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ASSISTÊNCIA EM UTI À CRIANÇA E AO ADOLESC ENTE AULA 4 Prof . a Vanessa Bertoglio Comassetto Antunes de Oliveira 2 CONVERSA INICIAL A aula 4 abordará as doenças prevalentes, mencionando aspectos clínicos e principais procedimentos de enfermagem para o tratamento e a manutenção da condição clínica da criança. Serão revisados aspectos referentes às principais disfunções respiratórias da criança em uma UTI neonatal e pediátrica, citando a pneumonia, a asma e as condições de insuficiência respiratória. Igualmente, serão vistos aspectos referentes à maior letalidade nas disfunções cardiovasculares, como as cardiopatias congênitas, a insuficiência cardíaca congestiva e o choque. As convulsões e as meningites aparecem como principais causas de distúrbios neurológicos que acometem as crianças internadas nas UTIs. O câncer infantil será mencionado como uma patologia cada vez mais comum e presente nas terapias intensivas infantis, destacando- se aspectos de tratamento e manutenção da doença. Por fim, a aula trará a abordagem da dor na criança, considerada ultimamente como uma constatação do quinto sinal vital. Clique aqui e assista o vídeo 1 CONTEXTUALIZANDO A mortalidade infantil em nível mundial sofreu uma redução acentuada nas últimas décadas. O Brasil também acompanhou essa diminuição e diversos fatores contribuíram para essa mudança no perfil de mortalidade infantil, entre os quais podem-se citar a melhoria do saneamento básico, a queda da taxa de fecundidade, a melhora geral das condições de vida, o aumento da escolaridade, o maior acesso aos serviços de saúde, entre outros. Não se observa, com a mesma frequência de três ou quatro décadas atrás, a quantidade de óbitos infantis por consequência de diarreia, por exemplo; entretanto, ainda é desafio a contingência de doenças que ainda são consideradas prevalentes na infância, como as infecções do trato respiratório (IRA), as doenças cardíacas (menos prevalentes, porém muito letais), as doenças neurológicas (geralmente provocadas por trauma), as convulsões, as meningites e o câncer. Logo, serão explorados os seguintes temas elementares: https://drive.google.com/open?id=0B0b6yxz-45pMUTZvb0NnM3BwMVk 3 1. A criança grave com disfunções respiratórias 2. A criança grave com disfunções cardiovasculares 3. A criança grave com disfunções neurológicas 4. A criança portadora de leucemia 5. Abordagem e manejo da dor em crianças Clique aqui e assista o vídeo 2 TEMA 1 – A CRIANÇA GRAVE COM DISFUNÇÕES RESPIRATÓRIAS A disfunção respiratória deve ser entendida como a situação em que a respiração e a ventilação pulmonar ocorrem de maneira anormal. Ela está presente nas infecções respiratórias agudas (IRAs), que afetam frequentemente crianças menores de cinco anos. A criança, especialmente nos primeiros dois anos de vida, é a mais susceptível aos agravos infecciosos, devido a sua imaturidade anatômica e neurológica(1). As infecções respiratórias de origem viral causam, frequentemente, hospitalização durante os primeiros dois anos, com predominância do vírus sincicial respiratório em 53% dos casos. Relatórios apontam ainda a magnitude da mortalidade por IRA nas Américas, mostrando que os quadros pneumônicos pelo vírus influenza são a causa de até 33% das mortes totais de crianças com menos de 1 ano de idade, e de até 27% de crianças entre 1 e 4 anos. No Brasil, a pneumonia por influenza pode ser a causa de até 13% das mortes de crianças com menos de 1 ano, e de até 17% de crianças de 1 a 4 anos. A Previdência Social do Rio de Janeiro registrou uma incidência de 47,5% de IRA, com prevalência de 92,7% das infecções de vias aéreas superiores em crianças entre 1 e 5 anos(2). De forma geral: as insuficiências respiratórias se dão por dois fatores: quando há o aumento do trabalho respiratório mas a troca gasosa está próxima do normal ou quando as tensões gasosas sanguíneas não podem ser mantidas dentro da normalidade, ocorrendo hipoxemia e acidose secundária a retenção de dióxido de carbono(1). As manifestações clínicas da IR são: inquietação, taquipneia, taquicardia, diaforese, cefaleia, alteração do padrão e da profundidade da respiração, https://drive.google.com/open?id=0B0b6yxz-45pMaERRMHZfRklEaFE 4 hipertensão, dispneia, anorexia, aumento do débito cardíaco e urinário, batimento das asas nasais, retração da parede torácica, gemido expiatório, sibilo e respiração prolongada(1). Nos casos de hipoxia mais grave, os sinais são: hipotensão ou hipertensão, alteração visual, sonolência, estupor, coma, dispneia, depressão respiratória, bradicardia, cianose periférica ou central. Em relação aos dados epidemiológicos, informações referem que a pneumonia e a asma são doenças prevalentes em terapias intensivas infantis(2). Por isso, serão as referidas nesta aula. Conceitualmente, a pneumonia é um processo inflamatório, geralmente infeccioso, que envolve o parênquima pulmonar e que pode ser associado a bactérias, vírus ou por aspiração. A infecção normalmente ocorre a partir das vias aéreas superiores e a via hematogênica é mais rara. É uma patologia que se manifesta por febre, prostração, taquipneia e esforço respiratório associada à presença de consolidação compatível no raio X de tórax(3). Os sinais gerais causados em pneumonias são: tosse (não produtiva a produtiva com secreção esbranquiçada), taquipneia, sons respiratórios de crepitações e diminuição dos sons respiratórios estertores, hipotimpânico à percussão, dor torácica, retrações, batimentos de aletas nasais, dependendo da gravidade, palidez e cianose. A criança tende a ter um comportamento de irritabilidade, inquietação, mal-estar e letargia. Além do mais, podem se manifestar sinais gastrointestinais, como anorexia, vômito, diarreia e dor abdominal(3). Os cuidados de enfermagem para a criança com pneumonia são primariamente de suporte e sintomáticos, mas necessitam de avaliação respiratória minuciosa e administração de oxigênio suplementar (quando necessário), líquidos e antibióticos”(1). “A frequência respiratória da criança, o ritmo e a profundidade, a oxigenação, a disposição geral e o nível de atividade devem ser avaliados com frequência. Para prevenir a desidratação, líquidos intravenosos são administrados na fase aguda”(2). Em algumas condições, é procedimento médico a implantação de drenos de tórax. Nesse caso, os cuidados de enfermagem requerem atenção contínua do padrão respiratório, conforme descrito no parágrafo anterior, e o dispositivo 5 de drenagem bem como o dreno devem ser monitorados quanto ao funcionamento adequado (permeabilidade, localização correta do vácuo, dreno livre de dobras, curativo intacto e manutenção do selo d’água)(1). A manutenção do leito e a deambulação são encorajadas de acordo com as condições respiratórias da criança, porém a criança necessita de analgesia para controle da dor(2). O oxigênio suplementar pode ser administrado por cateter nasal, máscara facial ou tenda. As crianças devem definir qual a posição mais confortável para isso. Deve-se lembrar que deitar sobre o lado afetado (caso a pneumonia seja unilateral) comprime o tórax daquele lado, gerando desconforto. Em algumas situações, o enfermeiro deve prescrever a aspiração para manter as vias aéreas desobstruídas. “A percussão torácica, a drenagem postural e a nebulização são tratamentos que podem ser prescritos dependendo das condições clínicas da criança”(3). Outra patologia que frequentemente acomete crianças a ponto de mantê- las em UTI é a “asma, um distúrbio respiratório inflamatório crônico das vias aéreas caracterizado pela recorrência dos sintomas, obstrução das vias aéreas e hiper-responsividade brônquica”.(1) Nas crianças susceptíveis, a inflamação causa episódiosrecorrentes de sibilos, falta de ar, rigidez torácica e tosse. A prevalência de morbidade e mortalidade da asma tem aumentado devido à piora da poluição do ar, ao difícil acesso à saúde e aos subtratamentos. É considerada a terceira causa de internações de crianças menores de 15 anos de idade(2). No que se refere à sua fisiopatologia, a asma resulta de interações complexas entre células inflamatórias, mediadores e células e tecidos presentes nas vias respiratórias. Outros importantes componentes da doença são o broncoespasmo e a obstrução, causada por resposta inflamatória, edema das vias aéreas e acúmulo de muco e secreção(3). As manifestações clínicas da asma são: tosse seca, irritativa, não produtiva ou produtiva com secreção espumosa, clara e gelatinosa e ruidosa. A respiração é curta, fase expiratória prolongada, chiados audíveis, lábios de coloração vermelha escura, podendo evoluir para cianose, inquietação, 6 apreensão, sudorese intensa à medida que a doença evolui, fala curta e ofegante. Em decorrência de episódios repetidos, a criança pode apresentar tórax em barril, ombros elevados e utilização da musculatura acessória para a respiração(2). As principais intervenções de enfermagem nos casos de internamento por asma são: administrar oxigênio para manutenção da saturação de modo confortável para a criança, administrar medicamentos com cautela para os efeitos adversos (cardíacos), oferecer líquidos com frequência, nem que seja em pequenas quantidades, monitorar sinais vitais, atentando-se para os dados respiratórios, cardíacos e de dor(2). Em qualquer caso de internamento por distúrbios respiratórios, o enfermeiro precisa considerar a necessidade de repouso no leito para evitar gasto energético e esforço respiratório, isso pode causar estranhamento e inquietamento da criança. Uma boa alternativa é o uso da brinquedoterapia no leito, com suporte da família. Clique aqui e assista o vídeo 3 TEMA 2 – A CRIANÇA GRAVE COM DISFUNÇÕES CARDIOVASCULARES A insuficiência cardíaca (IC) é a incapacidade do coração de bombear uma quantidade adequada de sangue para a circulação sistêmica, em pressões de enchimento normais, para atender a demanda metabólica do metabolismo(4). A IC em crianças ocorre basicamente por defeitos cardíacos congênitos, cardiomiopatias congênitas ou adquiridas e disfunção miocárdica após a correção de erros inatos do metabolismo. A incidência anual de insuficiência cardíaca em decorrência de defeitos congênitos é de aproximadamente 0,1% a 0,2% dos nascidos vivos(4). A incidência das cardiopatias congênitas (CCs) está em torno de 6 a 8 casos em cada 1.000 nascimentos, com uma taxa de mortalidade em torno de 20% a 30%. As principais causas são alterações genéticas ou decorrem de fatores ambientais, entretanto, a maioria é proveniente de casos desconhecidos. As cardiopatias congênitas mais comuns são: https://drive.google.com/open?id=0B0b6yxz-45pMa0RhVzB5RUUwWm8 7 Comunicação interatrial (CIA): representa de 6% a 10% das CCs. Tratase de um defeito no septo atrial comunicando os dois átrios, que leva ao desvio de sangue da esquerda para a direita, ocasionando sobrecarga às câmaras cardíacas direitas e maior fluxo à circulação pulmonar(5). Comunicação interventricular (CIV): representa 25% das CCs. Corresponde à comunicação entre os ventrículos devido à presença de defeito no septo ventricular, com passagem de sangue da esquerda para a direita(5). Persistência do canal arterial (PCA): representa de 10% a 12% das CCs. É a comunicação entre a aorta e a artéria pulmonar decorrente do não fechamento do ducto arterial, com passagem de sangue da aorta para a artéria pulmonar, levando à sobrecarga de câmaras direitas e ao hiperfluxo pulmonar(5). Estenose pulmonar (EP): representa de 8% a 10% das CCs. É a obstrução da passagem de fluxo sanguíneo bombeado pelo ventrículo direito por estreitamento na valva pulmonar. Há aumento da pressão no ventrículo direito, que se hipertrofia(5). Estenose aórtica (EA): representa de 3% a 6% das CCs. Refere-se à obstrução da passagem do fluxo de sangue que sai do ventrículo esquerdo por malformações na valva aórtica(5). Coarctação da aorta (CoAo): é o estreitamento da aorta descendente, logo após o arco aórtico, podendo ser classificada como pré-ductal, justaductal e pós-ductal, dependendo da sua localização em relação ao ducto ou canal arterial(5). As CCs têm manifestações clínicas muito semelhantes, são elas: aumento da frequência cardíaca, fadiga e cansaço, dispneia, cianose, policitemia (aumento dos glóbulos vermelhos) e crise de hipoxia. 8 A enfermagem tem intervenções específicas para as crianças com cardiopatias congênitas, como: fletir os membros inferiores (MMII) sobre o abdome se a criança apresentar cianose e desconforto respiratório progressivo, queda do nível de consciência e má perfusão de extremidades; tranquilizar a criança e seus familiares, identificando pontos de angústia e desconforto; diluir morfina, dolantina e/ou hidrato de cloral (conforme prescrição médica) caso a crise de hipoxia não melhore; verificar com regularidade a frequência respiratória, a frequência cardíaca e a expansibilidade torácica a cada 15 minutos até que se estabilizem, espaçando o intervalo de verificação; observar a presença de batimentos das asas nasais, retração intercostal, piora da cianose e da dispneia, taquipneia e taquicardia; administrar oxigênio úmido e aquecido; elevar decúbito entre 30º a 45º se dispneia ou ortopneia; manter a criança aquecida; orientar a criança e seus familiares a registrar a quantidade de líquidos ingeridos e a diurese e realizar o balanço hídrico(1). Outra causa bastante comum em terapia intensiva infantil é o choque. O choque, ou também chamado de insuficiência circulatória, é uma síndrome clínica complexa caracterizada pela perfusão tecidual inadequada para suprir as demandas metabólicas do organismo, resultando na disfunção celular e na futura insuficiência orgânica. A insuficiência circulatória em crianças é resultado de hipovolemia, resistência vascular periférica alterada ou insuficiência da bomba(1). Os tipos de choque são: Hipovolêmico: com características de redução no tamanho do compartimento vascular, queda na pressão arterial, enchimento capilar deficitário, pressão venosa central baixa. Suas causas mais frequentes são decorrentes de perda de sangue por traumas e hemorragias, de perda de plasma associada a sepse e acidose, hipoproteinemia, queimaduras e peritonite ou de perda do líquido extracelular, causada por vômito, diarreia, diurese glicosúrica e insolação. 9 Distributivo: com propriedades de redução da resistência vascular periférica, inadequação profunda na perfusão tecidual, aumento da capacidade e no acúmulo venoso, débito cardíaco reduzido e redução aguda no fluxo sanguíneo de retorno para o coração. Suas causas mais frequentes são o choque anafilático, por extrema alergia ou hipersensibilidade a uma substância estranha, sepse extrema e toxinas bacterianas circulantes, perda do controle neuronal por interrupção nas comunicações neuronais (choque neurogênico) e depressão miocárdica e dilatação periférica, por exposição à anestesia ou ingestão de barbitúricos, opioides e agentes anti-hipertensivos. Cardiogênico: definido pelo débito cardíaco diminuído. As causas mais frequentes são miocardites, trauma miocárdico, consequências negativas da cirurgia cardíaca, insuficiência cardíaca e arritmias. As principais manifestações clínicas do choque, quando compensado, são irritabilidade, apreensão, taquicardia inexplicável, pressão arterial normal, sede, palidez, débito urinário reduzido, perfusão de extremidades reduzida. Quando o choque estiver descompensado, causa confusão e sonolência, taquipneia, acidosemetabólica moderada, oligúria, extremidades pálidas e frias, redução do turgor da pele. Nos casos de choque irreversível, a criança apresenta pulso fraco e filiforme, hipotensão, apneia, anúria e estupor ou coma. A criança em choque requer observação e cuidados intensivos. A ação inicial é garantir a oxigenação tecidual adequada, e é necessário estabelecer a via ideal para isso. Outros procedimentos imediatos são: “estabelecer uma via de acesso venoso, pesar a criança, obter os sinais vitais, inserir um cateter vesical de demora, obter o valor de gasometria arterial”(1). A melhor posição para a criança é deitada com as pernas elevadas. Os cuidados mediatos e correntes são: monitorar a infusão intravenosa, controlar as ingestões e as eliminações, os sinais vitais e as avaliações gerais do exame físico completo(4). 1 0 Mesmo sabendo que os cuidados cardíacos demandam atividades intensas da enfermagem, não se pode negligenciar o apoio aos familiares da criança. Alguém deve entrar em contato com eles em intervalos regulares e frequentes para informar o que está sendo feito e qual o progresso clínico da criança(1). Clique aqui e assista o vídeo 4 TEMA 3 – A CRIANÇA GRAVE COM DISFUNÇÕES NEUROLÓGICAS A meningite é a infecção comum do sistema nervoso central, caracterizada por inflamação aguda das meninges, manifestando-se por cefaleia, vômitos, febre alta, rigidez de nuca e, em alguns casos, rebaixamento do nível de consciência(6). A meningite pode ser causada por uma variedade de organismos, mas os três principais tipos são: meningite bacteriana, ou piogênica, causada pela formação de bactérias formadoras de pus, principalmente agentes meningocócicos, pneumocócicos e Haemophilus; viral, ou asséptica, causada por uma infinidade de agentes virais; e tuberculosa, causada pelo bacilo da tuberculose. A maioria das crianças com infecções intracranianas febris agudas tem ou a meningite bacteriana ou a meningite viral como a causa subjacente. A meningite bacteriana é considerada muito mais grave, pois a viral geralmente é de duração mais curta, autolimitada e seguida de cura total. Já as bacterianas podem ser seguidas de complicações, como choque, coma, convulsões, déficits intelectuais, perda de audição, perda de visão e morte(6). As manifestações clínicas da doença incluem convulsões, irritabilidade, fontanela abaulada, fotofobia, sonolência, torpor com possível evolução para o coma, exantema petequial ou purpúrico e sinais de Kernig e Brudzinski positivos. Para a avaliação do sinal de Kernig, a criança deve permanecer em decúbito dorsal e um dos membros inferiores deve ser flexionado na altura do joelho e do quadril, esticando depois o joelho. Na ocorrência de resistência ou de dor durante a manobra, o sinal é positivo. Já para a avaliação de Brudzinski, deve-se manter o paciente em decúbito dorsal e o enfermeiro deve colocar a mão por trás da https://drive.google.com/open?id=0B0b6yxz-45pMYy1KZ1RDcWxYQnM 1 1 cabeça do paciente, fazendo uma flexão para frente até o queixo tocar o tórax. Caso haja dor ou resistência, a manobra tem sinal positivo(7). Os cuidados de enfermagem devem ser especificamente: Precauções de isolamento respiratório até 24 horas após o início do tratamento por antibióticos, sendo necessários um quarto privativo, uso de máscara cirúrgica, lavagem das mãos com maior frequência e restrição de visitas. Manutenção de hidratação com controle de ingestão e perdas hídricas, observar sinais de desidratação, estimular ingestão hídrica para criança consciente com dieta liberada. Controle do débito urinário, com dispositivos como sonda vesical de demora, evitando que o paciente consciente levante da cama sozinho. Manutenção de repouso, principalmente após a punção lombar, em decúbito dorsal horizontal, evitando o uso de travesseiro e não levantando o paciente do leito. Avaliação do VIII par do nervo craniano, devido à possibilidade de perdas auditivas. Redução de ruídos ambientais, mantendo o quarto na penumbra por conta da fotofobia. Observação frequente do nível de consciência. Verificação do perímetro cefálico em lactentes uma vez ao dia com fita métrica que deve acompanhar as proeminências dos lobos occipital e frontal(7). Finalizando, o enfermeiro deve lembrar que a meningite é uma doença de notificação imediata à vigilância epidemiológica, já que a profilaxia deve ser iniciada para erradicação do agente etiológico. No caso de meningite 1 2 meningocócica, é recomendável o uso de rifampicina por dois dias em todos que tiveram contato íntimo e direto com a criança contaminada. Outra condição que geralmente é a causa de internamento das crianças por disfunções neurológicas são as crises convulsivas, que são caracterizadas por breves problemas do sistema elétrico-encefálico resultantes de descarga neural cortical. Cerca de 4% das crianças apresentam pelo menos uma convulsão ao redor dos 15 anos de vida(8). A convulsão é uma característica indispensável da epilepsia, contudo nem toda convulsão é epiléptica, pois a epilepsia é um distúrbio convulsivo crônico, em que as convulsões são recorrentes e não provocadas. Em crianças com idade inferior a 3 anos, são comuns os casos de convulsão por causa febril, em que a febre geralmente excede 38 ºC, sua natureza normalmente tem boa evolução e não progride para epilepsia ou lesão cerebral(7). As causas da convulsão são as mais diversas, como tumores, infecções, neoplasias, traumatismos, hipóxia, toxinas exógenas e endógenas, distúrbios bioquímicos, como hipoglicemia, hipocalemia, hemorragias intracranianas, meningites, erros inatos do metabolismo, acidentes vasculares cerebrais, além das causas idiopáticas(8). O enfermeiro tem o dever de realizar o histórico de enfermagem bem detalhado, pois essas informações auxiliarão para a classificação das convulsões, como parciais ou generalizadas. As primeiras limitam-se a uma descarga elétrica anormal em uma região circunscrita do córtex cerebral. Caracterizam-se por contrações em um membro do corpo. Já as convulsões generalizadas costumam se originar na formação reticular, atingindo ambos os hemisférios cerebrais e havendo, com frequência, a perda de consciência. Caracterizam-se por movimentos de pernas e braços, extensão rígida, movimentos dos olhos e, frequentemente, liberação dos esfíncteres(6). Na anamnese, o enfermeiro deve investigar a descrição da convulsão, a duração da crise, os fatores comportamentais que antecederam a crise, a alteração da consciência, a progressão da crise, a micção ou defecação 1 3 espontânea, as sensações e o comportamento após a crise, como confusão, incapacidade de falar, amnésia, cefaleia e sono(6). Os principais cuidados específicos de enfermagem para crianças com crises convulsivas são: proteger a criança durante a crise (colocar travesseiro sob a cabeça da criança, remover óculos ou qualquer objeto que possa machucá-la); não conter ou movimentar a criança durante a crise; reduzir estimulação sensorial (diminuir a intensidade da luz e o barulho do ambiente); manter a criança em decúbito lateral após a crise, pois facilita a drenagem e ajuda a manter a via aérea pérvia. O enfermeiro deve sempre se aproximar da família para compreensão das causas da crise, além de aliviar a ansiedade e a preocupação causadas pela internação da criança à sua família. Clique aqui e assista o vídeo 5 TEMA 4 – A CRIANÇA PORTADORA DE LEUCEMIA No Brasil, ainda não é possível estimar a incidência de câncer na infância, pois os dados brasileiros não são representativos estatisticamente para a população total. O que se sabe é que as neoplasias malignas são raras na infância, embora representem a principal causa de mortalidade infantil por doença, ficando atrás somentede mortes violentas, como acidentes e homicídios(9). As condições ambientais, como a radiação, químicas, como os pesticidas, e os fatores genéticos, como a síndrome de Down, são considerados os principais elementos que levam às doenças neoplásicas acontecerem no período embrionário ou na infância(9). https://drive.google.com/open?id=0B0b6yxz-45pMc2N5STlRUi1oVWs 1 4 O câncer infantil se difere do adulto pelas características histológicas, pelo comportamento biológico, pela evolução clínica e pela resposta terapêutica. Na infância, as neoplasias malignas correspondem principalmente às doenças sistêmicas, como a leucemia e os linfomas, seguidas de tumores sólidos, como blastomas e sarcomas(10). A leucemia, câncer dos tecidos formadores de sangue, é a forma mais frequente de câncer infantil. A nível mundial, a doença atinge 3 a 4 crianças a cada 100 mil. É mais comum em meninos brancos, com picos de início entre 2 e 5 anos de idade. A doença pode ser caracterizada por uma proliferação anormal dos precursores das células brancas do sangue que se originam na medula óssea, estendendo-se para o sangue periférico, os órgãos reticuloendoteliais, linfonodos, baço e fígado, podendo também se infiltrar no sistema nervoso central (SNC)(11). De acordo com a linhagem celular predominante, as leucemias podem se classificar em linfoides e mieloides e, conforme a morfologia, em agudas e crônicas. As leucemias agudas são caracterizadas pela proliferação anormal de células precursoras linfoides ou mieloides imaturas, que levam ao acúmulo de células jovens denominadas blastos. Essas representam cerca de 95% dos casos. Já as leucemias crônicas são raras na infância, e apresentam proliferação de células maduras acompanhadas ou não por células em outros estágios de maturação(10). A seguir serão destacados os tipos de leucemia na infância e suas características(10): Leucemia linfoide aguda (LLA) É o tipo mais comum, representando cerca de 80% dos casos. Corresponde à transformação maligna de um precursor da linhagem linfoide, que adquire a capacidade de autoproliferação, causando a interrupção do processo de maturação das células sanguíneas normais (granulócitos, trombócitos e eritrócitos) na medula óssea. Os sinais e sintomas apresentados pelas crianças portadoras de LLA são a anemia, podendo apresentar palidez, fadiga e mal-estar, febre, infecções recorrentes, principalmente ligadas ao trato respiratório, petéquias, equimoses, 1 5 hematomas e sangramento nasal ou gengival. Se houver infiltração linfoblástica, podem ocorrer dores ósseas ou articulares; se for infiltração no SNC, ocasionará cefaleia intensa acompanhada de vômitos e rigidez da nuca, além de paralisia de nervos cranianos. O tratamento é feito por quimioterapia em 4 fases: indução da remissão, terapia preventiva do SNC, consolidação, intensificação e manutenção, visando a cura. Atualmente, cerca de 70% das crianças tratadas adequadamente possuem chance de cura. Leucemia mieloide aguda (LMA) Representa aproximadamente 15% a 20% das leucemias na infância, sendo sua incidência desde o nascimento até os 10 anos, com pequeno pico na adolescência. Os sinais e sintomas abrangem diferentes graus de anemia, hepato/esplenomegalia, adenomegalia e manifestações hemorrágicas. O tratamento é feito com poliquimioterapia, com drogas diferentes das de LLA, sendo mais intensivo e tóxico. Cerca de 70% a 85% dos pacientes atingirão a remissão, no entanto, metade desses pacientes apresentará recidiva se tratados exclusivamente com quimioterapia. Grande parte dos casos de LMA exige a necessidade de transplante de medula óssea. “A sobrevida livre de doença em crianças com LMA submetidas ao transplante é próxima de 65%, porém apenas 20% a 30% dos pacientes possuem doadores compatíveis”(1). Leucemia mieloide crônica (LMC) Corresponde a apenas 5% das leucemias infantis. É caracterizada por uma hiperplasia mieloide da medula óssea, com hematopoiese extramedular e expansão do pool leucocitário corpóreo. Geralmente ocorre em crianças após os 4 anos de idade. Os sinais e sintomas incluem esplenomegalia acentuada, elevação da contagem de leucócitos e plaquetopenia(1). O transplante é a única forma de 1 6 tratamento curativo da doença, sendo o tratamento com quimioterapia apenas sintomático, levando a um controle transitório da doença. Os cuidados de enfermagem para qualquer tipo de leucemia estão diretamente relacionados com o protocolo e o tratamento da criança. De forma geral, é necessário preparar a criança e sua família para o diagnóstico e para os procedimentos terapêuticos, aliviar a dor, que costuma ser aguda na maioria dos casos, prevenir as complicações da mielossupressão (a criança está mais susceptível à infecção avassaladora durante as três fases da doença: no momento do diagnóstico e recaída quando o processo leucêmico substitui os leucócitos normais, durante a terapia imunossupressora e após a antibioticoterapia prolongada). Para evitar infecções, o enfermeiro precisa avaliar os possíveis focos de infecção na criança, compreender que a nutrição é um possível componente na prevenção de infecções e evitar hemorragias, evitar perfurações cutâneas, pois são possíveis entradas de infecções.(11) É relevante também atentar-se para casos de anemias, manter precauções de uso na administração e no manuseio de agentes quimioterápicos, lembrando que esses medicamentos devem ser administrados em vias de bom fluxo. A infusão do remédio deve ser imediatamente interrompida se o paciente relatar qualquer sinal de dor, sensação de picada, edema ou hiperemia no local da punção. A criança deve ser avaliada e observada por 20 minutos após a infusão do medicamento, atentando-se para sinais de anafilaxia, como cianose, hipotensão, dispneia e urticária intensa(11). Além disso, é responsabilidade do enfermeiro informar a criança e sua família acerca dos problemas no uso do quimioterápico. Os efeitos colaterais devem ser mencionados com antecedência à administração, informando principalmente sobre a possibilidade de ocorrência de náuseas e vômitos, inapetência, ulceração na mucosa, cistite hemorrágica, alopecia, face em lua cheia e mudanças de humor(11). Por se tratar de uma condição patológica em que o sistema emocional da criança e de toda sua família fica extremamente abalado, é fundamental que o enfermeiro encoraje os pacientes e os familiares através do apoio emocional(11). 1 7 Clique aqui e assista o vídeo 6 TEMA 5 – ABORDAGEM E MANEJO DA DOR EM CRIANÇAS “A dor é uma experiência sensorial e emocional desagradável, associada a lesões reais ou potenciais e descritas em termos de tais lesões. A dor é sempre subjetiva”(12). No que se refere ao contexto das crianças, a dor é uma sensação sempre muito temida, no entanto, há forte consenso popular de que elas não a sentem. Isso faz com que muitos enfermeiros e outros profissionais da saúde apresentem dificuldades em considerar sua existência, confundido-a com “manhas” e “chorações”. Esse fato permite que as dores nas crianças não sejam mensuradas e sejam subtratadas(12). Uma característica fisiológica particular da criança menor e que reflete diretamente na sensação dolorosa dela é o fato de que “as vias de recepção da dor são bem desenvolvidas, entretanto, as vias inibitórias da sensação da dor ainda estão em desenvolvimento, fazendo com que elas sintam dor por mais tempo”(13). Estudos relatam que a criança internada em terapia intensiva recebe em média de 50 a 150 procedimentos dolorosos por dia(14). Por isso, é fundamental o cuidado acerca da dor no processo de internamento hospitalar, pois há comprovação científica de que a dor sentida em hospitalizações na infância acarreta em reflexos no desenvolvimento da vida da criança,como mudanças comportamentais e reações exacerbadas a dor na vida adulta(13). As crianças maiores conseguem sinalizar a dor por meio de fala e choro. Já as menores manifestam por sinais biológicos (aumento da frequência cardíaca e diminuição da saturação de oxigênio) e sinais comportamentais (choro, mímica facial, postura do bebê). Por essa razão, a observação do enfermeiro é fundamental para que esses sinais não sejam confundidos com sinais referentes a outras manifestações clínicas decorrentes da internação(12). A dor precisa ser tratada em todos os momentos da internação da criança. Os profissionais precisam estar preocupados em tratar a dor, porque existe um https://drive.google.com/open?id=0B0b6yxz-45pMZTNjTjB6N24tTms 1 8 afastamento entre saber que a criança pode estar sentindo dor e tomar alguma atitude em relação a isso(14). O enfermeiro precisa, inclusive, incorporar a dor como um quinto sinal vital, analisando e observando seus sinais com a mesma frequência que qualquer outro sinal vital. Para tanto, o profissional pode contar com apoio de instrumentos unidimensionais que avaliam dimensões e intensidades da dor. Geralmente são escalonados com figuras que indicam ausência total da dor até a dor mais intensa já sentida pela criança(13). No que se refere ao manejo da dor, existem os métodos farmacológicos, prescritos exclusivamente pelo médico, como opioides, analgésicos e anestésicos tópicos e locais (usados em caso de pacientes pós-cirúrgicos ou com tratamentos mais invasivos). Existem também os métodos não farmacológicos, que podem ser usados indiscriminadamente pelo enfermeiro e pela sua equipe, como: organizar o bebê em cueiro, limitando os movimentos e fornecendo segurança à criança; fixação de sondas e curativos com pouco esparadrapo e protegendo a pele com micropore ou hidrocoloide, e, ao retirar o curativo, pode-se usar o óleo mineral; uso de compressas mornas; a amamentação ao seio tem efeito analgésico, por isso, quando houver possibilidade, é importante orientar a mãe de que a sucção ao seio durante procedimentos dolorosos, como teste do pezinho, vacinação, punções, entre outras, pode aliviar a dor da criança; a sucção não nutritiva também pode auxiliar no alívio da dor, simulando a amamentação; a solução glicosada 25% pode ser administrada, desde que 2 minutos antes do procedimento(13-14). No contexto do processo de cuidar da criança que vivencia a dor, é necessário incluir os membros da família. “É importante que o enfermeiro auxilie a família a encontrar formas de manejar a dor da criança, tornando essa atitude parte da rotina dela, minimizando o sofrimento causado pela internação”(15). Clique aqui e assista o vídeo 7 https://drive.google.com/open?id=0B0b6yxz-45pMR0dlTW5ldTh4QWc 1 9 SÍNTESE As disfunções mencionadas na aula (respiratórias, cardíacas, neurológicas, hematológicas – leucemia) referem-se a uma grande parcela de causas de internações em unidades de terapia intensiva neonatal e pediátrica, entretanto é necessário que você, aluno, compreenda que existem outras doenças que acometem a criança e são mais raras e complexas também. O fundamental é compreender que grande parte delas exige procedimentos semelhantes do enfermeiro, principalmente no que se refere ao manejo da dor, tão importante que já é considerado um quinto sinal vital. Além disso, é de suma importância a aproximação da família no processo de cuidado como um grande aliado para garantir um atendimento de excelência à criança. Clique aqui e assista o vídeo 8 REFERÊNCIAS 1. HOCKENBERRY, M. J.; WILSON, D. Wong – Fundamentos de enfermagem pediátrica. 9. ed. Mosby/Elsevier, 2014. 2. OLIVEIRA, R. G. Blackbook pediatria: medicamentos e rotinas médicas. 3. ed. Editora Blackbook, 2005. 3. SANTOS, R. P. Disfunções respiratórias. In: ALMEIDA, F. A.; SABATÉS, A. L. Enfermagem pediátrica: a criança, o adolescente e sua família no hospital. Manole, 2008. 4. AZEKA, E. et al. Insuficiência cardíaca congestiva em crianças: do tratamento farmacológico ao transplante cardíaco. Revista de Medicina, v. 82, n. 2, 2008. 5. ALMEIDA, F. A. Disfunções cardiovasculares. In: ALMEIDA, F. A.; SABATÉS, A. L. Enfermagem pediátrica: a criança, o adolescente e sua família no hospital. Manole, 2008. 6. WONG, D. L. A criança com disfunção cerebral. Whaley & Wong – Enfermagem pediátrica: elementos essenciais à intervenção efetiva. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1999. 7. REGIS, F. A. Disfunções neurológicas. In: ALMEIDA, F. A.; SABATÉS, A. L. Enfermagem pediátrica: a criança, o adolescente e sua família no hospital. Manole, 2008. https://drive.google.com/open?id=0B0b6yxz-45pMVEh2LWQ3bVdsSFU 2 0 8. GUERPELLI, J. L. D.; MAGALHÃES, M. D.; D’AGOSTINI, A. Convulsões no recém-nascido. In: KNOBEL, E. et al. Terapia intensiva: pediatria e neonatologia. São Paulo: Atheneu, 2005. 9. CAMARGO, B.; LOPES, L. F. Pediatria oncológica: noções fundamentais para o pediatra. Marina, 2000. 10. HOCKENBERRY-EATON, M. J. Essentials of Pediatric Oncology Nursing: a Core Curriculum. Association of Pediatric Hematology/Oncology Nurses, 1998. 11. BRYANT, R. A criança com disfunção hematológica ou imunológica. In: HOCKENBERRY, M. J.; WILSON, D. Wong – Fundamentos de enfermagem pediátrica. 9. ed. Mosby/Elsevier, 2014. 12. ROSSATO, L. M. Abordagem da dor na criança e no adolescente. In: ALMEIDA, F. A.; SABATÉS, A. L. Enfermagem pediátrica: a criança, o adolescente e sua família no hospital. Manole, 2008. 13. PRESBYTERO, R.; COSTA, M. L. V.; SANTOS, R. C. S. Os enfermeiros da unidade neonatal frente ao recém-nascido com dor. Revista Rene, Fortaleza, v. 11, n. 1, 2010. 14. CALASANS, M. T. A.; MAIA, J. M. A.; SILVA, J. F. A amamentação como método não farmacológico para o alívio da dor. Revista Enfermagem Contemporânea, v. 5, n. 2, 2016. 15. ROSSATO, L. M. Dimensões do cuidado da criança com dor e de sua família. Reme – Revista Mineira de Enfermagem, v. 8, n. 4, 2009. LEITURAS OBRIGATÓRIAS DA DISCIPLINA <www5.bahiana.edu.br/index.php/enfermagem/article/view/980/732> <http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=361047445004> <http://stat.cbsm.incubadora.ufsc.br/index.php/saudeetransformacao/arti cle/view/3569> 2 1
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