Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia II TIREOIDE E FÁRMACOS ANTITIREOIDIANOS AULA + GUYTON 12ª ED. A tireoide é uma das maiores glândulas endócrinas do corpo humano e pesa, normalmente, entre 15 e 20 gramas em adultos. Essa glândula secreta dois hormônios principais, a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), relacionados com o metabolismo do organismo. Além deles, as células C parafoliculares da tireoide secretam a calcitonina, um hormônio relacionado ao metabolismo do cálcio. A tireoide é composta por vários folículos preenchidos pela substância secretora chamada de coloide. O coloide é constituído, em sua maior parte, pela tireoglobulina, uma glicoproteína com resíduos do aminoácido tirosina, que, quando sofre o processo de iodação, forma os hormônios T3 e T4. Cerca de 93% dos hormônios metabolicamente ativos secretados pela tireoide consistem em tiroxina (T4), enquanto os 7% restantes correspondem a triiodotironina (T3). No entanto, praticamente todo o T4 é por fim convertido em T3 nos tecidos. O T3 tem maior afinidade pelos receptores dos hormônios da tireoide e é cerca de 4 vezes mais potente que o T4, mas está presente no sangue em menor quantidade, e persiste por tempo muito menor. Dessa forma, o T4 atua como um pró- hormônio, sendo convertido em T3 pela enzima deiodinase, para agir nos tecidos. IODO Para a formação dos hormônios tireoidianos, é necessária a participação do iodo. Para formar quantidade normal de T4, é necessária a ingestão de cerca de 50 mg de iodo na forma de iodeto por ano, ou cerca de 1 mg por semana. O iodeto ingerido por via oral é absorvido pelo trato gastrintestinal para o sangue. A maior parte do iodeto é rapidamente excretada pelos rins, enquanto cerca de 1/5 é removido do sangue circulante pelas células da tireoide e usado para a síntese dos hormônios tireoidianos. BIOSSÍNTESE DOS HORMÔNIOS DA TIREOIDE CAPTAÇÃO DO IODO PELO SIMPORTADOR DE SÓDIO-IODETO (NIS) O simporte de sódio-iodeto (NIS) cotransporta um íon iodeto junto com dois íons sódio, do plasma para a célula. Esse processo de concentração do iodeto na célula é chamado de captação do iodeto. Na glândula normal, a concentração de iodeto gerada pela bomba é cerca de 30 vezes maior que a do sangue. A captação de iodeto pela tireoide é influenciada principalmente pelo TSH, o qual estimula a atividade da bomba de iodeto nas células tireoidianas. O iodeto é transportado para fora das células da tireoide por meio da molécula cotransportadora de íons cloreto-iodeto, chamada de pendrina. Existem fármacos que inibem a captação do iodo pela célula folicular, como os inibidores iônicos Tiocianato, Perclorato e Fluoroborato. OXIDAÇÃO E IODAÇÃO O primeiro estágio essencial na formação dos hormônios tireoidianos é a conversão dos íons iodeto para a forma oxidada do iodo, que é então capaz de se combinar diretamente com a tirosina no interior da tiroglobulina. Nas células da tireoide, o iodo oxidado está associado à enzima peroxidase tireoidiana ou tireoperoxidase, que reduz a duração do processo de ligação do iodo oxidado com os resíduos de tirosina da tiroglobulina. A ligação do iodo com a molécula da tiroglobulina é chamada de organificação. A tirosina é inicialmente iodada para monoiodotirosil (MIT) e, então, para di-iodotirosil (DIT). ACOPLAMENTO DAS IODOTIROSINAS E FORMAÇÃO DA TIROXINA E DA TRIIODOTIRONINA O principal produto hormonal da reação de acoplamento é a molécula de tiroxina (T4), formada quando duas moléculas de di-iodotirosil (DIT) se Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia II unem. A tiroxina permanece como parte da molécula de tiroglobulina. Outra possibilidade é o acoplamento da molécula de monoiodotirosil (MIT) com uma de di-iodotirosil (DIT), formando a triiodotironina (T3), que representa cerca de 1/15 do total de hormônios. A reação de acoplamento entre as iodotirosinas também é catalisada pela enzima peroxidase tireoidiana ou tireoperoxidase. Depois de formados, os hormônios tireoidianos são armazenados nos folículos em quantidade suficiente para suprir as necessidades normais do organismo por 2 a 3 meses. DEGRADAÇÃO DA TIROGLOBULINA E SECREÇÃO DE T3 E T4 Cerca de ¾ da tirosina iodada na tiroglobulina não se torna hormônio, permanecendo como monoiodotirosil (MIT) e di-iodotirosil (DIT). Durante a digestão da molécula de tiroglobulina, causando a liberação do T3 e do T4, essas tirosinas iodadas também são liberadas. Seu iodo é clivado pela enzima deiodinase, que disponibiliza praticamente todo o iodo para a reciclagem da glândula e formação de novas moléculas de hormônios tireoidianos. CONVERSÃO DA T4 EM T3 NOS TECIDOS PERIFÉRICOS Cerca de 93% dos hormônios secretados são formados por tiroxina (T4) e apenas 7% por triiodotironina (T3). Apesar de o T3 ser o hormônio com maior afinidade pelos receptores de hormônios tireoidianos nos tecidos, apenas 20% da produção de T3 é oriunda da tireoide. Isso se deve ao fato de que cerca de 80% do T3 circulante é oriundo do metabolismo do T4 nos tecidos periféricos. Essa conversão do T4 em T3 é feito pela enzima iodotironina deiodinase. Existem três tipos de enzima iodotironina deiodinase, a D1, a D2 e a D3. D1: É a principal enzima que converte o T4 em T3 nos tecidos periféricos, com exceção do sistema nervoso central. Ela é encontrada principalmente no fígado e nos rins. Ela não é regulada pelo nível dos hormônios da tireoide e, portanto, fica suprarregulada no hipertireoidismo. A enzima D1 é inibida pelo fármaco Propiltiouracil, que inibe também a tireoperoxidase, a qual catalisa a formação do T3 e do T4. D2: A enzima D2 está presente principalmente no sistema nervoso central, na tireoide e no tecido adiposo marrom. Por ser regulada pelos níveis de T4, fica infrarregulada no hipertireoidismo. D3: A enzima T3 está presente no sistema nervoso central e, principalmente, na placenta. Ela catalisa a formação de um T3 inativo (RT3), que não interage com o receptor. TRANSPORTE DOS HORMÔNIOS NO SANGUE Ao serem liberados no sangue, cerca de 70% do T3 e do T4 se combinam com a globulina de ligação da tiroxina (TBG). Os outros 15% se ligam à albumina e os outros 10% à pré-albumina ligadora de tiroxina. O hormônio livre, ou seja, não ligado, representa apenas cerca de 0,03% do T4 e 0,3% do T3 do hormônio total do plasma. Devido à alta afinidade pelas proteínas plasmáticas de ligação dos hormônios tireoidianos, essas substâncias são liberadas de forma lenta para as células teciduais. Existem fármacos que aumentam a ligação dos hormônios tireoidianos à globulina de ligação (TGB). Entre eles, estão os estrogênios, o tamoxifeno, os moduladores seletivos dos receptores de estrogênio, a metadona, a heroína, o clofibrato e o 5-fluorouracila. Esses fármacos provocam um aumento no valor do T4 total. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia II Do contrário, outros fármacos reduzem a ligação dos hormônios à TBG. Entre eles, estão os glicocorticoides, os androgênios, a l-asparaginase, a furosemida, os salicilatos, o ácido mefenâmico e os medicamentos anticonvulsivantes como a fenitoína e a carbamazepina. Geralmente, os fármacos que alteram a ligação do hormônio com a proteína transportadora, no hemograma, não alteram a fração livre do hormônio, mas alteram o valor total. Além dos fármacos, alguns fatores sistêmicos também alteram essa ligação. A hepatopatia, a porfiria e a infecção pelo HIV aumentam a ligação com a TBG, enquanto algumas doenças agudas e crônicas diminuem essa ligação. FATORES QUE REGULAM A FUNÇÃO TIREOIDIANA A secreção dos hormônios metabólicos da tireoide é controlada, principalmente, pelo hormônio estimulante da tireoide ou tirotrofina (TSH), secretado pela hipófise anterior.Este, por sua vez, é liberado por meio de segundos mensageiros oriundos do sinal liberado pelo hormônio liberador de tirotrofina (TRH), secretado pelo hipotálamo. Dessa forma, a glândula segue o eixo hipotálamo- hipófise-tireoide, por meio de uma alça de retroalimentação negativa que regula a secreção hormonal. O principal regulador desse eixo é o T3 livre, que atua nas alças de feedback negativo no hipotálamo e na hipófise. O TSH atua na glândula tireoide sobre o receptor do TSH, acoplado à Gs. A ligação desse hormônio ao seu receptor apresenta efeito trófico sobre a glândula, aumenta o seu fluxo sanguíneo, estimula a síntese dos hormônios tireoidianos, aumenta a expressão da enzima tireoperoxidase (que catalisa a formação de T3 e T4) e estimula a liberação dos hormônios. Entre os fatores que podem suprimir a secreção de TSH, estão: glicocorticoides (principalmente de forma aguda e em doses elevadas, como nas pulsoterapias), dopamina/precursores da dopamina/agonistas dopaminérgicos (como a levodopa, a apomorfina e bromocriptina), os próprios hormônios tireoidianos, a dobutamina (simpatomimético, agonista seletivo de receptor beta 1 adrenérgico), as interleucinas, os retinoides (análogos da vitamina A) e os fármacos anticonvulsivantes (como a fenitoína). Esses fármacos têm a tendência de deixar o indivíduo hipotireoideo, devido à supressão do TSH. MEDICAMENTOS QUE INTERFEREM NA FUNÇÃO TIREOIDIANA MEDICAMENTOS QUE ALTERAM A SECREÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Lítio, altas concentrações de iodo, amiodarona (antiarrítmico que contém altas concentrações de iodo) e tionamidas (Metimazol e Propiltiouracil), que são fármacos usados para tratamento do hipertireoidismo. FÁRMACOS QUE DIMINUEM A ABSORÇÃO DA TIROXINA Sulfato ferroso, sucralfato, hidróxido de alumínio (antiácido), orlistat (usado na obesidade, reduz a absorção de gordura no intestino), carbonato de cálcio, antagonistas H2 e inibidores da bomba de prótons. FÁRMACOS QUE AUMENTAM A CONCENTRAÇÃO DE TBG Estrógenos, tamoxifeno (modulador seletivo dos receptores de estrógenos) e metadona. FÁRMACOS QUE DIMINUEM A CONCENTRAÇÃO DE TBG Andrógenos e ácido nicotínico. FÁRMACOS QUE ALTERAM A LIGAÇÃO ÀS PROTEÍNAS Furosemida e salicilatos (AAS). MEDICAMENTOS QUE ALTERAM O METABOLISMO HEPÁTICO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Anticonvulsivantes como o fenobarbital, a fenitoína e a carbamazepina. São indutores do citocromo P450, aumentando o metabolismo da levotiroxina, que perde o seu efeito terapêutico. IODO E A FUNÇÃO TIREOIDIANA Um aporte adequado de iodo, em torno de 150 mg/dia, leva a um funcionamento normal da glândula. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia II Um aporte elevado de iodo causa a inibição da síntese e da liberação de tiroxina. Uma deficiência de iodo causa uma diminuição da síntese de hormônios tireoidianos, com secreção de TSH aumentada e hiperplasia e hipertrofia da tireoide (bócio simples). Essa é uma das principais causas de hipotireoidismo. RECEPTORES TIREOIDIANOS A ação dos hormônios tireoidianos é mediada, em grande parte, pela ligação do T3 aos receptores tireoidianos nucleares. O T3 possui uma afinidade cerca de 20 vezes maior pelos receptores tireoidianos do que o T4. Existem três tipos de receptores: TRα1: está presente nos cardiomiócitos, no músculo esquelético e no intestino. Atua na regulação da temperatura corporal. TRβ1: está presente no fígado e é responsável pelo metabolismo hepático desses hormônios. TRβ2: está presente na hipófise e no hipotálamo, atuando na alça de retroalimentação negativa desses hormônios, além de estar também nos cones da retina e na orelha interna. EFEITOS DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS EFEITOS TERMOGÊNICOS A termogênese resulta do efeito do T3. EFEITOS CARDIOVASCULARES Os hormônios tireoidianos diminuem o tempo de relaxamento diastólico, aumentando a frequência cardíaca – efeito cronotrópico positivo. Isso acontece devido ao aumento da expressão de SERCA2 e do trocador Ca/Na. O SERCA2 captura o cálcio do citoplasma e coloca para dentro do retículo endoplasmático, liberando mais cálcio diante de um potencial de ação. Com o aumento da expressão do SERCA2, o cálcio do citoplasma é recolhido com maior rapidez, o que reduz o tempo de relaxamento diastólico. O trocador Ca/Na ou transportador NCX coloca 1 cálcio para fora em troca de 3 sódios para dentro. Com o aumento da sua expressão, faz a expulsão do cálcio com maior rapidez, diminuindo o tempo da diástole. Os hormônios tireoidianos também aumentam a força de contração do coração – efeito inotrópico positivo – por meio do aumento da expressão de receptores beta-adrenérgicos. Eles também apresentam efeito vasodilatador sobre o músculo liso vascular, por meio da liberação de óxido nítrico, reduzindo a pressão arterial. Em pacientes com hipertireoidismo, os efeitos cardiovasculares incluirão taquicardia, aumento do débito sistólico, aumento do índice cardíaco, hipertrofia cardíaca e redução da resistência vascular periférica. Já em pacientes com hipotireoidismo, os efeitos cardiovasculares incluirão bradicardia, diminuição do índice cardíaco, derrame pericárdico, aumento da resistência vascular periférica e elevação da pressão arterial média. EFEITOS METABÓLICOS Os hormônios tireoidianos estimulam a expressão de receptores hepáticos de LDL-colesterol, diminuindo os níveis de LDL plasmáticos. Estimulam o metabolismo do colesterol em ácidos biliares, diminuindo o colesterol total e aumentando a sua perda nas fezes. Apresentam efeitos complexos sobre o metabolismo dos carboidratos, como a captação rápida de glicose pelas células, aumento da glicólise, da gliconeogênese hepática, da absorção pelo trato gastrintestinal e da secreção de insulina. Pacientes com hipertireoidismo e com diabetes melito necessitam de um maior aporte de insulina, enquanto pacientes com hipotireoidismo e diabetes necessitam de um menor aporte de insulina. Isso se deve ao fato de os hormônios da tireoide estimularem a gliconeogênese hepática. HIPOTIREOIDISMO O hipotireoidismo é o distúrbio mais comum da função da tireoide. As causas do hipotireoidismo podem incluir deficiência de iodo, doenças autoimunes, problemas no hipotálamo, na hipófise ou na própria tireoide, e também pode ser congênito. O hipotireoidismo causado pela deficiência de iodo causa o bócio endêmico. A falta de iodo impede a produção dos hormônios tireoidianos. Como resultado, não há hormônios disponíveis para inibir Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia II a produção de TSH pela hipófise, que passa a secretar quantidade excessiva desse hormônio. O TSH estimula as células tireoidianas a secretar grande quantidade de coloide de tiroglobulina nos folículos, e a glândula se torna cada vez maior. No entanto, devido à falta de iodo, a produção de T3 e T4 não ocorre na molécula de tiroglobulina e, portanto, não causa a supressão normal da produção de TSH pela hipófise. Quando causado por uma doença autoimune, como a tireoidite de Hashimoto, o hipotireoidismo é classificado como primário, uma vez que o problema está na própria tireoide. Nesse caso, há uma produção de auto-anticorpos contra a própria tireoide. Isso causa a deterioração progressiva da glândula, resultando em diminuição ou ausência do hormônio tireoidiano. Nesse quadro, os níveis de TSH estão elevados, e os níveis de T3 e T4 estão muito baixos ou até mesmo nulos. Quando ocorre o chamado hipotireoidismo secundário, deve-se considerar que o problema está na hipófise, a qual, nesse caso, não secreta TSH. Já o hipotireoidismo terciário se deve ao fato de o hipotálamo não produzir TRH. SINTOMAS COMUNS Fadiga, letargia, lentidão mental. Intolerância ao frio (uma vez que o T3 é termogênico e há poucoT3), pele seca. Depressão. Constipação, ganho de peso, retenção de líquido. Dor e rigidez muscular. Menstruações irregulares e infertilidade. Bradicardia. Bócio no hipotireoidismo primário, devido à hiperprodução de TSH. TRATAMENTO LEVOTIROXINA É um análogo sintético do T4. Apresenta administração oral e parenteral. Deve ser administrada com o estômago vazio (para aumentar a absorção), geralmente pela manhã. Se administrada à noite, antes de dormir, iria requerer uma dose mais baixa para ter a mesma eficácia que tem quando administrada pela manhã. No entanto, a Levotiroxina tem como efeito adverso a insônia, e por isso não é administrada à noite. Seu tempo de meia vida é de aproximadamente 7 dias. Seu pico plasmático ocorre de 2 a 4 horas após a administração. É absorvida no estômago e no intestino delgado. É 80% absorvida. A maior parte é eliminada pela urina, mas uma parcela é eliminada pelas fezes. Demora em torno de 6 semanas para normalizar os níveis de TSH. Ajustes de dose devem ser realizados somente após esse tempo. Apesar disso, os sintomas do hipotireoidismo já são amenizados antes. O acompanhamento do tratamento deve ser feito por meio da dosagem do TSH. O objetivo é mantê- lo entre 0,5 e 5 mU/L. Se os níveis de TSH continuarem elevados, a Levotiroxina está em dose insuficientemente baixa. Se o TSH estiver muito baixo, a Levotiroxina está em dose muito alta. Alguns estados requerem um aumento de dose da Levotiroxina. São eles: má absorção, gravidez e uso de fármacos que reduzem a sua absorção, aumentam o seu metabolismo hepático ou diminuem a conversão do T4 em T3. Em pacientes jovens e sem comorbidades, a dose inicial da Levotiroxina pode ser a dose plena. Já em idosos ou coronariopatas, a dose inicial deve ser menor, com pequenos incrementos posteriores, devido ao risco de insuficiência cardíaca ou fibrilação atrial. Os riscos e o benefícios do tratamento com a Levotiroxina devem ser avaliados no caso de pacientes com diabetes melito, hipertensão arterial, insuficiência hepática ou insuficiência adrenal. Os hormônios da tireoide aumentam o metabolismo dos hormônios da suprarrenal e podem precipitar uma insuficiência adrenal aguda em pacientes que tem insuficiência adrenal subclínica. Devido a isso, em situações de coma mixedematoso em que o paciente vai ser tratado com Levotiroxina intravenosa, para evitar que ele tenha uma insuficiência adrenal aguda, também é reposto hidrocortisona. LIOTIRONINA É um análogo sintético do T3. É bem menos usado, pois tem um tempo de meia vida menor e requer mais doses durante o dia. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia II Interfere muito nos níveis do T3 livre e regula menos os níveis de TSH do que a Levotiroxina. É utilizado quando se necessita de uma rápida terminação de sua ação, como no coma mixedematoso, juntamente à Levotiroxina. É menos desejável para terapia de reposição crônica. LIOTRIX É uma preparação de tiroxina e de triiodotironina em uma proporção de 4 T4 para 1 T3. EFEITOS ADVERSOS DO TRATAMENTO Sinais e sintomas de tireotoxicose, como taquicardia, arritmias e palpitações; diarreia; insônia, nervosismo; perda de peso; intolerância ao calor e transpiração excessiva; risco de angina, arritmias ou insuficiência cardíaca. TERAPIA DE REPOSIÇÃO A Levotiroxina é o hormônio de escolha para a terapia de reposição com hormônios tireoidianos, devido à sua potência uniforme a à duração prolongada. Em indivíduos com idade superior a 60 anos e naqueles com cardiopatia diagnosticada, é apropriado instituir a terapia com uma dose diária baixa. Frequentemente a gravidez requer doses mais altas. COMA MIXEDEMATOSO Representa a expressão extrema do hipotireoidismo grave de longa duração. É mais comum em mulheres e nos meses de inverno. Os fatores precipitantes podem ser infecções respiratórias, administração de sedativos e agravamento de uma condição clínica preexistente. Os sintomas incluem hipotermia, depressão respiratória, bradicardia, hipoglicemia e diminuição da consciência, podendo levar ao óbito. O tratamento do coma mixedematoso é feito por meio de Levotiroxina intravenosa em altas doses, administrada em bolus. Alguns autores sugerem o uso de Liotironina em combinação à Levotiroxina em caso de prejuízo de conversão periférica do T4 em T3. Utiliza-se também hidrocortisona intravenosa com o intuito de evitar uma insuficiência adrenal aguda. HIPERTIREOIDISMO O hipertireoidismo pode ocorrer devido ao aumento da produção de hormônios por causa de uma neoplasia, como no bócio nodular tóxico, ou ainda pela produção de anticorpos estimulantes dos receptores de TSH, como no bócio difuso tóxico da doença de Graves. A doença de Graves é forma mais comum de hipertireoidismo, e consiste em uma doença autoimune, na qual se formam anticorpos contra o receptor de TSH na tireoide. Esses anticorpos se ligam ao mesmo receptor que liga o TSH, induzindo a sua ativação contínua e o desenvolvimento do hipertireoidismo. O alto nível de hormônio tireoidiano, causado pela ligação desse anticorpo, suprime a formação de TSH pela hipófise. Dessa forma, as concentrações de TSH ficam abaixo do normal. SINTOMAS COMUNS São os mesmos efeitos adversos da Levotiroxina: Produção excessiva de calor (pele ruborizada, quente e úmida). Músculos fracos e trêmulos. Aumento da atividade motora. Taquicardia. Aumento do apetite e perda de peso. Insônia, ansiedade, nervosismo e apreensão. Aumento de evacuações. Risco de angina, arritmias e insuficiência cardíaca em idosos. TRATAMENTO TIONAMIDAS – PROPILTIOURACILA E METIMAZOL O mecanismo de ação consiste na inibição da enzima tireoperoxidase ou na inibição da enzima D1 na desiodação periférica do T4 em T3 (no caso do Propiltiouracil). O Propiltiouracil possui uma meia-vida plasmática menor que o Metimazol, exigindo um maior número de doses diárias. Ambos apresentam baixa passagem transplacentária e baixos níveis no leite materno. Jéssica N. Monte Turma 106 Farmacologia II No primeiro trimestre da gestação, o Propiltiouracil é o fármaco de primeira linha, pois o Metimazol pode causar distúrbios no feto. Nos outros trimestres, o Metimazol é o fármaco de escolha. O Propiltiouracil deve ser usado também em pacientes com crise tireotóxica, devido à sua capacidade da inibição da conversão periférica do T4 em T3. REAÇÕES ADVERSAS ÀS TIONAMIDAS A reação adversa mais grave consiste na agranulocitose. Outros efeitos incluem rash cutâneo, prurido, alopecia, hepatite (com o uso de Propiltiouracil), síndrome lúpus-like e hipotireoidismo (com aumento do volume da glândula e do TSH). USOS TERAPÊUTICOS DAS TIONAMIDAS São utilizadas como tratamento definitivo do hipertireoidismo, em associação com o iodo radioativo ou para controlar o distúrbio na preparação do tratamento cirúrgico. Após estado de eutireoidismo, a dose deve ser reduzida ao mínimo e os pacientes rigorosamente monitorados. INIBIDORES IÔNICOS – TIOCINATO, PERCLORATO E FLUOROBORATO São ânions que se assemelham ao iodo e interferem na sua concentração na tireoide devido à inibição do simportador de sódio-iodeto (NIS). IODETO Inibe de maneira aguda e transitória a síntese de iodotirosinas e de iodotironinas. Bloqueia a liberação e reduz a síntese dos hormônios tireoidianos. É utilizado no período pré-operatório de uma tireoidectomia. Não é útil para tratamento a longo prazo. IODO RADIOATIVO Os principais isótopos são o Iodo-123 e o Iodo-131. São utilizados no tratamento da tireoide hiperativa, no câncer de tireoide e na doença de Graves (quando o paciente não tolera o Metimazol). É contraindicado na gravidez e na amamentação, podendo ser utilizado até 6 meses antes do início da gestação. Está disponível paraadministração oral. Possui um tempo de meia-vida de 8 dias. Induz hipotireoidismo iatrogênico. Apresenta elevada incidência de hipotireoidismo tardio. Além disso, verifica-se um aumento pequeno em tipos específicos de câncer de estômago, rim e mama. CRISE TIREOTÓXICA É a exacerbação da tireotoxicose. O paciente apresenta manifestações neurológicas importantes, além de febre elevada, taquicardia, fibrilação atrial aguda, diarreia, náuseas e vômitos. O tratamento é realizado pela administração de Propiltiouracil em doses altas, por via oral ou retal; iodo após 1 hora da dose do Propiltiouracil, além de Propanolol e Dexametasona (para evitar uma insuficiência adrenal aguda pelo excesso de hormônios tireoidianos do próprio paciente). CÂNCER DE TIREOIDE A base da terapia para o câncer de tireoide consiste em iodo radioativo, Levotiroxina para suprimir a produção de TSH e tireoidectomia cirúrgica.
Compartilhar