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Importância da Prática Profissiona

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A IMPORTÂNCIA DA PRÁTICA PROFISSIONAL DO SERVIÇO 
SOCIAL PARA A PESQUISA 
 
 
 
Maria Carolina Nascimento Silva
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RESUMO 
O artigo aborda a importância da prática profissional para a pesquisa no Serviço Social, e 
como esta ganhou seu espaço na profissão. No primeiro momento, é realizada uma descrição 
do que é a pesquisa, utilizando-se de um conceito sucinto e substancial, de uma forma que 
possibilite a compreensão sobre a existências de vários métodos, no qual é dado ênfase sobre 
o método Dialético Materialista-histórico. Em seguida, faz-se uma abordagem sobre a relação 
entre o Serviço Social e a Pesquisa, fazendo menção sobre momentos que marcaram tal 
relação. Por fim, é defendido a importância da prática profissional para a realização da 
pesquisa, levantando proeminências para o profissional se tornar mais atuante na produção do 
conhecimento para contribuir para o futuro da profissão. 
Palavras-chaves: Pesquisa. Produção do conhecimento. Serviço Social. Prática Profissional. 
 
 
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 Graduanda do curso de bacharelado em Serviço Social da Universidade Federal da Paraíba. 
E-mail: carol-m-ns@outlook.com 
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1- INTRODUÇÃO 
 
Um assunto que a alguns anos ganhou destaque no âmbito do Serviço Social foi a sua 
relação com a Pesquisa e a Produção do Conhecimento. Em vista disso, o presente trabalho 
aborda o percurso da pesquisa no Serviço Social e como esta ganhou seu espaço na profissão, 
dando ênfase a importância da prática profissional para a pesquisa e, consequentemente, para 
a produção do conhecimento. Mas concretamente, este artigo faz uma abordagem sobre a 
pesquisa evidenciando sua devida importância para a produção do conhecimento na profissão, 
partindo de um conceito geral e sucinto sobre o que é a pesquisa e o que esta objetiva. Visto 
que, a pesquisa pode fazer-se de objeto de mediação entre pesquisador e o objeto pesquisado, 
o Serviço Social pode se valer dela para uma melhor compreensão do seu objeto de 
intervenção e, com isso, possa utilizar-se do seu exercício profissional para produzir 
conhecimento através da pesquisa. 
 Consequentemente, o trabalho debate sobre a relação da profissão com a pesquisa e a 
produção do conhecimento, levantando algumas de suas principais características. A pesquisa 
pode ser considerada como algo recente no Serviço Social, pois esta só entrou nas Diretrizes 
Curriculares da formação profissional do Serviço Social em 1982, ganhando força na 
profissão após a criação da Pós-graduação na área, sendo fortalecida pela criação dos Grupos 
Temáticos de Pesquisas, o qual estabeleceu uma dinâmica que proporcionasse uma melhor 
interação entre Graduação e Pós-graduação. 
Por fim, o artigo destaca a importância da prática profissional para a pesquisa e a 
produção do conhecimento, pois, além de tornar o profissional que produz mais crítico em 
relação a realidade posta, faz com que a pesquisa realizada por este contribua para o futuro da 
profissão. Porém, o que acontece é um desinteresse pela pesquisa, por parte de alguns 
profissionais, após a desvinculação da vida acadêmica. Pois muitos julgam que a pesquisa só 
pode ser realizada no âmbito acadêmico, deixando de lado um grande aliado para eles 
realizarem a pesquisa, que é o seu objeto de intervenção. 
Sendo assim, o objetivo deste artigo é perpassar o pensamento equivocado, de muitos, 
de que a pesquisa só pode ser realizada na Academia, e fazer com que os profissionais e 
futuros profissionais percebam a importância que a prática profissional do Serviço Social 
exerce sobre a pesquisa, e com isso saibam se valer do exercício profissional para produzir 
conhecimento, facilitando assim, o seu modo de intervenção e o futuro da profissão. 
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2- A PESQUISA 
 
A pesquisa, de forma substancial, é o “‘instrumento mediador da relação sujeito-
objeto’. (SETÚBAL, 2013, p. 72) ”. A pesquisa além de produzir conhecimento, objetiva, 
também, 
[...] apreender o objeto por meio de uma elaboração do raciocínio lógico e mostrar 
quem é o pesquisador, por mais que este se esquive e procure se esconder numa 
aparente neutralidade. A relação entre sujeito e objeto é tão íntima que a atividade 
desenvolvida pelo pesquisador é reveladora do seu modo de ser como sujeito 
histórico (SETÚBAL, 2013, p.72). 
Toda pesquisa necessita de um método, pois este fornece a base de quais 
conhecimentos científicos serão utilizados na pesquisa e estabelece um rigoroso controle das 
observações. Um dos vários métodos existentes é o método Dialético Materialista-histórico, 
formulado e pensado por Karl Marx, neste a mediação se transforma em uma categoria 
central. Neste método, segundo Setúbal (2013, p.73), “Marx apreende a mediação a partir do 
seu significado histórico, social, coletivo e da sua natureza, que transcende às ações imediatas 
entre o sujeito e o objeto. ”. 
A categoria da mediação, juntamente com categoria da práxis
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 e da totalidade
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, 
auxiliam o pesquisador a desvendar o objeto estudado. A pesquisa só pode ser conceituada 
como um instrumento mediador do sujeito e objeto quando ela é vista sob a óptica práxis 
social. 
 
3- RELAÇÃO: SERVIÇO SOCIAL E PESQUISA 
 
 
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 “A Categoria de Práxis serve para denotar que o ser social é mais que trabalho, para assinalar que ele cria 
objetivações que transcendem o universo do trabalho. A práxis envolve o trabalho, que, na verdade, é o seu 
modelo – mais inclui muito mais que ele: inclui todas as objetivações humanas.” (NETTO e BRAZ, 2012, p. 55). 
 
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 “A categoria de totalidade significa (...), de um lado, que a realidade objetiva é um todo coerente em que cada 
elemento está, de uma maneira ou de outra, em relação com cada elemento e, de outro lado, que essas relações 
formam, na própria realidade objetiva, correlações concretas, conjuntos, unidades, ligados entre si de maneiras 
completamente diversas, mas sempre determinadas.” (LUKÁCS, 1967, p. 240 apud CARVALHO, 2007, p. 179). 
 
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A pesquisa em Serviço Social é um fenômeno recente. Em um primeiro momento, a 
pesquisa era realizada através de uma perspectiva tradicionalista, onde os indivíduos eram 
estudados apenas para a obtenção de dados no intuito de manter a ordem social. A pesquisa 
nesta época ainda não tinha um caráter investigativo, ou seja, nesse momento a pesquisa no 
Serviço Social não era voltada para a construção do conhecimento. Esta passou a utilizar-se 
do seu objeto de intervenção, com o caráter investigativo para produção do conhecimento, ao 
ganhar o seu espaço no mundo acadêmico. Após auferir o seu espaço na academia, a pesquisa 
se desenvolveu, com forte ênfase, durante muitos anos na Graduação, porém esta, ganhou 
destaque após os anos 1970 com a criação dos cursos de Pós-graduação. 
 A abertura da profissão de assistente social na academia favoreceu a uma busca por 
parte dos profissionais a uma qualificação mais crítica, interventiva e atuante. Em decorrência 
disso fez-se necessário a implantação de um novo Projeto Ético-Político
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 ao qual se deu num 
período de intensas transformações na sociedade, que atingiu a produção, a política, a 
economia, o Estado, dentre outros. Os condicionantes que levaram a essas transformações 
foram: a implantação da acumulação flexível e a implantação do modelo neoliberal. E o que 
permitiu a elaboração e implementação desse Projeto Ético-Político foi a condição política da 
época, a legitimação da profissão na academia e os debates sobre a formação profissional. 
Sintetizando: o novo projeto ético-político visava a construção de um novo perfil 
profissional. Pela primeira vez no Projeto Profissional do Serviço Social estava posto uma 
intrínseca relação entre Código de Ética Profissional, a Lei de Regulamentação da Profissão e 
as Diretrizes Curriculares. Nos antigos projetos a éticanunca fora um tema privilegiado, esse 
tema só veio ganhar seu espaço e preocupação acerca dele no novo projeto. Para Netto (1999, 
p. 01), é no “processo de recusa e crítica que estão as raízes de um projeto profissional 
novo.”. Doravante, a pesquisa no Serviço Social começou a ganhar novos contornos, 
principalmente, porque a partir disso a própria profissão se colocava como um objeto de 
estudo. Destarte, o Serviço Social passa a se preocupar mais com a realidade, visando a uma 
 
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 Segundo o Dicionário Aurélio, projeto significa algo que planejamos fazer/realizar. Dessa forma, o projeto 
pode indicar os anseios de uma categoria que idealiza alcançar um objetivo. Contudo, há uma diferenciação dos 
projetos societários dos projetos profissionais. Netto (1999), distingue os projetos societários dos projetos 
profissionais dando as seguintes definições: Projetos Societários: “são projetos coletivos; mas seu traço peculiar 
reside no fato de se constituírem como projetos macroscópicos, como propostas para o conjunto da sociedade. 
Somente eles apresentam esta característica [...].” E os Projetos Profissionais: “apresentam a autoimagem de uma 
profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, 
formulam os requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o 
comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com 
as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas (inclusive o Estado, a que 
cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais).” Conforme Netto, umas das diferenças mais 
marcante é que o Projeto Societário tem um caráter mais inclusivo e amplo. 
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análise mais detalhada do seu objeto de intervenção por meio dos dados coletados. E com isso 
a pesquisa passa a dinamizar com a prática profissional. 
A dimensão investigativa, ou seja, a pesquisa, atravessa todos os níveis da formação 
profissional, e se mantém numa intrínseca relação com a natureza interventiva profissional. 
Muitas vezes, quando se fala em pesquisa, logo remetemo-nos as Pós-graduações, esquecendo 
que se pode produzir conhecimento na graduação. E os GTPs (Grupos Temáticos de 
Pesquisas) foram criados, justamente, para estabelecer uma relação entre a Graduação e a Pós-
graduação para que o sentido da pesquisa não reincida numa concepção equivocada. Vale 
destacar um trecho da Revista da ABEPSS
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 (2009, p. 152) que afirma: 
Não obstante o surgimento das pós-graduações em Serviço Social ser relativamente 
recente, remontando ao ano de 1972, os anos 1980 significaram para o Serviço 
Social, conforme a feliz expressão de Iamamoto, a sua maioridade intelectual, tendo 
em vista o investimento no desenvolvimento teórico, na formação de uma 
intelectualidade que vem intervindo substantivamente na construção de 
conhecimento e no debate científico na área e áreas afins. 
Esse amadurecimento se deu devido ao reconhecimento como área de produção do 
conhecimento no campo das Ciências Sociais Aplicadas pelo CNPq (Conselho Nacional de 
Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento 
de Pessoal de Nível Superior). A partir daí, houve um adensamento cada vez maior de uma 
massa crítica e de uma categoria voltada para a pesquisa acadêmica e para a produção de 
conhecimentos. 
Apesar de ter havido um avanço significativo da pesquisa no Serviço Social, com o 
crescimento e a consolidação das Pós-graduações, houve transformações na política de 
fomento, a qual passa a atender os interesses e necessidades da política industrial brasileira, 
dando prioridade as pesquisas das ciências naturais. Sobre esse argumento Barroco (2009, 
p.137) afirma: 
Cabe, então, situar a pesquisa e o trabalho profissional, com seus limites e 
possibilidades, em face do contexto sociohistórico atual, no qual a ciência e a 
tecnologia operam como forças produtivas a serviço da reprodução do capital. 
 Porém, acredita-se que os GTPs podem ser uma solução coletiva para se contrapor 
aos critérios que não podem ser conciliados as ciências sociais e humanas. Como exposto na 
Revista da ABEPSS (2009, p.154), “[...], os GTPs constituem, sobretudo, uma estratégia de 
resistência.”. 
 
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 ABEPSS (Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social) 
6 
 
Vale ressaltar a importância da ABEPSS, a qual tem como objetivo principal formular 
e implementar estratégias que possam permitir a articulação entre a Graduação e a Pós-
graduação. A mesma define uma política de pesquisa para o Serviço Social “que priorize 
eixos, temas e abordagens, potencializando esforços e recursos que tenham em vista a 
qualificação da produção e o fortalecimento e consolidação do Serviço Social como área de 
produção do conhecimento.” (ABEPSS). A ABEPSS é responsável por preservar e 
aprofundar as conquistas da profissão, tornando a pesquisa no Serviço Social mais atuante na 
formação profissional. 
 
4- A PRÁTICA DO ASSISTENTE SOCIAL NA PRODUÇÃO DO 
CONHECIMENTO E NA PESQUISA 
 
“[...], o Serviço Social Brasileiro desenvolveu-se na pesquisa acerca de seus 
fundamentos, da natureza de sua intervenção, de seus procedimentos, de sua 
formação, de sua história e, sobretudo acerca da realidade social, política, 
econômica e cultural onde se insere como profissão na divisão social e técnica do 
trabalho. (YAZBEK, 2000, apud YAZBEK, 2005, p. 150) 
Quando falamos em Prática Profissional e Pesquisa Científica pensamos logo em 
atividades distintas a qual não podem se relacionar. E dessa forma, por muitas vezes os(as) 
Assistentes Sociais ao se desvincular da vida acadêmica, perdem o interesse pela pesquisa. 
Muitos usam o discurso da ausência de recursos, da falta de tempo para realizar a 
investigação, da falta de reconhecimento e do excesso de atribuições. Destarte, os(as) 
Assistentes Sociais recaem no equívoco de pensar a pesquisa, como algo que só pode ser 
realizado na vida acadêmica (graduações e pós-graduações), porém isto consiste em uma 
grande falha, já que, a pesquisa, sendo um objeto de mediação entre o pesquisador e o objeto 
de estudo, faz com que o Serviço Social tenha uma grande vantagem, pois este pode utilizar-
se do seu objeto de intervenção para produzir conhecimento, uma vez que a atividade 
desenvolvida na pesquisa pelo pesquisador tem suas bases calcadas na realidade histórica do 
indivíduo. Yazbek (2005, p. 156) afirma: “[...] não se faz pesquisa sem referentes, sem um 
posicionamento do sujeito que investiga face a realidade investigada [...].”
5
. Portanto, não é 
admitida a desvinculação do sujeito pesquisador da sua produção, “por se tratar de uma 
 
5
 Isto se aplica na pesquisa que não tenha bases positivistas, pois de acordo com esta corrente, o pesquisador 
pode ser neutro. E dessa forma, o pesquisador não pode interferir no objeto a ser estudado. 
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relação importante, orgânica e necessária, por conseguinte indissociável entre esses 
elementos.” (SETÚBAL, 2013, p. 48). 
O desinteresse pela pesquisa por parte de alguns profissionais é muitas vezes 
ocasionado na formação profissional, até pelo fato de que a pesquisa só começou a fazer parte 
da formação profissional a partir do currículo de 1982, implementado com o novo projeto 
ético-político da profissão. Todavia, há os profissionais que produzem/investigam, só que 
muitos veem isso como uma obrigação, e a pesquisa se torna um fardo de obrigações e 
normas. Após a criação dos GTPs, para estabelecer uma melhor relação entre a Graduação e a 
Pós-graduação, houve uma expansão de novos conhecimentos no Serviço Social, mas não 
houve uma mediação para estes serem utilizados na prática profissional;tal produção não 
estabeleceu uma relação com a profissão e nem com a intervenção. 
Porém, o que os profissionais esquecem é que, a prática profissional é de grande 
importância para a produção do conhecimento, pois, como afirma Yazbek (2005, p. 149): 
“[...] o Serviço Social é uma profissão capaz de intervir na realidade social, de forma crítica e 
criativa; de produzir conhecimentos sobre essa realidade, e sobre sua própria intervenção.” E 
ao analisarmos a história da nossa profissão vemos que, se formaram grupos críticos que 
começaram questionar a própria profissão, no qual os próprios assistentes sociais passaram a 
ser autores e atores dos processos de mudanças
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. É como assegura Juncá, Moraes e Santos 
(2010, p. 450): “Não há como não admitir, portanto, nossa responsabilidade, não só em torno 
do ser, mas também no que se refere ao vir a ser do Serviço Social.” E ao pensarmos o que o 
conhecimento representa para nós, Setúbal (2013, p 34) diz: 
[...] o conhecimento é para nós uma elaboração intelectual resultante do processo 
que ultrapassa o plano meramente sensível, pela mediação do raciocínio lógico, 
dialético e da consciência sobre a realidade do objeto observado. 
A pesquisa se torna uma grande aliada da profissão, como de acordo com Setúbal 
(2007, p.70 apud JUNCÁ, MORAES E SANTOS, 2010, P.451) esta 
[...] é um dos procedimentos teórico-metodológicos que, ao ser incorporado à prática 
profissional, poderá levar o assistente social a se reinventar, reconstruir e até 
construir um vir a ser para o Serviço Social, a partir da eliminação da consciência 
acomodada e até adormecida. 
 
6
 Os processos de mudanças tomados aqui fazem referência ao Processo de Renovação do Serviço Social, 
processo este que insurgiu dos questionamentos levantados pelos próprios profissionais do Serviço Social. Sobre 
o Processo de Renovação ver: NETTO, José Paulo. DITADURA E SERVIÇO SOCIAL: UMA ANALISE DO 
SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL PÓS-64. – 16. ed. – São Paulo: Cortez, 2011. p. 127. 
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O profissional do Serviço Social deve se valer do seu objeto de intervenção, pois “[...] 
o Serviço Social, mesmo quando desenvolve uma prática aparentemente apenas interventiva, 
está produzindo um tipo de conhecimento: um conhecimento profissional resultante da sua 
inserção em práticas concretas.” (SETÚBAL, 2013, p. 32). Nos dias atuais, o mundo com 
seus diferentes condicionantes, necessita de um profissional do Serviço Social que tenha uma 
base crítica, como Moraes (2013, p. 240) afirma, “esse profissional deve ser capaz de pensar, 
analisar, pesquisar e decifrar a realidade a partir de uma atitude investigativa que deve 
perpassar o seu cotidiano.” Onde com isto, ele objetive o presente visando contribuir para a 
“construção do futuro” da profissão. 
O Assistente Social deve produzir conhecimento do seu objeto de intervenção, pois ele 
faz parte do seu objeto de pesquisa e não está imune as mudanças que venham a ocorrer. E 
como disse Moraes (2013, p. 255): 
Essas características são fundamentais para analisar, compreender e intervir na 
realidade social. Visto que o próprio assistente social vai sofrer as incidências dessas 
transformações societárias, seja no que se refere às suas condições e relações de 
trabalho, seja em relação ao tipo de demanda e as possibilidades de respostas 
profissionais. 
O Assistente Social deve se valer do seu olhar e saber transformar o que está em volta 
em um conhecimento, pois como diz o poema de Otto Lara Resende: “De tanto ver, a gente 
banaliza o olhar — vê... não — vendo”. E se o assistente social, enquanto pesquisador, saber 
se valer de seu olhar crítico sobre a realidade, ele irá contribuir para o futuro da profissão e 
para a prática profissional. Pois seu objeto de intervenção necessita de um olhar crítico, de 
criatividade e conhecimento para saber lhe dar com ele. Muitas vezes os assistentes sociais 
banalizam seu olhar para as coisas corriqueiras, e com isso fica incapacitado de retirar do seu 
cotidiano um objeto para ser pesquisado, dado que, para muitos a experiência vale mais do 
que qualquer outra coisa. Segundo Juncá, Moraes e Santos (2010, p. 441): 
Se não há como retirar o valor da experiência empírica e do saber que pode ser 
acumulado através dos anos, uma coisa não deve ser esquecida: a experiência pode 
cegar, pode dificultar novas percepções, novas análises, novas buscas de relações, 
limitando, consequentemente, o processo de reconstrução permanente, tão 
importante para a profissão. 
É importante o assistente social saber reconhecer a importância da sua prática 
cotidiana e o lugar da experiência, mas também conhecer a importância que a pesquisa possui, 
o que a torna necessária para uma prática profissional com mais criticidade. E o assistente 
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social enquanto pesquisador pode se envolver em diversos ramos da pesquisa, como afirma 
Barroco (2009, p. 131): 
Como pesquisador, o assistente social pode se inserir em diferentes níveis de 
pesquisa, desenvolvidas em instituições acadêmicas ou não, públicas e privadas, em 
ONGs, entidades de classe, projetos nacionais e internacionais, com equipes 
multiprofissionais, investigando questões que se articulam às suas áreas de 
interesses como: saúde, habitação, meio ambiente, movimentos sociais, trabalho, 
direitos humanos etc. 
Todavia, o assistente social quando desempenha o papel de pesquisador deve tomar 
alguns cuidados, conforme determina o Código de Ética do Assistente Social, no qual de 
acordo com Barroco (2009, p. 132): 
Segundo a concepção que norteia o CE, ou seja, a perspectiva de totalidade, o 
compromisso com os participantes deve ocorrer em todo o processo de pesquisa: nos 
cuidados éticos relativos à sua inserção no processo, no acompanhamento do 
processo, na avaliação dos seus resultados e, se possível, em sua continuidade após a 
finalização da pesquisa. 
O Código de Ética do Assistente Social dá as bases dos direitos e deveres que os 
participantes e o pesquisador devem seguir na pesquisa, como Barroco (2009, p. 135) 
argumenta: “A ética profissional supõe deveres e direitos.” Os direitos e deveres, expressos 
no Código de Ética Profissional, são para a garantia de que ambos (pesquisador e 
pesquisados) não sejam prejudicados. O compromisso ético que deve haver entre o 
profissional pesquisador também é garantido ao entrevistado pelo sigilo profissional, o qual 
forma um dos pressupostos básico do Código de Ética, como Barroco (2009, p. 132) afirma, 
“os participantes da pesquisa são os sujeitos do compromisso ético-político profissional.” E os 
cuidados que o assistente social deve ter quanto ao objeto estudado é dada muitas vezes por 
sua área de interesse, pois muitas vezes 
[...] parte de suas pesquisas estão voltadas às classes e grupos sociais que pertencem 
ao universo dos usuários dos serviços sociais: uma população considerada 
vulnerável a determinadas exigências postas pela pesquisa científica, em termos 
gerais.” (BARROCO, 2009, p. 132). 
Dessa forma, com tudo o que já foi exposto, evidencia-se a necessidade do 
profissional estar ligado a pesquisa, pois este saberá utilizar-se do seu objeto de estudo nas 
suas práticas diárias. Quando há na pesquisa um pesquisador que não deixa de lado a sua 
visão profissional, se tem um pesquisador pautado na razão crítica, no qual se permite captar a 
realidade de diferentes dimensões. 
 
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS 
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É inconteste que encontramos vários obstáculos quando saímos do mundo acadêmico 
para se fazer uma pesquisa, porém, o que também é incontestável é que a nossa prática 
profissional pode nos favorecer de forma significativa para a produção do conhecimento. Um 
dos obstáculos é o falso discurso de que a prática difere da teoria, causando um bloqueio nos 
profissionais, não permitindo-os se valer do seu exercício profissional e do arsenal teóricoque 
possibilite uma melhor compreensão do seu objeto de intervenção. Com isso, os(as) 
assistentes sociais encontram dificuldades para achar um espaço para produzir, pois muitas 
vezes isso é ocasionado na formação profissional, dado que nem todos os profissionais foram 
formados em instituições que possuem o tripé da educação (Pesquisa, Ensino e Extensão). 
Ao analisarmos a história da nossa profissão, vemos o avanço que a pesquisa obteve 
na profissão, porém, não devemos negar que esta ainda tem que quebrar barreiras para 
alcançar todos os níveis da profissão, principalmente, aos profissionais desvinculados da 
Academia, que devem sentir a necessidade de pesquisar, tanto para uma melhor intervenção 
na realidade posta, quanto para a profissão. Uma vez que, a produção do conhecimento 
convirá para os demais profissionais. Nos tempos atuais, mais do que nunca precisamos 
utilizar a pesquisa em nossa prática cotidiana, é como Juncá, Moraes e Santos (2010, p. 451) 
afirmam: 
Incansavelmente falamos dos novos tempos em que vivemos e lutamos por um 
maior reconhecimento de nossa profissão. Incansavelmente também devemos 
assumir a pesquisa como elemento imprescindível ao cotidiano do Serviço Social, 
para que possamos imprimir a marca da competência a nosso exercício profissional. 
Dessa forma, quando os profissionais acrescentar ao seu exercício profissional a 
pesquisa, este se tornará um profissional mais crítico e confiante em relação ao seu objeto de 
intervenção. 
 
6- REFERÊNCIAS 
 
ABEPSS. A ABEPSS e o Fortalecimento da Pesquisa na Área de Serviço Social: a estratégia 
dos Grupos Temáticos de Pesquisa (GTPs). Temporalis. Revista da Associação Brasileira de 
Ensino e Pesquisa em Serviço Social. Brasília, ano I, n. 1, PP. 151-161, jan./jun. 2000. 
 
BARROCO, Maria Lúcia da Silva. Serviço Social e pesquisa: implicações éticas e 
enfrentamentos políticos. Temporalis, Brasília, n. 17, p. 131-142, 2009. 
 
11 
 
JUNCÁ, Denise Chrysóstomo de Moura. MORAES, Carlos Antônio de Souza. SANTOS, 
Katarine de Sá. Para quê, para quem, como? Alguns desafios do cotidiano da pesquisa em 
serviço social. Serv. Soc. Soc.[online]. 2010, n.103, pp. 433-452. 
 
MORAES, Carlos Antonio de Souza. A “viagem de volta”: ignificados da pesquisa na 
formação e prática profissional do Assistente Social. Serv. Soc. Soc.[online], São Paulo, n. 
114, p. 240-265 abr./jun. 2013 
 
NETTO, José Paulo; BRAZ, Marcelo. Economia política: uma introdução crítica. 8. ed. 
São Paulo: Editora Cortez, 2012, p. 55. 
 
SIMIONATTO, Ivete. Os desafios na pesquisa e na produção do conhecimento em Serviço 
Social. Temporalis. Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social 
– Pesquisa e Produção de Conhecimento em Serviço Social. Recife, Ed. Universitária da 
UFPE, ano 5, n. 9, p. 51- 62, jan./jun. 2005. 
 
YAZBEK, Maria Carmelita. Os caminhos para a pesquisa no Serviço Social. Temporalis. 
Revista da Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social – Pesquisa e 
Produção de Conhecimento em Serviço Social. Recife, Ed. Universitária da UFPE, ano 5, n. 
9, p. 147-159, jan./jun. 2005. 
 
Sites: 
 
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Acessado em: 30 de Janeiro de 2015. 
 
<http://www.cress-ms.org.br/historia-do-servico-social-no-brasil.html> Acessado em: 30 de 
janeiro de 2015. 
 
<http://fgh.escoladenegocios.info/revistaalumni/artigos/artigo_10.pdf> Acessado em: 30 de 
janeiro de 2015. 
 
<http://www.revistaoutubro.com.br/edicoes/15/Artigo_06.pdf> Acessado em: 30 de janeiro de 
2015. 
 
<https://puublicas.wordpress.com/2013/04/30/assistencia-ou-assistencialismo-qual-a-
diferenca/> Acessado em: 30 de janeiro de 2015. 
 
<http://cress-es.org.br/projetoetico.htm> Acessado em: 31 de janeiro de 2015. 
 
<http://www.fnepas.org.br/pdf/servico_social_saude/texto2-1.pdf> Acessado em: 05 de 
fevereiro de 2015. 
 
<http://www.tecmundo.com.br/tutorial/834-aprenda-a-usar-as-normas-da-abnt-citacao-2-de-
4-.htm> Acessado em: 06 de fevereiro de 2015. 
 
<http://www.dicionariodoaurelio.com/projeto> Acessado em: 06 de fevereiro de 2015.

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