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PEÇA - CONTESTAÇÃO

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 6ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE-RS.
 
 
 
Processo nº 90001483-46.2019.8.21.6002
 
 
ELEVASOUND LTDA, empresa de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 91.883.421/0001-00, com sede na Avenida Planalto, nº 125, Bairro Cruzeiro, na cidade de Bento Gonçalves/RS, CEP 95703-00, e-mail eleva@gmail.com, por intermediário de sua advogada infra-assinado, instrumento procuratório em anexo, com escritório profissional na Rua Pinheiro Machado, 22, Sala 703, na Cidade de Alvorada-RS, e-mail claupp@gmail.com, onde recebe intimações e notificações na forma da Lei, comparecem respeitosamente perante Vossa Excelência, para, tempestivamente, oferecer
 
CONTESTAÇÃO
na AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E MORAIS que lhe move JOSÉ BRITO, brasileiro, casado, portador da cédula de Identidade/RG nº 5987101, inscrito no CPF 123.854.892-99, e-mail josebrito@gmail.com, residente e domiciliado na Rua Pedro Gomes, 145, Bairro Figueira, Cep 95123-89 na Cidade de Bento Gonçalves-RS.
I – BREVE RELATO DA INICIAL
 
Alega o autor que celebrou contrato com a requerida em 08/02/2017 para aquisição de aparelho auditivo no valor de R$ 14.200,00 (quatorze mil e duzentos reais), que segundo o requerente tem sérios problemas de funcionamento.
Relatou o requerente que apesar de diversas reclamações, a demandada não efetuou a troca do produto ou ressarcimento do valor pago.
Requer a rescisão contratual e restituição do valor pago no aparelho, e indenização por danos morais no valor de R$ 5.000,00.
II – DA DEFESA
Aduz o requerente que em 08/02/2017 firmou contrato de aquisição de aparelho auditivo, e que desde então o aparelho vem apresentando problemas de funcionamento e que consome grande quantidade de pilhas.
Ocorre que o aparelho foi entregue em pleno funcionamento e que até o momento não houve problema e nem devolução de nenhum aparelho dessa marca por conta de mau funcionamento.
O contestante comercializa um dos aparelhos de melhor qualidade da indústria brasileira, nota-se Excelência pelo expressivo valor que o aparelho custa, e não teve se quer um aparelho devolvido, serve de prova as recomendações e avaliações anexas a presente.
Cumpre ressaltar que em 27/10/2017, o requerente procurou a requerida para realizar a troca do aparelho, momento que foi contatado o mau uso, o que afasta a garantia, o qual foi feito o conserto autorizado mediante pagamento de R$ 600,00 (seiscentos reais).
Na oportunidade foi questionado o demandante de como o mesmo utiliza e realiza a limpeza o aparelho, o mesmo informou que utiliza um lencinho úmido e que as vezes pega no sono com o aparelho no ouvido.
Nota-se Excelência, que descaradamente o autor informa a total falta de cuidado com o aparelho e espera que a requerida seja responsabilizada pelo mau uso do mesmo, na aquisição do aparelho, segue um manual de instruções de como usá-lo e cuidá-lo.
 Dentre vários cuidados que se deve tomar com o referido aparelho, um deles é que não se deve usar panos molhados ou líquidos para limpá-lo, deve-se utilizar um pano seco para remover as impurezas, e jamais deve usar o parelho auditivo para dormir, sugere-se que se abra o compartimento da pilha sempre que não for usá-lo, para evitar o desgaste da mesma.
A lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), no seu artigo 14, § 3º, manteve a regra de que:
 O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 3o  O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
II – a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Diante do exposto e documentos juntados a presente, chega-se a ilação, Excelência, de que foi ele próprio, que agiu com desleixo com relação aos cuidados do aparelho, pois além de não cumprir as orientações de como usar corretamente o aparelho postula a devolução do valor pago e danos materiais e morais.
III - DOS DANOS MATERIAIS E DA RESCISÃO CONTRATUAL
Quando se fala em reparação de danos é necessário que haja um ato ilícito a ser reputado ao agente causador deste, para que então se desencadeie a obrigação de indenizar por tais danos.
A explicação do que é ato ilícito pode ser encontrada no Código Civil em seu artigo art. 186, senão vejamos:
Art. 186. Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano á outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Na responsabilidade civil, o centro de exame é o ato ilícito. O dever de indenizar vai repousar justamente no exame da transgressão ao dever de conduta que constitui o ato ilícito.
O contrato em questão demonstra-se perfeito, e não há nada técnico nos autos comprovando o mau funcionamento do aparelho, a não ser as alegações do autor, assim, não há que se falar em rescisão contratual, tampouco indenizações de danos materiais.
IV – DOS DANOS MORAIS
Quanto ao pleito de indenização por DANOS MORAIS, sustenta o autor, vagamente, ter direito à reparação por danos morais, tendo em vista o mau funcionamento do aparelho auditivo, sem mencionar em nenhum momento qual aspecto da sua integridade ou honra que foram abalados.
Destaca-se que por dano moral entende-se o dano que atinge os atributos da personalidade, como imagem, bom nome, a qualidade ou condição de ser de uma pessoa, a intimidade e a privacidade.
E para haver a reparação de danos morais, essa deve ser concedida em hipóteses em que o evento cause grande desconforto espiritual, causando sofrimento demasiado à vítima, ora Requerente.
Além disso, o direito à reparação do dano depende da concorrência de três requisitos, que estão delineados no art. 186 do Código Civil, sendo que, para se configurar o ato ilícito, será imprescindível que haja:
(a) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por ação ou omissão voluntária, negligência, imperícia ou imprudência;
(b) ocorrência de um dano patrimonial e/ou moral;
(c) nexo de causalidade entre o dano e o comportamento do agente.
Nenhum deles estão presentes no caso trazido à baila
Destaca-se que o requerente não demonstra qualquer abalo sofrido em razão do fato alegado, destacando ainda que os fatos alegados na exordial não são confirmados por quaisquer elementos probatórios reunidos no processo, ainda que mínimos
A propósito, Sílvio de Salvo Venosa explica o que considera o dano moral:
“Dano moral é o prejuízo que afeta o ânimo psíquico, moral e intelectual da vítima.”
Impugna-se, o valor pretendido a título de dano moral (R$ 5.000,00), pois além de não existir qualquer espécie de dano, seja patrimonial ou moral a ser ressarcido, a quantia pleiteada é exorbitante buscando enriquecimento sem causa.
Na fixação do quantum, não encontrada disposição legal ou método prático e objetivo, há que se considerar as condições de culpa do ofensor e ofendido, valorando o predomínio do bom senso e da razoabilidade o que não se vislumbra no pedido que é de todo exagerado. Em caso de condenação, sugere-se que o quantum máximo seja de R$ 2.000,00 (dois mil reais).
Esta é a lição do mestre Antônio Jeová Santos apud Américo Luis Martins da Silva:
“Evitar o enriquecimento injusto: A reparação de um dano moral – seja qual sua espécie – NÃO DEVE SIGNIFICAR UMA MUDANÇA E VIDA PARA A VÍTIMA OU PARA A SUA FAMÍLIA, UMA FONTE DE ENRIQUECIMENTO SURGIDA DA INDENIZAÇÃO. O DANO MORAL NÃO PODE SERVIR A QUE VÍTIMAS OU PSEUDOVÍTIMAS VEJAM SEMPRE A POSSIBILIDADE DE GANHAR UM DINHEIRO A MAIS, ENRIQUECENDO-SE DIANTE DE QUALQUER ABESPINHAMENTO.” (sem grifo no original)
Nesse sentido:
RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº 13.015/2014 . DANO MORAL. AUSÊNCIA DE INSTALAÇÕES SANITÁRIAS ADEQUADAS NO LOCAL DE TRABALHO . TRABALHO EM CONDIÇÕES DEGRADANTES. REDIMENSIONAMENTO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. MAJORAÇÃO DE R$ 1.000,00 PARA R$ 2.000,00 NOS TERMOS DO PEDIDO. Trata-se de pedido de majoração da indenizaçãopor danos morais em virtude do não fornecimento de instalações sanitárias adequadas. No caso, o Tribunal Regional, amparado no conjunto fático-probatório dos autos, constatou que a reclamada não oferecia aos empregados instalações sanitárias adequadas e que, em razão disso, eles eram obrigados a fazer suas necessidades fisiológicas no "meio do mato". Diante disso, a Corte a quo concluiu que ficou comprovada a prática de ato ilícito capaz de causar danos à esfera íntima do trabalhador, pelo que entendeu devida a indenização por danos morais. No entanto, reputou excessivo o valor fixado na origem, reduzindo-o para o valor de R$ 1.000,00 (mil reais). A jurisprudência desta Corte tem admitido a possibilidade de majoração ou diminuição do valor da indenização por danos morais, nesta instância extraordinária, apenas nos casos em que a indenização for fixada em valores excessivamente módicos ou estratosféricos, o que é o caso dos autos. No caso, o reclamante fazia suas necessidades fisiológicas "no mato", em virtude de a reclamada não oferecer instalações sanitárias adequadas no seu ambiente de trabalho. Considerando os parâmetros transcritos, a condição econômica da reclamada, o grau de reprovação da conduta patronal e a gravidade do dano, bem como o caráter pedagógico e preventivo da medida, que deve representar um valor significativo, que convença o infrator a não reincidir em sua conduta ilícita, revela-se desproporcional o valor fixado pela instância ordinária, pois não compensa adequadamente o dano moral causado pela conduta antijurídica da empregadora, e, principalmente, não atende à gravidade da situação fática nestes autos delineada e à finalidade preventivo-sancionatória que condenações dessa natureza necessariamente devem ter, de modo a inibir a reiteração da conduta lesiva em casos semelhantes. Contudo, em que pese esta Corte superior ter fixado, em casos semelhantes ao consignado nestes autos, indenização por danos morais superiores a R$ 2.000,00 (dois mil reais), nas razões do recurso de revista da parte, verifica-se que o seu pedido é expresso no sentido de que se reestabeleça a sentença em que a reclamada foi condenada ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais). Assim, a fim de evitar julgamento extra petita, o valor da indenização por danos morais deve ser limitado ao expressamente pedido no recurso de revista do reclamante. Recurso de revista conhecido e provido.
(TST - RR: 15376520155060211, Relator: José Roberto Freire Pimenta, Data de Julgamento: 04/10/2017, 2ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/10/2017)
Não pode, assim, ser acolhido o pleito deduzido pela Requerente, pois não há prova de qualquer abalo ou dano material sofrido e não pode ser confundido como dano moral puro, que independe de prova.
VII- DOS PEDIDOS
Ante o exposto, requer: Seja recebida a presente contestação, para ao final julgar TOTALMENTE IMPROCEDENTE os pedidos pleiteados pela autora e:
a) impugnam-se os documentos juntados pelo requerente eis que não se prestam a comprovar a ocorrência de qualquer dano;
b) com fulcro no § 3º do art. 14 do CDC, impugna-se o valor pretendido a título de dano moral, eis que, primeiro: não tem comprovação de qualquer dano; segundo: o valor pretendido a título de danos morais R$ 5.000,00 (cinco mil reais) é de todo exacerbado comprovado, desta forma, que a presente ação busca apenas o enriquecimento indevido;
c) a condenação da autora ao pagamento das custas e honorários sucumbências, de acordo com o artigo 85, § 2º do Código de Processo Civil;
d) protesta provar todos os meios legais de prova em direito admitidos, inclusive o depoimento pessoal do requerente, sob pena de confissão no arguido nesta defesa, oitiva de testemunhas, perícias, ofícios, etc.
Nestes termos, pede deferimento.
Bento Gonçalves, 26 de março de 2019.

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