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O processo de aprendizagem vivencial semeando o desenvolvimento humano

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0 PROCESSO DE APRENDIZAGEM 
VIVENCIAL SEMEANDO O 
DESENVOLVIMENTO HUMANO
Marina Halpern-Chalom
A oscilação entre saber e não saber, o certo e o incerto, o conhecido 
e o desconhecido é uma condição natural da existência humana. Numa 
linguagem fenomenológica, diz-se que esta é fundada em um fluxo de 
alojamentos e desalojamentos c que este é um movimento inerente ao 
modo de ser do homem no mundo (Critelli, 1996).
A sociedade tecnológica contemporânea valoriza o conhecimento 
que c produzido cientificamcntc, através de métodos rigorosos, 
desconsiderando este fluxo natural do existir. Este conhecimento c 
acumulado por especialistas, estudiosos que buscam verdades universais, 
unívocas e fixas.
O homem, imerso nesta cultura, acaba tendo pouco suporte e 
modelo para lidar com sua natural oscilação, e procura as respostas 
para as suas questões fora de si, nos “profissionais competentes”. A 
singularidade fica escamoteada e emudecida em estatísticas e a 
capacidade de elaborar as experiências vividas fica prejudicada. Esta 
cisão entre a experiência vivida e a compreensão da mesma, bem como 
a falta de espaços para troca de experiências, alimentam a solidão e a 
carência de reflexibilidade, definida por Figueiredo (1996:42) como 
“uma relação de si para consigo, um auto-comprometimento do sujeito, 
implicados na conduta ética”, também comuns na sociedade atual 
(Benjamin, 1994; Schmidt, 1999; Halpern-Chalom, 2001).
38 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA:OFICINAS NA PRÁTICA
“Algumas psicologias”, neste contexto, surgem com uma proposta 
de dar lugar e voz àquilo que fica à margem na sociedade contemporânea 
(Halpern-Chalom, 2001). Digo algumas psicologias, pois, como os 
homens, são bastante heterogêneas as formas de se trabalhar e 
compreender o campo psicológico (Figueiredo, 1996). As Oficinas de 
Criatividade, tal qual as venho realizando, surgem, portanto, como 
uma estratégia que, unindo o conhecimento psicológico à possibilidade 
expressiva e criativa individual e grupai, procura promover um espaço 
para troca e elaboração de experiências em contato com o fluxo 
existencial inerente à vida.
Oficinas de criatividade: uma proposta
Tudo isso é movimento. Aragem que desconcerta a estagnação do 
dia-a-dia, do costumeiro, do já sabido, do que repete as lições que 
não ensinam.
(Machado, 2004:72)
A Oficina de Criatividade é uma proposta de trabalho vivencial, 
cm grupo, que utiliza recursos variados, visando ampliar a abertura c 
fluidez diante da existência. Metodologicamente, procura-se criar 
dinâmicas que coloquem os participantes em vivências que os mobilizem 
em torno do tema proposto, instaurem a possibilidade de emergência 
do novo e um clima de reflexibilidade. Cuida-se de que haja espaço 
para reflexão e trocas, com o objetivo de despertar os participantes 
para lembranças, sentimentos, sensações, pensamentos ou intuições que 
não costumam receber atenção na relação pessoal e na intersubjetiva. 
Desta forma, favorecem-se trocas de cada um consigo e com os outros, 
ajudando-os a desmanchar padrões repetitivos, sair do “automático” e 
acessar novas possibilidades. “Somos criados dentro de certos padrões 
e ficamos acomodados naquilo. Por isso é preciso desestruturar [...]; 
sem essa desestruturação, não surge nada de novo” (Vianna, 1990:62).
Christina M. B.Cupértino (organizadora) 39
Vivência: aprender com
Dependendo do contexto em que as Oficinas são realizadas, 
adquirem características peculiares. No âmbito de formação de 
profissionais (Cupertino, 2001), ajuda a estabelecer uma ligação entre 
a formação teórica e a prática. Oferecida como disciplina eletiva no 5° 
ano do curso de psicologia da UNIR propicia aos alunos a possibilidade 
de refletir sobre vivências e processos psicológicos a partir da 
experiência compartilhada em sala e vivida por eles. Ultrapassando a 
discussão teórica, possibilita a apropriação de um fazer psicológico 
conectado à reflexão de experiências existenciais e interpessoais, tão 
importante e necessária à prática profissional do psicólogo. Pois, como 
diz Cupertino (2001:16) “nossa prática depende, em grande medida, 
daquilo que somos, além daquilo que sabemos”.
Ao mesmo tempo, ajuda a abrir a possibilidade de instaurar uma 
atitude de abertura ao inesperado, necessária diante da singularidade 
do outro. Diferentemente do pensamento cientifico onde, como diz 
Bachelard (2000), uma nova idéia se integra em um corpo de idéias já 
aceitas, ainda que para promover um remanejamento grande. No 
trabalho com o outro e nas oficinas, a disposição é de poder lidar com 
o que é imprevisível para nós mesmos e para os outros, morada muitas 
vezes inóspita, porém comum no trabalho psicológico.
A intenção é fomentar um modelo de aprendizagem que 
ultrapasse a reprodução de conceitos que, para Bachelard (2000:88), 
desindividualizam conhecimentos vividos ao categorizar e classificar. 
“Para cada conceito há uma gaveta no móvel das categorias. O conceito 
é um pensamento morto, já que é, por definição, pensamento 
classificado”. A aprendizagem pode ameaçar a criatividade e 
crescimento, se chegar cheia de explicações e pronta, ou manter-se 
cheia de vida, se interagir com a experiência do aprendiz e transformá- 
lo (Halpern-Chalom, 2001), possibilitando a ele aprender “com” ao 
invés dc aprender “sobre” (Cupertino, 2001).
Benjamin (1994) apresenta dois conceitos de história: o 
materialismo histórico e o historicismo, que permitem refletir sobre 
diferentes formas de se apropriar de experiências. O primeiro traz uma 
forma do homem se relacionar com a história procurando apropriar-se 
dela e presentificá-la, fazendo do passado uma experiência única, 
40 ESPAÇOS DE CRIAÇÃO EM PSICOLOGIA: OFICINAS NA PRÁTICA
fechada em significados já definidos e explicados. O historicismo, por 
sua vez, entra em contato com a história como um tempo saturado de 
“agoras”, inesgotavelmente pleno de significados a serem visitados. Neste 
sentido, o historicista aproxima-se da história deixando-se tocar pela 
experiência que transcende os fatos objetivos e verificáveis, aproximando- 
se do fluxo existencial. Enquanto o historicismo prima por caminhar 
por dentro do ouvinte ou pelos fatos históricos por onde houver brechas, 
possibilitando aprender com, o materialismo histórico, como as 
informações, só permitem aprender sobre, ao chegar explicado e 
“endereçado”, com um trajeto definido de partida e chegada.
AS ATIVIDADES
Visando facilitar a aprendizagem a partir da experiência, são 
definidos temas que visam remeter os participantes a se perceberem 
afctivamcntc cm questões como auto-imagcm, identidade, preferências, 
escolhas, história de vida, dentre outras. O que construíram e o que 
podem construir; o que sentem que receberam e o que gostariam de 
deixar para os outros; o que podem mudar na própria vida e história e 
o que não podem; o que valorizam e o que escolhem; como sc vêem c 
como são vistos pelo outro, são alguns dos temas trabalhados, que 
promovem com que eles olhem para si e visitem memórias, sentimentos, 
percepções e compreensões. Pretendem promover com que saiam dos 
lugares conhecidos ou impressões pouco elaboradas e debrucem-se sobre 
as próprias concepções, olhando-as novamente, de forma nova e singular. 
Machado (2004:88) fala da posição de flexibilidade imaginativa como 
uma “disposição interna para encontrar algo que poderá ser” e que 
instiga a sair do lugar conhecido c poder olhar de forma flexível, 
investigativa, experimentando diferentes pontos de vista.
Com o intuito de ampliar o alcance do olhar ao propiciar 
aproximações diferentes das habituais do que é focalizado, usam-se 
recursos facilitadores da expressão e da elaboração simbólica. Como o 
próprio nome diz, são recursos que ajudam na expressão, 
compartilhamento e elaboração simbólica individual e grupai. 
Elaboração simbólica é entendida como um 
Christina M. B. Cupertino (organizadora) 4 I
processo contínuo e dinâmico de simbolização que envolve a 
consciência, simultaneamenteabalando sua estabilidade e 
despertando-a para novas possibilidades de ampliação. A 
consciência por um lado sofre este processo e a ele se adequa, e 
por outro, tem uma participação ativa, ao interagir e mesmo 
suscitar novos símbolos. Estes podem se apresentar como 
imagens, significados, emoções, percepções sensoriais, idéias 
ou reflexões. A elaboração simbólica implica em relacionar e 
conter numa totalidade diferentes aspectos da vivência. 
(Halpern-Chalom, M. e Freitas, L. V, no prelo).
Usando-se esses recursos, os participantes são convidados a 
reconhecer e apresentar a sua forma de estar e compreender o mundo, 
bem como a se relacionar com as apresentações feitas pelos colegas.
Uma estratégia adotada é criar atividades que promovam 
estranhamento diante da consigna. Pedir que eles se apresentem fazendo 
um anúncio sobre si através do recorte e colagem de figuras de revistas 
ou pedir que façam um gráfico de suas vidas são exemplos disto. O 
objetivo é suscitar aproximações diferentes das habituais dos temas 
trabalhados. Um comentário comumente feito pelos participantes “como 
eu vou fazer isso?” é um bom indicativo de que um novo trajeto de 
reflexão terá que ser “construído” para que a atividade possa ser 
executada. O tema acaba sendo olhado a partir de novas perspectivas.
Tomando o exemplo de uma atividade de auto-apresentação, os 
participantes são convidados a fazerem um anuncio de si. Devem escolher 
figuras cm revistas, colá-las numa cartolina c dar um título para o anúncio. 
Deparam-se com a necessidade de eleger o que colocar no cartaz.
Evidencia-se:
1. A multiplicidade constituinte da identidade: o que apresentar?
2. Uma reflexão sobre a auto-imagem: como me vejo? Como 
desejo ser visto? Qual faceta apresentarei ao grupo cm 
questão, naquele contexto, para os outros c para mim?
3. A complexidade da comunicação: como apresentar o que 
desejo?
São muitas as questões que se colocam diante da proposta 
realizada, pois expressar algo é um processo que requer um exercício 
42 ESPAÇOS DE CRIAÇÀO EM PSICOLOGIA: OFICINAS NA PRÁTICA
de escolha, uma vez que toda expressão ao mesmo tempo em que é um 
recorte do todo e, portanto, incompleta, é um aspecto do mesmo, que 
permite uma aproximação e troca. Trata-se de um processo dinâmico, 
que vai se construindo e se transformando na medida em que é trilhado, 
sendo que o caminho que se faz entre a partida e a chegada, não é 
linear. Segundo Bachelard (2000:8), “a imagem toma-se um ser novo 
da nossa linguagem, expressa-nos tomando-nos aquilo que ela expressa
- noutras palavras, ela é ao mesmo tempo um devir de expressão e um 
devir do nosso ser. Aqui a expressão cria o ser”. O resultado final integra 
as habilidades manuais com um extenso trabalho de elaboração e 
criação. Neves (2004) faz uma reflexão sobre formas na dança, resultado 
de posturas repetidas e copiadas, desconectadas das imagens mentais e 
sensações que as constituem e propõe uma reconexão com a necessidade 
que está na raiz do movimento. A proposta das oficinas, como a entendo, 
tem este mesmo propósito de conexão, e as produções não repetem 
nenhum padrão conhecido, pelo contrário, promovem uma integração.
Durante o trabalho dc confecção dos anúncios, o autor do trabalho
- se estiver genuinamente envolvido com o mesmo - passa por um 
processo de autoconhecimento. Critelli (1996), refletindo sobre o processo 
de conhecer próprio do contato entre o homem e o mundo, ao qual ela 
chama de movimento de realização, apresenta 5 passos, dos quais os 
primeiros três é possível acompanharmos nos participantes das Oficinas:
1. desvelamento - quando algo é tirado do seu ocultamento por 
alguém;
2. revelação - quando o desocultado é acolhido e expresso através 
de uma linguagem;
3. testemunhado - quando o linguageado é visto e ouvido por 
outros.
4. veracizado - quando o reconhecido é referendado como 
verdadeiro por sua relevância pública;
5. autenticado - quando, por fim, esse algo é efetivado em sua 
consistência através da vivência afetiva e singular dos 
indivíduos.
Os dois últimos passos referem-se ao conhecimento que é 
produzido socialmente, sendo que, depois de testemunhado, ele é 
veracizado - referendado como verdadeiro por sua relevância pública
44 ESPAÇOS DE CRIAÇÀO EM PSICOLOGIA: OFICINAS NA PRÁTICA
Depois, o autor dos trabalhos se apresenta e compartilha aquilo 
que procurou “anunciar” sobre si e, para finalizar, cada um fala como 
foi realizar a atividade. Como lidam com isto é discutido entre os 
participantes que vão criando um continente, no qual o trabalho vai ser 
compreendido e seguir com as atividades que serão desenvolvidas nos 
encontros seguintes.
A consciência vai sendo ampliada, vai agregando novas 
comprccnsõcs, tanto no momento individual - confecção dos cartazes 
- quanto no grupai - compreensão c compartilhamento das impressões 
sobre os cartazes e sobre a experiência vivida.
A palavra tem um papel importante ao permitir nomear o vivido 
e “enfatizar, reincidir sobre o já expresso [...] mas de uma maneira 
nova” (Freitas, 1995:163). Ao mesmo tempo, convidar os participantes 
a falar sobre as produções, o que é feito em diferentes momentos e de 
formas variadas, vai propiciando uma reflexão sobre a experiência. 
Segundo Schmidt (1990:1), “a reflexão opera sobre a vivência como o 
artífice sobre o diamante bruto (...) elaborando aquilo que vivemos, 
vemos ou ouvimos, correlacionando dados diversos obtidos na trajetória 
de nossas vidas, a reflexão cria elos de sentido”.
Ver-se; ser visto; rever-se; ver os outros; ver-se vendo e ver os 
outros sendo vistos; vcr-sc com e cm grupo. No processo com as oficinas, 
dá-se um movimento de retro-alimentação entre ouvir-se, comunicar e 
ouvir. Os participantes vão se percebendo na trama de relações que 
estabelecem na sua interação com o mundo e com isto, novas 
perspectivas se abrem. Múltiplas são as possibilidades.
Outras oficinas dão seqüência a esta, nas quais outros recursos 
facilitadores da expressão como recursos plásticos, dramáticos, 
corporais, dentre outros, são utilizados, sempre seguidos de troca acerca 
do que foi vivido por cada um. Compartilhar é um recurso facilitador 
da elaboração simbólica, que tem se mostrado bastante importante.
Trocas no grupo: a palavra circula
Para essa aventura meus mapas não lhe bastam. Todos os 
diplomas são inúteis. E inútil todo o saber aprendido. Você terá 
que navegar dispondo de uma coisa apenas: os seus sonhos. Os 
sonhos são os mapas dos navegantes que procuram novos 
Christina M. B. Cupertino (organizadora) 43
e, posteriormente autenticado - efetivado em sua consistência, através 
da vivência afetiva e singular dos indivíduos.
Durante as oficinas, depois do processo de escolha do que será 
apresentado a partir do contato do participante com o tema - 
desvelamento - e depois das produções feitas - revelação - chega o 
momento de compartilhá-las, quando elas são testemunhadas.
As produções são apresentadas ao grupo sem a divulgação do 
seu autor. Diante de cada uma delas, os participantes são convidados a 
se deixarem “tocar” e atentarem para os sentimentos, emoções, 
pensamentos ou impressões que estas despertam. Subseqüentemente, 
para notarem o que recebeu destaque no cartaz, o jogo de cores, como 
as informações foram dispostas no papel. Trabalha-se procurando 
discriminar sentimentos e percepções, impressões e julgamentos que 
fazemos automaticamente diante de um estímulo e, de uma forma mais 
ampla, procurando discriminar as experiências. Arnheim (1996) diz 
que o que as obras de arte criam - e eu amplio para os mais diversos 
tipos de expressão - são experiências.
Estas consignas sugerem perspectivas para o olhar sair do padrão 
conhecido c poder vislumbrar além do habitual. E deixado um tempo 
para que um sentido se construa para cada um ou, como disse Cupertino 
(2001), mantém-se um estado de suspensão para não se cair na tentação 
de um nomear precipitado, que devolvería o estranho para a segurança 
do conhecido. Destaforma, é possível aprender com.
O espaço para falar sobre estas impressões é aberto. Cada 
participante fala o que está vendo no cartaz e o que lhe parece que o 
seu autor quis comunicar. Em alguns casos, sentidos são apreendidos e 
surpreendem o seu produtor. Este percebe que algumas comunicações 
escapam à sua vontade e se fazem independente de sua intenção. Há 
trabalhos que são mais, outros menos compreendidos, conforme o 
projetado pelo seu realizador.
Na sequência, é pedido que tentem adivinhar o autor do cartaz/ 
anúncio (independente de se conhecerem anteriormente). Os 
participantes costumam olhar para os cartazes e tentam associar as 
impressões que têm das imagens ali dispostas com qualidades percebidas 
nos colegas. Quando as pessoas não se conhecem, evidenciam-se as 
impressões que evocam as aparências, maneira como cada um se veste, 
se movimenta, fala e ocupa o espaço - a comunicação não-verbal. 
Christina M. B. Cupertino (organizadora) 45
mundos. Na busca dos seus sonhos você terá que construir um 
novo saber, que eu mesmo não sei... E os seus pensamentos terão 
de ser outros, diferentes daqueles que você agora tem.
Rubem Alves (2000:85)
Nas Oficinas de Criatividade, o conhecimento é gerado a partir 
da vivência. Cada indivíduo é fundamental, na medida em que, 
dispondo-se a participar e oferecer o seu modo de ver e sentir ajuda a 
ampliar a compreensão de todos. Ao mesmo tempo, as contribuições 
individuais formam composições singulares ao serem compartilhadas, 
tecendo uma trama única, ainda que a proposta seja reproduzível. A 
partir desta composição, o grupo vai se constclando com uma identidade 
própria e singular. A atenção e o cuidado com a formação e 
desenvolvimento criativo do grupo são fundamentais para oferecer o 
suporte necessário para as diversas experiências de seus participantes, 
sendo uma das principais funções do oficineiro.
O oficineiro, como um viajante, prepara as malas, levando a 
bagagem necessária: proposta da atividade, material e o grupo, e parte 
em direção a um desconhecido destino. O que acontecer durante este 
percurso, ainda que possa acontecer em desacordo com o planejamento 
ou intenção do mesmo, faz parte do trajeto e deve ser incluído nas 
reflexões e direcionamento do trabalho. Numa atividade na qual se 
busca trabalhar a integração do grupo, os participantes mostrarem-se 
incomodados e angustiados e relatarem não terem conseguido interagir 
com os outros pode sugerir ao condutor das atividades que as mesmas 
não foram bem sucedidas. Entretanto, este deve abrir-se para acompanhar 
o rumo que elas tomarem e desapegar-se de expectativas que possa ter 
acerca das mesmas, administrando e suportando o ritmo c possibilidades 
do grupo, para que novos caminhos possam se delinear. A 
imprevisibilidade e a possibilidade de trabalhar com o que aparecer, 
sem um destino certo ao qual chegar, são próprias de qualquer trabalho 
psicológico e caracterizam a abertura necessária ao oficineiro. Aliás, o 
previsível é justamente a ocorrência de imprevistos, entremeados com 
fatos previsíveis, por ambos fazerem parte de qualquer processo. Segundo 
Halpern-Chalom (2001:36)
46 ESPAÇOS DE CRIAÇÀO EM PSICOLOGIA:OFICINAS NA PRÁTICA
em se tratando de lançar-se ao desconhecido, ao não saber, há 
algo que se mantém comum e, neste sentido, pode ser ou tomar- 
se conhecido: o próprio estar em processo. O saber-se em processo 
é o que pode vir-a-ser conhecido no desconhecido e, neste 
sentido, dar-lhe suporte.
Apesar de ser importante criar e realizar atividades que, em si, 
convidem à reflexão, a maneira como estas são conduzidas é 
fundamental para facilitar a apropriação do que foi vivido. O oficineiro 
sai do lugar de saber sobre o outro, para ajudar a facilitar que o outro 
acesse o seu próprio saber. Neste sentido, oferece um modelo de atuação 
composta por limite, abertura e acolhimento, proporcionando aos 
participantes a vivência da possibilidade de escuta do outro, a partir da 
abertura para escutar a si mesmo. Como diz Cupertino (2001:17) “o 
trabalho psicológico [...] exige do profissional um estado constante de 
atenção, simultaneamente endereçada a ouvir o outro e, ao mesmo 
tempo, a si mesmo”. Tem-se, portanto, que a condução das atividades c 
mais ampla do que o conhecimento e aplicação de técnicas. Há que 
haver abertura para acompanhar o caminho que vai se mostrando 
durante a jornada.
Considerações: o novo se apresenta
Se vou todos os dias pelo mesmo caminho, não olho para mais 
nada, não presto atenção em mim ou no ambiente. Mas se 
penetro numa rua desconhecida, começo a perceber as janelas, 
os buracos no chão, despertando para as pessoas que passam, os 
odores, os sons.
(Vianna, 1990:62)
Após apresentar e embasar alguns parâmetros da prática das 
Oficinas de Criatividade, apresentarei reflexões de participantes do 
trabalho, colhidas no final de um semestre de vivências, a partir das 
quais tecerei mais alguns comentários. Trata-se de alunos do 5o ano de 
psicologia da Universidade Paulista que, além de reflexões sobre o 
processo, representaram-no com uma imagem. A intenção é poder, de 
forma breve, apresentar alguma elaboração da experiência vivida.
Christina M.B. Cupertino (organizadora) 47
A compreensão do trabalho como um processo com altos e baixos, 
pertinentes à condição existencial humana, garante a sustentação 
necessária para suportar o trajeto. Segundo os alunos, a seqüência de 
atividades propostas foi proporcionando vivências pessoais e 
intersubjetivas, que possibilitaram a compreensão da proposta das 
oficinas. Quando há uma seqüência de atividades (independente de 
quais sejam) é possível compartilhar o fluxo natural de transformação 
que ocorre com cada um. Apropriar-se deste fluxo ajuda na aproximação 
e possibilidade de lidar melhor com o processo de elaboração da vida 
que não é previsível, como diz Chico Buarque (1967) na música Roda Viva:
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Mas eis que chega a roda viva
E carrega o destino pra lá.
O momento em que “a roda viva carrega o destino pra lá” costuma 
vir acompanhado de desorganização, por sair fora do previsto. Entretanto, 
recuperar este momento posteriormente, ver para onde este desvio de 
percurso conduziu e situá-lo de uma nova forma dentro do contexto da 
vida, permite uma outra aproximação e apropriação do momento. 
Acompanhar o processo que se passa nas oficinas a partir da seqüência 
de atividades, portanto, é poder aproximar-se do fluxo natural da 
existência, de um processo, em processo,6 desfocalizando momentos e 
percebendo-os como parte de um todo.
6. Em trabalho anterior (Halpern-Chalom, 2001) fiz uma reflexão sobre a consciência 
do processo, cm processo, como um suporte importante nos trabalhos psicológicos.
Entrar em contato com os sentimentos e lembranças de momentos 
difíceis (nos quais a roda viva carrega o destino pra lá) que estavam 
guardados, apesar de ter sido difícil num primeiro momento, trouxe 
alívio e ajudou a suavizar emoções sentidas. Uma aluna falou que era 
como se tivesse arrumado um armário, atividade que disse ter prazer 
em fazer, jogado fora coisas que já não serviam mais. Disse que foi 
como se este tivesse ficado mais organizada. Machado (1989) diz que a 
arre ajuda a ordenar as experiências e o mesmo pode ser pensado como 
fruto do trabalho com as oficinas.
48 ESPAÇOS DE CRIAÇÀO EM PSICOLOGIA: OFICINAS NA PRÁTICA
Uma outra aluna disse que uma atividade - representar a própria 
vida em um gráfico - mexeu muito com ela. Relatou ter saído 
desconfortável da atividade, mas que rever situações que a haviam 
deixado magoada fez com que conseguisse percebê-las de uma forma 
diferente. Notou que vinha reagindo a algumas pessoas e situações a 
partir deste sentimento de mágoa e que este movimento todo implicou 
em mudanças na forma de lidar nestas situações: provocou uma 
ressignificação do que fora vivido. Jordão (1999:328) diz que “através 
de flashes do passado, novas construções podem ir se estabelecendo,tendo como criativa a possibilidade de reagrupar elementos já conhecidos, 
dando-se a estes conteúdos novas formas”.
Outra analogia trazida foi com o livro “Olho Mágico”. Um aluno 
disse: Vocês já viram um livro chamado “Olho Mágico”? Ele é composto 
por figuras que se você olha, não vê nada. Você tem que desfocar o 
olhar, ficar olhando fixamente e achar a distância certa do olho. Aí, 
uma figura salta aos seus olhos e parece que dá para pegá-la. Fica 
tridimensional. Parece a mesma coisa aqui: a cada encontro eu vou 
percebendo coisas sobre mim que nunca tinha percebido.
A imagem de uma metamorfose também foi trazida, junto com a 
reflexão de que as oficinas ajudaram a colocar em movimento 
sentimentos que anos de análise ainda não haviam feito. Refletiram, a 
partir desta afirmação, que as oficinas propõem tarefas que dirigem a 
atenção para aspectos que, na maioria das vezes, não são focalizados 
por nós. A proposta de dcscstabilizar, promover estranhamentos c o 
contato com o diferente a partir de temas pré-definidos, parece ter o 
potencial criativo mencionado. Alcm disso, o uso dc recursos facilitadores 
da elaboração simbólica e da expressão ajuda a acessar o vivido por 
caminhos incomuns, ajudando a perspectivar a experiência dc maneiras 
diferentes. Cupertino (2001:214) fala das oficinas como “campo para a 
vivência das diferenças, assumindo que só há experiência onde, desde o 
início, já se constituiu uma diferença desta para com a expectativa, 
para com o conhecido”.
Outro tema que gerou reflexões foi o trabalho em grupo. 
Perceberam que as atividades afetam cada um de forma singular, porém, 
comum. Singular, pois as diferenças individuais se evidenciam nas 
diferentes histórias de vida que são, ali, divididas. Comum por 
explicitarem que, apesar das diferenças individuais, todos têm questões 
Christina M. B. Cupertino (organizadora) 49
a serem resolvidas. O encontro de singularidades e pluralidade, de pessoal 
e coletivo, ensejam um grande potencial de aprendizagem e 
desenvolvimento.
Compartilhar as vivências trouxe um sentimento de pertença e 
ajudou a sair da sensação de solidão que alguns disseram viver. Ver que 
os outros também têm suas questões e estão, cada um à sua forma, 
tentando resolvê-las, acabou levando a pensar que é possível resolver 
as próprias questões de formas diversas às que vinham fazendo.
Além disso, ouvir os outros, algumas vezes ajudou a dar contornos 
àquilo que pensavam ou sentiam, mas não haviam formulado. Isto 
ocorre, pois freqüentemente a expressão alheia traz algo que havia 
sido percebido, mas não formulado ou que não havia sido destacado 
para ser compartilhado. Por este motivo, muitas vezes, ouvir a 
contribuição do outro provoca uma reação de satisfação por esta 
complementar, surpreender ou nomear algo que havia ficado por dizer. 
Esta é uma riqueza do trabalho em grupo no qual a palavra circula, ou 
seja, é proferida por cada um dos participantes a partir de suas experiências.
Compartilhar é um recurso facilitador da elaboração simbólica. 
Recurso este que disseram que aumenta o respeito pelos outros, pois 
parar para ouvir o outro - como fizeram nas oficinas - mostrou que os 
outros têm bastante a acrescentar. Segundo Schmidt & Ostronoff 
(1999:337) “as oficinas suscitam o rompimento com estados de 
isolamento, ativam laços sociais e de comunicação, contribuindo para 
o desencadear de sentimentos de enraizamento e pertença social”.
O potencial do grupo de dar suporte para questões individuais 
também foi mencionado como significativo por uma aluna que disse 
ter se sentido acolhida quando compartilhou uma vivência difícil. Ela 
acrescentou, procurando elaborar o papel do oficineiro, ter percebido 
que o grupo deu as respostas que ela precisava. O papel do oficineiro 
foi refletido como aquele que tem o cuidado para o estabelecimento de 
um grupo com potencial criativo que, por sua vez, é capaz de cuidar de 
cada membro. O lugar do oficineiro como profissional que ajuda o 
outro a acessar o seu próprio saber, ao invés de oferecer respostas, foi 
sendo compreendido a partir da experiência.
A partir das atividades, elaboradas em um projeto com um número 
delimitado de encontros, percebe-se que um movimento criativo se 
constcla. Movimento este que instaura novas possibilidades de olhar a 
si mesmo e ao mundo, revendo visões pré-concebidas e podendo ver 
50 ESPAÇOS DE CRIAÇÀO EM PSICOLOGIA:OFICINAS NA PRÁTICA
além e reconfigurar o conhecido. Este movimento, necessário ao homem 
moderno, pode ajudá-lo a reinstaurar a auto-confiança e capacidade 
de ultrapassar momentos difíceis e disruptivos, através da aprendizagem 
da possibilidade de abertura para a vida, composta de momentos que 
se integram num todo.
O PROCESSO DE ELABORAÇÃO SIMBÓLICA SEMEANDO NOVOS CAMPOS
...Deus é um grande Intervalo, 
Mas entre quê e quê?
Entre o que digo e o que calo...
Fernando Pessoa - ele mesmo.
Num movimento em espiral, depois desta reflexão, retomo o tema 
das oficinas para olhá-lo a partir dc uma outra perspectiva: a processual.
Tem-se, portanto, um trabalho cujo suporte encontra-se no 
processo de elaboração simbólica. O objetivo é instrumentalizar os 
participantes a olhar e suportar a dinâmica dos processos existenciais 
humanos para os quais não há receitas, senão a necessidade de abertura, 
disposição, paciência e confiança de que é das trevas que se faz a luz e 
vice-versa. Experimentar isso na prática é uma estratégia de formação 
que visa resgatar nos indivíduos a condição de lidar com as suas próprias 
experiências e, em termos de aprendizagem, envolver o aprendiz como 
um todo e não somente a sua disposição intelectual.
Apesar do processo não ocorrer com todos os participantes e do 
tempo de amadurecimento desta possibilidade ser variado, para alguns 
fica plantada uma semente, enquanto para outros se mostra possível 
colher alguns frutos.
O trabalho ajuda a abrir portas para o homem moderno se inserir 
na sociedade e contribuir com a mesma a partir de um outro lugar e a 
possibilidade de ação social se abre através de sementes que possam 
germinar em outros campos.
Christina M.B. Cupertino (organizadora) 5 I
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