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ARAGUARI 2019 INSTITUTO MASTER DE ENSINO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS BIANCA DE PAULA FARIAS, EDUARDA CRUZ DA SILVA FERREIRA, EDUARDO PIMENTA QUEIROZ, EURIPEDES DA COSTA MACHADO, FELIPE ALEXANDRE RIOS CARNEIRO, GABRIEL MARQUEZ BERNARDES, GABRIELA FERREIRA ANDRADE, GUILHERME LEITE MACIEL, ISABELLA KAROLINE SOUSA MORAES, LAÍS REIS SILVA E MARIA LUIZA LOUREÇO DE OLIVEIRA A EVOLUÇÃO DA MEDICINA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: OS DESAFIOS DO ONTEM E HOJE ARAGUAR 2019 BIANCA DE PAULA FARIAS, EDUARDA CRUZ DA SILVA FERREIRA, EDUARDO PIMENTA QUEIROZ, EURIPEDES DA COSTA MACHADO, FELIPE ALEXANDRE RIOS CARNEIRO, GABRIEL MARQUEZ BERNARDES, GABRIELA FERREIRA ANDRADE, GUILHERME LEITE MACIEL, ISABELLA KAROLINE SOUSA MORAES, LAÍS REIS SILVA E MARIA LUIZA LOUREÇO DE OLIVEIRA A EVOLUÇÃO DA MEDICINA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: OS DESAFIOS DO ONTEM E HOJE Trabalho desenvolvido pelo segundo período do curso de graduação em Medicina do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos. proposto pelo o eixo 2.2 A – Atenção à Saúde Individual e Coletiva , em integração com o eixo 1.2 – Comunicação, Profissionalismo e Humanização. TERMO DE APROVAÇÃO BIANCA DE PAULA FARIAS, EDUARDA CRUZ DA SILVA FERREIRA, EDUARDO PIMENTA QUEIROZ, EURIPEDES DA COSTA MACHADO, FELIPE ALEXANDRE RIOS CARNEIRO, GABRIEL MARQUEZ BERNARDES, GABRIELA FERREIRA ANDRADE, GUILHERME LEITE MACIEL, ISABELLA KAROLINE SOUSA MORAES, LAÍS REIS SILVA E MARIA LUIZA LOUREÇO DE OLIVEIRA A EVOLUÇÃO DA MEDICINA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: OS DESAFIOS DO ONTEM E HOJE Trabalho apresentado no Eixo 2.2 A –Atenção à Saúde Individual e Coletiva em integração com o eixo 1.2 – Comunicação, Profissionalismo e Humanização do curso de Medicina do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos – IMEPAC- ARAGUARI Aprovado pela banca examinadora em / / Prof (a). Dr (a). Orientador (a) Prof (a). Dr (a) Prof (a). Dr (a) RESUMO O objetivo deste estudo é abranger a evolução da medicina que compõe a sociedade contemporânea: os desafios do passado e da atualidade. Portanto, a abordagem metodológica empregada no estudo baseia-se na ocorrência de fatos ocorridos ao longo dos anos. Nesse sentido, este trabalho acadêmico contém uma crescente seleção de relatórios, trabalhos científicos, boletins e outras fontes confiáveis. ABSTRACT The objective of this study is to encompass the evolution of medicine that comprises the contemporary society: the challenges of the past and nowadays. Therefore, the methodological approach employed in the study is based on the occurrence of facts that occurred over the years. In this sense, this academic work contains a growing selection of reports, scientific papers, newsletters and other trusted sources. SUMÁRIO 1 INTRODUÇAO ...............................................................................................06 a 07 1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 07 2 METODOLOGIA ................................................................................................... 08 2.1 TIPO DE PESQUISA........................................................................................... 08 2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO ....................................................... 08 2.3 UNIVERSO DA PESQUISA ............................................................................... 08 3 DESENVOLVIMENTO 3.1.O INÍCIO DA MEDICINA .............................................................................09 a 11 3.2.SÃO LUCAS OU O EVANGELISTA ...........................................................12 a 14 3.3.MEDICINA MEDIEVAL ...............................................................................14 a 16 3.4.RENASCIMENTO .......................................................................................16 a 22 3.5.MEDICINA NOS SÉCULOS XVII, XVIII E XIX ............................................22 a 25 3.6. OS AVANÇOS DA MEDICINA NO INÍCIO DO SECULO XX ................25,16 e 27 3.7. ALEXANDER FLEMING E A DESCOBERTA DA PENICILINA ...............27 a 28 3.8.OS EXPERIMENTOS MÉDICOS NAZISTAS .............................................29 a 37 3.9MEDICINA NA SEGUNDA METADE DO SECULO XX ..............................37 a 39 3.10.O INÍCIO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA .................................39 a 41 3.11.A MEDICINA ATUAL ................................................................................41 a 44 4.CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 46 5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................47 a 48 6 1. INTROUÇÃO: A MEDICINA NASCEU DO INSTINTO. Esse Seminário Integrado tem por objetivo avaliar a análise crítico-reflexiva dos alunos do primeiro ciclo do segundo período de Medicina do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos (IMEPAC) de 2019. Juntamente ao aprofundamento teórico, o qual será interrelacionado com o auxílio de pesquisas fundamentadas na metodologia de busca ativa. Baseando-se na realização de interrelações temáticas entre os percursos curriculares do Eixo 1.2 “Comunicação, Profissionalismo, e Humanização” e do Eixo 2.2 A “Atenção à Saúde Individual e Coletiva”. O Seminário Integrado terá como temática “A Evolução da Medicina na Sociedade Contemporânea: os desafios do ontem e hoje...”. Dessa forma, nesse seminário, será abordado na temática, o antes, durante e depois das ciências medicas. Sua fundamentação teórica terá início na Grécia (a.C. e d.C.), por conseguinte será abordado também a Medicina durante a Idade Média, Renascimento e logo após os séculos XVII, XVIII, XIX, constará os avanços da medicina do início, até a segunda metade do século XX, juntamente ao descobrimento da Penicilina e os experimentos médicos nazistas, por fim, será abordado também o início das políticas públicas de saúde no Brasil até os dias atuais. A história da medicina ao invés de desenvolver-se em torno do aprendizado e do empirismo, germinou-se instintivamente. Sendo assim, considerando a manutenção da integridade orgânica como a primeira exigência para a conservação da saúde e da vida, no que diz respeito a “Seleção Natural”, a medicina nos favoreceu. No entanto, embora a sobrevivência seja erroneamente interpretada de forma animalesca, o surgimento da medicina evidencia a parte solidária de sua índole. O altruísmo, com sua essência recíproca, precede a ética como atitude social voltada para o coletivo. Conceituada e propagada por filosofias posteriores, como “defesa do homem e da vida”, a Ética tem seu núcleo fundante no desejo de ajudar. Sendo assim, atualmente no século XXI, com inúmeros avanços tecnológicos, ascensão do capitalismo, ressignificação de valores, conflitos sociopolíticos, a índole solidária, empática a qual pertenceu à medicina desde os primórdios de seu nascimento, encontra- se majoritariamente imperceptível. Isso acontece devido a 7 diversos fatores os quais desvirtuam o médico de sua função ética e social. Seja pela mercantilização da saúde, seja pela perda de valores humanitários. À vista disso, urge a necessidade de resgatar a legitimidade da universalidade, integralidade e equidade. Princípios que reminiscênciaram da Grécia a.C. para o Brasil em 1988, com o intuito de sustentar os pilares do SUS, Sistema Único de Saúde o qual determina como dever do Estado garantir saúde a toda a população brasileira. 1.1.OBEJETIVOS O objetivo desse trabalho acadêmico é proporcionar o desenvolvimento da capacidade de pesquisa, de raciocínio e de reflexão em torno do tema: A Evolução da Medicina na Sociedade Contemporânea: os desafiosdo ontem e hoje. Nesse contexto, foi elaborado trabalho escrito e apresentação oral, em forma de seminário, que visa a proporcionar aos estudantes conhecimento sobre a história da medicina, o aprofundamento dos avanços da área médica na contemporaneidade e consequentemente os problemas trazidos com essa evolução. Assim os alunos do curso de medicina, do 2º período, do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos terão referencial teórico sobre o tema em modelo de revisão bibliográfica. 1.2.1. Objetivo Geral Identificar os principais avanços da medicina com o passar dos séculos e contextualizar de forma comparativa os desafios apresentados em cada fase. 1.2.2. Objetivos Específicos Conceituar métodos da medicina tradicional e contemporânea; Diagnosticar a contribuição de diferentes povos; Analisar os impactos da medicina no ontem e no hoje; Identificar os progressos da medicina no que tange as relações interpessoais da contemporaneidade. 8 2. METODOLOGIA 2.1. TIPO DE PESQUISA O seminário acerca da Evolução da Medicina na Sociedade Contemporânea: os desafios do ontem e hoje trata-se de um tipo de pesquisa descritiva, uma vez que contempla tanto a busca como a elaboração de uma cronologia de fatos.Com isso, é aplicada, uma vez que considera a necessidade de elaborar reflexões sobre a transformação da medicina no longo dos séculos. 2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO A Evolução da Medicina na Sociedade Contemporânea: os desafios do ontem e hoje, constitui como uma atividade avaliativa que se baseia na divisão dos séculos com seus respectivos marcos históricos acerca da medicina. Desse modo, foram fragmentados em: Grécia A.C.; Grécia D.C.; Idade Média; Renascimento; Medicina nos Séculos XVII, XVIII e XIX; Os Avanços da Medicina no Início do Século XX; Descobrimento da Penicilina; Experimentos Médicos Nazistas; Medicina na Segunda Metade do Século XX; Início das políticas Públicas de Saúde no Brasil e a Medicina Atual. Portanto, trata-se de uma abordagem que busca englobar uma análise teórica e, também, proporcionar uma justaposição de conhecimentos, o que corrobora para o desenvolvimento acadêmico. 2.3 UNIVERSO DA PESQUISA As metodologias utilizadas para o universo da pesquisa foram a realização de levantamentos bibliográficos, no qual serão utilizados livros, artigos científicos disponíveis em revistas eletrônicas, dispostos em sites de pesquisa como Scielo. Para a inclusão de artigos científicos, serão utilizados aqueles que em seu contexto apresentarem dados necessários para a explicação minuciosa, detalhada e exata ao assunto proposto neste trabalho. 9 3. DESENVOLVIMENTO 3.1 O INÍCIO DA MEDICINA Existem vestígios, obtidos em sítios arqueológicos, indicando possíveis práticas de atenção médica e tratamentos de sintomas, evidenciadas por fraturas de membros, extrações dentárias, correções de anomalias corporais e o uso de ervas, dentre outras substâncias. Logo, existem quatro afirmações possíveis de afirmar. Primeiramente, a medicina surgiu com a humanidade, mais especificamente durante o primeiro ato de altruísmo, quando é prestado socorro à um semelhante doente ou ferido. Logo, a medicina atual expressa a evolução de um conhecimento milenar. Por conseguinte, a busca por pessoas indicadas para consultas, os que decifraram a habilidade de cura, os médicos e cirurgiões. Definindo posteriormente, diferenciações profissionais, uma vez que, o homem reconhece a insuficiência da automedicação e insignificância dos palpites ignorantes. 3.1.1.O Surgimento de Hipócrates Hipócrates de Cós (460-370 a.C), nascido de uma família de sacerdotes- médicos, os quais diziam ser descendentes de Asclépio, filho de médico e aluno de Heródoto de Selímbria. Se tornou o “Pai da Medicina” no fim do século V e início do IV a.C, juntamente aos primórdios do surgimento das escolas médicas de Cnido e de Cós, as quais cultuavam respectivamente, o tradicionalismo médico mais arraigado e a medicina de maior abertura a novas idéias. Ademais, ambas representavam evolução de conhecimento médico, abstendo de rivalidades com teor progressista ou conservadores. Após rompimento com o culto estabelecido, Hipócrates não visitou o Oriente nem o Egito, os quais se definiam como estágios no exterior da época. No entanto, praticou e ensinou sua medicina em Larissa, Tasos, Delos, Abdera, Perinto, Crotona e outras cidades, acompanhado de assistentes e auxiliares, conforme o que era definido pela época. Todavia, com a morte de Péricles, em 481 a.C, causada pela peste em Altina 10 É importante ressaltar que, embora o Hipócrates, com sua essência puramente humana, tenha sido famoso como médico e professor, nenhum tratado isolado pode ser seguramente identificado como sendo dele e muitos dos detalhes tradicionais de sua vida são invenções posteriores a ela. Contemporâneo de Sócrates, Platão, Heródoto, Tucidides, Fídias, Polignoto e Péricles em Atenas, vivendo numa época áurea e numa cidade que liderava intelectualmente o mundo e para este mostrava os caminhos da inteligência, da razão, da beleza, da harmonia e da grandeza, deixando um sombrio passado para trás, Hipócrates representou para a Medicina o que as maiores contribuições de seus iluminados contemporâneos representaram para a filosofia, as artes e a política. 3.1.2.Ética Médica Hipocrática Ética significa um conjunto de qualidades nobres juntamente com a defesa do homem e da vida, associa-se à Medicina desde a antiga Grécia e, passando por todas as épocas, chegou até os dias presentes. Com a figura Socrática, a filosofia clássica associa a essência da ética aplicada à sociedade. Sintetizando conceitos de responsabilidade médica e benefícios aos pacientes, a Ética Médica, que surgiu com a figura indispensável de Hipócrates, estabeleceu a verdade na Medicina. A verticalidade hipocrática era sustentada por dois pilares, a prudência e a virtude, o que colocava o médico sem grandes opções técnicas quanto ao curar mas com grandes reservas de bondade, compaixão, amizade, protecionismo, cortesia, caridade e simpatia , virtudes que, diga-se de passagem, mesmo nesta época de técnica avançada, muitas vezes fazem mais falta para o paciente que uma fria prescrição. A medicina hipocrática não é mais do que a aplicação da razão ao conhecimento médico e um despertar do humanismo virtuoso na arte de curar. Está embasada em preceitos homéricos, pitagóricos, socráticos, platônicos e estoicos. O bom e o belo eram buscados não só no mundo ideal, mas também no corpo humano, transformando esse objetivo na sua meta maior. Reverência aos mestres, respeito ao sigilo profissional, respeito e benefício incondicional ao paciente, total proteção à vida humana, moralidade pessoal e vida profissional ilibada. Estes são os principais conselhos morais apontados no Corpus 11 Hippocraticum, abaixo se encontra a figura do manuscrito juntamente à sua transcrição. “Juro por Apolo, médico, por Asclépio, por Higéia e por Panacéia, por todos os deuses e todas as deusas a quem tomo por testemunhas do cumprimento deste juramento, que me obrigo a cumprir com todas as forças e minha vontade. Dedicarei a meu mestre de medicina igual respeito ao que dedico aos autores de meus dias, dividindo com ele meus haveres e socorrendo-o, em caso de necessidade; considerarei seus filhos como meus irmãos, e, se quiserem aprender medicina, ensiná-la-ei desinteressadamente e sem nenhuma recompensa. Instruirei com preceitos, lições teóricas e demais métodos de ensino a meus filhos, os de meu mestre e os discípulos que me acompanharem conforme a convenção e o juramento da lei médica e a mais ninguém. Prescreverei o regime dos enfermos de modo que lhes seja mais proveitoso, conforme minhas possibilidades e meu conhecimento, evitando todo o mal e toda a injustiça. Não darei venenos a ninguém,mesmo que me peça, nem farei sugestões nesse sentido. Abster-me-ei igualmente de administrar às mulheres grávidas pessários abortivos. Passarei minha vida e exercerei minha arte com simplicidade e pureza. Não praticarei a operação da talha, deixando esta operação aos que se dedicam a praticá-la ordinariamente. Quando entrar em uma casa, não levarei outro propósito que não seja o bem e a saúde dos enfermos, cuidando de não cometer intencionalmente faltas injuriosas ou corruptoras, e sobretudo evitando a sedução das mulheres e dos rapazes, livres ou escravos. Guardarei segredo sobre o que vir ou ouvir na sociedade e não seja preciso que se divulgue, seja ou não no exercício de minha profissão, considerando a discrição como um dever em tais casos. Se observar com fidelidade este juramento, seja-me dado gozar felizmente minha vida e minha profissão, honrado sempre entre os homens; se o quebrar e for perjuro, caia sobre mim sorte adversa” 3.1.3.Legado de Hipócrates Com toda probabilidade, a obra hipocrática completa é reflexo mais de uma Escola que de um homem isolado. Entretanto, isso não retira mérito de seu 12 monumental legado: separação do mito e da filosofia da ciência; sistematização da medicina; mundo natural como base da medicina; código de ética médica. 3.2. São Lucas, o Evangelista Dentre todos os personagens que compõem a história da Medicina – curandeiros, barbeiros, sacerdotes, médicos se insere Lucas. São Lucas, o Evangelista é o autor do Evangelho de São Lucas e dos Atos dos Apóstolos - o terceiro e quinto livros do Novo Testamento. Foi médico grego e cidadão (ou escravo) romano, que descreveu com carinho e afeto a vida de Jesus Cristo na Terra, seguindo os seus passos pouco tempo, após seu Calvário, ao mesmo tempo acrescentou um piedoso capítulo à história da Medicina. Lucas revolucionou a maneira de ver e lidar com os pacientes por embeber Medicina de amor, de compaixão, solidariedade e até mesmo de cumplicidade, uma vez que juntou aos conhecimentos aprendidos na escola Médica de Pádua e aos ensinamentos de Keptah. O Evangelista possuía a crença de que o preparo espiritual dos pacientes e o carinho dos médicos são de importância fundamental no êxito do tratamento proposto, assim sendo, procurava fortalecer a confiança no médico e a fé do paciente como fatores primordiais para a efetividade da terapêutica. Além disso, Lucas considerava que o poder divino seria ilustrativo, mas com influência benéfica para a cura, uma vez que é possível fortificar a mente do paciente por meio de energia capaz de aliviar ou vencer muitos de suas enfermidades, quando bem administrado. Logo, várias das curas atribuídas ao Evangelista, além da eficácia dos tratamentos com ervas e outros remédios de cunho naturais, têm sido consideradas milagrosas, como ele próprio descreve em uma passagem: “quantas vezes, pedindo o auxílio de Deus, não obtive a cessação de severos sofrimentos, ao colocar a mão sobre a cabeça do paciente, para que a corrente da força mental pudesse passar do meu querer, para os seus centros vitais, quando bem preparados para a receptividade desejada! Que os médicos do futuro também se utilizem desses meios para aliviar os seus clientes!” Como forma de explicar as curas, descreve-as no terceiro Evangelho e no Atos dos Apóstolos, Lucas engrandecia o poder do Espírito Santo, suficiente por si https://pt.wikipedia.org/wiki/Evangelho_de_S%C3%A3o_Lucas https://pt.wikipedia.org/wiki/Atos_dos_Ap%C3%B3stolos https://pt.wikipedia.org/wiki/Novo_Testamento 13 só, de produzi-los, uma vez que muitos homens teriam a capacidade de transmitir fluidos superiores, por bençãos de Deus, produzindo curas notáveis, como as que o próprio Lucas obteve. É perceptível em sua oratória a importância do médico estender o contato humano com seus pacientes na ideia de melhorar o tratamento e isso fica claro em algumas de suas falas como: “por que os médicos não se aperfeiçoam em ministrá-las, deixando de utilizar mezinhas e alquimias, ou recorrendo a esses tratamentos apenas como último recurso?” Seguindo essa linha de raciocínio, o Evangelista não preconizava pagamentos em dinheiro pelo cuidado dos enfermos, ao invés disso, Lucas pedia, como retribuição pelo tratamento médico, que os pacientes ouvissem dele a história de Jesus Cristo e se confessassem com ele; um exemplo é o da cura de lesões cutâneas de Thacia. Há pelo mundo muitas de histórias, comemorações e orações acerca do médico e pintor São Lucas, e uma dessas orações os devotos pedem ao santo, tratamento para o espírito mais do que para o corpo: “Deus Todo Poderoso, que chamaste Lucas, o médico, cuja glorificação está no Evangelho, para ser um evangelista e médico da alma, seja do Teu agrado que, através dos remédios salutares da doutrina que ele divulgou, todos os males de nossa alma fiquem curados; pelos méritos de Teu filho Jesus Cristo nosso Senhor. Amém”. De certo modo, não existe um concessão geral sobre algumas datas e documentos a respeito do período de atuação do Evangelista e do Dia do Médico, variando conforme a crença, porém, é certo que na França, em 1427, já era realizada a sua festa em 18 de outubro, e que na Universidade de Pádua, na Itália, em 1463, São Lucas foi proclamado patrono do Colégio dos Filósofos e dos Médicos e em sua homenagem o ano letivo tinha início nessa data. Logo, o dia dedicado a São Lucas é 18 de outubro, assim sendo, comemorado em muitos países, dentre os quais Portugal, França, Espanha, Itália, Bélgica, Polônia, Inglaterra, Argentina, Canadá e Estados Unidos, além do Brasil. Mas, não se sabe se a data corresponde ao seu nascimento ou à sua morte por decapitação. Também, vale apena ressaltar que não há informações precisas sobre a época em que recebeu o título de Patrono dos Médicos, mas provavelmente foi inicialmente patrono dos médicos católicos, pela profunda religiosidade de sua Medicina. Destarte, o escritor norte-americano Bernie Siegel (1984) sugere a seguinte experiência espiritual: “todos os médicos deveriam trabalhar, como parte de sua 14 formação profissional, com pessoas portadoras de doenças “incuráveis”. Seriam proibidos de receitar medicamentos ou intervenções cirúrgicas; precisariam, isso sim, sair a campo e ajudar os doentes afagando-os, rezando com eles, participando, no nível emocional, de suas dores.” Esse pensamento é útil para travar um paradoxo entre a medicina do passado e a do hoje. Enxergar como no presente se colhe os frutos que foram, de certa forma, semeados na antiguidade, de uma prática medica mais humana, afetuosa, foca no bem-estar do paciente e não na doença em si. Sem sombra de dúvidas, seria o reconhecimento da religiosidade, imprescindível na práxis médica e, seguindo essa linha de raciocínio, a frase em epígrafe do Evangelho de Lucas é emblemática: desafio, censura ou exortação? Mas certamente não se refere a doenças físicas, de médico, e sim ao mecanicismo/materialismo, que ignora a alma e a fé, robotizando o ato médico. 3.3. A medicina medieval A idade média é um período histórico que durou aproximadamente mil anos (de 476 d.C – 1492). Com a queda do império romano, os escritos gregos ficavam guardados em mosteiros, e todo o conhecimento da arte da medicina estava vinculado ao cristianismo (na Europa ocidental). Assim, não houve muitas inovações no método cientifico médico, e a medicina ainda era muito baseada nos ensinos dos médicos gregos (como Hipócrates e Lucas, o evangelista). Durante boa parte da idade média, os principais ´´profissionais´´ da área da saúde eram os barbeiros cirurgiões. Estes realizavam tratamentos odontológicos, tratamento de feridas e amputação de membros. Os médicos medievais em certos países (como na Inglaterra) eram mais escassos, e seus tratamentos muito caros. Além disso, muitos dessesmédicos realizavam tratamentos empíricos como por exemplo o método da sangria. É um fato que a medicina medieval era muito precária, e muitas barbáries foram cometidas durante essa época, mas nesse estudo quero apontar também alguns pioneiros da arte da cura durante este período tão místico. A cidade de Salerno foi berço da primeira universidade de medicina da Europa medieval, e também de uma das médicas mais influentes durante esse período. Trotula de Salerno foi uma pioneira no ramo da ginecologia e obstetrícia durante o século XII. Ela escreveu vários tratados sobre a anatomia e fisiologia 15 feminina. Em seu tratado Trotula Maior, ela explicou temáticas como menstruação, a concepção, a gravidez, o parto, doenças relacionadas ao útero, e das vias urinárias. A medicina persa também foi local de atuação de grandes médicos como Ibn Sina e Al-Juzjani. Ibn Sina é responsável pela escrita do livro The complete Book of the Medical Art; que retomava estudos hipocráticos, além de abordar temas da psicologia. A história desses dois médicos também é relatada no romance de Noah Gordon, O Físico; que conta a epopeia de um jovem inglês que resolveu viajar até a Pérsia para aprender a arte da medicina. Apesar de ser uma história fictícia, alguns personagens (como Ibn Sina e Al-Juzjani) realmente existiram, e o panorama histórico e cultural da época foi muito bem relatado por esta obra. A peste negra foi uma das mais devastadoras pandemias da história da humanidade. Estima-se que entre 75 a 200 milhões de pessoas morreram devido a esta doença. A peste negra ou peste bubônica é causada pela bactéria Yersinia pestis, que foi transmitida ao ser humano pelas pulgas dos ratos-pretos. O auge da doença foi entre os anos de 1346 e 1353. Durante ess época, surgiu uma das figuras mais emblemáticas da medicina medieval; o médico de peste. Estes profissionais eram contratados pelas cidades que mais sofriam com a doença, e em geral eram médicos generalistas e novos na carreira, que queriam se estabelecer na profissão. O traje que eles usavam era bem característico, com um ´´bico de corvo´´ que servia para o armazenamento de ervas e essências aromatizadas, para proteger do mau cheiro. Usavam também um casaco semelhante a um manto, e botas de couro marroquino. Eram as únicas pessoas na Europa autorizadas a fazerem autopsia em corpos humanos, com o intuito de acharem uma cura ou a causa da doença. 16 Imagem 1: Columbina, ad-vivum-delineavit-Paulus-Furst-Excud‹i›t.°-°Internet-Archive’s-copy of Eugen-Hollander, Die Karikatur-und-Satire-in-derMedizin: Medico-Kunsthistorische-Studie-von- Professor Dr. Eugen Hollaner, 2nd-edn (Stuttgart:Ferdinand Enke, 1921), fig 79, p.171) 3.4. Renascimento (Séculos XIV – XVI) Foi o período pós-Idade Média, marcado pelas ideias anticlericais e antropocêntricas. A Europa encontrava-se em grande expansão marítima e comercial, por isso era importante se desprender das rédeas da Igreja Católica e desenvolver um pensamento crítico e racional. Na produção renascentista, começaram a sobressair valores modernos, como o Humanismo. O conhecimento avançou através do método científico, pela condução de experimentos, coleta de observações e conclusões Humanismo O humanismo foi um movimento, abraçado por estudiosos, escritores e líderes cívicos na Itália do século XIV, que se manifestou no meio artístico, filosófico e cientifico. Representa a evolução do pensamento humano, onde o homem é posto como centro de estudo e a medida de todas as coisas. Estimulava a curiosidade e o uso da razão na investigação dos diversos fenômenos naturais, sociais, culturais e míticos, a fim de sair da ignorância. Tais estudos foram impulsionados pela paixão aos clássicos greco-romanos. 17 A invenção da imprensa Uma das invenções que provocaram uma verdadeira revolução no terreno da escrita e da leitura foi a imprensa, isto é, a máquina de impressão tipográfica inventada pelo alemão Johann Gutenberg no século XV. Tal invenção possibilitou a disseminação do conhecimento e acessibilidade a obras de renome, facilitando o estudo e desenvolvimento cientifico. Medicina no Renascimento Os médicos renascentistas eram humanistas e letrados, pertencentes às classes privilegiadas. Estudavam nas grandes universidades e, inicialmente, dedicavam seus estudos a Hipócrates, Galeno e Avicena, praticantes de dissecações e estudos anatômicos e fisiológicos. A anatomia e a cirurgia, que eram ensinadas em conjunto, tornaram-se disciplinas autônomas a partir de 1570. Os médicos passaram a analisar a medicina e os tratamentos medicinais de um modo mais objetivo, não atribuindo tanta importância a causas sobrenaturais, como espíritos malignos e demónios, o que acontecia com os métodos medicinais utilizados anteriormente. Foram realizadas diversas pesquisas, tanto a nível anatómico como a nível cirúrgico, do corpo humano, possibilitadas pelas investigações experimentais, particularmente no campo da dissecção e do exame corporal, além das análises de corpos em campos de batalha. Novos tratamentos foram desenvolvidos em pleno campo de batalha, visto que médicos começaram a fazer medicamentos naturais para ajudar pessoas com ferimentos de guerra. Além disso, os feridos permitiram aos médicos renascentistas fazer cirurgias e analisar o corpo humano de uma forma mais profunda. Jean Fernel (1497-1558) Professor de medicina na Universidade de Paris e autor dos termos fisiologia e patologia e da obra Universa Médica (A Medicina Universal), cujos conhecimentos permaneceram válidos por dois séculos e que dividiu o conhecimento sobre medicina nas atuais disciplinas: fisiologia (funcionamento normal do corpo), patologia (funcionamento do corpo doente) e terapêutica (meios empregados para resolver a doença). Jean se tornou medico de Henry II após curar a esterilidade de sua esposa, Catherine de Medici, corrigindo anormalidades em seus órgãos genitais. 18 William Harvey (1578-1657) Outro trabalho inovador foi realizado por William Harvey, que publicou De Motu Cordis em 1628. Harvey fez uma análise detalhada da estrutura geral do coração, passando para uma análise das artérias, mostrando como sua pulsação depende da contração da artéria. ventrículo esquerdo, enquanto a contração do ventrículo direito impulsiona sua carga de sangue para a artéria pulmonar. Ele notou que os dois ventrículos se movem juntos quase simultaneamente e não de forma independente, como se pensava anteriormente por seus predecessores. Harvey também estimou a capacidade do coração, quanto sangue é expelido através de cada bomba do coração e o número de vezes que o coração bate em meia hora. A partir dessas estimativas, ele passou a provar como o sangue circulava em um círculo. Paracelso (1493 – 1541) É considerado um dos precursores da farmacologia moderna, pois foi o pioneiro a introduzir substancias químicas no preparo de suas medicações Ele estudava magia e alquimia e defendia uma medicina baseada em novos conceitos, além dos ensinados por Galeno. Desenvolvia preparados farmacêuticos, optando por fórmulas mais simples e com ingredientes provenientes da natureza e substâncias minerais, como enxofre, mercúrio, chumbo, cobre, ferro e antimônio. Ele atacava rigorosamente sistemas de cura da época, valorizando a compreensão da natureza, a observação clínica, a patologia geral e o estudo dos remédios de acordo com os sinais que o paciente apresentava. Queimou em público as obras de Galeno e Avicena, mas, apesar de sua fúria iconoclasta, concordava com Hipócrates num ponto: que o lugar do médico era na cabeceira do doente. O conhecimento prático de Paracelso rendeu obras sobre cirurgias e farmacologia, sendo responsável pela introdução de muitas drogas medicinais. Ambroise Paré (1517-1590) É considerado um dos pais da cirurgia e moderna patologiaforense, e um pioneiro em técnicas cirúrgicas e medicina de campo de batalha, especialmente no tratamento de feridas. 19 A cirurgia no Renascimento era praticada principalmente por barbeiros, que usavam as mesmas ferramentas para as duas profissões. A cirurgia ainda era um negócio bastante primitivo e extremamente doloroso essa época. A controvérsia continuava em relação ao tratamento de ferimentos — o pus era bom ou ruim? A cauterização, ou queima de um ferimento para fechá-lo, continuou sendo a principal forma de deter hemorragias. A maioria dos cirurgiões adquiriu suas habilidades no campo de batalha, e a introdução de pólvora, armas e canhões tornou o local muito mais desorganizado. Ambroise Paré, inicialmente um barbeiro-cirurgião em Paris, que se notabilizou como médico do exército e cirurgião doméstico, considerado o melhor da Renascença. Com sua própria e extensa experiência em campos de batalha, ele suturava ferimentos para fechá-los em vez de usar a cauterização para deter o sangramento durante amputações. Ele substituiu o óleo fervente usado para cauterizar ferimentos de armas de fogo por um unguento feito de gema de ovo, óleo de rosas e terebintina. Seus tratamentos não só eram mais eficazes como também muito mais humanos que os utilizados anteriormente. Defendeu a ligadura de artérias para controlar as hemorragias, sendo nomeado mestre cirurgião, por Henrique II, em 1554. Sete anos depois, publicou seu tratado Cirurgia Universal, em que incorporava novos métodos cirúrgicos e instrumentais. Grande parte de seu trabalho foi voltado para a reabilitação de soldados mutilados em guerra. Por isso, produziu uma grande quantidade de próteses de mãos, pernas e narizes. Johann Weyer (1515 – 1588) No início desse período, ainda prevalecia o pensamento medieval de que a s pessoas com distúrbios psíquicos eram alvos de bruxaria ou possessões demoníacas e, por isso eram queimados vivos. Johann Weyer desafiou a igreja católica em sua obra “Da ilusão dos demônios”, afirmando que essas doenças tinham bases naturais. Para provar sua teoria, Johann levou mulheres com distúrbios mentais a sua casa e observou suas ações, a fim de aliviar seus sintomas. 20 Epidemias registradas no período As epidemias continuavam a assolar a Europa com o surgimento de novas doenças ou o agravamento das já conhecidas. Na Inglaterra, John Caius (1510- 1573) descreveu uma doença misteriosa como o "suor maldito", uma febre eruptiva acompanhada de sudorese intensa com cãibras, mialgia e esturpor, que matava em 48 horas a grande maioria dos pacientes. Esta patologia disseminou-se pela Europa, causando vários surtos e desapareceu misteriosamente em 1551, sem jamais ter sido elucidada sua etiologia. O tifo exantemático foi descrito claramente por Fracastoro no seu clássico livro sobre o contágio. Esta patologia já ocorria desde o final da Idade Média na Europa, mas aumentou de intensidade no século XVI, como sempre correlacionada à pobreza, guerras, falta de higiene e fome, condições que favorecem a exposição ao piolho As grandes descobertas marítimas levaram às longas viagens, em que os marinheiros desenvolviam escorbuto, dizimando parte das esquadras, que os holandeses já no século XVI associaram à carência de vegetais e frutas na dieta A primeira epidemia de sífilis surgiu entre os marinheiros que acompanhavam Colombo no regresso da primeira viagem ao Novo Mundo. A doença passou aos soldados espanhóis que combatiam com o rei, ao redor de Nápoles, e alcançaram as tropas de Carlos VIII, que sitiaram a cidade. Ao difundirem a doença por toda a Europa, em poucas décadas a natureza sexual da sífilis (conhecida como Mal Francês) seria melhor estudada por Girolamo Fracastoro, que defendeu a teoria moderna da infecção por germes invisíveis. Jean Fernel foi também o primeiro que diferenciou a sífilis da gonorreia, considerando que o único vínculo entre elas era o mecanismo de transmissão. Por sua vez, o médico humanista Nicolo da Lonigo escreveu e traçou um retrato clínico da sífilis Girolamo Fracastoro (1475-1553) Elaborou uma teoria racional sobre infecção, tornando-se o primeiro a afirmar que várias doenças são causadas por germes; aproximadamente 300 anos antas da confirmação dessa hipótese por Louis Pasteur. Fracastoro divulgou essa teoria em sua principal obra: “De contagione” ("Sobre o Contágio"). Além disso, foi autor do poema médico mais famoso do 21 Renascimento, “Syphilis Sive Morbus Gallicus”, no qual ele resume o tratamento realizado na época, reconhece sua causa e da o nome de Sífilis à doença. Gaspare Tagliacozzi (1545 – 1599) Inovou a rinoplastia na época em que a sífilis desfigurava os europeus. Foi um dos pioneiros da cirurgia plástica, realizando reconstituições nasais, auriculares e labiais. Além disso, foi a primeira vez que a correção estética foi relacionada com a autoestima. Os artistas e os estudos anatômicos Os artistas renascentistas com o objetivo de aperfeiçoar suas obras estudaram a anatomia humana em detalhes. Dentre eles destacam-se Michelangelo, Rafael e Leonardo da Vinci. Leonardo da Vinci (1452 – 1519) Foi o maior artista e cientista do renascimento italiano. Acreditava que o conhecimento anatômico necessário para realizar suas obras de artes só era possível de ser adquirido dissecando corpos humanos. Dissecou mais de 30 cadáveres e fez mais de 1200 esboços, os quais planejava usar em uma enciclopédia de anatomia, entretanto, faleceu antes da conclusão do projeto e seus estudos não foram publicados. Apesar de ter precedido Versalius cerca de 40 anos, as obras anatômicas de Da Vinci só se tornaram públicas em 1796. Seus esboços incluíam musculatura, coração, pulmões, vasos sanguíneos cervicais, torácicos e abdominais; ossos, nervos e cérebro Da Vinci foi o primeiro a dissecar um cérebro humano. Realizou vários cortes transversais e injetou cera derretida para analisar melhor os ventrículos cerebrais. Também estudou a posição do feto dentro do útero; e realizou um estudo minucioso a respeito dos grupos musculares e suas funções especificas. Ele tinha curiosidade de saber de onde vinham as emoções humanas e como elas eram expressadas. Por isso, fez um estudo detalhado dos músculos da face, acompanhou criminosos condenados a morte para observar e entender suas expressões de medo em seus últimos momentos, e desenhou uma série de diferentes expressões faciais. 22 Mediu com um goniômetro (instrumento para medição de ângulos) as proporções do organismo humano, reduzindo-as a fórmulas matemáticas. Demonstrou que o coração era um músculo e descreveu as cavidades aurículas, observando sua contração e dilatação, e identificando a sístole e diástole. Ele contribuiu não só como anatomia e fisiologia, mas também com a patologia, sendo o primeiro a descrever a aterosclerose e cirrose hepática. Andreas Vesalius (1514 – 1564) Considerado por muitos o “Pai da anatomia moderna”. Estudou em Paris e, como todos, baseava seus estudos nas obras de Galeno. No entanto, ao perceber erros em sua literatura, decidiu dissecar cadáveres por contra própria. Aos seus 29 anos, publicou sua obra De Humani Corporis Fabrica (Da Organização do Corpo Humano), um dos mais influentes livros científicos sobre anatomia humana. Na obra, demonstrou os erros no modelo galênico. Seus ensinamentos anatômicos foram baseados na dissecação de cadáveres humanos, em vez das dissecações de animais que Galeno usou como guia. O trabalho de Vesalius enfatizou a prioridade da dissecação e o que veio a ser chamado de visão “anatômica” do corpo, vendo o funcionamento interno humano como uma estrutura essencialmente corpórea repleta de órgãos dispostos em um espaço tridimensional. Isto estava em contraste com muitos dos modelos anatômicos usados anteriormente. Gabrielle Fallopio(1523 – 1562) Descobriu o seio esfenoidal e as tubas ovarianas, dando o nome de tubas de Falópio, o ligamento redondo; nomeou a vagina e a placenta. Escreveu diversos tratados de anatomia, embriologia e cirurgia. 3.5. MEDICINA NOS SÉCULOS XVII, XVIII E XIX O microscópio foi considerado uma das grandes invenções da medicina e foi criado no início do século XVII.Dessa forma, ele possibilitou o avanço da Biologia e da percepção da ciência médica.Nessa perspectiva, a criação do microscópio foi atribuída a Galileu, mas na realidade aconteceu como fruto do aperfeiçoamento 23 realizado pelo naturalista holandês Antony van Leeuwenhoek.A princípio, possuía apenas uma lente de vidro e permitia o aumento de percepção visual de até 300 vezes.Dessa forma, com o microscópio primitivo conseguiu-se observar bactérias de 1 a 2 micro.Assim, o naturalista estudou os glóbulos vermelhos do sangue, constatou a existência dos espermatozoides e também os microrganismos. Imagem 2: Microscópio simples, inventado por Antony Van Leeuwenhoenk.Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n2/v45n2a01.pdf.Acesso, 2019. A vacina antivariólica, surgiu no final do século XVIII, resultou da observação de Edward Jenner quanto ao fenômeno de ‘proteção’ contra a varíola. Nesse sentido a partir da pústula desenvolvida na vaca, Jenner obteve um produto que passou a denominar vacina (‘da vaca’) que, ao ser inoculado no homem, fazia surgir, no local das inoculações, erupções semelhantes à varíola. Dessas erupções era retirada a "linfa" ou "pus variólico", utilizado para novas inoculações. Formava-se assim uma cadeia de imunização, ou seja, a vaca é considerada como o primeiro agente imunizador, e o homem como produtor e difusor da vacina. Apesar da aproximação médica ao parto no início do século XVI, foi durante os séculos XVIII e XIX que essa prática se desenvolveu, organizou, e se legitimou, em meio aos discursos de exaltação da maternidade. Com isso, a criação do fórceps, pelo cirurgião inglês Peter Chamberlain, e o desenvolvimento da técnica, levou um declínio na profissão das parteiras. Pela decisão n. 2, de 18 de fevereiro de 1808, poucos dias após a chegada de D. João na Bahia, foi criada a Escola de Cirurgia da Bahia, proposta pelo médico José Correia Picanço, cirurgião-mor do Reino, que ficou encarregado da escolha de seus professores. http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n2/v45n2a01.pdf http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/172-escola-de-cirurgia-da-bahia http://mapa.an.gov.br/index.php/publicacoes/70-assuntos/producao/publicacoes-2/biografias/412-jose-correia-picanco-barao-de-goiana http://mapa.an.gov.br/index.php/publicacoes/70-assuntos/producao/publicacoes-2/biografias/412-jose-correia-picanco-barao-de-goiana http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/154-cirurgiao-mor-do-reino-estados-e-dominios-ultramarinos 24 Como o estabelecimento de cursos de ensino superior eram até então proibidos na Colônia, os cursos de medicina e cirurgia estabelecidos na Bahia e no Rio de Janeiro foram os primeiros deste tipo a existirem no país. A criação dessas escolas integrou o processo de institucionalização da medicina no Brasil, iniciado com a vinda da família real. Ao longo do período colonial, o cuidado com a saúde foi uma atribuição partilhada por diversos agentes de cura, como cirurgiões, físicos, sangradores, barbeiros, parteiras e seus aprendizes.A prática da medicina ficava também a cargo da assistência prestada nas enfermarias jesuíticas, nos hospitais da Misericórdia e hospitais militares, que, na maioria das vezes, eram a única fonte de assistência médica e fornecimento de medicamentos Em 8/11/1895, Wilhelm Conrad Roentgen (1845-1923), procurando detectar a radiação eletromagnética de alta frequência prevista por Heinrich Hertz (1857-1894), repetiu o experimento de Joseph John Thompson.Após embalar o tubo com uma caixa de papelão preto, ligar o instrumento e apagar as luzes de seu laboratório, observou algo notável: uma placa no fundo da sala, que continha tetracioanoplatinato(II) de bário (Ba[Pt(CN)4], um material fosforescente) em uma das faces, se iluminou.Esse fenômeno aguçou tanto o interesse de Roentgen que continuou estudando intensamente suas propriedades e características. Expondo diversos materiais de densidades diferentes a fim de observar seu poder de penetração, e com auxílio de um detetor fluorescente, fez uma importante observação: segurando um disco de chumbo com a mão na intenção de verificar o poder de penetração dos raios naquele metal, viu que, além da sombra do disco, apareceu a sombra dos ossos da sua mão.Estava assim descoberta a radiografia. Foi utilizando esta técnica que, em 22/12/1895, produziu uma das mais famosas fotografias que caracterizam bem aquela descoberta: a imagem dos ossos da mão de sua mulher, Anna Bertha Roentgen (1839-1919), com seu anel de casamento, que é considerada a primeira radiografia da história. A descoberta dos raios-x representou um dos grandes feitos da inteligência humana no final do século XIX, tendo uma repercussão imediata em todo o mundo.Embora a reação em geral tenha sido de deslumbramento com aquela nova 25 radiação, outras posturas foram observadas, mostrando uma relação de repulsa ou de medo/insegurança pessoais. As propriedades dos raios-x, quer tenham encantado ou desagradado as pessoas, ocultavam os perigos advindos de sua manipulação indevida.Foi preciso um acúmulo de erros e tragédias para que se despertasse nas pessoas a necessidade do estabelecimento de protocolos de proteção radiológica, bem como da supressão de muitas das aplicações empíricas no cotidiano que eram feitas no início do século XX Imagem 3: Raios-X fascinação, medo e ciência.Disponível em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01004042200900010004. Acesso,2019. 3.6. Os avanços da Medicina no início do Século XX A medicina passou por importantes avanços durante o Século XX, onde se passou a entende o ser humano como um grande complexo físico, mental e social. As descobertas abrangem questões da genética, diagnostico, tratamento e principalmente a prevenção de doenças que assolavam a população mundial. Logo em 1902 o médico e cientista austríaco Karl Landsteiner descobriu os diversos tipos de sangue do sistema ABO, e a partir daí as transfusões sanguíneas deixaram de matar pacientes em função da incompatibilidade sanguínea. Através de amostras de sangue, isolava os glóbulos vermelhos e combinava com outros pares de plasmas e hemácias. Em alguns casos esses glóbulos aglutinavam e formavam http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422009000100044 26 os coágulos, que dentro dos vasos sanguíneos leva a interrupção do fluxo e em outros testes esse fenômeno não ocorria. No ano de 1907 foi apresentado o primeiro método de diagnóstico da sífilis por Albert Neisser e Carl Bruck, doença sexualmente transmissível, já incorporada a população desde o Século XV. Três anos depois dessa descoberta, em 1910, o Sorologista Paul Ehrlich anuncia o sucesso no tratamento da sífilis de 27 pacientes com o medicamento chamado Salvarsan e que o consagrou com o Prêmio Nobel de Medicina. Esse século foi marcado também pelo surto de diversas doenças, dentre elas a Gripe que Espanhola, que matou cerca de 5% da população mundial no ano de 1918. Era o fim da Primeira Guerra Mundial e dentre os diversos países envolvidos o único não envolvido efetivamente era a Espanha, e por isso noticiava com frequência a presença de uma gripe no seu território, fazendo acreditar então que havia surgido ali essa pandemia. Em função do momento vivido pelo mundo, da aglomeração de soldados assim como as viagens de navio cruzando o atlântico, esse vírus espalhou-se de forma muito rápida. Recentemente diversos surtos atingem apopulação no Brasil, porem diferente daquela época já existe vacina contra esse mal. Como forma de evitar que outras doenças que atingiam a população na época matassem mais pessoas, em 1921 foi desenvolvido uma vacina muito importante até hoje. A primeira foi a Bacilo Calmette-Guérin mais conhecida como BCG criada pelo Médico e Bacteriologista León Charles Albert Calmette e pelo Microbiólogo Marie Camille Guérin, que combate a tuberculose. Sete anos depois surgiu a primeira vacina contra a febre amarela, transmitida por um mosquito fêmea infectado e que causa sintomas como febre, dor de cabeça intensa, fraqueza, dores musculares e vomito. O desenvolvimento dessa imunização teve grande contribuição de cientistas brasileiros e somente em 1937 obteve-se uma vacina segura e eficaz. Seguindo a descoberta da penicilina, em 1935 descobriu-se a atividade antibacteriana das sulfonamidas pelo patologista alemão Gerhardt Domagk. Essa droga é amplamente utilizada em casos de Clamídia, Cancro Mole, infecções causadas por bactérias Gram Negativas como Escherichia coli, Meningococos e infecções por bactérias Gram positivas como Estafilococos e Estreptococos. 27 Em seguida outro fato importante a ser tratado é o estudo e descoberta acerca da psicofarmacologia, com principal foco nas alterações de humor, emoções e habilidades psicomotoras em seres humanos. Os primeiros antidepressivos, antipsicóticos e reguladores de humor foram desenvolvidos na década de 40, dentre eles o lítio, muito utilizado até hoje no tratamento dos episódios maníacos no transtorno bipolar. Por último, nessa primeira metade do Século 20, deve-se lembrar da primeira descoberta de um remédio contra o câncer, o gás de mostarda. Este foi usado primeiramente na Primeira Guerra Mundial como arma química e posteriormente na Segunda Guerra mundial e no intenso conflito Irã-Iraque. Foi num desses momentos que pesquisadores observaram que pessoas expostas moderadamente a mostarda de nitrogênio tinham uma diminuição de leucócitos do sistema linfático e da medula óssea. Então, em 1941 os farmacologistas Alfred Gilman e Louis Goodman demonstraram em animais que essa substância levava a diminuição de alguns linfomas. No ano seguinte juntamente com o médico Gustav Linskog aplicaram a primeira droga para tratar o câncer, chamada de Mecloretamina. 3.7. Alexander Fleming e a descoberta da penicilina Alexandre Fleming era um oficial médico inglês que retornou da Primeira Guerra Mundial com o sonho de pesquisar uma forma de reduzir o sofrimento dos soldados que tinham suas feridas infectadas, o que na época era uma evolução rápida para a morte. Como Fleming havia trabalhado como médico em hospitais militares durante a Primeira Guerra Mundial ele teve acesso ao sofrimento vivido pelos soldados e devido a sua experiência sabia que era urgente a necessidade de um medicamento que combatesse a infecção. Nessa época já se sabia da relação entre microrganismos e as doenças, já que Pasteur e Robert Koch estabeleceram as bases para a bacteriologia moderna. Com isso em sua mente, Fleming retornou ao hospital St. Mary´s em Londres no ano de 1928 e deu início ao seu projeto, ele se dedicou a estudar a bactéria Staphylococcus aureus que era encontrada em abscessos localizados em feridas provocadas por armas de fogo. Alexander Fleming conseguiu estudar essa e outras 28 bactérias através de culturas de bactérias, que se trata de uma placa cheia de nutrientes, em condições ideais para que as bactérias possam crescerem e se multiplicarem. Após estudar intensamente sem obter resultados satisfatórios, Fleming decidiu tirar férias por estar extremamente exausto. Ao sair para suas merecidas férias Fleming deixou em seu laboratório as culturas com as bactérias sem nenhuma supervisão, quando o médico retornou de suas férias semanas depois percebeu que havia deixado um dos vidros com a cultura aberto e exposta a atmosfera. Essa cultura que foi exposta por muito tempo acabou adquirindo mofo o que é bem comum ao se deixar algo úmido sem supervisão. Quando Fleming estava prestes a se livrar do material contaminado pelo mofo, seu antigo assistente o questionou sobre como andava o projeto, o médico então pegou o material contaminado para mostrar ao assistente. Com isso Fleming percebeu que na região onde estava localizado o mofo não apresentava atividade das bactérias, já que havia uma área transparente ao redor desse mofo. Assim o pesquisador concluiu que o fungo causador do mofo liberava alguma substância que de alguma forma afetava a bactéria. Fleming percebeu que esse fungo era o Penicillium notatum e por isso nomeou a substância de penicilina. Com o avanço das pesquisas, foi descoberto que a penicilina não era tóxica para o organismo humano e que ela também atuava contra outras bactérias além da Staphylococcus aureus. Infelizmente era difícil produzir penicilina para ser usada em tratamentos na população doente, e com isso a pesquisa não despertou interesse na comunidade cientifica. Com o aparecimento da Segunda Guerra Mundial e a necessidade de curar os feridos, no ano de 1939, os cientistas Howard Florey e Ernst Chain continuaram estudando sobre o mofo. Eles conseguiram extrair um pó marrom que foi testado em 80 tipos de bactérias o que comprovou a eficácia da penicilina e conseguiram produzi-la em larga escala para fins farmacológicos. E com isso começou a nova era da medicina. 3.8. EVOLUÇÃO DA MEDICINA: OS EXPERIMENTOS MÉDICOS NAZISTAS 29 Durante a Segunda Guerra Mundial, vários médicos alemães realizaram experiências dolorosas e muitas vezes mortais em milhares de prisioneiros sem sua permissão. Considerando as condições desumanas, a falta de consentimento e os questionáveis padrões de pesquisa, os cientistas modernos rejeitam predominantemente o uso de resultados de experimentos nos campos Imagem 4: Áreas em que ocorreram os experimentos nazistas.Disponível em:https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs.Acesso, 2019. As experiências se concentraram em três tópicos: sobrevivência pessoal militar, testes de drogas e tratamentos e o avanço das ideologias nazistas. De 1933 a 1945, a Alemanha nazista realizou uma campanha para "limpar" a sociedade alemã de indivíduos vistos como ameaças biológicas à "saúde" do país. Os nazistas recrutaram a ajuda de médicos e geneticistas, psiquiatras e antropólogos treinados em medicina para desenvolver políticas de saúde racial. Essas políticas começaram com a esterilização em massa no glossário de muitas pessoas em hospitais e outras instituições e terminaram com a quase aniquilação dos judeus europeus. Após a guerra, apenas alguns dos especialistas biomédicos que ajudaram a implementar e legitimar as políticas de higiene racial nazistas foram indiciados ou disciplinados profissionalmente. Muitos continuaram suas carreiras. http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs.Acesso http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs.Acesso 30 Os experimentos em humanos incluíram experimentos de "alta altitude", nos quais os presos de campos de concentração eram forçados, sem oxigênio, a câmaras de grandes altitudes que duplicavam as condições de até 68.000 pés; remoção de seções de ossos, músculos e nervos, incluindo pernas inteiras removidas nos quadris para transplantar para outras vítimas; ferimentos artificiais e exposição ao gás mostarda; ferimento de dois membros e tratamento de um, mas não do outro, com antibióticos sulfanamida; injeção intramuscular com tifo fresco; e coleção de esqueletos de 112 presos judeus vivos que foram mortos e destruídos. Imagem 5:Vítima de uma das experiências nazistas- teste de resistência a temperaturas baixas e congelamento.Disponível em:https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical- experimentsphotographs.Acesso,2019. Muitas experiências nos campos visavam facilitar a sobrevivência pessoal militar do Eixo no campo. Por exemplo, em Dachau, médicos da força aérea alemã e da Instituição Experimental Alemã de Aviação realizaram experimentos em grandes altitudes com prisioneiros para determinar a altitude máxima a partir da qual as equipes de aeronaves danificadas poderiam saltar de paraquedas em segurança. Os cientistas também realizaram os chamados experimentos de congelamento em prisioneiros para encontrar um tratamento eficaz para a hipotermia. Os prisioneiros também foram usados para testar vários métodos de tornar a água do mar potável. http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical- 31 Imagem 6: Vítima de uma das experiências relacionadas a testes de resistência a altitude.Disponível em:https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso, 2019. Outras experiências tiveram como objetivo desenvolver e testar medicamentos e métodos de tratamento para ferimentos e doenças que os militares e ocupações alemães encontraram no campo. Nos campos de concentração alemães de Sachsenhausen, Dachau, Natzweiler, Buchenwald e Neuengamme, os cientistas usaram os presos do campo para testar compostos de imunização e anticorpos para a prevenção e tratamento de doenças contagiosas, incluindo malária, tifo, tuberculose, febre tifóide, febre amarela e hepatite infecciosa. Os médicos de Ravensbrück realizaram experimentos com enxerto ósseo e testaram os medicamentos sulfa (sulfanilamida) recentemente desenvolvidos. Em Natzweiler e Sachsenhausen, os prisioneiros foram expostos ao fosgênio e ao gás mostarda para testar possíveis antídotos. Uma terceira categoria de experimentação médica procurou promover os princípios raciais e ideológicos da visão de mundo nazista. As mais infames foram as experiências de Josef Mengele em gêmeos de todas as idades em Auschwitz. Ele também dirigiu experimentos em Roma (ciganos), assim como Werner Fischer em Sachsenhausen, para determinar como diferentes "raças" resistiram a várias doenças contagiosas. A pesquisa de August Hirt, na Universidade de Estrasburgo, também pretendia estabelecer "inferioridade racial judaica". Experimentos terríveis adicionais destinados a promover objetivos raciais nazistas incluíram uma série de http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso 32 esterilizações, realizados principalmente em Auschwitz e Ravensbrück. Os cientistas testaram vários métodos, em um esforço para desenvolver um procedimento eficiente e barato para a esterilização em massa. Imagem 7: Crianças Judias vítimas dos experimentos nazistas.Disponível em: https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso, 2019. O Código de Nuremberg O Código de Nuremberg foi criado após a descoberta das experiências no campo e dos ensaios subsequentes para tratar dos abusos cometidos por profissionais médicos durante o Holocausto. O Código de Nuremberg incluía o princípio do consentimento informado e os padrões exigidos para a pesquisa. Em 9 de dezembro de 1946, um tribunal militar americano abriu processo criminal contra 23 médicos e administradores alemães líderes por sua participação voluntária em crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Este caso é conhecido como "Doctors Trial" (EUA v. Karl Brandt et al.). Em 19 de agosto de 1947, os juízes do tribunal proferiram seu veredicto. Mas antes de anunciar a culpa ou inocência de cada acusado, eles enfrentaram a difícil questão da experimentação médica em seres humanos. https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso 33 Vários médicos alemães argumentaram em sua própria defesa que seus experimentos diferiam pouco daqueles realizados antes da guerra por cientistas alemães e americanos. Além disso, mostraram que nenhuma lei internacional ou declaração informal diferenciava entre experimentação humana legal e ilegal. Esse argumento foi uma grande preocupação para dois médicos norte-americanos que haviam trabalhado com a promotoria durante o julgamento, o Dr. Andrew Ivy e o Dr. Leo Alexander. Como resultado, em 17 de abril de 1947, o Dr. Alexander enviou um memorando ao Conselho dos Estados Unidos para Crimes de Guerra. O memorando descrevia seis pontos que definiam pesquisas médicas legítimas. O veredicto do julgamento de 19 de agosto reiterou quase todos esses pontos em uma seção intitulada "Experimentos médicos permitidos". Ele também revisou os seis pontos originais em dez, e esses dez pontos ficaram conhecidos como "Código de Nuremberg". No meio século após o julgamento, o código informou inúmeras declarações internacionais de ética. Sua força legal, no entanto, não estava bem estabelecida. No entanto, continua sendo um documento de referência sobre ética médica e um dos produtos mais duradouros do "Doctors Trial". Experimentos médicos permitidos A partir da transcrição do estudo: O grande peso das evidências diante de nós é que certos tipos de experimentos médicos em seres humanos, quando mantidos dentro de limites razoavelmente bem definidos, estão em conformidade com a ética da profissão médica em geral. Os protagonistas da prática da experimentação humana justificam suas visões com base no fato de que essas experiências produzem resultados para o bem da sociedade que são improcuráveis por outros métodos ou meios de estudo. Todos concordam, no entanto, que certos princípios básicos devem ser observados para satisfazer os conceitos morais, éticos e legais: 1. O consentimento voluntário do sujeito humano é absolutamente essencial. Isso significa que a pessoa envolvida deve ter capacidade legal para dar consentimento; deve estar em posição de poder exercer livre poder de escolha, sem 34 a intervenção de qualquer elemento de força, fraude, engano, coação, alcance ou outra forma oculta de restrição ou coerção; e deve ter conhecimento e compreensão suficientes dos elementos do assunto envolvido, a fim de permitir que ele tome uma decisão esclarecida e compreensiva. Este último elemento requer que, antes da aceitação de uma decisão afirmativa pelo sujeito experimental, seja-lhe conhecido a natureza, a duração e o objetivo do experimento; o método e os meios pelos quais ele deve ser conduzido; todos os inconvenientes e riscos razoavelmente esperados; e os efeitos sobre sua saúde ou pessoa que possam advir de sua participação no experimento. O dever e a responsabilidade de determinar a qualidade do consentimento recaem sobre cada indivíduo que inicia, dirige ou se envolve no experimento. É um dever e responsabilidade pessoal que não pode ser delegado a outro com impunidade. 2. O experimento deve fornecer resultados frutíferos para o bem da sociedade, improcuráveis por outros métodos ou meios de estudo, e não de natureza aleatória e desnecessária. 3. O experimento deve ser concebido e baseado nos resultados da experimentação animal e no conhecimento da história natural da doença ou outro problema em estudo que os resultados previstos justifiquem o desempenho do experimento. 4. O experimento deve ser conduzido de forma a evitar todo sofrimento e lesão física e mental desnecessários. 5. Nenhuma experiência deve ser conduzida onde exista uma razão a priori para acreditar que a morte ou lesão incapacitante ocorrerá; exceto, talvez, naquelas experiências em que os médicos experimentais também servem como sujeitos. 6. O grau de risco a ser assumido nunca deve exceder o determinado pela importância humanitária do problema a ser resolvido pelo experimento. Devem ser feitos os devidos preparativos e providas instalações adequadas para proteger o sujeito experimental contra possibilidades remotas de lesão, incapacidadeou morte. 8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente qualificadas. O mais alto grau de habilidade e cuidado deve ser exigido em todas as etapas do experimento daqueles que conduzem ou se envolvem no experimento. 35 9. Durante o curso do experimento, o sujeito humano deve ter a liberdade de encerrar o experimento se tiver atingido o estado físico ou mental em que a continuação do experimento lhe parece impossível. 10. Durante o curso do experimento, o cientista encarregado deve estar preparado para encerrar o experimento em qualquer estágio, se provavelmente tiver motivos para acreditar, no exercício da boa fé, habilidade superior e julgamento cuidadoso exigidos a ele de que uma continuação do experimento provavelmente resultará em ferimento, incapacidade ou morte do sujeito experimental. POLÊMICA: AS MACABRAS PESQUISAS NAZISTAS CONTRIBUÍRAM PARA A CIÊNCIA? Não muito. No que pode ser a ironia mais cruel do reinado nazista, os cientistas com maior probabilidade de experimentar seres humanos relutantes tendem a ser os mais descuidados. Muitos deles ingressaram na SS porque não conseguiram encontrar um trabalho respeitável em outro lugar. Como resultado, os experimentos foram projetados com desleixo e pouca organização; as variáveis raramente eram isoladas, as idéias malucas eram testadas enquanto a pesquisa mais prática começava a implantar, e as anotações de muitos médicos foram consideradas sem sentido. Algumas coisas vieram dos experimentos, no entanto, embora – por razões óbvias – os cientistas modernos não possam verificar os resultados com experimentos próprios. A pesquisa direcionada sobre hipotermia e ambientes de baixa pressão pode ter sido a pesquisa mais produtiva realizada durante o crepúsculo da era nazista. As experiências de congelamento de Rascher têm dados geralmente confiáveis que não podem ser obtidos hoje. Nenhum sujeito de teste moderno disposto se voluntariaria para ter seus tímpanos rompidos por baixa pressão; portanto, os resultados dos testes de Dachau ainda são infelizmente o padrão ouro para prever resultados de exposição em grandes altitudes. Tanto quanto se sabe, nenhum dos procedimentos nazistas de transplante de órgãos ou tecidos foi bem-sucedido. Quando coração, fígado, e técnicas de transplante de rim foram eventualmente desenvolvidas, foram realizadas com consentimento informado e dentro de rígidas diretrizes éticas. 36 A pesquisa médica nos campos era, como tudo no império nazista, caótica e desorganizada. Grande parte disso não deu em nada porque foi construída com ideias errôneas sobre raça, e algumas delas eram indistinguíveis de tortura sem sentido. As poucas experiências que resultaram em resultados ainda são problemáticas até hoje. Alguns dos artigos que utilizam dados de Dachau foram rejeitados para publicação porque simplesmente não há uma maneira humana de duplicar o experimento. A sociedade lutará com as implicações de experimentos "úteis" realizados nas vítimas dos nazistas por gerações. Por fim, com a alternativa de, de alguma forma, apoiá-los, é possível que muito do que os médicos nazistas fizeram foi, médica e cientificamente falando, uma completa perda de tempo. Imagem 8: Gêmeos explorados durante os experimentos médicos nazistas.Disponível em https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs Acesso, 2019. Imagem 9: Órgãos humanos removidos de prisioneiros dos campos de concentração.Disponível em: https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs. Acesso, 2019. https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs 37 3.9. Medicina na segunda metade do Século XX Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, cinco anos depois, têm-se início da segunda metade do século XX. Com isso, a medicina da primeira metade do século XX teve como último grande marco os experimentos médicos nazistas durante a II Grande Guerra. Em seguida, foram aparecendo novos avanços da medicina, como por exemplo o transplante de fígado, transplante de coração e cirurgias vídeo assistidas. A princípio, vale ressaltar que o transplante de fígado é o procedimento mais complexo da cirurgia moderna, pois, nenhum outro interfere com tantas funções do organismo. Com isso, a primeira tentativa de transplantes de fígado em humanos ocorreu no ano de 1963 nos Estados Unidos (EUA), em Denver, Colorado. Entretanto, essa primeira tentativa, feita em uma criança de três anos de idade, pelo médico Thomas Starzl, não aconteceu com total sucesso, pois o paciente acabou falecendo no intra-operatório por sangramento. Após alguns meses, esse mesmo autor tentou fazer mais dois transplantes de fígado, o que novamente acabou com a morte dos pacientes em menos de um mês após a cirurgia. Após inúmeras tentativas por diversos médicos, Thomas Starzl operou, em 1967, uma menina de 2 anos de idade chamada Júlia Rodriguez. Nessa tentativa de transplante, a garota chegou a sobreviver 13 meses após a cirurgia devido a doença inicial, o que foi compreendido por Starzl e, logo em seguida pela população, como um avanço, pois o cirurgião apresentou a imprensa do país os primeiros 4 sobreviventes do transplante. Ademais, o ano de 1967 é histórico no desenvolvimento de transplantes. Com o primeiro transplante de coração, as tentativas de transplantes de fígado começaram a expandir por todo mundo até o ano de 1972. Já no ano de 1978, aconteceu um outro grande fato importante para desenvolvimento dos programas de transplantes que foi o aparecimento a ciclosporina, uma nova droga imunossupressora. Com a correta dosagem dessa droga, ela passa a ter resultados satisfatórios para o transplante hepático. Por conseguinte, em 1983 houve um avanço na medicina, especialmente nessa área do transplante hepático. Houve uma reunião do Ministério da Saúde dos Estados Unidos sobre aspectos controversos dessa cirurgia. A partir disso, foram estabelecidos diversos consensos sobre o transplante, e, pode ser compreendido 38 como o principal desses consensos, o posicionamento de que o transplante de fígado não era mais um procedimento experimental, mas sim um procedimento terapêutico. Além disso, o transplante cardíaco, como já falado no quarto parágrafo, obteve progresso na área de transplante, pois em 1967 o cirurgião cardiovascular Dr. Christiaan Neethling Barnard realiza o primeiro transplante em humanos com sucesso. Anterior a isso, o primeiro transplante de coração realizado em humanos sem sucesso foi em 1964, com tentativa de transplantar um coração de chimpanzé para um humano. Apesar do coração ter pulsado, como o coração do animal era de menor tamanho do que o do humano, o paciente faleceu. Ainda, para o sucesso desse transplante realizado em 1967, houve antes algumas conquistas que o facilitaram. Em 1951, primeiramente, na Chicago Medical School, Marcus e sua equipe começaram a se concentrar em técnicas para preservação de órgãos a serem transplantados. Em 1958, Golberg e sua equipe preservaram pela primeira vez uma “meia lua” (“cuff”) na parede posterior do átrio esquerdo, o que elimina a anastomose individualizada nas veias pulmonares. Posteriormente, em 1959/1960, foi preservado o “cuff” bi-atrial, desenvolvido por Lower e Shumway. Dessa forma, essa técnica possibilitou então o primeiro transplante cardíaco em humanos, pois foi utilizada por Barnard em 1967. Outro grande progresso na medicina no final do século XX, foram os avanços da cirurgia vídeo assistida, principalmente da região do tórax. A ressecção pulmonar por vídeo, incluindo as lobectomias ou pneumonectomias, vem sendo praticada desde a década de 90. Nesse viés, esses avanços tecnológicos do final do século XX favoreceram para que surgisse, posteriormente,a cirurgia robótica a partir de braços mecânicos e imagens de vídeo melhores. Logo, é possível ver que a segunda metade do século XX teve conquistas nas áreas da medicina que tem influência até os dias atuais. Desse modo, é perceptível o avanço dos transplantes nessa época. Nesse contexto, os transplantes de fígado e coração foram grandes marcos para essa área da medicina, pois abriu espaço para outros tipos de transplantes ou técnicas que os facilitariam. Ainda, o final do século XX foi marcado por avanços tecnológicos (já percebidos desde a primeira metade desse século, com a Segunda Guerra Mundial) que propiciaram o início de cirurgias 39 vídeo assistidas, as quais foram essenciais para o surgimento das cirurgias robóticas no século posterior. 3.10. O Início das políticas de saúde pública no brasil No Brasil da passagem do século XIX para o XX, a preocupação com a saúde, na verdade, não se traduzia necessariamente pela questão do direito social ou da dignidade humana, mas estava ligada aos interesses econômicos das elites em manter o trabalhador sadio para manutenção da produção, principalmente naquele contexto agrário. O ideário republicano estava envolto por valores positivistas de ordem e progresso, como se vê na própria bandeira nacional, e dessa forma, a valorização da ciência e de uma visão de mundo europeia pautada na marca da modernidade invadiam o país, ainda que de forma contraditória a uma realidade ainda marcada pelo regime agrário exportador, pelo patriarcalismo, pela tradição de um passado escravocrata. Se é fato que ao final do século XIX iniciou-se, ainda que de forma incipiente, um processo de urbanização e modernização das cidades. Neste sentido, o antigo e o moderno buscavam conviver na formação de um novo Brasil, agora republicano. Instaurava-se uma preocupação com a profilaxia rural e urbana. As medidas de reforma urbana e higienização da cidade do Rio de Janeiro, assim como as campanhas para a vacinação da população, marcaram este período. No entanto, o caráter austero das medidas governamentais teve como consequência eventos como a Revolta da Vacina, ocorrida em 1904. Estava declarada a luta contra a peste bubônica, a febre amarela, a tuberculose e a varíola. A despeito disso, vale apontar como legado da República Velha a criação da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP; 1897), as Reformas das competências da DGSP (Oswaldo Cruz; 1907) e as Caixas de Aposentadoria e Pensão (Lei Eloy Chaves; 1923), o que significou uma incipiente assistência à saúde pela previdência social. A sociedade ainda era rural, mas iniciava-se um período de transformações sociais que seria acelerado na primeira metade do século XX. Passado o período da República Velha, chegamos à Era Vargas com a inauguração de outra visão de Estado, assim como com outra configuração social 40 que se iniciava nos centros urbanos do país. A partir da década de 1930, o Brasil começou um processo de industrialização e modernização do Estado, tentando se reposicionar na economia mundial após a crise de 1929. Assim, na Era Vargas ocorreram os seguintes fatos: a Saúde pública foi institucionalizada pelo Ministério da Educação e Saúde Pública; a Previdência social e saúde ocupacional institucionalizada pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio; criou-se os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP) que estendem a previdência social à maior parte dos trabalhadores urbanos (1933-38). No entanto, embora esses avanços tenham sido importantíssimos do ponto de vista da proteção social e da saúde pública, foi apenas em 1953 que ocorreu a criação do Ministério da Saúde. Daí até a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), a população brasileira esperou mais 35 anos. A constituinte de 1988 diz que “A saúde é direito de todos e dever do estado, garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. A concepção do SUS estava baseado na formulação de um modelo de saúde voltado para as necessidades da população, procurando resgatar o compromisso do estado para com o bem-estar social, especialmente no que refere a saúde coletiva, consolidando-o como um dos direitos da CIDADANIA. Esta visão refletia o momento político porque passava a sociedade brasileira, recém-saída de uma ditadura militar onde a cidadania nunca foi um princípio de governo. Embalada pelo movimento das diretas já, a sociedade procurava garantir na nova constituição os direitos e os valores da democracia e da cidadania. Apesar do SUS ter sido definido pela Constituição de 1988, ele somente foi regulamentado em 19 de setembro de 1990 através da Lei 8.080. Esta lei define o modelo operacional do SUS, propondo a sua forma de organização e de funcionamento. Primeiramente a saúde passa a ser definida de uma forma mais abrangente: “A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais: os níveis de saúde da população expressam a organização social e econômica do país”. O SUS é concebido como o conjunto de ações e serviços de 41 saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. A iniciativa privada poderá participar do SUS em caráter complementar. Foram definidos como princípios doutrinários do SUS: UNIVERSALIDADE - o acesso às ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais; EQUIDADE - é um princípio de justiça social que garante a igualdade da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie .A rede de serviços deve estar atenta às necessidades reais da população a ser atendida; INTEGRALIDADE - significa considerar a pessoa como um todo, devendo as ações de saúde procurar atender à todas as suas necessidades. 3.11. A medicina atual É notório os avanços da informática no século XXI e na medicina a situação não é diferente, nota-se que nesse enorme e diversificado contingente, os pesquisadores, com as vantagens dos progressos tecnológicos em automação, nanotecnologia, e comunicação obtém dados para consolidar os progressos atuais e fazer avançar as fronteiras do conhecimento muito além do que podemos imaginar. Dentro das pesquisas de ponta que se fazem atualmente, aborda-se quatro áreas que poderão suscitar fantásticos progressos médicos durante o século XXI. O primeiro diz respeito ao que se convencionou chamar de Neurociência, com as investigações modernas sobre o sistema nervoso, que com sua alta complexidade fazia parte do reduto menos acessível da investigação médica. No entanto, esse século está sendo investigado com novas forças. O mecanismo da memória está sendo escrutinado com técnicas experimentais, balizadas em dados fisiológicos e bioquímicos. Vários processos patológicos na esfera psiquiátrica estão sendo explorados nos seus aspectos morfológicos, bioquímicos e moleculares. A neuro-farmacologia, que já apresenta resultados surpreendentes no tratamento da depressão, da esquizofrenia e da reinervação é hoje um setor em franco desenvolvimento. Assim, a humanidade ficará sabendo mais sobre a fisiologia dos neurônios, sobre as suas sínteses de proteínas estruturais e armazenadoras de dados, de enzimas, de hormônios e de polipeptídios neurotransmissores, sobre seus fios condutores para os órgãos periféricos, suas estações intermediárias 42 representadas pelo sistema nervoso autônomo, suas sinapses e receptores. Estes conhecimentos possibilitarão um salto de qualidade
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