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Alimento e predado- res exercem influên- cias sobre os custos e os benefícios da vida em grupo Vários olhos são melhores do que um 120 Capítulo 6. Vida em Grupo Mostre a qualquer um 10.000 flamingos nidificando lado-a-Iado em uma colônia e é provável que cedo ou tarde irá perguntar "Por que motivo todos nidificam tão próximos uns dos outros ?" Neste capítulo iremos analisar porque os animais vivem em grupos: flamingos em bandos, cavalos em manadas e sardinhas em cardumes. Usando os métodos descritos no Capítulo 2 (comparações entre espécies ou em uma mesma espécie e estudos experimentais de custos e beneficios) iremos demonstrar como as pressões ecológicas podem favorecer a vida em grupo. Com ara ões entre es écies su erem que alimento e predadores são os dois rinci ais fatores amblentais ue exercem m uênclas so re o tamanho do grupo (Capítulo 2). Comparações entre populações de uma espéCie também colocam em evidência esses fatores (Figura 6.1). Em muitos estudos, ou os custos ou os beneficios relacionados à alimentação e à predação foram medidos, e iremos descrever alguns na primeira parte deste capítulo, antes de considerarmos se os diferentes tipos de custos e beneficios podem ser combinados para prever o tamanho ótimo do grupo. Os animais que não vivem em grupo (e mesmo alguns que o fazem) freqüentemente defendem recursos, dos quais excluem os membros da mesma espécie. Portanto, a questão "Por que viver em grupo?" é uma extensão natural da questão "Por que defender recursos?", que discutimos no Capítulo 5. Vida em grupo e evitação de predadores. Os lebistes na Figura 6.1a vivem em grupos quando habitam riachos onde os predadores são comuns, o que sugere que tmãê estar em um grupo pode ajudar um indivíduo a evitar que se tome uma refeição. Isto poderia acontecer de várias maneiras. INCREMENTO NA VIGILÂNCIA Para muitos predadores, o sucesso depende da surpresa: se a vIÍlma e alertâda precocemente durante um ataque, a chance de sucesso do redador é eguena. Isto e ver a erro, por exemplo, para o gavião que caça pombos que vivem em bandos (Figura 6.2). Os gaviões têm menor sucesso no ataque aos bandos grandes, principalmente porque os pombos nestes bandos levantam vôo quando o gavião ainda está distante. Se cada pombo no bando, ocasionalmente, olha para cima à espreita de um gavião, quanto maior o bando, maior é a chance de que uma ave esteja alerta quando o gavião surge no horizonte, Assim que uma ave levanta vôo, as demais a seguem imediatamente. (b) ro "O 'Õc <1l .g ~ 80 ro u .~'!ij 60 ~g- S ~ '" o 40~p.. 5 20 .:» eoc, Poucos 2 3 4 5 6 Muitos Abundância de predadores (por riacho, em ordem crescente) (aI '"§ "Oe 6 o "O o.ro '"'"o U Os avestruzes vigi- am ao acaso Em grupos de vigi- lantes, a trapaça po- de ser vantajosa .•. VIDA EM GRUPO /121 7 5 • • 100 l • • • o 200 400600 80010001200 Densidade de presas (amrnars/ m 2) Fig. 6.1 Variação intra-especifica no tamanho do grupo pode estar relacionada com predação e alimento. (a) Lebistes (Poecilia reticulata) de diferentes riachos de Trinidad: os lebistes de riachos com muitos predadores vivem em cardumes mais compactos do que aqueles vivendo na presença de poucos predadores. Cada ponto é um riacho diferente e a "coesão" foi medida através da contagem do número de peixes em quadrantes colocados no fundo de tanques. Dados de Seghers (\ 974). (b) maçaricos (Calidris alba) em Bodega Bay, California. As aves defendem porções da zona entre-marés, em algumas partes, e alimentam-se em bandos itinerantes em outras partes da praia. A defesa ou não de territórios depende da densidade da presa principal, um isópode chamado Excirolana linguifrons. Os territórios são defendidos principalmente em áreas com densidades intermediárias de presas. Em densidades muito baixas não há presas suficientes para tomar a defesa lucrativa, enquanto em densidades muito altas há muitos maçaricos tentando alimentar-se, de modo que a defesa se toma inviável pela alta pressão de invasores. Na área onde as aves defendem territórios, observa-se uma correlação inversa entre tamanho do território e densidade do alimento. Dados de Myers et aI. (\ 979). A maneira exata como muda a vigilância em relação ao tamanho do bando depende de como os indivíduos no grupo gastam o seu tempo. Por exemplo, em bandos de avestruzes, Brian Bertram (1980) constatou que cada indivíduo gastava uma proporção menor de seu tempo vigiando do que quando sozinho, mas a vigilância total do grupo (proporção do tempo com pelo menos uma ave vigiando) aumentava ligeiramente com o tamanho do grupo (Figura 6.3). Portanto, cada ave no bando tem mais tempo para se alimentar e desfruta de maior percepção quanto à aproximação de leões (um predador potencial dos avestruzes). O incremento da vigilância com o tamanho do grupo se dá como previsto se cada ave levantasse a cabeça independentemente uma das outras. Os avestruzes também levantam suas cabeças a intervalos aleatórios, o que toma impossível para um leão prever quanto tempo ele tem para avançar sem ser detetado por sua vítima. Qualquer padrão previsível de vigilância poderia ser usado em táticas de aproximação pelo leão. A questão de como os indivíduos em um grupo vigiam é complicada pelo fato de que, num grupo grande, onde a vigilância total está no valor máximo de 100%, valeria a pena um indivíduo 122/ CAPÍTULO 6 ... a menos que o indivíduo que vigia tenha uma recom- pensa maior (a) 100 '"o "O;a 8 80 :l '" ~ 60.o '"4):lg- 40 <;; 4) "Oe 20 t ~ o op., o O 2-10 11-50 >50 (b) 60 Fig. 6.2 (a) Gaviões (Accipter gentilis) são menos bem sucedidos quando atacam bandos grandes da pomba Co/umba pa/umbus. (b) Isto se deve em grande parte ao fato de que os bandos maiores levantam vôo a distâncias maiores do gavião. No experimento, um gavião treinado era solto a uma distância padrão. Dados de Kenward (1978). trapacear, gastando todo o seu tempo de cabeça baixa alimentando- se. O trapaceiro não perde nada em termos de vigilância, porque outros estão ocupados vigiando enquanto ele ganha tempo extra para se alimentar. Não se sabe como este tipo de trapaça não evolui, mas uma sugestão é a seguinte. Enquanto a estratégia "inocente" de vigiar regularmente, independente do que os outros fazem, seja susceptível à trapaça, um bando formado por indivíduos mais astutos, que não vigiam a menos que tenham visto seus vizinhos fazendo o mesmo, pode ser resistente a trapaceiros (Pulliam et aI., 1982). A questão mais ampla é que mesmo quando há um beneficio para todos com a permanência em um grupo, cada indivíduo tentará obter mais vantagens do que os demais. Em manadas de gazelas de Thompson, o indivíduo que está vigiando quando um predador se aproxima, tem mais chances de escapar (Fitzgibbon, 1989). Aqui há um beneficio direto para o indivíduo "vigilante", portanto nenhuma seleção a favor da trapaça. o efeito de diluição pode explicar ... ... o repouso comunal de borboletas ... VIDA EM GRUPO /123 (a) ~ ~ o O) p..~ 6 o 40 O) ti):;.t; ~ -06-0 6 ;:3 S O) o ã;O 8 ~ 30 E;:3Ê8 G.> cd ~ g.~ {L_-L ~I:-- --:::~I 3e4 2 3e4 Número de aves no grupo (b) Número de aves no grupo Fig. 6.3 Vigilância em grupos. (a) Um avestruz (Struthio came/us) gasta uma proporção menor de tempo espreitando predadores quando está em um grupo. (b) A vigilância total do grupo aumenta ligeiramente com o tamanho do grupo (linha contínua), como seria previsto se cada indivíduo levantasse a cabeça independentemente dos demais (linha tracejada). Dados de Bertram (I980). DILUIÇÃO E COBERTURA Embora haja apenas um pequeno acréscimo na vigilância com o aumento do tamanho do grupo de avestruzes, as chances de que qualquer um dos indivíduos seja devorado durante um ataque pelos leões decresce rapidamente com o tamanho do grupo, porque os leões podem matar apenas um avestruz em cada ataque bem sucedido. Vivendo em grupos, avestruzes diluem o impacto de um ataque bem sucedido porque há uma boa chance de que outro indivíduo seja a vítima. Em certo grau, esse efeito de diluição pode ser superadopelo incremento do número de ataques- contra grupos maiores e mais conspícuos, mas freqüentemente o efeito líquido provavelmente favorece a vida em grupo, como é ilustrado pelo seguinte exemplo hipotético. Um antílope numa manada de cem indivíduos tem (considerando constantes as outras variáveis) somente I chance em 100 de ser a vítima em um ataque; e é improvável que uma manada atraia mais do que cem vezes mais ataques do que a.um indivíduo solitário (veja também a Fig. 6.4). E, se de fato a manada é mais vigilante, pode ser vantajoso para o predador concentrar seus ataques a grupos pequenos e aos indivíduos solitários. Em um estudo, no qual a taxa de sobrevivência dos indivíduos em ~rupos de diferentes tamanhos foi medida, demonstrou-se que há um beneficio global com a vida em grupo decorrente da dIlUIção. A borboleta monarca (Danaus plexippus) migra da 124/ CAPÍTULO 6 •••0 roubo de jovens ... ... a formação de manadas em cava- los ... 100 ~k,<li: -"!: ~At k~ k,";~l····.'~:' " ..... ..'.r previsto d 10 '§ observado~ V\ ] ';; ]•.. oc. ~ 0,1g. < 0,01 ". ", . , ,! t! 10 100 Número de patinadores d'água no grupo Fig. 6.4 Um exemplo do efeito de diluição, As presas são insetos chamados de patinadores-d'água (Halobates robustus), que pousam sobre a superfície da água; os seus predadores são pequenos peixes (Sardinops sagax) , O peixe suga o inseto por debaixo, de modo que há pouca chance de acréscimo na vigilância com o aumento do grupo, A taxa de ataque pelo peixe é similar em grupos de tamanhos diferentes, de modo que a taxa de ataque por indivíduo varia devido apenas à diluição, A linha de "previsão" é aquela que se espera obter quando o dec1ínio na taxa de ataque com o tamanho do grupo for dependente apenas da diluição; esta linha fica muito próxima do que se observa experimentalmente, Dados de Foster & Treheme (1981), América do Norte para passar o invemo em lugares mais quentes, como o México, Elas reunem-se em enormes bandos para repouso, e as árvores de uma área de até 3 hectares podem ser totalmente recobertas por borboletas em repouso. A monarca não é uma borboleta muito palatável, mas algumas aves 'ai atacam esses bandos de invemo. çontagens de restos de borboletas predadas mostraram que a taxa de redação estava inversamente relacionada com o tama o a co ôma de modo ue a vanta em da dilui ão parece superar ual uer desvantagem da maior cons icuidade dos bandos randes Calvert et ai., 1979). O efeito da diluição, que decorre da vida em grupo, é provavelmente uma vantagem amplamente difundida e pode explicar o comportamento estranho de algumas aves na fase de cria, tais como os avestruzes e mergansos. Quando duas fêmeas se encontram, cada uma parece tentar roubar o filhote da outra incorporando-o à sua própria prole. Usualmente, cuidar do filhote de outro não vale a pena, mas se a pressão de predação é severa isto pode ocorrer, devido à diluição. Um exemplo mais concreto do efeito da diluição aparece num estudo de cavalos semi-selvagens em Carmargue, um delta pantanoso no sul da França. Nos meses de verão, os cavalos são acossados pelas mordidas de moscas 000 e o ciclo de vida das cigarras,td1 f 1 . ~ : r~ Os indivíduos no meio de um grupo podem estar mais se- guros do que aque- les da borda VIDA EM GRUPO /125 tabanídeas e, durante esse período, há maior probabilidade que se reunam em grandes grupos. Contagens de moscas por cavalo em grupos grandes e pequenos mostraram que os cavalos nos grupos grandes têm menor chance de serem atacados. Um experimento onde os cavalos foram transferidos de grupos grandes para pequenos e vice-versa confirmou que a vida em grupo confere proteção pelo efeito de diluição (Duncan & Vigne, 1979). Em aI uns animais a diluição é incrementada pela sincronia no tempo e no espaço e ISSO eve exp Icar os notavelS CICos e VI a e 13 e 17 anos de algumas CIgarras. Esses Insetos permanecem como ninfas enterrados no solo e os adultos emergem após 13 ou 17 anos, dependendo da espécie e da localidade. Nas cigarras com ciclo de 17 anos, estudadas por Dybas e Lloyd (1974), milhões de adultos (de 3 espécies) emergem em sincronia em uma ampla área, efetivamente "inundando o mercado", de modo que a chance de um dado indivíduo tornar-se vítima de um predador é reduzida. Lloyd & Dybas (1966) e outros fizeram especulações sobre as razões para os ciclos com duração de 13 ou 17 anos e não de 15 ou 18, por exemplo. A vantagem de um estágio muito longo de dormência entre períodos de emergência está no fato de que coloca "fora do páreo" os predadores e os parasitas especializados. Quando não há cigarras por 13 ou 17 anos os predadores deveriam morrer, trocar de presa ou tornar-se também dormentes. O ciclo muito longo pode ter surgido como resultado de uma "corrida evolutiva" (Capítulo 4), na qual tanto as cigarras como seus predadores elongaram gradualmen- te seus ciclos de vida até que, eventualmente, as cigarras sairam "vencedoras". O si nificado dos períodos de 13 e 17 anos está no fato de que são números primos e isto impedina que um pre a or entrasse em SIncroma penodlca com as CIgarras, face a impossi5t- lidade do CICo as CIgarras ser um mu IP o o CIclo de VIda curto do redador. Se por exemplo, as cigarras possuíssem um ciclo de 15 anos, os predadores com ciclo de vida de 3 ou 5 anos iriam entrar em compasso com a sua presa a cada 5 ou 3 gerações. Esta idéia permanece como uma especulação interessante, mas a sincronia é certamente uma vantagem. Evidências de campo mostram que as cigarras que emergem no pico do ciclo tem menos chance de sucumbir aos predadores do que aquelas emergindo precoce ou tardiamente (Simon, 1979). Portanto, a seleção atua no sentido de manter a sincronia uma vez que ela tenha sido estabelecida. Assim como uma cigarra no meio de um ciclo de emergência está mais segura do que uma no final (ou no começo), os indivíduos no meio de um bando, cardume ou manada podem desfrutar de maior segurança do que aqueles da borda. Se o predador captura as vítimas das extremidades, cada membro do grupo deveria procurar uma posição central, escondendo-se atrás de outros (Hamilton, 1971). Isto pode explicar porque bandos de estorninhos, por! exemplo, mantêm-se em grupos compactos quando um predador se aproxima. Por que o predador deveria atacar as bordas do grupo? A brincadeira de lançar, ao mesmo 126/ CAPÍTULO 6® lló ~ ~ + (:JK.fJ~ do ~ ~ dOJ> ~- tempo, 3 bolas de tênis para um parceiro mostra como é difícil manter no campo visual a trajetória de um certo número de objetos por tempo suficiente para apanhar um deles. Há evidências de que os predadores sofrem do mesmo tipo de confusão quando atacam um grupo denso de presas (Neill & Cullen, 1974) e isto pode fornecer uma explicação do porquê direcionam os ataques para a borda do grupo. Efeito da confusão "MD3®iNG'( Ataque comunal do tordo da Escandiná- via a predadores DEFESA DE GRUPO As presas não são apenas vítimas passivas e vivendo em grupos elas podem se defender das atenções indesejáveis de um predador. Em colônias de gaivotas de cabeça-preta, os casais com ninhos atacam os corvos que voam próximo ao seu ninho e, no centro de uma grande colônia, várias gaivotas arremetem contra o corvo ao mesmo tempo porque ele está próximo de muitos ninhos. O efeito disto é a redução no sucesso de captura de ovos de gaivotas pelo corvo (Kruuk, 1964) (veja também Fig. 6.5a). CUSTOS DE ESTAR EM UM GRUPO Como mencionamos antes, um dos custos da vida em grupo deve ser o aumento em evidência. Este custo foi estudado experimen- talmente por Malte Andersson (Andersson & Wicklund, 1978), usando ninhos artificiais de um tordo (Turdus pila ris) que se acasala em colônias na floresta boreal da Escandinava. Os ninhos volumosos são muito evidentes e uma colônia de ninhos artificiais atrai mais predadores do que ninhos solitários. Entretanto, esses tordos atacam vigorosamente corvos e outros predadores, e Andersson e Wicklund notaram que ninhos artificiais colocados próximos às colônias dos tordos sobreviveram melhordo que outros colocados próximos a ninhos isolados. Eles concluíram que o benefício do ataque em gru o elos membros de uma colônia su erava as esvantagens ecorrentes a eVl ência. Isto é apoiado pe as o servaçoes e o er aas e que o sucesso de nidificação é maior entre os tordos coloniais do que entre os tordos solitários. Vida em grupo e obtenção de alimentos ENCONTRANDO BONS LUGARES Os estudos comparativos descritos no Capítulo 2 revelaram que as espécies que se alimentam em grandes aglomerações efêmeras de alimento, tais como sementes ou frutos, freqüentemente vivem em grupos. Para esses animais, a etapa limitante da alimentação é o encontro de bons locais: uma vez que um lugar tenha sido VIDA EM GRUPO /127 Fig. 6.5 (a) Vida em grupo e evitação de predadores. Em colônias densas de urias (Uria aalge) como esta, o sucesso reprodutivo é maior do que em colônias esparsas, devido à defesa mais efetiva contra predadores. Dados de Birkhead (1977). Foto de T.R. Birkhead. (b) Vida em grupo e caça. Hienas (Crocuta crocuta) podem capturar com sucesso presas maiores do que elas porque caçam em grupo. Dados de Kruuk (1972). Foto de Hans Kruuk. (a) (b) 128/ CAPÍTULO 6 Colônias e bandos de repouso podem atuar como centros de informação A transferência de informação não im- plica, necessaria- mente, em coopera- ção Transferência de in- formação em Quelea encontrado, usualmente haverá abundância de alimento ao menos durante algum tempo. Peter Ward e Amotz Zahavi (1973) desenvolveram a idéia de que bandos em repouso e colônias de ninhos poderiam funcionar como "centros de informação", nos quais os indivíduos encontram bons lugares de alimentação seguindo outros. A idéia é que as aves mal-sucedidas retomam para a colônia ou bando e esperam por uma chance de seguir outras que tiveram maior sucesso na última viagem de alimentação. Aves mal-sucedidas devem reconhecer o~ bem-sucedidos, por exemplo, pela velocidade com que deixam a colônia para um nova viagem. Talvez tenha sido pouco feliz o uso da frase "centro de informação" por Ward e Zahavi, que tem uma conotação de cooperação mútua na transferência de informação, como por exemplo, em uma colônia de abelhas melíferas ou de formigas. Como veremos no Capítulo l3, há razões especiais para a expectativa de se encontrar cooperação em uma colônia de Hymenoptera, mas isto não se aplica as aves em bandos de repouso ou em colônias de ninhos. "Parasitismo mútuo" poderia ser um rótulo mais apropriado aqui, já que os forrageadores bem-sucedidos são de fato parasitados pelos mal-sucedidos. Cada indivíduo forrageia ara maximizar seu ró rio sucesso e não o sucesso da colônia como um todo. Em algumas espécies, o "informante" deve ser incapaz de evitar que outros o sigam, pois sempre fica em evidência quando deixa o ninho, como por exemplo, aves marinhas deixando a colônia sobre um penhasco. O "informante" pode, entretanto, beneficiar-se em ser seguido. O beneficio poderia ser a longo prazo - em uma viagem posterior o condutor toma- se um seguidor; ou a curto prazo - pode haver uma vantagem em alimentar-se em grupo, por exemplo, devido a redução do risco de predação. Se esses beneficios não compensam as desvantagens da competição no local de alimentação, uma ave bem-sucedida deveria mascarar, tanto quanto possível, informação sobre o seu sucesso. O teste experimental mais direto da idéia de Ward e Zahavi aparece no estudo de Peter de Groot (1980) sobre bandos em repouso do pássaro tecelão (Quelea quelea). Essa ave nidifica em colônias e repousa em grupos que podem ter mais de 1 milhão de indivíduos. Eles são uma praga séria da agricultura em partes da África central e podem devastar um campo de grãos em poucas horas. O experimento de Groot foi feito em uma escala mais modesta (Fig. 6.6). Dois grupos de aves repousavam juntos no grande viveiro rotulado de X e tinham acesso a áreas de alimentação em pequenos compartimentos rotulados de 1 a 4. Da área de repouso os pássaros não podiam ver o interior dos compartimentos e tinham que passar através de pequenas entradas afuniladas para explorá-los na busca de comida e água. Em um experimento, um dos grupos (A) foi treinado para encontrar água em 1 dos quatro compartimentos e o outro grupo (B) foi treinado separadamente para encontrar alimento em outro compartimento. Permitiu-se que os dois grupos repousassem juntos e foram privados de água ou alimento. Quando eles estavam sedentos, os Em ratos, a infor- mação é transferida pelo cheiro VIDA EM GRUPO /129 x 2 3 4 Fig. 6.6 Um experimento para testar a hipótese de "centro de informação" em Quelea. As aves repousam na área grande indicada por X e alimentam-se nos compartimentos menores numerados de 1 a 4. aves do grupo B seguiram os indivíduos do grupo A até os locais com água e, quando sentiram fome, A seguiu B até os locais de alimentação. De algum modo, os aves "inexperientes" tiveram acesso ao que era do conhecimento dos membros do outro grupo e os seguiram até o local de suprimento do recurso desejado. Em um segundo experimento, o grupo A foi treinado para forragear em um bom suprimento alimentar (sementes) em um dos compartimentos, enquanto B foi treinado, separadamente, para voar até outro compartimento com suprimento pobre em alimento (sementes misturadas A um substrato de areia). Quando os dois grupos repousaram juntos, os membros do segundo grupo seguiam os do primeiro grupo, quando deixavam o repouso na alvorada. Ainda não se sabe como os aves reconhecem quais indivíduos seguir. Em outro estudo, entretanto, o modo de transferência de informação foi identificado. Geoff Galef e Stephen Wigmore (1983) treinaram ratos (Rattus norvegicus) na procura de alimento em labirintos com 3 corredores. Cada corredor tinha alimento com sabor diferente: chocolate no primeiro, canela no segundo e queijo no terceiro. Na primeira parte do experimento, ensinou-se aos ratos que a cada dia apenas um dos três lugares continha alimento, mas o local era imprevisível. Então, nos dias de experimentação efetiva, permitiu-se que cada um dos sete ratos cheirassem um rato "indicador" em uma caixa vizinha. Permitia-se que o indicador comesse qualquer um dos alimentos oferecidos ao acaso, a cada dia. Verificou-se que quatro entre sete dos ratos, que haviam cheirado o indicador, foram para os locais corretos na primeira escolha do dia. "Cheirar" era a palavra operante, porque os outros experimentos demonstraram que o sinal que o rato testado obtinha do indicador era o cheiro do alimento que havia comido, assim como você pode dizer quando um amigo comeu uma pizza de alho. O aprendizado mais objetivo sobre fontes potenciais de alimen- to, com a observação de outros indivíduos, é importante em bandos de aves e cardumes de peixes (Krebs et al., 1972; Pitcher et ai., 1982). 130/ CAPÍTULO 6 Predadores que per- seguem suas presas Bandos de ganso otimizam o tempo de retorno CAPTURANDO PRESAS DIFÍCEIS Indivíduos em um grupo podem ser capazes de capturar uma presa difícil para um indivíduo sozinho subjugar, ou porque a presa é grande demais (por exemplo, leões caçando búfalos adultos) ou porque é muito ágil (por exemplo baleias orcas caçando toninhas). Quando as presas estão em grupos, os predadores que caçam em grupos podem ser bem sucedidos em isolar uma vítima de seus companheiros e, subseqüentemente, perseguí-la até subjugá- Ia. É assim que peixes predadores, como o "jack" tCaranx ignobilis), caçam presas em cardumes. Na caça da anchova havaiana (Stolephorus purpureus), os indivíduos em grupos são mais bem sucedidos do que os indivíduos isolados (Fig.6.7). Entretanto, os benefícios não são compartilhados igualmente entre os membros de um grupo de caça; durante a perseguição os peixes à frente do cardume, capturam mais presas do que aqueles da retaguarda. De fato, o quarto e o quinto peixes se sairiam melhor se caçassem sozinhos, mas pode ser que diferentes indivíduos ocupem a posição da frente em diferentes perseguições. Isto é um lembrete de que, em geral, os benefícios de estar emUmgrupo não sâo compar-tIlhados Igualmente por todos os mdlVlduos. COLETANDO ALIMENTO RENOVÁVEL Suponha que um animal coma um alimento que se renova continuamente, como por exemplo, a vegetação em crescimento. A quantidade de alimento disponível em um lugar aumenta com o tempo transcorrido desde a última visita, de modo que um indivíduo obteria o máximo de lucro se voltasse ao mesmo lugar após intervalos adequados. Voltar cedo demais significa não encontrar alimento suficiente e retomar tarde demais implica na perda de oportunidade para comer um suprimento farto de alimento. Como vimos com as lavandiscas no Capítulo 5, o problema da colheita de um suprimento alimentar em renovação é que isto só funciona se não houver interferência de outros indivíduos sobre o padrão de renovação. A estratégia do indivíduo A de retomar depois de 10 dias falharia se B visitasse o local após 9 ou 8 dias, por exemplo. Uma maneira de prevenir a interferência de outros é através da defesa do território (Chamov et ai., 1976) e outra maneira é visitando os lugares de alimentação em grupos, de modo que todos retomam ao mesmo tempo. Bandos de inverno do ganso Brent (Branta bernicla) alimentam-se em pântanos salinos na Holanda e parecem optar pela segunda estratégia, pois a defesa de territórios não é viável devido à inundação freqüente do pântano na maré alta. Observações contínuas de 40 sítios de I hectare desde a alvorada até o anoitecer, durante 24 dias da primavera, revelaram que os bandos voltavam exatamente para os mesmos locais do pântano a (a) (b) o o ::l ::l "O "O.~ :~30;a 12 "O .9 .S•... •... o oc, o.. '" 8 ~ 20.a I "O 0:1 0:1•... •... B B ~ c, 104 0:1o o ~ '"0:1 '" '"'" '"•... •...(l.., (l.., 1 3 5 Tamanho do grupo de caça Os gansos da frente e da retaguarda dos bandos podem obter ganhos similares VIDA EM GRUPO /131 II 10 2° 3° 4°_ SO Posição no grupo de caça Fig. 6.7 O "jack" é um peixe predador que caça em cardumes. (a) Nos experimentos, cada peixe em média captura mais presas quando caça em grupo. (b) Mas, o peixe à frente do grupo é o que mais se beneficia. Dados de Major (1978). intervalos regulares de 4 dias. O padrão regular de visita não só permitia que os lírios do mar (Plantago maritima) se recuperas- sem, como também estimulava o crescimento de folhas jovens ricas em nitrogênio. Os experimentos onde os lírios do mar eram podados com tesouras para simular a pastagem pelos gansos em diferentes intervalos, indicaram que de acordo com o tamanho médio da poda (mordida), os gansos podem mesmo retomar a intervalos de tempo que maximizam o crescimento dos brotos (Prins et ai., 1980). Os indivíduos na retaguarda do grupo obtêm menos alimento do que aqueles da frente, como nos cardumes de peixes descritos acima? Ainda não se sabe qual a resposta, mas é possível que o beneficio geral, em termos de obtenção de alimento, seja semelhante para aves em diferentes partes do bando. As aves da frente consomem a maior parte da vegetação, mas as porções mais jovens e nutritivas do Plantago são as bases das folhas próximas ao chão. Estas partes ficam expostas só depois da remoção das porções mais velhas e altas. Portanto, é razoável formular a hipótese de que as primeiras aves comem quantidades maiores enquanto os últimos comem alimento de melhor qualidade. Como efeito geral, pode ser que todas as aves obtenham a mesma quantidade de nutrientes. CUSTOS ASSOCIADOS COM A ALIMENTAÇÃO O estudo dos gansos sugere um importante custo potencial de se alimentar em um grupo: competição por alimento. A competição p.ode apresentar-se sob a fonna de exploraçâo dlreta, como entre os peixes "jack", onde os indivíduos à frente do cardume capturam as presas privando aqueles da retaguarda, ou pode 132/ CAPÍTULO 6 A perturbação da presa pode ser um dos custos da alimen- tação em grupos Pardais recrutam outros indivíduos para fontes alimen- tares que podem ser repartidas resultar da interferência, em que a disponibilidade de alimento ara um mem ro o grupo e re UZI a como resultado do comporta- mento de companheiros nas proximidades. Isto ocorre com o maçarico europeu (Tringa totanus) estudado por John Goss- Custard nos lamaçais marinhos da Grã-Bretanha. Os maçaricos alimentam-se em bandos compactos durante a noite e em bandos frouxos ou solitariamente durante o dia: esta diferença parece se relacionar com a interferência. À luz do dia, essas aves capturam visualmente camarões (Corophium), que deixam a calda exposta à superficie do barro; enquanto à noite, quando a procura visual é impossível, as aves alimentam-se de caramujos (Hydrobia), usando o tato, movimentando os seus longos bicos na lama. Quando se alimentam de camarões, os indivíduos estão sujeitos à interferência mútua, pelo fato de que as presas se retraem na lama, tomando-se inacessíveis, assim que detectam os passos de grupos de maçaricos (isto ficou demonstrado em experimentos com aves cativas). A taxa de alimentação toma-se maior com o aumento da distância entre vizinhos, e as aves tendem a se afastar umas das outras. À noite não há nenhuma interferência alimentar, porque as aves não precisam ver as presas e, de qualquer maneira, os caramujos não reagem rapidamente às perturbações. A taxa de alimentação nestas condições não está relacionada com a densidade do bando e as aves formam grupos compactos (Goss- Gustard, 1976). Uma interpretação destes resultados é que há uma vantagem na formação de grupos compactos (talvez como conseqüência da proteção contra a predação no meio do bando) e à noite há apenas um pequeno prejuízo para alimentação de cada indivíduo, com proximidade dos demais. Durante o dia, entretanto, a proximidade provoca interferência e as aves se afastam. A distância interindividual nessas condições parece refletir balanço entre custos e beneficios da vida em grupo. Um outro estudo que mostra como a competição por alimento influencia o tamanho do grupo é o trabalho de Mark Elgar (1986) com bandos de pardais (Passer domesticus). O primeiro pardal a chegar em um local de alimentação dá um chamado especial antes de começar a se alimentar. O chamado atrai outros pardais que se dirigem em grupo até a fonte de alimento. A atração de outros companheiros pelo pardal que encontra alimento parece ser uma má adaptação, mas sabe-se que os pardais gastam menos tempo vigiando nos grupos maiores (Elgar & Catterall, 1981), de modo que há algum beneficio para o primeiro pardal com a formação de um bando de alimentação. Entretanto, e este é o ponto mais interessante, o primeiro pardal não dá o chamado para recrutar outros se a fonte alimentar for indivisível. O custo de recrutamento, em termos de competição por alimento, nesta situação supera os beneficios deri- vados da redução do tempo de vigilância. No experimento, Elgar simplesmente ofereceu a mesma quantidade de alimento - um pedaço de pão - em uma porção única (indivisível) ou em fragmentos (divisível). Havia maior chance do primeiro pardal emitir o chamado quando o alimento estava fragmentado. Outros custos e be- nefícios da vida em grupo VIDA EM GRUPO /133 Avaliando custos e benefícios - tamanho ótimo do grupo Até agora a mensagem do capítulo foi que existem muitos custos e beneficios diferentes com a vida em grupo, entre os quais alguns ou vários podem ser relevantes para uma espécie em particular. Pombos, cavalos, avestruzes e cigarras não permanecem juntos necessariamente pelas mesmas razões, mas podem fazê-Ia por qualquer uma ou todas as razões discutidas. Nossa lista não foi abrangente; poderíamos ainda descrever os custos de vida em gru o em transmissão de doen as, canibalismo e infidelidade, ou beneficios da vida em grupo, tais como proteção contra os elementos, defesa cooperativa do território e aumento na eficiência de locomoção. (Alguns desses aspectos são resumidos na Tabela 6.1). Mas, em vez de tentar estender a lista de custos e beneficios possíveis à sua conclusão exaustiva e extenuante, iremos nos voltar para uma questão mais interessante: se os diferentes tipos de custos e beneficiaspodem ser combinados para prever o tamanho ótimo de grupos. Tabela 6.1 Exemplos de estudos nos quais foram medidos os possíveis custos e beneficios da vida em grupo, além daqueles mencionados no texto. Hipótese Teste Referência Morcegos Antrozous pallidus, que se agrupam puleiros usam menos energia do que os soli- tários Trune e SIobodchikoff (1976) 1. Animais de sangue quente economizam energia por causa da vantagem térmica de permanecer agrupados 2. Competidores inferiores podem superar a vanta- gem de outas espécies forragenado em grupo 3. Vantagemhidrodinâmica para peixes que nadam em cardumes. Eles economi- zam energia se posicionan- do nos vórtices criados pe- los outros peixes do grupo o peixe barbeiro Acanthurus caeruleus é excluído das áreas de algas quando sozinho, mas não quando está em grupo Foster (1985) Medições de distância e ângulos entre os indiví- duos demonstram que os peixes não estâo na posi- ção de beneficio, como previa a teoria Weihs(I973) Partridgee Pitcher (1979) Caltinua na página 134 134/ CAPÍTULO 6 Aves Charadriifor- mes: espécies que se alimentam por tato vivem em bandos; caçadores visuais tendem a ser solitá- rios Tabela 6.1 Continuação Hipótese Teste Referência 4. Aumento na incidência de doenças como resultado da proximidade Medições do número de ectoparasi tas nas tocas de cães da pradaria (Cynomys spp.). Colônias maiores têm mais parasitas por toca. Hoogland (1979b) 5. Risco de infidelidade com os vizinhos Nos pássaros Agelaius phoeniceus as pareceiras de machos vasectomiza- dos colocarem ovos. Elas devem ter sido fertilizadas po outros machos Bray et aI. (1975) 6. Risco de predação dos jovens por vizinhos canibais Em colônias dos esquilos Spermophilus beldigini as fêmeas com territórios pequenos correm mais risco de perder seus filhotes para vizinhas canibais do que as fêmeas com territórios maiores da vizinhança Sherman (1981 a) ESTUDOS COMPARA TlVOS Um quadro qualitativo de como os custos e beneficios interagem pode ser extraído das comparações entre espécies. Por exemplo, algumas espécies de aves Charadriiformes, como o maçarico, alimentam-se em bandos grandes e densos, enquanto outros, como o Charadrius hiaticula alimentam-se em bandos pouco coesos ou isoladamente (Fig. 6.8). Sabe-se que a vida em bandos confere proteção a essas aves contra a predação por aves de rapina (Page & Whitacre, 1975), então, por que nem todas as espécies se alimentam em bandos densos? As espécies que se alimentam em bandos densos, caçam suas presas usando o tato, movendo o bico pelo' barro, e se deslocam lentamente, enquanto os indivíduos solitários ou em bandos frouxos caçam visualmente e se movem rapidamente, capturando presas na superficie da água ou da lama. Talvez, como acontece com o maçarico, os custos da interferência alimentar são tão grandes entre essas últimas espécies que o beneficio líquido para um indivíduo é maior quando está sozinho, ainda que o risco de predação seja maior. VIDA EM GRUPO /135 Fig. 6.8 O maçarico (Calidris canutus) caça através do tato (topo) em bandos compactos, enquanto o Charadrius hiaticula caça visualmente e vive em bandos frouxos ou isoladamente. Dados de Goss-Gustard (1970). A diferença pode ser interpretada em termos de custos e beneficios do adensamento em bandos. COLONIALIDADE EM ANDORINHAS DE PE HASCO: UM ESTUDO DE CASO POUCOS estudos tentaram medir custos e beneficios da vida em grupo, ao mesmo tempo, a fim de avaliar se um certo tamanho do grupo resultaria em maior valor adaptativo do que outros. Um exemplo é o trabalho de Charles & Mary Brown sobre a nidificação colonial de andorinhas de penhasco, Hirundo pyrrhonota. Em Nebraska, onde fizeram os estudos, as andorinhas nidificam em colônias que variam de 1 a 3.000 casais. Elas fazem ninhos de barro em forma de taças, que ficam pendurados em penhascos ou em estruturas feitas pelo homem, como pontes. As andorinhas são insetívoros aéreos, formando grandes agregados que se alimentam em enxames de insetos. Constatou-se que, em média, as aves alimentam-se em cada local durante 25 minutos, antes de se deslocarem para um novo local, pressumivelmente, porque o enxame de insetos se dispersa ou reduz em tamanho. Os indivíduos que caçam nesses grandes agrupamentos tem- porários de presas provavelmente aproveitam-se das colônias como ~..Jib, .. -,,{(,),;, - 4 ..Alk',/~i.ft!i... __~}!!ff ~ ~=:;- '....-~~ 136/ CAPÍTULO 6 Colônias de andori- nhas de penhascos são centros de infor- mação 000 000 e paraísos de ectoparasitas centro de informação (veja acima) e as observações dos Brown (1986a) dão apoio a essa idéia. Eles constataram que todas as andorinhas, quando coletando alimento para os filhotes, freqüen- temente seguiam outros indivíduos da colônía até os locais de alimentação. Mais importante, a tendência de um indivíduo seguir outros dependia do seu próprio sucesso durante viagens anteriores. Uma ave bem sucedida volta ao ninho com uma grande pelota de minúsculos insetos comprimidos com saliva, enquanto um indivíduo malsucedido retoma sem nada ou com uma pequena pelota. Se uma ave foi bem sucedida em sua última viagem, ela segue um outro indivíduo na próxima viagem em apenas 17% dos casos, mas, se foi mal sucedido, segue outros indivíduos em 75% das vezes (mais freqüentemente, acompanhando um vizinho ou seu parceiro). Procurando detectar quais aves tinham mais chances de serem seguidos por outros, os Brown notaram que aqueles que tinham feito uma viagem bem sucedida eram seguidos em 44% das vezes, enquando os malsucedidos eram acompanha- dos em apenas 10% das viagens subseqüentes. Em síntese, forrageadores malsucedidos seguiam forrageadores bem sucedidos aos locais de alimentação. Todos os indivíduos desempenhavam o papel de seguidores com igual freqüência, de modo que todos obtinham o mesmo beneficio aprendendo a acompanhar outros e, como resultado, a taxa total de entrega de alimento no ninho era maior nas colônias maiores (Brown, 1988). Portanto, em ninhos coloniais, as andorinhas de penhasco parecem se beneficiar, do aprendizado sobre a localização de aglomerados temporários de presas. Mas, a colonial idade também tem um custo (Brown & Brown, 1986), especialmente o ectoparasitismo. Os filhotes são freqüentem ente atacados por um hemíptero sugador de sangue, o percevejo Oeciacus vicarius (Fig. 6.9a). Esses percevejos passam a maior parte da vida nos ninhos das andorinhas, com exceção de uma fase curta de dispersão, quando se agarram às penas dos adultos. As colônias maiores de andorinhas têm um maior número de percevejos por ninho (Fig. 6.9b) e esses insetos têm um efeito negativo significante sobre o crescimento dos filhotes, como se nota na Fig. 6.9c. Para testar se de fato os ectoparasitas sugadores de sangue restringiam ou não o crescimento dos filhotes, Brown fumigou alguns ninhos com inseticidas: notou que os filhotes nos ninhos fumigados cresciam mais rapidamente e, com 10 dias de idade, chegavam a ser 3,4g mais pesados do que os filhotes com 22g nos ninhos controle. Fig.6.9 (a) Dois filhotes da andorinha de penhascos com 10 dias de idade. O filhote à esquerda foi retirado de um ninho controle e o da direita de um ninho fumigado. A fumigação com inseticida matou os percevejos ectoparasitas da andorinha, que levam à redução no crescimento dos filhotes. Dados de Brown (1986b). (b) O número de percevejos por ninho aumenta com o aumento do tamanho colonial. (c) A massa corporal de filhotes com 10 dias de idade decresce com o aumento no número de ectoparasitas por filhote. Dados de Brown & Brown (1986). •..,.· .:.· ',-· ~' VIDA EM GRUPO /137 (a) '".L: (b)·§ o-e 1.00c '"., -o., 0.75 Õ::: t;:::; 0.50•... oo- <I) .~ 0.25 >., ~ 0.00.,e, • • • •• • 10 100 1000 5000 Tamanho da colônia (c) 25.E: ., . •õ •::: •t;:::; '" •-o 20 •ee • •o •., • • • •-o • éii ••... oe- o o '" 15<I)<I) '" O 2 3 4 >52 Percevejos por filhote de andorinha 138/ CAPÍTULO 6 Testes experimen- tais de custos e be- nefícios Custos e benefícios podem se neutrali-zar em andorinhas de penhascos Abordagem de oti- mização sobre tama- nho de grupo De que modo os beneficios (melhora no forrageio) e os custos (ectoparasitismo) são balanceados em colônias de diferentes tama- nhos? Se Brown (1988) fumigava todos os ninhos em uma colônia para eliminar o efeito do ectoparasitismo, os filhotes nas colônias maiores cresciam mais rápido (Fig. 6.1 Oa): com 10 dias de idade, os filhotes pesavam 1,5g mais em colônias de 400 aves do que em colônias com 10 aves. Para eliminar a possibilidade de que essa diferença pudesse se relacionar ao fato de colônias mais populosas se localizarem, eventu- almente, próximas a locais mais ricos em alimento, Brown reduziu experimentalmente algumas colônias e constatou que os filhotes cresciam a uma taxa compatível com o novo tamanho das colônias e não com a condição original. Portanto, os efeitos benéficos das colônias maiores sobre a taxa de crescimento dos filhotes decorriam, provavelmente, da melhora no forrageio pelo acompanhamento de outros indivíduos, como exposto acima. Brown (1988) também comparou o crescimento de filhotes em colônias de diferentes tama- nhos sem fumigação: neste caso, envolvendo tanto os efeitos do aumento da eficiência de forrageio como os efeitos negativos do ectoparasitismo. Como mostra a Fig. 6.1 Ob, agora não há correlação entre entre tamanho da colônia e crescimento dos filhotes. Aparente- mente os custos e beneficios se neutralizam. Isto significaria que não existe um tamanho colonial ótimo em andorinhas de penhascos? O peso dos filhotes com 10 dias de idade é apenas uma das estimativas de sucesso reprodutivo e, talvez, medidas mais acuradas como o número de jovens sobreviventes (Capítulo I) poderia mudar esse quadro. Além disso, há outros custos e beneficios associados à colonial idade nesta espécie, incluindo o parasitismo intraespecífico de ninhos (Brown & Brown, 1988). Portanto, ainda parece ser prematuro concluir se há ou não um tamanho colonial ótimo em andorinhas de penhasco. BALANÇO TEMPORAL Para prever com mais precisão como diferentes custos e beneficios se combinam para determinar o tamanho do grupo, voltaremos à abordagem do Capítulo 3. Em última análise, os custos e beneficias influenciam a sobrevivência e a reprodução, mas, como nos modelos de otimização descritos nos Capítulos 2 e 3, é mais útil pensar em termos de variáveis de referência imediatas, que em última instância se relacionam com o valor adaptativo. Ron Pulliam (1976) e Tom Caraco (1979a) usaram o tempo como variável de referência e, baseados no balanço temporal, desenvolveram um modelo de tamanho ótimo de grupo. O modelo pretende ilustrar os fatores que influenciavam os bandos de inverno de pequenos aves. Considerou-se que a sobrevivência das aves em um bando era dependente de dois riscos principais, inanição e predação, e que o balanço temporal das aves era composto por três tipos de comportamentos associados com esses riscos: vigilância (contra predadores), alimentação e luta (por alimento). Baseados nas observações de bandos do fringilídeo Junco phaenotus, Bandos de Junco: vigiar, lutar e se ali- mentar VIDA EM GRUPO /139 • 25 • •24 • • 23 • 22 5~10~------~5LO--~10~0~-------5~00--1-0LO-0-- o o o o o 20 o 18 5~10~------~5~0--~10~0~------~5~00~1~OLOO~ Tamanho da colônia Fig. 6.10 (a) O crescimento dos filhotes de andorinha de penhascos está positivamente correlacionado com o tamanho da colônia, quando os ectoparasitas são mortos pela fumigação de inseticida. (b) Entretanto, sem fumigação, não há nenhuma correlação. Dados de Brown (1988). Pulliam e Caraco dividiram a luta em duas categorias: disputas rápidas, para ter acesso a pedaços de alimento, e ataques, nos quais as aves dominantes tentavam expulsar os subordinados dos bons lugares de alimentação, a fim de assegurar para si um suprimento alimentar durante o resto do inverno. Assumiu-se que as três atividades do balanço temporal eram mutuamente exclu- sivas, isto é, que uma ave não podia vigiar e se alimentar ao mesmo tempo, por exemplo. Para vigiar a ave deve apontar a cabeça para cima enquanto a coleta de alimento requer que a aponte para o chão. Finalmente, assumiram que a vigilância contra predadores tinha precedência sobre a alimentação, já que a falha na percepção de um predador que se aproxima é mais perigosa do que a falha no encontro de uma semente. Assumia-se que as aves dominantes davam maior prioridade à satisfação de suas necessidades energéticas diárias do que à expulsão por longo prazo 140/ CAPÍTULO 6 o modelo pressupõe que a vigilância de- cresce e a luta au- menta com o tama- nho do bando Fatores ignorados no modelo o tamanho do gru- po decresce com o aumento da tempe- ratura de subordinados e, para estes últimos, a agressão deveria ter prioridade sobre a alimentação, já que uma ave não pode se alimentar enquanto está sendo atacada. A Figura 6.11a mostra uma versão simplificada do modelo de Pulliam e Caraco. As principais características são as seguintes: 1. Assume-se que a proporção de tempo gasto com a vigilância, por um indivíduo, decresce com o aumento do tamanho do grupo. A base desse pressuposto é que um dado nível de vigilância pode ser mantido com menos vigilância por indivíduo à medida que o tamanho do grupo aumenta. 2. À medida que o tamanho do grupo aumenta e os encontros entre aves tornam-se mais freqüentes, a proporção do tempo gasto com agressão se eleva. 3. Portanto, o tempo dedicado à alimentação é máximo entre os bandos de tamanho intermediário. Esse modelo de balanço temporal pode ser usado para prever o tamanho ótimo do grupo? Se o único beneficio da alimentação em grupo é o incremento no tempo disponível para alimentação, mantendo um certo nível de vigilância, o tamanho ótimo do grupo é aquele indicado na Figura 6.9a. Se houver outros beneficios com o agrupamento, tais como a diluição e o incremento na vigilância (ver pág. 111-16), o tamanho ótimo do grupo pode ser maior do que aquele mostrado na Figura 6.11a. Portanto, o modelo pode ser usado para testar se a maximização na obtenção de alimento é ou não o único beneficio da vida em grupo. Entretanto, provavelmente, o quadro é mais complicado do que sugere a Fig. 6.11a, pois o tamanho ótimo do bando pode ser diferente para aves dominantes e subordinados. Aves dominantes obtêm um beneficio a longo prazo com a expulsão de subordinados e, portanto, deveriam preferir grupos menores. Caraco (l979b) e Caraco et al. (l980a) testaram alguns dos pressupostos do modelo, registrando o balanço temporal em bandos de Junco, durante o inverno no Arizona. Eles notaram que a proporção de tempo gasto pelos indivíduos com a vigilância e com as lutas mudava com o tamanho do bando, na direção indicada pelo modelo. Entretanto, o decréscimo no tempo de vigilância era muito maior do que o acréscimo no tempo de luta, dentro da variação de tamanho de grupos por eles estudados, de modo que o tempo gasto com a alimentação aumentava com o tamanho do grupo, como acontece à esquerda do pico na Fig.6.lla. Para testar se o balanço temporal influenciaria o tamanho do bando da maneira indicada pelo modelo, Caraco et ai. previram os efeitos de várias mudanças ambientais sobre o tamanho do bando. As previsões foram as seguintes: 1. À medida que a temperatura média diária aumenta, as aves dominantes deveriam ter mais tempo para expulsar subordinados, porque conseguem satisfazer suas necessidades energéticas mais rapidamente. O tamanho do bando deveria, então, decrescer (Fig. 6.11b). Esta previsão foi apoiada por observações: a 2°C os bandos continham 7 aves e a 10°C apenas 2, em média. Este decréscimo (a) \ \ \ \,-, -, <,, VIDA EM GRUPO /141 Lutando "- ~.. . ""' y~~~~o Tamanho ótimo do bando (b) Tamanho ótimo do bando (e) .. ' . \ \ ,, Alimentação Tamanho do bando Incremento da .: '.agressividade dos ... '\ .... dominantes a . . temperaturas maIs . elevadas. \, \ \ \ \ -">\ "- \ \ oo. § Q)-e E ~ E Q) o•... oc, Tamanho do bando \ ,,-,, " -, ->... I- __~-i-_ - ... _---------, <, Vigilância extra na presença do gavião .>' - Tamanho ótimo do bando Tamanho do bando Fig. 6.11 Um modelo de tamanho ótimo do bando. (a) À medida que o tamanho do bando aumenta, as aves gastam mais tempo com lutas e menos tempo vigiando. Num bando com tamanho intermediário, observa-se aproporção máxima de tempo usado· com alimentação. (b) Em temperaturas mais altas (ou quando o alimento é mais abundante) as aves dominantes podem dedicar mais tempo atacando subordinados. Portanto, para a ave média, o tamanho ótimo do bando sofre uma redução. (c) Quando o risco de predação aumenta, permitindo que um gavião sobrevoe o bando, o nível de vigilância deve elevar-se e o tamanho ótimo do bando também passa a ser maior. Baseado em Pulliam (1976) e Caraco et ai. (1980). 142/ CAPÍTULO 6 Alimento extra cau- sou um decréscimo no tamanho do ban- do Risco extra de pre- dação causou um incremento ... ... e abrigo extra um decréscimo Os ganhos de aves dominantes e subor- dinados diferem coincidiu com o aumento no tempo gasto com lutas pelas aves dominantes. 2. Por um argumento similar, um incremento no suprimento alimentar deveria produzir um decréscimo no tamanho do bando e um aumento na proporção de tempo gasto com as lutas entre as aves dominantes. Mais uma vez, os resultados das observações de campo apoiaram a previsão ..Quando o alimento estava disperso pelo desfiladeiro, as aves alimentavam-se em bandos menores. 3. Um incremento no risco de predação deveria ter um efeito exatamente oposto dessas duas mudanças prévias. Isto ocorre, porque um alto risco de ataque por um predador deveria fazer com que as aves gastassem mais tempo vigiando; portanto, elas deveriam se alimentar em bandos maiores para manter uma determinada taxa de coleta de alimento (Fig. 6.11c). Caraco et ai. (1980a) deixaram que um falcão treinado voasse sobre o desfiladeiro e, como previsto, as aves gastaram mais tempo vigiando e o tamanho médio do grupo aumentou de 3.9 na ausência do falcão para 7.3 com a sua presença. 4. Finalmente, Caraco previu que a adição de mais proteção no desfiladeiro, sob a forma de um arbusto, reduziria risco efetivo de ataque pelo predador, pois os juncos teriam acesso mais fácil a esconderijos. As aves deveriam então gastar menos tempo com a vigilância, sobrando mais tempo para a alimentação e para as lutas. Foi exatamente isto que aconteceu: quando um arbusto experimental foi colocado próximo a um dos locais de alimentação, como esperado, o tamanho do bando diminuiu. O que podemos concluir desses resultados? Primeiro, eles mostram que o tamanho do bando é influenciado pelo balanço temporal como no modelo da Fig. 6.11a. A vida em bando propicia mais tempo para alimentação, porque menos tempo é gasto com vigilância; e o tamanho máximo do bando depende do tempo disponível para as aves dominantes expulsarem subordinados. Em segundo lugar, os resultados permitem que rejeitemos modelos simples de tamanho ótimo do bando. As aves não se alimentam em bandos de tamanhos que maximizariam o tempo dedicado à alimentação; sob condições normais o tamanho médio dos bandos no desfiladeiro era de 3,9 aves, mas as medidas mostraram que o tempo disponível para alimentação seria maior em um bando de 6 a 7. Como já mencionamos, o tamanho ótimo do bando para aves dominantes e subordinadas provavelmente difere, já que os dominantes se beneficiam com a expulsão de subordinados. Os bandos observados podem ser um compromisso entre as condições ótimas para um dominante e para um subordinado. Uma complicação adicional é que as aves nos bandos maiores se beneficiam dos efeitos de diluição e incremento da vigilância, como foi descrito para os avestruzes (Caraco et al., 1980a). O modelo da Fig. 6.11 é claramente simples demais, mas o estudo mostra que o balanço temporal pode ser usado para analisar os efeitos dos diferentes custos e beneficios sobre o tamanho do bando. Também nos relembra que a formação de grupos e Formação de bando e territorialidade: os dois lados da mesma moeda Grupos com tama- nho ótimo podem ser instáveis porque atra- em indivíduos solitá- rios VIDA EM GRUPO /143 a defesa de recursos podem ser os dois extremos de um continuum. O modelo poderia ser visualizado como uma forma de prever as condições sob as quais valeria a pena para aves dominantes excluir subordinados e defender um território. Quando o alimento é abundante ou o risco de predação é baixo, os dominantes podem se permitir um dispêndio de tempo para manter uma área defendida ou em outras palavras, o território torna-se economicamente defensável. OS GRUPOS DE TAMANHO ÓTIMO SÃO ESTÁVEIS? Richard Sibly (1983) destacou que raramente os grupos de tamanho ótimo poderiam ser encontrados na natureza, porque se houvesse um grupo com tal tamanho, seria vantajoso para qualquer indivíduo solitário juntar-se a ele, empurrando assim o grupo para um nível acima do ótimo. A idéia é ilustrada na Fig. 6.12. A curva mostra o valor adaptativo individual (por exemplo, medido como taxa de alimentação ou probabilidade de escapar à predação) como uma possível função do tamanho do grupo. O tamanho ótimo do grupo, onde o valor adaptativo médio é máximo, é sete indivíduos. Imagine que os indivíduos são livres para se juntarem ao grupo ou para forragearem sozinhos quando chegam ao local de alimentação. Claramente, se cada indivíduo escolhe a opção que maximiza o seu valor adaptativo, novas aves irão se juntar ao grupo até que alcance 14 indivíduos, 2 vezes o ótimo! Neste ponto, a vantagem para o forrageio solitário é igual à vantagem obtida com a adesão a um grupo (note que esse modelo é um exemplo da distribuição livre ideal, discutida no Capítulo 5). O o 2 4 6 8 10 12 14 16 18 Tamanho do grupo Fig. 6.12 Modelo de tamanho ótimo e estável dos grupos, proposto por Sibly. Cada indivíduo junta-se ao grupo que maximiza o seu valor adaptativo, de modo que o tamanho ótimo de 7 não é necessariamente estável - indivíduos solitários irão se juntar a esse grupo, por exemplo. Modificado de Sibly (1983). 144/ CAPÍTULO 6 Produtores e apro- priadores Rápida evolução de cardumes mesmo princípio se aplicaria a grupos se subdividindo em unidades menores, mas o argumento é mais complicado (Kramer, 1985). Um grupo de 12, por exemplo, se separaria em duas unidades de 6, mas então um indivíduo migraria para formar um grupo de 7 e o outro ficaria com 5 membros; o grupo de 7 receberia outra ave, porque 8 é melhor do que 5, e assim por diante. A conseqüência exata depende da forma da curva na Fig. 6.12 e é possível desenhar curvas de valor adaptativo que resultem em um grupo de tamanho ótimo estável (Giraldeau & Gillis, 1985). Entretanto, o fundamental é que deveríamos esperar encontrar grupos estáveis em vez de grupos ótimos na natureza e, muito freqüentemente, os grupos observados serão maiores do que o ótimo (Pulliam & Caraco, 1984). DIFERENÇAS INDIVIDUAIS EM UM GRUPO Já enfatizamos que os indivíduos podem se beneficiar da vida em grupo em diferentes graus. Em grupos de forrageio do peixe "jack", os indivíduos à frente do cardume se saem melhor do que os da retaguarda. De modo semelhante, em bandos de estorninhos, os aves nas bordas gastam mais tempo vigiando do que aqueles no centro (Jennings & Evans, 1980). Como essas diferenças entre os indivíduos são mantidas ? Em muitos casos elas são um simples reflexo das relações de dominância. No grupo, os indivíduos mais velhos, mais experientes ou maiores são capazes de assegurar as melhores posições e forçar os demais a ocuparem o espaço que sobra. Os indivíduos subordinados se satisfazem com recompensas menores quando não são capazes de conseguir algo melhor se deslocando para outro local (Vehrencamp, 1983). Uma visão alternativa das diferenças individuais é a de que os indivíduos alcançam ganhos similares, mas de modos diferentes (Capítulo 10). Em bandos de pardais, por exemplo, alguns são eficientes na localização de novas fontes de alimento, enquanto outros são bons no roubo do alimento já encontrado. Estas duas estratégias,produtor e apropriador, podem coexistir no bando com recompensas iguais para ambas (Barnard & Sibly, 1981) (Fig. 6.13). Evolução da vida em grupo: cardumes de lebistes \ Os estudos descritos neste capítulo são baseados em medidas de curto prazo dos custos e beneficios da vida em grupo, tais como ingestão de alimento, taxa de ataque por predadores e riscos de doenças. Em um estudo, foi possível mostrar como esses custos e beneficios se traduzem em mudanças evolutivas. Em 1957, o ictiólogo americano C.P.Haskins transferiu 200 lebistes (Poecilia reticulata) de uma bacia hidrográfica rica em predadores (a bacia Caroni) para as cabeceiras do Oropuche, praticamente sem predadores (experimentos similares de transferências feitos por John Endler foram descritos no Capítulo 4). Os peixes VIDA EM GRUPO /145 s-Ó:: /-- --.-._---~ -------- Teste de laboratório sobre a mudança no comportamento de formação de cardu- mes transferidos aos poucos colonizaram as áreas rio abaixo e, novamente, encontraram predadores. Em 1989-91, 30 anos após, Anne Magurran (Magurran et aI., 1992) coletou lebistes de vários córregos: da fonte original, rica em predadores, onde Haskins obteve os lebistes, do local livre de predação, onde foram introduzidos pela primeira vez, e dos riachos ricos em predadores, colonizados mais tarde, a partir do ponto de introdução. Em lebistes, a formação de cardumes é uma adaptação anti-predação, que dá alguns dos beneficios já discutidos neste capítulo (Margurran, 1990; veja Fig 6.1). A formação de cardume também tem custos: Magurran e Seghers (1991) mostraram que os lebistes com alta predisposição para formar cardumes não são bons competidores por alimentos. Aparentemente, a seleção para for- mação de cardumes leva a um decréscimo na competitividade. Colocando lebistes isolados em aquários e oferecendo um frasco vazio num extremo e outro com um cardume no outro, Margurran et aI. mostraram que os peixes transferidos por Haskins, primeiro reduziram a tendência para a formação de cardumes, nos riachos livres de predação, e, depois) a intensificaram, quando reocuparam áreas com predadores. Essas diferenças foram exibidas por Fig. 6.13 Bandos com mais de uma espécie envolvem relações complexas. Barnard J & Thompson (1985) estudaram os bandos de alimentação mistos de Pluvialis apricaria (os dois indivíduos no primeiro plano), Vanellus vanellus e da gaivota Larus ridibundus, nas planícies britânicas durante o inverno. O V. vanellus prefere pastagens onde a densidade de minhocas é alta, e sua presença serve como um indicador de alimento para P. apricaria. O alimento capturado por essas duas espécies é roubado pela gaivota L. ridibundus, um c1eptoparasita, que mesmo assim as beneficia dando alarmes precoces sobre a aproximação de predadores. Extraído de uma pintura de Donald Watson. 146/ CAPÍTULO 6 indivíduos criados sob condições padronizadas no laboratório. Portanto, em lebistes, os : custos e benefícios de curto-prazo, associados à formação de cardumes, se traduziram em uma resposta evolutiva para a diminuição e depois para o aumento do comportamento de formação de cardume. Essas mudanças ocor- rem num intervalo de 100 gerações (os lebistes tem aproxima- damente 3 gerações por ano). Leituras complementares Pulliam e Caraco (1984) fazem uma boa revisao do porquê os animais vivem em grupos. Hoogland (1979a,b) faz um estudo sobre os cães da pradaria no qual tanto os custos como os benefícios da vida em grupo são investigados. O livro editado por Barnard (1984) discute o papel dos produtores e dos apropriadores nos grupos. O artigo de Ian Patterson (196'5) é um estudo clássico sobre os benefícios do acasalamento sincrônico e colonial. Resumo Duas das vantagens seletivas mais importantes da vida em grupo são o incremento da proteção contra predadores e o aumento da probabilidade de encontrar e capturar alimento. Em oposição a esses benefícios, há os custos com a vida em grupo tais como o aumento na competição por alimento e o aumento da evidência em relação a predadores. O tamanho do grupo no qual um animal vive pode refletir um compromisso resultante desses vários custos e benefícios. Uma maneira de analisar o compromisso entre eles é usando o tempo como variável de referência para prever o tamanho ótimo dos grupos. Duas limitações da concepção do tamanho ótimo do grupo são: (a) o fato de que os indivíduos em um grupo podem obter recompensas diferentes e podem ter ótimos distintos. Se os grupos observados são um compromisso entre os ótimos para os diferentes indivíduos, então podem não ser ótimos para um indivíduo em particular. (b) Grupos com tamanho ótimo podem ser instáveis pois tendem a atrair indivíduos de grupos menores. Tópicos para discussão 1. Como os diferentes custos e benefícios da vida em grupo (por exemplo, alimentação, predação, doenças) podem ser combinados para prever o tamanho do grupo? 2. Por que os indivíduos subordinados permanecem no grupo? 3. Como você testaria a hipótese de que os grupos são estáveis em vez de serem de tamanhos ótimos?
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