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Montes Claros/MG - Setembro/2016 Mary Aparecida de Alencar Durães Matheus Felipe Barbosa e Alves 2ª edição atualizada por Matheus Felipe Barbosa e Alves História das Sociedades Americanas II 2ª EDIÇÃO 2015 Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei. EDITORA UNIMONTES Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089 Correio eletrônico: editora@unimontes.br - Telefone: (38) 3229-8214 Catalogação: Biblioteca Central Professor Antônio Jorge - Unimontes Ficha Catalográfica: Copyright ©: Universidade Estadual de Montes Claros UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS - UNIMONTES REITOR João dos Reis Canela VICE-REITORA Antônio Alvimar Souza DIRETOR DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÕES Jânio Marques Dias EDITORA UNIMONTES Conselho Consultivo Adelica Aparecida Xavier Alfredo Maurício Batista de Paula Antônio Dimas Cardoso Carlos Renato Theóphilo, Casimiro Marques Balsa Elton Dias Xavier José Geraldo de Freitas Drumond Laurindo Mékie Pereira Otávio Soares Dulci Marcos Esdras Leite Marcos Flávio Silveira Vasconcelos Dângelo Regina de Cássia Ferreira Ribeiro CONSELHO EDITORIAL Ângela Cristina Borges Arlete Ribeiro Nepomuceno Betânia Maria Araújo Passos Carmen Alberta Katayama de Gasperazzo César Henrique de Queiroz Porto Cláudia Regina Santos de Almeida Fernando Guilherme Veloso Queiroz Luciana Mendes Oliveira Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Maria Aparecida Pereira Queiroz Maria Nadurce da Silva Mariléia de Souza Priscila Caires Santana Afonso Zilmar Santos Cardoso REVISÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA Carla Roselma Athayde Moraes Waneuza Soares Eulálio REVISÃO TÉCNICA Gisléia de Cássia Oliveira Káthia Silva Gomes Viviane Margareth Chaves Pereira Reis DESENVOLVIMENTO DE TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS Andréia Santos Dias Camilla Maria Silva Rodrigues Sanzio Mendonça Henriques Wendell Brito Mineiro CONTROLE DE PRODUÇÃO DE CONTEÚDO Camila Pereira Guimarães Joeli Teixeira Antunes Magda Lima de Oliveira Zilmar Santos Cardoso Diretora do Centro de Ciências Biológicas da Saúde - CCBS/ Unimontes Maria das Mercês Borem Correa Machado Diretora do Centro de Ciências Humanas - CCH/Unimontes Mariléia de Souza Diretor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas - CCSA/Unimontes Paulo Cesar Mendes Barbosa Chefe do Departamento de Comunicação e Letras/Unimontes Maria Generosa Ferreira Souto Chefe do Departamento de Educação/Unimontes Maria Cristina Freire Barbosa Chefe do Departamento de Educação Física/Unimontes Rogério Othon Teixeira Alves Chefe do Departamento de Filosofi a/Unimontes Alex Fabiano Correia Jardim Chefe do Departamento de Geociências/Unimontes Anete Marília Pereira Chefe do Departamento de História/Unimontes Claudia de Jesus Maia Chefe do Departamento de Estágios e Práticas Escolares Cléa Márcia Pereira Câmara Chefe do Departamento de Métodos e Técnicas Educacionais Káthia Silva Gomes Chefe do Departamento de Política e Ciências Sociais/Unimontes Carlos Caixeta de Queiroz Ministro da Educação Renato Janine Ribeiro Presidente Geral da CAPES Jorge Almeida Guimarães Diretor de Educação a Distância da CAPES Jean Marc Georges Mutzig Governador do Estado de Minas Gerais Fernando Damata Pimentel Secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Vicente Gamarano Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes João dos Reis Canela Vice-Reitor da Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes Antônio Alvimar Souza Pró-Reitor de Ensino/Unimontes João Felício Rodrigues Neto Diretor do Centro de Educação a Distância/Unimontes Fernando Guilherme Veloso Queiroz Coordenadora da UAB/Unimontes Maria Ângela Lopes Dumont Macedo Coordenadora Adjunta da UAB/Unimontes Betânia Maria Araújo Passos Autores Mary Aparecida de Alencar Durães Graduada em História e Pedagogia pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes. Mestre em história Social pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Professora do Departamento de História da Unimontes. Matheus Felipe Barbosa e Alves Graduado em História pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes). Mestre em História Social pela Universidade Estadual de Montes Claros - Unimontes). Sumário Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .9 Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 As Independências dos Estados Americanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.2 A Expansão Territorial Americana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11 1.3 A marcha para o oeste. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .15 1.4 A Guerra de Secessão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 1.5 Contexto pré-independência da América Latina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 1.6 A independência da América Espanhola . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .24 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 A Consolidação dos Estados Hispano-Americanos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 2.1 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .33 2.2 O Caudilhismo e a formação dos Estados Nacionais do Rio da Prata. . . . . . . . . . . . . . .33 2.3 América Central. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .39 Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 Resumo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .53 Referências Básicas e Complementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .55 Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .57 9 História - História das Sociedades Americanas II Apresentação Caro (a) acadêmico (a), Este caderno propõe discutir os movimentos de independência no continente americano e a formação das nações americanas. Para isso, abordaremos mais detidamente os casos de alguns países e regiões. Trata-se de um momento crucial na história da América. Trazemos aqui pontos importantes de reflexão sobre lutas políticas que fizeram o continente se transformar no “labirinto” político e no mosaico cultural que é hoje. Embarque nessa viagem conosco... Vamos estudar e discutir juntos sobre a história da Amé- rica e alguns processos de independência. A disciplina “História das Sociedades Americanas II” tem como objetivos: • Identificar o cenário político da metrópole espanhola no século XIX. • Discutir os principais aspectos da crise econômica e política espanhola e as tentativas de es- truturação do pacto colonial através das chamadas Reformas Ilustradas. • Analisar os processos de independência de alguns países, comparando suas peculiaridades, semelhanças e dinâmicas. • Analisar o contextode formação das nações latino-americanas, seu desenvolvimento políti- co, econômico e cultural. • Entender quais foram as dificuldades no ordenamento político dos novos países. Para o presente estudo, o conteúdo está organizado em duas unidades: Na Unidade I, “As independências dos Estados Americanos”, abordamos o processo de independência dos Estados Unidos e sua expansão para o Oeste, bem como a independência da América Espanhola. Na Unidade II, “A consolidação dos Estados Hispano-Americanos”, discutimos a emergência e a consolidação dos Estados Nacionais da América do Sul e da América Central. O propósito deste material didático é possibilitar ao acadêmico a compreensão das múlti- plas facetas da América independente e da formação dos Estados Nacionais latino-americanos. Utilizamos, para isso, diversos recursos, como mapas, gravuras, indicações de filmes e sites para a pesquisa. Bom trabalho! Os autores. 11 História - História das Sociedades Americanas II UNIDADE 1 As Independências dos Estados Americanos Mary Aparecida de Alencar Durães Matheus Felipe Barbosa e Alves 1.1 Introdução O tema desta unidade é o processo de independência dos Estados Unidos e da América Espanhola. São discutidos os motivos que desencadearam os movimentos de insurgência que resultaram na emancipação dos estados americanos e as lutas pela independência, focando os aspectos políticos, culturais e econômicos. No caso dos Estados Unidos, abordamos desde sua independência até sua consolidação en- quanto Estado Nacional; uma vez que o período pós-independência estadunidense interfere no processo de consolidação de outro Estado, o do México. Analisar a independência da América Espanhola em sua totalidade resultaria numa aborda- gem excessivamente superficial. Por isso, o foco é dirigido para os casos da América do Sul, devi- do ao alto grau de inter-relação entre as regiões dessa parte do continente. 1.2 A Expansão Territorial Americana Você já parou para se perguntar por que os Estados Unidos são tão superiores aos demais países? E como isso foi cons- truído? Por que existe esse pensamento de que nasceram para vencer? Estavam pre- destinados sempre à vitória? Através das reflexões propostas nos próximos tópicos, iremos entender como se deu a formação dos Estados Unidos, como eles chegaram a ser o que são hoje. A expansão do território atual dos Es- tados Unidos da América permite a com- preensão de um rápido processo de 70 anos. O território das Treze Colônias ingle- sas era: ◄ Figura 1: Localização das 13 colônias à época da Independência dos Estados Unidos da América Fonte: Disponível em <http://vidaati- va8a04101319.blogspot. com.br/2012/05/as-tre- ze-colonias-inglesas. html>. Acesso em 20 maio 2015. 12 UAB/Unimontes - 5º Período Veja no mapa como se deu o processo de expansão para o Oeste do território estadunidense: Assim, temos hoje os Estados Unidos da América com 50 estados e a seguinte distribuição geográfica: Para a historiadora Mary Junqueira (2001), em sete décadas os EUA alcançaram um cresci- mento espantoso. Durante este período (1778 – 1848), o território norte-americano multiplicou-se 11 vezes, numa expansão rápida e violenta, na qual a grande maioria dos indígenas foi dizimada e a natureza com seu bioma natural devastada. Em 1776, as 13 colônias ganharam o estatuto de 13 estados. Em 1850, outros 19 estados fo- ram incluídos à união. Na segunda metade do século XIX, mais 18 foram incorporados. Hoje os EUA são formados por 50 estados. Vejamos como foi essa história: 1.2.1 A Independência dos Estados Unidos A maioria da sociedade colonial estadunidense passou a defender o ideal de emancipação. As colônias do norte eram mais fortes, onde já existia uma burguesia que acumulava capital e DICA Os Estados Unidos foram o primeiro país a se formar e tornar-se independente na Amé- rica. A independência se enquadra no rol das “RE- VOLUÇÕES burguesas do século XVIII”. Neste mesmo século, outras revoluções aconteceram e foram influenciadas pelos ideais do Iluminis- mo como a Revolução Francesa, Revolução In- glesa e independências Latino-Americanas. Figura 2: Processo de Expansão territorial dos Estados Unidos Fonte: Disponível em <http://pt.slideshare. net/edgardhistoria/ nova-ordem-mun- dial-1850-5062347>. Acesso em 20 de maio 2015. ► Figura 3: Mapa dos Estados Unidos da América nos dias de hoje. Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/ wiki/Estados_Unidos>. Acesso em 20 maio 2015. ► 13 História - História das Sociedades Americanas II que defendia a implantação de um sistema de pequenas propriedades. Diferentes das colônias do sul, que almejavam a implantação de grandes latifúndios monocultores voltados para a ex- portação. Essa burguesia sobrevivia do comércio triangular e acabou comandando o movimento de independência. As demais camadas sociais e proprietários do sul estavam também em prol do mesmo objetivo. É importante ressaltar que o processo de independência americana teve grande influência das ideias iluministas. 1.2.2 Motivos Gerais que Possibilitaram o Desenrolar da Revolução Americana Antes de tudo, é preciso lembrar, como vimos nos estudos das Sociedades Americanas I, que as Treze Colônias Britânicas surgiram em decorrência de dois fatores: disputas religiosas, que levaram os denominados Puritanos a fugirem da Inglaterra para o Novo Mundo e o boom demo- gráfico. Sendo a Inglaterra uma ilha, com o crescimento populacional exponencial gerado pós- -renascimento urbano e Revolução Industrial, começou a faltar espaço para a população. Assim, as colônias se apresentaram como alternativa para a população excedente e sem perspectivas na Inglaterra. O processo de independência das treze colônias deflagra-se, entre outros fatores, devido a: 1. Diferenças entre as colônias e a Inglaterra (geografia, população mais diversa nas colônias). 2. Natureza da colonização por empresas particulares e não a Coroa em si resultou em mais autonomia local com a criação, bem cedo, de governos coloniais. 3. Mudanças no projeto imperial da Inglaterra: descentralização da administração do império sob Rei Jorge I (1714-27) e II (1727-60) e crescente autonomia dos mercantes e negócios. 4. Crescentes dívidas do império britânico devido às guerras e à tentativa de transferi-las às colônias. 5. Circulação transatlântica de novas ideias sobre o governo, povos e poder, representação de- mocrática e autonomia política. Influências do Iluminismo, principalmente pelas ideias do filósofo inglês John Locke. O filósofo desenvolveu a ideia de um Estado de base contratual. Esse contrato imaginário entre o Estado e os seus cidadãos teria por objetivo garantir os “di- reitos naturais do homem”, que Locke identifica como a liberdade, a felicidade e a prospe- ridade. Para o filósofo, a maioria tem o direito de fazer valer seu ponto de vista e, quando o Estado não cumpre seus objetivos e não assegura aos cidadãos a possibilidade de defender seus direitos naturais, os cidadãos podem e devem fazer uma revolução para depô-lo. Ou seja, Locke é também favorável ao direito à rebelião (KARNAL, 2008, p.81). Como sabemos essas ideias liberais atravessavam o oceano e frutificavam nas colônias, onde encontravam terreno fértil, passando a fazer parte da tradição política, também no novo mundo. ATIVIDADE Pesquise sobre a declaração dos direitos humanos e sua relação com a independência dos EUA. Falar ainda so- bre as influências dessa declaração no restante do mundo. Poste seus achados no fórum de discussão. ATIVIDADE Pesquise sobre o ilu- minismo, fazendo um paralelo com a Indepen- dência dos EUA. Vamos debater sobre o assunto no fórum. ◄ Figura 4: Comércio Triangulardas 13 colônias americanas Fonte: Disponível em <http://historiabosj. blogspot.com/2008/04/ post-1-hegemonia-e- conmica-britnica.html>. Acesso em 29 nov. 2010. 14 UAB/Unimontes - 5º Período 1.2.3 Motivos mais Imediatos da Independência das Treze Colônias A Inglaterra adotou para com as suas colônias na América uma postura denominada poste- riormente de negligência salutar. No entanto, após a Guerra dos Sete anos, onde lutou contra a França pelo domínio do Canadá, mesmo saindo vitoriosa, a Inglaterra encontrava-se devastada economicamente. Buscando reestruturar sua economia e manter seu prestígio global de grande potência, a política de negligência salutar é rompida, e na década de 1760 ocorrem vários au- mentos em impostos com uma resistência passiva por parte dos colonos. Essa resistência passiva consistia em boicotes de produtos ingleses, abaixo-assinados, pro- testos e as tavernas e botecos se tornaram lugares de discussão e debate. As tensões se acirra- vam cada vez mais e, em 1770, cinco manifestantes foram mortos em Boston, fato que levou ao fim da fase de resistência passiva. Um dos principais impostos cobrados era sobre o chá. Assim, em 1773, colonos fantasiados de nativo-americanos, invadiram embarcações britânicas aporta- das em Boston e destruíram todo o carregamento de chá, lançando-o ao mar. Esse episódio é conhecido como Festa do chá de Boston. A destruição do carregamento de chá levou à promulgação dos Atos de Coerção em 1774, o que restringia ainda mais o comércio colonial. Estes Atos de Coerção tiveram como resposta o Primeiro Congresso de Filadélfia, reunião em que os líderes coloniais elaboraram uma série de pedidos à metrópole para aceitarem a taxação de impostos e demais imposições às colônias. O parlamento inglês hesitou frente às reivindicações dos colonos e os atos da Inglaterra pre- judicaram todas as classes sociais das colônias, o que une os colonos que, no Segundo Congres- so de Filadélfia, declararam a independência dos Estados Unidos da América que já se encon- trava lutando contra a Inglaterra. Os franceses, amargurados com a derrota na Guerra dos Sete anos, auxiliam os colonos em sua luta, esse auxílio catalisou o processo de Revolução que eclo- diu na França em 1789. Guerra entre estadunidenses e ingleses perdurou até que muitos erros militares praticados pelos ingleses por determinação dos Patriotas, a guerra terminou em 1883 com a vitória dos ex- colonos, agora membros de uma nova nação. 1.2.4 Como os Movimentos de Independência Ocorreram • Vinte anos de debates políticos e muitas tensões entre classes (até revoltas das classes ditas baixas) sobre o que a revolução significava (1776-1795). DICA Para aprofundar os estu- dos, assista ao filme “O Patriota” (2004). A obra protagonizada por Mel Gibson, narra a história de um homem que vê sua família ameaçada quando os ingleses buscam suprimir a ten- tativa de Independência dos Estados Unidos. Ele, então, entende que a única forma de defender a sua família é lutar contra os britâni- cos. Essa obra cinema- tográfica traz muito do contexto da guerra pela independência americana. Figura 5: Capa do DVD do filme “O Patriota” Fonte: Disponível em <http://accapasfil- mes.blogspot.com. br/2008/02/o-patriota. html>. Acesso em 16 jun. 2015. ► 15 História - História das Sociedades Americanas II • Ampla participação de praticamente todas as camadas da sociedade nos debates sobre o novo governo, a Constituição, o futuro do país, e a eventual consolidação do poder de uma burguesia mercantil. • Cem mil pessoas fugiram para a Inglaterra e Canadá. • Sentimentos revolucionários abriram espaços políticos para críticas sobre a escravidão; es- cravos fugiram e muitos questionaram a escravidão; estados nortistas aboliram a escravi- dão; clarearam as contradições entre os ideais de liberdade e a realidade de cativo. • A Revolução foi ruim para os povos indígenas: facilitou a expansão para o oeste e as terras indígenas foram tomadas. • Abertura propensa a críticas com relação ao papel restrito da mulher, que desempenhou funções importantes na guerra; as restrições legais continuaram, mas reforçou-se o papel da mulher como mãe. • A Revolução Americana influenciou a Revolução Francesa, a Revolução no Haiti, e as Inde- pendências latino-americanas. 1.2.5 Historiografia da Independência dos EUA ou Revolução Americana Interpretações principais: 1. A Revolução como evento intelectual e político, enfatizando elites e líderes políticos (Ed- mund Morgan e Bernard Bailyn). 2. Nova historiografia: interpretações econômicas, as tensões socioeconômicas das massas, mercantes, etc. (Ray Raphael, Howard Zinn). 3. Existe muito mais interesse hoje no papel de artesãos, mulheres, povos indígenas, escravos (Woody Holton, Linda Kerber, Pauline Maier). 4. Gordon Wood: revolução não causada pelo conflito de classes, mas que resultou na quebra de ideias de deferência e ideais patriarcais. 5. Gary Nash: combinação de evento político/intelectual e socioeconômico. 1.3 A Marcha para o Oeste A expansão em números • As treze colônias à época da Revolução Ameri- cana possuíam 835.202 km quadrados de ex- tensão. Em 1848 aumentaram para 9.363.292 km quadrados em extensão. • O território multiplicou-se 11 vezes. Eram 13 estados em 1876; 32 estados em 1850; 50 es- tados em 2007. • Em 1820, cerca de 120.000 índios moravam na região leste do rio Mississippi; No ano de 1844, restavam menos de 30.000 índios. • Nos anos 1880, as últimas nações indígenas foram conquistadas. Por que era preciso expandir? Como já vimos, a expansão para o oeste era algo que já habitava os pensamentos dos estadunidenses. O fato de acreditarem que eram pre- destinados à vitória, à ascensão e ao progresso era algo que carregavam, e que carregam até os dias atuais. O nacionalismo americano, juntamente com a missão civilizadora, sem dúvida, são motivos fortíssimos para a expansão. Fora essas questões, vários outros fatores envolviam a ex- pansão, entre eles: a necessidade de aquisição de novas terras devido à pressão demográfica na costa leste dos EUA, pois já era do conhecimento dos norte-americanos a existência das terras agrícolas ricas no oeste. Além disso, a mineração, a corrida do ouro na Califórnia, em 1848 e nos Figura 6: “American Progress”. Fonte: Disponível em <http://picturinghistory. gc.cuny.edu/item.php?i- tem_id=180>. Acesso em out. 2010. 16 UAB/Unimontes - 5º Período estados da Dakota do Norte e Sul, nos anos 1870. A necessidade de construção de ferrovias, a crescente industrialização e pressão para novos mercados e matérias-primas, as ideias agrárias surgidas depois da Revolução Americana (os EUA surgem como um país de pequenos proprie- tários). O crescente racismo: “o ônus do homem branco”, os povos indígenas eram vistos como “selvagens” ou “crianças inocentes”. E, por fim, o poderio e rivalidade militar dos EUA contra a In- glaterra, França e Espanha. Os EUA precisavam expandir e aparecer perante o cenário mundial, nem que, para isso, fosse preciso fazer limpeza étnica, provocar guerras, matar índios e destruir a natureza. BOX 1 Destino Manifesto A doutrina do "Destino Manifesto" é uma filosofia que expressa a crença de que o povo dos Estados Unidos foi eleito por Deus para comandar o mundo, sendo o expansionismo geo- político norte-americano apenas uma expressão desta vontade divina. Em meio a esta ideia de predomínio mundial norte-americano estava também a ideia do destino norte-americano de predominar sobre os povos da América Latina, pois estes esta- vam localizados no mesmo continente e não tinham desenvolvido a capacidade de exercer domínio sobre outros povos, o que era sintetizado em "Be strong while having slaves", frase de propaganda políticado século XIX que tinha como principal objetivo demonstrar o quanto a cultura dos EUA era atraente e digna de apreço, fazendo uma imagem de que o país seria o melhor do mundo, com os melhores e mais preparados indivíduos, e, em última instância, fazer com que os cidadãos de outros países passassem a desprezar suas próprias pátrias, ado- rando o ideal americano de progresso e superioridade. A frase é creditada ao jornalista nova iorquino John L. O'Sullivan na sua publicação de ju- lho/agosto de 1845, United States Magazine and Democratic Review, em um ensaio intitulado "Annexation", tratando da questão do Texas, e sua iminente adesão à União. O termo seria perpetuado através do tempo, justamente pelas ações político-militares norte-americanas, que pareciam seguir à risca tal orientação, tornando-se bastante apropria- do para descrever a expansão territorial deste país, que se deu, primeiramente, na segunda metade do século XIX, em meio à anexação do norte do México aos EUA, e, depois, no fim do mesmo século, com a guerra contra a Espanha. A própria imprensa do país iria se utilizar far- tamente deste conceito, utilizando-o para defender as atitudes muitas vezes arbitrárias de seu governo. O uso desta doutrina seria oficialmente abandonado em 1850, apenas para ser revivi- da em 1880, passando então a ser amplamente utilizada pelos políticos da época, em meio à corrida colonial promovida pelas potências europeias. Após a realização de suas ambições, tanto o meio político como a mídia norte-americana, em geral, irá mais uma vez "enterrar" a doutrina, embora muitos especialistas acreditem que certas ideias do Destino Manifesto fa- çam parte do ideário político-militar estadunidense até hoje, estando presente em muitas das ações unilaterais controversas realizadas pelo seu governo através das décadas. Como prova de tal persistência dos ideais do Destino Manifesto dentro da esfera de poder máxima do país, é flagrante observar os conceitos postos em discursos de líderes norte-americanos através do tempo, com destaque para as palavras de James Buchanan, em seu discurso de posse como presidente norte-americano, em 1857, e as de Colin Powell, secretário de estado do governo George W. Bush, em 2004: A expansão dos Estados Unidos sobre o continente americano, desde o Ártico até a Amé- rica do Sul, é o destino de nossa raça (...) e nada pode detê-la". - Buchanan. "O nosso objetivo com a Alca é garantir para as empresas norte-americanas o controle de um território que vai do Pólo Ártico até a Antártida". - Powell. Fonte: Disponível em <http://www.infoescola.com/filosofia/destino-manifesto/>. Acesso em 22 maio 2015. 1.3.1 Mecanismos de Expansão A historiadora Mary Junqueira (2001) traçou bem os caminhos que fizeram com que os EUA se formassem tão rapidamente. 17 História - História das Sociedades Americanas II Em 1750 ocorre a primeira penetração antes da independência: foram estabelecidos povoa- mentos no noroeste, na região das cabeceiras do rio Ohio. Mais tarde, a região foi demarcada como o território de Ohio, o décimo sexto estado anexado em 1803. A segunda penetração para o interior ocorreu após a vitória inglesa na Guerra Franco-Índia, em 1767. Daniel Boone partiu da Virgínia, atravessou os Apalaches e penetrou os imensos territórios que viriam a ser o estado do Kentucky, o 15º estado que seria depois anexado aos demais. Logo mais, em 1770, os Green Mountain Boys (Rapazes da Montanha Verde) cruzaram o rio Connecticut e se estabeleceram nas Colinas mais ao norte do estado, em Vermont (demarcado entre os estados de Nova York e nova Hampshire). Este foi o 14º estado que, posteriormente, foi anexado aos demais. Em 1787 o Con- gresso Continental arrastou a linha mais para o oeste. A partir daí, os limites do novo país chega- vam até o rio Mississippi. Vale lembrar que o primeiro esforço governamental em mapear uma grande porção de terra partiu de Thomas Jefferson, Presidente em 1801. Em 1803, num acordo com os franceses, Jefferson comprou o imenso território da Louisiana (região que pertenceu ao império espanhol). Até o início do século XIX, a Flórida era território dos espanhóis, o que despertou inquie- tação dos norte-americanos do sul. A Flórida, região estratégica, funcionava como porta de en- trada do Atlântico e do Caribe e era considerada por eles uma “continuidade natural do estado da Geórgia” e, por vários outros motivos, a penetração estadunidense na Flórida era vista como inevitável. (JUNQUEIRA, 2001). Além da Flórida, o grupo que liderava a colonização do Ohio cla- mou também pela anexação do Canadá. Assim, tanto o Canadá, ao norte, quanto a Flórida, ao sul, tornaram-se territórios reivindicados pelos norte-americanos. Em 1817, incursões de índios vindos da Flórida, em direção ao território norte-americano, fizeram com que Andrew Jackson entrasse na região de domínio espanhol com o objetivo de “conter os intrusos”. Por um tratado assinado em 1819, mas só ratificado em 1822, a Flórida passava definitivamente para as mãos es- tadunidenses em troca de cinco milhões de dólares pagos à Espanha. A anexação do Canadá não se realizou. Andrew Jackson (1829-1837) foi escolhido por voto popular em dois mandatos presi- denciais consecutivos. Sua política igualitarista era voltada para o expansionismo. O Presidente estabeleceu, em 1830, o Indian Removal Act (Ato de Remoção Indígena). Foi ele o responsável pela conhecida Trial of Tears (Trilha de lágrimas), nome dado pelos Cherokees à jornada forçada de seu povo da Geórgia em direção à reserva a eles destinada para além do rio Mississipi, em Oklahoma (JUNQUEIRA, 2001). Em 1839, várias nações indígenas, entre elas os Creek, os Choctaw e os Chickasaw, haviam sido removidas para reservas além Mississipi. Jackson, responsável pela remoção indígena, de- fendia as reivindicações dos pequenos fazendeiros às quais o índio era o principal entrave. Foi também responsável pela maior desestruturação da vida comunal indígena, na primeira metade ◄ Figura 7: Trilha de Lágrimas Fonte: Disponível em <http://mapoftheuni- tedstates.wordpress. com/2008/04/08/trail-of- tears-map/>. Acesso em 29 nov. 2010. 18 UAB/Unimontes - 5º Período do século XIX. Em 1820, aproximadamente 125 mil índios vi- viam a leste do Mississippi, 75% deste total acabaram remo- vidos do seu local de origem e , em 1844, menos de 30 mil indígenas viviam naquela região. Os que ali permaneceram encontravam-se em um local ermo e com invernos rigorosos, próximo ao Lago Superior (FERNANDES; MORAIS, 2008). Com a remoção dos índios, cerca de 40 milhões de hectares fica- ram livres para os estadunidenses “brancos”. Hoje é consenso entre os historiadores que a remoção dos índios, “a limpeza do território” foi realizada pelas tropas federais – a famosa Cavalaria - e por fazendeiros e grandes especuladores que ti- nham interesses nos imensos territórios ainda não ocupados pelo “homem branco” (FERNANDES; MORAIS, 2008). 1.3.2 Destino Manifesto Os norte-americanos, de certa forma, se achavam um povo eleito, com uma missão a cum- prir. Esse sentimento advinha de uma concepção nacionalista que se apoiava na ideia de Direito Natural, concedido pela divina providência àquele país, de tomar para si toda a parte continental do território atual América do Norte. “Era como se houvesse uma ‘predestinação geográfica’. Gru- pos norte-americanos se viam com direito de se apropriarem (por compra ou simples anexação) de territórios que não pertenciam aos Estados Unidos até então”. Afinal, consideravam-se um povo eleito, com direito à terra prometida (JUNQUEIRA, 2001). Baseados nessas ideias, os norte-americanos se viam como detentores de uma cultura com valores superiores em relação aos outros povos (FERNANDES; MORAIS, 2008). Em diversos mo- mentos, foram aclamados os “Direitos dos Estados Unidos”, e negados os de outros povose paí- ses. Os norte-americanos, afirmando-se como possuidores de um preeminente valor social, uma missão excelsa, acreditavam estar predestinados a civilizar qualquer território classificado (por eles mesmos!) como bárbaro e inculto (JUNQUEIRA, 2001). 1.3.3 Anexação do Texas O Texas era território mexicano em 1830, mas havia colonos estadunidenses presentes na região. Conquistou sua independência entre 1836-1846: tornou-se a República da Estrela Solitá- ria e adotou uma Constituição muito semelhante à norte-americana. O governo mexicano não reconheceu a independência do Texas, considerando-a como um ato de agressão pelos EUA, rompendo as relações diplomáticas com o vizinho do norte. De 1846 a 1848, mexicanos e norte- -americanos pegaram em armas pela posse do Texas. Com o conflito, houve a vitória decisiva dos Estados Unidos, na qual o México perdeu metade do seu território – O que hoje é a Califórnia, Novo México, Arizona e partes de Oklahoma, do Colorado, de Utah e Idaho, eram territórios per- tencentes ao México e ganhos à força pelos Estados Unidos. Após o Texas, foi a vez dos imensos territórios do Oregon e Alasca, no Pacífico. Em 1848, após alguns acordos, o Oregon foi incorpo- rado ao território norte-americano. O Alasca foi comprado da Rússia em 1847. Os anglo-saxões viam os mexicanos como a antítese dos estadunidenses. “Reforçava-se a identidade protestante norte-americana em oposição aos católicos mexicanos” (JUNQUEIRA, 2001). Ainda, para esta historiadora, foi criada uma lenda sobre o Oeste, construía-se uma visão romanceada e mítica do acontecimento. O pioneiro do self made man era tratado como um he- rói rústico, que havia desenvolvido força física no duro trabalho no campo. Com isso, garantia tenacidade de caráter e ação determinados – atributos que formavam o “homem de ação” que construía a nação norte-americana. Com essa versão mítica do homem do oeste, justificava-se a tomada de territórios e se escamoteava a extrema violência com que foi realizada a anexação e, por outro lado, impulsionava para que pessoas originais do Leste se estabelecessem nas ter- ras conquistadas. Durante a “Conquista do Oeste”, territórios mexicanos foram tomados, índios massacrados, milhões de bisões exterminados e a natureza devastada sem piedade (JUNQUEIRA, 2001). Assim, o estadunidense transformou-se em um agente de transformação da paisagem do oeste. Figura 8: Trilha de Lágrimas, The Granger Collection, New York, reproduzida por National Public Broadcasting System Fonte: Disponível em <http://www.pbs.org/ wgbh/aia/part4/4h1567. html> Acesso em out. 2010. DICA A invenção da Calça Jeans: narra-se que, du- rante a corrida do ouro, um europeu chamado Levi Strauss chegou à Califórnia com peças de panos grosseiros, resis- tentes e que desbota- vam pelo seu tingimen- to artesanal. O objetivo de Strauss era vender o tecido para confecção de barracas para os mineiros. Alguém então informou ao vendedor que, na verdade, os homens precisariam de calças mais resis- tentes, uma vez que as que usavam rasgavam constantemente na lida da mineração. Strauss inventou, com aquele tecido, uma calça com costuras reforçadas e com rebites nos bolsos e em outras partes em que mais se rasgava a antiga roupa dos mineiros: a calça jeans (JUNQUEIRA, 2001). 19 História - História das Sociedades Americanas II 1.4 A Guerra de Secessão Como vimos, durante a expansão para o oeste, os EUA obtiveram um rápido crescimento populacional decorrente também da anexação de territórios adquiridos. Os contrastes desenvol- vimentistas entre o norte e o sul, como veremos a seguir, agravaram-se, desembocando numa guerra civil que certamente você, cursista, já ouviu falar: a Guerra de Secessão, considerada a guerra mais letal e mais custosa da história dos Estados Unidos. Morreram mais de 600 mil nor- te-americanos. Se formos olhar a Guerra do Vietnã, o número de baixas oficiais foi de 58 mil mor- tos. Secessão, neste caso, significa divisão. A casa estava dividida por causa dos conflitos entre o norte e o sul. Dentre outras conquistas e transformações, o conflito serviu para forjar certo sentimento de identidade nacional baseada na superioridade do “Mundo do Norte”. 1.4.1 Vamos Refletir Sobre este Episódio da História dos EUA Ainda que unidos em nome de causas comuns como as guerras contra o México, as invasões a oeste e também o sentimento de imperialismo e a vontade de expandir seus estilos de vida para áreas maiores, o Sul queria aumentar seu império do algodão e da escravidão, e o Norte, a expansão das chamadas terras livres (FERNANDES; MORAIS, 2008). DICA Daniel Boone foi o primeiro “homem co- mum” a desobedecer às ordens da coroa inglesa antes da independên- cia, em 1767, e atra- vessar os Apalaches, iniciando o bolsão de povoamento que originou o estado de Kentucky. Vale lembrar que o herói era um exí- mio caçador de animais e de índios (JUNQUEIRA, 2001). ◄ Figura 10: Guerra e secessão ou Guerra Civil Americana. Fonte: Disponível em <http://www.passeiweb. com/na_ponta_lingua/ sala_de_aula/historia/ historia_da_america/es- tados_unidos/eua_guer- ra_secessao>. Acesso em 29 nov. 2010. ◄ Figura 9: Bisão – alvo do extermínio no oeste americano. Fonte: Disponível em <http://vidaanimal. hdfree.com.br/america- donorte.html>. Acesso em 29 nov. 2010. 20 UAB/Unimontes - 5º Período QUADRO 1 - Diferenças entre o Sul e o Norte Estados do Sul Estados do Norte Sistema de plantation Trabalhadores livres assalariados Escravista senhorial Pequenos proprietários Escravo como mercadoria Classe média nascente Inseridas no sistema capitalista Mais avançadas na indústria Ideia de superioridade do homem branco Ideia de superioridade do homem branco Negros fora das decisões políticas e vítimas de preconceito Negros fora das decisões políticas e vítimas de preconceito Fonte: Elaboração própria. Durante a Secessão, os escravos utilizaram a Guerra Civil do melhor jeito que podiam para tornarem-se livres: cada vez que uma tropa do Norte invadia uma região confederada, um enor- me contingente de negros fugia das fazendas e, dessa maneira, colaborava para o desmorona- mento do sistema escravista (FERNANDES; MORAIS, 2008). Em 1850, observava-se que o Norte era bem mais populoso e o Sul possuía mais força polí- tica no governo federal. Os sulistas queriam estender a escravidão aos novos territórios conquis- tados pelos Estados Unidos. O território do Kansas tornou-se um verdadeiro palco de disputas políticas em torno do controle político da região, além de ficar amplamente aberto aos imigran- tes que acabavam apresentando posturas pró e contra o regime da escravidão (FERNANDES; MO- RAIS, 2008). 1.4.2 A Guerra A Guerra Civil foi um conflito de grandes proporções na história dos Estados Unidos. Envol- veu as colônias do Norte e do Sul e tornou-se ainda mais grave pelas anexações do Oeste. Os novos estados incorporados, que adotaram o regime escravista, faziam a balança pender pelo lado do Sul. Foram 625 mil mortes. Para se ter uma ideia da proporção dessa guerra, os norte-a- mericanos mortos superam o número de baixas somadas de todas as guerras do século XX que tiveram a participação dos Estados Unidos (JUNQUEIRA, 2001). DICA Assista ao filme “E o vento levou” que, segundo a historiadora Mary Junqueira, o mun- do da honra dos nobres e cavaleiros do Sul havia sido varrido pelo vento, no curto espaço de cin- co anos. Mundo distinto e elegante, construído por homens galantes e mulheres voluntariosas. Assim era retratado o célebre Old South (Velho Sul). A aura romântica e nostálgica relaciona- se em grande parte à ideia de que o conflito já estava irremediavel- menteperdido para o Sul, antes mesmo de a guerra começar. Tem-se a impressão de que a vitória do Norte sobre o Sul era absolutamente inevitável, como se esti- vesse determinado pela História que um mundo “industrial e moderno” venceria inexoravel- mente o mundo “agrário je atrasado”, o qual não tinha mais lugar num tempo de mudanças em ritmo vertiginoso. Figura 11: Anúncio do filme “E o vento levou”. Fonte: Disponível em <http://www.adoro- cinema.com/filmes/ filme-27782/curiosida- des/>. Acesso em 16 jun. 2015. ► 21 História - História das Sociedades Americanas II As elites do Norte não queriam “perder” o Sul, fornecedor de matéria-prima e devedor dos bancos nortistas desde o comércio triangular. O objetivo do Norte com o enfrentamento não era pôr fim à escravidão, mas evitar, de qualquer maneira a secessão, a divisão dos Estados Unidos da América em dois países. Os interesses políticos de alguns poucos brancos, senhores proprietários de escravos, porém poderosos, conduziram o país a uma guerra devastadora. Os principais combates se concentraram nas capitais – Washington, da união, e Richmond, dos confederados – o objetivo, como sempre, observado em outras guerras, era atacar o lugar onde estavam estabelecidas as instituições governamentais que se queria destruir ou então do- minar. O Sul queria autonomia com relação ao Norte para defender os seus interesses e o regime escravista. O Norte estava mais bem equipado que o Sul e defendia o projeto “industrial”. Foi uma guerra desigual. Então, por que o Sul foi tão obstinado para a guerra? Por que os fazendeiros sulistas acredi- taram estar defendendo a própria terra, seu estilo de vida e suas tradições? Como esses fatores dependiam da manutenção da escravidão, não admitiam que essa instituição fosse ameaçada e buscaram garantir sua independência política. Em 1862, Abraham Lincoln acabou cedendo, declarando a escravidão abolida, em virtude do prolongamento da guerra, da pressão dos abolicionistas, das dificuldades advindas da ine- xistência de regras para lidar com escravos que se refugiavam no Norte e do fato de os negros lutarem nas forças da União. Depois de várias batalhas, derrotas e baixas dos dois lados, e após o bloqueio naval que o Norte impôs ao Sul – impedindo o acesso aos bens manufaturados e outros produtos – o conflito chegou ao seu momento decisivo em uma pequena cidade da Pensilvânia chamada Gettysburg, quando o equilíbrio de forças pendeu definitivamente para o lado da União. Na batalha de Gettysburg (julho de 1863), considerada a mais dramática da Guerra civil, 90 mil soldados do Norte encontraram-se com 70 mil soldados do Sul. Durante três dias, os confe- derados lançaram-se contra as trincheiras da União, sendo massacrados aos milhares. Na invasão do Cemetery Ridge, o poder da União pelo exército Sulista resultou numa perda de 28 mil ho- mens, entre mortos e feridos. As baixas nortistas não foram menores – 22 mil homens. Quatro meses após os combates de Gettysburg, esse campo de batalha foi consagrado ce- mitério nacional. Eis aqui um importante documento da história norte-americana: O discurso de Lincoln pós-batalha de Gettysburg: Há 87 anos nossos pais criaram neste continente uma nova nação, concebida em liberdade e de- dicada à afirmação de que todos os homens foram criados iguais (...). Estamos agora empenhados numa grande guerra civil, verificando se aquela ou qualquer outra nação assim concebida e consa- grada pode subsistir por muito tempo. Encontramo-nos num grande campo de batalha da mesma guerra. Viemos inaugurar parte desse campo como sítio de repouso dos que aqui deram suas vidas para que a nação pudesse viver (...) – que aqui resolvamos que esses mortos não morreram em vão – que esta nação, sob as vistas de Deus, tenha um renascimento de liberdade – e que o governo do povo, pelo povo, para o povo não seja eliminado da terra. 1.4.3 Resultados da Guerra • Morte de 600 mil norte-americanos. • O Conflito serviu para criar o mito de Lincoln como grande estadista defen- sor da liberdade. • Emancipação dos escravos. • Milhares de pessoas morreram, milha- res ganharam a liberdade, milhões de pessoas lutaram nas mais indignas con- dições. • Após a Independência de 1776, a na- ção estava incompleta e só foi decidi- damente formada com o fim da Guerra Civil. • Em 9 de abril de 1865, o Sul rendia-se diante da vitória militar da União. ◄ Figura 12: Ku Klux Klan Fonte: Disponível em <http://www.historiado- mundo.com.br/curiosida- des/ku- klux-klan.htm>. Acesso em 29 nov. 2010. 22 UAB/Unimontes - 5º Período • Abraham Lincoln é assassinado, por um simpatizante dos confederados, aos gritos de “O Sul está vingado”. Deu-se assim a construção de Lincoln como herói nacional e fundador da na- ção. Hoje se pode perguntar: como um país como os Estados Unidos, apologista da liberdade individual, mantinha milhões de negros em regime de escravidão? Como falar de igualdade e democracia com tantos homens e mulheres escravizados? Para a grande maioria dos homens brancos daquela época, igualdade, democracia e liberdade eram princípios que orientavam os “homens civilizados e educados” – naturalmente, apenas os homens brancos (JUNQUEIRA, 2001). Com o fim da Guerra Civil, surgiram no país organizações ilegais, secretas, constituídas por homens brancos. Eram os cavaleiros da Camélia Branca, a Irmandade Branca, a Associação 76 e a bem estruturada Ku Klux Klan. Essas associações procuravam intimidar os negros por meio de assassinatos, linchamentos e espancamentos. A organização de princípios da Ku Klux Klan data de 1868 e afirmava que pretendia ”garantir socorro aos sulistas derrotados”, opondo-se à igualdade do negro, tanto social quanto política, defendendo o governo de um homem branco no país e a manutenção dos direitos constitucio- nais do Sul (JUNQUEIRA, 2001). Com relação à Ku Klux Klan, diz Junqueira (2001): (...) uma instituição de Cavalheirismo, Humanidade, Misericórdia e Patriotismo; (...) cujos objetivos peculiares são (...) proteger os fracos, inocentes e indefesos contra as indignidades, injustiças e ultrajes dos sem-lei - violentos e brutais -, acudir os injuriados e oprimidos, socorrer os sofredores e infelizes e, sobretudo, as viúvas e órfãos de soldados confederados (JUNQUEIRA, 2001, p. 53). 1.5 Contexto Pré-Independência da América Latina A Espanha, durante o século XVIII, passava por uma crise econômica e política. A crise eco- nômica resultou da forma de exploração colonial que a Metrópole havia desenvolvido denomi- nada “metalismo” ou “bulhonismo”. Esta foi uma época de esgotamento das minas do Peru e do México. A prata desestimulou o crescimento da incipiente manufatura espanhola, provocando inflação, dependência do abastecimento externo e fuga dos capitais. A crise política foi desencadeada pela morte do Rei Carlos II, decretando o fim da dinastia dos Habsburgos, que resultou em um longo período de guerras na Europa (WASSERMAN, 2003, p.120). O sistema colonial em crise O Tratado de Utrech, de 1713, possibilitou à Inglaterra, enclaves espanhóis, como Nápoles e o estratégico rochedo de Gibraltar, que guardava a entrada do Mediterrâneo; mais importantes foram ainda os favorecimentos coloniais aos ingleses, que adquiriram o direito aos asientos (for- necimento de escravos) e permisos (colocação de produtos manufaturados) nas colônias ameri- canas da Espanha (WASSERMAN, 2003, p.120). A Espanha ficou subordinada às principais potências europeias ao iniciar-se o século XIX: uma subordinação de natureza política em relação à França, que até acontecer a Revolução Fran- cesa se constituiria no principal aliado dos espanhóis contra as pretensões dos ingleses. Outra de natureza econômica, justamente em relação à Inglaterra, que cada vez mais iria interferirnaquilo que, até então, fora o “exclusivismo comercial” da Espanha. Sendo assim, um conjunto de refor- mas seria feito nas colônias e na Espanha, em busca de uma possível recuperação de poderio econômico e político. Outros acontecimentos gerais contribuíram fortemente para a crise, tais como: A Revolução Americana (1770-1780) foi um exemplo de rebelião colonial, juntamente com ideais revolucionários iluministas de liberdade. As revoluções, até então, eram rejeitadas pelas elites criollas na América, por acharem o projeto bastante radical. A revolução dos escravos na ilha francesa de São Domingo, na década de 1790, liderada por Toussaint L’overture, resultou, em 1804, na República Independente do Haiti, fato único na história da América, por se constituir ATIVIDADE Pesquise mais sobre a KU KLUX KLAN. E sobre demais organizações intolerantes que exis- tiram e ainda existem nos EUA. Aproveite este momento de reflexão para fazer comparações entre o passado e o presente. Iremos discu- tir sobre o assunto no fórum de discussão. ATIVIDADE A Revolução Haitiana é considerada a primeira revolução negra da história. Pesquise mais sobre este episódio marcante da história da América Central e Caribe e ela- bore um texto especí- fico sobre o assunto, problematizando as fases, e a importância desse movimento de resistência negra no contexto das lutas pela independência na Amé- rica, uma vez que essa revolução, juntamente com a Americana e a de Tupác Amaru, abre os demais movimen- tos pela conquista da liberdade e abolição da escravidão nas colônias. 23 História - História das Sociedades Americanas II um exemplo de independência realizado por escravos, diferente de todos os outros projetos que foram implantados pelas elites ou membros livres das sociedades americanas. O sucesso dos es- cravos assustou as elites coloniais e fez com que ficassem cautelosos sobre mudanças políticas. A situação confusa na península Ibérica, causada pelo projeto expansionista Napoleônico (1807- 1815), veio produzir uma crise de legitimidade política e econômica. A autoridade vinha do rei e de repente não havia rei. Essa crise colocou em questão a estrutura do poder e sua distribuição entre funcionários reais e a classe governante local (criollos). Na Espanha, os franceses forçaram o Rei a abdicar, mas tiveram que disputar uma guerra civil. Os criollos latino-americanos declara- ram lealdade ao rei espanhol, mas tinham que governar as colônias longe do poder central. Os franceses tiveram de decidir sobre o melhor jeito de manter-se no controle, através da coerção, dominação e manutenção dos privilégios. Entenda as reformas: Filipe V, em 1714, criou quatro ministérios, entre os quais o das índias. O novo ministério tornou-se uma agência real para a emissão de ordens sobre as finanças, o comércio, a guerra ou qualquer outro assunto de estado que fosse importante (WASSERMAN, 2003, p.93). Novas unidades administrativas foram criadas. Além dos Vice-Reinos já existentes, o do Peru e o da Nova Espanha, outros dois se for- maram após as reformas administrativas. Nova Granada, estabelecido definitivamente em 1739, compreendia, originalmente, o território das atuais repúblicas da Venezuela, Colômbia e Equador. O Vice-Reino do Prata, criado em 1776, e do qual fazia parte o Alto Peru, abarca- va os territórios que hoje formam as repúblicas da Argentina, Uruguai, Paraguai e parte da Bo- lívia. Ambos reduziram a imensa extensão do Vice-Reino do Peru. Para outorgar maior poder de decisão às autoridades regionais dentro dos Vice-Reinos, foram criadas as capitanias gerais: a da Guatemala, que compreendia toda a Amé- rica central, menos o Panamá, que permanecia ligado ao Vice-Reino de Nova Granada; a da Ve- nezuela, a do Chile e a de Cuba. Até meados do século XVIII, líderes da Es- panha se preocuparam com o crescimento da Inglaterra e França. A Espanha possuía uma economia agrícola ineficiente com pouca indústria, e o comércio marítimo era somente um es- coadouro para a produção agrícola. Os reis Bourbon, posteriores a Filipe V, dão continuidade às reformas. Carlos III (1759-1788) e Carlos IV (1788-1808) implementaram reformas na Espanha e nas colônias para melhorar a situação. Remodelaram o governo imperial, centralizaram o meca- nismo de controle e modernizaram a burocracia. Reorganizaram os governos coloniais: substituí- ram os cargos de alcaldes mayores e corregidores (corruptos, ineficientes e dominados por criol- los) com intendentes (peninsulares e diretamente ligados com a Coroa e assalariados). O controle econômico era um dos propósitos das reformas. Os principais objetivos eram: • Aumentar lucros para a metrópole. • Expandir os monopólios reais, a administração e aumento de impostos. • Aumentar taxas e impostos sobre mineração, agricultura e criação de gado. • Possibilitar a expansão estratégica do comércio, em função de aumentar a importação de produtos espanhóis para as Américas (frequentemente reimportações) e restringir exporta- ções das Américas. A Industrialização foi proibida nas colônias. Ressentimentos Os criollos se sentiram prejudicados, pois perderam poderes, privilégios e dinheiro, enquan- to os povos indígenas perderam espaço para negociar com comerciantes e governos locais e fo- ram pressionados a produzir e consumir mais. Houve muito ressentimento entre esses povos, ao pagarem altos preços para importações enquanto suas exportações eram restritas. Sendo assim, a Espanha obteve alguns avanços, mas os contrastes entre ingleses e espanhóis (desenvolvimen- to e estagnação, força e fraqueza) causaram um poderoso impacto nas mentes dos hispano-ame- ricanos. DICA Criollos eram os des- centes de espanhóis nascidos em solo ameri- cano. Possuíam grandes propriedades rurais e atuavam no comércio. Muitos estudavam na Europa e, ao retornar, exerciam carreiras como médico, advogado ou cargos públicos de segundo escalão, já que os principais cargos só eram exercidos por espanhóis. ◄ Figura 13: Divisão administrativa da América Espanhola Fonte: Disponível em <http://www.profes- sorsergioaugusto.com/ news/a%20independ%- C3%AAncia%20da%20 america%20espanhola/>. Acesso em 23 maio 2015. 24 UAB/Unimontes - 5º Período Interdependências A historiografia clássica enfatizava o conflito entre criollos e a metrópole, como o conflito central da independência, porém os dois grupos (criollos e peninsulares) eram interdependen- tes, controlavam a economia (peninsulares como altos burocratas e grandes mercantes e criollos, como donos de mineração e fazendas). Havia altos índices de casamento entre si. No Peru, os dois se juntaram como uma classe dominante branca contra a população indígena. Durante as guerras da independência, criollos lutaram nos dois lados. Racismo Os criollos não gostavam de peninsulares, mas ficavam entre eles e as camadas populares (mestiços, negros, índios). Havia uma obsessão com “brancura” na América Espanhola. Esse con- flito era mais agudo em Brasil, Caribe, Venezuela, Colômbia, Peru. Os criollos resistiram às tentati- vas de abolição da escravidão vindas da metrópole. Temos que procurar as origens da indepen- dência não só no conflito entre criollos e a metrópole, mas também em eventos internacionais e outros conflitos domésticos. Os atores da independência foram os espanhóis e os americanos (da América Espanhola). Quem eram eles? Os espanhóis: • Autoridades coloniais • Comerciantes • Representantes do clero secular e de distintas ordens religiosas • Comandantes militares • Peninsulares empobrecidos Os americanos (nascidos na América Espanhola): • Criollos de descendência europeia pura, que controlavam as atividades de produção mer- cantil. • Indígenas subjugados às mais variadas formas de trabalhocompulsório. • Negros cativos escravizados. • Indios e negros marginalizados dos processos produtivos (forasteros e cimarrones). • Homens e mulheres libertos, mestiços e mulatos. Após discutirmos sobre o contexto das independências na América Espanhola, no próximo tópico iremos analisar o contexto propício à independência dos Estados Unidos. Vamos aprovei- tar para fazermos comparações, sempre com o objetivo de procurar entender as independências como processos não lineares. É importante observarmos os avanços, retrocessos, rupturas e per- manências, que fazem parte dos movimentos de independência. Retomaremos os processos na América do Sul na unidade seguinte. 1.6 A Independência da América Espanhola O projeto expansionista de Napoleão Bonaparte pela Europa suscitou uma crise de autori- dade no sistema colonial espanhol. Afinal de contas, o rei Fernando VII fora contido pelas forças napoleônicas. Com a prisão do rei, a quem obedecer? Essa foi uma questão central para todas as colônias espanholas. Para resolver o problema, várias províncias optaram por criar governos provisórios, coman- dados por representantes locais ou provindos de outros lugares e indicados pela Coroa espanho- la. Mas a criação dessas Juntas Provisórias não foi nada tranquila. Para começar, a Coroa, frente ao manifesto e conhecido descontentamento dos criollos em relação a ela, tentou evitar a criação das Juntas, temendo tentativas de golpes. Várias Juntas foram criadas, mas rapidamente suprimidas pelo poder espanhol, que não as admitia. Com exceção das Juntas das províncias do Rio da Prata que não foram desfeitas, os realistas foram implacáveis com as que surgiram em outras regiões dominadas pelo império es- GLOSSÁRIO Criollos: Brancos de descendência europeia. 25 História - História das Sociedades Americanas II panhol. Alguns casos permitem perceber bem como funcionou essa dinâmica de surgimento e combate às Juntas. De qualquer maneira,as Juntas foram uma manifestação que, associada a outros fatores, contribuiu diretamente ou indiretamente para o desencadeamento da independência da Amé- rica Espanhola. 1.6.1 As Juntas Governativas na América do Sul Em Quito, com a Espanha subjugada por Napoleão, é criada, em agosto de 1809, uma Jun- ta Soberana para governar em nome de Fernando VII, encabeçada por um marquês e um bispo. A “boa” intenção em prol de Fernando VII não convence a burocracia colonial, que envia tropas para combater a tentativa de tomada do poder. A Junta sai derrotada, desfazendo-se em outubro de 1809. As autoridades coloniais combateram-na, temendo ser a atitude uma manobra da aris- tocracia local para tornar-se independente e ela mesma assumir o poder e exercê-lo como bem entendesse. No Alto Peru (atual Bolívia) surgiram duas Juntas. Em maio de 1809 foi criada uma Junta em Chuquisaca (atual Sucre), e pouco depois, em julho de 1810, surge outra Junta em La Paz; essa com feições mais autonomistas, ainda que, como a outra, não rompesse com Fernando VII. Pelo grau de contestação do poder estabelecido, a Junta de La Paz incomodava e preocupava a buro- cracia colonial. Demorou pouco para que o Presidente de Cuzco, José Manuel de Goyeneche e José Fer- nando de Abascal y Sousa, vice-rei do Peru, decidissem dar fim às Juntas. Enviaram à La Paz um contingente militar que, em outubro de 1810, com pouca resistência, desfez o governo dos insur- gentes. Em Chuquisaca passaram a se submeter ao Presidente de Charcas, indicado pelo Vice-Rei de Buenos Aires. No Chile, foi criada a Junta de governo em 1810. A convocação de eleições no congresso e a abertura de portos ao mercado internacional foram as primeiras e principais medidas tomadas. Inicialmente liderada por Juan Martínez de Rozas que, logo em seguida, ao não se entender com o congresso, retirou-se e foi substituído por José Miguel Carrera, antigo oficial do exército espa- nhol, que havia acabado de voltar da Espanha e possuía grande prestígio, especialmente entre os militares. Antes mesmo do fim de 1811, dissolveu o congresso, reformulando-o com regras e integrantes mais favoráveis à sua política (BUSHNELL, 2001). Algumas decisões tomadas por Carrera eram de cunho mais liberal, tais como a criação da imprensa e proibição da importação de escravos e o estabelecimento de liberdade para os filhos de mães escravas que viessem a nascer, ainda que, no Chile, não houvesse muitos escravos – a maioria deles eram escravos domésticos e viviam nas cidades. Em julho de 1812, Carrera, buscando ampliar seu poder, derrotou Juan Martínez de Rozas, que havia formado uma Junta dissidente na província de Concepción, após deixar a Junta de Santiago. Rozas foi obrigado a se exilar. Os dias de relativa tranquilidade de Carrera estavam contados. As tropas do Peru – reduto das forças contra-revolucionárias espanholas – avançaram sobre o Sul do Chile no início de 1813. O vice-rei peruano, Abascal, pretendia dominar tanto o Chile como o movimento insurgente da Argentina. Enquanto Carrera foi para a batalha tentar conter a invasão, foi destituído, entrando em seu lugar Bernardo O’Higgins. Mas, mesmo O’Higgins, não conseguiu expulsar as tropas do Peru (BUSHNELL, 2001). Para piorar a situação, Carrera tenta retomar o poder, se enfrentando com O’Higgins – o que debilitou ainda mais o poder de reação do Chile face à invasão realista. Episódio que, segundo David Bushnell (2001, p. 157), contribuiu para a esmagadora derrota que os realistas impuseram aos patriotas na batalha de Rancagua, cerca de 80 km ao Sul de Santiago, nos dois primeiros dias de outubro de 1814. Alguns meses antes, em maio, o Chile já havia assinado um acordo aceitando a autoridade do rei Fernando VII, permanecendo apenas com uma autonomia de governo restrita. O vice-rei do Peru, Abascal, resolveu dominar o Chile de vez, adentrando militarmente Santiago, em 5 de outubro e estabelecendo duras regras de governo, punindo e cassando os considerados inimi- gos. O’ Higgins, Carreras e outros tantos fugiram, refugiando-se na Argentina. Enfim, o império espanhol restabelece novamente o poder no Chile. O Vice-Reino do Peru tornou-se a principal base do poder espanhol na América do Sul. Para as províncias já independentes, extirpar a ameaça dos espanhóis era fundamental, só assim poderiam se consolidar como independentes. Para tanto, seria necessário invadir e domi- GLOSSÁRIO Realistas: eram os partidários do rei da Espanha. GLOSSÁRIO Patriotas: são os partidários da indepen- dência. DICA A historiografia há um bom tempo questiona a redução dos fatos his- tóricos a determinados personagens – entre eles os heróis. Mas figu- ras como Simón Bolívar e San Martín foram capazes de arregimen- tar em torno de si um grande contingente de patriotas, além de se- rem excelentes estrate- gistas militares, capazes de impor avassaladoras derrotas a exércitos bem maiores do que os que comandavam, muitas vezes participan- do pessoalmente das batalhas. 26 UAB/Unimontes - 5º Período nar o principal reduto dos realistas, o vice-reinado do Peru, de onde os espanhóis planejavam e estruturavam as ações de retomada do poder nas províncias que se emanciparam. Era de lá que partiam poderosos contingentes militares com o intuito de reconquistar os territórios que a Coroa espanhola havia perdido. Várias outras Juntas foram criadas como em Caracas, Bogotá e até uma segunda Junta em Quito. A independência chegou a ser declarada, entre 1811 e 1814, por algumas províncias e regiões, sendo a Venezuela o primeiro país a anunciar sua emancipação do jugo espanhol em julho de 1811. Na sequência, foram Cartagena (Nova Granada) ainda em 1811, Caracas (na Venezuela) em 1813, e Bogotá em 1814. Mas a contrarrevolução estava a caminho. Em 1813, o exército de Napoleão é derrotado na Espanha e a restauração de FernandoVII acon- tece nos primeiros meses do ano seguinte. No início de 1815, a Espanha envia forças expedicionárias para reconquistar os lugares da Colônia que havia perdido. O plano foi bem-sucedido. Ao final de 1816, o poder espanhol havia retomado a maior parte desses territórios, incluindo as principais províncias. Nessa primeira onda de independência, entrou em cena aquele que se tornaria o maior líder dos projetos de independência e que teve envolvido diretamente e indiretamente na maioria das independências conquistadas na América Espanhola, o venezuelano Simón Bolívar. Filho de ricos aristocratas coloniais, adepto de princípios republicanos, que também conheceu na Eu- ropa e Estados Unidos (primeiro exemplo de independência em solo Americano), era um exímio estrategista militar, a ponto de, em muitos casos, impor avassaladoras derrotas aos espanhóis, comandando tropas bem menores que a dos inimigos. Conhecedor das ideias liberais e iluministas,lançou mão delas na elaboração de seu proje- to político. Algumas amplamente incorporadas à Constituição dos países que libertava; às vezes, seguindo tendências mais centralistas e autoritárias que, em parte, era uma opção baseada na experiência com a dificuldade de implantar o republicanismo nas regiões que se emancipavam. Bolívar foi o principal líder do movimento de independência da América Espanhola. Ele tam- bém participou ativamente na conquista definitiva da independência de Nova Granada, Vene- zuela, Equador e Peru. Homens como Simón Bolívar e San Martín (outro importante líder da luta contra a coloniza- ção), muitas vezes, atuaram movidos mais por convicções ideológicas pessoais do que propria- mente apoiados por determinados governos. O nível de participação de cada um deles é possí- vel ser percebido ao se observar algumas das principais nuanças que marcam a independência de cada país. As independências obtidas foram gradativas. Praticamente em nenhum lugar da América Espanhola a emancipação foi obtida de uma só vez. É comum, na historiografia, afirmações ta- xativas dizendo exatamente quando a região se tornou independente; no entanto, em diversas situações as declarações de independência foram feitas apenas quando os patriotas tinham o controle parcial da região. 1.6.2 A Independência Definitiva das Regiões e Futuros Países Chile – Alguns exilados do Chile, que estiveram envolvidos na instalação da Junta em 1810, entre eles dois que a comandaram, José Miguel Carrera e Bernardo O’Higgins, se exilaram na Ar- gentina, onde o argentino San Martín preparava uma expedição para tentar dominar o principal reduto dos realistas na América do Sul, o Peru. A convergência de interesses os levou a se unirem, pois, para Martín, o Chile era estratégico para a tentativa de tomar o Peru dos espanhóis. Em 1817, quase três anos depois que a Junta do Chile havia sido eliminada pelo poder espa- nhol, com um exército de cerca de 3500 homens, San Martín e outros patriotas entram e domi- nam parte do país, incluindo Santiago. Por meio de uma assembleia, o poder é oferecido a Mar- tín que, imediatamente, o repassa a O’Higgins, um de seus homens de confiança e comandante de uma das divisões da expedição militar. O’Higgins declara a independência do Chile em 1818, atitude que poderia tranquilamente ter sido tomada no ano anterior, já que o panorama pouco se havia alterado. Alguns outros pon- DICA Assista ao filme “Liberta- dor” que narra que, em mais de cem batalhas, lutou Simón Bolivar contra o imperialismo espanhol que estava instaurado na América do Sul. O venezuelano promoveu campanhas militares em um território duas vezes maiores do que Alexan- dre, O Grande, fez. Figura 14: Simón Bolívar, contemporary English stipple engraving. The Granger Collection, New York Fonte: Disponível em <http://www.britan- nica.com/EBchecked/ topic-art/72067/85095/ Simón-Bolivar-contempo- rary-English-stipple-en- graving>. Acesso em 14 out. 2010. 27 História - História das Sociedades Americanas II tos do Chile continuavam nas mãos dos realistas, que controlavam parte da região Sul e a ilha de Chiloé. Tais pontos de dissidência seriam dissipados apenas em 1820. Venezuela – De forma semelhante ao Chile, a Venezuela tornou-se uma importante base para o combate às forças realistas na América do Sul, ainda que estivesse longe da emancipação completa. A tomada em 1817 da província de Angostura pelos patriotas fez da província a capital da renascente república venezuelana – é a partir dela, com sua privilegiada posição geográfica, que se tem fácil acesso, por meio de navegação, a outros redutos (existentes e futuros) patriotas na Venezuela ou em Nova Granada. Bolívar planejou e viabilizou muitas de suas ações a partir de Angostura. No primeiro Congresso de Angostura, realizado em 15 de fevereiro de 1817, é redigida uma Constituição, a qual contava com algumas ideias políticas de Simón Bolívar. Ele, nesse momento, adotava uma postura mais conservadora, que tendia ao centralismo e, entre outras coisas, prega- va a restrição do sufrágio. Focos de insurgência sempre existiram desde que a Venezuela havia se tornado república pela primeira vez, porém não eram fortes o suficiente para ameaçar o regime espanhol. A declaração da independência da Venezuela ocorre alguns anos depois, em 1821. Foi re- sultado da última campanha de Bolívar para dominá-la de vez, que teve seu ponto culminante na batalha de Carabobo, ao Sul de Valência, travada em junho desse mesmo ano, que destruiu o exército do general realista Miguel de la Torre. Alguns dias depois, Caracas é dominada. Nova Granada (atual Colômbia) – As guerrilhas insur- gentes também existiam em Nova Granada, e uma das mais importantes era a de Casanare, que conseguiu derrotar os espanhóis e assumir o poder em 1819. Enxergando-a como ponto estratégico, Bolívar enviou um dos seus homens de confiança, o general Francisco de Paula Santander para ex- tinguir a possibilidade de contragolpe e instalar uma base de operações avançadas. Com a missão de Santander cum- prida com sucesso, Bolívar pôde se desprender para o Oeste. Três dias após a batalha de Boyacá, ocorrida em 07 de agosto de 1819, Bolívar e seus homens conquistam Bogotá, sem encontrar resistência. Os patriotas obtiveram o domínio sobre o centro de Nova Granada, e essa situação foi impor- tante para o provimento de recursos materiais e humanos implementados na liberação do restante de Nova Granada e na ofensiva que seguiu rumo aos Andes venezuelanos e para o enfrentamento com as forças realistas de Quito e Peru (BUSHNELL, 2001). A presença dos espanhóis, entretanto, não foi total- mente extinguida de Nova Granada. Algumas regiões continuaram sob o jugo dos peninsulares e demorariam ainda vários anos para serem conquistadas. A província de Pasto, por exemplo, até 1822 não havia sido pacificada. As relações entre Nova Granada e Venezuela, muito em função da liderança militar e influên- cia política costurada por Simón Bolívar, que transitava o tempo todo nos dois territórios, susci- tava o interesse em juntar as duas regiões em uma só unidade federativa. O que foi concretizado durante o Congresso de Angostura, em 17 de dezembro de 1819, ocasião em que foi proclamado o nascimento da República da Grande Colômbia, unindo Venezuela e Nova Granada. Nos dois anos seguintes, se integraram a ela o Panamá e o Equador. O congresso constituinte da Grande Colômbia aconteceu dois anos depois, em maio de 1821, na província de Cúcuta, formalizando dispositivos constitucionais discutidos em 1819 no congresso de Angostura. Até então, tal como aconteceu anteriormente, nenhum representante do Equador compareceu. Ficou definido que Simón Bolívar era o Presidente da Grande Colômbia e Francisco de Paula Santander o Vice-Presidente, e a capital sendoBogotá. A Constituição adotada, fortemente cen- tralista, rejeitava muitos dos princípios liberais – embora vários deles tenham sido mantidos por serem considerados por Bolívar como responsáveis pela degeneração de várias das repúblicas hispano-americanas. A República da Grande Colômbia, porém, se desfez em 1829, dando origem aos atuais Es- tados da Venezuela, Equador e Colômbia, com o Panamá permanecendo anexado a este último. Figura 15: A divisão da Grande Colômbia (1830) Fonte: Disponível em <http://www.britannica. com/EBchecked/topic- -art/555844/1057/The-di- vision-of-Gran-Colombia>. Acesso em 14 out. 2010. 28 UAB/Unimontes - 5º Período Os muitos interesses divergentes internos, de ordem política, econômica e cultural contribuíram decisivamente para sua dissolução. Equador – Como em outros casos, a independência do Equador não se dá por completo imediatamente. Há um considerável espaço de tempo entre a conquista da emancipação de suas duas principais províncias. Guayaquil não precisou de ajuda militar dos patriotas, ela se autoli- bertou dos espanhóis por meio de uma revolução interna. De qualquer forma, Bolívar achou prudente enviar seu principal tenente, Antônio José de Sucre, para salvaguardar a província de possíveis tentativas de contragolpe movidas pelos realis- tas. Além disso, poderia empreender dali ações para a conquista de outros territórios. E foi exa- tamente de Guayaquil que Sucre, no início de 1822, abriu uma das duas frentes planejadas para tomar Quito, enquanto Bolívar seguiu por outra rota, avançando pelo Sul de Nova Granada. Enquanto os espanhóis enfrentavam as tropas comandadas por Bolívar, Sucre e seus ho- mens avançavam rapidamente e, com o apoio de um contingente do exército de San Martín, venceram a batalha de Pichincha em 24 de maio de 1822, já bem próximo de Quito, o que levou os realistas a entregarem o poder sem a necessidade de um conflito armado na província (BUSH- NELL, 2001). Com a vitória dos patriotas, Quito passou a integrar a Grande Colômbia, assim como aconteceu anos antes com Guayaquil, quando emancipada. Panamá – No plano estratégico de Bolívar para tentar livrar o Equador dos espanhóis, es- tava incluído abrir caminho pelo Panamá, região de forte presença dos realistas. Essa seria a primeira etapa, todavia não foi necessário. Numa convulsão interna, em novembro de 1821, os próprios panamenhos destituíram os espanhóis do poder. E assim que fica livre dos espanhóis, o Panamá se integra à Nova Granada (atual Colômbia). O Estado do Panamá apenas surgirá em 1903, quando se torna independente da Colômbia, com o apoio dos Estados Unidos da América. Peru – O obstinado José de San Martín, depois de ter liderado a ação armada que varreu o poder espanhol de quase todo o Chile em 1817, preparou-se para seguir em diante e concretizar aquele que era o seu grande objetivo: pôr fim ao principal reduto dos espanhóis na América do Sul, o Peru. Era de lá que os realistas organizavam seu exército para garantir o domínio da Coroa espanhola e suprimir os movimentos republicanos insurgentes. Em 1820, San Martín havia começado a adentrar o território do Peru, quando eclode a Re- volução Liberal na Espanha. Ele achou prudente esperar as definições do novo governo, assim podendo evitar um conflito armado de maiores proporções. Sabendo dos acontecimentos na Es- panha, acreditava que os liberais almejavam um novo tipo de relação com a América Espanhola, uma política anticonflito. Enquanto mantinha certa trégua, Martín imaginou que, nesse ínterim, os peruanos pudes- sem ficar entusiasmados com a possibilidade de alcançar a independência. De fato, sua presença contribuiu para isso. A situação do Peru contribuiu para tal desenlace, visto que havia um cres- cente descontentamento emergido nos últimos anos em relação à Coroa espanhola. No final de 1820, várias cidades costeiras do norte aderiram à causa dos patriotas (BUSHNELL, 2001). Na capital, Lima, embora uma possível resistência tenha sido esboçada inicialmente, antes mesmo de San Martín chegar com sua tropa, os realistas abandonaram a cidade e se refugiaram na região da serra peruana, deixando assim o caminho livre para que Martín entrasse em Lima sem encontrar resistência e proclamar a independência do Peru, em 28 de julho de 1821. Ele con- cordou em assumir interinamente a posição de chefe do Peru. Quase um ano depois, num encontro com Bolívar na con- ferência de Guayaquil, em julho de 1822, Martín decidiu aban- donar a posição de chefe do Peru, partindo para o autoexílio na Europa. Este é um episódio que, até hoje na historiografia, pouco se sabe sobre as motivações que levaram à sua retirada. As reformas implementadas no Peru afetaram a popula- ridade de San Martín, o qual já se posicionava a favor de um regime político baseado numa monarquia independente. Sem Martín, o único líder com carisma e força para dar conta da di- fícil situação do Peru, era Simón Bolívar. Quando estava no co- mando do Peru, Martín não enfrentou o forte foco realista ins- talado na serra peruana, tarefa que Bolívar cumpriu. Ao ser convocado pelo congresso, Bolívar desembarca no Peru em 1823. Depois de uma breve tentativa dos realis- ATIVIDADE As fronteiras políticas e territoriais não são es- tanques, são suscetíveis a mudanças, e várias delas ocorrem ao longo do tempo. Procurem comparar, sempre que possível, os mapas de diferentes períodos históricos. Eles nos dizem muito sobre as configurações e disputas políticas no mundo. DICA José Francisco de San Martín y Matorras (Yapeyú, 25 de fevereiro de 1778 - Boulogne- sur-Mer, 17 de agosto de 1850) foi um general sul-americano cujas campanhas foram de- cisivas para as declara- ções de independência da Argentina, do Chile e do Peru. O ano de seu nascimen- to é discutido, e não existem documentos de batismo, sendo que outros (tais como passaportes, arquivos militares, casamento, etc.) são inconsistentes quanto à sua idade. A maioria desses docu- mentos aponta para o ano de seu nascimento como 1777 ou 1778. Figura 16: José de San Martín, detalhes de um retrato por F. Bouchot; no Museu de West Point, Nova York Fonte: Disponível em <http://www.britannica. com/EBchecked/topi- c-art/521474/14050/Jose- de-San-Martin-detail-o- f-a-portrait-by-F>. Acesso em 14 out. 2010. ► 29 História - História das Sociedades Americanas II tas em voltar ao poder, chegando a dominar Lima indiretamente, Bolívar assume a liderança e rapidamente retoma o controle. E não para por aí: parte para dominar de vez as partes do Peru que os realistam insistiam em dar as cartas, inclusive a serra. Ele permaneceu em Lima para varrer definitivamente os realistas da cidade, enquanto Sucre seguiu com a campanha que cul- minou com a famosa batalha de Ayacucho, que resultou na emancipação da província em 09 de dezembro de 1824. Foi um confronto de grandes proporções, o vice-rei José de la Serna conduzia nada menos que cerca de 7 mil homens armados (BUSHNELL, 2001, p. 173-174). Ficou faltando apenas libertar o Peru e El Callao, o que ocorreu respectivamente em 1825 e 1826. Alto Peru (atual Bolívia) – Entre 1809 e 1810, duas Juntas governativas surgiram no Alto Peru. Os realistas, todavia, as destituíram. Mas, logo na sequência, os argentinos chegaram e ten- taram extirpar os espanhóis do poder. Especialmente por motivações econômicas, os patriotas do Rio da Prata logo se empenha- ram em assegurar o domínio sobre o Alto Peru, que tinha regiões como a de Potosí, produtora de prata. Nos meses finais de 1810, além de Potosí, foram dominadas também Chuquisaca e La Paz. Contudo, demorou pouco para que os realistas tentassem reconquistar essas regiões. Em junho de 1811, foram retomadas pelas forças realistas comandadas
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