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DIREITO PENAL GERAL

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DIREITO PENAL GERAL
NOÇÕES DE DIREITO PENAL
Sempre que o D. Penal entra em ação, incomoda a pessoa, visto que afeta sua liberdade. Por esta razão, surgem vários princípios limitadores, os quais buscam conter a intromissão do D. Penal na vida do indivíduo. Alguns deles estão expressamente previstos na CF (devido processo legal) ou em tratados e convenções internacionais (presunção da inocência), e outros estão implícitos (nemo bis in idem). 
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA (art 1º III CF) - comanda e serve de alicerce a todos os demais princípios penais fundamentais. Basicamente entendido como a qualidade da pessoa de ser valorizada por si mesma, um ser de fins absolutos. É valor fundamentador do sistema de direitos fundamentais da atual CF. O reconhecimento deste valor implica um núcleo indestrutível de prerrogativas que o Estado não pode deixar de respeitar. A noção da dignidadade humana traz a promoção do desenvolvimento livre e pleno da personalidade individual.
PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA OU DA ULTIMA RATIO - o D. Penal só deve se preocupar com a proteção dos bens mais importantes e necessários à vida em sociedade, para garantir o controle social e a convivência tranqüila. Partindo desta diretriz, a intervenção mínima não apenas indica quais bens merecem a proteção penal, mas também serve de orientação ao legislador para a descriminalização de condutas ofensivas a bens não mais merecedores desta proteção (ex. adultério). É com base neste princípio que alguns juristas defendem a descriminalização das contravenções penais. Do princípio da intervenção mínima, decorrem duas características essenciais do Direito Penal: 
a) subsidiariedade – o D. Penal só pode ser utilizado quando os demais ramos do Direito, menos gravosos, forem insuficientes para proteger o bem jurídico. Há autores, como Régis Prado e Rogério Greco, que afirmam que a subsidiariedade se confunde com o conceito de intervenção mínima. Pelo primeiro, a intervenção mínima ou subsidiariedade estabelece que o D. Penal só deve atuar na defesa dos bens jurídicos imprescindíveis à coexistência pacífica dos homens e que não podem ser eficazmente protegidos de forma menos gravosa.
b) fragmentariedade ou fragmentabilidade – uma vez selecionados os bens jurídicos cuja proteção penal é necessária (intervenção mínima), e comprovada a lesividade e a inadequação social da conduta, o D. Penal deve tutelar somente ataques graves aos bens jurídicos, e não qualquer ataque. Ou seja, apenas as condutas mais graves contra os bens jurídicos mais valiosos podem ser criminalizadas. Isso não significa lacunosidade na tutela de bens e valores, mas sim limite ao totalitarismo de tutela em favor da liberdade.
PRINCÍPIO DA CULPABILIDADE - não há responsabilidade criminal sem culpa lato sensu, e a pena não pode ultrapassar a medida da culpabilidade (culpabilidade como fundamento e limite de toda pena). Deste princípio, surgem as seguintes idéias: 
a) é proibida a responsabilidade puramente objetiva em D. Penal, ou seja, aquela que não analisa dolo nem culpa; 
b) foi adotado no Brasil o Direito Penal do fato, ou culpabilidade do fato, isto é, o agente responde pelo fato que praticou ou deixou de praticar, pouco importando suas qualidades pessoais, aquilo que ele é. A ele, se contrapõe o Direito Penal do autor, que leva em consideração aquilo que o agente é, ou seja, o modo de vida que ele leva, independentemente do fato que praticou. Há resquícios desta teoria em nosso sistema, como a agravante da reincidência.
DIREITO PENAL DO INIMIGO OU DE 3ª VELOCIDADE – é uma idéia desenvolvida por Günther Jakobs no final dos anos 90, segundo a qual para algumas pessoas o D. Penal tradicional não funciona, porque elas não teriam freios morais. Assim, segundo Jakobs, é rotulado como inimigo o indivíduo que representa perigo à vigência do ordenamento jurídico, delinquindo por princípio, de forma persistente. Para essas pessoas, não podem ser assegurados os direitos e garantias individuais, porque o D. Penal deve antecipar a sua atuação segundo o modo de vida do agente, segundo a sua periculosidade. Ex. base militar de Guantânamo. De acordo com FMB, Direito Penal do Inimigo é o conjunto de princípios e normas elaboradas sem as garantias materiais e processuais inerentes ao Estado Democrático de Direito, aplicáveis apenas aos criminosos que registram perfil previamente definido, visando, com isso, à sua eliminação ou inocuização da sociedade. 
Esta teoria é completamente incompatível com o Estado Democrático de Direito. O grande problema é que não há um critério objetivo para definir o que é inimigo, sendo absolutamente arbitrária e subjetiva tal conceituação. Ademais, não é possível a convivência humana sem direitos e garantias individuais; o D. Penal moderno surgiu como uma maneira de limitar o poder estatal, protegendo os indíviduos, e o D. Penal do Inimigo desvirtua isso, dando poder absoluto ao Estado.
Há uma classificação do D. Penal conforme a obediência de direitos e garantias individuais (Jesus Maria Silva Sanchez):
· Direito Penal de 1ª velocidade - não se trabalha com penas alternativas, porém, aplicam-se todas as garantias individuais, asseguradas, irrenunciáveis.
· Direito Penal de 2ª velocidade - são admitidas penas alternativas ao lado da privativa de liberdade, mas com flexibilização a alguns direitos e garantias individuais de ordem penal e processual penal. É o sistema que seria adotado pelo Brasil, consolidado pela edição da L. 9099/95 (v.g., L.8072/90 flexibiliza garantias).
· Direito Penal de 3ª velocidade - trabalha com a restrição completa de direitos e garantias individuais, aplicando-se pena privativa de liberdade.
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE, DA RESERVA LEGAL OU DA INTERVENÇÃO LEGALIZADA
 (arts 5º XXXIX CF e 1º CP) - não há crime sem lei anterior que o preveja, nem pena sem prévia cominação legal. Este princípio surgiu na Inglaterra em 1215, com a Magna Carta de João Sem Terra. O fundamento político deste princípio é garantir a liberdade pessoal do cidadão e limitar o poder do Estado, impedir arbitrariedades, por meio da realização da certeza do direito. Isso leva ao fundamento científico ou jurídico, que é o conteúdo da norma penal, o qual deve seguir alguns parâmetros. Tal princípio, segundo Francisco de Assis Toledo, possui 4 desdobramentos:
A. Nullum crimen nulla poena sine lege praevia ou lex praevia - a lei que institui o crime e a pena deve ser anterior ao fato que se quer punir (princípio da anterioridade - art 1º CP), e só a lei em sentido estrito pode criar crimes e penas (este último seria, para alguns, o princípio da reserva legal). Logo, a regra é a da aplicação da lei vigente à época do fato – princípio do tempus regit actum (o tempo rege o ato). O D. Penal é regido pelo princípio da irretroatividade da lei penal mais gravosa ou da lex severior. Porém, os arts 5º XL CF, 2º p.u. CP e 11.2 da Declaração Universal D. Homem determinam que lei penal mais benéfica retroagirá (princípio da retroatividade da lex mitior). A retroatividade significa a aplicação da lei aos fatos ocorridos antes do início de sua vigência. Do mesmo modo, a lei penal anterior mais benéfica é ultrativa (princípio da ultratividade), ou seja, se aplica a lei penal anterior se a lei posterior é mais gravosa.
Assis Toledo entende que o princípio da irretroatividade in pejus não é absoluto, não se aplicando às medidas de segurança, se tal medida tiver caráter puramente curativo ou assistencial, quando presente estado de periculosidade, ainda que mais gravosa. Porém, isso não valeria para medidas que se assemelhassem à pena (ex. medidas detentivas, confisco de bens).
Lei delegada não pode criar crimes nem cominar penas, porque ela não pode cuidar de direitos individuais. No entanto, por conta de sua hierarquia, admite-se criação de crime e pena por LC e por EC (v.g., art 10 LC 105/01 – sigilo bancário e financeiro). De acordo com EC 32/01, MP não pode criar crime e pena, pois não pode tratar de D. Penal. No entanto, a doutrina admite uso de MP para beneficiar o agente– isso não foi contestado pelo STF. V.g., questão do Estatuto do Desarmamento, na qual foram utilizadas MPs para prorrogar o prazo para registro de arma de fogo.
B. Nullum crimen, nulla poena sine lege scripta ou lex scripta - lei que institui o crime e a pena deve ser escrita. Isso significa a proibição da invocação do direito consuetudinário para fundamentação ou agravação da pena. A lei penal incriminadora é a única fonte formal imediata de D. Penal. No entanto, quando o CP e a CF utilizam o termo crime, também abrangem a contravenção penal, e quando utilizam o termo pena, incluem a medida de segurança. Contudo, deve ser ressaltado que o costume não foi totalmente abolido do D. Penal, constituindo sua fonte quando opera como causa supralegal de exclusão de ilicitude, de atenuação da pena ou da culpa, sempre em benefício do cidadão. Para tanto, deve haver um reconhecimento e vontade gerais de que a norma costumeira atue como Direito vigente.
As normas penais podem ser incriminadoras ou em sentido estrito (têm como função definir as infrações penais, impondo ou proibindo condutas, sob a ameaça de sanção), e não incriminadoras (cuidam de D. Penal, mas não estabelecem crime nem pena). As normas penais não incriminadoras podem ser:
· Permissivas justificantes - afastam a ilicitude da conduta (ex. arts 23-25 CP);
· Permissivas exculpantes - afastam culpabilidade, isentam agente de pena (art 26);
· Explicativas – esclarecem ou explicitam conceitos (art 327);
· Complementares – fornecem princípios gerais para aplicação da lei penal (art 59).
C. Nullum crimen, nulla poena sine lege stricta ou lex stricta - exige-se lei estrita. Isso leva à proibição da aplicação da analogia para fundamentar ou agravar a pena (analogia in malam partem – em prejuízo do acusado). Ex. usar analogia para criar crime. Por outro lado, a analogia in bonam partem (em benefício do acusado), em regra, é admitida no D. Penal. Ela será admitida no caso da lei penal não incriminadora. Mas há uma exceção: não se admite analogia (mesmo para beneficiar) no caso da lei penal não incriminadora excepcional, ou seja, quando o legislador claramente quer excluir de certa regulamentação certos casos semelhantes. Neste caso, esta lei abre uma exceção à regra geral. Ex. art 348 cuida do crime de favorecimento pessoal. No §2º, há uma norma penal não incriminadora excepcional, dizendo que o cônjuge, ascendente, descendente e irmão (CADI) não respondem criminalmente se esconderem criminoso. Mas não podem ser incluídas outras pessoas, mesmo que para beneficiar.
A analogia é uma forma de integração do ordenamento jurídico quando há uma lacuna. Desta maneira, utiliza-se um caso semelhante para preenchê-la. Portanto, não se confunde com forma de interpretação da lei. Quando é utilizada a interpretação, não há lacuna. Na interpretação analógica, utiliza-se uma fórmula casuística (emprego de exemplos), desaguando numa fórmula genérica, que admite casos semelhantes (ex. art 121 §2º III CP – veneno, asfixia etc. é fórmula casuística, e outros meios insidiosos, cruéis ou de que resultem perigo comum é fórmula genérica). Na interpretação extensiva, o texto legal disse menos do que efetivamente queria dizer e, portanto, utilizando um método lógico dedutivo, é alcançada a abrangência real da lei. Ex. art 235 cuida do crime de bigamia. Porém, proíbe também a poligamia, por interpretação extensiva. Como são formas de interpretação, intepretação analógica e extensiva são pacificamente admitidas em D. Penal.
D. Nullum crimen, nulla poena sine lege certa ou lex certa - também chamado princípio da taxatividade ou da determinação, segundo o qual a norma penal deve conter um mínimo de determinação sobre aquilo que é proibido e sobre a sanção cominada para a conduta tipificada. Entretanto, respeitada esta taxatividade mínima, admite-se lei penal incriminadora que dependa de complemento. Podem ser destacadas as seguintes espécies de normas que exigem complementação:
· Tipo penal aberto - o complemento do preceito primário é feito pelo juiz. Ex. ato obsceno; crime culposo.
· Preceito primário - é o que descreve de forma detalhada e precisa a conduta que se pretende impor ou proibir; é o comando da norma.
· Preceito secundário - individualiza a pena, cominando-a em abstato.
· Norma penal incompleta, imperfeita ou secundariamente remetida - a sanção imposta pela transgressão do preceito primário da norma consta de outro dispositivo da lei ou de texto legal diverso, a que faz referência. Ex. arts 304 CP, 1º L.2889/56.
· Norma penal em branco ou primariamente remetida - complemento é feito por outro ato normativo. Há duas espécies de norma penal em branco:
· Homogênea ou em sentido amplo - o complemento é feito por ato normativo da mesma fonte legislativa que editou a norma a ser complementada. Ex. art 237 CP – impedimentos matrimoniais estão previstos no CC (leis ordinárias).
· Heterogênea ou em sentido estrito - complemento é feito por ato normativo de fonte legislativa diversa. Ex. art 33 L. 11343 – lista completa dos entorpecentes proibidos é dada por portaria do Ministério da Saúde (ato administrativo). Há quem defenda que tal norma ofende o princípio da legalidade, uma vez que a complementação prescinde de discussão por parte do Poder competente para legislar em matéria penal, o que pode gerar uma administrativização da lei penal e consequente ofensa à intervenção mínima. Prevalece entendimento de que não há ofensa à legalidade se a norma penal em branco prevê o chamado núcleo essencial da conduta.
PRINCÍPIOS DE DIREITO PENAL INTERTEMPORAL
EXTRA-ATIVIDADE DA LEI PENAL - pelo princípio da anterioridade, a lei mais benéfica é a única que tem extra-atividade, podendo ser ultrativa (capacidade da lei penal de regular fatos ocorridos durante sua vigência após ser revogada) ou retroativa (capacidade de retroagir no tempo para regular situações ocorridas antes de sua vigência). A sucessão de leis penais está intimamente ligada aos princípios que regulam a vigência da lei penal no tempo. Em D. Penal, existem 2 espécies de lei penal posterior ao fato mais benéfica: 
A) abolitio criminis – lei posterior ao fato que torna atípica conduta que era típica (ex. L. 11106/05 que descriminalizou adultério e sedução; L. 11983/09 que tornou atípica a conduta de mendicância, antes contravenção penal). A abolitio atinge todos os efeitos penais, principal e secundários (pena, maus antecedentes, nome em rol dos culpados, pressuposto da reincidência etc). Porém, permanecem os efeitos extrapenais (civis). A abolitio é uma causa de extinção de punibilidade (art 107 III CP).
· Abolitio criminis temporalis ou suspensão da tipicidade - situação na qual aplicação de um determinado tipo penal encontra-se temporariamente suspensa. Ex. posse de arma de fogo até final de 2009.
B) novatio legis in mellius – lei posterior ao fato que beneficia o agente em relação a fato que já era típico. Ex. art. 28 L. 11343. No caso dos crimes permanentes (conduta se alonga no tempo por sua vontade e, portanto, também a consumação e o estado de flagrância – ex. sequestro) e continuados (caracterizado por 2 ou mais crimes da mesma espécie, que guardam entre si conexão de tempo, lugar, modo de execução e outras semelhantes, razão pela qual é considerado um crime só), é possível a aplicação da lei penal posterior mais grave (novatio legis in pejus), se a lei entra em vigor anteriormente à cessação da permanência ou da continuidade (súmula 711 STF). O mesmo se aplica aos chamados crimes habituais, caracterizados pela prática reiterada da mesma conduta (ex. curandeirismo - art 284).
A aplicação do princípio da extra-atividade da lei penal mais benéfica tem de considerar a chamada lei intermediária, qual seja, aquela que entrou em vigor após a data do fato, mas que foi revogada antes da prolação da sentença. Caso seja mais benéfica do que as outras duas leis (vigentes na data do fato e na data da sentença), deverá ser aplicada ao caso.
De acordo com a súmula 611 STF, compete ao juiz da execução aplicar a lei maisbenéfica após trânsito em julgado da condenação. Logicamente, antes que isso ocorra, será o juiz do conhecimento ou o relator do recurso interposto o competente para fazê-lo, e todos eles devem fazê-lo de ofício. A súmula citada impede que sejam utilizados para tal fim HC e revisão criminal. No entanto, se o juiz da execução tiver obrigatoriamente de adentrar no mérito da ação penal de conhecimento para aplicar a lex mitior, perderá competência, e isso só poderá ser feito pelo Tribunal via revisão criminal (Alberto S. Franco e Rogério Greco). Ademais, deve ser ressaltado que a mudança de interpretação jurisprudencial de um determinado fato, quando mais benéfica ao agente, deve necessariamente retroagir. 
Caso haja dúvida sobre qual lei é a mais benéfica, há duas correntes: 
a) juiz deve aplicar a lei vigente à época do fato. Para concursos, melhor usar esta corrente, por ser a mais técnica, mais jurídica. 
b) juiz deve consultar o réu, afinal é ele que suportará a pena. Esta segunda corrente é criticada, porque é o Estado que impõe a pena, e não o réu que a escolhe. 
LEX TERTIA, COMPLEXIDADE OU COMBINAÇÃO DE LEIS – é a mistura dos aspectos mais benéficos de 2 ou mais leis. Há 2 correntes quanto à sua possibilidade: 
i) Não é possível, é inconstitucional, porque assim fazendo o juiz estaria legislando e, portanto, violando a separação dos Poderes. I
i) É possível, porque a CF determina que o juiz aplique a lei com equidade, ou seja, distribua a justiça da melhor maneira. O STF admite esta combinação (ex. HC 101511/MG, 2010 - art 33 §4º L. 11343 combinado com antigo art 12 L. revogada). Prof. diz que STJ não admite, mas há decisão da 6ª Turma STJ, de 2010, em HC 144356, combinando as leis.
LEI PROCESSUAL - no CPP, o art 2º determina a imediata aplicação da lei processual (o que inclui as normas de execução), seja ela mais benéfica ou não, ressalvados os atos já praticados. Ex. nova lei processual que estabelece que prazo para recorrer é de um dia. Portanto, este prazo atinge qualquer processo em andamento. Entretanto, art 2º LICPP abre 2 exceções, nas quais deve ser aplicada a lei processual mais benéfica: 1) lei que trata de fiança; 2) lei que trata de prisão preventiva (em seu sentido amplo de prisão cautelar). 
Com relação à lei híbrida, ou seja, a que cuida de D. Penal e D. Processual Penal ao mesmo tempo, a retroatividade irá depender do seu aspecto penal, pois é ele que comanda a retroatividade. Portanto: 
a) aspecto penal é mais grave - a lei híbrida não retroagirá por inteiro. Ex. art 366 CPP foi modificado pela L. 9271/96. Tal artigo determina que o processo fique suspenso quando o réu for citado por edital, seja revel, e não constitua advogado nos autos – aspecto processual. Ao mesmo tempo, determina a suspensão da prescrição – aspecto penal. Como o aspecto penal no art 366 é mais grave, lei não retroagiu por inteiro (assim, os processos em andamento antes da lei continuaram seu curso, sem suspensão da prescrição, mas à revelia). De acordo com a súmula 415 STJ, o período máximo de suspensão da prescrição é calculado conforme a pena máxima cominada ao crime em abstrato.
b) aspecto penal é mais benéfico - a lei híbrida retroagirá por inteiro. Ex. L. 9099, que cuida do JECRIM, é uma lei híbrida, porque não obstante seja predominante processual, cuida da representação, que é um aspecto penal, visto que sua ausência acarreta decadência, causa de exclusão de punibilidade. Portanto, a lei retroagiu para alcançar inclusive processos que já haviam acabado, e não apenas os em andamento. Lei previa um período de 30 dias para que as vítimas apresentassem representação (art 91 JEC).
LEIS INTERMITENTES – são aquelas cuja vigência é determinada. Por esta razão, são chamadas de autorevogáveis, pois elas mesmas fazem cessar a sua vigência. O art 3º cuida de 2 espécies de leis intermitentes:
· Lei temporária - aquela cuja vigência consta do seu próprio texto legal. Ex. L. 9100/95, com vigência nela estabelecida até o dia das eleições de outubro de 96. 
· Lei excepcional - aquelas cuja vigência obedece a uma situação emergencial de anormalidade, decorrente de enchente, terremoto, caos econômico etc. Assim, cessa a sua vigência com a cessação da situação emergencial.
Estas duas leis têm uma característica essencial: têm ultratividade gravosa, ou seja, são aplicáveis aos fatos praticados durante a sua vigência mesmo depois de revogadas. Isso evita a impunidade de pessoas que praticam crime às vésperas da autorevogação destas leis. Trata-se de uma questão de política criminal. 
O complemento da norma penal em branco será ultrativo em certas condições: a) se este complemento for criado para atender uma situação normal, uma vez revogado, acarretará abolitio criminis. Ex. retirada da maconha da lista de drogas proibidas (está na lista por questão de saúde pública - situação normal); b) se este complemento for criado para administrar uma situação emergencial, de anormalidade, mesmo que seja autorevogado, terá efeito ultrativo, alcançando infrações praticadas durante sua vigência. Ex.: tabela de preços que complementa o crime contra a ordem econômica.
Segundo posição majoritária, o art 3º CP foi recepcionado pela CF, não violando o princípio constitucional da irretroatividade da lei mais grave. Isso porque o aspecto tempo ou situação anormal é elementar do tipo penal (como se estivesse no tipo penal: quem praticar esta conduta durante a vigência desta lei...) e, portanto, a questão envolve tipicidade, e não a sucessão de leis no tempo. Quando uma lei nova revoga outra, dá-se a sucessão de leis no tempo, na qual impera de forma absoluta a irretroatividade da lei mais grave. No entanto, as leis temporária e excepcional são autorevogáveis, não havendo sucessão de leis no tempo. A auto-revogação da lei não muda a concepção jurídica do fato, o que há é ausência de elementos do tipo. Apesar disso, há quem entenda pela impossibilidade desta interpretação, pois a CF não teria ressalvado a possibilidade da ultra-atividade in pejus das leis temporárias e excepcionais.
Além destas 2 leis, apenas a lei penal mais benéfica é ultrativa, porque tem extra-atividade plena. Ex. L. 9437/97 que cuidava do porte ilegal de arma de fogo foi revogada expressamente pelo Estatuto do Desarmamento (L. 10826/03). Porém, por ser mais benéfica, continua sendo aplicada aos crimes praticados durante a sua vigência. Ex2: antigo art 12 Lei de Drogas (tráfico ilícito) foi revogado pela nova lei, mas como sua pena era menor, continua sendo aplicado aos crimes praticados durante sua vigência.
TEMPO DO CRIME - várias teorias discutem qual deve ser o tempo do crime. Destacam-se as seguintes:
· Teoria da atividade ou da ação – o tempo do crime será o da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado; 
· Teoria do resultado ou do evento – tempo do crime será o da ocorrência do resultado; 
· Teoria mista ou da ubiquidade – tempo do crime será o da conduta bem como o do resultado.
No art 4º, o CP adotou a teoria da atividade para o tempo do crime, ou seja, considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão (conduta), ainda que seja outro o momento do resultado. Esta teoria soluciona vários aspectos em D. Penal, tais como lei que deve ser aplicada; imputabilidade etc. No entanto, para prescrição e decadência, foi adotada outra teoria (como regra, a prescrição começa a fluir a partir da consumação do crime - art 103 e 111 I). De acordo com súmula 711 STF, no crime continuado e no crime permanente, aplica-se a lei vigente à época da cessação da conduta, ainda que mais grave. Ex. vítima sequestrada e posta no cativeiro, período em que crime teve pena agravada. Dias mais tarde, família paga resgate. Deve ser aplicada a lei vigente no dia da saída do cativeiro. A súmula citada aplica-se também ao crime habitual, aquele caracterizado pela prática reiterada da mesma conduta (ex. curandeirismo – art 284).
LUGAR DO CRIME – o art 6º adotou a teoria da ubiquidade mista ou unitária para o lugar do crime, isto é, considera-se praticado o crime:A – no lugar da conduta (ação ou omissão), mas também...
B – no lugar do resultado, mas ainda...
C – no lugar onde deveria ocorrer o resultado.
Ex. argentino da Argentina manda uma bomba para explodir no Maracanã. Porém, por circunstâncias alheias à sua vontade, o artefato explode no Paraguai. Portanto, pelo art 6º, Argentina, Paraguai e Brasil são considerados lugar do crime, isto é, os 3 países podem julgar o agente. Especificamente, foi adotada a teoria da ubiquidade mista, porque explica a tentativa nos crimes a distância (é lugar do crime também onde deveria ocorrer o resultado). O art 6º serve para definir a jurisdição da lei aplicável nos crimes à distância, isto é, quando a justiça brasileira terá competência para julgar o caso – resolve problema de D. Penal Internacional. Crime à distância ou de espaçamento máximo é aquele cuja conduta ocorre em um país, e o resultado em outro. A teoria da ubiquidade evita a impunidade do agente. Não se confunde crime à distância com crime plurilocal, que é aquele cuja conduta ocorre numa comarca e o resultado em outra, dentro do mesmo país. Como regra, será competente o juízo da consumação (art 70 CPP). O art 8º estabelece um sistema de compensação de penas – agente que cumpre pena no estrangeiro tem pena atenuada no Brasil pelo mesmo crime, se diversa a pena, ou computada, se idêntica. Expressão mnemônica: LUTA (Lugar-Ubiquidade; Tempo-Atividade).
APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO ESPAÇO, DIREITO INTERESPACIAL OU D. PENAL INTERNACIONAL
Trata-se do conjunto de normas e princípios que soluciona o conflito de leis no espaço, isto é, define quando a lei penal brasileira pode ou não ser aplicada. Portanto, são regras de D. Público interno. Os princípios que convencionalmente regem a aplicação do poder punitivo estatal no espaço são os seguintes:
a) Princípio da territorialidade - aplica-se a lei penal aos fatos puníveis praticados no território nacional, independentemente da nacionalidade do agente ou do ofendido, ou do bem jurídico lesado. Isso se justifica pela tese da soberania territorial (lei se aplica no espaço em que se exercita a soberania do Estado).
b) Princípio real, de defesa ou da proteção de interesses - aplica-se a lei penal do Estado titular do bem jurídico lesado ou ameaçado (bens estatais, coletivos ou comunitários). Professor diz que não adotamos o princípio da personalidade passiva, porque antes dele, entra em ação o princípio da defesa, já que a pessoa do brasileiro é um bem protegido, e se atingido no exterior, poderá ser aplicada lei brasileira.
c) Princípio da nacionalidade ou da personalidade - aplica-se a lei penal do país de origem do agente (personalidade ativa) ou da vítima (personalidade passiva).
d) Princípio da universalidade, da justiça universal, cosmopolita ou mundial - aplica-se a lei penal nacional a todos os fatos puníveis, independentemente do lugar do delito, nacionalidade do agente ou vítima, ou do bem jurídico atingido. Decorre da visão de que certas condutas delitivas afetam valores essenciais da ordem comunitária internacional. Nesse caso, competência se opera pela prevenção. Leva em consideração o lugar onde o sujeito ativo do crime está fisicamente. Ex. russo trafica mulheres alemãs na África do Sul, e está em Copacabana tomando um chopp.
e) Princípio da representação, da bandeira, do pavilhão, da subsidiariedade ou da substituição - aplica-se a lei do Estado em que está registrada a embarcação ou aeronave privada, ou cuja bandeira ostente, quando o delito ocorre no estrangeiro e lá não é julgado.
No Brasil, como regra, foi adotado o princípio da territorialidade (art 5º) – aplica-se a lei brasileira aos crimes praticados no território nacional. Território nacional é um conceito jurídico, e significa todo lugar em que a lei penal brasileira tem soberania. Ele é composto pelos seguintes aspectos:
· País, no limite de suas fronteiras geográficas;
· Mar territorial, de 12 milhas marítimas e a respectiva plataforma continental (solo e subsolo) – L. 8617/93;
· Espaço aéreo correspondente aos dois primeiros itens até a atmosfera. Isso porque o Brasil adotou a teoria da soberania absoluta do país subjacente;
· Território flutuante, por extensão ou por equiparação. Ele é composto de 2 aspectos:
· Embarcações e aeronaves públicas brasileiras ou a serviço público, onde estiverem.
· Embarcações e aeronaves privadas ou mercantes brasileiras que estiverem em alto mar ou espaço aéreo correspondente. 
Em relação às embarcações e aeronaves estrangeiras, basta fazer o raciocínio acima ao contrário. Assim, será aplicável a lei brasileira no caso de embarcações e aeronaves estrangeiras, privadas ou mercantes, que estiverem dentro do território nacional (art 5º §2º).
Porém, a territorialidade admite 2 exceções, razão pela qual é chamada especificamente de territorialidade temperada ou relativa: 
a) Extraterritorialidade (art 7º) – a aplicação da lei penal brasileira aos crimes praticados fora do território nacional, no estrangeiro. Ex. Rogério é roubado na Disney.
b) Intraterritorialidade (art 5º) – a aplicação da lei penal estrangeira aos crimes praticados dentro do território nacional. São as imunidades diplomáticas e consulares assumidas por convenção internacional. Ex. Embaixador da França estupra mulher na praia de Ipanema.
Observação: a LCP adotou o princípio da territorialidade absoluta ou pura, porque o Brasil julga apenas contravenções penais cometidas no território nacional.
EXTRATERRITORIALIDADE - admite 2 espécies: incondicionada e condicionada.
INCONDICIONADA (art 7º I) – neste caso, basta o cometimento de crime no estrangeiro para a aplicação da lei penal brasileira, sem nenhuma outra condição. Portanto, pouco importa se agente foi julgado no estrangeiro, condenado ou absolvido, perdoado, cumprido pena etc.; sempre será julgado conforme a lei brasileira (se condenado, aplica-se art 8º). São suas hipóteses:
· Crime contra a vida ou liberdade do Presidente da República - ex. alemão tenta matar Lula no Japão.
· Crime contra a fé pública e o patrimônio público brasileiros - ex.: suíço falsifica Real na Argentina.
· Crime contra a Administração Pública brasileira por quem estiver a seu serviço - ex. Laura, a serviço do Brasil, subtrai bem do consulado brasileiro na Inglaterra.
· Genocídio praticado por brasileiro ou pessoa domiciliada no Brasil - aqui, deve ser ressalvada a jurisdição do Tribunal Penal Internacional, a qual o Brasil aderiu (art 5º §4º CF).
A doutrina aponta uma 5ª hipótese, prevista na Lei da Tortura (L.9455/97) – tortura será julgada segundo esta lei quando a vítima for brasileira ou o agente estiver em local sob a jurisdição brasileira.
CONDICIONADA (art 7º II) – neste caso, não basta o cometimento de crime no estrangeiro, porque, para a aplicação da lei brasileira, são necessários 4 requisitos cumulativos:
· Entrar o agente no território nacional brasileiro.
· Dupla tipicidade – o fato deve ser crime no Brasil e no estrangeiro. Não pode ser contravenção penal em nenhum deles, pois a LCP adota o princípio da territorialidade absoluta ou pura (art 2º LCP).
· Agente não pode ter sido absolvido ou perdoado no estrangeiro, ou de qualquer outro modo ter sida extinta a sua punibilidade, conforme a lei do país em que for mais benéfica (duas situações clássicas: cumprimento da pena e prescrição).
· Lei brasileira deve admitir a extradição para o crime em questão. As regras da extradição passiva estão no Estatuto do Estrangeiro (L. 6815/80). Veda-se a extradição quando (art 77):
a) Fato for punido como contravenção no Brasil ou no Estado requerente;
b) Lei brasileira cominar ao crime pena privativa igual ou inferior a 1 ano;
c) Brasil tiver competência para julgar delito imputado, de acordo com suas leis;
d) Extraditando estiver sendo processado no Brasil;
e) For caso de crime político ou de opinião;
f) Se extraditando tiver de responder perante tribunal ou juízo de exceção, no país requerente;
g) Se extraditando for brasileiro, salvo o naturalizado, que pode ser extraditado em caso de crime comum praticadoantes da naturalização ou de comprovado encolvimento em tráfico ilícito de drogas e afins.
h) Se Estado requerente prever pena de morte para o crime imputado, não será efetuada a extradição se não assumir o formal compromisso de comutar em PPL a pena corporal ou de morte, ressalvados os casos em que a lei brasileira permite sua aplicação.
Presentes estes 4 requisitos, o Brasil julgará:
I – Crime praticado por brasileiro no estrangeiro;
II – Crime praticado por estrangeiro contra brasileiro - nesta caso, surgem mais 2 requisitos: a) não ter sido pedida a sua extradição ou, se pedida, ter sido negada; b) requisição do Ministro da Justiça;
III – Crimes internacionais, isto é, aqueles que por tratado o Brasil obrigou-se a reprimir (Estatuto de Roma, para o TPI);
IV – Crime praticado a bordo de aeronave ou embarcação privada brasileira localizada no estrangeiro, desde que lá não seja julgado.
VEDAÇÃO DO BIS IN IDEM OU NON BIS IN IDEM - diante da proibição do cumprimento de pena mais de 1 vez pelo mesmo fato, mas da possibilidade do julgamento da mesma pessoa por mais de 1 país por este mesmo fato, o art 8º estabelece um sistema de compensação de penas. Será aplicável o art 8º em casos de extraterritorialidade incondicionada ou, na condicionada, quando a pena imposta no estrangeiro não for totalmente cumprida. Esse sistema trabalha com 2 mecanismos:
I. Diversidade quantitativa de penas – as penas são da mesma espécie, porém em quantidades diferentes. A consequência é a compensação aritmética das penas – procede-se à detração penal. Ex. japonês cumpriu 4 anos de prisão na Alemanha por tentativa de homicídio do Presidente Lula e agora é condenado a 5 anos de prisão aqui no Brasil pelo mesmo fato. 5 – 4 = 1 ano a ser cumprido aqui.
II. Diversidade qualitativa de penas – as penas são de espécies diferentes. A consequência é a atenuação da pena no Brasil. Ex. alemão paga multa diante de condenação pela falsificação de Real no Paraguai, crime que no Brasil é apenado com prisão. Portanto, sua pena no Brasil será atenuada.
INTRATERRITORIALIDADE - é a aplicação da lei estrangeira aos crimes praticados no território brasileiro. São as imunidades diplomáticas e consulares. A natureza jurídica das imunidades consiste em causa de exclusão da jurisdição da lei brasileira. A imunidade diplomática é ampla e alcança qualquer crime em qualquer lugar. Pergunta: agente pode renunciar à sua imunidade? Não, pois ela pertence ao seu Estado. Só o Estado pode renunciar à imunidade. Ressalte-se que a imunidade não impede a polícia local de investigar o crime, preparando a informação por meio da qual se presume que a justiça do Estado de origem processará o agente (Francisco Rezek).
De acordo com a Convenção de Viena sobre as imunidades diplomáticas, de 1961, aprovada pelo D. 56435/65, as seguintes pessoas têm imunidade diplomática (art 29):
a) Diplomata até o 3º secretário
b) Membros do quadro técnico e administrativo da missão diplomática, desde que recrutados no país de origem e não sejam brasileiros
c) Familiares das pessoas acima que com elas convivam ou dependam economicamente e não sejam brasileiros nem tenham residência fixa no Brasil. Os empregados particulares não têm imunidade.
Também têm imunidade o Chefe de Estado e o Ministro das Relações Exteriores (e seus familiares e funcionários que os acompanhem em missão no exterior), bem como membros da ONU em missão oficial (art 105 Carta ONU). As imunidades diplomáticas incluem o dever de testemunhar, de modo que as pessoas referidas não têm esse dever (art 31 D. 56435). A embaixada estrangeira no Brasil é território brasileiro. Entretanto, ela tem inviolabilidade, isto é, para lá ingressar, é necessário autorização do diplomata, exceto em caso de socorro, desastre ou flagrante delito. 
De acordo com a Convenção de Viena sobre as imunidades consulares, de 1963, a imunidade é restrita, isto é, alcança apenas os crimes praticados no exercício das funções consulares. Ex. falsificação de um visto; agente consular no atendimento ao público que pratica conduta racista preconceituosa. Portanto, neste caso, somente têm imunidade consular o cônsul-geral, cônsul, vice-cônsul, e agente consular. Cônsul honorário e adido consular não têm imunidade. O diplomata cuida de assuntos de interesse do Estado, representando-o junto à soberania local, para o trato bilateral dos assuntos de Estado, e o cônsul cuida de interesses privados, tais como os de seus compatriotas que ali se encontrem, e os de elementos locais que tencionem visitar seu país, ou de lá importar ou exportar bens. Por essa razão, justifica-se o trato diferenciado entre eles.
DISPOSIÇÕES SOBRE APLICAÇÃO DA LEI PENAL
EFICÁCIA DA SENTENÇA PENAL ESTRANGEIRA (art 9º) - em regra, por uma questão de soberania nacional, não é possível executar no Brasil uma sentença penal estrangeira. Caso o Brasil queira punir o agente, irá julgá-lo segundo as suas leis penais e processuais penais. O art 9º estabelece 2 hipóteses nas quais uma sentença estrangeira poderá ser executada aqui, as quais só são possíveis quando a aplicação da lei brasileira produzir na espécie as mesmas consequências. Entretanto, para que isso ocorra, é necessário homologar a sentença estrangeira. O tribunal que homologa a sentença estrangeira (bem como concede o exequatur às rogatórias passivas) é o Superior Tribunal de Justiça (art 105, I, i CF - antes da EC 45 era o STF). Juízo de delibação é aquele exercido pelo STJ na homologação de sentença estrangeira, segundo o qual são analisados apenas os aspectos formais desta sentença, isto é, os seus requisitos extrínsecos, de acordo com a ordem pública, bons costumes e lei brasileira (tais como citação válida; ampla defesa; trânsito em julgado da sentença etc.). O STJ não analisa o mérito dessa sentença. São hipóteses de sentença estrangeira que podem ser executadas aqui:
· Sentença que sirva para reparação do dano, restituições e outros efeitos civis - ex. brasileiro atropela e machuca por imprudência pedestre na África do Sul, lá sendo julgado e condenado. A vítima, para ser indenizada, pode executar essa sentença aqui no Brasil. Para tanto, deve homologá-la perante o STJ. Nessa hipótese, a legitimidade para pedir homologação é do próprio interessado.
· Sentença que sirva para cumprimento de medida de segurança - ex. brasileiro louco agride e machuca um argentino em Buenos Aires, lá sendo julgado e lhe é imposta medida de segurança. O brasileiro é extraditado para o Brasil, e para que cumpra sua sanção penal, é necessária a homologação da sentença. Nesse caso, a legitimidade para pedir a homologação cabe ao Procurador Geral da República, havendo tratado de extradição. Caso contrário, será necessária requisição do Ministro da Justiça, que supre a inexistência de tratado.
Alguns efeitos decorrentes da condenação dispensam homologação da sentença. Em especial, os efeitos reflexos penais, tais como reincidência, maus antecedentes, revogação de benefícios etc. Para tanto, basta traduzir e autenticar a sentença estrangeira e juntá-la ao processo penal brasileiro, isto é, dispensa-se homologação.
A partir de 1998, o Brasil passou a ratificar tratados internacionais de transferência de presos. O 1º ocorreu entre Brasil e Canadá, ratificado pelo D. 2547/98. Entretanto, esta transferência é feita através do Ministério das Relações Exteriores, no âmbito do Poder Executivo, e não está entre as hipóteses que demandam homologação do STJ (já que ocorre por via diplomática). Assim, estes tratados abrem mais uma hipótese de execução de sentença estrangeira no Brasil, a qual independe de homologação.
CONTAGEM DO PRAZO (art 10) - em D. Penal, é incluído o dia do começo e excluído o dia do final na contagem do prazo. Ex. pessoa presa às 23h50 terá esses 10 minutos para o dia terminar computados como 1 dia inteiro. O prazo penal é fatal e improrrogável, não importa se termina em domingo ou feriado (sábado é feriado forense). O prazo penal é contado segundo o calendário comum ou gregoriano, pelo qual o dia é o período que vai da 00h00até a 00h00 do dia seguinte. Os meses têm de 28 a 31 dias. Os anos têm 12 meses. O mês, em matéria penal, é contado até a véspera do mesmo dia do mês subsequente, encerrando o prazo às 24 horas (ex. pena de 2 meses, início em 7 de agosto, término em 6 de outubro; início em 31 de dezembro, término em 28 de fevereiro). O ano é contado até o mesmo mês do ano seguinte. No processo penal, a regra é exatamente oposta, ou seja, na contagem do prazo processual penal, exclui-se o dia do início e inclui-se o dia do final na contagem do prazo para a prática do ato processual (art 798 §1º CPP), e este prazo sempre é prorrogado para o primeiro dia útil subsequente caso caia em domingo ou feriado (súmula 310 STF). 
O problema é como diferenciar o prazo penal do processual penal. A regra é: toda vez que um determinado aspecto causar uma consequência direta na extinção da punibilidade do agente, ele será penal e, portanto, incide a regra do art 10. Ex. tempo de cadeia; do período de prova do livramento condicional, do sursis, e do sursis processual; de prescrição. Apesar de serem atos processuais, o prazo de 6 meses para representação ou oferecimento de queixa-crime é prazo penal, porque a falta de seu exercício neste semestre acarreta a decadência, que é causa de extinção de punibilidade. Portanto, aplica-se regra do art 10. O mesmo aplica-se à perempção, nas hipóteses do art 60 CPP. A única exceção, na qual o semestre decadencial da queixa constitui prazo processual, verifica-se na queixa-crime em ação penal de iniciativa privada subsidiária da pública, havendo inércia do MP (art 5º LIX CF). Isso porque caso o particular não apresente a queixa no semestre decadencial, a punibilidade do agente continuará intacta e o MP ainda poderá oferecer denúncia. 
A diferença na contagem do prazo penal e processual penal serve para beneficiar o agente. Isso porque o D. Penal envolve a liberdade da pessoa, de modo que quanto menor o prazo penal, melhor para o agente. De outro lado, no processo penal, quanto mais distante o fato fica do seu autor, melhor para ele, pois isso acarreta o esquecimento das testemunhas, o seu sumiço, a prescrição etc. É com base nessa noção que parte considerável da doutrina considera prazo penal qualquer um relacionado à prisão cautelar do agente (ex. prazo para término do IP havendo prisão cautelar), por envolver cerceamento da liberdade. Mas há posição doutrinária em sentido oposto, considerando tais prazos como processuais.
FRAÇÕES DE PENA - o juiz, na fixação das penas privativa de liberdade e restritiva de direitos, deve desprezar as frações de dia, ou seja, as horas e os minutos. Da mesma forma, na fixação da multa, deve desprezar as frações no cálculo do nº de dias-multa e os centavos (art 11).
PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE (art 12) – todas as regras de caráter geral previstas no CP devem ser aplicadas a todos os crimes, inclusive aos previstos em leis especiais, salvo se estas dispuserem de forma contrária, quando então prevalecerão (ex. de regra geral: conceito de funcionário público, de tentativa). Alguns autores sugerem que no conflito aparente de normas, o princípio da especialidade seria o único que tem previsão legal expressa (art 12), e todos os demais seriam construções doutrinárias.
OUTRAS IMUNIDADES
IMUNIDADE PARLAMENTAR (art 53 CF, com redação EC 35/01) - a imunidade tem início com a diplomação, e perdura até o término do mandato. O parlamentar não pode renunciá-la, porque a imunidade não lhe pertence, e sim ao Poder Legislativo. Somente em estado de sítio, pelo voto de 2/3 dos membros do CN, a imunidade poderá ser suspensa, e apenas para atos praticados fora do recinto do CN, que estiverem atrapalhando o fiel cumprimento da medida de exceção (art 58 §8º CF). O parlamentar que se afasta do seu cargo não perde o mandato, mas perde a imunidade (art 102 RISTF). A imunidade parlamentar pode ser dividida em 2 espécies:
a) Imunidade penal, absoluta ou material (inviolabilidade) – o parlamentar não responde por crimes de palavras ou opiniões. Ex. crimes contra a honra, apologia ao crime. São aqueles crimes nos quais há abuso da manifestação do pensamento. Esta imunidade alcança a responsabilidade penal e civil. A sua natureza jurídica consiste em causa de exclusão do crime, conforme orientação majoritária (Hungria - mas há bastante discussão quanto a isso). Por esta razão, eventuais co-agentes e partícipes não responderão igualmente, porque não há como aderir a algo que não é crime. Portanto, a súmula 245 STF aplica-se à imunidade processual (a imunidade parlamentar não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa). Ex. deputado federal e prefeito municipal praticam juntos peculato - prefeito não goza de imunidade processual. Régis Prado ressalta que deve haver relação entre a conduta do parlamentar e o exercício do mandato. Para FMB, é preciso ligação entre a conduta e a condição de congressista (esta seria a posição que prevalece no STF). Para Mirabete, não é necessário qualquer ligação.
b) Imunidade processual, formal ou relativa – abrange 2 aspectos: a prisão e a ação penal.
· Prisão – o parlamentar não pode ser preso cautelarmente (seja penal, civil ou administrativamente), exceto em flagrante delito por crime inafiançável. Neste caso, os autos serão encaminhados à sua Casa Legislativa em 24 horas, que pelo voto nominal e ostensivo da maioria, decidirá sobre a manutenção ou não desta prisão. Com a condenação final, cessa a imunidade, e logicamente o parlamentar poderá ser preso.
· Ação penal – após a EC 35/01, não é necessário licença prévia para processar parlamentar. Portanto, é possível investigar parlamentar sem licença, assim como receber denúncia ou queixa no STF sem nenhuma consulta ao CN. Neste caso, depois do recebimento da peça acusatória, o STF cientificará a Casa do acusado, que mediante requerimento feito por partido que nela tenha representatividade, poderá sustar o andamento da ação penal pela maioria de votos, no prazo de 45 dias do pedido. Durante a sustação da ação penal, fica suspenso o prazo prescricional. A ação penal ficará sustada até o término do mandato do parlamentar. A imunidade parlamentar referente à ação penal atinge exclusivamente as infrações penais praticadas após a diplomação. Portanto, em relação aos crimes praticados antes da diplomação, não há imunidade alguma, apenas prerrogativa de foro.
Os deputados estaduais também têm imunidade penal e processual, perante suas respectivas Casas Legislativas (art 27 §1º CF). Apesar da imunidade, a súmula 3 STF dita que a imunidade concedida a deputados estaduais é restrita à Justiça do Estado. Os vereadores somente têm imunidade penal (art 29 VIII CF), isto é, não respondem, são invioláveis por crimes de palavras e opiniões praticados no exercício do mandato no âmbito ou circunscrição do seu Município.
IMUNIDADE DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA - o Presidente só pode ser preso após sentença condenatória (art 86 §3º CF). Em relação ao processo, seja por crime comum ou de responsabilidade, sempre será exigida a licença prévia de 2/3 da Câmara dos Deputados para se processar o Presidente (art 86 CF). 
Em relação ao crime comum, o Presidente tem a denominada imunidade relativa ou temporária. Chama-se relativa porque apenas pode ser processado por infrações penais praticadas no exercício das funções presidenciais. Ex. durante uma reunião de Ministério, o Presidente agride e lesiona um Ministro. Chama-se temporária porque terminado o mandato, Presidente poderá ser processado por todas as infrações penais cuja persecução estava proibida pela imunidade. Ex. crime eleitoral anterior à posse. A CF é omissa quanto à prescrição. O STF entende que deve ser aplicada por analogia a suspensão da prescrição prevista na imunidade parlamentar (art 53 §5º CF). Alguns autores, entre os quais FMB, entendem que isto não é possível, pois caracteriza analogia in malam partem, o que é proibido em D. Penal. No caso de crime comum, uma vez concedida a licença pela Câmara dos Deputados, cabe ao STF processar a ação penal. No entanto, STF poderejeitar a denúncia ou queixa, em decorrência da separação dos Poderes. Em caso de recebimento, o Presidente ficará suspenso de suas funções pelo prazo máximo de 180 dias, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo.
Em relação aos crimes de responsabilidade, previstos na CF e na L.1079/50, o Presidente fica sujeito a sanções de caráter político-administrativo (não é crime propriamente): a) perda do mandato; b) impossibilidade de exercer cargo público por 8 anos. Nesse caso, surge a chamada ação penal popular, porque pode ser proposta por qualquer cidadão, oferecida à Câmara dos Deputados. Se admitida a acusação pela Câmara, o Presidente será processado perante o Senado Federal numa composição mista, porque a Presidência do órgão colegiado cabe ao Ministro Presidente do STF (Senado é obrigado a receber a denúncia).
O Governador de Estado da Federação e do DF tem a mesma imunidade processual que o Presidente, com a única diferença que a licença prévia é concedida pela Assembléia Legislativa. No entanto, em relação à prisão, o Governador não tem imunidade, podendo ser preso cautelarmente. Também não tem imunidade quanto aos atos estranhos ao exercício de suas funções. Todas as Constituições Estaduais que trouxeram a previsão desta imunidade à prisão em relação ao Governador foram declaradas inconstitucionais neste aspecto. O Prefeito não tem nenhuma imunidade; ele apenas tem prerrogativa de foro, em decorrência de sua função, devendo ser julgado no TJ.
IMUNIDADE JUDICIÁRIA (art 133 CF) – neste caso, o advogado tem imunidade para bem exercer sua profissão, regulamentada no art 7º EAOB e interpretada pelo STF nos seguintes limites: a imunidade abrange apenas injúria e difamação (e não desacato), e somente quando estiver em juízo, valendo entre as partes e seus procuradores. Juiz não é parte, bem como promotor atuando como custus legis. Por fim, a imunidade somente abrange aspectos envolvendo a discussão da causa.
CLASSIFICAÇÃO DOS CRIMES
Algumas classificações são feitas sistematicamente, segundo alguns critérios. Outras são avulsas.
RELAÇÃO ENTRE CONDUTA E RESULTADO
· Crime material ou causal – é aquele que exige para a sua consumação um resultado naturalístico ou material. Ex. homicídio, que exige a morte.
· Crime formal – é aquele cujo tipo penal faz referência a um resultado material que, entretanto, não é necessário para a sua caracterização. Portanto, o exercício da conduta descrita no tipo já acarreta a consumação do crime, razão pela qual também é chamado de crime de consumação antecipada ou crime de resultado cortado. Ex. extorsão, que prescinde da obtenção da vantagem indevida para sua consumação (súmula 96 STJ).
· Crime de mera conduta ou de simples atividade – neste caso, o tipo penal não faz nenhuma referência a um resultado material. Ex. violação de domicílio; tráfico ilícito de drogas; porte ilegal de arma de fogo. Ressalte-se que todo crime possui um resultado jurídico, que é a lesão ou ameaça a bem jurídico.
O critério principal que define a admissibilidade ou não da tentativa é se o crime é unissubsistente ou plurissubsistente. O crime unissubsistente é aquele cuja conduta não pode ser fracionada em mais de 1 ato, isto é, o 1º e único ato de execução coincide com a consumação (ex. injúria verbal). O crime plurissubsistente é aquele cuja conduta pode ser fracionada em mais de um ato, de modo que admite tentativa (ex. injúria por escrito). Assim, crime formal e de mera conduta, quando plurissubsistente, admitem tentativa.
· Crime preterdoloso, preterintencional ou de resultado duplo – é aquele em que o agente quer um resultado menos grave, mas acarreta por culpa um resultado mais grave. Ele obedece à fórmula dolo no antecedente e culpa no conseqüente, ou dolo na conduta e culpa no resultado. Ressalte-se que pelo resultado que agrava especialmente a pena só responde o agente que o houver causado ao menos culposamente (art 19). Trata-se de espécie de crime qualificado pelo resultado.
INTENSIDADE DO MAL VISADO PELO AGENTE
· Crime de dano ou lesão – é aquele que exige efetiva destruição ou lesão do bem protegido, se consuma com sua perda real. Ex. homicídio, que exige morte.
· Crime de perigo – é aquele que exige apenas a probabilidade de dano para sua consumação. Esse tipo de infração é previsto para punir agente antes que venha a causar efetivamente o dano ao bem juridicamente protegido. Por isso, em geral têm natureza subsidiária, sendo absorvidos pelo crime de dano quanto este vier a ocorrer. Os crimes de perigo podem ser classificados da seguinte maneira:
· Perigo concreto – a situação de perigo deve ser demonstrada no caso concreto. Ex. crime de direção sem habilitação (art 309 CTB). A súmula 720 STF consagra esse entendimento.
· Perigo abstrato, presumido ou fictício – a situação de perigo é presumida por lei, não é preciso demonstração. Ex. tráfico ilícito de drogas; porte ilegal de arma de fogo. Alguns autores sustentam que a previsão de crime de perigo abstrato violaria o princípio da ofensividade. O problema é que no atual estágio da sociedade alguns bens jurídicos só podem ser protegidos por meio deste tipo de crime (ex. meio ambiente).
· Crime de perigo individual – a situação de perigo atinge pessoa determinada ou nº determinado de pessoas. Ex. crime de maus tratos (art 136).
· Crime de perigo comum ou coletivo – a situação de perigo atinge um nº indeterminado de pessoas. Ex. incêndio, inundação, arts 250-259.
TEMPO DA CONSUMAÇÃO
· Crime instantâneo ou de estado – é aquele que se consuma em um momento certo, determinado, sem continuidade no tempo. Ex. homicídio.
· Crime permanente – é aquele em que a conduta do agente se alonga no tempo por sua vontade. Portanto, está em constante estado de consumação. Ex. sequestro. Neste crime, o agente está em constante situação de flagrância, porque o bem jurídico é continuamente agredido. Não confundir com crime instantâneo de efeito permanente, que é aquele que tem momento certo de consumação, porém os seus efeitos se arrastam no tempo independentemente da vontade do agente. Ex. homicídio. Inicia-se a contagem da prescrição no crime permanente quando cessa a permanência (art 111). 
A diferença entre os crimes necessariamente permanentes e os eventualmente permanentes é que nos 1ºs a manutenção da conduta é requisito para sua caracterização (ex. sequestro), enquanto nos 2ºs há um crime instantâneo, mas o agente prolonga a conduta no tempo por sua vontade (ex. furto de energia elétrica). 
· Crime a prazo – é aquele que exige um decurso de tempo para sua caracterização. Ex. lesão corporal grave pela incapacidade das ocupações habituais por mais de 30 dias. É preciso aguardar os 30 dias para que haja a caracterização, ainda que o médico tenha certeza de que a lesão irá gerar a incapacidade por mais de 30 dias.
SUJEITO - essa classificação pode ser utilizada tanto em relação ao agente (sujeito ativo) quanto em relação à vítima (sujeito passivo) do crime.
· Crime comum ou geral – é aquele que pode ser praticado ou sofrido por qualquer pessoa. Ex. lesão corporal.
· Crime próprio ou especial – é aquele que exige uma qualidade especial do sujeito ativo ou passivo. Ex. peculato (exige que sujeito ativo seja funcionário público). Tais crimes admitem co-autoria e participação.
· Crime de mão própria, de atuação pessoal, de conduta infungível – é aquele que deve ser praticado pessoalmente pela pessoa designada no tipo. Ex. falso testemunho, prevaricação, deserção. Pacificamente entende-se que estes crimes admitem participação, mas não admitem co-autoria e autoria mediata.
· Crime bipróprio – é aquele que exige qualidade especial do sujeito ativo e do passivo. Ex. maus tratos, tortura-castigo.
· Crime vago – é aquele em que o sujeito passivo é destituído de personalidade jurídica, isto é, a vítima é indeterminada. Ex. tráfico de drogas, embriaguez ao volante, porte ilegal de arma de fogo, nos quais o sujeito passivo é a coletividade.
· Crime de dupla subjetividade passiva – é aquele que tem 2 vítimas. Ex. violação de correspondência, cujosujeito passivo é o remetente e a destinatário ao mesmo tempo; aborto sem consentimento da gestante, cuja vítima é a gestante e o feto. Observação - o morto e o animal nunca podem ser vítimas; eles são objetos materiais do crime. 
Em relação à quantidade numérica de sujeitos ativos, os crimes são divididos em 2 espécies: 
a) Unissubjetivos, monossujetivos, unilaterais ou de concurso eventual – são aqueles que podem ser praticados por uma só pessoa, mas eventualmente por 2 ou mais pessoas. Essa é a regra, a maior parte dos crimes. Ex. homicídio, roubo etc. O crime eventualmente coletivo é aquele onde a pluralidade de agentes acarreta o agravamento da pena. Ex. furto qualificado pelo concurso de pessoas; roubo aumentado pela mesma razão; 
b) Plurissubjetivo, plurilateral ou de concurso necessário – são aqueles que exigem pluralidade de agentes para sua caracterização. Ex. associação para o tráfico (2 ou mais); rixa (3 ou mais); quadrilha ou bando (4 ou mais). Estes crimes podem ser:
· bilaterais ou de encontro de condutas – exige a presença de 2 agentes. Ex. bigamia; 
· coletivos ou de convergência - exigem a atuação de 3 ou mais agentes. Estes podem ser de condutas contrapostas (agentes atuam um contra o outro. Ex. rixa); ou de condutas paralelas (agentes auxiliam-se mutuamente. Ex. quadrilha).
CRIMES PUTATIVOS - são os crimes que ocorrem apenas na mente do agente, na sua imaginação, razão pela qual a consumação jamais pode ser atingida, de modo que fato é atípico.
· Crime putativo por obra do agente provocador, delito de ensaio ou de experiência, flagrante preparado ou provocado (súmula 145 STF) – neste caso, o agente é colocado numa situação criminosa que jamais será consumada, razão pela qual este flagrante é nulo, por atipicidade do fato.
· Crime putativo por erro de tipo – agente pensa que está praticando um crime com todas as suas elementares, mas falta alguma. Ex. furtar o próprio chapéu.
· Crime putativo por erro de proibição – agente pensa que a lei incrimina sua conduta, que na verdade não é proibida. Ex. tarado quer praticar um crime sexual hediondo e mantém relação sexual consentida com sua própria filha maior.
· Crime impossível, quase-crime, tentativa inidônea ou inadequada – incluída nesta classificação por alguns autores (art 17 CP). Neste caso, a consumação não ocorre por 2 razões: a) impropriedade absoluta do objeto. Ex. praticar abortamento em gravidez psicológica; b) ineficácia absoluta do meio. Ex. provocar abortamento tomando suco de mamão.
OUTRAS CLASSIFICAÇÕES – levam em consideração vários critérios.
1. Crime principal – é aquele que independe de outro na sua caracterização.
2. Crime acessório, parasitário ou de fusão – é aquele que depende de outro para sua caracterização. Ex. receptação, lavagem de dinheiro, favorecimento real. O crime que condiciona a caracterização do acessório chama-se crime pressuposto ou antecedente. Ex. os crimes do art 1º L. 9613/98 (lavagem de $): tráfico de drogas; terrorismo e seu financiamento; tráfico ou contrabando de armas, munições ou material destinado a sua produção; extorsão mediante sequestro; crimes contra a Administração Pública ou contra o sistema financeiro nacional; crime praticado por organização criminosa; e crime praticado por particular contra Administração Pública estrangeira. Ressalte-se que a extinção da punibilidade do crime antecedente não se estende ao acessório (art 108).
3. Crime transeunte – é aquele que não deixa vestígios.
4. Crime não transeunte ou de fato permanente – é aquele que deixa vestígios e, portanto, exige a realização do exame de corpo de delito na sua demonstração.
5. Crime de empreendimento ou de atentado – é aquele em que consumação e tentativa são punidas da mesma maneira, razão pela qual a doutrina entende que não admitem tentativa. Ex. art 309 CE – votar ou tentar votar mais de uma vez.
6. Crime comissivo ou de ação – cometido por uma conduta positiva. Ex. homicídio.
7. Crime omissivo – cometido mediante uma conduta negativa. Divide-se em:
· Omissivo próprio ou puro – omissão é descrita no próprio tipo penal. Ex. omissão de socorro (art 135), abandono intelectual (art 246);
· Omissivo impróprio, espúrio ou comissivo por omissão – tipo penal descreve uma ação, mas a inércia do agente, que descumpre o dever jurídico específico de agir, permite a eclosão do resultado naturalístico. Ex. salva-vidas que assiste ao afogamento de alguém. Nestes delitos, é inadmissível a tentativa.
· De conduta mista – tipo penal descreve uma fase inicial ativa e uma fase final passiva. Ex. apropriação de coisa achada (art 169, p.u. II).
8. Crime simples – se enquadra num único tipo penal. Ex. furto, ameaça.
9. Crime complexo – formado pela fusão de 2 ou mais tipos penais. Ex. roubo (furto mais ameaça ou violência); latrocínio (roubo mais homicídio). O chamado crime complexo em sentido amplo é o formado por um tipo penal com acréscimo de elementos que por si só não constituem crime. Ex. denunciação caluniosa (art 339).
10. Crime monoofensivo – atinge apenas 1 bem jurídico. Ex. homicídio.
XI. Crime pluriofensivo – atinge mais de 1 bem jurídico. Ex. latrocínio.
12. Crime de forma livre – admite qualquer meio de execução. Ex. furto.
13. Crime de forma vinculada – só pode ser executado através dos meios especificados no tipo penal. Ex. curandeirismo (art 284).
14. Crime independente – não está ligado a outra infração.
15. Crimes conexos – são os interligados. A conexão pode ser:
· Material, penal ou objetiva – por sua vez, pode ser:
· Teleológica ou ideológica – crime é praticado para assegurar execução de outro.
· Conseqüencial, causal ou lógica – delito é cometido para assegurar a ocultação (de fato), impunidade (do agente) ou vantagem (de crime) de outro.
· Ocasional – delito é cometido em virtude da oportunidade surgida pela prática de outro. Ex. ladrão que resolve estuprar a vítima.
· Processual – se subdivide em:
· Intersubjetiva por simultaneidade, subjetivo-objetiva ou meramente ocasional – 2 ou mais infrações são praticadas ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas. Aqui não há concurso, mas mera coincidência.
· Intersubjetiva por concurso ou subjetiva concursal – 2 ou mais infrações são cometidas por várias pessoas em concurso, ao mesmo tempo ou em tempo e lugar diversos.
· Intersubjetiva por reciprocidade – 2 ou mais infrações são praticadas por várias pessoas, umas contra as outras.
A continência pode ocorrer em 2 hipóteses: a) quando o mesmo delito é praticado por mais de uma pessoa em concurso; b) quando o agente, mediante uma conduta, pratica 2 ou mais infrações (concurso formal). O efeito da continência e da conexão é a junção dos processos para julgamento simultâneo (art 79 CPP).
16. Crime a distância – conduta e resultado se desenvolvem em 2 ou mais países.
17. Crime plurilocal – conduta e resultado se desenvolvem em 2 ou mais comarcas, dentro do mesmo país. Ex. vítima ferida em Araras, morte em Bauru.
18. Crime em trânsito – parcela da conduta se realiza em um país, sem lesar ou pôr em perigo bem jurídico de seus cidadãos.
19. Crime gratuito – cometido sem motivo.
20. Crime de ímpeto – sem premeditação, em razão de explosão emocional repentina.
21. Crime progressivo – para ser cometido, necessariamente viola outro tipo penal menos grave. Ex. no homicídio, agente pratica lesão corporal anterior. Crime mais grave absorve o menos grave. O crime absorvido é chamado delito de ação de passagem.
22. Crime de opinião ou de palavra – cometido pelo abuso da exteriorização do pensamento. Pode ser escrito ou verbal. Ex. desacato.
23. Crime político – agride a segurança interna ou externa do Estado ou é dirigida contra a personalidade deste. Ao menos parte deles é prevista na L.7170/83.
24. Crime multitudinário – cometido por multidão em tumulto. Ex. linchar estuprador.
25. Crime internacional ou mundial – é o que o Brasil se obrigou a reprimir por tratado ou convenção. Ex. tráfico de drogas, de mulheres.
26. Crime remetido – sua definição se reporta a outros delitos que passam a integrá-lo. Ex. art 304 – usode documento falso.
27. Crime habitual – composto pela reiteração de atos que revelam estilo de vida do agente. O ato isolado é fato atípico. Ex. rufianismo (art 230).
28. Crime profissional – é o crime habitual quando praticado com intuito de lucro.
29. Crime funcional ou delicta in officio – tipo penal exige que autor seja funcionário público. Pode ser:
· Próprio – a condição de funcionário público é essencial à tipicidade do fato (ex. prevaricação). Se não for funcionário, conduta é atípica.
· Impróprio – se agente não for funcionário público, a tipicidade do fato persiste em relação a outro tipo penal (ex. peculato e apropriação indébita).
30. Crime de responsabilidade – não é crime, mas sim infração político-administrativa, cuja prática acarreta a imposição de sanção política (perda do cargo e inabilitação para exercitar função pública). Boa parte deles é prevista na L. 1079/50.
31. Crime inominado – é o que ofende regra ética ou cultural consagrada pelo D. Penal, embora não definida em nenhum tipo penal. Não é admitido em nosso sistema.
32. Crime militar – aquele assim definido no CPM. Pode ser: a) próprio (definido apenas no CPM); b) impróprio (previsto também na legislação penal comum).
33. Crime subsidiário – só é aplicado se fato não constitui crime mais grave. Ex. crime de dano é subsidiário em relação ao crime de incêndio.
34. Crime falho – é a tentativa perfeita ou acabada. Agente, de acordo com sua concepção, esgota os recursos que entendia necessários para a consumação do crime.
35. Crime exaurido – é aquele no qual se verifica um esgotamento total da figura típica.
36. Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado – prevê uma multiplicidade de comportamentos nucleares, sendo que a prática de vários deles não importa multiplicidade de crimes. Ex. art 33 L.11343. A doutrina diferencia:
· Tipo misto alternativo – agente responde por um só crime tanto se perfizer uma das condutas previstas quanto se praticar mais de uma. Ex. art 122.
· Tipo misto cumulativo – para que haja consumação, é obrigatória a multiplicidade de condutas por parte do agente; se praticar só uma, haverá tentativa. Ex. art 243.
37. Crime aberrante – congloba 3 hipóteses que levam à aberratio. São elas:
· Aberratio ictus, desvio no golpe ou aberração no ataque – agente atinge pessoa diversa da que pretendia atingir, por acidente ou erro no uso dos meios de execução. Responde como se tivesse praticado o crime contra quem desejava atingir. Se atingir ambas as pessoas, aplica-se concurso formal (art 73).
· Aberratio criminis ou delicti – agente pretende obter um resultado, mas de sua conduta advém resultado diverso, por acidente ou erro na execução. Se fato é previsto como crime culposo, agente responde por culpa; se ambos os resultados ocorrem, aplica-se a regra do concurso formal (art 74).
· Aberratio causae – resultado pretendido pelo agente advém de causa não cogitada por ele. Ex. espera matar com tiros, joga pessoa no rio, que morre afogada.
CONCURSO DE PESSOAS
A teoria geral do concurso de pessoas do art 29 aplica-se por excelência aos crimes unissubjetivos, isto é, que podem ser praticados por uma só pessoa (homicídio, roubo, estupro, peculato etc.), mas eventualmente podem ser praticados por 2 ou mais pessoas, razão pela qual também são chamados de crimes de concurso eventual. Nos crimes plurissubjetivos, a pluralidade de agentes é requisito essencial para a sua caracterização, razão pela qual também são chamados de crimes de concurso necessário (ex. quadrilha). Por isso, nos crimes plurissubjetivos, todos os agentes são considerados autores, independentemente de sua função, não se aplicando a eles o art 29.
São necessários 4 requisitos na caracterização do concurso de pessoas (PRIL):
· Pluralidade de condutas e de agentes culpáveis
· Relevância causal das condutas
· Identidade de infração penal para todos os agentes
· Liame subjetivo ou psicológico entre os agentes.
PLURALIDADE DE CONDUTAS E DE AGENTES CULPÁVEIS - há 2 formas de concurso de pessoas: a co-autoria e a participação. 3 teorias buscam definir quem é quem no concurso de pessoas, isso é quem é o autor e quem é o partícipe:
· Teoria extensiva ou material objetiva – não faz distinção entre autor e partícipe, porque todo aquele que concorre para o resultado é considerado autor, independentemente de sua função. É o resultado que comanda a postura do agente no concurso de pessoas (por isso material objetiva). Portanto, estende a figura de autor a todos os agentes.
· Teoria restritiva ou formal objetiva – neste caso, o autor é aquele que exerce elementares do tipo penal, inclusive o verbo. De outro lado, o partícipe é aquele que concorre de qualquer modo para o crime sem exercer elementares do tipo. Nesta teoria, a autoria mediata não faz parte do concurso de pessoas, tratando-se de um mero complemento (na verdade, havendo autoria mediata, não há concurso).
· Teoria do domínio do fato ou final objetiva – neste caso, o autor é aquele que detém o controle do fato criminoso, seja para lhe dar início, seja para lhe dar continuidade ou término. De outro lado, o partícipe é aquele que concorre de qualquer modo para o crime sem possuir este domínio. Nesta teoria, ao lado do executor, o mandante, o autor intelectual e o autor mediato são considerados autores.
Atualmente, no Brasil, a doutrina e a jurisprudência se dividem entre a teoria restritiva e a teoria do domínio.
AUTORIA MEDIATA - ocorre quando alguém utiliza um ser humano sem discernimento na execução da infração penal. Por isso, na autoria mediata, não há concurso de pessoas entre o autor mediato e o imediato, porque apenas o autor mediato responde pelo crime, razão pela qual também é chamada de pseudo-concurso de pessoas ou concurso aparente de pessoas. Por esta razão, não há autoria mediata em crimes culposos ou de mão própria. A falta de discernimento abrange diversas situações: 
a) falta de culpabilidade - ex. coação moral irresistível e utilização de inimputável para colocar veneno na comida da vítima; 
b) falta de dolo ou culpa - ex. induzir caminhoneiro em erro de tipo essencial e invencível, para que transporte uma tonelada de farinha de trigo, quando na verdade é cocaína. Neste caso, responderá pelo crime aquele que provoca o erro de 3º (art 20, §2º); 
c) falta de conduta livre - ex. pessoa hipnotizada ou coagida fisicamente de forma irresistível. 
PARTICIPAÇÃO – é o concurso que se verifica quando alguém concorre de qualquer modo para o crime sem exercer elementares do tipo (para teoria restritiva) ou então sem possuir o domínio do fato (para teoria do domínio do fato). A participação é sempre acessória, isto é, somente acarreta responsabilidade se o crime chega ao menos a ser iniciado (art 31). Há 4 teorias acerca da acessoriedade da participação:
a) Teoria da acessoriedade mínima – basta que ocorra um fato típico e já será admitida a participação. Não é adotada, porque acarreta o contra-senso de o executor ser absolvido e o partícipe condenado.
b) Teoria da acessoriedade limitada – é necessária a prática de fato típico e antijurídico para que se admita participação. Esta teoria deve ser adotada por aqueles que entendem que autoria mediata é uma forma de participação, tal qual Nelson Hungria.
c) Teoria da acessoriedade máxima – é necessária a prática de fato típico, antijurídico e culpável para que se admita a participação. Esta teoria deve ser adotada por aqueles que entendem que a autoria mediata não é uma forma de participação. O art 29 caput indica a necessidade de culpabilidade na participação, de modo que o CP teria adotado esta teoria (embora FMB destaque no livro que o CP não adotou nenhuma das teorias).
d) Teoria da hiperacessoriedade – é necessário prática de fato típico, antijurídico, culpável e punível, com todas as consequências agravantes e atenuantes para que ocorra a participação. Expressamente o CP a refutou nos arts 181-183, que cuidam das escusas absolutórias. Por isso, não é preciso que fato seja punível para que partícipe responda pelo crime.
Existem 2 formasde participação:
· Participação moral – aquela que ocorre por induzimento ou por instigação. Induzir significa criar idéia que não existia na mente do agente. Instigar significa reforçar idéia preexistente na mente do agente.
· Participação material – aquela que ocorre por meio do auxílio. O auxílio pode ser físico (entrega veneno) ou intelectual (ensina a fazer veneno).
O cúmplice é o partícipe material, aquele que presta auxílio. Entretanto, cúmplice e cumplicidade são termos abandonados pela lei penal. Na forma do induzimento, admite-se a participação antes mesmo do iter criminis, cuja primeira etapa é a cogitação, porque, neste caso, o agente executor sequer está pensando em praticar crime. Porém, nunca será possível a participação depois da consumação. O que poderá haver é participação em novo crime autônomo. Ex. executor mata a vítima, e agora o partícipe, para ocultar o cadáver, lhe empresta a pá.
A participação em cadeia é a participação da participação. Ex. A induz B, que instiga C, que auxilia D a matar M. A participação sucessiva é aquela em que o mesmo agente é induzido, instigado ou auxiliado por pessoas diferentes, sem que nenhuma saiba da outra. Ex. A induz J a matar M; no dia seguinte, B instiga J a matar M, e no fim da tarde, C empresta arma a J para que mate M, sendo que A, B e C não sabem uns dos outros. Nos 2 casos acima, a conseqüência é que todos respondem criminalmente.
RELEVÂNCIA CAUSAL DAS CONDUTAS – no concurso de pessoas, para que o agente seja responsabilizado criminalmente, a sua conduta deve ter alguma relevância no contexto causal. Isso porque condutas inócuas afastam a responsabilidade. Para se saber quando determinada conduta é ou não relevante, deve ser utilizado o processo de eliminação hipotética de Thyrén - eliminando-se mentalmente esta conduta, se o crime acontecer de outro modo, ela era relevante. Ex. Joaquim está decidido a matar Irene. Manoel, sabendo do seu propósito, lhe empresta uma faca, pois não gosta de Irene. Joaquim mata Irene mediante estrangulamento. Portanto, Manoel não responde criminalmente, pois sua conduta é inócua no contexto causal. Porém, se Joaquim não estivesse totalmente decidido a matar a vítima, ainda que não utilizasse a faca emprestada, Manoel responderia criminalmente a título de instigação (empréstimo da arma encoraja o executor). Ademais, se Joaquim utilizar a faca, haverá auxílio de Manoel.
Não é possível a co-autoria nem autoria mediata nos crimes de mão própria, pois agente não pode delegar a outrem a execução do delito; só ele pode realizar, pessoalmente, a conduta prevista no tipo. Porém, FMB admite a participação nestes delitos. Ex. falso testemunho, prevaricação, deserção.
PARTICIPAÇÃO DE MENOR IMPORTÂNCIA (art 29 §1º) – pode ocorrer de, apesar de relevante no contexto causal a conduta do agente, esta relevância ser mínima, ínfima, dando lugar então à participação de menor importância ou de somenos. A sua natureza jurídica consiste em causa de diminuição da pena, na proporção de 1/6 a 1/3. Somente o caso concreto irá revelar quando a participação é ou não de somenos. Ex. entregar o mapa do local e ganhar R$ 100,00 do executor. No caso concreto, se este mapa puder ser encontrado em qualquer livraria ou biblioteca, ou na internet, participação é de somenos. Entretanto, se for o mapa do cofre do Banco Central de Fortaleza, não é de somenos. 
CONCURSO DE PESSOAS EM CRIMES OMISSIVOS - no Brasil, ficou estabelecida a seguinte situação: para os crimes omissivos próprios ou puros, a orientação majoritária admite o concurso de pessoas apenas na forma da participação. Isso porque o dever de agir genérico é pessoal e infracionável, e todo aquele que direta e pessoalmente puder fazer o que a lei manda e se omitir será autor de um crime omissivo próprio autônomo (ou seja, não há concurso na forma de co-autoria), não havendo união de esforços entre os agentes (omissão não é fracionável). Ex. agente convence seu amigo a não pagar pensão para os filhos. Para os crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão, admite-se as 2 modalidades de concurso de pessoas, visto que tais delitos são materiais, e a omissão por si só não realiza por inteiro os elementos do tipo. Notadamente, porque neles o tipo penal violado é um tipo proibitivo.
Na verdade, o descrito acima é a posição de FMB. Mas há outras posições. Juarez Tavares não admite qualquer espécie de concurso de pessoas nos crimes omissivos. Nilo Batista não admite a co-autoria nos crimes omissivos, dado que o dever de atuar a que está adstrito o autor do delito omissivo é indecomponível; a falta de ação priva de sentido o pressuposto fundamental da co-autoria, que é a divisão de trabalho (ele diz que a teoria do domínio funcional do fato não se aplica aos crimes omissivos). Cezar Bittencourt e Rogério Greco entendem que é possível a co-autoria e a participação nos crimes omissivos. No caso da co-autoria, basta o dever de agir e o vínculo psicológico entre os agentes.
IDENTIDADE DE INFRAÇÃO PENAL PARA TODOS OS AGENTES – o CP adotou a teoria monista (teoria monística, igualitária ou unitária) para o concurso de pessoas, segundo a qual todos os agentes respondem pelo mesmo crime, com a mesma pena cominada em abstrato. Ex. 200 pessoas vão roubar um banco; independentemente das suas funções e das suas qualidades pessoais, todas responderão no art 157 com pena abstrata de reclusão de 4 a 10 anos e multa. Sempre que esta teoria não for respeitada, não há que se falar em concurso de pessoas. Segundo a teoria dualista ou dualística, haverá um crime para os autores e outro para os partícipes. De acordo com a teoria pluralista ou pluralística, haverá tantos crimes quanto o nº de agentes houver. A lei penal por diversas vezes rompe com a teoria monista, e nessas situações logicamente não há concurso de pessoas. Algumas das principais exceções à teoria monista são: 
a) Cooperação dolosamente distinta, desvio subjetivo de conduta ou participação em crime menos grave (art 29 §2º) – neste caso, o agente quis praticar crime menos grave que o efetivamente praticado. Portanto, responderá pelo crime menos grave que quis praticar. Se o resultado mais grave lhe era previsível (no sentido culposo), sua pena será aumentada até a metade. Tal dispositivo se aplica tanto ao partícipe quanto ao co-autor (embora haja posição contrária). Ex. João e José combinam um furto de uma residência deserta; João fica na porta vigiando, enquanto José ingressa na residência. Entretanto, encontra-se com morador inesperado. José mata a vítima, subtrai os bens e lá fora os divide com João. Este último responde apenas por furto qualificado, e José por latrocínio. 
Régis Prado, com vistas aos §§ do art 29, defende que o CP adota a teoria monista de forma temperada ou matizada. Para FMB, tal hipótese não representa exceção nem suavização da teoria monista, pois no caso não se trata de previsão de crimes diversos para os agentes, mas sim ausência de liame subjetivo entre eles.
b) Aborto praticado por 3º com consentimento da gestante - ela responde pelo art 124, enquanto o 3º responde pelo art 126.
c) Corrupção - o particular que promete vantagem indevida responde por corrupção ativa, e o funcionário público que a aceita responde por corrupção passiva.
d) Contrabando e descaminho - o executor responde no art 334, enquanto que o funcionário público que o facilita responde no art 318.
e) Tráfico ilícito de drogas - o traficante responde pelo art 33 caput, enquanto que o colaborador informante responde pelo art 37.
LIAME SUBJETIVO ENTRE OS AGENTES – é o vínculo que deve haver entre os agentes no concurso de pessoas. Nos crimes dolosos, este vínculo é subjetivo (agentes devem atuar com vontade homogênea, visando à realização do mesmo tipo penal – princípio da convergência), enquanto que nos crimes culposos, é normativo. Entretanto, não é necessário o ajuste prévio para a caracterização do concurso de pessoas, basta que pelo menos 1 dos agentes faça adesão à vontade do outro. Ex. doméstica, para se vingar da patroa, sabendo de um

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