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prescrição cLÍNicA Do eXercÍcio: A E V O L U Ç Ã O D A Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Index Consultoria em Informação e Serviços Ltda. Curitiba - PR Purvis, Thomas Clark A evolução da prescrição clínica do exercício : a identidade da fisioterapia / Thomas Clark Purvis, Mariane Franceschi Malucelli.— Curitiba : Edição do Autor, 2017. 264 p. : il. ISBN 978-85-923695-0-7 1.Fisioterapia. 2. Exercícios físicos. 3. Exercícios terapeuticos. I. Malucelli, Mariane Franceschi. II. Título. CDD (20.ed.) 615.82 CDU (2.ed.) 615.8 P986 IMPRESSO NO BRASIL/PRINTED IN BRAZIL Ilustrações: Márcio Batista Projeto Gráfico e Diagramação: du.ppg.br Revisão de Texto: Melissa F. Zanardo Andreata, Hellen Guareschi e Anelise de Macedo Franceschi Esta obra está registrada na Biblioteca Nacional dos Direitos Autorais sob o número de registro: 816/17 THOMAS CLARK PURVIS MARIANE FRANCESCHI MALUCELLI 1ª E D I Ç Ã O CURITIBA Mariane de Macedo Franceschi Malucelli 2017 prescrição cLÍNicA Do eXercÍcio: A E V O L U Ç Ã O D A O cabo de guerra interno 56 Força 60 Movimento articular 66 Mecânica articular: Movimento e força 74 Descrevendo posições e movimentos articulares: Orientação do corpo 90 Mecânica articular: “Controle articular” influências passivas 100 Mecânica articular: Controle articular ativo 108 Mecânica muscular: A força interna do cabo de guerra 110 Mecânica muscular: Habilidade muscular 126 O perfil da potência/esforço 140 Mecânica da resistência: Perfil da resistência 146 Mecânica da resistência: Direção 154 Magnitude: Explorando as propriedades da resistência 162 Mecânica da resistência: Posicionamento da carga 170 Mecânica da resistência: Centro de massa 174 Bibliografia 177 MECâNICA DO ExERCíCIO AGRADECIMENTOS PREFÁCIO 08 12 INTRODUÇÃO A Fisioterapia e a prescrição do exercício 14 Perspectivas sobre a evolução da ciência 26 O profissional do exercício 34 O que é exercício? 42 Bibliografia 53 í N D I C E O cabo de guerra interno 56 Força 60 Movimento articular 66 Mecânica articular: Movimento e força 74 Descrevendo posições e movimentos articulares: Orientação do corpo 90 Mecânica articular: “Controle articular” influências passivas 100 Mecânica articular: Controle articular ativo 108 Mecânica muscular: A força interna do cabo de guerra 110 Mecânica muscular: Habilidade muscular 126 O perfil da potência/esforço 140 Mecânica da resistência: Perfil da resistência 146 Mecânica da resistência: Direção 154 Magnitude: Explorando as propriedades da resistência 162 Mecânica da resistência: Posicionamento da carga 170 Mecânica da resistência: Centro de massa 174 Bibliografia 177 CONTINUUM DO ExERCíCIO O que é função 184 O Continuum Funcional 192 O mundo do exercício e a performance externa 200 Performance interna 216 Exercício baseado no cliente-paciente 224 Resposta e adaptação 228 Continuum do exercício e O.D.E. [objetivo do exercício] 234 A orquestração 252 Bibliografia 263 Dedico este livro aos meus filhos, Chloe Grace e Benjamin Joseph, que, mesmo tão novos, pre-cisaram passar longos períodos sem minha presença e suportaram minha ausência com força e carinho, apoiando-me durante todo o percurso. Peço a Deus que coloque a presença Dele em dobro no co- raçãozinho de ambos para compensar todo o tempo em que estivemos separados. Vocês são a minha maior alegria, sempre. Ao meu marido, Marcos, que infalivel- mente assumiu o papel de pai e mãe durante o tempo dedicado para escrever este livro. Eu não teria conse- guido sem seu total apoio e ajuda. Você sempre me in- centivou a olhar mais alto e a alçar voo em terras ainda não exploradas. Sua perseverança e força me inspiram sempre. Agradeço meu pai e à Raquel por nunca medi- rem esforços para prover o que existe de melhor para nossa família. À minha mãe e ao Geraldo (in memo- rian) pela coragem de sempre se levantarem e luta- rem, independentemente do tamanho da queda, com a certeza de que a vitória está em Deus. Ao José Luiz, meu irmão, e à Danielle, que acre- ditaram e me incentivaram a continuar a jornada quando estava prestes a desistir e me apoiaram sem limites em um momento tão crucial para este projeto. À Anelise, minha irmã e amiga, que sempre me MARIANE FRANCESCHI MALUCELLI ajudou a tornar minhas visões e sonhos em realida- des, muitas vezes sacrificando seu tempo e seus so- nhos para ajudar a atingir os meus. Você é uma das pessoas mais lindas e fiéis que eu conheço. A toda a minha família no Brasil, meus avós e minha sogra e todos os meus irmãos e cunhadas – fui muito abençoada por nascer em uma família que sempre, desde jovem, me apoiou e me ajudou muito a crescer. Todos vocês representam muito para mim. Agradeço ao próprio Tom Purvis, que viu em mim um potencial que nem eu mesma enxergava e confiou em mim todos estes anos para levar para o Brasil a ciência que exigiu tanto sacrifício em sua vida para estudá-la e desenvolvê-la. Ele nunca mediu es- forços para disseminar essa semente e transformar o mundo do exercício, jamais olhando para si mesmo, mas sempre buscando uma maneira de ajudar profis- sionais a enxergarem o que é invisível na prescrição do exercício: a força. E também à Jeniffer Purvis e suas filhas, Jenna e Katie, por junto com o Tom terem pago um alto preço durante esta jornada. Agradeço ao dr. Roberto Cepeda, presidente do COFFITO, que enxergou a necessidade de trazer um conhecimento de vanguarda para ajudar o fisioterapeu- ta do Brasil a alcançar um nível profissional ainda mais alto e trazer mais dignidade e valorização profissional. Agradeço também a todos aqueles que foram meus professores neste caminho, aprendi muito com cada um de vocês. A todos que fazem parte e já fizeram parte do crescimento do RTS no Brasil. À Silvia e Emílio Cor- nelsen e a toda equipe da Academia Swimex, por sem- pre estarem ao meu lado me apoiando, me escutando e cedendo seu tempo e seu espaço maravilhoso. À Viviane Stonoga e à Renata Petri, por tantas horas de trabalho e empenho. À minha família na fé, Pastor Mahesh Chavda e Bonnie Chavda, Heather Harris, Angela e Seiy Olurotini, Valerie e John Griffin, Todd e Lilly Moser, Rob e Erica Robinson, Joezer e Stefanie Cezak (o caminho reto, estreito, longo e pro- vavelmente o mais difícil é o certo), Ana Paula Nascimento, por serem sempre um alicerce na força da oração. Agradeço principalmente a Deus, porque sem Ele nada seria possível. Por Ele ter aberto os olhos do meu entendimento para que eu enxergasse a ver- dade, inclusive a verdade sobre os exercícios e me capacitar para estar aqui hoje disseminando este co- nhecimento. Deus é muito bom, sempre! “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará!” (João 8:32) A G R A D E C I M E N T O S Primeiramente, quero agradecer ao meu pai, um engenheiro que me apresentou ao mundo do exercício com o objetivo de saúde e qualidade de vida (separado dos esportes) quando eu tinha 8 anos de idade e cultivou minha natureza já voltada à mecânica desde aquele tempo. Ele me ensinou a aplicar a mecâ- nica e a descobrir onde cada fator pode ser considerado influenciador. Me ensinou a ser um pensador e alguém que toma decisões e não um seguidor. E também me en- sinou que se algo é muito popular, provavelmente está incompleto, errado ou foi supersimplificado. Às minhas filhas maravilhosas, ambas “gênias”, cada uma a sua própria maneira. Elas me ensinaram mais do que podem imaginar, e tenho certeza de que mais do que eu sou capaz de ensiná-las. E à mãe delas, que continua sendo família e sempreno mesmo time. Aos inúmeros professores incríveis, habilidosos e inspiradores que eu tive durante minha formação, os quais eram apaixonados pelo conteúdo e por ensinar. Aos outros não tão incríveis, hábeis ou inspiradores, que não se interessavam pelo conteúdo nem por ensi- nar e que me ensinaram como não ser. THOMAS CLARK PURVIS Aos meus alunos do Master, os quais continua- damente me inspiraram a melhorar aquilo que ofere- ço e como eu ofereço – se minhas tentativas de mu- dança foram apreciadas ou não é um outro assunto. A todos aqueles que copiaram meu trabalho, minhas palavras e meus métodos de ensino e apre- sentaram como originais, sem referência ou agra- decimento. Vocês sempre me desafiaram a crescer e me elevar a níveis ainda mais altos e muito acima da mesquinhez e mesmo assim me manter no caminho da integridade e da maestria, caminho este do qual vocês derivaram. Aos meus instrutores, aos muitos indivíduos que vieram e foram ao longo das décadas, àqueles que fo- ram suficientemente corajosos e tolerantes o suficien- te para me ajudar na partilha destas ideias em todo o mundo. Escolhidos por sua compreensão das in- formações, a sua capacidade para demonstrar como aplicá-las, sua excepcional habilidade de se comu- nicar de maneira simples e, sobretudo, a sua paixão pelo ensino, cada um deles é capaz de ensinar temas complicados de uma maneira simples e divertida. Eles são uma espécie rara no mundo da educação e do exercício. Tive a honra de ter conhecido cada um de vocês, e me sinto ainda mais honrado por vocês terem sentido que esta informação foi digna do au- tossacrifício necessário para compartilhá-la com um mundo enraizado em chavões sobre exercício e os mitos da “ciência” de academia. E, para aqueles que continuam a aceitar o desafio desta jornada, vocês são tão loucos como eu. Muito obrigado! À Mariane, sem a qual este projeto não teria existido nem chegado a esta fase de conclusão dentro da sua contínua evolução. Sua integridade, persistên- cia, sensibilidade, honestidade, humildade, coragem e fé foram inspiradoras e muitas vezes um “pontapé na bunda” necessário. Àquele que chamamos de Deus. Porque não fui eu quem escolheu este caminho, nem esta aptidão para esse conhecimento, nem o desejo de explorar, nem a paixão, nem a coragem (ou ignorância) para confrontar a tradição e para contar para todos aque- les que se dispuseram a ouvir. Este Deus entregou tudo para mim. A G R A D E C I M E N T O S É com satisfação que, na qualidade de diretor--presidente do Conselho Federal de Fisiotera-pia e Terapia Ocupacional, apoio a edição des- ta obra de conhecimento técnico-científico, intitulada A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício. A obra está organizada em capítulos, nos quais você terá a oportunidade de ler sobre os diversos te- mas que envolvem a prescrição clínica do exercício. O fisioterapeuta é o profissional da saúde especialista no movimento humano, com habilidade e competên- cia diferenciada para prescrição clínica de exercícios, levando em consideração todos os fatores internos e externos do corpo humano. A dra. Mariane Franceschi Malucelli e o dr. Thomas Clark Purvis, fisioterapeutas e autores do livro, são referências internacionais na matéria. A dra. Maria- ne faz parte do maior centro de recuperação de trauma- to-ortopedia dos EUA. Dito isso, faço aqui um agrade- DR. ROBERTO MATTAR CEPEDA cimento público e especial a estes profissionais que, de forma didática e científica, aceitaram este desafio. O tema reafirma a essência da Fisioterapia no Brasil e, de forma altamente especializada, apresenta a prescrição clínica do exercício pautada nas condi- ções clínicas do indivíduo, na biomecânica articular, na cinesiologia, na cinesioterapia e na física. A prescrição clínica do exercício é o nosso prin- cipal instrumento de trabalho. O profissional fisiote- rapeuta que adquirir esta distinta competência será mais resolutivo e, consequentemente, mais valoriza- do no mercado de trabalho. Cuidado! O exercício que cura é o mesmo que machuca; a diferença está na prescrição clínica do exercício. Consulte o especialista do movimento humano. Consulte o fisioterapeuta. Boa leitura! P R E F Á C I O OFFITO como intervenção, pois é a única capaz de transfor- mar uma resposta aguda em uma adaptação positi- va crônica (que permanece). A prescrição clínica do exercício faz parte da origem, do DNA da fisioterapia, e o fisioterapeuta deve se tornar o profissional que mais conhece todos os aspectos que envolvem o estí- mulo e a adaptação do exercício, tornando-se assim a classe profissional referência para a sociedade dentro da prescrição clínica do exercício para a reabilitação, desenvolvimento e conservação da saúde. Para que possamos nos especializar nesta área, precisamos nos aprofundar no estudo da mecâni- ca do exercício, que deriva da biomecânica, sendo a ciência da aplicação da mecânica articular, da mecâ- nica muscular e da mecânica da resistência específi- ca para cada exercício e cada indivíduo. Esta ciência nos ajuda a evoluir no aprendizado sobre o estímulo do exercício, tornando possível prescrever exercícios com mais eficiência e menor custo. O conhecimento que o profissional poderá adqui- rir neste livro é aplicável em todos os cenários em que o exercício é prescrito na fisioterapia. Pode ser em clí- nicas ortopédicas, no pós-operatório, na osteopatia, no pilates, na musculação terapêutica etc. Isso é possível porque é a ciência que governa o exercício, indepen- dentemente para qual especialidade o exercício é pres- crito. Porém, chamamos a atenção para a prescrição Qual o papel do fisioterapeuta dentro da pres-crição do exercício na sociedade contempo-rânea? Quais necessidades ele deve atender? Onde a especialidade e a maestria do saber fisiotera- pêutico são requeridas? E, principalmente, onde está a maior oportunidade de mercado para o fisiotera- peuta na área da prescrição clínica de exercícios? Vivemos em um tempo em que a prescrição do exercício parece ter perdido força dentro da fisiotera- pia. Como profissionais, temos nos dedicado a muitas especialidades importantes, porém não temos busca- do nos especializar na prescrição clínica do exercício, e isso é prejudicial à nossa área. Prescrevemos exer- cícios como forma de intervenção fisioterápica para a reabilitação de disfunções neuromusculoesqueléti- cas, prescrevemos exercícios para o pós-operatório, prescrevemos exercícios na fisioterapia hospitalar ou ortopédica e em muitas outras especialidades dentro da fisioterapia. Nossa capacidade em alcançar bons resultados com a prescrição do exercício para nossos clientes e pacientes é dependente do quanto entende- mos sobre a “ciência” do exercício, assim como nossa habilidade em examinar e progredir cada exercício, para cada indivíduo, de acordo com suas necessida- des, limitações e objetivos individuais. O exercício é, sem sombra de dúvidas, a fer- ramenta mais poderosa que o fisioterapeuta utiliza • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia14 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli do exercício para a conservação da saúde e da função neuromusculoesquelética, pois é esta uma das maiores necessidades da população hoje e também a área com maior possibilidade de crescimento da nossa profissão, como indicado numa pesquisa realizada nos Estados Unidos. Ela aponta evidências de que um grande nú- mero da população acima de 50 anos apresenta degene- ração articular no joelho mesmo sem dor e sem indícios de degeneração registrados em exame radiográfico. Os resultados desta pesquisa demonstram que: 1. 74% das pessoas acima de 50 anos apresentam alterações estruturais que poderiam influenciar permanentementea ADM; 2. 69% têm alterações estruturais que podem influenciar a tolerância à força; 3. 88% das pessoas sem queixas de dor tiveram pelo menos uma das patologias citadas que indi- cam que ausência de dor não significa ausência de possíveis fatores que requerem considera- ções especiais. Esta é uma evidência que confirma que a po- pulação acima de 50 anos necessita de profissionais especialistas na função neuromusculoesquelética e especialistas na aplicação de estímulos (forças), para que obtenham resultados positivos no desenvolvi- mento e conservação da função sem detrimentos adicionais às articulações. PREVALêNCIA DE ANORMALIDADES NO jOELHO DETECTADAS POR RESSONâNCIA MAGNéTICA EM ADULTOS SEM INDICATIVO DE ARTROSE NO jOELHO: ESTUDO OBSERVACIONAL BASEADO NA POPULAÇÃO Estudo de Osteoartrose em Framingham1 Objetivo: Examinar o uso da ressonância mag- nética em joelhos que não indicaram evidência 1 BMJ. 2012; 345: e5339. Published online 2012 Aug 29. doi: 10.1136/bmj.e5339 PMCID: PMC3430365 Prevalence of abnormalities in knees detected by MRI in adults without knee osteoarthritis: population based observational study (Framingham Osteoarthritis Study) Ali Guermazi, professor of radiology, Jingbo Niu, research assistant professor of medicine, Daichi Hayashi, research assistant professor of radiology, Frank W Roemer, associate professor of radiology, Martin Englund, associate professor, epidemiologist, Tuhina Neogi, associate professor of medicine and epidemiology, Piran Aliabadi, professor of radiology, Christine E McLennan, project manager, and David T Felson, professor of medicine and epidemiology I N T R O D U Ç Ã O A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 15 radiografica de osteoartrose para determinar a pre- valência de lesões estruturais associadas com a os- teoartrose e suas relações com idade, sexo e obesida- de. Design: Estudo observacional baseado na popu- lação. Localização: Comunidade em Framingham, MA, Estados Unidos (estudo de osteoartrose em Fra- mingham). Participantes: 710 indivíduos > 50 anos que não tinham evidências radiográficas de osteoartrose no joelho (Kellgren-Lawrence grade 0) e que se subme- teram à ressonância magnética do joelho. Medidas de resultado principais: Prevalência de descobertas através da ressonância magnética que são insinuantes de osteoartrose de joelho (osteófitos, danos na cartilagem, lesões da medula óssea, cistos subcondral, lesões meniscais; sinovite; atrito; e lesões ligamentosas) em todos os participantes e depois da estratificação por idade, sexo, índice de massa corpo- ral (BMI) e a presença ou a ausência de dor de joelho. A dor foi avaliada por três perguntas diversas e tam- bém pelo questionário de WOMAC. Resultados: Dos 710 participantes : • 393 (55%) eram mulheres; • 660 (93%) eram brancos; • 206 (29%) tiveram dor no joelho no último mês; • A idade média era 62,3 anos; • A prevalência de “qualquer anormalidade” foi 89% (631/710) do total; • Osteófitos foram a anormalidade mais comum entre todos os participantes: 74% (524/710 ); • Seguidos por dano na cartilagem: 69% (492/710); • Lesões de medula óssea: 52% (371/710); • Quanto maior a idade, maior a prevalência de todos os tipos das anormalidades detectáveis por ressonância magnética; • A prevalência de pelo menos um tipo de pa- tologia (“qualquer anormalidade”) foi alta em ambos os joelhos com presença de dor (90- 97%, dependendo da definição de dor) e joe- lhos com ausência de dor (86-88%). CONCLUSÃO A ressonância magnética mostra lesões na arti- culação tíbio-femoral na maioria dos indivíduos aci- ma de 50 anos de idade, em quem as radiografias de joelho não apresentam nenhum traço de osteoartro- se, independentemente de dor. O conteúdo deste livro concentra-se inicialmente no estudo da mecânica do exercício, por meio do qual são apresentados os fatores necessários para a criação e desenvolvimento de exercícios, seguido pelo estudo • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia16 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli do Continuum do exercício, em que apresentamos um processo de raciocínio crítico para as tomadas de de- cisões durante a aplicação e execução dos exercícios. O Continuum do exercício é um direcionamen- to para o profissional neutralizar a interferência dos protocolos através do maior desafio, que é libertar- nos do pensamento padrão, deixando de lado modas e tradições sobre exercício e evoluindo para um pro- cesso de criação de exercícios específicos para cada cliente-paciente. Este livro foi escrito como resposta ao pedido do dr. Roberto Cepeda, presidente do COFFITO, que, com genuína preocupação e interesse pelo de- senvolvimento profissional, vem buscando soluções para aumentar a dignidade e o valor do fisioterapeuta brasileiro. Movidos pela necessidade de crescimento profissional na área da prescrição clínica do exercí- cio, o dr. Thomas Clark Purvis (fisioterapeuta – EUA) e eu, dra. Mariane Franceschi Malucelli (fisioterapeu- ta – EUA), decidimos contribuir gratuitamente com a evolução necessária em nossa profissão no Brasil. Escrevemos este livro contendo a fundamentação bá- sica para o estudo e para a aplicação da mecânica do exercício, proporcionando ao profissional o conheci- mento inicial para esta evolução. Precisamos resgatar o domínio e a autoridade sobre a prescrição do exer- cício para a saúde e essa jornada se inicia agora. I N T R O D U Ç Ã O MARIANE FRANCESCHI MALUCELLI A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 17 Uma nova ciência… O campo da fisiologia foi es-tudado muito antes da exploração das respos-tas fisiológicas ao exercício. Da mesma forma, o campo da biomecânica já existe há anos, mas tem sido tradicionalmente explorado no estudo do desempenho esportivo, assim como nas áreas do movimento huma- no, da ortopedia, da marcha e de intervenções com o uso de próteses. As universidades incluem a biomecânica no cur- rículo de todos os cursos que envolvem o estudo de exercícios, porém, até hoje, o seu estudo tem se mos- trado valioso somente em laboratórios e com pouca aplicação na prática cotidiana para os profissionais que prescrevem exercícios clínicos. O universo das pesquisas sobre exercícios muitas vezes deixa de incluir algumas considerações mecâni- cas importantes, como variáveis a serem controladas, tornando grande parte dessas pesquisas imprecisas ou inaplicáveis. Por exemplo, o fato das considerações so- bre as diferenças na angulação do osso esterno, que são únicas em cada ser humano, não terem sido conside- radas como a principal influência mecânica nos exer- cícios para o músculo peitoral maior, é uma prova de que, até hoje, a biomecânica não foi aplicada nos estudos e pesquisas formais sobre exercícios no nível e clareza exigidos. Outro exemplo é sobre o estudo do exercício do agachamento, no qual as diferenças nas “proporções segmentares” não são examinadas como a principal in- fluência em determinar a maneira como ele deve ser realizado ou modificado para cada indivíduo. Levando esses fatos em consideração, a mecâni- ca do exercício é uma nova ciência. A aplicação de princípios mecânicos (engenharia) na análise, criação e modificação do exercício para cumprir os objetivos e as necessidades do cliente-paciente, respeitando as idiossincrasias neuromusculares de cada indivíduo, é uma exigência inquestionável para a evolução da prescrição clínica do exercício. O poder do processo do raciocínio lógico para a tomada de decisões. Os princípios da mecânica do exercício podem ser memorizados, mas isso não irá alterar nada ou ajudar ninguém. A memorização das informações é pouco apro- veitávelse estes não forem empregados apropria- damente e estrategicamente. É por esta razão que a criação e o desenvolvimento de um processo de ra- ciocínio lógico e organizado foram absolutamente vitais para a aplicação dos princípios da mecânica do exercício. Em essência, esse processo de raciocínio faz a ciência da mecânica do exercício se tornar viva. Ele orienta a tomada de decisão clínica, tornando os protocolos obsoletos devido às suas ineficiências em tornar o exercício individual. • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia18 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli I N T R O D U Ç Ã O O Continuum Funcional é um processo de reflexão contínuo para a análise, a investigação e o exame das capacidades funcionais, internas e externas, de qualquer indivíduo. O Continuum do exercício nos conduz ain- da mais adiante no processo de tomada de decisão, em que o movimento, a resistência, a intenção, o esforço e o tempo são manipulados e ensinados, adequadamen- te e estrategicamente, a fim de estimular uma mudança conforme o objetivo e a tolerância de cada indivíduo. O domínio e o processo de raciocínio desta nova ciência requerem anos de estudo e de aplicação. A profundidade e a abrangência das informações con- tidas neste livro são vastas e derivam de 30 anos de sucessos e fracassos na aplicação desta nova ciência. Este livro foi escrito como uma iniciação à mecânica do exercício e ao novo processo de raciocínio lógi- co para tomada de decisões clínicas na prescrição do exercício. Ele foi escrito a pedido do Conselho Fede- ral de Fisioterapia e Terapia Ocupacional do Brasil no momento em que este inicia um grande movimento de vanguarda para o avanço, o crescimento e a desa- fiadora evolução da prescrição clínica do exercício no país. E, por mais que a sua missão seja local, o impac- to da sua visão, da sua responsabilidade, desta ciência e deste processo de raciocínio será inevitavelmente global, com o Brasil definindo um novo padrão na compreensão e na aplicação clínica do exercício. THOMAS CLARK PURVIS A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 19 A FISIOTERAPIA E A PRESCRIÇÃO DO ExERCíCIO I N T R O D U Ç Ã O Fisioterapia não é moda. Sendo assim, fisiotera-peutas não devem estar suscetíveis aos modis-mos do mercado do exercício. Devemos estar sempre nos aperfeiçoando e aprendendo sobre novos métodos e novas técnicas. Porém, o fisioterapeuta deve ter em mente que métodos e técnicas são sempre novas ferramentas e estas devem ser incorporadas a sua grande “caixa de ferramentas”, sempre julgando quanto cada técnica ou cada método é apropriado para cada situação. O fisioterapeuta é o profissional, ele é o especialista que irá avaliar cada situação e a efetividade da intervenção, sendo que tudo isso tem que ser baseado em evidências. A fisioterapia exige que a prescrição do exercício seja individualizada/customizada. Esta customização é a diferença fundamental no foco e na finalidade da prescrição elaborada por um fisioterapeuta em com- paração a outros profissionais, porque o fisioterapeu- ta deve customizar a aplicação do estímulo, da força, e não somente da intensidade, número de séries e re- petições, como comumente tem sido feito. Tradicionalmente, o exercício é considerado an- tes da estrutura/corpo. Nesse caso, a prescrição é feita desconsiderando idiossincrasias de quem o realiza, é o indivíduo quem precisa se enquadrar nas regras do exercício, independentemente da sua estrutura/cor- po, e o foco da execução está no número de séries e repetições, quer dizer, o foco está no exercício. A fi- sioterapia necessita evoluir desse modelo para outro, no qual o foco está na estrutura/corpo. A prescrição do exercício deve ser feita a partir daquilo que é ob- servado no indivíduo específico, ou seja, a estrutura/ corpo é considerada antes do exercício. Isso signifi- ca que o exercício deve ser adaptado para atender as peculiaridades físicas identificadas em cada situação que se apresenta. Os protocolos de execução nesse caso são orgânicos e ininterruptamente customiza- dos, criados e moldados de acordo com a estrutura do cliente-paciente e com um cenário mecânico indi- vidual. Essa simples diferença de abordagem no foco muda completamente a maneira como o exercício é prescrito. • Prescrição do Exercício Tradicional Considera o exercício antes da estrutura/corpo. • Prescrição Clínica do Exercício Considera a estrutura/corpo antes do exercício. O fisioterapeuta é o profissional mais habilitado para a prescrição do exercício com o objetivo de me- lhorar a tolerância do tecido muscular. Nesse sentido, o foco da intervenção precisa manter-se em elemen- tos internos e priorizar a estrutura neuromusculoes- quelética. Note que, quando a atenção do exercício está no protocolo/programa, desprezando peculiaridades es- truturais de quem o executa, isso significa que a aten- ção está no próprio exercício, ou seja, o foco é externo. Para que haja uma verdadeira mudança ao prescre- ver o exercício, saindo do foco externo e indo para o foco interno, é imprescindível que antes aconteça uma transformação no pensamento do profissional. A PRESCRIÇÃO CLíNICA DO ExERCíCIO PARA CONSERVAR A CAPACIDADE FíSICA, A FUNÇÃO E A SAúDE Restaurar, desenvolver e conservar a capacida- de física do corpo humano precisam ser os objetivos para a prescrição do exercício feita por fisioterapeu- tas. E é necessário que esses objetivos sejam constan- temente reforçados sem nunca serem ignorados, pois são o escopo legal de nossa profissão. É de conhecimento popular que, para a conser- vação da capacidade física do corpo humano, é ne- cessário a prática regular de exercícios físicos. A prescrição de exercícios para a manutenção da saúde tornou-se popular após o lançamento do famoso livro Aerobics, do dr. Kenneth Cooper, em A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 21 1968. Dr. Cooper escreveu vários livros sobre esse assunto utilizando exercícios aeróbicos, sendo con- siderado preconizador e pai do método de corrida “cooper”. Desde então, médicos no mundo inteiro co- meçaram a recomendar a prática de exercícios físicos como algo essencial para a manutenção da saúde e, assim, um novo mercado nasceu. As academias sur- giram e com elas as marcas de roupas específicas para a prática de exercícios. Pesquisas cada vez mais elabo- radas sobre exercícios também foram desenvolvidas. A propaganda para a conscientização da população sobre a necessidade e os benefícios da prática de exer- cícios direcionados com o objetivo de manter a saúde passou a ser cada vez mais frequente e contundente. Com todo o esforço de marketing e investimento fi- nanceiro feito nesse ramo de mercado durante todos esses anos, era de se esperar que uma grande parte da população estivesse atualmente envolvida e pratican- do exercícios físicos direcionados. Porém, não é este o cenário que encontramos. A IHRSA (International Health, Raquet and Sports Club) publicou no Global Report de 2016 que, no Brasil, somente 3% da população (aproximada- mente oito milhões) pratica atividade física direcio- nada em academias e clubes. Já nos Estados Unidos, o maior mercado mundial, o número chega a 18% da população. Essas porcentagens podem aumentar se também considerarmos o número de praticantes de atividade física independente e não direcionada, ou seja, sem o acompanhamento de um profissional da área. No entanto, esses índices são desprezíveis se le- varmos em conta o esforço mundial para a conscien- tização da população sobre a importância da prática de exercícios físicos. Apesar de existir uma grande parcela da população que inicia atividades direcio- nadas diariamente, a maiorianão dá continuidade à prática em longo prazo. Uma das razões para isso é que muitos dos que tentam participar não gostam da experiência com o exercício no modelo em que hoje é apresentado. Aqueles que conseguem incorporar a prática de exercício em sua rotina representam, aproximadamen- te, 10% da população. Isso demonstra que há uma ne- cessidade muito grande da criação de um novo mode- lo de prescrição de exercício para atender estes outros 90% que estão fora do mercado, mas que precisam se exercitar para conservar a função e a saúde. Novamente, a IHRSA publicou em seu blog, em novembro de 2016, que globalmente 11,7% da popu- lação tem mais de 60 anos, e a expectativa de cresci- mento desta população até 2050 é de 21%. Hoje, exis- tem 75 milhões de baby boomers (nascidos entre 1945 e 1960 e que estão entrando em idade de aposentado- ria), tornando esse grupo demográfico e o que mais cresce dentro dos clubes e academias. Quando esse grupo busca atividade física, ele busca quatro objeti- vos específicos: 1. Prevenção de problemas crônicos (conservar); 2. Controle de problemas crônicos existentes (desenvolver); 3. Inversão dos efeitos negativos da idade (restaurar); 4. A participação plena nas atividades cotidia- nas e nos seus hobbies. A estatística apresentada acima coloca esta po- pulação dentro do escopo da fisioterapia para a prescrição do exercício para a conservação, desen- volvimento e restauração da função neuromuscu- loesquelética. E agora é o momento mais propício para o nascimento deste novo modelo de prescrição do exercício, capaz de atender esta população que há décadas vem esperando por uma solução compatí- vel com seu perfil psicológico e estrutural. Esse novo modelo pode ter como efeito positivo o engajamento e a permanência dessas pessoas na prática de ativi- dades físicas. Em termos da saúde da população, isso será extremamente benéfico, independentemente da proporção em que acontecer. • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia22 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli I N T R O D U Ç Ã O O modelo atual, que nasceu com a popularidade dos exercícios aeróbicos com Kenneth Cooper, em 1968, trouxe grandes benefícios para a população e certamente vai continuar trazendo. Desde o início da popularização da prática do exercício físico para a saúde, muitas modas e métodos foram criados e obtiveram sucesso. De um modo geral, eles perma- necem por um tempo e desaparecem assim que um novo modelo entra no mercado. Em paralelo a todo o crescimento e movimentação em clubes e academias, algo interessante também aconteceu na área médica. Nessas quatro décadas, a Medicina Desportiva, que trata basicamente de problemas ortopédicos causa- dos pela prática da própria atividade física, teve um crescimento exponencial. Isso nos mostra que, mui- tas vezes, exercícios prescritos para a saúde podem resultar em consequências ortopédicas negativas. Lembro-me de quando participei do Congresso Brasileiro de Medicina Desportiva, em Florianópolis (Santa Catarina) no ano de 2003, onde, durante uma palestra sobre lesões no joelho, um famoso médico or- topedista brasileiro disse: “o dr. Cooper esvaziou os con- sultórios dos cardiologistas, porém encheu os consultó- rios dos ortopedistas”. E essa é uma grande verdade! Fig. 1. Prescrição clínica do exercício realizada pelo fisioterapeuta utilizan- do a máquina de extensão de per- na como ferramenta de intervenção. Objetivo do exercício: desenvolver a capacidade de tensão no comprimento contrátil mais curto do tecido do qua- dríceps dentro da ADCCD (Amplitude de Comprimento Contrátil Disponível), restaurando e conservando o controle contrátil no final da extensão da arti- culação do joelho dentro da ADPAD (Amplitude de Posições Articulares Dis- poníveis). A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 23 Esse fato indica que o exercício em si não é au- tomaticamente algo bom. Acompanhe um exemplo: um indivíduo praticou atividade física com objetivo de manter a qualidade de vida e a saúde por 20 anos, contudo teve como resultado concomitante ao forta- lecimento muscular a degeneração da cartilagem hia- lina e óssea em uma articulação, o que resultou na necessidade de uma artroplastia articular. Apesar de o objetivo inicial ter sido a prática de exercício para a saúde e a qualidade de vida, o resultado final não foi necessariamente esse. Quando escolhemos o estímulo a ser prescrito no exercício, precisamos ter em mente que a saúde articular deve ser mantida a mais ínte- gra possível. No modelo atual, o foco da prescrição de exercícios para a saúde cardiovascular e o fortale- cimento muscular têm sido muitas vezes atingidos à custa da saúde ortopédica. A maior parte da popula- ção possui uma estrutura que não tolera esse modelo, no qual a tolerância das articulações é ignorada. Para a transformação desse cenário, em que a saúde das articulações é ignorada, é necessária uma mudança não somente na aparência do exercício ou no local onde ele é realizado (clínica ou academia), mas também na completa composição do exercício em si. Os fisioterapeutas devem se tornar experts na aplicação de força na estrutura do paciente-cliente, priorizando a saúde ortopédica, na qual os fatores mecânicos tomam precedência aos fisiológicos e na qual a customização estratégica das variáveis mecâ- nicas dos exercícios se tornam imprescindíveis, como as listadas abaixo: • Amplitude; • Posicionamento da carga; • Intenção; • Perfil da resistência; • Foco; • Aceleração/desaceleração; • Influências da inércia; • Tipo de resistência; • Apoio/restrição; • Trajeto guiado/restrição; • Forças articulares; • Índices da progressão. Todas essas variáveis são baseadas na mecânica específica de cada exercício e são influenciadas por fatores fisiológicos, tais como: • Tolerância; • Estrutura óssea; • Estrutura articular; • Consciência/percepção; • Amplitude contrátil; • Curva de aprendizagem; • Atenção. A ciência contida neste livro é fruto de mais de 30 anos de estudos da mecânica do exercício e sua pres- crição, buscando entender quais os benefícios e custo (desgaste articular) dos exercícios para a saúde. Em todo este tempo também estamos ensinando profissio- nais do mundo inteiro sobre como aprender a mecâni- ca de uma maneira aplicável no dia a dia para trazer o maior benefício possível para o cliente-paciente. A partir das constatações provenientes de todas estas experiências, desenvolvemos uma organização de trabalho capaz de envolver o espectro completo de possibilidades mecânicas para a prescrição clíni- ca do exercício dentro do Continuum do exercício. No Continuum do exercício, o fisioterapeuta apren- derá a desenvolver um processo de raciocínio crítico para a tomada de decisão sobre a criação do exercício que deve ser prescrito para seu cliente-paciente, con- quistando resultados seguros e eficientes. O fisiotera- peuta, por sua vez, vai protagonizar uma verdadeira evolução profissional com inúmeros desdobramentos positivos, tais como: maior destaque no mercado, maior valorização profissional na sociedade e maior contribuição ao bem-estar de uma população que hoje não encontra aquilo que precisa para a prática sustentável de exercícios por uma vida inteira. • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia24 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli I N T R O D U Ç Ã O A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 25 PERSPECTIVAS SOBRE A EVOLUÇÃO DA CIêNCIA I N T R O D U Ç Ã O A ciência está em constante evolução. Confor-me surgem nossos questionamentos sobre um tema, surgem também novas necessi-dades, novas tecnologias são desenvolvidas e, assim, novas descobertas, teorias e aprendizagem começam a fazer parte de nosso conhecimento. Esta é uma imagem satélite da Terra, do globo terrestre. A Terra como todos nós a conhecemos hoje, redonda. As imagens satélites evidenciam isso com clareza e sem margem para contra-argumentos. Mas todos sabem que o conhecimento desta reali- dade nem sempre foi assim. Estudamos nas aulas de História que houve um tempo em que se acreditava que a Terra era quadrada ou plana. Não somente se acreditava que era desse modo, mas também os pro- fessores e sábios da época ensinavam isso como ciên- cia e verdade, porque as evidências até então conver- giam para isso. Fig. 2. A teoria da Terra plana que, com o de- senvolvimento do telescópio, foi rejeitada e a evidência de que a Terra é uma esfera. Quando olhamos para o horizonte, enxergamos a Terra juntando-se ao céu numa linha reta que pa- rece ser o “final da Terra”. Se tirássemos conclusões somente sobre o que vemos a partir dessa imagem e escrevêssemos livros sobre isso, teríamos evidências claras de que a Terra seria plana ou quadrada. Aqueles que lessem nossos livros e vissem “tal evidência” no horizonte, acabariam por confirmar essa suposição. Assim, a teoria e sua “evidência inquestionável” se perpetuariam até que alguém observasse algo dife- rente e resolvesse questioná-la, buscando mais evi- dências para tentar trazer respostas a sua suspeita a fim de provar uma nova teoria. Fig. 3. Evidências de Galileu. E foi exatamente isso que aconteceu. Quando alguém observou que o Sol não fazia um trajeto re- tilíneo no céu desde o nascente até seu poente, mas que parecia mais curvilíneo, ele intuiu algo diferente, que havia algo errado com o conceito de que a Terra era quadrada ou plana. Porém, naquela época a evi- dência visual, a Igreja e os acadêmicos ensinavam isto como verdade. Também ensinavam que a Terra era o centro do universo, pois não havia meios de ver nada diferente até aquele momento. Então veio Galileu Galilei (1564-1642). Ele não inventou o telescópio (Hans Lippershey, 1570-1619) nem iniciou a teoria do heliocentrismo (Nicolau Co- pérnico, 1473-1543). Mas foi ele quem melhorou a lente do telescópio e com isso tornou-o mais poten- te, possibilitando ver o Universo com mais detalhes. Assim foi possível trazer as evidências necessárias para provar que a Terra não era plana, tampouco era o centro do universo. Galileu enxergou algo diferente e talvez tivesse dito: “Eu vejo a Terra se movendo em torno do Sol, junto com outros planetas, eu enxergo o contrário do que hoje aceitamos como verdade”. A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 27 Fig. 4. Galileu Galilei (15 de fevereiro de 1564 - 8 de janeiro de 1642): nascido na Itália, foi matemático, astrônomo, filósofo e físico. Galilei foi personalidade fundamental na revolução científica. Galileu, insistindo em suas novas evidências e contrariando os estudiosos da época, foi colocado em prisão domiciliar até falecer, em 1642. Entretanto, muito antes de Galileu e Copérnico, outros estudio- sos e sábios já haviam percebido que a Terra não po- deria ser quadrada ou plana. Pitágoras, em 500 a.C., foi um deles, depois veio Aristóteles, que em 330 a.C. iniciou a teoria do geocen- trismo. Mais tarde, Aristarco de Samos (310-230 a.C.) iniciou a teoria do heliocentrismo e, em seguida, o estudioso Eratóstenes 276-194 a.C. A história de Eratóstenes nos chamou a atenção e muito! Ele foi considerado o pai da Geografia, nas- ceu em Cirene em 276 a.C. e passou a maior parte da sua vida em Alexandria. Ficou famoso na antigui- dade pelo seu método de determinar o tamanho da Terra calculando sua circunferência, utilizando como principal fonte de observação o movimento do Sol. Ele estabeleceu que a circunferência da Terra era de 40.000 km. Passados mais de 2.000 anos, estudiosos foram conferir os cálculos de Eratóstenes e tiveram uma surpresa. A nova medição, realizada com equi- pamentos de precisão e com modernos sistemas de cálculo, resultou em um número praticamente idên- tico ao de Eratóstenes, ou seja, 40.075 km. É incrível pensar que aproximadamente 2.000 anos antes de Ga- lileu existiu alguém que calculou a circunferência da Terra com tal precisão e, mesmo assim, muito tempo depois, a teoria de a Terra ser redonda não era aceita. Todavia, isso é óbvio hoje para nós. Fig. 5. Esquematização do Experimento de Erastótenes. No solstício de verão, meio-dia local, os raios de sol incidem a exatos 90º na latitude do Trópico de Câncer. Eratós- tenes de Cirene (276 a.C. - 194 a.C.): foi matemático, astrônomo, geógrafo e biblio- tecário na Grécia, e conhecido por calcular a circunferência da Terra. • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia28 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli I N T R O D U Ç Ã O Talvez você esteja se perguntando “por que es- tamos falando sobre isso? É obvio que a Terra é re- donda, porém o tema deste livro é sobre o conceito e a prescrição clínica do exercício pela fisioterapia”. A resposta é simples: no mundo da ciência do exer- cício ainda existe muita teoria de “Terra quadrada” e vamos apresentar aqui um novo conceito, um novo olhar para identificar e evidenciar a possibilidade de evolução para a prescrição de exercícios na era da “Terra redonda”. Outro exemplo como citado acima, porém ago- ra na área médica, vem de 1861. É a história da ne- cessidade de os médicos lavarem as mãos antes das cirurgias para prevenir a infecção hospitalar. O mé- dico húngaro Ignaz Philipp Semmelweis (1818-1865) tornou-se chefe-residente de obstetrícia no Hospital Geral de Viena e, em menos de duas décadas de sua breve carreira, ele se tornou o “salvador de mães” e o inimigo da academia médica. Naquela época, a “febre puerperal” acarretava uma impressionante taxa de mortalidade entre 10 a 35% das mulheres que tinham seu parto dentro do hospital, enquanto que, para mulheres que tinham seus partos feitos fora dele, a febre não era uma preocupação de saúde pública. Estes dados chama- ram a atenção de Semmelweis que, após extensa observação, fundamentou sua conclusão de que a febre estava correlacionada com a infeção causada pela falta de higiene das mãos daqueles em contato com a paciente, incluindo médicos, enfermeiras e estudantes. Suas observaçcões foram publicadas em seu livro “A Etiologia, o conceito e a profilaxia da febre puerperal” (1861). Com a implementação, em 1847, de sua re- comendação de lavar as mãos com água clorada, a queda da taxa de mortalidade reduziu de 12,24% a 3,04% no final do primeiro ano e a 1,27% ao término do segundo ano. Esses resultados foram magníficos e se esperava que a prática da higiene das mãos tivesse sido amplamente aceita pelos médicos da época, mas isto não aconteceu. Semmelweis foi rejeitado pela classe médica, que não aceitou sua proposta de mu- dança porque ele não tinha uma evidência científica aceitável. Os médicos ficaram ofendidos com a pos- sibilidade de terem que lavar as mãos e Semmelweis foi expulso de Vienna e depois colocado em um asilo, onde morreu aos 47 anos. Fig. 6. Ignaz Philipp Semmelweis (1º de julho de 1818 - 13 de agosto de 1865): médico nascido na Hungria e conhecido como o pioneiro em procedi- mentos antissépticos. Alguns anos depois, Louis Pasteur conseguiu observar os germes (micróbios) no microscópio e confirmou a evidência necessária para afirmar a teo- ria de Semmelweis. Desde então, a higienização das mãos foi aceita como verdade e introduzida como necessária por todos aqueles em contato com pacien- tes dentro do ambiente hospitalar. Lembre-se que na- quela época não existiam luvas sintéticas. A Evolução da PrescriçãoClínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 29 Temos muito a aprender com essas duas histórias para a aplicação na ciência do exercício. A evidência de Galileu foi resultado de conseguir enxergar mais longe em um aspecto mais amplo e com mais detalhes; já a evidência de Semmelweis foi resultado de enxergar o mais próximo possível, microscopicamente. Precisa- mos ter as duas visões em mente para entendermos a prescrição de exercício. Precisamos enxergar as forças externas de uma persperctiva macro e depois colocar um zoom para enxergar o resultado delas dentro da ar- ticulação a cada grau de movimento. Quando entrarmos nos detalhes da visão mi- croscópica, precisaremos ter sempre viva a perspecti- va satélite-macro, para que, quando estivermos anali- sando uma mitocôndria, nos perguntarmos por qual razão isso é relevante naquela situação. Existem situa- ções apropriadas para se analisar a mitocôndria, mas para construir um exercício ela não é importante. A importância dela no exercício inicia quando vamos determinar seu tempo e frequência, isso significa o que fazer com o exercício, mas não como construí-lo. As decisões sobre a fisiologia devem vir depois das decisões sobre a mecânica do exercício. Talvez você esteja pensando: “Mas estamos no século 21, a ciência está muito avançada e as evidên- cias também…”. Sim, mas no próximo século o co- nhecimento da ciência estará em um lugar diferen- te porque ainda não descobrimos tudo ou sabemos toda a verdade sobre a ciência. A Medicina e a ciência ainda estão em evolução, por isso precisamos apren- der com os livros, professores e todos os meios dis- poníveis. Contudo, é necessário estarmos dispostos a aprender e entender que este é somente o começo. É importante estarmos abertos – mente e coração – para a evolução, porque a jornada do descobrimento ainda não acabou. A ciência do exercício também continua em evo- lução e muito do que estudamos hoje se apoia em observações aparentes e em conclusões baseadas nas evidências até então existentes, muito parecidas com as observações obtidas para defender a teoria da Ter- ra plana. Para que a evolução necessária da ciência do exercício aconteça, será preciso avaliar como temos es- tudado o exercício até hoje e mudarmos a abordagem do estudo. O estudo tradicional do exercício aborda inicialmente a fisiologia, isto é, a adaptação que o exer- cício causa e posteriormente o estímulo do exercício. O exercício físico é a chave fundamental para alcançarmos resultados positivos sustentáveis com nossos clientes-pacientes. No entanto, isso não é uma tarefa simples. Conforme indicado na introdução, as análises e os conceitos que abordamos neste livro são baseados na Física aplicada no exercício, que é a mecânica do exercício – ambas são ciências exatas e podem ser comprovadas. Os resultados obtidos através da Física e da Mecânica são a verdade que está presente em to- dos os exercícios, quer saibamos ou não. Mas atenção: existe uma diferença entre o estudo da biomecânica tradicional e o estudo da mecânica do exercício, que veremos a seguir. ALGUMAS DEFINIÇõES DE BIOMECâNICA • “O estudo das forças e os seus efeitos sobre os sistemas vivos.” (Peter McGinnis, em Biomecâni- ca do Esporte e Exercício.) • “Ciência que estuda a ação de forças internas ou externas no corpo vivo.” (PDR – Dicionário Médico.) • “Biomecânica consiste na área da cinemática e da cinética. A cinemática inclui as descrições de movimento sem considerar as forças que o produ- zem. Cinética considera as forças que produzem o movimento, resultante do movimento ou da ma- nutenção do equilíbrio.” (Norkin e Levangie, em Articulação, Estrutura e Função.) • “A mecânica é uma área da física e da enge- nharia que estuda e aplica a avaliação de forças • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia30 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli I N T R O D U Ç Ã O responsáveis pela manutenção de uma estrutura ou de um objeto em uma posição fixa, bem como a descrição, previsão e causas de movimento de um objeto ou estrutura. O campo da mecânica pode ser dividido em estática, que considera as partículas e organismos rígidos que estão em um estado de equilíbrio estático; e dinâmica, que es- tuda objetos que estão em movimento acelerado. Dinâmica pode ainda ser dividida em cinemática e cinética. A cinemática é a geometria do movi- mento, que inclui a velocidade de deslocamento, aceleração sem contar a força. Cinética considera as forças causando o movimento.” (Garhammer, em Cinesiologia e anatomia aplicada.) • “Biomecânica é o estudo da estrutura e da fun- ção dos sistemas biológicos por meio dos méto- dos da mecânica.” (Hebert Hatze.) Durante anos, utilizamos a seguinte definição em nossos cursos: “Biomecânica é a ciência do mo- vimento e a ação das forças sobre organismos vivos”. Mas sempre parecia que algo estava faltando, porque o que de muitas maneiras determina movimento e recebe o efeito das forças é a estrutura (arquitetura do corpo humano). Então, passamos a usar uma defini- ção mais abrangente para biomecânica que incorpora os principais componentes indicados acima: O estu- do da [1] Estrutura, [2] do movimento, [3] das forças e [4] seus efeitos sobre e dentro do corpo humano. Então, quando falávamos de biomecânica, está- vamos estudando quatro coisas: [1] Estrutura, porque a sua tolerância e habilida- de são fundamentais para o movimento, bem como a produção da força; [2] Movimento, porque não abrange apenas a física do movimento, mas inclui também o extremo dele, ou seja, o zero ou estático; [3] Força, incluindo a interna e a externa, assim como uma compreensão da natureza da própria força; [4] Efeitos, que se referem aos resultados asso- ciados à aplicação, à produção e à tolerância das for- ças sobre e dentro das estruturas específicas. NO ExERCíCIO, A MECâNICA TRANSCENDE E ENGLOBA TODOS OS OBjETIVOS E TODAS AS MODAS. Com o tempo, verificamos que os fatores que es- tudávamos não se encontravam nos livros de biome- cânica, porque estes não levavam em consideração as diferenças de cada indivíduo e não colocavam todos os fatores em evidência em cenários mecânicos dife- rentes para chegarem a conclusões. Verificamos, en- tão, que estávamos criando uma subdivisão dentro da biomecânica, que chamamos de mecânica do exercí- cio (Exerciseeducation.com) e definimos como: MECâNICA DO ExERCíCIO A mecânica do exercício é a análise da mecânica articular, da mecânica muscular e da mecânica da resistência, assim como o estudo dos conceitos e das aplicações avançadas sobre a mecânica das cadeias e sobre a mecânica dos sistemas de elos integrados (Linkage System), e também a análise de suas respos- tas, como as forças articulares em exercícios especí- ficos e como todas estas realidades são alteradas pela influência mecânica da intenção. A mecânica do exercício é usada para analisar exercícios tradicionais e populares e também para criar ou modificar diferentes exercícios para indi- víduos/clientes/pacientes em pontos específicos da progressão. MECâNICA versus CONDIÇõES Poderíamos dizer que mecânica do exercício é o COMO. É como construir um exercício em uma estrutura, com movimentos e forças específicas. Uma vez que o exercício esteja construído, é necessário A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 31 definir as condições em que ele vai acontecer: quan- tas vezes, quão frequente e, o que é raramente defi- nido, quão difícil ou quão intenso. Estes fatores são considerados as condições sob as quais a mecânica do exercício é executada, que normalmente estudamos na fisiologia. A ESSêNCIA DO ExERCíCIO é A MECâNICA DO ExERCíCIO Mecânica não pode ser definidacomo uma teo- ria ou opinião. Ela é uma área da Física convencional e interdependente da Matemática. Não há pareceres em Matemática. Ambas são ciências exatas. No en- tanto, como nesse caso a mecânica é aplicada ao cor- po e ao exercício, estamos limitados pela quantidade de informações disponibilizadas, pela capacidade de interpretar e aplicar essas informações, pela capaci- dade mental humana e pessoal, pela audição e viés seletivo e também pela nossa compreensão sobre o corpo humano que vem, principalmente, das nossas limitações no poder da observação. “A MECâNICA DO ExERCíCIO NOS MOSTRA AS VERDADES INVISíVEIS SOBRE OS ExERCíCIOS” Muitos experts encontram desafios com a aplica- ção da biomecânica. Eles têm dificuldade com o con- ceito de aplicar princípios conhecidos da física e da engenharia para o corpo sem que primeiro alguém tenha demonstrado por meio do método científico “clássico”. Porém, o tipo de investigação clássico re- quer muitos indivíduos em estudos extensos, a fim de detectar estatisticamente uma tendência ou verdade. Esse é o método científico exigido na fisiologia, que é uma ciência praticamente impossível de ser observa- da diretamente. Se entendermos o corpo humano como uma má- quina de engenharia, verificaremos que nem sempre é necessário utilizar o método científico clássico para encontarmos a verdade. Quando engenheiros estabe- lecem os cabos de aço em uma ponte, eles não têm que construir trinta pontes para ver qual vai funcio- nar, porque a resistência dos materias já foi calculada, assim como o efeito das forças que serão aplicadas. Se eles possuem todos os dados necessários, constroem uma ponte que vai durar séculos. Isso porque utili- zam muitos fatores conhecidos e calculáveis. Quando utilizamos duas ciências juntas, a física e a fisiologia, haverá sempre áreas sujeitas a especulação e teoriza- ção. Porque a física é uma ciência exata sendo aplica- da na fisiologia, que é uma ciência inexata. Entretanto, a história da medicina ortopédica é inteiramente baseada em evidências repetitivamente documentadas e validadas, indicando que, quando uma entidade física está sujeita a forças que excedem a magnitude, a resistência, a tolerância e a capacida- de dos materiais e das estruturas, o detrimento e a degeneração (inflamação, disfunção ou falha) serão consequência. A mecânica do exercício nos mostra as verdades invisíveis sobre tantas variáveis que podem aumentar exponencialmente as forças nas articulações, como, por exemplo, a taxa de aceleração e de desaceleração e tam- bém a distância entre o posicionamento da carga e a articulação. E assim ela nos dá subsídios para fazermos melhores escolhas para nossos clientes-pacientes, para preservar a longevidade das articulações e, ao mesmo tempo, gerar estímulo para alcançar adaptações positi- vas e para manter a saúde articular e muscular. BIOMECâNICA TRADICIONAL versus MECâNICA DO ExERCíCIO A maioria dos cursos de Biomecânica é voltada aos esportes e ao movimento humano bruto (bruto significa movimento humano total, sem dedução). Porém, vamos estudar uma subdivisão da biomecâ- nica e focar no estudo da mecânica das articulações e da mecânica muscular, específicas para um exercício, • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia32 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli I N T R O D U Ç Ã O porque a integridade do movimento bruto é deter- minada pelas limitações e funções das articulações individuais dentro de um sistema em cadeia. Inver- samente, a estrutura e a função de cada articulação individual é baseada no seu papel dentro do movi- mento bruto sob as forças aplicadas. Os cursos superiores dentro da área da saúde normalmente ensinam a mecânica do movimento humano em termos de funções articulares indivi- duais e movimentos globais comuns, como a marcha. Estes estudos são normalmente baseados em estrutu- ras esqueléticas genéricas e não específicas. BM Fig. 7. Neste exemplo, a direção da resistên- cia altera a participação muscular e o torque tanto para o cotovelo quanto para o ombro. Aqui, o torque para o cotovelo exige a par- ticipação da musculatura anterior do coto- velo, os flexores, para realizar a extensão do cotovelo excentricamente. Já na indústria do exercício, a “biomecânica do exercício” normalmente significa estudar e determi- nar “as técnicas tradicionais de execução dos exercí- cios”. Ela raramente envolve as forças, a função ar- ticular, a função neuromuscular e a progressão que são, na verdade, os fatores determinantes do exercí- cio. Além disso, a maneira tradicional de analisar um exercício gera uma visão muito restrita, sem muito espaço para a criação e modificação individual. A importância de diferenciarmos a mecânica do movimento humano x biomecânica x mecânica do exercício é que, quando colocamos um peso em nos- sa mão, TUDO MUDA, tudo se torna específico para aquele cenário mecânico específico. Por exemplo, o ritmo escápulo-umeral muda de acordo com o aumento da resistência e com as alte- rações na direção da resistência, a participação mus- cular muda de acordo com a direção da resistência. “QUANDO VOCê COLOCA UM PESO EM SUA MÃO, TUDO MUDA!” A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 33 O PROFISSIONAL DO ExERCíCIO I N T R O D U Ç Ã O O que é necessário para que o fisioterapeuta te-nha sucesso com a prescrição do exercício? Quais são as ferramentas e as matérias-pri- mas com as quais você trabalha? O que você real- mente oferece com o exercício? Você está envolvido no processo de criação e execução do exercício que prescreve? Você consegue transferir o conhecimento teórico para a prática clínica? Para que o fisioterapeuta tenha sucesso e a fisio- terapia ganhe maior relevância diante da população na área da prescrição clínica do exercício, é necessá- rio que haja uma evolução profissional, deixando as modas e tradições de lado e trazendo o verdadeiro raciocínio crítico para fazer parte do cenário da prá- tica profissional. Exercício prescrito por fisiotera- peuta não é moda, é resultado! Independentemente da ferramenta que o fisiote- rapeuta utilize, seja ela máquina de musculação, má- quina de pilates, pesos livres, thera-bands ou cabos, a prescrição do exercício necessita ser diferenciada no aspecto clínico e ético profissional. Fig. 8. Esses três círculos representam o que deve- mos ser como verdadeiros profissionais dentro da prescrição do exercício. Utilizamos o termo pro- fissional do exercício porque, como fisioterapeu- tas, prescrevemos exercícios e nosso propósito aqui é ajudá-lo a melhorar sua habilidade de entender, prescrever e ensinar. Então, vamos pensar, vamos estudar e elevar nosso nível profissional, cons- truindo um mercado novo com muito sucesso. Fig. 9. CONHECIMENTO CONHECIMENTO O primeiro elo é sobre o que você sabe, o seu conhecimento, aquilo que estudou sobre o assunto “exercício” (envolvendo todas as matérias básicas, como Anatomia, Biomecânica, Cinesiologia etc.) e sobre como aplicar este conhecimento. O aprendiza- do envolve enxergar aquilo que está sendo ensinado. Aprendizado compreende ser capaz de entender os conceitos antigos, conseguir enxergar o novo e ain- da fazer a conexão correta entre os dois. “Diferença entre uma pessoa guiada por princí- pios e uma pessoa guiada por tendências: aque- la guiada por princípios resistirá a seus aliados e apoiará seus adversários se a verdade e a moral exigirem. Uma pessoa que é levada por tendên- cias vai para a guerra mesmo contra a verda- de, a fim de defender a identidade do grupo.” ditado popular Existem dois problemas relacionados ao conhe- cimento: o primeiro são os chavões, pequenas frases ou palavras que soam de formainteligente e são óti- mas frases de marketing porque ficam gravadas em nossas cabeças, mas isto não é ciência. Chavões não são completamente corretos, mas carregam um pe- A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 35 queno traço de verdade, normalmente aplicável em algum cenário específico que provavelmente foi per- petuado, tornando-se um conhecimento genérico. Não usaremos chavões porque não são considerados “educação”. Com os chavões, vem o segundo proble- ma: eles se tornam o chavão de um grupo inteiro de pessoas ou de todos que participam de um método e acabam por limitar a possibilidade do real aprendi- zado. Quando os participantes de um grupo escutam uma colocação ou uma frase cujo conceito não é igual ao que eles aprenderam, automaticamente existe uma rejeição sem uma real avaliação. Isso faz com que es- ses chavões tornem-se regras genéricas do exercício e se perpetuem por décadas. Quando, durante o processo educacional, não se objetiva o pensamento crítico, mas somente a apro- vação, quando basta saber o mínimo necessário para resolver um problema teórico, nos tornamos profis- sionais restritos, pois, ao restringir o pensamento crí- tico, não desenvolvemos subsídios para resolver pro- blemas na prática. Não existe como ser profissional da saúde com informação memorizada. Cada pacien- te apresenta individualidades que não se encaixam na regra geral e, como profissionais, precisamos enten- der os princípios que regem o exercício para sermos capazes de adaptar cada exercício de maneira segura e eficaz para cada cliente-paciente. Na prática clínica, as respostas não são tão sim- ples e o que é aplicável em um cenário não é aplicável em outro. Podemos usar como exemplo aqui a regra “universal” do agachamento, que diz que o “joelho não deve passar à frente do dedão do pé”. Esta é a regra! Mas por que o joelho não deve ultrapassar a frente do dedão do pé durante o agachamento? Se sua resposta for igual a de um consumidor: “porque faz mal para o joelho”, então temos um sério problema. Você certamente usa um computador. Por acaso, você precisa saber como a informação é traduzida e criptografada na linguagem de um sistema informáti- co? Provavelmente não, porque você é um usuário e não um profissional de Tecnologia de Informação. O profisisonal de TI precisa saber de programação, de- senvolvimento de software e de hardware para poder construir computadores e programas para que possa- mos usá-los com maior eficiência. Nós, como profis- sionais de fisioterapia, precisamos saber tudo o que é neccessário para criarmos e manipularmos o exercício para cada indivíduo, pois não somos consumidores de exercícios e sim profissionais do exercício. Então, aprender “exercícios” é algo para o consumidor, copiar “exercícios” também, já o profissional aprende sobre forças e estrutura para poder criar qualquer exercício. Se você participa de cursos para aprender coreografia de exercícios, é a mesma coisa que um consumidor de computador fazer um curso para usar o Windows Offi- ce ou um novo programa. Porém, você, fisioterapeuta, é o programador! Você é o criador de exercícios! Quando nosso cliente-paciente nos pergunta por que o joelho não deve passar à frente do dedão do pé, a resposta para ele deve ser em nível de consumidor. Porém, como profissionais e experts na prescrição do exercício, precisamos saber a razão da regra, a ciência e todos os detalhes envolvidos por trás desse chavão. Precisamos saber distinguir entre o que é a verda- deira ciência do que é mito, do que é moda e do que é tradição. Como fisioterapeuta, você precisa saber usar toda a sua educação profissional para analisar qualquer técnica, método ou novo exercício, todos pelo ponto de vista da mecânica. Você, somente com seu conhecimen- to, deve conseguir decifrar o que está acontecendo em cada exercício ou método que é lançado no mercado. Se hoje você ainda não consegue fazer isso, este livro e este processo educacional têm o objetivo de te ajudar. Por exemplo, é essencial saber o que é cisa- lhamento e quando, como e por que ele precisa ser considerado, em vez de apenas repetirmos: “cisalha- mento faz mal” ou, ainda, “a cadeira extensora tem muito cisalhamento e por isso é ruim”. Chavões como esses carregam o potencial de serem repetidos sem compreensão e, por isso, concluímos algo que não é • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia36 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli I N T R O D U Ç Ã O verdade, pois a cadeira extensora não faz mal e ofe- rece a mesma quantidade de cisalhamento que o aga- chamento, porém em posições articulares diferentes (JOSPT, 1992). Como profissionais, também precisamos ter uma visão de “Terra redonda” no mundo da teoria da “Ter- ra quadrada” quando prescrevemos um exercício. Exercício não é movimento e não devemos ser distraí- dos pelo movimento; exercício também não é deter- minado pela sensação que ele gera, porque a sensação é enganosa e vai nos atrapalhar. A única regra que exis- te para o exercício são as forças e a estrutura. Este não é um livro técnico de biomecânica ou de anatomia. Nós utilizaremos os conhecimentos fundamentais da fisioterapia, acrescentaremos a me- cânica do exercício e apresentaremos como eles se relacionam e são colocados em prática para a pres- crição de exercícios. Fig. 10. PRÁTICA PRÁTICA O segundo elo é a prática, é sobre o que fazer e sobre o que prescrever. Seria de esperar que quanto maior o conhecimento, maior seria sua aplicabili- dade nos exercícios, mas não é isso o que acontece. Normalmente, os exercícios que prescrevemos e que nós mesmos fazemos já foram predeterminados, co- reografados e protocolados. A educação representa 50% do conhecimento e a experiência, os outros 50%. Experiência não significa repetir a mesma coisa que se aprendeu na faculdade por 20 anos, significa passar 20 anos questionando, adaptando e evoluindo o que se aprendeu, aprenden- do com seus erros e seus acertos e modificando sem- pre que possível. Isso é experiência! A ciência da prescrição do exercício foi historica- mente saturada pela influência dos esportes e do trei- namento desportivo. Porém, quando transferimos este conhecimento para a prescrição do exercício visando à saúde, esta ciência nem sempre se aplica. É muito im- portante conseguirmos distinguir a origem e a fonte onde estamos baseando nossa prática profissional. Temos a necessidade de eliminar o exercício prede- terminado, no piloto automático, os protocolos e a coreo- grafia. Para isso, precisamos começar a customizar verda- deiramente o exercício. A customização significa muito mais do que a inversão da ordem dos exercícios que pres- crevemos. Vamos criar exercícios novos para cada clien- te-paciente e mudá-los em cada sessão. Isso é uma arte, é a arte da fisioterapia, a arte da criação do exercício. Dessa forma, nosso trabalho nunca mais será monótono. Fig. 11. DELIVERy DeLIverY O terceiro elo tem o maior peso na influência do nosso sucesso. É como ensinar o exercício. Aqui te- mos maior potencial de melhorar nosso rendimento, pois demostra o nosso envolvimento com todo o pro- cesso do cliente-paciente. Ser tecnicamente excelente e qualificado não é A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 37 o suficiente para ter sucesso profissional. Saber apre- sentar-se e posicionar-se profissionalmente também são qualidades imprescindíveis. Quando o profissional atende um cliente-paciente por 1 hora, ele tem 60 minutos para aplicar todo o seu conhecimento e a sua prática para ajudar cada clien- te-paciente individualmente a alcançar seus objetivos. Cada sessão para cada cliente deve deter 100% da aten- ção do fisioterapeuta.A sessão de exercício de 1 hora significa 3.600 segundos de atenção a todos os detalhes que acontecem na execução de cada exercício. Ao ensinarmos os exercícios aos nossos clientes-pa- cientes, precisamos estar preparados para dar dicas de ensino que realmente ajudem-no a ter mais facilidade de execução e de maneira correta. Para isso, a sua atenção e o seu ensinamento serão imprescindíveis a cada segundo. Para customizar um exercício que seja específico para cada cliente-paciente, precisamos basear nossas decisões nas regras da física e na estrutura individual. Temos uma ideia de como um exercício deve ser exe- cutado e de como ele deve parecer externamente, en- tão ensinamos ao cliente-paciente claramente e com uma linguagem que ele possa entender. Durante cada repetição, precisamos comparar o que está aconte- cendo em cada articulação com o que esperávamos que acontecesse. A partir desse momento, inicia-se um processo contínuo de perguntas na mente do profissional, um monólogo interno, para termos as perguntas certas a serem respondidas, as quais ajudam o profissional sa- ber como intervir. Por meio de feedback, vamos tam- bém criar um monólogo interno no cliente-paciente para que ele se envolva no processo do exercício que estará fazendo. Vamos estar presentes durante cada fração de segundo da execução do exercício com o cliente, para entender o que está acontecendo e, prin- cipalmente, interferir na hora certa com dicas ver- bais ou estímulo tátil quando necessário – ambos são progressivos e têm o objetivo de modificar o que está acontecendo durante um exercício. Fig. 12. Ilustração inspirada na “A Criação de Adão”, obra de Michelangelo (Capela Sistina – Vaticano). • A Evolução dA PrEscrição clínicA do ExErcício | A Identidade da Fisioterapia38 Thomas C. Purvis & mariane F. maluCelli I N T R O D U Ç Ã O As dicas verbais precisam ser eficientes para aju- dar na realização do exercício e precisam ser curtas, precisas e individuais. “Não deixe o joelho passar à frente do dedão do pé” ou “traga a barra até o peito” são informações genéricas e não ajudam o cliente-paciente a se localizar de dentro para fora do corpo, para poder modificar o que está acontecendo. Aqui, fica evidente que aqueles profissionais que praticam o exercício fre- quentemente e exploram cada repetição com cautela terão mais experiência para ensinar seus clientes como se estivessem fazendo cada repetição com ele. A comunicação deve ser uma tarefa agradável, mas voltada ao objetivo, não devendo ser terapia, drama ou entretenimento. Seu foco deve ser 100% no cliente: ob- serve, pergunte, ouça (feedback), modifique, reforce. VALOR PROFISSIONAL O que faz uma sessão de exercício custar R$ 300 ou R$ 100? 1 2 3 4 5 Fig. 13. A pintura por números é uma repre- sentação da prescrição de exercícios feita por programas e protocolos, pela qual o profissio- nal prescreve exercícios copiados, deixando o foco principal no exercício e não na estrutura individual. Exercício é exercício e não deveria existir tanta di- ferença. Essa diferença de valor está na customização, no resultado e em como o exercício é ensinado mesmo usando as mesmas ferramentas. E não existe como me- morizar informações para que a customização aconte- ça; não tem como memorizar informação para que a sessão passe a valer R$ 300. É preciso realmente desen- volver um raciocínio crítico, aprender os princípios e aplicá-los em cada segundo da sessão. Para a customi- zação do exercício, os números não são aplicáveis. Os números de séries e repetições, os números do tempo na esteira, não se aplicam dentro da customização do exercício, os parâmetros para intervenção e progressão são somente a estrutura e função do cliente-paciente e não é ditada por protocolos. A diferença entre Michelangelo e um artista que pinta seguindo números não é o número de cores dis- poníveis, o pincel usado ou a tela. É a habilidade com que se usa as ferramentas e a manipulação das variá- veis. Quais são as variáveis do exercício? O que com- preende um exercício? E quem é o responsável pela resistência? Se o profissional for um “Michelangelo”, será o responsável por criar, com o exercício, uma arte linda e diferente para cada indivíduo, mas, por outro lado, se “pintar seguindo números”, estará somente co- piando exercícios criados por outro artista. Normalmente, a maioria dos profissionais só prescrevem exercícios que viram alguém fazer ou que aprenderam com alguém. Porém, quando entendemos de forças e de estrutura, começamos a criar exercícios novos e diferentes para cada cliente-paciente, e esta é a melhor maneira de aumentar o valor profissional, porque vai melhorar os resultados com menos custo e/ou desgaste. É neste momento que tomamos nossas próprias decisões e nos tornamos “Michelangelos”. Como fisioterapeutas, temos o desejo de ajudar as pessoas, ajudá-las no processo da restauração, de- senvolvimento e conservação da função e a alcan- çarem melhores níveis de saúde. Acredito que você deseja ser um profissional digno e bem-sucedido, e a A Evolução da Prescrição Clínica do Exercício | A IdentIdAde dA FIsIoterApIA • 39 remuneração profissional tem um papel importante em trazer dignidade. Porém, esta remuneração está sempre vinculada ao valor percebido pelo serviço prestado. Para sermos mais valorizados, precisamos oferecer mais. Nossa valorização não vem do Conse- lho Federal, nem do diploma que conquistamos, ela vem do nível de serviço que oferecemos e dos resulta- dos que alcançamos. Com a possibilidade de crescermos na profissão em uma área ainda não muito explorada, precisamos nos diferenciar. Qualquer consultor de marketing vai dizer isso. Hoje vivemos um momento muito propício para essa diferenciação que pode ser oferecida por fisiotera- peutas e devemos nos posicionar no mercado oferecen- do o exercício com um “sabor” muito diferente daquele oferecido até hoje. Existe uma necessidade de profissio- nais que ofereçam este diferencial para a população que necessita, para aqueles 90% da população já citados no capítulo anterior. Podemos diferenciar preços e locais de trabalho. Porém, o que mais vai nos destacar no merca- do é a customização e o atendimento que oferecemos. Por isso, não tenha medo de ser diferente. Fig. 14. CLIENTE/PACIENTE CLIENTE-PACIENTE Na área de sobreposição dos anéis encontra-se a peça mais importante, isto é, o cliente. Tudo deve ser baseado no cliente-paciente! Os exercícios não devem ser fundamentados nas crenças ou nas preferências do profissional. Exercícios baseados no cliente envol- vem saber quanto de amplitude ele deve mover, qual a aparência da postura, o que o cliente tem disponível em cada articulação, o que isso significa e como este exercício deve se parecer. Não podemos usar em um exercício algo que o cliente-paciente não tem. Isso pode parecer óbvio, mas, na prática, se uti- lizarmos as regras do exercício como fundamento, muitas vezes ultrapassamos o limite que o cliente-pa- ciente tem para ser usado. Se o cliente-paciente tenta trabalhar com mais amplitude do que ele tem con- trole, precisamos intervir e iniciar o exercício dentro de uma amplitude que ele possa controlar e, a partir deste ponto, começar a progredir. A população já tem uma opinião predetermina- da de como o exercício “se parece” e o “sabor” que ele tem. Por exemplo, “a primeira vez que você fizer exercício sentirá dor”. Isso não precisa ser verdade se prescrevermos exercício usando a tolerância in- dividual como balizamento e trabalharmos dentro do nível que o cliente-paciente está acostumado. Se estiver acostumado com zero, iniciar com dez é mui- to, independentemente do seu objetivo. É necessário construirmos a base e este processo é lento. Porém, se
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