Buscar

F8-Enfrentamento-da-violencia-contra-crianca-e- adolescente

Prévia do material em texto

enfrentamento à
violência sexual contra
crianças e adolescentes
8
NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA.
SERVIÇOS DE 
atenção 
especializada
Ângelo Motti
SUMÁRIO
1. Introdução ............................................................................................... 115
2. Atendimento da Saúde à criança e ao adolescente 
vítima de violência .................................................................................. 116
3. Serviços de Atenção à Saúde .................................................................. 119
4. A Assistência e Proteção Social à criança e ao adolesecente 
vítima de violência: Sistema Único da Assistência Social (Suas) ......... 122
5. A educação de criança e ao adolescente vítima de violência ................ 124
6. Políticas Sociais de Cultura, Esporte e Lazer para criança 
e ao adolescente vítima de violência ..................................................... 125
Referências .................................................................................................. 127
Perfis do autor e do ilustrador .................................................................. 128
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 115enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 115
Introdução
A precariedade de alcance ou de qualidade 
e a suficiência das políticas públicas devem 
ser sempre objeto de questionamento aos 
poderes públicos, constituídos e responsá-
veis legais pela sua oferta – em especial as 
esferas executivas federal, estadual e mu-
nicipal, a quem cabe a responsabilidade 
da oferta regular de programas, serviços e 
ações que atendam os direitos fundamen-
tais de crianças e adolescentes: vida, saú-
de, alimentação, educação, segurança, cul-
tura, esporte, lazer, habitação, transporte, 
assistência social e defesa de direitos.
A violência difundida no tecido social 
resulta em grandes e por vezes irreparáveis 
prejuízos humanos, de profundos efeitos 
emocionais nas famílias, afetando direta-
mente a saúde, a qualidade de vida e nos 
anos potenciais de vida perdidos. Além dis-
so, tem como consequências os altos cus-
tos econômicos e sociais para a sociedade. 
Na legislação brasileira, em especial 
no Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA), as Políticas Sociais Básicas recebe-
ram incumbências diretas para que crian-
ças e adolescentes possam exercer seus di-
reitos, incluindo aí o desenvolvimento de 
programas e ações especializadas quando 
esses cidadãos assim necessitarem.
No campo da saúde, segundo publica-
ção do Ministério da Saúde1, “O Sistema 
Único de Saúde (SUS) recebeu o manda-
to específico do Estatuto da Criança e do 
Adolescente (ECA) para promover o direito 
à vida e à saúde de crianças e adolescen-
tes, mediante a atenção integral à saúde, 
que pressupõe o acesso universal e igua-
litário aos serviços nos três níveis da aten-
ção”. (BRASÍLIA, 2010)
Segundo o Ministério, essa responsa-
bilidade vai além da promoção da saúde, 
incluindo as ações de prevenção de do-
1. Secretaria de Atenção à Saúde. 
Departamento de Ações Programáticas 
Estratégicas/Ministério da Saúde. Linha de 
cuidado para a atenção integral à saúde 
de crianças, adolescentes e suas famílias 
em situação de violências: orientação 
para gestores e profissionais de saúde – 
Ministério da Saúde. Brasília, 2010.
enças e agravos, a atenção humanizada 
e o trabalho em rede, na compreensão de 
que “a violência se constitui em um im-
portante problema para a saúde pública”.
De sua parte, a Coordenação Nacional da 
Política de Assistência Social define que 
o Sistema Único de Assistência Social 
(SUAS) estabelece uma organização das 
ações da política de acordo com a com-
plexidade dos serviços. Numa ponta, a 
atenção social básica e, na outra, a aten-
ção social especial. Segundo documento 
preliminar do Ministério da Cidadania2, 
“O SUAS considera que as famílias, inde-
pendentemente dos seus arranjos e confi-
gurações – que variam conforme o contex-
2. Ministério da Cidadania Secretaria 
Especial de Desenvolvimento Social 
Secretaria Nacional de Assistência Social, 
Parâmetros de atuação do Sistema Único 
de Assistência Social (SUAS) no Sistema 
de Garantia de Direitos da Criança e do 
Adolescente Vítima ou Testemunha de 
Violência, Brasília, agosto de 2019.
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 115
116 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
to histórico e cultural – constituem espaço 
de proteção, socialização e referência para 
seus membros, ao mesmo tempo em que 
estão sujeitas a ocorrências de violências 
e violações de direitos. 
O documento destaca duas diretri-
zes estruturantes das ofertas do SUAS: “a 
matricialidade sociofamiliar e a territoria-
lização. Com isso, o atendimento socioa-
ssistencial voltado à proteção da criança 
e da/do adolescente se estende, neces-
sariamente, à sua família, para que reú-
na ou amplie as condições e habilidades 
para cuidar e protegê-la, considerando as 
possibilidades de proteção social no local 
onde vivem.” (MDS, 2019)
Essa evolução no campo do atendimen-
to aos direitos da criança e do adolescente 
tem forte influência da Doutrina da Prote-
ção Integral, trazida pela Organização das 
Nações Unidas (ONU). A Convenção Inter-
nacional é um poderoso instrumento para 
modificação das maneiras de entender e 
agir de indivíduos e comunidades, produ-
zindo mudanças no panorama legal, sus-
citando o reordenamento das instituições 
e promovendo a melhoria das formas de 
atenção direta. Isso ocorre porque a Con-
venção é um tratado de Direitos Humanos 
que, ao ser ratificado pelos governos, impli-
ca o compromisso formal das respectivas 
nações de aceitar o que está enunciado em 
seu conteúdo, assumindo ainda os deveres 
e obrigações que o novo instrumento lhes 
impõe (MOTTI e SANTOS, 2011). 
causas externas (acidentes e violências) 
ocupam a primeira causa de morte na fai-
xa etária de 1 a 19 anos (BRASIL, 2009a). 
Invisíveis, porém mais disseminados, 
são os efeitos da violência e do sofrimen-
to individual de crianças e adolescentes, 
que podem se perpetuar durante a infân-
cia e a adolescência, com consequências 
até a idade adulta, constituindo-se em 
desafios para os gestores e profissionais 
(Linha de cuidado para a atenção integral 
à saúde de crianças, adolescentes e suas 
famílias em situação de violências: orien-
tação para gestores e profissionais de saú-
de / Ministério da Saúde. Secretaria de 
Atenção à Saúde. Departamento de Ações 
Programáticas Estratégicas. Brasília: Mi-
nistério da Saúde, 2010). 
 
Atendimento 
da Saúde 
À CRIANÇA E AO 
ADOLESCENTE VÍTIMA 
DE VIOLÊNCIA 
Para cumprir o Art. 227 da Constituição 
Federal, sobre a promoção, a proteção e 
a defesa do direito à saúde da criança e 
do adolescente, a Política de Saúde or-
ganiza um conjunto de ações e serviços. 
Os desafios estão sempre se renovando, 
observa-se mudança no perfil dos pro-
blemas de saúde onde, por exemplo, as 
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 117
Desde 2006, o Ministério da Saúde – 
com a finalidade de conhecer a magnitu-
de dos casos de acidentes e violências no 
País que não levam ao óbito ou à interna-
ção – estruturou o Sistema de Vigilância 
de Violências e Acidentes (Viva), o qual se 
constitui por dois componentes: 
1. vigilância de violência doméstica, 
sexual, e/ou outras violências in-
terpessoais e autoprovocadas (Vi-
va-Contínuo), módulo incorporado 
ao Sistema Nacional de Agravos de 
Notificação (Sinan-Net); e 
2. vigilância de violências e acidentes 
em emergências hospitalares (Viva-
-Sentinela), realizada por meio de 
pesquisa a cada dois anos (Ministé-
rio da Saúde, 2010).
A rede de serviços do Sistema de Saú-
de, sem dúvidas, concretiza-se em espaço 
privilegiado para a identificação, acolhi-
mento, atendimento, cuidados e proteção 
de crianças e adolescentes em situação de 
violência, e às famílias. Mais ainda, cons-
titui-se em um espaço obrigatório para anotificação ao Conselho Tutelar das si-
tuações de violência a que estão sujeitas 
crianças, adolescentes e suas famílias.
Há um reconhecimento por parte do 
Ministério da Saúde que “a violência pode 
gerar problemas sociais, emocionais, psi-
cológicos e cognitivos capazes de impac-
tar fortemente a saúde das pessoas ao 
longo de sua existência”. As ações de saú-
de devem estar articuladas com as políti-
cas sociais e de direitos humanos e “são 
pactuadas entre as instâncias colegiadas 
da gestão do SUS, nas três esferas de go-
verno, por intermédio do Conselho Nacio-
nal dos Secretários de Saúde (Conass) e 
do Conselho Nacional dos Secretários 
Municipais de Saúde (Conasems), e no 
âmbito estadual, municipal e do Distrito 
Federal nos conselhos locais.” () 
2.1 PROMOÇÃO DA SAÚDE E 
PREVENÇÃO DE VIOLÊNCIAS
A Política Nacional de Promoção da 
Saúde (PNPS, 2006) prioriza a qualidade 
de vida, com ações para a prevenção de 
violências e estímulo à cultura de paz. 
Tem por objetivo atuar sobre os determi-
nantes das doenças e agravos, investin-
do em políticas indutoras de modos de 
vida promotores de saúde e ambientes 
saudáveis (BRASIL, 2006a). A prevenção 
aqui “entendida como uma estratégia 
de promoção da saúde, na medida em 
que previne e controla os agravos, por 
meio da criação de condições de prote-
ção e defesa de indivíduos e grupos que 
se encontram em situações de riscos e 
de vulnerabilidades específicas”. Atua 
no campo da identificação de doenças 
e agravos, do diagnóstico, tratamento 
e cuidados, sem prejuízo da assistência 
na readaptação e reabilitação. Dessa 
forma, a prevenção deve ser o resultado 
de ações coletivas, envolvendo setores 
de educação, assistência social, espor-
te, cultura, organizações sociais, grupos 
formais e informais e lideranças comu-
nitárias e juvenis, etc. As ações preven-
tivas na comunidade são essenciais para 
a redução dos riscos de violência e pro-
moção da cultura de paz no território. 
118 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
TÁ NA Lei
A violência sexual também deve ser 
trabalhada preventivamente, junto 
aos familiares, crianças e adoles-
centes. É possível abordar, com 
linguagem apropriada às faixas 
etárias, a questão da sexualidade e 
dos toques corporais socialmente 
adequados e inadequados entre 
uma criança e alguém mais velho 
do que ela, ou adulto.
A intervenção do profissional favore-
ce a saúde física e emocional de crianças 
e adolescentes em seu processo de cres-
cimento e desenvolvimento, em especial 
nos momentos de mudanças importantes, 
nas principais etapas do desenvolvimento: 
a. no pré-natal, período que vai da 
concepção ao nascimento; 
b. no parto e no puerpério, ao nascer;
c. nos primeiros anos de vida, nas 
consultas de atendimento, em espe-
cial as de puericultura ou nas visitas 
domiciliares de profissionais da Es-
tratégia Saúde da Família (ESF); 
d. no decorrer da infância;
e. no final da infância e no início da 
adolescência e na adolescência.
Prevenir a violência contra a criança e o 
adolescente é possível desde o pré-natal, 
com uma atuação preventiva, trabalhan-
do a aceitação de gravidez não planejada 
ou em decorrência de violência e as expec-
tativas em relação ao bebê com a mãe, o 
pai e os familiares. 
Outra forma de prevenir a violência é 
identificar as situações familiares que po-
dem gerar maior vulnerabilidade às práticas 
violentas, pelas dificuldades e desgaste que 
ocasionam. Situações como perda de em-
prego, uso abusivo de álcool e outras dro-
gas, separação conjugal ou morte de um de 
seus membros requerem atenção redobra-
da à família no sentido de ajudá-la a lidar 
com tais adversidades e a minimizar a busca 
da violência como forma de enfrentá-las. 
ção Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 119
 
Serviços 
DE ATENÇÃO À SAÚDE
3.1. SERVIÇOS DA ATENÇÃO 
PRIMÁRIA À SAÚDE 
A atenção primária à saúde é o primeiro 
nível de atenção do sistema de saúde. 
Constitui-se a porta de entrada preferen-
cial do Sistema Único de Saúde (SUS), 
onde se incluem os cuidados essenciais de 
promoção, proteção, reabilitação e manu-
tenção da saúde, prevenção de agravos, 
diagnóstico e tratamento dos problemas 
de saúde mais comuns e relevantes da po-
pulação. Os princípios que orientam o de-
senvolvimento da atenção básica/primária 
são os da universalidade, da acessibilida-
de, do primeiro contato com o sistema de 
saúde, do registro da clientela, da coor-
denação do cuidado, do vínculo e da con-
tinuidade da atenção, da integralidade, 
da responsabilização, da humanização, 
da equidade e da participação social.
As equipes da atenção primária/saúde 
da família devem realizar o acolhimento, 
assim como as ações educativas e pre-
ventivas sobre o uso abusivo de álcool e 
outras drogas. Devem também garantir 
acesso a exames complementares; for-
necer medicamentos básicos; prestar o 
atendimento e orientar as mães/os cui-
dadores a respeito da saúde sexual e re-
produtiva de crianças e adolescentes. 
O acompanhamento e a evolução de 
cada caso nas unidades de saúde, nos do-
micílios ou ainda mediante o encaminha-
mento para unidades de atenção especia-
lizada e acompanhamento do cuidado são 
atribuições das equipes, além de promove-
rem ações de prevenção da violência e de 
promoção da cultura de paz junto à família, 
na escola, na comunidade e em outros es-
paços sociais. Tais equipes possuem espa-
ço privilegiado para a identificação dos ca-
sos de violência pelo grande leque de ações 
e pelo envolvimento dos profissionais com 
as ações de saúde individual e coletiva de-
senvolvidas no território. Por estarem geo-
graficamente muito próximos das famílias, 
os profissionais da atenção primária têm 
maior possibilidade de identificar sinais 
e sintomas de violências em crianças 
e adolescentes, realizar o acolhimento, 
atendimento (diagnóstico, tratamento e 
cuidados), notificar os casos e encaminhar 
para rede de cuidados e de proteção social. 
3.2. SERVIÇOS DE ATENÇÃO 
ESPECIALIZADA, URGÊNCIA 
E EMERGÊNCIA
Em geral, os serviços de saúde de atenção 
especializada para atendimento à criança 
e ao adolescente em situação de violência 
estão vinculados a um estabelecimento 
de saúde, público ou conveniado com a 
rede SUS (Hospital, Maternidade, Unida-
de de Urgência e Emergência e os Centros 
de Aconselhamento e Testagem - CTA), 
podendo ainda ser prestado por Organi-
zação da Sociedade Civil (OSC). Todos de-
vem dispor de equipes multidisciplinares 
e sua composição varia de acordo com a 
capacidade instalada e o tipo de organiza-
ção dos serviços. Em geral, essas equipes 
são compostas por médicos (pediatras, 
ginecologistas, psiquiatras), enfermei-
ros, psicólogos e assistentes sociais, mas 
pode haver também odontólogos, nutri-
120 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
cionistas, pedagogos, fonoaudiólogos, fi-
sioterapeutas, advogados, dentre outras 
categorias profissionais.
Em situações em que esses serviços se 
constituem como porta de entrada ou pri-
meiro contato, é de sua responsabilidade 
prestar a atenção integral conforme proto-
colos e fluxos estabelecidos, em linha de 
cuidado, nas dimensões do acolhimento, 
atendimento (diagnóstico, tratamento 
e cuidados) e notificação, e seguimento 
na rede de cuidados e de proteção social 
constituídos no território. 
As Unidades de Pronto Atendimen-
to (UPAs 24h) são estruturas de comple-
xidade intermediária entre as Unidades 
Básicas de Saúde e as portas de urgên-
cia hospitalares. Em conjunto com es-
tas, compõem uma rede organizada de 
Atenção às Urgências. São integrantes do 
componente pré-hospitalar fixo e devem 
ser implantadas em locais/unidades es-
tratégicos para a configuração das redes 
de atenção à urgência, com acolhimento e 
classificação de risco em todas as unida-
des, em conformidade com a Política Na-
cional de Atenção às Urgências. 
A estratégia de atendimento está dire-
tamente relacionada aotrabalho do Ser-
viço Móvel de Urgência (Samu – 192), que 
organiza o fluxo de atendimento e enca-
minha o paciente ao serviço de saúde ade-
quado à situação. Esses serviços integram 
a rede de atenção especializada no terri-
tório para os casos de violência de maior 
gravidade, a exemplo de tentativas de sui-
cídio, agressão física e violência sexual.
3.3. SERVIÇOS 
DE SAÚDE MENTAL 
O suporte no âmbito da saúde mental às 
crianças, adolescentes e suas famílias em 
situação de violência pode ser um impor-
tante fator de cuidado e proteção, tanto 
no que diz respeito ao fortalecimento 
dos indivíduos e dos grupos familiares 
para o rompimento da cadeia da vio-
lência, quanto para o acompanhamen-
to de possíveis sequelas psíquicas e 
emocionais resultantes das situações a 
que estão expostas. 
Sabemos que muitos fatores psicos-
sociais estão presentes e compõem os di-
ferentes tipos de violência, seja pelo uso 
abusivo de álcool e outras drogas, seja pela 
presença de algum tipo de transtorno men-
tal, como a depressão (que pode ocasionar 
situações de negligência e abandono), seja 
pelos contextos de vulnerabilidade a que 
os grupos familiares estão submetidos.
 Nesse aspecto, é possível que a atenção 
à saúde mental deva se dar não somente 
às pessoas que sofreram algum tipo de 
violência, mas também aos seus agresso-
res. A rede de atenção psicossocial é consti-
tuída por diversos dispositivos assistenciais 
que possibilitam a atenção psicossocial, se-
gundo critérios populacionais e demandas 
locais dos municípios, entre outros. 
Para o atendimento de crianças e ado-
lescentes e suas famílias em situação de 
violência, bem como os/as autores de 
agressão, destacam-se: 
a. Centros de Atenção Psicossocial 
(Caps): são serviços extra-hospi-
talares, de atenção diária, de base 
comunitária e que possuem equi-
pe multiprofissional. Os Caps têm 
papel estratégico no que se refere 
à regulação da porta de entrada da 
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 121
rede assistencial de saúde mental 
e devem ser lugares de referência 
e tratamento para pessoas que so-
frem com transtornos mentais e/ou 
que apresentam problemas devido 
ao uso abusivo de álcool e outras 
drogas, promovendo a inserção so-
cial de seus usuários por meio de 
ações intersetoriais e oferecendo 
atenção à saúde mental na rede 
básica de saúde. 
b. Centro de Atenção 
Psicossocial Infanto-Juve-
nil (Capsi): é um serviço de 
atenção diária destinado ao 
atendimento de crianças e 
adolescentes com transtornos 
mentais graves. Estão incluídos 
nessa categoria os portadores de 
autismo, psicoses, neuroses graves, 
usuários de álcool e outras drogas e 
todos aqueles que, por sua condição 
psíquica, estão impossibilitados de 
manter ou estabelecer laços sociais. 
Os Caps e Capsi acompanham 
indiretamente casos de violência, 
quando esta situação é subjacente, 
e não o motivo que desencadeou o 
atendimento, e devem ser articu-
lados com os serviços da atenção 
primária e os serviços de referência 
para violências. A inexistência des-
ses serviços requer a pactuação dos 
gestores com os serviços especiali-
zados de outros municípios vizinhos. 
c. Centro de Atenção Psicossocial 
para Usuários de Álcool e Outras 
Drogas (Caps ad): devem oferecer 
atendimento diário a pacientes que 
fazem uso prejudicial de álcool e 
outras drogas, permitindo o plane-
jamento terapêutico dentro de uma 
perspectiva individualizada de evo-
lução contínua. Possibilitam ainda 
intervenções precoces, limitando o 
estigma associado ao tratamento. 
d. Saúde Mental na Atenção Básica: 
o trabalho integrado entre as ESF 
e Saúde Mental potencializa o cui-
dado e facilita uma abordagem in-
tegral, aumentando a qualidade de 
vida dos indivíduos e comunidades. 
Também propicia um uso mais efi-
ciente e efetivo dos recursos e pode 
aumentar as habilidades e a satis-
fação dos profissionais. O trabalho 
junto à atenção primária pode se 
dar de duas maneiras: (I) apoio ma-
tricial às Estratégias de Saúde da 
Família (ESF), por intermédio de 
uma equipe mínima de Saúde Men-
tal, ou (II) apoio pelos profissio-
nais dos Núcleos de Apoio a Saúde 
da Família (Nasf).
3.4. SERVIÇOS 
ESTRATÉGICOS 
Dentre os serviços estratégicos de apoio à 
gestão, destacam-se os:
1. Núcleos de Apoio à Saúde da 
Família (Nasf): criados com o obje-
tivo de ampliar a abrangência das 
ações de atenção primária, me-
diante a assessoria e apoio à Estra-
tégia de Saúde da Família (ESF) na 
rede de serviços e no processo de 
territorialização e regionalização; 
2. Núcleos de Prevenção das Violências 
e Promoção da Saúde: instituídos 
pelo Ministério da Saúde (Portaria 
nº 936, de 20 de maio de 2004) e im-
plantados nos serviços de Vigilância 
em Saúde/Vigilância Epidemiológica 
122 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
 
A Assistência e 
Proteção Social 
À CRIANÇA E AO 
ADOLESCENTE VÍTIMA 
DE VIOLÊNCIA: 
SISTEMA ÚNICO 
DA ASSISTÊNCIA 
SOCIAL (SUAS)
O Suas integra uma política pactuada na-
cionalmente que prevê uma organização 
participativa e descentralizada da assistên-
cia social, com ações e serviços voltados 
para o fortalecimento da família. Entre eles, 
dois são fundamentais para o cuidado e a 
proteção social de crianças, adolescentes e 
suas famílias em situação de violências:
1. Centros de Referência de Assis-
tência Social (Cras): É uma unidade 
pública da política de assistência 
social, de base municipal, integrante 
do Suas, localizado em áreas com 
maiores índices de vulnerabilidade 
e risco social. Destina-se à presta-
ção de serviços e programas socio-
assistenciais de proteção básica às 
famílias e aos indivíduos e à articu-
lação desses serviços no seu territó-
rio de abrangência à ação interseto-
rial na perspectiva de potencializar 
a proteção social. Algumas ações 
das Secretarias de Saúde Estaduais, 
Municipais e do Distrito Federal; e em 
universidades federais e estaduais; 
3. Abordagem multiprofissional: a 
participação de profissionais com 
formações diversas na aborda-
gem dos casos de violência con-
tra crianças e adolescentes, como 
médicos, dentistas, enfermeiros, 
assistentes sociais, fisioterapeu-
tas, psicólogos, fonoaudiólogos, 
pedagogos e psiquiatras; 
4. Notificação: a notificação deve ser 
realizada como um instrumento 
importante de proteção e não de 
denúncia e punição. É um direito 
da criança, do(a) adolescente e da 
família viver em um ambiente que 
promova o bem-estar físico, social 
e emocional livre de qualquer forma 
de violência, opressão ou negligên-
cia. O Conselho Tutelar e os serviços 
que compõem a rede de cuidados e 
de proteção social acionada podem 
ajudar a família e proteger a criança. 
A notificação é uma das dimensões 
da linha de cuidado, cabendo ao 
serviço de saúde, por meio da equi-
pe, avaliar qual o melhor momento 
de registro na ficha de notificação, 
da responsabilização pelo preen-
chimento, bem como o seu encami-
nhamento ao Conselho Tutelar. 
da proteção social básica devem 
ser desenvolvidas necessariamen-
te nos Cras, como o Programa de 
Atenção Integral as Famílias (Paif), 
entre outras ações. 
2. Centro de Referência Especializa-
do de Assistência Social (Creas): 
Constitui-se numa unidade pública 
e estatal onde se ofertam serviços 
especializados e continuados a fa-
mílias e indivíduos nas diversas 
situações de violação de direitos. 
Como unidade de referência, deve 
promover a integração de esforços, 
recursos e meios para enfrentar a 
dispersão dos serviços e potenciali-
zar ações para os/as usuários/as. O 
Creas deve articular os serviços de 
média complexidade e operar a re-
ferência e a contrarreferência com a 
rede de serviços socioassistenciais 
da proteção social básica e especial, 
com as demais políticas públicas se-
toriais e com os demais órgãos do 
Sistema de Garantia de Direitos.
4.1 ESCUTA 
ESPECIALIZADA NO SUAS 
A escuta especializada à que se refere a Lei 
nº 13.431 de 2017, é historicamente deno-
minada no SUAS como Escuta Qualifica-da. Sua aplicação nas ofertas do SUAS deve 
ser compreendida como uma provisão e 
um processo transversal, presente em to-
dos os serviços e atribuição de todas/os as/
os profissionais que compõem as equipes 
de referência. A escuta é qualificada porque 
as/os técnicas/os de referência da assistên-
cia social devem exercitar, ao longo de sua 
atuação, a habilidade de ouvir com aten-
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 123
ção e respeito e de compreender de manei-
ra ampliada as demandas, as necessidades 
e as potencialidades das/dos usuárias/os e 
famílias atendidas/os, demonstrando para 
com eles compromisso e responsabilidade 
diante da situação vivenciada. 
É preciso considerar que as pessoas 
podem estar em situação de extrema 
fragilidade de vínculos e desestabilidade 
emocional e que isso afeta sua forma de 
se expressar. Assim, a escuta qualificada 
se fundamenta na capacidade de inter-
pretar para além do que foi dito, analisar 
e compreender as entrelinhas das falas e 
discursos, atentar para comportamentos 
e sinais que possam evidenciar a vivência 
de situações de violência. 
O processo de escuta qualificada no 
SUAS implica o reconhecimento da mul-
tidimensionalidade das situações de 
vulnerabilidade, risco, violência e de-
mais formas de violações de direitos, 
compreendendo como fatores pessoais, 
sociais, estruturais, comunitários, econô-
micos, culturais e territoriais compõem 
estas situações. Isso é fundamental para 
desnaturalizar as situações de violência, 
para que não haja a culpabilização da(o) 
usuário(a) pela situação em que está in-
serido(a) e para que seja possível pensar 
em estratégias de enfrentamento coleti-
vo dessas situações. 
A escuta qualificada é uma dimensão 
essencial no desenvolvimento do traba-
lho socioassistencial, pois ela possibilita 
conhecer o conjunto das informações 
sobre a família e o seu contexto, cons-
tituindo-se, assim, como elemento dis-
tintivo para atuação do SUAS no enfren-
tamento e prevenção das situações de 
vulnerabilidade e risco sociais. 
Nessa perspectiva, a escuta especializa-
da no SUAS é parte do trabalho social reali-
zado nos serviços, programas e projetos do 
SUAS e deve ser orientada pelos objetivos 
da Assistência Social previstos na Lei Orgâ-
nica de Assistência Social, quais sejam: 
1. proteção social, que visa à garantia 
da vida, à redução de danos e à pre-
venção da incidência de riscos; 
2. vigilância socioassistencial, que 
visa analisar territorialmente a capa-
cidade protetiva das famílias e nela 
a ocorrência de vulnerabilidades, de 
ameaças, de vitimizações e danos; e 
3. defesa de direitos, que visa garantir 
o pleno acesso aos direitos no conjun-
to das provisões socioassistenciais. 
PUXANDO Prosa
O principal objetivo da 
escuta qualificada é garantir 
o acesso aos cuidados, à 
proteção e aos direitos, não 
devendo enveredar para 
questionamento em torno de 
detalhes ou da veracidade da 
violência narrada pelas crianças 
e adolescentes. Assim, a escuta 
deve visar à compreensão 
das vulnerabilidades e riscos 
sociais a serem enfrentados e 
das potencialidades a serem 
desenvolvidas, a fim de ofertar 
a proteção social aos sujeitos.
enfrentamento à violência sexua
124 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
No âmbito do SUAS, a escuta é um 
procedimento técnico-profissional, utilizado 
em diversas ações e atividades dos serviços 
socioassistenciais, a partir de pressupostos 
éticos, com corresponsabilidade e resolu-
tividade, respaldada pelo sigilo profissio-
nal. Tem a finalidade de promover a aco-
lhida, a escuta qualificada e a proteção da 
criança, do adolescente e de suas famílias, 
não tendo por função a investigação cri-
minal e averiguação do caso. Deve primar 
pela não revitimização da criança e do(a) 
adolescente, e, por isso, não deve ser 
orientada por perguntas desnecessárias 
e invasivas que não contribuirão no atendi-
mento e acompanhamento a ser realizado. 
Nos casos em que a revelação espontâ-
nea ocorra em órgão de outra política da 
rede de proteção, este deve encaminhar as 
informações já registradas a partir da escu-
ta especializada que realizou. Nesse cená-
rio, o acompanhamento no SUAS se dará a 
partir dessas informações e das obtidas no 
atendimento socioassistencial da família. 
A proteção em face da revitimização 
não significa que a criança ou o(a) adoles-
cente não receberá o devido atendimento 
socioassistencial das equipes de referên-
cia, mas que ela não será requisitada a 
falar novamente sobre a situação de 
violência vivida ou testemunhada.
No entanto, caso a criança/adoles-
cente expresse desejo em falar sobre a 
situação, a escuta deve ser realizada, 
considerado os princípios e diretrizes es-
tabelecidos. É importante compreender 
que a fala e a escuta podem ter um cará-
ter terapêutico para algumas pessoas e 
tal desejo deve ser respeitado.
 
A educação 
de criança 
E AO ADOLESCENTE 
VÍTIMA DE VIOLÊNCIA 
“A escola é um espaço privilegiado para a 
construção da cidadania, onde um conví-
vio harmonioso deve ser capaz de garantir 
o respeito aos Direitos Humanos e educar 
a todos no sentido de evitar as manifes-
tações da violência. Dentre os problemas 
mais pungentes que temos enfrentado no 
Brasil, estão as diversas formas de vio-
lência cometidas contra crianças e ado-
lescentes. A análise desse quadro social 
revela que as marcas físicas visíveis no 
corpo deixam um rastro de marcas psico-
lógicas invisíveis e profundas. Combater a 
teia de violência que muitas vezes começa 
dentro de casa e em locais que deveriam 
abrigar, proteger e socializar as pessoas é 
uma tarefa que somente poderá ser cum-
prida pela mobilização de uma rede de 
proteção integral, em que a escola se des-
taca como possuidora de responsabilida-
de social ampliada.” (Secretaria Nacional 
de Inclusão/Ministério da Educação. Esco-
la que Protege. Unesco, Brasília, 2006.)
Importante
É importante destacar que o sigilo 
e a privacidade da criança ou 
adolescente vítima ou testemunha 
de violência devem ser preservados 
ao longo de todo esse processo. Por 
isso, os procedimentos para registro 
e os fluxos para compartilhamento 
das informações devem ser definidos 
e articulados com todos os órgãos 
do Sistema de Garantia de Direitos 
de crianças e adolescentes vítimas 
ou testemunhas de violência, a fim 
de que cada órgão se implique no 
processo de corresponsabilidade para 
a proteção integral dessas crianças 
 e adolescentes e respeite 
 a horizontalidade na relação 
entre os órgãos.
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 125
5.1 FORTALECER AS 
CAPACIDADES DA ESCOLA, 
DA COMUNIDADE E DA 
REDE DE PROTEÇÃO 
PARA A PREVENÇÃO E 
RESPOSTA ÀS VIOLÊNCIAS 
CONTRA CRIANÇAS E 
ADOLESCENTES (UNICEF)
Nos territórios especialmente vulnerá-
veis, marcados em seu cotidiano pelas 
violências, como os conflitos entre grupos 
rivais e por incursões policiais, a escola 
sofre de modo direto com a troca de tiros, 
eventuais invasões ou com a suspensão 
das aulas. Sofre de modo indireto tam-
bém em razão dos efeitos de curto, médio 
e longo prazos produzidos pelas circuns-
tâncias traumáticas a que são expostos 
não só os estudantes, como familiares, 
vizinhas/os, amigas/os, docentes e outros 
trabalhadoras/es da educação. 
São muitas as tarefas e os desafios que 
a escola pode assumir e dar uma contri-
buição à comunidade e ao seu próprio fun-
cionamento saudável. Contudo, ela não 
resolve essas questões sozinha. Aberta à 
participação da comunidade, dos(as) es-
tudantes e atuando sobretudo em rede, a 
escola pode colaborar para discutir um mo-
delo de segurança das ruas e de outros am-
bientes onde crianças e adolescentes cir-
culam, bem como a ocupação criativa dos 
espaços de convivência e dos territórios. 
Internamente, pode desenvolver de-
bates e orientações para seus profissio-
nais numa série de temas, como violência 
sexual, urbana, racismo, sexismo, entre 
outros, preparando-os para atuar em 
parceriacom as famílias. Pode também 
se aproveitar de programas já existentes, 
como o Programa Saúde na Escola, bem 
como realizar outros. 
Para atuar nessa perspectiva, é preciso 
fortalecer as capacidades das escolas, ga-
rantindo condições institucionais, como a 
formação dos profissionais da educação, 
maior disponibilidade e efetividade na apli-
cação de recursos e troca de experiência 
com outras escolas. Tais condições devem 
ser oferecidas para todos os serviços – assis-
tência social, saúde, segurança pública, cul-
tura – a fim de que também tenham condi-
ções institucionais para se estruturar e atuar 
em rede e na perspectiva da proteção.
 
Políticas sociais 
de Cultura, 
Esporte e Lazer 
PARA CRIANÇA E AO 
ADOLESCENTE VÍTIMA 
DE VIOLÊNCIA
6.1. ESPORTE E LAZER
Enquanto direito social, a prática despor-
tiva não formal é direito de cada um e 
dever do Estado no concernente ao seu 
fomento. No entanto, a dinâmica do siste-
ma desportivo apresenta enorme comple-
xidade, visto que o esporte está cada vez 
mais envolvido na dinâmica social, econô-
mica e política. E, por carecer de uma ideia 
e sentido claros, está imerso em um jogo 
político entre poder público e privado.
O esporte deve ser entendido e trata-
do como um fenômeno social e político, 
capaz de influenciar o conjunto de trans-
formações culturais de uma sociedade. 
Rico nas suas relações ativas e dinâmicas 
do grupo social ele é a representação viva 
das manifestações de ludicidade e criativi-
dade do movimento de um povo. Produz 
e reproduz a identidade cultural, contri-
126 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
buindo de forma decisiva nos processos 
de mudança social, formação educacional 
e de consolidação desta identidade.
Em relação ao Esporte Educacional, o Mi-
nistério do Esporte (hoje, Secretaria Especial 
do Esporte) tem logrado o crescimento con-
tínuo do número de crianças, adolescentes 
e jovens atendidos por atividades desporti-
vas oferecidas no contraturno escolar.
6.2. CULTURA
A cultura avulta como direito sobre o qual 
gravita a obrigação estatal de mantê-la e 
de promovê-la para fins de inclusão so-
cial com vistas ao respeito à dignidade da 
pessoa humana, mormente previstos nas 
constituições democráticas. 
O Estado, em todas as suas esferas, 
tem tarefa imprescindível na gestão cul-
tural e, de modo particular, o poder local, 
mais próximo da realidade e dos interes-
ses e necessidades locais, tem papel rele-
vante na valorização e na preservação da 
cultura, bem como do patrimônio cultural. 
Em vista disso, aborda-se que: 
[...] como o Estado, na sua interface 
com o setor privado, se redime da atua-
ção como contraponto, como alternati-
va, que é o que se espera de um regime 
democrático... ou seja, a ampliação das 
séries de possibilidades de atuação em 
qualquer área. De modo que, por falta 
de uma política governamental bem 
definida e delineada, a cultura vem se 
tornando cada vez mais dependente do 
mercado e de sua mão invisível. E perde 
sua garantia de efetivar-se como direito 
fundamental (BARBALHO, 2005, p. 42).
Para Cuche (1999, p. 10), a cultura é pro-
cesso de adaptação imaginada e contro-
lada pela pessoa humana, o que revela a 
substituição dos seus instintos de forma 
mais flexível, facilitada e célere do que a 
adaptação genética, o que favorece adap-
tar-se ao meio e adaptá-lo ao ser huma-
no, tornando possível a transformação do 
meio natural, bem como demonstrando a 
vantagem de ser mais facilmente transmis-
sível às gerações seguintes. No mais, é pos-
sível destacar duas dimensões da cultura: a 
antropológica e a sociológica. 
A compreensão em torno delas é funda-
mental porque, do ponto de vista da política 
pública, requerem distintas estratégias de 
política cultural. Assim, em razão de suas ca-
racterísticas estruturais, em sua totalidade, 
devem ser tomadas a partir da responsabili-
dade compartilhada dentro do Estado.
 A dimensão antropológica da cultura 
se traduz na interação social dos seres 
humanos, os quais trabalham seus mo-
dos de pensar e de sentir, elaborando seus 
valores, suas identidades e diferenças e 
estabelecendo suas rotinas. “Desta for-
ma, cada indivíduo ergue à sua volta, e em 
função de determinações de tipo diverso, 
pequenos mundos de sentido que lhe per-
mitem uma relativa estabilidade [...]” (BO-
TELHO, 2001, p. 74).
No que se refere à dimensão socioló-
gica, a cultura é produto elaborado com a 
finalidade de construção de certos sentidos 
e para alcançar algum público, com meios 
próprios de expressão. Para que isso ocorra, 
é imprescindível que à pessoa humana se-
jam facultadas as condições de desenvolvi-
mento dos seus talentos, ao mesmo tempo 
em que existam canais os quais permitam a 
expressão de suas potencialidades. 
Esse conjunto de expressões e compreen-
sões que definem e demonstram no que se 
constitui a Cultura, dão-nos a noção de suas 
infinitas contribuições para a melhoria da 
qualidade de vida de crianças e adolescentes 
e o quanto pode contribuir para minimizar os 
efeitos, sequelas e sofrimentos ocasionados 
por situações e processo de violência sofri-
dos. Poderia, sem dúvidas, estabelecer sobre 
a imperiosa necessidade da oferta de opor-
tunidades de práticas, vivências culturais a 
toda e qualquer criança ou adolescente víti-
ma de violência sexual ou não.
Considerações 
finais
O conceito de Proteção Integral nos força 
a pensar a criança e o(a) adolescente en-
quanto sujeito na sua totalidade, ainda que 
não se possa, por momento, atender suas 
necessidades. É nessa perspectiva que o 
conjunto das políticas de atendimento, pro-
teção e defesa devem intervir em situações 
específicas de vulnerabilidades e de risco, 
criando as condições para o desenvolvi-
mento de ações e estratégias de promoção, 
prevenção, recuperação e reabilitação.
A atenção integral extrapola ainda a es-
trutura organizacional hierarquizada das 
políticas públicas, exigindo um trabalho 
articulado no território. Isso tem início no 
processo de acolhimento às crianças, ado-
lescentes e suas famílias que vivenciam 
situações de violência. 
A primeira acolhida é determinante no 
processo de restabelecimento da digni-
dade. É importante cada rede estabelecer 
uma linha de cuidado com estratégias que 
favoreçam e promovam articulações entre 
equipes dos diversos serviços e estabele-
çam fluxos de atendimento de crianças, 
adolescentes e suas famílias, segundo 
suas demandas e necessidades, em 
uma rede de cuidados progressivos e 
ininterruptos, na qual em cada pon-
to articulado assegure-se o aco-
lhimento, a responsabilização, a 
resolutividade de problemas e a 
continuidade da atenção. 
Seguindo as orientações 
do Ministério da Saúde, “é ne-
cessária a adequação da área 
física, a compatibilização en-
tre a oferta e a demanda dos 
serviços, a capacitação dos 
profissionais e a governabi-
lidade das equipes locais, as-
sociadas ao modelo de gestão 
de redes para a definição de 
126 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes 127
Referências
BOTELHO, Isaura. Dimensões da 
cultura e políticas públicas. São 
Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 
15, n. 2, p. 73-83, abr./jun. 2001. 
______. Políticas culturais: 
discutindo pressupostos. In: 
NUSSBAUMER, Gisele Marchiori 
(Org.). Teorias e políticas da 
cultura: visões multidisciplinares. 
Salvador: EDUFBA, 2007.
CUCHE, Denys. A noção de cultura 
nas ciências sociais. Bauru: 
EDUSC, 1999. 
CALABRE, Lia. Políticas culturais 
no Brasil: balanço e perspectivas. 
In: RUBIM, Antonio Albino Canelas; 
BARBALHO, Alexandre (Orgs.). 
Políticas culturais no Brasil. 
Salvador: EDUFBA, 2007.
CUNHA FILHO, Francisco 
Humberto. Direitos culturais 
como direitos fundamentais 
no ordenamento jurídico 
brasileiro. Brasília: 
Brasília Jurídica, 2000.
 ______. Direitos culturais: do 
reconhecimento da fundamentalidade 
à necessidade de simplificação. In: 
CALABRE, Lia (Org.). Oficinas do Sistema 
Nacionalde Cultura. Brasília: Ministério 
da Cultura, 2006.
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a 
Infância - Educação que protege contra 
a Violência – Brasília: https://www.unicef.
org/brazil/media/4091/file/Educacao_
que_protege_contra_a_violencia.pdf
MINISTÉRIO DA CIDADANIA, Secretaria 
Especial de Desenvolvimento Social 
Secretaria Nacional de Assistência Social. 
Parâmetros para Atuação do Sistema 
Único de Assistência Social (SUAS) no 
Sistema de Garantia de Direitos de 
Crianças e Adolescentes Vítimas de 
ou Testemunhas de Violência, Brasília, 
agosto de 2019
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Secretaria 
Nacional de Inclusão/Ministério da 
Educação. Escola que Protege. Unesco, 
Brasília, 2006
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de 
Atenção à Saúde. Departamento de 
Ações Programáticas Estratégicas. Linha 
de cuidado para a atenção integral à 
saúde de crianças, adolescentes e suas 
famílias em situação de violências: 
orientação para gestores e profissionais 
de saúde / Ministério da Saúde. Brasília: 
Ministério da Saúde, 2010.
MOTTI, A.J.A. e SANTOS, J.V. Redes 
de proteção social à criança e ao 
adolescente: limites e possibilidades. 
Fundação Universidade Federal de Mato 
Grosso do Sul e Secretaria de Direitos 
Humanos da Presidência da República 
Secretaria Nacional de Promoção dos 
Direitos da Criança e do Adolescente.
protocolos e de fluxos de atenção inte-
gral à saúde de crianças, adolescentes e 
suas famílias na rede de cuidados e de 
proteção social, formada pelas políticas 
sociais básicas de saúde, educação, as-
sistência social e direitos humanos, arti-
culadas com os sistemas de justiça e de 
segurança pública. Por tratar-se de um 
tema extremamente complexo, o conte-
údo desta publicação não pretende es-
gotar a abordagem do tema da violência 
na infância e adolescência, apesar de sua 
construção ter envolvido profissionais de 
várias áreas de atuação, de diferentes lo-
cais do país e com as mais diversas expe-
riências em relação ao tema”.
enfrentamento
Realização
NOSSA VOZ. NOSSA FORTALEZA.
Apoio
ÂNGELO MOTTI (autor)
Graduado em Psicologia pela Universidade Católica Dom Bosco, com especialização em 
Psicologia Social. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul 
(UFMS). Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Papéis e Estruturas Sociais. 
Coordena o Programa Escola de Conselhos na UFMS. Atuou como gerente do Programa de 
Combate ao Abusos e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescente da Secretaria de Estado 
de Assistência Social do Ministério da Previdência e Assistência Social, responsável pela 
criação e implantação dos Centros de Referência Sentinela (Creas).
RAFAEL LIMAVERDE (ilustrador)
É ilustrador, chargista e cartunista (premiado internacionalmente) e xilogravurista. 
Formado em Artes Visuais pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia 
do Ceará (IFCE). Escreve e possui livros ilustrados nas principais editoras do Ceará e 
em editoras paulistas.
EXPEDIENTE: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA João Dummar Neto Presidente André Avelino de Azevedo 
Diretor Administrativo-Financeiro Raymundo Netto Gerente Editorial e de Projetos Emanuela Fernandes e 
Aurelino Freitas Analistas de Projetos UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE Viviane Pereira Gerente 
Pedagógica Marisa Ferreira Coordenadora de Cursos Joel Bruno Designer Instrucional CURSO ENFRENTAMENTO 
À VIOLÊNCIA CONTRA CRIANÇAS E ADOLESCENTES Valéria Xavier Concepção e Coordenadora Geral Leila Paiva 
Coordenadora de Conteúdo Amaurício Cortez Editor de Design e Projeto Gráfico Miqueias Mesquita 
Designer/Diagramador Rafael Limaverde Ilustrador Mayara Magalhães Revisora Beth Lopes Produtora
ISBN: 978-85-7529-936-4 (Coleção) 
ISBN: 978-85-7529-944-9 (Fascículo 8)
Este fascículo é parte integrante do Programa de Combate à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, em decorrência do Termo de Fomento celebrado entre a Fundação 
Demócrito Rocha e a Câmara Municipal de Fortaleza, sob o nº 001/2019.
Todos os direitos desta edição reservados à:
Fundação Demócrito Rocha
Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora 
Cep 60.055-402 - Fortaleza-Ceará 
Tel.: (85) 3255.6037 - 3255.6148 - Fax (85) 3255.6271
fdr.org.br 
fundacao@fdr.org.br

Continue navegando