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REVISÃO DE LITERATURA Odonto 2011; 19 (37): 63-72 63 Estudo da anatomia interna dos pré-molares – Revisão de literatura The root and root canal morphology of the human premolar: a literature review RESUMO Introdução: com a intenção de reforçar a estreita relação existente entre o conhecimento da anatomia interna e a obtenção do sucesso no tratamento endodôntico, são relatadas aqui características da anatomia interna presentes no grupo dental dos pré-molares. Revisão de literatura: as alterações morfológicas quando desconsideradas podem dificultar a terapia endodôntica. A resolução de casos com anatomia incomum exige consequentemente, mudanças no método de diagnóstico, assim como no tratamento. Conclusão: a identificação, e, portanto, o tratamento satisfatório de raízes e canais diferenciados, diminui a persistência dos sinais e sintomas, reduzindo, assim as possíveis causas de um retratamento. Palavras-chave: Anatomia; Endodontia; Pré-molar. ABSTRACT Introduction: intended to illustrate and reinforce the close link between knowledge of internal anatomy and the achievement of success in endodontic treatment, are reported here characteristic of the internal anatomy in the dental group of premolars. Literature review: the morphological changes when discarded can complicate the endodontic therapy. The resolution of cases with unusual anatomy requires, therefore, changes in the method of diagnosis, and treatment. Conclusion: the identification and, therefore, the satisfactory treatment of roots and different canals, reduces the persistence of signs and symptoms, reducing thus, the possible causes of a retreatment. Keywords: Anatomy; Endodontics; Premolar. Cecília Peixoto Portela* Flares Baratto Filho** Flávia Sens Fagundes Tomazinho** Gisele Maria Correr** Alexandre Moro** Ricardo César Moresca** *CD, Aluna do Mestrado em Odontologia – Faculdade de Odontologia, Universidade Positivo, Curitiba. **CD, Ms, Dr, Professor, Faculdade de Odontologia, Universidade Positivo, Curitiba. Endereço para correspondência Cecília Peixoto Portela Rua Belém, 322 –ap.602 Cabral – Curitiba – PR – CEP 80035-170 E-mail: cissa_portela@hotmail.com Enviado: 20/10/2010 Aceito: 07/12/2010 Portela et al. Odonto 2011; 19 (37): 63-72 64 INTRODUÇÃO O tratamento endodôntico tem por objetivo a sanificação dos canais radiculares por meio do preparo biomecânico, que consiste na limpeza dos canais radiculares utilizando instrumentos e soluções irrigadoras. Esta condição é mantida por meio da adequada obturação do sistema de canais radiculares. Para se atingir esse objetivo é de fundamental importância o conhecimento da anatomia interna radicular, para que todos os canais radiculares presentes sejam localizados e devidamente tratados. Os canais radiculares podem apresentar variações quanto ao número, mostrando ramificações e fusões, quanto à direção relativa, quanto ao aspecto, quanto ao calibre, à secção e à acessibilidade. Uma boa radiografia inicial é essencial para identificar a anatomia radicular do dente a ser tratado e definir um plano de tratamento. Entretanto, radiografias complementares com variações na angulação horizontal poderão aclarar melhor a condição anatômica. Radiografias bem realizadas mostram uma imagem bidimensional de um objeto tridimensional. Uma precisa interpretação pode revelar detalhes externos e anatômicos, os quais podem sugerir a presença de canais ou de raízes extras1. Portanto, um estreitamento abrupto ou a perda de radiolucidez do canal radicular, pode levar a suspeita de um canal extra, seja na mesma raiz ou em outra raiz independente2. Com a evolução da Endodontia, muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas para melhor conhecimento da topografia do sistema de canais radiculares. Novos recursos estão ao alcance do cirurgião-dentista, como a tomografia computadorizada e o microscópio operatório, acrescentando assim, as possibilidades de se desvendar os mistérios da anatomia interna dos dentes, que quando não solucionados, podem causar grandes destruições ao órgão dental e até o seu total comprometimento3. Desta forma, o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão da literatura sobre a anatomia interna dos pré-molares superiores e inferiores, com ênfase nas variações anatômicas possíveis de serem encontradas, e, os recursos disponíveis para auxiliar no diagnóstico e visualização. REVISÃO DE LITERATURA Pré-molares superiores Apresentando comumente duas raízes, o primeiro pré-molar superior é um dente intermediário entre o canino e o molar. Seus orifícios do canal situam-se abaixo e em uma direção ligeiramente central em relação às pontas das cúspides. As variações radiculares consistem em raízes fusionadas com canais separados, raízes fusionadas com ligações ou “entrelaçamentos”, raízes fusionadas com um forame apical comum, e eventualmente, dentes com três raízes ou duas raízes com três canais. Semelhante ao primeiro pré-molar na morfologia coronária, o segundo pré- molar superior difere principalmente no formato da raiz. A morfologia radicular pode apresentar dois canais separados, dois canais em anastomose com um canal único, ou dois canais com ligações ou “entrelaçamentos”. Canais acessórios e laterais podem estar presentes, mas com menos frequência. Estudo da anatomia interna dos pré-molares – Revisão de literatura Odonto 2011; 19 (37): 63-72 65 Vertucci et al.4 constataram que 75% dos segundos pré-molares superiores estudados apresentavam um único forame, 24% possuíam dois forames, e 1% três forames. De todos os dentes estudados 59,9% possuíam canais adicionais. Esses pesquisadores também relataram que, quando dois canais se unem em um, o canal palatino frequentemente apresenta uma linha direta de acesso ao ápice. Os pré-molares superiores apresentam uma anatomia complexa, no que diz respeito a variações em número de raízes e na configuração interna. A frequência da presença de três raízes tem sido demonstrada na literatura, com índices que variam de 1 a 5%. Pécora et al.5, estudando primeiros pré-molares superiores, encontraram frequência de 2,5%. Os dados mais significativos ficam por conta de Vertucci & Gegauff6, que analisaram 400 primeiros pré-molares superiores, e Oliveira7, cuja análise foi feita em 5.210 dentes. De acordo com os primeiros, 5% dos dentes estudados tinham 3 raízes, e geralmente com um canal em cada raiz, e de acordo com o segundo, com a mais significante amostragem, este índice foi de 3,7%. Vertucci8, em estudo da morfologia interna de 400 primeiros pré-molares superiores, encontrou 49,5% com canais laterais, sendo que a principal localização destes canais seria na porção apical. Ainda neste estudo encontrou 34,2% com anastomoses transversas entre os canais, sendo mais encontrada na porção média dos canais. E em relação aos forames principais relata serem mais encontrados em sua parede lateral da raiz. Ainda no mesmo estudo, o autor8 analisou 200 segundos pré- molares superiores, encontrando 59,5% com canais laterais, frequentemente na porção apical, e 30,8% com anastomoses transversas entre os canais, com posição mais presente na porção média e forames principais mais encontrados na parede lateral da raiz. O autor ainda relata que podem ser encontrados 8 tipos de morfologia interna dos canais, sendo: Tipo I: um canal e um forame; Tipo II: dois canais que se unem na porção média terminando em um forame; Tipo III: um canal que se transforma em dois na porção média e em apical termina em apenas um forame; Tipo IV: dois canais que terminam em dois forames;Tipo V: um canal que se bifurca terminando em dois forames distintos; Tipo VI: dois canais que se unem na porção média e voltam a se bifurcar, terminando em dois forames; Tipo VII: um canal que se bifurca, voltando a se unir, após terminando em dois forames; Tipo VIII: três canais e três forames. Dos 400 primeiros pré-molares superiores pesquisados, a morfologia mais encontrada foi a de Tipo IV (62%), ou seja, dois canais que terminam em dois forames. Foram encontrados também, em relação aos outros tipos de configuração os seguintes dados: Tipo I, 8%, Tipo II, 18%, Tipo V, 7%, Tipo VIII, 5%, os Tipos III, VI e VII não foram encontrados. Dos 200 segundo pré-molares superiores, a morfologia mais encontrada foi a de Tipo I (48%), ou seja, um canal e um forame. Foram encontrados também, em relação aos outros tipos de configuração os seguintes dados: Tipo II, 22%, Tipo III, 5%, Tipo IV, 11%, Tipo V, 6%, Tipos VI, 5%, Tipo VII, 2% e Tipo VIII, 1%. Pécora et al.9 investigaram a anatomia externa e interna de 240 primeiros pré- molares superiores extraídos, pelo método de descalcificação e diafanização dos dentes. Um total de 55,8% dos dentes apresentou uma única raiz, enquanto 41,7% apresentaram duas raízes e 2,5% apresentaram três raízes. Quanto ao número de canais radiculares: 6,2% com um canal, 80,4% apresentavam dois canais e apenas 2,5% três canais. Nahmias & Rampado10 relataram o tratamento endodôntico de uma anomalia de primeiro pré-molar superior, com três coroas unidas por meio de germinação, Portela et al. Odonto 2011; 19 (37): 63-72 66 apresentando dois canais na raiz da coroa mesial, um na raiz da coroa palatal e um na raiz da coroa distal. Soares & Leonardo2 relataram um caso de um primeiro e um segundo pré- molar superior com três raízes, sendo, uma mésio-vestibular, uma disto-vestibular e uma palatina. Ainda sugerem que a perda de radiolucência na continuidade do canal, pode ser um chamado para a presença de outro ou outros canais presentes. Michelotto et al.11 e Maryam et al.12 relataram casos clínicos de primeiros pré- molares superiores com três raízes, e, descrevem a complexidade anatômica desses, que requerem um tratamento endodôntico bem planejado e executado, com máxima atenção durante a localização e instrumentação dos canais radiculares, que são etapas do tratamento que oferecem maiores dificuldades. Tomazinho et al.13 avaliaram dois casos clínicos, um primeiro pré-molar direito e um primeiro pré-molar esquerdo superiores, além de um primeiro pré-molar superior extraído, apresentando três raízes e três canais; e concluíram que a presença de três canais nos pré-molares superiores aumenta a dificuldade de realizar o tratamento endodôntico nesse grupo dental, e que para que o tratamento seja possível, é fundamental que se faça o diagnóstico radiográfico e se modifique a abertura endodôntica para a forma triangular. Barros et al.14 mostram quatro casos de segundos pré-molares superiores com três raízes e seu tratamento endodôntico, ressaltam que o tratamento fica similar ao tratamento de um molar superior, notando-se que a coroa do pré-molar em casos como estes, se apresentará com maior largura mésio-distal. Pré-molares inferiores Os pré-molares inferiores apresentam normalmente, uma única raiz cônica ou levemente achatada no sentido mésio-distal, apresentando um canal único, amplo e retilíneo. Mas variações anatômicas, como o aparecimento de mais de uma raiz, ou canal radicular também podem ser encontradas. Muitas vezes considerado um enigma para o endodontista, o primeiro pré- molar inferior com canais duplos que se dividem em vários níveis da raiz pode gerar problemas mecânicos complexos. Vertucci et al.4 relataram que o segundo pré-molar inferior possui apenas um único canal radicular no ápice em 97,5% dos dentes estudados, dois canais em apenas 2,5%, e três canais com uma menor prevalência. A frequência de três canais em segundos pré-molares inferiores, segundo os autores é de 0 a 0,4%, confirmando como uma anatomia rara. Também relatam haverem diferenças entre as raças, sendo que em uma população multirracial, a presença de mais de um canal é maior em negros 32,8% do que em brancos 13,7%. Vertucci & Gegauff6 revelaram que o primeiro pré-molar inferior possuía um canal no ápice em 74% dos elementos estudados, dois canais no ápice em 25,4%, e três canais nos 0,5% restantes. Em relação ao segundo pré-molar inferior a pesquisa revelou que havia um canal no ápice em 97,5% e dois canais no ápice em somente 2,5% dos dentes estudados. Vertucci8 em estudo da morfologia interna de 400 primeiros pré-molares inferiores encontrou 44,3% com canais laterais, sendo que a principal localização destes canais seria na porção apical. Ainda neste estudo encontrou 32,1% com anastomoses transversas entre os canais, sendo mais encontrada na porção média dos canais. Em Estudo da anatomia interna dos pré-molares – Revisão de literatura Odonto 2011; 19 (37): 63-72 67 relação aos forames principais o autor relatou serem mais encontrados em sua parede lateral da raiz. Ainda no mesmo estudo, quando se analisou 400 segundos pré-molares inferiores, encontrou-se 48,3% com canais laterais, sendo mais encontrados na porção apical, sendo 30% com anastomoses transversas entre os canais, com posição mais presente na porção média e forames principais mais encontrados em sua parede lateral da raiz. Em relação aos tipos de configuração, foram encontrados os seguintes resultados: Tipo I, 70%, Tipo III, 4%, Tipo IV, 1,5%, Tipo V, 24% e Tipo VIII, 0,5%, os Tipos II, VI e VII não foram encontrados. Já em relação aos segundos pré-molares inferiores; os dados achados foram: Tipo I, 97,5%, Tipo V, 2,5%, os demais tipos não foram encontrados. Trope et al.15 encontraram significativas diferenças étnicas em seu estudo de pré-molares inferiores comparando pacientes negros e brancos em relação à número de raízes e canais. A incidência de dois ou mais canais em pacientes negros foi de 32,8% enquanto nos brancos foi de 13,7%. A proporção de duas raízes em pacientes negros foi de 16,2% e de 5,5% em brancos. A anatomia do sistema de canais do segundo pré-molar inferior com pluralidade nos canais, aparece em casos clínicos publicados, em estudo de Chan et al.16 com três canais, quatro canais em Holzaman17 e Rhodes18, e, cinco canais em Macri & Zmener19; sendo que todos os autores entram em consenso em relatar que quando existem mais de dois canais, o terceiro, o quarto e o quinto canal se encontram na secção média da raiz. Macri & Zmener19 descreveram um caso de um segundo pré-molar inferior com cinco canais. Após cuidadosa inspeção quatro canais foram encontrados: um mesiobucal, um distobucal, um lingual (maior canal), e um situado mais mesiolingualmente em relação à posição do dente. E, surpreendemente, um quinto canal foi localizado distobucalmente na cavidade pulpar. Al-Fouzan20 descreve a importância do uso da microscopia no auxílio da localização dos canais de um segundo pré-molar inferior com quatro canais; dois canais em uma raiz mesial e dois canais em uma raiz distal. Rödig & Hülsmann21 demostraram um tratamento endodôntico de um segundo pré-molar inferior com três raízes e três canais, ressaltando a importância de um minucioso exame clínico e radiográfico para a sua resolução. Vier et al.22 avaliaram o número de canais radiculares em primeiro pré-molares inferiores por meio do exame radiográfico e da diafanização, procurando correlacionar o achado com a ausência ou presença de sulco longitudional radicular. Os resultados obtidos permitiram afirmar que a presença de sulco longitudional radicular e sua profundidade influenciaram gradativamente no aumento do número de canais em primeiros pré-molaresinferiores. De Moor & Calberson23 relataram um caso de um segundo pré-molar inferior com três canais, sendo que estes se formavam a nível apical, em cerca de 20 milímetros do ponto de referência oclusal, ressaltando também a importância do uso de microscopia clínica em casos como este. Nallapati24, em relato de caso clínico, afirma que os pré-molares inferiores apresentam muitas vezes uma aberração em sua anatomia radicular e interna, e, em seu relato apresenta um primeiro pré-molar inferior e um segundo pré-molar inferior com três canais. Comenta também que se faz necessário técnicas especiais de preparo e de obturação para resolução destes casos. Almeida-Gomes et al.25 descrevem anatomias internas que diferem da normalidade de dois pré-molares inferiores, o primeiro caso, se tratava de um segundo pré-molar com um canal recorrente, e o segundo caso, apresentava uma ramificação Portela et al. Odonto 2011; 19 (37): 63-72 68 em nível apical formando dois canais distintos e um acessório. Bernardino Júnior et al.26, relatando um caso clinico de um pré-molar inferior com três raízes, descreveram sua anatomia como sendo rara, e expuseram a falta de dados estatísticos e bibliográficos convergentes quanto a possibilidade de um primeiro pré-molar vir a ser tri-radiculado. Da mesma forma, Tzanetakis & Kontakiotis27 apresentaram um caso raro de um segundo pré-molar inferior com quatro canais distintos e ressalta a importância do uso de microscópio em casos como esse. Farmakis28 descreve um caso de um segundo pré-molar inferior que iniciava a sua raiz com um único canal, mas ao chegar ao terço apical quatro raízes distintas se formavam. Sachdeva et al.1 relataram um raro caso de um segundo pré-molar inferior esquerdo com quatro raízes e quatro canais no qual o uso da tomografia computadorizada ajudou na confirmação do diagnóstico. Cleghorn et al.29 descrevem em seu trabalho a anatomia interna de dois pré-molares extraídos por razão ortodôntica, e a grande ajuda que a tomografia computadorizada exerce em casos incomuns como os encontrados pelos autores. No primeiro caso, tratava-se de um primeiro pré-molar inferior com três raízes e três canais, e no segundo, um segundo pré-molar inferior com um único canal, porém em formato de C. Shokounhinejad30 descreve um caso de segundo pré-molar inferior com três canais radiculares que já havia recebido tratamento endodôntico, mas houve a indicação de retratamento, pois no primeiro tratamento não foi localizado todos os canais radiculares. O autor afirma que o diagnóstico exato da morfologia e anatomia de canais radiculares é essencial para completa modelagem e limpeza de todo o sistema de canais radiculares e consequente tratamento do canal radicular com êxito. Poorni et al.31 relatam um caso clínico relativamente raro de um primeiro pré-molar inferior com duas raízes e três canais. Os autores relatam que a possibilidade de raízes e canais adicionais deve ser considerada, mesmo em dentes com uma baixa frequência de anatomia anormal do canal radicular. Também afirmam que o bom conhecimento da anatomia do canal radicular, avaliação do assoalho da câmara pulpar, interpretação crítica de radiografias e exames complementares são desejáveis para atingir os melhores resultados na terapia endodôntica de canais radiculares com variações anatômicas. DISCUSSÃO O conhecimento da anatomia interna dos dentes é de fundamental importância para a realização correta do tratamento endodôntico, e, vários são os erros cometidos pela falta de conhecimento anatômico, dentre eles, perfurações, desvios da anatomia original do canal e iatrogenias diversas que podem levar à perda do elemento dental. Pécora et al.9, em estudo de anatomia interna e externa de primeiros pré-molares superior, encontraram as seguintes porcentagens para o número de raízes: 55,8% única raiz, 41,7% duas raízes e 2,5% três raízes, em relação ao número de canais; 6,2% um canal, 80,4% dois canais e 2,5% três canais. Estudos similares também citam a existência de três raízes em primeiros pré-molares superiores; Oliveira7 e Vertuccie & Gegauff6, sendo a frequência de 4,18% e 5%, respectivamente. Outros estudos11-13 também relataram casos de primeiros pré-molares superiores com três raízes, chamando a atenção para sua complexidade e a necessidade de um tratamento endodôntico bem estudado e executado. Goon32, em relato de caso clínico, descreve a anatomia de um pré-molar superior com três raízes similar a Estudo da anatomia interna dos pré-molares – Revisão de literatura Odonto 2011; 19 (37): 63-72 69 anatomia dos molares superiores, por isso denominado também “mini molar”. O segundo pré-molar superior pode apresentar: dois canais separados, dois canais em anastomose com um único canal, ou dois canais com ligações, sendo a presença de canais acessórios e laterais menos frequente; Vertucci et al.4 constataram 75% com um canal no ápice, 24% com dois forames e 1% com um forame, sendo que neste estudo 59,9% possuíam canais adicionais. Normalmente apresentando uma única raiz cônica ou levemente achatada, com um único canal amplo e retilíneo e com sulcos que podem ou não ser profundos nas suas faces laterais, o grupo dos pré-molares inferiores pode apresentar variações que podem complicar o tratamento endodôntico quando não dada a sua devida importância33. Alguns autores4,15 encontraram significativas diferenças étnicas em seu estudo de pré-molares inferiores comparando paciente negros e brancos em relação à número de raízes e canais, sendo maior a prevalência de mais de uma raiz e/ou canal em pacientes negros. A anatomia do sistema de canais do segundo pré-molar inferior com três canais pode ser encontrada em diferentes estudos23,24; enquanto que com quatro canais pode-se verificar por outros autores17,18,27, e com cinco canais19. Todos os autores entram em consenso em relatar que quando existem mais de dois canais, o terceiro, o quarto e o quinto canal se encontram na secção média da raiz. A inabilidade para se localizar e obturar canais incomuns, tem se mostrado como uma das maiores causas de insucesso no tratamento endodôntico19. Hoen & Pink34 relatam que a incidência de canais ou raízes não encontrados durante o tratamento endodôntico, representa 42% dos motivos para se retratar um dente. A interpretação da imagem radiográfica pode alertar o clínico da presença de uma anatomia diferenciada, mas não é capaz de ilustrar totalmente o sistema de canais e seu inter-relacionamento17,30. Um dos mais importantes avanços na Endodontia foi a introdução do microscópio operatório que revolucionou a prática desta especialidade, trazendo soluções para casos com prognóstico questionável35. O sucesso endodôntico depende de inúmeros fatores anatômicos, imunológicos e técnicos. Os efeitos de algum desses fatores podem ser influenciados pela melhoria da iluminação e visibilidade, o que é conseguido com o uso do microscópio clínico operatório, que vem sendo sugerido na literatura desde as décadas de 70 – 80. Nielsen et al.36 investigaram geométrica e matematicamente o canal radicular, e mostraram ser possível reproduzir com acurácia a complexa anatomia do sistema de canais radiculares usando micro-tomografia. A acurácia e a reprodutibilidade da micro-tomografia foram avaliadas em outro estudo37, os resultados demonstraram que a microtomografia possui habilidade de visualizar características morfológicas detalhadas do canal radicular, de maneira acurada sem destruição do dente, e oferece dados reprodutíveis em três dimensões. A tomografia computadorizada tipo cone-beam, também vem sendo muito utilizada pelos clínicos para melhor visualização do campo de trabalho. Especificamente desenhada para produzir uma informação tridimensionalprecisa do esqueleto maxilo-facial; assim como dos dentes e de estruturas adjacentes; suas vantagens incluem precisão nas imagens (por apresentarem tamanho real e boa definição) e custo acessível. O paciente recebe uma dose de radiação equivalente à do levantamento periapical. Embora artefatos metálicos possam prejudicar a análise das imagens, não se apresentam como obstáculos intransponíveis. A morfologia radicular Portela et al. Odonto 2011; 19 (37): 63-72 70 pode ser visualizada em três dimensões, assim como o número de canais e suas convergências e divergências3,38. CONCLUSÃO O sucesso o tratamento endodôntico está na dependência do conhecimento da anatomia interna do dente a ser tratado. Quando se conhece as possíveis variações anatômicas e como diagnosticá-las diminuem as chances de insucesso. Atualmente, além da radiografia periapical, pode-se utilizar o microscópio operatório e a tomografia computadorizada cone-beam como ferramentas de diagnósticos nos casos de suspeita de variações anatômicas. REFERÊNCIAS 1. Sachdeva GS, Ballal S, Gopikrishna O, Kandaswamy D. Endodontic management of a mandibular second premolar with four roots and four roots canals with aid of spiral computed tomography: a case report. J Endod. 2008; 34(1): 104-7. 2. Soares JA, Leonardo RT. Root canal treatment of three-rooted maxillary first and second premolares: a case report. Int Endod J. 2003; 36: 705-10. 3. Baratto Filho F, Zaitter S, Haragushiku, GA, de Campos EA, Abuabara A, Correr G. Analysis of the internal anatomy of maxillary first molars by using different methods. J Endod. 2009; 35(5): 337-42. 4. Vertucci FJ, Seelig A, Gullis R. Root canal morphology of the humam maxillary second premolar. J Oral Surg. 1974; 38: 456-7. 5. Pécora JD, Savioli RN, Costa LF, Cruz Filho AM, Fidel SR. 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