Buscar

Fundamentos de Organização e o Cotidiano Escolar

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Apostila da Disciplina de 
Fundamentos de Organização 
e o Cotidiano Escolar 
 
 
Ementa da Disciplina: 1. Aspectos da Liderança no 
Processo de Gestão de Pessoas 2. Políticas Públicas e 
Educação no Brasil 3. Ética e Educação: a Interface Família 
e Escola para a formação Moral 4. As Instituições 
Educacionais como Espaço de Trabalho. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2017 
Autora: Professora Mestre Aline 
Martins de Almeida 
 
 
FUNDAMENTOS DE ORGANIZAÇÃO E O COTIDIANO ESCOLAR 
 
Aline Martins de Almeida 
 
Resumo 
Este estudo tem por finalidade apresentar os fundamentos de organização do 
cotidiano escolar por meio de quatro perspectivas: identificar os aspectos de 
liderança no processo de dar vida à “alma da escola” por meio do 
relacionamento interpessoal, do trabalho com o conhecimento e da 
organização da coletividade; discutir as políticas públicas e sua relação com a 
educação brasileira; refletir sobre questões éticas e morais no campo da 
educação e sua respectiva interface entre a família e a escola; e pensar as 
instituições educacionais não apenas como ambientes de formação intelectual 
de indivíduos, mas como um lócus de trabalho que possa garantir unidade na 
diversidade. 
 
Palavras-chave: Liderança; políticas educacionais; ética; família; trabalho 
escolar. 
 
Introdução 
 
“O homem pode se tornar homem [...] 
somente através da educação. 
Ele não é nada mais do que aquilo 
 que a educação dele o faz [...] 
e, por detrás da educação 
 esconde-se o grande segredo 
da perfeição da natureza humana.” 
Emmanuel Kant 
 
Vamos iniciar nossos estudos falando sobre os fundamentos que 
organizam o cotidiano da escola. Porém, quando articulamos conhecimentos e 
saberes, esquecemos de nos perguntar e de analisar o nosso objeto de estudo, 
que nesse caso é a escola. Afinal, o que é a escola? 
A escola, segundo o Dicionário Aurélio Virtual (2017) significa 
Estabelecimento de ensino; Conjunto formado pelo professor e 
pelos discípulos; doutrina, sistema; seita; aprendizagem, ensino, 
tirocínio; método e estilo de um autor, artista; processos 
seguidos pelos grandes mestres; fazer escola: definir princípios 
que outros depois seguem. 
 
Entretanto, a escola assume um papel muito mais amplo do que está 
previsto na essência do seu significado. Como instituição, trabalha com o 
conceito de educação. Segundo o Dicionário Aurélio Virtual (2017), 
educação é:“Ato ou efeito de educar (-se). Processo de desenvolvimento da 
capacidade física, intelectual e moral do ser humano. Civilidade, polidez”. 
A escola, então, assume um papel e uma respectiva função de 
ambiguidades: de um lado, ensina conhecimentos científicos, culturais, 
tecnológicos e históricos de toda a sociedade; de outro, ensina crianças sobre 
elementos que fazem parte do que é ser humano e que variam de acordo com 
cada faixa etária: os primeiros passos, a primeira leitura, o bom 
comportamento, a primeira briga e até mesmo o primeiro amor. 
A partir dessas “dicotomias” que a escola perpassa em seu cotidiano, 
buscaremos compreender como os fundamentos que organizam esse ambiente 
lutam diariamente, em todos os seus segmentos, em prol de uma educação 
que viabilize a transformação, o fazer pedagógico e a construção do 
conhecimento por meio dequatro perspectivas: os aspectos de liderança no 
processo de gestão de pessoas; as políticas públicas e educação no Brasil; as 
questões éticas e educacionais na interface entre a família e a escola para a 
formação moral dos sujeitos; e as instituições educacionais como espaço de 
trabalho. 
 
Aspectos de liderança no processo de gestão de pessoas 
Vamos iniciar nossa conversa com duas questões que buscaremos 
responder ao longo deste item: o que é ser líder? Onde encontramos líderes 
nos ambientes educacionais? 
Esses questionamentos nos fazem lembrar de filmes nos quais temos os 
líderes de torcida, os capitães de time, os líderes de batalhas, personagens 
que mudaram realidades de pessoas, cidades, países e de outros que se 
tornaram figuras célebres em diversos campos, inclusive o religioso, no qual 
podemos exemplificar a figura de Jesus Cristo. 
Assim como nos filmes e na própria trajetória histórica, o líder é aquele 
sujeito que vê em qualquer indivíduo um potencial, tem pensamentos e 
habilidades estratégicas para resolver e administrar problemas técnicos e 
também conflitos entre pessoas e equipes com um alto poder de comunicação 
capaz de motivar a tudo e a todos. 
Em uma de suas palestras intitulada “A arte de liderar”, Mário Sérgio 
Cortella (2016) nos apresenta outro conceito acerca do nosso tema e de suma 
importância para o nosso debate: um líder é aquele que possui uma 
insatisfação positiva, ou seja, aquele que busca por meio da inteligência 
humana o “movimento” em novas atitudes, novos trabalhos, novas propostas 
em prol de mudanças em qualquer ambiente de trabalho, e tem em seu âmago 
o “gostinho de quero mais e sempre o melhor”! 
O gostinho de quero mais deve ser a virtude de um líder, pois este deve 
inspirar, motivar e animar ideias, pessoas e projetos em prol de tornar sonhos 
em realidades, estes que devem abarcar em sua essência a circunstância, pois 
devem acontecer em momentos específicos. 
Vale destacar que a atitude de um líder deve ter como premissa a 
admiração, a procura e até o seguimento de seus companheiros, pois, aqui, o 
líder é aquele que “corrige sem ofender e orienta sem humilhar” (CORTELLA, 
2016), diferenciando-se da chefia, nos quais os subordinados estão ali apenas 
para obedecer. 
Aqui, nasce o ponto central da nossa discussão em relação à liderança: 
a ambição deve ser provocativa em prol da mudança da insatisfação positiva. 
Agora, se a ambição caminhar junto com a insatisfação negativa (esta que 
pode ser entendida como os desejos de insatisfação dos indivíduos), o líder, 
em vez de ser um exemplo para sua equipe e um ponto de apoio, passa a ser 
uma figura de centralidade do poder. 
Desse modo, a educação brasileira também vai necessitar de líderes 
dentro dos seus espaços educacionais. Líderes que estejam aptos para 
exercer suas atividades com a mente aberta, ou seja, propensos aos novos 
conhecimentos e às novas realidades; líderes que elevem a equipe para 
desenvolverem todas as suas potencialidades mesmo nas adversidades;líderes 
aptos a inovar o trabalho e recrear o espírito, demonstrando a todos que o 
trabalho não pode ser visto como “sacrilégio”, mas com alegria de propiciar 
conhecimento e mudanças para, enfim, empreender o futuro. 
Essa ideia vai adentrando os espaços escolares a partir da mudança de 
paradigma da própria organização dos ambientes escolares e da formação 
pedagógica do professor. Antes, os professores eram habilitados para ser 
administradores escolares.Com a aprovação das Diretrizes do Curso de 
Formação de Docentes, em 2007, tais habilitações deixaram de existir, 
surgindo uma nova proposta: a formação de gestores. 
A formação de gestores, neste estudo, não terá uma abordagem ligada 
apenas ao papel do gestor escolar, mas sim, a todos os membros que atuam 
dentro dos espaços escolares e também são líderes: professores em suas 
salas de aula, inspetores que cuidam dos alunos, equipe das merendeiras, 
limpeza, enfim, até os nossos educandos, entre os quais sempre temos aquela 
figura que mais se destaca e lidera os pares. 
Diante dessa missão, os líderes escolares passam a atender ao princípio 
da gestão democrática estabelecida na Constituição Federal de 1988, na Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) – Lei n. 9.394/1996 – e no 
Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024. Tal gestão pressupõe a 
mobilização e a organização das pessoaspara atuarem coletivamente na 
promoção de objetivos educacionais. 
Ou seja, o líder não é aquele que eleva apenas a sua equipe de trabalho 
no interior da unidade escolar (relação entre professores, alunos e equipe de 
apoio), mas mobiliza todoo exterior da escola, a comunidade! 
Conforme definido em Lück (2009, p. 75), 
[...] alguns elementos emergem como características comuns de 
atuações de liderança efetiva e que, portanto, compõem o seu 
significado: 
• Influência sobre pessoas, a partir de sua motivação para uma 
atividade. 
• Propósitos claros de orientação, assumidos por essas pessoas. 
• Processos sociais dinâmicos, interativos e participativos. 
• Modelagem de valores educacionais elevados. 
• Orientação para o desenvolvimento e aprendizagem contínuos. 
 
A partir desses elementos, a liderança se expressa como um processo 
de influência e de insatisfação positiva em conferir movimento às propostas de 
mudanças, mobilizando talentos, esforços e sonhos, dentro de uma prática que 
potencialize a melhoria contínua da própria organização, de seus processos e 
das pessoasenvolvidas. 
Sendo assim, a liderança vivenciada no processo e no exercício de 
gestão de pessoas deve ter como base: 
• Disponibilidade em aceitar e expressar no trabalho com pessoas os 
desafios inerentes ao trabalho educacional, suas dificuldades e 
limitações, com um olhar para as possibilidades de sua superação. 
• Estimulação do melhor que existe nas pessoas ao seu redor, a partir 
de umaperspectiva proativa a respeito das mesmas e de sua atuação. 
• Clareza a respeito da missão, visão e valores educacionais, assim 
como da participação das pessoas nessa compreensão e sua 
expressão em suas ações. 
• Orientação com perspectiva dinâmica, inovadora e norteada para a 
melhoriacontínua. 
• Exercício contínuo do diálogo aberto e da capacidade de ouvir. 
• Construção de oportunidades de participação e orientação para o 
compartilhamento de responsabilidades. 
• Cultivo de atitudes que acompanham a expressão de 
comportamentos de liderança. (LÜCK, 2009, p. 76) 
 
Desse modo, o líder é aquele que rege sua orquestra, colocando todos 
num mesmo ritmo e num mesmo entoar. Para que a efetividade de seu 
exercício encante a todos, alguns aspectos devem ser verificados, tais como 
Lück (2009, p. 76-77) elencou em sua obra e dos quais nos apropriamos, 
exemplificando-os. 
1. Autoconfiança – conhecimento dos pontos fortes e fracos de sua atuação. 
Exemplo desse exercício é a atualização constante não apenas de saberes, 
mas de realidades, como ilustrarei na experiência vivenciada por mim. Estava 
lecionando para crianças de cinco anos, explicando-lhes sobre a Copa do 
Mundo de 2014, como os times participam desse campeonato,os grandes 
jogadores que fizeram história como Ronaldinho, Pelé, Zico... Cada criança, 
cada olhinho, mirava deslumbrado para mim, porém, sem entender nada, pois 
não conheciam quem eram os brilhantes personagens aos quais estava me 
referindo. Fiquei um tempo sem saber o que dizer, quando me lembrei do ano 
de nascimento de cada criança: 2009! Impossível saberem de quem eu estava 
falando...O único que conheciam era Neymar! 
 Assumindo meu papel de líder na sala de aula e reconhecendo meu 
ponto fraco, prometi, para a aula seguinte, trazer-lhes fotos desses jogadores. 
Vale ressaltar mais uma vezque o líder não é apenas o gestor/diretor da 
unidade educacional, mas todos aqueles que buscam a mudança em prol da 
qualidade de seu trabalho, motivando a todos. 
2. Autoridade.Não podemos confundir nesse caso com autoritarismo, pois 
nesse regime é prevista a ordem: “Quem pode manda, quem tem juízo 
obedece!”. A autoridade aqui é entendida como: 
O educador, que em sua prática busca promover a autonomia dos 
educandos, deve estar atento na relação autoridade-liberdade. Para 
que haja a necessária disciplina sem haver autoritarismo ou 
licenciosidade, o equilíbrio entre ambas é necessário. “O 
autoritarismo é a ruptura em favor da autoridade contra a liberdade e 
a licenciosidade, a ruptura em favor da liberdade contra a autoridade”. 
Assim o autoritarismo não é mais autoridade, mas abuso de 
autoridade, a licenciosidade não é mais liberdade, mas depravação 
da liberdade. Ambos são nocivos à autonomia, já que o autoritarismo 
mantém o educando excessivamente dependente da autoridade e 
poda a liberdade de escolher e fazer por si mesmo. Já a 
licenciosidade impede a aprendizagem da autorresponsabilização e 
permite que o educando se torne dependente dos próprios impulsos e 
desejos. Tanto a dependência excessiva da autoridade externa 
quanto a dependência dos próprios impulsos são formas de 
heteronomias, pois impedem que o sujeito aja de acordo com sua 
própria lei, impedem que o sujeito seja ele mesmo. (FREIRE,2014, p. 
56) 
 
3. Agente de mudança, pois recorre à incapacidade positiva, capaz de fazer 
crescer e melhorara organização ou grupo que lidera. Esse item pode ser 
ilustrado principalmente em competições de time, nas quais os técnicos e os 
capitães promovem mudanças por meio de motivações. 
4. Compreensão e convicção quanto aos objetivos a serem alcançados, 
pois acreditam naquilo que fazem e por que o fazem. 
5. Comunicação clara e atraente dos objetivos, engajando os demaisna sua 
busca, pois é por meio da dicção e da experiência que o líder contará com o 
apoio de todos entre todos. Vale destacar que a experiência de um líder não 
está ligada à sua idade ou tempo de experiência em dada função, mas sim na 
intensidade de sua prática. 
6. Foco nos objetivos.Por maiores que sejam as dificuldades, os obstáculos e 
os contratempos, o líder deve promover inspiração em toda a sua equipe para 
que “ninguém deixe a peteca cair”, como tão bem salienta um ditado popular. 
7. Sensibilidade ao ambiente e às pessoas, compreendendo a vivência e a 
experiência de cada um, adequando estratégias e ações àrealidade ao seu 
redor. 
8. Habilidade para promover e lidar com interaçõessociais, pois nem todo 
clima de trabalho é calmo e tranquilo. Existem momentos de “adversidades”, 
nos quais o líder deve estar preparado para lidar com as “conturbações” e 
“problemas” do cotidiano. 
9. Clima de apoio e confiança, no qual as pessoas aprendem e trocam 
conhecimentos em prol do desempenho e qualidade do trabalho. 
 
10. Carismático, apto a receber o outro. 
11. Sabe ouvir, pois não está ali para julgar, mas auxiliar no que for preciso. 
12. Comportamento ético, levando em conta a virtude, a honestidade e a 
integridade. 
13. Senso de justiça, pois todos são responsáveis por aquilo que fazem, e o 
“erro” deve ser reparado e não repassado para outrem. 
14. Coerência, demonstrada em gestos, valores, comportamentos, com 
humildade para reparar ou corrigir o rumo, quando preciso. 
15. Inteligência, pois busca sempre a “insatisfação positiva”. 
16. Gosta do que faz, e o faz com qualidade. 
Como vimos, o líder é aquele que lidera, assume responsabilidades, 
compartilha conhecimentos e toma decisões coletivamente. Todos são tratados 
com paridade (igualdade), mas cada um assume sua função. Nos ambientes 
escolares, chamamos essa forma de administração de gestão compartilhada, 
na qual participam todos os membros da comunidade interna e externa à 
escola. 
 Também temos a coliderança, que corresponde à atuação articulada de 
influência sobre os destinosda escola e seu trabalho de forma planejada e 
intercomplementar pelos membrosda equipe de gestão da escola, como por 
exemplo vice-diretor, coordenador pedagógico,supervisor escolar, orientador 
educacional e secretário da escola (LÜCK, 2009). 
 Mais uma vez, ressaltamos neste item que o trabalho do líder só pode 
ser realizado com primor se ele estiver apto a propor mudanças e convicções 
de maneira espontânea nos sujeitos por meio de atitudes. Palavras em 
reuniõesjá temos experiências de sobra para relatar. Mas uma liderança e uma 
gestão democrática que compartilhem saberes e experiências de maneira 
efetiva, ainda temos que trilhar um longo caminho para alcançá-las 
plenamente. Por isso, finalizamos nosso subitem com uma ideia para 
refletirmos sobre o trabalho pedagógico: “Nenhuma escola pode ser melhor do 
que as pessoas quenela atuam e do que a competência que põem a serviço 
da educação”(LÜCK, 2009, p.81). 
 
Políticas públicas e educação no Brasil 
 
Agora, voltaremos nossos olhares para uma área que gera diversas 
polêmicas: as políticas educacionais. Esse tema provoca muitas controvérsias, 
pois é inseridoem um campo entre o que é “prescritivo” e “real” daquilo que, de 
fato, acontece no interior das nossas escolas, o “oculto”. 
Mas antes de continuarmos esse debate, precisamos definir e entender 
o que são políticas públicas. De acordo com o professor João Cardoso Palma 
Filho (2010, p. 10): 
Numa primeira aproximação pode-se dizer que por políticas 
públicascompreende-se o conjunto de medidas que o Estado procura 
executar para um determinado campo de atividades sociais. Em 
sentido amplo, compõe o que se denomina de políticas sociais, que 
engloba diferentes setores da atividade humana: educação, 
transporte, habitação, meio ambiente, economia, com os seus 
diferentes campos: agricultura, indústria, serviços etc. 
 
Desse modo, podemos compreender que essas políticas, no Brasil, são 
as práticas concretizadas em programas, ações e atividades desenvolvidas 
pelo Estado direta ou indiretamente, que podem contar ou não com a 
participação de órgãos públicos ou privados, que visam a assegurar, conforme 
previsto constitucionalmente, como um direito à cidadania. 
Essa política que não deveria estar condicionada ao termo público, pois 
se o Estado governa em prol de cuidar de toda a sua população, ou seja, seu 
público, já deveria estar subentendido que toda política é pública. Porém, em 
nosso país ainda é preciso reafirmar esse termo em prol dos benefícios e 
benfeitorias ao nosso povo. 
De acordo com Palma Filho (2010, p. 10), 
No Estado democrático, essas políticas representam respostas às 
demandas que advém da sociedade, ou seja, o Estado se transforma 
na arena onde interesses conflitantes buscam alcançar seus 
objetivos. Desse modo, é por meio de lutas coletivas, que se 
processam no âmbito do Estado, que os bens sociais são distribuídos 
e redistribuídos. É desse modo também que o Estado, ao chamar 
para si a tarefa de atender aos reclamos dos diferentes segmentos 
sociais, legitima-se perante esses mesmos setores. 
 
No campo educacional brasileiro, essas tarefas vêm sendo conclamadas 
e legalizadas desde a Constituição Federal de 1934, influenciada pelo 
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova1, sobre os princípios que deveriam 
 
1O "Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova", datado de 1932, foi escrito durante o governo 
de Getúlio Vargas e consolidava a visão de um segmento da elite intelectual que, embora com 
diferentes posições ideológicas, vislumbrava a possibilidade de interferir na organização da 
sociedade brasileira do ponto de vista da educação. Redigido por Fernando de Azevedo, 
dentre 26 intelectuais, entre os quais Roldão Lopes de Barros, Anísio Teixeira, Afrânio 
Peixoto, Lourenço Filho, Antônio F. Almeida Junior, Roquette Pinto, Delgado de 
Carvalho, Hermes Lima e Cecília Meireles. Ao ser lançado, no meio do processo de 
reordenação política resultante da Revolução de 1930, o documento tornou-se o marco 
nortear o funcionamento e a organização do sistema educacional. A legislação 
que se seguiu a esta e subsidiou a educação, considerada a primeira Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi a LDB n. 4.024, de 20/12/1961. 
Com a ditadura militar, a legislação educacional mais uma vez foi 
promulgada (Lei n.5.692, de 11/08/1971), tratando em seu âmago da 
organização dos ensinos de 1º e 2º graus e refletindo a nova ordem instaurada. 
Em 1985, novas políticas foram desenvolvidas e promulgadas em prol 
da redemocratização do Estado brasileiro. Dentre todos os seus avanços, na 
área da educação, podemos citar as que estão em vigor desde então: 
 Constituição Federal de 1988; 
 Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069 de 13/07/1990); 
 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n. 9.394, de 
20/12/1996); 
 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental e Ensino 
Médio(1998); 
 Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (1998); 
 Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (2013). 
Dentre tantos documentos que legislam a educação brasileira, os 
estados e os municípios também possuem mecanismos de normatização de 
suas modalidades educacionais e contam com legislações específicas, 
instrumentos normativos e executivos de seu sistema e rede de ensino como 
estatutos do Magistério e concepções teórico-metodológicas consistentes 
tendo como finalidade a formação e valorização do magistério e a promoção 
da educaçãopara a formação do cidadão como sujeito autônomo, participativo 
e capaz deposicionar-se criticamente diante de desafios e resolvê-los. 
 Vale ressaltar também que num mundo globalizado no qual vivemos 
Palma Filho (2010) aponta em seus estudos que diversos documentos 
norteadores de nossa educação provêm de organismos internacionais – como 
Unesco, Banco Mundial, BID, Fundo Monetário Internacional e outros –, alguns 
dos quais são determinantes em nossa prática e cotidiano educacional. Um 
exemplo dessa circulação e apropriação de ideias é a Declaração de Jomtien, 
 
inaugural do projeto de renovação educacional do país. Além de constatar a desorganização 
do aparelho escolar, propunha que o Estado organizasse um plano geral de educação e 
defendia a bandeira de uma escola única, pública, laica, obrigatória e gratuita. Disponível em: 
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros>.Acesso em: 15 
maio 2017. 
intitulada “Educação para Todos” (1990), quepassou a ser uma referência para 
todos os demais países, inclusive para o Brasil. 
 Dentro do que foi apresentado, não podemos deixar de abordar que a 
produção da política educacional é um processo político no qual as decisões 
são tomadas atendendo a um viés da ideologia presente em cada sociedade e 
em cada tempo histórico, compreendendo quem são os seus agentes e quem 
detém o controle desse processo. Ora pode ser dotado de um 
conservadorismo, ora pode ser regido pelas leis do mercado, nos quais ambos 
vão legitimar a ordem social. 
 No Brasil, as políticas públicas vêm abordando uma nova ordem, a qual 
tentasuprir problemáticas socioculturaisvivenciadas tanto em âmbito nacional 
quanto estadual, municipal ou local, realizando por meio de leis, decretos e 
documentos norteadores a superação da desigualdade, a inclusão de todos 
nos espaços educacionais, a igualdade entre os gêneros e o respeito pelas 
diferenças. O entendimento se baseia no fato de que todos estão inseridos em 
uma sociedade global, tecnológica, e centrada no conhecimento. 
 Essas documentações também levam em conta a natureza humana e 
seu processo de desenvolvimento nas mais diferentes localidades do nosso 
país, nas sucessivas etapas devida e em relação aos desafios de cada 
territorialidade. 
Desse modo, 
[...] embora as escolas possam ser consideradas instâncias 
ideológicas, no sentido de que buscam reproduzir as relações sociais 
de produção e a divisão classista do trabalho, também são espaços 
de luta sobre ideologias e recursos. A escola é o local do conflito, 
pela simples razão de que a sua função social é dupla: preparar 
trabalhadores e formar cidadãos. (PALMA FILHO, 2010, p. 22) 
 
Citamos mais uma vez Palma Filho (2010, p.24), segundo o qual “a 
cidadania reage. Vive-se um processo de revisão crítica”. 
 
Ética e educação: a interface família e escola para a formação moral 
 
 Pensando a moralidade como comportamento para a convivência social, 
esta deve-se fazer presente em qualquer âmbito. A esse propósito destaca 
Goergen (2010, p. 68): 
A moralidade é uma das dimensõesdo comportamento humano em 
sociedade. Fazendo parte de um contexto social, o indivíduo tem seu 
comportamento orientado por determinados princípios, regras, 
valores. Nas diversas instâncias da sociedade, ele desempenha seus 
papéis tendo como referência essa orientação, mais ou menos 
explícita conforme a natureza da instituição. A formação moral se dá, 
portanto, no processo de socialização, no qual se constitui a 
identidade dos indivíduos. 
 
Mas, no cotidiano escolar, principalmente, podemos verificar que a 
moralidade e a ética, em muitas realidades, ficaram em segundo plano. Por 
que isso aconteceu? De quem é a culpa? Da escola? Da família? 
 Diante de tantos questionamentos, vamos trabalhar com alguns 
conceitos que não podem estar ausentes neste debate. Chamo a atenção 
neste item porque o foco deste estudo não é o de buscar culpados ou 
culpabilizar algum agente como em tantos discursos presentes em aparelhos 
midiáticos ou até mesmo em documentos que norteiam a educação. O que 
buscamos aqui é entender alguns conceitos que possam contribuir na e para a 
formação de nossas crianças, por meio da parceria entre a escola e a família, 
entre a ética e a moral como virtudes presentes na essência do que é ser 
humano. Então vamos lá! 
 Iniciando nossas reflexões, vamos falar sobre a questão do juízo de fato 
e do juízo do observável. Podemos compreender o juízo de fato como sendo a 
natureza, a relação do que observamos em nosso meio; de forma geral, são os 
acontecimentos. Já o juízo de valor implica a avaliação do acontecimento, ou 
seja, a avaliação do juízo do fato. É nele que implicamos normatizações, 
julgamentos e em alguns casos até mesmo condenações. 
 Nesse momento, nasce a cultura entre dois campos, entendidos aqui 
como formas de manifestação da cultura: a moral e o sujeito (virtude). Vamos 
exemplificar: quase todos os povos foram educados a respeitar as pessoas 
mais velhas, pois elas possuem mais experiência, sabem lidar com os desafios 
da vida. Agora, imaginemos uma idosa de 70 anos que criou um mecanismo de 
furtar mercadorias de um supermercado. Podemos citá-la como um bom 
exemplo da moral e da ética? 
 Recorro a este exemplo diferenciado do exercício pedagógico para 
demonstrar a dicotomia entre o discurso e a prática da ética. Como julgar 
nesse caso? Como condenar? Será que essa senhora furtou mercadorias para 
se alimentar? Será que ela tem algum desvio de conduta? 
 Para tanto, recorremos ao princípio da moral, esta que deve despertar 
ou criar condições para que os sujeitos se tornem conscientes para refletir com 
autonomia e em diálogo com os demais. A alteridade deve ser um dos 
conceitos que devem caminhar junto com a moral e com a ética na e para a 
formação de seres humanos. 
 A função primordial da escola deve ser a de formar indivíduos 
conscientes de suas escolhas em regime de colaboração com todos os demais 
sujeitos que compõem a vida social, assumindo a própria formação e a própria 
história. Porém, em muitos casos, o que foi construído ao longo do processo 
educacional foi a escola condenando algumas dessas histórias que os sujeitos 
trazem para dentro dela e vice-versa: algumas famílias condenando o ensino 
das escolas. Vamos ilustrar. Uma criança matriculada no primeiro ano da 
escola faz um questionamento à professora: “Podemos fazer menas lição”. A 
professora automaticamente corrige a criança: “Não existe ‘menos’, se diz 
‘menos’”. A criança, ao retornar ao seu lar, corrige seus membros familiares 
assim como a professora fez com ela. Muitas famílias respondem às suas 
crianças: “Só porque tá estudando acha que já sabe tudo!”. 
 Recorro mais uma vez a esse exemplo para podermos ilustrar a 
importância da relação entre escola e família. Ninguém nesse caso agiu errado; 
muito pelo contrário, cada um contou com a sua história e com a sua função. 
Mas, e o pensamento da criança nesse momento, como ficou? 
Goergen (2010, p. 68) aborda duas dimensões para nos auxiliar: 
Nesse processo de desenvolvimento, articulam-se estreitamente uma 
dimensão intelectual e uma dimensão afetiva. A responsabilidade, 
que é o núcleo do comportamento moral, uma vez que o indivíduo 
responde às imposições do contexto, pressupõe, de um lado, a 
liberdade, enquanto possibilidade de escolher, e de outro, o empenho 
da vontade na definição da escolha. O comportamento moral não se 
dá na obediência pura e simples às regras, mas exatamente na 
legitimação dessas regras pelo indivíduo, na possibilidade de passar 
de uma situação de heteronomia, isto é, de submissão às regras 
apresentadas pela sociedade, à autonomia, no sentido de 
possibilidade de pautar sua conduta por regras e valores que assume 
como significativos, a partir de sua própria vivência, de questionar as 
regras instituídas e mesmo de definir novas regras. 
 
 Aproveitando o exemplo citado acima, a partir da aquisição de novos 
valores e de uma nova cultura (forma escolar) é que as unidades educativas e 
a família deveriam assumir uma nova identidade, pautada não apenas na troca 
de conhecimentos, mas de valores e de normas que fundamentem e 
condicionem a liberdade. 
 Mas como fazer com que a família participe de todo esse processo? 
 Neste estudo, vamos entender a família como sendo um conjunto de 
membros que convivem juntos. Nessa perspectiva, a família não mais constitui-
se como sendo papai, mamãe, filhos e animais de estimação, apenas, mas 
composta pelas diversas formas de organização familiar. 
 Para muitos, essa é uma questão de debate e é neste ponto que 
proponho mudanças em nossa forma de pensarmos e repensarmos sobre 
quais são os valores essenciais de ser e de ter família. Vale ressaltar que 
nenhum valor é absoluto e nem eterno, e chegou o momento de repensarmos 
sobre os valores acerca do que é família. 
Parafraseando Goergen (2010),é aqui que fazemos o trânsito para a 
ética. Se a formação moral consiste num processo de passar da heteronomia à 
autonomia, e se a autonomia é conquistada a partir de um exercício de 
reflexão, é preciso, então, o recurso à ética para que se realize aquela 
conquista. Essa ética garante não apenas os meus direitos, mas os direitos dos 
outros, os quais todos devem respeitar. É por isso que o direito é uma norma, 
pois nos garante liberdade! Se não há norma, há o poder. 
Este vem sendo o nosso grande desafio na interface entre escola e 
família: ensinar a norma e os valores, em vez de satisfazer o poder por meio do 
atendimento de interesses próprios e individuais, sendo as razões como meios 
para determinados fins, uma racionalidade subordinada de certa forma 
alienada. Essa racionalidade dos meios é denominada de instrumental, 
conforme define Repa e Pinzani (2008, p. 19): 
A racionalidade instrumental define-se por ser estritamente formal. 
Não importam os conteúdos das ideias e dos princípios que possam 
ser considerados racionais, mas a forma como essas ideias e 
princípios podem ser utilizados para a obtenção de um fim qualquer. 
Ou seja, a racionalidade instrumental, formal caracteriza-se, antes de 
tudo, pela relação entre meios e fins. Ela só diz respeito aos meios, 
aos critérios de eficácia na escolha dos meios para atingir os fins, 
sejam eles quais forem. 
 
Neste momento, temos que ter muito cuidado na forma como utilizamos 
os conceitos, pois os associados à ética e à moral têm sido usados 
indistintamente. Vale fazer a distinção, apontando a moral como o conjunto de 
princípios, valores, regras que orientam a conduta dos indivíduos em 
sociedade, ao passo que a ética é concebida como a reflexão crítica sobre a 
moral, que indaga sobre a consistência e a coerência daqueles valores, 
definindo/explicitando seus fundamentos (GOERGEN, 2010). 
Deste modo, é preciso que a escola e a família façam um grande 
investimento em suas próprias estruturas, objetivando os seus papéis, 
reconhecendo que precisam repensar acerca da “norma” de cada instituição 
paraque possam formar, em parceria, cidadãos autônomos não para atuarem 
apenas no futuro, mas em nosso tempo, o presente. 
Precisamos romper com a lógica do “burlar” e colocar novamente os 
limites, pois estes garantem os nossos direitos como seres humanos. Mas, 
para que isso aconteça, e de acordo com Nóvoa (2010, p. 10): 
Para que este investimento positivo tenha lugar é preciso assegurar, 
pelo menos, duas condições: a primeira é que não seja negado às 
famílias, sobretudo às famílias dos meios populares, o direito de 
decidirem e de participarem na educação dos seus filhos; a segunda 
é que os esforços de reforma educativa não tomem os professores 
como culpados da crise actual dos sistemas de ensino. 
 
As instituições educacionais como espaço de trabalho 
 
As instituições de ensino são concebidas hoje como espaço de trabalho. 
A formação de cidadãos críticos, detentores de conhecimentos, aptos para 
atuar no mercado de trabalho e que saibam conviver em sociedade passou a 
compor as prerrogativas da organização escolar (BRASIL, [s.d.]). 
Mas afinal, qual o conceito de trabalho? 
O trabalho tem sua origem na palavra latina tripalium. Tripalium era um 
instrumento utilizado por agricultores para bater os cereais. Essa atividade de 
“bater” para separar o alimento foi associada posteriormente às ações de 
tortura. Por isso, quando falamos em trabalho, fazemos a relação automática 
entre trabalho e labor, trabalho e tortura. 
Com isso, a própria ação do trabalho não nos remete a situações de 
alegria; muito pelo contrário, nos revela formas “tortuosas” como cansaço. 
Nesse quesito, devemos pensar a escola como trabalho e os impactos que 
geram nas pessoas que nela atuam, os quais perpassam desde a valorização 
dos profissionais que nela atuam até os alunos os quais usufruem esse 
espaço, isso sem contar as atividades que nela são produzidas. 
A partir desde dado, podemos pensar que a escola foi se associando ao 
desenvolvimento do capitalismo e do processo de burocratização das 
organizações sociais ao longo de sua estruturação, incluindo as formas 
relacionais e modos de produção do trabalho que foram historicamente 
construídos a partir da atribuição de novos significados: 
 • aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar 
determinado fim; 
 • atividade coordenada de caráter físico ou intelectual necessário à 
realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento; 
• exercício de atividade, como ocupação, ofício, profissão etc. 
Com isso, os fundamentos e o cotidiano escolar se reorganizarampara 
atender não apenas uma nova forma de aparelhamento, mas de repensar a 
escola em suas atividades de planejar, comandar, organizar, controlar e 
coordenar os trabalhos: pedagógico, recursos humanos, burocrático e 
administrativo. 
Para tanto, essa reorganização deve subsidiar e sanar a questão da 
falha e da qualificação, desafios tão constantes na realidade educacional 
brasileira. Por isso, abrangeremos as instituições educacionais como espaços 
de trabalho para potencializarmos a prática da gestão da sala de aula e dos 
demais ambientes educativos. 
Apresentaremos essas formas de organização seguindo os seguintes 
critérios: 
 
O sistema de organização e a gestão escolar 
 Organização, administração e gestão são termos aplicados aos 
processos organizacionais, com significados muito parecidos. Libâneo (2004, p. 
97), descreve o significado de cada termo, da seguinte maneira: 
Organizar significa dispor de forma ordenada, articular as partes de 
um todo, prover as condições necessárias para realizar uma ação; 
administrar é o ato de governar, de pôr em prática um conjunto de 
normas e funções; gerir é administrar, gerenciar, dirigir. No campo da 
educação, a expressão organização escolar é frequentemente 
identificada com administração escolar, termo que tradicionalmente 
caracteriza os princípios e procedimentos referente à ação de 
planejar o trabalho da escola, racionalizar o uso de recursos 
(materiais, financeiros, intelectuais), coordenar e controlar o trabalho 
das pessoas. 
 
Seguindo os preceitos de Libâneo, a administração escolar doravante 
concebida passou a ser gerida pela gestão escolar. Mesmo com a mudança da 
nomenclatura, os termos ainda perpassam o plano apenas teórico, o que nos 
leva a refletir que o sistema de organização escolar ainda precisa perpassar a 
zona de autonomia relativa (limite entre os fatores internos e externos2) em prol 
do desenvolvimento de um trabalho libertário. 
 
O sistema de organização da gestão escolar 
O estudo da escola como organização de trabalho é realizado desde a 
década de 1930 e, frequentemente, esteve marcado por uma concepção 
burocrática, funcionalista, aproximando as características da organização 
escolar à organização empresarial. 
De acordo com Libâneo (2004), distinguiremos duas concepções dos 
processos de organização e gestão em relação às finalidades sociais e 
políticas da educação: 
 Concepção científico-racional – visão burocrática e tecnicista da escola, 
dá forte peso à estrutura organizacional, à definição rigorosa de cargos e 
funções, à hierarquia de funções, às normas e regulamentos, à direção 
centralizada e ao planejamento com pouca participação das pessoas; 
 Concepção sociocrítica – um sistema que agrega pessoas, destacando 
o caráter intencional de suas ações. A organização escolar é construída 
pela comunidade educativa, envolvendo professores, alunos, pais (forma 
de democracia de gestão e de tomada de decisão coletivamente); essa 
concepção de escola se manifesta em diferentes formas de organização 
e gestão: concepção técnico-científica; concepção autogestionária; 
concepção interpretativa; e concepção democrático-participativa. 
Diante de tais concepções, e mesmo ambas tendo que caminhar juntas 
em todos os momentos da organização desse sistema, o que se busca 
tambémé a “alma da escola”, como salienta Vasconcellos (2012) em seus 
estudos. Essa alma, que dá a vida à instituição, deve trabalhar com três 
dimensões em seu organograma: o relacionamento interpessoal, o trabalho 
com o conhecimento e a organização da coletividade. 
 
2De acordo com Vasconcelos (2012), podemos compreender os fatores internos como sendo a 
formação inicial e continuada dos professores, os salários, o plano de carreira e de concurso, 
as condições de trabalho, a tarefa da família em assumir as suas responsabilidades com seus 
entes, a valorização social da escola e dos seus profissionais. Já os fatores externos referem-
se a revisão das práticas e posturas dos profissionais que atuam na escola. 
 
A estrutura organizacional de uma escola 
O termo estrutura, no caso da escola, tem o sentido de ordenamento e 
disposição das funções que asseguram o funcionamento de um todo. Toda 
instituição escolar necessita de uma estrutura de organização interna, 
geralmente prevista no regimento escolar ou em legislação específica, seja de 
origem estadual, seja municipal. 
De acordo com Libâneo (2004), a estrutura é geralmente representada 
por meio de órgãos colegiados e refletem a concepção de organização e 
gestão adotadas, sendo estes divididos em: 
 Conselho de escola – atribuições consultivas, deliberativas e fiscais, 
envolvendo aspectos pedagógicos, administrativos e financeiros; 
 Direção – o diretor coordena, organiza, auxiliado pelos demais 
componentes, atendendo às normas e aos regulamentos legislativos. O 
assistente desempenha as mesmas funções na condição de substituto 
do diretor; 
 Setor técnico-administrativo – atividades-meio que asseguram o 
atendimento dos objetivos e funções da escola: secretaria escolar, 
zeladoria, vigilância e serviço de multimeios (biblioteca, laboratórios, 
equipamentos audiovisuais, videoteca e outros recursos didáticos); 
 Setor pedagógico – atividades de coordenação pedagógica e orientação 
educacional, englobando: supervisionar, acompanhar,assessorar, 
apoiar, avaliar atividades pedagógico-curriculares, prestar assistência 
pedagógica aos professores em suas respectivas disciplinas; 
 Instituições auxiliares – Associação de Pais e Mestres (APM), grêmio 
estudantil e caixa escolar vinculadas ao Conselho de escola ou ao 
diretor; 
 Corpo docente (função – realizar o objetivo prioritário da escola, o 
processo ensino-aprendizagem) e corpo discente (constitui-se por 
alunos e suas associações representativas). 
O processo de organização escolar dispõe de funções que são 
propriedades comuns ao sistema organizacional de uma instituição, a partir das 
quais se definem ações e operações necessárias ao funcionamento. As 
funções ou elementos da organização e gestão englobam, de acordo com 
Libâneo (2004): 
 Planejamento – explicitação de objetivos e antecipação de decisões para 
orientar a instituição; 
 Organização – racionalização de recursos humanos, físicos, materiais, 
financeiros, criando e viabilizando as condições e modos para se realizar o 
que foi planejado; 
 Direção e coordenação – coordenação do esforço humano coletivo do 
pessoal da escola; 
 Avaliação – comprovação e avaliação do funcionamento da escola. 
Porém, para que toda essa estrutura possa funcionar e trabalhar de 
maneira acoplada é preciso que três funções dialéticas acompanhem esse 
organograma: o querer, o agir e o expressar, no qual o trabalho escolar deva 
ser direcionado para a mobilização da aprendizagem, a construção do 
conhecimento, a elaboração e expressão da síntese do conhecimento e da 
análise, por meio de um trabalho mediador em que todos possam enfrentar os 
desafios do dia a dia escolar. 
 
Considerações finais 
 
 Chegamos ao final do nosso estudo, pensando o quão desafiador é a 
atuação do educador/gestor/líder nos espaços educativos. Verificamos que a 
liderança não apenas abrilhanta vidas, mas faz com que todos possam sonhar 
juntos e transformar tais sonhos em realidade. 
 Num segundo movimento, verificamos que toda política já é pública por 
si só, pois o Estado deve manter práticas que permeiem o bem-estar de toda a 
população. Como uma proposta de reafirmação de direitos, as políticas 
públicas na área educacional garantem não apenas o acesso, mas a 
permanência de nossos educandos à rede pública de ensino. 
Num terceiro movimento, constatamos que é imprescindível a parceria 
na interface entre escola e família na formação de crianças éticas e 
responsáveis e que essa parceria precisa ultrapassar o limiar da culpabilização. 
Num quarto e último movimento, percebemos que as instituições educacionais 
são espaços de trabalho porque não apenas colaboram no processo ensino-
aprendizagem de nossos discentes trabalhando com conteúdos acadêmicos, 
mas representam espaço de troca de conhecimento e que atendem a todos os 
mecanismos burocráticos e rígidos de uma organização. 
Desse modo, é imprescindível que todos os membros que compõem o 
quadro educacional, independentemente da função em que atuem, sejam 
responsáveis e mediadores em acolher, provocar, subsidiar e interagir com 
alegria em prol do desenvolvimento humano. 
Dizer que a responsabilidade é de todos não significa dizer que ela não 
é de ninguém. Ao contrário, cada segmento social, cada instituição, cada 
indivíduo deve assumir responsabilidade moral e ética em seu âmbito de 
atuação. 
E essa atuação “alegre” é um convite à provocação de trabalharmos em 
prol de um crescimento efetivo de nossos educandos, enxergando neles a 
potência de mudança para o presente, conscientes de sua realidade e 
analíticos no enfrentamento de desafios. Bastos (2002, p. 58) nos diz: 
[...] a escola necessita da adesão de seus usuários (não só de 
alunos, mas também de seus pais ou responsáveis) aos propósitos 
educativos a que ela deve visar, e que essa adesão precisa redundar 
em ações efetivas que contribuam para o bom desempenho do 
estudante. 
 
Ou seja, “se a escola não participa da comunidade, por que irá a 
comunidade participar da escola?” (PARO, 2010, p. 27). 
 Por isso, os fundamentos de organização devem se fazer presentes no 
cotidiano educacional: no espaço escolar que podemos trabalhar com a 
formação de cidadãos;a partir dos bens culturais que poderemos transmitir 
conhecimentos para nossos alunos e para toda a comunidade; abrindo o 
espaço para as famílias que podemos planejar o cotidiano; a partir da 
construção da democracia que podemos articular direitos e deveres, na gestão 
colegiada, que a paridade se fará justa nas decisões; e na integração escola-
comunidade que podemos dar a vida para o ambiente escolar. Eis o nosso 
grande desafio! 
 
Referências 
 
BOMENY, H. Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. FGV CPDOC. [S.d.]. 
Disponível em: 
<http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/artigos/Educacao/ManifestoPioneiros
>. Acesso em: 14 maio 2017. 
BASTOS, J. B. (Org.). Gestão democrática – O sentido da escola. 3. ed. Rio 
de Janeiro: DP&A, 2002. 
 
BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação. 2014-2024. 
[S.d.]. Disponível em: <http://pne.mec.gov.br/>. Acesso em: 10 maio 2017. 
 
CORTELLA, M. S.Como liderar pessoas.Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=B_qGjAQLAjA>. Acesso em: 15 maio 
2017. 
 
FERREIRA, A. B. de H. Dicionário Aurélio Virtual. Disponível 
em:<https://dicionariodoaurelio.com/escola>. Acesso em: 16 maio 2017. 
 
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia.Saberes necessários à prática 
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2014. 
 
GOERGEN, P. Educação moral hoje:cenários, perspectivas e perplexidades. 
In: UNESP; UNIVESP. Caderno de Formação: Introdução à Formação. São 
Paulo: Cultura Acadêmica / Universidade Estadual Paulista, 2010. p. 72-90. 
 
LIBÂNEO, J. C.Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. 
revista e ampliada. Goiânia: Editora Alternativa, 2004. 
 
LÜCK, H. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: 
Editora Positivo, 2009. 
 
NÓVOA, A. Relação Escola/Sociedade:Novas respostas para um velho 
problema. São Paulo: Univesp, 2010. 
 
PARO, V. H.Administração escolar: introdução crítica. 14. ed. São Paulo: 
Cortez, 2010. 
 
PALMA FILHO, J. C. Impactos da globalização nas políticas públicas em 
Educação.In: UNESP; UNIVESP. Caderno de Formação: Introdução à 
Formação. São Paulo: Cultura Acadêmica / Universidade Estadual Paulista, 
2010. p. 10-25. 
 
REPA, L. S.; PINZANI, A.Revista Mente e Cérebro:Fundamentos para a 
compreensão contemporânea da psique. São Paulo: Editora Duetto, 2008. 
 
VASCONCELLOS, C. Coordenação do trabalho Pedagógico: do projeto 
político pedagógico ao cotidiano da sala de aula. São Paulo: Libertad, 2012.

Outros materiais