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ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO DEZEMBRO / 2016Emergência24 ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO Emergência24 DEZEMBRO / 2016 JO R G E A LE X A N D R E | F IR E & R E S C U E G R O U P DEZEMBRO / 2016 ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO Emergência 25 VESTIMENTAS DE PROTEÇÃO Reportagem de Bruna Klassmann No cotidiano da profissão, bombeiros, brigadistas e demais profissionais de resposta à emergência empenham-se em atividades de risco, entre elas, no combate a incêndio. Esta atividade é uma das mais perigo- sas e desgastantes pela exposição a altas tempe- raturas, realização de grande esforço físico por período prolongado, sem mencionar os riscos de queimaduras e intoxicações. Para atuar no combate a incêndios, os profissionais do fo- go não podem utilizar somente os tradicionais EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) industriais. Existem, atualmente no mercado, os equipamentos específicos para serem usa- dos neste tipo de ocorrência, entre eles, estão as roupas de proteção para combate a incêndio. Falta de normas brasileiras afeta a padronização, a certificação e a qualidade do produto Uma das principais características desta roupa é ter máxima proteção e maior conforto para o profissional. Com isto, as vestimentas são con- feccionadas com tecidos especiais, pois preci- sam ser resistentes à chama e ao mesmo tem- po fornecer proteção ao calor (calor convecti- vo, calor radiante e calor de contato), proteção mecânica (proteção a rasgos, furos e cortes) e proteção química ou biológica. Além disto, devem garantir a mobilidade, a prevenção de transferência de água e de va- por, e possuir a devida respirabilidade do usu- ário, interferindo minimamente na atividade de combate a incêndio. “Tratando-se de combate a incêndio, a principal característica da roupa é que ela seja antichama, ou seja, mesmo em condições extremas de exposição ao fogo, ela não pode queimar ou propagar a chama, garan- tindo a integridade física do usuário”, salien- ta José Inácio Silva, Coordenador de Produtos da Santista. ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO DEZEMBRO / 2016Emergência26 As vestimentas para proteção contra incêndio são representadas por calças, casacos, macacões, capas, entre outras peças. “As roupas de proteção são im- prescindíveis para a atuação de bom- beiros e de brigadistas em plantas de alto risco, uma vez que, se trata do EPI mínimo para a execução das atividades de combate a incêndios”, destaca Jorge Alexandre Alves, consultor e instrutor especialista em Emergências. As roupas de proteção tiveram o seu perfil alterado nos últimos tempos. Se- gundo Marco Aurélio Rocha, especialis- ta em Segurança e Gestão de Emergên- cias, instrutor certificado NFPA 1041 e professor de pós-graduação de En- genharia de Segurança e Incêndio Flo- restal, os profissionais ao começarem a utilizar os EPI’s adequados, especifica- mente nas ocorrências de incêndios em edificações, puderam empregar uma tá- tica mais agressiva no controle aos in- cêndios. “O seu uso é recente, pois até pouco tempo o EPI utilizado no aten- dimento das ocorrências de incêndio se limitava às capas 7/8 em algumas orga- nizações de bombeiros”, destaca. O es- pecialista lembra que por um tempo as corporações realizavam o controle do fogo com a vestimenta do dia a dia, com macacões de brim 100% algodão, além dos acessórios como luvas de vaqueta, botinas de couro e capacetes de fibra de vidro. “Nesta condição não tínhamos uma proteção adequada, fazendo com que a tática de combate ficasse restrita a um ataque indireto (defensivo), fora da edificação”, ressalta Rocha. BARREIRAS Atualmente, alguns modelos de rou- pas possuem diferentes camadas para a proteção do profissional durante o combate ao incêndio, tais como: barrei- ra contra chamas (camada externa) que é o tecido que sofre o primeiro conta- to com a chama; barreira contra umi- dade (camada intermediária) que visa impedir a entrada de líquidos para a parte interna da vestimenta, permitin- do ainda a transpiração de dentro para fora para que não se produza o chama- do “estresse térmico”; e, por último, a barreira térmica (camada interna), que pode ser composta por feltros e teci- dos para fazerem a atenuação térmica final para a proteção do combatente. Como visto, é importante que as ves- timentas tenham a camada de barreira contra umidade, para que não ocorra o “estresse térmico”, uma das principais causas de acidentes com bombeiros. O gerente de Vendas para a América La- tina da DuPont, Mauro Guerra, des- creve esta situação. “Em casos em que a vestimenta protege do calor externo, mas não permite que o calor metabóli- co gerado pelo corpo do bombeiro seja eliminado, há um acúmulo de calor até o momento em que o bombeiro não su- porta mais e colapsa. O desmaio e con- fusão mental nestas situações são muito comuns e são uns dos principais fatores de preocupação durante o combate às Vestimentas são representadas por calças, casacos, macacões, entre outras peças A R Q U IV O R E V IS TA E M E R G Ê N C IA É importante que as vestimentas tenham a camada de barreira contra umidade, para que não ocorra o “estresse térmico A R Q U IV O R E V IS TA E M E R G Ê N C IA ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO DEZEMBRO / 2016Emergência28 ou capa, deixando as pernas des- protegidas. Caso sejam utilizadas somente as botas, sem as calças, estas não possuem o isolamento térmico adequado para evitar a transferência de calor para a parte interna das botas, oferecendo ain- da o risco de entrada de material quente, promovendo queimaduras nos membros inferiores”, enfatiza. Por isto, na composição dos EPIs, além de se considerar a qualida- de de material e construção, eles devem estar completos e compa- tíveis com os riscos aos quais os bombeiros e brigadistas estarão expostos. Assim como as vestimentas, os acessórios tam- bém precisam passar por cuidados e manutenções. “Após as operações, além da verificação na estru- tura principal da roupa, é importante a verificação estrutural dos acessórios, solicitando a substituição do equipamento caso haja algum sinal de dano que chamas”, comenta. Sobre isto, Rocha salienta que “cada vez mais temos es- tudos sendo direcionados para esta ver- tente, bem como avanços tecnológicos na construção de novos trajes de prote- ção que possam oferecer um equilíbrio melhor de temperatura corporal para o combatente”, comenta o especialista. A situação do “estresse térmico”, po- de se agravar em um país com tempe- raturas altas, como o Brasil, pelo fato de o profissional ter uma perda maior de líquidos no exercício da profissão. “Em dias quentes, com umidade alta e em condições de intensa atividade de trabalho haverá um aumento da tensão térmica no corpo, por isto, a fabricação, especificação e utilização correta do adequado traje de proteção para com- bate a incêndio é de vital importância para estes profissionais, quer seja para viabilizar o adequado atendimento, ga- rantir seu conforto e fornecer a devi- da proteção à sua saúde e segurança”, salienta Rocha. AMBIENTES DIFERENTES Os profissionais do fogo ao realiza- rem o combate a incêndio necessitam levar em consideração a avaliação dos PROTEÇÃO COMPLETA Para a resistência dos combatentes no incên- dio, os profissionais devem estar utilizando além da roupa de proteção, todos os demais EPI’s e EPR’s (Equipamentos de Proteção Respiratória) adequa- dos para a atuação nas ocorrências. Isto se refere aos acessórios de proteção, como luvas especiais, balaclava, capacete, botas de combate a incêndio, entre outros. “As características de construção e resistência ao calor ou fogo destes equipamentos devem ser individuais (por equipamento), porém a utilização destes equipamentos deve ser em con- junto”, destaca Jorge Alexandre Alves, consultor e instrutor especialista em Emergências. O espe- cialista salienta exemplosde equipamentos que se completam na hora da atuação contra o fogo. “Por exemplo, o capacete de incêndio deve sem- pre ser utilizado com a balaclava, porque somente o capacete não oferece o isolamento de proteção térmica adequada para a exposição do bombeiro no incêndio, assim como botas e calças devem sempre ser utilizadas em conjunto. É prática co- mum a falta de calças e o uso somente de jaqueta diminua seus desempenhos”, finaliza o major Adria- no Martins, chefe da Divisão de Execução Finan- ceira do Corpo de Bombeiros de São Paulo e co- ordenador da Comissão de Estudos de Vestimenta de Segurança para Combate a Incêndio da ABNT/ CB32 (Comitê Brasileiro de Equipamentos de Pro- teção Individual). JO R G E A LE X A N D R E | F IR E & R E S C U E G R O U P Roupas e acessórios se completam na atuação contra o fogo riscos locais de exposição para a con- figuração da vestimenta. Neste tipo de ocorrência, o bombeiro e brigadista podem sofrer com as chamas, vapor, quedas de partes da estrutura, telhas, lí- quidos aquecidos, objetos pontiagudos, gases tóxicos provenientes da combus- tão, entre outros, dependendo do local em atendimento. Para exemplificar as roupas específi- cas para algumas situações de combate a incêndio, Alves destaca que em incên- dios estruturais (edificações e estrutu- ras) são utilizadas calças e jaquetas, já em plataformas e embarcações, prefe- rencialmente devem ser utilizados ma- cacões com dispositivos de flutuação pessoal internos (coletes salva-vidas), em incêndios florestais devem ser uti- lizadas calças e jaquetas ou macacões sem forrações. Além disto, “as roupas com muitas peças metálicas como tra- vas, presilhas, entre outras, não são re- comendáveis para a exposição em áre- as com potencial de alta tensão”, des- creve Alves. Com relação aos ambientes encontra- dos pelos bombeiros e brigadistas ao combaterem os incêndios, Rocha cita o artigo Measurements of the Firefighting Environment, dos autores J. A. Foster e G. V. Roberts, que descreve o modo de classificar as condições em que os pro- fissionais estão submetidos ao atende-Martins: conhecer os equipamentos D IV U LG A Ç Ã O Silva: integridade física do usuário D IV U LG A Ç Ã O DEZEMBRO / 2016 ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO Emergência 29 rem os diferentes tipos de ocorrência. Uma das condições é de rotina, que é a condição de operação mais comum para o respondedor. Limite de 25 mi- nutos a 100ºC na roupa com radiação térmica limite de 1 kW/m². Outra con- dição é a de perigo, quando o bombeiro irá trabalhar por um período curto de tempo em alta temperatura em combi- nação com alta radiação térmica. Limi- te de 1 minuto a 160ºC na roupa com radiação térmica de 4 kW/m². Um li- mite intermediário foi criado para re- presentar as condições que podem ser toleradas por até 10 minutos. Uma ter- ceira condição é a extrema, que ocorre tipicamente em situação de resgate, ou, no pior caso, da fuga em uma situação de generalização do incêndio. Acontece na região acima de 1 minuto a 160ºC na roupa com radiação térmica de 4 kW/m² e abaixo de 235ºC e 10 kW/ m². Por último, tem-se a crítica, que envolve condições acima de 235ºC na roupa e radiação térmica acima de 10 kW/m². Nesta condição está presente o risco de morte. “Portanto, os EPI’s devem oferecer proteção adequada aos profissionais usuários conforme a sua área de utilização, independente se são brigadistas ou bombeiros privados ou públicos (militares, municipais ou vo- luntários)”. A partir desta classificação, Rocha também salienta o motivo pelo qual é necessário a escolha e utilização cor- reta dos EPI’s, pois se o combatente for com os equipamentos inadequados ou sobrando, poderá atrapalhar na sua atuação. “Se, por um lado, a ausência dos itens de proteção expõe os bom- beiros aos diversos riscos de acidentes e lesões próprios dos ambientes das ocorrências, por outro, o aumento da proteção gera esforços adicionais com os quais terão que lidar, tais como o aumento do peso a ser carregado, per- da do tato, da mobilidade e destreza e, em particular, o aumento do estresse fisiológico”, ressalta. Um dos exemplos de vestimentas que oferece algumas limitações práti- cas ao combatente, são as capas com- pridas do tipo 7/8. “No Brasil é muito comum a utilização destas capas por brigadistas e bombeiros, pois devido ao tamanho é possível o compartilha- mento do mesmo EPI por mais pesso- as, além do conceito errôneo de acredi- tar que as capas protegem os membros inferiores, não havendo a necessidade da utilização de calças de proteção”, enfatiza Alves. CUIDADOS E MANUTENÇÃO Além dos critérios técnicos para a escolha adequada dos equipamentos e roupas de proteção contra incêndio, é importante que o profissional tenha os devidos cuidados antes, durante e depois de uma atuação. Além disto, é indispensável que seja realizada, a de- vida manutenção nas vestimentas para maior durabilidade e resistência. O ma- jor Adriano Martins, chefe da Divisão de Execução Financeira do Corpo de Bombeiros de São Paulo e coordenador da Comissão de Estudos de Vestimenta de Segurança para Combate a Incêndio Rocha: escolha e utilização correta do EPI A R Q U IV O E M E R G Ê N C IA Alves: limpeza após cada uso JO R G E A LE X A N D R E | F IR E & R E S C U E G R O U P ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO DEZEMBRO / 2016Emergência30 Falta de padrões Brasil não conta com normas específicas para as roupas de proteção O Brasil não possui normas especí- ficas brasileiras quanto às especifica- ções das vestimentas de proteção utili- zadas pelos profissionais do fogo, que orientem sobre a fabricação, ensaios, cuidados, manutenção e substituição dos equipa mentos. O país, atualmente, se baseia em normas de origem ameri- cana ou europeia, que podem não ser ideais para a realidade brasileira. “Estas normas possuem características pecu- liares às práticas dos bombeiros ameri- canos e europeus, não sendo exclusivas aos bombeiros brasileiros. Apesar de atender bem a demanda de hoje, exis- te a necessidade de se estudar as prá- ticas brasileiras e adequar as normas para as nossas necessidades”, destaca Paulo Henrique Nascimento, gestor de Contas da Linha Fire da Santanense. A falta de normas brasileiras também levanta outra questão, que é a padroni- zação das vestimentas. “Como as nor- mas americanas e europeias são bem distintas umas das outras, as vestimen- tas utilizadas por todo o território na- cional não necessariamente cumprem com os mesmos requisitos. Isto tam- bém dificulta, por exemplo, os proce- dimentos de combate a incêndio, pois ESPECIFICAÇÕES PARA AQUISIÇÃO A compra da roupa é um aspecto importan- te, pois vários pontos precisam ser levados em conta. Os equipamentos necessitam ser compa- tíveis com os riscos dos cenários emergenciais. Além disto, deve-se levar em conta a frequência de utilização e a qualidade do produto. Para de- finir um padrão de compra, existe um Termo de Referência, publicado pela Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), que trata sobre o registro dos preços para aquisição de EPI’s, destinados aos Corpos de Bombeiros Militares nas unidades federativas, de acordo com as es- pecificações, quantidade e demais condições. Segundo a Animaseg (Associação Nacional da Indústria de Material de Segurança e Proteção ao Trabalho), o Termo de Referência serve co- mo base para as licitações de todos os Corpos de Bombeiros, ou mesmo, para possíveis aqui- sições conjuntas das corporações. O conteúdo Equipamentos de Proteção Individual). Ele exem- plifica ainda, que o Corpo de Bombeiros de São Paulo utiliza diversas especificações técnicas para a realização da compra dos equipamentos, além da solicitação das certificações. “Em suma, há uma tendência muito grande de se solicitar aos vendedores a certificação dos produtos, jus- tamente para se garantir a qualidade do que sepretende adquirir”, enfatiza. Entre as especifica- ções solicitadas estão: a Roupa de Combate a Incêndios Estruturais, que segue a NFPA 1971, Edição 2013; o Capacete de Combate a Incên- dios Estruturais, que é certificado com base na Norma Europeia 443, complementada pelas EN 14458, EN 166, EN 168 e EN 171, todas relacio- nadas às lentes do capacete; Balaclava e Bota de Incêndio, certificadas pela NFPA 1971, edição 2013; e Equipamentos de salvamento em altura que são certificados com base na NFPA. do termo não dirige as licitações para nenhum fabricante ou técnica específica, mas sim, para a exigência de Normas Técnicas Internacionais que devem ser seguidas. Desta forma, todos os fabricantes de tecidos e vestimentas podem pro- por soluções para atingir à necessidade dos Cor- pos de Bombeiros. Sobre as especificações impostas na hora da compra pelas corporações ou demais órgãos, elas devem estar descritas no edital de licitação. “Ca- da órgão comprador escolhe sua especificação, baseada em uma norma, com as características necessárias para cada trabalho, seja ele na Infra- ero, Corpo de Bombeiros, indústria ou comércio”, destaca o major Adriano Martins, chefe da Divisão de Execução Financeira do Corpo de Bombeiros de São Paulo e coordenador da Comissão de Es- tudos de Vestimenta de Segurança para Combate a Incêndio da ABNT/CB32 (Comitê Brasileiro de da ABNT/CB32 (Comitê Brasileiro de Equipamentos de Proteção Individual), comenta que é importante que o pro- fissional conheça o seu equipamento em uso, por meio de instruções e trei- namentos, e não somente por meio da leitura do manual de instruções e ma- nutenções. “Dentro deste treinamento, pode-se ensinar ao usuário a realizar uma inspeção visual na roupa antes de começar o serviço operacional, após as operações e depois da sua higieni- zação, com atenção especial à barreira de umidade (intermediária). Já em sua estrutura principal, é possível verificar costuras e fitas seladoras, pois, havendo qualquer rompimento da estrutura, en- sejaria a substituição do equipamento. Atenção igual deve ser dada à barreira externa e à barreira térmica (interna)”, enfatiza. Entre os cuidados referentes às rou- pas de proteção contra incêndio na atuação, os especialistas alertam so- bre o costume quase mundial entre os combatentes de molharem o traje pa- ra entrar no incêndio. “A água aplica- da no traje dá uma sensação de frescor e segurança quando entramos em um local com presença de altas tempe- raturas. Entretanto, diversos estudos concluem que durante a exposição ao calor ambiente, a temperatura do traje se elevará mais rapidamente do que se estivesse seco, podendo causar sérias queimaduras por contato uma vez que a absorção de calor pela água é 25 ve- zes maior que a absorção de calor pelo ar”, salienta Rocha. Sobre a manutenção das vestimentas, Alves destaca que o principal fator é a limpeza após cada uso. “Esta limpeza deve ser considerada como descontami- nação, devido às constatações de estu- dos recentes que mostraram que roupas acumulam substâncias tóxicas perigo- sas”, comenta. Estas descontaminações devem ser feitas em locais adequados, sem contato dos equipamentos e vesti- mentas de proteção com outras roupas. Outros aspectos de manutenção das roupas de proteção, envolvem a repo- sição de partes afetadas como faixas refletivas, joelheiras, bolsos, presilhas, forros, entre outros. “Os consertos ou manutenções na roupa, quando possí- veis, devem ser realizados com os mes- mos materiais da roupa, mesmo tecido, com linhas de aramida. Da mesma for- ma, a aplicação de insígnias ou nomes deve ser feita com linhas e tecidos de aramida ou similar”, comenta o major Adriano. Caso seja constatado o des- gaste dos materiais, é necessário a subs- tituição da roupa completa. ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO DEZEMBRO / 2016Emergência32 NORMAS TÉCNICAS NFPA 1851 Standard on Selection, Care, and Maintenance of Protective Ensembles for Struc- tural and Proximity Fire Fighting NFPA 1851 Norma sobre Seleção, Cuidado e Manutenção de Conjuntos de Proteção e Apro- ximação para Combate a Incêndio Estrutural NFPA 1971 Standard on Protective Ensem- bles for Structural Fire Fighting and Proximity Fire Fighting NFPA 1971 Norma sobre Conjuntos de Pro- teção e Aproximação para Combate a Incêndio Estrutural NFPA 1977 Standard on Protective Clothing and Equipment for Wildland Fire Fighting NFPA 1977 Norma sobre Vestuário e Equipa- mentos de Proteção contra Incêndios Florestais ISO 11613:1999 Protective clothing for firefi- ghters - Laboratory test methods and performan- ce requirements ISO 11613:1999 Vestuário de proteção para bombeiros - Métodos de ensaio em laboratório e requisitos de desempenho ISO 15384:2003 Protective clothing for firefi- ghters - Laboratory test methods and performan- ce requirements for wildland firefighting clothing ISO 15384:2003 Vestuário de proteção para bombeiros - Métodos de ensaio em laboratório e requisitos de desempenho para vestuário de combate a incêndios florestais ISO 15538:2001 Protective clothing for firefigh- ters - Laboratory test methods and performance requirements for protective clothing with a reflec- tive outer surface ISO 15538:2001 Vestuário de proteção para bombeiros - Métodos de ensaio em laboratório e requisitos de desempenho para vestuário de pro- teção com superfície exterior refletora ISO/FDIS 16073.2:2009 Wildland firefighting personal protective equipment - Requirements and test methods ISO/FDIS 16073.2:2009 Equipamentos de proteção individual contra incêndios florestais - Requisitos e métodos de ensaio ISO 11999:2015 PPE for firefighters - Test me- thods and requirements for PPE used by firefigh- ters who are at risk of exposure to high levels of heat and/or flame while fighting fires occurring in structures ISO 11999:2015 EPI para bombeiros - Mé- todos de ensaio e requisitos para EPIs usados pelos bombeiros que estão em risco de exposi- ção a altos níveis de calor e/ou chama enquanto combatem incêndios ocorrendo em estruturas Fonte: Jorge Alexandre Alves cada vestimenta está adequada para um procedimento diferente. Por isto, faz- se necessário que uma norma nacional seja criada, auxiliando no processo de homogeneização das vestimentas bra- sileiras”, salienta Mauro Guerra, ge- rente de Vendas para a América Latina da DuPont. COMISSÃO Para auxiliar nesta área, em 2009, foram criadas comissões mistas (CB 24 e CB 32) para o desenvolvimen- to de estudos por itens do conjunto de EPI’s para aproximação em incên- dios de estruturas urbanas, entre elas, a comissão que trata sobre as roupas de proteção. “Falando-se em normas nacionais, o CB 32, em conjunto com o CB 24, por meio de Comissões Es- peciais de Estudo, estão elaborando as normas de vestimenta com base na ISO (International Organization for Stan- dardization) 11.999-3, que se encontra na fase de ajustes na ABNT, para pos- terior colocação em consulta pública”, ressalta o major Adriano Martins, che- fe da Divisão de Execução Financeira do Corpo de Bombeiros de São Paulo e coordenador da Comissão de Estu- dos de Vestimenta de Segurança para Combate a Incêndio da ABNT/CB32 (Comitê Brasileiro de Equipamentos de Proteção Individual). A norma na- cional está sendo elaborada com base nas normas ISO, consideradas normas internacionais, sem haver um direcio- namento para a norma americana ou para a europeia, mas citando, muitas vezes, as duas. “A norma que estamos elaborando busca um padrão mínimo de construção de equipamentos de se- gurança individual, para garantir, assim, o máximo de eficiência e segurança do usuário. Acredito que a partir da pu- blicação da norma nacional se estabe- lecerá um padrão dentro do Brasil, que servirá inclusive para que os fabricantes nacionais, após certificarem seus pro- dutos com base nesta norma, possam comercializá-los pelo mundo. Além disto, também é possível criar uma de- mandapara os laboratórios específicos se credenciarem e passarem a certificar os produtos nacionais, conforme o ca- so”, conclui o major Adriano. NORMAS INTERNACIONAIS Com a falta de uma norma brasilei- ra sobre as especificações, as roupas de proteção, assim como outros equi- pamentos e acessórios usados pelos profissionais no combate a incêndio, estão sendo fabricadas, comercializa- das e utilizadas com base em normas internacionais. Conforme o consultor e instrutor especialista em Emergên- cias, Jorge Alexandre Alves, existem as normas técnicas estrangeiras (EUA) da NFPA (National Fire Protection As- sociation) para os critérios de seleção, cuidados, manutenção e métodos de ensaio e testes de desempenho para os materiais e equipamentos de vestimen- tas para combate a incêndios; além das normas técnicas internacionais da ISO para os critérios e métodos de ensaio e testes de desempenho para os materiais e equipamentos de vestimentas para combate a incêndios. Entre as normas seguidas no Bra- sil está a norma americana NFPA 1971/2007, que trata sobre as roupas e luvas usadas para o combate a incên- dios estruturais que devem satisfazer um requisito mínimo de isolamento térmico chamado de performance de proteção térmica (TPP, do inglês Termal Protective Performance). “Os testes de TPP são realizados para verificar o isolamen- to oferecido pelas três principais cama- das das roupas de combate a incêndios estruturais e devem atender a um nível mínimo estabelecido para permitir que os bombeiros possam escapar das con- dições mais críticas de temperatura no cenário sem gerar lesões nos responde- dores como as ocorrências envolvendo flashovers e backdrafts”, salienta Marco Aurélio Rocha, especialista em Seguran- ça e Gestão de Emergências, instrutor certificado NFPA 1041 e professor de pós-graduação de Engenharia de Segu- rança e Incêndio Florestal. CERTIFICAÇÃO De acordo com a Norma Regula- mentadora número 6, todos os EPI’s de fabricação nacional ou importados, só poderão ser postos à venda ou utili- zados no Brasil com a marcação do CA DEZEMBRO / 2016 ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO Emergência 33 nistério do Trabalho, primeiramente o EPI deve ter suas características e de- sempenho consignados em relatório de testes e ensaios de resistência, emitido por laboratório credenciado junto ao Ministério do Trabalho, ou em certifica- ção de conformidade, emitida em fun- ção de avaliação no âmbito do Sistema Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - SINMETRO. Para isto, o fabricante/importador en- caminha a amostra do EPI ao labora- tório, que submeterá o equipamento a testes laboratoriais definidos em nor- mas técnicas de ensaio. Atualmente, no Brasil, existe somen- te um laboratório credenciado junto ao Ministério do Trabalho, específi- co destas vestimentas para realizar es- tes ensaios, que é o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Conforme a Coordenação Geral de Normatização e Programas do DSST (Departamen- to de Segurança e Saúde), do Minis- tério do Trabalho, o principal desafio encontrado nesta área, é a dificuldade de credenciamento de laboratório na- cional capacitado para a realização de ensaios em roupas de proteção contra incêndio e demais acessórios utilizados (Certificado de Aprovação). Este do- cumento é emitido pelo Ministério do Trabalho, a fim de avaliar e manter um padrão nos equipamentos de proteção. Conforme Rocha, a certificação de um traje deve envolver o exame mi- nucioso de sua construção, acessórios, costuras, selagem da barreira de umi- dade, respirabilidade e muitos outros itens. “Isto significa que o conjunto to- do deve ser certificado e não somente seus componentes individualmente”, comenta. Para a emissão do CA junto ao Mi- CB 32 e CB 24 estão elaborando normas de vestimentas específicas JO R G E A LE X A N D R E | F IR E & R E S C U E G R O U P ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO DEZEMBRO / 2016Emergência34 Tecnologia presente Fabricantes investem em novos tipos de tecido As exigências em relação à segurança evoluíram mui- to nos últimos anos no Bra- sil, visando aperfeiçoar cada vez mais a proteção que a roupas devem garantir aos combatentes. Há uma bus- ca constante tanto das em- presas fabricantes/importa- doras quanto dos próprios usuários para melhorias dos produtos. Aliado a isto, a tec- nologia está cada vez mais presente no mercado dos equipamentos de proteção. No setor das vestimentas de proteção, isto pode ser visto nos diferentes tecidos com fibras inerentemente retar- dantes a chamas. Atualmente, no mercado brasileiro, existem fabrican- tes que produzem tecidos com maior tecnologia e resis- tência nas diferentes cama- das das roupas de proteção. “Nossa empresa apresenta tecidos para camada exter- na de altíssima tecnologia e qualidade, reconhecidos e testados pelos principais Corpos de Bombeiros da América Latina. Estes tecidos são o Unishell e o Nomex ST Rip Stop, materiais totalmente ineren- tes que garantem a proteção térmica e mecânica tanto para bombeiros mili- tares como industriais”, destaca Paulo Henrique Nascimento, gestor de Contas da Linha Fire da Santanense. A empresa destaca ainda que hoje em dia na atua- ção dos combatentes, exige-se camadas externas cada vez mais resistentes e que ofereçam maiores níveis de proteção. Esta necessidade vem crescendo, pois as camadas internas tendem a diminuir de peso, gerando vestimentas mais leves e confortáveis. Porém, a diminuição do peso das vestimentas não deve signifi- car diminuição da proteção, por isto ta- manha importância das camadas exter- nas neste quesito. “Nossa empresa in- veste muito em tecnologia para oferecer ao mercado tecidos que garantam pro- teção e confiabilidade ao combatente, refletindo diretamente em um combate a incêndio mais eficiente e com menor risco”, enfatiza Nascimento. A DuPont acredita que as tecnologias ????????? D IV U LG A Ç Ã O S A N TA N E N S E pelos combatentes. Há pouco tempo, os ensaios eram realizados somente em laboratórios estrangeiros, o que não deixou de ocorrer mesmo com o credenciamento de um laboratório no Brasil, pois empresas brasileiras conti- nuam enviando os seus produtos para testes em outros países. Exemplo des- ta realidade é a DuPont, que além do Brasil, também realiza ensaios nos Es- tados Unidos, Suíça, Emirados Árabes e Singapura. No entanto, por possuir apenas um laboratório no país para a realização de todos os ensaios, as empresas acabam enfrentando custo alto e prazos maio- res ao enviar os seus produtos para tes- tes no exterior. “As principais dificulda- des nesta certificação são o tempo e o custo, pois cada modelo de vestimenta deve apresentar certificação, oneran- do significativamente o produtor de menor escala. Além disto, existem di- versos requisitos técnicos que o pro- dutor somente poderá confirmar após enviar para laboratório, ou seja, se ele enviar uma composição e ela não atin- gir o requisito, ele terá que enviar uma nova versão, o que tomará mais tempo e envolverá mais custo”, destaca o ge- rente de Vendas para a América Latina da DuPont. Após a realização dos testes e ensaios de resistência tanto nacional como in- ternacional, a emissão do CA é feita com base na apresentação do laudo de ensaio do EPI, que ateste a aprovação do equipamento, com base em normas técnicas previamente estipuladas pelo Ministério do Trabalho. Atualmente, o Ministério do Trabalho possui três portarias que regulamentam a emis- são, alteração e renovação de CA no Brasil. Uma delas é a Portaria SIT nº 452/2014 que trata das normas técnicas internacionais de ensaio, bem como dos requisitos obrigatórios aplicáveis aos EPIs enquadrados no Anexo I da NR 6. É nesta Portaria que se encontram as normas técnicas utilizadas nos ensaios obrigatórios dos EPIs que oferecem proteção contra agentes térmicos (calor e chamas), parauso em operações de combate a incêndio de estruturas. No entanto, Alves acrescenta que a porta- ria somente dá a referência de Normas Europeias (EN) para as vestimentas de combate a incêndio, entretanto, além destas normas EN serem menos deta- lhadas do que a NFPA 1971 quanto à resistência e desempenho, também de- manda laboratórios de testes e ensaios ligados a órgãos certificadores homo- logados (ex.: INMETRO ou IPEM) e que não temos no Brasil. Rocha salienta que a carência de nor- mas brasileiras afeta a certificação. O especialista cita que a NR 6, que trata sobre os EPI’s em geral, não especifica claramente sobre as roupas de proteção contra incêndio, com isto, abrindo es- paço no mercado para a venda de pro- dutos sem a devida certificação. Vestimenta feita com tecido Unishell da Santanense DEZEMBRO / 2016 ESPECIAL/ROUPAS DE PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO Emergência 35 de vestimentas estão em constante evo- lução, e, por isto, lançou recentemente um novo tecido para a camada externa da vestimenta, chamado Nomex® 3DP. “Este tecido possui uma construção di- ferenciada, que permite elevar o nível de proteção térmica com uma baixa gramatura, excelente resistência mecâ- nica e excelente respirabilidade”, co- menta Mauro Guerra, gerente de Ven- das para a América Latina da DuPont. Além deste tecido, a DuPont também desenvolveu duas novas tecnologias compostas em nanofibras, desenvol- vendo o Nomex® Nano, que é utiliza- do como uma camada intermediária da vestimenta para aumentar significativa- mente a proteção térmica sem influen- ciar muito no peso total. E também o Nomex® NanoFlex, que é um entre- laçado destas nanofibras para formar uma barreira a particulados. O mercado está sempre se adaptando às novas tecnologias, buscando soluções para os problemas do cotidiano, para obter mais segurança e conforto para o exercício da profissão, mas a falta de normas brasileiras e a não certificação de alguns produtos, acabam atrapalhan- do o andamento da área. “Acredito que EXPOSIÇÃO AO FOGO Para auxiliar a cadeia produtora de vestimen- tas de proteção antichama, a DuPont possui um equipamento instalado no Centro de Pesquisa & Desenvolvimento da DuPont em Paulínia/SP, principal unidade de pesquisa da empresa na América Latina, que simula exposições ao fogo repentino. Trata-se do DuPontTM Thermo-Man®, um manequim de tamanho real equipado com 122 sensores de calor distribuídos ao longo do corpo, capaz de calcular o percentual de quei- maduras que um trabalhador pode sofrer quando exposto ao fogo repentino, de acordo com sua roupa de proteção. Desde 1970, a tecnologia do equipamento é requisitada como teste de certifi- cação e validação do desempenho de vestimen- tas de proteção térmica utilizadas nas indústrias de Petróleo e Gás, Química e Energia e nas cor- porações de Militares e Bombeiros no mundo. Os testes com o equipamento da DuPont são solicita- dos por normas internacionais como NFPA 2112, ISO 11.612, ISO 13.506 e ASTM-F1930, que es- tipulam os requerimentos mínimos para desen- volvimento de vestimentas resistentes a chamas. C A R LO F E R R E R I Simulação no Centro de Pesquisa da DuPont existem trajes de alta qualidade em nos- so país, com grandes inovações tecno- lógicas, mas de outro lado temos visto equipes de resposta à emergência com EPIs sem certificação e de baixa quali- dade. Isto tudo se resolveria se houvesse uma norma de âmbito federal que ver- sasse sobre fabricação, especificações mínimas e, sobretudo, obrigatoriedade de uso deste importante EPI para aque- les que respondem emergências expon- do-se diariamente a riscos graves e imi- nentes”, finaliza Marco Aurélio Rocha, especialista em Segurança e Gestão de Emergências, instrutor certificado NF- PA 1041 e professor de pós-graduação de Engenharia de Segurança e Incên- dio Florestal.
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