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AULA 3 GESTÃO ORÇAMENTÁRIA Profª Edicreia Andrade dos Santos 2 CONVERSA INICIAL Você já viu os aspectos iniciais do orçamento empresarial: origem, evolução, conceitos e principais características relacionadas ao seu uso e à sua aplicação. Agora, é a hora de estudar os tipos de orçamentos existentes: você já conhece algum? Cada empresa é diferente, por isso os seus objetivos também se diferem. Assim, é preciso encontrar um orçamento que se adapte às necessidades de cada organização. Há algum tempo, os chamados orçamentos tradicionais eram estabelecidos tendo como base as projeções de anos anteriores, ou seja, os gestores se baseavam em dados históricos para prever os dados futuros. Nessa época, o foco eram os gastos, não os ganhos. A partir de um determinado momento, o uso do orçamento clássico deixou de suprir as necessidades das empresas, afinal o mundo estava mudando, as mudanças, ocorrendo de forma mais rápida, e os clientes, passando a ser cada vez mais exigentes. Outro fator foi a globalização, pois com ela as distâncias diminuíram, e a concorrência cresceu. Hoje, um consumidor que mora aqui, no Brasil, pode facilmente realizar uma compra na China com um simples clique realizado pela internet, por exemplo. Consequentemente, as projeções das organizações também tiveram que ser adaptadas. Surgiram, então, novos métodos de orçamento que permitiam aos gestores ajustar as projeções conforme os cenários iam mudando, muitas vezes criando um orçamento completamente novo conforme um novo período surgia. Diante disso, o objetivo desta aula é tratar dos principais tipos de orçamento que os gestores e empreendedores têm à disposição e podem analisar e utilizar em sua empresa conforme as suas necessidades. Saiba mais Quer saber um pouco mais sobre os tipos de orçamento? Leia o texto disponível em: https://orcamentoempresarial.com/2018/01/29/os-dez- tipos-de-processos-e-orcamentos-empresariais/ CONTEXTUALIZANDO Assim como qualquer método de gestão, o orçamento empresarial precisa ser estabelecido de acordo com os objetivos estratégicos da empresa, abarcando https://orcamentoempresarial.com/category/tipos-de-orcamento/ https://orcamentoempresarial.com/category/tipos-de-orcamento/ https://orcamentoempresarial.com/2018/01/29/os-dez-tipos-de-processos-e-orcamentos-empresariais/ 3 os principais pontos das finanças organizacionais (lucratividade, rentabilidade, liquidez e risco). A gestão da organização precisa estabelecer e adotar um cenário para dar início ao plano orçamentário, com o intuito de impedir que surjam dúvidas na sua execução. Dessa forma, para iniciar a preparação do planejamento do orçamento, é preciso estabelecer a missão e os objetivos corporativos, além das premissas ambientais, para posteriormente construir o plano orçamentário. (Padoveze; Taranto, 2009), mas como escolher o melhor orçamento para a empresa? Existem diversos tipos de orçamento, e um dos primeiros e mais comuns é o estático. Nele, no decorrer do período orçado, não são permitidas mudanças. Por isso, em meio às transformações econômicas e tecnológicas que modificaram o mercado empresarial mundial, surgiram alternativas a esse modelo, tais como os orçamentos flexível, forecast, beyond budgeting e rolling budget, que permitiam desde pequenas a grandes modificações nas projeções. Posteriormente, novos modelos foram desenvolvidos, tais como o orçamento base zero e o controle matricial. Essas novas projeções foram conhecidas como modelos modernos de orçamento, ao buscarem construir projeções do zero, no caso do orçamento base zero, e ao utilizarem uma visão cruzada e objetiva das receitas e dos custos, no caso do controle matricial. Vamos conhecer esses modelos? TEMA 1 – ORÇAMENTO ESTÁTICO (BUDGET) Com a evolução das organizações, as formas de projeção também passaram por mudanças, por isso surgiram diferentes tipos e modelos de orçamento. No decorrer da evolução do orçamento, surgiram duas vertentes de orçamento. Segundo Padoveze e Taranto (2009, p. 32): [...] a primeira vertente buscava deixar o processo orçamentário mais preciso e rígido, transformando-o no mais importante instrumento do processo de planejamento das empresas, e outra que busca simplificar sua estrutura, chegando até mesmo a desestimular a sua utilização. Na figura a seguir, é possível visualizar a evolução dos modelos e tipos de orçamento: Figura 1 – Evolução dos conceitos e dos tipos de orçamento 4 Fonte: Padoveze; Taranto, 2009, p. 32. Conforme a figura, é possível observar que as duas vertentes têm como base o orçamento estático. Na primeira vertente, ele desempenha o papel de grande instrumento de controle, porém são aceitas algumas modificações nas projeções (orçamento ajustado). Nessa vertente, também são aceitos conceitos do orçamento base zero, e existe algum tipo de afinidade com os orçamentos ABC/ABM (ou de atividade) e com o controle matricial (Padoveze; Taranto, 2009). A segunda vertente está relacionada a flexibilização do orçamento por meio do uso de orçamentos como beyond budgeting, rolling budget, forecast e flexível e de métodos de avaliação de desempenho não financeiros, como o balacend scorecard (Padoveze; Taranto, 2009). Ademais, pode-se evidenciar que a base para as duas vertentes é o orçamento estático, também conhecido como orçamento original ou budget. Ele foi um dos primeiros modelos de orçamento conhecidos e até hoje é um dos modelos mais utilizados pelas empresas, servindo como base para a determinação do volume de vendas para um determinado período. A principal ideia desse orçamento é a elaboração de um plano contendo metas operacionais de diferentes áreas para um determinado período sem que essas metas possam ser modificadas. Tal orçamento é formado por outras projeções, que apresentam informações acerca de operações da empresa relacionadas a vendas, matéria-prima, mão de obra direta, custos indiretos de fabricação, despesas de vendas e demonstrações contábeis, como também 5 projeções relacionadas aos investimentos e aos financiamentos. Tais informações serão mais bem detalhadas na próxima aula. No orçamento estático, caso os resultados auferidos sejam diferentes das projeções, caberá aos gestores da organização responsáveis pela execução do orçamento justificarem o “porquê” desses resultados, haja vista que a principal premissa desse modelo é a imutabilidade dos dados fixados. Esse tipo de orçamento é limitado pela capacidade de uma organização prever com precisão quais são suas necessidades, quanto gastará para atender a essas necessidades e qual será sua receita operacional para o período. Os orçamentos estáticos podem ser mais eficazes para organizações que têm vendas e custos altamente previsíveis e para períodos de curto prazo. Por exemplo, se uma empresa tem os mesmos custos em materiais, serviços públicos, mão de obra, propaganda e produção mês após mês para manter suas operações e não há expectativa de mudança, um orçamento estático pode ser adequado às suas necessidades. Contudo, se esse planejamento preditivo não for possível, haverá uma disparidade entre o orçamento estático e os resultados reais. Em contraste, um orçamento flexível pode basear suas despesas de marketing em uma porcentagem das vendas totais do período. Isso significaria que o orçamento flutuaria junto com o desempenho da empresa e os custos reais. Uma das principais críticas a esse modelo deve-se ao fato de ele não permitir modificações ao longo de sua execução. No entanto, em alguns casos, essa rigidez é positiva, principalmente para as grandes empresas que precisam incorporar um grande número de orçamento menores no orçamento geral, conhecido como orçamento mestre. No próximo tópico, trataremos do orçamento flexível (Padoveze; Taranto, 2009). TEMA 2 – ORÇAMENTO FLEXÍVEL Relembrando as duasvertentes expostas no tópico anterior, argumenta-se que o orçamento flexível faz parte da segunda vertente que procura flexibilizar o orçamento estático, buscando solucionar a principal crítica realizada a esse modelo: a ausência de ajustes. No orçamento estático, a primeira etapa para o seu desenvolvimento é a estipulação da quantidade de produtos que serão vendidos, ou seja, o orçamento 6 de vendas, para, posteriormente, serem definidos a quantidade de mercadorias que devem ser produzidas, os custos e as despesas envolvidas. No orçamento flexível, o orçamento de vendas também é o ponto de partida, só que, ao contrário do estático, nesse método as modificações no volume de vendas são aceitas. Como a quantidade de mercadorias vendidas se torna variável, automaticamente, os volumes de produção, de custos e de despesas relacionados a ela também passam a ser variáveis. É importante destacar que os elementos fixos continuam sendo tratados pelo método tradicional. Dessa forma, as técnicas orçamentárias são utilizadas apenas para os custos e despesas que sejam fixos, semifixos e/ou semivariáveis. Alguns autores defendem que o orçamento flexível se aplica a todas as receitas, despesas e custos variáveis, enquanto outros defendem que devem ser estabelecidas faixas de nível de atividade para determinar as modificações que serão feitas nos elementos variáveis. No quadro a seguir, é apresentado um exemplo de orçamento com níveis de atividade: Quadro 1 – Orçamento flexível com níveis de atividade Orçamento por unidade Dados unitários (R$) Níveis de atividades – em unidades 7.000 8.000 9.000 Vendas Materiais e componentes Outros custos variáveis Soma – custos e despesas variáveis 31,00 21,00 0,80 21,80 217.000 147.000 5.600 152.600 248.000 168.000 6.400 174.400 279.000 189.000 7.200 196.200 Margem de contribuição 9,20 64.400 73.600 82.800 Orçamento – gastos mensais Custos fixos de manufatura Despesas comerciais e administrativas Total de custos e despesas fixas 37.000 33.000 70.000 37.000 33.000 70.000 37.000 33.000 70.000 Resultado operacional (5.600) 3.600 12.800 Fonte: Padoveze; Taranto, 2009, p. 36. Conforme já havia sido citado, o uso de níveis de atividade permite que as mudanças nos valores de receitas, custos e despesas ocorram só quando é atingido um determinado valor, resultando, assim, em menos mudanças do que se fosse utilizado o método tradicional. Quadro 2 – Orçamento flexível – vantagens e desvantagens Vantagens Desvantagens Uso em ambiente de custo variável: útil em empresas em que os custos estão estreitamente alinhados com o nível de Formulação: embora seja uma boa ferramenta, pode ser difícil formular e administrar. Um problema com a sua 7 atividade comercial, como um ambiente de varejo em que os custos indiretos podem ser segregados e tratados como um custo fixo, enquanto o custo da mercadoria está diretamente vinculado às receitas. Medição de desempenho: como é reestruturado com base nos níveis de atividade, é uma boa ferramenta para avaliar o desempenho dos gerentes. Também é uma ferramenta de planejamento útil para os gerentes, que podem usá-la para modelar os prováveis resultados financeiros em diversos níveis diferentes de atividade. Eficiência orçamentária: pode ser usado para atualizar com mais facilidade um orçamento para o qual a receita ou outros números de atividade ainda não foram finalizados. Sob essa abordagem, os gerentes dão sua aprovação para todas as despesas fixas, bem como para as despesas variáveis como uma proporção de receitas ou outras medidas de atividade. formulação é que muitos custos não são totalmente variáveis. Em vez disso, têm um componente de custo fixo que deve ser calculado e incluído na fórmula do orçamento. Além disso, muito tempo pode ser gasto desenvolvendo fórmulas de custo, o que é mais tempo do que a equipe típica de orçamento tem disponível no meio do processo orçamentário. Atraso de fechamento: não pode ser pré- carregado no software de contabilidade para comparação com as demonstrações financeiras. Em vez disso, o contador deve esperar até que um período de relatório financeiro seja concluído, depois inserir receita e outras medidas de atividade no modelo de orçamento, extrair os resultados do modelo e carregá-los no software de contabilidade. Só então é possível emitir demonstrações financeiras que contenham informações de orçamento versus informações reais, com variações entre os dois. Essas etapas extras atrasarão a emissão de demonstrações financeiras. Comparação de receita: não há comparação entre receitas orçadas e reais, já que os dois números são os mesmos. O modelo é projetado para combinar as despesas reais com as despesas esperadas, não para comparar os níveis de receita. Não há como destacar se as receitas reais estão acima ou abaixo das expectativas. Aplicabilidade: algumas empresas têm tão poucos custos variáveis de qualquer tipo que não faz sentido construir um orçamento flexível. Em vez disso, eles têm uma quantidade enorme de sobrecarga fixa que não varia em resposta a qualquer tipo de atividade. Além das vantagens e desvantagens evidenciadas no quadro, a principal crítica a esse método consiste no fato de que ele não segue a principal premissa 8 do orçamento, que é a previsão, já que, no decorrer da execução, são realizadas mudanças com intuito de adaptar as informações às situações que vão ocorrendo. Segundo Padoveze e Taranto (2009, p. 35), “no longo prazo esse estilo de orçamento dificulta a continuidade do plano orçamentário que é representada pela projeção das demonstrações contábeis/financeiras”. No próximo tópico, falaremos de mais alguns orçamentos relacionados à primeira e à segunda vertente. TEMA 3 – ORÇAMENTO FORECAST; ROLLING BUDGET E FORECAST; E BEYOND BUDGETING Após a apresentação de conceitos referentes a orçamento estático e flexível, neste tópico serão abordados mais alguns métodos de projeção que utilizam o orçamento tradicional como base e fazem algumas modificações para adaptar os dados planejados à realidade da empresa. Vamos conhecer os métodos: orçamento forecast; rolling budget e rolling forecast; e beyond budgeting. 3.1 Forecast O orçamento forecast, também conhecido como orçamento ajustado, foi a primeira variação do orçamento tradicional. Como você já aprendeu, este modelo não permite mudanças nos valores orçados no decorrer da aplicação do orçamento. O orçamento ajustado foi criado para flexibilizar o orçamento estático, permitindo que os gestores façam mudanças nos valores projetados no decorrer de sua execução caso alguma variável sofra grandes mudanças. Assim, ao realizar o processo de forecast, a organização utiliza os períodos já realizados e acrescenta a nova projeção para aqueles que ainda restam para encerrar o ciclo orçamentário. Vamos a um exemplo: uma indústria de roupas estabeleceu em seu orçamento anual que, no inverno daquele ano, o número de casacos de lã batida corresponderia a 80% das vendas de maio a agosto, no entanto as previsões apontavam que as temperaturas seriam muito altas, o que iria afetar diretamente o número de casacos vendidos. Como a empresa faz uso do orçamento ajustado, fez as devidas modificações no orçamento original. 9 Alguns autores acreditam que o orçamento só deve ser ajustado no caso de mudanças no volume de vendas inicialmente orçados, no entanto outros autores defendem que variações cambiais e de número de colaboradores da empresa também são motivos para que o orçamento seja reajustado (Padoveze, 2012). Um ponto que não pode ser deixado de lado é que as mudanças feitas no orçamento ajustado devem ser antes de os dados orçados serem realizados, ou seja, não existe ajustede valores passados, apenas de valores futuros. Quanto ao momento de realização de ajustes, não existem regras, a única norma que os gestores devem seguir é em relação a relevância: só mudanças importantes e que vão realmente afetar as projeções devem ser realizadas. Assim, vale salientar que uma grande vantagem para a gestão empresarial proveniente do forecast é possibilitar a avaliação passo a passo da tendência de resultado de suas ações. Esse fato permite que sejam identificadas necessidades de mudanças e até oportunidades a serem aproveitadas durante as etapas do período orçamentário. Saiba mais Forecast, orçamento ajustado e previsão A palavra forecast é um termo de origem americana que é utilizado para indicar dois conceitos: Orçamento ajustado: nesse caso, o forecast é um novo orçamento, o orçamento original modificado. Previsão até o fim do período orçado: corresponde à soma dos valores dos períodos anteriores com os valores dos períodos futuros, com um total que desconsidera as variações já ocorridas nos meses realizados. Fonte: Padoveze, 2012, p. 26. 3.2 Rolling budget e rolling forecast Para compreender esse tipo de orçamento, primeiro é preciso entender o significado do termo rolling. Esta palavra é usada para conceituar o orçamento contínuo, que, em linhas gerais, exige que um novo período de orçamento seja adicionado assim que o período mais recente for concluído. Ao fazer isso, o orçamento sempre amplia uma distância uniforme no futuro. No entanto, também requer uma quantidade considerável de trabalho orçamentário em todos os períodos para formular a próxima atualização incremental. Ele é aplicado em dois 10 tipos de orçamentos: rolling budget e rolling forecast (Padoveze, 2012). Preparado? O rolling budget é o método que faz uso da projeção contínua. Nele, normalmente o período orçado refere-se a um ano, organizado em períodos menores, como semestres, quadrimestres, trimestres ou meses. Adotando como medida os meses, assim que esse período passa, é excluído, e um novo período toma o seu lugar. Por exemplo: foi feito um orçamento de janeiro de 201X a dezembro de 201X. Quando janeiro terminar, o mês de janeiro do próximo ano toma o seu lugar. Segundo Padoveze (2012, p. 29), o principal fundamento desse conceito “concentra-se no período em que o orçamento é realizado. A partir daí, mais um período futuro é orçado, mantendo sempre uma quantidade futura igual de períodos”. Apesar de ser muito utilizado, esse método possui algumas críticas de ordem operacional, como a realização constante de orçamentos. O rolling forecast segue a mesma premissa do rolling budget, só que, em vez de ir substituindo os períodos (semestres, quadrimestres, trimestres ou meses) assim que eles são realizados, nesse método o processo é contínuo, ou seja, as mudanças vão acontecendo à medida que são necessárias. De acordo com Padoveze (2012), o conceito desse método é válido como modelo de planejamento contínuo, mas não promove o comprometimento dos gestores, já que estes não precisam justificar as variações entre o que foi planejado e os valores que foram realmente auferidos, até porque com tantas mudanças fica difícil fazer uma comparação, sendo essa a principal crítica a esse modelo. No próximo subtópico, trataremos do método beyond budgeting. 3.3 Beyond budgeting O método beyond budgeting significa além de comando e controle em direção a um modelo de gestão mais capacitado e adaptativo. Ele busca repensar a forma como as organizações são gerenciadas em um mundo pós-industrial, no qual modelos de gestão inovadores representam a única vantagem competitiva sustentável. Trata-se também de liberar as pessoas dos fardos da burocracia sufocante e dos sistemas de controle também sufocantes, confiando-lhes informações e dando-lhes tempo para pensar, refletir, compartilhar, aprender e melhorar. 11 Essa abordagem foi inicialmente aplicada por um banco escandinavo por mais de duas décadas, período em que essa entidade obteve resultados positivos (Hope, 2000). Ele não estabelece uma meta fixa: ocorre um planejamento continuo em que os gestores vão discutindo os resultados que vão sendo obtidos, os recursos que estão disponíveis, e, com base nessas informações, os próximos passos vão sendo traçados. De acordo com Hope e Fraser (2003, p. 70), algumas características desse tipo de orçamento são: • definição de metas levando em conta benchmarking externo à organização, numa perspectiva de médio prazo. Não existem metas fixas, mas variáveis, decorrentes do momento vivenciado pelos gestores. Pretende eliminar as metas anuais fixas para conviver com uma abordagem situacional; • motivação e premiações baseadas nas metas externas avaliadas posteriormente, levando em conta o que deveria ser feito. O objetivo dessa visão é reduzir o que os autores chamam de "jogo orçamentário", no sentido de atingir metas fixas a todo custo, inclusive abrindo mão de princípios éticos; • processo estratégico contínuo, descentralizado e até mesmo local, que deve ser incentivado considerando o nível de ambição e respostas rápidas; • oferecimento de recursos quando demandados, o que reduz perdas, desperdícios e gastos desnecessários, eliminando-se questões do tipo: "tenho que gastar para não perder a verba no ano que vem"; • coordenação entendida como "um time" ou "todos no mesmo barco", encorajando a cooperação e a excelência dos serviços; • circulação rápida de informações, que devem ser disponibilizadas para facilitar o aprendizado e encorajar o comportamento ético. Alguns autores destacam como ponto positivo a simplicidade de elaboração desse modelo, além da facilidade de adaptação, já que as projeções estão continuamente sendo definidas. No entanto, assim como no modelo citado anteriormente (rolling budget e rolling forecast), não existe a possibilidade de comparação, já que não são definidas metas. Desse modo, torna-se difícil determinar se os resultados estão dentro do que era esperado. No próximo tópico, trataremos do orçamento base zero. TEMA 4 – ORÇAMENTO BASE ZERO O orçamento base zero, também conhecido como zero-base budgeting, é um dos principais e mais populares modelos de orçamento em uso. Ele foi criado pelo Governo dos Estados Unidos na década de 1960 e posteriormente foi incorporado ao setor privado, já tendo sido utilizado por grandes empresas do mundo todo (Padoveze; Taranto, 2009). A primeira publicação do orçamento base zero (OBZ) ocorreu no ano de 1970 por Peter A. Phyr na Harvard Business Review, o qual foi o gestor 12 responsável por sua implantação na Texas Instruments na mesma década. O conceito central desse orçamento é elaborar as projeções como se estivesse construindo a empresa em seu início. Para isso, todos os gastos devem ser rigorosamente avaliados de maneira independente e com justificativas razoáveis em relação ao objetivo da organização. Nesse contexto, é de fundamental importância que os objetivos e as metas estejam claramente definidos para que as aplicações de recursos sejam avaliadas de acordo com a sua importância em relação ao que se espera alcançar. Nesse tipo de orçamento as atividades são classificadas em pacotes de decisão, os quais representam um documento de identificação e avaliação com o objetivo de permitir que possam ser priorizadas e se decida sobre a sua aprovação ou recusa. A sua utilização promove uma revisão de todos os processos da empresa com foco no seu objetivo. Assim, tudo aquilo que seja ineficiente ou desnecessário deve ser excluído. Um dos princípios desse orçamento é não permitir a simples continuidade do passado, obrigando que tudo seja revisado, além de exigir que qualquer ponto a ser inserido no orçamento deva ser devidamente justificado (Padoveze, 2012). Mas como surgiu o OBZ? O orçamento base zero surgiu como uma opção aoorçamento de tendências, que utiliza dados passados como premissa para o estabelecimento de projeções futuras. Ele parte do seguinte pressuposto: a estrutura de funcionamento da empresa continua a mesma, então, provavelmente, as receitas e as vendas não terão mudanças bruscas. O OBZ busca resolver três problemas do orçamento de tendência (Padoveze; Taranto, 2009, p. 43): 1. Objetivos e metas previstos não eram realistas com o valor orçado, o que gerava relevantes distorções; 2. No momento da elaboração do orçamento, algumas decisões operacionais que afetavam as quantidades necessárias ainda não haviam sido tomadas; 3. As quantidades do orçamento não eram estritamente alocadas de acordo com as alterações de responsabilidade e de carga de trabalho. Assim, o conceito fundamental do OBZ, de rediscutir se todas as atividades necessárias às operações deveriam ser reduzidas para o próximo período orçamentário, revela-se extremamente útil para questionar a utilização de tendências. Deste modo, o ponto principal do OBZ é deixar de lado os valores do passado. De acordo com a sua filosofia, o uso de valores antigos pode levar ao erro e à ineficiência, então cada novo período de projeção é como se a empresa estivesse começando naquele momento, do zero. 13 Alguns autores defendem que, além de ser um instrumento orçamentário, o OBZ é um método de administração geral que permite à empresa usar os seus fundamentos para melhorar o planejamento e a tomada de decisão. Esse método também possibilita a descentralização das operações e uma maior participação dos níveis mais baixos. O motivo? As organizações que utilizam o OBZ viabilizam aos colaboradores de todos os níveis apresentar dados e sugestões para a avaliação das necessidades de seus setores, ou seja, existe uma troca de informações entre os níveis altos e os níveis inferiores. Além disso, outro ponto relevante é que é possível identificar de forma clara onde há desperdício, o que se deve à separação dos dados do orçamento em unidades. No quadro abaixo, são apresentados características, objetivos, pontos positivos, benefícios e limitações desse tipo de orçamento: Quadro 3 – Características, objetivos, pontos positivos benefícios e limitações do orçamento base zero Item Descrição Características Análise de custo e benefício de todos os projetos, processo e atividades partindo do zero. Atenção aos objetivos e às metas das unidades de negócios cujos recursos são consequência do caminho ou da direção planejada. Correta utilização dos recursos com base nos objetivos e nos fatores-chave do negócio. Aprovação do nível de gastos com base em critérios previamente definidos. Desenvolvimento da participação, com forte comunicação entre as áreas. Fornecimento de informações para a tomada de decisão. Objetivos Desenvolver um planejamento tanto operacional como orçamentário para o próximo ano. Reduzir os custos. Saber o que realmente está acontecendo na organização para melhorar o processo de planejamento estratégico. Dispor dos recursos com uma base mais realista. Validar o planejamento a longo prazo. Conhecer as atividades e os programas. Dar à administração uma boa base de dados para a reestruturação da organização. Consegue economia no orçamento. 14 Fonte: Padoveze, 2012, p. 34-36. Conforme as informações apresentadas no quadro, podemos verificar claramente que o que torna esse método tão útil também funciona como uma espécie de limitação: detalhamento. O detalhamento, que, ao mesmo tempo, permite a identificação de forma clara da origem e dos responsáveis pelos gastos, também gera maior volume de dados e aumenta significativamente o tempo despendido. Para a aplicação do método, são necessárias três tarefas. A primeira consiste na identificação de cada atividade e operação, conhecida como base zero: “essa tarefa leva em conta cada uma das funções, os diferentes níveis de Pontos positivos Gera muitas informações de qualidade para os administradores em todos os setores da empresa. Melhora a qualidade da tomada de decisões políticas e administrativas. Aumenta o número de participantes do processo orçamentário. Ajuda na comunicação entre as diversas áreas da empresa. Identifica programas, atividades importantes e seus custos. Permite que os vários programas da organização sejam comparados; assim, os programas novos podem competir pelos recursos igualmente com os antigos. Identifica e elimina programas não usados, antigos ou ineficientes. Elimina ou diminui atividades paralelas ou repetitivas e, dessa maneira, possibilita a redistribuição ou a dispensa de pessoa que tenha pouco serviço. Benefícios Os administradores continuam a avaliar detalhadamente suas atividades, sua eficiência e sua eficácia em custo. Os administradores podem ser avaliados segundo os objetivos, o desempenho e os benefícios com os quais se comprometeram. As atividades com problemas de execução são rapidamente identificadas, podendo, assim, serem resolvidas. Limitações Necessidade de mais tempo e esforço para a preparação do orçamento. Aumento do volume do papel. Análise de muitas informações em um período curto. Grande necessidade de recursos humanos e materiais. Resistência do pessoal de nível hierárquico mais baixo, que tende a recusar mudanças e a defender a posição em que se encontram. Dificuldade em começar todos os anos partindo do zero. Aplicabilidade limitada à área de apoio e serviços. Possibilidade de administradores prejudicados pelo conceito tentarem atrapalhar o processo. Possibilidades de decisões erradas serem tomadas por causa de objetivos pouco claros. 15 esforço despendidos além das formas alternativas de realiza-las” (Padoveze, 2012, p. 36). A segunda tarefa está relacionada diretamente à primeira: o gestor deverá analisar as operações e propor recomendações, se for necessário. A última tarefa consiste na identificação das atividades do pacote de decisão e da sua ordem de importância. Afinal, o que é pacote de decisão? Segundo Padoveze (2012, p. 37), “o pacote de decisão é a descrição detalhada de uma atividade e de seus custos, isso permite sua comparação com outras atividades e orienta a gerência quanto à sua importância”, determinando os benefícios e as consequências das atividades, além das medidas de desempenho e as atividades alternativas. Já a ordem de importância dos pacotes de decisão é definida por meio da análise de custos e benefícios ou de outros métodos subjetivos que a empresa queira utilizar. Com base nessa análise, são definidas as atividades que podem ou não esperar. No próximo tópico, trataremos do controle matricial. TEMA 5 – CONTROLE MATRICIAL Até agora, abordamos os orçamentos tradicionais e as evoluções dos orçamentos mais utilizados. Um dos últimos conceitos no que tange ao orçamento empresarial é o controle matricial. Segundo Padoveze e Taranto (2012, p. 44), o controle matricial “consiste no exame detalhado dos gastos, com a definição das metas de redução especificas para cada gerência. Tais metas são definidas de acordo com a gerência comparando as melhores práticas”. A metodologia utilizada nesse método é muito semelhante à do orçamento baseado no PDCA. Vamos conhecer esta metodologia primeiro, o PDCA. O PDCA foi criado na década de 1920 por Walter A. Shewart, no entanto só na década de 1950 o método foi popularizado. Ele é utilizado com o intuito de gerar melhorias no controle, além da padronização das informações referentes a qualidade das operações e processos da empresa. De acordo com Falconi Consultores de Resultado (2018), a sigla PDCA é uma das primeiras ferramentas utilizadas para o controle de qualidade. Cada letra significa: P significa plan, de planejamento, ou seja, nessa etapa são identificados os problemas que serãoresolvidos; D significa do, que se refere à execução do que foi planejado; C significa check, de checagem, e essa etapa é relacionada ao 16 controle do planejamento; e, por fim, A, de act, que corresponde a ação. No quadro a seguir, são detalhadas as etapas do PDCA: Quadro 4 – PDCA Passos Descrição Plan O primeiro passo para a aplicação do PDCA é o estabelecimento de um plano ou um planejamento que deverá ser estabelecido com base nas diretrizes ou políticas da empresa e onde devem ser consideradas três fases importantes: a primeira fase é o estabelecimento dos objetivos; a segunda é o estabelecimento do caminho para que o objetivo seja atingido; e a terceira é a definição do método que deve ser utilizado para consegui-lo. A boa elaboração do plano evita falhas e perdas de tempo desnecessárias nas próximas fases do ciclo. Do O segundo passo do PDCA é a execução do plano, que consiste no treinamento dos envolvidos no método a ser empregado, a execução propriamente dita e a coleta de dados para posterior análise. É importante que o plano seja rigorosamente seguido. Check O terceiro passo do PDCA é a análise ou verificação dos resultados alcançados e dados coletados. Ela pode ocorrer concomitantemente a realização do plano quando se verifica se o trabalho está sendo feito da forma devida ou após a execução quando são feitas análises estatísticas dos dados e verificação dos itens de controle. Nesta fase, podem ser detectados erros ou falhas. Act A última fase do PDCA é a realização das ações corretivas, ou seja, a correção das falhas encontradas no passo anterior. Após realizada a investigação das causas das falhas ou dos desvios no processo, deve-se repetir ou aplicar o ciclo PDCA para corrigir as falhas (através do mesmo modelo, planejar as ações, fazer, checar e corrigir) de forma a melhorar cada vez mais o sistema e o método de trabalho. Fonte: Magalhães, 2009, p. 39-40. O principal foco da PDCA são as melhorias, e esse também é o foco do controle matricial, que possui como principal intuito o acompanhamento e o controle de gastos. Tal método pode ser utilizado em qualquer tipo de empresa e no Brasil foi adotado no final da década de 1990 por grandes empresas, como a AMBEV. Em 1998, a empresa Ambev criou um projeto orçamentário matricial chamado de “Volta às origens”, e no ano de 1999 os resultados foram extremamente positivos: houve uma redução de gastos fixos de 152 milhões em relação ao ano anterior (Padoveze, 2012). Para conhecer esse método, é preciso conhecer algumas definições, que estão apresentadas no quadro a seguir: Quadro 5 – Conceitos básicos 17 Termo Descrição Variável de análise É uma conta contábil ou mesmo um grupo de contas contáveis homogêneas em relação aos lançamentos que as originam. Por exemplo, as diversas contas contábeis que recebem os lançamentos dos custos sobre a folha de pagamento podem ser colocadas em uma variável de análise chamada de encargos de folha. Pacotes São grupos de variáveis de análise relacionadas ao mesmo tema. Por exemplo, despesas de pessoal. Entidade É o menor nível em que serão realizados levantamentos de dados. Pode ser uma unidade organizacional da empresa ou um centro de custos. É importante sabermos que, para cada entidade, é definido um dono e um gestor. Fonte: Padoveze, 2012, p. 45. E agora, o que fazer com esses conceitos? O controle matricial não tem esse nome por acaso: a elaboração do orçamento com base nesse método se dá pelo cruzamento entre os pacotes e a entidade. Imagine a seguinte situação: a área de compras solicitou a aquisição de alguns materiais de escritório, e esses gastos são controlados pelo gestor do setor de compras, como também são controlados pelo gestor responsável pelos materiais de escritório, ou seja, forma- se um cruzamento de informações que gera redução de custos. Segundo Padoveze (2012, p. 45): Na matriz de controle matricial, as linhas são os pacotes, e as colunas são as entidades. Um pacote é um conjunto de contas da mesma natureza, como salário, INSS, FGTS e férias. Essas contas constituem as linhas do pacote chamado de pessoal. A entidade é o gestor responsável pelo pacote. Nesse exemplo, o responsável pelo controle orçamentário matricial é o gestor de recursos humanos da empresa. De forma geral, nesse método existem dois tipos de controle: o gestor de cada departamento faz o orçamento de todas as despesas, as quais são divididas em pacotes; cada pacote é de responsabilidade de um gestor, e cada um desses gestores representa um pacote. Dessa forma, pode-se dizer que existe um gestor responsável pelo controle de todas as despesas de um departamento e existe outro gestor (ou outros) que é responsável pelos pacotes que fazem parte de cada centro de custos (Padoveze, 2012). O modelo tradicional de classificação contábil do controle matricial é representado na figura a seguir: Figura 2 – Modelo tradicional de classificação contábil 18 Fonte: Padoveze, 2012, p.46. Conforme a figura observa-se uma relação matricial entre as receitas e despesas. O sistema funciona da seguinte maneira: as despesas e as receitas precisam ser classificadas por conta contábil e por departamento. Ou seja, as receitas/despesas são as informações de linha e devem ser classificadas de acordo com o departamento/centro de custos/centro de receitas, que são as informações de coluna (Padoveze, 2012). No modelo tradicional de controle, só os gestores das colunas são responsáveis pelo controle de gastos, receitas e contas contábeis; já o modelo matricial apresenta uma novidade, pois os gestores das linhas também são responsáveis pelo controle, ou seja, o controle sobre o orçamento é muito maior. FINALIZANDO Com base no conteúdo apresentado na aula, foi possível conhecer um pouco mais sobre os diferentes tipos de orçamento utilizados pelas empresas. Conhecemos desde o orçamento estático, o método mais comum e que não permite mudanças ao longo da sua execução, ao orçamento flexível, que permite que o plano orçamentário seja adaptado a situações que afetem o orçamento no meio de sua execução. Compreendemos, ainda, planos orçamentários que começam do zero em cada período ou que façam pequenas mudanças em orçamentos estáticos. O estudo do tema buscou a ampliação do conhecimento sobre os tipos de orçamento existentes, além do aprofundamento do conteúdo anteriormente estudado, visando dar uma visão geral sobre o assunto. Porém, enfatiza-se que esse assunto é muito extenso, o que cria a necessidade de que novas pesquisas sejam realizadas posteriormente. 19 LEITURA COMPLEMENTAR Texto de abordagem teórica Acesse o livro Orçamento empresarial: novos conceitos e técnicas (PADOVEZE; TARANTO), e leia o item Tipos de orçamento, rolling budget e fore cast (3) Orçamento base zero (4)e as de orçamento e base zero – unidades 3 e 4. Disponível na Biblioteca Virtual (AVA Univirtus). Pode acessar digitando a palavra-chave “Orçamento empresarial: novos conceitos e técnicas”. Texto de abordagem prática FELTRIN, D.; BUESA, N. Y. Orçamento empresarial: uma ferramenta para tomada de decisão. Revista Eletrônica Gestão e Negócios, v. 4, n. 1, 2013. Esse artigo trata das características dos orçamentos estático e flexível. Saiba mais Orçamento matricial Trata dos aspectos gerais do orçamento matricial. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CEQs_210ZC0>. Acesso em: 4 jun. 2018. https://www.youtube.com/watch?v=CEQs_210ZC0 20 REFERÊNCIAS FALCONI CONSULTORES DE RESULTADO. O método PDCA. Disponível em: <https://www.falconi.com/quem-somos/o-metodo-pdca/>. Acesso em: 4 jun. 2018. HOPE, J. Beyond budgeting: pathways to the emerging model. Balanced Scorecard Report. Harvard Business School Publishing, p. 3-5, 2000. MAGALHÃES, A. R. Aplicação do orçamento matricial para redução de custos de terceirizaçãoem uma empresa. 110 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Mecânica) – Universidade de Taubaté, Taubaté, 2009. PADOVEZE, C.; TARANTO, F. C. Orçamento empresarial: novos conceitos e métodos. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2009. PADOVEZE, C. Orçamento empresarial. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2012.
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