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Noções de Ciências Sociais 2º Aula Sociologia e Cultura Caros ( as) Alunos(as) Nesta aula vamos analisar a constituição histórica da cultura como objeto nas ciências sociais, em termos de cultura e identidade, cultura popular, cultura de classe e cultura de massa, “cultura de empresa” e cultura do consumo . Compara os processos de institucionalização da sociologia segundo seus diferentes contextos, e retoma uma revisão conceitual de cultura e sua contribuição no desenvolvimento da sociedade humana. Vamos ao texto! Boa leitura!! Boa aula! Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: desenvolvimento de uma perspectiva sociológica; social. 17 Seções de estudo 1 - Cultura, sociedade e indivíduo 1 - Cultura, sociedade e indivíduo. 1.1 - A abordagem interacionista da cultura. 1.2 - A Noção de aculturação. 1.2.1- A invenção do conceito de aculturação. 2 - As culturas populares. 3 - As culturas de classe. 4 - Cultura e Identidade. 4.1- Identidade cultural. 4.2 - Identidade Social.. 4.3 -As estratégias de identidade. 4.4 - À noção “cultura política”. 5 - Cultura de Massa. 6 - A noção de “cultura de empresa”. 7 - Cultura do Consumo. 7.1 - Identidade: A relação do eu pós-moderno e o consumo. 7.2 - Um drama social: A sociedade de consumo. Para Giddens (2005), o conceito de cultura é um dos mais importantes em sociologia. A cultura tem que ver com as formas de vida dos membros de uma sociedade ou de seus grupos. Compreende a arte, a literatura e a pintura, mas também outras manifestações mais gerais. Por exemplo, outros elementos da cultura são a forma de vestir das pessoas, seus costumes, pautas trabalhistas e cerimônias religiosas. O conceito de cultura é o que, em grande parte, nos faz humanos. Para Cuché (1999, p.9) a noção de cultura é inerente à reflexão das ciências sociais. Ela é necessária, de certa maneira, para pensar a unidade da humanidade na diversidade além dos termos biológicos. Ela parece fornecer a resposta mais satisfatória à questão da diferença entre os povos, uma vez que a resposta “racial” esta cada vez mais desacreditada, à medida que há avanços da genética das populações humanas. O homem é essencialmente um ser de cultura. De acordo com Cuché (1999) o longo processo de hominização, começado há mais ou menos há mais ou menos quinze milhões de anos, consistiu fundamentalmente na passagem de uma adaptação genética ao meio ambiente natural a uma adaptação cultural. Ao longo desta evolução, que resulta no Homo sapiens sapiens, o primeiro homem, houve uma formidável regressão dos instintos, sendo “substituídos” progressivamente pela cultura/isto é, por esta adaptação imaginada e controlada pelo homem que se revela muito mais funcional que a adaptação genética por ser transmissível. ( CUCHÉ, 1999 p. 190) A cultura, segundo Cuché (1999) permite ao ‘homem não somente adaptar-se a seu meio, mas também adaptar este meio ao próprio homem, a suas necessidades e seus projetos. Em suma, a cultura torna possível a transformação da natureza. Se todas as “populações” humanas possuem a mesma carga genética, elas se diferenciam por suas escolhas culturais, cada uma inventando soluções originais para os problemas que lhe são colocados. No entanto, para o autor (1999) estas diferenças não são irredutíveis umas às outras pois, considerando a unidade genética da humanidade, elas representam aplicações de princípios culturais universais, princípios suscetíveis de evoluções e até de transformações. A noção de cultura se revela então o instrumento adequado para acabar com as explicações; naturalizantes dos comportamentos humanos. A natureza, no homem, é inteiramente interpretada pela cultura. Nada é puramente natural no homem. Mesmo as funções humanas que correspondem a o desejo sexual , etc... são informados pela cultura: as sociedades não dão exatamente as mesmas respostas a estas necessidades. Os domínios em que não há constrangimento biológico, os comportamentos são orientados pela cultura. Por isso, a ordem; “Seja natural”, frequentemente feita às crianças, em particular “Aja de acordo com o modelo da cultura que lhe foi transmitido” ( CUCHÉ, 1999 p. 191) Para o autor ( 1999), a noção de cultura, compreendida em seu sentido vasto, que remete aos modos de vida e de pensamento, é hoje bastante aceita, apesar da existência de certas ambiguidades. Esta aceitação nem sempre existiu. Desde seu aparecimento no século XVIII, a ideia moderna suscitou constantemente debates acirrados. Qualquer que seja o sentido preciso que possa ter sido dado à palavra - e não faltaram definições de cultura - sempre subsistiram desacordos sobre sua aplicação a esta ou àquela realidade. O uso da noção de cultura leva diretamente à ordem simbólica, ao que se refere ao sentido, isto é, ao ponto sobre o qual è mais difícil de entrar em acordo. As ciências sociais, de acordo com Cuché ( 1999) apesar de seu desejo de autonomia epistemológica, nunca foram completamente independentes dos contextos intelectuais e linguísticos em que elaboram seus esquemas teóricos e conceituais. Esta é a razão pela qual o exame do conceito científico de cultura implica o estudo de sua evolução histórica, diretamente ligada à gênese social da ideia moderna de cultura. Esta gênese revela que, sob as divergências semânticas sobre a justa definição a ser dada à palavra, dissimulam-se desacordos sociais e nacionais As lutas de definição são, em realidade, lutas sociais, e o sentido a ser dado às palavras revelam questões socais fundamentais. Contrariamente à noção de sociedade, mais ou menos rival no mesmo campo semântico, a noção de cultura se aplica unicamente ao que é humano. E ela oferece a possibilidade de conceber a unidade do homem na diversidade de seus modos de vida e de crença, enfatizando, de acordo com os pesquisadores, a unidade e a diversidade. O encontro das culturas, de acordo com Cuché ( 1999) não se produz somente entre sociedades globais, mas também entre grupos sociais pertencentes a uma mesma sociedade complexa. Como estes grupos são hierarquizados entre si, percebe-se que as hierarquias sociais determinam as hierarquias culturais, o que não significa que a cultura do Noções de Ciências Sociais 18 grupo dominante determine o caráter das culturas dos grupos socialmente dominados. As culturas das classes populares não são desprovidas de autonomia nem de capacidade de resistência A defesa da autonomia cultural é muito ligada à preservação da identidade coletiva. “Cultura” e “identidade” são conceitos que remetem a uma mesma realidade, vista por dois diferentes. Uma concepção, essencialista da identidade não resiste mais a um exame do que uma concepção essencialista da cultura, A identidade cultural de um grupo só pode ser compreendida ao se estudar as suas relações com os grupos vizinhos. A análise cultural conserva, atualmente, toda a sua pertinência e se revela sempre apta a dar conta das lógicas simbólicas em jogo no mundo contemporâneo, desde que não se negligenciem os ensinamentos das ciências sociais. ( CUCHÉ, 1999 p. 191) Para o autor (1999) não basta tomar emprestado destas ciências a palavra “cultura” para impor uma leitura da realidade, que esconde frequentemente uma tentativa de imposição simbólica. Seja no campo político ou religioso, na empresa ou em relação aos imigrantes, a cultura não se decreta; ela não pode ser manipulada como um instrumento vulgar, pois ela está relacionada a processos extremamente complexos e, na maior parte das vezes, inconscientes. 1.1 - A abordagem interacionista da cultura Sapir ( Apud Cuché, 1999) foi talvez um dos primeiros a ter considerado a cultura como um sistema de comunicação interindividual, quando afirmava: “O verdadeiro lugar da cultura são as interações individuais. Para ele, uma cultura é um conjunto de significações que são comunicadas pelosindivíduos de um dado grupo através destas interações. Por isso mesmo ele se opunha às concepções substancialistas da cultura. Mais do que definir a cultura por sua suposta essência, ele desejava se fixar na análise dos processos de elaboração da cultura [Sapir, 1949 Apud Cuché 1999]. Mais tarde, outros autores às vezes chamados de “interacionistas”, retomando a intuição de Sapir mas sistematizando-a, insistirão na produção de sentidos que as interações entre os indivíduos produzem. Na década de cinquenta, segundo Cuché (1999), se desenvolve nos Estados Unidos uma corrente chamada de “antropologia da comunicação”, que leva em conta tanto a comunicação não verbal quanto a comunicação verbal entre os indivíduos. Para eles, a comunicação não é concebida como uma relação de emissor e receptor, mas segundo um modelo orquestral, ou seja, como resultante de um conjunto de indivíduos reunidos para tocar juntos e que se encontram em situação de interação durável. Todos participam solidariamente, mas cada um à sua maneira, da execução de uma partitura invisível. A partitura, isto é, a cultura, existe apenas através da ação interativa dos indivíduos. De acordo com Cuché (1999) todos os esforços dos antropólogos da comunicação consistem em analisar os processos de interação que produzem sistemas culturais de troca. Não basta, no entanto, descrever estas interações e seus efeitos. É preciso considerar o “contexto” das interações. Cada contexto impõe as suas regras e suas convenções, supõe expectativas particulares entre os indivíduos. De acordo com Cuché (1999) a pluralidade dos contextos de interação explica o caráter plural e instável de todas as culturas e também os comportamentos aparentemente contraditórios de um mesmo indivíduo que não está necessariamente em contradição (psicológica) consigo mesmo. Por esta abordagem, torna- se possível pensar a heterogeneidade de uma cultura ao invés de nos esforçarmos para encontrar uma homogeneidade ilusória. A abordagem interacionista leva a questionar o valor heurístico do conceito de “subcultura’’, ou mais exatamente a distinção entre “cultura” e “subcultura”. Se a cultura nasce das interações entre os indivíduos e entre grupos de indivíduos, é errôneo encarar a subcultura como uma variante derivada da cultura global que existiria antes dela. Os conceitos de cultura e de subcultura foram elaborados segundo uma lógica da subdivisão hierarquizada do universo cultural da mesma maneira como os biólogos pensam a evolução do mundo em espécies e subespécies. ( CUCHÉ, 1999, p. 194). Na construção cultural, o que vem primeiro é a cultura do grupo, a cultura local, a cultura que liga os indivíduos em interação imediata uns com os outros, e não a cultura global da coletividade mais ampla. O que se chama “cultura global” é o resultado das relações dos grupos sociais que estão em contato uns com os outros e, logo, do relacionamento de suas próprias culturas. Nesta perspectiva, de acordo com Cuché (1999) a cultura global se situa de certa maneira, na intersecção das pretensas “subculturas” de um mesmo conjunto social. Estas “subculturas” funcionariam como culturas inteiras, isto é, como sistemas de valores, de representações e de comportamentos que permitem a cada grupo identificar-se, localizar- se e agir em um espaço social que o cerca. Para os interacionistas, o termo “subcultura” é então inapropriado. 1.2 - A noção de aculturação Como foi observado por Melville J. Herskovits, antropólogo americano, pioneiro na matéria, foi preciso esperar os estudos sobre os fenômenos da “aculturação” para compreender melhor os mecanismos da cultura: Quando as tradições estão em conflito, os reajustes no interior de uma cultura mostram a maneira como os elementos da cultura se ligam uns aos outros e como funciona o todo [1937, p. 263 Apud Cuché, 1999]. Apesar de sua preocupação em ultrapassar o organicismo que comparava a sociedade a um organismo vivo, Emile Durkheim continuou a pensar que o desenvolvimento de uma sociedade humana se faz a partir de si mesma. Segundo ele, a mudança social e cultural é essencialmente produzida pela evolução interna da sociedade. O elemento determinante de explicação continua a ser o meio interno. São as dinâmicas 19 2 - As culturas populares culturais internas que importam então e devem receber toda a atenção do pesquisador. 1.2.1 - A invenção do conceito de aculturação A observação dos fatos de contato entre as culturas evidentemente não data do momento da invenção do conceito de aculturação. De acordo com Cuché ( 1999) esta observação era feita frequentemente sem teoria explicativa e impregnada de julgamentos de valor quanto aos efeitos destes contatos culturais. Um certo número de observadores considerava a mestiçagem cultural, a exemplo da mestiçagem, biológica, como um fenômeno negativo e até mais ou menos patológico. Para Cuché (1999) ainda hoje, utiliza-se a expressão “indivíduo (ou sociedade) aculturado(a)” para exprimir um pesar e designar uma perda irreparável. A antropologia pretende se distanciar destas acepções, negativa ou positiva, de aculturação. Ela dá ao termo um conteúdo puramente descritivo que não implica uma posição de principio sobre o fenômeno. O substantivo “aculturação” parece ter sido criado desde 1880 por J. W. Powell, antropólogo americano, que denominava assim a transformação dos modos de vida e de pensamento dos imigrantes ao contato com a sociedade americana. De acordo com Cuché(1999), a palavra não designa uma pura e simples “deculturação”. Em “aculturação”, o prefixo “a”não significa privação; ele vem do etimologicamente do latim ad e indica um movimento de aproximação. Será, no entanto, necessário esperar pelos anos trinta para que uma reflexão sistemática sobre os fenômenos de encontro das culturas leve os antropólogos americanos a propor uma definição conceitual do termo. A partir de então não será mais possível utilizá-lo de uma maneira menos rigorosa. Para a antropologia cultural, evocar um processo de aculturação leva necessariamente a definir o tipo de aculturação de que se está tratando, como ela é produzida, que fatores intervieram ,etc. Robert Redfield, Ralph Linton e Melville Herskovits, em seu célebre Memorando para o Estudo da Aculturação de 1936, começa por fazer um esclarecimento semântico. A definição que ele enuncia será a partir de então a regra: A aculturação é o conjunto de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre grupos de indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos (patterns) culturais iniciais de um ou dos dois grupos.( CUCHÈ, 1999 p. 194) O desenvolvimento dos estudos sobre os fatos da aculturação levaram a um reexame do conceito de cultura. A cultura é compreendida a partir de então como um conjunto dinâmico, mais ou menos homogêneo. Os elementos que compõem uma cultura não são jamais integrados uns aos outros pois provêm de fontes diversas no espaço e no tempo. Em outras palavras, há um “jogo” no sistema, especialmente porque se trata de um sistema extremamente complexo. A cultura não é um dado, uma herança que se transmite imutável de geração em geração é “ porque ela é uma produção histórica, isto é, uma construção que se inscreve na história e mais precisamente na história das relações A cultura popular desde o seu surgimento tem diversos significados devido a cada um dos termos que a compõe semanticamente, ou seja existe uma ambiguidade e desta forma nem todos darão a mesma definição para o termo cultura popular. As culturas populares revelam-se, na análise, nem inteiramente dependentes, nem inteiramente autônomas, nem pura imitação, nem pura criação Por isso, elas apenas reunião de elementos originais e de elementos importados, de invenções próprias e de empréstimos. Como qualquer cultura, elas não são homogêneas sem ser, por esta razão, incoerentes. ( CUCHÉ, 1999,p.149) Certos sociólogos,considerando esta situação, evidenciam que a construção das culturas populares se devem ao esforço de resistência das classes populares à dominação cultural. Neste sentido, as culturas populares são culturas de contestação. Este aspecto existe nas culturas populares, não sendo, no entanto, suficiente para defini-las. E se insistirmos demais nesta dimensão “reativa”, correremos maior ou menor risco de cair na tese minimalista que nega qualquer criatividade autônoma das culturas populares. Nem toda a alteridade popular se encontra na contestação. Por outro lado, os valores e as práticas de uma atitude de resistência cultural não bastam para criar uma autonomia cultural suficiente para que surja uma cultura original. Ao contrário, elas assumem, sem querer, funções integradoras, pois são facilmente “cooptáveis” pelo grupo dominante. Sem esquecer a situação de dominação, é talvez mais correto considerar a cultura popular como define a cultura popular como a cultura “comum” das pessoas comuns, isto é, uma cultura que se fabrica na cotidiano, nas atividades ao mesmo tempo banais e renovadas a cada dia. Para ele, a criatividade popular não desapareceu, mas não está necessariamente onde a buscamos, nas produções perceptíveis e disseminada: “Ela foge por mil caminhos”. Para captá-la, é preciso captar a inteligência prática da pessoas comuns, principalmente no uso que elas fazem da produção de massa. (Michel de Certeau 1980 apud Cuché 1999 p. 195) Eles são autênticas “artes do fazer” que, segundo Certeau ( 1980), dependendo do caso, têm parentesco com o “faça você mesmo”, com a bricolagem, com a improvisação, com o ilícito, isto é, com práticas multiformes e combinatórias, sempre anônimas. dos grupos sociais entre si. Para analisar um sistema cultural, é então necessário analisar a situação sociohistórica que o produz como ele é (BALANDIER, 1955 Apud CUCHÉ, 1999 p. 195). Noções de Ciências Sociais 20 4 - Cultura e identidade Encontrar uma definição de classe social, segundo Camargo ( 2016) não é tarefa nada fácil, ainda mais quando o tema não gera uma definição consensual entre estudiosos das mais diferentes tradições políticas e intelectuais. Porém, uma coisa é certa! Todos estão de acordo com o fato de as classes sociais serem grupos amplos, em que a exploração econômica, opressão política e dominação cultural resultam da desigualdade econômica, do privilégio político e da discriminação cultural, respectivamente. Os principais conceitos de classe na tradição do pensamento social são: classe social e luta de Max Weber. De modo geral, no cotidiano, o de classe social.( CAMARGO, 2016) Para Camargo (2016) a concepção de organização social de Karl Marx e Friedrich Engels se baseia nas relações de produção. Nesse sentido, em toda sociedade, seja pré-capitalista ou capitalista, haverá sempre uma classe dominante, que direta ou indiretamente controla ou influencia o controle do Estado; e uma classe dominada, que reproduz a estrutura social ordenada pela classe dominante e assim perpetua a exploração. Numa sociedade organizada, não basta a constatação da consciência social para a manutenção da ordem, pois a existência social é que determina a consciência. Em outras palavras, os valores, o modo de pensar e de agir em uma sociedade são reflexos das relações entre os homens para conseguir meios para sobreviver. Assim, as relações de produção entre os homens dependem de suas relações com os meios de produção e que, de acordo com essas relações, podem ser de proprietário/não proprietário, capitalista/operário, patrão/ empregado. De acordo com Camargo, (2016) os homens são diferenciados em classes sociais. Aqueles homens que detêm a posse dos meios de produção apropriam-se do trabalho daqueles homens que não possuem esses meios, sendo que os últimos vendem a força de trabalho para conseguir sobreviver. A luta de classes nada mais é do que o confronto dessas classes antagônicas. Essa é a concepção marxista de classe social. Camargo (2016) enfatiza ainda que, com o desenvolvimento do capitalismo industrial e na modernidade, a linguagem comum confunde com frequência o uso do termo classe social com estrato social. Para Weber, a estratificação das classes sociais é estabelecida conforme a distribuição de determinados valores sociais (riqueza, prestígio, educação, etc.) numa sociedade, como: castas, estamentos e classes. Em Weber, as classes constituem uma forma de estratificação social, em que a diferenciação é feita a partir do agrupamento de indivíduos que apresentam características similares, como por exemplo: negros, brancos, católicos, protestantes, homem, mulher, pobres, ricos, etc. Em se tratando de dominação de classe, estabelecer estratos sociais conforme o grau de distribuição de poder numa sociedade é tarefa bastante árdua, porque o poder sendo exercido sobre os homens, em que uns são os que o detêm enquanto outros o suportam, torna difícil considerar que esse seja um recurso distribuído, mesmo que de forma desigual, para todos os cidadãos. Assim, as relações de classe são relações de poder, e o conceito de poder representa, de modo simples e sintético, a estruturação das desigualdades sociais. Para Weber, o juízo de valor que as pessoas fazem umas das outras e como se posicionam nas respectivas classes, depende de três fatores: poder, riqueza e prestígio; que nada mais são que elementos fundamentais para constituir a desigualdade social.( CAMARGO, 2016 p.08) Numerosos estudos mostraram que os sistemas de valores, os modelos de comportamento e os princípios de educação variam sensivelmente de uma classe a outra. Estas diferenças culturais podem ser observadas até nas práticas cotidianas mais comuns. Por exemplo o abastecimento num mesmo supermercado, que pode dar a impressão de todos os modos de consumo são iguais, mas na realidade dissimula escolhas diferenciadas. No campo da alimentação, os hábitos ligados às tradições dos diferentes meios sociais são bastante estáveis. A principal razão disto não são as diferenças de poder de compra. As práticas alimentares estão profundamente ligadas aos gostos que variam pouco pois eles remetem a imagens inconscientes, a aprendizados e a lembranças de infância. As diferenças sociais podem ser observadas até na escolha dos alimentos e no modo de preparo culinário é também revelador dos gostos de classe. Comer é então um modo de marcar sua vinculação a uma classe social particular (Grignon, 1980 apud Cuché, 1999 p. 196). Para entendermos um pouco mais sobre Cultura e Identidade, vamos nos basear no texto abaixo extraído do livro “A noção de cultura nas ciências sociais” do autor Denys Cuché, 1999. Segundo o autor , o conceito de cultura obteve, há algum tempo, um, grande sucesso fora do círculo estreito das ciências sociais, há, no entanto, um outro termo que é frequentemente associado a ele - a “identidade” - cujo uso é cada vez mais frequente, levando certos analistas a verem neste uso o efeito de uma verdadeira moda. Cuché ( 1999) questiona que resta saber o que se entende por “identidade” e o que significa esta “moda” das identidades, alias, em grande parte alheia ao desenvolvimento da pesquisa científica. Atualmente, as grandes interrogações sobre a identidade remetem frequentemente à questão da cultura. Há o desejo de se ver cultura em tudo, de encontrar identidade para todos. Segundo o autor, vêem-se as crises culturais como crises de identidade. De maneira mais precisa, a recente moda da identidade é o prolongamento do fenômeno da exaltação da diferença que surgiu nos anos setenta e que levou tendências ideológicas muito diversas e até opostas a fazer a apologia da sociedade multicultural, por um lado, ou, por outro lado, a exaltação da ideia de “cada um por si para manter sua identidade”. Não se pode, pura e simplesmente confundir as noções 3 - As culturas de classe 21 de cultura e de identidade culturalainda que as duas tenham uma grande ligação. ( CUCHÈ, 1999 p. 99) Em última instância, a cultura pode existir sem consciência de identidade, ao passo que as estratégias de identidade podem manipular e até modificar uma cultura que não terá então quase nada em comum com o que ela era anteriormente. A cultura depende em grande parte de processos inconscientes. A identidade remete a uma norma de vinculação, necessariamente consciente, baseada em oposições simbólicas. No âmbito das ciências sociais, segundo Cuché ( 1999) o conceito de identidade cultural se caracteriza por sua polissemia e sua fluidez. Apesar de seu surgimento recente, este conceito teve diversas definições e reinterpretações. 4.1 - Identidade cultural A questão da identidade cultural, segundo Cuché (1999) remete, em um primeiro momento, à questão mais abrangente da identidade social, da qual ela é um dos componentes. Para a psicologia social, a identidade é um instrumento que permite pensar a articulação do psicológico e do social em um indivíduo. Ela exprime a resultante das diversas interações entre o indivíduo e seu ambiente social, próximo ou distante. 4.2 - Identidade social A identidade social de um indivíduo, de acordo com o mesmo autor (1999) se caracteriza pelo conjunto de suas vinculações em um sistema social: vinculação a uma classe sexual, a uma classe de idade, a uma classe social, a uma nação, etc. A identidade permite que o indivíduo se localize em um sistema social e seja localizado socialmente. Mas a identidade social não diz respeito unicamente aos indivíduos. Todo grupo é dotado de uma identidade que corresponde à sua definição social, definição que permite situá-lo no conjunto social. A identidade social é ao mesmo tempo inclusão do grupo os que são idênticos sob um certo ponto de vista) e o distingue dos outros grupos (cujos membros são diferentes dos primeiros sob o mesmo ponto de vista). Nesta perspectiva, a identidade cultural aparece como uma modalidade de categorização da distinção nós/eles, baseada na diferença cultural.( CUCHÈ, 1999 p. 102) Há uma estreita relação entre a concepção que se faz de cultura e a concepção que se tem de identidade cultural. Para o autor (1999) aqueles que integram a cultura a uma “segunda natureza”, que recebemos como herança e da qual não podemos escapar, concebem a identidade como um dado que definiria de uma vez por todas o indivíduo e que o marcaria de maneira quase indelével. Nesta perspectiva, a identidade cultural remeteria necessariamente ao grupo original de vinculação do indivíduo. A construção da identidade, porém, se faz no interior e em contextos sociais que determinam a posição dos agentes e por isso mesmo orientam suas representações e suas escolhas. Além disso, a construção da identidade não produzindo efeitos sociais reais. A identidade é uma construção que se elabora em uma relação que opõe um grupo aos outros grupos com os quais está em contato.( CUCHÉ, 1999 p 104) Para Barth (apud 1999), deve-se tentar entender o fenômeno da identidade através da ordem das relações entre os grupos sociais. A identidade é um modo de categorização utilizado pelos grupos para organizar suas trocas. Também, para definir a identidade de um grupo, o importante não é inventariar seus traços culturais distintivos, mas localizar aqueles que são utilizados pelos membros do grupo para afirmar e manter uma distinção cultural. Segundo Cuché (1999) uma cultura particular não produz por si só uma identidade diferenciada: esta identidade resulta unicamente das interações entre os grupos e os procedimentos de diferenciação que eles utilizam em suas relações. Seguindo as considerações de Cuché (1999) deve- se considerar que a identidade se constrói e se reconstrói constantemente no interior das trocas sociais. Dessa forma, presenciamos a abertura de novas possibilidades de entender o comportamento do homem com seu mundo. Esta concepção dinâmica se opõe àquela que vê a identidade como um atributo original e permanente que não poderia evoluir. 4.3 - As estratégias de identidade A identidade é tão difícil de se delimitar e de se definir, precisamente em razão de seu caráter multidimensional e dinâmico. Para Cuché ( 1999) é isto que lhe confere sua complexidade mas também o que lhe dá sua flexibilidade .A identidade conhece variações, presta-se a reformulações e até a manipulações. Para sublinhar esta dimensão mutável da identidade que não chega jamais a uma solução definitiva, certos autores utilizam o conceito de “estratégia de identidade”. Nesta perspectiva, para Cuché (1999) a identidade é vista como um meio para atingir um objetivo. Logo, a identidade não é absoluta, mas relativa. 4.4 - A noção “cultura política” Como foi dito anteriormente, a palavra “cultura” invadiu recentemente a sociedade e também a cena política. Ela se tornou um termo corrente do vocabulário político contemporâneo, sendo usada a tal ponto pelos atores políticos que passou a parecer uma mania. Talvez, usando um termo “nobre”, eles pretendam dar uma cerca legitimidade a suas declarações, pois “cultura” não é desacreditada como a palavra “ideologia”. Este uso abusivo do termo não deve levar à renúncia de seu uso na sociologia política ou a ocultar o interesse das relações entre fenômenos culturais e fenômenos políticos. Questões essenciais para as sociedades contemporâneas levam a Noções de Ciências Sociais 22 questionar estas relações, como por exemplo a questão da universalidade dos “direitos humanos” [ABOU, 1992, apud Cuché, 1999). Para apreender a dimensão cultural em política, os pesquisadores recorrem à noção de “cultura política”. Todo sistema político surge ligado a um sistema de valores e representações ou seja, a uma cultura, característica de uma dada sociedade. Neste primeiro nível de reflexão, a noção de cultura política está muito ligada ao que se chamava “caráter nacional”. O que fez o sucesso da noção de cultura foi a sua orientação comparatista. Ela deveria permitir que se compreendesse o que favorecia a eficiente implantação das instituições modernas. A política, como categoria autônoma de pensamento e de ação não existe de maneira universal, o que complica a análise comparativa. Não há necessariamente em todas as sociedades uma cultura política reconhecida e transmitida como tal. Procurar compreender dada sociedade é então inevitavelmente referir- que forma a cultura da sociedade estudada. ( CUCHÉ, 1999 p. 105). A noção de “cultura de massa” obteve um grande sucesso na década de sessenta. Este sucesso deveu-se, em parte, à sua imprecisão semântica e à associação paradoxal, do ponto de vista da tradição humana, dos termos “cultura” e “massa”. Não é surpreendente que esta noção tenha sido utilizada para embasar análises de orientação sensivelmente diferentes. O desenvolvimento dos meios de comunicação de massa acompanha a introdução cada vez mais determinante dos critérios de rendimento e de rentabilidade em tudo o que se refere à produção cultural. A “produção” tende a suplantar a “criação”. No entanto, a maioria dos autores dedicam suas análises essencialmente à questão do consumo da cultura produzida pelas sistemas de produção, receptação e difusão das informações. Boa parte destas análises parecem concluir que há uma certa forma de nivelamento cultural entre os grupos sociais sob o efeito da uniformização cultural que seria ela própria a consequência da generalização dos meios de comunicação de massa. ( CUCHÉ, 1999 p. 106) Nesta perspectiva, supõe-se que as mídias provoquem, de acordo com o autor uma alienação cultural, uma aniquilação de qualquer capacidade criativa do indivíduo, que, por sua vez, não teria meios de escapar à influência da mensagem transmitida. Ora, a noção de massa é imprecisa, pois segundo as análises, a palavra “massa” remete tanto ao conjunto da população como ao seu componente popular. Evocandosobretudo este segundo caso, certos pesquisadores chegaram até a denunciar o que eles consideram um “embrutecimento” das massas. Segundo Cuché (1999) estas conclusões vêm de um duplo erro. Por um lado, confunde-se “cultura para as massas” e “cultura das massas”. Não é porque certa massa de indivíduos recebe a mesma mensagem que esta massa constitui um conjunto homogêneo. É evidente que há uma certa uniformização da mensagem midiática mas, isto não nos permite deduzir que haja uniformização da recepção da mensagem. Por outro lado, é falso pensar que os meios populares seriam mais vulneráveis à mensagem da mídia. Estudos sociológicos mostraram que a penetração da comunicação da mídia é mais profunda nas classes médias do que nas classes populares. ( CUCHÈ, 1999 p. 106) É essencial que se considerem as condições de recepção. Richard Hoggart (1993 apud Cuché 1999) mostrou que a receptividade das classes populares à mensagem midiática é muito seletiva. Ela depende do que chamamos de “atenção oblíqua”, que vem de uma atitude geral de prudência e até de ceticismo em relação a tudo o que não emana do meio popular ao qual se pertence. Por mais “padronizado” que seja o produto de uma emissão, sua recepção não pode ser uniforme e depende muito das particularidades culturais de cada grupo, bem como da situação que cada grupo vive no momento da recepção. 5 - Cultura de massa 6 - A noção de “cultura de empresa” A noção de “cultura de empresa” não é uma criação das ciências sociais. Ela é originária do mundo da empresa e obteve rapidamente um grande sucesso. A Atualmente a expressão “cultura de empresa” faz parte do vocabulário das escolas superiores de administração de empresas. Para Cuché ( 1999) na falta de uma formação em ciências sociais, os profissionais saídos destas escolas geralmente adotam do conceito de cultura apenas o que lhes parece aplicável diretamente na gestão das empresas, ignorando o desenvolvimento das pesquisas que mostram a complexidade de todo sistema cultural. Para os sociólogos, a noção de cultura de empresa é usada para designar o resultado das confrontações culturais entre os diferentes grupos sociais que compõem a empresa. A cultura de empresa não existe fora dos indivíduos que pertencem à empresa; ela não pode ser preexistente a eles; ela é construída nas suas interações. Mesmo nos dias de hoje, enfraquecer e até a desaparecer, os assalariados não são, em nenhum caso, dependentes culturalmente da organização. Sua criatividade cultural se manifesta de todas as maneiras. ( CUCHÉ, 1999 p. 107) Para Cuché ( 1999) é difícil definir a cultura de uma empresa e seria talvez mais plausível para o pesquisador identificar “microculturas” no interior da empresa. As microculturas que são “inventadas” pelos empregados mostram que a cultura da empresa não é um dado prévio que os trabalhadores deveriam necessariamente adotar. 23 Se a própria empresa pode ser produtora a cultura seja uma pura e simples emanação da administração. Quem “fabrica” a cultura da empresa? Evidentemente, todos os atores sociais que pertencem à empresa. Como se “fabrica” a cultura da empresa? Certamente não por decisão autoritária, mas por todo um complexo jogo de interações entre os grupos que compõem a empresa.(CUCHÉ, 1999 p.108) Para chegar a definir a cultura de uma empresa, é preciso então, segundo o autor, partir das microculturas dos grupos que dela fazem parte. Estas microculturas não estão necessariamente em harmonia umas com as outras. Seu contato não se faz obrigatoriamente sem choque. Relações de força culturais surgem e se traduzem tanto aqui como em outros lugares, pelos conteúdos sociais. Em outras palavras, a noção de “cultura de empresa” tem uma pertinência sociológica mas não para designar um sistema cultural de onde todos os conflitos. Além disso, não se pode estudar a cultura de empresa independentemente do ambiente que a cerca. A empresa não constitui um universo fechado que poderia produzir uma cultura perfeitamente autônoma. Ao contrário, a empresa moderna é muito dependente de seu ambiente, tanto no plano econômico quanto no plano social e cultural. Atualmente, uma análise sociológica da empresa não pode mais abstrair o contexto. Em outras palavras, a cultura de empresa não pode ser reduzida a uma simples cultura organizacional. “Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome” Clarisse Lispector Nas sociedades contemporâneas, o valor do trabalho é moralmente superior ao atribuído ao consumo, segundo Barbosa e Campbell: O trabalho é considerado fonte de criatividade, auto expressão e identidade. O consumo, por outro lado, é visto como alienação, falta ou perda de autenticidade e um processo individualista e desagregador, ninguém sente culpa pelo trabalho que realiza, os pelo que deixou de fazer, mas o consumo, especialmente daquilo que se Não trabalhar é um estigma, enquanto não consumir é uma qualidade, moralmente superior ao seu inverso. (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.21) Significados positivos e negativos são atribuídos ao termo consumo: O consumo é ambíguo porque por vezes é entendido como uso e manipulação e/ou como experiência; em outras como compra, em outras ainda como exaustão, esgotamento e realização. se em nossa forma cotidiana de falar como nos apropriamos e utilizamos e usufruímos do universo a nosso volta. (BARBOSA; 7 - A cultura do consumo CAMPBELL, 2007, p.21) O significado da palavra consumo. O Consumo deriva do latim consumere, que significa usar tudo, esgotar e destruir; (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.21) Tradicionalmente, como se viu, o consumo, sempre esteve intimamente associado à exaustão e/ ou à aquisição de algo. Por conseguinte, a constatação de que, nas duas últimas décadas, as ciências sociais, passaram a tratar os processos de reprodução social e construção de subjetividades, identidades quase como “sinônimos de consumo levanta questões importantes, que precisam ser respondidas. Ainda mais quando se considera que esse tratamento teórico segue-se à décadas de silêncio por parte dos cientistas sociais sobre os processos de circulação e consumo de bens. (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.23) De acordo com Barbosa e Campbell ( 2007) do ponto de vista conceitual, hoje, a simples aquisição de um bem através da compra não constitui mais um elemento diacrítico para definir determinado comportamento social como consumo, a não ser para economistas, ecologistas e profissionais de marketing. Assim, na sociedade contemporânea, consumo é: ao mesmo tempo um processo social que diz respeito a múltiplas formas de provisão de bens e serviços e a diferentes formas de acesso a esses mesmo bens e serviços; um mecanismo social percebido pelas ciências sociais para direitos, estilo de vida e identidades; e uma contemporânea. (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.26) Do ponto de vista cultural, necessidades básicas são aquelas consideradas legitimas e cujo consumo nãos nos suscita culpa, pois podem ser justificadas moralmente. As supérfluas, como o próprio nome indica, são dispensáveis e estão associadas ao excesso a ao desejo. Por conseguinte, consumi-las é ilegítimo e requer retóricas e justificativas que as enobreçam e que diminuam a nossa culpa(BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.37) De acordo com essa lógica, para se comprar um bem basta que ele esteja disponível no mercado e que as pessoas tenham dinheiro para isso e queiram fazê-lo. Na verdade, esse processo de aquisição é bem mais complexo. Faz-se necessário que o querer e o poder econômico adquiram legitimidade moral perante os olhos de quem compra e daqueles que o cercam. É necessário que algo moral e socialmente aceitável. Para tanto, desenvolveu- se discursos do tipo: “se comprar agora estarei economizando mais adiante, devido o preço baixo do momento”, ou “foi uma ótima oportunidade, pois eu estava mesmo precisando”, ou ainda “vou aproveitar porque ela/ela (a coisa) já tem mais de três anosde uso e está ficando velha”. Como Miller (1998) observa, uma das estratégias de compra é “economizar gastando”. (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.37) Quando esse tipo de retórica se esgota, recorre-se ao discurso recente do “eu mereço”. Merece porque “trabalho muito”, porque há tempos não compro nada para mim, só para os outros”, “porque a vida não é só trabalhar, tem que ter prazer”, “porque se for esperar sobrar dinheiro não compro nunca” etc. Noções de Ciências Sociais 24 o que estes e os demais argumentos indicam é a existência de um eixo compensatório na qual trabalho, dedicação, senso de economia e oportunidade entre outros valores moralmente legítimos podem neutralizar a falta de legitimidade da compra supérflua. (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.37) O importante é fugir de um denuncismo moral que, via de regra, não tem respaldo na vida individual das pessoas que febrilmente o praticam, e fazer de modo permanente, uma reflexão crítica sobre nossas categorias analíticas, encarando de frente algumas questões que se ocultam por trás delas, como para onde e para quem se destinaria toda e qualquer produção? […] porque as pessoas sentem tanto prazer em consumir e tanta vergonha e culpa em admiti-lo? (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.41) 7.1 - Identidade: A relação do eu pós-moderno e o consumo A ideia difundida é que o eu contemporâneo ou pós-moderno é excepcionalmente aberto e flexível. Isso é o mesmo que dizer que as pessoas – ao fazerem uso da grande e constante oferta de novos produtos na sociedade de consumo moderna – estão regularmente engajadas no processo de recriar a si mesmas. Inicialmente adotando e posteriormente trocando de identidade e estilos de vida da mesma maneira fácil e casual com eu trocam de roupa. Isso se tornou possível porque, como Ewen e Ewen observaram, “hoje não existem (…) réguas, somente escolhas” e, por conseguinte. “todos podem ser qualquer um “. […] não existe mais qualquer ancoragem para o senso de identidade do individuo. (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.50) Hoje em dia, com o fato de que o senso de identidade de um indivíduo não mais claramente determinado, como já foi, por sua filiação e determinação classe ou status de certos grupos, apesar de aceitar que o consumismo é fundamental para o processo pelo qual os indivíduos confirmam ou até criam sua identidade. (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.50-51) A atividade de consumir pode ser considerada um caminho vital e necessário para o autoconhecimento, (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.52) É importante ressaltar que, pouco a pouco, com a emergência da publicidade e do marketing, esta deixa de ser uma experiência apenas feminina, difundindo-se pela sociedade como algo que diz respeito à própria condição do consumidor moderno, seja ele homem ou mulher, e que podem antecipar o desejo de consumir mesmo não havendo necessidades objetivas a serem atendidas. É nesse contexto que se pode da questão da prodigalidade e da dilapidação do bens, em um meio social e econômico cada vez mais definido pelo consumo e não mais pela produção. Como fazer com que as pessoas continuem a poupar, continuem a ter uma atitude racional em relação ao dinheiro e aos meios de que dispõe (salários, renda, patrimônios etc.), se, ao mesmo tempo, se estimula o consumo como condição necessária para a existência e para a obtenção da própria felicidade, realização e bem-estar pessoal? (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.86) 7.2 - Um drama social: A sociedade de consumo O que importa dizer é que, se, por um lado, o capitalismo não pode sobreviver com a prática com consumo levada ao extremo, também não sobrevive sem o consumo e, consequentemente, sem a dívida, contraída pelo crédito. Isso explica em parte por que, na economia capitalista moderna, a prática do dom, o ato de presentear foi institucionalizado uma “sociedade de consumo”, mas a dádiva foi sendo ritualizada em relação a certas datas e festividades, criando-se, assim, muitos rituais de consumo e de compra de Natal, Páscoa, Dias das Mães, Dia dos namorados, Dia dos Pais, casamentos, sem contar tradições de festejar o aniversário de nascimento, constituem um ciclo anual, baseado na troca de presentes. Nesse caso, manter o equilibro satisfatório entre o consumo e o endividamento (crédito), sem ao mesmo tempo comprometer aquela outra qualidade fundamental para o capitalismo que é a poupança, tornou-se um verdadeiro desafio que muitas vezes termina em conflito, sofrimento e agonia, enfim, em drama social. (BARBOSA; CAMPBELL, 2007, p.87) Retomando a aula Parece que estamos indo bem. Então, para encerrar essa aula, vamos recordar: 1 – Cultura, sociedade e indivíduo. Na primeira seção da aula dois entendemos que o conceito de cultura é um dos mais importantes em sociologia. A cultura tem que ver com as formas de vida dos membros de uma sociedade ou de seus grupos. O conceito de cultura é o que, em grande parte, nos faz humanos. Compreendemos, ainda que a aculturação é o conjunto de fenômenos que resultam de um contato contínuo e direto entre grupos de indivíduos de culturas diferentes e que provocam mudanças nos modelos (patterns) culturais iniciais de um ou dos dois grupos. 2 – As culturas populares Na segunda seção da aula 2 entendemos que é correto considerar a cultura popular como a cultura “comum” das pessoas comuns, isto é, uma cultura que se fabrica na cotidiano, nas atividades ao mesmo tempo banais e renovadas a cada dia. 3 – As culturas de classe Na terceira seção da aula 3 compreendemos que os principais conceitos de classe na tradição do pensamento social são: classe social e luta de classes de Karl Marx e estratificação social de Max Weber. De modo geral, no cotidiano, o cidadão comum tende a confundir as definições de classe social. A concepção de organização social de Karl Marx e Friedrich Engels se baseia nas relações de produção. Para Weber, a estratificação das classes sociais é estabelecida conforme a distribuição de determinados valores sociais (riqueza, prestígio, educação, etc.) numa sociedade, como: castas, estamentos e classes. Em Weber, as classes constituem uma forma de estratificação social, em que a diferenciação é feita a partir do agrupamento de indivíduos que apresentam características similares, como por exemplo: negros, brancos, católicos, 25 protestantes, homem, mulher, pobres, ricos, etc. 4 – Cultura e Identidade Na quarta seção da aula 3 compreendemos que não se pode, pura e simplesmente confundir as noções de cultura e de identidade cultural ainda que as duas tenham uma grande ligação. Em última instância, a cultura pode existir sem consciência de identidade, ao passo que as estratégias de identidade podem manipular e até modificar uma cultura que não terá então quase nada em comum com o que ela era anteriormente. A cultura depende em grande parte de processos inconscientes. A identidade remete a uma norma de vinculação, necessariamente consciente, baseada em oposições simbólicas. 5 - Cultura de Massa Na quinta seção da aula 3 estudamos que o desenvolvimento dos meios de comunicação de massa acompanha a introdução cada vez mais determinante dos critérios de rendimento e de rentabilidade em tudo o que se refere à produção cultural. Por mais “padronizado” que seja o produto de uma emissão, sua recepção não pode ser uniforme e depende muito das particularidades culturais de cada grupo, bem como da situação que cada grupo vive no momento da recepção. 6 - A noção de “cultura de empresa” Na sexta seção da aula 3 compreendemos a noção de “cultura de empresa”. A noção de “cultura de empresa” não é uma criação das ciências sociais. Ela é originária do mundo da empresa e obteve rapidamente um grande sucesso. Atualmente a expressão “cultura de empresa” faz parte do vocabulário das escolas superiores de administração de empresas. Na falta de uma formação em ciências sociais, os profissionais saídos destas escolas geralmente adotam do conceito de cultura apenaso que lhes parece aplicável diretamente na gestão das empresas, ignorando o desenvolvimento das pesquisas que mostram a complexidade de todo sistema cultural. 7 – Cultura do Consumo Na última seção da aula 3 estudamos que consumo é ao mesmo tempo um processo social que diz respeito a múltiplas formas de provisão de bens e serviços e a diferentes formas de acesso a esses mesmo bens e serviços; um mecanismo social percebido pelas ciências sociais para definir diversas situações em termos de direitos, estilo de vida e identidades; e uma categoria central na definição da sociedade contemporânea Minhas anotações
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