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Autora: Profa. Cristina Rodrigues Padula Coiado Colaboradoras: Profa. Raquel Coutinho Machado Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano Prática Clínica e Processos de Cuidar da Saúde do Adulto 2 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Professora conteudista: Cristina Rodrigues Padula Coiado Cristina Rodrigues Padula Coiado é formada em Enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (1993), realizou especialização (modalidade residência) em enfermagem pela Universidade Federal de São Paulo (1996) e tem mestrado em Medicina na área de Ciências da Saúde na mesma Universidade (2000). Atuou como enfermeira intensivista e preceptora da residência de Enfermagem no Hospital São Paulo, além de implantar programas de tratamento do tabagismo e de feridas na comunidade. Desde 2002 é docente do curso de graduação de Enfermagem da Universidade Paulista, atuando nas diversas áreas de saúde do adulto. É autora de quatro artigos científicos na área de saúde do adulto e dois capítulos de livros, um na área de educação em saúde e outro sobre terapia intravenosa. É palestrante do Conselho Regional de São Paulo (Coren‑SP) e da Associação Brasileira de Enfermagem (Aben‑SP). © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) C678q Coiado, Cristina Rodrigues Padula. Prática Clínica e Processos de Cuidar da Saúde do Adulto/ Cristina Rodrigues Padula Coiado. ‑ São Paulo: Editora Sol, 2018. 128 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIV, n. 2‑036/18, ISSN 1517‑9230. 1. Práticas clínicas. 2. Saúde do adulto. 3. Processos e cuidados. I. Título CDU 616‑083‑053.8 3 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Talita Lo Ré Giovanna Oliveira 5 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Sumário Prática clínica e processos de cuidar da saúde do adulto APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................ 10 Unidade I 1 ATENÇÃO PRIMÁRIA: PROCESSO DE ENVELHECIMENTO COM PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE LESÕES POR PRESSÃO ..................................................................... 13 1.1 Consulta de enfermagem em unidade básica de saúde (UBS): saúde do idoso ......... 19 2 ATENÇÃO PRIMÁRIA: PROCESSO DE ENVELHECIMENTO COM DOENÇA CRÔNICA NÃO TRANSMISSÍVEL (DCNT) – HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) .......... 21 2.1 Consulta de enfermagem em UBS: idosa com doença crônica não transmissível (DCnT) – hipertensão arterial sistêmica (HAS) ..................................................... 25 Unidade II 3 ATENÇÃO SECUNDÁRIA: CONSULTA DE ENFERMAGEM EM AMBULATÓRIO DE ESPECIALIDADES – ASMA BRÔNQUICA ..................................................................................................... 31 3.1 Diagnóstico clínico .............................................................................................................................. 32 3.2 Caso clínico: consulta de enfermagem em ambulatório de especialidades – asma brônquica .......................................................................................................... 33 4 ATENÇÃO SECUNDÁRIA: CONSULTA DE ENFERMAGEM EM AMBULATÓRIO DE ESPECIALIDADES – DIABETES MELITOTIPO II ........................................................................................... 35 4.1 Classificação ........................................................................................................................................... 35 4.2 Fisiopatologia do diabetes melito tipo II .................................................................................... 36 4.3 Sinais e sintomas da hiperglicemia ............................................................................................... 37 4.4 Coma hiperglicêmico hiperosmolar não cetótico ................................................................... 37 4.5 Cetoacidose diabética ......................................................................................................................... 38 4.6 Hipoglicemia .......................................................................................................................................... 38 4.7 Complicações crônicas ....................................................................................................................... 38 4.8 Caso clínico: consulta de enfermagem em ambulatório de especialidades – diabetes melito tipo II ....................................................................................... 39 6 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade III 5 ATENÇÃO TERCIÁRIA: RECUPERAÇÃO DA SAÚDE COM AFECÇÕES CLÍNICAS CARDIORRESPIRATÓRIAS................................................................................................................................. 45 5.1 Dor precordial por síndrome coronariana aguda (SCA) ....................................................... 45 5.1.1 Diagnóstico ............................................................................................................................................... 46 5.1.2 Tratamento inicial: monab .................................................................................................................. 48 5.1.3 Tratamento: trombólise química ...................................................................................................... 48 5.1.4 Tratamento: angioplastia ..................................................................................................................... 48 5.1.5 Tratamento: cirurgia de revascularização do miocárdio ........................................................ 48 5.1.6 Intervenções de enfermagem para a dor torácica relacionada à isquemia do miocárdio .................................................................................................................................... 49 5.1.7 Caso clínico de SCA em unidade clínica de internação hospitalar .................................... 50 5.2 Insuficiência cardíaca congestiva (ICC) ....................................................................................... 52 5.2.1 Insuficiência cardíaca direita ............................................................................................................. 54 5.3 Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) .......................................................................... 59 5.3.1 Entendendo o processo de respiração ............................................................................................60 5.3.2 Exames e avaliação ................................................................................................................................ 63 5.3.3 Intervenções .............................................................................................................................................. 63 5.3.4 Fatores de risco ........................................................................................................................................ 64 5.3.5 Características .......................................................................................................................................... 64 5.3.6 Manifestações clínicas do DPOC ...................................................................................................... 65 5.3.7 Sinais e sintomas na DPOC ................................................................................................................. 65 5.3.8 Diagnóstico do DPOC ............................................................................................................................ 66 5.3.9 Intervenções de enfermagem para o diagnóstico de enfermagem “troca de gases prejudicada” relacionado ao DPOC ............................................................................. 66 5.3.10 Caso clínico de DPOC em unidade clínica de internação hospitalar............................... 67 6 ATENÇÃO TERCIÁRIA: RECUPERAÇÃO DA SAÚDE COM AFECÇÕES CLÍNICAS RENAIS E NEUROLÓGICAS .......................................................................................................... 69 6.1 Insuficiência renal crônica (IRC) ..................................................................................................... 69 6.1.1 Exames para avaliar função glomerular ........................................................................................ 70 6.1.2 Tipos de insuficiência renal: aguda e crônica ............................................................................. 70 6.1.3 Caso clínico de IRC em unidade clínica de internação hospitalar ...................................... 77 6.2 Acidente vascular cerebral isquêmico (AVC I) .......................................................................... 79 6.2.1 Caso clínico de AVC I em unidade clínica de internação hospitalar .................................. 82 Unidade IV 7 ATENÇÃO TERCIÁRIA: RECUPERAÇÃO DA SAÚDE COM AFECÇÕES CIRÚRGICAS NEOPLÁSICAS ............................................................................................................................ 89 7.1 Lobectomia direita com ressecção de tumoral ........................................................................ 89 7.1.1 Principais complicações no pós‑operatório mediato e cuidados de enfermagem relacionados ....................................................................................................................... 90 7.1.2 Caso de lobectomia direita com ressecção de tumoral em unidade cirúrgica de internação hospitalar .............................................................................................................. 93 7.2 Mastectomia direita por câncer (CA) de mama em tratamento 7 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 quimioterápico com complicação ......................................................................................................... 95 7.2.1 Processo fisiopatológico ...................................................................................................................... 96 7.2.2 Fatores de risco ........................................................................................................................................ 96 7.2.3 Tratamento ................................................................................................................................................ 96 7.2.4 Assistência de enfermagem para sintomas específicos de paciente em tratamento de câncer ............................................................................................................................... 97 7.3 Caso de plaquetopenia por complicação de tratamento quimioterápico em unidade cirúrgica de internação hospitalar ............................................100 8 ATENÇÃO TERCIÁRIA: RECUPERAÇÃO DA SAÚDE COM AFECÇÕES CIRÚRGICAS DO SIATEMA DIGESTÓRIO ...................................................................................................103 8.1 Colectomia parcial com colostomia por doença de Crohn ...............................................103 8.1.1 Caso de colectomia parcial com colostomia em unidade cirúrgica de internação hospitalar ...............................................................................................................................105 8.2 Cirrose hepática e nutrição enteral ............................................................................................107 8.2.1 Caso de cirrose hepática em unidade cirúrgica de internação hospitalar .................... 113 9 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 APRESENTAÇÃO A disciplina Prática Clínica do Processo de Cuidar na Saúde do Adulto fundamenta o processo de formação profissional por oferecer embasamento teórico e prático para as ações do cuidar nos âmbitos da assistência ao indivíduo, enfatizando a avaliação clínica e a determinação de demandas de cuidar, produto da interação com o cliente, a equipe interdisciplinar e o contexto organizacional. Este livro‑texto tem como objetivo primordial capacitar o estudante a planejar, executar e avaliar o cuidado de enfermagem relacionado ao adulto nos diferentes cenários de atuação do enfermeiro, relacionando a avaliação clínica e psicossocial ao raciocínio diagnóstico para a tomada de decisão, mediante a articulação dos conteúdos teóricos apreendidos em disciplinas estudadas anteriormente, adotando o processo de enfermagem como metodologia de trabalho. O aluno, ao final do curso, deverá estar apto a compreender e executar as fases do processo de enfermagem (investigação, diagnóstico, plano assistencial, implementação e avaliação) nos diferentes níveis de atenção à saúde do adulto, analisando as situações que demandem tomada de decisão e buscando soluções clínicas na literatura especializada, estando capacitado para realizar a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) por meio da consulta de enfermagem. Segundo decisão Cofen 001/2000 de 4 de janeiro de 2000, a SAE é a dinâmica das ações sistematizadas e inter‑relacionadas que visa à assistência ao ser humano com o objetivo de atender as necessidades individualizadas do cliente, da família e da comunidade por meio de método específico. O Processo de Enfermagem é utilizado como método para sistematizar o cuidado, propiciando condições para individualizar e administrar a assistência, possibilitando maior integração do enfermeiro com o paciente, a família, a comunidade e com a própria equipe. A SAE consiste em uma atividade privativa do enfermeiro. Na resolução de número 159 do Cofen (2017), explicita‑se que em todos os níveis de assistência à saúde, seja em instituição pública ou privada, a consulta de enfermagem deve ser obrigatoriamente desenvolvida na assistência de enfermagem. Este material está dividido em quatro partes que abordam a assistência de enfermagem para o cliente/paciente nos diferentes cenários de atuação do enfermeiro, envolvendo a atenção primária, atendimento que demanda baixo grau de complexidade tecnológica e aborda a promoção e prevenção da saúde, realizado em Unidade Básica de Saúde (UBS). A atenção secundária, atendimento que demanda nível intermediário de complexidade tecnológica e especialidade e aborda a recuperação da saúde, realizado em ambulatórios específicos é abordada na sequência. A apresentação da atenção terciária, que demanda um maior grau de complexidade tecnológica e especialidades, falando da recuperaçãoda saúde e sendo realizado com o paciente internado em hospital, foi dividida em duas partes, uma abordando a assistência ao paciente com problemas de saúde clínicos, e a outra, tratando da assistência ao paciente com problemas de saúde cirúrgicos. Com muito carinho e cuidado, este material foi elaborado para que você possa usufruir de mais uma ferramenta para seus estudos, lendo novos textos, treinando a resolução de casos clínicos e exercícios sobre a disciplina Prática Clínica do Processo de Cuidar na Saúde do Adulto. Bom estudo! 10 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 INTRODUÇÃO O processo de trabalho do enfermeiro se divide nas dimensões: gerencial, assistencial, educativa e de pesquisa. Esta disciplina aborda o processo de trabalho do enfermeiro na dimensão assistencial, isto é, prestação do cuidado direto ao paciente, através do desenvolvimento da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) em estudos de casos, utilizando o raciocínio crítico para correlação das alterações descritas no caso, identificadas na entrevista e exame físico, relacionando‑as à fisiopatologia do quadro em questão. Após isso, é realizado o raciocínio diagnósticos com elaboração dos diagnósticos de enfermagem do sistema de classificação de diagnóstico de enfermagem da North American Nursing Diagnosis Association – International (taxonomia Nanda‑I) e o planejamento da assistência individualizada com elaboração das intervenções de enfermagem utilizando o sistema de classificação Nursing Interventions Classification (taxonomia NIC) e dos resultados esperados, usando o sistema de classificação Nursing Outcomes Classification (taxonomia NOC) e, por último, é proposta a implementação da assistência de enfermagem segura e individualizada para a pessoa do caso em questão. A utilização da SAE contribui para uma assistência mais segura ao paciente por promover um cuidado individualizado centrado no indivíduo e na sua família, não apenas na doença, mas voltado para a eficiência dos resultados, prevenindo erros e repetições desnecessárias e melhorando a comunicação entre os membros da equipe, o paciente e a família. O método científico que utilizamos para realização da SAE é o Processo de Enfermagem, que corresponde a um instrumento que provê um guia sistematizado para o desenvolvimento de um estilo de pensamento direcionador dos julgamentos clínicos necessários para o cuidado de enfermagem. O Processo de Enfermagem é composto por cinco fases. A primeira é a Investigação, que consiste na coleta de dados ou histórico de enfermagem, momento em que são realizados entrevista e exame físico, procurando evidências do funcionamento anormal ou de fatores de risco que possam contribuir para os problemas de saúde. Na segunda fase, o Diagnóstico de Enfermagem, são identificados, após análise dos dados coletados na primeira fase, os problemas vigentes ou potenciais, que constituem a base para a seleção de intervenções de enfermagem e dos resultados esperados pelos quais o enfermeiro é responsável. A terceira fase é o Planejamento da Assistência, que consiste na determinação das prioridades que serão o foco do enfermeiro, definindo quais serão delegadas e quais serão encaminhadas, com a determinação das intervenções de enfermagem e o estabelecimento dos resultados esperados (metas), além do prazo para tal. A quarta fase é a Implementação da Assistência de Enfermagem, isto é, a real prestação de cuidados de enfermagem através das prescrições de enfermagem (quem realiza o cuidado prescrito deve registrar na anotação de enfermagem). A quinta e última fase é a Avaliação, que determina se os resultados desejados foram atingidos ou se são necessárias modificações; é registrada na forma de Evolução de Enfermagem. Os sistemas de classificação em enfermagem são instrumentos tecnológicos que nos fornecem uma linguagem padronizada (taxonomia) a ser utilizada no processo de enfermagem e na documentação da prática profissional. 11 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Para a fase diagnóstica do processo de enfermagem, utilizamos o sistema de classificação de diagnósticos de enfermagem da North American Nursing Diagnosis Association – International (Nanda‑I), que conceitua diagnóstico de enfermagem como um julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais. Elaborar um diagnóstico de enfermagem requer análise, síntese e acurácia ao interpretar e fazer com que dados clínicos complexos tenham sentido, isto é, processo de pensamento crítico que permite ao enfermeiro tomar decisões quanto aos resultados esperados do paciente e às intervenções necessárias para ajudar a obter esses resultados. Um dos tipos de diagnóstico de enfermagem apresentados nessa taxonomia é o real, que descreve respostas humanas a condições de saúde/processos vitais que existem em um indivíduo, família ou comunidade. É sustentado pelas características definidoras (manifestações clínicas ou sinais e sintomas) e o fator relacionado, a causa do problema ou fator etiológico. Outro tipo de diagnóstico de enfermagem é o de risco, que descreve respostas humanas a condições de saúde/processos vitais que podem desenvolver‑se em um indivíduo, família ou comunidade vulneráveis. É sustentado por fatores de risco que contribuem para uma vulnerabilidade aumentada. Também temos os diagnósticos de enfermagem de bem‑estar, que descrevem respostas humanas a níveis de bem‑estar em um indivíduo, família ou comunidade que tem um potencial de aumento para um estado mais alto. Assim, os elementos estruturais de um diagnóstico de enfermagem da Nanda consistem na definição do diagnóstico, nas características definidoras e nos fatores relacionados. O uso do diagnóstico de enfermagem oferece aos enfermeiros uma linguagem comum para a identificação dos problemas do paciente e proporciona a base para a seleção de intervenções de enfermagem para atingir resultados pelos quais o enfermeiro é responsável (etapa de planejamento da assistência de enfermagem). Para a fase de planejamento da assistência de enfermagem, utilizamos o sistema de classificação das intervenções de enfermagem NIC (Nursing Interventions Classification) e o sistema de classificação de resultados de enfermagem NOC (Nursing Outcomes Classification). Para a seleção de intervenções de enfermagem, devemos levar em conta as características definidoras do diagnóstico de enfermagem, o resultado esperado para o cliente/paciente, a viabilidade da execução da intervenção e a aceitação da intervenção pelo cliente/paciente. A classificação inclui intervenções que os enfermeiros realizam de forma independente ou colaborativa no cuidado direto ou indireto dos clientes. Para a seleção de resultados de enfermagem, devemos levar em consideração as características definidoras, os fatores relacionados ao diagnóstico de enfermagem que foram estabelecidos e as características do cliente que podem afetar o alcance dos resultados – nos casos serão apresentados os resultados NOC (Nursing Outcomes Classification) para mensurar a resolução dos diagnósticos de enfermagem. 12 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Exemplo de como classificar um NOC: o autocontrole da doença crônica pode ser definido como as ações pessoais para controlar uma doença crônica, seu tratamento e prevenção da progressão da doença e suas complicações. Ao classificar o diagnóstico de enfermagem falta de adesão avaliamos que a capacidade de autocontrole da doença crônica está prejudicada. Essa classificação é feita através de uma escala de Likert, que vai de 1 a 5 (1 = nunca demostrado, 2 = raramente demostrado, 3 = algumas vezes demostrado, 4 = frequentemente demostrado, 5 = consistentemente demostrado). Na primeira consulta, a capacidade de autocontrole da doença crônicapode estar em 1 e o enfermeiro, a partir das orientações e da sensibilização do paciente para o autocuidado, propõe a meta do resultado para 3. Deve‑se lembrar que mudar um comportamento ou um hábito de vida é muito difícil e não devemos impor uma alta expectativa de mudança num primeiro momento, pois isso pode frustrar tanto a nós quanto ao paciente, podendo até fazer com que o paciente não volte e abandone o tratamento. Assim, mensurar os resultados e identificar os progressos do cliente/paciente ao logo do tempo fornece uma ferramenta para mensurar a qualidade do cuidado prestado ao cliente. 13 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Unidade I 1 ATENÇÃO PRIMÁRIA: PROCESSO DE ENVELHECIMENTO COM PREVENÇÃO E TRATAMENTO DE LESÕES POR PRESSÃO O caso que será apresentado para realizar a SAE é de uma senhora de 72 anos com vários problemas identificados durante a consulta de enfermagem. Para realizar o raciocínio crítico, o julgamento diagnóstico e planejar a assistência no sentido de atingir os resultados esperados, vamos rever a fundamentação científica sobre o processo do envelhecimento e a prevenção de lesão. O envelhecimento engloba alterações no curso da vida comum a todas as pessoas, alterações essas que envolvem componentes biológicos, sociais e psicológicos. A idade cronológica da pessoa nem sempre é indicativa da idade biológica, e as alterações relacionadas à idade são modificadas por ambiente, cultura, raça, etnia, hereditariedade e eventos patológicos. Observação A capacidade de manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente e autônoma é chamada de capacidade funcional. Estudos revelam que cerca de 40% dos indivíduos com 65 anos ou mais precisam de algum tipo de ajuda e 10% requerem auxílio para realizar tarefas básicas. A dependência física e a mental constituem fatores de risco significativos para mortalidade, mais relevantes até que a própria doença que levou à dependência. Nem todo o dependente perde a autonomia, mas a dependência mental é a que mais leva à perda da autonomia. No período de 1950 a 2025, segundo projeções da OMS (IBGE, [s.d.]), no Brasil o grupo de idosos deverá ter um aumento de 15 vezes, enquanto a população total em cinco, ocupando o sexto lugar quanto ao contingente de idosos, sendo a diminuição da fecundidade a partir dos anos 1960 o principal contribuinte para esse fato. Também temos um aumento da expectativa de vida, que nos anos 1950 era de 43,2 anos e, em 2000, passou para 68,5 anos. As mulheres idosas superam o número de homens idosos em duas a três vezes, sendo problemas relacionados à viuvez: viver sozinho, enfrentar a perda do companheiro, dificuldade de encontrar outra companhia, falta de um cuidador e problemas financeiros. A Lei nº 8.842 (BRASIL, 1994) define a atuação do governo, indicando as ações específicas das áreas envolvidas e buscando criar condições para que sejam promovidas a autonomia, a integração e 14 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I a participação do idoso na sociedade, assim consideradas as pessoas com 60 anos ou mais, conforme consta no Estatuto do Idoso – descrito na Lei 10.741 de 1º de outubro de 2003 (BRASIL, 2003). O Estatuto do Idoso (BRASIL, 2003) destina‑se a regular os direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Em seus artigos relata‑se que o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo assegurado, por lei ou outros meios, todas as oportunidades e facilidades para a preservação da sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Também define que é obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à educação, à alimentação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Porém, em nossa sociedade, ainda existe preconceito em relação ao idoso, havendo atitudes e estereótipos contra pessoas por causa de sua idade. Um exemplo de estereótipo é a visão das pessoas idosas como dependentes, inúteis, vulneráveis, dementes ou carentes de assistência. Atitudes negativas também incluem não valorizar opiniões e contribuições dos idosos, tratá‑los com desrespeito, ignorá‑los ou subestimá‑los. O preconceito pode afetar a atitude dos profissionais e o cuidado: por exemplo, encarar o envelhecimento como uma experiência negativa ou como um inevitável declínio cognitivo e físico influenciará os cuidados de enfermagem. As alterações biológicas relacionadas ao processo de envelhecimento normal envolvem vários sistemas. • Sistema cardiovascular: ocorre a diminuição do débito cardíaco, o aumento da pressão sanguínea e da resistência vascular. • Sistema respiratório: ocorre diminuição da capacidade vital, da troca gasosa e da eficiência da tosse. • Sistema genitourinário: a redução do fluxo sanguíneo renal, hiperplasia da próstata e relaxamento dos músculos perineais. • Sistema gastrointestinal: ocorre diminuição na salivação, retardo no esvaziamento do esôfago e estômago, redução da motilidade intestinal e retardo na liberação da insulina. • Sistema musculoesquelético: acontece minoração da massa óssea, muscular e da altura, havendo também degeneração da cartilagem articular. • Sistema tegumentar: ocorre diminuição da espessura epiderme‑derme e da elasticidade, há redução da secreção de sebo pelas glândulas sebáceas e do número de glândulas sudoríparas, além da diminuição do leito vascular com fragilidade dos vasos sanguíneos. Assim, a pele é considerada um dos órgãos que mais sofre transformações à medida que a idade avança. A integridade cutânea é importante para que o organismo mantenha a barreira de proteção ao meio externo, defendendo‑se das diversas agressões. Tal fato evidencia a necessidade 15 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO de cuidados específicos para a pele do idoso que atendam às alterações do sistema tegumentar e mantenham sua integridade. Quando ocorre ruptura da pele, temos uma ferida que é definida como qualquer lesão em tecidos epitelial, mucosa ou órgãos que provoquem prejuízo das suas funções. A cicatrização é a transformação do tecido de granulação em tecido cicatricial, sendo a cicatriz a etapa final do processo curativo da ferida. A cicatrização envolve três fases: • Primeira fase: resposta inflamatória ou exsudativa, caracterizada por sinais de inflamação (dor, calor, rubor, edema) e perda da função, mediada por leucotrienos G para realizar a limpeza do leito da ferida, fator ativador das plaquetas para a hemostasia, serotonina e histamina para vasodilatação com aumento da permeabilidade vascular e estimulação das fibras nervosas. Essa fase se estende de um a seis dias. • Segunda fase: resposta proliferativa, essa fase se estende de dois a 24 dias e se inicia com a formação do tecido de granulação, um tecido conjuntivo muito vascularizado (grânulos). Assim, nessa fase ocorre a angiogênese e fibroblastos sintetizam colágeno. O tecido de granulação é vermelho brilhante com nódulos violáceos. Também nessa fase ocorre a contração, relacionada à presença dos fibroblastos que liberam miosina e actínia, diminuindo o tamanho da lesão e o tempo de cicatrização. A epitelização é a última etapa da fase proliferativa, consistindo na multiplicação e na migração das células epiteliais das bordas para o centro da ferida, durante o processo cicatricial. Representa a primeira cicatriz, e o epitélio novo possui aspecto róseo. • Terceira fase: maturação, essa fase se estende por até dois anos ou mais, ocorrendodiminuição da permeabilidade capilar, reorganização do colágeno e formação da cicatriz (que, no início clara e plana, vai se tornando mais rígida e escurecida com o depósito de colágeno, para, então, com o passar do tempo, ficar mais clara, menos rígida e mais plana). Temos uma cicatriz hipertrófica quando existe deposito anormal de grande quantidade de colágeno. As feridas são classificadas em quatro estágios de acordo com o comprometimento tecidual: • Estágio I: ocorre o comprometimento da epiderme, com formação de eritema em pele íntegra e sem perda tecidual. • Estágio II: caracterizado por abrasão ou úlcera, ocorre perda tecidual e comprometimento da epiderme, derme ou ambas. • Estágio III: ocorre presença de úlcera profunda, com comprometimento total da pele com necrose de tecido subcutâneo. • Estágio IV : ocorre extensa destruição do tecido, chegando a ocorrer lesão óssea ou muscular. 16 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I Úlcera é a perda delimitada de estruturas da pele, ocorrendo em diferentes estágios de acordo com o comprometimento tecidual. As causas podem ser a estase venosa, gerando a úlcera venosa, vasculopatias, causando a úlcera arterial e neuropatias (como a diabética), causando a úlcera neuropática ou pé diabético. A úlcera ou lesão por pressão é uma lesão localizada na pele e/ou tecido subjacente, normalmente sobre uma proeminência óssea submetida à pressão contínua do peso do paciente, cisalhamento e umidade no tecido, causando um processo de isquemia e morte celular. Observação Cisalhamento é a deformação que sofre a pele quando sujeita à ação de forças cortantes, durante a mobilização do paciente em que este é arrastado e não erguido. Quadro 1 – Avaliação de risco de lesão ou úlcera por pressão (Escala de Braden) Percepção sensorial Umidade da pele Atividade física Mobilidade Nutrição Fricção/cisalhamento Não prejudicada (4) Livre de umidade (4) Caminha com frequência (4) Sem limitação (4) Excelente (1) Movimentos independentes (3) Pouco limitada (3) Umidade ocasional (3) Caminha ocasionalmente (3) Pouca limitação (3) Adequada (3) Pequena ou mínima dependência (2) Muito limitada (2) Úmida (2) Senta‑se com ajuda (2) Muito limitado (2) Inadequada(2) Moderada ou máxima dependência (1) Completamente limitada(1) Umidade constante(1) Acamado (1) Imóvel (1) Pobre (1) – Fonte: Prefeitura Do Município De São Paulo ([s.d.], p. 20). A relação entre a pontuação e o grau de risco de lesão por pressão se dá da seguinte forma: • maior ou igual a 16: baixo risco; • de 11 a 15: risco moderado; • menor que 11: alto risco. São cuidados específicos para a prevenção de lesão por pressão: • fazer avaliação diária da pele de pessoas com maior risco; • manter a pele limpa e hidratada, utilizando água morna e produtos neutros; 17 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO • proporcionar posicionamento adequado e uso de técnicas para transferência e mudança de decúbito; • realizar mudança de decúbito pelo menos a cada duas horas; • manter a posição lateral a 45º (e não a 90º), evitando proeminências ósseas; • usar proteções em proeminências ósseas e colchão especial; • aliviar a pressão a cada 15 minutos erguendo o paciente, quando sentado ou sendo cadeirante; • avaliar aceitação da dieta e, se necessário, utilizar suplementos alimentares. Lembrete A pontuação abaixo de 16 na escala de Braden significa que o indivíduo tem risco de moderado a alto de desenvolver lesão por pressão, sendo necessária a implementação de cuidados específicos para sua prevenção. Na ocorrência de feridas/úlceras, devemos avaliá‑las em relação a três fatores: • Diâmetro: comprimento, largura e profundidade da ferida, para acompanhar a evolução do tratamento. • Tecido no leito da ferida: de granulação, que consiste em tecido vitalizado (composto de tecido conjuntivo que irá preencher o leito da ferida para a cicatrização) ou tecido desvitalizado (o qual deve ser retirado para ocorrer o fechamento da ferida, pois consiste de um tecido morto que irá prejudicar o crescimento do tecido de granulação). • O tipo e quantidade de exsudato: o tipo de exsudato nos informa se existe infecção no local e como está o processo inflamatório. Os tipos de exsudato são seroso (aspecto claro, mais favorável ao processo de cicatrização), purulento com odor fétido (significa processo infeccioso) e sanguinolento (presença de sangramento). Uma quantidade excessiva prejudica a cicatrização em andamento. Para tratamento das feridas/úlceras, utilizamos o curativo, que consiste em um meio terapêutico com aplicação de uma cobertura estéril sobre uma ferida previamente limpa. O curativo tem como finalidades evitar a contaminação em feridas limpas, reduzir a infecção nas feridas contaminadas, facilitar a cicatrização, remover as secreções, proteger a ferida e diminuir a dor. As indicações terapêuticas para o tratamento de feridas são realizadas conforme a avaliação do tecido no leito da ferida e do exsudato. Assim, para feridas com tecido de granulação ou para prevenção de lesões, é indicada a cobertura de hidrocoloide, que consiste em espuma de poliuretano externa mais gelatina, pectina e carboximetilcelulose sódica interna. Esse produto estimula a angiogênese, sendo contraindicado para feridas infectadas e queimaduras de 3° grau. A troca deve ocorrer sempre que o 18 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I gel extravasar ou a cada sete dias, deixando uma margem de 3 cm além da ferida, não necessitando cobertura. Também pode ser usado para feridas com tecido de granulação ou para prevenção de lesões o ácido graxo essencial (AGE), Dersani (ácido linoleico), que promove quimiotaxia (atração de leucócitos), angiogênese, mantém o meio úmido e acelera o processo de granulação tecidual. A troca é diária e necessita de cobertura. Para feridas com tecido desvitalizado é indicado o hidrogel, realizando o desbridamento autolítico (hiper‑hidratação do tecido sem manter excesso de umidade para não proliferar microorganismos) e a hidratação das fibras nervosas. A troca é diária e necessita de cobertura. Também pode‑se utilizar a papaína, que se trata de um complexo de enzimas proteolíticas retirado do látex do mamão papaia, capaz de realizar o desbridamento enzimático. A troca é diária e necessita de cobertura. Para feridas sangrantes e altamente exsudativas, com exceção de lesões por queimaduras, deve‑se usar o alginato de cálcio, que consiste em fibras derivadas de algas marinhas com grande poder de absorção. A troca ocorre quando for atingida a capacidade de absorção e necessita de cobertura secundária. Para feridas infectadas é indicada a placa de carvão ativado, que absorve o exsudato, atrai os microrganismos e filtra o odor. Deve‑se ressaltar que o carvão ativado não pode ser cortado para não ocorrer liberação do carvão na lesão e que a troca se dá entre 24 e 72 horas, de acordo com a capacidade de absorção, avaliando‑se sempre a ferida. É necessário cobertura secundária. Observação Um bom curativo deve fornecer isolamento térmico, proteção mecânica, diminuir o tempo da troca, manter o meio úmido para cicatrização, ser absorvente, impermeável e aceito pelo paciente. Assim, o melhor curativo é aquele que mais se assemelha à pele. Saiba mais O material indicado a seguir é uma ótima fonte para estudo e resolução de caso. PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO. Secretaria Municipal de Saúde. Comissão de Prevenção e Tratamento de feridas – Cogest. Atenção à saúde: protocolo de prevenção e tratamento de feridas. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: <www.ee.usp.br/departamento/ens/sel/protocol_feridas. pdf>. Acesso em: 18 out. 2017. 19 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO 1.1 Consulta de enfermagem em unidade básica de saúde (UBS): saúde do idoso Passou em consulta de enfermagem uma senhora de 72 anos com história de queda da própria altura em sua residência, fraqueza, tontura, perda de 7 kg em 2 meses após morte do marido, pele e mucosas secas, turgor diminuído, sentindo‑se sozinha, chora ao falar no marido, mostra sinais de nervosismo e inquietação durante a entrevista, já não consegue andar sem auxílio, tem temperatura de 38 ºC, pressão arterial (PA) de 80 mmHg x 50 mmHg, pulso de 56 bpm. Apresenta lesão por pressão em região sacral diâmetro 5 x 3 x 1 cm, com tecido desvitalizado e pequena quantidade de secreção amarelada sem odor fétido. Relata que se sente sozinha e desamparada, não consegue permanecer dormindo, não tem vontade de comer e sabe que vai adoecer caso não se alimente, mas demonstra interesse na melhoria da situação em que se encontra. Quadro 2 – Diagnósticos de enfermagem identificados de acordo com os dados de enfermagem coletados no caso da senhora de 72 anos Dados de enfermagem Diagnóstico de enfermagem Características definidoras Fator relacionado/risco História de tombo da própria altura, fraqueza, tontura, não consegue andar sem auxílio Risco de quedas/ mobilidade física prejudicada Alterações na marcha História de quedas, fraqueza, tontura intolerância à atividade Pele e mucosa secas, turgor diminuído, temperatura de 38 ˚C, pressão arterial (PA) diminuída e pulso aumentado Volume de líquido deficiente Turgor da pele diminuído, pele e mucosa secas, pulso >, PA < Falha dos mecanismos reguladores Sinais de nervosismo e inquietação. Sente‑se sozinha e desamparada, chora ao falar no marido Ansiedade Preocupações expressas devido a mudanças em eventos da vida, insônia, nervosismo Ameaça de mudança na função do papel e nos padrões de interações Lesão por pressão em região sacral com diâmetro de 5 x 3 x 1 cm, com tecido desvitalizado e pequena quantidade de secreção amarelada sem odor fétido. Integridade da pele prejudicada Rompimento da superfície da pele Mudança no estado hídrico, turgor, nutrição desequilibrada Temperatura de 38 ºC Hipertermia Aumento da temperatura corporal acima dos parâmetros normais Desidratação Demonstrou interesse na melhoria da situação em que se encontra, sabe que vai adoecer caso não se alimente Disposição para esperança melhorada Expressa desejo de reforçar o sentimento à vida ‑ Perdeu 7 kg e não tem vontade de comer Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais Relato de ingestão inadequada de alimentos menos que a porção diária recomendada (PDR) Incapacidade para ingerir nutrientes causada por fatores psicológicos 20 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I Quadro 3 – Resultados esperados e intervenções de enfermagem de acordo com os diagnósticos de enfermagem no caso da senhora de 72 anos Diagnóstico de enfermagem Resultado esperado (NOC) Intervenções de enfermagem (NIC) Risco de quedas/mobilidade física prejudicada Conhecimento sobre prevenção de quedas/ambiente domiciliar seguro 1) Prevenção de quedas 2) Controle do ambiente: segurança 3) Terapia com exercícios: equilíbrio e transporte Volume de líquido deficiente Equilíbrio de líquido 1) Controle de líquido 2) Monitorização de líquido Ansiedade Enfrentamento 1) Facilitação do pesar 2) Suporte emocional 3) Relaxamento muscular 4) Técnicas para acalmar 5) Terapia de grupo Integridade da pele prejudicada Integridade tissular: pele e mucosas 1) Cuidados com lesões por pressão 2) Controle de pressão 3) Supervisão da pele Hipertermia Termorregulação 1) Tratamento da febre 2) Monitorização dos sinais vitais (SSVV) 3) Banho Disposição para esperança melhorada Bem‑estar pessoal/resolução do pesar 1) Promoção de esperança 2) Comunicação terapêutica Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais Estado nutricional 1) Assistência para ganhar peso 2) Planejamento da dieta Quadro 4 – Prescrição de enfermagem de acordo com os diagnósticos de enfermagem identificados no caso da senhora de 72 anos Diagnósticos de enfermagem Prescrição de enfermagem Risco de quedas/ mobilidade física prejudicada 1. Orientar sobre o perigo de outros acidentes 2. Atenção quanto ao uso de sapato apropriado para esse momento 3. Uso de apoio ao caminhar 4. Evitar movimentação brusca 5. Realizar exercícios ativos e passivos de membros inferiores (MMII) 6. Realizar caminhadas diariamente, conforme o tolerado, com acompanhamento (grupo de caminhada) Volume de líquido deficiente 1. Orientar sobre a importância da ingestão hídrica de 2.000 ml/dia 2. Utilizar para ingestão hídrica água, suco da preferência ou chá claro 3. Orientar a observação das eliminações vesical e intestinal 4. Hidratar a pele após higiene corporal 21 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Ansiedade 1. Estimular a participação em grupos afins (grupo de terceira idade, grupo religioso, grupo de artesanato etc.) 2. Estimular diálogo com familiares, vizinhos e amigos 3. Participar de terapia ocupacional 4. Orientar a realizar técnicas de relaxamento antes de dormir Integridade da pele prejudicada 1. Realizar curativo com jato de soro fisiológico (SF) 0,9% aquecido, cobrir com hidrogel, utilizar cobertura secundária e anotar aspecto 2. Orientar a não ficar na mesma posição por mais de duas horas consecutivas 3. Realizar higiene íntima após evacuações 4. Hidratar a pele após o banho com AGE 5. Utilizar coxins nas proeminências ósseas Hipertermia 1. Orientar a ingestão de líquido 2. Retirar o excesso de roupas 3. Realizar banho morno 4. Utilizar medicamento antipirético conforme prescrição Disposição para esperança melhorada 1. Auxiliar na identificação de razões que contribuam para aumentar a esperança de vida 2. Envolver ativamente no próprio cuidado 3. Encorajar relações com pessoas importantes 4. Introduzir em grupo de apoio Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais 1. Estimular a ingestão alimentos de sua preferência 2. Realizar refeições de forma fracionária de duas em duas horas 3. Ingerir alimentos ricos em carboidratos e proteínas 4. Orientar o autoconhecimento sobre suas necessidades nutricionais 2 ATENÇÃO PRIMÁRIA: PROCESSO DE ENVELHECIMENTO COM DOENÇA CRÔNICA NÃO TRANSMISSÍVEL (DCNT) – HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA (HAS) O caso que será apresentado para realizar a SAE é de uma senhora de 80 anos portadora de HAS com vários problemas decorrentes dessa patologia, identificados durante a consulta de enfermagem. Para realizar o raciocínio crítico, o julgamento diagnóstico e planejar a assistência no sentido de atingir os resultados esperados, vamos rever a fundamentação científica sobre o processo do envelhecimento com DCnT–HAS. Envelhecer sem nenhuma doença crônica é uma exceção, no entanto, não significa que o idoso não possa gerir sua própria vida de forma independente. Idoso saudável é aquele que não necessita de ajuda mesmo que seja portador de doença crônica. Assim, o envelhecimento pode ser definido como um processo biológico no qual ocorrem alterações das características morfológicas e fisiológicas no organismo ao longo do tempo. Aproximadamente 80% dos idosos têm pelo menos uma doença crônica, como diabetes, doenças cardíacas, artrites, entre outras. A hipertensão arterial sistêmica é o principal problema de saúde e programas que ajudem o idoso a desenvolver estilos de vida saudáveis e a aprender a viver bem com a doença crônica auxiliam a diminuir o seu impacto e a prevenir complicações. 22 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I As doenças mentais mais comuns são as demências(causadas principalmente por Alzheimer), isquemias cerebrais, alcoolismo e depressão. Problemas comuns relacionados ao idoso são a osteoporose, quedas, déficit auditivo, lesão por pressão, desidratação e constipação. A incidência de doenças agudas no idoso é menor, porém, quando presentes, requerem longos períodos de recuperação e costumam provocar mais complicações. O idoso consome mais serviços de saúde, suas internações são mais frequentes e longas do que na população em geral, porém esse custo não é revertido em seu benefício, pois a abordagem é focada na queixa principal, não sendo avaliado o psicossocial. Ações preventivas, assistenciais e de reabilitação devem objetivar a melhoria da capacidade funcional ou sua manutenção ou recuperação. A internação em casas de repouso, asilos e similares está sendo questionada até em países desenvolvidos, pois, em termos de custo/benefício, não se trata de um investimento muito favorável, e ainda existem as dificuldades relacionadas a sua manutenção. O número crescente de divórcios, de segundos (ou terceiros) casamentos, a migração de jovens em busca de mercados mais promissores e o aumento de famílias em que a mulher exerce o papel de chefe são situações que dificultam à família continuar a ser considerada o sistema mais efetivo de apoio aos idosos, gerando a necessidade de avaliação de um suporte informal a eles na sociedade brasileira. O apoio ao idoso no Brasil ainda é precário, uma atividade considerada preponderantemente restrita ao âmbito familiar. O apoio informal à família constitui um dos aspectos da atenção à saúde do idoso. O Estado deve exercer seu papel de promoção, proteção e recuperação nos três níveis de gestão do SUS, otimizando o suporte familiar sem transferir para a família toda a responsabilidade. A assistência domiciliar aos idosos, cuja capacidade funcional está comprometida, demanda programas de orientação, informação e assessoria de especialistas. Assim, a dependência gera um alto custo social e familiar, além dos custos de saúde, compensando o investimento na assistência domiciliar, além de proporcionar a melhoria da qualidade de vida do idoso. No caso mencionado anteriormente, a idosa é portadora de hipertensão arterial sistêmica. Segundo a 7ª Diretriz Brasileira De Hipertensão Arterial (SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 2016, p. 1), hipertensão arterial (HA) é Condição clínica multifatorial caracterizada por elevação sustentada dos níveis pressóricos ≥ 140 e/ou 90 mmHg. Frequentemente se associa a distúrbios metabólicos, alterações funcionais e/ou estruturais de órgãos‑alvo, sendo agravada pela presença de outros fatores de risco (FR), como dislipidemia, obesidade abdominal, intolerância à glicose e diabetes melito (DM). Mantém associação independente com eventos como morte súbita, acidente vascular encefálico (AVE), infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC), doença arterial periférica (DAP) e doença renal crônica (DRC), fatal e não fatal. 23 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Observação Pressão arterial (PA) é a força exercida pelo sangue no interior das artérias, sendo influenciada pelo volume sistólico (VS) e pela resistência vascular periférica (RVP). PA = VS x RVP A RVP é determinada pelo tônus da musculatura vascular, pelo diâmetro dos vasos sanguíneos, pela viscosidade do sangue e pela elasticidade do vaso. A pressão sistólica (PAS) é a pressão no sistema arterial quando os ventrículos estão contraídos (isto é, durante a sístole). Já a pressão diastólica (PAD) reflete a pressão remanescente no interior das artérias quando os ventrículos estão relaxados (isto é, durante a diástole). Tabela 1 – Classificação da PA de acordo com a medição casual (ou no consultório) para pacientes a partir de 18 anos de idade Classificação PAS (mm Hg) PAD (mm Hg) Normal ≤ 120 ≤ 80 Pré‑hipertensão 121–139 81–89 Hipertensão estágio 1 140–159 90–99 Hipertensão estágio 2 160–179 100–109 Hipertensão estágio 3 ≥ 180 ≥ 110 Fonte: Sociedade Brasileira de Cardiologia (2016, p. xx). As causas da HAS são a doença hipertensiva, porém os problemas renais, cardíacos e de tireoide também causam hipertensão arterial secundária. Os principais fatores de risco estão designados a seguir. • Histórico familiar de hipertensão: filhos com um dos pais hipertenso apresentam 25% de chances de desenvolver a doença (se o pai e a mãe forem hipertensos, a probabilidade aumenta para 60%). • Dieta rica em sal: o sódio presente no sal faz o corpo reter líquido, elevando a carga sobre o coração e aumentando o risco de hipertensão arterial. O brasileiro consome cerca de 12 g/dia de sal, este valor é bem acima do recomendado pela Sociedade Brasileira de Hipertensão. Segundo a Organização Mundial de saúde, os adultos deveriam consumir menos de dois gramas de sódio por dia ou menos de cinco gramas de sal. 24 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I • Idade: a PA aumenta linearmente com a idade e a maioria dos casos é diagnosticada após os 40 anos. • Fatores socioeconômicos: nível mais baixo está associado à maior prevalência e a fatores de risco. • Sedentarismo: aumenta o risco de HAS; manter atividade física com regularidade, por sua vez, diminui esse risco. • Gênero e etnia: a hipertensão é mais comum em pessoas negras, principalmente mulheres, com a HAS aparecendo mais cedo e evoluindo mais rápido. • Álcool: consumir bebidas alcoólicas com regularidade e de forma abusiva pode provocar um aumento na pressão arterial. • Anticoncepcionais orais: aumentam o risco de HAS, sendo indicado interromper seu uso caso tenha início um quadro de HAS. • Obesidade: predispõe à HAS, sendo responsável por 20% a 30% dos casos. Sabe‑se que há um maior risco quando o índice de massa corpórea (IMC) é maior que (ou igual a) 30 kg/m2, e (ou) a circunferência abdominal é maior que (ou igual a): 102 cm nos homens e 88 cm nas mulheres. A redução de peso pode diminuir a PAS de 5 mmHg a 20 mmHg, para cada 10 kg de peso perdido. • Colesterol: o risco é maior quando a taxa de LDL é superior a 115 mg/dl. • Resistência à insulina aumenta o risco de HAS e, para sua identificação, temos exames como o de glicemia plasmática em jejum, havendo aumento de risco quando acima de 100 mg/dl (o valor de referência de normalidade entre 70 mg/dl a 99 mg/dL); o exame de teste oral de tolerância à glicose, acima de 140 mg/dl em duas horas (com valor de referência de normalidade entre 70 mg/ dl a 140 mg/dL); a hemoglobina glicada acima de 5,7% (com valor de referência de normalidade entre 4,5% a 5,6%). • Diabetes melito e lesões em órgão‑alvo: considerados de alto risco cardiovascular independentemente dos valores de pressão arterial. • Pré‑hipertensos: maior probabilidade de se tornarem hipertensos e maiores riscos de desenvolvimento de complicações cardiovasculares quando comparados a indivíduos com PA normal, necessitando, por isso, de acompanhamento periódico. O aumento da pressão arterial normalmente é assintomático, ocasionando uma baixa aderência ao tratamento. Por isso, é responsabilidade do enfermeiro assistir essa pessoa, sensibilizando‑a sobre a necessidade de aderência ao tratamento e de mudança de hábitos de vida, a fim de manter os níveis pressóricos dentro da normalidade e evitar complicações futuras. As complicações agudas da HAS são decorrentes das crises hipertensivas (elevação significativa da pressão arterial), podendo chegar a emergências hipertensivas com lesões agudas e graves na 25 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO microcirculação, sendo exemplos dessas lesões o acidente vascular cerebral (AVC) com lesão grave na microcirculação cerebral e o infarto agudo do miocárdio (IAM) com lesão gravenas coronárias. As complicações crônicas da hipertensão arterial sistêmica ocorrem por lesões na microcirculação decorrentes do aumento crônico da pressão nesses vasos. Alguns exemplos são insuficiência renal crônica, demência vascular e retinopatia hipertensiva. Uma das principais complicações crônicas é a insuficiência cardíaca, causada pelo esforço crônico do coração ao bombear o sangue contra uma pressão aumentada, levando à hipertrofia e à dilatação da musculatura cardíaca. Lembrete A manutenção dos níveis pressóricos dentro da normalidade é importante no acompanhamento do cliente hipertenso para evitar as complicações irreversíveis da HAS. Nesse caso, cabe ao enfermeiro, como educador em saúde, sensibilizar esse cliente para a mudança de hábitos de vida e para a aderência ao tratamento de um problema que, muitas vezes, não causa sintomas. Saiba mais Para saber mais sobre o assunto, consulte o material indicado a seguir. SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA. VII Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, Rio de Janeiro, v. 107, n. 3, p. 1‑83, 2016. 2.1 Consulta de enfermagem em UBS: idosa com doença crônica não transmissível (DCnT) – hipertensão arterial sistêmica (HAS) A senhora J. F. C., de 80 anos, é portadora de hipertensão arterial sistêmica e reside com a família da filha, que é sua cuidadora. A filha, no entanto, está com dificuldade para cuidar da mãe, relatando que ela é muito teimosa, não quer tomar a medicação e cria muitas brigas, o que está levando a filha a pensar na possibilidade de internar a mãe em uma casa de repouso. A paciente é consciente, mas desorientada com relação a tempo e espaço, falando às vezes palavras desconexas. Apresenta diminuição na acuidade visual e auditiva com boas condições de higiene. Hipocorada +/4+, desidratação leve +/4+, com ressecamento de pele, afebril, eupneica com murmúrio vesicular (MV) presente sem ruídos adventícios (RA). Normotensa, normocárdica, bulhas rítmicas normofonéticas (BRnF) em dois tempos sem sopro (BRnF em 2T s/s). Alimenta‑se com dificuldade, tem índice de massa corpórea (IMC) igual a 17, abdome escavado, indolor à palpação, ruídos hidroaéreos (RHA) diminuídos e evacuação ausente há dois dias, tendo sido regra geral evacuar a cada quatro ou cinco dias, com dor, fezes endurecidas. Apresenta incontinência urinária, 26 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I utilizando fralda com hiperemia na pele em região genital. Deambula com dificuldade, apresenta musculatura hipotrófica, boa perfusão periférica e ausência de edemas. Quadro 5 – Diagnósticos de enfermagem identificados de acordo com os dados de enfermagem coletados no caso da senhora JFC Dados de enfermagem Diagnóstico de enfermagem Características definidoras Fator relacionado/risco Filha com dificuldade de cuidar da mãe, levando‑a a pensar na possibilidade de interná‑la em uma casa de repouso Tensão do papel de cuidador Nervosismo aumentado, apreensão quanto à possível institucionalização do receptor de cuidados Aumento da necessidade de cuidados, padrão de relações ineficazes Desorientada no tempo e espaço, alimenta‑se e deambula com dificuldade Déficit no autocuidado/ nas atividades de vida diária Incapacidade de completar uma refeição, de lavar o corpo e se vestir, alterações na marcha Prejuízo cognitivo e musculoesquelético Diminuição na acuidade visual e auditiva Risco de quedas – Dificuldades na marcha, problemas auditivos e visuais Hipocorada, desidratação leve, IMC 17, abdome escavado, musculatura hipotrófica Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais Relato de ingestão inadequada de alimentos (menos que PDR) Capacidade prejudicada de ingerir os alimentos Uso de fralda com hiperemia na pele em região genital, pele ressecada Risco de integridade da pele prejudicada – Extremos de idade, emagrecimento, mudança no turgor de pele, fatores mecânicos, pele úmida RHA diminuídos, evacuação ausente há dois dias (rotina tem sido evacuar a cada quatro ou cinco dias) Constipação Dor durante a evacuação, com fezes duras e frequência diminuída, mudanças nos ruídos abdominais Desidratação, hábitos alimentares deficientes, fraqueza nos músculos abdominais Quadro 6 – Resultados esperados e intervenções de enfermagem de acordo com os diagnósticos de enfermagem identificados no caso da senhora JFC Diagnóstico de enfermagem Resultado esperado (NOC) Intervenções de enfermagem (NIC) Tensão do papel de cuidador Relacionamento: cuidador/ paciente 1) Melhora do enfrentamento 2) Ensino: processo de doença, dieta e medicamentos 3) Mediação de conflitos Déficit no autocuidado: atividades de vida diária Autocuidado: atividades de vida diária 1) Determinar a necessidade do indivíduo de assistência nas atividades essenciais à vida 2) Determinar a necessidade de mudanças para a segurança do lar 3) Oferecer meios de apoio e auxílio 4) Assistência no autocuidado: atividades essenciais da vida diária (orientar o cuidador) Risco de quedas Conhecimento, prevenção de quedas/ambiente domiciliar seguro 1) Prevenção de quedas 2) Controle do ambiente: segurança 3) Terapia com exercícios: equilíbrio e transporte 27 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais Estado nutricional: ingestão de alimentos e líquidos 1) Assistência para ganhar peso 2) Planejamento da dieta 3) Monitorização de líquidos Risco de integridade da pele prejudicada Controle de riscos 1) Cuidados com repouso no leito 2) Cuidados na incontinência 3) Controle de pressão 4) Cuidados com a pele Constipação Eliminação intestinal 1) Treinamento intestinal 2) Terapia com exercício: controle muscular 3) Controle hidroeletrolítico e nutricional Quadro 7 – Prescrição de enfermagem de acordo com os diagnósticos de enfermagem identificados no caso da senhora JFC Diagnósticos de enfermagem Prescrição de enfermagem Tensão do papel de cuidador 1) Orientação sobre processo de envelhecimento, doença, dieta e medicamentos 2) Encorajar a compreender a perspectiva do idoso em situação estressante 3) Oferecer sistema de apoio 4) Auxiliar o idoso a desfazer ideias errôneas 5) Encorajar o idoso a avaliar seu próprio comportamento Déficit no autocuidado/ atividades de vida diária 1) Orientar o cuidador sobre como auxiliar durante as refeições 2) Ensinar ao cuidador técnicas de transferência e mobilização 3) Ensinar ao cuidador técnicas de higiene e conforto 4) Orientar o cuidador a estimular o idoso a participar do seu autocuidado Risco de quedas 1) Orientar sobre o perigo de outros acidentes 2) Atenção quanto ao uso de sapato apropriado 3) Uso de apoio ao caminhar 4) Evitar movimentação brusca 5) Realizar caminhadas diariamente, conforme o tolerado, com acompanhamento (grupo de caminhada) Nutrição desequilibrada: menor que as necessidades corporais 1) Manter repouso uma hora antes e duas horas após as refeições 2) Estimular e auxiliar a ingestão de alimentos de sua preferência 3) Estimular, auxiliar e anotar a ingestão de líquidos de sua preferência 4) Realizar refeições de forma fracionária (de duas em duas horas) 5) Ingerir dieta hipossódica, com baixo teor de gorduras insaturadas e rica em proteínas de alto valor biológico e carboidratos Risco de integridade da pele prejudicada 1) Orientar a não ficar na mesma posição por mais de duas horas consecutivas 2) Higiene íntima três vezes ao dia e após evacuação (usar pomada de prevenção de assaduras) 3) Utilizar coxins nas proeminências ósseas 4) Hidratar o corpo após banho com AGE 28 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I Constipação 1) Realizar massagem abdominal (sentidocólon ascendente, transverso e descendente) ao acordar 2) Estimular evacuação após desjejum 3) Realizar exercícios ativos e passivos de MMII 4) Estimular consumo de fibras com hidratação adequada Resumo Nesta unidade foram apresentados dois casos clínicos para elaboração da SAE na atenção primária à saúde. Os casos abordaram o processo do envelhecimento (que engloba alterações no curso da vida comum a todas as pessoas, alterações essas envolvendo componentes biológicos, sociais e psicológicos). A idade cronológica da pessoa nem sempre é indicativa da idade biológica. A capacidade de manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente e autônoma é o objetivo da assistência de enfermagem para esse segmento da população. O primeiro caso apresentado foi de uma senhora de 72 anos com vários problemas decorrentes do processo de envelhecimento, incluindo lesões por pressão. Os principais diagnósticos identificados foram ansiedade (evidenciada por sinais de nervosismo e inquietação, referir se sentir sozinha e desamparada e chorar ao falar no marido) e integridade da pele prejudicada (evidenciada por lesão por pressão em região sacral diâmetro 5 x 3 x 1 cm, com tecido desvitalizado e pequena quantidade de secreção). As ações prescritas pelo enfermeiro para esses problemas, com o objetivo de atingir os resultados esperados (NOC), para o diagnóstico de ansiedade foram: 1. estimular a participação em grupos afins (grupos de terceira idade, religiosos, de artesanato etc.); 2. estimular o diálogo com familiares, vizinhos e amigos; 3. participar de terapia ocupacional; 4. orientar a realização de técnicas de relaxamento antes de dormir. Para o diagnóstico de integridade da pele prejudicada: 1. realizar curativo com jato de SF 0,9% aquecido, cobrir com hidrogel, utilizar cobertura secundária e anotar aspecto; 2. orientar a não ficar na mesma posição por mais de duas horas; 3. realizar higiene íntima após evacuações; 4. hidratar pele após o banho com AGE. O segundo caso foi de uma senhora de 80 anos portadora de HAS. Envelhecer sem doença crônica é uma exceção, no entanto, a presença de doença crônica não significa que o idoso não possa gerir sua própria vida de forma independente. O idoso saudável é aquele que não necessita de ajuda mesmo que seja portador de doença crônica, sendo esse o objetivo 29 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 PRÁTICA CLÍNICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO da assistência de enfermagem para idosos. Os principais diagnósticos identificados nesse caso foram tensão do papel de cuidador (evidenciado pela filha com dificuldade de cuidar da mãe, levando‑a a pensar na possibilidade de internar a mãe em uma casa de repouso) e autocuidado para as atividades de vida diária (evidenciado por desorientação com relação a tempo e espaço, alimentação inadequada e deambulação com dificuldade necessitando de ajuda). As ações prescritas pelo enfermeiro para esses problemas, com o objetivo de atingir os resultados esperados (NOC), para o diagnóstico de tensão do papel de cuidador foram: 1. orientação sobre processo de envelhecimento, doença, dieta e medicamentos; 2. auxiliar a compreender a perspectiva do idoso em situação estressante; 3. oferecer sistema de apoio; 4. auxiliar o idoso a desfazer ideias errôneas; 5. encorajar o idoso a avaliar seu próprio comportamento. Para o diagnóstico de déficit no autocuidado atividades de vida diária: 1. orientar ao cuidador como auxiliar durante as refeições; 2. ensinar ao cuidador técnicas de transferência e mobilização; 3. ensinar ao cuidador técnicas de higiene e conforto; 4. orientar o cuidador a estimular o idoso a participar do seu autocuidado. Assim, a SAE foi realizada pautando‑se em evidências científicas, permitindo maior autonomia e melhora da qualidade de vida dessas idosas. Exercícios Questão 1. (FCC/TRT, 2017) Para orientação de familiares quanto aos cuidados com idoso acamado que apresenta úlcera por pressão − UPP na região sacral em estágio I, ao reposicionar o idoso no leito, recomenda‑se: A) Elevar o corpo do idoso ao invés de escorregá‑lo ao longo das superfícies. B) Arrastar o corpo do idoso com uso de lençóis para prevenir lesões osteoarticulares no cuidador. C) Realizar a massagem na área da lesão para melhorar a circulação local. D) Manter o idoso na posição de proclive, para melhorar a drenagem de secreção broncopulmonar. E) Manter a cabeceira do leito elevada com o idoso em posição dorsal, reduzindo o cisalhamento. Resposta correta: alternativa A. 30 Re vi sã o: T ál ita - D ia gr am aç ão : J ef fe rs on - 2 2/ 01 /1 8 Unidade I Análise das alternativas A) Alternativa correta. Justificativa: a elevação do corpo pode ser feita por dispositivo mecânico (cama) ou com o auxílio de forro móvel. B) Alternativa incorreta. Justificativa: deve‑se elevar o corpo do idoso com uso de forro móvel para prevenir lesões; quanto menos se movimentar o corpo do idoso, maior será a prevenção. C) Alternativa incorreta. Justificativa: deve‑se evitar o risco de fricção ou forças de cisalhamento. O paciente deve ser posicionado de forma que seu peso seja distribuído pelo corpo, evitando pontos de pressão; é importante ensinar o paciente e se sentar em uma posição que possibilite tal distribuição de peso. A ferida deve ser limpa diariamente, para haver um controle da carga bacteriana. D) Alternativa incorreta. Justificativa: o correto é manter o idoso em posição elevada para evitar a pressão na ferida. E) Alternativa incorreta. Justificativa: deve‑se manter a cabeceira do leito elevada com o idoso em posição sentada, para evitar forças de fricção ou cisalhamento. Questão 2. (FCC/TRF, 2010) Segundo as V Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial, é considerada hipertensão estágio I quando a pressão sistólica: A) É menor que 120 mmHg e a diastólica menor que 80 mmHg. B) É maior que 130‑135 mmHg e a diastólica menor que 90 mmHg. C) É igual a 139 mmHg e a diastólica igual a 85 mmHg. D) Está entre 140‑159 mmHg e a diastólica entre 90‑99 mmHg. E) É maior ou igual a 140 mmHg e a diastólica menor que 90 mmHg. Resolução desta questão na plataforma.