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Capítulos da sentença e efeitos do recurso de apelação - Compreensão (justificativa) da redação dos incisos do artigo 520 do Código de Processo Civil 1973

Prévia do material em texto

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO 
FACULDADE DE DIREITO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PEDRO PAULO RIBAS HÜMMEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULOS DA SENTENÇA E EFEITOS DO RECURSO DE APELAÇÃO – 
COMPREENSÃO (JUSTIFICATIVA) DA REDAÇÃO DOS INCISOS DO ARTIGO 520 DO 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO 
PEDRO PAULO RIBAS HÜMMEL 
 
 
 
 
 
 
 
 
CAPÍTULOS DA SENTENÇA E EFEITOS DO RECURSO DE APELAÇÃO – 
COMPREENSÃO (JUSTIFICATIVA) DA REDAÇÃO DOS INCISOS DO ARTIGO 520 DO 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Monografia Jurídica apresentado 
ao Curso de Graduação, como parte dos 
requisitos para obtenção do título de bacharel 
em Direito, na área de Direito Processual Civil 
sob orientação do Professor-Orientador 
Frederico da Costa Carvalho Neto. 
 
 
 
 
 
 
SÃO PAULO/SP 
OUTUBRO/2013 
DEDICATÓRIA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
à minha família pelo amor, apoio, carinho, 
entusiasmo, força e zelo incondicionais; 
aos meus amigos pelos momentos 
prazerosos; 
aos meus chefes e colegas profissionais, 
pelos inúmeros ensinamentos. 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Agradeço aos meus professores de Graduação, pela dedicação às aulas 
ministradas. 
 
Agradeço, especialmente, ao Professor e Orientador Frederico da Costa Carvalho 
Neto, responsável pela realização deste trabalho. 
 
Agradeço, também, aos meus colegas de classe, que tornaram esses anos tão 
agradáveis. 
 
Agradeço à minha família, especialmente aos meus pais e irmãos pelo amor, apoio, 
carinho, força, zelo e, principalmente, o entusiasmo compartilhado a cada nova conquista. 
 
Agradeço, ainda, aos meus amigos, que embora não soubessem, iluminaram os 
meus pensamentos. 
EPÍGRAFE 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“e se disseres que ajo como louca, eu te 
respondo que só sou louca na razão de um 
louco” (Sófocles, Antígona) 
RESUMO 
 
 
O artigo 520 do Código de Processo Civil estatui que, em regra, os recursos de 
apelação serão recebidos nos efeitos devolutivo e suspensivo. Todavia, a segunda parte do 
mencionado artigo legal dispõe que em alguns casos os recursos de apelação serão 
recebidos apenas no efeito devolutivo. 
 
A literalidade do artigo 520 do Código de Processo Civil afirma a preocupação do 
legislador com a segurança jurídica em detrimento da celeridade processual, o que, de outro 
lado, demonstra a fragilidade – no ver desse autor – das decisões proferidas em primeira 
instância. 
 
Entretanto, não basta apenas se verificar em quais casos (qual o direito material 
controvertido?) o legislador preferiu assegurar a celeridade processual em detrimento da 
segurança jurídica (ou seria justamente para justificá-la, sob pena de perecimento do 
direito?), mas qual a correlação do direito materialmente tutelado e a espécie de sentença 
em que é proferido. 
 
Este estudo, assim, é, eminentemente, doutrinário. 
 
Palavras-chaves: (i) teoria geral da sentença (ii) capítulos da sentença; (iii) teoria 
geral dos recursos; (iv) efeitos dos recursos; (v) recurso de apelação. 
SUMÁRIO 
 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 8 
2 TEORIA GERAL DA SENTENÇA ................................................................................. 9 
2.1 CLASSIFICAÇÃO DA SENTENÇA QUANTO AOS EFEITOS ................................... 11 
2.1.1 SENTENÇA DEFINITIVA E SENTENÇA TERMINATIVA ................................. 12 
2.1.2 SENTENÇA INCIDENTAL ................................................................................ 12 
2.1.3 SENTENÇA PROVISIONAL OU CAUTELAR ................................................... 12 
2.1.4 SENTENÇA DE PRECEITO ............................................................................. 13 
2.1.5 SENTENÇA CONTUMACIAL ........................................................................... 13 
2.1.6 SENTENÇA CONDICIONAL ............................................................................ 13 
2.1.7 SENTENÇA COMPLEMENTÁRIA E SENTENÇA COMPLEMENTADA ........... 14 
2.1.8 SENTENÇA ABSOLUTÓRIA ............................................................................ 14 
2.1.9 SENTENÇA IMPUGNADA, RECORRIDA, RECORRÍVEL, IRRECORRÍVEL E 
REFORMADA .............................................................................................................. 14 
2.1.10 SENTENÇA CONTENCIOSA E SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA ............... 15 
2.1.11 SENTENÇA NULA, ANULATÓRIA E DE NULIDADE ................................... 15 
2.1.12 SENTENÇA RESCIDENDA .......................................................................... 16 
2.1.13 SENTENÇA ATRIBUTIVA DE DIREITOS ..................................................... 16 
2.1.14 SENTENÇA LÍQUIDA, ILÍQUIDA, LIQUIDADA E LIQUIDANDA ................... 16 
2.1.15 SENTENÇA PROCEDENTE OU DE RECEBIMENTO, SENTENÇA 
IMPROCEDENTE OU DE REJEIÇÃO ......................................................................... 17 
2.1.16 PRINCIPAIS EFEITOS DA SENTENÇA ....................................................... 17 
2.2 CLASSIFICAÇÃO TERNÁRIA OU QUINÁRIA DAS AÇÕES ..................................... 17 
2.3 SENTENÇA DECLARATÓRIA ................................................................................. 18 
2.3.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA DECLARATÓRIA .............................................. 18 
2.3.2 ESPÉCIES DE SENTENÇA DECLARATÓRIA ................................................. 19 
2.4 SENTENÇA CONSTITUTIVA ................................................................................... 20 
2.4.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA CONSTITUTIVA ................................................ 20 
2.4.2 EFEITOS EX NUNC DA SENTENÇA CONSTITUTIVA .................................... 21 
2.4.3 A SENTENÇA CONSTITUTIVA E A SUA “EXECUÇÃO” .................................. 21 
2.4.4 ESPÉCIES DE SENTENÇAS CONSTITUTIVAS .............................................. 21 
2.5 SENTENÇA CONDENATÓRIA ................................................................................ 22 
2.5.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA ............................................. 22 
2.5.2 CLÁUSULA DA RESTITUTIO IN INTEGRUM .................................................. 22 
2.6 SENTENÇA EXECUTIVA ......................................................................................... 23 
2.6.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA EXECUTIVA ...................................................... 23 
2.6.2 EXECUÇÃO NO INTERESSE DA SATISFAÇÃO DO CRÉDITO ...................... 23 
2.7 SENTENÇA MANDAMENTAL .................................................................................. 24 
2.7.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA MANDAMENTAL ............................................... 24 
2.7.2 PENA PELO DESCUMPRIMENTO DO MANDAMENTO JUDICIAL ................. 24 
2.8 SENTENÇA CAUTELAR .......................................................................................... 25 
2.8.1 CONTEÚDO E CARACTERÍSTICAS DO PROVIMENTO CAUTELAR ............. 25 
2.8.2 PRESSUPOSTOS DA TUTELA CAUTELAR .................................................... 25 
2.8.3 ÂMBITO DO PROVIMENTO CAUTELAR ......................................................... 26 
3 TEORIA DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA ............................................................... 28 
3.1 ESTRUTURA DA SENTEÇA .................................................................................... 28 
3.2 TEORIA DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA ............................................................. 29 
4 TEORIA GERAL DOS RECURSOS E DO RECURSO DE APELAÇÃO...................... 32 
4.1 CONCEITO DE RECURSO ...................................................................................... 32 
4.2 PRINCÍPIOS RECURSAIS .......................................................................................33 
4.2.1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO...................................................................... 33 
4.2.2 TAXATIVIDADE ................................................................................................ 34 
4.2.3 SINGULARIDADE ............................................................................................ 35 
4.2.4 FUNGIBILIDADE .............................................................................................. 35 
4.2.5 DIALETICIDADE .............................................................................................. 36 
4.2.6 VOLUNTARIEDADE ......................................................................................... 36 
4.2.7 PRINCÍPIO DA IRRECORRIBILIDADE EM SEPARADO DAS 
INTERLOCUTÓRIAS ................................................................................................... 37 
4.2.8 PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE ..................................................... 37 
4.2.9 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEIUS .............................. 38 
5 RECURSO DE APELAÇÃO ........................................................................................ 40 
5.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 40 
5.2 EFEITOS .................................................................................................................. 40 
5.2.1 DEVOLUTIVO .................................................................................................. 40 
5.2.2 SUSPENSIVO .................................................................................................. 41 
5.2.3 COMPREENSÃO (JUSTIFICATIVA) DA REDAÇÃO DOS INCISOS DO ART. 
520 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL .................................................................... 42 
6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 45 
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................... 46 
 
8 
1 INTRODUÇÃO 
 
 
Desde o ingresso na graduação, senão antes, sempre nos preocupamos com a 
solução de conflitos, qualificados por uma pretensão resistida, o que descobrimos, das 
palavras de Carnelluti, denominar-se lide. 
 
Ao longo dos anos, descobrimos que a lide é objeto da jurisdição, função jurídica do 
Estado, que “se exerce através do processo, [...] instrumento por meio do qual os órgãos 
jurisdicionais atuam para pacificar as pessoas conflitantes, eliminando os conflitos e fazendo 
cumprir o preceito jurídico pertinente a cada caso que lhe é apresentado em busca de 
solução.” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2012, p. 31) 
 
Aprendemos, ainda, que o processo em primeira instância se encerra, via de regra, 
através de uma sentença, quer seja ela terminativa (julgamento sem análise do mérito) ou 
definitiva (julgamento com análise do mérito). 
 
Sabemos, também, que dificilmente uma sentença contém o julgamento de apenas 
uma pretensão, daí porque se falar em capítulos da sentença. Diante da existência de 
diversas pretensões em um mesmo processo, mostra-se ainda mais crível que qualquer um 
dos litigantes (vencido no todo ou em parte) tenha interesse de se insurgir contra a sentença 
e, assim, evitar – com a sua reforma –, ou ao menos postergar, que produza efeitos. 
 
Ante os inúmeros reflexos que a referida insurgência poderia apresentar, nossos 
legisladores se preocuparam, especificamente, com a efetividade do processo, de modo a 
estabelecer, em alguns casos – seis se analisado, apenas, o Código de Processo Civil – a 
impossibilidade de se postergar a ineficácia da decisão, desde que cumpridos determinados 
os requisitos legais, para garantia, indubitavelmente, da segurança jurídica. 
 
Entretanto, a nosso ver, a solução adotada por nossos legisladores deixa a desejar, 
eis que não houve profunda análise das espécies de sentenças e de seus capítulos para, 
assim, justificar a imediata eficácia dessas sentenças. 
 
Assim, teceremos breves considerações sobre o instituto da sentença, das teorias 
sobre seus capítulos; a teoria geral dos recursos e do recurso de apelação, adequado, por 
excelência, para impugnar a sentença, para, em seguida, buscar a compreensão 
(justificativa) da redação dos incisos do artigo 520 do Código de Processo Civil. 
9 
2 TEORIA GERAL DA SENTENÇA 
 
 
Dissemos anteriormente (vide nº 1) que a sentença é o ato pelo qual o juiz, em 
primeira instância, põe fim ao processo, com ou sem julgamento do mérito. Tal posição, 
contudo, não é a única extraída da doutrina, de onde anotamos, ainda, que (i) a sentença 
pode ser considera como o próprio ato da tutela jurídica, isto é, a própria declaração da 
vontade de lei ou, em última análise, como decisão estatal; e (ii) mero provimento judicial 
(ato do juiz). 
 
Nesse sentido, tendo em vista que já nos antecipamos, não restam dúvidas quanto 
ao conceito de sentença adotado por esta. Vejamos, então, a justificativa. 
 
Não reputamos correto conceituar a sentença como mera decisão estatal, eis que, 
a princípio, a sentença não é o único meio pelo qual o Estado decide conflitos, porque, se 
observarmos a atuação do Estado na esfera administrativa, também veremos que há, aqui, 
solução de conflitos, notadamente segunda a sua própria conveniência e oportunidade. 
 
Entretanto, ressaltamos, desde logo, que, via de regra, a decisão administrativa não 
possuí a definitividade da sentença, nem a coercibilidade dos atos judiciais, onde o juiz pode 
determinar, inclusive, o emprego de força policial. 
 
Continuamente a essas linhas, fica claro que a sentença não pode ser considerada 
como mero ato do juiz, pois, se assim o fizermos, colocaremos todos os atos do juiz em um 
mesmo plano horizontal de eficácia, o que é incorreto. 
 
Exatamente por isso, o Código de Processo Civil anota que os atos do Juiz 
consistem-se em (i) sentenças; (ii) decisões interlocutórias; e (iii) despachos. 
 
Os despachos, consoante dispõe o § 3º do art. 162, são “todos os demais atos do 
juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito à lei não 
estabelece outra forma”, de modo que se prestam a confirmar o princípio do impulso oficial, 
“pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a relação processual, mover o procedimento 
de fase em fase, até exaurir a função jurisdicional.” (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 
2012, p. 75) 
 
10 
Diante da simplicidade dos despachos, Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá1 
apontam que: 
 
“Com o incremento da atividade do juiz, é necessário que surjam meios de 
racionalização dos serviços. O referido Carlos Aurélio Mota de Souza (op. 
cit., pp. 79 e 80) entende que a ordem jurídica suporta a delegação de 
certos atos de administração, como assinatura de papéis, requisição 
rotineira de informações, recepção e juntada de documentos em autos, 
recolhimento de custas, e que tal prática já é correntia em muitos Juízos, 
objeto mesmo de normas, portarias e provimentos. 
Nesse aspecto, salutar foi o § 4º do art. 162 do CPC, acrescentado pela Lei 
nº 8.952/94, favorecendo a dinamização da tramitação do processo; 
contudo, embora represente um grande progresso, ainda foi muito tímido, 
pois poderia a própria lei passar para o serventuário algumas tarefas 
administrativas, como se vê no seguinte ato normativo interno:” 
 
De acordo com Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery (2007, p. 432), 
apesar de irrecorríveis por serem desprovidos de conteúdo decisório, consoante dispõe o 
art. 5042 do Código de Processo Civil, se os despachos causarem dano à parte ou ao 
interessado, o ato judicial não será, propriamente, despacho, e sim decisão interlocutória, 
podendo, inclusive, ser impugnado por meio do recurso competente. 
 
É o que se depreende da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: 
 
“Enquanto os despachos sãopronunciamentos meramente ordinatórios, que 
visam impulsionar o andamento do processo, sem solucionar a controvérsia, 
a decisão interlocutória, por sua vez, ao contrário dos despachos, possui 
conteúdo decisório e causa prejuízo às partes”. (STJ, 4ª Turma, Recurso 
Especial n. 195.848-MG, Ministro Relator Sálvio de Figueiredo, julgado em 
20.11.2001, não conheceram do recurso, v.u., DJU em 18.02.2002). 
 
Nessa toada, à luz do § 2º do art. 162 do Código de Processo Civil, “Decisão 
interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente.”. 
 
A decisão interlocutória é, portanto, um ato judicial proferido no curso do processo 
que tem por finalidade resolver questões incidentes, não sendo hábil, porém, de pôr fim a 
ele, decidindo tanto sobre questões processuais quanto sobre os requerimentos das partes. 
 
Mais uma vez foram feitas inúmeras críticas ao conceito legal da decisão 
interlocutória. Cândido Rangel Dinamarco (2004, p. 46) observa que, apesar da definição 
contida no § 2º do artigo 162 do Código de Processo Civil, que qualifica como decisões 
 
1 SLAIBI FILHO, Nagib, Sentença cível: (fundamentos e técnica), Nagib Slaibi Filho, Romar Navarro 
de Sá – 8ª ed., rev., atual, e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 226 
2 Art. 504. Dos despachos não cabe recurso. (Redação dada pela Lei nº 11.276, de 2006) 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11276.htm#art1
11 
interlocutórias os atos por meio dos quais o juiz decide alguma questão incidente ao 
processo, nem todo pronunciamento sobre questões incidentes é interlocutório, já que 
existem aqueles que efetivamente põem fim ao processo (sentença). 
 
Dessa maneira, apesar da definição legal de decisão interlocutória, a mesma só se 
configuraria quando a solução da questão incidente não levasse ao encerramento do feito 
(THEODORO JÚNIOR, 2002, pp. 207-208). Sobre o ponto, Nelson Nery Junior e Rosa 
Maria de Andrade Nery fazem a seguinte observação: 
 
“Como, para classificar o pronunciamento judicial, o CPC não levou em 
conta apenas seu conteúdo, mas também sua finalidade, se o ato contiver 
matéria do CPC 267 ou 269, mas não extinguiu o processo, que continua, 
não pode ser sentença, mas sim decisão interlocutória.” (2007, p. 432) 
 
Como se vê, tais doutrinadores tiveram o cuidado de ressaltar que se deve levar em 
consideração a finalidade do ato (ou critério topológico); vale dizer, mesmo que o ato 
contenha alguma das matérias dos artigos 267 ou 269, que é a atual definição de sentença, 
se não extinguir o processo tratar-se-á de uma decisão interlocutória. 
 
Por fim, para não alongar a presente análise, cumpre observar que as decisões 
interlocutórias, quando causarem danos às partes ou interessado, serão recorríveis 
mediante o agravo, seja retido, seja de instrumento, sob pena de preclusão (temporal). 
 
Voltando-nos à sentença, que, conforme dispõe o § 1º do art. 162 do Código de 
Processo Civil, “é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 
269 desta Lei.”. 
 
Em razão da simplória dicção do referido parágrafo, muito se discutiu sobre a 
confusão entre sentença e decisão interlocutória, conforme fizemos, brevemente, acima, 
motivo pelo qual devemos adotar o conceito de sentença segundo o critério topográfico 
adotado pela disposição primitiva do Código de Processo Civil, onde “Sentença é o ato pelo 
qual o juiz põe termo ao processo, decidindo [art. 269] ou não [art. 267] o mérito da causa.”. 
 
 
2.1 CLASSIFICAÇÃO DA SENTENÇA QUANTO AOS EFEITOS 
 
 
12 
Diante da complexidade de uma sentença, inúmeros doutrinadores, dentre eles 
Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá3, apontam os efeitos que uma sentença é capaz e 
gerar, de onde anotamos alguns. 
 
 
2.1.1 SENTENÇA DEFINITIVA E SENTENÇA TERMINATIVA 
 
 
O § 1º do art. 162 do Código de Processo Civil é quem traz a primeira, e mais 
importante, divisão dos efeitos da sentença. Como se lê do mencionado artigo, a sentença 
“implica alguma das situações previstas pelos arts. 267 e 269”, ou, em outras palavras, julga 
extinto o processo, sem ou com, respectivamente, análise do mérito. 
 
Assim, será sentença definitiva aquela que julgar o processo extinto, com resolução 
do mérito, enquanto será sentença terminativa aquela que julgar o processo extinto, sem 
resolução do mérito. 
 
A principal justificativa para a distinção entre sentença definitiva e terminativa se 
presta a confirmar os efeitos da coisa julgada, porque apenas a sentença definitiva possuirá 
os efeitos materiais da coisa julgada, enquanto a sentença terminativa possuirá, tão 
somente, os efeitos formais da coisa julgada. 
 
 
2.1.2 SENTENÇA INCIDENTAL 
 
 
Ainda que num primeiro momento o termo “sentença incidental” pareça uma 
contradição – eis que sentença é o ato, por excelência, que põe fim ao processo –, o termo 
designa o ato processual que põe fim à ação incidental autônoma, como, por exemplos, os 
embargos à execução. 
 
 
2.1.3 SENTENÇA PROVISIONAL OU CAUTELAR 
 
 
 
3 Op. cit. 
13 
Veremos adiante, a classificação da sentença segundo a própria ação em que é 
proferida. Nessas linhas, dá-se o nome de sentença provisional ou cautelar ao ato que põe 
fim ao processo cautelar, preparatório ou incidental, salvo quando o ato for proferido 
juntamente à demanda principal, em que se constatará, então, capítulo provisional ou 
cautelar da sentença. 
 
 
2.1.4 SENTENÇA DE PRECEITO 
 
 
Nas palavras Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá, “Sentença de preceito é a 
que impõe comando ou ordem, como se vê, por exemplo, no art. 287 da lei processual 
comum.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 244) 
 
 
2.1.5 SENTENÇA CONTUMACIAL 
 
 
Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá anotam que “contumaz é a parte que não 
comparece no processo, quando necessário, em qualquer fase – assim, será também 
sentença contumacial aquela decorrente da aplicação do disposto no art. 13, I do CPC, 
quando o juiz decreta a extinção do feito, pela contumácia autoral.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 
244) 
 
 
2.1.6 SENTENÇA CONDICIONAL 
 
 
Com base no instituto da condição4, quando as partes, por exclusiva vontade suas, 
subordina o efeito do negócio jurídico a um futuro e incerto, seria sentença condicional 
aquela que decidisse a causa com base nesse preceito. 
 
Entretanto, o parágrafo único do art. 460 do Código de Processo Civil, 
expressamente, veda a existência desse efeito da sentença, porque “A sentença deve ser 
certa, ainda quando decida relação jurídica condicional.”. 
 
 
4 Código Civil - Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade 
das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto. 
14 
 
2.1.7 SENTENÇA COMPLEMENTÁRIA E SENTENÇA COMPLEMENTADA 
 
 
Sentença complementária é aquela que complementa (corrige) a sentença anterior. 
Via de regra, tal reforma se dá de ofício ou atendendo embargos de declaração, consoante 
disciplina o art. 4635 do Código de Processo Civil. 
 
Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá anotam, mais uma vez, que “Se a 
sentença complementar for muito extensa, recomenda-se que refaça a sentença 
complementada, publicando-se esta com a nota de sentença complementar.”. (SLAIBI 
FILHO, 2013, pp. 244-245) 
 
 
2.1.8 SENTENÇA ABSOLUTÓRIA 
 
 
Tratava-se da sentença, no regime anterior (arts. 201 a 205 do Código de Processo 
Civil de 1939), equivalente à atual sentença terminativa, com a diferença de que tal 
sentença ficava pendente de requerimento do réu. 
 
Aqui, importante frisar que a sentença absolutória cível nada se comunica com a 
sentença absolutória penal, prevista pelo art. 386 do Código de Processo Penal, que é 
aquela que isenta o réu da acusação que lhe foi imposta. 
 
 
2.1.9 SENTENÇA IMPUGNADA, RECORRIDA, RECORRÍVEL, IRRECORRÍVEL E 
REFORMADA 
 
 
Sentença impugnada ou recorrida é aquela que desafioua interposição de recurso. 
 
 
5 Art. 463. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la: (Redação dada pela Lei nº 11.232, de 
2005) 
I - para Ihe corrigir, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais, ou Ihe retificar erros 
de cálculo; 
II - por meio de embargos de declaração. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11232.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11232.htm#art1
15 
Por sua vez, sentença recorrível ou irrecorrível é aquela que desafia, ou não, a 
interposição de recurso, sendo o seu cabimento instituído pela lege referenda, isto é, pela 
vontade do legislador. 
 
Sentença reformada, por fim, obviamente, é aquela que fora objeto de recurso e, ao 
final, teve o seu mérito reformado pela instância superior, ou revisora. 
 
 
2.1.10 SENTENÇA CONTENCIOSA E SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA 
 
 
Sentença contenciosa decorre daquelas demandas em que houve, efetivamente, 
oposição da parte contrária. 
 
Sentença homologatória, de outro lado, é aquela em que o Estado referenda os 
atos praticados pelas partes, podendo, inclusive, surgir de manifestação posterior à 
instituição da jurisdição contenciosa. 
 
 
2.1.11 SENTENÇA NULA, ANULATÓRIA E DE NULIDADE 
 
 
Conforme se depreende dos arts. 166 e 1716 do Código Civil, o objeto da sentença 
anulatória será a nulidade ou a anulação de um, ou vários, ato jurídico. 
 
Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá (SLAIBI FILHO, 2013, p. 247) apontam, 
também, que em se tratando de ação proposta à invalidação de um ato judicial, sua 
sentença será sempre anulatória e não declarativa de nulidade, porque os atos estatais 
possuem presunção de legitimidade ou veracidade. 
 
Nessas linhas, destacam a súmula 473 do Superior Tribunal de Justiça: 
 
“A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios 
que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, 
 
6 Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: 
(...) 
Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: 
(...) 
16 
por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos 
adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial.” 
 
De outro lado, diferentemente da sentença anulatória ou de nulidade, voltadas à 
análise de mérito do ato guerreado, a sentença nula decore de error in procedendo, eis que 
inobservada determinada prescrição procedimental. 
 
 
2.1.12 SENTENÇA RESCIDENDA 
 
 
Sentença rescindenda é aquele que conhece o mérito do objeto da ação rescisória 
(art. 485 do Código de Processo Civil), ação autônoma de impugnação, em que se busca, 
além da rescisão (ou extinção dos efeitos) da sentença anterior, novo julgamento para a 
causa. 
 
Anotamos, ainda, que no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis Estaduais, 
regulados pela Lei Federal nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, não cabe ação rescisória, 
por expressa disposição legal7, da qual não teceremos maiores comentários, eis que não é o 
objeto da presente, embora façamos constar, apenas, que, a nosso ver, o legislador fez mal, 
muito mal, ao vedar o referido instituto. 
 
 
2.1.13 SENTENÇA ATRIBUTIVA DE DIREITOS 
 
 
Conforme veremos a seguir, sentença atributiva de direito é outra denominação das 
sentenças constitutivas positivas. 
 
 
2.1.14 SENTENÇA LÍQUIDA, ILÍQUIDA, LIQUIDADA E LIQUIDANDA 
 
 
“Sentença líquida é a que determinada, em seu dispositivo, a extensão da 
prestação (...)”.(SLAIBI FILHO, 2013, p. 247) 
 
 
7 Art. 59. Não se admitirá ação rescisória nas causas sujeitas ao procedimento instituído por esta Lei. 
17 
Sentença ilíquida, de outro lado, é aquela em que não está determinada a extensão 
da prestação, necessitando, de posterior liquidação, cujo procedimento é regulado pelos 
arts. 475-A a 475-H do Código de Processo Civil. 
 
Sentença liquidanda é aquela objeto da liquidação e a sentença liquidada é aquela 
que já foi objeto do procedimento de liquidação e, portanto, dar-se-á início à fase da sua 
execução, regulada pelos arts. 475-I a 475-R do Código de Processo Civil. 
 
 
2.1.15 SENTENÇA PROCEDENTE OU DE RECEBIMENTO, SENTENÇA 
IMPROCEDENTE OU DE REJEIÇÃO 
 
 
Sentença procedente ou de recebimento é aquela que acolhe os pedidos do autor, 
no todo ou em parte (quando será parcialmente procedente), enquanto sentença 
improcedente ou de rejeição é aquela que rejeita os pleitos autorais. 
 
 
2.1.16 PRINCIPAIS EFEITOS DA SENTENÇA 
 
 
Nagib Slaibi Filho e Romar Navarro de Sá, aduzem que “A doutrina denomina 
efeitos principais da sentença à sua eficácia na transformação da realidade – declarar, 
constituir, condenar etc.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 248) 
 
Contudo, cumpre observar que a os ditos efeitos principais da sentença, na 
verdade, são os próprios efeitos da pretensão da demanda. 
 
 
2.2 CLASSIFICAÇÃO TERNÁRIA OU QUINÁRIA DAS AÇÕES 
 
 
A doutrina majoritária divide as ações em relação ao direito material que elas põem 
em vigor. Referida posição divide as ações em três classificações: 
 
“ações de conhecimento (ou ações cognitivas), em que busca a 
substituição, pelo órgão judicial, da manifestação da vontade da parte 
(ações declaratórias, constitutivas e condenatórias); ações executivas (ou 
de execução forçada ou executórias) em que se pretende a substituição da 
18 
atividade da parte pelo órgão judicial (dar, fazer ou não fazer) e ações 
cautelares (decorrentes de pretensões às medidas acautelatórias ou 
conservadoras, expedidas de se declarar a vontade da lei de forma 
definitiva).” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 253) 
 
Influenciados por Pontes de Miranda, adotaremos a classificação quinaria das 
ações (declarativas, constitutivas, condenatórias, mandamentais e executivas) para, com 
isso, verificar cada efeito da sentença e, ao fim, sua correlação com seus capítulos e os 
efeitos do recurso de apelação. 
 
 
2.3 SENTENÇA DECLARATÓRIA 
 
 
2.3.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA DECLARATÓRIA 
 
 
O efeito próprio da sentença declaratória ou declarativa é reconhecer a existência 
ou a inexistência de uma relação jurídica. 
 
A esse título, o art. 4º do Código de Processo Civil diz que “Art. 4º O interesse do 
autor pode limitar-se à declaração: I - da existência ou da inexistência de relação jurídica; II - 
da autenticidade ou falsidade de documento. Parágrafo único. É admissível a ação 
declaratória, ainda que tenha ocorrido a violação do direito.”. 
 
Nagib Slaibi Filo e Romar Navarro de Sá aduzem que “Na declaratória positiva, o 
juiz reconhece a existência da relação jurídica, enquanto na declaratória negativa 
reconhece-se que inexiste o vínculo.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 255) 
 
Referidos doutrinadores apontam, ainda, que: 
 
 
“a ação declaratória independe de determinada situação fática, o que ali 
consta é que não é necessária a violação da pretensão para o interesse à 
ação declaratória – mas, no mínimo, é necessário que se demonstre a 
situação fática de incerteza ou de dúvida para que haja o interesse à ação. 
Basta a incerteza para a ação declaratória. Se houver violação de direito, 
busca=se seu ressarcimento através da ação condenatória. Na mesma linha 
de raciocínio, se tenho sentença judicial declarando que o demandado é 
responsável pelo dano que sofri, não significa, aí que possa executá-lo, eis 
que falta a condenação no ressarcimento. Se a sentença constitutiva é um 
plus à declaratória, já a condenatória constitui a obrigação pela qual o dano 
será ressarcido. 
19 
A sentença declaratória é lei entre as partes, como esclarecimento de 
situação, mas não tem força para constituir nova situação jurídica (como as 
constitutivas) nem constituir obrigação (como as condenatórias), ou autoriza 
constrição por ato do juízo (as executivas) ou, finalmente, não tem o poder 
de mandar que se faça algo (como as mandamentais).” (SLAIBI FILHO, 
2013, p. 256) 
 
Contudo, a referida dúvida “tem que ser jurídica,isto é, relativa a direito ou às 
obrigações; e atual, isto é, já existente e não só possível.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 257) 
 
Importante anotar, por fim, que as ações declaratórias, além de resolver a dúvida, 
são úteis à paz social, desenvolvendo as relações econômicas e sociais e prevenindo 
litígios. 
 
 
2.3.2 ESPÉCIES DE SENTENÇA DECLARATÓRIA 
 
 
2.3.2.1 DECLARATÓRIA POSITIVA 
 
 
Como dissemos anteriormente, sentença declaratória positiva é aquela que busca 
conhecer a existência de uma relação jurídica. 
 
Consoante dispõe o art. 333, I8 do Código de Processo Civil, o ônus da prova, 
nessas ações, é sempre do autor. 
 
 
2.3.2.2 DECLARATÓRIA NEGATIVA 
 
 
De outro lado, a sentença declaratória negativa é aquela que busca conhecer a 
inexistência de uma relação jurídica. 
 
Diante da impossibilidade de se produzir prova negativa, nessas demandas caberá 
ao réu provar a o fato que o autor diz não ter existido. 
 
 
8 Art. 333. O ônus da prova incumbe: 
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito; 
20 
Também será sentença declaratória negativa aquela que julgar a demanda 
improcedente, eis que inexistente o pedido autoral. 
 
 
2.3.2.3 DECLARATÓRIA INCIDENTAL 
 
Nagib Slaibi Filo e Romar Navarro de Sá lecionam que 
 
“A ação declaratória incidental é ação acessória, entre as mesmas partes da 
ação cujo objeto de pedido é declarar a existência ou a inexistência de 
relação jurídica que, por si só, é questão prejudicial naquela ação principal. 
[...] 
Busca o demandante, na declaratória incidental, revestir, com manto da 
coisa julgada, a decisão sobre a questão prejudicial posta na ação 
principal.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 267) 
 
Em que pese o silêncio do art. 5º9 do Código de Processo Civil acerca do prazo 
para a formulação da declaratória incidental, há quem sustente que a declaratória incidental 
deve ser pleiteada pelo autor sempre na primeira oportunidade em que puder falar, ou seja, 
na própria inicial ou na réplica, conforme disciplina o art. 325 do referido diploma legal, e 
pelo réu no prazo para responder à ação. 
 
Uma vez que a declaratória incidental é acessória e conexa à principal, será julgada 
pela mesma sentença que julgar a principal, sendo, portanto, recorrível pelo mesmo recurso. 
 
 
2.4 SENTENÇA CONSTITUTIVA 
 
 
2.4.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA CONSTITUTIVA 
 
Nagib Slaibi Filo e Romar Navarro de Sá pontuam que 
 
“O que é essencial, quanto aos efeitos da sentença constitutiva, é a 
capacidade de produzir um estado jurídico que antes da sentença não 
existia. 
[...] 
 
9 Art. 5º Se, no curso do processo, se tornar litigiosa relação jurídica de cuja existência ou inexistência 
depender o julgamento da lide, qualquer das partes poderá requerer que o juiz a declare por 
sentença. 
Art. 325. Contestando o réu o direito que constitui fundamento do pedido, o autor poderá requerer, no 
prazo de 10 (dez) dias, que sobre ele o juiz profira sentença incidente, se da declaração da existência 
ou da inexistência do direito depender, no todo ou em parte, o julgamento da lide (art. 5o). 
21 
Enquanto a declaratória simplesmente atesta a existência ou a inexistência 
de relação jurídica, a sentença constitutiva cria, modifica ou extingue tal 
relação jurídica. É, assim, a constitutiva, um plus à sentença declaratória, 
mas é um minus com referência à condenatória, eis que não cria, como 
esta, uma prestação de dar, fazer ou não fazer.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 
275) 
 
A sentença constitutiva, portanto, não extingue um direito, transforma a conduta das 
pessoas em face de um novo regime jurídico. 
 
 
2.4.2 EFEITOS EX NUNC DA SENTENÇA CONSTITUTIVA 
 
 
Diferentemente da sentença declaratória, a sentença constitutiva possui efeitos ex 
nunc, pois é a partir da sua prolação, via de regra, que modifica o mundo jurídico. 
 
 
2.4.3 A SENTENÇA CONSTITUTIVA E A SUA “EXECUÇÃO” 
 
 
A rigor, a sentença constitutiva não necessita de execução, não ao menos no 
sentido das próprias ações de execução, em caso de inexecução do devedor. 
 
Exatamente por isso 
 
 
“a sentença constitutiva, por si só, tem o condão de alterar o mundo jurídico, 
de transformar a realidade (ao menos a realidade no mundo jurídico), e 
eventual complementação de atos é simplesmente decorrentes dessa 
capacidade de transformação. Por exemplo, em sentença que decretou o 
despejo, a execução do despejo é, praticamente, a natural decorrência da 
extinção da locação”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 277) 
 
 
2.4.4 ESPÉCIES DE SENTENÇAS CONSTITUTIVAS 
 
 
Tal qual às sentenças declaratórias, as sentenças constitutivas podem ser 
positivas, modificativas e constitutivas negativas (ou desconstitutivas). 
 
22 
Via de regra, as sentenças modificativas são incorporadas às positivas, ambas se 
contrapondo às sentenças desconstitutivas, que se prestam à extinguir a relação jurídica. 
 
 
2.5 SENTENÇA CONDENATÓRIA 
 
 
2.5.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA CONDENATÓRIA 
 
 
“As sentenças condenatórias são todas aquelas que impõem o cumprimento de 
uma prestação, seja em sentido positivo (dar coisa, fazer), sem em sentido negativo (não 
fazer).” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 309) 
 
Assim, o pressuposto básico da ação condenatória é a existência de dano a ser 
reparado. 
 
Na linha do que dissemos anteriormente, a sentença condenatória abrange a 
sentença declaratória (da violação do direito) e a constitutiva (ao criar a obrigação através 
de cujo cumprimento haverá a reparação), ao fim de condenar o réu (em um obrigação 
típica – dar coisa, fazer ou não fazer –, ainda que ilíquida). 
 
“Há, também, na condenatória, o aspecto mandamental (ao determinar que o 
devedor a cumpra) e o aspecto executivo (com peso inferior ao da declaração), o qual 
incidira em fase de cumprimento, se não houver, pelo sucumbente, o pagamento 
espontâneo.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 310) 
 
 
2.5.2 CLÁUSULA DA RESTITUTIO IN INTEGRUM 
 
Tendo em vista o próprio objeto da sentença condenatória, a reparação deve ser 
completa e total, abrangendo todas as consequências do dano, observando, ainda, eventual 
concorrência do autor para a sua agravação, consoante dispõem os arts. 186, 927, 944 e 
94510 do Código Civil. 
 
10 Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e 
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. 
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. 
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 
23 
 
De outro lado, cumpre observar que a indenização depende, sempre, de pedido 
expresso do Autor, eis que é vedado ao juiz condenar o réu em quantia superior do que foi 
pedido, conforme disciplina o art. 46011 do Código de Processo Civil. 
 
 
2.6 SENTENÇA EXECUTIVA 
 
 
2.6.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA EXECUTIVA 
 
 
“Enquanto as ações de conhecimento (ou cognitivas) visam a substituir a 
manifestação de vontade negada pelo demandado [...], as ações executivas realizam 
materialmente a transformação da realidade, substituindo a atividade ou a conduta negada 
pelo demandado.” (SLAIBI FILHO, 2013, p. 343) 
 
A doutrina divide o momento em que há a transformação material da realidade sob 
duas óticas, a primeira no processo sincrético (título executivo judicial), durante a fase de 
cumprimento da sentença (condenatória), e a segunda no processo de execução forçada 
(título executivo extrajudicial), em processo autônomo, anotando, ainda, que a grande 
distinção entre os títulos judiciais e extrajudiciais, quanto à execução, refere-se ao modo 
pelos quais são atacadas, na maior ou menor extensão das matérias que podem propiciar 
ao demandado (e a terceiros) excluir-se dos efeitos da execução forçada. 
 
 
2.6.2 EXECUÇÃO NO INTERESSE DA SATISFAÇÃO DO CRÉDITO 
 
 
Ante a inexistência de conhecimento do mérito nos processos de execução, 
importante consignar que a atividade executivase faz no interesse da satisfação do crédito, 
decorrente de expressa previsão legal: 
 
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o dano, poderá o 
juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização. 
Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será 
fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano. 
11 Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem 
como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado. 
Parágrafo único. A sentença deve ser certa, ainda quando decida relação jurídica condicional. 
24 
 
“Art. 612. Ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o 
concurso universal (art. 751, III), realiza-se a execução no interesse do 
credor, que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens 
penhorados.” 
 
Ainda quanto aos ônus do credor, a inércia do credor não é causa suficiente à 
extinção do processo. Contudo, deve o credor zelar pela execução menos gravosa ao 
devedor, sob pena de abusar do seu direito de execução, extrapolando os limites impostos 
pelo art. 62012 da lei processual. 
 
 
2.7 SENTENÇA MANDAMENTAL 
 
 
2.7.1 CONTEÚDO DA SENTENÇA MANDAMENTAL 
 
 
Como expusemos anteriormente, vide item 2.2, apenas uma pequena parcela da 
doutrina admite a existência das sentenças mandamentais, “que se se busca o provimento 
jurisdicional que tenha ‘por fito preponderante que alguma pessoa atenda, imediatamente, 
ao que o Juízo manda’.”. (SLAIBI FILHO, 2013, p. 361) 
 
Importante consignar aqui que, diferentemente do que ocorre na sentença 
executiva, a sentença mandamental não substitui a vontade da parte, mas manda ou impõe 
a determinada conduta ao réu, notadamente para que faça, ou deixe de fazer. 
 
 
2.7.2 PENA PELO DESCUMPRIMENTO DO MANDAMENTO JUDICIAL 
 
 
Não apenas na sentença mandamental, mas também na sentença executiva, o 
Código de Processo Civil criou algumas penalidades ao devedor que não atender ao 
comando normativo como meio de coerção para, ao final, satisfazer rapidamente o próprio 
direito material posto em debate. 
 
 
12 Art. 620. Quando por vários meios o credor puder promover a execução, o juiz mandará que se 
faça pelo modo menos gravoso para o devedor. 
25 
Importante consignar, também, que o comando pode, inclusive, atingir terceiros, de 
onde anotamos, ainda, que tanto o devedor como o terceiro atingido podem praticar o crime 
de desobediência caso não cumpram imediatamente, o disposto na sentença mandamental. 
 
 
2.8 SENTENÇA CAUTELAR 
 
 
2.8.1 CONTEÚDO E CARACTERÍSTICAS DO PROVIMENTO CAUTELAR 
 
 
Os provimentos cautelares, por excelência, visam evitar o perecimento 
(preventividade) do direito em detrimento do tempo exigido para a realização do processo 
até que se alcance uma decisão definitiva (provisoriedade). Exatamente por isso, conforme 
veremos a seguir, a sentença que decide o processo cautelar é uma das hipóteses em que 
o recurso de apelação é, via de regra, recebido apenas no efeito devolutivo. 
 
Assim, tendo em vista a delimitação do prazo de vigência do provimento cautelar, 
diz-se que o processo cautelar tem caráter acessório ao principal, quer seja antes da 
instauração do próprio processo principal (preparatório), quer seja durante a pendência do 
processo principal (incidental). 
 
No entanto, não podemos esquecer que, independente do caráter acessório em 
relação ao processo principal, o processo cautelar possui autonomia própria, eis que o 
pedido e a causa de pedir de ambas as ações não se confundem, ainda que, ao final, por 
excelência, sejam julgados concomitante. 
 
 
2.8.2 PRESSUPOSTOS DA TUTELA CAUTELAR 
 
 
2.8.2.1 IMINÊCIA DE DANO IRREPARÁVEL (URGÊNCIA) 
 
 
O art. 798 do Código de Processo Civil estatui que os procedimentos cautelares 
(típicos – aqueles arrolados pelo referido diploma – ou atípicos – não previstos pela lei 
processual –) têm lugar quando se verificar o periculum in mora, ou em outras palavras, 
26 
“quando houver fundado receio de que uma parte, antes do julgamento da lide, cause ao 
direito da outra lesão grave e de difícil reparação.”. 
 
 
2.8.2.2 IMINÊCIA DE DANO IRREPARÁVEL (URGÊNCIA) 
 
 
Além da configuração do periculum in mora, deve restar configurado, também, o 
fumus boni júri, que é a “fumaça do bom direito”, ou melhor, a plausibilidade do direito 
invocado, ainda que analisada em cognição sumária, eis que é da própria essência das 
cautelares a sua provisoriedade. 
 
 
2.8.2.3 PROPORCIONALIDADE ENTRE O DANO INVOCADO E O DANO QUE 
PODERIA SER CAUSADO COM A CONCESSÃO DA CAUTELAR 
 
 
Em vista à possibilidade de dano irreparável ou de difícil reparação ao autor, deve-
se atentar, também, a impossibilidade de se inverter o referido dano ao réu, consoante 
dispõem os §§ 2º e 7º do art. 27313 do Código de Processo Civil, também aplicável aos 
procedimentos cautelares, uma vez que os procedimentos têm a mesma natureza 
acautelatória. 
 
 
2.8.3 ÂMBITO DO PROVIMENTO CAUTELAR 
 
 
Dispõe o art. 798 do Código de Processo Civil que o juiz poderá “determinar as 
medidas provisórias que julgar adequadas”. 
 
13 Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da 
tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da 
verossimilhança da alegação e: 
I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; 
II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. 
[...] 
§ 2o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do 
provimento antecipado. 
[...] 
§ 7o Se o autor, a título de antecipação de tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá o 
juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em caráter incidental 
do processo ajuizado. 
27 
 
Entretanto, Nagib Slaibi Filo e Romar Navarro de Sá (2013, p. 401) anotam que: 
 
“Não pode o juiz agir de ofício, concedendo medida cautelar sem 
requerimento da parte, nem se aplica, em sede cautelar, o princípio da 
fungibilidade, isto é, se o requerente pediu a cautela X não pode o juiz 
conceder-lhe Y, pois estaria, ainda aí, julgando extra petita, embora possa, 
obviamente, nos limites do que se requereu, conceder menos do que 
solicitado.” 
 
Nós, contudo, não compartilhamos do entendimento dos referidos juristas, eis que 
adotamos uma interpretação mais extensiva do art. 798 da lei processual, sendo lícito ao 
juiz deferir medida cautelar distinta da pedida, especialmente pelo fato de existirem 
inúmeras medidas inominadas, o que pode levar o aplicador do direito a formular, 
incorretamente, pedido distinto do realmente pretendido. 
 
28 
3 TEORIA DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA 
 
 
3.1 ESTRUTURA DA SENTEÇA 
 
 
A sentença, segundo dispõe o art. 458 do Código de Processo Civil, é formada, 
essencialmente, por três requisitos: (i) relatório; (ii) fundamentação e (iii) dispositivo. 
 
O relatório, segundo o inciso I do art. 458 da lei processual, “conterá os nomes das 
partes, a suma do pedido e da resposta do réu, bem como o registro das principais 
ocorrências havidas no andamento do processo.”. 
 
Aqui, deve o juiz, atentando-se aos fatos narrados, descrevê-los, por excelência, 
em ordem cronológica, apontando, apenas, o que foi relevante e que, ao final, influenciará 
na sentença. 
 
Daí a afirmação de que o relatório contém um evidente nexo lógico – constituirá o 
suporte fático do fundamento da decisão. 
 
Nesse sentido, entendemos fundamentação como o fator de legitimação do 
exercício do poder estatal, eis que é o conjunto das razões que levaram à decisão. 
Concomitante à fundamentação, diz-se que as sentenças devem ser motivadas, que é o 
conjunto de elementos fáticos ejurídicos que levaram à decisão. 
 
Tendo em vista a tecnicidade ínsita à fundamentação e a motivação, o relatório não 
obedecerá a cronologia dos fatos, mas obedecerá à lógica. 
 
Nessas linhas, não apenas o réu, mas também o juiz deverá, ater-se, 
preliminarmente, às questões prejudiciais de mérito, tal qual aquelas dispostas no art. 30114 
do Código de Processo Civil. 
 
14 Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar: 
I - inexistência ou nulidade da citação; 
II - incompetência absoluta; 
III - inépcia da petição inicial; 
IV - perempção; 
V - litispendência; 
Vl - coisa julgada; VII - conexão; 
Vlll - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; 
29 
 
No tocante às questões de mérito, o juiz deverá, primordialmente, conhecer do 
principal para, em seguida, conhecer os pedidos sucessivos, anotando, ainda, as hipóteses 
em que os pedidos serão alternativos (quando o devedor puder cumprir a prestação de mais 
de um modo), para, ao final, conhecer os pedidos acessórios, p. ex. condenação ao 
pagamento de sucumbência. 
 
Anotamos, no mais, que pode a sentença ser concisa, consoante disciplina o art. 
459 do Código de Processo Civil, sem que isso importe qualquer violação ao disposto pelo 
art. 458, eis que não haverá supressão de qualquer dos elementos essenciais da sentença, 
mas, tão somente, a concisão dos seus fundamentos, notadamente nos casos em que a 
sentença julgar a demanda extinta, sem resolução do mérito, porque não há julgamento 
sobre o direito material posto em debate. 
 
Por fim, o dispositivo, conclusão ou determinação, é a parte da sentença em que se 
decide, efetivamente a causa. Decide a causa porque expressa o comando estatal que 
encerra o processo, com ou sem resolução do mérito. 
 
Evidentemente, não restam dúvidas da congruência entre o relatório, a 
fundamentação e, por fim, do dispositivo, sob pena de a sentença sujeitar-se aos embargos 
de declaração. 
 
3.2 TEORIA DOS CAPÍTULOS DA SENTENÇA 
 
Consoante dissemos anteriormente (vide item nº 1), dificilmente uma sentença 
contém o julgamento de uma só pretensão. 
 
Cândido Rangel Dinamarco (2013, p. 11) anota que 
 
 
IX - convenção de arbitragem; 
X - carência de ação; 
Xl - falta de caução ou de outra prestação, que a lei exige como preliminar 
§ 1o Verifica-se a litispendência ou a coisa julgada, quando se reproduz ação anteriormente ajuizada 
§ 2o Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo 
pedido. 
§ 3o Há litispendência, quando se repete ação, que está em curso; há coisa julgada, quando se repete 
ação que já foi decidida por sentença, de que não caiba recurso. 
§ 4o Com exceção do compromisso arbitral, o juiz conhecerá de ofício da matéria enumerada neste 
artigo. 
30 
“Como se verá, porém, a teoria dos capítulos de sentença constrói-se sobre 
a dualidade ou pluralidade de preceitos concretos contidos no decisório da 
sentença e não sobre a dualidade ou pluralidade de seus fundamentos, 
porque lá reside sua grande utilidade sistemática e prática, e não aqui”. 
 
Referido jurista, conforme fizemos acima, apresenta os elementos formais da 
sentença para, ao final, contrapondo inúmeros outros juristas, aduzir que: 
 
“São de notória relevância apenas os cortes feitos no decisório da sentença, 
mediante a identificação e isolamento de capítulos portadores de preceitos 
concretos e de imperativa eficácia prática. Esse capítulos serão 
homogêneos, quando todos contiverem exclusivamente pronunciamentos 
sobre o objeto do processo, ou meritum causae, resolvendo-se em 
segmentos da decisão sobre as pretensões contrapostas das partes; ou 
heterogêneos, se incluírem em primeiro lugar a explícita afirmação do direito 
do demandante ao julgamento do mérito, e, em seguida, o julgamento do 
mérito mesmo (infra, n. 35). 
A configuração dos capítulos de sentença segundo o modo-de-ser do direito 
brasileiro corresponde substancialmente à que fora proposta por Enrico 
Tullio Liebman em seu famoso ensaio. Cada capítulo do decisório, quer 
todos de mérito, quer heterogêneos, é uma unidade elementar autônoma, 
no sentido de que cada um deles expressa uma deliberação específica; 
cada uma dessas deliberações é distinta das contidas nos demais capítulos 
e resulta da verificação de pressupostos próprios, que não se confundem 
com os pressupostos das outras. Nesse plano a autonomia dos diversos 
capítulos de sentença revela apenas um distinção funcional entre eles, sem 
que necessariamente todos sejam portadores de aptidão a constituir objeto 
de julgamentos separados, em processos distintos e mediante mais de uma 
sentença: a autonomia absoluta só se dá entre os capítulos de mérito, não 
porém em relação ao que contém julgamento da pretensão ao julgamento 
deste (capítulo que aprecia preliminares – supra, n. 7). Na teoria dos 
capítulo de sentença autonomia não é sinônimo de independência, havendo 
capítulos que comportam julgamento em outro processo e também, em 
alguns casos, um capítulo que não o comportaria (o que rejeita 
preliminares).” (DINAMARCO, 2013, p. 35) 
 
Cândido conclui sua exposição aduzindo que “É no isolamento dos diversos 
segmentos do decisório que residem critérios aptos a orientar diretamente a solução dos 
diversos problemas já arrolados, quer no tocante aos recursos, quer em todas as demais 
áreas de relevância, já indicadas”. (DINAMARCO, 2013, p. 36) 
 
Nós, contudo, não compartilhamos de Dinamarco, aproximando-nos dos conceitos 
de Sergio Costa, Andrioli, Allorio, que sustentam que a motivação e o decisório integram os 
capítulos da sentença. 
 
Sabemos que são inúmeras as críticas formuladas contra a teoria ora adotada, 
notadamente a ausência de coisa julgada aos motivos, especialmente pelo disposto no art. 
469 do Código de Processo Civil: 
 
31 
 
Art. 469. Não fazem coisa julgada: 
I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte 
dispositiva da sentença; 
Il - a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença; 
III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no 
processo. 
 
 
Contudo, salvo melhor juízo, entendemos que os legisladores fizeram mal ao 
impossibilitar o trânsito em julgado dos fatos e dos motivos, eis que relacionam-se 
diretamente aos elementos da ação: (i) partes; (ii) causa de pedir e (iii) pedido, e, ao final, 
justificam o princípio da congruência da demanda. 
 
Assim, proposta nova ação em relação aos mesmos fatos, deve o juiz decidir a 
causa com base na mesma motivação, proferindo, ao final, o dispositivo da ação, para que 
se alcance o fim prático almejado, tudo porque a sentença nada é senão a decorrência 
lógica dos seus elementos estruturais. 
 
Destacamos, ainda, que tal justificativa se aplica, inclusive, a previsibilidade dos 
embargos de declaração, eis que, embora constantes no capítulo dos recursos, se prestam 
à complementar a sentença (e demais atos decisórios). 
 
 
32 
4 TEORIA GERAL DOS RECURSOS E DO RECURSO DE APELAÇÃO 
 
 
4.1 CONCEITO DE RECURSO 
 
 
Apresentada, em breves linhas, a teoria dos capítulos da sentença, cumpre-nos, 
agora, apresentar, rapidamente, a teoria geral dos recursos e do próprio recurso de 
apelação. 
 
Nesse sentido, Barbosa Moreira estatui que “pode-se conceituar recurso, no direito 
processual civil brasileiro, como o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo 
processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integral da decisão que se 
impugna.” (2006, p. 233). 
 
Miranda e Pizzol (2009, p. 35), dissecando o conceito de Barbosa Moreira apontam, 
ainda, as seguintes características dos recursos: 
 
 
(a) remédio – porque se trata de ‘instrumento processual destinado a 
corrigir um desvio jurídico, em vez de apenas constatá-lo e tirar as suas 
consequências’; (b) voluntário – não há recurso ‘de ofício’, obrigatório; faz-
se mister sua interposição por um doslegitimados do art. 199 do CPC 
(como veremos a seguir, o reexame obrigatório ou remessa ex officio não 
tem natureza jurídica de recurso, embora seja assim tratado por boa parte 
da doutrina); (c) dentro do mesmo processo – a interposição de recurso 
não enseja a formação de outro processo, mas tão-somente provoca a 
extensão do processo em curso, no qual foi proferida a decisão impugnada 
(essa característica é importante para a distinção entre recurso e outros 
meios de impugnação dos atos judiciais, bem como para a definição da 
natureza jurídica do recurso, isto é, ação autônoma ou extensão do direito 
de ação); (d) reforma – error in judicando, isto é, vício que se refere à 
essência da decisão judicial, tornando-a injusta – ‘nova formulação jurídica, 
diferente daquela do órgão recorrido para a situação submetida ao debate 
judicial (CASSAÇÃO = SUBSTITUIÇÃO – CPC, art. 512)’; (e) invalidação – 
error in procedendo, ou seja, vício processual, em regra – ‘cassação do ato 
recorrido, a fim de que outro seja proferido pelo mesmo órgão do qual 
emanou (não há substituição, pois esta implicaria a supressão de um grau 
de jurisdição)’; (f) esclarecimento ou integração – embargos de 
declaração, cuja finalidade não é, em tese, a modificação da decisão judicial 
impugnada (art. 536, CPC); (g) decisão judicial – a lei processual, em seu 
art. 162, § 1º e 2º, ao conceituar sentença e decisão interlocutória fala em 
‘ato judicial’; devemos ler tal expressão, entretanto, como ‘pronunciamento 
judicial’, uma vez que a primeira é por demais ampla, abrangendo não 
apenas os pronunciamentos (sentenças, decisões interlocutórias e 
despachos), mas também atos judiciais que não se enquadram nessas três 
espécies, como, por exemplo, o de inquirição de testemunha. E mais: ao 
usar o autor a expressão ‘decisões judiciais’, quis ele se referir às decisões 
33 
genericamente consideradas (pronunciamentos que apresentam caráter 
decisório – sentenças e decisões interlocutórias) e não apenas às ultimas 
(espécie daquele gênero mais amplo). 
 
 
Martha Rosinha anota, por fim, que “Recorrer é um ônus. O que caracteriza o ônus 
é que a atividade a que corresponde o ônus é desempenhada por quem com isso se 
beneficia, e não o outro pólo como ocorre com a obrigação. A omissão no exercício do ônus 
acarreta o sacrifício do interesse daqueles que se omitiu.” (2012, p. 52). 
 
 
4.2 PRINCÍPIOS RECURSAIS 
 
 
4.2.1 DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO 
 
 
Nelson Nery Junior estatui que o princípio do duplo grau de jurisdição “tem íntima 
relação com a preocupação dos ordenamentos jurídicos em evitar a possibilidade de haver 
abuso de poder por parte do juiz, o que poderia em tese ocorrer se não estivesse a decisão 
sujeito à revisão por outro órgão do Poder Judiciário”. (p. 39) 
 
Nessa linha de raciocínio, o princípio do duplo grau “é, por assim dizer, garantia 
fundamental de boa justiça.”. 
 
Consoante Flávio Cheim Jorge (2007, pp. 170-171) observou, 
 
“Não há muita harmonia no conceito de duplo grau jurisdição, 
especificamente no que diz respeito À necessidade de o segunda exame 
ser feito por um órgão de hierarquia superior. 
Uma corrente sustenta que o duplo grau de jurisdição está presente quando 
se garante um outro exame a respeito da causa, mesmo que essa segunda 
análise seja feita por um órgão de mesma hierarquia. Como diz Liebman, 
não fazendo referência a órgãos de hierarquia diferentes, o ‘duplo grau 
exige que o mérito da causa possa ser apreciado e julgado – ‘no seu 
conjunto’ – duas vezes por juízes diversos, não porém, que todas as 
questões discutidas, e cada uma delas, sejam decididas duas vezes 
sucessivamente’. 
A outra corrente ente que o duplo grau estará presente quando for possível 
o reexame da pretensão das partes por um órgão de hierarquia superior à 
daquele que julgou a causa. 
[...] 
Como diz Barbosa Moreira, desse princípio ‘decorre a necessidade de 
permitir-se nova apreciação da causa, por órgão situado em nível superior 
na hierarquia judiciária, mediante a interposição de recurso ou expediente 
34 
análogo – como, no sistema do Código de 1973, o contemplado no art. 475 
–, após a primeira decisão’. 
Acreditamos, na esteira de Barbosa Moreira, Moacyr Amara Santos e 
Rogério Lauria Tucci, que o simples reexame da causa não permite concluir 
pela existência do duplo grua de jurisdição, sendo imprescindível que a 
segunda análise seja feita por um órgão de hierarquia superior.” 
 
 
Nelson Nery Júnior e Araken de Assis, de outro lado, discordam do posicionamento 
de Flávio, de onde anotamos as valorosas palavras de Assis (2007, p. 69), para quem 
 
 
“Todo cuidado é pouco na questão terminológica inserida na clássica 
expressão ‘duplo grau’. Entre nós, a jurisdição revela-se imune a grau. O 
direito brasileiro adotou o princípio da unidade jurisdicional. A separação 
baseia-se na hierarquia, e não na qualidade intrínseca do corpo julgador. 
Neste sentido, a consagrada nomenclatura – duplo grau –, induzindo a idéia 
de pluralidade de jurisdições, revela-se imprópria.” 
 
 
Exatamente por isso, Assis (2007, p. 75) completa que “O princípio do duplo grau 
enseja nova apreciação do ato decisório por um órgão situado em nível superior da 
hierarquia judiciária, no chamado duplo grau vertical, ou por outro órgão da mesma 
hierarquia, mas de composição diversa, no chamado duplo grau horizontal.” 
 
Assim, para não nos alongarmos na presente análise, eis que poderíamos 
questionar (i) a retidão do Código de Processo Civil ao possibilitar o órgão ad quem de 
realizar o julgamento de questão não conhecida pelo órgão a quo, mas intimamente ligado 
ao bojo do recurso15; ou, ainda, (ii) o desvirtuamento do duplo grau de jurisdição, com a 
criação de dois tribunais de superposição (Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de 
Justiça) 16, talvez a denominação mais correta para este princípio seja “princípio da revisão 
colegiada”. 
 
 
4.2.2 TAXATIVIDADE 
 
 
Entende-se, pelo princípio da taxatividade, que não é lícito às partes adotarem (ou 
criarem) qualquer recurso que não aqueles previstos, expressamente na lei federal. 
 
15 NERY JUNIOR, Nelson, Teoria geral dos recursos – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p 45-
48. 
16 ASSIS, Araken de, Manual dos recurso – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007, p. 77. 
35 
 
Assis (2007, p. 78) anota que “Só a lei federal, então, pode disciplinar os recursos, 
no uso da competência legislativa estipulada no art. 22, I da CF/1998, e, por conseguinte, 
sua tipificação é predeterminada. Ao princípio segundo o qual a existência dos recursos se 
subordina expressamente a expressa previsão legal, ainda que não seja a do estatuto de 
processo.” 
 
 
4.2.3 SINGULARIDADE 
 
 
Também denominado de princípio da unirrecorribilidade, ou da unicidade, o 
princípio da singularidade estatui que “para cada ato judicial recorrível há um único recurso 
previsto pelo ordenamento, sendo vedada a interposição simultânea ou cumulativa de mais 
outro visando a impugnação do mesmo ato judicial.”. (NERY, 2004, p.119) 
 
Assis (2007, p. 83) aponta, ainda, que “Omisso que seja o CPC de 1939 quanto à 
enunciação do princípio, entende-se que o estatuto vigente adotou- implicitamente, por 
intermédio da correlação entre os atos decisórios do primeiro grau, formalmente tipificados 
no art. 162, e as hipóteses rígidas de cabimento, conforme estipulam os arts. 504, 513 e 
522”. 
 
Flávio Cheim Jorge (2007, p. 167), por fim, estatui que esse princípio decorrente da 
incindibilidade das decisões monocráticas e a ocorrência de preclusão consumativa. 
 
 
4.2.4 FUNGIBILIDADE 
 
 
Na esteira dos princípios da taxatividade e da singularidade, surge o princípio da 
fungibilidade, segundo o qual pode, eventualmente, uma “parte interpor um recurso que não 
seja o adequado para aquela decisão que se recorre.” (JORGE, 2007, p. 208) 
 
Nelson Nery Junior (2004, p. 69) observa, ainda, que 
 
 
“Na Exposiçãode Motivos ao CPC de 1973, existe expressa menção ao 
princípio da fungibilidade, adotado pelo código revogado, e, ainda ao fato de 
36 
o novo diploma haver simplificado sobremodo o sistema recursal (itens 31 a 
3). Dessa maneira, deflui daquela exposição a ilação de que o novo código 
não teria necessitado repetir a regra do CPC/39 810, já que pareceria não 
haver dúvida quanto ao cabimento e adequação dos recursos. 
 
A prática tem demonstrado, entretanto, que há muitas dúvidas a respeito da 
adequação recursal no novo sistema processual. Algumas são derivadas 
das imperfeições e impropriedade terminológicas existentes no próprio 
código; outras, de divergências doutrinárias e jurisprudenciais. De qualquer 
sorte, é preciso que se estabeleçam mecanismos capazes de contornar 
esse grave problema, de modo que a parte não fique prejudicada em virtude 
da interposição de um recurso por isso não lhe couber. Este é o escopo 
primeiro do princípio da fungibilidade.” 
 
 
Contudo, impende salientar que, para tanto, faz necessária a constatação de três 
requisitos, a saber: (i) existência de dúvida objetiva e/ou (conforme a doutrina) ausência de 
erro grosseiro e (ii) irrelevância do prazo no recurso próprio (ou prazo menor). 
 
A dúvida objetiva e/ou a ausência de erro grosseiro se verificam quando a doutrina 
e jurisprudência recente divergirem sobre o assunto ou o recurso utilizado atacar, 
frontalmente, disposição legal expressa. 
 
No tocante à irrelevância do prazo no recurso próprio, sustenta-se que o prazo para 
a interposição do recurso utilizado deve ser igual ou inferior ao recurso adequado, a fim de 
que se configure a boa-fé do recorrente. 
 
 
4.2.5 DIALETICIDADE 
 
 
Assis (2007, p.95) leciona, sucintamente, que 
 
 
“Entende-se por princípio da dialeticidade o ônus de o recorrente motivar o 
recurso no ato de interposição. Recurso desprovido de causa hábil para 
subsidiar o pedido de reforma, de invalidação ou de integração do ato 
impugnado, à semelhança da petição que forma o processo, ou através da 
qual partes e terceiros deduzem pretensões, in simultâneo processu, revela-
se inepto. É inadmissível o recurso desacompanhado de razões.” 
 
 
4.2.6 VOLUNTARIEDADE 
 
 
37 
Flávio Cheim Jorge (2007, 165), citando Renzo Provinciali, aduz que o princípio da 
voluntariedade possuir dois elementos essenciais e distintos. O primeiro é o “elemento 
volitivo”, manifestação expressa de irresignação com a decisão recorrida, e o segundo é 
“elemento descritivo”, ou melhor, as próprias razões recursais, que como vimos, é, na 
verdade, o princípio da dialeticidade. 
 
Nelson Nery Junior anota, ainda, que é em razão do princípio da voluntariedade 
que “não se pode conferir à remessa obrigatória o caráter de recurso, pois o juiz não 
manifesta ‘vontade em recorrer’ ao determinar a subida dos autos à superior instância para 
o reexame necessário (CPC 475). 
 
 
4.2.7 PRINCÍPIO DA IRRECORRIBILIDADE EM SEPARADO DAS 
INTERLOCUTÓRIAS 
 
 
Em que pese num primeiro momento influirmos a impossibilidade de o recurso 
contra as decisões ser interposto em incidente autônomo, na verdade, 
 
 
“o que se pretende evitar com a adoção do princípio da irrecorribilidade em 
separa das interlocutórias é que se confira efeito suspensivo ao recurso 
previsto para atacá-las. E é isto o que, precisamente ocorre no direito 
brasileiro, pois o agravo, cabível para impugnar as decisões interlocutórias, 
não tem, em regra, efeito suspensivo.” (NERY, 2004, p. 180) 
 
 
Assim, conforme veremos a seguir, o princípio da irrecorribilidade em separado das 
interlocutórias justifica a preocupação do legislador com a limitação do efeito suspensivo em 
todos os recursos, de onde nos ocuparemos com a sistemática adotada, especificamente, 
em relação ao recurso de apelação. 
 
 
4.2.8 PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE 
 
 
Os atos processuais, via de regra, tornam-se imutáveis após a sua prática. Os 
recursos cíveis, por sua vez, devem, num mesmo ato, serem interpostos e trazerem as 
razões recursais. 
 
38 
Entretanto, tendo em vista que a decisão que originou o recurso pode ser 
modificada depois da interposição do recurso, via de regra em decorrência de outro 
julgamento pretérito, e antes da sua admissibilidade, vige em nosso ordenamento o princípio 
da complementariedade. 
 
Nesse sentido, Nelson Ney Júnior (2004, p. 182) elucida que: 
 
 
“Pelo princípio da complementariedade, o recorrente poderá complementar 
a fundamentação de seu recurso já interposto, se houver alteração ou 
integração da decisão, em virtude de acolhimento de embargos de 
declaração. Não poderá interpor novo recurso, a menos que a decisão 
modificativa ou integrativa altere a natureza do pronunciamento judicial, o 
que se nos afigura difícil de ocorrer.” 
 
 
4.2.9 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEIUS 
 
 
Consoante leciona Nelson Nery Junior (2004, p. 183), 
 
 
“Também chamado de ‘princípio do efeito devolutivo’ e de ‘princípio de 
defesa da coisa julgada parcial’, a proibição da reformatio in peius tem por 
objetivo evitar que o tribunal destinatário do recurso possa decidir de modo 
a piorar a situação do recorrente, ou porque extrapole o âmbito de 
devolutividade fixado com a interposição do recurso, ou, ainda, em virtude 
de não haver recurso da parte contrária.” 
 
 
Nós, contudo, partilhamos dos ensinamentos de Flávio Cheim Jorge (2007, p. 201) 
para quem a proibição da reformatio in peius não se afigura como um princípio recursal, 
mas, em verdade, decorrente de outro princípio: 
 
 
“Essa proibição decorre da incidência natural do princípio dispositivo, 
fazendo com que exista a impossibilidade de o recurso prejudicar a situação 
do próprio recorrente.” 
 
 
Em que pese a divergência dos autores no que toca à classificação da reformatio in 
peius, necessário esclarecer que ambos os doutrinadores são uníssonos em relação à 
aplicabilidade da reformatio in peius na remessa necessária (art. 475 do CPC) porque, como 
39 
vimos, tal expediente não nos afigura recurso, eis que se trata de mera condição de eficácia 
da sentença. 
 
Contudo, observamos que o entendimento do Superior Tribunal de Justiça é diverso 
do aqui sustentado, o que, inclusive, originou edição da súmula nº 45 daquela corte: 
 
 
“No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação 
imposta à Fazenda Pública.” 
 
 
 
40 
5 RECURSO DE APELAÇÃO 
 
 
5.1 INTRODUÇÃO 
 
Como vimos acima, pode-se conceituar recurso, no direito processual civil 
brasileiro, como o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a 
reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integral da decisão que se impugna.” 
(MOREIRA, 2006, p. 233) 
 
O recurso de apelação, por sua vez, é aquele ato apto a atacar a sentença, de 
mérito ou não, conforme dispõe o art. 51317 do Código de Processo Civil. 
 
 
5.2 EFEITOS 
 
 
Via de regra, os recursos cíveis são dotados dos efeitos (i) devolutivo e (ii) 
suspensivo, sendo certo, ainda, que a doutrina pugna pela existência de outros efeitos (p. 
ex. expansivo; translativo; substitutivo; regressivo e diferido). 
 
Em razão da delimitação do tema deste trabalho, ater-nos-emos, apenas, aos 
efeitos devolutivo e suspensivo, anotando, também, que os demais efeitos são decorrentes 
de princípios processuais ou dos próprios efeitos devolutivo e suspensivo. 
 
5.2.1 DEVOLUTIVO 
 
 
Segundo Carvalho Filho (2010, p. 9) “diz respeito ao conhecimento da matéria 
impugnada pelo órgão ad quem para reexame.” Trata-se, verdadeiramente, do 
deslocamento de competência para apreciação das questões recorridas. 
 
Exatamente por isso, necessário ressaltar que “O efeito devolutivo é o único que 
genuinamente poderia ser considerado efeito do recurso, já que corresponde, em qualidade 
e quantidade, àquilo que constitui objeto e razão de ser dos recursos.” (CARVALHO FILHO, 
2010, p. 15-16) 
 
17 Art. 513. Da sentençacaberá apelação (arts. 267 e 269). 
41 
 
Acertadamente, a doutrina observa, ainda, que o efeito devolutivo é a consagração 
do princípio dispositivo, em que o julgador apenas é dado conhecer das matérias 
efetivamente colocadas em litígio. 
 
De qualquer forma, importante consignar, também, que a delimitação da matéria 
impugnada justifica o princípio do tantum devolutum quantum appelatum e, em regra, 
aproveita apenas ao recorrente, em consagração ao princípio da personalidade dos 
recursos. (CARVALHO FILHO, 2010, p. 16) 
 
Com mais razão, portanto, justifica-se o princípio da proibição do reformatio in 
pejus, eis que, conforme estatuído anteriormente (vide item 4.2.9), o recurso não poderá 
prejudicar o próprio recorrente, porque não foi dado ao órgão superior conhecer destas 
matérias, ressalva feitas às questões de ordem pública (que não se submetem à preclusão 
e/ou a ausência de impugnação específica). 
 
5.2.2 SUSPENSIVO 
 
 
Em que pese o efeito devolutivo ser, por regra, o principal efeito dos recursos, é da 
própria natureza humana não se sujeitar às decisões contrárias às suas pretensões, daí a 
existência e justificativa para o efeito suspensivo dos recursos, que “consiste em impedir 
que a decisão impugnada produza efeitos desde logo, só o fazendo após o julgamento final 
do recurso interposto” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 10), com o trânsito em julgado da 
sentença (em se tratando do recurso de apelação) e a formação da coisa julgada. 
 
Todavia, importante ressaltar que o efeito suspensivo não incide sobre a decisão 
recorrida, isto é, não a torna “inválida”, “mas é suspensivo de efeitos, pois o ato judicial em 
si não é suspenso, só os efeitos que ele se destinava a produzir.” (CARVALHO FILHO, 
2010, p. 11) Portanto, “A suspensão é da eficácia do ato decisório como um todo, e não 
apenas da eficácia dele como título executivo”. 
 
No que toca à extensão do efeito suspensivo, importante consignar que ele (efeitos 
suspensivo) se limita ao próprio objeto do recurso de apelação, em razão do efeito 
devolutivo e do princípio dispositivo dos processos. 
 
42 
Por fim, necessário aduzir que o duplo efeito (devolutivo e suspensivo) do recurso 
de apelação decorre da própria lei (ope lege – vide art. 520), salvo em poucas hipóteses em 
que o recurso será desprovido do efeito suspensivo, ocasião em que o recorrente deverá 
requerê-lo expressa e fundamentadamente, sujeitando-se, ainda, ao deferimento pelo juízo 
a quo. Uma vez indeferido, anotamos que o recorrente poderá interpor agravo de 
instrumento contra a decisão de recebimento do recurso para que o próprio órgão ad quem, 
responsável pelo julgamento da apelação, confira o efeito suspensivo à apelação. 
 
5.2.3 COMPREENSÃO (JUSTIFICATIVA) DA REDAÇÃO DOS INCISOS DO ART. 520 
DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 
 
 
Como dissemos acima, em raríssimas hipóteses o recurso de apelação será 
recebido, a rigor, apenas no efeito devolutivo. 
 
Nesse sentido, o inciso I do art. 520 do Código de Processo Civil estatui que assim 
será recebido o recurso de apelação interposto contra a sentença que “homologar a divisão 
ou demarcação”. 
 
Carvalho Filho (2010, p. 108) anota que “o não efeito suspensivo se justifica em 
razão de possuírem referidas ações duas fases distintas e subsequentes, em que são 
proferidas duas sentenças sujeitas à apelação, de modo que, após definida em uma 
primeira fase a existência do direito de dividir ou de demarcar, não mais convém que a 
demora na entrega definitiva do direito já reconhecido aguarde novo recurso que obstará a 
execução imediata da sentença.” 
 
Em relação ao inciso II do art. 520 do Código de Processo Civil, que dispõe que a 
apelação interposta contra sentença que “condenar à prestação de alimentos” será recebida 
apenas no efeito devolutivo, “protege-se bem de perto o próprio direito à personalidade de 
quem tem necessidade da prestação alimentar para viver, preferindo o legislador expor aos 
riscos de um sacrifício injusto o patrimônio do alimentante, para não impor ao alimentado a 
espera que talvez lhe impeça uma existência decente.” (DINAMARCO, in CARVALHO 
FILHO, 2010, p. 109) 
 
No que toca aos casos em que há redução ou exoneração dos alimentos, a 
doutrina e a jurisprudência aduzem que o recurso de apelação será recebido em ambos os 
43 
efeitos, eis que o inciso II diz, expressamente, que será recebido apenas no efeito devolutivo 
a apelação interposta contra sentença que “condenar à prestação de alimentos”. 
 
Se outra fosse a interpretação, o alimentante poderia sujeitar-se a perda dos 
alimentos e, como justificou Dinamarco, “de uma existência decente.” 
 
Quanto ao inciso III do art. 520 do Código de Processo Civil, observamos, 
sinteticamente, que o mesmo encontra-se revogado, eis que estatuía que a apelação 
interposta contra sentença que “julgar a liquidação de sentença” seria recebida apenas no 
efeito devolutivo, não mais se sustentando em razão do advento do processo sincrético e da 
disposição do art. 475-H do mencionado diploma legal, que passou a dispor que “Da 
decisão de liquidação caberá agravo de instrumento.”. 
 
Já o inciso IV do art. 520 do Código de Processo Civil, “por uma questão de 
coerência do sistema, impõe que não se suspendem os efeitos da sentença ‘que decidir 
processo cautelar’, porquanto este é destinado à preservação de bens e direito em disputa 
colocados sob risco de desaparecimento ou inutilidade.” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 110) 
 
No mesmo sentido, o inciso V do art. 520 do Código de Processo Civil estatui que o 
recurso de apelação interposto contra a sentença que “rejeitar os embargos à execução ou 
julgá-los improcedente” também será recebido apenas no devolutivo, porque, como vimos 
mostrando acima, “o legislador teve em vista (...) o critério da probabilidade de confirmação 
da sentença, ao corroborar a higidez do título executivo que aparelha a execução 
(aumentando o grau de certeza que espelha), além do da urgência no atendimento do 
interesse do já credor, conferindo ao processo maior celeridade e efetividade.” (CARVALHO 
FILHO, 2010, p. 112) Mesma sorte seguirá o recurso de apelação interposto contra a 
decisão que julgar extinto o processo de embargos à execução sem resolução do mérito, eis 
que, igualmente, não foi hábil a atacar a sentença executada. 
 
No que se refere ao inciso VI, o recurso de apelação interposto contra a sentença 
que “julgar procedente o pedido de instituição de arbitragem” será igualmente recebido sem 
o efeito suspensivo em razão da completa incompetência do Poder Judiciária para a 
resolução da lide, daí porque, mais uma vez, estamos diante da consagração dos princípios 
da celeridade processual e da efetividade. 
 
Convém assinalar, apenas, a dúvida quanto à executoriedade provisória desta 
sentença, porque é típica sentença constitutiva, que, todavia “‘deve ceder espaço ao regime 
44 
de direito positivo que as novas leis, e pois, as novas necessidades sociais, que estas 
refletem, impõem’, apregoa Cassio Scarpinella Bueno.” (CARVALHO FILHO, 2010, p. 113) 
 
Último inciso do art. 520 do Código de Processo Civil diz respeito ao recurso de 
apelação interposto contra sentença que “confirmar a antecipação dos efeitos da tutela”, em 
que, novamente, se privilegia “a finalidade do instituto, que consiste em admitir que os 
efeitos do provimento final sejam conferidos ao interessado em momento anterior a esse, a 
partir do exame sumário de alguns requisitos exigidos por lei (art. 273 do CPC)”. 
(CARVALHO FILHO, 2010, p. 113). 
 
Outrossim, importante observar que toda a doutrina e, em razão da dúvida, a 
jurisprudência também, anotam que a mesma sorte seguirá o recurso de apelação 
interposto contra a decisão que conferir a antecipação do efeitos da tutela na sentença. 
 
 
5.2.4 CAPÍTULOS DA SENTENÇA E EFEITOS DO RECURSO DE APELAÇÃO 
 
 
Consoante exposto à exaustão acima, o legislador preocupou-se,

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