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Introdução: A glândula tireoide exerce efeitos variados e importantes sobre muitos aspectos da homeostasia metabólica. A maior parte do tecido da tireoide é constituída por células foliculares da tireoide, que produzem e secretam os hormônios tireoidianos clássicos: tiroxina (T4), tri-iodotironina (T3) e triiodotironina reversa (rT3). Estes regulam crescimento, metabolismo e gasto de energia, desde o consumo de oxigênio até a contratilidade cardíaca. O conhecimento de vias e mecanismos de regulação por retroalimentação da síntese do hormônio da tireoide, bem como das ações deste, possibilita explicar o fundamento lógico do tratamento farmacológico efetivo das doenças da tireoide. Fisiologia: síntese e secreção dos hormônios da tireoide. Uma importante característica estrutural dos hormônios tireoidianos é a posição dos iodos nesse arcabouço. A posição e a orientação relativa dos iodos fixados aos resíduos de tirosina determinam a forma específica do hormônio tireoidiano. O iodeto é um oligoelemento e componente crucial da estrutura do hormônio tireoidiano. As células foliculares da glândula tireoide concentram iodeto (I–) a partir do plasma, por meio de um simportador de Na+/I– na membrana basolateral. Em reação (denominada organificação) catalisada pela tireoide peroxidase, o iodeto intracelular, agora mais reativo, reage de modo covalente com resíduos de tirosina nas moléculas de tireoglobulina (TG), pró-hormônios que se encontram na membrana apical. A adição de um I– à tirosina ocasiona a formação de tirosina monoiodada (MIT); a adição de dois I– à tirosina determina a formação de tirosina di- iodada (DIT). MIT e DIT associam-se de maneira covalente na tireoglobulina, por mecanismo conhecido como acoplamento, também catalisado pela tireoide peroxidase. − MIT+DIT = T3 − DIT+DIT = T4 A tireoglobulina derivada é armazenada sob a forma de coloide no interior dos folículos da glândula tireoide. Ao serem estimuladas pelo TSH, as células foliculares da tireoide efetuam a endocitose do coloide em compartimentos lisossômicos, onde tireoglobulina é degradada, produzindo T4 livre, T3 livre e MIT e DIT desacopladas. T3 e T4 são secretadas no plasma, enquanto MIT e DIT sofrem desiodação intracelular, liberando iodeto livre para uso em nova síntese de hormônios tireoidianos. A glândula tireoide secreta mais T4 do que T3, embora T4 seja convertida em T3 nos tecidos periféricos (desiodação). No indivíduo normal, o hormônio tireoidiano circulante consiste em cerca de 90% de T4, 9% de T3 e 1% de rT3, estando a maior parte ligada a proteínas plasmáticas (tanto a proteínas de ligação específicas quanto à albumina). ✓ Tiroxina ou T4: (3, 5, 3′, 5′-tetraiodotironina); tem quatro iodos fixados aos arcabouços de tirosina e constitui a principal forma de hormônio tireoidiano secretado pela glândula tireoide. ✓ Tri-iodotironina ou T3: (3, 5, 3′-tri- iodotironina), apresenta três iodos. ✓ Tri-iodotironina reversa ou rT3: (3, 3′, 5′-tri- iodotironina), é uma maneira biologicamente inativa de hormônio tireoidiano, por estar o iodo isolado na tirosina oposta no arcabouço. A maior parte da conversão de T4 em T3 ocorre no fígado, e muitos agentes farmacológicos que aumentam a atividade das enzimas hepáticas do citocromo P450 também aumentam a conversão de T4 em T3. Além disso, T4 tem meia-vida plasmática de cerca de 6 dias, enquanto T3, de apenas 1. Como T4 apresenta meia-vida plasmática longa, as alterações nas funções reguladas pelo hormônio tireoidiano, causadas por intervenção farmacológica, são geralmente observadas apenas depois de um período de 1 a 2 semanas. A glândula tireoide é singular entre outras glândulas endócrinas, visto que armazena grandes quantidades de pró-hormônio tireoidiano na forma da tireoglobulina. Não se sabe por que a glândula tireoide mantém essa complexa via de síntese e liberação hormonais; entretanto, por esse processo, é possível manter os hormônios tireoidianos em nível constante no plasma, a despeito das flutuações na disponibilidade de iodeto na dieta. Efeitos dos hormônios da tireoide sobre os tecidos-alvo. Os hormônios da tireoide exercem efeitos em praticamente todas as células do organismo. A maioria desses efeitos ocorrem em nível de transcrição gênica e são mediados pela ligação do hormônio a receptores de hormônio tireoidiano (TR). Os TR são proteínas que contêm domínios de ligação de hormônio tireoidiano, DNA e dimerização. Monômeros de TR podem interagir em reação de dimerização, produzindo homodímeros, ou com outro fator de transcrição, o receptor retinoide X (RXR), formando heterodímeros. Esses dímeros de TR ligam-se a regiões promotoras gênicas e são ativados pela ligação a hormônio tireoidiano. Na ausência de hormônio, os dímeros de receptores de hormônio tireoidiano associam-se a moléculas correpressoras e ligam-se de modo constitutivo a genes estimulados pelo hormônio tireoidiano (inativando-os). A ligação do hormônio tireoidiano a dímeros TR: RXR ou TR:TR promove a dissociação dos correpressores e o recrutamento de coativadores para o DNA. Por conseguinte, a ligação do hormônio tireoidiano a dímeros TR serve como mecanismo de mudança molecular de inibição para ativação de transcrição gênica. O hormônio tireoidiano também atua mediante infrarregulação da expressão gênica por mecanismo dependente de TR. Por exemplo, esse hormônio é capaz de infrarregular a expressão gênica de TSH, produzindo retroalimentação negativa do hormônio tireoidiano sobre o eixo hipotálamo-hipófise-tireoide. Figura 1. Ações do receptor de hormônio tireoidiano. Na ausência de hormônio tireoidiano, o heterodímero de receptor de hormônio tireoidiano (TR):receptor retinoide X (RXR) associa-se a um complexo correpressor, que se liga a regiões promotoras de DNA e inibe a expressão gênica. Na presença de hormônio tireoidiano (T3), o complexo correpressor dissocia-se do heterodímero TR:RXR, coativadores são recrutados, e ocorre transcrição gênica. Esse exemplo demonstra a ação da T3 sobre um heterodímero TR: RXR; todavia, é provável a atuação de mecanismos semelhantes para homodímeros TR:TR. Muitos dos efeitos do hormônio tireoidiano assemelham-se àqueles da estimulação neural simpática, incluindo aumento da contratilidade e da frequência cardíacas, excitabilidade, nervosismo e diaforese (sudorese). Eixo hipotálamo-hipófise-tireoide: A secreção de hormônio tireoidiano segue um esquema regulador de retroalimentação negativa semelhante ao observado em outros eixos hipotálamo-hipófise-órgãos-alvo. O hormônio de liberação da tireotrofina (TRH) é um tripeptídio secretado pelo hipotálamo transportado até a adeno-hipófise pela circulação porta hipotalâmico-hipofisária. TRH liga-se a um receptor acoplado à proteína G, localizado sobre a membrana plasmática de células produtoras de TSH. Essa ligação estimula uma cascata de transdução de sinais que finalmente promove a síntese e a liberação do hormônio tireoestimulante (TSH). O TSH é o mais importante regulador direto da função da glândula tireoide. Ele estimula cada aspecto conhecido da produção de hormônio tireoidiano, incluindo captação de iodeto, organificação, acoplamento, internalização na tireoglobulina e secreção de hormônio tireoidiano. Além disso, o TSH promove aumento da vascularização e crescimento da glândula tireoide. Figura 2. O eixo hipotálamo-hipófise-tireoide na saúde e na doença. A. No eixo normal, o hormônio liberador de tireotrofina (TRH) estimula os tireótropos da adeno-hipófise a liberar o hormônio tireoestimulante (TSH). Este estimula a síntese e a liberação de hormônio tireoidiano pela glândula tireoide. Tal hormônio, além de seus efeitos sobre os tecidos-alvo, inibe a liberaçãoadicional de TRH e TSH pelo hipotálamo e pela adeno- hipófise, respectivamente. B. Na doença de Graves, um autoanticorpo estimulador ativa autonomamente o receptor de TSH na glândula tireoide, resultando em sua sustentada estimulação, aumento dos níveis plasmáticos de hormônio tireoidiano (linhas espessas) e supressão da liberação de TRH e TSH (linhas tracejadas). C. Na tireoidite de Hashimoto, um autoanticorpo destrutivo ataca a glândula tireoide, causando insuficiência desta e diminuição de síntese e secreção de hormônio tireoidiano (linhas tracejadas). Em consequência, não ocorre inibição mediante retroalimentação do hipotálamo e da adeno- hipófise, e os níveis plasmáticos de TSH se elevam (linhas espessas). Doença de Graves: A doença de Graves demonstra a importância dos níveis plasmáticos de hormônio tireoidiano na regulação da homeostasia do eixo hipotálamo- hipófise-tireoide. Nessa síndrome, produz-se um autoanticorpo IgG específico para o receptor de TSH, conhecido como imunoglobulina estimulante da tireoide (TsIg). Esse anticorpo atua como agonista, ativando o receptor de TSH e, portanto, estimulando síntese e liberação de hormônio tireoidiano pelas células foliculares da tireoide. Entretanto, ao contrário do TSH, a TsIg não está sujeita a retroalimentação negativa; continua estimulando a função da tireoide, mesmo quando os níveis plasmáticos de hormônio tireoidiano aumentam, atingindo a faixa patológica. Como o autoanticorpo na doença de Graves atua independentemente do eixo hipotálamo-hipófise- tireoide, ocorre ruptura da homeostasia do hormônio tireoidiano. Surgem os sintomas clínicos de hipertireoidismo, e os exames laboratoriais revelam altos níveis plasmáticos de hormônio tireoidiano, níveis baixos ou indetectáveis de TSH e níveis elevados de TsIg. Tireoidite de Hashimoto: A tireoidite de Hashimoto provoca destruição seletiva da glândula tireoide. No plasma de pacientes com tireoidite de Hashimoto, podem ser encontrados anticorpos específicos dirigidos contra muitas proteínas da glândula tireoide, incluindo tireoglobulina e tireoide peroxidase. A exemplo da doença de Graves, acredita-se que a etiologia subjacente dessa doença seja autoimune. O curso clínico da tireoidite de Hashimoto envolve destruição inflamatória gradual da glândula tireoide, com consequente desenvolvimento de hipotireoidismo. No início do curso da doença, a destruição das células foliculares da tireoide pode liberar quantidades excessivas de coloide armazenado, ocasionando aumento transitório dos níveis de hormônio tireoidiano. Eventualmente, a glândula é quase totalmente destruída, e surgem sintomas clínicos de hipotireoidismo (p. ex., letargia e diminuição do metabolismo). O tratamento da tireoidite de Hashimoto envolve reposição farmacológica com hormônio tireoidiano sintético oral. O tratamento farmacológico da fisiopatologia da glândula tireoide envolve reposição do hormônio tireoidiano deficiente ou antagonismo do hormônio tireoidiano excessivo. A reposição é evidente por si própria, enquanto os antagonistas atuam em múltiplas etapas na síntese e na ação desse hormônio. Tratamento do hipotireoidismo: O hormônio tireoidiano constitui terapia bem estabelecida e segura para tratamento a longo prazo de hipotireoidismo. A terapia tem por objetivo repor a falta de hormônio tireoidiano endógeno com administração regular de hormônio tireoidiano exógeno. Este é produzido por síntese química e é estruturalmente idêntico ao hormônio tireoidiano endógeno (geralmente T4). Os primeiros ensaios clínicos com reposição hormonal questionaram se seria mais eficaz efetuar reposição com T3 ou T4. T3 é a forma metabolicamente mais ativa do hormônio tireoidiano, e seria possível prever que a reposição de tal hormônio deficiente com T3 poderia normalizar de modo mais efetivo a homeostasia da tireoide. Entretanto, diversos achados fornecem argumentos contra essa suposição: ✓ A maior parte do hormônio tireoidiano no organismo encontra-se na forma de T4 e ter um grande reservatório de “pro fármaco” tireoidiano (T4) no plasma pode ser importante, talvez como tampão efetivo para normalizar taxas metabólicas em ampla variedade de condições. ✓ A meia-vida de T4 é de 6 dias, em comparação com a meia-vida de 1 dia de T3, o que possibilita ao paciente tomar apenas uma pílula ao dia para reposição de hormônio tireoidiano. A eficácia da reposição de hormônio tireoidiano é monitorada por dosagens dos níveis plasmáticos de TSH e hormônio tireoidiano. TSH é um acurado marcador da atividade do hormônio tireoidiano, visto que a liberação de TSH pela adeno-hipófise é extremamente sensível ao controle de retroalimentação pelo hormônio tireoidiano no sangue. Figura 3. Intervenções farmacológicas que afetam a síntese do hormônio tireoidiano. Os ânions com raio molecular aproximadamente igual ao do íon iodeto (I–), como perclorato, tiocianato e pertecnetato, competem com o iodeto na captação pelo simportador de Na+/I–. O 131I– radioativo, quando concentrado no interior das células da glândula tireoide, provoca destruição seletiva da glândula. O iodeto em altos níveis causa depressão transitória da função da tireoide por meio da inibição dos processos de organificação, acoplamento e proteólise da tireoglobulina. Tioaminas, como propiltiouracila e metimazol, inibem a organização e o acoplamento; propiltiouracila também inibe a conversão periférica de T4 em T3. TG-MIT, tireoglobulina- monoiodotirosina; TG-DIT, tireoglobulina-di-iodotirosina. ✓ Levotiroxina sódica: “Levoid” − L-isômero do T4; − Dose única diária; − Meia vida de 6 dias; − Monitorização: níveis de TSH e hormônios tireoidianos; − Reações adversas: semelhantes ao hipertireoidismo; − Comprimidos: 12,5 mcg à 300 mcg; importante para atender às especificidades do paciente (idosos – precisa-se de cautela na determinação da dose, pois o paciente pode desenvolver sintomas de hipertireoidismo. Deve-se iniciar com doses baixas até atingir o valor alvo de TSH); − Atenção com pacientes cardiopatas: fazer monitorização mais minuciosa. − Pode ser usado em gestantes. ✓ Liotironina (T3): Cynomel − Indicação: efeito rápido e curta duração − Coma mixedematoso (quadro clínico extremo do hipotireoidismo e descompensação metabólica, podendo ser fata; recomenda-se a associação de Levotiroxina com liotironina) − Deficiência da enzima conversora de T4 em T3 (5’-desiodinade I – Síndrome de Wilsons). − Única concentração Tratamento do hipertireoidismo: Existem agentes farmacológicos que têm como alvo cada etapa da síntese do hormônio tireoidiano, desde a captação inicial de iodeto até a organificação, o acoplamento e a conversão periférica de T4 em T3. Clinicamente, dispõe-se de iodeto radioativo e tioaminas para o tratamento de hipertireoidismo. Algumas vezes, são também utilizados antagonistas β-adrenérgicos para melhorar alguns dos sintomas da doença. • Fármacos Tioaminas: Afetam a síntese dos hormônios – competição com tireoglobulina pelo iodeto oxidado e inibem a tireoide peroxidase. Causam bócio – TSH elevado – hipertrofia. Ação farmacológica demora algumas semanas devido às reservas de pró-hormônio. Requer prazo: se não regular em 1 a 1,5 ano, recomenda-se uma terapia definitiva (iodo radioativo ou remoção cirúrgica). ✓ Tiamazol ou metimazol: “Tapazol” − Fármaco de primeira escolha entre os anti- tireoidianos − Inibe a tireoide peroxidase − Contagem de leucócitos: agranulocitose − Mais seguro à gestação, porém contraindicado no 1º trimestre gestacional, pois pode impedir a formação da pele do feto. − Reações mais comuns: erupção cutânea e urticária. − Reações raras: hepatotoxicidade, vasculite e agranulocitose. − T4 livre entre 1 a 1,5 vezes o valorde normalidade: 5 a 10 mg ao dia. − T4 livre entre 1,5 a 2 vezes o valor de normalidade: 10 a 20 mg ao dia. − T4 livre entre 2 a 3 vezes o valor de normalidade: 20 a 40 mg ao dia em 1 ou 2 tomadas. − Após atingir valores de T4 livre (ou total) normais, a dose de manutenção usual do metimazol é de 5 a 10mg ao dia. ✓ Propiltiouracila: “Propilracil” − Inibe a tireoide peroxidase e impede a conversão de T4 em T3. − Mais propensos a reações adversas. − Sangramento: diminui protrombina. − Contagem de leucócitos: agranulocitose − Indicado para uso apenas no 1º trimestre da gestação: causa mais reações adversas para a mãe do que para o bebê (não atravessa a barreira placentária). − Indicado para uso na crise tireotóxica (estado mais grave de hipertireoidismo). − Usado de forma mais temporária. • Iodo radioativo: − Opção de primeira linha no tratamento definitivo. − Tirotoxicose: estado do excesso do hormônio. − 137I – isótopo radioativo do iodeto − Emite partículas beta tóxicas – destruição local das células (não total). − Pode causar hipotireoidismo iatrogênico – dificuldade de medir a ação − Pode causar sialoadenite – inflamação das glândulas salivares. − Pode causar hipotireoidismo transitório. • Fármacos adjuvantes: ✓ Betabloqueadores: propranolol, atenolol e metoprolol. − Prescritos quando há sintomas de ativação adrenérgica: palpitação, tremores, agitação e aumento da P.A. − Dose progressivamente reduzida com o controle hormonal. − Propanolol não é recomendável para pacientes com DPOC, pois ele pode bloquear receptores beta2 no tecido respiratório, causando broncoconstrição. ç 1. Renata, 33 anos, há alguns meses vem apresentando fadiga, fraqueza muscular. Percebeu também sua pele mais ressecada e um ganho de peso, mesmo seguindo sua dieta normocalórica. Após procurar atendimento médico, realizou alguns exames laboratoriais (TSH= 8 microUI/mL). Diante do resultado seu médico solicita outros exames laboratoriais: ATPO (resultado positivo) e T4-livre (3,9 mcg/dL), fazendo seu médico chegar à conclusão de um quadro de Hipotiroidismo. Como pode ser feito o tratamento dessa condição? * ATPO: Antiperoxidase tireoidiano, destrói a glândula tireoide, presente no hipotireoidismo. R = Levotiroxina e monitoramento dos níveis de TSH (a cada 6 a 8 semanas, depois a cada 3 meses, 6 meses e anualmente). 2. Elizandra, 27 anos, 23 semanas gestacionais, percebe um inchaço na garganta, associado a leves tremores, ainda dor de cabeça. Percebe também dificuldade de ganhar peso, mesmo com o evoluir da gestação. Após avaliação médica e exames laboratoriais (TSH baixo, T4 e T3 elevado, anticorpos anti-receptores de TSH (TRAb) positivo), foi confirmado quadro de Hipertireoidismo. Como tratar esta gestante? TRAb – Bloqueia o receptor de TSH e induz a produção excessiva de T4 e T3. R = Tiamazol. 3. Após o período gestacional, Lizandra ainda apresentando o quadro de Hipertireoidismo, precisou continuar realizando tratamento farmacológico, porém também passou a sentir palpitações e elevação da pressão arterial. Como dar continuidade a seu tratamento? (resultados laboratoriais: TSH = 2,5 microUI/mL; T3 = 1,9 ng/mL; T4= 13,2 mcg/dL) R = Tiamazol + betabloqueador até diminuir os sintomas. 4. Maria, 25 anos, apresenta TSH = 11 microUI/mL, T3 = 0,82 ng/mL; T4= 9 mcg/dL. Na anamnese queixou-se apenas de cansaço, sem nenhuma outra alteração, inclusive sem ganho de peso. Maria deve ser tratada farmacologicamente? R = Hipotireoidismo subclínico: monitorização, repetir exame após 3 meses, caso seja persistentes os níveis de TSH maior que 10, recomenda-se começar a terapia com levotiroxina. 5. João, 67 anos, apresenta TSH= 0,1 microUI/mL, T3 = 0,86 ng/mL; T4=11 mcg/dL, Deve-se realizar tratamento farmacológico? R = Hipertireoidismo subclínico Valores de referência de TSH: ✓ inferior a 1 mês de vida: de 0,51 a 11,30 microUI/mL ✓ de 1 mês à 11 anos: de 0,79 a 5,85 microUI/mL ✓ superior ou igual a 12 anos: de 0,38 a 5,33 microUI/mL ✓ gestantes: − primeiro trimestre: de 0,05 a 3,70 microUI/mL − segundo trimestre: de 0,31 a 4,35 microUI/mL − terceiro trimestre: de 0,41 a 5,18 microUI/mL Valor de referência T3: ✓ adultos: de 0,76 a 1,76 ng/mL Valor de referência T4: ✓ adultos: de 6,09 a 12,23 mcg/dL Tratamento do hipotireoidismo subclínico: O tratamento do hipotireoidismo subclínico é controverso, porém se recomenda tratamento: ✓ TSH persistentemente > 10 mcUI/ml ✓ TSH persistentemente ≥ 7 mcUI/ml (mas inferior a 10 mcUI/ml) e idade ≥ 65 anos e sintomas muito sugestivos de hipotireoidismo) Tratamento do hipertireoidismo subclínico: ✓ TSH forem persistentemente abaixo de 0,1 um/L, o tratamento é recomendado: − em pacientes com idade maior ou igual a 65 anos, com osteoporose, doença cardíaca estabelecida ou sintomas de hipertireoidismo. ✓ TSH persistentemente <0,1 microUI/L assintomático, com: − com idade inferior a 65 anos, sem comorbidades, a recomendação do tratamento ainda é sugerida, mas o benefício está menos claro (nível de evidência fraco). À semelhança da hipófise, a glândula suprarrenal consiste em dois órgãos que sofreram fusão durante o desenvolvimento embrionário. O córtex suprarrenal externo origina-se do mesoderma, enquanto a medula suprarrenal interna deriva de células da crista neural. ✓ O córtex suprarrenal sintetiza e secreta hormônios esteroides, que são essenciais para o equilíbrio do sal, o metabolismo intermediário, e, nas mulheres, para as ações androgênicas. ✓ A medula suprarrenal sintetiza e secreta a catecolamina epinefrina, que é importante, apesar de não ser essencial, na manutenção do tônus simpático. Tanto a deficiência quanto o excesso de hormônios adrenocorticais podem provocar doença nos seres humanos. Os estados de deficiência são tratados mediante reposição dos hormônios na forma de agentes terapêuticos, enquanto os inibidores das enzimas de biossíntese adrenocorticais podem ser empregados no tratamento do excesso de hormônio. O córtex suprarrenal sintetiza três classes de hormônios: mineralocorticoides, glicocorticoides e androgênios. A zona glomerulosa é responsável pela produção de mineralocorticoides e está sob o controle de angiotensina II, concentração sanguínea de potássio e, em menor grau, de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). As zonas fasciculada e reticular sintetizam glicocorticoides e androgênios, respectivamente. Ambas estão sob controle do ACTH, que, por sua vez, é regulado por hormônio de liberação corticotropina (CRH), vasopressina e cortisol. ç Os efeitos metabólicos do cortisol aumentam a disponibilidade de nutrientes, em decorrência da elevação dos níveis sanguíneos de glicose, aminoácidos e triglicerídeos. ✓ O cortisol aumenta a glicemia ao antagonizar a ação da insulina e promover a gliconeogênese em jejum. ✓ O cortisol aumenta o catabolismo das proteínas musculares, resultando em liberação de aminoácidos, que podem ser utilizados pelo fígado como fontes energéticas para a gliconeogênese. ✓ Ao potencializar a ação do hormônio de crescimento sobre os adipócitos, o cortisol aumenta a atividade da lipase sensível a hormônio e a liberação subsequente de ácidos graxos livres (lipólise). ✓ Os níveis de cortisol aumentam como componente da resposta ao estresse induzida por ampla variedade de eventos, como exercício vigoroso, estresse psicológico, traumatismo agudo, cirurgia, medo, infecção grave, hipoglicemia e dor. ✓ Com a elevação da glicemia, os efeitos fisiológicos dos glicocorticoides mantêm a homeostasia energética durante a resposta ao estresse, assegurando, assim, um suprimento contínuo de nutrientes aos órgãos críticos, como o cérebro.✓ O cortisol também apresenta múltiplas ações anti-inflamatórias, pois regula negativamente a liberação de citocinas das células do sistema imune, inibindo o fator nuclear κB (FN-κB); essa ação pode constituir importante mecanismo para limitar a extensão das respostas imunes e regular a resposta inflamatória. ✓ Determinadas citocinas, incluindo IL-1, IL-2, IL-6 e TNF-α, podem estimular a liberação hipotalâmica de CRH, que estimula a liberação de ACTH e cortisol. Essa série de efeitos estimuladores e inibitórios cria uma alça de retroalimentação, em que as citocinas inflamatórias e o cortisol são regulados de modo coordenado para controlar as respostas imunes e inflamatórias. A regulação local da liberação de citocinas é de suma importância para o recrutamento e a ativação dos leucócitos, e a ruptura desse processo de sinalização inibe acentuadamente a função imune. ✓ Os glicocorticoides também bloqueiam a síntese de metabólitos do ácido araquidônico ao inibir a ação da fosfolipase A2. Os metabólitos do ácido araquidônico, como tromboxanos, prostaglandinas e leucotrienos, medeiam muitas das etapas iniciais da inflamação, incluindo permeabilidade vascular, agregação plaquetária e vasoconstrição. Por meio do bloqueio da produção desses metabólitos, os glicocorticoides exercem uma infrarregulação significativa da resposta inflamatória. ✓ A supressão da resposta inflamatória mediada pelos glicocorticoides também contém importantes implicações farmacológicas para diversas condições clínicas, como transplante de órgãos, artrite reumatoide e asma. Em decorrência dos múltiplos efeitos anteriormente descritos, os glicocorticoides constituem fármacos úteis no tratamento de diversas doenças inflamatórias e autoimunes, como asma, artrite reumatoide, doença de Crohn, poliarterite nodosa, arterite temporal e rejeição imune após transplante de órgãos. Entretanto, é importante assinalar que a terapia farmacológica com glicocorticoides não corrige a etiologia da doença subjacente, apenas limita os efeitos da inflamação. Por esse motivo, a interrupção da terapia crônica com glicocorticoides frequentemente resulta no reaparecimento dos sintomas inflamatórios, a menos que o distúrbio tenha sofrido remissão espontânea ou tenha sido tratado por outros meios. Logo, anti-inflamatórios esteroidais são fármacos que possuem a natureza química dos hormônios esteroidais, provocando efeitos semelhantes: − Metabolismo; − Regulação de eletrólitos; − Inflamação; − Supressores do Sist. Imunológico. Figura 4. O eixo imune-suprarrenal. O cortisol exerce efeitos imunossupressores profundos. O cortisol inibe a ação de vários mediadores da inflamação (eicosanoides, serotonina, fator de ativação das plaquetas [PAF], bradicinina). O cortisol também inibe a liberação de várias citocinas dos macrófagos, incluindo IL-1α, IL- 1β, IL-6 e TNF-α. Por sua vez, como essas citocinas promovem liberação hipotalâmica de CRH e, consequentemente, aumentam os níveis séricos de cortisol, foi aventada a hipótese de que o aumento do cortisol induzido pelo estresse limita a extensão da resposta inflamatória. ç Cerca de 90% do cortisol circulante estão ligados a proteínas plasmáticas, das quais as mais importantes são globulina de ligação dos corticosteroides (CBG, também denominada transcortina) e albumina. A CBG apresenta alta afinidade pelo cortisol, porém baixa capacidade global. Apenas as moléculas de cortisol que não estão ligadas às proteínas (a denominada fração livre) são biodisponíveis, isto é, estão disponíveis para sofrer difusão pelas membranas plasmáticas para o interior das células. O fígado e os rins constituem os principais locais de metabolismo periférico do cortisol. Por meio de redução e conjugação subsequente com ácido glicurônico, o fígado é responsável pela inativação do cortisol no plasma. A reação de conjugação torna o cortisol mais hidrossolúvel, possibilitando, assim, sua excreção renal. Após a ligação do cortisol a seu receptor citosólico, com formação de um complexo hormônio-receptor, o complexo sofre dimerização com outro complexo hormônio-receptor e é transportado para o núcleo. No caso do cortisol, o complexo hormônio-receptor dimerizado liga-se a elementos promotores de genes, designados como elementos de resposta aos glicocorticoides (GRE), que podem intensificar ou inibir a expressão de genes específicos. O cortisol apresenta efeitos profundos sobre a expressão do mRNA; estima-se que cerca de 10% de todos os genes humanos contenham GRE. Dada a grande quantidade de genes cuja expressão é afetada pela ativação de GRE, o cortisol exerce ações fisiológicas na maioria dos tecidos. De modo geral, essas ações podem ser divididas em efeitos metabólicos e efeitos anti- inflamatórios. • Ações anti-inflamatórias e imunossupressoras Inibem todos os estágios da inflamação: aguda à crônica − ↓COX-2; − ↓migração neutrofílica; − ↓ativação de neutrófilos e macrófagos: − ↓transcrição de genes de moléculas de adesão; − ↓IL-2 e de seu receptor: − ↓ da ativação de LT auxiliares e expansão clonal. − Deficiência da resposta a lesões ou infecções; 1. Interrupção da terapia: − Exacerbação do processo patológico em tratamento; − Insuficiência suprarrenal aguda − Terapia prolongada: recuperação pode levar semanas, meses ou anos. Durante a terapia prolongada com doses farmacológicas de glicocorticoides, os níveis plasmáticos elevados desses fármacos suprimem a liberação de CRH e ACTH, resultando em atrofia do córtex suprarrenal. A interrupção abrupta da terapia com glicocorticoides pode precipitar a insuficiência suprarrenal aguda, uma vez que são necessários vários meses para a reativação do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal. Mesmo após a recuperação da secreção de ACTH, podem ser necessários vários outros meses para que o córtex suprarrenal comece a secretar o cortisol em níveis fisiológicos. Além disso, a doença inflamatória subjacente para a qual foi instituída a terapia pode sofrer agravamento durante esse período, dada a desinibição do sistema imune. Por conseguinte, é inquestionável o fato de que o tratamento crônico com glicocorticoides deve ser, sempre que possível, reduzido lentamente, com doses gradualmente decrescentes. Essa redução gradativa possibilita a recuperação gradual da função normal de hipotálamo, adenohipófise e córtex suprarrenal, evitando, assim, o desenvolvimento de insuficiência suprarrenal e – espera-se – evitando também a exacerbação do distúrbio inflamatório subjacente. 2. Uso contínuo de doses suprafisiológicas: − Consequências que resultam em supressão do eixo HHSR; − Anormalidades hidroeletrolíticas (↓[K+] plasma, edema, ↑PA); − Hiperglicemia, resistência à insulina e diabetes mellitus; − Aumento da susceptibilidade à infecção (supressão imune); − Osteoporose (↓ densidade óssea); pela inibição da absorção de cálcio mediada pela vitamina D e pela inibição dos osteoclastos. − Hiperparatireoidismo secundário e aumento da reabsorção óssea; − Miopatia (fraqueza dos músculos proximais dos membros) pela atrofia seletiva das fibras musculares de contração rápida; − Distúrbios do comportamento; − Catarata: aumentam a pressão intraocular. − Parada ou retardo do crescimento, principalmente em crianças. − Redistribuição da gordura, com perda periférica das reservas de tecido adipose e obesidade central. Ocorre deposição excessiva de gordura na nuca (giba de búfalo) e na face (fácies de lua cheia). Terapia de reposição em pacientes com: 1. Insuficiência adrenal (doença de Addison): destruição do córtex adrenal. 2. Hiperplasia Adrenal. Tratamento anti-inflamatório e imunossupressor: 1. Asma; 2. Via tópica: eczema, conjuntivite, alergia,rinite; 3. Hipersensibilidade grave (Reação alérgica); 4. Doenças autoimunes (Ex.: Artrite reumatoide); 5. Transplante. 6. Maturação pulmonar Insuficiência Suprarrenal Primária A doença de Addison fornece um exemplo de insuficiência suprarrenal primária, em que ocorre destruição seletiva do córtex suprarrenal, mais comumente em decorrência da reação autoimune mediada pelas células T, porém alternativamente por causa da ocorrência de infecção, infiltração, câncer ou hemorragia. A destruição do córtex resulta em diminuição na síntese de todas as classes de hormônios adrenocorticais. Em resposta, há um estímulo hipotalâmico para o aumento de precursores peptídicos do ACTH. Dadas as semelhanças entre as sequências peptídicas de ACTH e MSH, o ACTH em altas concentrações também pode ligar-se aos receptores de MSH e ativá-los. Essa ação torna- se aparente no hiposuprarrenalismo primário, em que os níveis elevados de ACTH resultam em aumento da pigmentação da pele. Os pacientes com insuficiência suprarrenal frequentemente apresentam fadiga, falta de apetite, perda de peso, tontura em posição ortostática e náuseas. A hiperpotassemia é comum na insuficiência suprarrenal primária, dada a ausência de aldosterona. A queda de aldosterona causa o aumento fisiológico da renina e a perda de sódio e de água pelo organismo (hipotensão postural e desidratação). Insuficiência Suprarrenal Secundária Em comparação, a insuficiência suprarrenal secundária é causada por distúrbios hipotalâmicos ou hipofisários ou pela administração prolongada de glicocorticoides exógenos. Na insuficiência suprarrenal secundária, a diminuição dos níveis de ACTH provoca redução na síntese de hormônios sexuais e cortisol, porém não altera a síntese de aldosterona. Quando a insuficiência suprarrenal resulta de terapia prolongada com altas doses de glicocorticoides exógenos, deve-se reduzir a dose de glicocorticoides lentamente e de modo gradativo para possibilitar a recuperação da atividade integral do eixo hipotálamo-hipófise- suprarrenal (HHA). Algumas observações sobre os fármacos: ✓ Hidrocortisona é o medicamento preferível para o tratamento de uma insuficiência adrenal, pois é análoga ao cortisol. Injetável. ✓ Fludrocortisona pode causar muitas reações adversas, como distúrbios cardiovasculares, portanto deve ser usado em casos específicos de níveis baixos de aldosterona (insuficiência adrenal primária). Não usado como efeito anti- inflamatório. ✓ Prednisona pode ser administrada à mãe durante a gravidez, sem efeitos adversos para o feto. O fígado materno ativa a prednisona em prednisolona, porém a 11β-HSD 2 placentária converte novamente a prednisolona em prednisona inativa. Como o fígado não funciona durante a vida fetal, o feto, por sua vez, não é capaz de ativar a prednisona. Por conseguinte, o uso da prednisona durante a gravidez não resulta em fornecimento de glicocorticoide ativo ao feto. Prednisona é o pró-fármaco da prednisolona, então em crianças e em idosos não é recomendável o uso, pela dificuldade de metabolização. ✓ 6alfa-metilprednisolona é usado só injetável. ✓ Betametasona e dexametasona são os corticoides mais recomendáveis para um efeito anti-inflamatório mais intenso. ✓ Dexametasona pode ser administrado em grávidas para promover o desenvolvimento pulmonar do feto. A dose de dexametasona deve ser cuidadosamente titulada para não causar efeitos deletérios no bebê. 1. Uma paciente do sexo feminino, 50 anos, branca, procura o serviço de emergência devido a emagrecimento de 10 kg em um ano, cansaço, fraqueza muscular proximal e desânimo há dois anos, com piora progressiva. Ela relatou escurecimento difuso da pele e episódios de diarreia há três dias, associado a dor abdominal. Ao realizar exame físico, constata-se hipotensão postural, mucosas desidratadas e escurecimento de pele em áreas fotoexpostas (Mãos, face). Os exames laboratoriais evidenciam sódio de 130 mEq/L (135-150), potássio de 8,2 mEq/L (3,5-5,0), creatinina de 1,71mg/dL (até 1,2), cortisol de 2,9 g/dL (4,3-22), hormônio adrenocorticotrófico (ACTH) de 2.166 pg/mL (10-52), renina maior do que 50 ng/mL/h (0,51- 2,64), aldosterona menor do que 2,2 ng/dL (4- 31). Diante do exposto, essa paciente apresenta quadro de insuficiência adrenal? Se sim, quais medicamentos podem ser úteis? R = Insuficiência adrenal primária: hidrocortisona + fludrocortisona (uso emergencial) ou prednisona/prednisolona + fludrocortisona (uso ambulatorial). 2. Adolescente, 16 anos, há 3 semanas apresenta sibilos e/ou dispneia duas vezes por semana, em média. Entre os episódios, o mesmo está assintomático, com função pulmonar normal e sem despertar noturno. Considerando um quadro leve de asma, qual conduta deve ser realizada? R = Doses diárias de corticoide, principalmente inalatórios (via de administração local), como beclometasona e budesonida, em bombinhas com broncodilatadores (agonistas β-2 adrenérgicos). Em crises, recomenda-se broncodilatadores de ação curta. Em pacientes com estágio 5 de asma, recomenda-se o uso de corticoides orais diários (ambulatoriais) ou injetáveis (em ambiente hospitalar). 3. Há alguns meses João vem realizando tratamento asmático, devido crises sucessivas, porém nenhum tratamento (recontado pelos protocolos) vem demonstrando efeito significativo. Assim, sua médica decide prescrever prednisona oral. Depois de algumas semanas João apresenta controle mais efetivo da asma. Porém 2 anos depois, sua médica decide retirar o corticoide oral e voltar a fazer o uso do inalatório, porém 3 dias depois João apresenta infecção respiratória e hipotensão, e é levado ao Pronto atendimento de urgência. Esses feitos podem estão relacionados ao uso do corticoide? R = Insuficiência adrenal secundário por retirada abrupta de corticoide. É recomendável hidrocortisona (hospital), prednisona oral (ambulatorial) com desmame prolongado em associação com o corticoide inalatório. 4. Gestante, com mais de 23 semanas gestacionais com risco de parto prematuro. Como prevenir a síndrome da angústia respiratória no prematuro, caso o parto prematuro aconteça? R = < 7 dias para o nascimento, recomenda-se dexametasona (12/12h em 48h) ou betametasona (2 doses em 24h). > 7 dias, de forma profilática, recomenda-se o uso de corticoide de depósito, (sais de betametasona, fosfato disódico e acetato de betametasona – liberado lentamente, mantém os níveis constantes em até 15 dias). O pâncreas é um órgão glandular que contém tecidos exócrino e endócrino. A porção exócrina – que constitui 99% da massa pancreática – secreta bicarbonato e enzimas digestivas no trato gastrintestinal (GI). Espalhadas dentro do tecido exócrino, encontram-se quase um milhão de pequenas ilhas de tecido endócrino que secretam hormônios diretamente no sangue. Essas minúsculas glândulas endócrinas, coletivamente denominadas ilhotas de Langerhans, incluem vários tipos celulares diferentes, que secretam hormônios diferentes: as células α liberam glucagon; as células β liberam insulina e amilina; as células δ liberam somatostatina e gastrina; e as células PP liberam polipeptídio pancreático. Estratégia farmacológica: ✓ Diabetes mellitus 1: consiste na administração de suficiente quantidade de insulina exógena para obter a normoglicemia, sem induzir hipoglicemia ✓ Diabetes mellitus 2: o tratamento é multifacetado. Se a modificação no estilo de vida for inadequada para melhorar a sensibilidade à insulina, o que habitualmente é o caso, pode-se recorrer a um ou mais fármacos ativos por via oral. Diagnóstico do DM: Regulação fisiológica e farmacologia da liberação de insulina pelas células β do pâncreas. No estado basal, a membrana plasmáticada célula β encontra-se hiperpolarizada, e a taxa de secreção de insulina da célula é baixa. Entretanto, quando presente, a glicose penetra na célula pelos transportadores GLUT2 na membrana plasmática e é metabolizada, produzindo ATP intracelular. O ATP liga-se ao canal de K+/ATP da membrana plasmática e o inibe. A inibição do canal de K+/ATP diminui a condutância do K+ da membrana plasmática; a consequente despolarização da membrana ativa os canais de Ca2+ regulados por voltagem e estimula, portanto, o influxo de Ca2+. O Ca2+ medeia a fusão das vesículas secretoras que contêm insulina com a membrana plasmática, resultando em secreção de insulina. 1. Insulinas prandiais: As insulinas em bolo prandial atuam rapidamente e apresentam duração de ação relativamente curta; são utilizadas para mimetizar a liberação de insulina pelas células β em resposta a uma carga de nutriente. ✓ Insulina regular: ação rápida; SC, EV. − Não deve ser administrada no momento das refeições (hiperglicemia pós-prandial e hipoglicemia interalimentar); − Tempo de ação um pouco maior que a ultrarrápidas; − Apresenta variabilidade 25 % (dependente de dose); − Administrada por EV: cetoacidose diabética, controle pós cirúrgico, infecções agudas; − Início de ação: 30min – 1h; − Pico de ação: 2 – 3h; − Duração de ação: 3 – 6h. − Exemplo: Clonsulin 100UI/ml. ✓ Lispro, Asparte, Glusilina: ação ultrarrápida, SC. − Rápido início de ação e ação máxima precoce; − Permite uma reposição prandial mais fisiológica; − Administrada imediatamente antes da refeição − Menor variabilidade de absorção entre as insulinas; − Preferidas para uso em dispositivos de infusão contínua; − Indicação: tendência a ter hipoglicemia nos períodos pós-prandiais tardios e noturnos. − Início de ação: 15min; − Pico de ação: 30min – 1,5h; − Duração de ação: 4 – 5h. 2. Insulinas basais: As insulinas basais de “ação longa” possibilitam liberação mais constante de insulina de nível baixo e são administradas 1 ou 2 vezes/dia. ✓ Insulina NPH: ação intermediária, SC. − Protamina neutra Hagedorn; − Absorção e início de ação retardados (Suspensão de insulina em protamina retardante); − Ação imprevisível; − Variabilidade de absorção de mais de 50 % (dependente de dose). − Uso em associação: insulina regular ou insulina ultrarrápida; − Início de ação: 1 – 2h; − Pico de ação: 5 – 7h (essa variabilidade pode estar associada a risco aumentado de hipoglicemia, particularmente à noite, quando o paciente está dormindo); − Duração de ação: 10 – 16h. ✓ Glargina: ação longa, SC. − Ação prolongada permite níveis basais mais convenientes (precipita e libera lentamente); − Exibe um platô de concentração plasmática (sem pico); − Causa menos hipoglicemia noturna; − Administrada uma vez ao dia (antes do café ou dormir); − Não deve ser misturada com outra insulina; − Indicação: hipoglicemias frequentes (noturna ou grave), variabilidade glicêmica extrema. − Início de ação: 1 – 2h; − Pico de ação: sem pico; − Duração de ação: 18 – 24h. ✓ Detemir: ação longa. − Se liga a albumina sérica e tecidual (retarda absorção, ação e depuração); − Efeito mais reproduzível entre as insulinas de ação intermediária e longa; − Menor grau de hipoglicemia; − Administrada 2 x dia; − Apresentam: perfil mais estável, menor variabilidade glicêmica e maior previsibilidade; − Início de ação: 1 – 2h; − Pico de ação: 6 – 8h; − Duração de ação: 18 – 20h. ✓ Degludega: ação ultralonga. − Análogo de ação longa mais recente; − Meia vida mais longa (25 h); − Administrado uma vez ao dia; − Menor variabilidade glicêmica; − Não apresenta pico; − Início de ação: 2 – 3h. − Pico de ação: sem pico; − Duração de ação: até > 42 horas. ✓ Glargina 300: ação ultralonga. − Lançado recentemente; − Casos que exigem doses maiores de insulina basal; − Com mesmo controle glicêmico e redução de hipoglicemia; − Início de ação: 2h; − Pico de ação: sem pico; − Duração de ação: até ~ 35h. Administração de insulina: seringa, bomba de infusão ou caneta. Um esquema típico consiste em uma insulina basal de ação longa uma vez (ou duas vezes) ao dia, juntamente com uma insulina em bolo prandial de ação curta antes das refeições. Dispõe-se de preparações de insulinas mistas, que consistem em 25 a 30% de análogo de ação curta e 70 a 75% de análogo de ação longa. Essas preparações são habitualmente administradas 2 vezes/dia e podem ser mais convenientes para alguns pacientes, em virtude da quantidade reduzida de injeções. Já desenvolvida e autorizada pela ANVISA. − Concentração máxima em 10-12 min; − Pico mais precoce que a ultrarrápida; − Reprodução mais fiel da insulina prandial; − Hipoglicemia um pouco menor; − Menor ganho de peso; Indicação: − DM1: junto da insulina basal; − DM2: junto com hipoglicemiante; Reações adversas: − Comprometimento da função pulmonar (↓VEF) − Tosse (25% casos); − Tabagista e DPOC não usar; − Permissão maiores de 18 anos. ç ✓ Hipoglicemia; ✓ Reações alérgicas; ✓ Resistência imune à insulina; ✓ Edema insulínico; ✓ Ganho de peso; ✓ Lipodistrofia (Lipoatrofia/Lipohipertrofia do tecido adiposo subcutâneo. DM2 Fármacos antidiabéticos orais: ✓ Que aumentam a secreção de insulina dependente de glicose + supressão de glucagon; ✓ Que aumentam a secreção de insulina (hipoglicemiantes); ✓ Que não aumentam a secreção de insulina (anti-hiperglicemiantes); 1. Agentes que aumentam a secreção de insulina dependente de glicose e que diminuem a secreção de glucagon: ✓ Análogos do GLP-1: exenatida, liraglutida, dulaglutida, lixisenatida. − Melhoram a secreção de insulina dependente de glicose; − Causam saciedade e diminuem a ingestão de alimentos; − Diminuem secreção pós-prandial de glucagon; − Promovem proliferação de células beta; − Reduzem: hiperglicemia pós-prandial, peso, HbA1C, e P.A. − São injetáveis; − Usado 1 h antes da refeições; − Indicados para pacientes que fazem uso de Metformina ou Metformina + Sulfonilureias (sem controle glicêmico). − Reações adversas: êmese, diarreia, constipação, pancreatite e aumento de internação por insuficiência cardíaca. − Como a exenatida aumenta a secreção de insulina em resposta a uma carga de glicose oral, ela não está associada ao desenvolvimento de hipoglicemia, a não ser que seja usada em associação com agentes como as sulfonilureias. ✓ Inibidores da DPP-4: sitagliptina, saxagliptina, vildagliptina, linagliptina. − Aumentam a concentração circulante do GLP- 1 e insulina de modo dependente de glicose; − Prolongam a meia vida do GLP-1 endógeno ao inativar a enzima plasmática DPP-4; − Diminuem concentração de glucagon; − Não reduzem o peso; − Geralmente não causam hipoglicemia; − Monoterapia ou associado com TZD ou metformina. 2. Agentes que aumentam a secreção de insulina: ✓ Sulfonilureias: glibenclamida, glipizida, glicazida, glimepirida. − Aumentam a secreção de insulina pelo pâncreas; − Reduz os níveis de glucagon (administração prolongada); − Ação hipoglicemiante durante todo o dia; − Reduz cerca de 1,5 a 2% da HbA1c; − Reduz risco de complicações microvasculares; − Ligação às proteínas plasmáticas: 90-99%. − Metabolização hepática e excreção urinária. − Reações: Hipoglicemia (princ. Glibenclamida – cuidado com idosos), anorexia, náuseas, vômitos, diarreia, dor epigástrica, aumento de peso; − Não apresentam bom controle glicêmico em monoterapia a longo prazo, especialmente quando ↓ cel. beta pancreáticas; − Indicação: associação com metformina quando não há controle glicêmico; − Contraindicações: gravidez, doença hepática e/ou renal. ✓ Glinidas: repaglinida, nateglinida. − Reguladores glicêmicos pós-prandiais; − Estimulaa secreção de insulina de forma similar às SU através dos canais de K+/ATP. − Absorção rápida: 15min pós-administração. − Concentração plasmática em 1 hora (menor tempo de ação); − Eficaz período pós-prandial: reduz 1% da HbA1c. − Metabolismo hepático. − Via de eliminação: 90% bile (repaglinida); 83% urina (nateglinida). − Efeito colateral: hipoglicemia leve, ganho de peso, náuseas, diarreia e cefaleia. − Contraindicação: doença hepática e/ou renal, gravidez. − Geralmente associado a metformina. 3. Agentes que não aumentam a secreção de insulina: ✓ Biguanidas: metformina. Ações: − Redução da produção de glicose hepática. − Retarda a absorção intestinal de açúcar e melhora a sua captação e uso periférico. − Melhora perfil lipídico (Inibe síntese de ácido graxo, colesterol). − Pode reduzir o peso. − Reduz complicações macrovasculares. Mecanismo: (ativação da AMPc cinase). − Metformina: o mais prescrito, especialmente para quem tem sobrepeso. − Não se liga às proteínas plasmáticas e não é metabolizada. − Excreção: urina (inalterada). − Efeitos Colaterais: náuseas, vômitos, desconforto abdominal, anorexia, diarreia, gosto metálico na boca; hipoglicemia (rara); reduz a absorção de vitamina B12 (5-10% pacientes). − Contraindicações: insuficiência renal e gravidez (pode causar efeitos futuros). − Metformina XR: liberação prolongada. ✓ Glitazonas: pioglitazona. − Ação: diminuem a resistência à insulina. Agonista Receptor Gama Ativado por Proliferador Peroxissomal (PPAR): − ↑Sensibilidade a insulina: (tecido adiposo, músculo, fígado); − modulam a expressão de genes envolvidos na transdução de sinal da insulina; − produtos de Sinalização da Insulina (ex. Prot. Transportadoras de Glicose GLUT-2 e GLUT- 4). − Efeitos colaterais: hepatotoxicidade (2%), proporciona ganho de peso, menor densidade óssea, retenção de líquidos, cefaleia. − Contraindicações: Hepatopatias, gravidez. Pioglitazona: − Ligação às Proteínas Plasmáticas: > 99 %. − Metabolização: Hepática. − Bile (Pioglitazona). − Ações: Efeito sobre a glicemia: até 12 semanas; melhora perfil lipídico (↑captação de ácido graxo pelo tecido adiposo, mais que no fígado e músculo); reduz gordura hepática e reduz HbA1c em 1 a 1,4 %. ✓ Inibidores do (SGLT-2): dapagliflozina, empagliflozina, canaglifozina. − SGLT-2: responsável por 90% da reabsorção de glicose renal. − Efeitos Colaterais: Infecções genitais em mulheres por fungos e bacteriana, poliúria, hipotensão (idosos), ↑de creatinina. − Vantagens: reduz peso, rara hipoglicemia, reduz PA, reduz eventos cardiovasculares. 1. Paciente obeso com diagnóstico de Diabetes mellitus 2 (glicemia de jejum 160 mg/dL, HbA1c 7,1 %) sem doença aguda concomitante. Como iniciar seu tratamento? R = MEV + metformina. 2. Paciente diabético (DM2), sem sobrepeso, em uso de Metformina, porém com glicemia pós-prandial sempre elevada. R = Associação com Glinidas, com agonista de GLP-1, com inibidor da DDP-4 ou com sulfonilureias (não é o mais efetivo, mas é disponibilizado pelo SUS). 3. Paciente diabético (DM2) fazendo uso de Metformina e Glibenclamida, porém sem controle efetivo da glicemia (glicemia de jejum 240 mg/dL). R = Opção 1: retirar a glibenclamida e aplicar insulinoterapia, geralmente NPH, noturna. Opção 2: retirar a glibenclamida e colocar um agonista de GLP-1 (depende do poder aquisitivo do paciente). 4. Paciente, mulher, 20 anos diagnosticada com Síndrome do Ovário policístico. Seu médico após o diagnóstico prescreveu anticoncepcional oral associado a Metformina. O que justifica a prescrição do Metformina? R = Metformina reduz a resistência insulínica da SOP e melhora a ovulação (pela captação de glicose pelos ovários). O anticoncepcional ajuda a diminuir as características masculinas provocadas pelo aumento dos hormônios androgênicos promovidos pela SOP. 5. Criança, 8 anos, atualmente fazendo uso duas vezes ao dia de insulina bifásica (pré-mistura de 70% insulina NPH e 30% insulina regular) apresenta quadro de hipoglicemia pós-prandial e noturna quase diariamente. O que fazer para melhorar o quadro desta criança? R = Substituir a insulina regular pela insulina ultrarrápida para a hipoglicemia pós-prandial e substituir a insulina NPH pela insulina de ação longa, como a glargina, para evitar hipoglicemia noturna.
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