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Plano de Aula: Filiação. DIREITO CIVIL V - CCJ0225 Título Filiação. Número de Aulas por Semana Número de Semana de Aula 12 Tema Filiação. Objetivos - Apresentar os princípios da igualdade e veracidade da filiação. - Verificar como ocorre o reconhecimento voluntário e judicial da filiação. Estrutura do Conteúdo Unidade 7 - Filiação e parentesco. 7.1. Filiação: princípios da igualdade e veracidade, reconhecimento voluntário e judicial. Filiação Antes da Constituição Federal de 1988, havia diferença de tratamento entre filhos legítimos e ilegítimos, o que foi superado com a consagração da dignidade da pessoa humana e isonomia constitucionalmente previstas e que devem pautar as relações jurídicas. No art. 227, §6°, a Carta Magna evidencia o princípio da igualdade entre os filhos, pondo fim a qualquer discussão que pretenda estabelecer diferenciação entre as filiações. É possível que advenha prole do casamento, união estável, concubinato, relação adulterina e até mesmo de vínculo matrimonial nulo. Como desdobramento do reconhecimento de igualdade entre os filhos temos o princípio da veracidade da filiação, extraído do art. 1.601, CC, que consiste na ideia de não ?criar óbices para se reconhecer a verdadeira vinculação entre pais e filhos? (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018, p. 1.375). O reconhecimento da filiação pode se dar de forma voluntária ou através de provocação judicial. Vamos analisar, inicialmente, o reconhecimento espontâneo ou voluntário. 1. Reconhecimento voluntário ou espontâneo Os filhos havidos na constância do matrimônio são presumidos filhos do cônjuge, mas aqueles que foram concebidos fora do matrimônio exigem o reconhecimento espontâneo ou voluntário da filiação (perfilhação) (art. 1.597, CC). O reconhecimento voluntário, quando não caracterizada uma das presunções indicadas, ocorrerá na forma do art. 1.609, CC. Devemos observar as características do reconhecimento voluntário da filiação, que é um ato (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018): - Formal: nos incisos do art. 1.609 fica claro que o reconhecimento somente ocorrerá mediante formalização documental, não podendo ocorrer por simples manifestação verbal isenta de qualquer formalidade. - De livre vontade: como qualquer ato que gera efeitos relevantes e significativos na esfera jurídicos dos envolvidos, não pode ser praticado eivado de qualquer vício de consentimento. - Irretratável: Art. 1.610. O reconhecimento não pode ser revogado, nem mesmo quando feito em testamento. - Incondicional: Art. 1.613. São ineficazes a condição e o termo apostos ao ato de reconhecimento do filho. - Personalíssimo: pode ser praticado por procurador, desde que em nome do representado, como dispõe a Lei de Registros públicos (Lei n° 6.015/73) ? Art. 59. Quando se tratar de filho ilegítimo, não será declarado o nome do pai sem que este expressamente o autorize e compareça, por si ou por procurador especial, para, reconhecendo-o, assinar, ou não sabendo ou não podendo, mandar assinar a seu rogo o respectivo assento com duas testemunhas. - Praticado pelo pai. O Código Civil estatui que o filho havido fora do casamento e reconhecido por um dos cônjuges precisa do consentimento do outro para residir no lar conjugal. Esta regra tem por fim atentar à difícil circunstância de impor ao outro cônjuge a convivência com prole fruto de relação extraconjugal, mas existem situações, como a morte do pai ou da mãe fora da relação conjugal ou sua dificuldade física, moral ou psicológica de cuidar da criança, que devem ser avaliadas judicialmente. (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018) O filho reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu, e, se ambos o reconheceram e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do menor (art. 1.613, CC). 2. Reconhecimento judicial O reconhecimento judicial da filiação ocorre por meio de ação de investigação, que pode ser direcionada ao pai (mais comum) ou à mãe, quando há, por exemplo, suspeita de troca de bebês na maternidade , o que conduz à ideia de que a presunção de maternidade é relativa (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018). A ação de investigação de paternidade é imprescritível, a teor do que dispõe o art. 27, do Estatuto da Criança e do Adolescente ? ECA (Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990). A legitimidade ativa para propositura desta ação cabe ao alegado filho (investigante) ou ao Ministério Público (legitimado extraordinário, pois a busca da verdade da filiação é de interesse social), podendo o adotado também buscar a investigação de sua origem genética. A legitimidade passiva compete ao pai ou seus herdeiros, quando post mortem (art. 1.606, CC). (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018) A filiação prova-se pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro Civil (art. 1.603, CC), não podendo ninguém vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo se provar erro ou falsidade do registro (art. 1.604, CC). Na falta ou defeito do termo de nascimento, a filiação pode ser provada por qualquer modo admissível em direito: a) quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou separadamente; b) quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos (art. 1.605, CC). Qualquer pessoa que tenha justo interesse pode contestar a ação de investigação de paternidade ou maternidade (art. 1.615, CC). 3. Paternidade socioafetiva e posse do estado de filho Ser genitor não é o mesmo que ser pai ou mãe, ?na medida em que a condição paterna (ou materna) vai muito mais além do que a simples situação de gerador biológico, com um significado espiritual profundo, ausente nessa última expressão?, sendo válido lembrarmos o ?primeiro autor brasileiro a se preocupar com a desbiologização do Direito de Família?, quem seja, João Batista Villela. (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018, p. 1.386). O vínculo socioafetivo que é construído entre pais e filhos afigura-se mais relevante e significativo do que o vínculo genético, portanto, não pode prevalecer a verdade genética sobre a afetiva, sendo por isto que o STJ já entendeu que, após estabelecido o vínculo de socioafetividade, a adoção à brasileira não pode ser desconstituída, assim como já reconheceu a maternidade socioafetiva. (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018) Ao lado da paternidade socioafetiva, temos a posse de estado de filho, ?em que, exteriorizando-se a convivência familiar e a afetividade, admite-se o reconhecimento da filiação?. É a mesma situação descrita anteriormente, mas sob a perspectiva do filho, chamado de filho de criação, ?cuja adoção não foi formalizada, mas o comportamento, na família, integra-o como se filho biológico fosse?. (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018, p. 1.390) 4. Multiparentalidade A multiparentalidade é ?uma situação em que um indivíduo tem mais de um pai e/ou mais de uma mãe, simultaneamente, produzindo-se efeitos jurídicos em relação a todos eles?, já existindo decisões judiciais que reconhecem a possibilidade de constar no registro civil a mãe biológica e a mãe socioafetiva (GAGLIANO e PAMPLONA FILHO, 2018, p. 1.391-1.392). Aplicação Prática Teórica Questão objetiva 1: (MPDFT ? Promotor de Justiça Adjunto ? 2015) Quanto à constituição da filiação, segundo disciplina o Código Civil atual, julgue os itens a seguir: I. O filho reconhecido quando maior de idade não pode impugnar o reconhecimento, salvo por vício de consentimento. II. É válido o reconhecimento de filho havido fora do casamento feito por carta informal, sem as formalidades devidas. III. A adoção de maiores de dezoitoanos obedece à disciplina própria do Código Civil e não usa regras do Estatuto da Criança e do Adolescente. IV. A autoria da ação negatória de paternidade de filhos havidos na constância do casamento compete aos cônjuges, comprovada a paternidade por exame de DNA. V. Ocorre a presunção da paternidade, em favor do marido, dos filhos havidos por inseminação artificial homóloga, quando vivo o marido. Se falecido, a presunção depende da existência de prévia autorização do marido. A partir do julgamento das afirmações anteriores, escolha a alternativa CORRETA: (A) Estão corretas somente as assertivas I e V. (B) Estão corretas somente as assertivas I e II. (C) Estão corretas somente as assertivas III e IV. (D) Estão corretas somente as assertivas IV e V. (E) Estão corretas todas as assertivas. Questão objetiva 2: (VII Exame de Ordem Unificado - FGV) A respeito da perfilhação é correto dizer que (A) constitui ato formal, de livre vontade, irretratável, incondicional e personalíssimo. (B) se torna perfeita exclusivamente por escritura pública ou instrumento particular. (C) não admite o reconhecimento de filhos já falecidos, quando estes hajam deixado descendentes. (D) em se tratando de filhos maiores, dispensa-se o consentimento destes. Questão subjetiva: (86.º Concurso de Ingresso no MPSP - Segunda fase - realizada em 1º de fevereiro de 2009). (Direito Civil). Considere o seguinte problema: Ivo estabeleceu união estável com Ada, a qual possuía um filho de dois anos de idade, Pio, fruto de outra união, registrado apenas pela mãe. Espontaneamente, por escritura pública, Ivo reconheceu Pio como filho, acrescentando o sobrenome paterno no assento de nascimento da criança. Passados doze anos, desfeita a união estável, o perfilhado promoveu ação de alimentos ante o perfilhante, que, em contrapartida, aforou ação negatória de paternidade cumulada com anulação do registro civil, calcada no fato de não ser o verdadeiro pai do menor, e alegou ter sido forçado pela companheira a reconhecê-lo. As provas confirmaram a inexistência de vínculo biológico entre Ivo e Pio, seja pelo exame de DNA seja pela confissão de Ada, vindo os autos ao Ministério Público para alegações finais. Como promotor de justiça, em forma de súmula, aponte os fundamentos do parecer sobre a procedência ou não da ação negatória de paternidade cumulada com anulação do registro civil.
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