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Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras

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CAPÍTULO 1
ConCepções de Letramento em Língua 
portuguesa para surdos
A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes 
objetivos de aprendizagem:
 3 Conhecer as diferentes concepções de letramento em Língua Portuguesa 
utilizadas na educação de surdos. 
 3 Escolher entre as diferentes concepções a que melhor se adéqua a sua prática 
de ensino. 
10
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
11
ConCepções de Letramento em Língua portuguesa para surdos Capítulo 1 
Ao retomarmos tais 
conceitos podemos 
antecipar que LIBRAS 
não é uma linguagem 
e sim uma língua, 
como o próprio nome 
– Língua Brasileira de 
Sinais – revela.(olho 
do caderno).
ContextuaLização
Este capítulo aborda algumas percepções acerca de língua e linguagem, 
atenta para o processo de aquisição da linguagem, a relevância da primeira 
e segunda língua na educação de surdos. Discorrer sobre a importância da 
relação entre a aquisição da linguagem e a interação social permite uma 
reflexão no ambiente social, educacional e familiar do surdo. Para tanto, 
trataremos as concepções de autores como Saussure, Chomsky e Bakhtin. 
A seguir, discutiremos as percepções de letramento e a prática com alunos 
surdos. É apropriado refletir acerca destas concepções, uma vez que, 
orientam o trabalho e o discurso do professor em sala de aula. Permitindo 
reflexões acerca das diferentes concepções e abordagens em sala de aula, 
possibilitando repensar algumas práticas pedagógicas. Contribuindo também 
para reflexões acerca do letramento do sujeito surdo, mas esse assunto fica 
reservado para o segundo capítulo. 
Língua e Linguagem, aLgumas perCepções
O que é língua e linguagem? A princípio, parece ser uma pergunta 
fácil de responder, mas é importante pensarmos um pouco sobre ela. É 
conveniente lembrar que não raras vezes língua e linguagem são utilizadas 
indistintamente. Ao retomarmos tais conceitos podemos antecipar que 
LIBRAS não é uma linguagem e sim uma língua, como o próprio nome 
– Língua Brasileira de Sinais – revela.(olho do caderno) De acordo 
com as concepções de Quadros (1997) existe uma série de fatores que 
diferenciam língua e linguagem. Primeiramente pode-se dizer que a língua 
está diretamente ligada a um sistema complexo de regras gramaticais, e 
a linguagem a uma diversidade de sentidos. Veja como Quadros (2004, p. 
24) destaca algumas formas como as pessoas pensam em linguagem:
Figura 1 – Linguagem Musical 
Fonte: Disponível em: <http://catequesekids.blogspot.
com.br>. Acesso em: 02 dez. 2012. 
12
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
Figura 2 – Linguagem das Abelhas 
Fonte: Disponível em: <http://www.uirauna.net/site/
noticias>. Acesso em: 02 dez. 2012. 
Figura 3 – Linguagem Corporal 
Fonte: Disponível em: <http://seminariouab.no.comunidades.
net/índex>. Acesso em: 02 dez. 2012. 
As figuras acima representam algumas das diversas formas de linguagem, 
a musical, a das abelhas e a corporal.
Entretanto, Quadros (1997, p.23) utiliza a expressão linguagem para 
“(...) significar o sistema linguístico que é geneticamente determinado para 
desenvolver-se nos humanos”. A autora acrescenta que: 
Os seres humanos podem utilizar uma língua de acordo com 
a modalidade de percepção e produção desta: modalidade 
oral-auditiva (português, francês, etc.) ou modalidade 
viso-espacial (língua de sinais brasileira, língua de sinais 
americana, língua de sinais francesa, etc.) (QUADROS, 
2004, p. 24).
 Quadros (1997) e Karnopp (2004) afirmam que as línguas de sinais não 
são sistemas linguísticos universais, utilizam a modalidade espaço-visual que 
13
ConCepções de Letramento em Língua portuguesa para surdos Capítulo 1 
se diferencia da modalidade oral-auditiva utilizada pelas línguas orais, ou seja, 
as línguas de sinais se utilizam da visão e do espaço, enquanto as línguas orais 
se valem da fala e da audição. Cabe ressaltar também que, da mesma forma 
que as línguas faladas, as línguas de sinais apresentam variação linguística. 
De acordo com as autoras supracitadas, as línguas de sinais são estruturadas 
semântica, morfológica e sintaticamente, com estrutura própria que independe 
das línguas orais, como também indica a Federação Nacional de Educação e 
Integração dos Surdos - FENEIS. 
Basicamente, podemos pensar que a aquisição da língua 
permite a interação e a comunicação entre os seres humanos; o 
conceito de língua, no entanto, não é unânime e pode ser entendido 
de acordo com diferentes autores e opiniões. 
Figura 4 – Concepções de língua e linguagem
Fonte: A autora. 
De acordo com Saussure (1995), a língua se distingue em aspectos 
evolutivos, históricos, ou seja, diacrônicos, e o estudo do estado da língua, da 
relação existente entre elementos simultâneos, ou seja, sincrônicos. Para o 
autor, a língua é uma faculdade natural ao homem e, a cada momento, implica 
14
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
Mesmo com diferentes 
concepções, de 
maneira geral, 
a língua é o 
instrumento concreto, 
que consolida a 
expressão conectada 
a um determinado 
grupo associado 
por características 
culturais próprias 
dentro de um 
determinado espaço.
num sistema constituído e numa evolução, sendo, ao mesmo tempo, uma 
instituição atual e um produto do passado.
Chomsky (1998), diferentemente de Saussure, não analisa a linguagem 
como fruto de um meio coletivo: para ele, a linguagem é tida como um meio 
de manifestar pensamentos e não um sistema social de comunicação; é uma 
faculdade humana, biologicamente inata. Chomsky (1998) indica ainda que os 
seres humanos possuem predisposição genética que permite a comunicação.
Bakhtin (1992), por sua vez, acredita na evolução das línguas através 
dos tempos, afirma que o indivíduo não é o centro do estudo da linguagem, 
pois sofre influência do contexto que está inserido, direcionando sua fala para 
outro sujeito, negando o objetivismo abstrato, assim como o subjetivismo 
individualista. Para o autor, a palavra é determinada através da interação do 
locutor e do ouvinte. Para Bakhtin e Voloshinov (1999), a interação acontece 
pela linguagem, e em todas as relações sociais entre indivíduos organizados 
em sociedade.
Mesmo com diferentes concepções, de maneira geral, a língua é o 
instrumento concreto, que consolida a expressão conectada a um determinado 
grupo associado por características culturais próprias dentro de um 
determinado espaço. 
Exemplo: A língua Italiana só é compreendida pelo povo 
italiano ou por quem se dedique a estudar as regras da gramática 
italiana e também interagir, compreender a semântica da língua.
Assim como a linguagem é um instrumento abstrato, que permite ao ser 
humano se comunicar através de cores, imagens, sons, expressões, palavras, etc. 
Exemplo: O sorriso é uma linguagem que pode ser entendida 
por qualquer ser humano, em qualquer lugar do mundo.
15
ConCepções de Letramento em Língua portuguesa para surdos Capítulo 1 
Primeiro a criança 
precisa desenvolver 
sua língua materna 
a L1, para depois 
se apropriar de uma 
segunda língua, ou 
seja, a L2.
Atividade de Estudos: 
1) Com base nas concepções de língua e linguagem apresentadas 
elabore sua própria concepção de língua e linguagem.
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o proCesso de aquisição da Linguagem- a 
importânCia da L1 e L2 para aLunos surdos
Estabelecidas as diferenças entre língua e linguagem, é importante 
enfatizar a necessidade de as crianças surdas dominarem primeiramente 
sua língua, a LIBRAS, visto que esta é a língua que o surdo é capaz de 
adquirir de forma natural e espontânea, utilizando o meio espaço-visual. Para 
após apropriar-se da Língua Portuguesa escrita como segunda língua na 
formação da criança surda. Segundo diversos autores da área, essa ordem 
é intransponível, primeiro a criança precisa desenvolver sua língua materna a 
L1, para depois se apropriar de uma segunda língua, ou seja, a L2.
16
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
Figura 5 – Processo de aquisição da linguagem 
 
 
Fonte: A autora. 
O processo de aquisição da linguagem tem início no 
meio familiar, a família desempenha um papel fundamental no 
desenvolvimento da criança. A criança surda filha de pais surdos, 
tem um desenvolvimento linguístico semelhante da criança ouvinte 
filha de pais ouvintes. Porém, a maioria das crianças surdas são 
oriundas de famílias ouvintes, o que soma às responsabilidades 
da família aprender e inserir a criança no aprendizado da LIBRAS.
Conforme Skliar (1997), as interações entre pais e filhos surdos e pais e 
filhos ouvintes são semelhantes e permitem à criança contato com a cultura 
e a comunidade à qual pertence diferente do que acontece no caso de pais 
ouvintes e filhos surdos. Consoante com esse autor, a partir do momento em 
que a família diagnostica a surdez, as relações comunicativas podem mudar. 
É importante a família ouvinte participar ativamente da vida da criança 
surda, sabendo respeitar sua cultura, suas diferenças e necessidades, 
estimulando a criança a se comunicar por meio da LIBRAS, tendo o 
cuidado de, mesmo sem intenção, não excluir a criança surda das trocas 
familiares, ou seja, sinalizando sempre, mesmo que a interação não ocorra 
diretamente com o surdo. 
17
ConCepções de Letramento em Língua portuguesa para surdos Capítulo 1 
Quadros (1997) 
enfatiza a necessidade 
de sintonia e 
clareza entre pais 
e educadores ao 
adotarem uma 
proposta bilíngue.(olho 
do caderno).
Ao longo deste texto, sinalizamos a importância da LIBRAS 
ser inserida como L1 da criança surda pela família e convivência 
social. O que nos remete a uma série de questionamentos:
• As famílias quando recebem o diagnóstico de surdez são 
orientadas para essa conduta linguística?
• Qual nível de conhecimento de LIBRAS as crianças 
surdasapresentam ao iniciarem sua vida escolar?
• Em qual etapa escolar o aluno surdo deve ter contato com a 
L2, ou seja, a Língua Portuguesa escrita?
• As escolas/profissionais estão preparados para receber a 
criança surda?
 
A partir desse momento é importante que você tenha presente o 
conceito do bilinguismo. Brevemente, podemos afirmar que a perspectiva do 
bilinguismo, enfatiza o direito dos surdos de serem alfabetizados/letrados 
em LIBRAS e que considera a Língua Portuguesa como L2, ressaltando a 
importância da Língua Portuguesa escrita na vida dos surdos que interagem 
diariamente com um mundo ouvinte e escrito, portanto, não pode e não deve 
ser ignorada. (mascote pesquisa)
Quadros (1997) enfatiza a necessidade de sintonia e clareza entre 
pais e educadores ao adotarem uma proposta bilíngue.(olho do caderno) 
A autora afirma que os profissionais que se comprometem a informar as 
famílias acerca da surdez devem estar preparados para explicar que existe 
uma comunidade de surdos que utilizam a língua de sinais; que a LIBRAS é 
o meio de comunicação mais adequado à criança surda, que possibilita um 
desenvolvimento da linguagem, equivalente ao de crianças ouvintes, que essa 
língua visual-espacial permite que a criança surda faça descobertas e interaja 
integralmente com o mundo ao seu redor.
Assim, a LIBRAS serve de base para o aprendizado da Língua Portuguesa 
e, como consequência, pode se manifestar na escrita da pessoa surda, no que 
se refere ao uso de conectores, preposições, na utilização do tempo verbal, 
na concordância do texto. Conforme Quadros (1997, p. 50), “conhecer e 
dominar essas relações [sintáticas e semânticas/pragmáticas] e o processo de 
aquisição das mesmas torna-se imprescindível para se pensar no ensino de 
uma segunda língua para surdos”. 
18
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
Partimos de uma 
perspectiva que não 
entende o surdo 
como anormal ou 
deficiente, mas como 
um sujeito cultural 
e linguisticamente 
diferente.
O texto do sujeito surdo pode causar estranhamento a um leitor 
desavisado, e muitas vezes, pode não ser compreendido devido a sua 
estrutura, que se difere em muitos aspectos a da Língua Portuguesa. Trabalhar 
com alunos surdos requer mais que conhecer sua língua, e certamente, abarca 
situações que vão além da surdez. Consequentemente, a formação do aluno 
surdo demanda lidar com questões culturais e sociais que interferem de forma 
significativa no seu processo de aprendizagem, uma vez que, o surdo está 
inserido em uma sociedade que ainda não está preparada para recebê-lo.
Portanto, você pode perceber a importância de profissionais preparados, 
fluentes na língua de sinais, inteirados dos mecanismos da aquisição da L2, 
para que compreendam as hipóteses e construções linguísticas dos alunos 
surdos, contribuindo assim, para seu processo educacional. 
aquisição da Linguagem e a interação soCiaL
Para nossas reflexões é relevante que você compartilhe com o que 
postulam autores como Quadros (1997) e Quadros e Karnopp (2004), que 
consideram LIBRAS como língua materna dos surdos e recomendam que as 
crianças adquiram, além da língua de sinais, a sua escrita, possibilitando ao 
surdo aprender a língua e a escrita de sua comunidade para só então iniciar o 
processo de aquisição de Língua Portuguesa como L2. Respeitando assim, o 
processo de aquisição de linguagem natural dos surdos. 
Segundo Góes (1996), a criança está inserida em relações sociais que 
acontecem através da linguagem desde seu nascimento. Considerando que o 
input linguístico do surdo e do ouvinte acontecem de formas distintas, deve-se 
destacar que a interação com as crianças surdas, deve ser diferenciada, uma 
vez que o acesso à linguagem que dependa da audição não é adequado.
No caso de crianças surdas filhas de pais ouvintes, a situação é ainda 
mais complicada, pois a criança surda não tem contato com a língua de sinais, 
não ouve, portanto, não se comunica pela língua oral. Para o surdo, que não 
está inserido em um ambiente que favoreça o seu desenvolvimento linguístico 
natural, adquirir a Língua Portuguesa escrita parece impraticável.
Partimos de uma perspectiva que não entende o surdo como anormal 
ou deficiente, mas como um sujeito cultural e linguisticamente diferente, 
vamos destacar a importância da interação, da linguagem e da mediação na 
aprendizagem do sujeito aluno surdo. 
19
ConCepções de Letramento em Língua portuguesa para surdos Capítulo 1 
De acordo com 
Vygotsky (1998), 
a aprendizagem é 
fundamental para 
o processo do 
conhecimento, implica 
na relação entre o 
sujeito que ensina 
e o que aprende e 
na relação que é 
estabelecida entre 
ambos.
É importante que você perceba a linguagem como mediadora das 
interações e apropriações culturais. Considerando como pressuposto teórico 
o sociointeracionismo, que entende a linguagem como um processo, uma 
forma deinteração, tomamos o termo interação como uma ação de construção 
colaborativa de conhecimentos que chega até o outro e o atinge. 
Observe alguns conceitos que valorizam a interação no processo de 
aquisição:
De acordo com Vygotsky (1998), a aprendizagem é fundamental para o 
processo do conhecimento, implica na relação entre o sujeito que ensina e o 
que aprende e na relação que é estabelecida entre ambos.
Para Bakhtin e Voloshinov (1999), a interação acontece pela linguagem, 
e em todas as relações sociais entre indivíduos organizados em sociedade. 
De acordo com Vygotsky (1993) A linguagem pode ser pensada como 
um dispositivo decisivo na formação dos processos mentais da criança, 
constituindo um fator essencial para que a criança desenvolva aspectos 
cognitivos, sociais e emocionais.
Pesquisas demonstram que as crianças surdas, na sua maioria, chegam 
às escolas com uma linguagem gestual caseira e só então são apresentadas 
à aquela que deveria ser sua língua materna. Deste modo, as instituições 
de ensino têm uma participação importante neste processo de aquisição e 
aprendizagem de línguas, uma vez que, no caso dos surdos, a escola muitas 
vezes, é o único ambiente onde a criança terá acesso à Libras e à Língua 
Portuguesa escrita. 
Através da interação com seus pares e da mediação com o professor, 
o aluno internaliza conceitos. A interação e a mediação são práticas que 
contribuem para o desenvolvimento da criança, que precisa socializar o 
conhecimento para depois apropriar-se dele.
20
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
Figura 6 – Mediação 
Fonte: A autora. 
Estas considerações dizem respeito ao processo de ensino e 
aprendizagem, independente de a criança ser ouvinte ou surda. No caso 
da criança surda, há necessidade de contar com a língua de sinais, que 
propicia seu desenvolvimento linguístico e cognitivo, facilita o processo 
de aprendizagem, serve de apoio para a leitura, escrita e compreensão 
(GÓES, 2000). 
Olhar para a aprendizagem do aluno surdo permite que você 
perceba que, a interação por meio da língua que a criança usa 
com colegas e professores contribui efetivamente para a qualidade 
de sua aprendizagem, colaborando para o seu desenvolvimento 
cognitivo, afetivo e sociocultural. Podemos então, destacar a 
importância do aluno surdo ter a língua de sinais como língua 
materna e depois adquirir a segunda língua. Cabe lembrar que 
no caso do Brasil, corresponde a LIBRAS e a Língua Portuguesa 
escrita respectivamente.
21
ConCepções de Letramento em Língua portuguesa para surdos Capítulo 1 
O que você não 
pode fazer é limitar 
os estudos de 
letramento à prática de 
alfabetização.
ConCeitos de Letramentos
Nesta seção, você poderá refletir sobre alguns conceitos de letramento. 
Este termo é bastante discutido e observado sob diferentes perspectivas. 
O que você não pode fazer é limitar os estudos de letramento à prática de 
alfabetização. O conceito de letramento surgiu a partir de tentativas de 
aprofundar o conceito de alfabetização, talvez por esse motivo, tais conceitos 
sejam confundidos.
Inicialmente, convêm salientar a diferença entre o conceito de alfabetização 
e letramento. De acordo com Soares (2003), Alfabetização é basicamente 
a aquisição da escrita por um indivíduo, decodificar fonemas e grafemas já 
garante a condição de “alfabetizado”. A partir do desenvolvimento social, as 
práticas escritas foram mais exigidas, consequentemente, o sentido dado à 
alfabetização foi ampliado dando espaço para um novo conceito, o letramento.
O termo letramento é a tradução para a palavra inglesa literacy que 
pode ser compreendida como “condição de ser letrado”. No Brasil, a palavra 
letramento surgiu em 1986, na obra No mundo da escrita: uma perspectiva 
psicolinguística, de Mary Kato. 
No entanto, segundo Soares (2009), letrar é mais que alfabetizar, 
é ensinar a ler e escrever dentro de um contexto onde a escrita e a leitura 
tenham sentido e façam parte da vida do aluno. Como é possível observar, o 
letramento vai além do domínio do sistema alfabético e ortográfico e surgiu na 
medida em que alfabetizar tornou-se um conceito insuficiente para tornar os 
aprendizes proficientes nas demandas sociais de leitura e escrita. 
Figura 7 – Alfabetizar e Letrar 
 
Fonte: A autora. 
22
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
Outra concepção de letramento envolve a capacidade dos aprendizes 
da língua valerem-se dos recursos da língua escrita em interações mesmo 
antes de serem alfabetizados. As práticas sociais do cotidiano interferem no 
aprendizado, seja através da convivência com mediadores mais experientes 
ou o contato com artefatos sociais como revistas, jornais, outdoors, rótulos de 
embalagens, etc.
No passado, partia-se do pressuposto de que o sujeito iniciava no 
processo de leitura somente ao ser alfabetizado. Esse pensamento foi revisto 
a partir de discussões acerca do letramento, uma vez que, entendeu-se que o 
processo de leitura inicia-se muito antes da alfabetização.
Do mesmo modo que é importante salientar a distinção entre alfabetização 
e letramento, enquanto conceitos, também é importante ressaltar que seus 
objetos de estudo são diferentes e dessa forma, os processos linguísticos e 
cognitivos de aprendizagem são igualmente distintos.
No entanto, cabe ressaltar que, da mesma forma que são diferentes, 
alfabetização e letramento são processos inseparáveis, pois a alfabetização só 
é significativa se for desenvolvida num contexto de práticas sociais de leitura e 
escrita, ou seja, através do letramento.
Atividades de Estudos: 
1) Qual sua concepção de alfabetização?
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23
ConCepções de Letramento em Língua portuguesa para surdos Capítulo 1 
Pensar em uma 
educação bilíngue 
requer que professores 
repensem sua 
concepção de 
educação para surdos.
2) Qual sua concepção de letramento?
 _________________________________________________
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3) Alfabetização e letramento são conceitos que não podem ser 
dissociados. Que consequências essa conexão tem para o 
processo de ensino e aprendizagem?
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Letramento e a prátiCa Com aLunos surdos
O processo de letramento exige muito tanto do professor como do aluno. 
No caso de alunos surdos o nível de comprometimento e dificuldade não é 
diferente, porém, envolve uma questão bilíngue, o uso de uma língua gestual 
e outra escrita. 
Conforme Fernandes (2008), o bilinguismo na educação de surdos, faz 
com que os professores não atentem apenas para a situação linguística, mas 
também para as concepções axiológicas envolvidas nesta prática, ou seja, 
pensar em uma educação bilíngue requer que professores repensem sua 
concepção de educação para surdos.
24
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
A leitura descoberta 
é o momento de 
revelação do texto, 
da leitura e análise, é 
a fase de leitura que 
confronta o texto com 
as hipóteses criadas 
na pré-leitura. Nessa 
fase o aluno faz 
conexões e busca a 
construção sentidos.
Diante de propostas que não surtiram o efeito esperado, houve 
a necessidade de reformular as políticas educacionais. A partir desta 
reformulação aconteceram mudanças de metodologias, como a entrada de 
textos na sala de aula, assim como, questionamentos acerca de práticas 
de letramento passaram a circular com frequência no ambiente escolar e 
acadêmico. Porém, ainda assim, não é garantido o processo de letramento. 
A partir dessa evidência, veremos dois princípios metodológicos 
apresentados por Fernandes (2008): 
Observe que o primeiro princípio metodológico, a alfabetização, vai de 
encontro ao processo natural de apropriação de escrita do sujeito surdo, pois 
o processo de alfabetização exige a habilidade de identificar letras e sons. Ou 
seja, a oralidade não é eficaz no ensino de alunos surdos.
O segundo princípio metodológico, o letramento, se apresenta como uma 
possibilidade de ensino de Língua Portuguesa para surdos, através de práticas 
visuais de leitura e escrita. Um processo semelhante ao de ensino de língua 
estrangeira.
Vamos considerar que alfabetizar exige um processo que envolve 
trabalhar sons e fonemas, portanto, inadequado a alunos surdos, portanto, 
destacaremos o processo de letramento para o desenvolvimento efetivo do 
aluno surdo.
Para que você compreenda melhor o processo de letramento na educação 
de alunos surdos atente para as indicações abaixo, elaboradas a partir dos 
ensinamentos de Braga (2002). A autora destaca a importância das fases da 
leitura para um trabalho eficaz de leitura e produção textual. 
A pré-leitura deve explorar a imaginação e o conhecimento prévio do 
aluno, proporcionar um clima que desperte a curiosidade do aluno, além de 
possibilitar que ele crie suas próprias hipóteses. No caso de alunos surdos os 
recursos visuais, as ilustrações do livro ou as imagens relacionadas à leitura 
auxiliam na procura de um sentido, faz com que ler um texto seja mais que 
decifrar códigos, possibilitando descobertas, motivando o interesse pela leitura.
A leitura descoberta é o momento de revelação do texto, da leitura e 
análise, é a fase de leitura que confronta o texto com as hipóteses criadas na 
pré-leitura. Nessa fase o aluno faz conexões e busca a construção sentidos.
A pós-leitura é a fase que o aluno reflete, critica, compara as informações 
obtidas nas duas fases anteriores, faz relação com leituras anteriores 
transformando sua leitura efetivamente em conhecimento e exercita seu senso 
25
ConCepções de Letramento em Língua portuguesa para surdos Capítulo 1 
crítico. Nesse momento, o aluno é convidado a utilizar os conhecimentos 
adquiridos e construir seu próprio texto, baseado no gênero lido e em outros 
gêneros que permitam interagir com seu texto.
E então, é alfabetizar ou letrar? 
Para responder essa pergunta não é necessário criar definições ou 
elaborar conceitos complexos. Porém, precisamos entender esses conceitos e 
refletir simultaneamente com os diversos conceitos que permeiam a aquisição 
da escrita. 
Soares (2004) destaca que uma transformação da sociedade, que vem se 
tornando cada vez mais focada na escrita, evidencia que ler e escrever não é o 
suficiente, segundo a autora supracitada, é necessário ir além da decodificação 
e pensar no letramento como a percepção da importância da escrita no mundo 
social. Em suma, a autora define letramento como a condição do sujeito que 
não apenas sabe ler e escrever, mas também sabe ler e interpretar textos que 
circulam na sociedade, livros, jornais, revistas, contas de água, luz, telefone; 
sabe escrever bilhetes, cartas, preencher formulários e tantos outros textos 
que circulam no contexto social.
aLgumas Considerações 
Durante esse capítulo discutimos os diferentes conceitos de letramento, 
assim, foi possível refletir acerca de percepções e assim, ter subsídios para 
optar entre as distintas concepções a que mais contribuirá para a prática de 
ensino.
No próximo capítulo as práticas e efeitos do letramento terão um novo 
olhar, refletiremos sobre as dimensões do ato de ler e escrever, assim como a 
importância do ensino da língua portuguesa escrita para alunos surdos. 
referênCias
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26
 Práticas Sociais de Leitura e de Escrita em Libras
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