Buscar

calculo renal

Prévia do material em texto

ARAGUARI 
2019 
 
INSTITUTO MASTER DE ENSINO PRESIDENTE ANTÔNIO CARLOS 
 
 
 
 
 
 
BIANCA DE PAULA FARIAS, EDUARDA CRUZ DA SILVA 
FERREIRA, EDUARDO PIMENTA QUEIROZ, EURIPEDES 
DA COSTA MACHADO, FELIPE ALEXANDRE RIOS 
CARNEIRO, GABRIEL MARQUEZ BERNARDES, 
GABRIELA FERREIRA ANDRADE, GUILHERME LEITE 
MACIEL, ISABELLA KAROLINE SOUSA MORAES, LAÍS 
REIS SILVA E MARIA LUIZA LOUREÇO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
 
A EVOLUÇÃO DA MEDICINA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: 
OS DESAFIOS DO ONTEM E HOJE 
ARAGUAR 
2019 
 
BIANCA DE PAULA FARIAS, EDUARDA CRUZ DA SILVA 
FERREIRA, EDUARDO PIMENTA QUEIROZ, EURIPEDES 
DA COSTA MACHADO, FELIPE ALEXANDRE RIOS 
CARNEIRO, GABRIEL MARQUEZ BERNARDES, 
GABRIELA FERREIRA ANDRADE, GUILHERME LEITE 
MACIEL, ISABELLA KAROLINE SOUSA MORAES, LAÍS 
REIS SILVA E MARIA LUIZA LOUREÇO DE OLIVEIRA 
 
 
 
 
A EVOLUÇÃO DA MEDICINA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: 
OS DESAFIOS DO ONTEM E HOJE 
 
 
 
 
Trabalho desenvolvido pelo segundo 
período do curso de graduação em 
Medicina do Instituto Master de 
Ensino Presidente Antônio Carlos. 
proposto pelo o eixo 2.2 A – Atenção 
à Saúde Individual e Coletiva , em 
integração com o eixo 1.2 – 
Comunicação, Profissionalismo e 
Humanização. 
TERMO DE APROVAÇÃO 
 
 
 
BIANCA DE PAULA FARIAS, EDUARDA CRUZ DA SILVA 
FERREIRA, EDUARDO PIMENTA QUEIROZ, EURIPEDES 
DA COSTA MACHADO, FELIPE ALEXANDRE RIOS 
CARNEIRO, GABRIEL MARQUEZ BERNARDES, 
GABRIELA FERREIRA ANDRADE, GUILHERME LEITE 
MACIEL, ISABELLA KAROLINE SOUSA MORAES, LAÍS 
REIS SILVA E MARIA LUIZA LOUREÇO DE OLIVEIRA 
 
 
A EVOLUÇÃO DA MEDICINA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: 
OS DESAFIOS DO ONTEM E HOJE 
 
 
Trabalho apresentado no Eixo 2.2 A –Atenção à Saúde Individual e Coletiva em 
integração com o eixo 1.2 – Comunicação, Profissionalismo e Humanização do 
curso de Medicina do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio Carlos – 
IMEPAC- ARAGUARI 
Aprovado pela banca examinadora em / / 
 
 
 
 
 
 
Prof (a). Dr (a). Orientador (a) 
 
 
 
Prof (a). Dr (a) 
 
 
 
Prof (a). Dr (a) 
RESUMO 
 
O objetivo deste estudo é abranger a evolução da medicina que compõe a 
sociedade contemporânea: os desafios do passado e da atualidade. Portanto, a 
abordagem metodológica empregada no estudo baseia-se na ocorrência de fatos 
ocorridos ao longo dos anos. Nesse sentido, este trabalho acadêmico contém uma 
crescente seleção de relatórios, trabalhos científicos, boletins e outras fontes 
confiáveis. 
 
ABSTRACT 
 
The objective of this study is to encompass the evolution of medicine that 
comprises the contemporary society: the challenges of the past and nowadays. 
Therefore, the methodological approach employed in the study is based on the 
occurrence of facts that occurred over the years. In this sense, this academic work 
contains a growing selection of reports, scientific papers, newsletters and other trusted 
sources. 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇAO ...............................................................................................06 a 07 
1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................... 07 
2 METODOLOGIA ................................................................................................... 08 
2.1 TIPO DE PESQUISA........................................................................................... 08 
2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO ....................................................... 08 
2.3 UNIVERSO DA PESQUISA ............................................................................... 08 
 
3 DESENVOLVIMENTO 
 
3.1.O INÍCIO DA MEDICINA .............................................................................09 a 11 
 
3.2.SÃO LUCAS OU O EVANGELISTA ...........................................................12 a 14 
 
3.3.MEDICINA MEDIEVAL ...............................................................................14 a 16 
 
3.4.RENASCIMENTO .......................................................................................16 a 22 
 
3.5.MEDICINA NOS SÉCULOS XVII, XVIII E XIX ............................................22 a 25 
 
3.6. OS AVANÇOS DA MEDICINA NO INÍCIO DO SECULO XX ................25,16 e 27 
 
3.7. ALEXANDER FLEMING E A DESCOBERTA DA PENICILINA ...............27 a 28 
3.8.OS EXPERIMENTOS MÉDICOS NAZISTAS .............................................29 a 37 
3.9MEDICINA NA SEGUNDA METADE DO SECULO XX ..............................37 a 39 
3.10.O INÍCIO DAS POLÍTICAS DE SAÚDE PÚBLICA .................................39 a 41 
3.11.A MEDICINA ATUAL ................................................................................41 a 44 
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 46 
5.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................47 a 48 
6 
1. INTROUÇÃO: A MEDICINA NASCEU DO INSTINTO. 
 
Esse Seminário Integrado tem por objetivo avaliar a análise crítico-reflexiva 
dos alunos do primeiro ciclo do segundo período de Medicina do Instituto Master de 
Ensino Presidente Antônio Carlos (IMEPAC) de 2019. Juntamente ao 
aprofundamento teórico, o qual será interrelacionado com o auxílio de pesquisas 
fundamentadas na metodologia de busca ativa. 
Baseando-se na realização de interrelações temáticas entre os percursos 
curriculares do Eixo 1.2 “Comunicação, Profissionalismo, e Humanização” e do Eixo 
2.2 A “Atenção à Saúde Individual e Coletiva”. O Seminário Integrado terá como 
temática “A Evolução da Medicina na Sociedade Contemporânea: os desafios do 
ontem e hoje...”. 
Dessa forma, nesse seminário, será abordado na temática, o antes, durante e 
depois das ciências medicas. Sua fundamentação teórica terá início na Grécia (a.C. 
e d.C.), por conseguinte será abordado também a Medicina durante a Idade Média, 
Renascimento e logo após os séculos XVII, XVIII, XIX, constará os avanços da 
medicina do início, até a segunda metade do século XX, juntamente ao 
descobrimento da Penicilina e os experimentos médicos nazistas, por fim, será 
abordado também o início das políticas públicas de saúde no Brasil até os dias 
atuais. 
A história da medicina ao invés de desenvolver-se em torno do aprendizado e 
do empirismo, germinou-se instintivamente. Sendo assim, considerando a 
manutenção da integridade orgânica como a primeira exigência para a conservação 
da saúde e da vida, no que diz respeito a “Seleção Natural”, a medicina nos 
favoreceu. 
No entanto, embora a sobrevivência seja erroneamente interpretada de forma 
animalesca, o surgimento da medicina evidencia a parte solidária de sua índole. O 
altruísmo, com sua essência recíproca, precede a ética como atitude social voltada 
para o coletivo. Conceituada e propagada por filosofias posteriores, como “defesa do 
homem e da vida”, a Ética tem seu núcleo fundante no desejo de ajudar. 
Sendo assim, atualmente no século XXI, com inúmeros avanços tecnológicos, 
ascensão do capitalismo, ressignificação de valores, conflitos sociopolíticos, a índole 
solidária, empática a qual pertenceu à medicina desde os primórdios de seu 
nascimento, encontra- se majoritariamente imperceptível. Isso acontece devido a 
7 
diversos fatores os quais desvirtuam o médico de sua função ética e social. Seja 
pela mercantilização da saúde, seja pela perda de valores humanitários. 
À vista disso, urge a necessidade de resgatar a legitimidade da 
universalidade, integralidade e equidade. Princípios que reminiscênciaram da Grécia 
a.C. para o Brasil em 1988, com o intuito de sustentar os pilares do SUS, Sistema 
Único de Saúde o qual determina como dever do Estado garantir saúde a toda a 
população brasileira. 
 
1.1.OBEJETIVOS 
O objetivo desse trabalho acadêmico é proporcionar o desenvolvimento da 
capacidade de pesquisa, de raciocínio e de reflexão em torno do tema: A Evolução 
da Medicina na Sociedade Contemporânea: os desafiosdo ontem e hoje. Nesse 
contexto, foi elaborado trabalho escrito e apresentação oral, em forma de seminário, 
que visa a proporcionar aos estudantes conhecimento sobre a história da medicina, 
o aprofundamento dos avanços da área médica na contemporaneidade e 
consequentemente os problemas trazidos com essa evolução. Assim os alunos do 
curso de medicina, do 2º período, do Instituto Master de Ensino Presidente Antônio 
Carlos terão referencial teórico sobre o tema em modelo de revisão bibliográfica. 
1.2.1. Objetivo Geral 
Identificar os principais avanços da medicina com o passar dos séculos e 
contextualizar de forma comparativa os desafios apresentados em cada fase. 
1.2.2. Objetivos Específicos 
Conceituar métodos da medicina tradicional e contemporânea; Diagnosticar a 
contribuição de diferentes povos; Analisar os impactos da medicina no ontem e no 
hoje; Identificar os progressos da medicina no que tange as relações interpessoais 
da contemporaneidade. 
8 
2. METODOLOGIA 
 
2.1. TIPO DE PESQUISA 
 
O seminário acerca da Evolução da Medicina na Sociedade Contemporânea: os 
desafios do ontem e hoje trata-se de um tipo de pesquisa descritiva, uma vez que 
contempla tanto a busca como a elaboração de uma cronologia de fatos.Com isso, é 
aplicada, uma vez que considera a necessidade de elaborar reflexões sobre a 
transformação da medicina no longo dos séculos. 
2.2 CARACTERIZAÇÃO DA ORGANIZAÇÃO 
 
A Evolução da Medicina na Sociedade Contemporânea: os desafios do ontem e 
hoje, constitui como uma atividade avaliativa que se baseia na divisão dos séculos 
com seus respectivos marcos históricos acerca da medicina. Desse modo, foram 
fragmentados em: Grécia A.C.; Grécia D.C.; Idade Média; Renascimento; Medicina 
nos Séculos XVII, XVIII e XIX; Os Avanços da Medicina no Início do Século XX; 
Descobrimento da Penicilina; Experimentos Médicos Nazistas; Medicina na Segunda 
Metade do Século XX; Início das políticas Públicas de Saúde no Brasil e a Medicina 
Atual. Portanto, trata-se de uma abordagem que busca englobar uma análise teórica 
e, também, proporcionar uma justaposição de conhecimentos, o que corrobora para 
o desenvolvimento acadêmico. 
2.3 UNIVERSO DA PESQUISA 
 
As metodologias utilizadas para o universo da pesquisa foram a realização de 
levantamentos bibliográficos, no qual serão utilizados livros, artigos científicos 
disponíveis em revistas eletrônicas, dispostos em sites de pesquisa como Scielo. 
Para a inclusão de artigos científicos, serão utilizados aqueles que em seu contexto 
apresentarem dados necessários para a explicação minuciosa, detalhada e exata ao 
assunto proposto neste trabalho. 
9 
3. DESENVOLVIMENTO 
 
3.1 O INÍCIO DA MEDICINA 
 
Existem vestígios, obtidos em sítios arqueológicos, indicando possíveis 
práticas de atenção médica e tratamentos de sintomas, evidenciadas por fraturas de 
membros, extrações dentárias, correções de anomalias corporais e o uso de ervas, 
dentre outras substâncias. Logo, existem quatro afirmações possíveis de afirmar. 
Primeiramente, a medicina surgiu com a humanidade, mais especificamente 
durante o primeiro ato de altruísmo, quando é prestado socorro à um semelhante 
doente ou ferido. Logo, a medicina atual expressa a evolução de um conhecimento 
milenar. 
Por conseguinte, a busca por pessoas indicadas para consultas, os que 
decifraram a habilidade de cura, os médicos e cirurgiões. Definindo posteriormente, 
diferenciações profissionais, uma vez que, o homem reconhece a insuficiência da 
automedicação e insignificância dos palpites ignorantes. 
3.1.1.O Surgimento de Hipócrates 
 
Hipócrates de Cós (460-370 a.C), nascido de uma família de sacerdotes- 
médicos, os quais diziam ser descendentes de Asclépio, filho de médico e aluno de 
Heródoto de Selímbria. Se tornou o “Pai da Medicina” no fim do século V e início do 
IV a.C, juntamente aos primórdios do surgimento das escolas médicas de Cnido e 
de Cós, as quais cultuavam respectivamente, o tradicionalismo médico mais 
arraigado e a medicina de maior abertura a novas idéias. Ademais, ambas 
representavam evolução de conhecimento médico, abstendo de rivalidades com teor 
progressista ou conservadores. 
Após rompimento com o culto estabelecido, Hipócrates não visitou o Oriente 
nem o Egito, os quais se definiam como estágios no exterior da época. No entanto, 
praticou e ensinou sua medicina em Larissa, Tasos, Delos, Abdera, Perinto, Crotona 
e outras cidades, acompanhado de assistentes e auxiliares, conforme o que era 
definido pela época. Todavia, com a morte de Péricles, em 481 a.C, causada pela 
peste em Altina 
10 
É importante ressaltar que, embora o Hipócrates, com sua essência 
puramente humana, tenha sido famoso como médico e professor, nenhum tratado 
isolado pode ser seguramente identificado como sendo dele e muitos dos detalhes 
tradicionais de sua vida são invenções posteriores a ela. Contemporâneo de 
Sócrates, Platão, Heródoto, Tucidides, Fídias, Polignoto e Péricles em Atenas, 
vivendo numa época áurea e numa cidade que liderava intelectualmente o mundo e 
para este mostrava os caminhos da inteligência, da razão, da beleza, da harmonia e 
da grandeza, deixando um sombrio passado para trás, Hipócrates representou para 
a Medicina o que as maiores contribuições de seus iluminados contemporâneos 
representaram para a filosofia, as artes e a política. 
3.1.2.Ética Médica Hipocrática 
 
Ética significa um conjunto de qualidades nobres juntamente com a defesa do 
homem e da vida, associa-se à Medicina desde a antiga Grécia e, passando por 
todas as épocas, chegou até os dias presentes. Com a figura Socrática, a filosofia 
clássica associa a essência da ética aplicada à sociedade. Sintetizando conceitos de 
responsabilidade médica e benefícios aos pacientes, a Ética Médica, que surgiu com 
a figura indispensável de Hipócrates, estabeleceu a verdade na Medicina. 
A verticalidade hipocrática era sustentada por dois pilares, a prudência e a 
virtude, o que colocava o médico sem grandes opções técnicas quanto ao curar mas 
com grandes reservas de bondade, compaixão, amizade, protecionismo, cortesia, 
caridade e simpatia , virtudes que, diga-se de passagem, mesmo nesta época de 
técnica avançada, muitas vezes fazem mais falta para o paciente que uma fria 
prescrição. 
A medicina hipocrática não é mais do que a aplicação da razão ao 
conhecimento médico e um despertar do humanismo virtuoso na arte de curar. Está 
embasada em preceitos homéricos, pitagóricos, socráticos, platônicos e estoicos. O 
bom e o belo eram buscados não só no mundo ideal, mas também no corpo 
humano, transformando esse objetivo na sua meta maior. 
Reverência aos mestres, respeito ao sigilo profissional, respeito e benefício 
incondicional ao paciente, total proteção à vida humana, moralidade pessoal e vida 
profissional ilibada. Estes são os principais conselhos morais apontados no Corpus 
11 
Hippocraticum, abaixo se encontra a figura do manuscrito juntamente à sua 
transcrição. 
 
 
“Juro por Apolo, médico, por Asclépio, por Higéia e por Panacéia, por todos 
os deuses e todas as deusas a quem tomo por testemunhas do cumprimento deste 
juramento, que me obrigo a cumprir com todas as forças e minha vontade. Dedicarei 
a meu mestre de medicina igual respeito ao que dedico aos autores de meus dias, 
dividindo com ele meus haveres e socorrendo-o, em caso de necessidade; 
considerarei seus filhos como meus irmãos, e, se quiserem aprender medicina, 
ensiná-la-ei desinteressadamente e sem nenhuma recompensa. Instruirei com 
preceitos, lições teóricas e demais métodos de ensino a meus filhos, os de meu 
mestre e os discípulos que me acompanharem conforme a convenção e o juramento 
da lei médica e a mais ninguém. Prescreverei o regime dos enfermos de modo que 
lhes seja mais proveitoso, conforme minhas possibilidades e meu conhecimento, 
evitando todo o mal e toda a injustiça. Não darei venenos a ninguém,mesmo que 
me peça, nem farei sugestões nesse sentido. Abster-me-ei igualmente de 
administrar às mulheres grávidas pessários abortivos. Passarei minha vida e 
exercerei minha arte com simplicidade e pureza. Não praticarei a operação da talha, 
deixando esta operação aos que se dedicam a praticá-la ordinariamente. Quando 
entrar em uma casa, não levarei outro propósito que não seja o bem e a saúde dos 
enfermos, cuidando de não cometer intencionalmente faltas injuriosas ou 
corruptoras, e sobretudo evitando a sedução das mulheres e dos rapazes, livres ou 
escravos. Guardarei segredo sobre o que vir ou ouvir na sociedade e não seja 
preciso que se divulgue, seja ou não no exercício de minha profissão, considerando 
a discrição como um dever em tais casos. Se observar com fidelidade este 
juramento, seja-me dado gozar felizmente minha vida e minha profissão, honrado 
sempre entre os homens; se o quebrar e for perjuro, caia sobre mim sorte adversa” 
 
 
3.1.3.Legado de Hipócrates 
 
Com toda probabilidade, a obra hipocrática completa é reflexo mais de uma 
Escola que de um homem isolado. Entretanto, isso não retira mérito de seu 
12 
monumental legado: separação do mito e da filosofia da ciência; sistematização da 
medicina; mundo natural como base da medicina; código de ética médica. 
 
 
3.2. São Lucas, o Evangelista 
 
Dentre todos os personagens que compõem a história da Medicina – 
curandeiros, barbeiros, sacerdotes, médicos se insere Lucas. São Lucas, o 
Evangelista é o autor do Evangelho de São Lucas e dos Atos dos Apóstolos - o 
terceiro e quinto livros do Novo Testamento. Foi médico grego e cidadão (ou 
escravo) romano, que descreveu com carinho e afeto a vida de Jesus Cristo na 
Terra, seguindo os seus passos pouco tempo, após seu Calvário, ao mesmo tempo 
acrescentou um piedoso capítulo à história da Medicina. Lucas revolucionou a 
maneira de ver e lidar com os pacientes por embeber Medicina de amor, de 
compaixão, solidariedade e até mesmo de cumplicidade, uma vez que juntou aos 
conhecimentos aprendidos na escola Médica de Pádua e aos ensinamentos de 
Keptah. O Evangelista possuía a crença de que o preparo espiritual dos pacientes e 
o carinho dos médicos são de importância fundamental no êxito do tratamento 
proposto, assim sendo, procurava fortalecer a confiança no médico e a fé do 
paciente como fatores primordiais para a efetividade da terapêutica. 
Além disso, Lucas considerava que o poder divino seria ilustrativo, mas com 
influência benéfica para a cura, uma vez que é possível fortificar a mente do 
paciente por meio de energia capaz de aliviar ou vencer muitos de suas 
enfermidades, quando bem administrado. Logo, várias das curas atribuídas ao 
Evangelista, além da eficácia dos tratamentos com ervas e outros remédios de 
cunho naturais, têm sido consideradas milagrosas, como ele próprio descreve em 
uma passagem: “quantas vezes, pedindo o auxílio de Deus, não obtive a cessação 
de severos sofrimentos, ao colocar a mão sobre a cabeça do paciente, para que a 
corrente da força mental pudesse passar do meu querer, para os seus centros vitais, 
quando bem preparados para a receptividade desejada! Que os médicos do futuro 
também se utilizem desses meios para aliviar os seus clientes!” 
 
 
Como forma de explicar as curas, descreve-as no terceiro Evangelho e no 
Atos dos Apóstolos, Lucas engrandecia o poder do Espírito Santo, suficiente por si 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Evangelho_de_S%C3%A3o_Lucas
https://pt.wikipedia.org/wiki/Atos_dos_Ap%C3%B3stolos
https://pt.wikipedia.org/wiki/Novo_Testamento
13 
só, de produzi-los, uma vez que muitos homens teriam a capacidade de transmitir 
fluidos superiores, por bençãos de Deus, produzindo curas notáveis, como as que o 
próprio Lucas obteve. É perceptível em sua oratória a importância do médico 
estender o contato humano com seus pacientes na ideia de melhorar o tratamento e 
isso fica claro em algumas de suas falas como: “por que os médicos não se 
aperfeiçoam em ministrá-las, deixando de utilizar mezinhas e alquimias, ou 
recorrendo a esses tratamentos apenas como último recurso?” Seguindo essa linha 
de raciocínio, o Evangelista não preconizava pagamentos em dinheiro pelo cuidado 
dos enfermos, ao invés disso, Lucas pedia, como retribuição pelo tratamento 
médico, que os pacientes ouvissem dele a história de Jesus Cristo e se 
confessassem com ele; um exemplo é o da cura de lesões cutâneas de Thacia. 
Há pelo mundo muitas de histórias, comemorações e orações acerca do 
médico e pintor São Lucas, e uma dessas orações os devotos pedem ao santo, 
tratamento para o espírito mais do que para o corpo: “Deus Todo Poderoso, que 
chamaste Lucas, o médico, cuja glorificação está no Evangelho, para ser um 
evangelista e médico da alma, seja do Teu agrado que, através dos remédios 
salutares da doutrina que ele divulgou, todos os males de nossa alma fiquem 
curados; pelos méritos de Teu filho Jesus Cristo nosso Senhor. Amém”. De certo 
modo, não existe um concessão geral sobre algumas datas e documentos a respeito 
do período de atuação do Evangelista e do Dia do Médico, variando conforme a 
crença, porém, é certo que na França, em 1427, já era realizada a sua festa em 18 
de outubro, e que na Universidade de Pádua, na Itália, em 1463, São Lucas foi 
proclamado patrono do Colégio dos Filósofos e dos Médicos e em sua homenagem 
o ano letivo tinha início nessa data. Logo, o dia dedicado a São Lucas é 18 de 
outubro, assim sendo, comemorado em muitos países, dentre os quais Portugal, 
França, Espanha, Itália, Bélgica, Polônia, Inglaterra, Argentina, Canadá e Estados 
Unidos, além do Brasil. Mas, não se sabe se a data corresponde ao seu nascimento 
ou à sua morte por decapitação. Também, vale apena ressaltar que não há 
informações precisas sobre a época em que recebeu o título de Patrono dos 
Médicos, mas provavelmente foi inicialmente patrono dos médicos católicos, pela 
profunda religiosidade de sua Medicina. 
Destarte, o escritor norte-americano Bernie Siegel (1984) sugere a seguinte 
experiência espiritual: “todos os médicos deveriam trabalhar, como parte de sua 
14 
formação profissional, com pessoas portadoras de doenças “incuráveis”. Seriam 
proibidos de receitar medicamentos ou intervenções cirúrgicas; precisariam, isso 
sim, sair a campo e ajudar os doentes afagando-os, rezando com eles, participando, 
no nível emocional, de suas dores.” Esse pensamento é útil para travar um paradoxo 
entre a medicina do passado e a do hoje. Enxergar como no presente se colhe os 
frutos que foram, de certa forma, semeados na antiguidade, de uma prática medica 
mais humana, afetuosa, foca no bem-estar do paciente e não na doença em si. Sem 
sombra de dúvidas, seria o reconhecimento da religiosidade, imprescindível na 
práxis médica e, seguindo essa linha de raciocínio, a frase em epígrafe do 
Evangelho de Lucas é emblemática: desafio, censura ou exortação? Mas 
certamente não se refere a doenças físicas, de médico, e sim ao 
mecanicismo/materialismo, que ignora a alma e a fé, robotizando o ato médico. 
3.3. A medicina medieval 
 
A idade média é um período histórico que durou aproximadamente mil anos 
(de 476 d.C – 1492). Com a queda do império romano, os escritos gregos ficavam 
guardados em mosteiros, e todo o conhecimento da arte da medicina estava 
vinculado ao cristianismo (na Europa ocidental). Assim, não houve muitas inovações 
no método cientifico médico, e a medicina ainda era muito baseada nos ensinos dos 
médicos gregos (como Hipócrates e Lucas, o evangelista). 
Durante boa parte da idade média, os principais ´´profissionais´´ da área da 
saúde eram os barbeiros cirurgiões. Estes realizavam tratamentos odontológicos, 
tratamento de feridas e amputação de membros. Os médicos medievais em certos 
países (como na Inglaterra) eram mais escassos, e seus tratamentos muito caros. 
Além disso, muitos dessesmédicos realizavam tratamentos empíricos como por 
exemplo o método da sangria. É um fato que a medicina medieval era muito 
precária, e muitas barbáries foram cometidas durante essa época, mas nesse 
estudo quero apontar também alguns pioneiros da arte da cura durante este período 
tão místico. 
A cidade de Salerno foi berço da primeira universidade de medicina da 
Europa medieval, e também de uma das médicas mais influentes durante esse 
período. Trotula de Salerno foi uma pioneira no ramo da ginecologia e obstetrícia 
durante o século XII. Ela escreveu vários tratados sobre a anatomia e fisiologia 
15 
feminina. Em seu tratado Trotula Maior, ela explicou temáticas como menstruação, a 
concepção, a gravidez, o parto, doenças relacionadas ao útero, e das vias urinárias. 
A medicina persa também foi local de atuação de grandes médicos como Ibn 
Sina e Al-Juzjani. Ibn Sina é responsável pela escrita do livro The complete Book of 
the Medical Art; que retomava estudos hipocráticos, além de abordar temas da 
psicologia. A história desses dois médicos também é relatada no romance de Noah 
Gordon, O Físico; que conta a epopeia de um jovem inglês que resolveu viajar até a 
Pérsia para aprender a arte da medicina. Apesar de ser uma história fictícia, alguns 
personagens (como Ibn Sina e Al-Juzjani) realmente existiram, e o panorama 
histórico e cultural da época foi muito bem relatado por esta obra. 
A peste negra foi uma das mais devastadoras pandemias da história da 
humanidade. Estima-se que entre 75 a 200 milhões de pessoas morreram devido a 
esta doença. A peste negra ou peste bubônica é causada pela bactéria Yersinia 
pestis, que foi transmitida ao ser humano pelas pulgas dos ratos-pretos. O auge da 
doença foi entre os anos de 1346 e 1353. Durante ess época, surgiu uma das 
figuras mais emblemáticas da medicina medieval; o médico de peste. Estes 
profissionais eram contratados pelas cidades que mais sofriam com a doença, e em 
geral eram médicos generalistas e novos na carreira, que queriam se estabelecer na 
profissão. O traje que eles usavam era bem característico, com um ´´bico de corvo´´ 
que servia para o armazenamento de ervas e essências aromatizadas, para proteger 
do mau cheiro. Usavam também um casaco semelhante a um manto, e botas de 
couro marroquino. Eram as únicas pessoas na Europa autorizadas a fazerem 
autopsia em corpos humanos, com o intuito de acharem uma cura ou a causa da 
doença. 
16 
 
 
 
Imagem 1: Columbina, ad-vivum-delineavit-Paulus-Furst-Excud‹i›t.°-°Internet-Archive’s-copy of 
Eugen-Hollander, Die Karikatur-und-Satire-in-derMedizin: Medico-Kunsthistorische-Studie-von- 
Professor Dr. Eugen Hollaner, 2nd-edn (Stuttgart:Ferdinand Enke, 1921), fig 79, p.171) 
3.4. Renascimento (Séculos XIV – XVI) 
 
Foi o período pós-Idade Média, marcado pelas ideias anticlericais e 
antropocêntricas. A Europa encontrava-se em grande expansão marítima e 
comercial, por isso era importante se desprender das rédeas da Igreja Católica e 
desenvolver um pensamento crítico e racional. Na produção renascentista, 
começaram a sobressair valores modernos, como o Humanismo. O conhecimento 
avançou através do método científico, pela condução de experimentos, coleta de 
observações e conclusões 
Humanismo 
 
O humanismo foi um movimento, abraçado por estudiosos, escritores e 
líderes cívicos na Itália do século XIV, que se manifestou no meio artístico, filosófico 
e cientifico. Representa a evolução do pensamento humano, onde o homem é posto 
como centro de estudo e a medida de todas as coisas. Estimulava a curiosidade e o 
uso da razão na investigação dos diversos fenômenos naturais, sociais, culturais e 
míticos, a fim de sair da ignorância. Tais estudos foram impulsionados pela paixão 
aos clássicos greco-romanos. 
17 
A invenção da imprensa 
 
Uma das invenções que provocaram uma verdadeira revolução no terreno da 
escrita e da leitura foi a imprensa, isto é, a máquina de impressão tipográfica 
inventada pelo alemão Johann Gutenberg no século XV. Tal invenção possibilitou a 
disseminação do conhecimento e acessibilidade a obras de renome, facilitando o 
estudo e desenvolvimento cientifico. 
Medicina no Renascimento 
 
Os médicos renascentistas eram humanistas e letrados, pertencentes às 
classes privilegiadas. Estudavam nas grandes universidades e, inicialmente, 
dedicavam seus estudos a Hipócrates, Galeno e Avicena, praticantes de 
dissecações e estudos anatômicos e fisiológicos. A anatomia e a cirurgia, que eram 
ensinadas em conjunto, tornaram-se disciplinas autônomas a partir de 1570. 
Os médicos passaram a analisar a medicina e os tratamentos medicinais de 
um modo mais objetivo, não atribuindo tanta importância a causas sobrenaturais, 
como espíritos malignos e demónios, o que acontecia com os métodos medicinais 
utilizados anteriormente. Foram realizadas diversas pesquisas, tanto a nível 
anatómico como a nível cirúrgico, do corpo humano, possibilitadas pelas 
investigações experimentais, particularmente no campo da dissecção e do exame 
corporal, além das análises de corpos em campos de batalha. 
Novos tratamentos foram desenvolvidos em pleno campo de batalha, visto 
que médicos começaram a fazer medicamentos naturais para ajudar pessoas com 
ferimentos de guerra. Além disso, os feridos permitiram aos médicos renascentistas 
fazer cirurgias e analisar o corpo humano de uma forma mais profunda. 
Jean Fernel (1497-1558) 
 
Professor de medicina na Universidade de Paris e autor dos termos fisiologia 
e patologia e da obra Universa Médica (A Medicina Universal), cujos conhecimentos 
permaneceram válidos por dois séculos e que dividiu o conhecimento sobre 
medicina nas atuais disciplinas: fisiologia (funcionamento normal do corpo), 
patologia (funcionamento do corpo doente) e terapêutica (meios empregados para 
resolver a doença). Jean se tornou medico de Henry II após curar a esterilidade de 
sua esposa, Catherine de Medici, corrigindo anormalidades em seus órgãos genitais. 
18 
William Harvey (1578-1657) 
 
Outro trabalho inovador foi realizado por William Harvey, que publicou De 
Motu Cordis em 1628. Harvey fez uma análise detalhada da estrutura geral do 
coração, passando para uma análise das artérias, mostrando como sua pulsação 
depende da contração da artéria. ventrículo esquerdo, enquanto a contração do 
ventrículo direito impulsiona sua carga de sangue para a artéria pulmonar. Ele notou 
que os dois ventrículos se movem juntos quase simultaneamente e não de forma 
independente, como se pensava anteriormente por seus predecessores. Harvey 
também estimou a capacidade do coração, quanto sangue é expelido através de 
cada bomba do coração e o número de vezes que o coração bate em meia hora. A 
partir dessas estimativas, ele passou a provar como o sangue circulava em um 
círculo. 
Paracelso (1493 – 1541) 
 
É considerado um dos precursores da farmacologia moderna, pois foi o 
pioneiro a introduzir substancias químicas no preparo de suas medicações Ele 
estudava magia e alquimia e defendia uma medicina baseada em novos conceitos, 
além dos ensinados por Galeno. Desenvolvia preparados farmacêuticos, optando 
por fórmulas mais simples e com ingredientes provenientes da natureza e 
substâncias minerais, como enxofre, mercúrio, chumbo, cobre, ferro e antimônio. Ele 
atacava rigorosamente sistemas de cura da época, valorizando a compreensão da 
natureza, a observação clínica, a patologia geral e o estudo dos remédios de acordo 
com os sinais que o paciente apresentava. 
Queimou em público as obras de Galeno e Avicena, mas, apesar de sua fúria 
iconoclasta, concordava com Hipócrates num ponto: que o lugar do médico era na 
cabeceira do doente. 
O conhecimento prático de Paracelso rendeu obras sobre cirurgias e 
farmacologia, sendo responsável pela introdução de muitas drogas medicinais. 
Ambroise Paré (1517-1590) 
É considerado um dos pais da cirurgia e moderna patologiaforense, e um 
pioneiro em técnicas cirúrgicas e medicina de campo de batalha, especialmente no 
tratamento de feridas. 
19 
A cirurgia no Renascimento era praticada principalmente por barbeiros, que 
usavam as mesmas ferramentas para as duas profissões. A cirurgia ainda era um 
negócio bastante primitivo e extremamente doloroso essa época. A controvérsia 
continuava em relação ao tratamento de ferimentos — o pus era bom ou ruim? A 
cauterização, ou queima de um ferimento para fechá-lo, continuou sendo a principal 
forma de deter hemorragias. A maioria dos cirurgiões adquiriu suas habilidades no 
campo de batalha, e a introdução de pólvora, armas e canhões tornou o local muito 
mais desorganizado. 
Ambroise Paré, inicialmente um barbeiro-cirurgião em Paris, que se 
notabilizou como médico do exército e cirurgião doméstico, considerado o melhor da 
Renascença. Com sua própria e extensa experiência em campos de batalha, ele 
suturava ferimentos para fechá-los em vez de usar a cauterização para deter o 
sangramento durante amputações. Ele substituiu o óleo fervente usado para 
cauterizar ferimentos de armas de fogo por um unguento feito de gema de ovo, óleo 
de rosas e terebintina. Seus tratamentos não só eram mais eficazes como também 
muito mais humanos que os utilizados anteriormente. Defendeu a ligadura de 
artérias para controlar as hemorragias, sendo nomeado mestre cirurgião, por 
Henrique II, em 1554. Sete anos depois, publicou seu tratado Cirurgia Universal, em 
que incorporava novos métodos cirúrgicos e instrumentais. 
Grande parte de seu trabalho foi voltado para a reabilitação de soldados 
mutilados em guerra. Por isso, produziu uma grande quantidade de próteses de 
mãos, pernas e narizes. 
 
Johann Weyer (1515 – 1588) 
 
No início desse período, ainda prevalecia o pensamento medieval de que a s 
pessoas com distúrbios psíquicos eram alvos de bruxaria ou possessões 
demoníacas e, por isso eram queimados vivos. Johann Weyer desafiou a igreja 
católica em sua obra “Da ilusão dos demônios”, afirmando que essas doenças 
tinham bases naturais. 
Para provar sua teoria, Johann levou mulheres com distúrbios mentais a sua 
casa e observou suas ações, a fim de aliviar seus sintomas. 
20 
Epidemias registradas no período 
 
As epidemias continuavam a assolar a Europa com o surgimento de novas 
doenças ou o agravamento das já conhecidas. Na Inglaterra, John Caius (1510- 
1573) descreveu uma doença misteriosa como o "suor maldito", uma febre eruptiva 
acompanhada de sudorese intensa com cãibras, mialgia e esturpor, que matava em 
48 horas a grande maioria dos pacientes. Esta patologia disseminou-se pela Europa, 
causando vários surtos e desapareceu misteriosamente em 1551, sem jamais ter 
sido elucidada sua etiologia. O tifo exantemático foi descrito claramente por 
Fracastoro no seu clássico livro sobre o contágio. Esta patologia já ocorria desde o 
final da Idade Média na Europa, mas aumentou de intensidade no século XVI, como 
sempre correlacionada à pobreza, guerras, falta de higiene e fome, condições que 
favorecem a exposição ao piolho 
As grandes descobertas marítimas levaram às longas viagens, em que os 
marinheiros desenvolviam escorbuto, dizimando parte das esquadras, que os 
holandeses já no século XVI associaram à carência de vegetais e frutas na dieta 
A primeira epidemia de sífilis surgiu entre os marinheiros que acompanhavam 
Colombo no regresso da primeira viagem ao Novo Mundo. A doença passou aos 
soldados espanhóis que combatiam com o rei, ao redor de Nápoles, e alcançaram 
as tropas de Carlos VIII, que sitiaram a cidade. Ao difundirem a doença por toda a 
Europa, em poucas décadas a natureza sexual da sífilis (conhecida como Mal 
Francês) seria melhor estudada por Girolamo Fracastoro, que defendeu a teoria 
moderna da infecção por germes invisíveis. Jean Fernel foi também o primeiro que 
diferenciou a sífilis da gonorreia, considerando que o único vínculo entre elas era o 
mecanismo de transmissão. Por sua vez, o médico humanista Nicolo da Lonigo 
escreveu e traçou um retrato clínico da sífilis 
Girolamo Fracastoro (1475-1553) 
 
Elaborou uma teoria racional sobre infecção, tornando-se o primeiro a afirmar 
que várias doenças são causadas por germes; aproximadamente 300 anos antas da 
confirmação dessa hipótese por Louis Pasteur. 
Fracastoro divulgou essa teoria em sua principal obra: “De contagione” 
("Sobre o Contágio"). Além disso, foi autor do poema médico mais famoso do 
21 
Renascimento, “Syphilis Sive Morbus Gallicus”, no qual ele resume o tratamento 
realizado na época, reconhece sua causa e da o nome de Sífilis à doença. 
Gaspare Tagliacozzi (1545 – 1599) 
 
Inovou a rinoplastia na época em que a sífilis desfigurava os europeus. Foi 
um dos pioneiros da cirurgia plástica, realizando reconstituições nasais, auriculares 
e labiais. Além disso, foi a primeira vez que a correção estética foi relacionada com a 
autoestima. 
Os artistas e os estudos anatômicos 
 
Os artistas renascentistas com o objetivo de aperfeiçoar suas obras 
estudaram a anatomia humana em detalhes. Dentre eles destacam-se Michelangelo, 
Rafael e Leonardo da Vinci. 
Leonardo da Vinci (1452 – 1519) 
 
Foi o maior artista e cientista do renascimento italiano. Acreditava que o 
conhecimento anatômico necessário para realizar suas obras de artes só era 
possível de ser adquirido dissecando corpos humanos. Dissecou mais de 30 
cadáveres e fez mais de 1200 esboços, os quais planejava usar em uma 
enciclopédia de anatomia, entretanto, faleceu antes da conclusão do projeto e seus 
estudos não foram publicados. 
Apesar de ter precedido Versalius cerca de 40 anos, as obras anatômicas de 
Da Vinci só se tornaram públicas em 1796. 
Seus esboços incluíam musculatura, coração, pulmões, vasos sanguíneos 
cervicais, torácicos e abdominais; ossos, nervos e cérebro 
Da Vinci foi o primeiro a dissecar um cérebro humano. Realizou vários cortes 
transversais e injetou cera derretida para analisar melhor os ventrículos cerebrais. 
Também estudou a posição do feto dentro do útero; e realizou um estudo minucioso 
a respeito dos grupos musculares e suas funções especificas. Ele tinha curiosidade 
de saber de onde vinham as emoções humanas e como elas eram expressadas. Por 
isso, fez um estudo detalhado dos músculos da face, acompanhou criminosos 
condenados a morte para observar e entender suas expressões de medo em seus 
últimos momentos, e desenhou uma série de diferentes expressões faciais. 
22 
Mediu com um goniômetro (instrumento para medição de ângulos) as 
proporções do organismo humano, reduzindo-as a fórmulas matemáticas. 
Demonstrou que o coração era um músculo e descreveu as cavidades aurículas, 
observando sua contração e dilatação, e identificando a sístole e diástole. 
Ele contribuiu não só como anatomia e fisiologia, mas também com a 
patologia, sendo o primeiro a descrever a aterosclerose e cirrose hepática. 
Andreas Vesalius (1514 – 1564) 
 
Considerado por muitos o “Pai da anatomia moderna”. Estudou em Paris e, 
como todos, baseava seus estudos nas obras de Galeno. No entanto, ao perceber 
erros em sua literatura, decidiu dissecar cadáveres por contra própria. 
Aos seus 29 anos, publicou sua obra De Humani Corporis Fabrica (Da 
Organização do Corpo Humano), um dos mais influentes livros científicos sobre 
anatomia humana. 
Na obra, demonstrou os erros no modelo galênico. Seus ensinamentos 
anatômicos foram baseados na dissecação de cadáveres humanos, em vez das 
dissecações de animais que Galeno usou como guia. O trabalho de Vesalius 
enfatizou a prioridade da dissecação e o que veio a ser chamado de visão 
“anatômica” do corpo, vendo o funcionamento interno humano como uma estrutura 
essencialmente corpórea repleta de órgãos dispostos em um espaço 
tridimensional. Isto estava em contraste com muitos dos modelos anatômicos 
usados anteriormente. 
Gabrielle Fallopio(1523 – 1562) 
 
Descobriu o seio esfenoidal e as tubas ovarianas, dando o nome de tubas de 
Falópio, o ligamento redondo; nomeou a vagina e a placenta. Escreveu diversos 
tratados de anatomia, embriologia e cirurgia. 
3.5. MEDICINA NOS SÉCULOS XVII, XVIII E XIX 
 
O microscópio foi considerado uma das grandes invenções da medicina e foi 
criado no início do século XVII.Dessa forma, ele possibilitou o avanço da Biologia e 
da percepção da ciência médica.Nessa perspectiva, a criação do microscópio foi 
atribuída a Galileu, mas na realidade aconteceu como fruto do aperfeiçoamento 
23 
realizado pelo naturalista holandês Antony van Leeuwenhoek.A princípio, possuía 
apenas uma lente de vidro e permitia o aumento de percepção visual de até 300 
vezes.Dessa forma, com o microscópio primitivo conseguiu-se observar bactérias de 
1 a 2 micro.Assim, o naturalista estudou os glóbulos vermelhos do sangue, 
constatou a existência dos espermatozoides e também os microrganismos. 
 
 
Imagem 2: Microscópio simples, inventado por Antony Van Leeuwenhoenk.Disponível em: 
http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n2/v45n2a01.pdf.Acesso, 2019. 
A vacina antivariólica, surgiu no final do século XVIII, resultou da observação de 
Edward Jenner quanto ao fenômeno de ‘proteção’ contra a varíola. Nesse sentido a 
partir da pústula desenvolvida na vaca, Jenner obteve um produto que passou a 
denominar vacina (‘da vaca’) que, ao ser inoculado no homem, fazia surgir, no local 
das inoculações, erupções semelhantes à varíola. Dessas erupções era retirada a 
"linfa" ou "pus variólico", utilizado para novas inoculações. Formava-se assim uma 
cadeia de imunização, ou seja, a vaca é considerada como o primeiro agente 
imunizador, e o homem como produtor e difusor da vacina. 
Apesar da aproximação médica ao parto no início do século XVI, foi durante os 
séculos XVIII e XIX que essa prática se desenvolveu, organizou, e se legitimou, em 
meio aos discursos de exaltação da maternidade. Com isso, a criação do fórceps, 
pelo cirurgião inglês Peter Chamberlain, e o desenvolvimento da técnica, levou um 
declínio na profissão das parteiras. 
Pela decisão n. 2, de 18 de fevereiro de 1808, poucos dias após a chegada de D. 
João na Bahia, foi criada a Escola de Cirurgia da Bahia, proposta pelo médico José 
Correia Picanço, cirurgião-mor do Reino, que ficou encarregado da escolha de seus 
professores. 
http://www.scielo.br/pdf/jbpml/v45n2/v45n2a01.pdf
http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/172-escola-de-cirurgia-da-bahia
http://mapa.an.gov.br/index.php/publicacoes/70-assuntos/producao/publicacoes-2/biografias/412-jose-correia-picanco-barao-de-goiana
http://mapa.an.gov.br/index.php/publicacoes/70-assuntos/producao/publicacoes-2/biografias/412-jose-correia-picanco-barao-de-goiana
http://mapa.an.gov.br/index.php/dicionario-periodo-colonial/154-cirurgiao-mor-do-reino-estados-e-dominios-ultramarinos
24 
Como o estabelecimento de cursos de ensino superior eram até então proibidos 
na Colônia, os cursos de medicina e cirurgia estabelecidos na Bahia e no Rio de 
Janeiro foram os primeiros deste tipo a existirem no país. A criação dessas escolas 
integrou o processo de institucionalização da medicina no Brasil, iniciado com a 
vinda da família real. Ao longo do período colonial, o cuidado com a saúde foi uma 
atribuição partilhada por diversos agentes de cura, como cirurgiões, físicos, 
sangradores, barbeiros, parteiras e seus aprendizes.A prática da medicina ficava 
também a cargo da assistência prestada nas enfermarias jesuíticas, nos hospitais da 
Misericórdia e hospitais militares, que, na maioria das vezes, eram a única fonte de 
assistência médica e fornecimento de medicamentos 
 
Em 8/11/1895, Wilhelm Conrad Roentgen (1845-1923), procurando detectar a 
radiação eletromagnética de alta frequência prevista por Heinrich Hertz (1857-1894), 
repetiu o experimento de Joseph John Thompson.Após embalar o tubo com uma 
caixa de papelão preto, ligar o instrumento e apagar as luzes de seu laboratório, 
observou algo notável: uma placa no fundo da sala, que continha 
tetracioanoplatinato(II) de bário (Ba[Pt(CN)4], um material fosforescente) em uma 
das faces, se iluminou.Esse fenômeno aguçou tanto o interesse de Roentgen que 
continuou estudando intensamente suas propriedades e características. Expondo 
diversos materiais de densidades diferentes a fim de observar seu poder de 
penetração, e com auxílio de um detetor fluorescente, fez uma importante 
observação: segurando um disco de chumbo com a mão na intenção de verificar o 
poder de penetração dos raios naquele metal, viu que, além da sombra do disco, 
apareceu a sombra dos ossos da sua mão.Estava assim descoberta a radiografia. 
 
Foi utilizando esta técnica que, em 22/12/1895, produziu uma das mais famosas 
fotografias que caracterizam bem aquela descoberta: a imagem dos ossos da mão 
de sua mulher, Anna Bertha Roentgen (1839-1919), com seu anel de casamento, 
que é considerada a primeira radiografia da história. 
 
A descoberta dos raios-x representou um dos grandes feitos da inteligência 
humana no final do século XIX, tendo uma repercussão imediata em todo o 
mundo.Embora a reação em geral tenha sido de deslumbramento com aquela nova 
25 
radiação, outras posturas foram observadas, mostrando uma relação de repulsa ou 
de medo/insegurança pessoais. 
 
As propriedades dos raios-x, quer tenham encantado ou desagradado as 
pessoas, ocultavam os perigos advindos de sua manipulação indevida.Foi preciso 
um acúmulo de erros e tragédias para que se despertasse nas pessoas a 
necessidade do estabelecimento de protocolos de proteção radiológica, bem como 
da supressão de muitas das aplicações empíricas no cotidiano que eram feitas no 
início do século XX 
 
 
Imagem 3: Raios-X fascinação, medo e ciência.Disponível 
em:http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S01004042200900010004. 
Acesso,2019. 
 
3.6. Os avanços da Medicina no início do Século XX 
 
A medicina passou por importantes avanços durante o Século XX, onde se 
passou a entende o ser humano como um grande complexo físico, mental e social. 
As descobertas abrangem questões da genética, diagnostico, tratamento e 
principalmente a prevenção de doenças que assolavam a população mundial. 
Logo em 1902 o médico e cientista austríaco Karl Landsteiner descobriu os 
diversos tipos de sangue do sistema ABO, e a partir daí as transfusões sanguíneas 
deixaram de matar pacientes em função da incompatibilidade sanguínea. Através de 
amostras de sangue, isolava os glóbulos vermelhos e combinava com outros pares 
de plasmas e hemácias. Em alguns casos esses glóbulos aglutinavam e formavam 
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422009000100044
26 
os coágulos, que dentro dos vasos sanguíneos leva a interrupção do fluxo e em 
outros testes esse fenômeno não ocorria. 
No ano de 1907 foi apresentado o primeiro método de diagnóstico da sífilis 
por Albert Neisser e Carl Bruck, doença sexualmente transmissível, já incorporada a 
população desde o Século XV. Três anos depois dessa descoberta, em 1910, o 
Sorologista Paul Ehrlich anuncia o sucesso no tratamento da sífilis de 27 pacientes 
com o medicamento chamado Salvarsan e que o consagrou com o Prêmio Nobel de 
Medicina. 
Esse século foi marcado também pelo surto de diversas doenças, dentre elas 
a Gripe que Espanhola, que matou cerca de 5% da população mundial no ano de 
1918. Era o fim da Primeira Guerra Mundial e dentre os diversos países envolvidos o 
único não envolvido efetivamente era a Espanha, e por isso noticiava com 
frequência a presença de uma gripe no seu território, fazendo acreditar então que 
havia surgido ali essa pandemia. Em função do momento vivido pelo mundo, da 
aglomeração de soldados assim como as viagens de navio cruzando o atlântico, 
esse vírus espalhou-se de forma muito rápida. Recentemente diversos surtos 
atingem apopulação no Brasil, porem diferente daquela época já existe vacina 
contra esse mal. 
Como forma de evitar que outras doenças que atingiam a população na época 
matassem mais pessoas, em 1921 foi desenvolvido uma vacina muito importante até 
hoje. A primeira foi a Bacilo Calmette-Guérin mais conhecida como BCG criada pelo 
Médico e Bacteriologista León Charles Albert Calmette e pelo Microbiólogo Marie 
Camille Guérin, que combate a tuberculose. Sete anos depois surgiu a primeira 
vacina contra a febre amarela, transmitida por um mosquito fêmea infectado e que 
causa sintomas como febre, dor de cabeça intensa, fraqueza, dores musculares e 
vomito. O desenvolvimento dessa imunização teve grande contribuição de cientistas 
brasileiros e somente em 1937 obteve-se uma vacina segura e eficaz. 
Seguindo a descoberta da penicilina, em 1935 descobriu-se a atividade 
antibacteriana das sulfonamidas pelo patologista alemão Gerhardt Domagk. Essa 
droga é amplamente utilizada em casos de Clamídia, Cancro Mole, infecções 
causadas por bactérias Gram Negativas como Escherichia coli, Meningococos e 
infecções por bactérias Gram positivas como Estafilococos e Estreptococos. 
27 
Em seguida outro fato importante a ser tratado é o estudo e descoberta 
acerca da psicofarmacologia, com principal foco nas alterações de humor, emoções 
e habilidades psicomotoras em seres humanos. Os primeiros antidepressivos, 
antipsicóticos e reguladores de humor foram desenvolvidos na década de 40, dentre 
eles o lítio, muito utilizado até hoje no tratamento dos episódios maníacos no 
transtorno bipolar. 
Por último, nessa primeira metade do Século 20, deve-se lembrar da primeira 
descoberta de um remédio contra o câncer, o gás de mostarda. Este foi usado 
primeiramente na Primeira Guerra Mundial como arma química e posteriormente na 
Segunda Guerra mundial e no intenso conflito Irã-Iraque. Foi num desses momentos 
que pesquisadores observaram que pessoas expostas moderadamente a mostarda 
de nitrogênio tinham uma diminuição de leucócitos do sistema linfático e da medula 
óssea. Então, em 1941 os farmacologistas Alfred Gilman e Louis Goodman 
demonstraram em animais que essa substância levava a diminuição de alguns 
linfomas. No ano seguinte juntamente com o médico Gustav Linskog aplicaram a 
primeira droga para tratar o câncer, chamada de Mecloretamina. 
 
 
3.7. Alexander Fleming e a descoberta da penicilina 
 
Alexandre Fleming era um oficial médico inglês que retornou da Primeira 
Guerra Mundial com o sonho de pesquisar uma forma de reduzir o sofrimento dos 
soldados que tinham suas feridas infectadas, o que na época era uma evolução 
rápida para a morte. Como Fleming havia trabalhado como médico em hospitais 
militares durante a Primeira Guerra Mundial ele teve acesso ao sofrimento vivido 
pelos soldados e devido a sua experiência sabia que era urgente a necessidade de 
um medicamento que combatesse a infecção. 
Nessa época já se sabia da relação entre microrganismos e as doenças, já 
que Pasteur e Robert Koch estabeleceram as bases para a bacteriologia moderna. 
Com isso em sua mente, Fleming retornou ao hospital St. Mary´s em Londres no ano 
de 1928 e deu início ao seu projeto, ele se dedicou a estudar a bactéria 
Staphylococcus aureus que era encontrada em abscessos localizados em feridas 
provocadas por armas de fogo. Alexander Fleming conseguiu estudar essa e outras 
28 
bactérias através de culturas de bactérias, que se trata de uma placa cheia de 
nutrientes, em condições ideais para que as bactérias possam crescerem e se 
multiplicarem. 
Após estudar intensamente sem obter resultados satisfatórios, Fleming 
decidiu tirar férias por estar extremamente exausto. Ao sair para suas merecidas 
férias Fleming deixou em seu laboratório as culturas com as bactérias sem nenhuma 
supervisão, quando o médico retornou de suas férias semanas depois percebeu que 
havia deixado um dos vidros com a cultura aberto e exposta a atmosfera. Essa 
cultura que foi exposta por muito tempo acabou adquirindo mofo o que é bem 
comum ao se deixar algo úmido sem supervisão. 
Quando Fleming estava prestes a se livrar do material contaminado pelo 
mofo, seu antigo assistente o questionou sobre como andava o projeto, o médico 
então pegou o material contaminado para mostrar ao assistente. Com isso Fleming 
percebeu que na região onde estava localizado o mofo não apresentava atividade 
das bactérias, já que havia uma área transparente ao redor desse mofo. Assim o 
pesquisador concluiu que o fungo causador do mofo liberava alguma substância que 
de alguma forma afetava a bactéria. 
Fleming percebeu que esse fungo era o Penicillium notatum e por isso 
nomeou a substância de penicilina. Com o avanço das pesquisas, foi descoberto 
que a penicilina não era tóxica para o organismo humano e que ela também atuava 
contra outras bactérias além da Staphylococcus aureus. Infelizmente era difícil 
produzir penicilina para ser usada em tratamentos na população doente, e com isso 
a pesquisa não despertou interesse na comunidade cientifica. 
Com o aparecimento da Segunda Guerra Mundial e a necessidade de curar 
os feridos, no ano de 1939, os cientistas Howard Florey e Ernst Chain continuaram 
estudando sobre o mofo. Eles conseguiram extrair um pó marrom que foi testado em 
80 tipos de bactérias o que comprovou a eficácia da penicilina e conseguiram 
produzi-la em larga escala para fins farmacológicos. E com isso começou a nova era 
da medicina. 
3.8. EVOLUÇÃO DA MEDICINA: OS EXPERIMENTOS MÉDICOS NAZISTAS 
29 
Durante a Segunda Guerra Mundial, vários médicos alemães realizaram 
experiências dolorosas e muitas vezes mortais em milhares de prisioneiros sem sua 
permissão. Considerando as condições desumanas, a falta de consentimento e os 
questionáveis padrões de pesquisa, os cientistas modernos rejeitam 
predominantemente o uso de resultados de experimentos nos campos 
 
 
Imagem 4: Áreas em que ocorreram os experimentos nazistas.Disponível 
em:https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs.Acesso, 2019. 
 
As experiências se concentraram em três tópicos: sobrevivência pessoal militar, 
testes de drogas e tratamentos e o avanço das ideologias nazistas. 
De 1933 a 1945, a Alemanha nazista realizou uma campanha para "limpar" a 
sociedade alemã de indivíduos vistos como ameaças biológicas à "saúde" do país. 
Os nazistas recrutaram a ajuda de médicos e geneticistas, psiquiatras e 
antropólogos treinados em medicina para desenvolver políticas de saúde racial. 
Essas políticas começaram com a esterilização em massa no glossário de muitas 
pessoas em hospitais e outras instituições e terminaram com a quase aniquilação 
dos judeus europeus. 
Após a guerra, apenas alguns dos especialistas biomédicos que ajudaram a 
implementar e legitimar as políticas de higiene racial nazistas foram indiciados ou 
disciplinados profissionalmente. Muitos continuaram suas carreiras. 
http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs.Acesso
http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs.Acesso
30 
Os experimentos em humanos incluíram experimentos de "alta altitude", nos 
quais os presos de campos de concentração eram forçados, sem oxigênio, a 
câmaras de grandes altitudes que duplicavam as condições de até 68.000 pés; 
remoção de seções de ossos, músculos e nervos, incluindo pernas inteiras 
removidas nos quadris para transplantar para outras vítimas; ferimentos artificiais e 
exposição ao gás mostarda; ferimento de dois membros e tratamento de um, mas 
não do outro, com antibióticos sulfanamida; injeção intramuscular com tifo fresco; e 
coleção de esqueletos de 112 presos judeus vivos que foram mortos e destruídos. 
 
 
Imagem 5:Vítima de uma das experiências nazistas- teste de resistência a temperaturas 
baixas e congelamento.Disponível em:https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical- 
experimentsphotographs.Acesso,2019. 
 
Muitas experiências nos campos visavam facilitar a sobrevivência pessoal 
militar do Eixo no campo. Por exemplo, em Dachau, médicos da força aérea alemã e 
da Instituição Experimental Alemã de Aviação realizaram experimentos em grandes 
altitudes com prisioneiros para determinar a altitude máxima a partir da qual as 
equipes de aeronaves danificadas poderiam saltar de paraquedas em segurança. Os 
cientistas também realizaram os chamados experimentos de congelamento em 
prisioneiros para encontrar um tratamento eficaz para a hipotermia. Os prisioneiros 
também foram usados para testar vários métodos de tornar a água do mar potável. 
http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-
31 
 
 
Imagem 6: Vítima de uma das experiências relacionadas a testes de resistência a altitude.Disponível 
em:https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso, 2019. 
 
Outras experiências tiveram como objetivo desenvolver e testar 
medicamentos e métodos de tratamento para ferimentos e doenças que os militares 
e ocupações alemães encontraram no campo. Nos campos de concentração 
alemães de Sachsenhausen, Dachau, Natzweiler, Buchenwald e Neuengamme, os 
cientistas usaram os presos do campo para testar compostos de imunização e 
anticorpos para a prevenção e tratamento de doenças contagiosas, incluindo 
malária, tifo, tuberculose, febre tifóide, febre amarela e hepatite infecciosa. Os 
médicos de Ravensbrück realizaram experimentos com enxerto ósseo e testaram os 
medicamentos sulfa (sulfanilamida) recentemente desenvolvidos. Em Natzweiler e 
Sachsenhausen, os prisioneiros foram expostos ao fosgênio e ao gás mostarda para 
testar possíveis antídotos. 
Uma terceira categoria de experimentação médica procurou promover os 
princípios raciais e ideológicos da visão de mundo nazista. As mais infames foram 
as experiências de Josef Mengele em gêmeos de todas as idades em Auschwitz. Ele 
também dirigiu experimentos em Roma (ciganos), assim como Werner Fischer em 
Sachsenhausen, para determinar como diferentes "raças" resistiram a várias 
doenças contagiosas. A pesquisa de August Hirt, na Universidade de Estrasburgo, 
também pretendia estabelecer "inferioridade racial judaica". Experimentos terríveis 
adicionais destinados a promover objetivos raciais nazistas incluíram uma série de 
http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso
http://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso
32 
esterilizações, realizados principalmente em Auschwitz e Ravensbrück. Os cientistas 
testaram vários métodos, em um esforço para desenvolver um procedimento 
eficiente e barato para a esterilização em massa. 
 
 
Imagem 7: Crianças Judias vítimas dos experimentos nazistas.Disponível em: 
https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso, 2019. 
 
O Código de Nuremberg 
 
 
O Código de Nuremberg foi criado após a descoberta das experiências no 
campo e dos ensaios subsequentes para tratar dos abusos cometidos por 
profissionais médicos durante o Holocausto. O Código de Nuremberg incluía o 
princípio do consentimento informado e os padrões exigidos para a pesquisa. 
Em 9 de dezembro de 1946, um tribunal militar americano abriu processo 
criminal contra 23 médicos e administradores alemães líderes por sua participação 
voluntária em crimes de guerra e crimes contra a humanidade. Este caso é 
conhecido como "Doctors Trial" (EUA v. Karl Brandt et al.). Em 19 de agosto de 
1947, os juízes do tribunal proferiram seu veredicto. Mas antes de anunciar a culpa 
ou inocência de cada acusado, eles enfrentaram a difícil questão da experimentação 
médica em seres humanos. 
https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experimentsphotographs.Acesso
33 
Vários médicos alemães argumentaram em sua própria defesa que seus 
experimentos diferiam pouco daqueles realizados antes da guerra por cientistas 
alemães e americanos. Além disso, mostraram que nenhuma lei internacional ou 
declaração informal diferenciava entre experimentação humana legal e ilegal. Esse 
argumento foi uma grande preocupação para dois médicos norte-americanos que 
haviam trabalhado com a promotoria durante o julgamento, o Dr. Andrew Ivy e o Dr. 
Leo Alexander. 
Como resultado, em 17 de abril de 1947, o Dr. Alexander enviou um 
memorando ao Conselho dos Estados Unidos para Crimes de Guerra. O 
memorando descrevia seis pontos que definiam pesquisas médicas legítimas. O 
veredicto do julgamento de 19 de agosto reiterou quase todos esses pontos em uma 
seção intitulada "Experimentos médicos permitidos". Ele também revisou os seis 
pontos originais em dez, e esses dez pontos ficaram conhecidos como "Código de 
Nuremberg". 
No meio século após o julgamento, o código informou inúmeras declarações 
internacionais de ética. Sua força legal, no entanto, não estava bem estabelecida. 
No entanto, continua sendo um documento de referência sobre ética médica e um 
dos produtos mais duradouros do "Doctors Trial". 
Experimentos médicos permitidos 
 
 
A partir da transcrição do estudo: 
O grande peso das evidências diante de nós é que certos tipos de 
experimentos médicos em seres humanos, quando mantidos dentro de limites 
razoavelmente bem definidos, estão em conformidade com a ética da profissão 
médica em geral. Os protagonistas da prática da experimentação humana justificam 
suas visões com base no fato de que essas experiências produzem resultados para 
o bem da sociedade que são improcuráveis por outros métodos ou meios de estudo. 
Todos concordam, no entanto, que certos princípios básicos devem ser observados 
para satisfazer os conceitos morais, éticos e legais: 
1. O consentimento voluntário do sujeito humano é absolutamente 
essencial. 
Isso significa que a pessoa envolvida deve ter capacidade legal para dar 
consentimento; deve estar em posição de poder exercer livre poder de escolha, sem 
34 
a intervenção de qualquer elemento de força, fraude, engano, coação, alcance ou 
outra forma oculta de restrição ou coerção; e deve ter conhecimento e compreensão 
suficientes dos elementos do assunto envolvido, a fim de permitir que ele tome uma 
decisão esclarecida e compreensiva. Este último elemento requer que, antes da 
aceitação de uma decisão afirmativa pelo sujeito experimental, seja-lhe conhecido a 
natureza, a duração e o objetivo do experimento; o método e os meios pelos quais 
ele deve ser conduzido; todos os inconvenientes e riscos razoavelmente esperados; 
e os efeitos sobre sua saúde ou pessoa que possam advir de sua participação no 
experimento. 
O dever e a responsabilidade de determinar a qualidade do consentimento 
recaem sobre cada indivíduo que inicia, dirige ou se envolve no experimento. É um 
dever e responsabilidade pessoal que não pode ser delegado a outro com 
impunidade. 
2. O experimento deve fornecer resultados frutíferos para o bem da 
sociedade, improcuráveis por outros métodos ou meios de estudo, e não de 
natureza aleatória e desnecessária. 
3. O experimento deve ser concebido e baseado nos resultados da 
experimentação animal e no conhecimento da história natural da doença ou outro 
problema em estudo que os resultados previstos justifiquem o desempenho do 
experimento. 
4. O experimento deve ser conduzido de forma a evitar todo sofrimento e 
lesão física e mental desnecessários. 
5. Nenhuma experiência deve ser conduzida onde exista uma razão a priori 
para acreditar que a morte ou lesão incapacitante ocorrerá; exceto, talvez, naquelas 
experiências em que os médicos experimentais também servem como sujeitos. 
6. O grau de risco a ser assumido nunca deve exceder o determinado pela 
importância humanitária do problema a ser resolvido pelo experimento. 
Devem ser feitos os devidos preparativos e providas instalações adequadas para 
proteger o sujeito experimental contra possibilidades remotas de lesão, incapacidadeou morte. 
8. O experimento deve ser conduzido apenas por pessoas cientificamente 
qualificadas. O mais alto grau de habilidade e cuidado deve ser exigido em todas as 
etapas do experimento daqueles que conduzem ou se envolvem no experimento. 
35 
9. Durante o curso do experimento, o sujeito humano deve ter a liberdade de 
encerrar o experimento se tiver atingido o estado físico ou mental em que a 
continuação do experimento lhe parece impossível. 
10. Durante o curso do experimento, o cientista encarregado deve estar 
preparado para encerrar o experimento em qualquer estágio, se provavelmente tiver 
motivos para acreditar, no exercício da boa fé, habilidade superior e julgamento 
cuidadoso exigidos a ele de que uma continuação do experimento provavelmente 
resultará em ferimento, incapacidade ou morte do sujeito experimental. 
 
POLÊMICA: AS MACABRAS PESQUISAS NAZISTAS CONTRIBUÍRAM PARA A 
CIÊNCIA? 
Não muito. No que pode ser a ironia mais cruel do reinado nazista, os 
cientistas com maior probabilidade de experimentar seres humanos relutantes 
tendem a ser os mais descuidados. Muitos deles ingressaram na SS porque não 
conseguiram encontrar um trabalho respeitável em outro lugar. Como resultado, os 
experimentos foram projetados com desleixo e pouca organização; as variáveis 
raramente eram isoladas, as idéias malucas eram testadas enquanto a pesquisa 
mais prática começava a implantar, e as anotações de muitos médicos foram 
consideradas sem sentido. 
Algumas coisas vieram dos experimentos, no entanto, embora – por razões 
óbvias – os cientistas modernos não possam verificar os resultados com 
experimentos próprios. 
A pesquisa direcionada sobre hipotermia e ambientes de baixa pressão pode 
ter sido a pesquisa mais produtiva realizada durante o crepúsculo da era nazista. As 
experiências de congelamento de Rascher têm dados geralmente confiáveis que 
não podem ser obtidos hoje. Nenhum sujeito de teste moderno disposto se 
voluntariaria para ter seus tímpanos rompidos por baixa pressão; portanto, os 
resultados dos testes de Dachau ainda são infelizmente o padrão ouro para prever 
resultados de exposição em grandes altitudes. 
Tanto quanto se sabe, nenhum dos procedimentos nazistas de transplante de 
órgãos ou tecidos foi bem-sucedido. Quando coração, fígado, e técnicas de 
transplante de rim foram eventualmente desenvolvidas, foram realizadas com 
consentimento informado e dentro de rígidas diretrizes éticas. 
36 
A pesquisa médica nos campos era, como tudo no império nazista, caótica e 
desorganizada. Grande parte disso não deu em nada porque foi construída com 
ideias errôneas sobre raça, e algumas delas eram indistinguíveis de tortura sem 
sentido. 
As poucas experiências que resultaram em resultados ainda são 
problemáticas até hoje. Alguns dos artigos que utilizam dados de Dachau foram 
rejeitados para publicação porque simplesmente não há uma maneira humana de 
duplicar o experimento. 
A sociedade lutará com as implicações de experimentos "úteis" realizados nas 
vítimas dos nazistas por gerações. Por fim, com a alternativa de, de alguma forma, 
apoiá-los, é possível que muito do que os médicos nazistas fizeram foi, médica e 
cientificamente falando, uma completa perda de tempo. 
 
Imagem 8: Gêmeos explorados durante os experimentos médicos nazistas.Disponível em 
https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs Acesso, 2019. 
 
Imagem 9: Órgãos humanos removidos de prisioneiros dos campos de concentração.Disponível em: 
https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs. Acesso, 2019. 
https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs
https://www.jewishvirtuallibrary.org/nazi-medical-experiments-photographs
37 
3.9. Medicina na segunda metade do Século XX 
Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, cinco anos depois, têm-se 
início da segunda metade do século XX. Com isso, a medicina da primeira metade 
do século XX teve como último grande marco os experimentos médicos nazistas 
durante a II Grande Guerra. Em seguida, foram aparecendo novos avanços da 
medicina, como por exemplo o transplante de fígado, transplante de coração e 
cirurgias vídeo assistidas. 
A princípio, vale ressaltar que o transplante de fígado é o procedimento 
mais complexo da cirurgia moderna, pois, nenhum outro interfere com tantas 
funções do organismo. Com isso, a primeira tentativa de transplantes de fígado em 
humanos ocorreu no ano de 1963 nos Estados Unidos (EUA), em Denver, Colorado. 
Entretanto, essa primeira tentativa, feita em uma criança de três anos de idade, pelo 
médico Thomas Starzl, não aconteceu com total sucesso, pois o paciente acabou 
falecendo no intra-operatório por sangramento. Após alguns meses, esse mesmo 
autor tentou fazer mais dois transplantes de fígado, o que novamente acabou com a 
morte dos pacientes em menos de um mês após a cirurgia. 
Após inúmeras tentativas por diversos médicos, Thomas Starzl operou, 
em 1967, uma menina de 2 anos de idade chamada Júlia Rodriguez. Nessa tentativa 
de transplante, a garota chegou a sobreviver 13 meses após a cirurgia devido a 
doença inicial, o que foi compreendido por Starzl e, logo em seguida pela população, 
como um avanço, pois o cirurgião apresentou a imprensa do país os primeiros 4 
sobreviventes do transplante. 
Ademais, o ano de 1967 é histórico no desenvolvimento de transplantes. Com 
o primeiro transplante de coração, as tentativas de transplantes de fígado 
começaram a expandir por todo mundo até o ano de 1972. Já no ano de 1978, 
aconteceu um outro grande fato importante para desenvolvimento dos programas de 
transplantes que foi o aparecimento a ciclosporina, uma nova droga 
imunossupressora. Com a correta dosagem dessa droga, ela passa a ter resultados 
satisfatórios para o transplante hepático. 
Por conseguinte, em 1983 houve um avanço na medicina, especialmente 
nessa área do transplante hepático. Houve uma reunião do Ministério da Saúde dos 
Estados Unidos sobre aspectos controversos dessa cirurgia. A partir disso, foram 
estabelecidos diversos consensos sobre o transplante, e, pode ser compreendido 
38 
como o principal desses consensos, o posicionamento de que o transplante de 
fígado não era mais um procedimento experimental, mas sim um procedimento 
terapêutico. 
Além disso, o transplante cardíaco, como já falado no quarto parágrafo, 
obteve progresso na área de transplante, pois em 1967 o cirurgião cardiovascular 
Dr. Christiaan Neethling Barnard realiza o primeiro transplante em humanos com 
sucesso. Anterior a isso, o primeiro transplante de coração realizado em humanos 
sem sucesso foi em 1964, com tentativa de transplantar um coração de chimpanzé 
para um humano. Apesar do coração ter pulsado, como o coração do animal era de 
menor tamanho do que o do humano, o paciente faleceu. 
Ainda, para o sucesso desse transplante realizado em 1967, houve antes 
algumas conquistas que o facilitaram. Em 1951, primeiramente, na Chicago Medical 
School, Marcus e sua equipe começaram a se concentrar em técnicas para 
preservação de órgãos a serem transplantados. Em 1958, Golberg e sua equipe 
preservaram pela primeira vez uma “meia lua” (“cuff”) na parede posterior do átrio 
esquerdo, o que elimina a anastomose individualizada nas veias pulmonares. 
Posteriormente, em 1959/1960, foi preservado o “cuff” bi-atrial, desenvolvido por 
Lower e Shumway. Dessa forma, essa técnica possibilitou então o primeiro 
transplante cardíaco em humanos, pois foi utilizada por Barnard em 1967. 
Outro grande progresso na medicina no final do século XX, foram os avanços 
da cirurgia vídeo assistida, principalmente da região do tórax. A ressecção pulmonar 
por vídeo, incluindo as lobectomias ou pneumonectomias, vem sendo praticada 
desde a década de 90. Nesse viés, esses avanços tecnológicos do final do século 
XX favoreceram para que surgisse, posteriormente,a cirurgia robótica a partir de 
braços mecânicos e imagens de vídeo melhores. 
Logo, é possível ver que a segunda metade do século XX teve conquistas nas 
áreas da medicina que tem influência até os dias atuais. Desse modo, é perceptível 
o avanço dos transplantes nessa época. Nesse contexto, os transplantes de fígado e 
coração foram grandes marcos para essa área da medicina, pois abriu espaço para 
outros tipos de transplantes ou técnicas que os facilitariam. Ainda, o final do século 
XX foi marcado por avanços tecnológicos (já percebidos desde a primeira metade 
desse século, com a Segunda Guerra Mundial) que propiciaram o início de cirurgias 
39 
vídeo assistidas, as quais foram essenciais para o surgimento das cirurgias 
robóticas no século posterior. 
 
3.10. O Início das políticas de saúde pública no brasil 
 
 
No Brasil da passagem do século XIX para o XX, a preocupação com a 
saúde, na verdade, não se traduzia necessariamente pela questão do direito social 
ou da dignidade humana, mas estava ligada aos interesses econômicos das elites 
em manter o trabalhador sadio para manutenção da produção, principalmente 
naquele contexto agrário. 
O ideário republicano estava envolto por valores positivistas de ordem e 
progresso, como se vê na própria bandeira nacional, e dessa forma, a valorização da 
ciência e de uma visão de mundo europeia pautada na marca da modernidade 
invadiam o país, ainda que de forma contraditória a uma realidade ainda marcada 
pelo regime agrário exportador, pelo patriarcalismo, pela tradição de um passado 
escravocrata. Se é fato que ao final do século XIX iniciou-se, ainda que de forma 
incipiente, um processo de urbanização e modernização das cidades. Neste sentido, 
o antigo e o moderno buscavam conviver na formação de um novo Brasil, agora 
republicano. Instaurava-se uma preocupação com a profilaxia rural e urbana. As 
medidas de reforma urbana e higienização da cidade do Rio de Janeiro, assim como 
as campanhas para a vacinação da população, marcaram este período. No entanto, 
o caráter austero das medidas governamentais teve como consequência eventos 
como a Revolta da Vacina, ocorrida em 1904. 
Estava declarada a luta contra a peste bubônica, a febre amarela, a 
tuberculose e a varíola. A despeito disso, vale apontar como legado da República 
Velha a criação da Diretoria Geral de Saúde Pública (DGSP; 1897), as Reformas 
das competências da DGSP (Oswaldo Cruz; 1907) e as Caixas de Aposentadoria e 
Pensão (Lei Eloy Chaves; 1923), o que significou uma incipiente assistência à saúde 
pela previdência social. A sociedade ainda era rural, mas iniciava-se um período de 
transformações sociais que seria acelerado na primeira metade do século XX. 
Passado o período da República Velha, chegamos à Era Vargas com a 
inauguração de outra visão de Estado, assim como com outra configuração social
40 
que se iniciava nos centros urbanos do país. A partir da década de 1930, o Brasil 
começou um processo de industrialização e modernização do Estado, tentando se 
reposicionar na economia mundial após a crise de 1929. 
Assim, na Era Vargas ocorreram os seguintes fatos: a Saúde pública foi 
institucionalizada pelo Ministério da Educação e Saúde Pública; a Previdência social 
e saúde ocupacional institucionalizada pelo Ministério do Trabalho, Indústria e 
Comércio; criou-se os Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAP) que estendem a 
previdência social à maior parte dos trabalhadores urbanos (1933-38). 
No entanto, embora esses avanços tenham sido importantíssimos do ponto de 
vista da proteção social e da saúde pública, foi apenas em 1953 que ocorreu a 
criação do Ministério da Saúde. Daí até a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), 
a população brasileira esperou mais 35 anos. 
A constituinte de 1988 diz que “A saúde é direito de todos e dever do estado, 
garantindo mediante políticas sociais e econômicas que visem a redução do risco de 
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços 
para sua promoção, proteção e recuperação”. A concepção do SUS estava baseado 
na formulação de um modelo de saúde voltado para as necessidades da população, 
procurando resgatar o compromisso do estado para com o bem-estar social, 
especialmente no que refere a saúde coletiva, consolidando-o como um dos direitos 
da CIDADANIA. Esta visão refletia o momento político porque passava a sociedade 
brasileira, recém-saída de uma ditadura militar onde a cidadania nunca foi um 
princípio de governo. Embalada pelo movimento das diretas já, a sociedade 
procurava garantir na nova constituição os direitos e os valores da democracia e da 
cidadania. Apesar do SUS ter sido definido pela Constituição de 1988, ele somente 
foi regulamentado em 19 de setembro de 1990 através da Lei 8.080. Esta lei define o 
modelo operacional do SUS, propondo a sua forma de organização e de 
funcionamento. Primeiramente a saúde passa a ser definida de uma forma mais 
abrangente: “A saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre 
outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o 
trabalho, a renda, a educação, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços 
essenciais: os níveis de saúde da população expressam a organização social e 
econômica do país”. O SUS é concebido como o conjunto de ações e serviços de
41 
saúde, prestados por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e municipais, 
da administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder Público. A 
iniciativa privada poderá participar do SUS em caráter complementar. Foram 
definidos como princípios doutrinários do SUS: UNIVERSALIDADE - o acesso às 
ações e serviços deve ser garantido a todas as pessoas, independentemente de 
sexo, raça, renda, ocupação, ou outras características sociais ou pessoais; 
EQUIDADE - é um princípio de justiça social que garante a igualdade da assistência à 
saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie .A rede de serviços deve 
estar atenta às necessidades reais da população a ser atendida; INTEGRALIDADE - 
significa considerar a pessoa como um todo, devendo as ações de saúde procurar 
atender à todas as suas necessidades. 
3.11. A medicina atual 
 
É notório os avanços da informática no século XXI e na medicina a situação 
não é diferente, nota-se que nesse enorme e diversificado contingente, os 
pesquisadores, com as vantagens dos progressos tecnológicos em automação, 
nanotecnologia, e comunicação obtém dados para consolidar os progressos atuais e 
fazer avançar as fronteiras do conhecimento muito além do que podemos imaginar. 
Dentro das pesquisas de ponta que se fazem atualmente, aborda-se quatro áreas 
que poderão suscitar fantásticos progressos médicos durante o século XXI. 
O primeiro diz respeito ao que se convencionou chamar de Neurociência, com 
as investigações modernas sobre o sistema nervoso, que com sua alta 
complexidade fazia parte do reduto menos acessível da investigação médica. No 
entanto, esse século está sendo investigado com novas forças. O mecanismo da 
memória está sendo escrutinado com técnicas experimentais, balizadas em dados 
fisiológicos e bioquímicos. Vários processos patológicos na esfera psiquiátrica estão 
sendo explorados nos seus aspectos morfológicos, bioquímicos e moleculares. A 
neuro-farmacologia, que já apresenta resultados surpreendentes no tratamento da 
depressão, da esquizofrenia e da reinervação é hoje um setor em franco 
desenvolvimento. Assim, a humanidade ficará sabendo mais sobre a fisiologia dos 
neurônios, sobre as suas sínteses de proteínas estruturais e armazenadoras de 
dados, de enzimas, de hormônios e de polipeptídios neurotransmissores, sobre seus 
fios condutores para os órgãos periféricos, suas estações intermediárias
42 
representadas pelo sistema nervoso autônomo, suas sinapses e receptores. Estes 
conhecimentos possibilitarão um salto de qualidade

Continue navegando