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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO FACULDADE DE DIREITO PEDRO PAULO RIBAS HÜMMEL CAPÍTULOS DA SENTENÇA E EFEITOS DO RECURSO DE APELAÇÃO – COMPREENSÃO (JUSTIFICATIVA) DA REDAÇÃO DOS INCISOS DO ARTIGO 520 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL SÃO PAULO PEDRO PAULO RIBAS HÜMMEL CAPÍTULOS DA SENTENÇA E EFEITOS DO RECURSO DE APELAÇÃO – COMPREENSÃO (JUSTIFICATIVA) DA REDAÇÃO DOS INCISOS DO ARTIGO 520 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Trabalho de Monografia Jurídica apresentado ao Curso de Graduação, como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Direito, na área de Direito Processual Civil sob orientação do Professor-Orientador Frederico da Costa Carvalho Neto. SÃO PAULO/SP OUTUBRO/2013 DEDICATÓRIA à minha família pelo amor, apoio, carinho, entusiasmo, força e zelo incondicionais; aos meus amigos pelos momentos prazerosos; aos meus chefes e colegas profissionais, pelos inúmeros ensinamentos. AGRADECIMENTOS Agradeço aos meus professores de Graduação, pela dedicação às aulas ministradas. Agradeço, especialmente, ao Professor e Orientador Frederico da Costa Carvalho Neto, responsável pela realização deste trabalho. Agradeço, também, aos meus colegas de classe, que tornaram esses anos tão agradáveis. Agradeço à minha família, especialmente aos meus pais e irmãos pelo amor, apoio, carinho, força, zelo e, principalmente, o entusiasmo compartilhado a cada nova conquista. Agradeço, ainda, aos meus amigos, que embora não soubessem, iluminaram os meus pensamentos. EPÍGRAFE “e se disseres que ajo como louca, eu te respondo que só sou louca na razão de um louco” (Sófocles, Antígona) RESUMO O artigo 520 do Código de Processo Civil estatui que, em regra, os recursos de apelação serão recebidos nos efeitos devolutivo e suspensivo. Todavia, a segunda parte do mencionado artigo legal dispõe que em alguns casos os recursos de apelação serão recebidos apenas no efeito devolutivo. A literalidade do artigo 520 do Código de Processo Civil afirma a preocupação do legislador com a segurança jurídica em detrimento da celeridade processual, o que, de outro lado, demonstra a fragilidade – no ver desse autor – das decisões proferidas em primeira instância. Entretanto, não basta apenas se verificar em quais casos (qual o direito material controvertido?) o legislador preferiu assegurar a celeridade processual em detrimento da segurança jurídica (ou seria justamente para justificá-la, sob pena de perecimento do direito?), mas qual a correlação do direito materialmente tutelado e a espécie de sentença em que é proferido. Este estudo, assim, é, eminentemente, doutrinário. Palavras-chaves: (i) teoria geral da sentença (ii) capítulos da sentença; (iii) teoria geral dos recursos; (iv) efeitos dos recursos; (v) recurso de apelação. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8 2 TEORIA GERAL DA SENTENÇA ................................................................................. 9 2.1 CLASSIFICAÇÃO DA SENTENÇA QUANTO AOS EFEITOS ................................... 11 2.1.1 SENTENÇA DEFINITIVA E SENTENÇA TERMINATIVA ................................. 12 2.1.2 SENTENÇA INCIDENTAL ................................................................................ 12 2.1.3 SENTENÇA PROVISIONAL OU CAUTELAR ................................................... 12 2.1.4 SENTENÇA DE PRECEITO ............................................................................. 13 2.1.5 SENTENÇA CONTUMACIAL ........................................................................... 13 2.1.6 SENTENÇA CONDICIONAL ............................................................................ 13 2.1.7 SENTENÇA COMPLEMENTÁRIA E SENTENÇA COMPLEMENTADA ........... 14 2.1.8 SENTENÇA ABSOLUTÓRIA ............................................................................ 14 2.1.9 SENTENÇA IMPUGNADA, RECORRIDA, RECORRÍVEL, IRRECORRÍVEL E REFORMADA .............................................................................................................. 14 2.1.10 SENTENÇA CONTENCIOSA E SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA ............... 15 2.1.11 SENTENÇA NULA, ANULATÓRIA E DE NULIDADE ................................... 15 2.1.12 SENTENÇA RESCIDENDA .......................................................................... 16 2.1.13 SENTENÇA ATRIBUTIVA DE DIREITOS ..................................................... 16 2.1.14 SENTENÇA LÍQUIDA, ILÍQUIDA, LIQUIDADA E LIQUIDANDA ................... 16 2.1.15 SENTENÇA PROCEDENTE OU DE RECEBIMENTO, SENTENÇA IMPROCEDENTE OU DE REJEIÇÃO ......................................................................... 17 2.1.16 PRINCIPAIS EFEITOS DA SENTENÇA ....................................................... 17 2.2 CLASSIFICAÇÃO TERNÁRIA OU QUINÁRIA DAS AÇÕES ..................................... 17 2.3 SENTENÇA DECLARATÓRIA ................................................................................. 18 2.3.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA DECLARATÓRIA .............................................. 18 2.3.2 ESPÉCIES DE SENTENÇA DECLARATÓRIA ................................................. 19 2.4 SENTENÇA CONSTITUTIVA ................................................................................... 20 2.4.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA CONSTITUTIVA ................................................ 20 2.4.2 EFEITOS EX NUNC DA SENTENÇA CONSTITUTIVA .................................... 21 2.4.3 A SENTENÇA CONSTITUTIVA E A SUA “EXECUÇÃO” .................................. 21 2.4.4 ESPÉCIES DE SENTENÇAS CONSTITUTIVAS .............................................. 21 2.5 SENTENÇA CONDENATÓRIA ................................................................................ 22 2.5.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA ............................................. 22 2.5.2 CLÁUSULA DA RESTITUTIO IN INTEGRUM .................................................. 22 2.6 SENTENÇA EXECUTIVA ......................................................................................... 23 2.6.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA EXECUTIVA ...................................................... 23 2.6.2 EXECUÇÃO NO INTERESSE DA SATISFAÇÃO DO CRÉDITO ...................... 23 2.7 SENTENÇA MANDAMENTAL .................................................................................. 24 2.7.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA MANDAMENTAL ............................................... 24 2.7.2 PENA PELO DESCUMPRIMENTO DO MANDAMENTO JUDICIAL ................. 24 2.8 SENTENÇA CAUTELAR .......................................................................................... 25 2.8.1 CONTEÚDO E CARACTERÍSTICAS DO PROVIMENTO CAUTELAR ............. 25 2.8.2 PRESSUPOSTOS DA TUTELA CAUTELAR .................................................... 25 2.8.3 ÂMBITO DO PROVIMENTO CAUTELAR ......................................................... 26 3 TEORIA DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA ............................................................... 28 3.1 ESTRUTURA DA SENTEÇA .................................................................................... 28 3.2 TEORIA DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA ............................................................. 29 4 TEORIA GERAL DOS RECURSOS E DO RECURSO DE APELAÇÃO...................... 32 4.1 CONCEITO DE RECURSO ...................................................................................... 32 4.2 PRINCÍPIOS RECURSAIS .......................................................................................33 4.2.1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO...................................................................... 33 4.2.2 TAXATIVIDADE ................................................................................................ 34 4.2.3 SINGULARIDADE ............................................................................................ 35 4.2.4 FUNGIBILIDADE .............................................................................................. 35 4.2.5 DIALETICIDADE .............................................................................................. 36 4.2.6 VOLUNTARIEDADE ......................................................................................... 36 4.2.7 PRINCÍPIO DA IRRECORRIBILIDADE EM SEPARADO DAS INTERLOCUTÓRIAS ................................................................................................... 37 4.2.8 PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE ..................................................... 37 4.2.9 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEIUS .............................. 38 5 RECURSO DE APELAÇÃO ........................................................................................ 40 5.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 40 5.2 EFEITOS .................................................................................................................. 40 5.2.1 DEVOLUTIVO .................................................................................................. 40 5.2.2 SUSPENSIVO .................................................................................................. 41 5.2.3 COMPREENSÃO (JUSTIFICATIVA) DA REDAÇÃO DOS INCISOS DO ART. 520 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL .................................................................... 42 6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 45 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 46 8 1 INTRODUÇÃO Desde o ingresso na graduação, senão antes, sempre nos preocupamos com a solução de conflitos, qualificados por uma pretensão resistida, o que descobrimos, das palavras de Carnelluti, denominar-se lide. Ao longo dos anos, descobrimos que a lide é objeto da jurisdição, função jurídica do Estado, que “se exerce através do processo, [...] instrumento por meio do qual os órgãos jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que lhe é apresentado em busca de solução.” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 31) Aprendemos, ainda, que o processo em primeira instância se encerra, via de regra, através de uma sentença, quer seja ela terminativa (julgamento sem análise do mérito) ou definitiva (julgamento com análise do mérito). Sabemos, também, que dificilmente uma sentença contém o julgamento de apenas uma pretensão, daí porque se falar em capítulos da sentença. Diante da existência de diversas pretensões em um mesmo processo, mostra-se ainda mais crível que qualquer um dos litigantes (vencido no todo ou em parte) tenha interesse de se insurgir contra a sentença e, assim, evitar – com a sua reforma –, ou ao menos postergar, que produza efeitos. Ante os inúmeros reflexos que a referida insurgência poderia apresentar, nossos legisladores se preocuparam, especificamente, com a efetividade do processo, de modo a estabelecer, em alguns casos – seis se analisado, apenas, o Código de Processo Civil – a impossibilidade de se postergar a ineficácia da decisão, desde que cumpridos determinados os requisitos legais, para garantia, indubitavelmente, da segurança jurídica. Entretanto, a nosso ver, a solução adotada por nossos legisladores deixa a desejar, eis que não houve profunda análise das espécies de sentenças e de seus capítulos para, assim, justificar a imediata eficácia dessas sentenças. Assim, teceremos breves considerações sobre o instituto da sentença, das teorias sobre seus capítulos; a teoria geral dos recursos e do recurso de apelação, adequado, por excelência, para impugnar a sentença, para, em seguida, buscar a compreensão (justificativa) da redação dos incisos do artigo 520 do Código de Processo Civil. 9 2 TEORIA GERAL DA SENTENÇA Dissemos anteriormente (vide nº 1) que a sentença é o ato pelo qual o juiz, em primeira instância, põe fim ao processo, com ou sem julgamento do mérito. Tal posição, contudo, não é a única extraída da doutrina, de onde anotamos, ainda, que (i) a sentença pode ser considera como o próprio ato da tutela jurídica, isto é, a própria declaração da vontade de lei ou, em última análise, como decisão estatal; e (ii) mero provimento judicial (ato do juiz). Nesse sentido, tendo em vista que já nos antecipamos, não restam dúvidas quanto ao conceito de sentença adotado por esta. Vejamos, então, a justificativa. Não reputamos correto conceituar a sentença como mera decisão estatal, eis que, a princípio, a sentença não é o único meio pelo qual o Estado decide conflitos, porque, se observarmos a atuação do Estado na esfera administrativa, também veremos que há, aqui, solução de conflitos, notadamente segunda a sua própria conveniência e oportunidade. Entretanto, ressaltamos, desde logo, que, via de regra, a decisão administrativa não possuí a definitividade da sentença, nem a coercibilidade dos atos judiciais, onde o juiz pode determinar, inclusive, o emprego de força policial. Continuamente a essas linhas, fica claro que a sentença não pode ser considerada como mero ato do juiz, pois, se assim o fizermos, colocaremos todos os atos do juiz em um mesmo plano horizontal de eficácia, o que é incorreto. Exatamente por isso, o Código de Processo Civil anota que os atos do Juiz consistem-se em (i) sentenças; (ii) decisões interlocutórias; e (iii) despachos. Os despachos, consoante dispõe o § 3º do art. 162, são “todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito à lei não estabelece outra forma”, de modo que se prestam a confirmar o princípio do impulso oficial, “pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a relação processual, mover o procedimento de fase em fase, até exaurir a função jurisdicional.” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 75) 10 Diante da simplicidade dos despachos, Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá1 apontam que: “Com o incremento da atividade do juiz, é necessário que surjam meios de racionalização dos serviços. O referido Carlos Aurélio Mota de Souza (op. cit., pp. 79 e 80) entende que a ordem jurídica suporta a delegação de certos atos de administração, como assinatura de papéis, requisição rotineira de informações, recepção e juntada de documentos em autos, recolhimento de custas, e que tal prática já é correntia em muitos Juízos, objeto mesmo de normas, portarias e provimentos. Nesse aspecto, salutar foi o § 4º do art. 162 do CPC, acrescentado pela Lei nº 8.952/94, favorecendo a dinamização da tramitação do processo; contudo, embora represente um grande progresso, ainda foi muito tímido, pois poderia a própria lei passar para o serventuário algumas tarefas administrativas, como se vê no seguinte ato normativo interno:” De acordo com Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2007, p. 432), apesar de irrecorríveis por serem desprovidos de conteúdo decisório, consoante dispõe o art. 5042 do Código de Processo Civil, se os despachos causarem dano à parte ou ao interessado, o ato judicial não será, propriamente, despacho, e sim decisão interlocutória, podendo, inclusive, ser impugnado por meio do recurso competente. É o que se depreende da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: “Enquanto os despachos sãopronunciamentos meramente ordinatórios, que visam impulsionar o andamento do processo, sem solucionar a controvérsia, a decisão interlocutória, por sua vez, ao contrário dos despachos, possui conteúdo decisório e causa prejuízo às partes”. (STJ, 4ª Turma, Recurso Especial n. 195.848-MG, Ministro Relator Sálvio de Figueiredo, julgado em 20.11.2001, não conheceram do recurso, v.u., DJU em 18.02.2002). Nessa toada, à luz do § 2º do art. 162 do Código de Processo Civil, “Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente.”. A decisão interlocutória é, portanto, um ato judicial proferido no curso do processo que tem por finalidade resolver questões incidentes, não sendo hábil, porém, de pôr fim a ele, decidindo tanto sobre questões processuais quanto sobre os requerimentos das partes. Mais uma vez foram feitas inúmeras críticas ao conceito legal da decisão interlocutória. Cândido Rangel Dinamarco (2004, p. 46) observa que, apesar da definição contida no § 2º do artigo 162 do Código de Processo Civil, que qualifica como decisões 1 SLAIBI FILHO, Nagib, Sentença cível: (fundamentos e técnica), Nagib Slaibi Filho, Romar Navarro de Sá – 8ª ed., rev., atual, e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 226 2 Art. 504. Dos despachos não cabe recurso. (Redação dada pela Lei nº 11.276, de 2006) http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11276.htm#art1 11 interlocutórias os atos por meio dos quais o juiz decide alguma questão incidente ao processo, nem todo pronunciamento sobre questões incidentes é interlocutório, já que existem aqueles que efetivamente põem fim ao processo (sentença). Dessa maneira, apesar da definição legal de decisão interlocutória, a mesma só se configuraria quando a solução da questão incidente não levasse ao encerramento do feito (THEODORO JÚNIOR, 2002, pp. 207-208). Sobre o ponto, Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery fazem a seguinte observação: “Como, para classificar o pronunciamento judicial, o CPC não levou em conta apenas seu conteúdo, mas também sua finalidade, se o ato contiver matéria do CPC 267 ou 269, mas não extinguiu o processo, que continua, não pode ser sentença, mas sim decisão interlocutória.” (2007, p. 432) Como se vê, tais doutrinadores tiveram o cuidado de ressaltar que se deve levar em consideração a finalidade do ato (ou critério topológico); vale dizer, mesmo que o ato contenha alguma das matérias dos artigos 267 ou 269, que é a atual definição de sentença, se não extinguir o processo tratar-se-á de uma decisão interlocutória. Por fim, para não alongar a presente análise, cumpre observar que as decisões interlocutórias, quando causarem danos às partes ou interessado, serão recorríveis mediante o agravo, seja retido, seja de instrumento, sob pena de preclusão (temporal). Voltando-nos à sentença, que, conforme dispõe o § 1º do art. 162 do Código de Processo Civil, “é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei.”. Em razão da simplória dicção do referido parágrafo, muito se discutiu sobre a confusão entre sentença e decisão interlocutória, conforme fizemos, brevemente, acima, motivo pelo qual devemos adotar o conceito de sentença segundo o critério topográfico adotado pela disposição primitiva do Código de Processo Civil, onde “Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo [art. 269] ou não [art. 267] o mérito da causa.”. 2.1 CLASSIFICAÇÃO DA SENTENÇA QUANTO AOS EFEITOS 12 Diante da complexidade de uma sentença, inúmeros doutrinadores, dentre eles Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá3, apontam os efeitos que uma sentença é capaz e gerar, de onde anotamos alguns. 2.1.1 SENTENÇA DEFINITIVA E SENTENÇA TERMINATIVA O § 1º do art. 162 do Código de Processo Civil é quem traz a primeira, e mais importante, divisão dos efeitos da sentença. Como se lê do mencionado artigo, a sentença “implica alguma das situações previstas pelos arts. 267 e 269”, ou, em outras palavras, julga extinto o processo, sem ou com, respectivamente, análise do mérito. Assim, será sentença definitiva aquela que julgar o processo extinto, com resolução do mérito, enquanto será sentença terminativa aquela que julgar o processo extinto, sem resolução do mérito. A principal justificativa para a distinção entre sentença definitiva e terminativa se presta a confirmar os efeitos da coisa julgada, porque apenas a sentença definitiva possuirá os efeitos materiais da coisa julgada, enquanto a sentença terminativa possuirá, tão somente, os efeitos formais da coisa julgada. 2.1.2 SENTENÇA INCIDENTAL Ainda que num primeiro momento o termo “sentença incidental” pareça uma contradição – eis que sentença é o ato, por excelência, que põe fim ao processo –, o termo designa o ato processual que põe fim à ação incidental autônoma, como, por exemplos, os embargos à execução. 2.1.3 SENTENÇA PROVISIONAL OU CAUTELAR 3 Op. cit. 13 Veremos adiante, a classificação da sentença segundo a própria ação em que é proferida. Nessas linhas, dá-se o nome de sentença provisional ou cautelar ao ato que põe fim ao processo cautelar, preparatório ou incidental, salvo quando o ato for proferido juntamente à demanda principal, em que se constatará, então, capítulo provisional ou cautelar da sentença. 2.1.4 SENTENÇA DE PRECEITO Nas palavras Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá, “Sentença de preceito é a que impõe comando ou ordem, como se vê, por exemplo, no art. 287 da lei processual comum.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 244) 2.1.5 SENTENÇA CONTUMACIAL Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá anotam que “contumaz é a parte que não comparece no processo, quando necessário, em qualquer fase – assim, será também sentença contumacial aquela decorrente da aplicação do disposto no art. 13, I do CPC, quando o juiz decreta a extinção do feito, pela contumácia autoral.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 244) 2.1.6 SENTENÇA CONDICIONAL Com base no instituto da condição4, quando as partes, por exclusiva vontade suas, subordina o efeito do negócio jurídico a um futuro e incerto, seria sentença condicional aquela que decidisse a causa com base nesse preceito. Entretanto, o parágrafo único do art. 460 do Código de Processo Civil, expressamente, veda a existência desse efeito da sentença, porque “A sentença deve ser certa, ainda quando decida relação jurídica condicional.”. 4 Código Civil - Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. 14 2.1.7 SENTENÇA COMPLEMENTÁRIA E SENTENÇA COMPLEMENTADA Sentença complementária é aquela que complementa (corrige) a sentença anterior. Via de regra, tal reforma se dá de ofício ou atendendo embargos de declaração, consoante disciplina o art. 4635 do Código de Processo Civil. Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá anotam, mais uma vez, que “Se a sentença complementar for muito extensa, recomenda-se que refaça a sentença complementada, publicando-se esta com a nota de sentença complementar.”. (SLAIBI FILHO, 2013, pp. 244-245) 2.1.8 SENTENÇA ABSOLUTÓRIA Tratava-se da sentença, no regime anterior (arts. 201 a 205 do Código de Processo Civil de 1939), equivalente à atual sentença terminativa, com a diferença de que tal sentença ficava pendente de requerimento do réu. Aqui, importante frisar que a sentença absolutória cível nada se comunica com a sentença absolutória penal, prevista pelo art. 386 do Código de Processo Penal, que é aquela que isenta o réu da acusação que lhe foi imposta. 2.1.9 SENTENÇA IMPUGNADA, RECORRIDA, RECORRÍVEL, IRRECORRÍVEL E REFORMADA Sentença impugnada ou recorrida é aquela que desafioua interposição de recurso. 5 Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 2005) I - para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou Ihe retificar erros de cálculo; II - por meio de embargos de declaração. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11232.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11232.htm#art1 15 Por sua vez, sentença recorrível ou irrecorrível é aquela que desafia, ou não, a interposição de recurso, sendo o seu cabimento instituído pela lege referenda, isto é, pela vontade do legislador. Sentença reformada, por fim, obviamente, é aquela que fora objeto de recurso e, ao final, teve o seu mérito reformado pela instância superior, ou revisora. 2.1.10 SENTENÇA CONTENCIOSA E SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA Sentença contenciosa decorre daquelas demandas em que houve, efetivamente, oposição da parte contrária. Sentença homologatória, de outro lado, é aquela em que o Estado referenda os atos praticados pelas partes, podendo, inclusive, surgir de manifestação posterior à instituição da jurisdição contenciosa. 2.1.11 SENTENÇA NULA, ANULATÓRIA E DE NULIDADE Conforme se depreende dos arts. 166 e 1716 do Código Civil, o objeto da sentença anulatória será a nulidade ou a anulação de um, ou vários, ato jurídico. Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá (SLAIBI FILHO, 2013, p. 247) apontam, também, que em se tratando de ação proposta à invalidação de um ato judicial, sua sentença será sempre anulatória e não declarativa de nulidade, porque os atos estatais possuem presunção de legitimidade ou veracidade. Nessas linhas, destacam a súmula 473 do Superior Tribunal de Justiça: “A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, 6 Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: (...) Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: (...) 16 por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.” De outro lado, diferentemente da sentença anulatória ou de nulidade, voltadas à análise de mérito do ato guerreado, a sentença nula decore de error in procedendo, eis que inobservada determinada prescrição procedimental. 2.1.12 SENTENÇA RESCIDENDA Sentença rescindenda é aquele que conhece o mérito do objeto da ação rescisória (art. 485 do Código de Processo Civil), ação autônoma de impugnação, em que se busca, além da rescisão (ou extinção dos efeitos) da sentença anterior, novo julgamento para a causa. Anotamos, ainda, que no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, regulados pela Lei Federal nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, não cabe ação rescisória, por expressa disposição legal7, da qual não teceremos maiores comentários, eis que não é o objeto da presente, embora façamos constar, apenas, que, a nosso ver, o legislador fez mal, muito mal, ao vedar o referido instituto. 2.1.13 SENTENÇA ATRIBUTIVA DE DIREITOS Conforme veremos a seguir, sentença atributiva de direito é outra denominação das sentenças constitutivas positivas. 2.1.14 SENTENÇA LÍQUIDA, ILÍQUIDA, LIQUIDADA E LIQUIDANDA “Sentença líquida é a que determinada, em seu dispositivo, a extensão da prestação (...)”.(SLAIBI FILHO, 2013, p. 247) 7 Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído por esta Lei. 17 Sentença ilíquida, de outro lado, é aquela em que não está determinada a extensão da prestação, necessitando, de posterior liquidação, cujo procedimento é regulado pelos arts. 475-A a 475-H do Código de Processo Civil. Sentença liquidanda é aquela objeto da liquidação e a sentença liquidada é aquela que já foi objeto do procedimento de liquidação e, portanto, dar-se-á início à fase da sua execução, regulada pelos arts. 475-I a 475-R do Código de Processo Civil. 2.1.15 SENTENÇA PROCEDENTE OU DE RECEBIMENTO, SENTENÇA IMPROCEDENTE OU DE REJEIÇÃO Sentença procedente ou de recebimento é aquela que acolhe os pedidos do autor, no todo ou em parte (quando será parcialmente procedente), enquanto sentença improcedente ou de rejeição é aquela que rejeita os pleitos autorais. 2.1.16 PRINCIPAIS EFEITOS DA SENTENÇA Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá, aduzem que “A doutrina denomina efeitos principais da sentença à sua eficácia na transformação da realidade – declarar, constituir, condenar etc.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 248) Contudo, cumpre observar que a os ditos efeitos principais da sentença, na verdade, são os próprios efeitos da pretensão da demanda. 2.2 CLASSIFICAÇÃO TERNÁRIA OU QUINÁRIA DAS AÇÕES A doutrina majoritária divide as ações em relação ao direito material que elas põem em vigor. Referida posição divide as ações em três classificações: “ações de conhecimento (ou ações cognitivas), em que busca a substituição, pelo órgão judicial, da manifestação da vontade da parte (ações declaratórias, constitutivas e condenatórias); ações executivas (ou de execução forçada ou executórias) em que se pretende a substituição da 18 atividade da parte pelo órgão judicial (dar, fazer ou não fazer) e ações cautelares (decorrentes de pretensões às medidas acautelatórias ou conservadoras, expedidas de se declarar a vontade da lei de forma definitiva).” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 253) Influenciados por Pontes de Miranda, adotaremos a classificação quinaria das ações (declarativas, constitutivas, condenatórias, mandamentais e executivas) para, com isso, verificar cada efeito da sentença e, ao fim, sua correlação com seus capítulos e os efeitos do recurso de apelação. 2.3 SENTENÇA DECLARATÓRIA 2.3.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA DECLARATÓRIA O efeito próprio da sentença declaratória ou declarativa é reconhecer a existência ou a inexistência de uma relação jurídica. A esse título, o art. 4º do Código de Processo Civil diz que “Art. 4º O interesse do autor pode limitar-se à declaração: I - da existência ou da inexistência de relação jurídica; II - da autenticidade ou falsidade de documento. Parágrafo único. É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.”. Nagib Slaibi Filo e Romar Navarro de Sá aduzem que “Na declaratória positiva, o juiz reconhece a existência da relação jurídica, enquanto na declaratória negativa reconhece-se que inexiste o vínculo.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 255) Referidos doutrinadores apontam, ainda, que: “a ação declaratória independe de determinada situação fática, o que ali consta é que não é necessária a violação da pretensão para o interesse à ação declaratória – mas, no mínimo, é necessário que se demonstre a situação fática de incerteza ou de dúvida para que haja o interesse à ação. Basta a incerteza para a ação declaratória. Se houver violação de direito, busca=se seu ressarcimento através da ação condenatória. Na mesma linha de raciocínio, se tenho sentença judicial declarando que o demandado é responsável pelo dano que sofri, não significa, aí que possa executá-lo, eis que falta a condenação no ressarcimento. Se a sentença constitutiva é um plus à declaratória, já a condenatória constitui a obrigação pela qual o dano será ressarcido. 19 A sentença declaratória é lei entre as partes, como esclarecimento de situação, mas não tem força para constituir nova situação jurídica (como as constitutivas) nem constituir obrigação (como as condenatórias), ou autoriza constrição por ato do juízo (as executivas) ou, finalmente, não tem o poder de mandar que se faça algo (como as mandamentais).” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 256) Contudo, a referida dúvida “tem que ser jurídica,isto é, relativa a direito ou às obrigações; e atual, isto é, já existente e não só possível.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 257) Importante anotar, por fim, que as ações declaratórias, além de resolver a dúvida, são úteis à paz social, desenvolvendo as relações econômicas e sociais e prevenindo litígios. 2.3.2 ESPÉCIES DE SENTENÇA DECLARATÓRIA 2.3.2.1 DECLARATÓRIA POSITIVA Como dissemos anteriormente, sentença declaratória positiva é aquela que busca conhecer a existência de uma relação jurídica. Consoante dispõe o art. 333, I8 do Código de Processo Civil, o ônus da prova, nessas ações, é sempre do autor. 2.3.2.2 DECLARATÓRIA NEGATIVA De outro lado, a sentença declaratória negativa é aquela que busca conhecer a inexistência de uma relação jurídica. Diante da impossibilidade de se produzir prova negativa, nessas demandas caberá ao réu provar a o fato que o autor diz não ter existido. 8 Art. 333. O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; 20 Também será sentença declaratória negativa aquela que julgar a demanda improcedente, eis que inexistente o pedido autoral. 2.3.2.3 DECLARATÓRIA INCIDENTAL Nagib Slaibi Filo e Romar Navarro de Sá lecionam que “A ação declaratória incidental é ação acessória, entre as mesmas partes da ação cujo objeto de pedido é declarar a existência ou a inexistência de relação jurídica que, por si só, é questão prejudicial naquela ação principal. [...] Busca o demandante, na declaratória incidental, revestir, com manto da coisa julgada, a decisão sobre a questão prejudicial posta na ação principal.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 267) Em que pese o silêncio do art. 5º9 do Código de Processo Civil acerca do prazo para a formulação da declaratória incidental, há quem sustente que a declaratória incidental deve ser pleiteada pelo autor sempre na primeira oportunidade em que puder falar, ou seja, na própria inicial ou na réplica, conforme disciplina o art. 325 do referido diploma legal, e pelo réu no prazo para responder à ação. Uma vez que a declaratória incidental é acessória e conexa à principal, será julgada pela mesma sentença que julgar a principal, sendo, portanto, recorrível pelo mesmo recurso. 2.4 SENTENÇA CONSTITUTIVA 2.4.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA CONSTITUTIVA Nagib Slaibi Filo e Romar Navarro de Sá pontuam que “O que é essencial, quanto aos efeitos da sentença constitutiva, é a capacidade de produzir um estado jurídico que antes da sentença não existia. [...] 9 Art. 5º Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de cuja existência ou inexistência depender o julgamento da lide, qualquer das partes poderá requerer que o juiz a declare por sentença. Art. 325. Contestando o réu o direito que constitui fundamento do pedido, o autor poderá requerer, no prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira sentença incidente, se da declaração da existência ou da inexistência do direito depender, no todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5o). 21 Enquanto a declaratória simplesmente atesta a existência ou a inexistência de relação jurídica, a sentença constitutiva cria, modifica ou extingue tal relação jurídica. É, assim, a constitutiva, um plus à sentença declaratória, mas é um minus com referência à condenatória, eis que não cria, como esta, uma prestação de dar, fazer ou não fazer.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 275) A sentença constitutiva, portanto, não extingue um direito, transforma a conduta das pessoas em face de um novo regime jurídico. 2.4.2 EFEITOS EX NUNC DA SENTENÇA CONSTITUTIVA Diferentemente da sentença declaratória, a sentença constitutiva possui efeitos ex nunc, pois é a partir da sua prolação, via de regra, que modifica o mundo jurídico. 2.4.3 A SENTENÇA CONSTITUTIVA E A SUA “EXECUÇÃO” A rigor, a sentença constitutiva não necessita de execução, não ao menos no sentido das próprias ações de execução, em caso de inexecução do devedor. Exatamente por isso “a sentença constitutiva, por si só, tem o condão de alterar o mundo jurídico, de transformar a realidade (ao menos a realidade no mundo jurídico), e eventual complementação de atos é simplesmente decorrentes dessa capacidade de transformação. Por exemplo, em sentença que decretou o despejo, a execução do despejo é, praticamente, a natural decorrência da extinção da locação”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 277) 2.4.4 ESPÉCIES DE SENTENÇAS CONSTITUTIVAS Tal qual às sentenças declaratórias, as sentenças constitutivas podem ser positivas, modificativas e constitutivas negativas (ou desconstitutivas). 22 Via de regra, as sentenças modificativas são incorporadas às positivas, ambas se contrapondo às sentenças desconstitutivas, que se prestam à extinguir a relação jurídica. 2.5 SENTENÇA CONDENATÓRIA 2.5.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA “As sentenças condenatórias são todas aquelas que impõem o cumprimento de uma prestação, seja em sentido positivo (dar coisa, fazer), sem em sentido negativo (não fazer).” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 309) Assim, o pressuposto básico da ação condenatória é a existência de dano a ser reparado. Na linha do que dissemos anteriormente, a sentença condenatória abrange a sentença declaratória (da violação do direito) e a constitutiva (ao criar a obrigação através de cujo cumprimento haverá a reparação), ao fim de condenar o réu (em um obrigação típica – dar coisa, fazer ou não fazer –, ainda que ilíquida). “Há, também, na condenatória, o aspecto mandamental (ao determinar que o devedor a cumpra) e o aspecto executivo (com peso inferior ao da declaração), o qual incidira em fase de cumprimento, se não houver, pelo sucumbente, o pagamento espontâneo.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 310) 2.5.2 CLÁUSULA DA RESTITUTIO IN INTEGRUM Tendo em vista o próprio objeto da sentença condenatória, a reparação deve ser completa e total, abrangendo todas as consequências do dano, observando, ainda, eventual concorrência do autor para a sua agravação, consoante dispõem os arts. 186, 927, 944 e 94510 do Código Civil. 10 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 23 De outro lado, cumpre observar que a indenização depende, sempre, de pedido expresso do Autor, eis que é vedado ao juiz condenar o réu em quantia superior do que foi pedido, conforme disciplina o art. 46011 do Código de Processo Civil. 2.6 SENTENÇA EXECUTIVA 2.6.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA EXECUTIVA “Enquanto as ações de conhecimento (ou cognitivas) visam a substituir a manifestação de vontade negada pelo demandado [...], as ações executivas realizam materialmente a transformação da realidade, substituindo a atividade ou a conduta negada pelo demandado.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 343) A doutrina divide o momento em que há a transformação material da realidade sob duas óticas, a primeira no processo sincrético (título executivo judicial), durante a fase de cumprimento da sentença (condenatória), e a segunda no processo de execução forçada (título executivo extrajudicial), em processo autônomo, anotando, ainda, que a grande distinção entre os títulos judiciais e extrajudiciais, quanto à execução, refere-se ao modo pelos quais são atacadas, na maior ou menor extensão das matérias que podem propiciar ao demandado (e a terceiros) excluir-se dos efeitos da execução forçada. 2.6.2 EXECUÇÃO NO INTERESSE DA SATISFAÇÃO DO CRÉDITO Ante a inexistência de conhecimento do mérito nos processos de execução, importante consignar que a atividade executivase faz no interesse da satisfação do crédito, decorrente de expressa previsão legal: Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. 11 Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado. Parágrafo único. A sentença deve ser certa, ainda quando decida relação jurídica condicional. 24 “Art. 612. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal (art. 751, III), realiza-se a execução no interesse do credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens penhorados.” Ainda quanto aos ônus do credor, a inércia do credor não é causa suficiente à extinção do processo. Contudo, deve o credor zelar pela execução menos gravosa ao devedor, sob pena de abusar do seu direito de execução, extrapolando os limites impostos pelo art. 62012 da lei processual. 2.7 SENTENÇA MANDAMENTAL 2.7.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA MANDAMENTAL Como expusemos anteriormente, vide item 2.2, apenas uma pequena parcela da doutrina admite a existência das sentenças mandamentais, “que se se busca o provimento jurisdicional que tenha ‘por fito preponderante que alguma pessoa atenda, imediatamente, ao que o Juízo manda’.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 361) Importante consignar aqui que, diferentemente do que ocorre na sentença executiva, a sentença mandamental não substitui a vontade da parte, mas manda ou impõe a determinada conduta ao réu, notadamente para que faça, ou deixe de fazer. 2.7.2 PENA PELO DESCUMPRIMENTO DO MANDAMENTO JUDICIAL Não apenas na sentença mandamental, mas também na sentença executiva, o Código de Processo Civil criou algumas penalidades ao devedor que não atender ao comando normativo como meio de coerção para, ao final, satisfazer rapidamente o próprio direito material posto em debate. 12 Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se faça pelo modo menos gravoso para o devedor. 25 Importante consignar, também, que o comando pode, inclusive, atingir terceiros, de onde anotamos, ainda, que tanto o devedor como o terceiro atingido podem praticar o crime de desobediência caso não cumpram imediatamente, o disposto na sentença mandamental. 2.8 SENTENÇA CAUTELAR 2.8.1 CONTEÚDO E CARACTERÍSTICAS DO PROVIMENTO CAUTELAR Os provimentos cautelares, por excelência, visam evitar o perecimento (preventividade) do direito em detrimento do tempo exigido para a realização do processo até que se alcance uma decisão definitiva (provisoriedade). Exatamente por isso, conforme veremos a seguir, a sentença que decide o processo cautelar é uma das hipóteses em que o recurso de apelação é, via de regra, recebido apenas no efeito devolutivo. Assim, tendo em vista a delimitação do prazo de vigência do provimento cautelar, diz-se que o processo cautelar tem caráter acessório ao principal, quer seja antes da instauração do próprio processo principal (preparatório), quer seja durante a pendência do processo principal (incidental). No entanto, não podemos esquecer que, independente do caráter acessório em relação ao processo principal, o processo cautelar possui autonomia própria, eis que o pedido e a causa de pedir de ambas as ações não se confundem, ainda que, ao final, por excelência, sejam julgados concomitante. 2.8.2 PRESSUPOSTOS DA TUTELA CAUTELAR 2.8.2.1 IMINÊCIA DE DANO IRREPARÁVEL (URGÊNCIA) O art. 798 do Código de Processo Civil estatui que os procedimentos cautelares (típicos – aqueles arrolados pelo referido diploma – ou atípicos – não previstos pela lei processual –) têm lugar quando se verificar o periculum in mora, ou em outras palavras, 26 “quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao direito da outra lesão grave e de difícil reparação.”. 2.8.2.2 IMINÊCIA DE DANO IRREPARÁVEL (URGÊNCIA) Além da configuração do periculum in mora, deve restar configurado, também, o fumus boni júri, que é a “fumaça do bom direito”, ou melhor, a plausibilidade do direito invocado, ainda que analisada em cognição sumária, eis que é da própria essência das cautelares a sua provisoriedade. 2.8.2.3 PROPORCIONALIDADE ENTRE O DANO INVOCADO E O DANO QUE PODERIA SER CAUSADO COM A CONCESSÃO DA CAUTELAR Em vista à possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação ao autor, deve- se atentar, também, a impossibilidade de se inverter o referido dano ao réu, consoante dispõem os §§ 2º e 7º do art. 27313 do Código de Processo Civil, também aplicável aos procedimentos cautelares, uma vez que os procedimentos têm a mesma natureza acautelatória. 2.8.3 ÂMBITO DO PROVIMENTO CAUTELAR Dispõe o art. 798 do Código de Processo Civil que o juiz poderá “determinar as medidas provisórias que julgar adequadas”. 13 Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. [...] § 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. [...] § 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental do processo ajuizado. 27 Entretanto, Nagib Slaibi Filo e Romar Navarro de Sá (2013, p. 401) anotam que: “Não pode o juiz agir de ofício, concedendo medida cautelar sem requerimento da parte, nem se aplica, em sede cautelar, o princípio da fungibilidade, isto é, se o requerente pediu a cautela X não pode o juiz conceder-lhe Y, pois estaria, ainda aí, julgando extra petita, embora possa, obviamente, nos limites do que se requereu, conceder menos do que solicitado.” Nós, contudo, não compartilhamos do entendimento dos referidos juristas, eis que adotamos uma interpretação mais extensiva do art. 798 da lei processual, sendo lícito ao juiz deferir medida cautelar distinta da pedida, especialmente pelo fato de existirem inúmeras medidas inominadas, o que pode levar o aplicador do direito a formular, incorretamente, pedido distinto do realmente pretendido. 28 3 TEORIA DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA 3.1 ESTRUTURA DA SENTEÇA A sentença, segundo dispõe o art. 458 do Código de Processo Civil, é formada, essencialmente, por três requisitos: (i) relatório; (ii) fundamentação e (iii) dispositivo. O relatório, segundo o inciso I do art. 458 da lei processual, “conterá os nomes das partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo.”. Aqui, deve o juiz, atentando-se aos fatos narrados, descrevê-los, por excelência, em ordem cronológica, apontando, apenas, o que foi relevante e que, ao final, influenciará na sentença. Daí a afirmação de que o relatório contém um evidente nexo lógico – constituirá o suporte fático do fundamento da decisão. Nesse sentido, entendemos fundamentação como o fator de legitimação do exercício do poder estatal, eis que é o conjunto das razões que levaram à decisão. Concomitante à fundamentação, diz-se que as sentenças devem ser motivadas, que é o conjunto de elementos fáticos ejurídicos que levaram à decisão. Tendo em vista a tecnicidade ínsita à fundamentação e a motivação, o relatório não obedecerá a cronologia dos fatos, mas obedecerá à lógica. Nessas linhas, não apenas o réu, mas também o juiz deverá, ater-se, preliminarmente, às questões prejudiciais de mérito, tal qual aquelas dispostas no art. 30114 do Código de Processo Civil. 14 Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar: I - inexistência ou nulidade da citação; II - incompetência absoluta; III - inépcia da petição inicial; IV - perempção; V - litispendência; Vl - coisa julgada; VII - conexão; Vlll - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; 29 No tocante às questões de mérito, o juiz deverá, primordialmente, conhecer do principal para, em seguida, conhecer os pedidos sucessivos, anotando, ainda, as hipóteses em que os pedidos serão alternativos (quando o devedor puder cumprir a prestação de mais de um modo), para, ao final, conhecer os pedidos acessórios, p. ex. condenação ao pagamento de sucumbência. Anotamos, no mais, que pode a sentença ser concisa, consoante disciplina o art. 459 do Código de Processo Civil, sem que isso importe qualquer violação ao disposto pelo art. 458, eis que não haverá supressão de qualquer dos elementos essenciais da sentença, mas, tão somente, a concisão dos seus fundamentos, notadamente nos casos em que a sentença julgar a demanda extinta, sem resolução do mérito, porque não há julgamento sobre o direito material posto em debate. Por fim, o dispositivo, conclusão ou determinação, é a parte da sentença em que se decide, efetivamente a causa. Decide a causa porque expressa o comando estatal que encerra o processo, com ou sem resolução do mérito. Evidentemente, não restam dúvidas da congruência entre o relatório, a fundamentação e, por fim, do dispositivo, sob pena de a sentença sujeitar-se aos embargos de declaração. 3.2 TEORIA DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA Consoante dissemos anteriormente (vide item nº 1), dificilmente uma sentença contém o julgamento de uma só pretensão. Cândido Rangel Dinamarco (2013, p. 11) anota que IX - convenção de arbitragem; X - carência de ação; Xl - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar § 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada § 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido. § 3o Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se repete ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso. § 4o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício da matéria enumerada neste artigo. 30 “Como se verá, porém, a teoria dos capítulos de sentença constrói-se sobre a dualidade ou pluralidade de preceitos concretos contidos no decisório da sentença e não sobre a dualidade ou pluralidade de seus fundamentos, porque lá reside sua grande utilidade sistemática e prática, e não aqui”. Referido jurista, conforme fizemos acima, apresenta os elementos formais da sentença para, ao final, contrapondo inúmeros outros juristas, aduzir que: “São de notória relevância apenas os cortes feitos no decisório da sentença, mediante a identificação e isolamento de capítulos portadores de preceitos concretos e de imperativa eficácia prática. Esse capítulos serão homogêneos, quando todos contiverem exclusivamente pronunciamentos sobre o objeto do processo, ou meritum causae, resolvendo-se em segmentos da decisão sobre as pretensões contrapostas das partes; ou heterogêneos, se incluírem em primeiro lugar a explícita afirmação do direito do demandante ao julgamento do mérito, e, em seguida, o julgamento do mérito mesmo (infra, n. 35). A configuração dos capítulos de sentença segundo o modo-de-ser do direito brasileiro corresponde substancialmente à que fora proposta por Enrico Tullio Liebman em seu famoso ensaio. Cada capítulo do decisório, quer todos de mérito, quer heterogêneos, é uma unidade elementar autônoma, no sentido de que cada um deles expressa uma deliberação específica; cada uma dessas deliberações é distinta das contidas nos demais capítulos e resulta da verificação de pressupostos próprios, que não se confundem com os pressupostos das outras. Nesse plano a autonomia dos diversos capítulos de sentença revela apenas um distinção funcional entre eles, sem que necessariamente todos sejam portadores de aptidão a constituir objeto de julgamentos separados, em processos distintos e mediante mais de uma sentença: a autonomia absoluta só se dá entre os capítulos de mérito, não porém em relação ao que contém julgamento da pretensão ao julgamento deste (capítulo que aprecia preliminares – supra, n. 7). Na teoria dos capítulo de sentença autonomia não é sinônimo de independência, havendo capítulos que comportam julgamento em outro processo e também, em alguns casos, um capítulo que não o comportaria (o que rejeita preliminares).” (DINAMARCO, 2013, p. 35) Cândido conclui sua exposição aduzindo que “É no isolamento dos diversos segmentos do decisório que residem critérios aptos a orientar diretamente a solução dos diversos problemas já arrolados, quer no tocante aos recursos, quer em todas as demais áreas de relevância, já indicadas”. (DINAMARCO, 2013, p. 36) Nós, contudo, não compartilhamos de Dinamarco, aproximando-nos dos conceitos de Sergio Costa, Andrioli, Allorio, que sustentam que a motivação e o decisório integram os capítulos da sentença. Sabemos que são inúmeras as críticas formuladas contra a teoria ora adotada, notadamente a ausência de coisa julgada aos motivos, especialmente pelo disposto no art. 469 do Código de Processo Civil: 31 Art. 469. Não fazem coisa julgada: I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença; Il - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença; III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo. Contudo, salvo melhor juízo, entendemos que os legisladores fizeram mal ao impossibilitar o trânsito em julgado dos fatos e dos motivos, eis que relacionam-se diretamente aos elementos da ação: (i) partes; (ii) causa de pedir e (iii) pedido, e, ao final, justificam o princípio da congruência da demanda. Assim, proposta nova ação em relação aos mesmos fatos, deve o juiz decidir a causa com base na mesma motivação, proferindo, ao final, o dispositivo da ação, para que se alcance o fim prático almejado, tudo porque a sentença nada é senão a decorrência lógica dos seus elementos estruturais. Destacamos, ainda, que tal justificativa se aplica, inclusive, a previsibilidade dos embargos de declaração, eis que, embora constantes no capítulo dos recursos, se prestam à complementar a sentença (e demais atos decisórios). 32 4 TEORIA GERAL DOS RECURSOS E DO RECURSO DE APELAÇÃO 4.1 CONCEITO DE RECURSO Apresentada, em breves linhas, a teoria dos capítulos da sentença, cumpre-nos, agora, apresentar, rapidamente, a teoria geral dos recursos e do próprio recurso de apelação. Nesse sentido, Barbosa Moreira estatui que “pode-se conceituar recurso, no direito processual civil brasileiro, como o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integral da decisão que se impugna.” (2006, p. 233). Miranda e Pizzol (2009, p. 35), dissecando o conceito de Barbosa Moreira apontam, ainda, as seguintes características dos recursos: (a) remédio – porque se trata de ‘instrumento processual destinado a corrigir um desvio jurídico, em vez de apenas constatá-lo e tirar as suas consequências’; (b) voluntário – não há recurso ‘de ofício’, obrigatório; faz- se mister sua interposição por um doslegitimados do art. 199 do CPC (como veremos a seguir, o reexame obrigatório ou remessa ex officio não tem natureza jurídica de recurso, embora seja assim tratado por boa parte da doutrina); (c) dentro do mesmo processo – a interposição de recurso não enseja a formação de outro processo, mas tão-somente provoca a extensão do processo em curso, no qual foi proferida a decisão impugnada (essa característica é importante para a distinção entre recurso e outros meios de impugnação dos atos judiciais, bem como para a definição da natureza jurídica do recurso, isto é, ação autônoma ou extensão do direito de ação); (d) reforma – error in judicando, isto é, vício que se refere à essência da decisão judicial, tornando-a injusta – ‘nova formulação jurídica, diferente daquela do órgão recorrido para a situação submetida ao debate judicial (CASSAÇÃO = SUBSTITUIÇÃO – CPC, art. 512)’; (e) invalidação – error in procedendo, ou seja, vício processual, em regra – ‘cassação do ato recorrido, a fim de que outro seja proferido pelo mesmo órgão do qual emanou (não há substituição, pois esta implicaria a supressão de um grau de jurisdição)’; (f) esclarecimento ou integração – embargos de declaração, cuja finalidade não é, em tese, a modificação da decisão judicial impugnada (art. 536, CPC); (g) decisão judicial – a lei processual, em seu art. 162, § 1º e 2º, ao conceituar sentença e decisão interlocutória fala em ‘ato judicial’; devemos ler tal expressão, entretanto, como ‘pronunciamento judicial’, uma vez que a primeira é por demais ampla, abrangendo não apenas os pronunciamentos (sentenças, decisões interlocutórias e despachos), mas também atos judiciais que não se enquadram nessas três espécies, como, por exemplo, o de inquirição de testemunha. E mais: ao usar o autor a expressão ‘decisões judiciais’, quis ele se referir às decisões 33 genericamente consideradas (pronunciamentos que apresentam caráter decisório – sentenças e decisões interlocutórias) e não apenas às ultimas (espécie daquele gênero mais amplo). Martha Rosinha anota, por fim, que “Recorrer é um ônus. O que caracteriza o ônus é que a atividade a que corresponde o ônus é desempenhada por quem com isso se beneficia, e não o outro pólo como ocorre com a obrigação. A omissão no exercício do ônus acarreta o sacrifício do interesse daqueles que se omitiu.” (2012, p. 52). 4.2 PRINCÍPIOS RECURSAIS 4.2.1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO Nelson Nery Junior estatui que o princípio do duplo grau de jurisdição “tem íntima relação com a preocupação dos ordenamentos jurídicos em evitar a possibilidade de haver abuso de poder por parte do juiz, o que poderia em tese ocorrer se não estivesse a decisão sujeito à revisão por outro órgão do Poder Judiciário”. (p. 39) Nessa linha de raciocínio, o princípio do duplo grau “é, por assim dizer, garantia fundamental de boa justiça.”. Consoante Flávio Cheim Jorge (2007, pp. 170-171) observou, “Não há muita harmonia no conceito de duplo grau jurisdição, especificamente no que diz respeito À necessidade de o segunda exame ser feito por um órgão de hierarquia superior. Uma corrente sustenta que o duplo grau de jurisdição está presente quando se garante um outro exame a respeito da causa, mesmo que essa segunda análise seja feita por um órgão de mesma hierarquia. Como diz Liebman, não fazendo referência a órgãos de hierarquia diferentes, o ‘duplo grau exige que o mérito da causa possa ser apreciado e julgado – ‘no seu conjunto’ – duas vezes por juízes diversos, não porém, que todas as questões discutidas, e cada uma delas, sejam decididas duas vezes sucessivamente’. A outra corrente ente que o duplo grau estará presente quando for possível o reexame da pretensão das partes por um órgão de hierarquia superior à daquele que julgou a causa. [...] Como diz Barbosa Moreira, desse princípio ‘decorre a necessidade de permitir-se nova apreciação da causa, por órgão situado em nível superior na hierarquia judiciária, mediante a interposição de recurso ou expediente 34 análogo – como, no sistema do Código de 1973, o contemplado no art. 475 –, após a primeira decisão’. Acreditamos, na esteira de Barbosa Moreira, Moacyr Amara Santos e Rogério Lauria Tucci, que o simples reexame da causa não permite concluir pela existência do duplo grua de jurisdição, sendo imprescindível que a segunda análise seja feita por um órgão de hierarquia superior.” Nelson Nery Júnior e Araken de Assis, de outro lado, discordam do posicionamento de Flávio, de onde anotamos as valorosas palavras de Assis (2007, p. 69), para quem “Todo cuidado é pouco na questão terminológica inserida na clássica expressão ‘duplo grau’. Entre nós, a jurisdição revela-se imune a grau. O direito brasileiro adotou o princípio da unidade jurisdicional. A separação baseia-se na hierarquia, e não na qualidade intrínseca do corpo julgador. Neste sentido, a consagrada nomenclatura – duplo grau –, induzindo a idéia de pluralidade de jurisdições, revela-se imprópria.” Exatamente por isso, Assis (2007, p. 75) completa que “O princípio do duplo grau enseja nova apreciação do ato decisório por um órgão situado em nível superior da hierarquia judiciária, no chamado duplo grau vertical, ou por outro órgão da mesma hierarquia, mas de composição diversa, no chamado duplo grau horizontal.” Assim, para não nos alongarmos na presente análise, eis que poderíamos questionar (i) a retidão do Código de Processo Civil ao possibilitar o órgão ad quem de realizar o julgamento de questão não conhecida pelo órgão a quo, mas intimamente ligado ao bojo do recurso15; ou, ainda, (ii) o desvirtuamento do duplo grau de jurisdição, com a criação de dois tribunais de superposição (Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça) 16, talvez a denominação mais correta para este princípio seja “princípio da revisão colegiada”. 4.2.2 TAXATIVIDADE Entende-se, pelo princípio da taxatividade, que não é lícito às partes adotarem (ou criarem) qualquer recurso que não aqueles previstos, expressamente na lei federal. 15 NERY JUNIOR, Nelson, Teoria geral dos recursos – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p 45- 48. 16 ASSIS, Araken de, Manual dos recurso – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 77. 35 Assis (2007, p. 78) anota que “Só a lei federal, então, pode disciplinar os recursos, no uso da competência legislativa estipulada no art. 22, I da CF/1998, e, por conseguinte, sua tipificação é predeterminada. Ao princípio segundo o qual a existência dos recursos se subordina expressamente a expressa previsão legal, ainda que não seja a do estatuto de processo.” 4.2.3 SINGULARIDADE Também denominado de princípio da unirrecorribilidade, ou da unicidade, o princípio da singularidade estatui que “para cada ato judicial recorrível há um único recurso previsto pelo ordenamento, sendo vedada a interposição simultânea ou cumulativa de mais outro visando a impugnação do mesmo ato judicial.”. (NERY, 2004, p.119) Assis (2007, p. 83) aponta, ainda, que “Omisso que seja o CPC de 1939 quanto à enunciação do princípio, entende-se que o estatuto vigente adotou- implicitamente, por intermédio da correlação entre os atos decisórios do primeiro grau, formalmente tipificados no art. 162, e as hipóteses rígidas de cabimento, conforme estipulam os arts. 504, 513 e 522”. Flávio Cheim Jorge (2007, p. 167), por fim, estatui que esse princípio decorrente da incindibilidade das decisões monocráticas e a ocorrência de preclusão consumativa. 4.2.4 FUNGIBILIDADE Na esteira dos princípios da taxatividade e da singularidade, surge o princípio da fungibilidade, segundo o qual pode, eventualmente, uma “parte interpor um recurso que não seja o adequado para aquela decisão que se recorre.” (JORGE, 2007, p. 208) Nelson Nery Junior (2004, p. 69) observa, ainda, que “Na Exposiçãode Motivos ao CPC de 1973, existe expressa menção ao princípio da fungibilidade, adotado pelo código revogado, e, ainda ao fato de 36 o novo diploma haver simplificado sobremodo o sistema recursal (itens 31 a 3). Dessa maneira, deflui daquela exposição a ilação de que o novo código não teria necessitado repetir a regra do CPC/39 810, já que pareceria não haver dúvida quanto ao cabimento e adequação dos recursos. A prática tem demonstrado, entretanto, que há muitas dúvidas a respeito da adequação recursal no novo sistema processual. Algumas são derivadas das imperfeições e impropriedade terminológicas existentes no próprio código; outras, de divergências doutrinárias e jurisprudenciais. De qualquer sorte, é preciso que se estabeleçam mecanismos capazes de contornar esse grave problema, de modo que a parte não fique prejudicada em virtude da interposição de um recurso por isso não lhe couber. Este é o escopo primeiro do princípio da fungibilidade.” Contudo, impende salientar que, para tanto, faz necessária a constatação de três requisitos, a saber: (i) existência de dúvida objetiva e/ou (conforme a doutrina) ausência de erro grosseiro e (ii) irrelevância do prazo no recurso próprio (ou prazo menor). A dúvida objetiva e/ou a ausência de erro grosseiro se verificam quando a doutrina e jurisprudência recente divergirem sobre o assunto ou o recurso utilizado atacar, frontalmente, disposição legal expressa. No tocante à irrelevância do prazo no recurso próprio, sustenta-se que o prazo para a interposição do recurso utilizado deve ser igual ou inferior ao recurso adequado, a fim de que se configure a boa-fé do recorrente. 4.2.5 DIALETICIDADE Assis (2007, p.95) leciona, sucintamente, que “Entende-se por princípio da dialeticidade o ônus de o recorrente motivar o recurso no ato de interposição. Recurso desprovido de causa hábil para subsidiar o pedido de reforma, de invalidação ou de integração do ato impugnado, à semelhança da petição que forma o processo, ou através da qual partes e terceiros deduzem pretensões, in simultâneo processu, revela- se inepto. É inadmissível o recurso desacompanhado de razões.” 4.2.6 VOLUNTARIEDADE 37 Flávio Cheim Jorge (2007, 165), citando Renzo Provinciali, aduz que o princípio da voluntariedade possuir dois elementos essenciais e distintos. O primeiro é o “elemento volitivo”, manifestação expressa de irresignação com a decisão recorrida, e o segundo é “elemento descritivo”, ou melhor, as próprias razões recursais, que como vimos, é, na verdade, o princípio da dialeticidade. Nelson Nery Junior anota, ainda, que é em razão do princípio da voluntariedade que “não se pode conferir à remessa obrigatória o caráter de recurso, pois o juiz não manifesta ‘vontade em recorrer’ ao determinar a subida dos autos à superior instância para o reexame necessário (CPC 475). 4.2.7 PRINCÍPIO DA IRRECORRIBILIDADE EM SEPARADO DAS INTERLOCUTÓRIAS Em que pese num primeiro momento influirmos a impossibilidade de o recurso contra as decisões ser interposto em incidente autônomo, na verdade, “o que se pretende evitar com a adoção do princípio da irrecorribilidade em separa das interlocutórias é que se confira efeito suspensivo ao recurso previsto para atacá-las. E é isto o que, precisamente ocorre no direito brasileiro, pois o agravo, cabível para impugnar as decisões interlocutórias, não tem, em regra, efeito suspensivo.” (NERY, 2004, p. 180) Assim, conforme veremos a seguir, o princípio da irrecorribilidade em separado das interlocutórias justifica a preocupação do legislador com a limitação do efeito suspensivo em todos os recursos, de onde nos ocuparemos com a sistemática adotada, especificamente, em relação ao recurso de apelação. 4.2.8 PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE Os atos processuais, via de regra, tornam-se imutáveis após a sua prática. Os recursos cíveis, por sua vez, devem, num mesmo ato, serem interpostos e trazerem as razões recursais. 38 Entretanto, tendo em vista que a decisão que originou o recurso pode ser modificada depois da interposição do recurso, via de regra em decorrência de outro julgamento pretérito, e antes da sua admissibilidade, vige em nosso ordenamento o princípio da complementariedade. Nesse sentido, Nelson Ney Júnior (2004, p. 182) elucida que: “Pelo princípio da complementariedade, o recorrente poderá complementar a fundamentação de seu recurso já interposto, se houver alteração ou integração da decisão, em virtude de acolhimento de embargos de declaração. Não poderá interpor novo recurso, a menos que a decisão modificativa ou integrativa altere a natureza do pronunciamento judicial, o que se nos afigura difícil de ocorrer.” 4.2.9 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEIUS Consoante leciona Nelson Nery Junior (2004, p. 183), “Também chamado de ‘princípio do efeito devolutivo’ e de ‘princípio de defesa da coisa julgada parcial’, a proibição da reformatio in peius tem por objetivo evitar que o tribunal destinatário do recurso possa decidir de modo a piorar a situação do recorrente, ou porque extrapole o âmbito de devolutividade fixado com a interposição do recurso, ou, ainda, em virtude de não haver recurso da parte contrária.” Nós, contudo, partilhamos dos ensinamentos de Flávio Cheim Jorge (2007, p. 201) para quem a proibição da reformatio in peius não se afigura como um princípio recursal, mas, em verdade, decorrente de outro princípio: “Essa proibição decorre da incidência natural do princípio dispositivo, fazendo com que exista a impossibilidade de o recurso prejudicar a situação do próprio recorrente.” Em que pese a divergência dos autores no que toca à classificação da reformatio in peius, necessário esclarecer que ambos os doutrinadores são uníssonos em relação à aplicabilidade da reformatio in peius na remessa necessária (art. 475 do CPC) porque, como 39 vimos, tal expediente não nos afigura recurso, eis que se trata de mera condição de eficácia da sentença. Contudo, observamos que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é diverso do aqui sustentado, o que, inclusive, originou edição da súmula nº 45 daquela corte: “No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública.” 40 5 RECURSO DE APELAÇÃO 5.1 INTRODUÇÃO Como vimos acima, pode-se conceituar recurso, no direito processual civil brasileiro, como o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integral da decisão que se impugna.” (MOREIRA, 2006, p. 233) O recurso de apelação, por sua vez, é aquele ato apto a atacar a sentença, de mérito ou não, conforme dispõe o art. 51317 do Código de Processo Civil. 5.2 EFEITOS Via de regra, os recursos cíveis são dotados dos efeitos (i) devolutivo e (ii) suspensivo, sendo certo, ainda, que a doutrina pugna pela existência de outros efeitos (p. ex. expansivo; translativo; substitutivo; regressivo e diferido). Em razão da delimitação do tema deste trabalho, ater-nos-emos, apenas, aos efeitos devolutivo e suspensivo, anotando, também, que os demais efeitos são decorrentes de princípios processuais ou dos próprios efeitos devolutivo e suspensivo. 5.2.1 DEVOLUTIVO Segundo Carvalho Filho (2010, p. 9) “diz respeito ao conhecimento da matéria impugnada pelo órgão ad quem para reexame.” Trata-se, verdadeiramente, do deslocamento de competência para apreciação das questões recorridas. Exatamente por isso, necessário ressaltar que “O efeito devolutivo é o único que genuinamente poderia ser considerado efeito do recurso, já que corresponde, em qualidade e quantidade, àquilo que constitui objeto e razão de ser dos recursos.” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 15-16) 17 Art. 513. Da sentençacaberá apelação (arts. 267 e 269). 41 Acertadamente, a doutrina observa, ainda, que o efeito devolutivo é a consagração do princípio dispositivo, em que o julgador apenas é dado conhecer das matérias efetivamente colocadas em litígio. De qualquer forma, importante consignar, também, que a delimitação da matéria impugnada justifica o princípio do tantum devolutum quantum appelatum e, em regra, aproveita apenas ao recorrente, em consagração ao princípio da personalidade dos recursos. (CARVALHO FILHO, 2010, p. 16) Com mais razão, portanto, justifica-se o princípio da proibição do reformatio in pejus, eis que, conforme estatuído anteriormente (vide item 4.2.9), o recurso não poderá prejudicar o próprio recorrente, porque não foi dado ao órgão superior conhecer destas matérias, ressalva feitas às questões de ordem pública (que não se submetem à preclusão e/ou a ausência de impugnação específica). 5.2.2 SUSPENSIVO Em que pese o efeito devolutivo ser, por regra, o principal efeito dos recursos, é da própria natureza humana não se sujeitar às decisões contrárias às suas pretensões, daí a existência e justificativa para o efeito suspensivo dos recursos, que “consiste em impedir que a decisão impugnada produza efeitos desde logo, só o fazendo após o julgamento final do recurso interposto” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 10), com o trânsito em julgado da sentença (em se tratando do recurso de apelação) e a formação da coisa julgada. Todavia, importante ressaltar que o efeito suspensivo não incide sobre a decisão recorrida, isto é, não a torna “inválida”, “mas é suspensivo de efeitos, pois o ato judicial em si não é suspenso, só os efeitos que ele se destinava a produzir.” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 11) Portanto, “A suspensão é da eficácia do ato decisório como um todo, e não apenas da eficácia dele como título executivo”. No que toca à extensão do efeito suspensivo, importante consignar que ele (efeitos suspensivo) se limita ao próprio objeto do recurso de apelação, em razão do efeito devolutivo e do princípio dispositivo dos processos. 42 Por fim, necessário aduzir que o duplo efeito (devolutivo e suspensivo) do recurso de apelação decorre da própria lei (ope lege – vide art. 520), salvo em poucas hipóteses em que o recurso será desprovido do efeito suspensivo, ocasião em que o recorrente deverá requerê-lo expressa e fundamentadamente, sujeitando-se, ainda, ao deferimento pelo juízo a quo. Uma vez indeferido, anotamos que o recorrente poderá interpor agravo de instrumento contra a decisão de recebimento do recurso para que o próprio órgão ad quem, responsável pelo julgamento da apelação, confira o efeito suspensivo à apelação. 5.2.3 COMPREENSÃO (JUSTIFICATIVA) DA REDAÇÃO DOS INCISOS DO ART. 520 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Como dissemos acima, em raríssimas hipóteses o recurso de apelação será recebido, a rigor, apenas no efeito devolutivo. Nesse sentido, o inciso I do art. 520 do Código de Processo Civil estatui que assim será recebido o recurso de apelação interposto contra a sentença que “homologar a divisão ou demarcação”. Carvalho Filho (2010, p. 108) anota que “o não efeito suspensivo se justifica em razão de possuírem referidas ações duas fases distintas e subsequentes, em que são proferidas duas sentenças sujeitas à apelação, de modo que, após definida em uma primeira fase a existência do direito de dividir ou de demarcar, não mais convém que a demora na entrega definitiva do direito já reconhecido aguarde novo recurso que obstará a execução imediata da sentença.” Em relação ao inciso II do art. 520 do Código de Processo Civil, que dispõe que a apelação interposta contra sentença que “condenar à prestação de alimentos” será recebida apenas no efeito devolutivo, “protege-se bem de perto o próprio direito à personalidade de quem tem necessidade da prestação alimentar para viver, preferindo o legislador expor aos riscos de um sacrifício injusto o patrimônio do alimentante, para não impor ao alimentado a espera que talvez lhe impeça uma existência decente.” (DINAMARCO, in CARVALHO FILHO, 2010, p. 109) No que toca aos casos em que há redução ou exoneração dos alimentos, a doutrina e a jurisprudência aduzem que o recurso de apelação será recebido em ambos os 43 efeitos, eis que o inciso II diz, expressamente, que será recebido apenas no efeito devolutivo a apelação interposta contra sentença que “condenar à prestação de alimentos”. Se outra fosse a interpretação, o alimentante poderia sujeitar-se a perda dos alimentos e, como justificou Dinamarco, “de uma existência decente.” Quanto ao inciso III do art. 520 do Código de Processo Civil, observamos, sinteticamente, que o mesmo encontra-se revogado, eis que estatuía que a apelação interposta contra sentença que “julgar a liquidação de sentença” seria recebida apenas no efeito devolutivo, não mais se sustentando em razão do advento do processo sincrético e da disposição do art. 475-H do mencionado diploma legal, que passou a dispor que “Da decisão de liquidação caberá agravo de instrumento.”. Já o inciso IV do art. 520 do Código de Processo Civil, “por uma questão de coerência do sistema, impõe que não se suspendem os efeitos da sentença ‘que decidir processo cautelar’, porquanto este é destinado à preservação de bens e direito em disputa colocados sob risco de desaparecimento ou inutilidade.” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 110) No mesmo sentido, o inciso V do art. 520 do Código de Processo Civil estatui que o recurso de apelação interposto contra a sentença que “rejeitar os embargos à execução ou julgá-los improcedente” também será recebido apenas no devolutivo, porque, como vimos mostrando acima, “o legislador teve em vista (...) o critério da probabilidade de confirmação da sentença, ao corroborar a higidez do título executivo que aparelha a execução (aumentando o grau de certeza que espelha), além do da urgência no atendimento do interesse do já credor, conferindo ao processo maior celeridade e efetividade.” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 112) Mesma sorte seguirá o recurso de apelação interposto contra a decisão que julgar extinto o processo de embargos à execução sem resolução do mérito, eis que, igualmente, não foi hábil a atacar a sentença executada. No que se refere ao inciso VI, o recurso de apelação interposto contra a sentença que “julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem” será igualmente recebido sem o efeito suspensivo em razão da completa incompetência do Poder Judiciária para a resolução da lide, daí porque, mais uma vez, estamos diante da consagração dos princípios da celeridade processual e da efetividade. Convém assinalar, apenas, a dúvida quanto à executoriedade provisória desta sentença, porque é típica sentença constitutiva, que, todavia “‘deve ceder espaço ao regime 44 de direito positivo que as novas leis, e pois, as novas necessidades sociais, que estas refletem, impõem’, apregoa Cassio Scarpinella Bueno.” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 113) Último inciso do art. 520 do Código de Processo Civil diz respeito ao recurso de apelação interposto contra sentença que “confirmar a antecipação dos efeitos da tutela”, em que, novamente, se privilegia “a finalidade do instituto, que consiste em admitir que os efeitos do provimento final sejam conferidos ao interessado em momento anterior a esse, a partir do exame sumário de alguns requisitos exigidos por lei (art. 273 do CPC)”. (CARVALHO FILHO, 2010, p. 113). Outrossim, importante observar que toda a doutrina e, em razão da dúvida, a jurisprudência também, anotam que a mesma sorte seguirá o recurso de apelação interposto contra a decisão que conferir a antecipação do efeitos da tutela na sentença. 5.2.4 CAPÍTULOS DA SENTENÇA E EFEITOS DO RECURSO DE APELAÇÃO Consoante exposto à exaustão acima, o legislador preocupou-se,