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61 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Unidade II 3 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM AOS PORTADORES DE AFECÇÕES DO SISTEMA CARDIOVASCULAR As doenças cardiovasculares são a segunda causa de morte no Brasil e correspondem a cerca de 30% dos óbitos no País (BRASIL, 2015). Dessa forma, a atenção adequada aos portadores dessas situações clínicas, desde antes de sua instalação, é vital na mudança do panorama das doenças e na assistência de qualidade ao adulto. As alterações no sistema cardiovascular podem estar ligadas às diferentes estruturas que compõem esse sistema: coração e vasos sanguíneos. Dentro do coração, as afecções relacionam‑se às alterações da circulação cardíaca, às alterações do músculo cardíaco, às alterações do sistema de condução e às alterações da pré‑carga e da pós‑carga. Observação Pré‑carga é a força exercida sobre o músculo atrial no final da diástole. Pós‑carga é a pressão que o ventrículo deve exercer para ejetar o sangue do coração (BRASIL, 2015). As principais alterações de circulação cardíaca no adulto são a insuficiência coronariana aguda e a consequente angina pectoris. Já as alterações de pré e pós‑carga e da contratilidade cardíaca têm como consequência a insuficiência cardíaca congestiva e o edema agudo de pulmão. 3.1 Insuficiência coronariana (ICO) A ICO é definida pela incapacidade das artérias coronárias em suprir a demanda de oxigênio do músculo cardíaco. Essa impossibilidade de manter o fluxo sanguíneo para o coração se dá por meio da obstrução de uma ou mais artérias coronárias (MIOTO; FERREIRA; CEZAR, 2011). A principal causa dessa interrupção de fluxo é a aterosclerose. Sua etiologia ainda é bastante discutida na comunidade científica, mas sabe‑se que fatores genéticos e ambientais estão ligados ao desenvolvimento dessa condição. O desenvolvimento da aterosclerose se dá por meio do depósito de lipídeos, células inflamatórias e elementos fibrosos nas paredes das artérias, principalmente das grandes artérias, como as coronárias, a aorta e as cerebrais. Esse depósito permite então a formação de uma placa de ateroma. O movimento do vaso e o estresse decorrente do fluxo sanguíneo podem fazer com que essa placa se rompa e, como consequência da resposta da cascata de coagulação sanguínea, um trombo se forme, levando à obstrução do fluxo na artéria coronária (GOTTLIEB; BONARDI; MORIGUCHI, 2005; SMELTZER et al., 2010). 62 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II 3.1.1 Manifestações clínicas A interrupção do fluxo pode ocorrer em qualquer artéria coronária e em toda a sua extensão. As manifestações clínicas da doença dependem da localização e do tamanho do estreitamento da luz do vaso. A ausência do fluxo coronariano tem como consequência a isquemia cardíaca, que produz diferentes sinais e sintomas, entre eles, a angina (SMELTZER et al., 2010). A angina tem como característica principal a dor ou o desconforto em uma ou mais das seguintes regiões do organismo: região epigástrica, região torácica, mandíbula, ombros e membros superiores. Essa dor tende a piorar durante as atividades físicas ou diante de situações de estresse. Assim a presença da dor retroesternal, a piora da dor durante as atividades físicas e situações de estresse e a melhora da dor com o repouso ou uso de vasodilatadores são os critérios clínicos para a caracterização da angina estável (SBC, 2014): • Angina típica: pessoa apresenta dor retroesternal, que piora durante atividades físicas e situações de estresse e melhora com repouso e uso de vasodilatadores. • Angina atípica: pessoa apresenta apenas dois dos fatores da angina típica. • Angina torácica não cardíaca: pessoa apresenta apenas um dos fatores da angina típica ou nenhum. Apesar de a dor ser a principal manifestação da isquemia cardíaca, outros sinais e sintomas, produzidos pela diminuição do débito cardíaco, podem aparecer. São eles: confusão mental, diminuição do débito urinário, sudorese, taquicardia e diminuição da perfusão periférica. 3.1.2 Fatores de risco Os fatores de risco para a ICO podem ser classificados em modificáveis e não modificáveis: os primeiros são aqueles que podem ser alterados pelo indivíduo devido a alterações na forma de viver e de trabalhar; já os fatores de risco não modificáveis são aqueles sobre os quais a pessoa não pode exercer controle (SMELTZER et al., 2010). Assim, entre os fatores de risco modificáveis, estão: nível elevado de colesterol, tabagismo, hipertensão, DM, sedentarismo e obesidade. Os fatores de risco não modificáveis incluem: história familiar, idade e gênero (GUS et al., 2015). Entre todos os fatores de risco para o desenvolvimento de ICO, é importante enfatizar a dislipidemia, representada, principalmente, pela elevação do LDL‑colesterol. O LDL‑colesterol é uma lipoproteína responsável por levar o colesterol até as células. Quando essas proteínas se encontram em grande quantidade no plasma, parte delas deposita‑se nos músculos dos vasos, sofrem oxidação e atraem diferentes elementos do sistema imunológico, muitos deles responsáveis pela formação da placa de ateroma. 63 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Saiba mais Para aprofundar seus conhecimentos sobre a relação entre o LDL‑colesterol e a aterosclerose, consulte: XAVIER, H. T. et al. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, São Paulo, v. 101, n. 4, supl. 1, out. 2013. 3.1.3 Tratamento O tratamento para a ICO baseia‑se em dois pilares: evitar a progressão do trombo e posterior infarto agudo do miocárdio e diminuir os sintomas e o trabalho cardíaco a fim de prevenir a angina. Para atingir esses objetivos, estão à disposição do profissional o tratamento medicamentoso e o invasivo. Todo o tratamento descrito a seguir é baseado na Diretriz de Doença Coronária Estável proposta pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) (2014). O tratamento medicamentoso é realizado por meio do uso de antiagregantes plaquetários, hipolipemiantes, bloqueadores do sistema renina‑angiotensina‑aldosterona (SRAA), bloqueadores dos canais de cálcio, bloqueadores beta‑adrenérgicos e nitratos. Antiagregantes plaquetários (APs): a utilização de antiagregantes plaquetários permite que não ocorra a formação de trombos a partir da lesão na placa de ateroma, por atuarem no bloqueio de diferentes fases da cascata de coagulação. A droga de escolha entre eles é o ácido acetilsalicílico (AAS). Outros dois APs podem ser prescritos para pacientes portadores de ICO: o clopidogrel e a ticlopidina. Ambos são indicados para pacientes que fazem uso de stents coronarianos, em associação com AAS, e para pacientes com contraindicação absoluta ao AAS. Ambos diminuíram os eventos trombóticos quando associados ao AAS, no caso de uso de stents, mas o clopidogrel mostrou‑se mais seguro em relação aos efeitos colaterais (MÜLLER et al., 2000). Observação Stents coronarianos: tubos minúsculos em forma de malha utilizados para manter a coronária pérvia. Escolha como procedimento percutâneo invasivo (MOURA, 2003). Hipolipemiantes: devem ser utilizados para a prevenção secundária do aparecimento da angina. A diminuição do nível de colesterol sérico mostrou uma redução significativa na incidência da ICO (SIMÃO et al., 2013). Assim, recomenda‑se que, com a orientação de modificações no estilo de vida, sejam utilizados hipolipemiantes nos portadores de ICO. A droga de escolha para a redução do colesterol sérico é a estatina, nas suas diferentes formas. O ezetimibe também propicia a diminuição do colesterol, 64 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II porém, diferentemente das estatinas, que atuam no bloqueio da produção do colesterolendógeno, o ezetimibe impede a absorção do colesterol da dieta nas vilosidades intestinais. Já a hipertrigliceridemia deve ser tratada com o uso dos fibratos, quando não houver redução do nível de triglicérides sérico com a introdução de uma dieta adequada. Inibidores do sistema renina‑angiotensina‑aldosterona (SRAA): o SRAA é um mecanismo fisiológico que permite que o organismo controle o volume de líquido corpóreo e consequentemente a pressão arterial. O esquema de funcionamento desse sistema está descrito na figura a seguir. Os inibidores desse sistema atuam bloqueando a atuação da enzima conversora da angiotensina (IECA) e, portanto, diminuindo o estímulo à produção de angiotensina II e aldosterona, essa última responsável pela retenção de sódio e água. A menor retenção de líquidos diminui a pré‑carga cardíaca e torna o trabalho do coração mais fácil, o que evita novas isquemias induzidas pelo esforço. Angiotensinogênio Aldosterona Angiotensina I Angiotensina II Renina Estimula IECA Figura 12 – Esquema de funcionamento do SRAA Antagonistas dos canais de cálcio: esse grupo de medicamentos propicia a inibição dos canais de cálcio presentes na musculatura lisa. Assim, seu uso permite o relaxamento da musculatura lisa dos vasos, o que diminui a pós‑carga e facilita o trabalho cardíaco. Algumas dessas drogas também possuem um efeito inotrópico negativo, ou seja, estabelecem uma diminuição da contratilidade e incrementam a redução do trabalho do coração, evitando novas isquemias. As principais drogas utilizadas para esse fim são os derivados diidropiridínicos (nifedipina, anlodipino e outros), os benzodiazepínicos (diltiazem) e as fenilalquilaminas (verapamil). Bloqueadores beta‑adrenérgicos: são considerados drogas de primeira escolha no tratamento da ICO. Essas drogas diminuem a frequência cardíaca, a contratilidade miocárdica, a condução atrioventricular e a atividade ectópica ventricular. Todas essas atividades permitem que o coração realize suas atividades com menor esforço. Observação Devido ao efeito cronotrópico negativo dos betabloqueadores, a frequência cardíaca deve ser mensurada antes da administração da droga. 65 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Nitratos: têm função vasodilatadora. Permitem a diminuição da pós‑carga e o aumento da luz do vaso, contribuindo de forma importante para o decréscimo do trabalho cardíaco. Há duas formulações diferentes para os nitratos: os de ação rápida e os de ação prolongada. O nitrato de ação rápida, isossorbida e propatilnitrato, tem efeito imediato e é o fármaco de escolha para as crises de angina. Após o uso sublingual, seu efeito dilatador inicia‑se entre um e três minutos e mantém‑se de 45 minutos a uma hora. Já o nitrato de ação prolongada, apesar de ação vasodilatadora importante, mostrou efeito colateral de disfunção endotelial em alguns casos, o que levou os pesquisadores a rever a sua utilização prolongada e a restringir seu uso apenas às situações em que a utilização de outros antianginosos não provocou o efeito desejado (STEFFENS; MEDEIROS; SILVEIRA, 2008). A figura a seguir resume o tratamento medicamentoso para a ICO. Tratamento farmacológico da angina estável para alívio de sintomas e melhora na qualidade de vida Controle dos fatores agravantes e/ou precipitantes da angina Nitratos de ação rápida b‑bloqueadores Nitratos de ação prolongada Alopurinol Bloqueadores de canais de cálcio Trimetazidina Ivabradina 1ª linha 3ª linha 4ª linha 2ª linha (associados a b‑bloqueadores e/ou entre si) Figura 13 – Algoritmo para tratamento medicamentoso da angina estável com agentes antianginosos, para alívio de sintomas e melhora na QV Já o tratamento invasivo é composto pela revascularização do miocárdio e pela intervenção coronária percutânea. Na revascularização do miocárdio, uma veia ou artéria substitui a extensão lesada da coronária doente. Para isso, uma cirurgia aberta é necessária. Na intervenção coronária percutânea, um balão é colocado nas coronárias por meio da inserção de um cateter via artéria radial ou femural. Além disso, no mesmo procedimento, um stent é colocado na coronária lesada a fim de mantê‑la pérvia. 66 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II Saiba mais Para saber mais sobre a intervenção coronária percutânea e a revascularização do miocárdio, acesse: BRICK, A. V. et al. Diretrizes da cirurgia de revascularização miocárdica, valvopatias e doenças da aorta. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 82, supl. 5, mar. 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0066‑782X2004001100001>. Acesso em: 25 jul. 2017. 3.1.4 Assistência de enfermagem Para o planejamento da assistência de enfermagem a portadores de ICO, a avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento clínico na elaboração dos DEs são necessários. Os principais DEs que podem ser identificados diante de um paciente com ICO são, segundo a classificação da Nanda‑I (2015): • Intolerância à atividade: definida por energia fisiológica ou psicológica insuficiente para suportar ou completar as atividades diárias requeridas ou desejadas. • Dor aguda: definida por experiência sensorial e emocional desagradável que surge de lesão tissular real ou potencial ou descrita em termos de tal lesão. Início súbito ou lento, de intensidade leve a acentuada, com duração menor de seis meses. • Risco de perfusão tissular cardíaca diminuída: definido por risco de redução na circulação cardíaca. O quadro a seguir mostra cada um dos DEs mais comuns na ICO, com as suas características definidoras e os seus fatores relacionados. Quadro 10 – DEs mais comuns aos pacientes portadores de ICO, com suas respectivas características definidoras ou fatores de risco e seus fatores relacionados Diagnósticos de enfermagem (DEs) Características definidoras/fatores de risco Fatores relacionados Intolerância à atividade Alterações eletrocardiográficas refletindo isquemia, desconforto aos esforços, dispneia aos esforços, relato verbal de fraqueza, relato verbal de fadiga, resposta anormal da frequência cardíaca e/ou da pressão arterial aos esforços Desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio Dor aguda Evidência observada de dor, relato verbal de dor Agentes lesivos Risco de perfusão tissular cardíaca diminuída Falta de conhecimento sobre os fatores de risco passíveis de modificação, hiperlipidemia, história familiar de doença coronária ‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑‑ 67 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Lembrete Diagnósticos reais são compostos de definição, características definidoras e fatores relacionados, enquanto os diagnósticos de risco são compostos de definição e fatores de risco. A partir da definição dos DEs, é realizado o planejamento das ações da equipe de enfermagem. São definidas as intervenções de enfermagem necessárias a cada paciente portador de ICO. O quadro a seguir mostra as intervenções de enfermagem mais comuns aos portadores dessa patologia, baseadas na classificação proposta pela NIC (BULECHEK et al., 2016). Quadro 11 – Relação entre DEs, intervenções e atividades de enfermagem aos pacientes portadores de ICO DE: Intolerância à atividade Intervenção Atividades Assistência no autocuidado Atentar à cultura e à idade do paciente ao propiciar auxílio ao autocuidado Verificar a necessidade do paciente de dispositivos para o auxílio na higiene pessoal, vestir‑se, arrumar‑se, realizar higiene íntima e alimentar‑se Propiciar artigos pessoais desejados Fornecer assistência até que o paciente seja capaz de realizar suas atividades por completo Ajudar o paciente na aceitação da sua dependência Encorajar a independência, mas interferir quandoo paciente tiver dificuldade de desempenhar as atividades DE: Dor aguda Intervenção Atividades Controle da dor: alívio da dor ou redução da dor até um nível de conforto aceitável para o paciente Avaliar a dor quanto a sua localização, características, início/duração, frequência, qualidade e intensidade Observar presença de expressões não verbais de dor Verificar fatores que melhoram ou pioram a dor Determinar uma frequência de avaliação da dor Reduzir ou eliminar fatores que propiciem o aumento da dor Verificar a necessidade de repouso para preservar o trabalho cardíaco DE: Risco de perfusão tissular cardíaca diminuída Intervenções Atividades Precauções cardíacas: prevenção de um episódio agudo de função cardíaca por meio de redução de eventos contribuintes e comportamentos de risco Avaliar o paciente quanto a comportamentos de risco associados a eventos cardíacos adversos Orientar paciente e família sobre os sinais de surgimento ou agravamento da doença Orientar paciente e família sobre modificações dos fatores de risco cardíacos Orientar o paciente quanto à necessidade de exercícios regulares e progressivos Orientar paciente e família sobre os sinais de que é o momento do descanso Orientar quanto a redução do tabagismo, dieta saudável, obtenção e manutenção do peso adequado Avaliar em relação à ansiedade e à depressão Promover técnicas efetivas para reduzir o estresse 68 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II 3.2 Insuficiência cardíaca (IC) A IC pode ser definida como a incapacidade do coração em fornecer sangue suficiente para suprir as necessidades do organismo. Também pode ser chamada de insuficiência cardíaca congestiva. Entretanto não usaremos esse termo, visto que a congestão pulmonar, a que se refere o termo congestiva, não acontece em todas as ICs, apesar de ser uma manifestação clínica bastante comum da doença (SMELTZER et al., 2010). A epidemiologia da IC mostra um alto impacto da patologia nos índices de morbimortalidade brasileiros e mundiais. A American Heart Association (AHA) aponta uma prevalência de 5,1 milhões de pessoas com IC entre os anos de 2008 e 2012 e prevê um aumento de 46% dos casos até 2030 (GO et al., 2014). No Brasil, dados do Datasus mostraram que 27.434 pessoas morreram por IC apenas no ano de 2015, o que correspondeu a 2% da mortalidade total no mesmo ano. A IC, em 2015, correspondeu a 18% das internações por causas cardíacas no País (BRASIL, 2015). O estudo Brazilian Registry of Acute Heart Family, conhecido como estudo Breathe, realizado em 51 centros hospitalares brasileiros, mostrou uma predominância de IC em pacientes idosos, do sexo feminino e residentes no sul e sudeste do País (ALBUQUERQUE et al., 2014). 3.2.1 Etiologia A hipertensão arterial sistêmica é a principal causa de IC no Brasil. A doença de Chagas e a valvulopatia por doença reumática são causas especiais de IC que devem ser observadas no País (BOCCHI et al., 2009). O estudo Breathe identificou como principal causa de IC no Brasil a cardiopatia coronariana, seguida da hipertensão arterial sistêmica. Assim, abordaremos as causas que levam à IC: cardiopartia coronariana, miocardiopatia, hipertensão e distúrbios valvulares (ALBUQUERQUE et al., 2014). Cardiopatia coronariana: a síndrome coronariana aguda, quando na fase de lesão e morte celular, leva à necrose tecidual. A depender da extensão da área lesada, a contratilidade do músculo do coração pode alterar‑se e propiciar a perda da função cardíaca. Miocardiopatia: as miocardiopatias levam a alterações estruturais no coração que podem alterar a função cardíaca. Podem ser divididas em dilatadas, hipertróficas e restritivas. A miocardiopatia dilatada, a principal delas, ocorre por uma necrose tecidual difusa que altera a contratilidade das fibras musculares. Já nas miocardiopatias hipertróficas e restritivas, a alteração estrutural leva à diminuição da distensibilidade e do enchimento ventricular, impedindo o enchimento dos ventrículos no momento da diástole. As miocardiopatias podem ser resultado de processos inflamatórios, medicações tóxicas e uso de álcool. Uma importante causa de miocardiopatia no Brasil é a doença de Chagas. Essa patologia é considerada a terceira doença parasitária no mundo e ainda é bastante comum em determinadas regiões brasileiras. O estudo Breathe mostrou que, na região Centro‑Oeste do Brasil, 42,4% das pessoas com IC tiveram o desenvolvimento da doença decorrente da presença da doença de Chagas (ALBUQUERQUE et al., 2014). Hipertensão arterial sistêmica: a hipertensão arterial sistêmica aumenta a pós‑carga. O coração tem de fazer um grande esforço para vencer a resistência imposta à ejeção do sangue. Assim, o esforço crescente propicia a hipertrofia das fibras musculares, que, apesar de maiores, perdem a sua função (SMELTZER et al., 2010). 69 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Valvulopatias: as valvas, quando em funcionamento normal, permitem que o sangue flua em uma só direção. A insuficiência valvar faz com o sangue se acumule nas câmaras cardíacas, levando a uma sobrecarga hemodinâmica importante. Em um primeiro momento, o organismo consegue compensar a alteração, mas, com o passar do tempo, o aumento crescente do trabalho cardíaco tem como consequência a IC (GONÇALVES, 2004). Diante das causas da IC, fica claro que o aumento do trabalho cardíaco é o grande vilão no desenvolvimento do problema. Assim, qualquer situação cotidiana que resulte em sobrecarga do coração, como febre, estresse, infecções, hipóxia e anemia, pode contribuir para o desenvolvimento da gravidade da IC. 3.2.2 Manifestações clínicas Os sinais e sintomas de IC são diferentes dependendo do ventrículo alterado. A falha no ventrículo esquerdo é mais comum na IC e leva a sinais de congestão pulmonar e diminuição do débito cardíaco. O mais clássico sinal de IC é a dispneia, que tem como causa a congestão pulmonar. Imagine que, por algum motivo, a função cardíaca esteja diminuída. O volume de sangue que sai do coração diminui e, portanto, aumentam as pressões dentro do ventrículo e do átrio. Essas pressões aumentadas impedem o fluxo adequado da veia pulmonar para o átrio esquerdo e propiciam o aumento da pressão venosa pulmonar. Esse aumento reflete‑se no aumento da pressão no capilar pulmonar que passa pelo alvéolo. Diante da elevação da pressão, o líquido capilar entra no alvéolo, impede a passagem do ar e a troca gasosa adequada, e instala‑se a congestão pulmonar, o sinal prevalente de IC. Com a queda do oxigênio circulante, determina‑se a sensação de desconforto respiratório, a dispneia (TIMBY, 2005). Além da dispneia, outros sinais e sintomas ficam evidentes diante da congestão pulmonar: a queda da saturação de oxigênio, a tosse, os estertores, a ausculta pulmonar e um batimento cardíaco extra, B3, na ausculta cardíaca. A queda da saturação de oxigênio deve‑se à dificuldade da troca gasosa nos alvéolos. Já a tosse tem característica seca e não produtiva e, em casos graves, apresenta saída de secreção espumosa e rósea, efeitos da tentativa do organismo de livrar‑se da secreção instalada no alvéolo. Em virtude da passagem do ar pelo líquido acumulado nos alvéolos estertores, esses efeitos são identificados na ausculta pulmonar, inicialmente, nas bases pulmonares, podendo estender‑se para todo o pulmão com o aumento da gravidade da congestão (ROSCANI, 2013). Todos os sinais listados até aqui são decorrentes do acúmulo das pressões nas câmaras cardíacas esquerdas. Ou seja, são consequências do retorno do sangue, o que leva a sua classificação como IC retrógada. Se tudo isso acontece porque o sangue não sai do coração, podemos dizer que temos uma diminuição do débito cardíaco acontecendo ao mesmo tempo. Assim, outros sinais e sintomas, decorrentes de baixo débito cardíaco, ocorrem e são atribuídos à ICanterógrada. Os sinais de baixo débito cardíaco podem apresentar‑se nos diversos sistemas do organismo que tem a perfusão sanguínea diminuída. Podem ser considerados sinais de baixo débito cardíaco: oligúria, digestão alterada, confusão mental, cianose, pele fria, pulsos fracos e filiformes (MONTERA, 2009). 70 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II Lembrete Débito cardíaco é o volume de sangue ejetado pelo coração por minuto. A IC tem outros sintomas quando a parte direita do coração é afetada. A chamada IC direita é menos frequente na população e pode estar associada também a alterações do sistema respiratório. Na insuficiência cardíaca direita, quando o ventrículo direito não consegue ejetar o volume sanguíneo adequado para a artéria pulmonar, o acúmulo das pressões nas câmaras cardíacas reflete‑se na congestão da veia cava e de todo o sistema venoso do organismo. São sinais da IC do lado direito do coração: distensão jugular, edema de membros inferiores, ascite, hepatomegalia, fraqueza, anorexia e náuseas (SMELTZER et al., 2010). O quadro a seguir resume os sinais e sintomas da IC: Quadro 12 – Manifestações clínicas da IC Insuficiência cardíaca (IC) IC Esquerda IC Direita Anterógrada Retrógada Oligúria Confusão mental Perfusão periférica diminuída Pulsos finos e filiformes Digestão alterada Fadiga Dispneia Congestão pulmonar Estertores Bulha B3 Tosse Secreção rósea Distensão jugular Edema Hepatomegalia Ascite Anorexia Náusea 3.2.3 Classificação O início da classificação da IC por gravidade ocorreu há mais de meio século, com a proposta da New York Heart Association (NYHA). Essa classificação ainda é usada hoje, mas algumas limitações são apontadas na sua utilização (quadro a seguir). Apesar da praticidade e da facilidade do uso nas diferentes instituições de saúde, a escala é baseada apenas na progressão dos sinais e sintomas e não aborda as alterações estruturais decorrentes da IC. Quadro 13 – Classificação funcional da IC segundo a NYHA Classe I Dispneia aos esforços não habituais (por exemplo: subir ladeira) Classe II Dispneia aos esforços médios (por exemplo: caminhar em terreno plano) Classe III Dispneia aos esforços pequenos (por exemplo: tomar banho, pentear‑se) Classe IV Dispneia no repouso Fonte: The Criteria Comittee of the New York Heart Association (1964). 71 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Diante da fragilidade encontrada na classificação da NYHA, a AHA sugeriu uma nova classificação que mescla as alterações estruturais e os sinais e sintomas de IC (quadro a seguir): Quadro 14 – Classificação da IC segundo a AHA Estágio A: pacientes com risco aumentado de desenvolver IC, porém sem alteração estrutural cardíaca, sinais ou sintomas de IC. Pacientes hipertensos, com doença aterosclerótica, diabetes, obesidade, síndrome metabólica, em uso de medicações cardiotóxicas ou com história familiar de IC Estágio B: pacientes com doença estrutural cardíaca sem sintomas atuais ou prévios de IC. Pacientes com IAM, SVE, fração de ejeção baixa ou doença valvar assintomática Estágio C: pacientes com sinais e/ou sintomas de IC, atuais ou prévios Estágio D: pacientes com IC refratário ao tratamento tradicional, com indicação de intervenções especializadas Fonte: Go et al. (2014). As duas classificações são utilizadas na prática clínica e são complementares. A SBC propõe o uso, nas instituições brasileiras, do modelo proposto pela AHA para a avaliação da progressão da doença e da escala de classificação proposta pela NYHA para a avaliação funcional (BOCCHI et al., 2009). 3.2.4 Tratamento O tratamento para IC é dividido em medicamentoso e não medicamentoso. O tratamento não medicamentoso é composto de dieta, vacinação, atividade física e educação dos pacientes e seus familiares (ESC, 2008). Dieta: pacientes assintomáticos devem ser orientados com dieta para controle da dislipidemia, DM e hipertensão arterial sistêmica. A quantidade de ingestão de sódio por portadores de IC ainda é discutida e recomenda‑se que seja ajustada à condição clínica do paciente, visto que pode levar à diminuição da ingestão de proteínas e minerais importantes para a dieta (BOCCHI et al., 2012). A restrição hídrica é indicada apenas para pacientes sintomáticos e com risco de hipervolemia. A quantidade de ingestão de líquido deve ser limitada, quando necessário, a 1.000‑1.500 ml/dia (BOCCHI et al., 2009). Vacinação: é recomendado que todos os pacientes portadores de IC sejam vacinados contra pneumococos e anualmente contra a influenza, visto que a contaminação por esses vírus pode exacerbar os sinais e sintomas de IC, já que as doenças causadas por eles e seus sintomas aumentam o trabalho cardíaco (ESC, 2008). Atividade física: pacientes com IC devem ser orientados a realizar atividades físicas regulares, de acordo com a capacidade física de cada um. A prática de atividades físicas regulares melhora a QV e a capacidade funcional e diminui a mortalidade de pacientes com IC (BOCCHI et al., 2012; ESC, 2008). Educação do paciente e dos familiares: é importante o acompanhamento com equipe especialista, visto que as medicações e seus efeitos colaterais, os sinais e sintomas da doença e as restrições de dieta e das atividades da vida diária podem levar à dificuldade de aderência ao tratamento e à progressão mais rápida da doença (ESC, 2008). A adesão ao tratamento é primordial no acompanhamento dos portadores de IC, e suas taxas não são de responsabilidade apenas do paciente, mas de toda a equipe de saúde (ALBUQUERQUE et al., 2014). 72 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II Já o tratamento medicamentoso tem dois objetivos: melhora do prognóstico em longo prazo e diminuição dos sinais e sintomas. Os medicamentos incluem os que atuam no SRAA, os betabloqueadores, os diuréticos e os vasodilatadores (BOCCHI et al., 2012). Medicamentos que atuam no SRAA: esses fármacos agem impedindo a sequência do SRAA em diferentes pontos. Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (Ieca) impedem a sua ação e, portanto, ocorre a transformação de angiotensina I em angiotensina II e, consequentemente, de todo o processo. São as drogas de escolha no tratamento das ICs. Os bloqueadores de receptores de angiotensina II (BRA) impossibilitam que esta faça o estímulo para a produção da aldosterona. A recomendação é que sejam utilizados naqueles pacientes que não toleram os Ieca. Já os antagonistas da aldosterona impedem que o hormônio encontre o seu receptor e atinja a sua ação biológica: retenção de líquido e sódio. São indicados para pacientes que estão ou já estiveram em classe funcional III, segundo a NYHA. Pode‑se perceber, então, que todos esses medicamentos diminuem a pré‑carga e facilitam o trabalho cardíaco (figura a seguir) (SANTOS; BITTENCOURT, 2008). Angiotensinogênio Aldosterona Angiotensina I Angiotensina II Retenção de líquido e sódio Renina Ieca BR AA Figura 14 – Ação dos fármacos no SRAA Betabloqueadores: esses medicamentos propiciam um bloqueio aos receptores beta que atuam no coração. Esses receptores, quando ligados a alguns neurotransmissores e hormônios, propiciam um aumento na frequência e contratilidade cardíaca. Assim, entende‑se que o bloqueio aos receptores diminui a contratilidade e a frequência cardíaca, permitindo a diminuição do trabalho do coração. Como é uma classe ampla de medicamentos, considera‑se com efeito na IC apenas o metoprolol, o carvedilol e o bisoprolol (SANTOS; BITTENCOURT, 2008). Diuréticos: apesar de não impedir a progressão da IC, os diuréticos são bastante importantes na diminuição do principal sintoma da IC – a congestão pulmonar. Seu objetivo é manter o estado de euvolemia dos pacientes. Qualquer diurético pode ser utilizado para pacientes com sintomas leves. Já os quenão respondem à monoterapia podem ter o uso associado de dois diuréticos diferentes, o que pode levar a desidratação e piora do débito cardíaco (SANTOS; BITTENCOURT, 2008). Vasodilatadores: a terapia com diuréticos para IC contempla a associação da hidralazina e dos nitratos de longa duração. A hidralazina, um vasodilatador arterial direto, diminui a pós‑carga e aumenta o débito cardíaco. 73 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Já a vasodilatação produzida pelo nitrato diminui a pré‑carga e facilita o trabalho do coração. Têm efeitos importantes na hemodinâmica dos pacientes com IC, mas inferiores aos produzidos pelos Ieca. Assim, seu uso é indicado para aqueles pacientes com contraindicação ao uso dos Ieca e dos BRA (SANTOS; BITTENCOURT, 2008). Digitálicos: esses fármacos são inotrópicos positivos e, portanto, aumentam a contratilidade do coração, auxiliando aqueles pacientes que têm alteração na função sistólica. Como têm ação sobre o nó atrioventricular, diminuem a frequência cardíaca, o que permite a indicação dessa droga, especialmente, aos portadores de IC associada a arritmias ventriculares. A droga utilizada por via oral é a digoxina (SANTOS; BITTENCOURT, 2008). 3.2.5 Assistência de enfermagem Para o planejamento da assistência de enfermagem a portadores de IC, utilizam‑se a avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento clínico na elaboração dos DEs. Os DEs prioritários encontrados em pacientes com IC são débito cardíaco diminuído e volume de líquidos excessivo, que são definidos pela Nanda‑I (2015): • Débito cardíaco diminuído: quantidade insuficiente de sangue bombeado pelo coração para atender as demandas metabólicas corporais. • Volume de líquidos excessivo: retenção aumentada de líquidos isotônicos. Quadro 15 – DEs mais comuns aos pacientes portadores de IC, com suas respectivas características definidoras ou fatores de risco e seus fatores relacionados Diagnósticos de enfermagem (DEs) Características definidoras/fatores de risco Fatores relacionados Débito cardíaco diminuído Estertores a ausculta pulmonar Débito cardíaco diminuído Fração de ejeção diminuída Ortopneia Sons B3 Tosse Dispneia Oligúria Pele fria e pegajosa Distensão da veia jugular Edema Fadiga Ganho de peso Contratilidade alterada Frequência cardíaca alterada Pós‑carga alterada Pré‑carga alterada Volume de ejeção alterado Volume de líquidos excessivo Congestão pulmonar Alteração da pressão arterial pulmonar Anasarca Distensão da veia jugular Edema Ganho de peso em curto período Oligúria Ortopneia Pressão venosa central alterada Ruídos respiratório adventícios Sons B3 Mecanismos reguladores comprometidos 74 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II A partir dos DEs mais comuns aos portadores de IC, foram elaboradas as intervenções de enfermagem necessárias, baseadas na classificação proposta pela NIC (BULECHEK et al., 2016). Quadro 16 – Relação entre DEs, intervenções e atividades de enfermagem aos pacientes portadores de IC DE: Débito cardíaco diminuído Intervenção Atividades Assistência no autocuidado Atentar à cultura e à idade do paciente ao propiciar auxílio no autocuidado Verificar a necessidade do paciente de dispositivos para o auxílio na higiene pessoal, vestir‑se, arrumar‑se, realizar higiene íntima e alimentar‑se Propiciar artigos pessoais desejados Fornecer assistência até que o paciente seja capaz de realizar suas atividades por completo Ajudar o paciente na aceitação da sua dependência Encorajar a independência, mas interferir quando o paciente tiver dificuldade de desempenhar as atividades Intervenção Atividades Cuidados cardíacos: limitação de complicações resultante de um equilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio ao miocárdio para pacientes com sintomas de função cardíaca prejudicada Certificar‑se do nível de atividade que não comprometa o débito cardíaco Encorajar aumento gradual da atividade quando a condição estiver estabilizada Avaliar circulação periférica Monitorar os sinais vitais Observar sinais e sintomas de redução de débito cardíaco Monitorar presença de tosse e estertores Monitorar o equilíbrio hídrico Observar alterações de pressão arterial Restringir o tabagismo Observar presença de dispneia, fadiga, taquipneia e ortopneia Orientar paciente e família sobre o objetivo dos cuidados e evolução Encaminhar para o programa de reabilitação cardíaca DE: Volume de líquidos excessivo Intervenção Atividades Controle hídrico: promoção do equilíbrio hídrico e prevenção de complicações decorrentes de níveis anormais ou indesejados de líquidos Pesar diariamente Manter um registro preciso de ingestão e eliminação Inserir sonda vesical se o paciente não conseguir solicitar dispositivo para eliminação de urina Monitorar sinais vitais Observar sinais de excesso de líquidos: pressão venosa central aumentada, edema, distensão jugular e ascite Avaliar evolução do edema Distribuir a ingestão de líquidos nas 24 horas Orientar a restrição hídrica se necessário 75 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO 3.2.6 Insuficiência cardíaca descompensada (ICD) Foi estudada a insuficiência cardíaca crônica, aquela que acomete o indivíduo de forma progressiva, independentemente de sua etiologia. Agora, trataremos de uma especificidade da IC, o momento de sua agudização. A IC é chamada descompensada quando necessita de intervenção imediata. Assim, pode ser definida como a incapacidade do coração em bombear sangue para suprir as necessidades fisiológicas do organismo devido a uma alteração estrutural ou funcional cardíaca que necessita de intervenção imediata. Ela pode ocorrer em virtude de uma descompensação da insuficiência cardíaca crônica ou pelo aparecimento abrupto da alteração cardíaca (MONTERA, 2009). A ICD pode ser classificada, segundo sua etiologia, em (FELKER et al., 2003): Insuficiência cardíaca aguda: situação na qual uma alteração cardíaca leva ao aparecimento abrupto dos sinais e sintomas de IC em pacientes sem diagnóstico prévio da doença. Pode ser determinada pelo infarto agudo do miocárdio ou miocardite aguda e é a minoria dos casos de internação por ICD. Insuficiência cardíaca crônica exacerbada: é de longe a maior causa de internação por ICD. Ocorre quando pacientes com diagnóstico prévio de IC desenvolvem abruptamente ou gradualmente a piora dos sinais e sintomas quando estão em repouso. Insuficiência cardíaca crônica refratária: definida quando, apesar de todo o tratamento possível, o paciente com diagnóstico prévio de IC mantém o quadro de baixo débito cardíaco e/ou congestão pulmonar importante. Edema agudo de pulmão: situação clínica em que há o aumento abrupto da pressão de capilar pulmonar. Isso decorre de alguma alteração estrutural repentina, como infarto agudo do miocárdio ou arritmias graves. Nesse caso, quando o coração deixa subitamente de exercer sua função de maneira adequada, a congestão pulmonar inicia‑se rapidamente, com acúmulo de grande quantidade de líquidos nos alvéolos e dispneia intensa. Além disso, outros sinais que imputam gravidade à IC são: secreção pulmonar fluida, rósea e em grande quantidade e tosse persistente. O tratamento para ICD inclui a limitação da atividade física (entretanto, o repouso absoluto não é indicado), o uso de oxigênio e a restrição hídrica em casos de congestão pulmonar. O tratamento farmacológico é composto pelo uso de diuréticos endovenosos, antagonistas da aldosterona, Ieca e inibidores da angiotensina II, vasodilatadores periféricos, inotrópicos e digitais. 76 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II 4 ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM A PESSOAS PORTADORAS DEALTERAÇÕES NO SISTEMA RESPIRATÓRIO 4.1 Pneumonias As pneumonias podem ser definidas como alterações inflamatórias de causa infecciosa que atingem os espaços aéreos (CORRÊA et al., 2009). É a terceira causa de óbito no mundo (WHO, 2017). Foi responsável por mais de 77 mil mortes em adultos no ano de 2015 no Brasil, além de ser a causa de 5% das internações hospitalares no ano de 2014 (BRASIL, 2015). 4.1.1 Fisiopatologia A pneumonia é causada por um agente infecioso ou por outras causas que levam ao dano do tecido pulmonar. Esse agente, ao invadir o tecido pulmonar, leva a uma reação inflamatória. Os alvéolos, então, produzem um exsudato que interfere na entrada e saída dos gases envolvidos no processo de ventilação. Além disso, o sistema imune, durante sua tentativa de eliminação do agente infeccioso, envia leucócitos para o local, os quais ocupam a área em que deveria haver troca gasosa. Assim, as secreções e o edema levam a uma diminuição do espaço pulmonar em que há troca gasosa, diminuindo assim a pressão de oxigênio no sangue (SMELTZER et al., 2010). 4.1.2 Classificação As pneumonias podem ser classificadas quanto ao seu agente causal, à localização e ao local de aquisição. Os agentes infecciosos causadores da pneumonia podem ser vírus, bactérias, fungos, protozoários e helmintos. Já os agentes não infecciosos que lesam os alvéolos podem ser processos alérgicos, inalação de elementos tóxicos, neoplasias e aspiração. A figura a seguir mostra os principais agentes causadores da pneumonia (BRASIL, 2007). Bactérias Vírus Fungos Outras etiologias Não infecciosas S. pneumoniae, S. aureus, K . pneumoniae, H. influenzae, Legionella, plasmídia, micoplasma, Mycobaterium, Actymonmias, Rickettsia Influenza, parainfluenza, VSR, adenovírus, CMV, coronavírus, hantavírus P. brasiliensis, H. capsulatum, C. immitis, C. neoformans, C. albicans, Aspergillus, Pneumocystis Protozoários e helmintos Alérgica, tóxica, neoplásica e aspiração Figura 15 – Principais agentes etiológicos da pneumonia 77 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Já em relação à localização, a pneumonia pode ser classificada em: broncopneumonia, quando envolve as vias aéreas distais e os alvéolos; lobular, quando se restringe a parte de um lobo pulmonar; e lobar, quando atinge todo um lobo pulmonar (NASCIMENTO; FIGUEIREDO, 2004). As pneumonias também são classificadas conforme o local em que foram adquiridas. Nesse aspecto, podem ser classificadas em comunitárias e hospitalares. As pneumonias comunitárias são aquelas contraídas fora do ambiente hospitalar, em ambientes especiais de saúde ou que se manifestam em até 48 horas após o acesso à unidade assistencial. Já as pneumonias hospitalares são aquelas adquiridas em ambiente hospitalar. São classificados com esse tipo de pneumonia: aqueles pacientes que estiveram internados ou pelo menos passaram dois dias em unidades de pronto atendimento nos últimos noventa dias; aqueles residentes em instituições de longa permanência para idosos; os que receberam antibiótico endovenoso, quimioterapia ou fizeram tratamento para cicatrização de úlceras de pressão nos últimos trinta dias; e aqueles que realizaram hemodiálise em clínicas destinadas para esse fim (CORRÊA et al., 2009). 4.1.3 Fatores de risco Os fatores de risco para pneumonias dependem do agente etiológico. Entretanto, os mais comuns estão descritos no quadro a seguir. A identificação desses fatores de risco pode subsidiar programas de prevenção da doença, incluindo a seleção de pessoas que devem receber as vacinas contra alguns agentes etiológicos. Quadro 17 – Principais fatores de risco para o desenvolvimento de pneumonias Condições que produzem muco ou obstrução brônquica: câncer, tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) Imunossupressão com baixa contagem de neutrófilos Tabagismo Imobilidade prolongada Reflexo de tosse deprimido Jejum prolongado Uso de sonda nasogástrica e nasoentérica Uso de tubo endotraqueal Terapia com antibiótico Intoxicação por álcool Uso de substância que promova a depressão respiratória Idade avançada Higiene oral inadequada Adaptado de: Smeltzer et al. (2010). 78 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II 4.1.4 Manifestações clínicas A história clínica da doença e o exame físico podem fornecer dados importantes sobre a sua progressão e gravidade. Entretanto, não permitem a diferenciação quanto à etiologia, que exige o uso de exames laboratoriais. As manifestações clínicas podem refletir as alterações inflamatórias do trato respiratório inferior, assim como as alterações sistêmicas. Além disso, achados específicos do exame físico podem corroborar com a definição do diagnóstico. As alterações decorrentes da reação inflamatória do trato respiratório inferior são expressas em forma de tosse, expectoração, dispneia e dor torácica. A tosse pode ser seca, como na pneumonia por micoplasma, ou com secreção. Essa secreção caracteriza‑se como espessa, amarelada, esverdeada ou sanguinolenta. A dispneia instala‑se diante de uma situação mais grave, em que muitos alvéolos estão acometidos por secreções e edema e a pressão do oxigênio no sangue cai (CORRÊA et al., 2009). A dor torácica é decorrente da tração ou inflamação de estruturas contínuas, principalmente a pleura parietal, os grandes vasos, os grandes brônquios, a traqueia e o mediastino. A lesão em pleura parietal, tecido pulmonar e brônquios intra‑alveolares não causa dor, visto que não há receptores para essa sensação nesses locais. Geralmente a dor ocorre durante o processo de inspiração, tem início recente e nem sempre está ligada à lesão pleural direta (SANTOS, 2002). As manifestações sistêmicas são caracterizadas por confusão mental, decorrente da falta de oxigênio cerebral, calafrios, mialgias e temperatura superior a 37,8 °C. A febre é um sinal importante na detecção de processos infecciosos e as temperaturas costumam ser bastante altas, atingindo 40 °C (CORRÊA et al., 2009). No exame físico do tórax, todas as técnicas propedêuticas podem ser utilizadas na busca por achados clínicos importantes, mas são a ausculta e a percussão que trazem as principais alterações ligadas à presença da pneumonia. Na ausculta pulmonar, podem‑se encontrar a diminuição dos murmúrios vesiculares e o aparecimento de ruídos adventícios, principalmente roncos, reflexo da passagem de ar pela secreção espessa dentro dos alvéolos. Na percussão, em casos avançados de pneumonia, pode‑se identificar submacicez sobre a área afetada do pulmão (NASCIMENTO; FIGUEIREDO, 2004). A figura a seguir resume os principais achados clínicos nos pacientes acometidos por pneumonias: Alterações do trato respiratório inferior Tosse Expectoração Dor torácica Alterações sistêmicas Confusão mental Calafrios Mialgia Febre Alterações do exame físico Murmúrios vesiculares diminuídos Ruídos adventícios Submacicez Figura 16 – Achados clínicos nos pacientes portadores de pneumonias 79 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO Os achados clínicos devem ser sempre associados às alterações de exames laboratoriais e de imagem para a definição do diagnóstico e do tratamento. As radiografias de tórax mostram opacidades que refletem infiltrados e confirmam o diagnóstico. Já o hemograma, por meio da contagem de leucócitos total e diferencial, pode ajudar na identificação da etiologia da doença, visto que eles não se elevam em casos de pneumonia viral. Também é útil, principalmente, para a verificação da gravidade do acometimento da troca gasosa, para a realização da gasometria arterial e da dosagem de proteína C reativa. Além disso, é sugerida a realização da broncoscopia para coleta de material e identificação do agente infeccioso específico (NASCIMENTO;FIGUEIREDO, 2004). 4.1.5 Tratamento O tratamento para as pneumonias consiste em eliminar o agente causador e manter medidas de suporte, principalmente no que diz respeito à oxigenação, para evitar a hipóxia. Visto que a maior parte das pneumonias é causada por vírus e bactérias, discutiremos aqui o tratamento com antivirais e antibióticos. Tratamento das pneumonias bacterianas: a recomendação da antibioticoterapia nas pneumonias comunitárias depende da gravidade da doença e da necessidade de internação. Inicialmente a recomendação da Sociedade Brasileira de Pneumonia e Tisiologia (SBPT) é a antibioticoterapia empírica, com uso de medicações que agem contra os microrganismos com maior prevalência na população. A antibioticoterapia dirigida a um patógeno específico apresenta melhores resultados, mas não é possível a identificação do microrganismo no momento da decisão terapêutica. Em relação à monoterapia ou à terapia combinada, recomenda‑se o uso da segunda apenas em pneumonias bacterianas graves em curso de bacteremia e insuficiência respiratória. A figura a seguir mostra a utilização dos antibióticos empíricos nos portadores de pneumonia (CORRÊA et al., 2009): Ambulatoriais Admitidos em UTI Internados não graves Previamente hígidos Sem risco de Pseudomonas Quinolona ou betalactâmico + macrolídeo Quinolona ou betalactâmico + macrolídeo Betalactâmico + quinolona Quinolona ou betalactâmico + macrolídeo Macrolídeo Betalactâmico Doenças associadas Antibióticos (3 meses) Com risco de Pseudomonas Figura 17 – Antibioticoterapia empírica inicial segundo o nível de gravidade da pneumonia 80 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II Observação Os antibióticos utilizados no tratamento das pneumonias bacterianas estão relacionados a seguir conforme a classe a que pertencem: Quinolonas: ciprofloxacina, levofloxacina, norfloxacina. Betalactâmico: penicilina, cefalosporina, carbapemênicos, clavulanato. Macrolídeo: azitromicina, claritromicina. Tratamento das pneumonias virais: para as pneumonias virais, a conduta depende da gravidade da doença e do tipo de vírus que promoveu a infecção. O tratamento com antivirais, além das medidas de suporte, é indicado apenas em casos graves e em imunocomprometidos, após a identificação do tipo de vírus. São cinco os tipos de antivirais possíveis: amantadina, rimantadina, zanamivir, oseltamivir e ribavirina. A escolha deles depende do resultado dos testes de diagnóstico para vírus (quadro a seguir) (FIGUEIREDO, 2008). Quadro 18 – Indicação de antivirais segundo o tipo de vírus causador da pneumonia Tipo de vírus Antiviral Influenza A e B amantadina e rimantadina RSV zanamivir e oseltamivir Parainflueza ribavirina Adenovírus ribavirina e ciclofovir Adaptado de: Figueiredo (2008). O isolamento respiratório é indicado para pacientes infectados por vírus epidêmicos e que causam pneumonias graves. 4.1.6 Assistência de enfermagem Para o planejamento da assistência de enfermagem aos portadores de pneumonias, devem ser realizados a avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento clínico para elaboração dos DEs. Os DEs que aparecem com maior frequência em portadores de pneumonia estão listados a seguir com as suas respectivas definições, baseadas na classificação proposta por Nanda‑I (2015). Outros DEs podem ser identificados nesses pacientes dependendo da gravidade da doença e dos sinais e sintomas encontrados. 81 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO • Desobstrução ineficaz de vias aéreas: incapacidade de eliminar secreções ou obstruções do trato respiratório para manter a via aérea desobstruída. • Dor aguda: experiência sensorial e emocional desagradável, que surge de lesão tissular potencial ou real ou descrita em termos de tal lesão e com duração de menos de seis meses. • Hipertermia: temperatura corporal elevada acima dos parâmetros normais. O quadro a seguir mostra os principais DEs identificados em pessoas portadoras de pneumonia, suas características definidoras e fatores relacionados. Quadro 19 – DEs frequentes em portadores de pneumonia Diagnósticos de enfermagem (DEs) Características definidoras/fatores de risco Fatores relacionados Desobstrução ineficaz de vias aéreas Agitação Dispneia Expectoração Mudanças no ritmo e frequência da respiração Ruídos adventícios respiratórios Sons respiratórios diminuídos Tosse ineficaz Infecção Secreção retida Exsudato nos alvéolos Hipertermia Aumento da temperatura corporal Calor ao toque Taquipneia Infecção Dor aguda Autorrelato da intensidade da dor usando escala padronizada de dor Autorrelato da característica usando escala padronizada de dor Expressão facial de dor Mudanças nos parâmetros fisiológicos Agente lesivo biológico A partir dos DEs mais comuns aos portadores de pneumonia, foram elaboradas as intervenções de enfermagem necessárias, baseadas na classificação proposta pela NIC (BULECHEK et al., 2016). Quadro 20 – Relação entre DEs, intervenções e atividades de enfermagem aos pacientes portadores de pneumonia DE: Desobstrução ineficaz de vias aéreas Intervenção Atividades Controle de vias aéreas: facilitação da permeabilidade à passagem do ar Posicionar o paciente de modo a maximizar o potencial ventilatório Remover as secreções por meio do estímulo à tosse ou aspiração orotraqueal Estimular respiração lenta e profunda, mudança de posição e tosse Orientar como tossir efetivamente Auscultar sons respiratórios Regular a ingestão de líquidos para manter o equilíbrio hídrico 82 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II Intervenção Atividades Monitoração respiratória: coleta e análise de dados de pacientes para assegurar a perviedade das vias aéreas e troca gasosa adequada Monitorar frequência, ritmo, profundidade e esforço das respirações Observar movimentos torácicos notando a simetria, a utilização de musculatura acessória e a retração da musculatura supraclavicular e intercostal Monitorar saturação de oxigênio em pacientes de alto risco Palpar para verificar expansão pulmonar simétrica Monitorar quanto à fadiga muscular diafragmática Auscultar sons respiratórios Determinar a necessidade de aspiração após ausculta Auscultar os sons pulmonares após tratamentos Monitorar quanto a agitação e inquietação Monitorar secreções respiratórias Monitorar quanto à dispneia DE: Dor aguda Intervenção Atividades Controle da dor: alívio da dor ou redução da dor até um nível de conforto que seja aceitável para o paciente Avaliar a dor quanto a sua localização, características, início/duração, frequência, qualidade e intensidade Observar presença de expressões não verbais de dor Verificar fatores que melhoram ou pioram a dor Determinar uma frequência de avaliação da dor Reduzir ou eliminar fatores que propiciem o aumento da dor DE: Hipertermia Tratamento da febre: controle dos sintomas e estados relacionados associados ao aumento da temperatura corporal, mediados por pirógenos endógenos Monitorar a temperatura e os outros sinais vitais Monitorar a coloração da pele Estimular a ingesta hídrica Estimular o descanso Aumentar a circulação de ar Monitorar complicações relativas à febre Umedecer lábios ressecados e mucosa nasal 4.2 Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) A DPOC é definida como uma limitação do fluxo de ar nas vias aéreas que não é totalmente reversível. É considerada progressiva e está relacionada com uma reação inflamatória anormal dos pulmões à inalação de gases tóxicos. Essa reação inflamatória crônica pode levar a alterações nos brônquios, bronquíolos e parênquima pulmonar (SBPT, 2004). A doença foi considerada a quarta causa de óbito no mundo em 2015, responsável por 3,2 milhões de mortes no mundo (WHO, 2017).Entre as cinco principais causas de morte no planeta, a DPOC foi a única doença crônica que teve sua taxa de mortalidade aumentada nos últimos anos. Acredita‑se que isso se deve ao envelhecimento da população e ao crescimento do tabagismo, principalmente entre as mulheres, que são maioria entre os atingidos pela doença (RABAHI, 2013). No Brasil, ocorreram mais de 17 mil mortes causadas por DPOC em 2015, com uma tendência crescente com o passar dos anos (BRASIL, [s.d.]). 83 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO 4.2.1 Fisiopatologia Na DPOC, há a limitação do fluxo nas vias aéreas. Essa limitação é causada por reações inflamatórias anormais dos pulmões e dos brônquios quando em contato com partículas ou gases tóxicos. A inflamação leva a alterações nos brônquios e no parênquima pulmonar, dando origem à bronquite crônica e ao enfisema pulmonar respectivamente. Essas alterações podem ocorrer separadamente ou em conjunto. Mas como reações inflamatórias podem levar à limitação do fluxo alveolar? A resposta depende da situação clínica apresentada pelo paciente (figura a seguir). Bronquite crônica: quando os repetidos processos inflamatórios ocorrem nos brônquios, o organismo tenta, a cada inflamação, reparar o dano causado ao tecido. Esses processos geram tecidos de cicatrização que estreitam a luz da via aérea. Além disso, a irritação constante dos brônquios por poluentes ambientais leva ao aumento da produção de muco e à diminuição da atividade ciliar. Resumindo, as paredes brônquicas ficam espessadas, estreitam a luz do brônquio, que já está cheio de muco, dificultando ainda mais a passagem do fluxo de ar (SMELTZER et al., 2010). Enfisema pulmonar: já no enfisema pulmonar, as inflamações repetidas levam a lesões que comprometem o bronquíolo terminal, tanto pela dilatação quanto pela lesão da parede alveolar. A destruição dos alvéolos causa uma redução da área de troca gasosa, aumentando o espaço morto, o que leva à diminuição da pressão de oxigênio no sangue. Nos estágios mais graves da doença, a eliminação de dióxido de carbono também é reduzida, gerando hipercapnia. A diminuição da área de contato entre os capilares pulmonares e os alvéolos faz com que o fluxo sanguíneo gerado pela artéria pulmonar cresça e aumente o trabalho do ventrículo direito, contribuindo para futura instalação de uma insuficiência cardíaca direita (SMELTZER et al., 2010). Reações inflamatórias repetidas Brônquios Processo de cicatrização Estreitamento da via aérea Aumento do muco Aumento do espaço morto Hipóxia e hipercapnia Aumento do fluxo de sangue IC direita Parênquima Figura 18 – Fisiopatologia da DPOC 84 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II 4.2.2 Fatores de risco Visto que a fisiopatologia da DPOC envolve a inflamação exacerbada das vias aéreas diante dos elementos tóxicos do ar, os indivíduos expostos a essas substâncias apresentam maior risco de desenvolvimento da doença. Assim, o principal fator de risco para a DPOC é o tabagismo. Além dele, outros fatores externos podem precipitar o desenvolvimento dos sintomas: fumaça de lenha, irritantes químicos, poeira ocupacional, doenças respiratórias graves na infância e condição socioeconômica. O contato com os componentes do cigarro, de forma passiva ou ativa, além de exacerbar a reação inflamatória das vias aéreas e contribuir para o estreitamento delas, também diminui a atividade ciliar dos tecidos, atividade que protege os brônquios, os bronquíolos e o parênquima pulmonar do contato com outras substâncias irritantes. Assim, entende‑se o quão grande é a participação do tabagismo no aparecimento e desenvolvimento da DPOC (SMELTZER et al., 2010). Saiba mais Para saber mais sobre a relação entre o tabagismo e a DPOC, leia: MEIRELLES, R. H. S. Tabagismo e DPOC – dependência e doença – fato consumado. Pulmão RJ, v. 1, n. 1, p. 13‑19, 2009. Já os fatores individuais que podem facilitar o aparecimento da doença são: deficiência de enzimas envolvidas no processo de proteção alveolar contra lesões, hiper‑responsividade brônquica, desnutrição e prematuridade. Quadro 21 – Fatores de risco para o desenvolvimento da DPOC Fatores externos Fatores individuais Tabagismo Poeira ocupacional Irritantes químicos Fumaça de lenha Doenças respiratórias graves na infância Condição socioeconômica Deficiência das enzimas protetoras do parênquima pulmonar Hiper‑responsividade brônquica Desnutrição Prematuridade Adaptado de: SBPT (2004). 85 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO 4.2.3 Manifestações clínicas Os principais sinais e sintomas apresentados pelos portadores de DPOC são: tosse, secreção, dispneia e sibilos à ausculta pulmonar. Além disso, o tórax em forma de barril é comum em pacientes que tem enfisema pulmonar. • Tosse: o acúmulo de secreção nas vias aéreas inferiores promove um estímulo natural do organismo para a sua eliminação. A tosse é mais frequente pela manhã e é acompanhada de expectoração de secreção (JARDIM; PINHEIRO; OLIVEIRA, 2009). • Secreção: é resultado da reação inflamatória exacerbada das vias aéreas inferiores combinada com a secreção aumentada de muco. Tem característica mucoide e fluida. O aparecimento de secreção amarelo‑escura ou esverdeada e espessa indica a instalação de infecção no processo inflamatório (JARDIM; PINHEIRO; OLIVEIRA, 2009). • Dispneia: consequência da queda da pressão de oxigênio no sangue, advinda da troca gasosa diminuída. Inicia‑se aos mínimos esforços e tem piora progressiva. Deve ser sempre graduada por uma escala específica. A SBPT sugere a escala proposta pela Medical Research Council (FERRER, 1997): Quadro 22 Índice de dispneia modificado do Medical Research Council 0‑Tenho falta de ar ao realizar exercício intenso. 1‑Tenho falta de ar quando apresso o meu passo, ou subo escadas ou ladeira. 2‑Preciso parar algumas vezes quando ando no meu passo, ou ando mais devagar que outras pessoas de minha idade. 3‑Preciso parar muitas vezes devido à falta de ar quando ando perto de 100 metros, ou poucos minutos de caminhada no plano. 4‑Sinto tanta falta de ar que não saio de casa, ou preciso de ajuda para me vestir ou tomar banho sozinho. • Alterações na ausculta pulmonar: a ausculta do tórax nesses pacientes permite ouvir murmúrios vesiculares presentes com fase expiratória mais longa em virtude da força realizada pelo indivíduo para empurrar o ar para fora. O ruído adventício presente é o sibilo, resultado da passagem do ar por vias aéreas mais estreitas (JARDIM; PINHEIRO; OLIVEIRA, 2009). • Tórax em barril: apresentado por pacientes portadores de enfisema pulmonar. Nessa condição clínica, a entrada de ar é facilitada, visto que o esforço produzido pela inspiração permite a dilatação da via aérea. Entretanto, o movimento de expiração, que normalmente é passivo, passa a necessitar de um movimento ativo que empurre o ar para fora. Assim, em posição de repouso, mantém‑se hiperinsuflação pulmonar. Com isso, a musculatura do tórax torna‑se endurecida e os arcos costais fixos perdem a movimentação, mantendo‑se fixos e promovendo a forma de barril ao tórax (SMELTZER et al., 2010). 86 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II O emagrecimento também pode ocorrer na DPOC, visto que a dispneia frequente diminui o apetite e dificulta a deglutição. 4.2.4 Tratamento O tratamento medicamentoso para pessoas com DPOC é composto de broncodilatadores, corticoides inalatórios e sistêmicos, N‑acetilcisteína e oxigênio. O quadro a seguir mostra os fármacos usados para o tratamento da DPOC, sua ação e sua recomendação de utilização segundo a SBPT: Quadro 23 – Medicamentos utilizados para o tratamento da DPOC Classe de medicamentosAção Recomendações Broncodiladores: antagonista de beta‑2, anticolinérgicos e xantinas Aumentam o diâmetro da via aérea Indicado para todos os pacientes com DPOC Via de preferência: inalatória As xantinas devem ser a última opção nessa classe de medicamentos Corticoides inalatórios Diminuem a reação inflamatória instalada na via aérea Indicado em pacientes que apresentaram duas ou mais exacerbações da DPOC no ano anterior, que necessitaram de corticoide oral ou antibioticoterapia Corticoides sistêmicos Diminuem a reação inflamatória instalada na via aérea Indicados apenas quando há exacerbação da doença N‑acetilcisteína Reduz o estresse oxidativo Não há respaldo na literatura para o uso na DPOC estável. Pode ser usada em pacientes graves e com exacerbações frequentes Oxigênio Aumenta a saturação de oxigênio no sangue PaO2* ≤ 55 mmHg ou saturação ≤ 88% em repouso PaO2* entre 56 e 59 mmHg com evidências de hipertensão pulmonar ou policitemia *PaO2 = pressão arterial de oxigênio A vacinação também é indicada aos indivíduos portadores de DPOC, visto que previne a instalação de doenças que podem exacerbar seus sinais e sintomas. É recomendado o uso das vacinas anti‑influenza e antipneumocócica. A vacina anti‑Haemophilus influenzae não é indicada nesse caso. A vacina anti‑influenza deve ser administrada anualmente em virtude da mudança da cepa causadora da doença (SBPT, 2004). 4.2.5 Assistência de enfermagem Para o planejamento da assistência de enfermagem aos portadores de DPOC, devem ser realizados a avaliação dos sinais e sintomas, a identificação dos problemas de enfermagem e o julgamento clínico para elaboração dos DEs. Os DEs que aparecem com maior frequência em portadores de DPOC estão listados a seguir com as suas respectivas definições, baseadas na classificação proposta por Nanda‑I (2015). Outros 87 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO DEs podem ser identificados nesses pacientes, dependendo da gravidade da doença e dos sinais e sintomas encontrados. • Troca de gases prejudicada: excesso ou deficit na oxigenação e/ou eliminação de dióxido de carbono na membrana alvéolo‑capilar. • Intolerância à atividade: energia fisiológica ou psicológica insuficiente para suportar ou completar as atividades diárias requeridas ou desejadas. • Padrão respiratório ineficaz: inspiração e/ou expiração que não proporciona ventilação adequada. O quadro a seguir mostra cada um dos DEs mais comuns na DPOC, com as suas características definidoras e os seus fatores relacionados. Quadro 24 – DEs mais comuns aos pacientes portadores de DPOC, com suas respectivas características definidoras ou fatores de risco e seus fatores relacionados Diagnósticos de enfermagem (DEs) Características definidoras/ fatores de risco Fatores relacionados Intolerância à atividade Desconforto aos esforços, dispneia aos esforços, fadiga Desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio. Troca de gases prejudicada Cor da pele anormal, dispneia, gases sanguíneos arteriais anormais, hipercapnia, hipoxemia, padrão respiratório anormal Desequilíbrio na relação ventilação‑perfusão Padrão respiratório ineficaz Diâmetro anteroposterior do tórax aumentado, fase de expiração prolongada, padrão respiratório anormal, uso da musculatura acessória para respirar Fadiga da musculatura respiratória A partir dos DEs mais comuns aos portadores de DPOC, foram elaboradas as intervenções de enfermagem necessárias, baseadas na classificação proposta pela NIC (BULECHEK et al., 2016): Quadro 25 – Relação entre DEs, intervenções e atividades de enfermagem aos pacientes portadores de DPOC DE: Padrão respiratório ineficaz Intervenção Atividades Controle de vias aéreas: facilitação da permeabilidade à passagem do ar Posicionar o paciente de modo a maximizar o potencial ventilatório Remover as secreções por meio do estímulo à tosse ou aspiração orotraqueal Estimular respiração lenta e profunda, mudança de posição e tosse Orientar como tossir efetivamente Auscultar sons respiratórios Treinamento para a respiração diafragmática 88 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II Intervenção Atividades Monitoração respiratória: coleta e análise de dados de pacientes para assegurar a perviedade das vias aéreas e troca gasosa adequada Monitorar frequência, ritmo, profundidade e esforço das respirações Observar movimentos torácicos, notando a simetria, a utilização de musculatura acessória e a retração da musculatura supraclavicular e intercostal Monitorar saturação de oxigênio em pacientes de alto risco Palpar para verificar expansão pulmonar simétrica Monitorar quanto à fadiga muscular diafragmática Auscultar sons respiratórios Determinar a necessidade de aspiração após ausculta Auscultar os sons pulmonares após tratamentos Monitorar quanto a agitação e inquietação Monitorar secreções respiratórias Monitorar quanto à dispneia DE: Troca de gases prejudicada Intervenção Atividades Monitoração ácido‑básica: coleta e análise de dados do paciente para regular o equilíbrio ácido‑básico Observação: as duas intervenções propostas para o DE Padrão respiratório ineficaz também podem ser selecionadas para pacientes com este DE. Obter amostra solicitada para análise laboratorial do equilíbrio ácido básico (gasometria arterial) Observar a tendência do nível de PaCO2 Monitorar os sinais e sintomas do excesso no nível de PaCO2: tremor das mãos, confusão, sonolência, cefaleia, diminuição da resposta verbal, náuseas, vômitos, taquicardia, extremidades quentes e sudoreicas. DE: Intolerância à atividade Intervenção Atividades Assistência no autocuidado Atentar à cultura e à idade do paciente ao propiciar auxílio no autocuidado Verificar a necessidade do paciente de dispositivos para o auxílio na higiene pessoal, vestir‑se, arrumar‑se, realizar higiene íntima e alimentar‑se Propiciar artigos pessoais desejados Fornecer assistência até que o paciente seja capaz de realizar suas atividades por completo Ajudar o paciente na aceitação da sua dependência Encorajar a independência, mas interferir quando o paciente tiver dificuldade de desempenhar as atividades Planejar as atividades do autocuidado para ao menos uma hora após levantar‑se 4.3 Considerações sobre a adesão ao tratamento As doenças discutidas, com exceção da pneumonia, são crônicas, têm desenvolvimento progressivo e exigem diversas mudanças no estilo de vida dos indivíduos. O grande número de medicamentos prescritos, associado à necessidade de alterações de hábitos antigos e culturalmente instalados na vida de cada um, pode ter como consequência a baixa adesão ao tratamento. É difícil a compreensão da impossibilidade de cura e a manutenção do controle da doença. Diante disso, a assistência de enfermagem aos portadores de doença crônica exige um olhar para esses aspectos psicossociais que impedem uma adesão ao tratamento adequada. Não aderir ao 89 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO tratamento é uma condição imposta por uma série de fatores e o conhecimento deles pode basear o julgamento e a identificação do DE para cada paciente. Essa identificação, por sua vez, subsidia a definição das intervenções de enfermagem e as estratégias para colocá‑las em prática. Alguns DEs são mais frequentemente ligados à falta de adesão ao tratamento (NANDA‑I, 2015): Quadro 26 – Principais DEs associados à não adesão ao tratamento das doenças crônicas Diagnóstico de enfermagem (DE) Características definidoras Falta de adesão Comportamento de falta de adesão Exacerbação dos sintomas Falha em alcançar resultados Falta a compromissos agendados Comportamento de saúde propenso a risco Falha em agir de forma a prevenir problemas de saúde Falha emalcançar um ótimo senso de controle Minimização de mudanças no estado de saúde Não aceitação da mudança no estado de saúde Controle ineficaz de saúde Dificuldade com o regime prescrito Escolhas da vida diária ineficazes para atingir as metas de saúde Falha em agir para reduzir fatores de risco Falha em incluir o regime de tratamento na vida diária Manutenção ineficaz da saúde Apoio social insuficiente Ausência de comportamento de adequação e mudanças ambientais Ausência de interesse em melhorar comportamentos de saúde Padrão de ausência de comportamento de busca de saúde Esses DEs constituem sugestões para a elaboração de uma assistência de enfermagem de qualidade a pacientes portadores de doenças crônicas e que apresentam baixa adesão ao tratamento. O conhecimento do enfermeiro acerca da história de vida dos pacientes é essencial para a seleção dos DEs e futuras intervenções de enfermagem e torna‑se um diferencial para promover uma assistência de enfermagem individualizada e humanizada. Resumo São diversas as alterações do sistema cardiovascular e respiratório que atingem os indivíduos. Conhecemos as patologias que mais frequentemente atingem a população adulta e que figuram entre as principais causas de morte no Brasil e no mundo: ICO, IC, pneumonia e DPOC. Foi possível identificar a epidemiologia dessas doenças, sua fisiopatologia, seus fatores de risco, suas manifestações clínicas, seu tratamento e a assistência de enfermagem adequada a cada caso, sempre se baseando no PE como ferramenta essencial para o cuidado. 90 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 Unidade II A ICO é uma das doenças que mais acomete os brasileiros. Trata‑se da lesão do músculo cardíaco causada pela incapacidade das coronárias de suprir o miocárdio com sangue suficiente. Isso ocorre pela obstrução de uma ou mais coronárias por um trombo formado a partir da lesão de uma placa de ateroma. A principal manifestação clínica da ICO é a angina, dor típica localizada na região esquerda do tórax, com irradiação para o membro superior esquerdo. Impedir a formação e progressão do trombo e facilitar o trabalho cardíaco são as metas do tratamento para ICO. Para isso, intervenções medicamentosas e invasivas são propostas, dependendo do grau da lesão e da gravidade dos sintomas. Os principais DEs associados à ICO foram intolerância à atividade, risco de perfusão tissular cardíaca diminuída e dor aguda. Foram listadas diferentes intervenções de enfermagem possíveis, sempre ligadas à proposição do DE. Já a IC é definida como a incapacidade do coração de ejetar sangue suficiente para atender às demandas do organismo. Pode ser classificada em quatro estágios, conforme a alteração estrutural cardíaca e a capacidade funcional do indivíduo. Suas manifestações clínicas estão associadas à diminuição do débito cardíaco e ao aumento da pressão nos capilares pulmonares decorrentes do aumento das pressões nas câmaras cardíacas, a congestão pulmonar. Além disso, alterações de funcionamento das câmaras cardíacas direitas podem propiciar congestão também das veias que chegam ao coração. O tratamento pode ser não medicamentoso, com mudanças na dieta e no estilo de vida, ou medicamentoso, com o uso de fármacos que atuem no SRAA, diuréticos, vasodilatadores e digitálicos. Dois DEs estão mais frequentemente ligados à IC: débito cardíaco diminuído e volume de líquidos excessivo. As intervenções de enfermagem associadas a esses diagnósticos relacionam‑se a precauções cardíacas e ao controle hídrico. A única doença infecciosa tratada, a pneumonia, é a terceira causa de morte no mundo. Na maior parte das vezes, é decorrente de um processo iniciado com a chegada de vírus ou bactérias ao parênquima pulmonar. Desencadeia uma reação inflamatória e uma tentativa do sistema imune em eliminar o patógeno. As manifestações clínicas da doença podem ser sistêmicas e focais e resumem‑se em tosse, expectoração de secreção espessa, amarela ou esverdeada, diminuição dos murmúrios vesiculares e aparecimento de roncos na ausculta pulmonar, dispneia, febre e mialgia. A antibioticoterapia é o tratamento indicado para a doença, inicialmente empírico, tornando‑se específico para o agente causador apenas após a sua identificação. No caso de pneumonia viral, o tratamento com antivirais está restrito a casos graves e pacientes imunocomprometidos. Os principais DEs elaborados para pacientes com pneumonia foram desobstrução ineficaz de vias aéreas, dor aguda e hipotermia. Diferentes intervenções foram propostas para a evolução dos DEs considerados. 91 Re vi sã o: A lin e - Di ag ra m aç ão : M ár ci o - 07 /0 8/ 20 17 PROPEDÊUTICA E PROCESSOS DE CUIDAR DA SAÚDE DO ADULTO A DPOC é a resposta inflamatória exacerbada a elementos presentes no ar, com difícil reversibilidade. Essas inflamações repetitivas podem causar o estreitamento das vias aéreas e a destruição do parênquima pulmonar, situações que levam às duas condições clínicas da DPOC: a bronquite crônica e o enfisema pulmonar. Os principais sinais e sintomas da doença são: tosse, expectoração de grande quantidade de secreção fluida, sibilos a ausculta pulmonar, dispneia e tórax em forma de barril. O tratamento medicamentoso para a doença é composto por broncodilatadores, corticoides, n‑acetilcisteína e oxigênio. Troca gasosa prejudicada, padrão respiratório ineficaz e intolerância à atividade foram os DEs associados à patologia. As intervenções de enfermagem nesses casos estão ligadas ao controle de vias aéreas, à monitoração respiratória, à monitoração ácido‑básica e à assistência no autocuidado. Por último, foram discutidos a falta de aderência dos pacientes portadores de doenças crônicas ao tratamento, suas causas e os DEs e intervenções de enfermagem que possibilitam a abordagem dos diferentes aspectos psicossociais envolvidos na baixa adesão ao tratamento.
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