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Apelação Cível nº 1001448-84.2019.8.26.0176 -Voto nº 29817 - B 2
6ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO APEL. : 1001448-84.2019.8.26.0176 APTE. : DENNIS LEME CAMILO PAULO APDO. : MUNICÍPIO DE EMBU DAS ARTES COMARCA: EMBU DAS ARTES 3ª VARA JUDICIAL JUÍZA : TATYANA TEIXEIRA JORGE
EMENTA INDENIZAÇÃO Responsabilidade civil Danos morais Alegação de negligência no atendimento médico Não comprovados os fatos alegados Inexistência do dever de indenizar Sentença de improcedência Recurso não provido HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS Recurso adesivo Insurgência do Município contra a fixação da verba honorária com fulcro no artigo 85, § 8º, do CPC Inaplicabilidade do critério da equidade Arbitramento que deve ser sobre o valor da causa (art. 85, § 3º, I e § 4º, III, do CPC) Recurso provido
RELATÓRIO
Trata-se de ação movida por Dennis Leme Camilo Paulo em face do Município de Embu das Artes, objetivando a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais que experimentou por suposta negligência médica, no valor de 80 salários mínimos.
A r. sentença de fls. 467/469 julgou o pedido improcedente e condenou o autor ao pagamento das custas e despesas processuais, além dos honorários advocatícios, estes fixados em R$1.000,00, por equidade, observada a gratuidade judiciária concedida. 
Inconformado, apela o vencido sustentando, em síntese, que sofreu acidente de trânsito em 23/05/2018, sendo socorrido pela equipe de bombeiros que o encaminharam ao Pronto Socorro do Hospital Alice Campos Machado. Alega que sentia fortes dores nas costas e peito, e que foram realizados exames de raio-x que identificaram fraturas nas mãos e tórax, havendo a recomendação para o uso de tipoia, enfaixamento do tórax, e talas nas mãos; que, embora tenha se queixado da constante dor, obteve alta médica com o uso do medicamento Tramadol 100mg; que no dia seguinte, diante do quadro de dor, procurou o hospital da rede do seguro saúde Next Butantã, onde foi internado imediatamente e realizado novo raio-x, no qual constou “fratura de costela com dispneia”, com indicação de cirurgia de urgência. Aduz que o apelado busca se eximir da responsabilidade ao afirmar que “o derrame não existia no dia do acidente”, tendo evoluído em 24 horas, e que a declaração médica de fl. 35 comprova a alegada negligência. Assevera que os danos sofridos são imensuráveis uma vez que teve grave risco de vida, tendo realizado duas cirurgias. Por fim, pede a procedência da ação. 
O Município apresentou recurso adesivo, requerendo a majoração dos honorários sucumbenciais fixados.
Recursos tempestivos, isentos de preparo e respondidos (fls. 485/496 Município / fls. 499/501 Autor).
FUNDAMENTOS
Em que pesem as razões expostas na apelação, o recurso do autor não comporta acolhimento.
Respeitado entendimento em sentido diverso, adoto o posicionamento segundo o qual no caso de dano por comportamento omissivo (negligência), a responsabilidade do Poder Público é subjetiva.
Como ensina Celso Antonio Bandeira de Mello em sua obra Ato Administrativo e direitos dos administrados, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 1981, pág. 144-145, citação feita por Rui Stoco, “in” Tratado de Responsabilidade Civil, São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 6ª edição, 2004, pág. 960, “Quando o dano foi possível em decorrência de uma omissão do Estado (o serviço não funcionou, funcionou tardia ou ineficientemente) é de aplicar-se a teoria da responsabilidade subjetiva. Com efeito, se o Estado não agiu, não pode, logicamente, ser ele o autor do dano. E se não foi o autor só cabe responsabilizá-lo caso esteja obrigado a impedir o dano. Isto é: só faz sentido se descumpriu dever legal que lhe impunha obstar o evento lesivo. Deveras, caso o Poder Público não estivesse obrigado a impedir o acontecimento danoso, faltaria razão para impor-lhe o encargo de suportar patrimonialmente as consequências da lesão. Logo, a responsabilidade estatal por ato omissivo é sempre por comportamento ilícito. E sendo responsabilidade por ilícito é necessariamente responsabilidade subjetiva, pois não há conduta ilícita do Estado (embora do particular possa haver) que não seja proveniente de negligência, imprudência ou imperícia (culpa) ou, então, deliberado propósito de violar norma que o constituía em dada obrigação (dolo). Culpa e dolo são justamente as modalidades de responsabilidade subjetiva”.
E, para o reconhecimento da responsabilidade civil, é necessário seja demonstrado que a omissão da Administração foi relevante na produção do resultado.
Vale dizer, para o reconhecimento do dever de indenizar não basta apenas a demonstração do fato e do dano, mas é necessária a presença do nexo causal, porque não é possível responsabilizar a quem não tenha dado causa ao evento.
No caso em apreço, há evidências de que não houve conduta ilícita do apelado, tendo o autor recebido atendimento médico condizente com a doutrina médica e protocolos normalmente adotados para o caso. 
E, na hipótese em apreço, inexiste o nexo de causalidade entre o dano alegado (fortes dores e risco de vida, devido à demora no diagnóstico) e a conduta dos médicos que atenderam o autor.
A r. sentença, de forma correta, julgou improcedente a ação.
Como bem anotado pelo MM. Juiz “a quo”: 
“Não se verifica que no atendimento no Pronto Socorro o autor tenha apresentado fraturas expostas, bem assim nada indica a existência do derrame pleural, ou qualquer outra emergência que justificasse sua permanência no nosocômio, ou a remoção para hospital que atendesse seu convênio médico, como pretendia, aliás, pautando pela Anotação de Enfermagem de fl. 37, estava “calmo, contactuando”, inclusive, foi verificado seus sinais vitais.
Assim, nada indicando falha do réu, cuja demonstração era incumbência do autor, já que se trata de fato constitutivo de seu direito (art. 373, I, do CPC), e oportunidade não lhe faltou (fl. 463), fracassa-se a pretensão.” (fl. 468)
É importante ressaltar que ao ser instado a especificar provas (fl. 463), o autor afirmou que não tinha outras provas a produzir, e o processo foi considerado apto para o julgamento.
E, da análise dos autos, não obstante no dia seguinte ao atendimento realizado no Pronto Socorro Municipal, o autor tenha buscado atendimento médico junto a rede particular, infere-se que não houve falta na prestação do serviço ou negligência no seu atendimento, como ele quer fazer crer.
Verifica-se que não ficou comprovada a alegada negligência do réu, nem tampouco o nexo causal entre a conduta médica adotada e os alegados prejuízos de ordem moral. 
Ademais, há que se considerar o fato de que não há nos autos notícia de eventuais sequelas, do que se conclui que o autor se recuperou totalmente.
Assim, inexistente o dano indenizável, os artigos 186 e 927 do Código Civil, ou mesmo o artigo 37, § 6º, da Constituição Federal não amparam o pedido em questão. Mesmo porque, como visto, não houve provas documental e técnica dos danos efetivamente sofridos, não se tratando de caso de dano presumido. Como se viu, inexistiu o ilícito civil.
Portanto, ausente o nexo de causalidade, inexiste o dever de indenizar.
Quanto à verba honorária, tem razão o Município.
O critério da equidade deve ser usado apenas nas causas em que for inestimável ou irrisório o proveito econômico ou, ainda, quando o valor da causa for muito baixo, o que não é a hipótese dos autos.
Assim sendo, arbitro os honorários advocatícios em 10% sobre o valor dado à causa, nos termos do § 3º, inc. I, em combinação com o § 4º, inciso III, do artigo 85 do CPC, com a observação de que o autor é beneficiário da Justiça Gratuita.
Por fim, considerando o desfecho do presente recurso, de rigor a observância da disposição contida no § 11º do art. 85 do novo Código de Processo Civil e assim, majorar os honorários advocatícios em razão dos debates havidos em seara recursal.
Deste modo, hei por bem majorar em 10% o percentual ora arbitrado, totalizando 11% do valor atualizado da causa (art. 85, § 11, do CPC), observada a gratuidade da justiça concedida ao autor.
Ante o exposto,pelo meu voto, nego provimento ao recurso do autor e dou provimento ao recurso adesivo do Município. REINALDO MILUZZI Relator

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