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MATERIAL DIDÁTICO AUDITORIA CONTÁBIL E DE CONTAS HOSPITALARES CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010 0800 283 8380 www.ucamprominas.com.br Impressão e Editoração 2 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3 UNIDADE 1 – GESTÃO DA INFORMAÇÃO PARA OS TRABALHOS DE AUDITORIA ................................................................................................................ 8 1.1 CONTABILIDADE .................................................................................................... 8 1.2 NORMAS E PRINCÍPIOS CONTÁBEIS ....................................................................... 10 1.3 O MECANISMO DAS CONTAS ................................................................................. 14 1.4 MÉTODOS DE ESCRITURAÇÃO .............................................................................. 16 1.5 AS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS ......................................................................... 17 1.6 CUSTOS HOSPITALARES ...................................................................................... 22 UNIDADE 2 – CONTROLADORIA X ACREDITAÇÃO ............................................ 24 UNIDADE 3 – AUDITORIA DE CONTAS HOSPITALARES .................................... 33 3.1 A CONTA HOSPITALAR ......................................................................................... 33 3.2 A AUDITORIA DE CONTAS HOSPITALARES ............................................................... 34 UNIDADE 4 – AUDITORIA EM ÓRTESES, PRÓTESES E MATERIAIS ESPECIAIS (OPME) ..................................................................................................................... 37 4.1 OS NÚMEROS DE OPME E OS CONFLITOS DE INTERESSE ....................................... 38 4.2 ÓRTESES ........................................................................................................... 41 4.3 PRÓTESES ......................................................................................................... 41 4.4 MATERIAIS DE SÍNTESE E ESPECIAIS ..................................................................... 41 4.5 AUDITORIA EM OPME ......................................................................................... 42 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 45 BÁSICAS .................................................................................................................. 45 COMPLEMENTARES ............................................................................................... 45 3 INTRODUÇÃO Para a realização de trabalhos de auditoria, sejam estes em instituições de saúde públicas ou privadas, precisamos de alguns entendimentos básicos sobre controle, custos e Contabilidade. Até mesmo a Matemática via Estatística têm suas contribuições a dar, mas nos centraremos na Controladoria e Contabilidade para avançar no entendimento da auditoria financeira e contábil no setor saúde. Como toda ciência, a Contabilidade possui um vocabulário próprio e distinto do utilizado no cotidiano que deve ser de conhecimento não só dos Contabilistas, mas também dos empresários e gestores de maneira geral. A palavra “conta” é um exemplo simples e esclarecedor: nas relações entre um correntista e um banco, conta pode ser entendido como a movimentação do cliente em relação a saques e depósitos realizados. Na área de Matemática seriam os cálculos realizados em operações; e para alguém que comprou fiado em algum estabelecimento, significa uma dívida. Se pensarmos na “conta hospitalar”, nela encontraremos a cobrança dos procedimentos médicos realizados, as diárias, taxas, materiais e medicamentos utilizados. Esta conta pode se apresentar desmembrada ou compactada. Na conta hospitalar desmembrada, o hospital envia as cobranças de cada procedimento realizado separadamente. Para todos os procedimentos médicos realizados são emitidas guias de autorização pela operadora. Na conta hospitalar, propriamente dita, são cobrados as diárias, taxas e os materiais e medicamentos utilizados, entretanto, os honorários médicos, SADT (Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico), órteses e próteses e materiais de alto custo não são descritos nessa conta e sim cobrados diretamente pelo serviço responsável pela realização do procedimento, não havendo repasse e pagamento pelo hospital (MOTTA, 2010). Na conta hospitalar compactada, o hospital envia todas as cobranças dos procedimentos médicos realizados e demais gastos durante o período de internação. Na cobrança hospitalar estão relacionados os seguintes itens: diárias, taxas, materiais e medicamentos gerais, órteses, próteses, SADT e honorários médicos; com isso, o hospital recebe os valores dos serviços prestados e repassa aos que são de direito. 4 Figura 1: Cobranças. Fonte: http://estomatologista.blogspot.com.br Motta (2010) ressalta que em relação às órteses e próteses, em muitos casos, elas são negociadas em separado devido ao alto custo, não estando, portanto, inclusas na conta compactada. Como se observa, não é uma conta assim tão simples não é mesmo?! Veremos detalhes ao longo do módulo. Sobre as instituições de saúde públicas, ponderamos que nestas a gestão do patrimônio público não visa ao “lucro financeiro”, mas ao denominado “lucro social”. Deve-se, pois, incentivar a elaboração de mecanismos capazes de realizar controles internos, capazes de dar confiabilidade indiscutível aos demonstrativos legais, a fim de satisfazer às necessidades de informações corretas e tempestivas perante a administração pública (ANDRADE, 2002). Um grande diferencial do ramo da contabilidade privada para o ramo da contabilidade pública é que, enquanto na área privada pode-se fazer tudo que a lei não proíbe, na pública, permite-se realizar somente aquilo que a lei determina. Outra diferença é a classificação das receitas como todos os embolsos e as despesas como todos os desembolsos. Esse parâmetro demonstra que, enquanto na contabilidade empresarial alguns valores são classificados como adiantamento e antecipações, na contabilidade pública a diferenciação das receitas concentra-se em sua natureza, ou seja, afeta ou não o resultado patrimonial e, consequentemente, o saldo patrimonial público. Embora não discorreremos sobre a Estatística, vale a pena lembrar que é uma parte da Matemática aplicada que fornece métodos para coleta, organização, 5 descrição, análise e interpretação de dados e para a utilização dos mesmos na tomada de decisões. Ela pode ser descritiva, inferencial. Figura 2: Estatística. Fonte: http://www.professormatusalem.com No primeiro caso, usaremos técnicas que são empregadas para coleta e descrição de dados, além de ser empregada na análise exploratória de dados. Quando inferencial, é utilizada para tomar decisões a respeito de uma população, geralmente utilizando dados de amostras. Uma vez que tais decisões são tomadas sob condições de incerteza, faz-se necessário o uso de conceitos relativos à Teoria da Probabilidade. Sim, podemos e devemos aplicar a Estatística nas ciências da saúde e ela tem muito a contribuir para que cheguemos àquela qualidade que todos nós buscamos. Incluímos neste módulo a auditoria e controle na gestão de Órteses, Próteses e Materiais Especiais, o conhecido OPME, principalmente para que a instituição não saia perdendo na parceria e na sua aquisição. Todos os caminhos que estamos percorrendo nos levam ao seguinte objetivo: qualidade e excelência no atendimento ao usuário do sistema de saúde que podemos desmembrar em: prevenção de erros e fraudes, “não desperdício” ou usoracional de materiais e insumos, sobrevivência das instituições de saúde. 6 Fato é que no mundo atual, as empresas para se manterem competitivas devem se preocupar em obter uma maior padronização de qualquer processo e com as instituições de saúde não acontece diferente, mesmo porque, nenhum tipo de investimento é mais importante do que aquele que envolve vidas humanas e os hospitais, palcos cotidianos de situações limítrofes, percebem já algum tempo que precisam empreender um movimento de modernização, quer seja para atender a demanda, quer seja para ultrapassar as barreiras impostas por crises econômicas, instabilidades político-sociais, globalização, entre outros fatores. Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se fazem necessárias: 1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo da leitura e, mais, para manterem-se atualizados. 2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo original1, pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância. 3) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento crítico. 4) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que 1 Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou similares. 7 os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Por fim: 5) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl + clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local. 8 UNIDADE 1 – GESTÃO DA INFORMAÇÃO PARA OS TRABALHOS DE AUDITORIA 1.1 Contabilidade A Contabilidade é uma ciência social aplicada, surgida da necessidade do homem acompanhar e controlar a evolução de seu patrimônio. Dessa forma, ela faz parte da evolução e do desenvolvimento do próprio ser humano e da sociedade. Historicamente, existem evidências da existência de contas aproximadamente 4000 a.C., podemos citar como exemplo o homem primitivo, que, inventariando o número de instrumentos de caça e pesca disponíveis, contando seus rebanhos, suas ânforas de bebidas, já estava praticando uma forma rudimentar de Contabilidade. Desde as épocas mais antigas, os homens buscavam se organizar para controlar seus pertences. Nesse sentido, praticavam atos de comércio através da troca de bens e mercadorias, onde até hoje existe a preocupação, o esmero e o aprimoramento em controlar o patrimônio das pessoas e das empresas (IUDÍCIBUS; MARION, 2011). Fazendo um grande recorte na história, foi certamente com o nascimento do capitalismo, que a Contabilidade desenvolveu-se como um método capaz de apurar, essencialmente, os resultados das atividades comerciais e industriais e as nuances do mundo dos negócios entre pessoas físicas, jurídicas, públicas, privadas, com ou sem fins lucrativos. O desafio de hoje, entretanto, é desenvolver a Contabilidade em meio a um cenário global de operações produtivas, comerciais e financeiras muito mais complexas e sofisticadas. Essas transformações ou transições, que o mundo sofreu e vem sofrendo ao longo do tempo, resultam invariavelmente do crescimento de necessidades sociais. Como resultado desse processo, cresce o destaque e a exigência por informações contábeis mais amplas, ágeis e transparentes, sendo por meio destas que as organizações e um amplo rol de partes interessadas subsidiam o planejamento e controle dos seus negócios. Enfim, a Contabilidade como ciência, constitui-se num vasto campo de aplicações, indo desde análises profundas de contas até a apuração de resultados, registros e interpretações de dados, passando pela avaliação dessas informações 9 para a tomada de decisões numa instituição. Sejam estas decisões de natureza econômica, financeira, física e de produtividade. A tomada de decisões desempenha um papel relevante na contabilidade. Sua importância tem sido ressaltada frequentemente nas definições dos objetivos da Contabilidade (fornecer informações econômicas aos usuários para essa tomada de decisões racionais). Entretanto, para que a Contabilidade consiga atender a esse objetivo e, consequentemente, as necessidades dos seus usuários, mister se faz que essa informação seja útil, oportuna, tempestiva, confiável e relevante (IUDÍCIBUS; MARION, 2011). Considerando a Contabilidade como fornecedora de informações, vários autores citando Vihermaa (2008) destacam que a identificação dos usuários e das finalidades, pelas quais estes necessitam dessas informações, afeta os métodos de coleta, mensuração e transmissão das informações contábeis. Neste sentido, a autora identifica três grupos de usuários da informação contábil: a) gestores – as informações contábeis se destinam a auxiliar o processo decisório; b) stakeholders – geralmente, estão interessados nas informações econômicas e financeiras de uma entidade; c) governos – as informações são utilizadas para fins de tributação e/ou regulamentação. Nós acrescentamos um terceiro grupo, dos auditores. Os gestores internos podem usar as informações para o planejamento e controle de curto prazo, de operações rotineiras, formular as políticas gerais e planos de longo prazo; usuários externos, tais como investidores e autoridades governamentais, podem usar a informação para tomar decisões a respeito da empresa, sendo que essas informações podem ser: i) informações gerenciais – transmitem conteúdos que auxiliam os gestores em suas tarefas organizacionais, em especial, no processo decisório; ii) informações financeiras – transmitem conteúdo sobre os fenômenos econômicos da entidade (HORNGREN; SUNDEM; STRATTON, 2004). Frisamos a importância desse banco de dados e informações fornecido pela Contabilidade, o qual deverá permitir que cada grupo de usuários as usem de maneira flexível, ou seja, cada um extrai do banco, os dados que atendam suas necessidades, sendo importante tê-lo de maneira clara. Desse modo, os relatórios e 10 as práticas contábeis, ao longo do tempo, vem sendo definidos para atender a cada tipo de usuário (YOUNG, 2006), pois caso os dados e informações estejam confusos e “bagunçados”, os usuários não terão como fazer um uso correto deles e as decisões tomadas poderão dar resultados negativos. Eis que podemos falar então das normas e princípios que regem a Contabilidade! 1.2 Normas e princípios contábeis As Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) constituem-se num conjuntode regras e procedimentos de conduta que devem ser observados como requisitos para o exercício da profissão contábil, bem como os conceitos doutrinários, princípios, estrutura técnica e procedimentos a serem aplicados na realização dos trabalhos previstos nas normas aprovadas por resolução emitidas pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC). As Normas Brasileiras de Contabilidade editadas pelo CFC devem seguir os mesmos padrões de elaboração e estilo utilizados nas normas internacionais e compreendem as Normas propriamente ditas, as Interpretações Técnicas e os Comunicados Técnicos. As NBC classificam-se em Profissionais e Técnicas e estabelecem preceitos de conduta profissional e padrões e procedimentos técnicos necessários para o adequado exercício profissional. A Interpretação Técnica tem por objetivo esclarecer a aplicação das Normas Brasileiras de Contabilidade, definindo regras e procedimentos a serem aplicados em situações, transações ou atividades específicas, sem alterar a substância dessas normas. O Comunicado Técnico tem por objetivo esclarecer assuntos de natureza contábil, com a definição de procedimentos a serem observados, considerando os interesses da profissão e as demandas da sociedade. A inobservância às NBC constitui infração disciplinar sujeita às penalidades previstas nas alíneas de “c” a “g” do art. 27 do Decreto-Lei nº 9.295/46, alterado pela Lei nº 12.249/10, e ao Código de Ética Profissional do Contador. As Normas Brasileiras de Contabilidade Profissionais se estruturam conforme segue: 11 I - Geral - NBC PG – são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas indistintamente a todos os profissionais de Contabilidade; II - do Auditor Independente - NBC PA – são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas, especificamente, aos contadores que atuam como auditores independentes; III - do Auditor Interno - NBC PI – são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especificamente aos contadores que atuam como auditores internos; IV - do Perito - NBC PP – são as Normas Brasileiras de Contabilidade aplicadas especificamente aos contadores que atuam como peritos contábeis. A estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade foi definida através da Resolução CFC 1.328/2011. Os Princípios de Contabilidade representam a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, consoante o entendimento predominante nos universos científico e profissional. Considerando a estrutura conceitual básica da Contabilidade, Iudícibus, Marion (2011) e outros estudiosos os classificam em postulados, princípios e convenções. Os postulados são premissas básicas para existência da contabilidade, ou seja, são a base para a existência da contabilidade, ou ainda, uma proposição ou observação de certa realidade que pode ser considerada não sujeita à verificação. De acordo com Silva (2008), não precisam ser comprovadas, porque ocorre uma aceitação geral por parte das pessoas. Os postulados são considerados pela Resolução nº 750/19932 – CFC – como Princípios Fundamentais e são compostos de: entidade contábil – a pessoa física ou jurídica para quem é mantida a contabilidade. O Patrimônio da entidade não se confunde com o dos seus sócios; continuidade – o trabalho contábil é contínuo. Refere-se à entidade que está funcionando com prazo indeterminado. Os princípios orientam quanto aos procedimentos que devem ser seguidos na realização dos registros contábeis; são preceitos básicos. 2 Atualizada pela Resolução 1282/2010. 12 As convenções delimitam o campo de atuação dos princípios, estabelecendo critérios a serem observados na aplicação dos mesmos. Os princípios contábeis adotados nas NBC não se opõem aos da estrutura conceitual básica da Contabilidade. No entanto, estes apresentam maior abrangência e classificação científica, sendo, portanto, mais completos e mais específicos em relação a atuação do contador. Os princípios Fundamentais de Contabilidade, hoje somente “Princípios da Contabilidade” são aqueles elencados no art. 3º da Resolução citada anteriormente. Prescreve ainda o § 2º, do art. 1º, da mesma norma que “na aplicação dos Princípios Fundamentais de Contabilidade há situações concretas e a essência das transações deve prevalecer sobre seus aspectos formais”. Ou seja, a cada situação, o contabilista deve analisar se a forma jurídica confere com a essência econômica do fato contábil. Caso não confira a essência, deve prevalecer sobre a forma. Alguns autores consideram essa assertiva como um princípio “embrionário”. De acordo com Reis (1995, p. 7), os princípios contábeis constituem a essência das doutrinas e teorias relativas à Ciência da Contabilidade, segundo entendimento dominante no universo científico profissional brasileiro. Horngren (1985, p. 394), por sua vez, afirma que os princípios contábeis transformaram-se em princípios de aceitação geral por consenso, sendo ainda que tal consenso não é influenciado somente pela análise lógica formal, mas também pela experiência, pelo uso e pela necessidade prática. Segundo Iudícibus (2004), as convenções contábeis delimitam ou qualificam melhor o tipo de comportamento necessário do contador em face dos amplos graus de liberdade que os postulados e princípios lhe permitem exercer. São restrições que representam o complemento dos postulados e princípios delimitando-lhes conceitos e atribuições (IUDÍCIBUS; MARION, 2011). São normas de caráter prático que devem ser consideradas como guias. Conservadorismo, Consistência, Materialidade e Objetividade são as quatro convenções aceitas pelos doutrinadores. Os princípios são aplicáveis à contabilidade no seu sentido mais amplo de ciência social, cujo objeto é o Patrimônio das Entidades. São Princípios de Contabilidade3: 3 A partir de 02.06.2010, Os “Princípios Fundamentais de Contabilidade (PFC)”, citados na Resolução CFC nº 750/93, passam a denominar-se “Princípios de Contabilidade (PC)”, por força da Resolução CFC 1.282/2010. 13 a) Princípio da Entidade Reconhece o Patrimônio como objeto da Contabilidade e afirma a autonomia patrimonial, a necessidade da diferenciação de um Patrimônio particular no universo dos patrimônios existentes, independentemente de pertencer a uma pessoa, um conjunto de pessoas, uma sociedade ou instituição de qualquer natureza ou finalidade, com ou sem fins lucrativos. b) Princípio da Continuidade Pressupõe que a Entidade continuará em operação no futuro e, portanto, a mensuração e a apresentação dos componentes do patrimônio levam em conta esta circunstância. c) Princípio da Oportunidade Refere-se ao processo de mensuração e apresentação dos componentes patrimoniais para produzir informações íntegras e tempestivas. d) Princípio do Registro pelo Valor Original Determina que os componentes do patrimônio devem ser inicialmente registrados pelos valores originais das transações, expressos em moeda nacional. e) Princípio da Competência Determina que os efeitos das transações e outros eventos sejam reconhecidos nos períodos a que se referem, independentemente do recebimento ou pagamento. O Princípio da Competência pressupõe a simultaneidade da confrontação de receitas e de despesas correlatas. f) Princípio da Prudência Acontecerá, concomitantemente com o princípio da competência, conforme estabelecido no § 2º da mencionada Resolução, quando resultará, sempre, variação patrimonial quantitativa negativa, ou seja, reduzirá o patrimônio líquido. O emprego deste princípio não deve levar em conta situações como: manipulação de resultados, com criação de despesas, receitas e provisões14 indevidas; pelo contrário, deve assegurar a inexistência de valores artificiais, de interesse de certas pessoas, principalmente os administradores e controladores, aspecto muito relevante nas entidades integrantes do mercado de capitais. A observância dos Princípios de Contabilidade é obrigatória no exercício da profissão e constitui condição de legitimidade das Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC). Por exemplo, o princípio de competência, que exige o registro das receitas e despesas no período que ocorrerem, não pode ser substituído por adoção do regime de caixa (no qual as receitas e despesas são registradas somente por ocasião de seu pagamento) (ZANLUCA, 2012). O artigo 8º, seu parágrafo único, e os incisos I, II e III, que tratavam do Princípio da Atualização Monetária foram revogados pela Resolução CFC nº 1282/10. 1.3 O mecanismo das contas O método utilizado para registrar os fatos contábeis é o Método das Partidas Dobradas, inventado no século XIV e que veio sendo aperfeiçoado ao longo dos séculos, consistindo em fazer débitos e créditos no mesmo valor para cada operação. A cada débito deve corresponder um ou mais créditos no mesmo valor do débito e vice-versa ou, para cada crédito, deve corresponder um ou mais débitos no mesmo valor do crédito. A funcionalidade desse método requer algumas regras, como: Débitos Créditos Aumentam as contas do ativo. Diminuem as contas do ativo. Diminuem as contas do passivo. Aumentam as contas do passivo. Diminuem as contas do patrimônio líquido. Aumentam as contas do patrimônio líquido. De forma bem simplificada: para lançamento a débito, deve corresponder um lançamento a crédito e vice-versa. 15 Inúmeros autores são unânimes em afirmar que o método das partidas dobradas permite a visualização da situação de uma certa entidade no presente mediante o registro dos fatos passados ao longo da vida da empresa. Outras vantagens apontadas são: o método fornece mecanismos para evitar erros devido à dualidade necessária; é fundamental uma Contabilidade Sistemática e em ordem de transações para se empregar o método. Este método diz que todo débito corresponde a um crédito de mesmo valor; isso significa que em todo lançamento contábil são usadas, no mínimo, duas contas, uma de débito e outra de crédito do mesmo valor. A conta é uma denominação contábil para um fato acontecido, ele pode ser repetitivo e ter a mesma natureza. Existem contas Patrimoniais (ativo, passivo e patrimônio líquido) e as contas de resultado (receitas, custos, despesas, perdas e ganhos). Em outras palavras e ao mesmo tempo reforçando o dito, quando se trata de débito e crédito, temos alguns tipos de conta: a) Contas do ativo – o ativo está do lado esquerdo do balanço patrimonial; então, os lançamentos a débito das suas contas aumentarão seus saldos e os lançamentos a crédito os diminuirão. b) Contas do passivo – essas contas possuem natureza credora. O passivo está do lado direito do balanço patrimonial; então, os lançamentos a crédito das suas contas aumentarão seus saldos e os lançamentos a débito os diminuirão. c) Contas de receita – essas contas possuem natureza credora. Se uma empresa tem receitas maiores do que as despesas, representam lucro; isso significa que houve aumento de riqueza líquida, que equivale ao patrimônio líquido positivo. d) Contas de despesa – essas contas possuem natureza devedora. Se uma empresa tem despesas maiores do que as receitas, representarão prejuízo; isso significa que diminuirão a riqueza líquida e que afetarão o patrimônio líquido de forma negativa. Enfim, as contas registram as variações patrimoniais, mostram as espécies de fatos contábeis que determinaram as modificações no resultado. 16 1.4 Métodos de escrituração Escrituração é o registro dos fatos patrimoniais de forma contínua e metódica, tendo como apoio a documentação relativa a estes fatos; isto é, o conjunto de lançamentos contábeis. A escrituração completa é composta pelos lançamentos contábeis e pelas demonstrações financeiras elaboradas no encerramento de cada exercício social, podendo ser manual, mecanizado ou por processamento de dados. Todo lançamento deve estar apoiado em documentos hábeis e idôneos e adequados ao tipo de operação, na sequência temos o Registro dos fatos no livro Diário; Transcrição dos registros para o livro Razão; Elaboração do Balancete de Verificação; Apuração do Resultado e elaboração das demonstrações contábeis (Balanço Patrimonial e Demonstração do Resultado do Exercício), transcrevendo-se estas demonstrações no livro Diário. Uma demonstração pode-se definir como o processo de prestação de informações úteis, oportunas e adequadas, conforme a necessidade do usuário. A escrituração contábil de uma companhia é exigida pela legislação comercial. A legislação do Imposto de Renda, artigo 251 do Regulamento do Imposto de Renda (Decreto 3000 ou RIR/99) e artigo 177, § 2º, Lei nº 6.404/76, estabelecem que: Art. 251. A pessoa jurídica sujeita à tributação com base no lucro real deve manter escrituração com observância das leis comerciais e fiscais (Decreto-Lei nº 1.598, de 1977, art. 7º). Parágrafo único. A escrituração deverá abranger todas as operações do contribuinte, os resultados apurados em suas atividades no território nacional, bem como os lucros, rendimentos e ganhos de capital auferidos no exterior (Lei nº 2.354, de 29 de novembro de 1954, art. 2º, e Lei nº 9.249, de 1995, art. 25). Artigo 177, § 2º: a companhia observará exclusivamente em livros ou registros auxiliares, sem qualquer modificação da escrituração mercantil e das demonstrações reguladas nesta Lei, as disposições da lei tributária, ou de legislação especial sobre a atividade que constitui seu objeto, que prescrevam, conduzam ou incentivem a utilização de métodos ou critérios contábeis diferentes ou determinem registros, lançamentos ou ajustes ou a elaboração de outras demonstrações financeiras (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009). 17 Vale a pena ressaltar que a legislação do Imposto de Renda estabelece três maneiras de tributação dos rendimentos das pessoas jurídicas e das empresas individuais a elas equiparadas (SANTOS et al., 2004): declaração de rendimentos com base no lucro real (anual ou trimestral); declaração de rendimentos com base no lucro presumido; declaração de rendimentos com base no lucro arbitrado. As empresas que têm filiais, sucursais ou agências podem ter Contabilidade descentralizada, se assim desejar. Se a empresa optar pela descentralização, deverá, ao final de todo mês, incorporar na escrituração da matriz os resultados dos demais estabelecimentos, segundo o artigo 252 do RIR/99 (BARROS, 2003). A escrituração deve ser totalmente preenchida em idioma e moeda corrente nacionais, com individualização e clareza, por ordem cronológica de dia, mês e ano, sem intervalos em branco nem entrelinhas, borraduras, rasuras, emendas e transporte para as margens. Devem ser também observados os métodos e critérios contábeis uniformes no tempo, com obediência às disposições legais e aos princípios fundamentais de Contabilidade. Os registros contábeis têm que ser consistentes e baseados nos documentos, livros, papéis, geradores dos registros. A empresa deve seguir os princípios e as técnicas estabelecidas pela Contabilidade; pois a fiscalização verificará se a empresa segue as regras e os padrões contábeis. Quanto aos erros cometidos, deverão ser corrigidos mediante lançamento de estorno, transferência ou complementação. Em relação aos registros contábeis necessários para atender à legislação tributária, referente à determinação do lucro real, quando não devem, por sua natureza completamente fiscal, considerar a escrituração comercial, ou forem diferentes dos lançamentos dessaescrituração, são realizados no Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR), ou em livros auxiliares (SILVA, 2008). 1.5 As demonstrações contábeis O Balanço Patrimonial, assim como as demais informações contábeis, deve propiciar aos usuários uma base segura às suas decisões, pela compreensão do estado em que se encontra a entidade, seu desempenho, sua evolução, riscos e oportunidades que oferece. 18 Segundo o Conselho Federal de Contabilidade (CFC), a informação contábil deve ser, em geral e antes de tudo, veraz e equitativa, de forma a satisfazer as necessidades comuns a um grande número de diferentes usuários, não podendo privilegiar deliberadamente a nenhum deles, considerando o fato de que os interesses nem sempre são coincidentes. O Balanço abriga as contas patrimoniais, ou seja, as contas de Ativo e Passivo. No ativo as contas são dispostas em ordem de liquidez, ou ordem de transformação de recursos em bens numerários, por isso todo balanço inicia com a conta caixa (bens numerários) por já ser líquida; no passivo as contas são dispostas em ordem de exigibilidade, que seria a ordem de preferência de pagamento ou liquidação da dívida. A apresentação do Balanço Patrimonial é obrigatória para todas as empresas, salvo aquelas amparadas pelo regime de microempreendimentos4, e deve ser “levantado” anualmente ou em períodos inferiores como é o caso das empresas ligadas ao sistema financeiro e das sociedades anônimas de capital aberto, estas vinculadas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O exercício social, por sua vez, terá duração de doze meses e não necessariamente deverá coincidir com o ano civil. Neste ponto, é interessante frisar os conceitos de circulante e realizável a longo prazo. Circulantes são os bens e direitos que serão convertidos em dinheiro “bem numerário” até o exercício social seguinte. Os demais direitos a receber, após o exercício social seguinte, serão considerados como realizáveis a longo prazo. Então, caso o exercício social da empresa coincida com o ano civil, e estivermos em abril do ano 1; as vendas a prazo recebíveis até 31 de dezembro do ano 2 serão consideradas duplicatas a receber circulante. Porém, se esta mesma venda tiver vencimento a partir de 01 de janeiro do ano 3, a duplicata a receber será considerada como realizável a longo prazo. De acordo com o art. 178 da Lei 6404/76: No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia. 4 Ver art. 27 da Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. DOU de 15.12.2006, republicado em 31.1.2009, republicado em 31.1.2012 e republicado em 06.3.2012. 19 § 1º No ativo, as contas serão dispostas em ordem decrescente de grau de liquidez dos elementos nelas registrados, nos seguintes grupos: I – ativo circulante; e, (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) II – ativo não circulante, composto por ativo realizável a longo prazo, investimentos, imobilizado e intangível. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) § 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: I – passivo circulante; (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) II – passivo não circulante; e, (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) III – patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009) § 3º Os saldos devedores e credores que a companhia não tiver direito de compensar serão classificados separadamente. ATIVO Art. 179. As contas serão classificadas do seguinte modo: I - no ativo circulante: as disponibilidades, os direitos realizáveis no curso do exercício social subsequente e as aplicações de recursos em despesas do exercício seguinte; II - no ativo realizável a longo prazo: os direitos realizáveis após o término do exercício seguinte, assim como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controladas (artigo 243), diretores, acionistas ou participantes no lucro da companhia, que não constituírem negócios usuais na exploração do objeto da companhia; III - em investimentos: as participações permanentes em outras sociedades e os direitos de qualquer natureza, não classificáveis no ativo circulante, e que não se destinem à manutenção da atividade da companhia ou da empresa; IV – no ativo imobilizado: os direitos que tenham por objeto bens corpóreos destinados à manutenção das atividades da companhia ou da empresa ou exercidos com essa finalidade, inclusive os decorrentes de operações que transfiram à companhia os benefícios, riscos e controle desses bens; (Redação dada pela Lei nº 11.638,de 2007) VI – no intangível: os direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido. (Incluído pela Lei nº 11.638,de 2007) 20 Parágrafo único. Na companhia em que o ciclo operacional da empresa tiver duração maior que o exercício social, a classificação no circulante ou longo prazo terá por base o prazo desse ciclo. PASSIVO EXIGÍVEL Art. 180. As obrigações da companhia, inclusive financiamentos para aquisição de direitos do ativo não circulante, serão classificadas no passivo circulante, quando se vencerem no exercício seguinte, e no passivo não circulante, se tiverem vencimento em prazo maior, observado o disposto no parágrafo único do art. 179 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) PATRIMÔNIO LÍQUIDO Art. 182. A conta do capital social discriminará o montante subscrito e, por dedução, a parcela ainda não realizada. § 1º Serão classificadas como reservas de capital as contas que registrarem: a) a contribuição do subscritor de ações que ultrapassar o valor nominal e a parte do preço de emissão das ações sem valor nominal que ultrapassar a importância destinada à formação do capital social, inclusive nos casos de conversão em ações de debêntures ou partes beneficiárias; b) o produto da alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição. § 2° Será ainda registrado como reserva de capital o resultado da correção monetária do capital realizado, enquanto não capitalizado. § 3º Serão classificadas como ajustes de avaliação patrimonial, enquanto não computadas no resultado do exercício em obediência ao regime de competência, as contrapartidas de aumentos ou diminuições de valor atribuídos a elementos do ativo e do passivo, em decorrência da sua avaliação a valor justo, nos casos previstos nesta Lei ou, em normas expedidas pela Comissão de Valores Mobiliários, com base na competência conferida pelo § 3º do art. 177 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) § 4º Serão classificados como reservas de lucros as contas constituídas pela apropriação de lucros da companhia. § 5º As ações em tesouraria deverão ser destacadas no balanço como dedução da conta do patrimônio líquido que registrar a origem dos recursos aplicados na sua aquisição. 21 Os elementos do Ativo têm natureza devedora por receberem aplicações de recursos. Aumentam de saldo pelos débitos em conta, os débitos têm o mesmo raciocínio de que a conta deve a alguém que os financiou. Os elementos do Passivo têm natureza credora por serem fonte ou origens de recursos. Aumentam de saldo pelos créditos em suas contas, os créditos significam que a conta emprestou recursos a alguém. A Demonstração dos Resultados do Exercício (DRE) foi instituída pelo artigo 187 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976 (Lei das Sociedades por Ações). A DRE tem como objetivo principal apresentar de forma vertical resumida o resultado apurado em relação ao conjuntode operações realizadas num determinado período, normalmente, de doze meses. É um resumo ordenado das receitas e despesas da empresa em determinado período. Através dessa demonstração, pode-se verificar o resultado que a empresa obteve (lucro ou prejuízo) no desenvolvimento de suas atividades durante um determinado período, geralmente igual a um ano. A DRE pode ser simples para micro ou pequenas empresa que não requeiram dados pormenorizados para a tomada de decisão, como é o caso de bares, farmácias, mercearias, boutiques, entre outros. A DRE completa, exigida pela Lei nº 6404/76, fornece maiores minúcias para a tomada de decisão: grupos de despesas, vários tipos de lucros, destaque dos tributos, entre outros. Art. 187. A demonstração do resultado do exercício discriminará: I - a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abatimentos e os impostos; II - a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços vendidos e o lucro bruto; III - as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais; IV – o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas; (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) V - o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão para o imposto; VI – as participações de debêntures, empregados, administradores e partes beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou 22 fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem como despesa; (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009) VII - o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação do capital social. § 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados: a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua realização em moeda; e, b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspondentes a essas receitas e rendimentos (LEI n. 6404/76). 1.6 Custos hospitalares Dentre suas várias finalidades, a Contabilidade de Custos provém a administração de informações suficientes para controlar os gastos internos, e no caso da gestão hospitalar, é preciso conhecer bem a evolução desses elementos para saber agir (BRITO; FERREIRA, 2006). Custo é um gasto relativo a bem ou serviço utilizado na produção de outros bens e serviços. O custo é também um gasto, só que reconhecido como tal, isto é, como custo, no momento da utilização dos fatores de produção (bens e serviços) para a fabricação de um produto ou execução de um serviço (MARTINS, 2003). Como em todos os demais segmentos, no hospitalar, os custos são crescentes e precisam ser apurados, controlados de modo a sua racionalização e contenção, tanto que um centro de custos bem organizado oferece informações que permitam aos gestores condições de melhoria nas funções de planejamento e controle das operações, pois embora há quem pense que o desenvolvimento tecnológico ajude a reduzir custos, principalmente quando vemos que na dinâmica da maioria das empresas, a busca por essa redução com vistas a maiores lucros seja uma constante, reafirmamos que ao contrário, na área de saúde eles tendem a aumentar! Quando surge um novo tipo de exame, por exemplo, diagnóstico, um não substitui o outro, ele lhe é complementar. Isso quer dizer que são lançados no mercado associados a outros já existentes. Assim, uma sequência de solicitações de exames médicos aumenta o custo. O conhecimento de custos não se resume a fazer cálculos simplificados de cobranças de materiais e medicamentos, muito além, é preciso conhecer as questões relacionadas aos custos hospitalares para que possam aplicar esses 23 conhecimentos em atividades gerenciais para a melhoria da utilização dos recursos econômico-financeiros das instituições. O exercício da gestão de custos no Sistema Único de Saúde (SUS) tornou- se imperativo em virtude da necessidade de garantir maior eficiência na aplicação dos recursos e sustentabilidade do sistema (BRASIL, 2013), tanto que recentemente, o Ministério da Saúde, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) definiram que o desenvolvimento de metodologias, instrumentos e sistemas de informação para a apuração de custos, que possibilitem estimar os recursos financeiros para o custeio global do SUS, é essencial ao aprimoramento da gestão interfederativa. Nesse contexto, insere-se o Programa Nacional de Gestão de Custos (PNGC), um conjunto de ações que visam promover a gestão de custos, no âmbito do SUS, por meio da produção, difusão e aperfeiçoamento de informações relevantes e pertinentes a custos, utilizadas como subsídio para a otimização do desempenho de serviços, unidades, regiões e redes de atenção em saúde do SUS (BRASIL, 2013). Os serviços de auditoria conseguem perceber a evolução histórica da proporção (ou desproporção) entre os custos operacionais e o conjunto das demais despesas da instituição, o que pode permitir que a diretoria avalie distorções globais em seus processos operacionais ou administrativos. 24 UNIDADE 2 – CONTROLADORIA X ACREDITAÇÃO A controladoria hospitalar funciona como uma unidade de assessoramento, seja para o executivo seja para demais gestores e equipes das unidades funcionais. “Apoio sem responsabilidade direta” como diria Ribeiro Filho (2005), uma vez que o responsável último pela eficácia da instituição seria o executivo principal. No caso de uma organização hospitalar, que possui uma grande complexidade em termos de prestação de serviços, reunindo grande variedade de recursos materiais, humanos e tecnológicos, a demanda por uma sistemática significante de planejamento e controle de resultados, com alto grau de acuracidade é enorme. A Controladoria busca os meios gerenciais que sejam necessários e suficientes para assegurar a otimização do resultado da entidade, ou seja, o controle permite indicar as necessidades de medidas corretivas, no caso de o desempenho não ser satisfatório, e assim, o processo de execução poderá ser redirecionado para melhor atender aos objetivos delineados pela empresa. Monitorar as discrepâncias ou desvios entre orçado e realizado torna-se uma atividade de controle de grande importância para a gestão financeira. Na medida em que questões de finanças e de custos interferem nos procedimentos dos profissionais de saúde e de apoio à saúde e, por extensão, na vida do hospital, é importante conceber uma estrutura organizacional que torne adequados os vários conceitos, antes vivenciados em ambientes industriais e de prestação de outros serviços, agora para um ambiente onde as questões da vida e da saúde de seres humanos são a essência de tudo. A controladoria evoluiu de uma função de Tesouraria em grandes corporações, no início do século XX, para se consolidar e gerir os sistemas de informações, avaliação e planejamento, assessorando o processo decisório, sendo também considerada um local depositário dos valores organizacionais defendidos pelos “donos do negócio”. A visão proposta para a Controladoria é resumida nas seguintes funções elencadas abaixo e fundamentalmente relacionadas com o processo de gestão econômica da organização: 25 gerir o sistema de informações econômico-financeiras de modo a apoiar as diversas fases do processo de gestão, provendo as informações requeridas pelos diversos tomadores de decisão; participar do processo de planejamento, garantindo a consistência e a viabilidade econômica do plano; promover a interação entre as áreas, dirimindo eventuais conflitos e conduzindo à otimização do resultado do todo; acompanhar continuamente o cumprimento do planejado, a fim de identificaros desvios e necessidade de ajustes; propiciar uma avaliação adequada dos resultados da empresa e do desempenho de seus gestores (PONTE; SANTOS, 1999). De todo modo, é preciso que haja interação entre as áreas de saúde e apoio à saúde com o apoio administrativo, financeiro e contábil para que se concretize o cumprimento do ciclo da gestão com o planejamento e, principalmente, com a estruturação e operacionalização de um sistema de informações gerenciais de base contábil, que forneça todos os “mapas” necessários aos vários gerentes de área. As atividades da contabilidade que antes eram consideradas burocráticas ou administrativas passam a ser encaradas como de integração orgânica com as atividades desempenhadas pelos setores de saúde e apoio à saúde. Então, a Controladoria tem o papel de promover a integração entre as áreas, de forma que os objetivos individuais e da instituição estejam alinhados. O esquema abaixo ilustra bem a concepção exposta sobre a Controladoria hospitalar, a qual é explicada na sequência. ENTIDADE HOSPITALAR CONSELHO SUPERIOR Definição da missão organizacional. Formulação do planejamento estratégico. Análise e aprovação do orçamento anual. Avaliação do desempenho organizacional por centros de resultado. Apreciação e aprovação da execução orçamentária. DIRETORIA GERAL Instância executiva e de representação técnica. Formulação do orçamento anual. Implementação da execução orçamentária. Avaliação permanente da eficácia organizacional. 26 UNIDADE DE CONTROLADORIA: - definições dos modelos de identificação e acumulação, mensuração e informação; - manutenção de informações para auxiliar nas fases de planejamento, execução e avaliação dos CRs e da entidade; - definição do modelo de decisão dos CRs; - definição de Planos de Entidades, eventos e contas; - apuração do resultado econômico dos CRs e da entidade; - otimização do resultado da entidade. UNIDADE TÉCNICA: - definição de procedimentos nas áreas médica, de enfermagem e de apoio à saúde; - definição de protocolos para abordagem e tratamento das várias patologias; - definição de ações para interligação lógica entre as atividades assistenciais, de ensino e pesquisa; - acompanhamento da aderência das ações nas várias clínicas ao protocolo. CR1.........................................................................................CRn Desempenho das atividades operacionais. Gestão baseada no resultado econômico de transações e eventos econômicos. Otimização do resultado do centro de resultado (CR). Fonte: Ribeiro Filho (2005, p. 27). Nos Centros de Resultados (CR) ocorrem os fenômenos físico-operacionais. Recursos e Serviços dão entrada nos vários CR e em decorrência do cumprimento da missão do CR, estes ofertam recursos e serviços específicos ao ambiente interno, para outros CR e ao ambiente externo. Na medida em que cada CR deve buscar a otimização do seu resultado econômico, fruto da confrontação entre receitas, despesas e custos, é possível vislumbrar um papel definido para a Controladoria Hospitalar, como decorrência da manutenção e funcionamento do sistema de informações de gestão econômica: assegurar a otimização do resultado econômico global do hospital. Essa perspectiva de papel ocorre em função da abordagem sinérgica entre os vários CR. Na verdade, a soma dos resultados das partes poderá ser menor do que o possível resultado do hospital como um todo. Essa possibilidade é factível devido à existência de conflitos inerentes à tentativa de utilizar, individualmente, recursos melhor utilizados pelo conjunto, quando do trabalho desempenhado por cada CR. Nesse sentido, a manutenção do sistema de informações gerenciais, pela Controladoria Hospitalar, propicia a eliminação desses possíveis conflitos, na 27 medida em que auxilia na implementação de medidas de direção e correção de rumo tempestivo (RIBEIRO FILHO, 2005). Uma vez que a Controladoria, enquanto unidade administrativa tem como especialidade a gestão econômica, isto implica a competência para estruturar modelos voltados para a identificação, acumulação, mensuração e informação sobre os eventos econômicos da entidade. A operacionalização destes modelos permite a integração dos vários centros de resultado que formam o hospital. Ocorrendo a integração, no âmbito de um mercado interno no qual cada centro de resultado demanda e oferece serviços, pode-se pensar em uma perspectiva de otimização de recursos, dentro de cada centro de resultado, propiciando a otimização da entidade como um todo. Desse modo, observa-se que reciprocidade na prestação de serviços, entre os centros de resultado induz o estabelecimento de um verdadeiro mercado interno entre as várias unidades. Embora a Controladoria seja por excelência uma área coordenada das informações sobre gestão econômica; no entanto, ela não substitui a responsabilidade dos gestores por seus resultados obtidos, mas busca induzi-los à otimização do resultado econômico. Portanto, os gestores, além de suas especialidades, devem ter conhecimento adequado sobre gestão econômica, tornando-se gestores do negócio, cuja responsabilidade envolve as gestões: operacional, financeira, econômica e patrimonial das suas respectivas áreas. Padoveze (2003, p. 37) demonstra na figura a seguir, denominada “Estrutura da Controladoria”, a estrutura da Controladoria e suas áreas a ela subordinadas. 28 Estrutura da Controladoria -Orçamentos, Projeções e Análise de Investimentos. -Contabilidade de Custos. -Contabilidade por responsabilidade. -Acompanhamento do negócio e Estudos Especiais. -Contabilidade Societária. -Controle Patrimonial. -Contabilidade tributária Figura 3: Estrutura da Controladoria. Fonte: Padoveze (2003, p. 37). No contexto hospitalar, o profissional da controladoria é, antes de tudo, alguém que possui uma visão sistêmica da entidade onde atua e, segundo Ribeiro Filho (2005), esta ideia tem, pelo menos, dois componentes principais. Em primeiro lugar, é fundamental um forte compromisso com o nível de excelência dos processos e resultados clínicos (visão da atividade-fim). Em segundo lugar, uma perspectiva de atuação interdisciplinar para o sistema de informações gerenciais, na medida em que cada serviço, no contexto de sua especialização, deverá ter o seu resultado mensurado e reportado (visão da atividade de apoio gerencial). Caminhando nesses conceitos e setores, chegamos à Acreditação Hospitalar, um conjunto de procedimentos de verificação e adequação, realizado em CONTROLADORIA Sistema de informação gerencial Auditoria Interna Relações com investidores Planejamento e Controle Escrituração 29 um hospital por entidade externa e independente, com o objetivo de certificá-lo como instância produtora de serviços de saúde de qualidade. Segundo Bonato (2007), esse modelo de avaliação externa da qualidade dos serviços de saúde, na realidade significa “conceder reputação a, tornar digno de confiança”, por isso, o uso dos termos acreditado (que merece ou inspira confiança), acreditador (que ou aquele que acredita) e acreditação (procedimento que viabiliza alguém ou algo a ser acreditado). No Manual de Acreditação Hospitalar para a América Latina e o Caribe (OPAS – 1996), Acreditação é definida como: [...] o procedimento de avaliação dos recursos institucionais, voluntário, periódico e reservado, que tende a garantir a qualidade da assistência através de padrões previamente aceitos. Os padrões podem ser mínimos ou mais elaborados e exigentes, definindo diferentes níveis de satisfação. No Brasil, os programas de Acreditação são conduzidos pela Organização Nacional de Acreditação (ONA), que é uma pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos e de interesse coletivo, detentorado Manual de Acreditação das Organizações Prestadoras de Serviços Hospitalares. O Ministério da Saúde, através da Portaria nº 538, de 17 de abril de 2001, reconheceu a ONA como instituição competente autorizada para operacionalizar o desenvolvimento dos processos de Acreditação Hospitalar no Brasil. Como a entidade hospitalar, organizada a partir de um conjunto complexo e interativo de serviços distintos, deve cumprir sua missão buscando a satisfação de todas as pessoas envolvidas, o processo de Acreditação considera a integração das áreas médica, assistencial, administrativa, tecnológica e de gestão econômica, com o objetivo de coordenar todos os esforços em prol de um serviço hospitalar de alto padrão. O Manual Brasileiro de Acreditação (ONA) – Manual de Acreditação das Organizações Prestadoras de Serviços Hospitalares – identifica as seguintes grandes áreas de uma entidade hospitalar, que são passíveis de padronização: 1) Liderança e Administração, envolvendo – direção e liderança; gestão de pessoas; gestão administrativa e financeira; gestão de materiais e suprimento; e, gestão da qualidade. 30 2) Serviços Profissionais e Organização da Assistência, envolvendo – corpo clínico e enfermagem. 3) Serviços de Atenção ao Paciente/Cliente, envolvendo – internação; recepção, transferência e contrarreferência; atendimento ambulatorial; emergência; centro cirúrgico; anestesiologia; obstetrícia; neonatologia; tratamento intensivo; hemoterapia; reabilitação; medicina nuclear; radioterapia. 4) Serviços de Apoio ao Diagnóstico, envolvendo – laboratório clínico; diagnóstico por imagem; métodos gráficos; anatomia patológica. 5) Serviços Assistenciais ao Diagnóstico, envolvendo – sistema de informações ao paciente; prevenção e controle de infecções; assistência farmacêutica; assistência nutricional; centro de processamento de roupas; central de processamento de materiais e esterilização; higiene; segurança e saúde ocupacional; serviço social; materiais e suprimentos. 6) Serviços de Infraestrutura e Apoio Logístico, envolvendo – gestão de projetos físicos; gestão de estrutura físico-funcional; gestão de manutenção predial; gestão de resíduos; gestão de equipamentos médico-hospitalares; gestão de segurança. 7) Ensino e Pesquisa, envolvendo – educação continuada, ensino e pesquisa. Cada um dos sete itens, a partir de seus respectivos desdobramentos, é referenciado em três níveis de detecção, considerando um padrão previamente definido. O Nível 1 referencia a habilitação ou capacitação da pessoa responsável pelo serviço ou setor. O Nível 2 referencia a existência de normas, rotinas e procedimentos documentados e disponíveis. O Nível 3 referencia a existência de sistema de análise da satisfação dos clientes internos e externos (RIBEIRO FILHO, 2005). A perspectiva de desenvolvimento e implantação de um processo de Acreditação Hospitalar, sob o signo do aperfeiçoamento contínuo dos procedimentos, depende do desenvolvimento de um conjunto de indicadores que sejam portadores dos graus de atendimento aos requisitos de eficiência, eficácia e efetividade dos serviços prestados. 31 O modelo de Acreditação Hospitalar brasileiro incorporará maturidade e ganhos de aprendizagem, na medida em que for capaz de prever a utilização de indicadores de gestão, que auxiliem na comparabilidade entre serviços de um mesmo hospital, e, também, a comparabilidade entre hospitais. Nesse contexto, o Sistema de Informações Gerenciais de Base Contábil (SIGBC), que consiste em registrar os relatórios emitidos e os procedimentos para cálculo do resultado econômico das unidades funcionais, ambientado na Controladoria Hospitalar, é capaz de propiciar a materialização de um ambiente de Gestão baseada em Indicadores. Dessa forma, a Controladoria Hospitalar deve funcionar como um importante instrumento para a implantação e acompanhamento de um programa de Acreditação, porque traduz cotidiana e sistematicamente, através de uma medida de fácil leitura e interpretação como o Resultado Econômico, os níveis de aderência dos processos do serviço então acreditado, aos níveis padronizados de eficiência, eficácia e efetividade. Isto quer dizer que a Controladoria hospitalar funciona como uma instância minimizadora dos riscos de que a Acreditação Hospitalar não seja apenas um processo pontual de adequação dos processos internos de atendimento ao paciente/cliente, mas também e, fundamentalmente, uma conquista permanente incorporada ao dia a dia do hospital. A ideia central do Modelo Conceitual de Gestão Econômica (GECOM), que procura refletir, através do Resultado Econômico, a produtividade, a satisfação das pessoas e a continuidade organizacional da entidade, foco da proposta contida na Controladoria Hospitalar, converge para a ideia de Acreditação Hospitalar, de acordo com a visão exposta no Manual das Organizações Prestadoras de Serviços Hospitalares (ONA). O ponto de confluência entre as duas perspectivas se dá na medida em que o objetivo é o estabelecimento de um ambiente de controle gerencial na entidade hospitalar. Um controle gerencial cuja proposta é a definição de indicadores de gestão que possam auxiliar na melhoria contínua dos serviços oferecidos pelo hospital. Pode-se inferir, então, que a controladoria pode ser considerada a guardiã dos padrões e requisitos definidos pela Acreditação. 32 Assim, constata-se que as atividades da auditoria concentram-se nos processos e resultados da prestação de serviços e pressupõem o desenvolvimento de um modelo de atenção adequado em relação às normas de acesso, diagnóstico, tratamento e reabilitação. Consistem em controlar e avaliar o grau de atenção efetivamente prestada pelo sistema, comparando-a a um modelo definido. Ela é, portanto, um conjunto de atividades desenvolvidas tanto para controle – auditoria operacional – quanto para avaliação de aspectos específicos e do sistema – auditoria analítica. Enfim, vocês devem estar se perguntando porque falar tanto em controladoria e acreditação se nosso objetivo é auditoria! O que busca um auditor? Em última instância, ele deseja que a Entidade melhore seu atendimento, busque a excelência e qualidade na prestação de serviços, sem desperdícios de tempo, insumos e tecnologia. O que ele faz para chegar a esse objetivo? Utiliza os mais variados instrumentos e ferramentas para detectar falhas, irregularidades e oportunidades de melhoria na gestão da Entidade, desde que realizadas observando-se princípios, métodos e técnicas apropriados. Conhecer as diversas áreas e funções existentes na Entidade lhe abre o horizonte, ou seja, conhecer para agir, tornam seu caminhar menos pedregoso. Ajustar processos, eliminar desperdícios, racionalizar gastos e buscar a excelência podem ser considerados questões pontuais dentro da gestão hospitalar, principalmente numa época em que os recursos econômicos e financeiros estão escassos e mais, um foco de atuação para a gestão financeira através da Controladoria. 33 UNIDADE 3 – AUDITORIA DE CONTAS HOSPITALARES 3.1 A conta hospitalar Na conta hospitalar levamos em consideração todos os procedimentos médicos realizados ao paciente durante o período de internação hospitalar. De acordo com o sistema de informações da instituição, teremos vários modelos ou ordem de apresentação da conta hospitalar, mas o conteúdo não sofre alterações, afinal serão apresentadas as cobranças de serviços médicos e dos itens que foram utilizados para o tratamento do paciente (MOTTA, 2010). Tipo de atendimento, diagnóstico, procedimento principal e procedimentos secundários, tipo de paciente (dados demográficos desse paciente), as regras comerciais acordadas entre o hospital e a operadora do plano de saúde (tabela de preços, existência de pacotes, regras de faturamento e remessa...),a formação dos preços do hospital são itens da conta e que podem variar no modo de exposição, por isso não haver um padrão. Motta (2010) exemplifica uma conta compactada com os seguintes itens e sua ordem: a) cabeçalho – identificação do local de atendimento – identificação do cliente – identificação do médico assistente – identificação do procedimento realizado; b) diárias; c) taxas; d) discriminação dos materiais e medicamentos; e) honorários médicos; f) SADT (Serviço de Apoio Diagnóstico e Terapêutico). A diária hospitalar é entendida como a taxa que remunera o aluguel de uma acomodação durante um dia, calculado a partir de um valor médio. As variações podem ser de 12 e 24 horas e indivisíveis dentro de um estabelecimento assistencial de saúde. O valor da diária é determinado considerando todos os custos diretos e indiretos gerados pela internação. Dada a diversidade dos fatores que definem o preço de uma diária (nível da hotelaria) não existe uma tabela padronizada de preços de diárias, que é definido no contrato. 34 Para viabilizar a auditoria de forma clara e objetiva, o contrato deve descrever em detalhes o que está incluso no preço de cada diária, particularmente os equipamentos e serviços que não podem ser objeto da cobrança adicional de taxas, bem como deve especificar como se diferencia cada tipo de diária na tabela de preços, e regras de autorização para cada uma delas. Pelo simples ato de acomodar o paciente na acomodação, alguns serviços passam a ser necessários, independentemente da quantidade de horas no dia em questão (por exemplo higienização do leito). Também para viabilizar a auditoria de forma clara e objetiva, o contrato deve explicitar, no mínimo: carência em horas para entrada e saída; qual o valor de diária a praticar quando no mesmo dia o paciente transitar por leitos de tipos diferentes; como é formalizada a autorização para internação, transferência de leito, prorrogação da permanência e alta. Na prática existem vários tipos de diárias que, em resumo, é a combinação de 5 fatores: 1. tipo de acomodação; 2. tipo de visita; 3. tipo de paciente; 4. tipo de assistência; 5. especialidade. 3.2 A auditoria de contas hospitalares A Auditoria de Contas trata-se de um processo minucioso, no qual são verificados os seguintes aspectos: o diagnóstico médico e de outros profissionais, os procedimentos realizados, exames e seus laudos, materiais e medicamentos gastos conforme prescrição médica e outros, horários corretos, taxas hospitalares diversas, relatórios da equipe multidisciplinar, padrões das Comissões de Controle de Infecção Hospitalares (CCIH), entre outros. Segundo Goto (2001), a auditoria de contas hospitalares analisa o pagamento dos serviços realizados, sendo que dentre os seus processos está a análise de não pagamentos que chamamos de produtos glosados. 35 Glosa significa cancelamento ou recusa parcial ou total, de orçamento, conta, verba por serem considerados ilegais ou indevidos, ou seja, refere-se aos itens que o auditor da operadora (plano de saúde) não considera cabível para a conta. As glosas podem ser classificadas em administrativas e técnicas (ROSA; SANTOS, 2013). As glosas administrativas são decorrentes de falhas operacionais no momento da cobrança, falta de interação entre o plano de saúde e o prestador de serviço (instituição hospitalar), ou ainda, falha no momento da análise da conta do prestador. As glosas técnicas estão vinculadas à apresentação dos valores de serviços e medicamentos utilizados e não aos procedimentos médicos adotados (PELLEGRINI, 2004). As glosas ou correções são aplicadas quando qualquer situação gerar dúvidas em relação às regras e práticas adotadas pela instituição de saúde. Quando elas ocorrem, observa-se conflito na relação entre convênio (plano de saúde) e prestador de serviços (PELLEGRINI, 2004). Quando as instituições de cuidado de saúde têm os valores dos serviços prestados glosados pelas operadoras de planos de saúde, elas podem lançar mão de recursos, denominados recursos de glosas, a fim de recuperar suas perdas econômicas (RODRIGUES; PERROCA; JERICÓ, 2004). Na aplicação da glosa é importante observar os seguintes procedimentos: a) A prática de atos ilegais ou ilegítimos ocasiona ressarcimento ao erário, recomendação de correção do procedimento e responsabilização dos autores do ato e da autoridade administrativa competente com envio para o Ministério Público. b) A prática de atos antieconômicos ou indevidos em que não seja constatada a má fé gera recomendação ao gestor de correção do procedimento realizado e/ou ressarcimento ao erário. Para aplicação de glosas, deverão ser observados pelos técnicos do SNA critérios, tais como: Toda glosa deverá ser devidamente acompanhada da sua respectiva documentação comprobatória, cópias autenticadas pelo auditor e no caso do prontuário médico deve ser autenticado pelo diretor da unidade auditada para uma possível contraprova ao fato glosado. Anexar original da planilha de distorções para justificativas e identificação dos responsáveis (BRASIL, 2004, p. 14). 36 Para analisar as contas hospitalares, são necessárias algumas ferramentas que permitam a realização de um trabalho com menor incidência de erros. Dentre as ferramentas que podem ser utilizadas para a análise das contas hospitalares temos a tabela AMB; contratos e tabelas hospitalares; protocolos; custos hospitalares; Revista Simpro; Revista Brasíndice; Resoluções do COREN, COFEN, CREMESP, CFM; tabelas próprias e tabela CBHPM. 37 UNIDADE 4 – AUDITORIA EM ÓRTESES, PRÓTESES E MATERIAIS ESPECIAIS (OPME) Avanços tecnológicos, clientes cada vez mais conscientizados de seus direitos e aumento na expectativa da população são apenas alguns dos fatores que têm contribuído para o aumento na utilização de órteses, próteses e materiais especiais nos mais diversos segmentos da população. Figura 4: Órteses, próteses e materiais especiais. Fonte: http://www.crismenegon.com.br Em contrapartida, o fato de serem aparelhos e materiais de alto custo vêm trazendo inúmeras consequências para os setores de saúde, tanto os que produzem quanto os que utilizam desses materiais. Órteses, próteses e materiais especiais (OPME) também podem ser chamados de “Dispositivos Médicos Implantáveis”, ou seja, são dispositivos que podem ser implantados por meio de procedimento médico ou odontológico invasivo, bem como os materiais utilizados como instrumental específico para sua implantação. As OPME vem assumindo maior importância econômica nas contas hospitalares. As compras desestruturadas e sem a homologação adequada de especialistas para os procedimentos prescritos geram um aumento de custo em sinistros sem o alcance da qualidade necessária para o melhor tratamento do paciente. Além disso, novos produtos chegam com frequência ao mercado demandando um conhecimento ampliado tanto em custos como em eficácia (NUNES, 2010). 38 4.1 Os números de OPME e os conflitos de interesse Vejamos o cenário apresentado por Tafla (2016): Existem hoje no Brasil mais de 3.670 empresas dentre fabricantes, importadores e distribuidores. A indústria brasileira de dispositivos médicos é formada, em geral, por pequenas e médias empresas. Estima-se que cerca de 70% das empresas desse setor possuem produção própria, menos de 10% dedicam-se unicamente à importação de produtos, e 93% das empresas possuem controle de capital nacional. O número de empresas atuantes no setor de implantes aumentou cerca de 44% de 1999 a 2008. A grande maioria das empresas está localizada no Estado de São Paulo (45% no interior e 34% na Capital). Apesar da maior proporção de faturamento ser verificada para os equipamentos, a categoria dos implantes foi a que apresentou a maiortaxa de crescimento no período de 2007 a 2014, com um aumento de 249%, seguido por produtos odontológicos (184%). Em 2014, o mercado de dispositivos médicos no Brasil foi de R$ 19,7 bilhões. No caso do subsetor dos dispositivos implantáveis, estima-se que ele represente o equivalente a 20% do total, ou seja, cerca de R$ 4 bilhões. Nos EUA, a indústria de dispositivos médicos aporta um número em torno de 8.000 novos produtos por ano no mercado. No Brasil, em média são mais de 14.000 novos produtos por ano. No relatório de informações econômicas, cada produto é identificado por meio do seu registro sanitário e do nome comercial concedido pela Anvisa. As informações recebidas são inseridas no Banco de Informações Econômicas de Produtos para Saúde (BIEPS), que em maio de 2015 possuía diversas informações sobre 14.222 dispositivos médicos (entre produtos e “famílias de produtos”), dos quais cerca de 60% são da área de ortopedia. Os números acima são consideráveis e até mesmo um pouco assustadores, tanto que as OPME têm cada vez mais comprometido os custos da assistência à saúde sendo que por vezes estão entre os materiais mais caros, sobretudo quando se confrontam preços de fornecedores nacionais e importados. Já falamos que o avanço tecnológico nessa área tem sido expressivo, especialmente em algumas especialidades como cirurgias de coluna, ortopédicas e endovasculares. A Anvisa, juntamente com a ANS, publicaram em 2011 um banco de dados com preços médios de 300 produtos cardiovasculares, que mostrava as diferenças de preço de OPME regionais, com importantes diferenças nos preços de importação. 39 A OPME autorizada pela operadora de saúde tem o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA – que atesta a qualidade do produto, independentemente do valor de comércio, devendo o prestador de serviços acatar a escolha. Porém, ao contrário, as operadoras enfrentam diversas dificuldades na cobertura contratual da utilização de OPME. Entre os problemas podem ser citados: os altos valores impostos pelos fornecedores; fornecedores que não estão regularizados frente a ANVISA; lidar com os prestadores de serviços que querem escolher as marcas de produtos por motivos não-técnicos; o beneficiário do plano de saúde que acredita que o prestador de serviços está sempre correto e que a operadora está sempre tirando vantagens das situações (PEREIRA, 2011). Tratando-se da cobertura na assistência à saúde suplementar, de acordo com a Resolução Normativa nº 338/2013, que atualizou o rol de procedimentos e eventos em saúde, a cobertura das OPME relaciona-se diretamente ao procedimento a ser realizado, não sendo autorizadas as OPME não ligadas ao procedimento cirúrgico ou com fins estéticos. Cabe ao médico ou cirurgião dentista assistente a prerrogativa de determinar as características (tipo, matéria-prima e dimensões) das OPME necessários à execução dos procedimentos necessários. Além disso, o profissional requisitante deve, quando assim solicitado pela operadora, justificar clinicamente a sua indicação e oferecer pelo menos 03 (três) marcas de produtos de fabricantes diferentes, quando disponíveis, dentre aquelas regularizadas junto à ANVISA, que atendam às características especificadas. Em caso de divergência clínica entre o profissional requisitante e a operadora, a decisão caberá a um profissional escolhido de comum acordo entre as partes, com as despesas arcadas pela operadora; e profissional requisitante pode recusar até três nomes indicados por parte da operadora para composição da junta medica. A grande variação de custos no mercado especializado de OPME fez com que as operadoras de saúde qualificassem e normatizassem a utilização desses insumos, com a adoção de mecanismos de controle de utilização do mais simples insumo até a OPME mais complexa, com ampliação da rede e equipamentos próprios (PEREIRA, 2011). 40 Enfim, a utilização de OPME é um grande ponto de conflito entre beneficiários, operadoras e prestadores, em função da assimetria de informações, da grande concentração de distribuidores e fabricantes, da alta especialização necessária à escolha e ao manuseio dos materiais, e do elevado custo envolvido em cada transação. Entretanto, estão cada vez mais frequentes as demandas judiciais que se tornaram mais um fator de conflitos e de um aumento significativo de custo para as operadoras de saúde (NT. 01/OPME/ANSS, 2015). Na Terminologia Unificada da Saúde Suplementar (TUSS) definida pela ANS, podem ser encontrados mais de 80 mil itens de materiais hospitalares. A Revista Simpro – periódico nacional que publica preços de referência para produtos para a saúde – traz mais de 34 mil itens cadastrados como dispositivos médicos comercializados no mercado brasileiro. Nesse sentido, organizar o fluxo de compras, otimizar a relação custo- benefício nas compra de OPME, ampliar a garantia da qualidade da assistência ao beneficiário e reduzir custos em sinistros da saúde, são desafios que convivem com os gestores de saúde. No Relatório Final do Grupo de Trabalho Interinstitucional sobre órteses, próteses e materiais especiais (GTI-OPME), instituído pela Portaria Interministerial nº 38, de 8 de janeiro de 2015, que teve por finalidade propor medidas para a reestruturação e ampliação da transparência do processo de produção, importação, aquisição, distribuição, utilização, tributação, avaliação e incorporação tecnológica, regulação de preços, e aprimoramento da regulação clínica e de acesso dos dispositivos médicos (Órteses, Próteses e Materiais Especiais – OPME) em território nacional, encontramos as seguintes informações que serão úteis no processo de auditoria da área: as órteses, próteses e materiais especiais (OPME) fazem parte de uma categoria mais ampla, com um universo extremamente diverso de produtos utilizados na realização de procedimentos médicos, odontológicos e fisioterápicos, bem como no diagnóstico, tratamento, reabilitação ou monitoração de pacientes; durante a década de 1990, para o aperfeiçoamento da denominação dos produtos utilizados em procedimentos médicos, o Brasil evoluiu da definição de “correlatos” para as definições de “produtos para saúde” e “produtos médicos”. No último período, a participação nos fóruns internacionais sobre o 41 tema tem indicado a necessidade de atualização das denominações “produtos para saúde” e “produtos médicos” para a de “dispositivos médicos” (do inglês medical device), por ser hodiernamente a denominação mundialmente difundida para tais produtos; considerou-se que para serem utilizados em procedimentos cirúrgicos, esses produtos necessitam sempre ser acompanhados dos chamados “materiais especiais” (que compõem a sigla OPME), ou seja, daqueles produtos que são utilizados para a “implantação” dos dispositivos médicos de interesse do GTI, as órteses e as próteses; para delimitar o conjunto dos produtos os quais mereceram a atenção do grupo para a proposição de medidas de reestruturação do setor foi adotada pelo GTI-OPME a denominação de “dispositivos médicos implantáveis” definidos como “órtese e prótese implantável por meio de procedimento médico ou odontológico invasivo, bem como os materiais utilizados como instrumental específico para sua implantação” (BRASIL, 2015). 4.2 Órteses São aparelhos mecânicos aplicados sobre segmentos do corpo para oferecer apoio ou estabilidade, prevenir ou corrigir deformidade, permitir, complementar ou facilitar sua função (GEAP, 2009; PELLEGRINI, 2012). Um exemplo: o aparelho de marca-passo, que auxilia e complementa a função cardíaca através de impulsos elétricos. 4.3 Próteses São dispositivos mecânicos, utilizados para substituir tecido, órgãos ou segmento do corpo, favorecendo a função à plástica e à estética, sendo, portanto,de importância fundamental para manutenção e autonomia de vida, quando tem atividade nobre e vital (GEAP, 2009; PELLEGRINI, 2012). Por exemplo, a prótese de quadril (substitui uma articulação), a prótese auditiva (substitui a função auditiva). 4.4 Materiais de síntese e especiais Materiais de síntese podem ser definidos, a grosso modo, como materiais especiais que são usados para aproximar estruturas orgânicas (tecidos e ossos), 42 dentre os quais podemos destacar placas, pinos, parafusos, hastes, entre outros. Materiais especiais também podem, sob o olhar das operadoras, gestão e regulação, compreender produtos de alta complexidade e custo que não se enquadram dentro dos critérios anteriores, tais como medicamentos oncológicos, hematológicos e reumatológicos, por exemplo (TAFLA, 2016). 4.5 Auditoria em OPME Visando a facilitação das auditorias e o incentivo ao uso racional de órteses, próteses e materiais especiais no sistema de saúde público e privado, o modelo de documento escolhido pelo GTI-OPME (BRASIL, 2015) para essa finalidade foi a Norma de Autorização, que estabelece critérios, parâmetros e padrões, com base em literatura médica que mostra eficácia e segurança suficientes e compatíveis com uma boa prática médica no uso de uma determinada tecnologia, procedimento ou tratamento, para orientar a autorização, controle e auditoria5. Em relação aos protocolos de uso de órteses e próteses, o GTI propõe a elaboração e divulgação de normas de autorização de dispositivos médicos implantáveis das áreas de ortopedia e cardiologia, considerando-se que a existência de normas e protocolos de uso atualizados relacionados às OPME mais importantes – seja em frequência de uso, desvio de uso ou custo, critérios estes levados em conta na seleção realizada pelo GTI – têm o papel de induzir o uso racional desses produtos e a segurança do doente, além de estabelecer os parâmetros para a auditoria do sistema. Para o SUS, a definição de uma agenda permanente de trabalho para a realização de Auditorias Operacionais e Analíticas destinadas à apuração de irregularidades relacionadas à utilização dos dispositivos médicos implantáveis é de grande aproveito devido ao grande volume de recursos e demandas que possui. Conforme auditoria procedida pelo Departamento Nacional de Auditoria do SUS (DENASUS), em 2013 (Relatório nº 18 – Gerencial), desvios podem acontecer na utilização de órteses e próteses no SUS, especialmente devido a: 5 Com o tempo, surgidas evidências de melhor qualidade científica, a norma de autorização evolui para protocolo de uso ou se inclui em protocolo clínico e diretrizes terapêuticas (PCDT). 43 a) inobservância da utilização dos Formulários de Registro das próteses implantadas; b) cobranças de órteses e próteses não utilizados; c) cobranças de procedimentos cirúrgicos em alta complexidade de traumato-ortopedia e cardiovascular não realizados; e, d) utilização indevida dos procedimentos, como Tratamento Com Cirurgias Múltiplas – código 04.15.01.001-2 – e de Outros Procedimentos Com Cirurgias Sequenciais – código 04.15.02.003- 4 –, contrariando as regras vigentes (BRASIL, 2015). No SUS, tanto os sistemas de informação como a própria Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais passam por regulares atualizações e adequações, em grupos ou subgrupos específicos de procedimentos e seus valores, sendo raramente com revisão de valores para menos do que os tabelados. Assim, a maioria dos procedimentos permanece longo tempo com os seus valores de entrada na Tabela, sem que o ganho de escala ao longo do período seja considerado na composição dos valores. E os valores de entrada eram determinados aleatoriamente, no geral, fornecidos pelos interessados na incorporação (profissionais, hospitais ou empresas), ou então sugeridos pela respectiva área técnica do Ministério da Saúde, com base nos preços de aquisição por hospitais localizados em diferentes estados federativos. Isso, até a adoção da sistemática de negociação de preços de medicamentos adquiridos centralizadamente pelo Ministério da Saúde e a criação da Conitec. Por conta disso, nota-se que, no mercado, os valores da “Tabela do SUS” são costumeiramente tidos como impraticáveis e representam pisos acima dos quais são negociados os preços de compra e venda dos produtos, a despeito de os valores tabelados muitas vezes serem superavitários e os preços de aquisição ficarem menores do que estes valores. Um caso exemplar dessa situação, na área das órteses e próteses, deu-se com as espirais de platina (EM ANEXO). Enfim, mecanismos de controle aplicados pelas operadoras, tais como: realizar auditoria das contas médicas e negativa de cobertura de procedimentos com indicação terapêutica inadequada e de tratamentos de alto custo sem dados científicos de superioridade em relação a tratamentos mais baratos, entre outros, são uma realidade e pertinentes ao atual legislação vigente. 44 Durante o processo de Auditoria de OPME deve-se observar o tipo de procedimento Cirúrgico e suas características: Ortopedia - Cirurgias em Membros Inferiores e Superiores (Principais Indicações); Procedimentos Cirúrgicos de Coluna (Principais Indicações); Procedimentos Cirúrgicos de Neurocirurgia (Principais Indicações); Equipes (Próprias ou Credenciadas); Modelos de Remuneração de honorários Profissionais. A autorização de OPME deverá ser avaliada por profissional qualificado dentro da sua área de atuação, levando-se em conta à relação Custo-Benefício que o mesmo acarretará para o paciente, como por exemplo, a redução de permanência na Unidade Hospitalar, evitando-se uma possível Infecção Hospitalar (NUNES, 2010). 45 REFERÊNCIAS BÁSICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Introdução à Gestão de Custos em Saúde / Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. MOTTA, Ana Letícia Carnevalli. Auditoria de enfermagem nos hospitais e Operadoras de Planos de Saúde. São Paulo: Iátria, 2010. COMPLEMENTARES AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Nota n° 1/2015/GERAR/DIDES. Encaminhamentos do Projeto da Agenda Regulatória: Elaborar proposta de mapeamento da cadeia produtiva para as Órteses, Próteses e Materiais Especiais - OPMEs mais frequentes e estudar alternativas regulatórias. 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No segundo semestre de 2010, por decisão do então Secretário de Atenção à Saúde e a partir de proposta da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), discutiu-se na Câmara Técnica de Neurocirurgia/Neurologia sobre a proposta de redução, na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS, de R$ 2.230,00 para R$ 1.100,00, do valor unitário das espirais de platina (código de procedimento 07.02.01.013- 8), com a transferência da diferença total obtida para o componente SP (serviços profissionais) de procedimentos neurocirúrgicos, entre os quais os de embolização de aneurisma cerebral, nos quais se usam esses produtos. Publicada a Portaria SAS/MS nº 694, em 16/12/2010, com esse segundo valor, deu-se um conflito, pois os fornecedores não aceitaram a redução do valor das espirais de platina e informaram a intenção de não mais fornecerem o produto para os hospitais que atendem pelo SUS. A SBN, por sua vez, frente a esta posição, sugeriu a suspensão da Portaria para possibilitar uma nova discussão sobre o valor, sugerindo ao Ministério da Saúde o retorno ao valor das Espirais de Platina aos R$ 2.230,00 anteriores, até que houvesse essas discussão e readequação. Com isso, foram solicitadas ao Departamento de Economia da Saúde e Desenvolvimento – DESD/SE/MS – e ao Departamento do Complexo Industrial e Inovação em Saúde – DECIIS/SCTIE/MS – análises de preço desse produto, as quais demonstraram que o valor anterior de ressarcimento pelas espirais (R$ 2.230,00) estava acima do preço médio do mercado internacional, porém o novo valor (R$ 1.100,00) ficou aquém dele. Com os resultados obtidos, o valor do espiral de platina passou a ser um dos propostos por esses departamentos: R$ 1.350,00 (Portaria SAS/MS nº 189, 27/04/2011). No entanto, alguns fornecedores, sem demonstrar convincentemente os seus custos, em mais de uma reunião promovida pelo Ministério da Saúde, alegavam que o novo valor ainda era insuficiente. Por este motivo, foi encomendado um novo estudo a uma empresa de consultoria independente (Fundação Instituto de Administração – FIA, ligada à Universidade de São Paulo), de modo a dirimir as dúvidas quantos aos valores que vinham permeando a discussão (R$ 2.230,00, R$ 1.100,00, R$ 1.400,00, R$ 1.750,00 e R$ 1.980,00) e demonstrando o quanto o valor 50 do produto precisava ser adequadamente avaliado. Enquanto a nova avaliação se dava, o fornecedor nacional de espirais de platina, assumiu a venda do produto pelo valor tabelado, ou seja, R$1.350,00. A FIA apresentou os resultados do estudo, sendoos pontos mais relevantes apontados e derivados da apresentação, em 2013: cerca de 120 modelos de espirais de platina registrados na Anvisa; poucos fabricantes (seis), sendo somente um sediado no Brasil; os fabricantes estrangeiros têm ampla linha de produtos e estratégias comerciais diversificadas; a distribuição ocorreu através de 133 empresas; a relação entre fornecedor e hospitais é intensa e alguns processos de trabalho do hospital são realizados pelo fornecedor; compradores sem capital para manutenção de estoque; consignação é prática generalizada em virtude do alto custo do material; compra (faturamento) se efetiva somente depois de emitida a AIH/SIH-SUS; prazo de pagamento após o faturamento 30 a 90 dias; ambiente propício para relações informais e práticas oportunistas; no SUS, uso predominantes nos hospitais não públicos (79%) e concentrado; a estimativa de preços para as espirais de platina, variáveis de R$ 929,26 (cenário de compra centralizada) a R$ 1.281,15 (a partir da informação dos distribuidores); a retomada da utilização das espirais de platina no SUS, com tendência de retorno aos números registrados de 2010; a queda dos preços de importação das espirais de platina, em dólar (de US$ 335.02 para US$ 267.64, em preços médios); o desenvolvimento de um modelo de acompanhamento de preços em duas moedas (R$ e US$); a aplicabilidade do modelo a outros materiais de padrão similar; a possibilidade de desenvolvimento de modelo específico para órteses e próteses; e, a manutenção do acompanhamento e do valor atual das espirais de platina na Tabela de Procedimentos, Medicamentos, Órteses, Próteses e Materiais Especiais do SUS (R$1.350,00). 51 Ressalta-se que a Portaria SAS/MS nº 694, em 16/12/2010, também reduzira, de R$ 500,00 para R$ 300,00, o valor do procedimento 07.02.05.042-3 Partículas de PVA (frasco), utilizadas na embolização de aneurisma cerebral, juntamente com as espirais de platina, valor este mantido pela Portaria SAS/MS nº 189, 27/04/2011, sem reclamações por parte de importadores, distribuidores, fornecedores ou prestadores (BRASIL, 2015).