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EAD
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
Maria Conceição Mússio Bittencourt
UNIDADE 1 - PENSANDO A FILOSOFIA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar o significado de Filosofia 
 Filosofia é um corpo de conhecimento, a partir de um esforço que o ser 
humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe um sentido, um 
significado compreensivo. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Corpo de conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e 
organizado de entendimentos sobre a realidade. Conhecimentos estes que 
expressam o entendimento que se tem do mundo, a partir dos desejos, anseios e 
aspirações. Assim, podemos dizer que a filosofia cria o ideário que norteia a vida 
humana em todos os seus momentos e em todos os seus processos. 
Neste sentido, a filosofia é uma força, é o sustentáculo de um modo de 
agir. É uma arma na luta pela vida e pela emancipação humana. Em síntese, a 
filosofia é uma forma de conhecimento que, interpretando o mundo, cria uma 
concepção coerente e sistêmica que possibilita uma forma de ação efetiva. Esta 
forma de compreender o mundo tanto é condicionada pelo meio histórico, como 
também é seu condicionante, ao mesmo tempo, pois, é uma interpretação do 
mundo e uma força de ação. 
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos, um sistema 
acabado, fechado em si mesmo. A filosofia é uma maneira de pensar e é também 
uma postura diante do mundo. 
Antes de mais nada, filosofia é uma forma de observar a realidade que 
procura pensar os acontecimentos além da sua aparência imediata. Ela pode se 
voltar para qualquer objeto: pode pensar sobre a ciência, seus valores e seus 
métodos; pode pensar sobre a religião, a arte; o próprio homem em sua vida 
cotidiana. A filosofia é um jogo irreverente que parte do que existe, critica, coloca 
em dúvida, faz perguntas inoportunas, abre a porta das possibilidades, faz 
entrever outros mundos e outros modos de compreender a vida. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
 A origem da filosofia e o saber científico 
Quando surgiu entre os gregos por volta do século VI a.C., a filosofia 
englobava tanto a indagação, filosofia propriamente dita, quanto aquilo que hoje 
é chamado de conhecimento científico. O filósofo refletia e teorizava sobre todos 
os assuntos, procurando responder não só ao porquê das coisas, mas, também, 
ao como, ou seja, ao modo pelo qual elas acontecem ou “funcionam’’. 
Euclides, Tales e Pitágoras foram filósofos que também se dedicaram ao 
estudo da geometria. Aristóteles, por sua vez, investigou problemas físicos e 
astronômicos, na medida em que esses problemas também interessavam à cultura 
e à sociedade de sua época. 
O saber científico surge a partir do século XVII, com o aperfeiçoamento do 
método científico, baseado na observação, na experimentação e matematização 
dos resultados. A ciência, tal qual a entendemos hoje, começou a se constituir, 
como uma forma específica de abordagem do real que se destacava ou 
desprendia da filosofia propriamente dita. 
Afastando-se da filosofia, por se tornarem mais específicas, aparecem 
pouco a pouco as ciências particulares, que investigam determinados aspectos da 
realidade: a química, a transformação das substâncias; a astronomia, os corpos 
celestes; a psicologia, os mecanismos do funcionamento da mente humana; a 
sociologia, a organização social, etc. 
As ciências estudam os fenômenos que pertencem a sua área específica e 
pretendem mostrar como estes ocorrem e como se relacionam com outros 
fenômenos. A posse do conhecimento sobre os fenômenos naturais e humanos 
gera a possibilidade de prevê-los e controlá-los. 
Por outro lado, a filosofia trata dessa mesma realidade, só que – em vez de 
separá-la em conhecimentos particulares e estanques – considera-a no interior da 
totalidade de fenômenos, ou seja, procura enxergar a realidade, a partir de uma 
visão de conjunto. Qualquer que seja o problema, a reflexão filosófica considera 
cada um, relacionando-o ao contexto dentro do qual ele se insere e 
restabelecendo a integridade do universo humano. 
Sob o ponto de vista filosófico, por exemplo, é impossível considerar os 
problemas educacionais do Brasil somente a partir das estruturas físicas das 
escolas, é necessário relacioná-los com os interesses das diversas classes sociais, 
os interesses políticos, os interesses nacionais, etc. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 2 - PENSANDO FILOSOFIA NA ANTIGUIDADE 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar os principais pensadores da antiguidade. 
 A palavra Filosofia é de origem grega e significa amor à sabedoria. Ela 
surge desde o momento em que o homem começou a refletir sobre o 
funcionamento da vida e do universo, buscando uma solução para as grandes 
questões da existência humana. Os pensadores, inseridos num contexto histórico 
de sua época, buscaram diversos temas para reflexão. A Grécia Antiga é 
conhecida como o berço dos pensadores, sendo que os sophos (sábios em grego) 
buscaram formular, no século VI A.C., explicações racionais para tudo aquilo que 
era explicado, até então, através da mitologia. Vamos conhecê-los? 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Os Pré-Socráticos 
 Podemos afirmar que foi a primeira corrente de pensamento surgida por 
volta do século VI a.C. Os filósofos que viveram antes de Sócrates se 
preocupavam com o universo e os fenômenos da natureza. Buscavam explicar 
tudo através da razão e do conhecimento científico. Podemos citar, neste 
contexto: os físicos – Thales de Mileto, Anaximandro e Heráclito. 
 Pitágoras desenvolve seu pensamento defendendo a ideia de que tudo 
preexiste à alma, já que esta é imortal. Demócrito e Leucipo defendem a formação 
de todas as coisas, a partir da existência dos átomos. 
Os séculos V e IV a.C. foram de grande desenvolvimento cultural e 
científico. O esplendor de cidades como Atenas e seu sistema político-
democrático proporcionou o terreno para o desenvolvimento do pensamento. É a 
época dos sofistas e do grande pensador Sócrates. 
Ceticismo- doutrina filosófica, segundo a qual a 
verdade de todo conhecimento precisa ser 
questionada, pois não existe verdade absoluta. 
 
Os Sofistas 
Os sofistas defendiam uma educação, cujo objetivo máximo seria a 
formação de um cidadão pleno, preparado para atuar politicamente para o 
crescimento da cidade. Dentro desta proposta pedagógica, os jovens deveriam 
ser preparados para falar bem (retórica), pensar e manifestar suas qualidades 
artísticas. 
Os sofistas ensinavam técnicas que auxiliavam as pessoas a defenderem 
seu pensamento particular e suas próprias opiniões, através da persuasão. Foram 
mestres da oratória e vendiam para os cidadãos suas habilidades com o discurso, 
fundamental para a política. Assim, defendiam a opinião de quem lhes pagasse 
bem. Acreditavam que a verdade vem do consenso entre os homens. Para eles, a 
realidade sensível não é inteligível, a linguagem é arbitrária, as palavras traem os 
pensamentos. Eles se opunham à filosofia pré-socrática, dizendo que os filósofos 
ensinavam coisas contraditórias, repletas de erros e sem utilidades para as polis 
(cidade). 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Os sofistas 
substituíram a natureza, que 
antes deles era o principal 
objeto de reflexão dos filósofos, pela arte da persuasão. Por desprezarem as 
discussões dos filósofos, foram considerados “céticos”. Sócrates rebelou-se contra 
eles, dizendo que desrespeitavam a verdade e o amor à sabedoria. As 
consequências do pensamento sofista são: 
1- Criaram no meio filosófico o relativismo e o subjetivismo; 
2- A abertura da filosofia para todas as pessoas das polis, pois antes a filosofia 
era exercida somente por um grupo intelectual fechado, formado apenas 
por nobres. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 3 - PENSANDO FILOSOFIA NA ANTIGUIDADE 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Propiciarconhecimentos a respeito de Sócrates. 
Sócrates é um dos mais importantes filósofos atenienses e fundador da 
atual filosofia ocidental (469 – 399 a.C). 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Detalhes sobre a vida de Sócrates derivam de três fontes contemporâneas: 
os diálogos de Platão, as peças de Aristófanes e os diálogos de Xenofonte. Não há 
evidência de que Sócrates tenha publicado alguma obra. Foi condenado à morte 
e obrigado a suicidar-se, tomando veneno (cicuta). Aceitou sua condenação com 
calma e “sabedoria”. 
Sócrates casou-se com Xântipe que era bem mais jovem que ele e teve três 
filhos. Seu amigo Criton criticou-o por ter abandonado seus filhos, quando ele se 
recusou a tentar escapar antes de sua execução. Essa crítica evidencia que ele 
parece não ter entendido a mensagem que Sócrates tentou passar sobre a morte. 
Não se sabe ao certo qual foi trabalho de Sócrates, ou seja, se é que ele teve 
outro além da filosofia. De acordo com algumas fontes, Sócrates aprendeu a 
profissão de oleiro com seu pai. 
Na obra de Xenofonte, Sócrates aparece declarando que se dedicava 
àquilo que ele considerava a arte ou ocupação mais importante: Maiêutica, o 
parto das ideias. 
A maiêutica socrática funcionava a partir de dois momentos essenciais: um 
primeiro em que Sócrates levava seus interlocutores a pôr em causa as suas 
próprias concepções e teorias acerca de algum assunto; e um segundo momento, 
em que conduzia os interlocutores a uma nova perspectiva acerca do tema em 
abordagem. 
Daí dizer que a maiêutica consistia num autêntico parto de ideias, pois, 
mediante o questionamento dos seus interlocutores, Sócrates levava-os a colocar 
em causa os seus “preconceitos” acerca de determinado assunto, conduzindo-os a 
novas ideias sobre o tema em discussão. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Platão afirmou que Sócrates não recebia pagamento por suas aulas. Sua 
pobreza era prova de que não era um sofista. Desde a juventude, interessou-se 
pela filosofia e conhecia o pensamento anterior e contemporâneo dos filósofos 
gregos. 
É lendário seu interesse pela conversa em locais públicos, onde fazia muitas 
andanças, conversando nas praças, mercados e ginásios de sua cidade. Participou 
do movimento de renovação da cultura e foi um educador popular, já que não 
cobrava por suas preleções. Nunca trabalhou e só pensava no presente. Sócrates 
é famoso por ter tido um soberbo auto-controle, não se deixando nem mesmo 
embriagar pelo vinho como é contado no “Banquete”, de Platão. De início, 
interessava-se pelos ensinamentos dos filósofos da natureza (pré-socráticos), mas, 
depois, revoltou-se contra eles, pois eles haviam sido filósofos físicos, que 
procuravam respostas nas causas exteriores e gerais da natureza. 
Sócrates achava que existia algo mais digno para se estudar, a psyche, ou a 
mente do homem. Por isso, sondou a alma humana em questões como a da 
felicidade e da justiça dos atenienses. Estes lidavam com muita facilidade com a 
vida e a morte, com a honra, o patriotismo e a moralidade. E em que se 
baseavam? E o que entendiam de si próprios? Chegou, assim, a uma reflexão 
sobre a alma considerada imortal, portanto, superior ao corpo. O verdadeiro 
filósofo sabe que não sabe e ele se auto-denominava assim. As etapas do saber 
seriam: ignorar sua ignorância, conhecer sua ignorância; ignorar seu saber e 
conhecer seu saber. As opiniões não são verdades, pois não resistem ao diálogo 
crítico. Conversar com Sócrates podia levar alguém a expor-se ao ridículo e ser 
apanhado numa complexa linha de pensamento exposta através de palavras, 
ficando totalmente envolvido ou perplexo. 
É no diálogo Teeteto, de Platão, que Sócrates compara sua atividade à de 
uma parteira, que, embora não desse à luz a um bebê, ajudava no parto. Ele diz 
que ajudava as pessoas a parirem suas próprias ideias. Diz que Atenas era uma 
égua preguiçosa, e ele um pequeno mosquito que lhe mordia os flancos para 
provar que estava viva. Achava que a principal tarefa da existência humana era 
aperfeiçoar seu espírito e acreditava ouvir uma voz interior, de natureza divina 
que lhe apontava a verdade e como agir. 
Sócrates foi convidado para o SENADO dos quinhentos e manifestou sua 
convicção de liberdades, combatendo as medidas que considerava injustas. A 
democracia estava se implantando em Atenas e Sócrates considerava que só os 
homens mais sábios deviam governar o ESTADO, pois eles poderiam controlar 
melhor seus impulsos violentos e anti-sociais. Assim, afastar-se-iam do 
comportamento animal. 
A reação do partido democrático de Atenas resultou em um júri de 
cinquenta pessoas que o acusaram de negar os deuses do ESTADO e perverter a 
juventude. Muitos jovens seguiam Sócrates e tornavam-se seus discípulos. Anito, 
um líder democrático, tinha um filho que se tornou discípulo de Sócrates e ria dos 
deuses do pai, voltando-se contra eles. Sócrates foi considerado, aos setenta anos, 
líder espiritual do partido revoltoso. A verdadeira causa da morte de Sócrates é 
política, ele ameaçava o partido democrático dominante. Foi condenado à morte 
e teve de ingerir cicuta (uma planta venenosa). Podia ter fugido da prisão, pedido 
clemência ou saído de Atenas, mas não quis. Quis cumprir as leis da cidade. 
 
 
UNIDADE 4 - PENSANDO FILOSOFIA NA ANTIGUIDADE: PLATÃO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar os principais pressupostos filosóficos de Platão 
 
“O filosofo grego previu um sistema de ensino que mobilizava 
toda a sociedade para formar sábios e encontrar a virtude”. 
 
Na história das ideias, o grego Platão (427 – 347 a.C.), foi o primeiro 
pedagogo, não só por ter concebido um sistema educacional para o seu tempo, 
mas, por tê-lo integrado a uma dimensão ética e política. O objetivo final da 
educação, para o filósofo, era a formação do homem moral, vivendo em um 
ESTADO justo. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Platão foi o segundo da tríade dos grandes filósofos clássicos, sucedendo 
Sócrates e precedendo Aristóteles, seu discípulo. Como Sócrates, Platão rejeitava 
a educação que se praticava na Grécia e que estava a cargo dos sofistas, 
incumbidos de transmitir conhecimentos técnicos – sobretudo a oratória – aos 
jovens da elite, para torná-los aptos a ocupar as funções públicas. Os sofistas 
afirmavam que podiam defender, igualmente, teses contrárias, dependendo dos 
interesses em jogo, Platão, diferentemente, pensava em termos de uma busca 
continuada da virtude, da justiça e da verdade. 
Para Platão, “toda virtude é conhecimento”. A busca da virtude deve 
prosseguir pela vida inteira e não somente na juventude. Educar é tão importante 
para uma ordem política baseada na justiça que, segundo Platão, deveria ser 
tarefa de toda sociedade. 
“Como pode uma sociedade ser salva, ou ser 
forte, se não tiver à frente seus homens mais 
sábios?” Platão 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Platão nasceu em uma família aristocrática de Atenas. Com cerca de 20 
anos, aproximou-se de Sócrates por quem tinha grande admiração. Como a 
maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política. Contudo, a oligarquia e a 
democracia lhe desagradaram. Com a condenação de Sócrates à morte Platão 
decidiu se afastar de Atenas e saiu em viagem pelo mundo. 
Baseado na ideia de que os cidadãos que têm o espírito cultivado 
fortalecem o ESTADO e que os melhores entre eles deveriam ser os governantes, 
o filósofo defendia que toda educação era de responsabilidade estatal – um 
princípio que só se difundiria no ocidente muitos séculos depois. Igualmente 
avançada, quase visionária, era a defesa da mesma instrução para meninos e 
meninas e de acesso universal ao ensino. 
A educação, segundo a concepção platônica, visava a testar as aptidões 
dos alunos para que apenas os mais inclinados ao conhecimento recebessem a 
formação completa para ser governante. Essa era a finalidadedo seu sistema 
educacional, que pregava a renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O 
processo deveria ser longo, porque Platão acreditava que o talento e o gênio só 
se revelam aos poucos. 
Platão é considerado um dos primeiros idealizadores do totalitarismo. O 
filósofo via no sistema democrático da Atenas do seu tempo uma estrutura que 
concedia poder a pessoas despreparadas para governar. Quando Sócrates, que 
ele considerava “o mais sábio e o mais justo dos homens” foi condenado à morte, 
sob a acusação de corromper a juventude, Platão convenceu-se de uma vez por 
todas que a democracia 
precisava ser substituída. O 
poder deveria ser exercido 
por uma espécie de 
aristocracia, mas não constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária. 
Os governantes tinham de ser definidos pela sabedoria. Platão acreditava 
que, por meio do conhecimento, seria possível controlar os instintos, a ganância e 
a violência. O acesso aos valores da civilização, portanto, funcionaria como 
antídoto para todo o mal cometido pelos seres humanos contra seus semelhantes. 
Hoje, poucos concordam com isso, por causa das atrocidades cometidas pelos 
regimes totalitários do século XX, que prosperaram até em países cultos e 
desenvolvidos, como a Alemanha, por exemplo (os horrores do nazismo). Por 
outro lado, não há educação consistente sem valores éticos. 
A “Academia“ escola fundada por Platão, em 387 A.C., em Atenas, 
caracterizou-se pelo ensinamento dialético, onde o saber era encontrado, 
mediante um processo endógeno, ou seja, pela busca individual, através dos 
constantes questionamentos. Sua escola rivalizava, assim, com sua 
contemporânea, de Isócrates – em que o conhecimento consistia meramente na 
assimilação daquele saber que já fora produzido (algo um tanto semelhante com 
as escolas atuais). 
O termo “Academia” ganhou, desde então, e até os dias atuais, a acepção 
de local onde o saber não apenas é ensinado, mas produzido. 
 
 
 
 
 
 
Este grande filósofo grego, nasceu em Estagira, 
colônia grega da Trácia, em 384 a.C. Aos dezoito 
anos, foi para Atenas e ingressou na academia 
platônica, onde ficou por 20 anos, até a morte 
do mestre. Neste período, estudou também 
filósofos pré-socráticos que lhe foram úteis na 
construção do seu grande sistema. Foi 
preceptor, por três anos de Alexandre, o Grande. 
De volta à Atenas, em 335, Aristóteles fundou a 
sua escola “O Liceu”, também chamada de 
peripatética, devido ao costume de dar lições, 
em amena palestra, passeando nos caminhos do 
ginásio de Apolo. Esta escola seria a grande rival 
e a verdadeira herdeira da velha e gloriosa 
Academia Platônica. Aristóteles foi, 
essencialmente, um homem de cultura, de 
estudo, de pesquisa, de pensamento, que foi se 
isolando da vida prática, social e política, para se 
dedicar à investigação científica. A atividade 
literária de Aristóteles foi vasta e intensa, como a 
sua cultura e seu gênio universal. A primeira 
edição completa das obras de Aristóteles é a de 
Andrônico de Rodes, que assim classifica os seus 
escritos: 
1- Escritos lógicos. 
2- Escritos sobre física. 
3- Escritos metafísicos. 
4- Escritos morais e políticos. 
5- Escritos retóricos e poéticos. 
UNIDADE 5 - PENSANDO FILOSOFIA NA ANTIGUIDADE: ARISTÓTELES 
– VIDA, PENSAMENTO, FILOSOFIA, TEOLOGIA E MORAL 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar, de forma sucinta, os principais conceitos aristotélicos. 
 Nesta unidade vamos conhecer um pouco os conceitos do grande filósofo: 
Aristóteles. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Iniciemos nosso estudo, a partir do PENSAMENTO: a gnosiologia. Para 
Aristóteles, a filosofia é 
essencialmente teorética: deve 
decifrar o enigma do universo, 
em face do qual a atitude 
inicial do espírito é “assombro 
do mistério”. O seu problema 
fundamental é o problema do 
ser, não o problema da vida. 
O objeto próprio da filosofia, 
em que está a solução do seu 
problema, são as essências 
imutáveis e a razão última das 
coisas, isto é, o universal e o 
necessário, as formas e suas 
relações. Entretanto, as formas 
são imanentes na experiência 
nos indivíduos, de que 
constituem a essência. A filosofia aristotélica é, portanto, conceitual como a de 
Platão, mas parte da experiência; é dedutiva, mas o ponto de partida da dedução 
é tirado – mediante o intelecto – da experiência. No sentido estrito, a filosofia 
aristotélica é dedução do particular pelo universal, explicação do condicionado, 
mediante a condição, porquanto o primeiro elemento depende do segundo. 
Segundo Aristóteles, os elementos primeiros do conhecimento – conceito e juízo 
– devem ser tirados da experiência, da representação sensível, cuja verdade 
mediata ele defende, porquanto os sentidos por si, nunca nos enganam. 
No que diz respeito à Filosofia, partindo do problema acerca do valor 
objetivo dos conceitos, Aristóteles constrói um sistema inteiramente original. Os 
caracteres dessa grande síntese são: 
1- Observação fiel da natureza – Platão, idealista, rejeitara a experiência como 
fonte de conhecimento, certo? Aristóteles, mais positivo, toma sempre o 
fato como ponto de partida de suas teorias, buscando na realidade um 
apoio sólido às suas mais elevadas especulações metafísicas. 
2- Rigor no método: depois de estudar as leis do pensamento, o processo 
dedutivo e indutivo, aplica-os em todas suas obras, substituindo a 
linguagem imaginosa e figurada de Platão por um estilo lapidar e conciso, 
criando uma terminologia filosófica de precisão admirável. Pode-se 
considerá-lo como o autor da metodologia e tecnologia científicas. 
Geralmente, no estudo de uma questão, Aristóteles procede por partes: 
a) começa a definir-lhe o objeto; 
b) passa a enumerar-lhe as soluções históricas; 
c) Propõe, depois, as dúvidas; 
d) indica em seguida, a própria solução; 
e) refuta, por último as sentenças contrárias. 
3- Unidade de conjunto: sua vasta obra filosófica constitui um verdadeiro 
sistema, uma síntese, onde todas as partes se compõem, se corresponde, se 
confirmam. 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Sobre a questão da Teologia, Aristóteles considera que o objeto próprio da 
teologia é o primeiro motor imóvel, ato puro, o pensamento do pensamento, isto 
é, Deus, a que Aristóteles chega através de uma sólida demonstração baseada 
sobre a imediata experiência, indiscutível, realidade do vir-a-ser, a passagem da 
potência ao ato. Este vir-a-ser, passagem da potência ao ato requer, finalmente, 
um não-vir-a-ser, motor imóvel, um motor já em ato, um ato puro (Deus), pois, de 
outra forma, teria que ser movido, por sua vez. A necessidade deste primeiro 
motor imóvel, não é absolutamente excluída pela eternidade do vir-a-ser, do 
movimento do mundo. Deus é unicamente pensamento, atividade teorética, 
enquanto qualquer outra atividade teria fim extrínseco, incompatível com o ser 
perfeito, auto-suficiente (Deus). Se Deus é mera atividade teorética, tendo como 
objetivo unicamente a própria perfeição, não conhece o mundo imperfeito, e 
menos ainda opera sobre ele. Deus não atua sobre o mundo, voltando-se para ele 
com o pensamento e a vontade; mas unicamente como fim último, como causa 
final e, por consequência, e só assim, como causa eficiente e exemplar. De Deus 
depende a ordem, a vida, a racionalidade do mundo; Ele, porém não é criador, 
nem providência do mundo. 
No que diz respeito à Moral, Aristóteles trata-a em três “éticas”. Consoante 
sua doutrina metafísica, todo ser tende, necessariamente, à realização da sua 
natureza; à atualização plena da sua forma; e nisso está o seu fim o seu bem, a 
sua felicidade e, por consequência a sua lei. Visto ser a razão a essência 
característica do homem, realiza ele sua natureza, vivendo racionalmente e sendo 
disso consciente.O fim do homem é a felicidade, a que é necessária a virtude e a 
esta é necessária à razão. A característica fundamental da moral aristotélica e, 
portanto,o racionalismo visto ser a virtude, ação consciente, segundo a razão, 
que exige o conhecimento absoluto, metafísico, da natureza e do universo, 
natureza na qual o homem deve operar. As virtudes éticas, morais, não são mera 
atividade racional, como as virtudes intelectuais, teoréticas; mas implicam um 
elemento sentimental que deve ser governado pela razão, e não pode, todavia, 
ser completamente resolvido na razão. A razão aristotélica governa, domina as 
paixões, não as aniquila como queria o ascetismo platônico. A virtude ética não é, 
pois, razão pura, mas uma aplicação da razão; não é unicamente ciência mas uma 
“ação” com “ciência”. 
 
 
O termo teísmo designa uma doutrina que 
afirma a existência de um Deus único e 
transcendente. 
UNIDADE 6 - ARISTÓTELES, RELIGIÃO, METAFÍSICA E PSICOLOGIA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Propiciar conhecimentos da Filosofia Antiga, enfocando os 
pensamentos de Aristóteles. 
Com Aristóteles 
afirma-se o teísmo do ato 
puro. No entanto, este Deus, 
pelo seu efetivo isolamento 
do mundo, que ele não conhece, não cria, não governa, não está em condições 
de se tornar objeto de religião. E não fica nenhum outro objeto religioso. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A Religião 
Não obstante esta concepção filosófica da divindade, Aristóteles admite a 
religião positiva do povo, até sem correção alguma. Explica e justifica a religião 
positiva, tradicional, mítica, como obra política para moralizar o povo e como 
fruto da tendência humana para as representações antropomórficas. Diz que a 
religião não teria um fundamento racional da existência da divindade, mas que o 
homem se teria facilmente elevado a ela através do espetáculo da ordem celeste. 
 
A Metafisica 
A metafísica aristotélica é “a ciência do ser como ser, ou dos princípios e 
das causas do ser e de seus atributos essenciais”. Ela abrange ainda o ser imóvel e 
incorpóreo, princípio dos movimentos e das formas do mundo, bem como o 
mundo mutável e material, mas em seus aspectos universais e necessários. 
Exporemos, portanto, antes de tudo, as questões gerais da metafísica, para depois 
Sinolo- síntese de matéria e forma.
chegarmos àquela que foi chamada mais tarde, metafísica especial; tem esta 
como objeto o mundo que vem-a-ser - natureza e homem – e culmina no que 
pode vir-a-ser, isto é, Deus. Pode-se reduzir fundamentalmente a quatro as 
questões gerais da metafísica aristotélica: 1) potência e ato; 2) matéria e forma; 
particular e universal, e 4) movido e motor. A primeira e a última abraçam todo o 
ser, a segunda e a terceira todo o ser em que está presente a matéria. 
1- A doutrina da potência e do ato é fundamental na metafísica aristotélica: 
potência significa possibilidade, capacidade de ser, não-ser atual; e ato 
significa realidade, perfeição, ser efetivo. Todo ser, que não seja o Ser 
perfeitíssimo, é, 
portanto, uma 
síntese – um sinolo – de potência e de ato, em diversas proporções, 
conforme o grau de perfeição, de realidade dos vários seres. Um ser 
desenvolve-se, aperfeiçoa-se, passando da potência ao ato; esta passagem 
da potência ao ato é atualização de uma possibilidade, de uma 
potencialidade anterior. 
2- Os elementos constitutivos da realidade são a forma e a matéria. A 
realidade, porém, é composta de indivíduos, substâncias, que são uma 
síntese – um sinolo – de matéria e forma. Por consequência, estes dois 
princípios não são suficientes para explicar o surgir dos indivíduos e das 
substâncias que não podem ser atuados – bem como a matéria não pode 
ser atuada – a não ser por outro indivíduo, isto é, por uma substância em 
ato. Daí a necessidade de um terceiro princípio, a causa eficiente, para 
poder explicar a realidade das coisas, A causa eficiente, por sua vez, deve 
operar para o indivíduo. Daí uma quarta causa, a causa final, que dirige a 
causa eficiente para a atualização da matéria mediante a forma. 
3- Mediante a doutrina da matéria e forma, Aristóteles explica o indivíduo, a 
substância física, a única realidade efetiva no mundo, que é precisamente 
síntese – sinolo – de matéria e de forma. A essência – igual em todos os 
indivíduos de uma mesma espécie – deriva da forma; a individualidade, 
pela qual toda substância é original e se diferencia de todas as demais, 
depende da matéria. O individuo é, portanto, potência realizada, matéria 
enformada, universal particularizado. 
4- Da relação entre a potência e o ato, entre a matéria e a forma, surge o 
movimento, a mudança, o vir-a-ser, a que é submetido tudo que tem 
matéria, potência. A mudança é, portanto, a realização do possível. Esta 
realização do possível, porém, pode ser levada a efeito unicamente por um 
ser que já está em ato, que possui já o que a coisa movida deve vir-a-ser. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A Psicologia 
Objeto geral da psicologia aristotélica é o mundo animado, isto é, vivente, 
que tem por princípio a alma e se distingue essencialmente do mundo inorgânico, 
pois o ser vivo, diversamente do ser inorgânico, possui internamente o princípio 
da sua atividade, que é precisamente a alma, forma do corpo. A característica 
essencial e diferencial do ser inorgânico, que tem por princípio a alma vegetativa, 
é a nutrição e a reprodução. A característica da vida animal, que tem por princípio 
a alma sensitiva, é precisamente a sensibilidade e a locomoção. A característica da 
vida do homem, que tem por princípio a alma racional, é o pensamento. 
O conhecimento sensível, a sensação, pressupõe um fato físico, a saber, a 
ação do objeto sensível sobre o órgão que sente, através do movimento, de um 
meio. Mas o fato físico transforma-se num fato psíquico, isto é, na sensação 
propriamente dita, em virtude da específica faculdade e atividade sensitivas da 
alma. 
Acima do conhecimento sensível está o conhecimento inteligível, 
especificamente diverso do primeiro. Aristóteles aceita a essencial distinção 
platônica entre sensação e pensamento, ainda que rejeite o inatismo platônico, 
contrapondo-lhe a concepção do intelecto como tábula rasa, sem ideias inatas. 
Objeto do sentido é o particular, o contingente, o mutável, o material. Objeto do 
intelecto é o universal, o necessário, o imutável, o imaterial, as essências, as 
formas das coisas e os princípios primeiros do ser, o ser absoluto. Por 
consequência, a alma humana, conhecendo o imaterial, deve ser espiritual e, 
como tal, deve ser imperecível. 
 
Conclusões 
 
É difícil aquilatar em sua justa medida o valor de Aristóteles. A influência 
intelectual por ele até hoje exercida sobre o pensamento humano e à qual se não 
pode comparar a de nenhum outro pensador dá-nos, porém, uma ideia da 
envergadura de seu gênio excepcional. Criador da lógica, do primeiro tratado de 
psicologia científica, primeiro escritor da história da filosofia, patriarca das ciências 
naturais, metafísico, moralista, político, ele é o verdadeiro fundador da ciência 
moderna e ainda hoje está presente, não somente nas nossas cogitações, mas 
também na expressão dos sentimentos e das ideias da vida comum e habitual. 
 
 
 
UNIDADE 7 - IDADE MÉDIA - FILOSOFIA E EDUCAÇÃO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar as características gerais da filosofia da educação na Idade 
Média. 
A Idade Média teve início na Europa, com as invasões dos bárbaros, no 
século V, e consequente queda do Império Romano do ocidente. Estende-se até o 
começo dos tempos modernos, cujo início pode ser a conquista de 
Constantinopla ou o princípio da Reforma. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Idade Média, que abrange do século V até o século XV caracteriza-se por: 
1-Estrutura política: prevaleceram as relações de vassalagem e suserania. O 
suserano dava lotes de terra aos vassalos, que deveriam prestar-lhe ajuda 
(trabalho), fidelidade e pagar impostos. Em troca, recebiam proteção e um lugar 
no sistema de produção. Neste “sistemapolítico feudal” os poderes jurídicos, 
econômicos e políticos concentravam-se nas mãos dos senhores feudais. 
2- Sociedade: era estática e hierarquizada e assim constituída: nobreza feudal 
(senhores feudais, cavaleiros, condes, duques, viscondes); O Clero tinha um 
grande poder e era responsável pela proteção espiritual da sociedade, era isento 
de impostos e arrecadava o “dízimo”; Servos: (camponeses) e pequenos artesãos. 
3- Economia: baseava-se, principalmente, na agricultura e um pouco de 
artesanato. A produção era baixa, porque as técnicas do trabalho agrícola eram 
rudimentares (arados puxados por bois). 
4- Educação e Cultura: só os filhos dos nobres estudavam; era marcada pela 
influência da igreja e grande parte da população era analfabeta. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A queda do Império Romano, com a avalanche dos bárbaros, arrasou 
grande parte das conquistas culturais do mundo antigo. A Idade Média inicia-se 
com a desorganização da vida política, econômica e social do ocidente, agora 
transformado num mosaico de reinos bárbaros. Depois, vieram as guerras, a fome 
e as grandes epidemias (peste bubônica). O cristianismo propaga-se por diversos 
povos. A diminuição da atividade cultural transforma o homem comum num ser 
dominado por crenças e superstições. O período medieval não foi, porém, a 
“idade das trevas” como se acreditava. A filosofia clássica (grega) sobrevive 
confinada nos mosteiros religiosos. O aristotelismo dissemina-se pelo Oriente 
Bizantino, fazendo florescer os estudos filosóficos e as realizações científicas. No 
Ocidente, fundam-se as primeiras universidades: ocorre a fusão dos elementos 
culturais grego-romanos, cristãos e germânicos. As obras de Aristóteles são 
traduzidas para o latim e difundidas por todo o Ocidente. 
Apoiada em sua crescente influência religiosa, a Igreja passou a exercer 
importante papel político na sociedade medieval. Desempenhou, por exemplo, a 
função de órgão supranacional, conciliador das elites dominantes, contornando os 
problemas da fragmentação política e das rivalidades internas da nobreza feudal. 
Conquistou, também, vasta riqueza material numa época em que terra era a 
principal base de riqueza. Assim, pôde estender seu manto de poder 
“universalista” sobre diferentes regiões europeias. Sob a influência da Igreja, as 
especulações se concentram em questões filosófico-teológicas, tentando conciliar 
a fé e a razão. 
Muitas formas de pensamento marcaram essa época, mas são três as 
características que parecem ter sido comuns às várias tendências da filosofia 
medieval: 
1) a estreita relação entre filosofia e religião “a filosofia é serva da teologia”; 
2) a influência de Aristóteles em todos os campos (lógica, ética, filosofia natural e 
metafísica) como fator decisivo na formação do pensamento medieval; 
3) a unidade de método, que é ao mesmo tempo, método de experimentação e 
investigação. 
A unidade do pensamento cristão se deu pela influência simultânea do 
cristianismo e do aristotelismo: a fé e a razão – Cristo e Aristóteles. A revelação 
cristã e a razão aristotélica agiram em conjunto para a visão do mundo do 
homem medieval. O pensamento clássico encontrara um desenvolvimento e 
amadurecimento, que seria impossível ignorá-lo. No entanto, fazia-se necessária 
uma nova sistematização; elaborada a partir dos problemas já pensados na 
filosofia pagã, conjugados com os agora propostos pelo Cristianismo. 
O cristianismo transporta o cerne da filosofia do cosmos (natureza) para o 
homem – da cosmocêntrica ou geocêntrica, como na filosofia grega 
(principalmente a aristotélica) para a homocêntrica, descobrindo que o seu 
verdadeiro problema é o homem. Assim, dois grandes temas irão nortear a 
filosofia medieval: o homem e Deus. 
A filosofia cristã comportou dois grandes períodos: a filosofia dos padres 
da Igreja –“Patrística”; e a filosofia dos Doutores da Igreja – “Escolástica”. 
O principal nome da Patrística foi Santo Agostinho e da Escolástica foi São 
Tomas de Aquino, temas de nossas próximas unidades. 
 
 
 
 
 
 
 Santo Agostinho nasceu em Tagaste, norte da 
África, em 354, filho de mãe cristã (Santa Monica) e 
pai pagão. Não foi batizado. Menospreza o 
cristianismo até que, aos dezoito anos, enquanto 
estuda em Cartago, ao ler o livro “Hortensio” de 
Cícero, inicia uma busca angustiada da verdade. 
Após alguns anos de adesão ao maquineísmo, 
liberta-se, mas não consegue encontrar uma nova 
posição frente ao mundo e cede ao ceticismo 
representado por Cícero e pela Nova Academia. Era 
professor de Retórica em Cartago. Indo depois para 
Milão, trava conhecimento com os escritos 
platônicos e vem-lhe a ideia de que, além do mundo 
corpóreo, há um mundo de ideias e compreende, 
contrariamente ao pensamento dos Maquineus, que 
Deus, em particular, deve ser incorpóreo. E quando, 
por influência de Ambrozio, bispo da cidade, trava 
conhecimento de mais perto com a espiritualidade 
do Cristianismo, passa por uma radical 
transformação interna. Retira-se para Cassiciacco, 
perto de Milão, retoma às reflexões sobre o mundo 
do pensamento, lança por escrito uma série de 
obras, e faz-se batizar por Ambrózio, em 387. 
Depois, volta para Tagaste, sua terra natal, e funda 
em sua casa uma espécie de claustro. Emprega todo 
o tempo na atividade de escritor, sobretudo nas 
discussões espirituais com os maquineus. Em 391, 
ordena-se sacerdote e vem a ser bispo de Hipona 
em 395. Depois da sua morte, quando ruiu o 
Império Romano do Ocidente e dele não deixaram 
os vândalos, senão ruínas, sua obra sobreviveu 
imortal, perene fonte para o espírito filosófico e 
religioso do Ocidente. 
UNIDADE 8 - IDADE MÉDIA - FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: “SANTO 
AGOSTINHO” 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre as ideias filosóficas de Santo Agostinho. 
Agostinho acreditava 
que o pensar racional fosse 
compatível com a verdade 
revelada por Deus e que, 
portanto, a filosofia pudesse 
servir à teologia. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Agostinho foi o principal 
representante dessa forma 
de pensar e, a síntese que 
ele realizou, ele mesmo 
chamou filosofia cristã, 
sistematizando uma 
concepção do mundo, do 
homem e de Deus, que, por 
muito tempo, foi a doutrina 
fundamental da Igreja 
Católica. 
Quando Agostinho se 
converteu ao cristianismo, já 
conhecia muito bem, principalmente através da leitura dos textos de Cicero, o 
pensamento clássico. Também, para ele, o pensar filosófico busca resolver o 
problema da felicidade: afirma que o homem não tem razão para filosofar, exceto 
para atingir a felicidade. Entendia que a filosofia não sai em busca do 
conhecimento da natureza do universo físico ou dos deuses, mas sim, do homem 
à procura da felicidade. 
Como o próprio Agostinho encontrou essa felicidade através da fé e da 
intuição, e não pelo esforço intelectual, ele retoma o grande problema da 
conciliação entre razão e a fé, entre a filosofia pagã e a fé cristã. Seu maior 
empenho foi dar uma explicação racional aos dogmas cristãos. 
Agostinho conhecia as ideias dos céticos da Nova Academia platônica que 
ensinavam que se deve duvidar de tudo e que só se pode conhecer o que é 
provável (probabilismo), sem absoluta certeza da verdade. Ele consegue vencer o 
ceticismo, aprofundando-o: se duvido, no ato de duvidar tenho consciência de 
mim mesmo, como aquele que duvida. Se eu me engano, eu sou, pois aquele que 
não é, não pode ser enganado – não posso duvidar do meu próprio ser, tenho a 
certeza de mim como existente. Atingindo a certeza da própria existência através 
da dúvida, Agostinho antecipa Descartes, que formulou sua reflexão doze séculos 
mais tarde: “penso, logo existo”. 
Essa primeira certeza fundamentou sua teoria do conhecimento e revelou a 
essência do homem: ser pensante em que o pensamento não se confunde com a 
matéria. Seu modo de ver o homem como “uma alma que se serve de umcorpo”, 
foi herdado de Platão através do conhecimento da doutrina do neo-platônico, 
Plotino. No entanto, os platônicos e neo-platônicos acreditavam que a alma, para 
livrar-se das imperfeições, deveria destacar-se do corpo, que a faz prisioneira. 
Agostinho ensina que a união da alma com o corpo, tendo sido criada por Deus, 
não pode ser um mal; que a alma é hierarquicamente superior ao corpo e tende a 
um fim que está além da ordem natural: tende a Deus, que é o seu princípio. Esse 
conceito é também platônico: lembremo-nos de que Platão acreditava que a terra 
não é o fim último da alma, senão que, após sua passagem pelo mundo natural, 
deverá voltar ao mundo das Ideias. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Agostinho distingue dois tipos de conhecimento: 
1- aquele que decorre dos órgãos dos sentidos que apreendem os objetos 
exteriores – é mutável, temporal; portanto, não necessário (razão inferior); 
2- o conhecimento das verdades imutáveis e eternas, portanto necessários (razão 
superior). 
Se considerarmos que o homem é tão mutável quanto as coisas que 
nossos sentidos percebem, donde virá o conhecimento da verdade imutável e 
necessária? Responde o filósofo: da iluminação divina. Outra vez encontramos 
Platão – na alegoria da caverna, o homem pode conhecer a verdade, porque um 
sol externo (ideia do Bem) ilumina o mundo das ideias. 
Para Agostinho, então, conhecer a verdade é possível, porque as Ideias, as 
verdades, estão presentes em nosso intelecto e Deus nos concede a graça de 
iluminá-las, para que possamos conhecê-las. Conceito difícil de ser entendido, 
aproxima-se dos conceitos platônicos da reminiscência e das ideias inatas; mas 
esse filósofo cristão procura diferenciar os dois conceitos: as ideias não são inatas, 
mas presentes em nós, como reflexos da verdade divina, como um presente que 
Deus nos oferece. 
Como o homem foi feito à imagem e semelhança de Deus, tem uma 
presença da verdade que não é a Verdade absoluta que ele procura – esta 
presença da verdade, que é, ao mesmo tempo, uma ausência da Verdade 
absoluta, faz do homem um ser inquieto, à procura da luz infinita da Verdade 
absoluta. Agostinho foi o filósofo da inquietação humana. 
Como o pensamento humano descobriu a existência de Deus? De acordo 
com Agostinho, nada há no homem e no mundo superior à mente, mas a mente 
intui verdades imutáveis e absolutas, que são superiores a ela; portanto, existe a 
Verdade imutável, absoluta, transcendente, que é Deus . Não podemos conhecer 
Deus na sua essência e d’Ele só podemos falar por analogia com aquilo que 
conhecemos. Novamente recorrendo a Platão, Agostinho, incorpora o mundo das 
aparências e o mundo das ideias ao pensamento e à mística cristã. 
Deus está fora do tempo, é sempre presente; o mundo foi criado junto 
com o tempo e não no tempo – antes do mundo ser criado, não havia tempo. 
Deus é eterno, presente, fora do tempo. Antes de Agostinho, Deus era visto como 
um organizador do caos inicial. Bem diversa é a doutrina cristã do filósofo, para 
quem Deus é o criador de todos os seres, a partir do nada, e como consequência, 
do seu amor infinito. 
Outro problema abordado por Agostinho foi o livre arbítrio: depois do 
pecado original, o homem possuía o livre arbítrio, isto é, a possibilidade de 
escolher entre o bem e o mal, e entre o mal maior e o mal menor. A vontade 
pode afastar o homem de Deus, fazendo escolhas erradas, o que significa ir para 
o não-ser. Eis o pecado, que não é necessário e deriva, unicamente da vontade do 
homem, nunca de Deus. 
Esse conceito de predestinação “apenas os predestinados à salvação 
recebem a graça de Deus”, é exposto em sua obra Cidade de Deus; aqueles que 
persistirem no pecado vivem na cidade dos homens, onde são sempre castigados; 
os eleitos constroem a Cidade de Deus e viverão para sempre. Os fatos, como as 
guerras, o dilúvio e os impérios opressores pertencem à cidade dos homens; a 
Arca de Noé, Moises, os profetas e, principalmente, a vinda de Jesus ao mundo, 
são manifestações da Cidade de Deus. 
Agostinho escreveu a Cidade de Deus, enquanto assistia à destruição do 
Império Romano. Deu uma resposta ao paganismo romano que acusava o 
cristianismo de ter culpa nesse desastre - foi a mão de Deus que castigou os 
pagãos da Cidade dos Homens, para dar lugar ao cristianismo da Cidade de Deus. 
A capacidade de Agostinho de aprofundar e ampliar a relação entre a 
filosofia antiga – principalmente Platônica e Neo-Platônica - e o cristianismo, fez 
dele o fundador do platonismo cristão e o primeiro sistematizador da filosofia 
cristã. 
 
 
 
 
 
UNIDADE 9 - IDADE MÉDIA – FILOSOFIA E EDUCAÇÃO: “SANTO 
AGOSTINHO” E A PATRÍSTICA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar os fundamentos da Patrística 
 
Durante a Idade Média a Igreja exerceu amplo domínio no plano cultural, 
traçando um quadro intelectual em que a fé cristã era o pressuposto fundamental 
de toda sabedoria humana. Essa fé consistia na crença irrestrita ou na adesão 
incondicional às verdades reveladas por Deus aos homens: as Sagradas Escrituras. 
Por outro lado, surgiram pensadores cristãos que defendiam o 
conhecimento da filosofia grega, na medida em que sentiam a possibilidade de 
utilizá-la como instrumento a serviço do cristianismo. Conciliado com a fé cristã, o 
estudo da filosofia grega permitiria à igreja enfrentar os descrentes e demolir os 
hereges com as armas racionais da argumentação lógica. O objetivo era 
convencer os descrentes, tanto quanto possível, pela razão, para depois fazê-los 
aceitar os mistérios divinos, até então, somente acessíveis pela fé. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 “A fé em busca de argumentos racionais a partir de uma matriz platônica”. 
Desde que surgiu o cristianismo, tornou-se necessário explicar seus 
ensinamentos às autoridades romanas e ao povo em geral. Mesmo com o 
estabelecimento e a consolidação da doutrina cristã, a Igreja Católica sabia que 
esses preceitos não podiam, simplesmente serem impostos pela força. Eles tinham 
de ser apresentados de maneira convincente, mediante um trabalho de conquista 
espiritual. 
Foi assim que os primeiros padres da Igreja empenharam-se na elaboração 
de inúmeros textos sobre a fé e a revelação cristãs. O conjunto desses textos ficou 
conhecido como “patrística”, por terem sido escritos, principalmente, pelos 
grandes padres da Igreja. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Uma das principais correntes da filosofia patrística, que se inspirava na 
filosofia greco-romana e tentou munir a fé de argumentos racionais. Esse projeto 
de conciliação entre o cristianismo e o pensamento pagão teve como principal 
expoente o Padre Agostinho. 
A Patrística, baseada em Platão, foi uma das primeiras formas de cultura e 
educação na Idade Média. Foi uma das primeiras correntes a ensinar uma filosofia 
que surgiu como forma de evitar heresias. Essa forma de combater as religiões 
pagãs fez com que os padres tivessem que buscar argumentação nos 
fundamentos filosóficos gregos “extraindo dela argumentação que justificasse a 
interpretação pagã da nova religião/filosofia”. (MOSER, 2008, p. 58) 
A Patrística, conforme Schineider (2007), auxilia a exposição racional da 
doutrina religiosa, preocupando-se principalmente com a relação entre a fé e 
ciência, com a vida moral, com a natureza de Deus e da alma. 
Santo Agostinho une a filosofia e a religião, com isso, forma sua própria 
filosofia, que se baseava em conhecimento, sabedoria e amizade. Agostinho 
colaborou para o reconhecimento de que, paralelamente à conquista do domínio 
dos conteúdos, o aluno seja orientado a relacionar esse conhecimento a uma 
realidade maior (Deus), à formação de valores que prezem a integridade e a 
verdade. 
No século IV fundaram-se escolas junto às catedrais. Em seguida, vieram as 
universidades, sendo que algumas delas são conhecidas até hoje (Oxford e 
Cambridge). Mas em todasas faculdades da época a influência da Igreja era forte. 
As aulas eram ministradas em latim e algumas das matérias de estudo eram: 
teologia (filosofia), ciências, direito e medicina. As universidades tinham vários 
privilégios, como: isenção de impostos, isenção do serviço militar, além do direito 
de julgamento especial em foro acadêmico para seus membros. Essas vantagens 
eram sempre garantidas pelo Imperador ou pelo Papa, que eram as maiores 
autoridades da época. 
 “Compreender para crer, crer para compreender” (Santo Agostinho) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 10 - EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA: A ESCOLÁSTICA E SÃO 
TOMÁS DE AQUINO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar o conceito de Escolástica; 
Propiciar conhecimentos sobre São Tomás de Aquino e sua visão de 
Escolástica. 
Escolástica representa o último período do pensamento cristão, que vai 
do começo do século IX até o fim do século XVI, isto é, da construção do sacro 
romano império bárbaro, ao fim da Idade Média, que assinalada, geralmente, com 
a “descoberta da América” (1492). 
São Tomás de Aquino desenvolveu o “Tomismo”, filosofia escolástica 
adotada oficialmente pela Igreja Católica e que se caracteriza, sobretudo, pela 
tentativa de conciliar o aristotelismo com o cristianismo, rompendo com todas as 
doutrinas que não se harmonizavam com a filosofia aristotélica. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Este período do pensamento cristão se designa com o nome de 
escolástica, porquanto era a filosofia ensinada nas escolas da época, pelos 
mestres, por isso, escolásticos. As matérias ensinadas nas escolas medievais eram 
representadas pelas chamadas artes liberais, divididas em trívio: gramática, 
retórica e dialética; e quadrívio: aritmética, geometria, astronomia e música. A 
escolástica surge, historicamente, do especial desenvolvimento da dialética. 
Compatibilizar a fé e a razão continua a ser o problema central da filosofia 
escolástica. O renascimento das atividades comerciais e a prosperidade dos 
centros urbanos estimularam também o desenvolvimento cultural. 
A invasão dos bárbaros, no séc. V, destruiu no Ocidente a civilização 
romana e iniciou a Idade Média. Os bárbaros, que irromperam de todos os lados, 
provocaram novas condições políticas e sociais adversas à conservação e ao 
desenvolvimento da cultura intelectual. Por isso, os quatro primeiros séculos da 
Idade Média são obscuros, um período de estagnação intelectual em que não 
houve filosofia propriamente dita, mas houve a preocupação de salvar os restos 
da cultura, que estava sendo arruinada pelas hordas dos visigodos, suevos, 
ostrogodos, francos e, principalmente, vândalos. 
O grande trabalho dos intelectuais dos primeiros séculos medievais, 
portanto, não foi criador, mas compilador. E este trabalho se deve principalmente 
aos monges, que recolheram em seus conventos muitos manuscritos antigos, que 
encerravam as sabedorias dos séculos anteriores. 
Aos poucos, os bárbaros, vencedores, acomodaram-se à nova situação 
política e passaram a aceitar os usos e costumes dos povos vencidos, 
convertendo-se ao Cristianismo. Com isso, houve um ressurgimento da cultura e, 
gradativamente, as manifestações científicas e filosóficas apareceram, 
predominando a então “Escolástica”, como principal corrente filosófica. 
Inicia-se um período de florescimento intelectual, no século XIII, o século 
clássico da Idade Média e um dos mais importantes da história da filosofia. A 
filosofia escolástica cristã, mais o aristotelismo passaram a ser as grandes fontes 
da Escolástica. É um período de esplendor em todas as manifestações humanas: 
na arquitetura, na pintura, na literatura, nas ciências. É o século da introdução da 
álgebra e dos algarismos arábicos no Ocidente e do emprego da bússola. É 
também este o período de esplendor da Escolástica. Para isso, três foram os 
fatores fundamentais: a fundação das Universidades, o estabelecimento das 
ordens mendicantes dos dominicanos e dos franciscanos e o conhecimento da 
obra filosófica de Aristóteles. 
No início do século XIII, surgiu a Universidade de Paris, resultado da 
reunião das quatro faculdades: de teologia, de artes (filosofia), de direito e de 
São Tomás de Aquino – (1227 – 1274) nasceu em 
um castelo próximo à cidade de Aquino, Itália, 
de uma família nobre. Entrou cedo para a ordem 
Dominicana. Não se sabe com precisão os 
acontecimentos de sua vida. As universidades 
surgem no século XII, e elas começam a ter forte 
atuação e influência. Cria-se um ambiente 
cultural, nas capitais, em que irão atuar Alberto 
Magno e seu discípulo, São Tomás de Aquino. 
Há uma miscigenação cultural, pois os Sábios da 
Arábia vem para a Europa. São Tomás de Aquino 
entrou para a universidade de Nápoles, onde 
estudou filosofia. Sabia, falava e escrevia em 
latim fluentemente. 
medicina. Pouco depois, mais ou menos modeladas na de Paris, surgem as 
Universidades de Oxford e Cambridge, na Inglaterra; Bolonha e Pádua, na Itália; 
Salamanca, na Espanha; Colônia e Heidelberg, na Alemanha e Coimbra em 
Portugal. Nessas universidades, grandes centros intelectuais que perduram até 
hoje, mantiveram-se vivas as tradições platônicas e agostinianas, e cultivava-se o 
aristotelismo. 
Em princípios do século XIII, fundaram-se as duas grandes ordens 
mendicantes: dos franciscanos e dos dominicanos. Após grandes polêmicas com 
os seculares, conseguem estes padres algumas cátedras na Universidade de Paris 
e acabam, depois, dominando o ambiente universitário. Dentre os maiores 
filósofos franciscanos apareceram Alexandre de Halles, o primeiro mestre 
franciscano, São Boaventura, Rogério Bacon, Duns Scoto e Guilherme de Occam. 
Dentre os dominicanos: São Alberto Magno, São Tomaz de Aquino e mestre 
Eckehart. 
O conhecimento de Aristóteles foi o fator mais importante para o apogeu 
da Escolástica do século XIII. Nos séculos anteriores, a única obra conhecida de 
Aristóteles era o “Organon”. Em princípios do século XIII toda a enciclopédia 
aristotélica foi divulgada. A princípio, passando por traduções imperfeitas, 
oriundas do árabe ou hebraico, e foram proibidas pelas autoridades eclesiásticas 
em 1215. Mais tarde, por volta de 1254, traduzidas diretamente do grego para o 
latim, foram incorporadas pela Universidade de Paris. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
O maior expoente da 
Escolástica foi São Tomás de Aquino. 
São Tomás é famoso por ter 
cristianizado Aristóteles; à 
semelhança do que fez Agostinho 
com Platão, ele transformou o pensamento desse sábio num padrão aceitável 
pela Igreja Católica. Apesar de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, 
como diz Tomás, e de sua obra ser original, autônoma e independente de 
dogmas, ela está em harmonia com o saber contido na Bíblia. 
Tomás de Aquino apresentou a solução definitiva do problema das 
relações entre razão e a fé. Trata-se de duas ciências: a filosofia e a teologia; a 
primeira funda-se no exercício da razão humana; a segunda, na revelação divina. 
São duas ciências independentes, mas que apresentam um objeto material 
comum: a existência de Deus, a essência da alma. A distinção entre essas ciências 
deriva mais do objeto formal, pois a teologia estuda o dogma pelo método da 
autoridade ou revelação, ao passo que a filosofia o considera por demonstração 
científica, ou, pela razão. 
Segundo São Tomas, a teologia e filosofia não se contradizem, ambas 
procuram a verdade e esta é uma só: a revelação é critério da verdade. No caso 
de uma contradição entre a razão e a revelação, o erro não será nunca da 
teologia, mas deve ser atribuído à filosofia, pois foram nossas limitações 
cognoscitivas racionais que se extraviaram e não conseguiram chegar à verdade. 
A Teodiceia é a especulação filosófica, para provar a existência de Deus. 
Tomás de Aquino sustenta que nada está na inteligência que não tenha estado 
antes nosentido, razão pela qual não podemos ter de Deus, uma ideia clara e 
distinta. A fim de provar sua existência, Tomás procede a posteriori, partindo não 
da idéia de Deus, mas dos efeitos por ele produzidos. Assim, elege o mundo 
sensível, como ponto de partida, cuja existência é dada pelos sentidos e utiliza a 
metafísica aristotélica, revelando o seu gênio sintético, ao demonstrar a existência 
de Deus, de cinco modos, que são as famosas cinco vias, que assim se resume: 
1. “Movimento”- é o argumento aristotélico do primeiro motor. O movimento 
existe e é uma evidência para os nossos sentidos; ora, tudo o que se move 
é movido por outro motor; se esse motor por sua vez, é movido, precisará 
de um motor que o mova, e, assim, indefinidamente, o que é impossível, se 
não houver um primeiro motor imóvel, que move sem ser movido, que é 
Deus. 
2. “Concatenação das causas” - tudo está sujeito à lei de causa e efeito. Há, 
pois, uma série de causas eficientes: causas e efeitos ao mesmo tempo; ora, 
não é possível remontar indefinidamente na série das causas, logo, há uma 
causa primeira, não causada, que é Deus. 
3. “Contingência”- todos os seres que conhecemos são finitos e contingentes, 
pois não tem em si próprio a razão de sua existência: são e deixam de ser; 
ora, se são todos contingentes, em determinado tempo deixariam todos de 
ser e nada existiria, o que é absurdo, logo, o seres contingentes implicam o 
ser necessário, ou Deus. 
4. “Graus de perfeição”– todas as perfeições admitem graus que se 
aproximam mais ou menos das perfeições absolutas. Deve, pois, haver um 
ente perfeito: é o ente supremo - Deus. 
5. “Ordem universal” – todos os entes tendem para uma ordem, não por 
acaso, mas por uma inteligência que os dirige; há, pois, um ente inteligente 
que ordena a natureza e a impele para o seu fim. Esse ente inteligente é 
Deus. 
A doutrina Tomista admite que a alma, princípio espiritual, junta-se ao 
corpo, princípio material, constituindo um composto substancial. No concernente 
às propriedades da alma humana, admite o livre-arbítrio e considera a inteligência 
como a faculdade mais perfeita de nossa alma. 
Tomas de Aquino é considerado o maior gênio da Escolástica. Criou um 
sistema filosófico sintético, coerente, fundamentado em Aristóteles, e reformulou 
todo o pensamento cristão. 
Desenvolvimento do conhecimento, durante a Idade Média, a Escolástica 
conta com particularidades diversas que se afastam daquela errônea perspectiva 
que a define como “a idade das trevas”. Contudo, a predominância dos valores 
religiosos e as demais condições específicas fazem do período medieval, apenas 
singular em relação aos demais períodos históricos. Nesse sentido, o expressivo 
monopólio intelectual exercido pela Igreja vai estabelecer uma cultura de traço 
fortemente teocêntrico. Os mais proeminentes filósofos que surgem nessa época 
tiveram grande preocupação em discutir assuntos diretamente ligados ao 
desenvolvimento e à compreensão das doutrinas cristãs. Já durante o século III, 
Tertuliano apontava que o conhecimento não poderia ser válido se não estivesse 
atrelado aos valores cristãos. Logo em seguida, outros clérigos defenderiam que 
as verdades do pensamento dogmático cristão não poderiam estar subordinadas 
à razão. Em contrapartida, existiam outros pensadores medievais que não 
advogavam a favor dessa completa oposição entre fé e a razão. Um dos mais 
expressivos representantes dessa conciliação foi Santo Agostinho, que defenderia 
a busca de explicações racionais que justificassem as crenças. A ideia de 
subordinação do homem em relação a Deus e da fé a razão acabaram tendo 
grande predominância durante vários séculos do pensamento filosófico medieval. 
Mais do que refletir interesses que legitimavam o poder religioso da época, o 
negativismo impregnado no ideário de Santo Agostinho deve ser visto como uma 
consequência próxima às conturbações, guerras e invasões que viriam marcar a 
formação do mundo medieval. 
 
O ensino escolástico, na época medieval, 
contribuiu para a manutenção do poder da 
Igreja Católica em relação à formação, não só 
eclesiásticas, mas acabou simultaneamente, por 
gerir através das escolas monásticas e 
catedralísticas a produção filosófica e literária da 
mentalidade medieval em suas relações sociais, 
econômicas e culturais. A corrente patrística foi 
um uso da Igreja para se manter no poder, 
através da educação; e a escolástica foi herdeira 
dessa herança de monopólio do poder. A 
escolástica visava manter o poder que a 
patrística tinha estabelecido. “A escolástica era 
um tipo de vida intelectual e educativa, que 
predominou, entre os séculos XI e XV, 
contribuindo para o estabelecimento das 
universidades. Produziu um acervo literário 
extenso. Tinha como premissa justificar a fé a 
partir da razão, revigorando a religiosidade; 
exaltando a Igreja através dos argumentos 
intelectuais”. Essa corrente teve três fases 
distintas, até sua queda, quando a igreja perdeu 
poder tanto para o estado quanto para o 
protestantismo. 
A Patrística e a Escolástica foram instrumentos 
para monopolização do poder na Europa, mas 
muito se deve a elas pelo seguinte fato: foram 
elas que uniram, de certo modo e tempo, as 
ciências e a religião. Além disso, foi nessa época 
que surgiram grandes faculdades e com isso 
pensadores que permeavam a fé em conjunto 
com a razão. 
Contudo, as transformações experimentadas na Baixa Idade Média viriam a 
promover uma interessante 
revisão da teologia 
agostiniana. A chamada 
filosofia escolástica apareceria 
com o intuito de promover a 
harmonização entre os campos 
da fé e da razão. Entre seus 
principais representantes 
estava São Tomas de Aquino. 
Talvez, influenciado pelos 
rigores que organizavam a 
Igreja, preocupou-se em criar 
formas de conhecimento que 
não se apequenassem em 
relação a nenhum tipo de 
questionamento. Isso porque 
acreditava que nem todas as 
coisas a serem desvendadas 
no mundo dependiam única e 
exclusivamente da ação divina. 
Dessa maneira, o homem teria 
papel ativo na produção do conhecimento. 
Apesar dessa nova concepção, a filosofia escolástica não será promotora 
de um distanciamento das questões religiosas e, muito menos, se afastou das 
mesmas. Mesmo reconhecendo o valor positivo do livre-arbítrio do Homem, a 
escolástica defende o papel central que a Igreja teria na definição dos caminhos e 
atitudes que levariam o homem à salvação. Com isso, os escolásticos promoveram 
o combate às heresias e preservaram as funções primordiais da Igreja. 
UNIDADE 11 - FILOSOFIA MODERNA: O ADVENTO DO 
RENASCIMENTO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Tecer considerações preliminares sobre a Filosofia Moderna. 
Modernidade. Tempo de mudança. Recomeço. Renascimento. Ciências. 
Descobertas. Desejo de conhecer o ser do homem. São estas as questões as 
questões chaves de um dos períodos mais férteis da filosofia. Trata-se da Filosofia 
Moderna, que corresponde ao pensamento desenvolvido da metade do século XV 
ao final do século XVIII. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O que chamamos de mentalidade moderna advém das transformações 
culturais, sociais, religiosas e econômicas que ocorreram na Europa, a partir da 
metade do século XV ao final do século XVIII. Neste importante período da 
história da humanidade, a teoria política e científica ganhou novos ares e as 
transformações pelas quais passou o continente europeu, neste período, foram 
marcadas por um movimento de novas elaborações filosóficas. Maquiavel, 
Montaigne, Erasmo, More, Galileu, Descartes, Locke e Kant são alguns nomes 
significativos para a Filosofia do período. 
As perguntas sobre os fundamentos da realidade eram revestidos de 
questionamentos sobre o que é o conhecer e o papel de que se passou a chamar 
“sujeito moderno”. Do “cogito” cartesiano, aos princípios da experiência, passando 
pelas novas invenções, temos umpanorama de algumas questões da Idade 
Moderna. Ao longo de todo século XVIII, desenvolveu-se a escola Iluminista com 
suas críticas ao mundo do Antigo Regime. Montesquieu, Voltaire, Rousseau, 
Diderot e outros elaboraram propostas consideradas revolucionárias para a 
época. 
A Idade Moderna é, marcadamente, caracterizada pelo fim do feudalismo e 
o surgimento de um novo sistema econômico, o capitalismo. É um momento em 
que ocorre o crescimento do comércio e a ascensão burguesa. A burguesia é 
uma classe social surgida na Europa em fins da Idade Média, com o 
desenvolvimento econômico e o aparecimento das cidades. Esta classe dominou a 
vida política, social, econômica e intelectual. O capitalismo é um sistema 
econômico e social baseado na propriedade privada dos meios de produção 
visando o lucro. Surge o trabalho assalariado e o funcionamento do sistema de 
preços. O mercantilismo, considerado a primeira etapa do capitalismo, foi 
estabelecido como forma de fortalecimento das economias nacionais, levando a 
um impulso da navegação e à chegada a novas regiões do planeta. São exemplos 
de grande prodígio da navegação a chegada, em 1492, de Cristovão Colombo à 
América, declarando-a colônia da Espanha, e também, a primeira viagem ao redor 
do mundo, entre 1519 e 1522, comandada por Fernão de Magalhães. Outro 
fenômeno significativo foi a formação de novos Estados Nacionais, o que levou à 
discussão sobre as formas de governo, pois neste momento há na Europa a 
centralização do poder através da monarquia absoluta, isto é, o absolutismo. 
O movimento conhecido como reforma protestante quebrou a unidade 
religiosa europeia, dividindo a Igreja Católica, rompendo com a concepção 
passiva do homem, entregue unicamente aos desígnios divinos e reconheceu o 
trabalho humano como fonte da graça divina e origem legítima da riqueza e da 
felicidade. O homem pôde, afinal, pensar livremente e responsabilizar-se por seus 
atos de forma autônoma. O homem na Idade Moderna contraria a 
supervalorização da fé cristã, do teocentismo (Deus no centro) e passa a uma 
tendência antropocêntrica (o homem como centro), valorizando a obra humana. 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A Filosofia Moderna é marcadamente laica, ou seja, não-religiosa, o que a 
distancia em vários fatores da Filosofia Medieval. 
A crença na razão humana e o questionamento aos dogmas do catolicismo 
levaram o homem moderno ao desenvolvimento da ciência natural e à criação de 
novos métodos científicos. Também não podemos deixar de citar a importância 
da invenção da imprensa, que possibilitou a impressão dos textos clássicos gregos 
e romanos, contribuindo decisivamente para a nova mentalidade moderna. Com a 
imprensa, foi possível divulgar as descobertas científicas, filosóficas e artísticas por 
toda Europa. 
 
O início do progresso intelectual da época feudal data da 
chamada Renascença Carolíngia do século IX. Foi um movimento 
iniciado por Carlos Magno ao trazer para sua corte, os mais 
notáveis eruditos que pode encontrar. O imperador foi levado 
em parte pelo interesse na cultura, mas também pelo desejo de 
encontrar padrões uniformes de ortodoxia que pudessem ser 
impostos a todos os seus súditos. Felizmente parece ter 
concedido, aos sábios que importou, uma parcela bem grande 
dos seus estudos. Resultou daí uma renascença do intelecto que 
ganhou suficiente impulso para se estender aos reinados de 
vários sucessores. 
BURNS, 1981, pg.369 a 370. 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 12 - RENASCIMENTO CULTURAL: CONTEXTO HISTÓRICO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar as características do Renascimento. 
As conquistas marítimas e o contato mercantil com a Ásia ampliaram o 
comércio e a diversificação dos produtos de consumo na Europa, a partir do 
século XV. Com o aumento do comércio, principalmente com o Oriente, muitos 
comerciantes europeus fizeram riquezas e acumularam fortunas. Com isso, eles 
dispunham de condições financeiras para investir na produção artística de 
escultores, pintores, músicos, arquitetos, escritores, etc. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O Renascimento significou uma nova arte, o advento do pensamento 
científico e uma nova literatura. Nele, estão presentes as seguintes características: 
a- Antropocentrismo (o homem no centro): valorização do homem como 
ser racional. Para os renascentistas, o homem era visto como a mais bela 
e perfeita obra da natureza. Tem capacidade criadora e pode explicar os 
fenômenos à sua volta. 
b- Otimismo: os renascentistas acreditavam no progresso e na capacidade 
do homem de resolver problemas. Por essa razão, apreciavam a beleza 
do mundo e tentavam captá-la em suas obras de arte. 
c- Racionalismo: tentativa de descobrir pela observação e pela experiência 
as leis que governam o mundo. A razão humana é a base do 
conhecimento. Isto se contrapunha ao conhecimento baseado na 
autoridade, na tradição e na inspiração de origem divina que marcou a 
cultura medieval. 
d- Humanismo: o humanista era o indivíduo que traduzia e estudava os 
textos antigos, principalmente, gregos e romanos. Foi dessa inspiração 
clássica que nasceu a valorização do ser humano. Uma das 
características desses humanistas era a não especialização. Seus 
conhecimentos eram abrangentes 
e- Hedonismo: valorização dos prazeres sensoriais. Esta visão se opunha à 
idéia medieval de associar o pecado aos bens e prazeres materiais. 
f- Individualismo: a afirmação do artista como criador individual da obra de 
arte, deu-se no Renascimento. O artista renascentista assinava suas 
obras, tornando-se famoso. 
g- Inspiração na antiguidade clássica: os artistas renascentistas procuraram 
imitar a estética dos antigos gregos e romanos. O próprio termo 
Renascimento foi cunhado pelos contemporâneos do movimento, que 
pretendiam estar fazendo renascer aquela cultura desaparecida dura a 
“Idade Média”. 
Para se lançar ao conhecimento do mundo e às coisas do homem, o 
movimento renascentista elegia a razão como a principal forma pela qual o 
conhecimento seria alcançado, tanto que concedeu grande importância à 
matemática e às ciências da natureza. 
O Renascimento apresentou um novo conjunto de temas e interesses aos 
meios culturais e científicos da sua época, mas, ao contrário do que possa parecer, 
não pode ser visto como uma radical ruptura com o meio medieval, pois a razão, 
de acordo com o pensamento da renascença era uma manifestação do espírito 
humano que colocava o indivíduo mais próximo de Deus. Ao exercer sua 
capacidade de questionar o mundo, o homem, simplesmente dava vazão a um 
dom concedido por Deus (neoplatonismo). 
 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Itália: O Berço do Renascimento 
O Renascimento teve início e atingiu o seu maior brilho na Itália. Daí 
irradiou-se para outras partes da Europa. O pioneirismo italiano se explica por 
diversos fatores: 
a) A vida urbana e as atividades comerciais sempre foram mais intensas na 
Itália do que no resto da Europa, e o Renascimento está ligado à vida 
urbana e à burguesia. Veneza e Gênova foram duas importantes cidades 
portuárias italianas, ambas com uma poderosa classe de ricos mercadores. 
b) a Itália foi o centro do Império Romano e, por isso tinha, mais presente a 
memória da cultura clássica, e o Renascimento inspirou-se na cultura 
greco-romana. 
c) O contato com árabes e bizantinos, por meio do comércio, deu condições 
para que os italianos tivessem acesso às obras clássicas preservadas por 
esses povos. Quando Constantinopla foi conquistada pelos turcos, em 
1453, vários sábios bizantinos fugiram para a Itália levando manuscritos e 
obras de arte. 
d) O grande acúmulo de riquezas obtidas no comércio com o Oriente, 
formou uma poderosa classe de ricos mercadores, banqueiros e poderosos 
senhores Esse grupo representava um mercado para as obras de arte, 
estimulando a produção intelectual. Muitos pensadores, pintores, 
escultorese arquitetos se tornaram protegidos dessa poderosa classe. À 
essa prática de proteger artistas e pensadores deu-se o nome de 
“mecenato”. Entre os principais mecenas podemos destacar os papas 
Alexandre II, Julio II e Leão X. Também ricos mercadores e políticos foram 
importantes mecenas, como, por exemplo, a família Medici. 
Depois da Itália, o renascimento espalhou-se por toda a Europa, como se 
pode verificar abaixo. 
Países Baixos – As atividades comerciais e manufatureiras sempre estiveram 
presentes com muita força nesta região, desde o final da Idade Média. Isto foi um 
fato determinante para o desenvolvimento do Renascimento, de um mercado de 
artes e artistas e do mecenato. Foi, na pintura, que o Renascimento flamengo se 
manifestou mais claramente. Robert Camoin, Bruegel, Hubert e Van Eyck, entre 
tantos outros, foram os que mais se destacaram. Mas, talvez, venha da literatura 
seu intelectual mais conhecido, Erasmo de Rotterdam, em cuja obra principal 
(Elogio da Loucura) criticou duramente a cultura medieval e a corrupção da Igreja 
Católica. 
 
Alemanha – A renascença alemã ocorreu por volta do sec. XVI e XVII. Esse período 
teve um início particularmente fértil. Grandes mestres, pintores e gravadores, 
influenciados pela Itália, embora preservassem sua originalidade germânica, 
deram origem a uma arte de extraordinária densidade: Durer, de gênio universal, 
Grunewald, Cranach, Burgkmair, Altdorfer. O sec. XVII foi menos rico. A tradução 
da Bíblia por Lutero, no século XVI, fixou as bases da moderna língua alemã. A 
Reforma e a contra-reforma inspiraram textos polêmicos, renovaram o lirismo 
religioso, originaram uma tendência realista (Hans Sachs) e suscitaram uma arte e 
literatura barrocas. Por volta de 1700, a literatura alemã sofreu uma marcante 
influência francesa, que, mais tarde, foi substituída pela inglesa, fato que 
determinaria a inclinação alemã para o teatro modelo shakespeariano e a 
constituição de uma primeira modalidade de classicismo no romance e na poesia. 
À margem do racionalismo, desenvolveu-se um movimento religioso e 
sentimental, não tão de acordo com o pensamento renascentista. 
 
França- O Renascimento francês foi menos vigoroso que o italiano e o flamengo. 
Os monarcas, Luís XI e Francisco I, foram autênticos mecenas, financiando e 
protegendo artistas e intelectuais. As realizações mais notáveis estão no campo da 
literatura, com François Rabelais, criador dos personagens Gargântula e 
Pantagruel, livros que renovaram a prosa e criticaram a Igreja e o universo 
medieval. 
 
Inglaterra- Aqui o Renascimento ocorreu tardiamente, no final do século XV, 
coincidindo com a centralização do Estado Inglês. A música, a literatura e o teatro 
tiveram um desenvolvimento significativo na Inglaterra renascentista. Surgiram 
neste período vários tradutores das obras clássicas para o inglês. Um dos 
humanistas ingleses mais criativos foi Thomas Morus, autor de Utopia (1516), em 
que descreve as condições de vida de uma sociedade sem ricos e pobres, em uma 
ilha imaginária. Por problemas religiosos, ele foi preso e executado por ordem de 
Henrique VIII. O pensador e filósofo Francis Bacon começou a desenvolver o 
método indutivo e experimental e ainda serve de referência para a compreensão 
da ciência moderna. Talvez seja no teatro que tenha surgido o mais notável 
homem de letras da Inglaterra: Willian Shakespeare. Considerado como um dois 
maiores dramaturgos de todos os tempos. Apesar de algumas de suas obras 
criticarem os valores do cavaleiro do mundo medieval, e a falta de um rei 
poderoso, muitas vezes ele demonstrou aceitar a influência do imaginário popular 
da Idade Média, composto por bruxas, fantasmas, fadas e faunos. 
 
Portugal e Espanha- O renascimento na península ibérica foi influenciado pelas 
artes mouras e pelo cristianismo. Destaques espanhóis: o pintor El Greco e o 
escritor Miguel de Cervantes, autor de “Don Quixote de La Mancha”. Em Portugal, 
foi o poeta Luis Vaz de Camões autor de “Os Lusíadas”, Gil Vicente, criador do 
teatro nacional português, e no cenário político temos de destacar o Marques de 
Pombal. 
 
 
 Heliocentrismo é uma teoria astronômica que 
demonstra cientificamente que o Sol é o centro 
do Sistema Solar. Foi o astrônomo grego 
Aristarco de Samos que apresentou pela 
primeira vez, no século III a.C, esta teoria. 
http://www.suapesquisa.com/o_que_e/heliocentr
ismo.htm 
UNIDADE 13 - A EDUCAÇÃO NO RENASCIMENTO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre a educação no Renascimento. 
O renascimento veio 
contrapor-se ao dogmatismo 
religioso da Idade Média 
através do antropocentrismo, 
racionalismo, individualismo e 
heliocentrismo. Porém, é impossível descrever o renascimento sem considerar os 
acontecimentos e movimentos que o antecederam, focalizando a educação 
escolar e suas origens. 
Ao contrário do que se supõe, apenas os primeiros quatro séculos do 
período medieval podem ser considerados de relativa estagnação na busca do 
conhecimento científico. Nos anos restantes, foram lançadas as bases do 
Renascimento. Nesse período, antes dos meados do século XV, até os próprios 
padres descuidavam-se de seu aperfeiçoamento e atualização. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Evoluções da Educação no Período Renascentista 
Foi o monge inglês Alcuino de York, diretor da escola instalada no Palácio 
do Imperador, o encarregado de elaborar um projeto de desenvolvimento escolar. 
O plano compreendia um programa de estudo das sete artes liberais: o trivium 
(gramática, retórica e dialética) e o quadrivium (aritimética, geometria, astronomia 
e musica). A partir do ano 787, foi decretada a reestruturação das escolas antigas 
e a fundação de novas em todo o Império. 
As novas escolas eram de três tipos: Monacais, nos mosteiros; catedrais, 
nos bispados e palatinas, nos palácios. 
Segundo BURNS os avanços da filosofia e da ciência no último período da 
Idade Média teriam sido impossíveis sem o progresso educacional ocorrido entre 
os séculos IX e XV, e o aparecimento das universidades, que representam a 
realização mais importante da Idade Média. 
No século XV, a expansão da educação deveu-se à invenção da imprensa 
por Gutemberg em 1440: iniciava-se o Renascimento propriamente dito. 
Um novo acontecimento veio então dinamizar o processo educacional: a 
Reforma Protestante, capitaneada pelo monge católico Martinho Lutero. Lutero 
era inconformado com algumas práticas da Igreja, como a venda de indulgências. 
Sua revolta levou a cristandade a uma cisão definitiva. Segundo Aranha. apud 
Moser: 
Lutero defendia a educação universal e publica, solicitando às 
autoridades oficiais que assumissem essa tarefa, por considerá-la 
competência do Estado. [...] propôs jogos, exercícios físicos, 
músicas, valorizou os conteúdos literários e recomendava o 
estudo de História e das Matemáticas”. 
ARANHA, apud MOSER, 2008, p. 98. 
 
As inovações de Lutero na educação foram de tal ordem e importância que 
passaram a ser copiadas pelas outras nações da época, sendo o sistema 
educacional alemão considerado como modelo. 
A reação católica à campanha da Reforma protestante, a partir dos padres 
da Igreja, cristalizou-se de várias maneiras: a Inquisição foi restabelecida, criou-se 
uma lista de livros proibidos aos fieis, fundaram-se seminários e foi criada a 
Companhia de Jesus, também conhecida como a Ordem dos Jesuítas foi fundada 
por Inácio de Loyola em 1534. Coube à mesma a tarefa de difundir a educação 
católica na Europa e também no Brasil. 
O método de ensino intitulado “Ratio Studiorium”, elaborado, no final do 
século XVI, expandiu-se por toda a Europa e regiões do Novo Mundo (América), 
em fase de ocupação. A Ratio Studiorium constava das regras e grade de ensino a 
que todas as unidades educacionais dos jesuítas deveriam obedecer, em qualquer 
parte do planeta em que estivessem situadas.O objetivo era unificar a educação 
católica em métodos e conteúdos. O latim era ensinado até que os alunos 
tivessem pleno domínio. 
Com a didática, a exigência era grande, recomendando-se a repetição para 
memorização. Para isso, os alunos contavam com os decuriões, que eram os 
melhores alunos e ficavam responsáveis, cada um, por nove colegas. Aos sábados, 
eram tomadas as lições da semana, donde se originou a palavra sabatina. 
Os jesuítas tinham dois tipos de colégios, como o internato e o externato. 
As férias eram curtas para que os alunos não tivessem oportunidade de desviar-se 
dos ensinamentos recebidos. Os jesuítas tornaram-se famosos pelo empenho em 
institucionalizar o colégio como local, por excelência, de formação religiosa, 
intelectual e moral das crianças e jovens. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
O Renascimento foi gestado ao longo dos séculos finais do período 
medieval, que, por sua vez, não foi aquela noite escura de mais de mil anos, 
entendida por alguns historiadores. Durante este período, houve uma grande 
evolução na forma e conteúdo de transmissão dos conhecimentos. O papel 
desempenhado pelo surgimento da imprensa e a reforma, liderada por Lutero, 
foram decisivos, tornando-se difícil eleger um dos fatores como fundamental. 
Defende-se como fator mais importante, a reforma, já que a mesma mobilizou a 
Igreja Católica, mas tanto a reforma, quanto o advento da imprensa, provocaram 
um avanço inegável, que ainda hoje repercute na educação ocidental e mundial. 
 
 
UNIDADE 14 - ILUMINISMO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre o Iluminismo. 
A revolução intelectual que se efetivou na Europa, especialmente na 
França, no século XVIII, ficou conhecida como Iluminismo. Esse movimento 
representou o auge das transformações culturais iniciadas no século XIV pelo 
movimento renascentista. O antropocentrismo (teoria que considera o homem o 
centro do universo) e o individualismo renascentista, ao incentivarem a 
investigação científica, levaram à gradativa separação entre o campo da fé 
(religião) e o da razão (ciência), determinando profundas transformações no 
modo de pensar, sentir e agir das pessoas. Rejeitava a submissão cega à 
autoridade e a crença na visão medieval teocêntrica. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Para os iluministas, só através da razão o Homem poderia alcançar o 
conhecimento, a convivência harmoniosa em sociedade, a liberdade individual e a 
felicidade. A razão era o único guia da sabedoria capaz de esclarecer qualquer 
problema, possibilitando ao homem a compreensão e o domínio da natureza. As 
tendências que marcaram o Iluminismo foram: a valorização do culto da razão e 
predominância da ciência; crença no aperfeiçoamento do homem e a liberdade 
política, econômica e religiosa. 
O Iluminismo foi a culminância de um processo que começou no 
Renascimento, quando se usou a razão para se descobrir o mundo e que ganhou 
aspecto essencialmente crítico no século XVIII. Esse espírito generalizou-se nos 
clubes, cafés e salões literários. 
A filosofia passou a considerar a razão indispensável ao estudo de 
fenômenos naturais e socais. Até a crença devia ser racionalizada. Os iluministas 
acreditavam que Deus está presente na natureza, portanto, no próprio homem, 
que pode descobri-lo através da razão. 
Os iluministas diziam que leis naturais regulavam as relações entre os 
homens, tal como regulavam os fenômenos da natureza. Consideravam os 
homens todos bons e iguais; e que as desigualdades seriam provocadas pelos 
próprios homens, isto é, pela sociedade. Para corrigi-las, achavam necessário 
mudar a sociedade, dando a todos liberdade de expressão e culto, e proteção 
contra a escravidão, a injustiça, a opressão e as guerras. 
O princípio organizador da sociedade deveria ser a busca da felicidade; ao 
governo caberia garantir: direitos naturais, liberdade individual, a livre posse de 
bens, tolerância para a expressão de ideias, igualdade perante a lei, justiça com 
base na punição dos delitos. A forma política ideal variava: seria a monarquia 
inglesa, segundo Montesquieu e Voltaire; ou a república fundada sobre a 
moralidade e a virtude cívica, segundo Rousseau. 
O Iluminismo fundamentou-se basicamente em duas correntes filosóficas: 
O racionalismo e o empirismo. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Racionalismo é uma concepção filosófica que afirma a razão como única 
faculdade a propiciar o conhecimento adequado da realidade. A razão, por 
iluminar o real e perceber as conexões e relações que o constituem, é a 
capacidade de apreender ou a ver as coisas em suas articulações, ou 
interdependência em que se encontram umas com as outras. 
A partir do pressuposto de que o pensamento coincide com o ser, a 
filosofia ocidental, desde suas origens, percebe que há concordância entre a 
estrutura da razão e a estrutura análoga do real, pois, caso houvesse total 
desacordo entre a razão e a realidade, o real seria incognoscível e nada se poderia 
dizer a respeito. O conhecimento, ao se distinguir da produção e da criação de 
objetos, implica a possibilidade de reproduzir o real no pensamento, sem alterá-lo 
ou modificá-lo. 
Dois elementos marcariam o desenvolvimento da filosofia racionalista 
clássica no século XVII. De um lado, a confiança na capacidade do pensamento 
matemático, símbolo da autonomia da razão, para interpretar adequadamente o 
mundo; de outro, a necessidade de conferir ao conhecimento racional uma 
fundamentação metafísica que garantisse sua certeza. Ambas as questões 
conformaram a ideia basilar do “Discurso sobre o método” (1637) de Descartes, 
texto central do racionalismo. 
Para Descartes, a realidade física coincide com o pensamento e pode ser 
traduzida por fórmulas e equações matemáticas. Descartes estava convicto 
também de que todo correspondem aos fundamentos racionais da realidade. 
Empirismo: sob uma perspectiva contrária, os empiristas britânicos refutaram a 
existência das ideias inatas e postularam que a mente é uma tábula rasa ou 
página em branco, cujo material provém da experiência. A oposição entre 
racionalismo e empirismo, no entanto, está longe de ser absoluta, pois filósofos 
empiristas com John Locke e, com maior dose de ceticismo, David Hume, embora 
insistissem em que todo conhecimento deve provir de uma “sensação”, não 
negaram o papel da razão como organizadora dos dados dos sentidos. O 
racionalismo cartesiano e o empirismo inglês desembocaram no Iluminismo do 
século XVIII. A razão e a experiência de que resulta o conhecimento científico do 
mundo e da sociedade, bem como a possibilidade de transformá-los, são 
instâncias em nome das quais se passou a criticar todos os valores do mundo 
medieval. 
O iluminismo surgiu na França do século XVII e atingiu seu apogeu no 
século XVIII. Os pensadores que defendiam estes ideais iluministas acreditavam 
que o pensamento racional deveria ser levado adiante, substituindo as crenças 
religiosas e o misticismo, que segundo eles, bloqueavam a evolução do homem. 
O homem deveria ser o centro e passar a buscar respostas para as questões que, 
até então, eram justificadas somente pela fé. O seu apogeu, no século XVIII, 
influenciou a “Revolução Francesa” através do seu lema: “Liberdade, Igualdade e 
Fraternidade”. Também teve influência em outros movimentos, como a 
independência das colônias Inglesas na América do Norte e na Inconfidência 
Mineira. 
 
O Iluminismo no Brasil 
As ideias iluministas chegaram ao Brasil, no século XVIII. Muitos brasileiros 
das classes mais altas da sociedade iam estudar em universidades da Europa e 
entravam em contato com as teorias e pensamentos que desenvolviam em todo 
território europeu. Ao retornarem ao país, após os estudos, essas pessoas 
divulgavam as ideias do iluminismo, principalmente, nos centros urbanos. 
Alguns inconfidentes usaram as propostas iluministas como base para 
fundamentara tentativa de independência do Brasil. As principais ideias 
iluministas que influenciaram os inconfidentes foram: 
- Fim do colonialismo; 
- Fim do absolutismo; 
- Substituição da monarquia pela República; 
- Liberdade econômica (liberalismo); 
- Liberdade religiosa, de pensamento e expressão. 
Mesmo não obtendo o sucesso desejado, que seria a Independência do 
Brasil, os inconfidentes conseguiram difundir as ideias do iluminismo entre as 
camadas urbanas da sociedade brasileira. Os ideais iluministas foram de 
fundamental importância na formação política do Brasil. 
 
 
John Locke (1632 – 1704) – nasceu em Wrington, 
na Inglaterra, filho de comerciantes. Estudou, 
inicialmente, na Westminster Scholl e depois em 
Oxford. É considerado um dos líderes da 
doutrina filosófica conhecida como Empirismo e 
um dos ideólogos do liberalismo e do 
iluminismo. Teve uma vida voltada para o 
pensamento político e desenvolvimento 
intelectual. Estudou filosofia, medicina e ciências 
naturais na Universidade de Oxford, tornando-se 
também professor desta universidade, onde 
lecionou grego, filosofia e retórica. 
Frases de John Locke - 
“Não se revolta um povo inteiro a não ser que a 
opressão seja geral”. 
“A leitura fornece conhecimento à mente. O 
pensamento incorpora o que lemos”. 
“Ações dos seres humanos são as melhores 
interpretes de seu pensamento”. 
UNIDADE 15 - PEQUENOS DADOS DE GRANDES FILÓSOFOS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Propiciar conhecimentos sobre alguns filósofos de destaque. 
 Nesta unidade, abordaremos alguns filósofos, cujas teorias influenciaram o 
pensamento filosófico. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
A ordem cronológica evidencia alguns influentes e influenciados. 
Para John Locke a busca 
do conhecimento deveria 
ocorrer através de experiências 
e não por deduções ou 
especulações. Afirmava que a 
mente de uma pessoa ao 
nascer era uma tabula rasa, e 
as experiências pelas quais 
passava na vida é que iriam 
formando seus conhecimentos e personalidade. Para ele, todos os seres humanos 
nascem bom, iguais e independentes. A sociedade é a responsável pela formação 
do indivíduo. 
Locke criticou o direito divino dos reis, pois, para ele, a soberania não 
reside no Estado, mas sim na população, e o Estado devia respeitar as leis naturais 
e civis. Defendeu a separação 
da Igreja, do Estado e a 
liberdade religiosa. O poder 
deveria ser divido em três: 
executivo, legislativo e 
 ISAAC NEWTON – (1643 – 1727) cientista, 
químico, físico, mecânico e matemático, 
trabalhou junto com Leibniz na elaboração do 
cálculo infinitesimal 
Frases de Isaac Newton: 
-“Se vi mais longe foi por estar de pé sobre 
ombros de gigantes”. 
-“O que sabemos e uma gota, o que ignoramos 
é um oceano”. 
-“Eu consigo calcular o movimento dos corpos 
celestiais, mas não a loucura das pessoas”. 
-“Nenhuma grande descoberta foi feita jamais 
sem um palpite ousado”. 
judiciário. O poder legislativo, por representar o povo, era o mais importante. 
Embora defendesse que todos os homens eram iguais, foi um defensor da 
escravidão. Não relacionava a escravidão à raça, mas sim aos vencidos na guerra. 
De acordo com Locke os inimigos e capturados na guerra poderiam ser mortos, 
mas caso suas vidas fossem mantidas deveriam trocar a liberdade pela escravidão. 
Durante sua trajetória, 
Newton descobriu várias leis 
da física, entre elas, a lei da 
gravidade. Este cientista 
inglês, que foi um dos principais precursores do iluminismo, criou o binômio de 
Newton, fazendo outras descobertas importantes para a ciência. Quatro de suas 
principais descobertas foram realizadas em sua casa, isto ocorreu no ano de 1665, 
período em que a Universidade de Cambridge foi obrigada a fechar suas portas 
por causa da peste que se alastrava por toda Europa. Na fazenda onde morava, o 
jovem e brilhante estudante realizou descobertas que mudaram o rumo da 
ciência, da física e da matemática. Além disso, escreveu, também, sobre química, 
alquimia, cronologia e teologia. 
Newton sempre esteve envolvido com questões filosóficas, religiosas e 
teológicas e, também, com a alquimia. Suas obras mostravam claramente seu 
conhecimento a respeito desses assuntos. Devido a sua modéstia, não foi fácil 
convencê-lo a escrever o livro “Principia”, considerado uma das obras científicas 
mais importantes do mundo. 
Newton tinha um 
temperamento tranquilo. Ele se 
dedicava muito ao seu 
trabalho e, muitas vezes, 
deixava até de se alimentar e 
também de dormir por causa 
disso. Além de todas as 
Frases de Voltaire: 
-“E difícil libertar os tolos das amarras que eles 
veneram”; 
-“A leitura engrandece a alma”; 
-“A guerra é o maior dos crimes, mas não existe 
agressor que não disfarce seu crime com 
pretexto de justiça”. 
-“O preconceito é uma opinião não submetida à 
razão”. 
GEORGE BERKELEY –(1685 – 1753) – nasceu no 
condado de Kilkenny, na Irlanda. Estudou no 
Trinity College de Dublin. Lecionou hebraico, 
grego, teologia e dedicou-se ao estudo 
sistemático da filosofia. Berkeley era ministro da 
Igreja Anglicana e escreveu uma série de artigos 
contra os livres pensadores. Em 1713 torna-se 
preceptor de jovens ingleses que desejavam 
conhecer a Itália. Permaneceu lá até 1721. Em 
seguida atirou-se a polêmica religiosa, 
atribuindo todos os males de seu país à 
incredulidade. Pensando em remedia-los 
tornou-se missionário nas Bermudas, onde ficou 
três anos. 
 
descobertas que ele fez, acredita-se que ocorreram muitas outras que não foram 
anotadas. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Filosofia Imaterialista: 
Berkeley aceita o empirismo 
de Locke, mas não admite a 
passagem dos 
conhecimentos fornecidos 
pela experiência para o 
conceito abstrato material. 
Por isso, e assumindo o mais 
radical empirismo, Berkeley 
afirma que uma substância 
material não pode ser conhecida em si mesma. O que se conhece, na verdade, 
resume-se às qualidades reveladas durante o processo perceptível. Assim, o que 
existe realmente nada mais é do que um feixe de sensações e é por isso que ser é 
ser percebido. Ele postula a existência de uma mente cósmica que seria universal 
e superior à mente dos homens individuais. Deus é essa mente e tudo o mais seria 
percebido por Ele. 
 
Voltaire – (1694-1778) era o pseudônimo de Françoise Marie Arouet. Foi grande 
filósofo iluminista. Fazia parte de 
uma família nobre francesa. 
Estudou num colégio jesuíta da 
França, onde aprendeu latim e 
grego. 
Foi influenciado pelo 
Immanuel Kant (1724-1804)- Era filho de um 
pequeno artesão e passou toda a vida em 
Koningsber, Alemanha. A modernidade é 
marcada pelo fator subjetivista do sujeito, do 
indivíduo. 
AUGUSTE COMTE –(1 798 a l857) – filósofo 
francês, nasceu Montepellier, nove anos após o 
início da Revolução Francesa. A sua assombrosa 
inteligência foi logo reconhecida aos dezesseis 
anos de idade quando entra para a Escola 
Politécnica. 
 
Frases de Comte: 
-“Amor por princípio, a ordem por base e 
progresso por fim”; 
-“O progresso é o desenvolvimento da ordem”; 
-“Tudo é relativo, eis o único princípio absoluto”; 
-“O homem resume nele todas as leis do mundo”. 
cientista Isaac Newton e pelo filosofo John Locke. 
Seus Pensamentos e Ideias são: 
- defendia as liberdades civis; 
- criticou o Absolutismo 
- criticou o poder da Igreja Católica e sua interferência na política; 
- foi um defensor do livre comércio. 
 
A herança do renascimento 
fez uma nova releitura da 
realidade saindo do 
teocentrismo para o 
antropocentrismo. Neste 
contexto histórico, cultural e 
filosófico se encontra inserido Kant. Compartilha dos ideais iluminista de sua 
época, mas sua teoria do conhecimento, expressamente modernista considera o 
dado da experiência extremamente importante, mas não descarta o dado 
empírico, assim como não descarta a possibilidade racionalista, mas, as une, 
sintetiza-as. Nascem então, os juízos sintéticos a priori e o idealismotranscendental kantiano como síntese e superação do racionalismo e empirismo. 
A teoria kantiana tem como objetivo a determinação de princípios que governam 
o entendimento humano e os limites de sua aplicação. 
Comte era apaixonado 
pela cultura foi influenciado por 
Aristóteles, Bacon, Descartes, 
Hume, Diderot, considerados 
precursores do “Positivismo”. Lia 
todos os livros que podia 
comprar, com sacrifício até de 
sua alimentação. Logo depois, 
deixou de ler e começou a meditar. Com dezenove anos descobre o princípio da 
relatividade. Com vinte e quatro anos, após sessenta horas de meditação sem 
dormir descobre a Lei dos Três Estados ou Lei da Inteligência, que lhe permitiu 
criar a Sociologia – ele é o pai da Sociologia Positiva. 
 
 
 
Luís Antonio Verney (oratoriano) 
 “Congregação do Oratório:- fundada por São 
Felipe Neri, em 1565. É uma sociedade de vida 
apostólica para clérigos seculares, sem votos de 
pobreza e obediência, dedicando-se à educação 
e obras de caridade. 
UNIDADE 16 - QUEM FOI O MARQUÊS DE POMBAL? ILUMINISTA? 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Propiciar conhecimentos a respeito do Marquês de Pombal 
Marquês de Pombal é o nome com que ficou conhecido Sebastião José de 
Carvalho e Melo, político e verdadeiro dirigente de Portugal, durante o reinado de 
José I, o Reformador. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Visão geral das ideias político-econômicas de Pombal 
O ambiente intelectual 
em Portugal, no século XVIII, 
permitia debates intensos 
sobre questões fundamentais 
ligadas à filosofia e à 
educação. A maior influência nesse processo de inovação educacional foi a do 
oratoriano padre Luis Antonio Verney. Autor de “O verdadeiro método de 
estudar”, que era um manual eclético de lógica, um método de gramática, um 
livro sobre ortografia, um tratado de metafísica e continha dezenas de cartas 
sobre todos os tipos de assunto. Publicado pela primeira vez em Nápoles, 
postulava que a gramática deveria ser ensinada em português e não em latim. Foi 
um firme adepto dos métodos experimentais e se opunha a um sistema de 
debates baseado na autoridade, como na tradição escolástica. 
A consequência mais imediata desse debate filosófico em Portugal foi 
levantar a questão da influência da Companhia de Jesus (1534-l773). Isto se deu, 
porque os jesuítas mantinham um quase monopólio da educação superior e eram, 
do ponto de vista de seus oponentes, os principais defensores de uma tradição 
Pombal nasceu em Lisboa no dia 13 de maio de 
1699. Estudou na Universidade de Coimbra. Em 
1738, foi nomeado embaixador em Londres e, 
cinco anos depois, embaixador em Viena, cargo 
que exerceu até 1748. Em 1750, o rei José 
nomeou-o secretário de Estado (ministro) para 
Assuntos Exteriores. 
Quando um terremoto devastador destruiu 
Lisboa em 1755, Pombal organizou as forças de 
auxílio e planejou a reconstrução da cidade. 
Impediu a fuga da população amotinada e 
determinou a imediata inumação (queima) dos 
quarenta mil cadáveres espalhados pela cidade, 
e por fim, reconstruiu e transformou a capital em 
uma cidade moderna. Foi nomeado primeiro 
ministro nesse mesmo ano. A partir de 1756, seu 
poder foi quase absoluto e realizou um 
programa político de acordo com os princípios 
do Século das Luzes ou Iluminismo. Aboliu a 
escravidão, reorganizou o sistema educacional, 
elaborou um novo código penal, introduziu 
novos colonos nos domínios coloniais 
portugueses e funda a Companhia das Índias 
Orientais. Além de reorganizar o Exército e 
fortalecer a Marinha portuguesa, desenvolveu a 
agricultura, o comércio e as finanças, com base 
nos princípios do mercantilismo. No entanto, 
suas reformas suscitaram grande oposição, em 
particular dos jesuítas e da aristocracia. 
escolástica morta e estéril, inadequada à idade da razão. Na verdade, os jesuítas 
eram bem menos fechados às ideias modernas do que supunham os seus 
opositores. O inventário dos livros da Universidade de Évora (controlada pelos 
jesuítas juntamente com algumas faculdades da Universidade de Coimbra) 
continha trabalhos de Bento Feijó, Descartes, Locke e Wolff. O Colégio dos 
Jesuítas em Coimbra possuía o Verdadeiro método de Verney. 
Em Portugal, os jesuítas tinham o direito exclusivo de ensinar latim e 
filosofia no Colégio de Artes, a escola preparatória obrigatória para o ingresso nas 
faculdades de teologia, leis canônicas, leis civis e medicina na Universidade de 
Coimbra. A única outra universidade de Portugal, a de Évora, era uma instituição 
jesuítica. No Brasil, os colégios jesuíticos eram as principais fontes para a 
educação secundária. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
A reforma educacional 
tornou-se prioridade, na década 
de 1760. A expulsão dos jesuítas 
deixara Portugal despojado de 
professores, tanto no nível 
secundário como no 
universitário. Os jesuítas haviam 
dirigido, em Portugal, 34 
faculdades e l7 residências 
(colégios). No Brasil, possuíam 
25 residências, 36 missões e 17 
faculdades e seminários. 
As reformas educacionais 
de Pombal visavam a três 
objetivos principais: trazer a 
educação para o controle do Estado, secularizar a educação e padronizar o 
currículo. Já em 1758, foi introduzido o sistema diretivo, para substituir a 
administração secular dos jesuítas. Os diretores deveriam ocupar os lugares dos 
missionários e duas escolas públicas deveriam ser estabelecidas, em cada aldeia 
indígena: uma para meninos; outra, para meninas. Aos meninos ensinar-se-ia ler, 
escrever e contar, assim como a doutrina cristã, enquanto às meninas, em vez de 
contar, aprenderiam a cuidar da casa, costurar, e executar outras tarefas. Os 
diretores, diferente dos missionários, deveriam impor às crianças indígenas o uso 
do português e proibir o uso da própria língua. 
As reformas, no plano prático, enfrentaram problemas, expondo a grande 
distância entre formulações legais e realidade. O ensino, do nível das primeiras 
letras ao secundário, passou a ser ministrado sob a forma de aulas avulsas, 
fragmentando o processo pedagógico. Faltaram professores, manuais e livros 
sugeridos pelos novos métodos. Os recursos orçamentários foram insuficientes 
para custear a educação pública, havendo atrasos nos salários dos mestres. A 
Coroa, em determinadas ocasiões, chegou a delegar aos pais a responsabilidade 
pelo pagamento dos mestres. Isso mostra como a educação tornada pública pela 
lei, tornou-se, em grande parte privatizada. 
 
 
UNIDADE 17 - A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NO PERÍODO POMBALINO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Conhecer os ideais pombalinos e as reformas educacionais. 
A partir do século XVI, a direção do ensino público português desloca-se 
da Universidade de Coimbra para a Companhia de Jesus, que se responsabiliza 
pelo controle do ensino público em Portugal e, posteriormente, no Brasil. 
Praticamente, foram dois séculos de domínio do método educacional jesuítico, 
que termina no século XVIII, com a Reforma de Pombal, quando passa a se 
responsabilizar pela Coroa Portuguesa. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Marquês de Pombal e as reformas educacionais 
Na administração de Pombal, há uma tentativa de atribuir à Companhia de 
Jesus todos os males da educação na metrópole e na colônia, motivo pelo qual os 
jesuítas são responsabilizados pela decadência cultural e educacional imperante 
na sociedade portuguesa. 
Carvalho (1978) chama a atenção para o fato de que esse processo, 
denominado de anti-jesuítico, representava uma atitude presente em muitos 
países europeus, não sendo exclusividade de Portugal. Nesse sentido, os jesuítas 
representavam um obstáculo e uma fonte de resistência às tentativas de 
implantação da nova filosofia iluminista que se difundia rapidamente por toda 
Europa. 
As principais medidas implantadas pelo marquês, por intermédio do Alvará, 
de 28 de junho de 1759, foram: 
 total destruição da organização da educação jesuíticae sua metodologia 
de ensino, tanto no Brasil, quanto em Portugal; 
Real Mesa Censória: criada para censurar os 
livros considerados perturbadores em 
matéria religiosa. Em 1768, o presidente desta 
mesa, o Arcebispo de Évora (inquisidor) escolheu 
o confisco dos bens da Companhia de Jesus, 
para subsidiar as despesas desta instituição. 
Secularização: processo pelo qual a religião 
perde sua influencia sobre as variadas esferas da 
vida social. 
 instituição de aulas de gramática latina, de grego e de retórica; 
 criação do cargo de ‘diretor de estudos’ – pretendia-se que fosse um 
órgão administrativo de orientação e fiscalização do ensino; 
 introdução das aulas régias–aulas, isoladas que substituiu o curso 
secundário de humanidades criado pelos jesuítas; 
 realização de concurso para escolha de professores para ministrarem as 
aulas régias; aprovação e instituição das aulas de comércio. 
Inspirado nos ideais iluministas, Pombal empreende uma profunda reforma 
educacional, ao menos formalmente. A metodologia eclesiástica dos jesuítas é 
substituída pelo pensamento pedagógico da escola pública e laica. É o 
surgimento do espirito moderno (iluminismo), que exigia um novo homem, só 
possível através da educação. 
Pelo Alvará de 5 de 
abril de 1771, Pombal 
transfere a direção do ensino 
para, a “Real Mesa Censória”, 
tirando o controle do ensino 
dos jesuítas passando-o para 
o controle do Estado. Após esse ato, foram criadas, no Brasil, 17 aulas de ler e 
escrever e foi instituído um fundo financeiro para a manutenção dos estudos 
reformados, denominado “subsídio financeiro”. 
As implicações do desmantelamento da organização educacional jesuítica, 
no Brasil, foram: 
1) demora na implantação do novo projeto educacional; 
2) tentativa da Coroa portuguesa e do governo colonial local de abrandar o 
desenvolvimento da instrução pública brasileira visando reprimir a expansão do 
espírito nacionalista que começava a aflorar entre a população; 
3) tentativa de isentar o Estado de suas responsabilidades com a educação, 
através de impostos (subsídio literário). 
Com a aprovação desse Alvará, promoveu-se a substituição dos métodos 
pedagógicos da Companhia de Jesus por uma nova metodologia, considerada 
moderna, iluminista:- “O verdadeiro método de estudar”, de Luis Antonio Verney. 
Verney apresenta propostas tais como: 
 “secularização” do ensino; 
 valorização da língua portuguesa; papel e importância do estudo do latim, 
realizado por intermédio da língua portuguesa (uma das razões do estudo 
do latim era a possibilidade de simplificar e abreviar a duração dos 
estudos); redução do número de anos destinados aos estudos nos níveis 
de ensino inferiores, visando a, fundamentalmente, aumentar o número de 
ingressos nos cursos superiores; 
 apresentação de um plano de estudos para todos os níveis de ensino, do 
fundamental (que se inicia a partir dos sete anos de idade) até os níveis 
superiores de ensino. Disciplinas que compõe sua proposta pedagógica 
são, em sua maioria, literárias tais como: português, latim, retórica, poética 
e filosofia (lógica, moral, ética, metafisica e teologia), direito (direito civil e 
direito canônico), medicina (anatomia), grego, hebreu, francês, italiano, 
anatomia, física (aritmética e geometria); proposta de escola pública e 
gratuita para toda a população portuguesa, (incluindo as colônias), como 
medida de reduzir o analfabetismo da sociedade portuguesa e considera 
importante que as mulheres frequentem as escolas para adquirirem 
conhecimentos necessários à administração do lar. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
É interessante perceber como o iluminismo implantou-se no Brasil. É 
justamente através da política imperial de racionalização e padronização da 
administração de Pombal que a educação passou para as mãos do Estado, mas 
essa educação que passou a ser pública, não se faz para os interesses dos 
cidadãos. Ela serviu aos interesses imediatos do Estado (Coroa Portuguesa), que, 
para garantir seu status absolutista precisou manter-se forte e centralizado nas 
mãos e sobre comando de uns poucos preparados para tais tarefas. Os interesses 
foram públicos – no sentido de estatal –. Mas há um aspecto para o qual se deve 
estar atento: iluminismo no contexto da colônia brasileira tratou-se, na verdade, 
do engrandecimento do poder do Estado e não das liberdades individuais. Dessa 
forma, entender o projeto iluminista pombalino, talvez, seja a chave para ajudar a 
perceber a nossa tradição reformista, nas tentativas de construção de um sistema 
nacional de educação realmente voltado aos interesses públicos, fato que até hoje 
não se consolidou no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 “CIRCULO HERMENÊUTICO”:- a comunicação 
entre o autor de um discurso e o intérprete do 
mesmo deve tomar a forma de um diálogo que 
resulte na “fusão de horizontes” de suas 
existências. Por mais exaustiva que seja a 
pesquisa que explora o contexto do texto, sua 
compreensão não se esgota aí, pois segue se 
dando e renovando o diálogo com o texto. 
EPISTEMOLOGIA:- teoria do conhecimento, 
estudo sobre o conhecimento do conhecimento 
científico, ou seja, estudo dos mecanismos que 
permitem chegar aos conhecimentos científicos. 
UNIDADE 18 - A FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: CÍRCULOS 
HERMENÊUTICOS 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Entender a Filosofia da educação no Brasil e os Círculos hermenêuticos 
Falar da filosofia da educação no Brasil não é tarefa simples porque são 
poucos os estudos históricos 
específicos e os estudos 
teóricos sistematizados sobre 
sua natureza. Os grandes 
círculos hermenêuticos da 
filosofia da educação no Brasil: 
a questão a ser colocada é a de 
se saber como se pensou e se vem pensando, filosoficamente, no Brasil, a 
educação. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Podem-se identificar quatro grandes perspectivas filosófico-educacionais, 
sobre as quais abordamos abaixo. 
 
1- A Tecnicidade Funcional da Educação: ciência e técnica, bases da 
Pedagogia 
No início da modernidade, ocorreu a revolução epistemológica, mediante 
a qual os filósofos, então 
articulados com os cientistas, 
começam a desmontar o 
edifício da metafísica. O novo edifício do conhecimento, que vai sendo construído 
ao longo da modernidade tem seus alicerces lançados numa teoria do 
conhecimento racionalista radical e empirista. Tal posicionamento implica a 
rejeição de qualquer intervenção transcendental que esteja para além da própria 
estrutura da razão natural humana. Responsável pela emergência e 
desenvolvimento da ciência como modalidade fenomenística do conhecimento, o 
racionalismo naturalista moderno transfigura a cosmovisão da cultura ocidental, 
instaurando um processo avassalador de desencantamento e de dessacralização 
do mundo natural e cultural. 
Devido à repercussão dessas transformações na cultura brasileira, 
também a educação passa a ser pensada à luz das novas categorias explicativas, 
fornecidas pelas diversas ciências. Inicia-se a defesa da utilização dos recursos 
técnicos-científico para condução dos processos pedagógicos. 
A expressão desta nova perspectiva está contida na proposta dos 
chamados Pioneiros da Educação, ao avançarem como alternativa à tradicional 
educação jesuítica, o modelo da Escola Nova. 
Pretendendo falar, a partir do universo científico, esses teóricos esclarecem 
que a educação de que a sociedade brasileira precisa é aquela forjada sob as 
luzes e com as ferramentas do conhecimento científico. Por sinal, considerada, 
também, a única educação apropriada para a construção de uma sociedade laica 
e justa, gerenciado por um aparelho estatal, que deve instituir-se, a partir de um 
projeto político-iluminístico e juridicamente implementado. Só assim, livre de 
erros, da ignorância e da ingerência do autoritarismo e do conservadorismo 
clerical, poderá a sociedadebrasileira adentrar os estágios de sua necessária 
modernização. 
Anísio Teixeira é o maior representante deste grupo e desta perspectiva. 
Incorporando as ideias de John Dewey, vê a educação como processo 
intrinsecamente ligado à vida: não é preparação para a vida, ela já é vida. 
 
2- A Eticidade Formativa: A Educação como Construção do Sujeito 
 ANTROPOLOGIA:- ciência preocupada em 
estudar o homem e a humanidade de maneira 
totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas 
dimensões. 
Caracteriza-se por uma prática do conhecimento, sob enfoque 
hermenêutico, que busca o sentido total da educação, compreendendo-a como 
processo de formação do humano no homem, mediante a transformação pessoal 
do próprio sujeito. Essa corrente defende a valorização da autonomia subjetiva. 
A educação é sempre 
encarada como um 
investimento feito pelo 
sujeito, dos recursos da 
exterioridade, com vistas ao desenvolvimento de sua interioridade subjetiva, 
buscando agir com vistas a realizar-se, cada vez mais, como sujeito. O ético 
predomina sobre o político, atuando o educacional, como mediação. Nesse 
sentido, enfatiza mais os fundamentos antropológicos e éticos dos processos do 
que suas mediações práticas ou suas implicações políticas. Pensadores brasileiros 
que nelas se inspiram: Antônio Muniz Rezende, Hilton Japiassu, Odone José 
Quadros, Paulo Reglus Freire e Moacir Gadotti. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
3- A educação como lugar de produção e cultivo da sensibilidade desejante: 
priorizando a esteticidade no pedagógico 
 Caracteriza-se por uma incisiva crítica desconstrutiva dos modelos e 
paradigmas de conhecimento, tanto do campo científico, como do campo 
filosófico, questionando a própria validade e pertinência epistemológica do saber 
fundado na razão. 
Autores como Deleuze e Guattari são considerados pós-modernos, ou 
pós-estruturalistas, no sentido de que vêm questionando o projeto iluminista da 
modernidade. 
As vertentes filosófico-educacionais de inspiração arqueogenealógica 
privilegiam o estar no mundo. Sua preocupação gira em torno dos caminhos e 
ARQUEOGENEALÓGICO:- exercício que funda-se 
numa proposta de ampliar o território de 
reflexão até seus mais extintos fundamentos 
levando à origem e evolução das sociedades e 
dos indivíduos. 
possibilidades do agir do sujeito, que busca ampliar seu território de autonomia, 
frente aos múltiplos determinismos que o cercam. 
Quando aborda os temas educacionais, o faz, exclusivamente, para 
denunciar o caráter sistêmico, desumanizador e repressivo dos saberes e dos 
aparelhos sociais envolvidos. 
Cotidiano, amor, 
desejo, relação pessoal, 
intimidade, singularidade: a 
revalorização do singular concreto contra a dominação do universal abstrato, 
normativo, legislador: tais as referências da reflexão arqueogenealógica, que assim 
se afasta do discurso universalizante das ciências humanas, acusadas de 
racionalismo, de positivismo e de historicismo. 
 
4- A educação como práxis construtora da história: a dimensão de 
politicidade da prática pedagógica 
Trata-se de uma nova tentativa de compreensão do papel da reflexão 
filosófica, bem como da própria natureza do homem, da sociedade e da 
educação. Cabe à Filosofia da Educação delinear uma visão da realidade humana, 
mas ela não mais o faz, contemporaneamente, nem mais de uma perspectiva 
essencialista, nem mais de uma perspectiva naturalista. Percebendo que o poder 
da razão humana não pode atingir a intimidade do real, como pretendia a 
metafísica; não se limita aos dados imediatos da fenomenalidade empírica, como 
pretende a ciência, e muito menos ater-se à volatilidade das vivências puramente 
estatizantes, os filósofos fizeram uma nova abordagem que, mantendo, de um 
lado, a exigência de um olhar de totalidade, herdado da metafísica e, apoiando-se 
nas aproximações histórico-antropológicas da ciência, faz do homem uma 
imagem de um ser de relações, ser social e histórico, que se constitui através de 
uma prática real e concreta. Vêem a educação como um processo inserido no 
processo mais abrangente da existência humana dos educandos. Na filosofia da 
educação de perfil praxista que se desenvolveu no Brasil nas últimas décadas, 
Demerval Saviani teve papel relevante, pelos seus escritos, por demarcar o campo 
epistemológico e temático da Filosofia da Educação, à luz da inspiração dialético-
marxista. 
 
 
UNIDADE 19 - ANÍSIO TEIXEIRA – INFLUÊNCIAS NA EDUCAÇÃO 
BRASILEIRA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar as influências de Anísio Teixeira na Educação Brasileira 
“Numa democracia, nenhuma obra supera a de 
educação. Haverá, talvez, outras aparentemente 
mais urgentes ou imediatas, mas estas mesmas 
pressupõem, se estivermos numa democracia, a 
educação. Todas as demais funções do Estado 
democrático pressupõem a educação. Somente 
esta não é consequência da democracia, mas a 
sua base, o seu fundamento, a condição mesmo 
para sua existência” (Anísio Teixeira). 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Ao iniciar o seu trabalho no âmbito da educação, em 1924, Anísio Teixeira, 
pôs em discussão três temas que, desde então, tornaram-se importantes no 
processo de constituição do campo educacional brasileiro: 
1) Mudança na referência estrangeira para o campo educacional deste país; 
2) Defesa da democratização da educação; 
3) A inclusão da ciência e da pesquisa científica na educação brasileira. 
 
Influência Americana 
 Anísio Teixeira trouxe para o Brasil as ideias do pedagogo e filósofo 
americano, John Dewey, e as introduziu em nossa educação, a partir da década de 
trinta. A relação entre ensino e democracia também estava sendo discutida nos 
Estados Unidos. 
Dewey era um ferrenho defensor do direito de todas as classes sociais à 
educação; definia a aprendizagem como um processo ativo e criou a expressão 
“escola ativa” (todo o conhecimento autêntico vem da experiência). Essa foi uma 
das bases do movimento da escola nova. Muitas dessas ideias estão no “Manifesto 
dos Pioneiros da Educação Nova”. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Manifesto dos Pioneiros da Educação 
No Brasil, as ideias da escola nova foram inseridas, em 1882, por Rui 
Barbosa. O documento “Manifesto dos Pioneiros da Educação” foi publicado e 
assinado, em março de 1932, por vinte e seis intelectuais brasileiros, como Anísio 
Teixeira, Fernando de Azevedo, Lourenço Filho, Cecília Meireles, entre muitos 
outros. 
Os principais objetivos do manifesto foram: 
1) Melhor definição, em âmbito nacional, dos fins e meios da educação, já que isso 
não havia sido claramente definido nas reformas já empreendidas; 
2) A superação do caráter discriminatório e antidemocrático do ensino brasileiro, 
que destinava a escola profissional para os pobres e o ensino acadêmico para as 
elites. Para isso, caberia ao Estado estabelecer um plano geral, orgânico, que 
tornasse a escola acessível em todos os graus, para todos os cidadãos; 
3) Necessidade de substituir a escola estabelecida por privilégios de classe pela 
escola das capacidades. Para isso os princípios da educação ativa (escola nova) 
seriam a base metodológica de ensino a serem aplicadas. As escolas deveriam ser 
verdadeiras comunidades e não aparelhos rígidos e formais. Consideravam 
fundamental a participação das famílias dos alunos na vida escolar. 
No manifesto, mais do que a promoção da escola nova, estava em pauta a 
defesa da escola pública, isto é, a proposta de construção de um amplo e 
abrangente sistema nacional de educação pública, compreendendo, desde a 
escola pré-primária (4 a 6 anos), escola primária (7 a l2 anos), escola secundária ( 
12 a 18 anos) e ensino superior. 
A escola secundária deveria estar articulada com o ensino primário, 
organizada de forma unificada, compreendendo três anos de cultura geral, mais 
ramificações correspondentes às aptidões dos jovens(formação humanística e 
profissional). 
A universidade deveria ser gratuita, centrada na pesquisa e destinada à 
formação das elites de pensadores, sábios, cientistas, técnicos e educadores. 
À luz dessas verdades e sob a inspiração de novos ideais de educação, é 
que se gerou, no Brasil, o movimento de reconstrução educacional, reagindo 
contra o empirismo dominante. Pretendeu esse grupo de educadores, transferir 
do terreno administrativo para os planos político-sociais a solução dos problemas 
escolares. 
Não foram ataques injustos que abalaram o prestígio das instituições 
antigas; foram essas instituições, criações artificiais ou deformadas pelo egoísmo e 
pela rotina, que tornaram inevitáveis os ataques contra elas. 
De fato, porque os nossos métodos de educação haveriam de continuar a 
ser tão prodigiosamente rotineiros, enquanto, no México, no Uruguai, na 
Argentina e no Chile, para só falar na América espanhola, já se operavam 
transformações profundas no aparelho educacional, reorganizado em bases e 
finalidades lucidamente definidas? Porque os nossos programas se haviam ainda 
de fixar nos quadros de segregação social, enquanto nossos meios de locomoção 
e os processos de industrialização centuplicaram de eficácia, em pouco mais de 
um quarto de século? Porque a escola havia de permanecer, entre nós, isolada do 
ambiente, como uma instituição enquistada no meio social, sem influir sobre ele, 
quando, por toda parte, rompendo a barreira das tradições, a ação educativa já 
desbordava a escola, articulando-se com as outras instituições sociais, para 
estender o seu raio de influência e de ação? 
 As ideias de Anísio Teixeira ainda hoje influenciam o ensino brasileiro, 
mesmo tendo sido lançadas há mais de setenta anos. Na nova LDB (Lei de 
Diretrizes e Bases de Educação Nacional), projeto de autoria do Senador Darcy 
Ribeiro, a influência de Anísio fica explícita na criação dos CIEPS (quando Darcy 
Ribeiro foi Secretário da Educação no Rio de Janeiro), inspirados na proposta da 
“escola parque” (projeto instaurado por Anísio Teixeira, na Bahia, em 1950). Anos 
depois, o governo federal copiou os CIEPS de Darcy/Anísio denominando-os 
CIACS. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
UNIDADE 20 - AS IDEIAS E PEDAGOGIA DE PAULO FREIRE 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar as ideias de Paulo Freire 
Os preceitos de Paulo Freire podem ser sintetizados com: Uma educação 
inclusiva que vai além de nossos tempos. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Segundo Edgar Pereira Coelho (1994), atualmente, há uma incidência muito 
grande de estudos sobre Paulo Freire. Relata que, recentemente, aconteceu nos 
Estados Unidos, Los Angeles, na UCLA, um congresso internacional, onde foram 
abordados inúmeros temas sobre sua visão pedagógica. Em praticamente todas 
as universidades brasileiras e nas mais importantes do mundo, há professores que 
estão assumindo, cada vez mais, que mudaram suas didáticas e refizeram o seu 
modo de pensar, a partir da leitura de Paulo Freire ou por terem convivido com 
ele. 
Paulo Freire era, sem dúvida, um cidadão do mundo, mas amava, 
sobretudo, o Brasil. Após longos anos de exílio, ao retornar ao Brasil, afirmava 
desejar reaprender com seus pais. Esse homem, que inquietou e inquieta milhares 
de educadores do mundo inteiro, aliás, não só educadores, mas, principalmente, 
os que utilizam a educação para domesticar as pessoas ou como mero jogo 
político. 
Edgar apresenta algumas ideias de Paulo Freire, que considera um motor 
para quem queira ser educador neste país, ou onde quer que seja “ninguém 
liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em 
comunhão”. (Freire). 
Esse mesmo estilo ele vai utilizar para falar do processo de aprendizagem, 
acreditando que “ninguém ensina nada a ninguém”. A partir dessas ideias, 
percebe-se que, na prática pedagógica, o mais interessante e eficaz é o círculo de 
cultura, onde o educador passa a ser um animador, substituindo a “aula bancária”, 
onde o professor é aquele que sabe e ensina, por aquele que aprende, ao ensinar, 
pois é aprendendo o que se ensina, portanto, o mais importante é aprender. 
Para ele “na medida em que você assume a posição ingênua do educando, 
você supera essa posição com ele, e não sobre ele”. Essa postura na vida concreta, 
leva-nos a lançar um novo olhar sobre os nossos alunos e, por falar em alunos, 
Paulo Freire tinha uma preocupação que não fizessem de suas ideias uma religião. 
Dizia que não queria ter discípulos, mas sim pessoas que, compreendendo o 
sentido de seu compromisso com o oprimido e suas ideias, o reinventassem e 
levassem adiante o seu legado, que acredito, diz Edgar Pereira Coelho, estar 
germinando em muitas comunidades humanas. Paulo Freire tinha uma enorme 
convicção de que somente o oprimido tem o germe da libertação, que pode 
libertar o opressor. Veja as suas próprias palavras: 
 
E essa luta somente tem sentido quando os oprimidos, ao 
buscarem recuperar sua humanidade, que é uma forma de criá-
la, não se sentem idealistamente opressores, nem se tornam de 
fato, opressores dos opressores, mas restauradores da 
humanidade em ambos e ai está a grande tarefa humanista e 
histórica dos oprimidos – libertar-se a si e aos opressores. Estes, 
que oprimem, exploram e violentam, em razão de seu poder, não 
podem ter, neste poder, a força de libertação dos oprimidos nem 
de si mesmos. Só o poder que nasça da debilidade dos oprimidos 
será suficientemente forte para libertar a ambos. 
FREIRE, 1987, p. 58. 
 
Na sua obra “Pedagogia do Oprimido”, o tema central diz respeito à ideia 
de que deve existir um intercâmbio contínuo de saber entre educadores e 
educandos, com o escopo de que os últimos não se limitem a repetir 
mecanicamente o conhecimento transmitido pelos primeiros. 
Por meio do diálogo entre professores e alunos, estabelecem-se 
possibilidades comunicativas, em cujo cerne está a transformação do educando 
em sujeito de sua própria história. 
A “Pedagogia do Oprimido” revela que a educação conscientiza os 
indivíduos sobre as diversas contradições e disparidades do mundo, de modo a 
incutir-lhes a demanda por mudanças na realidade social. 
Conhecer Paulo Freire e compreendê-lo, é assumir o seu legado, que é, 
sem dúvida, a reconstrução do mundo que aí está, marcado pelos efeitos nefastos 
do Neoliberalismo e da Globalização e em busca de um mundo mais solidário 
com reais oportunidades de vida para todos e todas. Conhecê-lo, é não abrir mão 
do constante e exigente dialogo que sempre foi um dos pilares de sua luta. É ser 
simples, capaz de criar uma linguagem que nos aproxime e nos leve a entender o 
mundo do oprimido, sem abrir mão da ciência, da lógica, da dialética, sem perder 
a ternura da vida, conforme Pereira, 1987. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 Vale a pena conhecer um pouco mais a vida de Paulo Freire 
PAULO Reglus Neves Freires nasceu em 19 de Setembro de 1921, na cidade de 
Recife. A crise econômica de 1929 produziu reflexos muito acentuados no Nordeste. Em 
busca de melhores condições de vida, seu pai levou a família para a cidadezinha de 
Jaboatão dos Guararapes, a 18 Km do Recife. Paulo Freire tinha 10 anos de idade. Ali 
conheceu a dor, com a morte do pai, aos 13 anos, e o sofrimento ao assistir a mãe ter que 
sustentar sozinha toda a família, convivendo com privações materiais e muitas 
dificuldades financeiras. 
No campo de futebol de Jaboatão, ele mantinha contato com a camada mais 
pobre da cidade, jogando peladas com os meninos camponeses e filhos de operários que 
moravam em morros e brincavam em córregos. Com eles, Paulo Freire descobriu uma 
forma diferente de pensar e de se expressar – era a linguagem popular, à qual ele sempre 
privilegiou usando-a mais tarde como educador. 
Fez o primeiro ano de ginásio com 16 anos num colégio privado, em Recife. Mas 
sua mãe não tinha condições de continuarpagando a mensalidade e, com esforço, ela 
conseguiu uma bolsa de estudos no Colégio Oswaldo Cruz. Foi assim que Paulo Freire 
conseguiu concluir seus estudos secundários. 
Aos 22 anos, Paulo Freire ingressa na Faculdade de Direito do Recife. Naquela 
época, o curso de direito era a única alternativa na área de ciências humanas. Nesse 
período, conheceu a professora primária Elza Maia Costa Oliveira, cinco anos mais velha 
do que ele, com quem se casou, em 1944, e teve cinco filhos. Ainda nessa época, o 
mesmo Colégio Oswaldo Cruz que o acolheu como bolsista na adolescência contratou-o 
como professor de língua portuguesa e, nessa atividade, descobriu a sua paixão pelo 
ensino. 
Sua “carreira” de advogado resumiu-se a uma única causa: “Tratava-se de cobrar 
uma dívida. Depois de conversar com o devedor, um jovem dentista tímido e 
amedrontado, deixei-o ir em paz. Ele ficou feliz por eu ser o advogado, e eu fiquei feliz 
por deixar de sê-lo” 
Em 1947, Paulo Freire assume o cargo de Diretor do Setor de Educação do SESI 
(Serviço Social da Indústria) do Recife. Trabalhando inicialmente com analfabetos pobres, 
começou a se envolver com o movimento “Teologia da Libertação”, uma vez que era 
necessário que o pobre soubesse ler e escrever, para ter direito ao voto nas eleições 
presidenciais. Assim, travou contato com a questão da educação de 
adultos/trabalhadores e percebeu a necessidade de executar um trabalho direcionado à 
alfabetização. 
Estudando as relações entre alunos, mestres e pais de alunos do SESI, Paulo Freire 
conheceu a realidade dos trabalhadores e as particularidades da sua linguagem. 
Entendeu que educar era, sobretudo, discutir as condições materiais de vida do 
trabalhador comum. Dedicou-se a estudar a linguagem do povo, consolidando seus 
trabalhos em educação popular. Sua primeira experiência, como professor universitário, 
foi na Escola de Serviço Social, lecionando Filosofia da Educação. 
Doutorou-se em Filosofia e História da Educação, em 1959, com a tese “Educação 
e Atualidade Brasileira”. No início dos anos 60, engajou-se nos movimentos de educação 
popular, entre eles, a campanha “De pé no chão também se Aprende a Ler” e a 
“Campanha de Alfabetização de Angicos (alfabetização de 300 trabalhadores rurais em 
45 dias), ambas no Rio Grande do Norte, e coordenou o Programa Nacional de 
Alfabetização do Governo Goulart. 
Em 1964, com o golpe militar, Freire foi encarcerado como traidor por 70 dias. Em 
seguida, passou por um breve exilio na Bolívia, trabalhou no Chile por cinco anos para o 
Movimento de Reforma Agrária da Democracia Cristã e para a Organização de 
Agricultura e Alimentos da Organização das Nações Unidas. Em 1967, publicou seu 
primeiro livro “Educação como prática da liberdade”. O livro foi bem recebido e Freire foi 
convidado para ser professor visitante da Universidade de Harvard, em 1969. No ano 
anterior, ele escrevera seu mais famoso livro “Pedagogia do Oprimido” que foi publicado 
em várias línguas, como o espanhol, o inglês e o hebraico. Essa obra não foi publicada no 
Brasil até 1974, quando o General Geisel tomou o controle do Brasil e iniciou um processo 
de liberalização cultural. Depois de um ano em Cambridge, Freire mudou-se para 
Genebra, na Suiça, para trabalhar como consultor educacional para o Conselho Mundial 
de Igrejas. Durante este tempo, atuou como consultor em reforma educacional nas 
colônias portuguesas da África, particularmente na Guiné Bissau e Moçambique. Em 1979, 
Freire podia retornar ao Brasil, mas só voltou em 1980. Filiou-se ao Partido dos 
Trabalhadores na cidade de São Paulo, e atuou como supervisor para o programa do 
partido para alfabetização de adultos de 1980 até 1986. 
Quando o PT foi bem sucedido nas eleições municipais de 1988, Freire foi 
indicado Secretário de Educação de São Paulo. Em 1986, sua esposa Elza morreu e Freire 
casou com Maria Araújo Freire, que também seguiu seu programa educacional. Em 1991, 
o Instituto Paulo Freire foi fundado em São Paulo para estender e elaborar suas teorias 
sobre educação popular. 
Freire morreu de um ataque cardíaco em 2 de maio de 1997, às 6h53, no Hospital Albert 
Einstein, em São Paulo, devido a complicações na operação de desobstrução de artérias. 
 PROJETO MEMÓRIA:- “PAULO FREIRE – biografia” 
 
 
 
 
UNIDADE 21 - MOACIR GADOTTI: POR UM EDUCADOR BRASILEIRO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Conhecer os preceitos estabelecidos por Gadotti 
Moacir Gadotti, professor, pesquisador, pedagogo brasileiro e discípulo de 
Paulo Freire, têm contribuído de forma significativa para a educação. Seu 
engajamento no concreto, trabalhando diretamente com a prática educativa, 
garante-lhe a humildade científica de quem reconhece que uma teoria só se torna 
real quando permeia uma prática concreta. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Para Gadotti, apenas a discussão não basta: é preciso viver a relação entre 
teoria e práxis. Gadotti foi amigo pessoal e chefe de gabinete do Secretário da 
Educação de São Paulo, Paulo Freire. Dessa amizade entre os dois educadores, 
nasceu a esperança de que é possível acabar com a opressão, com a miséria, com 
a intolerância e transformar o mundo num lugar mais justo para se viver. 
Essa esperança, legado de Freire, pertence, segundo Gadotti, aos oprimidos 
e aos que com eles lutam. Mudar é difícil, mas é possível e urgente. A escola pode 
resgatar a solidariedade e conquistar a sua autonomia. Esse é o desafio. 
Gadotti, como Paulo Freire, acredita que existe uma educação que visa à 
reprodução da sociedade, através da domesticação e, no outro extremo, uma 
educação de transformação, como prática da libertação. 
Os dois modelos de educação são apenas abstrações pedagógicas, na 
verdade, eles não existem, porque não existe uma sociedade que seja ou só 
conservadora ou só libertadora. São apenas dois modelos opostos em direção aos 
quais a educação pode caminhar. Pela educação, queremos mudar o mundo, a 
começar pela sala de aula, pois as grandes transformações não se dão apenas 
como resultantes de grandes gestos, mas de iniciativas cotidianas, simples e 
persistentes. Não há excludência entre o projeto pessoal e o coletivo: ambos se 
completam dialeticamente. 
A educação não pode sozinha fazer a transformação da sociedade, mas 
sem ela essa transformação não se efetiva. A educação deve estender-se além dos 
muros da escola, possibilitando uma sociedade mais feliz, universalizando da 
melhor forma possível, o patrimônio cultural. A dificuldade na teoria da educação 
brasileira, não é tanto o seu conteúdo ideológico, é a ausência de vínculos com a 
prática concreta, por isso, faz-se necessário a luta pela educação além dos muros 
da escola. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Este educador defende a educação popular como prática educacional e 
como teoria pedagógica. A educação popular, como concepção geral da 
educação passou por diversos momentos epistemológico-educacionais e 
organizativos: a busca da conscientização, nos anos 50 e 60; a defesa de uma 
escola pública popular e comunitária, nos anos 70 e 80, até a escola cidadã dos 
últimos anos. Sendo assim, para Gadotti, numa época de desencanto com os 
modelos populares e socialistas, vale a pena retornar o debate da educação 
popular como utopia latino-americana e mundial que superou, de um lado, o 
otimismo pedagógico dos anos 50 e 60 e, de outro, o pessimismo pedagógico 
dos anos 70 e 80, constituindo-se como alternativa real a uma educação que não 
atende aos interesses da maioria da população. 
No atual contexto brasileiro, que debate os parâmetros curriculares 
nacionais, recoloca-se a necessidade de discutir a educação popular, evidenciando 
sua potencialidade frente à concepção dominante de educação, que reforça, na 
pratica, a exclusão social e a falta de solidariedade humana. 
Na década de 50, a educação popular era entendida como educaçãode 
base, como desenvolvimento comunitário. No final dos anos 50, já eram duas as 
tendências da educação popular: a primeira entendida como educação 
libertadora; a segunda, como educação funcional (profissional), isto é, o 
treinamento de mão de obra mais produtiva, útil ao projeto de desenvolvimento 
nacional dependente. 
A concepção libertadora da educação na construção de um novo projeto 
histórico fundamenta-se, na teoria do conhecimento, que parte da prática 
concreta na construção do saber, e do educando como sujeito do conhecimento. 
Compreende-se a alfabetização não apenas como um processo intelectual, mas 
também como um projeto afetivo e social. 
Gadotti considera que a pedagogia atual insiste na autonomia do aluno, 
logo, o papel do professor não é o de guiar, mas sim de criar condições para o 
aluno desenvolver seus desejos, colocando-se a serviço do grupo de trabalho. O 
educador tem o dever de mostrar como suas ideias podem ser postas em pratica. 
Não pode apenas apontar perspectivas. Suas ações devem estar impregnadas de 
sua teoria. Nesse sentido, sua autoridade externa passa a ser interna, 
proporcionando credibilidade ao grupo através da sua filosofia. Pela educação, o 
homem é capaz de transformar-se num homem livre, consciente de sua herança 
cultural, um sujeito histórico que transforma-se e transforma o mundo em que 
vive. 
 
 
 
UNIDADE 22 - DERMEVAL SAVIANI: PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar as ideias de Saviani 
A educação brasileira deve ser analisada sob dois diferentes prismas: antes 
e depois de Dermeval Saviani, tendo em vista o alcance da pedagogia histórico-
critica proposta por esse educador. O sentido básico da expressão Pedagogia 
Histórico Critica é a articulação de uma proposta pedagógica que tenha o 
compromisso, não apenas de manter a sociedade, mas de transformá-la, a partir 
da compreensão dos condicionantes sociais. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O método preconizado por Saviani situa-se além dos métodos tradicionais 
e novos e, conforme esse autor, “deriva de uma concepção que articula educação 
e sociedade, e parte da constatação de que a sociedade em que vivemos é 
dividida em classes com interesses opostos”. 
Ao invés de passos, Saviani preferiu falar de momentos que caracterizam 
esse método, sendo que esses momentos devem ser articulados em um 
movimento único, cuja duração de cada um deles deve variar de acordo com as 
situações especificas que envolvem a prática pedagógica. 
O primeiro momento ou o ponto de partida do ensino é a prática social 
que é comum a professores e alunos, embora do ponto de vista pedagógico, 
professores e alunos possam apresentar diferentes níveis de conhecimento e 
experiência desta prática social. 
O segundo momento é a problematização, cujo objetivo é identificar que 
questões precisam ser resolvidas dentro da prática social, e que conhecimentos é 
preciso dominar para resolver estes problemas. 
O terceiro momento é a instrumentalização, ou seja, apropriação dos 
instrumentos teóricos e práticos necessários à solução dos problemas 
identificados, que depende da transmissão dos conhecimentos do professor, para 
que essa apropriação aconteça, já que esses instrumentos são produzidos 
socialmente e preservados historicamente. 
O quarto momento é a catarse, que é a efetiva incorporação dos 
instrumentos culturais e a forma elaborada de entender a transformação social. 
O quinto e último momento é a prática social, definida, agora, como ponto 
de chegada, em que os alunos atingem uma compreensão que, supostamente, já 
se encontrava o professor no ponto de partida. 
A prática social, neste sentido, é alterada qualitativamente pela mediação 
da ação pedagógica. Diante dessa transformação, Saviani se refere à educação 
como sendo 
uma atividade que supõe uma heterogeneidade real e uma 
homogeneidade possível; uma desigualdade no ponto de partida 
e uma igualdade no ponto de chegada. 
SAVIANI, 1991, P. 105. 
 
A partir das considerações e das ideias dominantes nos meios educacionais 
de que a Pedagogia Nova prevalecia sobre a Tradicional, por ser aquela, cheia de 
vícios, Saviani tentou justificar a teoria da Pedagogia Histórico-Crítica, forçando a 
argumentação para o outro lado, ou seja, para o lado da Pedagogia Tradicional. 
Utilizou para este fim a “Teoria de Curvatura da Vara”, que foi anteriormente 
enunciada por Lênin, para se defender, quando foi criticado, por assumir posições 
extremistas e radicais. Segundo esta teoria citada por Saviani, quando a vara está 
torta, não basta colocá-la na posição correta para endireitá-la. É preciso curvá-la 
para o lado oposto. 
Saviani considera que a Pedagogia Nova é extremista, ao criticar a 
Pedagogia Tradicional, e que há uma inversão de valores no senso comum, ao 
definir a Pedagogia Tradicional como cheia de vícios e nenhuma virtude. 
Ao analisar as contradições evidenciadas pela Escola Nova, Saviani tentou, 
por meio de três teses, desmitificar o caráter progressista que esta corrente de 
pensamento, já convertida em senso comum, pregava para a prática pedagógica. 
Visava com essas teses, contestar a forma dominante de se conceber a educação 
e justificar uma teoria crítica da educação (não reprodutivista) que permitisse 
compreender a prática pedagógica brasileira e visualizar os aspectos, sobre os 
quais uma teoria efetivamente critica deveria centrar-se. 
 Essas três teses, consideradas por Saviani, como indicação para desvelar a 
verdade, historicamente, contextualizada, demonstram a falsidade daquilo que é 
considerado verdadeiro e vice-versa. 
A primeira tese afirma o caráter revolucionário da Pedagogia Tradicional, e 
o caráter da Pedagogia Nova. Trata-se de uma tese filosófico-histórica. A segunda 
afirma o caráter científico do método Tradicional, e o caráter pseudocientífico dos 
métodos Novos, portanto, uma tese pedagógico-metodológica. A terceira tese, 
especificamente política, preocupa-se em demonstrar que, quando menos se 
falou em democracia no interior da escola, mais ela esteve articulada com a 
construção de uma ordem democrática; e quando mais se falou em democracia 
no interior da escola, menos ela foi democrática. Com essas teses, Saviani tentou 
mostrar que, pela tendência dominante, a vara estava torta para o lado da 
Pedagogia Nova e que era necessário esboçar uma teoria crítica da educação, 
cuja perspectiva pedagógica correspondesse aos interesses da classe 
trabalhadora. Englobasse uma proposta que abrisse espaços para as forças 
populares e para que a escola fosse uma instituição que possibilitasse o acesso ao 
saber elaborado, objetivo, produzido historicamente e que conduzisse professores 
e alunos a uma prática social que vislumbrasse o consenso no ponto de chegada 
e que fosse capaz de produzir transformações em favor de uma sociedade 
igualitária. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
Com a apresentação da Pedagogia Histórico-Critica, Saviani almeja 
encontrar o ponto correto da vara, ou seja, o ponto que não está curvo para o 
lado da Pedagogia Nova, mas que também não está curvo para o lado da 
Pedagogia tradicional. Está justamente nas teorias e métodos que valorizem e 
fundamentem a prática educativa, no sentido de favorecer as transformações 
sociais. 
Para que uma teoria histórico-crítica da educação possa constituir-se em 
pedagogia histórico-crítica, ela precisa assumir um posicionamento sobre o que é 
educação e o que significa educar seres humanos. Segundo Saviani, 
a Pedagogia Crítica implica clareza dos determinantes sociais da 
educação, a compreensão do grau em que as contradições da 
sociedade marcam a educação e, consequentemente, como é 
preciso se posicionar diante dessas contradições e desenredar a 
educação das visões ambíguas, para perceber claramente qual é 
a direção que cabe imprimir à questão educacional. 
SAVIANI, 1991, p. 125. 
 
Partindoda concepção de natureza humana, proposta por Marx e Engels, 
de que o homem necessita produzir continuamente sua existência e é pelo 
trabalho que ele age sobre a natureza, adaptando-a as suas necessidades, Saviani 
define a educação como um processo de trabalho não material (diferente do 
trabalho material que visa à produção de bens materiais para subsistência), no 
qual o produto não se separa do ato de produção. 
Para o autor, o trabalho educativo é “o ato de produzir direta e 
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida 
histórica e coletivamente pelo conjunto de homens”. A produção intencional da 
humanidade implica a produção de ideias, conceitos, valores, hábitos, atitudes, 
conhecimento, ou seja, a produção do saber ou a forma pelo qual o homem 
apreende o mundo e é humanizado. Conforme Saviani “o que não é garantido 
pela natureza deve ser produzido historicamente pelos homens”. Assim, o saber 
objetivo é considerado matéria prima para a atividade educativa e deve ter 
primazia sobre o mundo da natureza, ou seja, sobre o saber natural, espontâneo. 
Saviani define a escola como “uma instituição cujo papel consiste na 
socialização do saber elaborado, e não do saber espontâneo, do saber 
sistematizado e não do saber fragmentado, da cultura erudita e não da cultura 
popular”. O projeto pedagógico resultante da pedagogia Histórico-Crítica é 
pautado, nessas reflexões, sobre o conceito de educação e de escola. A tarefa a 
que se propõe essa Pedagogia em relação à educação escolar, de acordo com 
Saviani, implica: 
a) identificação das formas mais desenvolvidas em que se expressa o saber 
objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção 
e compreendendo as suas principais manifestações, bem como as tendências 
atuais de transformação; 
b) conversão do saber objetivo em saber escolar de modo a torná-lo assimilável 
pelos alunos no espaço e tempo escolares; 
c) provimento dos meios necessários para que os alunos não apenas assimilem o 
saber objetivo enquanto resultado, mas apreendam o processo de sua produção, 
bem como as tendências de sua transformação. 
 
 
UNIDADE 23 - O EDUCADOR COMO FILÓSOFO 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Explicitar o significado de educador como filósofo. 
A filosofia quer encontrar o significado mais profundo dos fenômenos. Não 
basta saber como funcionam, mas o que significam na ordem geral do mundo 
humano. A filosofia emite juízos de valor ao julgar cada fato, cada ação em 
relação ao todo. Ela vai além do que é, para propor como poderia ser. É, portanto, 
indispensável para a vida de todos nós, que desejamos ser seres humanos 
completos, cidadãos livres e responsáveis por nossas escolhas. Para alcançar o 
objetivo de formação do cidadão livre e responsável por suas escolhas, o 
educador precisa filosofar. Como fazer isso? Este texto, usando ideias de Demerval 
Saviani pretende ajudá-lo nessa tarefa. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Características do Pensamento Filosófico 
Em primeiro lugar, é preciso estabelecer o que é reflexão. Refletir é pensar, 
considerar cuidadosamente o que já foi pensado. Como um espelho que reflete a 
nossa imagem, a reflexão do filósofo também deixa ver, revela, mostra, traduz os 
valores envolvidos nas coisas, nos acontecimentos e nas ações humanas. Para 
chegar a isso, segundo o filósofo e educador, Demerval Saviani, a reflexão 
filosófica deve ser: radical, rigorosa e global. 
Radicalidade: ou seja, chegar até a raiz dos acontecimentos, aos seus 
fundamentos, a sua origem, não só cronológica, mas também, aos valores 
originais que possibilitaram o fato. A reflexão filosófica é, portanto, uma reflexão 
em profundidade. 
Rigorosa: isto é, seguir um método adequado, com todo rigor, colocando em 
questão as respostas mais superficiais, comuns à sabedoria popular e 
generalizações científicas apressadas. 
Contextualidade: a filosofia não considera os problemas, isoladamente, mas 
dentro de um conjunto de fatos, fatores e valores que estão relacionados entre si. 
A reflexão filosófica contextualiza os problemas, tanto verticalmente, dentro do 
desenvolvimento histórico, quanto horizontalmente, relacionando-o a outros 
aspectos da situação da época. 
Assim, embora os sistemas filosóficos possam chegar a conclusões diversas, 
dependendo das premissas de partida e da situação histórica dos próprios 
pensadores, o processo de filosofar será sempre marcado por essas 
características, resultando uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto. “Quem é 
capaz de ver o “todo” é filósofo, quem não é capaz não o é “[ Platão-427-347 
A.C.] 
 “Filosofar significa estar a caminho. As interrogações são mais importantes 
que as respostas e cada resposta se transforma em nova interrogação” (Jaspers, 
1977, p.14). A realidade é rebelde e não se deixa apanhar com facilidade em 
nossas redes de compreensão. Nem sempre consideramos todos os dados 
disponíveis ou escolhemos as informações capazes de nos conduzirem à raiz 
mestra dos problemas. Não importa o esforço. É melhor seguir que estagnar. A 
filosofia é imprescindível. Não há como negá-la: ela se impõe por si mesma. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Por que o educador deve filosofar? 
A resposta vem do fato de que não há como educar fora do mundo. 
Nenhum educador, nenhuma instituição educacional pode colocar-se à margem 
do mundo, encarapitando-se numa torre de marfim. A educação, de qualquer 
modo que a entendamos, sofrerá o impacto dos problemas da realidade em que 
acontece, sob pena de não ser educação. 
 Que problemas exigem do educador uma reflexão filosófica? São muitos. 
Já que a educação é o processo de tornar-se homem, é necessário refletir 
sobre o homem para saber o “para onde” se deve orientar a educação. Esta 
reflexão não pode ser unicamente teórica, abstrata, desencarnada. É preciso 
considerar o espaço temporal em que ocorre o processo. Não importa apenas o 
“tornar-se homem”, mas o “tornar-se homem hoje no Brasil”. Só desta forma 
podemos estabelecer, com clareza, numa instituição educativa, o currículo, 
planejamento e atividades que possam atingir um mínimo de coerência e 
eficiência. 
Que teoria de aprendizagem adotar? Que métodos e técnicas deve-se 
utilizar? Considere que: não há métodos neutros; não há técnicas neutras. No bojo 
de qualquer teoria, de qualquer método, de qualquer técnica está implícita uma 
visão de homem e de mundo, uma filosofia. 
O maior problema educacional brasileiro, sempre foi e ainda é, o 
denunciado por Anísio Teixeira em sua obra “Valores proclamados e valores reais 
na educação brasileira”. Tanto em nível de sistema, como de escola, proclamamos 
belíssimos princípios filosófico-educacionais. Na prática, caminhamos ao sabor 
das ideologias e novidades sem nos darmos conta da incoerência entre nossas 
palavras e atos. 
A segunda consequência do que antes dissemos é que também o 
educando deve filosofar, refletir, buscando as raízes dos problemas – seus e de 
seu tempo – de modo a formar uma visão do mundo e adquirir criticamente 
princípios e valores que lhe orientem a vida. 
 
Para saber mais, acesse o site lara1 
 
 
Bibliografia Básica 
 
GHIRALDELI, JR. P. Filosofia da educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. 
SAVIANI, D. Pedagogia Histórico - Crítica: primeiras aproximações. Campinas: Autores 
Associados, 1997. 
SAVIANI, D. Escola e democracia. São Paulo: Cortez, 2000. 
 
 
Bibliografia Complementar 
 
ARANHA, M.L. A. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1996. 
GHIRALDELLI JR.. P. (Org.). Estilos em Filosofia da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. 
LUCKESI, C. C. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. 
SEVERINO, A. J. Filosofia da Educação. São Paulo: FTD, 1994. 
PERELMAN, C. & TYTECA, L.O. O tratado da argumentação. São Paulo, Martins Fontes, 
2002. 
 
 
 
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