federal, tendo surgido como uma resposta mediante a insatisfação popular devido, principalmente, a
morosidade e o formalismo que dificultam a solução dos conflitos pelos métodos já existentes.
Com o surgimento de instituto de tamanha importância para o Judiciário brasileiro, buscou-se pesquisar, analisar e
diagnosticar o Juizado Especial da Comarca de Coaraci, no Estado da Bahia, para identificar se este ente do Judiciário
baiano cumpre eficazmente o seu papel de facilitador do acesso à justiça aos cidadãos da comarca supracitada, permitindo
a estes uma aproximação com a justiça em busca de seus direitos que ora foram feridos ou na iminência de tal fato.
Apesar de ser destinado às causas de menor complexidade, tramitando através do ritmo sumaríssimo, percebe-se que tal
instituto é de suma importância para o bom andamento do Judiciário e para o atendimento das demandas na jurisdição da
comarca objeto da pesquisa, vez que busca cumprir o princípio norteador dos Juizados da celeridade, evitando que causas
menores tramitem no mar de processos da Justiça Comum, onde o prazo razoável para encerramento das ações ultrapassa
na maioria dos casos o limite do aceitável para o cumprimento primordial do Judiciário, que é, através do julgamento em um
prazo razoável, dar um desfecho justo para os anseios da população que procura a assistência judiciária para resolução de
suas lides.
Faz-se ainda mais essencial e importante a existência e implantação da unidade dos Juizados Especiais na Comarca em
estudo, visto que a mesma atende, além de seus munícipes, ainda o município de Almadina, bem como dois distritos
pertencentes ao município, tornando-se indispensável o seu funcionamento para atender às demandas destes municípios.
Mas, apesar de serem municípios pequenos, a comarca sede Coaraci, além de Almadina, até que ponto esta unidade
efetivamente atende aos anseios de sua população? Busca-se então conhecer os entraves que porventura impedem a
efetiva prestação jurisdicional nesta comarca, buscando ainda conhecer as medidas tomadas para que tais entraves sejam
extintos ou amenizados através de diversas ações tomadas na própria unidade, como também pelo Tribunal de Justiça da
Bahia e, inclusive, pelo Conselho Nacional de Justiça para que realmente haja justiça.
Através de pesquisa histórica, de dados estatísticos nos sistemas e arquivos, além de entrevistase apontamentos de
servidores e magistrada da Unidade pesquisada, verificar as dificuldades na real eficácia ao atendimento dos princípios
norteadores dos Juizados Especiais, bem como possíveis soluções para tais dificuldades. Assim, busca-se apresentar os
problemas que, por ventura, impedem que todos os princípios norteadores Juizados Especiais, como a informalidade e a
celeridade, impedem a sua eficácia no Juizado Especial Cível de Coaraci e expor possíveis soluções adequadas para que
tudo que se indica na Lei 9099/95 sejam cumpridos, sanando possíveis problemas que venham a dificultar o total
cumprimento de todos os objetivos quando da criação da respectiva Lei.
OS JUIZADOS ESPECIAIS NO BRASIL E SUA CRIAÇÃO
A criação dos Juizados Especiais significou um avanço legislativo em prol do dinamismo na prestação jurisdicional aos
jurisdicionados com litígios de valor não superior a 40 vezes o valor do salário mínimo, que podem solucionar seus conflitos
através da conciliação ou em um procedimento mais rápido e efetivo com o benefício da gratuidade de custas. Desta forma,
mesmo aquele que tem maior poder aquisitivo, é beneficiado com a gratuidade de despesas com o processo, o que
beneficia a todas as classes sociais.
Ademais, não é só o valor da causa que torna as demandas nos Juizados Especais atraentes, é a viabilidade de uma
prestação jurisdicional mais rápida e informal.
A Lei 9.099/95 veio aperfeiçoar a prestação jurisdicional, ampliando a competência tanto com relação à matéria, quanto em
relação ao valor. Por conseguinte, o cidadão comum encontrou um sistema mais ágil e simples para resolver suas
pendências habituais na forma de conciliação e em um procedimento prático e simples através dos Juizados Especiais
Cíveis.
Apesar de ser considerada uma justiça de segunda classe por parte de alguns doutrinadores e profissionais do direito, os
Juizados Especiais ampliaram a possibilidade de acesso ao Poder Judiciário para aqueles que, até então, não buscavam
soluções jurisdicionais para seus problemas, propiciando um acesso efetivo à justiça nas demandas de menor
complexidade.
A CRIAÇÃO DOS JUIZADOS NO BRASIL
Antes mesmo do advento da Constituição Federal de 1988, um movimento se formava em busca de uma forma de propiciar
acesso mais fácil do jurisdicionado ao Poder Judiciário, dando-lhe a oportunidade de garantir seu direito de maneira mais
célere, o que dificilmente encontraria com os mecanismos complexos e onerosos, com solenidades e ritualismos
intermináveis nos trâmites do processo ordinário.
Na intenção de dirimir a complexidade do processo e também desafogar o Poder Judiciário, foi criada, em 7 de novembro
de 1984, a Lei Federal nº 7.244/84, dispondo sobre o Juizado Especial de Pequenas Causas, sendo um marco legislativo
no sentido de eliminar a prolongada espera e a angústia da via cara e complicada do mecanismo processual da justiça
comum. Tal dispositivo legal trouxe um novo paradigma ao sistema judicial brasileiro, introduzindo uma novidade na
estrutura do Poder Judiciário que implicou uma profunda alteração na forma de concepção da justiça, de seus operadores e
da relação com seus usuários visando um procedimento mais ágil, baseado nos princípios basilares da celeridade e
simplicidade, possibilitando ao cidadão comum uma rápida e efetiva prestação jurisdicional.
Em 26 de setembro de 1995, com base na obrigatoriedade do artigo 98, inciso I da Constituição Federal, que impõe a
instituição das referidas unidades jurisdicionais, com base no Projeto de Lei nº 1.489-B, com substitutivo do Senado por
meio do Projeto 1.480-C e, por último, do 1.480-D, todos editados em 1989, foi promulgada a Lei 9.099/1995, que dispõe e
regulariza os Juizados Especiais Cíveis e Criminais tendo como objetivo a conciliação, o julgamento e a execução de
causas cíveis de menor complexidade e das infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral
e sumaríssimo revogando a Lei 7.244/1984 que passou de pequenas causas, para causas especiais.
Os juizados de pequenas causas ou juizados especiais prestigiados pela Constituição de 1988 são exemplos notáveis de
órgãos judiciários concebidos para, precipuamente, conduzir as partes à conciliação, valendo-se, não só da figura clássica
do juiz estatal, mas também de conciliadores e juízes leigos, além de acenas para a possibilidade de encaminhar a solução,
alternativamente, para julgamentos arbitrais.
Na prática, a maioria das Unidades Federativas não criou os seus Juizados. Grande parte limitou-se a legislar com base no
Juizado de Pequenas Causas, dentro das especificações do artigo 24, inciso XI, da Constituição Federal, que permite aos
Estados e Distrito Federal legislarem concorrentemente com a União sobre “procedimentos em matéria processual”, desde
que o valor da causa não ultrapasse a vinte vezes o salário mínimo.
Alguns estados da Federação, em cumprimento ao disposto no artigo 98 da Constituição Federal, instituíram seus Juizados
Especiais com uma legislação específica com procedimentos e características próprias. Primeiramente, foi o Estado de
Santa Catarina a criar por meio da Lei 8.151/1990 os seus Juizados Especiais de Causas Cíveis e as Turmas Recursais,
com um procedimento diferenciado dos demais. Posteriormente, por lei complementar, dividiu sua competência por matéria.
Também, o Estado do Mato Grasso do Sul, através da Lei 1.071/1990, criou seus Juizados com procedimento oral e
sumaríssimo, nas causas de menor complexidade tanto cíveis como criminais.
Se faz imprescindível mencionar sobre o Estado do Rio Grande do Sul que é tido como o berço dos Juizados Especiais
através da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, a AJURIS, conjuntamente com o então na época Juiz da Segunda
Vara Cível do município de Rio Grande, hoje desembargador aposentado, Antônio Guilherme Tanger Jardim, onde passou a
cogitar a possibilidade de se implantar, em caráter experimental, juizados de pequenas causas, com base no sistema já
existente nos Estados Unidos e na Europa. O desafio foi aceito e, sem mesmo ter precedentes brasileiros, iniciou a tarefa
de efetivar o sistema, sendo o primeiro regulamento redigido pelo Juiz Antônio Corte Real levando o nome de Conselho de
Conciliação e Arbitramento instalado, solenemente, no Salão do Júri em 23 de julho de 1982 com o intuito de prestação
gratuita, rápida e sem burocracia aos cidadãos.
Foi dentro desse movimento de maior acesso à justiça que a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB)
vislumbrou a implantação dos juizados de pequenas causas (art. 24, X) ou juizados especiais com competência para
causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo (art. 98, I).
Theodoro Júnior (2011) observa que não há distinção entre as expressões, de modo que as “pequenas causas” a que alude
a CRFB são consideradas como tais tanto em função do valor econômico em questão como em função de sua menor
complexidade (daí a expressão especiais). São, portanto, expressões sinônimas que ostentam a mesma finalidade:
celeridade, efetividade e efetivo acesso à justiça.
Donizetti (2012, p. 442) analisa o que ele chama de microssistema dos juizados especiais cíveis:
Em atendimento ao comando constitucional inserto no art. 98, I, da CF, a Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995, definiu as normas para julgamento e execução de causas cíveis de menor
complexidade, mediante o procedimento sumaríssimo, permitindo assim a criação, nos Estados,
dos denominados Juizados Especiais Estaduais Cíveis e Criminais. Já no ano de 2001, a Lei nº
10.259 dispôs sobre a criação de Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça
Federal, em observância ao disposto no §1º do art. 98 da Constituição. Em 22 de dezembro de
2009, fechando o microssistema dos Juizados Especiais, foi publicada a Lei nº 12.153,
regulamentando a criação dos Juizados Especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados,
Distrito Federal e Municípios.
Em resumo, a lei nº 9.099/95 definiu as normas para julgamento e execuçãode causas cíveis de menor complexidade e a
criação dos juizados especiais estaduais cíveis e criminais nos estados. A lei nº 10.259/01 dispôs sobre a criação de
Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal. E finalmente, a lei nº 12.153/09 regulamentou a criação
dos juizados especiais da Fazenda Pública no âmbito dos Estados, Distrito Federal e Municípios.
Theodoro Júnior (2011) explica que tais juizados se integram ao judiciário de maneira a propiciarem acesso mais fácil ao
jurisdicionado, dando-lhe a oportunidade de obter tutela para pretensões que dificilmente poderiam encontrar solução
razoável dentro dos mecanismos complexos e onerosos do processo tradicional. É a ideia, portanto, da busca pela
efetividade da expressão acesso à justiça.
A criação dos juizados especiais cíveis estaduais decorreu, como visto, de uma programação constitucional (art. 24, X e art.
98, I, da CRFB), orientada para a realização de uma justiça coexistencial, de acesso à justiça pleno.
A lei 9.099/95 tratou o juizado como órgão a ser criado pelos estados, no âmbito de suas circunscrições, órgão atribuído
com a função de conciliação, processamento, julgamento e execução, nas causas definidas como de sua competência (art.
1º). Estabeleceu-se, também, o processo a ser aplicado no Juizado Especial: orientação conforme os critérios da oralidade,
simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, buscando sempre a conciliação ou transação (art. 2º).
Vale destacar que não se trata da criação de apenas um novo procedimento, mas da criação, dentro da órbita da
organização judiciária do Distrito Federal e dos estados, do órgão competente (arts. 93 e 95). A fim de que tal meta fosse
alcançada, a lei nº 9.099/95 assinalou o prazo de seis meses, a contar da sua vigência, para que os órgãos fossem
instituídos.
Quanto à aplicação subsidiária das regras do CPC nos juizados especiais, Donizetti (2012, p. 442) faz uma análise sobre a
relação do microssistema formado pelas normas dos juizados especiais federais, estaduais e da Fazenda Pública:
Esses três diplomas legislativos formam, reunidos, um microssistema processual próprio, distinto
do CPC, ainda que a ele tenha de recorrer para se completar. As leis que compõem o
microssistema dos Juizados Especiais constituem um conjunto normativo que, antes de outros
raciocínios, dialoga entre si, em aplicação intercambiante ou intercomunicante. Dessa forma,
apenas quando o microssistema não apresentar regra específica é que se recorre em auxílio, ao
CPC.
Tem-se que a lei nº 9.099/95 é a omissa a respeito da aplicação subsidiária do Código de Processual no Juizado Especial.
Todavia, o próprio art. 272, parágrafo único, CPC, traz a previsão genérica de que suas normas gerais sobre procedimento
comum aplicam-se de maneira complementar ao procedimento sumário e aos especiais.
DOS PRINCÍPIOS FORMADORES
Os princípios são preceitos que regem o processo que vêm através do tempo ou da cultura de um Estado, dotados de
premissas que consagram o modo de pensar e de agir de um povo. Tanto a doutrina como a jurisprudência são unânimes
em afirmar que as normas jurídicas mais importantes de um ordenamento jurídico são os princípios.
Especificamente, no caso da Lei dos Juizados Especiais, o legislador preferiu utilizar-se da expressão “critérios” como
orientadores do processo nas causas de menor complexidade, que são oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade.
Tais princípios são preceitos orientadores por resultar de um processo em busca da celeridade, com liberdade de formas se
comparado com o processo tradicional que é bem mais complexo. São critérios informadores que convergem na
viabilização do amplo acesso ao judiciário na busca da resolução de conflitos através da conciliação entre as partes sem a
violação das garantias constitucionais do contraditório e da ampla defesa.
A Lei 9.099/95, em seu art. 2º, especifica os princípios que regulam a forma como o processo deve ser guiado, tendo como
objetivo a conciliação entre as partes ou “a possível transação no curso do processo”.
Princípio da Oralidade
A oralidade nos procedimentos especiais define-se pela agilidade nos atos processuais. Constitui, provavelmente, o
princípio mais importante da Lei dos Juizados. Sua essência está no dinamismo do desenvolvimento do processo, está na
forma como o processo se inicia, pois, não se faz necessário uma petição formal, basta que a parte, ao se sentir lesada em
seu direito, desde que seja de pequeno valor, vá até a distribuição de um posto dos Juizados e narre o fato ao funcionário
que reduz a termo definindo uma data para a audiência de conciliação, não significando que, com isso, se exclua por
completo a utilização escrita, o que, aliás, é praticamente impossível, tendo em vista a imprescindibilidade na
documentação de todo o processado e a conversão em termos, no mínimo, de suas fases e atos principais, sempre ao
estritamente indispensável. Ademais, processo oral não é sinônimo de processo verbal.
É na forma oral que está a base do processo nos Juizados especiais, onde, através do diálogo e debate entre as partes e o
juiz que muitas vezes se dá a transação, a conciliação onde as partes fazem concessões mútuas e, assim, de forma mais
célere, têm seus direitos satisfeitos sem ter que se exaurirem em processos intermináveis e onerosos.
Theodoro Júnior (2011, p. 421) traz a seguinte explicação sobre o princípio da oralidade: “Quando se afirma que o processo
se baseia no princípio da oralidade, quer-se dizer que ele é predominantemente oral e que se procura afastar as notórias
causas de lentidão do processo predominantemente escrito”.
Princípio da Simplicidade
A simplicidade é inerente à instrumentalidade e efetividade no sistema processual dos juizados especiais, está diretamente
ligada a forma como é conduzido o processo com uma documentação bastante resumida e objetiva, onerando o menos
possível as partes e o próprio judiciário de maneira a atingir a finalidade de uma prestação jurisdicional mais rápida.
A simplicidade é um dos pressupostos exigidos pela Lei 9.099/95, pois é necessário que as questões a serem julgadas,
pelos juizados, sejam de menor complexidade. Nesse sentido foram julgados nos TJSP e TJDF - e na dispensa do
formalismo técnico e rebuscado que se encontra a simplicidade buscando a concentração dos atos como é o caso da parte
em uma litigância no valor de até 20 salários mínimos não necessitar da assistência de advogado para conduzir a causa.
É possível também visualizar a simplicidade no momento em que a parte pode peticionar ao juiz, de forma escrita a próprio
punho, sem qualquer técnica ou conhecimento das leis, simplesmente solicita, com suas próprias palavras o que se faz
necessário para o andamento do processo. E, é assim, de forma bem acessível e simples que os procedimentos são
conduzidos.
Princípio da Informalidade
A partir da análise do processo tradicional, verifica-se que sua maior problemática está na quantidade de formas e de
solenidades para se chegar ao fim pretendido o que causa enorme morosidade e muitas vezes a efetividade tardia da
demanda.
Porém, no Juizado Especial, o principal objetivo é buscar a informalidade e a simplicidade do processo. Gonçalves (2012)
relata que tal fato se evidencia por uma redução substancial de termos e escritos no processo, adotando-se mecanismos
diferentes como a simplificação da petição inicial, da citação, da resposta do réu, na colheita de provas, nos julgamentos e
no recurso.
O princípio da informalidade e da simplicidade se caracteriza pela desburocratização da justiça especial. A Lei 9099/95
evidencia em alguns artigos a existência desse princípio nesse tipo de processo, como, por exemplo, no inciso II, parágrafo
primeiro, artigo 14 da referida lei, onde descreve-se que o pedido deverá ser formulado de maneira simples e em linguagem
acessível contendo os fatos e os fundamentos de forma sucinta.
Princípio da Economia Processual
A simplificação do procedimentoé uma grande facilidade para a efetivação dos direitos daqueles que se sentem lesados.
A economia processual está acentuada na rapidez dos trâmites processuais dos juizados. O legislador preocupou-se com
as despesas das partes, pois, através desse princípio, podemos visualizar a isenção de taxas e custas, diferentemente do
processo ordinário, onde tudo o que se faz é preciso pagar uma taxa, que dependendo do valor da causa se torna bem
onerosa aos litigantes. Na opção pelos juizados, somente a parte autora, em caso de ter sido informada da data da
audiência de conciliação e não comparecendo injustificado, o juiz arquivará o processo e a mesma terá o ônus das custas
caso queira reativar a demanda.
A economia processual, no procedimento dos Juizados especiais, dá-se pela dispensa de taxas, custas e despesas
processuais. Desta forma, mesmo aquele que tem maior poder aquisitivo é beneficiado com a gratuidade de emolumentos
judiciais, o que não se pode confundir com a assistência judicial gratuita que é concedida aos necessitados, como
especificado na Lei 1.060/50.
Princípio da Celeridade Processual
O sonho de uma justiça célere ou breve em seus procedimentos processuais foi, desde muito tempo, objetivo do Estado na
prestação jurisdicional. Várias são as previsões legais existentes que expressam e orientam o direito público subjetivo à
celeridade processual.
Neste contexto, a Carta Magna da República Brasileira, vigente, após a Edição da Emenda Constitucional nº 45/2004, que
veio inserir no rol dos “Direitos Fundamentais” o Princípio da Celeridade ou Brevidade Processual, a saber:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(…); LXXVIII a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação;
(…).
Ao positivar, na Constituição da República Federativa do Brasil, a celeridade como princípio, os legisladores promoveram
inegável avanço na lista das garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros. Assim, a celeridade, no procedimento dos
juizados tem sido o grande incentivador na procura por uma justiça mais rápida que satisfaça os anseios mais urgentes da
população.
A celeridade está ligada à própria instituição dos juizados especiais, primando pela dinamização do processo através da
simplicidade e da informalidade com a devida segurança em seus atos observando o devido processo legal.
Os princípios ou critérios formadores dos Juizados Especiais primam pelo tempo e pela economia, tendo como objetivo a
conciliação e a transação entre as partes, por isso é um microssistema.
Gonçalves (2012) argumenta que a "mentalidade" do processo nos juizados especiais deve estar voltada para que os
litígios sejam resolvidos respeitando as garantias constitucionais dos litigantes e objetivando se chegar a uma solução da
demanda da forma mais célere possível.
Gonçalves (2012) relata ainda que ao se fazer uma leitura cuidadosa da Lei 9099/1995 constata-se que no procedimento
nos juizados especiais cíveis foram vedados os incidentes que implicariam demora no processo, como a reconvenção, a
intervenção de terceiros e a prova pericial.
Dessa forma, o procedimento realizado nos juizados especiais é um meio concreto de se efetivar o princípio fundamental da
celeridade processual analisando-se os diversos mecanismos instituídos pela lei 9099/1995 garantindo-se uma tramitação
rápida e eficiente ao processo.
DA CONCILIAÇÃO
Para se efetivar a celeridade dentro sistema dos Juizado Especiais, a conciliação se mostra como um importante
instrumento para se chegar a solução da demanda mais rapidamente. Segundo Theodoro (2011) o juizado está instituído
pela lei como caminho voltado a solução conciliatória. Antes de partir para pesquisa dos fatos e das provas, incumbe ao juiz
o compromisso de conciliação ou transação.
Theodoro (2011) destaca a função social da conciliação dentro do processo nos juizados especiais, falando da existência de
uma justiça coexistencial, onde antes de recompor o direito individual atingido, age-se para aliviar situações de tensão
preservando-se um bem durável, sendo este a pacífica convivência dos sujeitos que fazem parte de um grupo ou uma
relação complexa.
Portanto, dentro dessa perspectiva o juizado especial não é composto apenas pelo juiz togado e seus auxiliares exigindo a
colaboração de outros agentes que compõem a sociedade como os conciliadores e os juízes leigos que trazem para o
processo um ambiente social de aspirações comuns.
Para exercer sua função, o Juizado Especial será dirigido por juiz de direito togado, tendo além dos auxiliares ordinários
dois especiais, o conciliador e os juízes leigos. Para os primeiros não se exige formação especifica, mas a lei recomenda
preferencialmente bacharel em direito. Para os juízes leigos a lei determina que seja advogado com no mínimo cinco anos
de experiência. A lei não estabelece obrigatoriedade de remuneração para ambos auxiliares.
O juiz de direito irá dirigir o processo apreciando as provas com maior liberdade, dando valor especial tanto a experiência
comum quanto a técnica, de acordo com o artigo 5º da lei. Cabe a ele buscar a decisão mais justa e equânime possível, não
abandonando completamente a lei, mas buscar a decisão que se mostra mais próxima dos fins sociais que norteiam a
justiça, sem a rigidez do método ordinário.
Os dois auxiliares especiais têm como função primordial a busca da solução conciliadora para os litígios, sendo essa a
função precípua dos Juizados Especiais. Esta tarefa pode ser exercida tanto pelo juiz togado quanto por um dos dois
auxiliares, sendo as tarefas distribuídas pelo juiz que ali preside, ou então pela lei de organização judiciária local.
Após sucesso na conciliação, esta será então homologada pelo juiz de direito, que será título executivo mediante sentença.
Caso a tentativa de conciliação fracasse, será iniciada a fase instrutória, que poderá ser presidida pelo juiz de direito ou
pelo juiz leigo, no caso deste último, após esta fase proferirá a sentença que será homologada pelo juiz de direito. Caso o
magistrado não concorde com a sentença do juiz leigo ele poderá proferir outra sentença ou determinar a produção de
novas provas.
Existe também a possibilidade das partes, não chegando a um acordo na fase de conciliação, optarem pelo juízo arbitral, no
qual o juiz de direito designará a audiência de instrução e julgamento, passando a direção para um dos juízes leigos do
Juizado, escolhido pelas partes. O juiz arbitral poderá decidir por equidade, respeitando os critérios do artigo 5º e 6º da Lei
9.099. Em seguida o laudo seguira para homologação do juiz de direito que não poderá discordar do julgamento, podendo
apenas recusá-lo em caso sentença que não contemple a matéria demandada.
ATOS PROCESSUAIS
Precipuamente, cabe relembrar de forma prévia o que são atos processuais. Segundo a definição de Gonçalves (2011, p.
258), ato processual é:
A conduta humana voluntária que tem relevância para o processo. Isso afasta os atos irrelevantes
e os que não se relacionem com o processo. Os atos processuais distinguem-se dos atos
jurídicos em geral em razão de sua ligação com um processo e a repercussão que têm sobre ele.
Não se confunde, por sua vez, com fato processual, que é um acontecimento natural, que pode originar grande repercussão
dentro do processo. Logo, o ato processual está ligado a uma conduta humana, enquanto o fato processual a um
acontecimento natural.
Quanto às normas aplicadas ao juizado especial, a lei 9.099/1.995 disciplinou a matéria de atos processuais em dois
artigos, que possuem redação simples e objetiva.
Sendo assim, o ato processual será público, e poderá ser realizado no horário noturno, conformes as disposições das leis
de organização judiciária.
O artigo 13, caput, da Lei9.099/95, consagra o princípio da instrumentalidade das formas, previsto pelo artigo 277 do
Código de Processo Civil. Destarte, os atos não serão considerados nulos, caso seus objetivos/finalidades sejam
alcançados de outra forma. A forma só é necessária para assegurar que o ato alcance a finalidade. Se isso ocorrer por
outro meio, inexistirá vício. Como consequência de tal princípio, não haverá nulidade sem que tenha efetivo prejuízo
(parágrafo 1º, do mesmo dispositivo).
Conforme o parágrafo 2º, também do artigo 13, os atos processuais em outras comarcas poderão ser solicitados por
qualquer meio idôneo de comunicação. De acordo com Theodoro Jr. (2011, p. 432), tal dispositivo permite ao magistrado se
comunicar com outros magistrados fora do território de sua circunscrição, por outro meio (idôneo) que não seja
especificadamente pelo uso formal da carta precatória (artigo 202, Código de Processo Civil). Destarte, poderá o juiz valer-
se de fax, carta, telegrama, telefone etc.
Os atos essenciais serão registrados por meio de notas manuscritas, datilografadas, taquigrafadas ou estenotipadas. Os
demais atos não essenciais poderão constar em gravações, e serão conservadas somente até o trânsito em julgado da
decisão. (Parágrafo 3º, artigo 13).
Destarte, as normas locais disporão sobre a conservação das peças do processo e demais documentos que o instruem
(parágrafo 4º). Theodoro Jr. (2011, p. 432), aduz que tal dispositivo permite a adoção de métodos modernos, como
microfilmagem e equivalentes.
O procedimento sumaríssimo zela pela simplicidade e informalidade. A instauração do processo poderá ser feita tanto de
forma escrita como de forma oral, conforme o artigo 14 da Lei 9099/95.
A parte poderá direcionar-se a secretaria do juizado, onde a sua pretensão será tomada a termo (verbalmente), ou poderá
ser adotado o sistema de fichas ou formulário para o preenchimento. (Theodoro Jr., 2011).
Deverá constar (seja o pedido feito por escrito, ou verbalmente), a qualificação das partes, os fatos e os fundamentos da
pretensão, o objeto e o valor (parágrafo 1º, artigo 14). Caso não seja possível determinar de forma imediata a extensão da
obrigação, o pedido poderá ser feito de forma genérica (parágrafo 2º, artigo 14).
O artigo 15 da Lei 9099/95 permite que a parte formule pedidos alternativos ou cumulativos. A ressalva que se faz, é que
nestes últimos, quando conexos, a soma destes não pode ultrapassar o valor de vintes salários mínios.
Assim que o pedido for registrado na secretaria, independente se tenha sido feita a distribuição ou não, está irá designar
audiência de conciliação, que deverá ser realizada no prazo de quinze dias (artigo 16 da Lei 9.099/95). Entrementes, caso
as partes comparecem a secretaria em conjunto, imediatamente será instaurada a sessão de conciliação, independente de
registro da demanda. Nesse caso ficará dispensada a citação.
Theodoro Jr. (2011), adverte, todavia, que a presença de juiz togado, juiz leigo, ou conciliador, são indispensáveis para que
seja feita tal audiência (artigo 17 da Lei 9.099/95). O parágrafo único do aludido dispositivo, aduz que, nestes casos
(comparecimento em conjunto), em que haja pedido contrapostos (cada um formula pedido contra o outro), poderá ser
dispensada a contestação formal, e os pedidos serão julgados na mesma sentença. Trata-se, pois, de duas demandas
distintas ligadas pela conexão.
Preconiza-se a citação postal, com aviso de recebimento em mão própria. Nos casos de pessoas jurídicas ou firma
individual, a citação poderá ser feita mediante a entrega ao encarregado da recepção, o qual será obrigatoriamente
identificado.
O oficial de justiça, quando for necessário, poderá efetuar as citações. Entretanto, fica dispensado o mandado ou carta
precatória para tal fim.
A citação conterá a qualificação das partes, dia e hora para o comparecimento de quem está sendo citado, e a advertência
de que sua ausência acarretará a consideração dos fatos como verdadeiros, e o julgamento será feito de plano.
Na sistemática do juizado, veda-se ainda a citação por edital. Quanto às intimações, serão observadas as normas para a
citação, e ainda poderá ser feita por qualquer outro meio idôneo (fax, telefone etc.). Dos atos processuais praticados em
audiência, as partes já sairão cientes, independente de citação ou intimação. As partes devem atualizar os seus endereços
no processo, não o fazendo as intimações serão consideradas feitas, se enviada no endereço anteriormente indicado.
JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA
A Lei n. 12153/2009 entrou em vigor em 23 de junho de 2010, quando foram instituídos os Juizados Especiais da Fazenda
Pública, nos Estados Distrito Federal, territórios e munícipios. Entretanto, foi constatada a sobrecarga pelo Sistema dos
Juizados Especiais, assim o legislador decidiu que seria necessária a utilização de uma estrutura preexistente para a
instalação de um novo juizado: o aproveitamento dos recursos materiais e humanos que hoje servem as Varas da Fazenda
Pública (artigo 22 da Lei n. 12153/2009).
O XXVIII Fórum Nacional de Juizados Especiais (FONAJE), ocorrido em 24 a 26 de novembro de 2010, no estado da Bahia,
expõe em seu Enunciado 138 que:
“Nas comarcas onde houver Juizado Especial da Fazenda Pública ou juizados adjuntos
instalados, as ações serão propostas perante as Varas comuns que detêm competência
para processar os feitos de interesse da Fazenda Pública ou perante aquelas designadas
pelo Tribunal de Justiça, observando-se o procedimento previsto na Lei 12153/2009.”
Sua competência de julgamento está atrelada às causas de até 60 salários-mínimos propostas contra o Estado, o Distrito
Federal, os territórios e os municípios, bem como as autarquias, fundações e empresas públicas a eles vinculadas.
Portanto, são apenas julgadas causas contra a Fazenda Pública e desde que no polo ativo esteja uma pessoa física (sendo
ela capaz ou não), microempresa ou empresa de pequeno porte (artigo 5º da Lei n. 12.153/2009).
Já o enunciado 133, incluso no XXVII Encontro do FONAJE, ocorrido em Palmas/TO no ano de 2010, faz menção de que o
valor das causas é de até 60 salários-mínimos, restringindo, exclusivamente, aos Juizados da Fazenda Pública e não se
aplicando aos Juizados Especiais Cíveis (competentes a julgar causas no valor de 40 salários-mínimos).
Segundo o parágrafo primeiro do artigo 2º da Lei n. 12.153/2009, são excluídas da competência dos Juizados Especiais da
Fazenda Pública para conciliar e julgar: mandados de segurança; ações de desapropriação; ações que tenham como objeto
a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares;
ações de divisão de demarcação e divisão; ação popular; ação de improbidade administrativa; causa sobre bens imóveis
dos Estados, Distrito Federal, territórios e municípios, autarquias e fundações públicas a eles vinculadas; execuções fiscais;
e demandas sobre direitos ou interesses difusos e coletivos.
A mesma lei ainda, em seu parágrafo segundo, do artigo 2º, expõe de forma clara que, quando se tratar de pretensão,
versar sobre obrigações vincendas, a soma de 12 parcelas vincendas e atuais e de esporádicas parcelas vencidas, não se
poderão exercer o valor que se refere ao caput do mesmo artigo.
Portanto, a fixação do valor da causa nos Juizados deve ser observada: havendo somente prestações vincendas, a soma
destas corresponde ao valor da causa; existindo parcelas vencidas, mais doze vincendas. Mesmo havendo controvérsia,
não é admitido que a parte requeira em processos separados as parcelas vencidas e vincendas, para que se mantenha em
ambos a competência do Juizado Especial.
DA COMPETÊNCIA
A terminologia utilizada pelo legislador deriva do latim competência, derivada do verbo competere que significa estar, no
gozo ou no uso de, ser capaz de, pertencer ou ser próprio. A determinação da competência visa permitir o exercício da
jurisdição distribuindo as tarefas por matéria aos diversos órgãos integrantes do Poder Judiciário comouma forma de
viabilizar a prestação jurisdicional.
A determinação da competência nos Juizados Especiais, segundo o artigo 3º, da Lei 9.099/95, é para conciliar, conhecer e
julgar as causas cíveis consideradas de menor complexidade, assim elencadas pelo legislador: “in verbis”
Art. 3º O Juizado Especial Cível tem competência para conciliação, processo e julgamento das
causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas:
I - as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo;
II - as enumeradas no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil;
III - a ação de despejo para uso próprio;
IV - as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente ao fixado no inciso I deste
artigo.
§ 1º Compete ao Juizado Especial promover a execução:
I - dos seus julgados;
II - dos títulos executivos extrajudiciais, no valor de até quarenta vezes o salário mínimo,
observado o disposto no § 1º do art. 8º desta Lei.
Ao definir a competência nos juizados, o legislador usou dois critérios distintos: o quantitativo que valora a causa em 40
salários mínimos firmados nos incisos I e IV, do art. 3º, da Lei 9.099/95, e o qualitativo em razão da matéria, objeto da lide,
definidas nos incisos II e III do mesmo artigo.
A competência relacionada no Inciso I, do art. 3º da Lei 9.099/95, determina qual o valor da ação a ser proposta, traz uma
competência genérica do Juizado, o valor de alçada é considerado apenas para efeito de condenação, o que não obsta a
propositura da ação mesmo quando o valor atribuído à causa for superior ao de alçada, sendo eficaz a sentença que
homologar o acordo, tendo em vista os fins conciliatórios dos juizados. Somente a sentença condenatória será ineficaz na
parte que exceder a alçada estabelecida pela lei, mesmo porque a opção pelo procedimento previsto pela lei que
regulamenta o procedimento das ações perante o Juizado Especial Civil, importará em renúncia ao crédito excedente ao
valor de alçada, excetuada a hipótese de conciliação.
Portanto, a lei dos juizados admite a conciliação em valor superior a 40 salários, e, se as partes não acordarem, o julgador
deve homologar o pedido de desistência da ação por parte do reclamante, extinguindo o feito sem o julgamento do mérito
para que o autor possa promover a ação no procedimento ordinário.
Também compete aos juizados julgar e processar as ações enumeradas no art. 275, inciso II do, do Código de Processo
Civil. Nesse caso, leva-se em consideração não só a especificação da matéria a ser apreciada, observando, para efeito de
condenação, o valor da causa que não pode ser maior do que o estipulado por lei.
Nesse sentido, observa Silva (1998) que, superando o valor da causa ao valor de alçada e não sendo logrado êxito na
conciliação das partes, importa, consequentemente, em renúncia automática do crédito excedente, nada impedindo que o
reclamante desista, naquele momento, de prosseguir com a ação perante o juizado, buscando a via judicial comum, isso
sem anuência da parte contrária, uma vez que o valor de alçada deve ser respeitado somente para efeito de condenação e
não para fins conciliatórios.
Quanto à competência fixada em razão da matéria, como as delineadas no art. 275, inciso II, do CPC, alguns doutrinadores
defendem que para essas causas também deve ser aplicado o valor máximo de 40 salários mínimos.
Um dos temas anteriormente polemizados pela doutrina e jurisprudência estava relacionado à interpretação da competência
estipulada no artigo 3º e seus incisos, da lei 9.099/95, tendo o legislador usado dois critérios distintos para definir a
competência nos Juizados Especiais: o quantitativo que valora a causa em 40 salários mínimos firmados nos incisos I e IV,
do art. 3º, e o qualitativo em razão da matéria, onde o legislador, ao inserir o art. 275, inc. II do CPC, misturou no
microssistema dos juizados o processo tradicional aplicável às lides diversificadas, detentoras de maior complexidade, com
o critério valorativo dos juizados especiais, ou seja, está diante de competência relativa, em razão do valor da causa ou da
competência absoluta em razão da matéria, ou é uma opção da parte desde que renuncie o valor excedente a 40 salários
mínimos?
A redação do art. 1º da Lei 9.099/95, não traz expressamente que a distribuição de uma ação ao Juizado Especial é uma
opção do autor, mas, em seu art. 3º, § 3º, traz a opção do autor e a viabilidade de intentar a ação na justiça comum. O
critério optativo dos procedimentos instituído pelo microssistema dos Juizados Especiais a todas as causas, o que significa
tratar-se de competência relativa.
Nos dias de hoje, já ficou pacificado entre doutrinadores e jurisprudência que a competência dos Juizados Especiais é
relativa pela faculdade do titular em optar pelo procedimento no rito sumaríssimo.
A propagação de microssistemas jurídicos decorre da multiplicidade crescente de relações jurídicas a ensejar uma proteção
jurídica e uma tutela específica, como as relações de consumo (Código de Defesa do Consumidor), as relações de trabalho
subordinado (Consolidação das Leis do Trabalho), a Infância e Adolescência (Estatuto da Criança e da Adolescência), e os
conflitos de interesses de menor complexidade e valor (Lei do Juizado Especial), que por derivarem da legislação especial,
em muitos casos não são completas, daí a necessidade supletiva de um direito comum quando forem omissas.
Nesse sentido, o Código de Processo Civil deixou de ser o sistema processual por excelência, tornando-se uma base
integradora, e, por ser uma norma geral processual de direito público, pode ser aplicado subsidiariamente a toda e qualquer
norma processual especial. A Lei do Juizado Especial Cível institui um procedimento processual próprio que recorrerá à
subsidiariedade do CPC, como ocorre no citado no art. 92, da mesma lei, onde nos Juizados Criminais, também poderá ser
aplicado subsidiariamente as disposições do Código Penal e de Processo Penal, quando omissa a lei especial e somente
naquilo que não contrariar seus princípios informativos. (FIGUEIRA JUNIOR E RIBEIRO LOPES, 2000).
Alguns autores invocam a aplicação subsidiária do CPC, defendendo sua aplicação em tudo que for compatível com as
normas e princípios norteadores do microssistema do Juizado Especial Cível.
A intenção do legislador ao criar os Juizados Especiais Cíveis foi a de aproximar as pessoas à justiça e tornar o processo
judicial menos oneroso e mais rápido para as partes. A subsidiariedade do Código de Processo Civil no Juizado Especial
Cível encontra-se expressamente, nos artigos 30, 52 e 53, 42 da Lei 9.099/95. Em outros casos: como o delineado no art.
6º da Lei que permite ao juiz adotar, em cada caso concreto, a decisão que considerar mais justa e equânime para atender
os fins sociais da lei e as reivindicações do bem comum, e, pela falta de vedação, sempre que houver omissão da Lei desde
que não afronte seus princípios informativos.
A regra do art. 6º da Lei se aplica a todas as fases do processo, não somente na prolação de sentença de mérito, mas para
resolver questões procedimentais e processuais não explicitadas na Lei desde a propositura da demanda até a satisfação
definitiva da pretensão resistida ou insatisfeita do vencedor da lide, tudo em conformidade com os princípios norteadores
dos Juizados Especiais.
Quanto à possibilidade de concessão de tutelas de urgência no Juizado Especial Cível, primeiramente se faz necessário,
num breve resumo, distinguir tutela antecipatória e tutela acautelatória: com a primeira, pretende-se o próprio direito, sem
preocupação com sua conservação, buscando proteger o aparente titular do direito disputado; a segunda visa assegurar a
integralidade do objeto pretendido.
A Lei dos Juizados Especiais também deixa claro em seu artigo 52 a aplicação subsidiária do CPC com relação à execução
da sentença que “processar-se-á nos próprios juizados, aplicando-se, no que couber, o disposto no Código de Processo
Civil.” (BRASIL, 1996)
Este dispositivo possibilitou a aplicação do disposto noartigo 475-J do CPC no âmbito dos Juizados quando, prolatada a
sentença em audiência, as partes ficam cientes que, em caso do não cumprimento voluntário, importará a multa de 10% do
montante da condenação, execução essa que deverá ser provocada pelo interessado, pois não serão realizadas de oficio.
Portanto, aplicam-se ao procedimento dos Juizados Especiais, no que apresentarem conflito, as regras específicas
estabelecidas pelas modificações introduzidas no CPC pela Lei 11.232/05.
A Lei dos Juizados Especiais não faz menção de órgão jurisdicional competente para receber, processar e conhecer os
conflitos de competência positivos ou negativos levantados pelos magistrados. Ocorre conflito de competência positiva
quando “os vários juízes se dão por competentes” ou se declaram incompetentes quando os diversos juízes se recusam a
aceitar a competência, cada um arbitrando a outrem a função jurisdicional, neste caso há conflito negativo.
No sistema dos Juizados Especiais, um exemplo de competência negativa está na regra definida no art. 51, inc. III, em que
o juiz reconhece sua incompetência territorial e prolata sentença extintiva do processo, sem o julgamento do mérito.
As dúvidas de competência entre Turma Recursal do Juizado e Turma do Tribunal Estadual ou Federal, da mesma região,
devem ser solucionados pelo próprio Tribunal Regional.
De acordo com o § 2º do art. 3º da Lei 9.099/95, foram excluídas da competência dos Juizados Especiais Cíveis as causas
de natureza alimentar, falimentar, fiscal e de interesse da Fazenda Pública, e também as relativas a acidentes de trabalho, a
resíduos e ao estado e capacidade das pessoas, ainda que de cunho patrimonial, não podendo fazer parte tanto do pólo
ativo quanto no passivo da relação processual.
O Juizado Especial tem por prioridade e por determinação constitucional a menor complexidade, desta forma, em razão da
natureza de algumas matérias e por características particulares de algumas das partes, faz com que a causa se torne
complexa e sem possibilidade de conciliação, passiveis de exigir uma cognição mais ampla, compatíveis com um
procedimento mais amplo, por isso, estão previamente excluídas das demandas de competência dos juizados.
Os Juizados Especiais em seus procedimentos primam pelos princípios da simplicidade e informalidade evidentemente não
poderão ali correr aquelas que não se possam ser ditas como dessa menor complexidade, sendo que até mesmo os
procedimentos sumários do CPC, podem ser convertidas em rito ordinário em virtude da necessidade de atos mais
complexos com muito mais razão não podem prosseguir nos Juizados as causas que se tornem complexas ou assim se
revelam desde logo.
As ações que tenham como objeto pretensão alimentar, separação de corpos e dissolução de união estável decorrente de
sociedade de fato, sem prejuízo ao disposto no art. 57 da Lei 9.099/95, quando tratar-se de autocomposição entre as
partes, nada impede que o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, seja homologado perante o Juizado Especial
competente.
PROBLEMAS NA EFETIVA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL
Não se faz necessário uma análise minuciosa e profunda, para enxergar que o Estado está perdendo sua credibilidade de
forma acentuada no quesito da aplicação da justiça, estando esta, em situação de crise, pois, não se tem mostrado capaz
de equacionar e solucionar os conflitos de interesse sociais, haja vista que o Estado é fruto da sociedade e dela está se
afastando.
O motivo dessa crise se dá por vários fatores tais como o aumento de ações demandadas no sistema jurisdicional, que nos
últimos anos tem acontecidos de forma bastante crescente, os litigantes de má-fé que com o fim de prejudicar a parte
contrária prolongam os processos pelos recursos existentes no Processo Civil e o baixo número de magistrado nas casas
de justiças.
Humberto Theodoro Júnior (2011, p.09), ao prever os novos rumos do direito processual civil, assim se manifestou:
Nas últimas décadas o estudo do processo civil desviou nitidamente sua atenção para os
resultados a serem concretamente alcançados pela prestação jurisdicional. Muito mais do que
com os clássicos conceitos tidos como fundamentais ao direito processual, a doutrina tem se
ocupado com remédios e medidas que possam redundar em melhoria dos serviços forenses.
Ideias como a de instrumentalidade e efetividade passaram a dar a tônica do processo
contemporâneo.
Incumbe ao ordenamento processual jurídico atender, do modo mais completo e eficiente possível para aquele que busca
em juízo seu direito, bem como daquele que resiste apresentando defesa. Ocorre que, ao conceito de efetividade
jurisdicional deve-se agregar a tempestividade da manifestação dos órgãos do Poder Judiciário, pois os cidadãos que
procuram a tutela estatal pretendem usufruí-la enquanto ainda lhe seja útil, porque de nada adianta obter uma prestação
jurisdicional denominada justa, porém a destempo.
Discorrendo acerca do tema, dispõe Luiz Guilherme da Costa Wagner Júnior (Apud Barbosa, 1984, p.27):
É certo afirmar que a tutela jurisdicional a destempo deve ser vista como uma falha do sistema,
que ofende a um direito constitucional assegurado do jurisdicionado, qual seja, o de ser valer do
serviço judiciário em tempo e forma devido, fato esse que proclama e acolhe a efetividade do
processo.
Trata-se de um desempenho satisfatório, que se deve atentar para qualidade jurídica, solucionando os litígios em tempo
hábil e assim fazer valer os direitos que os litigantes a possuem.
O Poder Judiciário vive sobrecarregado de processos, que na maioria levam-se anos para se chegar à fase de trânsito em
julgado, demora esta que pode ser atribuída pelo comportamento satírico das partes da relação processual, que por muitas
vezes pode atrasar o trâmite processual. Deixando de agir sobre o princípio da boa-fé processual, para litigar com má-fé.
O artigo 16 do Código de Processo Civil declara que responde por perdas e danos aqueles que postularem de má-fé, na
qualidade de autor, réu ou interveniente.
Para tanto, um dos motivos que podem procrastinar os processos em litígios, causando a morosidade e procrastinação
processual pode estar nos próprios litigantes que assim agem de má-fé com dolo ou culpa, prolatando as ações, pelos
meios legais que o sistema jurisdicional oferece a exemplo dos recursos, cartas precatórias e etc.
DURAÇÃO E TEMPO JUSTO DO PROCESSO
A preocupação com o tempo do trâmite processual é, sem qualquer dúvida, o ponto mais estudo pelo sistema judiciário,
haja vista, que sua demora, poder deixar trágicos e injustos consequências irreversíveis por causa da excessiva demora na
efetividade da prestação jurisdicional.
O termo processo é um instrumento por meio do qual os órgãos jurisdicionais atuam para pacificar a relação das pessoas,
eliminando os conflitos e fazendo cumprir o preceito jurídico pertinente a casa caso. O Estado tomou com exclusividade o
dever de tutelar os direitos ameaçados ou lesados do cidadão, sendo justamente, em cada caso concreto, na ânsia de uma
solução efetiva.
No âmbito do judiciário, o fator tempo deve condicionar não somente a condução do processo em si, como também ser fator
relevante na urgência necessária para a solução dos conflitos, acompanhado da celeridade e a efetividade da tutela
jurisdicional, as quais são determinadas pelo lapso de tempo estritamente necessário para o trâmite processual efetivo.
Contudo, na busca de restringir o tempo do processo não se pode deixar cair no esquecimento o princípio da segurança
jurídica, no qual estão inseridas outras garantias constitucionais, dentre as quais se destacam a ampla defesa, o
contraditório e a motivação dos atos processuais, os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade do processo. Nesse
panorama cabe ao julgador, de forma coerente a função de melhor direcionar o processo através da utilização dos
mecanismos que possam imprimir maios dinamismo ao trâmite processual. Não diferente é a lição do professor Luiz
Guilherme Marinoni (2004):
A demora na obtenção do bemsignifica sua preservação no patrimônio do réu. Quanto maior for
à demora do processo maior será o dano imposto ao autor e, por consequência, maior será o
benefício conferido ao réu; e o processo para ser justo deve tratar de forma diferenciada os
direitos evidentes, não permitindo que o autor espere mais do que o necessário para a realização
do seu direito.
Se a atividade jurisdicional não garante um período de tempo razoável para que não haja o perecimento do direito, não há
que se falar garantia constitucional, pois a efetividade na prestação jurisdicional, consubstanciada pela celeridade e a
segurança jurídica, têm sido também garantias constitucionais ao cidadão.
As comunidades jurídicas têm revelado uma constante preocupação com o direito do cidadão de buscar no âmbito do Poder
Judiciário, a solução para entrega rápida da prestação jurisdicional, hoje erigida em nosso ordenamento legal, como direito
substancial de natureza individual ou coletivo, exigindo do Estado um alto grau de participação com uma nova postura da
atividade jurisdicional, para que se concretize em definitivo a realização dos fins exigidos.
Em relação ao tempo da duração do processo, acredita-se na razoabilidade, pois, atualmente, o judiciário brasileiro não tem
mínimas condições de atender uma determinação exata de tempo a cumprir. Além do mais, existe uma grande variedade de
situações que são apresentadas em cada caso processual, desta forma, critérios muito rígidos não trarão bons resultados,
ou seja, a imposição de supostos prazos para o encerramento de cada fase processual seria no momento inviável.
O esperado é que todo processo alcance a solução da lide em tempo hábil. E para se chegar a este tempo ideal há
necessidade de que seja, também, priorizado o princípio da celeridade, bem como, a garantia razoável duração do
processo, assim, fala-se da efetividade processual judiciária. Ao contrário, o tempo será estendido de tal forma que poderá
ocasionar perdas, muitas delas, irreversíveis. Porém, além da necessidade do processo ser célere e efetivo, há de ser
seguro.
Atingir a ágil prestação de serviços e atender ao princípio da celeridade, em detrimento do princípio de segurança jurídica é
atentar ao equilíbrio do ordenamento jurídico e, por consequência, representa a fragilização das relações da sociedade.
APONTAMENTOS SOBRE A RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO
A Constituição Federal de 1988 passou a disciplinar o tema com a edição da Emenda Constitucional 45/04 garantindo que a
todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a
celeridade de sua tramitação.
Não se oferece dúvidas sobre a importância da inserção da razoável duração do processo como princípio constitucional,
tendo em vista que os princípios têm uma função normogenética e uma função sistêmica e são os fundamentos das regras
jurídicas (CANOTILHO, 1993). A duração razoável do processo é um direito público subjetivo do cidadão, no que diz a
respeito à prestação e obrigação do Estado em solucionar o caso em tempo razoável, especialmente do Poder Judiciário
em garantir um processo sem delongas indevidas.
Contudo a pergunta que vem à tona de forma inevitável em relação ao processo ter uma duração razoável ou não possuir
delongas indevidas é saber em quanto tempo um processo deveria terminar.
A verificação da violação da duração razoável do processo deve ser constatada em cada caso concreto como requisito
principal as peculiaridades de cada processo, pois muito embora possa se socorrer aos critérios como a complexidade da
causa, o comportamento indevido das partes, as prioridades legais existentes, a importância do caso para os demandantes.
Somente no caso concreto é que vai ser possível aferir se houve ou não a violação do princípio da duração razoável do
processo. Assim, para que essa tutela jurisdicional seja realmente efetiva, adequada, a mesma deve ser prestada dentro de
um tempo razoável.
O entendimento acima é reforçado pelas colocações da escritora Silvana Cristina Bonifácio Souza (2005, p.52), em que
aduz a seguinte citação:
A Reforma do Judiciário, trazida com a Emenda Constitucional 45/2004, procurou, em linhas bem
gerais, trazer mais agilidade e eficiência na tramitação dos processos, ou seja, ao meio de
efetivação dos direitos materiais, com a criação de condições reais para que o Poder Judiciário se
fortaleça e seja capaz de atender à demanda da sociedade por mais e melhores serviços
jurisdicionais. É preciso superar os obstáculos à efetiva tutela jurisdicional e essa foi à idéia da
Reforma do Judiciário.
Tem sido uma preocupação constante dos especialistas em direito processual a diminuição da duração da relação
processual, a fim de abreviar a entrega da tutela pleiteada.
A demora processual acabou se tornando um forte aliado da parte que não tem razão em detrimento daquela que o tem,
que terminara renunciando, desistindo ou mesmo vendo perecer seu direito diante da demora na tutela deste.
Com a reforma do Judiciário tornou-se expressa à garantia da duração razoável do processo que foi elevada, no texto
constitucional, à estatura de garantia fundamental do cidadão. Tudo isso com o objetivo de promover a verdadeira justiça,
pois um julgamento tardio certamente perderá o seu sentido reparador.
Para aferição da razoabilidade na duração do processo é necessário analisar a complexidade do assunto, o comportamento
dos litigantes e a atuação jurisdicional. Analisando essas três variáveis é possível saber se um processo teve duração
irrazoável ou não, gerando, em caso afirmativo, direito de reparação dos danos na medida do prejuízo.
Enfim, todo processo justo é relativamente rápido, mas nem todo processo rápido é justo. Rapidez processual, embora
ligada estreitamente à razoabilidade do prazo processual, não é a mesma coisa. O processo em tempo razoável é sempre
justo, e o processo justo sempre o é em tempo razoável.
Não há dúvidas de que a razoável duração do processo é um direito humano, de que não está implícita em nenhum pacto,
mas explícito na Convenção Americana dos Direitos do Homem, também chamado de Pacto de São José da Costa Rica,
assinado em 1969. É previsão do artigo 8º do referido Pacto.
Mais do que um simples direcionamento, o Pacto de São José da Costa Rica é o alicerce dos direitos humanos na América,
sendo que é plenamente vigente no ordenamento brasileiro pela ratificação do Pacto pelo estado brasileiro através de
decreto e de aplicabilidade garantida pela Constituição Federal.
A Constituição Federal dispõe que um de seus fundamentos é a dignidade da pessoa humana, sendo certo que a demora
abusiva da prestação jurisdicional afeta, por sua irrazoabilidade, a dignidade da pessoa humana, posto que afeta o ânimo, a
confiança que a pessoa tem na justiça, que a coloca numa situação de injustiça social, tira dela a oportunidade de exercer a
justiça com as próprias mãos, mas ao mesmo tempo permanece quase inerte. A razoável duração do processo é um direito
humano, previsto nos ordenamentos nacionais e estrangeiros, e deve ser respeitada.
CAUSAS DA MOROSIDADE PROCESSUAL
Dentre os problemas que assolam o processo moderno, certamente a morosidade de sua tramitação assume posição de
destaque. Com isso, tem-se o descrédito do Poder Judiciário, de forma que os jurisdicionados evitam por vezes o socorro
ao processo judiciário, pois a insegurança que terão, derivada dessa demora, será extremamente prejudicial.
O primeiro passo para resolução do problema, sem dúvida, é a identificação de suas causas. Nesse quesito, a demora do
processo assume uma feição complexa, visto que são diversas as causas que trancam o processo, tornando-o moroso.
Alguns entendem que o grande culpado por esse problema são os defeitos da lei processual. As leis estariam
desatualizadas e o processo posto seria inadequado, para resolução dos conflitos da vida moderna. Se tal assertiva fosse
verdade, o princípio constante do art. 5º, LXXVIII, da Constituição Federal, seria direcionado precipuamenteao Estado-
legislador.
Entretanto, tal visão é inadequada. Se é inegável que em nosso processo ainda há certos procedimentos e atos de natureza
antiquada e extremamente formalista, não se pode esquecer que a lei não depende só do legislador para ser efetivada. É
claro que o magistrado, tanto quanto as partes, deve cumprir e obedecer a lei. Porém, já se foi o tempo em que aqueles
eram apenas aplicadores da lei, de forma robótica. Devem utilizá-la como substrato a uma adaptação contemporânea,
através da jurisprudência, seguindo, principalmente, o caminho dos princípios traçados na Constituição Federal.
Ademais, caso se cumprisse o tempo previsto em lei, o processo certamente se desenvolveria em tempo menor do que
atualmente ocorre. Portanto, embora acreditemos que reformas sejam necessárias, desde que precedidas de uma pesquisa
a fundo do fenômeno social, não identificamos ai o maior problema da demora na resolução do processo.
Outro fator que costuma ser identificado pela doutrina é a atitude das partes na movimentação do processo. Em que pese
tenha ocorrido certas mudanças na forma de se concebê-lo, ainda é o princípio dispositivo seu grande propulsor. Cabe aos
interessados sua propositura. Além disso, cabe-lhes a movimentação processual, praticando os atos que a lei manda e
cumprindo os mandamentos, também, do magistrado. Nesse contexto, nem sempre ambas as partes desejam o desfecho
célere do processo.
Com mais precisão, pode-se mesmo dizer que, em regra, o autor busca logo o fim, enquanto o réu busca a procrastinação
do feito. Além disso, o advogado da parte que pretende protelar não envida esforços e se utiliza dos mais diversos artifícios,
lícitos ou ilícitos, de maximização do tempo processual (BARBOSA, 1984).
Essa forma de agir, aliada aos defeitos do processo e meios que dele se extrai para a procrastinação, torna-se uma
poderosa arma na mão dos litigantes de má-fé. Tendo em vista esse aspecto, os destinatários do direito à razoável duração
do processo seriam os próprios litigantes.
De outro lado, a escassez de órgãos judiciais e, consequentemente, de magistrados e servidores para dar andamento ao
processo, mostra-se como uma das causas principais dessa demora existente. Atualmente, as varas judiciais são
responsáveis por um número de processos muito maior do que teriam capacidade de resolver.
Por sua vez, o Estado-administrador é tido por sujeito passivo da norma que demanda a razoável duração do processo,
tendo de destinar os recursos necessários à instalação de novos juízos, com toda a estrutura material necessária à
satisfação do jurisdicionado. Certamente, essa destinação fica submetida a uma “reserva do possível”.
Assim, embora se deva sempre buscar a resolução do problema, o Estado não está obrigado a destinar mais recursos do
que possa, deixando a desejar em outras áreas que, algumas vezes, assumem maior relevância que a própria prestação de
justiça.
Junte-se ao supracitado a questão do despreparo dos juízes. Até que adquiram alguma experiência que lhes permita gerir o
processo de forma mais célere, muitos processos já submetidos ao seu crivo estarão fadados a uma longa espera. O fato
de o juiz ser bacharel em direito e, muitas vezes, possuir especialização, é insuficiente para se afastar o despreparo dos
juízes. Hoje, mais do que nunca, ao lado da função de operador do direito, os magistrados devem desenvolver uma função
administrativa. Essa situação se deve, em grande parte, ao rumo tomado por nosso Estado, que passa a se espelhar na
iniciativa privada para melhor gerir seus negócios.
A par dessas causas que considera-se principais, há inúmeras outras que podem ser citadas. Contudo, o escopo é
simplesmente demonstrar a necessidade de se tomar o problema de forma bem mais ampla do que se tem feito. A
resolução da morosidade processual somente se dará mediante ação conjunta, direcionada a cada uma dessas causas
acima expostas e a tantas outras que existam.
Se é verdade que o processo deve ter seu tempo diminuído o máximo possível, com mais razão se encontram aqueles que
afirmam que de nada adianta a diminuição do iter processual, se não se efetivar os postulados básicos de um Estado
Democrático de Direito. Em verdade, sequer haverá prestação jurisdicional efetiva caso não se cumpra os princípios
basilares que regem o processo.
A diminuição irracional do tempo do processo não é aplicação efetiva do poder jurisdicional, senão satisfação ilegítima dos
interesses de tão só uma parte no processo, em prejuízo de outra. Trocando em miúdos, deixa-se de prejudicar uma das
partes, que teria de esperar sobremaneira para ver seu direito realizado, para prejudicar a outra, que terá sua esfera
pessoal violada, sem que lhe sejam dados meios consistentes de defesa de seu direito.
Haverá tal segurança, portanto, quando a parte confiar na atuação do Poder Judicial na resolução do conflito, crente de que
não haverá abusos e, mesmo que não lhe seja favorável a decisão, de que poderá exercer todas as garantias para
demonstrar sua tese. Assim, a questão da segurança se liga ao conceito de previsibilidade, não só das normas postas, mas
também da atuação estatal.
O JUIZADO ESPECIAL DE COARACI
Na Comarca de Coaraci, situada na região sul do estado da Bahia, o Juizado Especial, que recebe demandas tanto cíveis,
quanto criminais, funciona nas dependências do Fórum da Comarca, juntamente com a Vara Cível e a Criminal. O local
possui 02 (dois) banheiros privativos para os funcionários, sendo 01(um) masculino e 01(um) feminino, mais 02 (dois)
banheiros públicos, também um masculino e um feminino, 02 (duas) salas de audiências, 04 (quatro) salas, sendo 01 (uma)
destinada à Supervisão, 01 (uma) destinada à Secretaria do referido Juizado, 01 (uma) sala do Atendimento Judiciário e 01
(uma) sala da Digitação, além dos cartórios da Vara Cível, da Vara Criminal, uma sala dos Oficiais de Justiça, do Ministério
Público, 02 (dois) Gabinetes destinados aos Magistrados, uma sala para a Administração do Fórum, uma Copa, o Salão do
Júri, além do almoxarifado.
É importante salientar, também, que a unidade de Coaraci atende não só a cidade sede, mas também o município
circunvizinho de Almadina e distritos pertencentes ao município de Coaraci. Nos primeiros anos de existência do Juizado de
Coaraci, no início dos anos 2000, também atendia às demandas do município vizinho de Itapitanga, o que não tem mais
acontecido atualmente, atendendo, na mesma unidade, as demandas cíveis e criminais.
SOBRE O JUIZADO ESPECIAL CÍVEL E CRIMINAL DE COARACI
Com base no quanto explanado nos capítulos anteriores, foi efetuada pesquisa através de dados estatísticos e históricos no
Juizado Especial da Comarca de Coaraci, no Estado da Bahia, a fim de expor o andamento prático dos Juizados Especiais,
onde foram efetuados levantamentos estatísticos e, através de consultas de dados e entrevistas na referida unidade, foi
possível analisar até que ponto aquele Juizado tem alcançado de forma eficaz todos os seus objetivos e princípios
norteadores básicos, como a oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, conforme previsto
no artigo 2º da Lei 9099/95, que diz que: “O processo orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade,
economia processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação.”
Antes de expor a efetiva prestação jurisdicional do Juizado Especial de Coaraci e suas dificuldades em atendê-la
plenamente, trona-se imprescindível pontuar algumas particularidades a respeito da unidade pesquisada neste trabalho. A
cidade de Coaraci é a única comarca de primeira entrância do Estado da Bahia a contar com uma vara do Juizado Especial,
tendo o mesmo sido criado no ano de 2000, contando, na época, apenas com funcionários comissionados e terceirizados
da prefeitura local, funcionando nas dependências do Fórum de Coaraci.
Visando a busca pelo pleno funcionamento e atendimento aos preceitos básicos previsto na Lei dos Juizados, a unidade de
Coaraci, com odecorrer do tempo, foi substituindo os funcionários comissionados e terceirizados por concursados, afim de
atender plenamente às demandas da comarca, possuindo atualmente 22 (vinte e dois) funcionários, todos admitidos através
de concursos públicos, realizados nos anos de 2003 e 2006.
Atualmente o Juizado Especial de Coaraci possui cerca de 2101 (dois mil, cento e um processos) processos ativos no
momento da pesquisa, dentre os quais, até o momento da pesquisa efetuada no mesmo, apenas 51 aguardavam audiência
de conciliação, instrução ou preliminar. Por outro lado, o Juizado Especial de Coaraci possui (no momento desta pesquisa)
1266 (um mil, duzentos e sessenta e seis) processos conclusos para a magistrada designada, conforme se vê no Anexo B
deste trabalho.
SOBRE OS MAGISTRADOS NO JUIZADO DE COARACI
Um dos principais entraves na efetiva e célere prestação jurisdicional no Juizado Especial de Coaraci trata-se da ausência
de Magistrado lotado exclusivamente no Juizado, onde, em razão justamente de ser uma Comarca de primeira entrância, a
unidade conta apenas com um único juiz designado para o mesmo, mas que também exerce suas funções nas outras varas
da comarca, ficando o mesmo responsável também pela Vara Cível, Criminal, Eleitoral e o Juizado. Em razão desta não
exclusividade da unidade de um juiz titular, a morosidade em relação aos julgamentos é um problema que a unidade
coaraciense enfrenta há anos, já que a atividade judicante na Comarca não é restrita ao Juizado, mas a todas as varas
presentes na cidade.
É importante frisar que, desde a criação do mesmo até os dias atuais, a unidade da Comarca de Coaraci nunca contou com
um magistrado exclusivo para o mesmo, sempre designado da Justiça comum para exercer também as atividades no
Juizado. Tal fato, ao longo dos anos provocou o acúmulo de milhares de ações sem a devida solução jurisdicional, se
arrastando por anos sem uma sentença ou qualquer decisão que ponha fim à pretensão dos jurisdicionados ou, quando o
tem, já não o fazia de maneira totalmente satisfatória em muitos casos, pois, com o passar do tempo, perdeu-se a razão da
pretensão da parte.
Durante vários anos, servidores, a seccional da OAB de Coaraci e representantes da comunidade coaraciense tem
almejado e inclusive solicitado a designação de um magistrado exclusivo para o Juizado Especial de Coaraci, pois tal fato
seria de grande importância e valia para o andamento no tempo hábil das ações adentradas naquele Juizado, não apenas
relativo às decisões terminativas, mas também às interlocutórias, o que cumpriria mais efetivamente o princípio norteador
da celeridade nos Juizados Especiais, cumprindo de forma eficaz sua função de prestar uma justiça rápida e eficaz à
sociedade.
DEFICIÊNCIAS NA INFRAESTRUTURA E NO FUNCIONAMENTO DA UNIDADE
Como requisito para uma boa prestação jurisdicional na unidade do Juizado Especial de Coaraci, desde a sua criação, no
ano de 2000, servidores e magistrados tem buscado junto ao Tribunal de Justiça o fornecimento de todo o suporte humano
e material para que fosse possível atender às demandas que todos os dias são apresentadas naquela unidade.
Durante a primeira década de sua criação, na unidade da comarca de Coaraci, a facilitação do atendimento das demandas
dos munícipes dependeu em grande parte da estrutura física e humana do Juizado, como a quantidade adequada de
computadores, sistemas devidamente funcionando, servidores qualificados para usá-los, pois, do contrário, restaria
prejudicado o atendimento dos anseios de quem busca ter seu direito protegido ou reparado naquela unidade.
Ocorre que, mesmo com várias solicitações dos servidores junto ao Tribunal de Justiça, na pessoa do Supervisor de
Expediente da unidade, a demora do Tribunal atender a tais solicitações, como computadores, impressoras e outros
materiais para o pleno funcionamento da unidade, por vezes impedia que a demanda apresentada àquele Juizado fosse
atendida no tempo hábil ou justo.
Além disto, mesmo instalando equipamentos novos, sistemas modernos, mas sem o devido treinamento dos servidores, a
celeridade processual restaria prejudicada da mesma maneira, visto que não apenas o magistrado é responsável pelo
andamento do processo, mas, resguardados pela Emenda 45/2004, os demais servidores também tem este papel, dando
andamento a atos de mero expediente, sem a necessidade de uma ordem expressa do magistrado. Não tendo os
servidores o devido treinamento para utilizar o novo sistema SAIPRO - Sistema de Acompanhamento Integrado de
Processos Judiciais, em que os processos passaram a ser parcialmente digitais (parcialmente porque ainda existiam as
versões impressas dos processos), por alguns meses nos anos de 2006 a mudança acarretou mais morosidade aos
processos que auxílio, visto que além dos servidores aprenderem quase que individualmente sobre o funcionamento do
mesmo, ainda teria que migrar todos os processos até então apenas na versão impressa para o novo sistema.
É fato incontroverso que durante a implantação deste sistema, com a falta adequada de treinamento dos servidores,
acrescentado aos erros decorrentes deste sistema, causou no andamento das ações adentradas no Juizado Especial de
Coaraci uma morosidade além da esperada pelo Tribunal de Justiça da Bahia e pelas partes, situação esta que só veio a
ser resolvida quando, através da lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006, tratando-se da Informatização do Processo
Judicial, com a implantação do sistema PROJUDI, em 2010, de propriedade do Conselho Nacional de Justiça, através do
Provimento N.º CGJ-03/2010, da então Corregedoria Geral da Justiça do Tribunal de Justiça da Bahia, Desembargadora
Telma Britto, onde os processos passaram a ser totalmente digitais, sendo seu acesso exclusivo pela internet, conforme diz
o artigo 13 do referido provimento:
Art. 13. O acesso ao sistema para fins de movimentação processual pelos usuários, previamente
credenciados, será viabilizado através da Internet, e estará disponível ininterruptamente, aos
sábados, domingos e feriados, inclusive.
Parágrafo único - A consulta aos processos judiciais eletrônicos pelo público em geral será
permitida de modo ininterrupto, independentemente de utilização de senhas, excepcionados os
casos declarados como segredo de justiça.
Conforme se nota no referido artigo, passou a ser possível tanto a movimentação pelos servidores, como acesso das partes
e advogados, pela internet, sem a necessidade de comparecimento ao cartório pelas partes para terem acesso ao
processo.
A FACILIDADE DE ACESSO EM CONTRASSENSO COM O AUMENTO DA DEMANDA
Com a criação dos Juizados, buscando uma resolução mais rápida, justa e democrática dos conflitos, permitindo a qualquer
cidadão, devidamente legitimado para tanto, adentrar com ações nos Juizados, contando com o princípio da oralidade,
informalidade, o acesso só tem aumentado em uma escala que tem sobrecarregado sobremaneira não só magistrados, mas
servidores, que nem sempre existem em números suficientes para atender às demandas que surgem diariamente nos
Juizados Especiais.
Com a criação do cargo de assessores dos magistrados, que são compostos por bacharéis em direito do próprio quadro
dos Juizados, que serão analisados posteriormente, buscou solucionar um problema na sobrecarga das atividades de
competência dos magistrados. Mas, ao retirar tais servidores analistas e bacharéis qualificados das atividades diárias nos
Juizados, muitos ficaram desfalcados de servidores com tais qualificações.
Na Comarca de Coaraci, apenas um analista fica responsável pelo recebimento das reclamações e elaboração da petição
inicial, fazendo, de forma não tão detalhada como um advogado faria, em razão do tempo e da demanda naquele Juizado.
Todo o trabalho que um profissional do Direito faria de forma minuciosa, analisando todos os pontos do caso concreto da
parte que busca demandar, expondo todos os fatos e requerendo tudo que é de direito da parte, passou a ser feito apenas
por um analista judiciário no Juizado de Coaraci.
A facilidade

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