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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO ACADÊMICO DE ELETROTÉCNICA CURSO DE ENGENHARIA ELÉTRICA ANA JÚLIA NUNES DE ARAÚJO NARAH IUATA RANK TALITA BEZERRA DE ARAUJO BUENO ANÁLISE DOS FATORES DE PERDAS NOS SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE ELÉTRICA EM CURITIBA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO CURITIBA 2016 ANA JÚLIA NUNES DE ARAÚJO NARAH IUATA RANK TALITA BEZERRA DE ARAUJO BUENO ANÁLISE DOS FATORES DE PERDAS NOS SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE ELÉTRICA EM CURITIBA Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação em Engenharia Elétrica, do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), como requisito parcial para obtenção do título de Engenheiro Eletricista. Orientador: Professor Dr. Jair Urbanetz Junior CURITIBA 2016 Ana Júlia Nunes de Araújo Narah Iuata Rank Talita Bezerra de Araujo Bueno ANÁLISE DOS FATORES DE PERDAS NOS SISTEMAS FOTOVOLTAICOS CONECTADOS À REDE ELÉTRICA EM CURITIBA Este Trabalho de Conclusão de Curso de Graduação foi julgado e aprovado como requisito parcial para a obtenção do Título de Engenheiro Eletricista, do curso de Engenharia Elétrica do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAELT) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Curitiba, 05 de dezembro de 2016. _____________________________________ Prof. Emerson Rigoni, Dr. Coordenador de Curso de Engenharia Elétrica _____________________________________ Profa. Annemarlen Gehrke Castagna, Mestre Responsável pelos trabalhos de Conclusão de Curso de Engenharia Elétrica do DAELT ORIENTAÇÃO BANCA EXAMINADORA ______________________________ Prof. Jair Urbanetz Junior, Dr. Eng. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Orientador ______________________________ Prof. Jair Urbanetz Junior, Dr. Eng. Universidade Tecnológica Federal do Paraná Orientador ______________________________ Prof. Gerson Maximo Tiepolo, Dr. Eng. Universidade Tecnológica Federal do Paraná ______________________________ Profa. Annemarlen Gehrke Castagna, Mestre Universidade Tecnológica Federal do Paraná DEDICATÓRIA Em memória de minha tia Ana Linda, primeira pessoa que me apoiou na realização deste sonho de ser engenheira. À minha avó Maria de Fátima, minha segunda mãe, pelos ensinamentos religiosos, preocupação e cuidados. Aos meus pais, Edson e Ana Virginia e, ao meu irmão, Paulo Rubens, que são indispensáveis em minha vida e por quem tenho um amor infinito. Aos meus tios, Fábio e Keila, por me receberem como uma filha em Curitiba. A Fábio, namorado e também engenheiro eletricista, que me incentiva em todos os meus planos, acadêmicos e pessoais. Ana Júlia Aos meus pais, Marcos e Rise, que amo incondicionalmente e que são os principais contribuintes neste sonho de me tornar engenheira. Aos meus irmãos, por todas as conversas, risadas e cumplicidade. Aos meus tios Perseu e Rogéria, por todo suporte e conselhos nas diferentes fases da minha jornada. A Yago, meu companheiro, pelo amor, amizade e incentivo nos dias saudosos e pela felicidade indescritível que me proporciona. Narah Rank À minha mãe, Solange, pelos conselhos quando bate a saudade e nas horas difíceis. Ao meu papai que está no céu, Dorgival, por todo amor, ensinamento e boas lembranças deixadas. À minha irmã, Lore, pelas conversas, conselhos, viagens, e por estar sempre por perto. Ao meu irmão, Solano, por me mostrar a engenharia, pelo incentivo, e pela calculadora HP de presente. A Callan, meu confidente, por todo amor e carinho, e por me ajudar a descobrir meu maior potencial. Talita Bueno AGRADECIMENTOS Agradecemos primeiramente a Deus, pela oportunidade de poder ingressar e pela coragem para continuar e concluir um curso superior, pela saúde e pelos laços de amizade criados durante nossa jornada. Aos nossos pais, pelo incentivo e suporte na saída do aconchego do lar, pelo amor e carinho sempre e pelo esforço para que não nos faltassem recursos para que pudéssemos concluir nosso curso. Às nossas famílias, pelo carinho e apoio, nos entendendo nos momentos de ausência e comemorando junto nos momentos de alegria. Aos nossos amigos e colegas de classe com quem compartilhamos o trilhar para a conclusão desse curso, pelo apoio e conselho nas horas difíceis e por todos os momentos de aprendizado junto. Aos nossos professores que sempre foram nossos mestres e exemplos durante toda essa jornada e por seus ensinamentos que nos tornaram profissionais desse ramo. Ao nosso orientador Jair Urbanetz Junior por toda dedicação e empenho na realização desse projeto, pela compreensão, apoio e amizade. “It always seems impossible until it’s done.” (Nelson Mandela) RESUMO ARAÚJO, A. J. N.; BUENO, T. B. A.; RANK, N. I. Análise dos Fatores de Perdas nos Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica em Curitiba. 85 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Elétrica), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2016. Em prol de um maior desenvolvimento sustentável, diversificação da matriz elétrica brasileira e mitigação dos impactos socioambientais, o uso de fontes renováveis vem sendo promovido cada vez mais na sociedade. A energia solar é um tipo de fonte renovável e possui inúmeras vantagens para sua utilização, tanto a partir dos sistemas fotovoltaicos isolados (SFVI) quanto dos conectados à rede (SFCR), sendo uma fonte limpa e confiável. Porém, atrelado aos benefícios e vantagens que os sistemas fotovoltaicos trazem para a vida cotidiana, como em todo sistema real, há perdas inerentes à cada sistema. O foco de pesquisa para este trabalho é a análise de quatro sistemas fotovoltaicos instalados na cidade de Curitiba: Escritório Verde (EV) e Neoville da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), ELCO e ELCOSUL. O presente trabalho apresenta a identificação e estudo dos fatores de perdas desses quatro sistemas através da análise dos índices de méritos, da topologia que constitui os equipamentos que os compõem, comparando-os em relação à tecnologia empregada e, por fim, através do modo de instalação de cada um. Além disso um levantamento qualitativo sobre as perdas que mais impactam na geração do sistema fotovoltaico em relação as demais também é detalhado neste estudo. Palavras-chave: Sistemas Fotovoltaicos. Energia Solar Fotovoltaica. Fatores de Perdas. Índices de Mérito. ABSTRACT ARAÚJO, A. J. N.; BUENO, T. B. A.; RANK, N. I. Loss Factors Analysis in Photovoltaic Systems Connected to the Grid in Curitiba. 85 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Engenharia Elétrica), Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba, 2016. Renewable energy sources enable more sustainable development, diversify Brazil’s energy matrix, and mitigate the socio-environmental impacts of traditional energy sources. As a result, renewable energy sources have increasingly been promoted as an alternative to traditional energy sources. Solar energy, either from Isolated or Grid-Connected Photovoltaic Systems, is a renewable energy source that provides a clean, reliable, and effective alternative to traditional energy sources. Photovoltaic systems, despite their advantages to traditional energy sources, as in any real system, have losses inherent to it. This paper focuses on four grid- connected photovoltaic systems in Curitiba: Green Office and Neoville UTFPR systems, ELCO and ELCOSUL. The paperidentifies and presents a detailed study of the major power loss factors in each system by analyzing the topology, equipment technologies and performance parameters of each system. Furthermore, the paper will present a qualitative analysis of the factors that have the most impact on photovoltaic system performance. Keywords: Photovoltaic Systems. Photovoltaic Solar Energy. Power Loss Factors. Performance Parameters. LISTA DE FIGURAS Figura 1: A oferta de recursos energéticos renováveis e seu potencial explorável em comparação com a energia demandada e o consumo mundial de energia. ............................... 20 Figura 2: Matriz elétrica brasileira. ........................................................................................... 21 Figura 3: Componentes da Radiação Solar. .............................................................................. 22 Figura 4: Piranômetro Termoelétrico. ....................................................................................... 23 Figura 5: Piranômetro Fotovoltaico. ......................................................................................... 24 Figura 6: Pireliômetro. .............................................................................................................. 24 Figura 7: Relação entre as bandas em materiais: condutor, semicondutor e isolante. .............. 25 Figura 8: Funcionamento de uma célula fotovoltaica. .............................................................. 26 Figura 9: Circuito equivalente de uma célula fotovoltaica. ...................................................... 27 Figura 10: Estrutura de um painel fotovoltaico. ....................................................................... 29 Figura 11: Diagrama básico de um SFI. ................................................................................... 30 Figura 12: Diagrama elétrico de um SFCR ............................................................................... 31 Figura 13: Diagrama de um SFCR com medidor bidirecional. ............................................... 31 Figura 14: Fatores de perdas do estudo feito em 2001. ............................................................ 32 Figura 15: Fatores de perdas do estudo feito em 2013. ............................................................ 33 Figura 16: Anomalias da curva I-V de um painel fotovoltaico. ............................................... 34 Figura 17: Módulo sem diodo de desvio com um ponto quente. .............................................. 35 Figura 18: Caminho da corrente em módulo com diodo de desvio. ......................................... 36 Figura 19: Módulo parcialmente sombreado com diodo de desvio. ......................................... 36 Figura 20: Curvas I-V de um módulo contendo uma célula sombreada, com e sem a utilização do diodo de desvio. ................................................................................................................... 37 Figura 21: Sombreamento parcial com módulos na horizontal ou vertical. ............................. 37 Figura 22: Sombreamento parcial com módulos fotovoltaicos conectados em série. .............. 38 Figura 23: Sombreamento parcial de duas strings de módulos fotovoltaicos conectados em paralelo. ..................................................................................................................................... 39 Figura 24: Sombreamento parcial de uma a quatro strings de módulos fotovoltaicos conectados em paralelo. ............................................................................................................ 39 Figura 25: Curva I-V de módulos a diferentes temperaturas e irradiância constante de 1000W/m². ................................................................................................................................ 40 Figura 26: Dependência da temperatura em relação aos coeficientes de temperatura de um módulo de silício cristalino. ...................................................................................................... 41 Figura 27: Aumento da temperatura e redução no índice yield de acordo com o modo de instalação do painel fotovoltaico. ............................................................................................. 41 Figura 28: Simbologia elétrica do inversor ............................................................................... 42 Figura 29: (a) Forma da onda de tensão (V) e de corrente (I) referente ao sistema de chaveamento dos semicondutores no inversor; (b) Potência dissipada no dispositivo semicondutor na fase de chaveamento e de condução. ............................................................. 43 Figura 30: Curva eficiência vs carregamento em um inversor genérico. ................................. 44 Figura 31: a) inversor centralizado; b) inversor por string (configuração CA paralelo); c) inversor multi-string (configuração CC paralelo); d) inversores assimilados aos respectivos módulos FV. .............................................................................................................................. 46 Figura 32:Inversor com transformador de baixa frequência. .................................................... 47 Figura 33: Inversor com transformador de alta frequência. ...................................................... 47 Figura 34: Inversor sem transformador. .................................................................................... 48 Figura 35: Multi-string. ............................................................................................................. 48 Figura 36: Cabo MC-4. ............................................................................................................. 50 Figura 37: Principais fatores responsáveis pela degradação de módulos fotovoltaicos ........... 51 Figura 38: Módulo FV com delaminação. ................................................................................ 52 Figura 39: Diagrama de módulo FV com delaminação. ........................................................... 53 Figura 40: Sistema Fotovoltaico do Escritório Verde. .............................................................. 59 Figura 41: Sistema Fotovoltaico da ELCO. .............................................................................. 62 Figura 42: : Sistema Fotovoltaico do Neoville ......................................................................... 65 Figura 43: Detalhe do Painel Fotovoltaico da ELCOSUL. ....................................................... 69 Figura 44: Painel Fotovoltaico da ELCOSUL. ......................................................................... 69 Figura 45: Temperatura do painel fotovoltaico do Escritório Verde. ....................................... 73 Figura 46: Temperatura do painel fotovoltaico do Neoville. .................................................... 74 Figura 47: Sombreamento no Escritório Verde. ....................................................................... 75 Figura 48: Sujidade encontrada nos módulos do Escritório Verde antes da limpeza. .............. 76 Figura 49: Detalhe da sujidade nos módulos do Escritório Verde antes da limpeza. ............... 76 Figura 50: Módulos fotovoltaicos do Escritório Verde após a limpeza. ................................... 77 Figura 51: Sujidade no módulo fotovoltaico do Neoville. ........................................................ 78 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Produtividade do Escritório Verde ............................................................................ 60 Tabela 2: Taxa de Desempenho do Escritório Verde ............................................................... 61 Tabela 3: Fator de Capacidade do Escritório Verde ................................................................. 61 Tabela 4: Produtividade da ELCO ............................................................................................63 Tabela 5: Taxa de Desempenho da ELCO ................................................................................ 64 Tabela 6: Fator de Capacidade da ELCO ................................................................................. 64 Tabela 7: Produtividade do Neoville ........................................................................................ 67 Tabela 8: Taxa de Desempenho do Neoville ............................................................................ 67 Tabela 9: Fator de Capacidade do Neoville .............................................................................. 68 Tabela 10: Produtividade da ELCOSUL .................................................................................. 71 Tabela 11: Taxa de Desempenho da ELCOSUL ...................................................................... 71 Tabela 12: Fator de Capacidade da ELCOSUL ........................................................................ 72 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Eficiência de células fotovoltaicas ao longo dos anos. ............................................ 28 Gráfico 2: Dados de irradiação diária média no plano horizontal em Curitiba, coletados do INMET. ..................................................................................................................................... 58 Gráfico 3: Dados de irradiação diária média no plano inclinado do EV manipulados com auxílio do programa RADIASOL. ............................................................................................ 59 Gráfico 4: Dados de geração do EV. ........................................................................................ 60 Gráfico 5: Dados de irradiação diária média no plano inclinado da ELCO manipulados com auxílio do programa RADIASOL. ............................................................................................ 62 Gráfico 6: Dados de geração da ELCO. .................................................................................... 63 Gráfico 7: Dados de irradiação diária média no plano inclinado do NEOVILLE manipulados com auxílio do programa RADIASOL. .................................................................................... 66 Gráfico 8: Dados de geração do NEOVILLE. .......................................................................... 66 Gráfico 9: Dados de irradiação diária média no plano inclinado da ELCOSUL manipulados com auxílio do programa RADIASOL ..................................................................................... 70 Gráfico 10: Dados de geração da ELCOSUL ........................................................................... 70 LISTA DE SIGLAS ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica CA – Corrente Alternada CC – Corrente Contínua FC – Fator de capacidade EPE – Empresa de Pesquisa Energética EV – Escritório Verde EVA – Etil Vinil Acetato FV – Fotovoltaico INMET – Instituto Nacional de Meteorologia LID – Light Induced Degradation (Degradação Induzida pela Luz) MPP – Maximum Power Point (Ponto de Máxima Potência) PID – Potential Induced Degradation (Degradação Induzida do Potencial) SFCR – Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná UV – Ultravioleta YF – Final Yield (Produtividade) SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 15 1.1 TEMA DE PESQUISA ....................................................................................................... 16 1.1.1 Delimitação do Tema ....................................................................................................... 16 1.2 PROBLEMAS E PREMISSAS .......................................................................................... 16 1.3 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 17 1.3.1 Objetivo Geral .................................................................................................................. 17 1.3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................................... 17 1.4 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................... 18 1.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................... 18 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO ....................................................................................... 19 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ......................................................................................... 20 2.1 ENERGIA SOLAR ............................................................................................................. 20 2.2 RADIAÇÃO SOLAR ......................................................................................................... 21 2.2.1 Conceitos .......................................................................................................................... 21 2.2.2 Instrumentos de Medição ................................................................................................. 23 2.3 ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA ............................................................................. 24 2.3.1 Efeito Fotoelétrico e Efeito Fotovoltaico ......................................................................... 24 2.3.2 Componentes do Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede Elétrica ................................ 27 2.3.2.1 Células Fotovoltaicas .................................................................................................... 27 2.3.2.2 Módulos Fotovoltaicos ................................................................................................. 28 2.3.2.3 Inversores ...................................................................................................................... 29 2.3.3 Tipos de Sistemas Fotovoltaicos ...................................................................................... 30 2.3.3.1 Sistemas Fotovoltaicos Isolados ................................................................................... 30 2.3.3.2 Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica .................................................... 30 2.4 FATORES DE PERDAS .................................................................................................... 31 2.4.1 Perdas por Acúmulo de Sujeira e Sombreamento Parcial ............................................... 34 2.4.2 Perdas por Aumento de Temperatura .............................................................................. 40 2.4.3 Perdas nos Inversores ....................................................................................................... 42 2.4.4 Descasamento de Módulos (Mismatch) ........................................................................... 48 2.4.5 Perdas na Fiação Elétrica – Conectores e Condutores ..................................................... 49 2.4.6 Degradação de Painéis ..................................................................................................... 50 2.4.6.1 Corrosão ........................................................................................................................ 51 2.4.6.2 Delaminação ................................................................................................................. 52 2.4.6.3 Descoloração ................................................................................................................. 52 2.4.6.4 PID – Potential Indution Degradation ......................................................................... 53 2.4.6.5 LID – Light Induced Degradation ................................................................................54 2.5 ÍNDICES DE MÉRITO ...................................................................................................... 54 2.5.1 Produtividade ou Yield ..................................................................................................... 54 2.5.2 Taxa de Desempenho ou Performance Ratio .................................................................. 55 2.5.3 Fator de Capacidade ......................................................................................................... 55 3 LEVANTAMENTO E ANÁLISE DE DADOS .................................................................... 57 3.1 RADIASOL ........................................................................................................................ 57 3.2 ESCRITÓRIO VERDE (EV) .............................................................................................. 58 3.2.1 Índices de mérito do Escritório Verde ............................................................................. 60 3.3 ELCO .................................................................................................................................. 62 3.3.1 Índices de mérito da ELCO .............................................................................................. 63 3.4 NEOVILLE ......................................................................................................................... 65 3.4.1 Índices de mérito do Neoville .......................................................................................... 66 3.5 ELCOSUL........................................................................................................................... 68 3.5.1 Índices de mérito da ELCOSUL ...................................................................................... 70 4 ANÁLISE DOS PRINCIPAIS FATORES DE PERDAS ..................................................... 73 4.1 TEMPERATURA ............................................................................................................... 73 4.2 SOMBREAMENTO ........................................................................................................... 74 4.3 SUJIDADE ......................................................................................................................... 75 4.4 EFICIÊNCIA DO INVERSOR........................................................................................... 78 5 CONCLUSÕES ..................................................................................................................... 79 REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 82 15 1 INTRODUÇÃO Observando a atual matriz elétrica brasileira, composta principalmente por usinas hidroelétricas e térmicas, nota-se a carência de uma diversificação na produção de energia elétrica. Assim sendo, as demandas por fontes alternativas de energia vêm sendo cada vez mais incorporadas à realidade, a fim de proporcionarem uma geração autossuficiente e com impactos ambientais reduzidos. O Brasil apresenta um enorme potencial para a implementação de sistemas complementares de produção de energia, com seu vasto território de 8,5 milhões de metros quadrados, os 7 mil quilômetros de litoral e fatores climáticos favoráveis. O foco atual é abranger opções para complementar a matriz elétrica visando torná-la eficiente com sistemas sustentáveis e economicamente viáveis, utilizando-se dos recursos naturais como o vento, o sol, a maré e outros. (ANEEL, 2008). Com a evolução das tecnologias houve uma maior acessibilidade e um enorme incentivo à utilização de recursos limpos de energia. Contudo, as barreiras socioeconômicas ainda são um forte obstáculo, dificultando a implementação de tais sistemas, tanto pela falta de investimentos governamentais, quanto pelos seus altos custos. Estabeleceu-se em 2012, de acordo com a resolução normativa da ANEEL nº 482/2012, a permissão ao consumidor brasileiro de gerar energia elétrica para consumo próprio a partir de fontes renováveis conectadas à rede. Além disso, este consumidor poderá fornecer o excedente da produção à rede de distribuição, favorecendo-se do sistema de “compensação” que é utilizado para reduzir os custos do consumo elétrico medido pela concessionária (ANEEL, 2012). Essa medida impulsionou o crescimento do mercado de fontes limpas. O Brasil possui um total de 42 de empreendimentos considerados usinas fotovoltaicas em operação, com aproximadamente 23.008 kW de potência instalada (BIG, 2016). Porém, se levados em consideração os dados de geração de energia fotovoltaica de sistemas de micro e minigeração distribuída, o número de sistemas aumenta para 5437, com potência instalada total de 39.491 kW (ANEEL, 2016), totalizando 62.499 kWp. Entretanto, ainda há muito para se explorar no quesito de aproveitamento do potencial nacional de energia, principalmente no que se refere ao aproveitamento fotovoltaico do país. Os sistemas fotovoltaicos apresentam uma enorme sustentabilidade e aproveitam a energia solar para fornecer energia elétrica. Possibilitam, além da integração com a rede de distribuição, a aplicação e instalação desses sistemas no meio urbano (URBANETZ, 2010). Apesar das 16 inúmeras vantagens atreladas ao sistema fotovoltaico, estudos relacionados aos fatores de perdas são de suma importância para o aprimoramento de sua eficiência energética. 1.1 TEMA DE PESQUISA O presente trabalho tem por objetivo acompanhar o desempenho e analisar os fatores de perdas que interferem na produtividade dos Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica em Curitiba (SFCR). 1.1.1 Delimitação do Tema Neste trabalho foi dada continuidade aos estudos feitos por Machado e Correa (2015) em Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica (SFCR) instalados em Curitiba, entre eles o do Escritório Verde e Neoville da UTFPR, o da ELCO Engenharia de Montagens Ltda, o da ELCOSUL. Durante o ano de 2016 foram analisados os fatores de perda que influenciam no desempenho destes sistemas. Foi feito um acompanhamento dos índices de mérito, os quais são indicadores de eficiência que mostram se o sistema está configurado de forma que aproveite o recurso solar de forma otimizada (BENEDITO, 2009). 1.2 PROBLEMAS E PREMISSAS Com a atual crise energética brasileira, vê-se a necessidade de diversificar a sua matriz elétrica. A falta de chuva faz com o que o sistema energético composto majoritariamente por hidrelétricas entre em colapso. A utilização de termelétricas em plena carga aumenta drasticamente os impactos ambientais e econômicos. Uma solução para minimizar esses problemas seria a utilização de fontes renováveis de energia, em especial energia fotovoltaica, uma fonte de energia abundante, não poluente e sustentável. Com a utilização de uma geração distribuída o consumidor pode se tornar produtor de energia fornecendo a energia excedente para a rede elétrica. Com a utilização deste sistema haveria uma significativa diminuição de impactos socioambientais na geração de energia elétrica, e também uma diminuição nas perdas associadas à transmissão de energia. Atualmente os custos estão mais atrativos para o consumidor residencial. A resolução normativa da ANEEL nº 482/2012 prevê o sistema de compensação de energia elétrica por meio 17 do modelo chamado net metering. Segundo Urbanetz (2015), o problema deste modelo é quando se observa a incidência de imposto no momento do consumo dos créditos obtidos pela troca de energia produzida. De acordo com Pinho e Galdino (2014) com impostos elevados e poucas políticas de incentivo, o mercado brasileiro ainda é incipiente. O território brasileiro tem elevados índices de irradiação, tendo o estado do Paraná potencial solar fotovoltaicoe produtividade estimada média superior à de países europeus como Alemanha e Itália (TIEPOLO, 2015). 1.3 OBJETIVOS 1.3.1 Objetivo Geral Acompanhar e estudar as principais fontes de perda no sistema fotovoltaico conectado à rede elétrica do Escritório Verde da UTFPR, da ELCO, ELCOSUL e do Neoville, com o intuito de propor melhorias no desempenho desses sistemas. 1.3.2 Objetivos Específicos • Estudar os equipamentos e novas tecnologias no mercado que melhorarão o desempenho de SFCR. • Estudar as características construtivas e elétricas do SFCR instalado no Escritório Verde, Neoville, ELCO e ELCOSUL. • Realizar coleta de dados de radiação solar e potência fornecida pelo SFCR do Escritório Verde antes e após a sua limpeza. • Estudar as perdas em decorrência do sombreamento já constatado no painel fotovoltaico do Escritório Verde. • Realizar coleta de dados e verificar, com base nos estudos das perdas, os resultados obtidos para o câmpus Neoville. • Realizar a medição da temperatura de paineis fotovoltaicos em diferentes modos de instalação na cidade de Curitiba, verificando o desempenho do sistema para cada situação. • Realizar um estudo das características e da eficiência em inversores dos SFCR. • Estudar e analisar outras possíveis perdas nos SFCR que poderão causar redução na conversão de energia solar em energia elétrica. 18 • Comparar e analisar os valores reais obtidos com os valores esperados, avaliando as possíveis causas para as diferenças, caso elas existam. 1.4 JUSTIFICATIVA A energia gerada pelo Sol é indispensável para a vida na Terra, e o seu aproveitamento para geração de energia elétrica através de sistemas fotovoltaicos é uma das alternativas mais estudadas e promissoras atualmente. Este tipo de geração de energia elétrica possui como grande vantagem o mínimo impacto ambiental, pois além de não emitir gases poluentes, pode ser instalada em harmonia com centros urbanos (PINHO e GALDINO, 2014). Apesar disto, a energia solar para produção de energia elétrica ainda é pouco utilizada no Brasil, não por falta de potencial pois o país possui índices de irradiação bem maiores que os da Alemanha por exemplo, mas principalmente por falta de incentivos governamentais e medidas para aumentar o número de pessoas com conhecimento nesta área. A realização desta análise de perdas nos sistemas fotovoltaicos do Escritório Verde, Neoville, ELCO e ELCOSUL possibilitará não só a obtenção de um resultado imediato no desempenho, como também servirá como fonte de estudo para futuras instalações, visando o máximo aproveitamento possível de sua eficiência. De forma indireta os resultados das coletas e do estudo também irão expor o potencial em Curitiba e consequentemente aumentar o incentivo em energia fotovoltaica. 1.5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS As etapas contempladas para a execução deste trabalho foram: • Primeiramente foram levantadas todas as informações teóricas sobre o assunto, através de referências bibliográficas, livros, artigos científicos, obras realizadas e na internet. Com o objetivo de obter uma visão abrangente sobre os sistemas fotovoltaicos conectados à rede, bem como seus componentes e estrutura. • Foram analisados, nos sistemas escolhidos para este trabalho, os fatores de perdas que afetam de modo direto ou indireto a eficiência do sistema e coletar dados por meio de observações e experimentos, com o intuito de realizar um estudo comparativo entre as situações que levam em consideração esses fatores e as situações em que esses fatores podem ser removidos ou minimizados. 19 • Apresentar por meio de gráficos e tabelas, dados coletados sobre os sistemas estudados, a fim de constar no trabalho as definições das perdas e também os números e porcentagens que indicam como esse fator pode alterar o desempenho dos SFCRs de modo significativo. • Comparação dos dados individuais de cada sistema analisado para que seja obtida uma análise conjunta dos principais fatores de perdas observados, conslusões e sugestões de melhoria para o sistema. 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO O presente trabalho comporta a seguinte estrutura: • Capítulo introdutório – Apresenta o tema, os objetivos, os problemas e premissas, a justificativa para realização deste trabalho, as metas a serem alcançadas e a metodologia de pesquisa que será adotada. • Segundo capítulo – Aborda a teoria sobre os sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica. As explicações sobre os conceitos físicos envolvidos, desde a natureza da radiação solar, o modo que as configurações das células fotovoltaicas atuam, o modo que são estruturadas, até chegar no funcionamento geral do sistema. Além disso, são citados e explicados os principais fatores de perdas que afetam a eficiência desses sistemas. • Terceiro capítulo – Aqui são fornecidos os dados coletados durante os experimentos práticos, com um maior enfoque nas comparações das análises feitas que evidenciem as desvantagens implicadas pelos fatores de perdas. • Quarto capítulo – Traz as comparações sobre o estudo realizado no trabalho, com a explicitação dos principais experimentos e resultados relacionados aos fatores de perdas. • Último capítulo – Traz as conclusões sobre o estudo realizado no trabalho com as possíveis propostas para a melhoria e otimização do sistema. 20 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 ENERGIA SOLAR O Sol é fonte primária de energia, inesgotável na escala terrestre de tempo, sendo ele o principal responsável pela origem das outras fontes de energia na Terra (PINHO e GALDINO, 2014). Na figura 1 tem-se a representação de recursos energéticos não renováveis e renováveis disponíveis na Terra. Os recursos energéticos renováveis representados são os disponíveis em um período de um ano, em comparação com a quantidade mundialmente aproveitada desses recursos (cubo interno), na forma de eletricidade, energia química e calor nesse mesmo período. Figura 1: A oferta de recursos energéticos renováveis e seu potencial explorável em comparação com a energia demandada e o consumo mundial de energia. Fonte: DGS, 2013. De acordo com a figura 1 pode-se observar que a energia solar é a mais abundante, e ainda tem um enorme potencial a ser explorado. Foi observado que um período de duas horas é o suficiente para suprir o consumo energético anual na Terra (PINHO e GALDINO, 2014). No Brasil 64% da energia elétrica é gerada a partir de hidrelétricas, como pode ser visto na figura 2. Apesar de serem consideradas limpas e renováveis, elas causam um grande impacto social e ambiental, devido a realocação de populações ribeirinhas, alagamento de grandes áreas, e processo de degradação anaeróbica das áreas alagadas, que geram gases do efeito estufa. Além disso, os grandes rios, de alta capacidade de geração, já estão sendo utilizados (PEREIRA et. al., 2006). 21 Figura 2: Matriz elétrica brasileira. Fonte: EPE, 2016. A queima de combustíveis fósseis também é largamente utilizada para a geração de eletricidade, sendo utilizada principalmente no setor de transporte e agropecuário, e é um grande contribuinte na emissão de gases do efeito estufa. A energia nuclear é considerada limpa, contudo traz questionamentos quanto aos riscos associados e deposição dos rejeitos radioativos gerados. A energia eólica vem recebendo grandes investimentos e ajuda na descentralização e complementação da energia elétrica gerada, no entanto grande parte do país não apresenta condições adequadas para a instalação de parques eólicos. Entretanto, a localização e clima do Brasil são favoráveis para o grande aproveitamento de energia solar durante o ano inteiro (PEREIRA et. al., 2006). 2.2 RADIAÇÃO SOLAR 2.2.1 Conceitos A radiação solar possui três componentes: Direta, Difusa e Albedo, como mostrado na figura 3. A componente direta é a que não sofre nenhum desvio e produz sombrasnítidas. A componente difusa é a que sofreu desvio por espalhamento pelo ar, vapor d’água e poeira. A componente albedo é a resultante da reflexão em superfícies inclinadas no entorno (PINHO e GALDINO, 2014). 22 Figura 3: Componentes da Radiação Solar. Fonte: Viana, 2010. De acordo com Pinho e Galdino (2014), a irradiância solar que atinge a camada atmosférica, perpendicular a superfície da terra, é de aproximadamente 1.367 W/m², denominada constante solar. Entretanto, nem toda essa radiação chega na superfície da Terra. A atmosfera terrestre reduz este valor através de reflexão, absorção e espalhamento. O nível de irradiância que chega à superfície da Terra, adotado como condição padrão de ensaio, é de 1.000 W/m². Quando calculada a irradiação no plano inclinado, a componente refletida das superfícies (albedo) também é considerada. A radiação solar em uma superfície inclinada, alinhada perpendicularmente com a direção dos raios solares, é maior que na superfície horizontal (DGS, 2013). O termo radiação solar é utilizado de forma genérica, podendo significar irradiância solar, quando se referido como fluxo de potência (valor instantâneo), ou então irradiação solar, quando se referido em termos de energia por unidade de área (valor integrado). De acordo com a NBR 10899 (2006): Irradiância (G) é a taxa na qual a radiação solar incide em uma superfície, por unidade de área. Sua unidade é o watt por metro quadrado [W/m²]. Irradiância total (𝐺"#") é a potência radiante solar total com todas as suas componentes (direta, difusa e albedo), por unidade de área, em uma superfície com qualquer inclinação. Irradiação Solar é a irradiância solar integrada durante um intervalo de tempo. Sua unidade é o watt hora por metro quadrado [Wh/m²]. É representada por “H” quando integrada em um dia [Wh/m².dia]. 23 2.2.2 Instrumentos de Medição O conhecimento dos valores de radiação solar na superfície terrestre é importante para ajudar na identificação do local mais adequado para a instalação do painel fotovoltaico, cálculo do seu dimensionamento, cálculo da produção de energia num período de tempo, e para criação de soluções para dimensionamento em sistemas isolados. A irradiância é medida diretamente utilizando piranômetros termoelétricos, piranômetros fotovoltaicos, ou pireliômetros (PINHO e GALDINO, 2014). Piranômetros termoelétricos (figura 4) são sensores de alta precisão que medem a irradiância solar global incidente numa superfície plana. Este sensor é composto por duas semiesferas de vidro concêntricas, e uma termopilha como sensor (termopares em série). A radiação solar passa pelas semiesferas de vidro, esquentando o sensor, em seguida os termopares medem uma diferença de tensão que é proporcional a diferença de temperatura, e então a irradiância pode ser calculada. Como eles trabalham em função da temperatura, eles tem uma resposta um pouco devagar. Variações rápidas de radiação solar, causadas por exemplo num dia de céu parcialmente nublado, podem não ser notadas (PINHO e GALDINO, 2014). Figura 4: Piranômetro Termoelétrico. Fonte: Pinho e Galdino, 2014. O piranômetro fotovoltaico (figura 5) é composto por uma célula fotovoltaica. Este sensor tem um custo bem mais baixo, porém não é tão preciso quanto o piranômetro de termopilha. Sua incerteza pode chegar a 5% em relação ao piranômetro de termopilha, porém 24 tem a vantagem de ter um tempo de resposta praticamente instantâneo (PINHO e GALDINO, 2014). Figura 5: Piranômetro Fotovoltaico. Fonte: Pinho e Galdino, 2014. O pireliômetro, como mostrado na figura 6, é um instrumento que mede a irradiância direta normal à superfície. O valor da irradiância difusa pode ser medida com um piranômetro ao qual é acoplado um disco que faz sombra e bloqueia a componente direta. Combinando-se os dois valores, pode-se obter a componente global, ou cada um individualmente (PINHO e GALDINO, 2014). Figura 6: Pireliômetro. Fonte: Pinho e Galdino, 2014. 2.3 ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA 2.3.1 Efeito Fotoelétrico e Efeito Fotovoltaico Descoberto em 1887 pelo físico Heinrich Hertz (1857-1854) e melhor explicado em 1905 pelo físico alemão Albert Einstein (1879-1955) com a teoria corpuscular da luz, o efeito fotoelétrico se refere à emissão de elétrons de uma superfície metálica devido à incidência de 25 fótons (pacotes de luz) que integram a radiação eletromagnética. Estes elétrons são chamados de fotoelétrons e são arrancados da superfície do metal ao receber energia suficiente da luz incidente sobre eles. Sendo assim, se a radiação incidente não possuir uma frequência suficientemente alta, o efeito fotoelétrico não ocorrerá (CAVALCANTE; TAVOLARO, 2002, p. 24). A energia do fóton é dada pela equação 1. 𝐸% = ℎ. 𝑓 (1) Onde, Ef é a energia do fóton (J), h é a constante de Planck (J.s). O efeito fotovoltaico, observado pela primeira vez em 1839 pelo físico francês Alexandre-Edmond Becquerel (1820-1891), é o fenômeno físico que permite a conversão direta da luz em eletricidade (PINHO e GALDINO, 2014). Essa eletricidade é gerada a partir da diferença de potencial existente em um material semicondutor ao ser aplicado uma luz sobre ele. Este material chamado de semicondutor possui uma banda de valência, onde é permitida a presença de elétrons, e a banda de condução, sem a presença de elétrons. A faixa que fica entre essas duas bandas é chamada de banda proibida ou “bandgap”, representada por Eg e é a sua largura que determina se um material é semicondutor. Materiais isolantes, por exemplo, possuem um bandgap maior que 3 eV (elétron-volt), enquanto um material semicondutor apresenta um bandgap médio de 1 eV. Assim, os fótons com energia superior à banda proibida, ao incidirem sobre esse material poderão excitar os elétrons da faixa de valência para faixa de condução. A figura 7 apresenta a relação entre essas bandas em material condutor, semicondutor e isolante. Figura 7: Relação entre as bandas em materiais: condutor, semicondutor e isolante. Fonte: Pinho e Galdino, 2014. 26 Para aplicação fotovoltaica o condutor de silício é largamente utilizado. Os átomos do silício se caracterizam por possuir quatro elétrons que se ligam aos elétrons vizinhos, formando uma rede cristalina. Esta rede pode ser dopada com átomos de outros materiais que possuam características de doadores de elétrons ou receptores de elétrons, que é o caso do fósforo e do boro, respectivamente. Se à rede cristalina do silício forem adicionados átomos de fósforo, que possuem cinco elétrons de ligação, haverá então nove elétrons e um deles estará fracamente ligado ao átomo. Portanto o fósforo é um dopante doador de elétrons, conhecido como dopante N. Já no caso de uma dopagem da rede com átomos de três elétrons de ligação, como o átomo do boro, haverá a falta de um elétron. Essa falta do elétron é chamada de lacuna ou buraco. Por este motivo o átomo de boro é um dopante do tipo P, receptor de elétrons (PINHO e GALDINO, 2014). Ao se introduzir a uma face do silício puro átomos de boro e em outra face átomos de fósforo, forma-se uma junção chamada de pn. Assim os elétrons livres de n passam para a face p e os buracos da face p passam para a n, tornando a face p carregada negativamente devido ao excesso de elétrons e a face n eletricamente positiva devido ao acúmulo de lacunas. Quando a junção pn é exposta à energia solar, os fótons com energia superior ao bandgap (Ef > Eg) formarão pares elétron-lacuna, acelerando as cargas onde o campo elétrico é diferente de zero, gerando então uma corrente entre a junção e criando-se uma diferença de potencial. Ao se colocar um fio elétrico entre essas duas faces, surge a circulação de corrente elétrica. Este, pois, é o funcionamento básico de uma célula fotovoltaica como mostraa figura 8. Figura 8: Funcionamento de uma célula fotovoltaica. Fonte: Almeida, 2012. 27 2.3.2 Componentes do Sistema Fotovoltaico Conectado à Rede Elétrica 2.3.2.1 Células Fotovoltaicas Como foi visto anteriormente a célula fotovoltaica converte a luz solar em eletricidade, conhecido como efeito fotovoltaico. A figura 9 apresenta um circuito equivalente de uma célula fotovoltaica, onde o diodo representa a junção pn e as resistência Rs e Rp as resistências em série e paralelo, respectivamente. Segundo Pinho e Galdino (2014) a resistência em série é devido a junção metal-semicondutor, malhas metálicas, regiões dopadas, etc. Enquanto que a resistência em paralelo é devido a pontos de curto-circuito na junção pn. Figura 9: Circuito equivalente de uma célula fotovoltaica. Fonte: Pinho e Galdino, 2014. Os materiais semicondutores mais utilizados para fabricação dessas células, em ordem decrescente de utilização, são: silício (Si) cristalino (c-Si), multicristalino (m-Si), amorfo (a-Si) e microcristalino (µ-Si); telúrio (Te); cádmio (Cd); cobre (Cu); índio (I); gálio (Ga); selênio (Se), entre outros (RÜTHER, 2004). Alguns dos fatores que contribuem para o silício ser o material mais tradicional é que este, além de não ser tóxico, é o segundo elemento mais abundante da Terra com mais de 28% da massa da crosta terrestre (STEPHEN D. BUTZ, 2002). O gráfico 1 apresenta de forma cronológica a eficiência de diferentes tecnologias de células fotovoltaicas até o ano 2015. 28 Gráfico 1: Eficiência de células fotovoltaicas ao longo dos anos. Fonte: NREL, 2015. 2.3.2.2 Módulos Fotovoltaicos Um conjunto de células fotovoltaicas, devidamente conectadas eletricamente e acondicionadas para resistir à exposição ao ar livre e intempérie, é denominado módulo fotovoltaico e a principal especificação de um módulo é a potência nominal, que é a potência de saída sob as condições-padrão de referência para ensaio (VIANA, 2010). Com a formação, vista anteriormente, das células em arranjos série/paralelo forma-se um módulo fotovoltaico, e, para gerar a energia requerida pela carga, estes módulos são associados formando assim um painel fotovoltaico com o objetivo de obter o nível de tensão e corrente desejados (URBANETZ, 2010). Um módulo pode conter de 36 a 216 células FV, estas células são soldadas em tiras e encapsuladas para proteção contra as intempéries e para resistência mecânica do módulo. Esse encapsulamento é dado com um sanduíche de vidro temperado de alta resistência, as células, EVA estabilizado, e um filme isolante. Terminado esse processo, coloca-se uma moldura de alumínio anonizado e a caixa de conexões elétricas, como mostra a figura 10 (PINHO e GALDINO, 2014). 29 Figura 10: Estrutura de um painel fotovoltaico. Fonte: Pinho e Galdino, 2014. 2.3.2.3 Inversores Os módulos fotovoltaicos geram energia em corrente contínua CC, portanto é necessário um equipamento eletrônico que converta a energia em corrente alternada CA para corrente contínua CC, este equipamento é chamado de inversor. Segundo Viana (2010), o inversor dos sistemas conectados à rede é especialmente projetado e construído de modo que ao detectar a presença da rede passa a operar, convertendo a corrente contínua (CC), vinda do painel fotovoltaico, em corrente alternada (CA) e injetando diretamente na rede, com o mesmo padrão de tensão, frequência e fase. Caso a rede elétrica seja desenergizada pela concessionária ou o inversor seja desconectado da rede, este se desliga automaticamente, cessando o fornecimento de energia e garantindo total segurança em caso de manutenção da rede. Os inversores mais utilizados de acordo com Rüther (2004) podem ser de dois tipos: Comutados pela própria rede elétrica, onde o sinal da rede é utilizado para sincronizar o inversor com a rede, ou Auto-comutados, onde um circuito eletrônico no inversor controla e sincroniza o sinal do inversor ao sinal da rede. 30 2.3.3 Tipos de Sistemas Fotovoltaicos 2.3.3.1 Sistemas Fotovoltaicos Isolados Também chamados de autônomos, os sistemas fotovoltaicos isolados (SFI) são normalmente instalados em locais sem acesso à rede elétrica, e necessitam de um elemento armazenador de energia (URBANETZ, 2010). Este elemento armazenador de energia é normalmente um banco de baterias que armazena a energia gerada durante o período do dia com luz solar e fornece essa energia durante a noite ou quando não há radiação solar. O fornecimento dessa energia pode ser tanto em corrente contínua quanto em corrente alternada com a utilização de um inversor. Esse sistema também possui um controlador de carga que controla a carga e a descarga do banco de baterias, e pode ser representado pela figura 11. Figura 11: Diagrama básico de um SFI. Fonte: Rüther, 2004. 2.3.3.2 Sistemas Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica Segundo Rüther (2004), uma característica fundamental de sistemas fotovoltaicos instalados no meio urbano é principalmente a possibilidade de interligação à rede elétrica pública, dispensando assim os bancos de baterias necessários em sistemas do tipo autônomo e os elevados custos e manutenções decorrentes. Estes sistemas são chamados de sistemas fotovoltaicos conectados à rede elétrica (SFCR) e são instalados de tal modo que, quando o gerador elétrico produz mais do que o necessário para o consumidor, o excesso é injetado na rede elétrica, essa instalação consumidora acumula então um crédito energético. Já se a geração for abaixo da energia demandada pela instalação consumidora, essa falta é suprida pela rede elétrica. De acordo com Urbanetz (2010) os SFCRs são vistos como uma forma de geração distribuída (GD) ao longo dos alimentadores da rede elétrica de distribuição, em baixa ou média 31 tensão, e contribuem para disponibilizar energia próxima ao ponto de consumo. Este sistema é basicamente constituído pelo painel fotovoltaico e o inversor, como mostra o diagrama da figura 12. Assim uma de suas vantagens é a não utilização de elementos para armazenar a energia, já que toda a energia gerada é colocada em paralelo com a energia da rede. Figura 12: Diagrama elétrico de um SFCR Fonte: Rüther, 2004. A figura 13 apresenta uma configuração de um SFCR com o módulo fotovoltaico, inversor e medidor bidirecional. Figura 13: Diagrama de um SFCR com medidor bidirecional. Fonte: Urbanetz, 2015. 2.4 FATORES DE PERDAS Ao longo deste trabalho serão analisados alguns dos fatores de perdas que podem se aplicar aos sistemas fotovoltaicos analisados em Curitiba. Em geral, para que se tenha um melhor desempenho na geração de energia de um painel fotovoltaico, é importante que alguns fatores sejam analisados na hora do projeto, como escolha de componentes, modo e local de 32 instalação. É importante também que sejam feitas inspeções periódicas para observar se o painel fotovoltaico está operando devidamente. Recomenda-se também que o painel seja instalado em local com boa incidência de radiação solar, sem a presença de sombreamento. Um estudo feito no Japão em 2001 quantificou os principais fatores de perdas das instalações observadas, como mostrado na figura 14. Entre eles: • Perdas na conversão de energia • Sombreamento parcial • Perdas nos inversores • Mismatch (descasamento de módulos) • Aumento da temperatura do painel fotovoltaico • Outros Figura 14: Fatores de perdas do estudo feito em 2001. Fonte: Ikki; Kurokawa, 2001. Em um estudo mais recente, a Sociedade Alemã de Energia Solar (DGS, 2014) quantificou os fatores de perdas como representado na figura 15. 33 Figura 15: Fatores de perdas do estudo feito em 2013. Fonte: Adaptado de DGS, 2013. Pode-se observar que alguns fatores de perdas foram acrescentados, como por exemplo: perdas na fiação elétrica, sujidade e variações das condiçõespadrões de teste, o que no gráfico 2 poderia estar sendo referida como “outros”. As perdas por mismatch (descasamento) diminuíram, pois agora os fabricantes dos módulos colocam a potência mínima do painel no manual, não mais um valor médio. Um modo de se analisar alguns dos fatores de perdas da instalação é observando a curva característica I-V do sistema, como mostrado na figura 16. Esta curva mostra os valores da corrente de saída de um conversor fotovoltaico, em função da sua tensão de saída, em condições preestabelecidas de temperatura e irradiância total. O Ponto de Potência Máxima (𝑃+,) ou também denominado como MPP (Maximum Power Point) é o ponto da curva na qual o produto da corrente pela tensão é máximo (URBANETZ, 2014). 34 Figura 16: Anomalias da curva I-V de um painel fotovoltaico. Fonte Pinho e Galdino, 2014. A alteração da curva I-V pela resistência série (Rs) pode ser resultado de problemas nas interconexões elétricas de um módulo da fileira, ou problemas externos na fiação e conexões entre fileiras. A resistência em paralelo (Rp) é resultante de defeitos internos em células. Sombreamento parcial ou acúmulo de sujeira (de modo não homogêneo) também podem causar este mesmo efeito na curva. Redução na corrente de saída (Isc) é causada por degradação dos painéis ou acúmulo de sujeira. Redução na tensão de saída (Vsc) é causada pelo aumento de temperatura nos módulos, podendo ser causada pelo modo de instalação (com pouca ventilação embaixo do painel). Degradações dos módulos ou curtos em diodos de desvio by-pass também causam este efeito. As perdas por mismatch (descasamento) causam o aparecimento de “degraus” na curva, como no caso de sombreamento parcial (PINHO e GALDINO, 2014). 2.4.1 Perdas por Acúmulo de Sujeira e Sombreamento Parcial Em áreas industriais, com grande tráfico de automóveis, ou com clima seco, por exemplo, ocorre maior acúmulo de sujeira nos painéis fotovoltaicos. O efeito do acúmulo de sujeira é menor quando o módulo é limpo com a água da chuva. Uma angulação de pelo menos 10º é normalmente suficiente para que isto ocorra. Quanto maior a inclinação do módulo, mais fácil para que esta autolimpeza aconteça. Além disso, o design do painel pode ajudar a promover um maior acúmulo de sujeira, quando este contém bordas elevadas. Se o sistema estiver localizado em áreas com muito acúmulo de poeira, uma limpeza regular vai aumentar significantemente o desempenho do sistema (DGS 2013). 35 Sombreamento parcial é um fator de perda muito significativo num sistema fotovoltaico. O sombreamento pode ser previsível, causado por árvores, postes e construções no entorno, causada pela própria arquitetura do sistema, ou até mesmo um módulo fazendo sombra no módulo adjacente. O sombreamento pode também ser imprevisível, como por exemplo, quando algo cai em cima do módulo (folha de árvore, dejetos de pássaros). Quando uma folha cai em cima de uma célula no módulo, como representado na figura 17, ela recebe menos radiação solar e sua corrente limita toda a corrente do conjunto série, que acaba sendo limitada em todos os módulos conectados. Além da perda de potência, há risco de danos ao módulo, pois esta potência que não está sendo entregue ao gerador é dissipada no local, podendo ocasionar em pontos quentes no módulo fotovoltaico (PINHO e GALDINO, 2014). Figura 17: Módulo sem diodo de desvio com um ponto quente. Fonte: DGS 2013. Para proteger o módulo e evitar a ocorrência desses pontos quentes, os módulos normalmente incluem um ou mais diodos de desvio (by-pass), como representado nas figuras 18 e 19. Esses diodos oferecem um caminho alternativo para a corrente e, assim, limitam a dissipação de potência no conjunto de células sombreadas. 36 Figura 18: Caminho da corrente em módulo com diodo de desvio. Fonte: DGS 2013. Figura 19: Módulo parcialmente sombreado com diodo de desvio. Fonte: DGS 2013. Na figura 20 pode-se observar a curva I-V do módulo fotovoltaico representado na figura 18. A curva verde escura representa os valores de tensão e corrente do módulo sem sombreamento, a curva verde clara representa o efeito do sombreamento em um módulo com 3 diodos de desvio, e a curva vermelha representa o efeito do sombreamento em um módulo sem diodos de desvio. 37 Figura 20: Curvas I-V de um módulo contendo uma célula sombreada, com e sem a utilização do diodo de desvio. Fonte: DGS 2013. Com uma célula 75% sombreada e um dos três diodos de desvio sendo usado para a corrente fluir, o ponto de potência máxima cai em um terço. Se os módulos estiverem conectados em série entre si, a performance do painel inteiro será afetada por este módulo. Outro ponto a ser considerado na análise é a orientação (se horizontal ou vertical) do painel fotovoltaico, pois diferentes perdas podem ocorrer com a mesma sombra. É importante lembrar-se disso quando estiver planejando a instalação do sistema fotovoltaico. Na figura 21 pode-se observar que se os módulos forem instalados na horizontal somente dois deles receberão sombra, porém se estiver na vertical, 4 módulos serão sombreados. Figura 21: Sombreamento parcial com módulos na horizontal ou vertical. Fonte: DGS 2013. Um estudo feito na Universidade Técnica de Berlim (DGS 2013) utilizando diferentes arranjos de módulos do painel fotovoltaico foi feito para determinar as curvas I-V e P-V do gerador e a perda na potência fornecida. Um painel fotovoltaico contendo 20 módulos fotovoltaicos conectados em série foi comparado com outro com 5 colunas em paralelo 38 (contendo 4 módulos em série em cada coluna). Com uma irradiância inicial de 1000 W/m², dois, quatro, seis e oito módulos foram sombreados ao reduzir a irradiância para 500 W/m². Na conexão em série a característica das curvas não depende da posição dos módulos sombreados, porém na conexão em paralelo a forma como são sombreados os módulos fotovoltaicos resultam em diferentes curvas características. • Conexões dos módulos em série: Na figura 22 pode-se observar o experimento feito com o painel em série sem sombreamento, e com sombreamento gradual a cada dois módulos. Na conexão em série pode- se observar que a perda na potência máxima fornecida é sempre alta. Figura 22: Sombreamento parcial com módulos fotovoltaicos conectados em série. Fonte: DGS 2013. • Conexões dos módulos em paralelo Na figura 23 pode-se observar o experimento feito com dois a oito módulos sendo sombreados, sempre em duas strings. 39 Figura 23: Sombreamento parcial de duas strings de módulos fotovoltaicos conectados em paralelo. Fonte: DGS 2013. Na figura 24 pode-se observar o experimento feito agora com dois a oito módulos sendo sombreados em uma a quatro strings. Figura 24: Sombreamento parcial de uma a quatro strings de módulos fotovoltaicos conectados em paralelo. Fonte: DGS 2013. A situação mais favorável é quando o sombreamento ocorre em módulos que estão conectados na mesma string ou distribuídos em poucas strings. A perda na potência fornecida é mais significativa quando ocorre em várias strings, não dependendo significantemente do número de módulos bloqueados em cada fileira. 40 2.4.2 Perdas por Aumento de Temperatura Sistemas fotovoltaicos muito raramente operam em condições nominais. A temperatura de operação das células fotovoltaicas depende da variação da irradiância solar e da temperatura incidentes. A corrente produzida nas células fotovoltaicas é diretamente proporcional à irradiância solar e é muito pouco afetada pela temperatura da célula. Entretanto, com o aumento da temperatura, a tensão e, consequentemente, a potência gerada diminuem de modo significativo, como mostrado na figura 25. Módulos fotovoltaicos de filmes finos apresentam uma menor influência com o aumento da temperatura, se comparado com módulos de silíciocristalino, porém ressalta-se que mais de 95% dos módulos vendidos são de tecnologia de silício cristalino (PINHO e GALDINO, 2014). Figura 25: Curva I-V de módulos a diferentes temperaturas e irradiância constante de 1000W/m². Fonte: DGS 2013. Para minimizar a perda de potência devido ao aumento da temperatura, os módulos fotovoltaicos devem ser montados de forma a dissipar calor facilmente (com boa ventilação). Coeficientes de temperatura para variação na tensão de corrente são normalmente especificadas no datasheet do módulo fotovoltaico em porcentagem, mV ou mA por ºC. Os coeficientes de temperatura são representados por corrente de curto circuito (a), tensão de circuito aberto (b) e ponto de potência máxima (g). Na figura 26 está sendo relacionado os valores de a, b, e g para módulos de silício cristalino com a variação de temperatura (DGS 2013). 41 Figura 26: Dependência da temperatura em relação aos coeficientes de temperatura de um módulo de silício cristalino. Fonte: DGS 2013. A temperatura de operação do sistema fotovoltaico é diretamente influenciada pelo modo de instalação do mesmo. Em um sistema instalado em um telhado, observa-se uma maior temperatura no módulo fotovoltaico do que num sistema instalado com uma boa ventilação. Na figura 27 pode-se observar o aumento da temperatura do sistema fotovoltaico (na barra vermelha) em relação a temperatura ambiente, em diferentes modos de instalação, quando se tem uma irradiância de 1000W/m² sobre o painel. A temperatura também afeta a produtividade do módulo fotovoltaico. A redução no índice yield (produtividade) devido ao aquecimento do módulo é mostrada nas barras azuis. Os valores mostrados na figura 27 podem variar em ±10% com relação a temperatura e em ±30% com relação a produtividade (DGS 2013). Figura 27: Aumento da temperatura e redução no índice yield de acordo com o modo de instalação do painel fotovoltaico. Fonte: DGS 2013. 42 2.4.3 Perdas nos Inversores O inversor é o equipamento que recebe dos painéis fotovoltaicos, após a transformação da energia solar em elétrica, uma energia de corrente contínua (CC) e tem por finalidade convertê-la em energia de corrente alternada (CA), concedendo-a para a alimentação das cargas. Sua simbologia pode ser representada de acordo com a figura 28 abaixo. Figura 28: Simbologia elétrica do inversor Fonte: Casaro e Martins, 2010. O inversor em um SFCR é o ponto que interliga os módulos FV à rede elétrica, em outras palavras, é através dele que o fluxo de potência é transmitido para a rede. Por esta razão as ondas de tensão da saída do inversor em CA devem se adequar à rede, estando na mesma fase e possuindo características semelhantes às ondas da rede, de modo a permitir o paralelismo de geradores (URBANETZ, 2010). Podem ser divididos em dois grupos: • Comutados pela rede elétrica (comutação natural), o inversor sincroniza o sinal tendo por referência o sinal da rede; • Auto-comutados (comutação forçada), o sinal é sincronizado aos parâmetros da rede através de um circuito eletrônico. Os inversorem mais atuais possuem uma função, dentre várias, de busca do ponto de máxima potência (MPP - Maximum Power Point) do gerador FV, que é o ponto onde a potência fotogerada nos painéis, produto tensão x corrente, apresenta seu máximo valor que varia constantemente devido às mudanças de temperatura e de irradiância. Logo, sistemas que buscam operar no MPP apresentam melhoras em seu desempenho, por ter a tensão de operação do arranjo fotovoltaico controlada (URBANETZ, 2010) (RÜTHER, 2004). Outra função do inversor FV é que ele deve reconhecer os níveis de corrente, tensão e frequência aceitáveis para serem injetadas na rede e, também deve isolar o gerador FV da rede 43 de distribuição quando esta não estiver energizada, a fim de evitar a condição de ilhamento por motivos de segurança (PEREIRA; GONÇALVES, 2008). Os componentes semicondutores constituem as chaves eletrônicas controláveis, que atuam nos inversores e realizam a conversão CC/CA, pois atuam bloqueando e conduzindo o sinal de tempo em tempo produzindo ondas alternadas, como mostrado na figura 29, e através de técnicas de PWM (Pulse Width Modulation) são moduladas (PINHO e GALDINO, 2014). De acordo com a figura 29, notam-se três estados devido ao chaveamento dos semicondutores: Bloqueio, comutação e condução. As perdas no inversor acontecem nos estados de comutação e condução. A total dissipação de energia é demonstrada pela área mais escura do gráfico (PINHO e GALDINO, 2014). Figura 29: (a) Forma da onda de tensão (V) e de corrente (I) referente ao sistema de chaveamento dos semicondutores no inversor; (b) Potência dissipada no dispositivo semicondutor na fase de chaveamento e de condução. Fonte: Pinho e Galdino, 2014. No estado de comutação (t = t1), o comando para o dispositivo iniciar a condução faz com que a corrente se eleve até seu valor máximo (t = t2) onde a tensão se reduzirá ao seu valor mínimo (t = t3), nessa etapa devido à potência resultante do dispositivo (V x I) ocorrem as perdas por comutação. A partir do instante (t = t4) acontece a sequência inversa que, também, apresentará essas perdas (PINHO e GALDINO, 2014). No estado de condução (t3 < t < t4) o resultado da V x I neste período também ocasionarão perdas, mesmo que inferiores quando comparadas ao estado de comutação (PINHO e GALDINO, 2014). 44 A eficiência de um inversor depende diretamente das perdas em condução e comutação. Por este motivo, é importante que estudos e pesquisas sejam realizados a fim de se obter uma maior compreensão sobre o assunto, para determinar a melhor tecnologia a ser enquadrada em um sistema fotovoltaico. O sinal de saída convertido, através dos semicondutores chaveados, é constituído por fortes componentes harmônicas e são necessários processos de filtragem de sinal com a utilização de indutores e capacitores para obtenção de uma onda senoidal pura. Porém, esses processos promovem perdas e redução de eficiência do inversor (ALMEIDA, 2012). Outros fatores que acarretam perdas correlacionadas aos inversores são as topologias tanto quanto à configuração de seu circuito eletrônico, quanto à combinação dos módulos aos inversores. A eficiência, ainda que consideravelmente alta (>94%), não disponibilizará um rendimento excelente quando a operaração for abaixo da potência nominal do inversor. Na figura 30, é possível observar a eficiência vs carregamento. Carregamento é a relação entre a potência na saída do inversor e sua potência nominal, ambas em corrente alternada (eq. 2) e, rendimento é a relação entre a potência na saída do inversor em CA e a potência na entrada em CC (eq. 3). Ambas as relações também podem ser definidas em termos de energia (ALMEIDA, 2012). P = ,12í42 ,5678529 (2) η = ,;2(12í42) ,;;(=5>?242) (3) Figura 30: Curva eficiência vs carregamento em um inversor genérico. Fonte: Almeida, 2012. 45 Um aumento de 1% na eficiência do inversor pode acarretar uma elevação de 10% de energia gerada em um período anual (FSEC, 1997). A combinação dos módulos fotovoltaicos com as topologias de inversores são enquadradas em quatro tipos de configurações, mostradas nas figuras 31a, 31b, 31c e 31d (CASARO e MARTINS, 2010; URBANETZ, 2010). Na figura 31a é representada a configuração do inversor centralizado, onde vários módulos conectados em série formam fileiras que, por sua vez, são dispostas em paralelo e interligadas a um mesmo inversor. As grandes vantagens desta forma de configuração é o custo reduzido e a simplicidade da estrutura. A figura 31b mostra a configuração do inversor por string, em que cada fileira contendo módulosem série é conectada a um inversor. Nessa configuração as perdas são mitigadas e a eficiência é elevada, pois o MPP da configuração série é reconhecido, não havendo, portanto, as perdas por mismatch (descasamento). Porém, esse modelo apresenta a desvantagem de necessitar de mais inversores de menor potência, aumentando os custos por kWp instalado. A figura 31c representa a configuração do inversor multi-string, ou seja, os módulos são agregados em diferentes grupos com modos de instalação diferentes permitindo assim uma maior flexibilidade para a busca do MPP. Na figura 31d são representados inversores assimilados aos módulos FV, sendo assim, cada módulo irá se interligar com um inversor que terá por objetivo trabalhar com o MPP de seu módulo associado. O alto custo e o acoplamento particular entre módulos e inversores, ambos com vidas úteis incompatíveis, são as principais desvantagens dessa configuração. 46 (a) (b) (c) (d) Figura 31: a) inversor centralizado; b) inversor por string (configuração CA paralelo); c) inversor multi-string (configuração CC paralelo); d) inversores assimilados aos respectivos módulos FV. Fonte: Casaro e Martins, 2010; Urbanetz, 2010. Os inversores podem possuir ou não transformadores para isolamento galvânico entre os lados CC e CA. Porém, esse é um tópico muito estudado e controverso, devido à maneira negativa em que o desempenho do sistema é afetado, além dos custos que tendem a ser maiores. Os transformadores podem atuar tanto em baixa quanto em alta frequência e podem ser 47 localizados nos lados de entrada ou pré-conversão CC (alta frequência/ High frequency) ou de saída CA (frequência da rede ou baixa frequência/ Low frequency). No mercado, os transformadores de baixa frequência, geralmente transformadores toroidais, são mais usuais porém mais pesados e robustos quando comparados aos transformadores de alta frequência, que tendem a ser mais compactos e leves (VILLALVA; GAZOLI, 2012). Porém, os dois transformadores provocam perdas no sistema, o de baixa frequência limita o controle da corrente injetada e reduz o fator de potência da rede, por ser uma carga de característica reativa. Por outro lado, a configuração de inversores sem transformador é, atualmente, a mais eficiente, simples e de baixo custo tendo em vista que a isolação não é necessária entre os lados CC/CA. Contudo, apresenta o problema de correntes de fuga que surgem entre os polos do gerador FV e o neutro da rede e o de capacitâncias parasitas entre o gerador FV e a terra (ALMEIDA, 2012). As figuras 32, 33, 34 e 35 mostram as diversas topologias do circuito eletrônico considerando-se ou não a presença de um transformador (URBANETZ, 2014d). Figura 32:Inversor com transformador de baixa frequência. Fonte: Urbanetz, 2014d. Figura 33: Inversor com transformador de alta frequência. Fonte: Urbanetz, 2014d. 48 Figura 34: Inversor sem transformador. Fonte: Urbanetz, 2014d. Figura 35: Multi-string. Fonte: Urbanetz, 2014d. As tecnologias permitiram o desenvolvimento dos chamados módulos CA, que apresentam microinversores já incorporados. Em outras palavras, o módulo CA já disponibiliza a energia em corrente alternada, diminuindo os custos para dimensionamento condutores e conectores, visto que não há necessidade de dimensionar cabos para entregar energia em corrente continua até um inversor externo. Porém, a eficiência de conversão dos microinversores nos módulos CA é relativamente baixa (<90%) em comparação aos inversores centralizados (~95%). No caso, estudos apontam que esse tipo de módulo é economicamente viável caso a instalação seja de pequeno porte (RÜTHER,2004). 2.4.4 Descasamento de Módulos (Mismatch) O Sistema fotovoltaico é composto por conjuntos de módulos ou geradores fotovoltaicos que podem ser combinados de várias formas, levando-se em consideração as duas configurações que os interligam: série ou paralelo. A configuração 49 escolhida irá depender das condições requisitadas de tensão e potência e também da disponibilidade de espaço na estrutura. Cada gerador fotovoltaico possui características próprias devido às diferenças entre as células FV que os compõem, mesmo que sejam provenientes da mesma linha de produção (ALMEIDA, 2012). Em virtude dessas diferenças, os parâmetros são peculiares para cada módulo e, portanto, sua seleção para compor um conjunto deve ser bem analisada, pois a incompatibilidade entre características de módulos acarreta a perda por descasamento dos módulos ou de parâmetros (mismatch), onde as células de menor fotocorrente limita a eficiência global do módulo fotovoltaico, afetando o desempenho do sistema FV como um todo. Esse fator de perda também ocorre devido a sombreamentos parciais, acúmulo de resíduos ou degradação de algum dos painéis do arranjo série, situações que também levam a um ou alguns módulos a afetarem toda a instalação. 2.4.5 Perdas na Fiação Elétrica – Conectores e Condutores De acordo com Rüther (2004), as perdas ôhmicas em sistemas CC de baixa tensão são minimizadas pelo menor comprimento possível de cabos elétricos que conectam os painéis fotovoltaicos ao sistema inversor e por contatos elétricos de qualidade. Assim também deve ser levado em consideração um processo de dimensionamento de qualidade das secções dos cabos, para reduzir ao máximo as perdas ôhmicas. É importante que a instalação seja feita de forma que todos os circuitos permaneçam abertos até que todas as conexões sejam completadas, evitando assim o fluxo de corrente e a possível abertura de um arco elétrico ao interromper o circuito CC. A manutenção e verificação da canalização e ligações elétrica se faz de grande importância, pois alguns defeitos podem não atuar os equipamentos de proteção e, por este motivo, levar à criação de arcos fotovoltaicos e/ou tensões de defeitos. Exemplos de falhas são: ligações fracas entre os cabos ou com deterioração, correntes de fuga em razão de defeitos na isolação, assim como curto-circuito. Danos mecânicos ou térmicos também devem ser previstos. O cabo, por exemplo, pode ser roído por animais ou sofrer deterioração por sobretensões ou por raios UV. Com o passar do tempo, o cabo também vai envelhecer naturalmente podendo causar falha na sua isolação. Muitos inversores já possuem sistema de monitoramento automático do estado do isolamento do sistema. 50 Os módulos mais modernos para SFCR já vêm com cabos pré-instalados com comprimento suficiente para se conectarem a outro módulo ou arranjo, assim como a caixa de junção já selada, prevenindo conexões precárias e protegendo contra as intempéries. O melhor e mais comum dos cabos utilizados é o MC-4, mostrado na figura 36, que possui um sistema de engate rápido e foram especialmente desenvolvidos para o uso em sistemas fotovoltaicos, melhorando a qualidade da instalação, facilitando conexões e apresentando melhor durabilidade. Esses conectores devem possuir o grau de proteção IP 67 ou superior, devem ficar presos ao painel por braçadeiras, não soltos e sujeitos a ação do vento, assim como não devem ser colocados em dutos ou canaletas que possam acumular água (PINHO e GALDINO, 2014). Outro cuidado importante é quanto à marca desse conector, pois no mercado existe uma grande quantidade de opções de cabos tipo MC-4 e uma boa escolha não é apenas baseada no custo, mas também na qualidade do material. Figura 36: Cabo MC-4. Fonte Pinho e Galdino, 2014. 2.4.6 Degradação de Painéis A degradação dos painéis, que estão expostos às agressividades do clima, é uma deterioração de forma gradual os componentes do sistema, afetando a sua capacidade de operação e desempenho. O módulo fotovoltaico é o principal e mais caro componente do SFCR e por isso a importância da manutenção e prevenção
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