Buscar

Manual Caseiro - Direito Processual Penal I 2020

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 592 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 592 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 592 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
1 
Sumário 
Conteúdo 01: Noções Introdutórias – conceitos básicos do Direito Processual Penal. ............................................... 2 
Conteúdo 02: Princípios (princípio do contraditório; princípio da ampla defesa; princípio do juiz natural e princípio 
da publicidade); Lei processual no tempo e Interpretação da lei processual penal. .................................................. 32 
Conteúdo 03: Juiz das Garantiais............................................................................................................................... 56 
Conteúdo 04: Investigação Preliminar ..................................................................................................................... 102 
Conteúdo 04: Investigação Preliminar ..................................................................................................................... 125 
Conteúdo 05: Investigação Preliminar (Continuação) ............................................................................................. 158 
Conteúdo 06: Ação Penal ........................................................................................................................................ 205 
Conteúdo 07: Ação Penal ........................................................................................................................................ 224 
Conteúdo 08: Ação Penal ........................................................................................................................................ 251 
Conteúdo 09: Ação Penal ........................................................................................................................................ 273 
Conteúdo 10: Competência ...................................................................................................................................... 298 
Conteúdo 11: Competência ...................................................................................................................................... 313 
Conteúdo 12: Competência ...................................................................................................................................... 343 
Conteúdo 13: Provas no Processo Penal .................................................................................................................. 394 
Conteúdo 14: Provas no Processo Penal .................................................................................................................. 415 
Conteúdo 15: Provas no Processo Penal .................................................................................................................. 436 
Conteúdo 16: Provas no Processo Penal .................................................................................................................. 475 
Conteúdo 17: Medidas Cautelares Diversas da Prisão ............................................................................................ 504 
Conteúdo 18: Prisões ............................................................................................................................................... 516 
Conteúdo 19: Prisões ............................................................................................................................................... 521 
Conteúdo 20: Prisões ............................................................................................................................................... 550 
 
 
 
 
 
 
 
2 
2 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
SUMÁRIO DA AULA 
Pretensão punitiva. Sistemas processuais penais: sistema inquisitorial; sistema acusatório; sistema misto ou francês. 
Princípios fundamentais do processo penal: presunção de inocência (ou da não culpabilidade); contraditório; ampla 
defesa; publicidade; juiz natural; nemo tenetur se detegere. 
 
Conteúdo 01: Noções Introdutórias – conceitos básicos do Direito Processual Penal. 
 
1. Pretensão punitiva 
A legislação, por exemplo, o Código Penal prevê a conduta de matar alguém, com pena de 6 a 20 
anos (art. 121, CP). O tipo penal incriminador até então encontra-se no plano abstrato. Porém, quando o sujeito 
pratica a conduta, in casu, o delito, o direito de punir que estava no plano abstrato passa para o plano concreto, 
ocasião em que surge o Ius Puniendi do Estado. 
A partir do momento em que alguém pratica a conduta delituosa prevista no tipo penal, este direito 
de punir desce do plano abstrato e se transforma no ius puniendi in concreto. 
Vamos Esquematizar? 
 
Plano Abstrato Realização da conduta Pretensão Punitiva 
A norma penal no plano abstrato 
prevê a conduta e comina sanção. 
Quando o sujeito inobstante a 
previsão da conduta como fato 
típico a prática, nasce para o 
Estado a possibilidade de exercício 
do seu ius puniendi. 
A pretensão punitiva foi 
materializada/surgiu. 
Mundo concreto. 
 
 
Nesse sentido, preleciona Renato Brasileiro: 
O Estado, por intermédio do Poder Legislativo, elabora as leis penais, cominando sanções 
àqueles que vierem a praticar a conduta delituosa, surge para ele o direito de punir os 
infratores num plano abstrato e, para o particular, o dever de se abster de praticar a 
infração penal. No entanto, a partir do momento em que alguém pratica a conduta 
delituosa prevista no tipo penal, este direito de punir desce do plano abstrato e se 
transforma no jus puniendi in concreto. O Estado, que até então tinha um poder abstrato, 
genérico e impessoal, passa a ter uma pretensão concreta de punir o suposto autor do fato 
delituoso (Manual de Processo Penal, Renato Brasileiro, 2018). 
 
E em que consiste a pretensão punitiva? 
A pretensão punitiva, pode ser compreendida como o poder do Estado de exigir de quem comete um 
delito a submissão à sanção penal. Através da pretensão punitiva, o Estado procura tornar efetivo o ius puniendi, 
exigindo do autor do delito, que está obrigado a sujeitar-se à sanção penal, o cumprimento dessa obrigação, que 
 
 
 
 
3 
3 
consiste em sofrer as consequências do crime e se concretiza no dever de abster-se ele de qualquer resistência 
contra os órgãos estatais a que cumpre executar a pena. (Manual de Processo Penal, Renato Brasileiro, 2018). 
O Estado ao tomar conhecimento de uma infração penal no uso do seu ius puniendi dá início a persecução penal. 
Assim, o que até então estava somente em um plano abstrato (normas), passa a existir no plano concreto, através 
da persecução penal: “conjunto de atividades levadas adiante pelo Estado, objetivando a aplicação da norma 
penal ao infrator da lei”. 
 
2. Sistemas processuais penais: 
No tocante aos sistemas processuais, podemos apontar a existência de três deles, a saber: o sistema 
inquisitorial, sistema acusatório e o sistema misto ou francês. 
Vamos esquematizar? 
Sistema Inquisitorial Sistema Acusatório Sistema Misto 
 
A depender dos princípios que venham a informá-lo, o processo penal, na sua estrutura, 
pode ser inquisitivo, acusatório e misto. Nestor Távora, 2018. 
 
2.1 Sistema inquisitorial: existe uma concentração de poderes na mão do juiz. Todas as funções encontram-
se concentrada nas mãos de uma única pessoa, in casu, é a “pessoa” do juiz. O lado maléfico do sistema 
inquisitório é o eventual abuso de poder (crítica), além da prejudicialidade da imparcialidade do 
magistrado, o qual, simultaneamente exerce todas as funções (acusa, defende e julga). É característica 
também do sistema inquisitório a inexistência de contraditório. A gestão da prova será feita pelo juiz, 
podendo fazê-lo tanto na fase inquisitorial quanto na fase do processo. 
O prof. Renato Brasileiro explica que no sistema inquisitorial, há um excessivo comprometimento da 
imparcialidade do julgamento, pois, a partir do momento em que é o próprio juiz que faz a acusação, é 
natural que, ainda que psicologicamente, ele profira uma decisão que vá ao encontro de sua posição na 
condição de acusador. Alémdisso, outras garantias são violadas, pois dificilmente aquele que acusa 
exercerá, com correição, a posição de defensor. 
 
Características do Sistema Inquisidor: 
a. A função de acusar, defender e julgar encontram-se concentrados em uma única pessoa, que 
assume assim as vestes de um juiz acusador, chamado de juiz inquisidor; 
 
 
 
 
4 
4 
b. Não há que se falar em contraditório, o qual nem sequer seria concebível em virtude da falta 
de contraposição entre acusação e defesa. (Não existe contraditório). 
c. O juiz inquisidor é dotado de ampla iniciativa probatória, tendo como liberdade para 
determinar de ofício a colheita de provas, seja no curso das investigações, seja no curso do 
processo penal, independentemente de sua proposição pela acusação ou pelo acusado. A gestão 
das provas estava concentrada, assim, nas mãos do juiz, que, a partir da prova do fato e tomando 
como parâmetro a lei, podia chegar à conclusão que desejasse. (Ampla iniciativa probatória). 
d. Princípio da verdade real – em decorrência de sua admissibilidade, o acusado não era 
considerado sujeito de direito, sendo tratado, em verdade, como mero objeto do processo, daí 
por que se admite inclusive a tortura como meio de se obter a verdade absoluta. 
Na atualidade, a concentração de poderes nas mãos do juiz e a iniciativa probatória dela 
decorrente é incompatível com a garantia da imparcialidade (CADH, art. 8º §1º) e com o princípio 
do devido processo legal. 
2.2 Sistema acusatório: as funções serão exercidas por partes distintas. As funções de acusar, defender e 
julgar são atribuídas a pessoas diversas. No referido sistema haverá respeito ao contraditório. O acusado 
deixa de ser considerado mero objeto e passa a configurar como sujeito de direitos. A gestão da prova, 
em um sistema acusatório puro, o juiz não poderia produzir prova de ofício. Por outro lado, a outra parte 
da doutrina aduz que o juiz pode produzir prova de ofício na fase processual. Assim, na fase investigatória 
não é dada ao juiz produzir prova de ofício, porém, na fase processual lhe é permitido, desde que atue 
de forma residual. 
Por oportuno, cumpre destacarmos que o art. 3-A do CPP acrescido pela Lei 133.964/2019, ora 
suspenso, deixou expresso a adoção do sistema acusatório.1 
 
Características do Sistema Acusatório: 
a. Caracteriza-se pela presença de partes distintas, contrapondo-se acusação e defesa em igualdade 
de condições e ambas se sobrepondo um juiz, de maneira equidistante e imparcial. Aqui, há uma 
separação das funções de acusar, defender e julgar. O processo caracteriza-se, assim, como 
legítimo actum trium personarum. 
 
1 Rogério Sanches e Ronaldo Batista (2020): A nossa Bíblia Política de 1988 adota esse sistema. A Lei 13.964/19, obediente à Carta Maior, 
foi clara: o processo penal terá estrutura acusatória, vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a substituição da atuação 
probatória do órgão de acusação (art. 3º-A do CPP). A suspensão deste artigo pelo STF não permite concluir que nosso ordenamento, sob 
o comando da Constituição Federal, adota sistema diverso do acusatório. 
 
 
 
 
5 
5 
b. A gestão da prova recai precipuamente sobre as partes. Na fase investigatória, o juiz só deve 
intervir quando provocado. Durante a instrução processual, prevalece o entendimento de que o 
juiz tem certa iniciativa probatória, podendo determinar a produção de provas de ofício, desde 
que o faça de maneira subsidiária. 
O magistrado não será o protagonista na produção de provas, sua atuação deve ter caráter 
complementar e subsidiário. Nesse sentido, o art. 212 do Código de Processo Penal: 
Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não 
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa 
ou importarem na repetição de outra já respondida. Parágrafo único. Sobre os pontos não 
esclarecidos, o juiz poderá complementar a inquirição. 
 
c. O princípio da verdade real é substituído pelo princípio da busca da verdade, devendo a prova ser 
produzida com fiel observância ao contraditório e a ampla defesa. 
d. A separação das funções e a iniciativa probatória residual à fase judicial preserva a equidistância 
que o magistrado deve tomar quanto ao interesse das partes, sendo compatível com a garantia da 
imparcialidade e com o princípio do devido processo legal. 
e. O sistema acusatório é o adotado pela Constituição Federal. Vejamos: 
 
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: 
I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; 
 
A função de acusar nas ações penais públicas é do Ministério Público, sendo assim o sistema 
acusatório, não é a outra a conclusão que poderíamos ter, haja vista que a CF outorgou a titularidade da 
persecução penal ao referido órgão, por excelência. 
Por fim, conforme destacamos acima, a adoação do sistema acusatório no OJ Brasileiro foi 
reafirmanda com o advento do art. 3-A do CPP, oriunda do Pacote Anticrime (Lei n. 13.964/2019), veremos 
com mais detalhes em seguida. 
VAMOS ESQUEMATIZAR? 
 
 
 
 
 
 
 
6 
6 
 
Fonte: O quadro esquematizado acima foi retirado do Manual de Processo Penal, Renato Brasileiro. 
 
2.3 Sistema misto ou francês: há duas fases distintas – uma primeira fase inquisitorial, destinada a 
investigação preliminar, e em seguida, teria uma segunda fase, essa última de viés mais de sistema 
acusatório. 
Segundo Renato Brasileiro, é chamado de sistema misto porquanto o processo se desdobra em duas 
fases distintas: a primeira fase é tipicamente inquisitorial, com instrução escrita e secreta, sem acusação 
e, por isso, sem contraditório. Nesta, objetiva-se apurar a materialidade e a autoria do fato delituoso. Na 
segunda fase, de caráter acusatório, o órgão acusador apresenta a acusação, o réu se defende e o juiz 
julga, vigorando, em regra, a publicidade e a oralidade. 
 
Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concursos? 
 
(Ano: 2014. Banca: VUNESP. Órgão: PC-SP. Prova: Delegado de Polícia). No Direito pátrio, o sistema que vige no 
processo penal é o 
 
Sistema adotada pelo OJ Brasileiro. 
 
 
 
 
7 
7 
a) inquisitivo formal. 
b) acusatório formal. 
c) inquisitivo. 
d) inquisitivo unificador. 
e) acusatório. 
 
Gab. E. O OJ brasileiro adota o sistema acusatório. 
 
Como #JÁCAIU esse assunto em prova de concursos? 
 
(Ano: 2018. Banca: FCC. Órgão: DPE-AP. Prova: Defensor Público). O sistema acusatório 
 
a) se caracteriza por separar as funções de acusar e julgar e por deixar a iniciativa probatória com as partes. 
b) se verifica quando a Constituição prevê garantias ao acusado. 
c) tem sua raiz na motivação das decisões judiciais. 
d) vigora em sua plenitude no direito brasileiro. 
e) privilegia a acusação, sedo próprio dos regimes autoritários. 
 
Gab. A. 
 
 
3. Princípios fundamentais do processo penal: 
3.1 Presunção de inocência (ou da não culpabilidade) 
 
 
Em decorrência da alteração de entendimento recente pelo Supremo Tribunal Federal que decidiu sobre 
a impossibilidade de execução provisória da pena, retomando assim ao seu posicionamento de antes, o 
princípio da presunção de inocência ganha ainda mais relevância, devendo ser conferida total atenção ao seu 
estudo. 
Um dos fundamentos para a alteração do entendimento sobre o tema, é no sentido de que, a presunção 
de inocência só cessa com o trânsito em julgado da condenação. Enquanto couber algum recurso, ele se 
presume inocente. Logo, incabível a execução provisória da pena. 
 
- Execução provisória da pena (esse conteúdo será abordado novamente com mais detalhe na sequeência deste 
material). 
1ª Turma do STF aplica entendimento do Plenário no sentido da impossibilidade de execução provisória da 
pena 
Ao julgar as ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54, em 7/11/2019, o Plenário do STF firmou o 
entendimento de que não cabe a execução provisóriada pena. 
 
 
 
 
8 
8 
A 1ª Turma do STF aplicou esse entendimento em um caso concreto no qual o réu estava preso unicamente 
pelo fato de o Tribunal de Justiça ter confirmado a sua condenação em 1ª instância, não tendo havido, contudo, 
ainda, o trânsito em julgado. Logo, o STF, afastando a possibilidade de execução provisória da pena, concedeu 
a liberdade ao condenado até que haja o esgotamento de todos os recursos. 
STF. 1ª Turma. HC 169727/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/11/2019 (Info 961). 
 
O cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos 
O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado da condenação para que se inicie o cumprimento da pena, 
é constitucional, sendo compatível com o princípio da presunção de inocência, previsto no art. 5º, LVII, da 
CF/88. Assim, é proibida a chamada “execução provisória da pena”. Vale ressaltar que é possível que o 
réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, 
é necessário que seja proferida uma decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado 
demonstre que estão presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. Dessa forma, 
o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente (preventivamente), e não como 
execução provisória da pena. STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, 
julgados em 7/11/2019 (Info 958). 
 
a. Conceito: nas lições do professor Renato Brasileiro, a presunção de inocência consiste no direito 
de não ser declarado culpado, senão após o transito em julgado de sentença condenatória, quando 
o acusado já tenha se utilizado de todos os meios de provas pertinentes para sua defesa (ampla 
defesa) e para a destruição da credibilidade das provas apresentadas pela acusação (contraditório). 
b. Previsão constitucional e convencional: o princípio da presunção de inocência possui 
fundamento na Constituição Federal, bem como, na Convenção Americana de Direitos 
Humanos. 
Vejamos: 
Convenção Americana de Direitos Humanos Constituição Federal (presunção de não 
culpabilidade). 
Art. 8º (...) §2º. Toda pessoa acusada de um 
delito tem direito a que se presuma sua 
inocência, enquanto não for legalmente 
comprovada sua culpa. 
Art. 5º (...). LVII – ninguém será considerado 
culpado até que o trânsito em julgado de 
sentença penal condenatória. 
 
A Constituição Federal optou pelo emprego da expressão “presunção de não culpa” e não 
de inocência. Em virtude disso, parte dos doutrinadores argumenta que a CF adota o princípio da 
não-culpa. 
Nos termos da Constituição, o marco limite da presunção seria o trânsito em julgado de 
sentença condenatória. 
 
 
 
 
9 
9 
 
c. Dimensões de atuação do princípio da presunção de inocência: a aplicação do princípio da 
presunção de inocência nos traz algumas consequências para o âmbito do processo. Vejamos: 
a. Dimensão interna: é interna ao processo, que derivam duas regras: 
a.1 – regra probatória: recai sobre a acusação o ônus de comprovar a culpabilidade do acusado, 
além de qualquer dúvida razoável, e não deste de provar sua inocência. 
a.2 – regra de tratamento: a privação cautelar da liberdade de locomoção, sempre qualificada 
pela nota da excepcionalidade, somente se justifica em hipóteses estritas. Em outras palavras, a 
regra é que o acusado permaneça em liberdade durante o processo; a imposição de medidas 
cautelares pessoais é a exceção. 
→caráter excepcional da prisão cautelar. 
Vamos esquematizar? 
Regra probatória Regra de tratamento 
 
Recai exclusivamente sobre a acusação o 
ônus da prova, incumbindo-lhe demonstrar 
que o acusado praticou o fato delituoso que 
lhe foi imputado na peça acusatória. (Renato 
Brasileiro, 2017). 
A privação cautelar da liberdade, sempre 
qualificada pela nota da excepcionalidade, 
somente se justifica em hipóteses estritas, ou 
seja, a regra é responder o processo penal em 
liberdade, a exceção é estar preso no curso do 
processo. (Renato Brasileiro, 2017). 
Exemplo: Art. 386, VI do CPP: 
Art. 386. O juiz absolverá o réu, 
mencionando a causa na parte dispositiva, 
desde que reconheça: VI – existirem 
circunstâncias que excluam o crime ou 
isentem o réu de pena (arts. 20, 21, 22, 23, 26 
e § 1º do art. 28, todos do Código Penal), ou 
mesmo se houver fundada dúvida sobre sua 
existência; 
Exemplo: Art. 5º, CF. “Ninguém será levado à 
prisão ou nela mantida, quando a lei admitir a 
liberdade a liberdade provisória, com ou sem 
fiança”. 
 
 
b. Dimensão externa: em sua dimensão externa o princípio da presunção de inocência e as 
garantias constitucionais da imagem, dignidade e privacidade demandam uma proteção contra a 
publicidade abusiva e a estigmatização do acusado, funcionando como limites democráticos à 
abusiva exploração midiática em torno do fato criminoso e do próprio processo judicial. 
Caso J versus Peru – A Corte Interamericana de Direitos Humanos acabou responsabilizando o 
Peru por violação ao Estado de Inocência, previsto no art. 8,2 da CADH. 
- Caso J. vs. Peru: a Corte Interamericana de Direitos Humanos responsabilizou o Peru por 
violação ao estado de inocência, previsto no art. 8.2 da CADH. A Sra. J. foi presa durante o 
cumprimento de medida de busca e apreensão residencial. Processada criminalmente por 
 
 
 
 
10 
10 
terrorismo e associação ao terrorismo, em virtude de suposta vinculação com o grupo armado 
Sendero Luminoso, foi absolvida em junho de 1993. Logo após ser solta, deixou o território 
peruano. Em dezembro do mesmo ano, a Corte Suprema Peruana cassou a sentença absolutória, 
determinou um novo julgado e decretou sua prisão. Para a CIDH, os distintos pronunciamentos 
públicos das autoridades estatais, sobre a culpabilidade de J. violaram o estado de inocência, 
princípio determinante que o Estado não condene, nem mesmo informalmente, emitindo juízo 
perante a sociedade e contribuindo para formar a opinião pública, enquanto não existir decisão 
judicial condenatória. Para a Corte, a apresentação da imagem da acusada para a imprensa, escrita 
e televisiva, ocorreu quando ela estava sob absoluto controle do Estado, além de as entrevistas 
posteriores também terem sido levadas a cabo sob conhecimento e controle do Estado, por meio 
de seus funcionários. - A Corte acentuou não impedir o estado de inocência que as autoridades 
mantenham a sociedade informada sobre investigações criminais, mas requer que isso seja feito 
com a discrição e a contextualização necessárias, de tal modo a garantir o estado de inocência. 
Assim, fazer declarações públicas, sem os devidos cuidados, sobre processos penais, gera na 
sociedade a crença sobre a culpabilidade do acusado. 
 
d. Limite temporal da presunção de inocência – trânsito em julgado da sentença condenatória, 
conforme o retorno do entendimento da impossibilidade de execução provisória da pena. 
Entre as alterações na Jurisprudência em 2019 tivemos o retorno do entendimento de que o 
cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. 
Em 07 de novembro de 2019, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) encerrou o julgamento das Ações 
Declaratórias de Constitucionalidade (ADCs) de números 43, 44 e 54, decidindo, por 6 votos a 5, pela 
constitucionalidade do artigo 283, caput, do Código de Processo Penal (“Ninguém poderá ser preso senão em 
flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente, em decorrência de 
sentença condenatória transitada em julgado ou, no curso da investigação ou do processo, em virtude de 
prisão temporária ou prisão preventiva.”) e pela inconstitucionalidade da execução provisória da pena 
privativa de liberdade em face da violação ao disposto no art. 5º, inciso LVII, da Constituição da República 
Federativa do Brasil de 1988 (“ninguém será consideradoculpado até o trânsito em julgado de sentença penal 
condenatória”), que consagra o princípio da presunção de inocência. 
 
Inicialmente é relevante mencionar que o assunto em comento repercutiu imensamente na mídia, 
redes sociais e, infelizmente, foi por muitos tratado como assunto político e não jurídico. Nessa linha, 
lembramos que as paixões política e ideológicas devem ser rechaçadas dos estudos, devendo o tema ser 
tratado de forma exclusivamente técnica. Uma vez feita as devidas considerações, passaremos a análise do 
mérito. 
1. Conceito jurídico 
A execução provisória – também chamada de execução antecipada da pena – é o cumprimento da 
pena antes do trânsito em julgado da condenação. Ou seja, ainda que exista algum recurso pendente da defesa, 
a pena já poderá estar sendo cumprida antecipadamente. 
 
 
 
 
11 
11 
Corroborando ao exposto, Márcio André Lopes Cavalcante: 
Desse modo execução provisória da pena significa o réu cumprir a pena imposta na decisão condenatória 
mesmo sendo ainda uma decisão provisória (ainda sujeita a recursos). Execução provisória da pena é, portanto, 
o início do cumprimento da pena imposta, mesmo que a decisão condenatória ainda não tenha transitado em 
julgado.2 
Antecipada Provisória 
Antes do trânsito em julgado. A situação pode ainda sofrer alterações. 
 
2. Modalidades da Execução Provisória – ou antecipada - da pena 
 
▪ Réu está preso: podemos ter a execução provisória da pena quando o réu estiver preso em 
decorrência de prisão cautelar - prisão processual, prisão preventiva. 
Nos casos em que o réu já estiver preso, não há dúvida nenhuma. É possível e cabível a execução 
provisória da pena. Nesses casos não há discussão alguma sobre a execução antecipada. 
Observem que se o réu já respondeu ao processo preso e a sentença manteve a prisão preventiva (ou 
o acórdão manteve a prisão preventiva) não se discute o assunto em análise, é constitucional a execução 
provisória da pena. 
Não obstante as considerações acima, é salutar reforçar que essa execução provisória da pena depende 
de um pressuposto: trânsito em julgado para a acusação - no tocante a pena aplicada. 
Exemplificando: o sujeito foi pego praticando o crime de roubo e foi preso em flagrante. O juiz ao analisar 
o caso converteu a prisão em flagrante em preventiva e com isso o acusado respondeu preso durante toda a 
ação penal. 
Um ano depois é prolatada a sentença condenatória aplicando a pena de 06 anos de reclusão. Com isso temos 
que o acusado, embora tenha sido condenado a 06 anos em regime fechado, já está a 01 ano privado de sua 
liberdade. 
 
2 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. O cumprimento da pena somente pode ter início com o esgotamento de todos os recursos. Buscador 
Dizer o Direito, Manaus. Disponível em: 
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/9b89bedda1fc8a2d88c448e361194f02>. Acesso em: 24/01/2020 
 
 
 
 
12 
12 
O MP toma ciência da sentença e não recorre. A defesa por sua vez apela pleiteando pela absolvição. O 
Tribunal de Justiça ainda não julgou o recurso, estando esse pendente de julgamento. 
Tendo em vista que no decorrer desse tempo o acusado já cumpriu 1/6 da pena – pena de 06 anos e ele está 
preso preventivamente há 01 ano. vejam que nesse caso o próprio acusado tem interesse, ele mesmo pede 
pela execução provisória da pena, isso porque seu objetivo é aguardar o julgamento do recurso em regime 
semiaberto, vez que já cumpriu 1/6 da sua pena e tem o direito de progredir de regime. 
Observem que a execução antecipada da pena, quando o réu está preso, é medida altamente benéfica 
ao acusado, não há espaço para grandes polêmicas. 
Aprofundamento – alegação do princípio da presunção de inocência ou não culpabilidade. 
O professor Cleber Masson, registra que há algumas pessoas que podem diante do tema invocar o princípio 
da presunção de inocência ou não culpabilidade. Contudo, o princípio da presunção de inocência ou não 
culpabilidade é um direito fundamental – ou seja, previsto na Constituição Federal. E, direitos fundamentais 
servem para proteger as pessoas e jamais para prejudica-las. Nesse sentido, se formos evitar a execução 
provisória no caso dado como exemplo, estaríamos, em tese, usando esse direito fundamental para prejudicar 
o réu. 
Para além disso, temos que a execução provisória da pena – nos casos de réu preso – é tratada por 
Resolução do Conselho Nacional de Justiça – CNJ - e também é trabalha na súmula 716 do STF que continua 
valendo. 
 Vejamos: 
SÚMULA 716 
Admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a aplicação imediata de 
regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em julgado da sentença 
condenatória. 
▪ Réu Solto – (a grande polêmica) nessas situações encontramos os casos em que o réu 
respondeu solto a ação penal, ou seja, nem a sentença, nem o acórdão decretaram a prisão 
preventiva – o acusado está em liberdade. 
 
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=716.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas
 
 
 
 
13 
13 
Será então, nesses casos, possível a execução provisória da pena? Cabe a execução provisória 
da pena quando o acusado respondeu solto a ação penal? 
É justamente esse o ponto que gera discussão e polêmica. Diante disso, é necessário que se faça uma 
análise histórica no Brasil acerca do tema. 
 
 
3. Análise histórica no Brasil – Marcos temporais 
• Antes de 2009 – Até o ano de 2009 a execução provisória/antecipada da pena era 
pacificamente admitida no Brasil. 
• 2009 – No ano de 2009 esse entendimento mudou, não sendo mais admitida a execução 
provisória no Brasil. 
• 2016 – Em 2016 o entendimento voltou a mudar, passando então a execução antecipada da 
pena ser admitida. 
• 2019 – Por fim, no ano de 2019 a execução antecipada voltou a ser objeto de debate, momento 
no qual entendeu-se pela impossibilidade dessa. 
 
 
Vejamos de forma ESQUEMATIZADA: 
Até fev/2009 2009 2016 2019 
Até fevereiro de 2009, 
o STF entendia que 
era possível a 
execução provisória 
da pena. 
No dia 05/02/2009, o 
STF, ao julgar o HC 
84078 (Rel. Min. Eros 
Grau), mudou de 
posição e passou a 
entender que não era 
possível a execução 
provisória da pena. 
No dia 05/02/2009, o 
STF, ao julgar o HC 
84078 (Rel. Min. 
Eros Grau), mudou 
de posição e passou a 
entender que era 
possível a execução 
provisória da pena. 
No dia 07/11/2019, o 
STF, ao julgar as 
ADCs 43, 44 e 54 (Rel. 
Min. Marco Aurélio), 
retornou para a sua 
segunda posição e 
afirmou que o 
cumprimento da pena 
somente pode ter 
início com o 
esgotamento de todos 
os recursos. 
Da análise se extrai antes de qualquer coisa a insegurança jurídica que assola nosso país. No marco 
temporal apresentado extrai-se que em poucos anos o entendimento mudou várias vezes e nesse lapso 
temporal a composição dos membros permaneceu quase a mesma, com a exceção do Ministro Teori Zavaski 
que foi substituído pelo Ministro Alexandre de Moraes. 
 
 
 
 
14 
14 
Observem então que a mudança está no posicionamento dos ministros: Rosa Weber, Gilmar Mendes 
e Dias Toffoli eram favoráveis a execução provisória e passaram a ser contrários. O instituto manteve-se o 
mesmo, a alteração em verdade foi em decorrência do entendimento pessoal dos ministros. 
Por fim, no ano de 2019 julgando as ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54 o STF se 
manifestou no sentido de que a execução provisória da pena não pode ser admitida, com base no artigo 283 
do CPP que é considerado CONSTITUCIONAL. 
 
Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da 
autoridade judiciária competente, em decorrência de sentença condenatória transitada em julgado ou, no 
curso da investigação ou do processo, em virtude de prisão temporária ou prisão preventiva. (Redação dada 
pela Lei nº 12.403, de 2011). (Vide ADC Nº43) (Vide ADC Nº 44) (Vide ADC Nº 54)3 
 
4. Posição Atual do STF – Informativo 958. 
O art. 283 do CPP, que exige o trânsito em julgado da condenação para que se inicie o 
cumprimento da pena, é constitucional, sendo compatível com o princípio da presunção de 
inocência, previsto no art. 5º, LVII, da CF/88. 
Assim é proibida a chamada “execução provisória da pena”. 
Vale ressaltar que é possível que o réu seja preso antes do trânsito em julgado (antes do 
esgotamento de todos os recursos), no entanto, para isso, é necessário que seja proferida uma 
decisão judicial individualmente fundamentada, na qual o magistrado demonstre que estão 
presentes os requisitos para a prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP. 
Dessa forma, o réu até pode ficar preso antes do trânsito em julgado, mas cautelarmente 
(preventivamente), e não como execução provisória da pena. 
STF. Plenário. ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgados 
em 7/11/2019 (Info 958). 
 
1ª Turma do STF aplica entendimento do Plenário no sentido da impossibilidade de 
execução provisória da pena 
Ao julgar as ações declaratórias de constitucionalidade 43, 44 e 54, em 7/11/2019, o Plenário 
do STF firmou o entendimento de que não cabe a execução provisória da pena. A 1ª Turma 
do STF aplicou esse entendimento em um caso concreto no qual o réu estava preso 
unicamente pelo fato de o Tribunal de Justiça ter confirmado a sua condenação em 1ª 
instância, não tendo havido, contudo, ainda, o trânsito em julgado. Logo, o STF, afastando 
a possibilidade de execução provisória da pena, concedeu a liberdade ao condenado até que 
haja o esgotamento de todos os recursos. STF. 1ª Turma. HC 169727/RS, Rel. Min. Marco 
Aurélio, julgado em 26/11/2019 (Info 961). 
 
3 Nova redação após o PAC: Art. 283. Ninguém poderá ser preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da 
autoridade judiciária competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação criminal transitada em julgado. 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12403.htm#art1
http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADCN&s1=43&processo=43
http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADCN&s1=43&processo=44
http://www.stf.jus.br/portal/peticaoInicial/verPeticaoInicial.asp?base=ADCN&s1=43&processo=54
 
 
 
 
15 
15 
ADC 43/DF, ADC 44/DF e ADC 54/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, Plenário, j. 07.11.2019, noticiados 
no Informativo 958. Julgamento conjunto que teve como relator o Ministro Marco Aurélio. 
“O plenário, em conclusão de julgamento e por maioria4, julgou procedentes pedidos 
formulados em ações declaratórias de constitucionalidade para assentar a 
constitucionalidade do art. 283 do CPP. Prevaleceu o voto do Ministro Marco Aurélio 
(relator), que foi acompanhado pelos ministros Rosa Weber, Ricardo Lewandowski, Gilmar 
Mendes, Celso de Mello e Dias Toffoli.” 
“O relator afirmou que as ações declaratórias versam o reconhecimento da 
constitucionalidade do art.283 do CPP, no que condiciona o início do cumprimento da pena 
ao trânsito em julgado do título condenatório, tendo em vista o figurino do art. 5º, LVII, da 
CF. Assim, de acordo com o referido preceito constitucional, ninguém será considerado 
culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória. A literalidade do preceito 
não deixa margens a dúvidas: a culpa é pressuposto da sanção, e a constatação ocorre 
apenas com a preclusão maior. O dispositivo não abre campo a controvérsias semânticas.” 
Em suma, o STF externou o entendimento de que o art. 283 do CPP está de acordo com o art. 5º, 
LVII do CF. Noutro giro, o que os votos divergentes levantaram foi o fato de que não se deve analisar o 
art. 5º, VLII isoladamente e a Constituição deve ser analisada como um todo: Direito a segurança 
pública, direito a duração razoável do processo, o papel do STF e STJ no direito penal, recurso 
extraordinário e especial não tem efeito suspensivo, o material probatório é esgotado nas vias ordinárias 
(TJ ou TRF), a celeridade, a efetividade da prestação jurisdicional, etc. 
Registre-se então que os 05 votos divergentes foram no sentido de que de fato o art. 283 do CPP não 
viola o art. 5º, LVII da CF, mas viola outros dispositivos da Constituição Federal. 
LVII – Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; 
O que os Ministros que divergiram levantaram foi que o art. 5º, LVII diz que ninguém será 
considerado culpado, e não que ninguém poderá ser preso antes do trânsito em julgado. A culpa definitiva é 
o trânsito em julgado da condenação, mas o reconhecimento da culpa vai avançando conforme o estágio da 
ação penal e com isso é possível a prisão antes do trânsito em julgado da condenação. 
 
4 Maioria – 6x5 – Placar bastante apertado, demonstrando que ainda que a nível de Suprema Corte o tema é controverso. Vejam que em 2020 o Ministro Celso de Mello se 
aposenta compulsoriamente, na sequencia o ministro Marco Aurélio e com essas situações o entendimento pode ser alterado novamente e no ano de 2020 ou 2021 a questão da 
execução antecipada da pela pode ser novamente objeto de mudança de entendimento, refletindo diretamente na vida das pessoas. 
 
 
 
 
16 
16 
Continua o voto: 
“A CF consagrou a excepcionalidade da custódia no sistema penal brasileiro, sobretudo no 
tocante à supressão da liberdade anterior ao trânsito em julgado da decisão condenatória. 
A regra é apurar para, em virtude de título judicial condenatório precluso na via da 
recorribilidade, prender, em execução da pena, que não admite a forma provisória. A 
execução corre à conta de situações individualizadas nas quais se possa concluir pela 
aplicação do art. 312 do CPP e, portanto, pelo cabimento da prisão preventiva.” (grifo 
nosso). 
Assim, quanto a execução provisória de réu preso, nem os ministros que votaram pela maioria 
discorda no tocante ao trecho em grifo. 
“O abandono do sentido unívoco do texto constitucional gera perplexidades, observada a situação 
veiculada: pretende-se a declaração de constitucionalidade de preceito que reproduz o texto da CF. Ao 
editar o dispositivo em jogo, o Poder Legislativo, por meio da Lei 12.403/20115, limitou-se a concretizar, 
no campo do processo, garantia explícita da CF, adequando-se à ótica então assentada pelo próprio STF 
no julgamento do HC 84.078, julgado em 5 de fevereiro de 2009, segundo a qual “a prisão antes do trânsito 
em julgado da condenação somente pode ser decretada a título cautelar”. Também não merece prosperar a 
distinção entre as situações de inocência e não culpa.” 
“A execução da pena fixada por meio da sentença condenatória pressupõe a configuração do crime, ou seja, 
a verificação da tipicidade, antijuricidade e culpabilidade. Assim, o implemento da sanção não deve ocorrer 
enquanto não assentada a pratica do delito. Raciocínio em sentido contrário implicar em nega os avanços 
do constitucionalismo próprio ao Estado Democrático do Direito. O princípio da não culpabilidade é 
garantia vinculada, pela CF, à preclusão, de modo que a constitucionalidade do art. 283 do CPP não 
comporta questionamentos.” 
O STF foi muito claro em seu entendimento. Essa presunção de inocência só cessa com o trânsito 
em julgado da condenação. Enquanto couber algum recurso, ele se presume inocente. 
“O preceito consiste em reprodução de cláusula pétrea cujo núcleo essencial nem mesmo o poder 
constituinte derivado está autorizado a restringir. A determinação constitucional não surge desprovida de 
 
5 Lembramos aqui que o Código de Processo Pena é de 1941, contudo a redação do artigo 283 foi dada pela lei de 2011. 
 
 
 
 
17 
17 
fundamento. Coloca-se o trânsito em julgado como marco seguro para a severa limitação da liberdade, ante 
a possibilidade dereversão ou atenuação da condenação nas instâncias superiores. Em cenário de profundo 
desrespeito ao princípio da não culpabilidade, sobretudo quando autorizada normativamente a prisão 
cautelar, não cabe antecipar, com contornos definitivos – execução da pena -, a ´supressão da liberdade.” 
(Grifo nosso) 
Para além do acima descrito, vejam que a Suprema Corte refutou – e muito bem – a questão de se 
adotar uma posição intermediária, ratificando como marco (seguro) o trânsito em julgado, não admitindo um 
meio termo. 
A grande análise crítica, o grande problema – e nesse ponto, poucos irão discordar – é a morosidade 
da justiça brasileira, independente do motivo – falta de estrutura, alto volume de serviço, excesso de 
judicialização de todos os tipos possíveis, inflação do direito penal etc – que leva a falta de efetividade da 
justiça penal. Outro ponto, é que o sistema recursal do direito brasileiro é muito complexo. 
O professor Leonardo Barreto Moreira Alves, explica que não havia polêmica acerca da 
constitucionalidade do teor do artigo 283, caput, do Código de Processo Penal (CPP). Ele apenas e tão 
somente prevê as espécies de prisões já existentes no país, quais sejam: a) prisão penal/pena, que é a pena 
privativa de liberdade aplicada após a decisão penal condenatória transitada em julgado, decorrente, portanto, 
de ordem judicial escrita e fundamentada; ela é aplicável, pois, ao culpado, ensejando a sua execução 
definitiva; b) e a prisão cautelar/processual/provisória, que contempla as prisões em flagrante, temporária e 
preventiva; ela é aplicável ao inocente, não permitindo execução nem definitiva, nem provisória. 
Nessa esteira, o que as ADCs pretendiam era que o STF naturalmente declarasse a constitucionalidade 
deste dispositivo legal e afirmasse que ele era delimitativo, taxativo: considerando que nele não se prevê a 
execução provisória da pena privativa de liberdade e sendo tal dispositivo constitucional, a mencionada 
execução restaria vedada pelo ordenamento jurídico, sendo então inconstitucional. Desse modo, com a 
decisão de procedência destas ADCs, o STF, em essência, reconhece que a execução provisória da pena 
privativa de liberdade não está prevista no art. 283 do CPP, que é constitucional, daí porque ela ofende a 
presunção de inocência insculpida no art. 5º, inciso LVII, da Carta Magna Federal. 
Por fim, e não menos importante, cumpre destacarmos que a decisão em comento foi proferida em 
sede de controle concentrado de constitucionalidade, razão pela qual seus efeitos são vinculantes e erga 
omnes, encerrando, portanto, ao menos por ora, a discussão deste tema. Ademais, ela beneficia, desde já, 
pessoas que estavam presas em virtude de acórdão criminal condenatório proferido por juízo de segundo 
grau, que, no entanto, podem continuar presas se for decretada judicialmente em seu lugar a prisão preventiva 
 
 
 
 
18 
18 
ante a existência de motivo cautelar definido no art. 312 do CPP. De outro lado, ela não beneficia réus presos 
já em virtude do decreto judicial de prisão preventiva, a exemplo do que se verificou com o ex-Deputado 
Federal Eduardo Cunha e o ex-Governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral. 
 
 
 
➢ O princípio da presunção de inocência lastreia-se na ideia basilar de “a pessoa que estar 
sendo condenada tem o direito que se presuma sua inocência, até que haja condenação (2ª 
grau) confirmando nesse sentido a autoria delitiva”. 
➢ Do princípio da presunção de inocência decorrem duas regras básicas: regra probatória e 
regra de tratamento. 
➢ 1ª regra probatória →sendo o réu presumidamente inocente, o ônus de provar a culpa é da 
acusação; 
➢ 2ª regra de tratamento →sendo o réu presumidamente inocente, a imposição de prisão 
cautelar só deve ser feita em caráter excepcional. 
➢ O STF entendeu que a execução provisória da pena, após a decisão de 2ª grau, não viola a 
CF; 
➢ Constitucionalidade da execução provisória. 
 
3.2 Nemo tenetur se detegere 
De acordo com o referido princípio ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo. Desse 
modo, o principio do nemo tenetur se detegere veda a autoincriminação, partindo da ideia de que ninguém 
é obrigado a produzir provas contra si mesmo. 
a. Previsão Legal/Constitucional/Convencional 
 Conforme se pode aferir dos dispositivos abaixo declinados, o princípio ora em estudo possui respaldo 
na Convenção, bem como, na Constituição Federal. 
Vamos esquematizar? 
Convenção Americana de Direitos Humanos Constituição Federal 
Artigo 8º –Garantias judiciais 
2. Toda pessoa acusada de um delito tem 
direito a que se presuma sua inocência, 
enquanto não for legalmente comprovada sua 
culpa. Durante o processo, toda pessoa tem 
direito, em plena igualdade, às seguintes 
garantias mínimas: g) direito de não ser obrigada 
a depor contra si mesma, nem a confessar-se 
culpada; 
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem 
distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos 
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a 
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à 
igualdade, à segurança e à propriedade, nos 
termos seguintes: LXIII– o preso será informado 
de seus direitos, entre os quais o de permanecer 
calado, sendo-lhe assegurada a assistência da 
família e de advogado. 
 
 
 
 
19 
19 
 
O direito ao silêncio é um dos desdobramentos do 
nemo tenetur se detegere. 
 
Nesse sentido, contemplamos que o princípio da não autoincriminação (também chamado por parcela 
da doutrina brasileira de direito ao silêncio em sentido amplo) possui status supralegal (Convenção 
Americana de Direitos Humanos) e também constitucional (exatamente na interpretação macro que se 
confere ao direito ao silêncio), consoante se afere da redação dos dispositivos legais a seguir declinados 
(CADH e CF/88, respectivamente). 
b. Quem é o titular do direito a Não-Autoincriminação? 
Quem poderá invocar o direito a não-autoincriminação? 
A Constituição Federal informa que “o preso” será informado de seus direitos, entre os quais, o de 
permanecer calado. Da análise do referido dispositivo constitucional nos leva a falsa percepção de que apenas 
o preso teria o direito ao silêncio, em sentido estrito (mera interpretação gramatical). 
Todavia, conforme expõe o professor Renato Brasileiro, os direitos fundamentais não devem ser 
interpretados de modo restritivo, mas ampliativo. Dessa forma, ao mencionarmos “preso”, em verdade, fica 
assegurado também ao investigado, indiciado, acusado, ou seja, qualquer pessoa sujeita a tutela 
investigatória perpetrada pelo Estado. Corroborando ao exposto, Renato Brasileiro (Manual de Processo 
Penal, 2018): 
O titular do direito de não produzir prova contra si mesmo é, portanto, qualquer pessoa que 
possa se autoincriminar. Qualquer indivíduo que figure como objeto de procedimentos 
investigatórios policiais ou que ostente, em juízo penal, a condição jurídica de imputado, 
tem, dentre as várias prerrogativas que lhe são constitucionalmente asseguradas, o direito de 
não produzir prova contra si mesmo: nemo tenetur se detegere. 
 
Candidato, é possível a testemunha invocar o referido princípio em seu favor? Enquanto testemunha, 
a pessoa tem a obrigação de dizer a verdade, salvo se das perguntas formuladas resultar autoincriminação, 
caso em que ela estará protegida pelo nemo tenetur se detegere. 
 
Falso testemunho ou falsa perícia 
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou 
intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, 
de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
 
 
 
20 
20 
Para fins de verificar se a “testemunha” terá direito ou não de invocar em seu favor o princípio em 
estudo é preciso saber se naquele processo ele figurava tão somente como testemunha ou se, em verdade, das 
perguntas e respostasde seu interrogatório poderia ensejar na sua autoincriminação. 
A testemunha enquanto tal não tem direito ao silêncio. Todavia se das perguntas formuladas puder 
resultar uma autoincriminação poderá alegar o referido princípio. 
Dessa forma, chegamos a conclusão de que testemunha – enquanto ouvida como testemunha, a pessoa 
tem a obrigação de dizer a verdade, sob pena de responder pelo crime do art. 342 do Código Penal. Porém, 
se das perguntas formuladas à testemunha puder resultar autoincriminação, está pode se valer do direito à 
não autoincriminação. 
Jurisprudência 
RHC 122.279, STF. Supremo reconheceu que viola o princípio da não autoincriminação, denúncia baseada 
por acusação feita por pessoa ouvida na condição de testemunha, quando não tiver sido advertido do seu 
direito ao silêncio. 
STF: “(...) Paciente que, embora rotulado de testemunha, em verdade encontrava-se na condição de 
investigado. Direito constitucional ao silêncio. Atipicidade da conduta. Ordem concedida para trancar a ação 
penal ante patente falta de justa causa para prosseguimento”. (STF, 2ª Turma, HC 106.876/RN, Rel. Min . 
Gilmar Mendes, j. 14/06/2011, DJe 125 30/06/2011). No mesmo contexto: STF, Pleno, HC 73.035/DF, 
Rel. Min. Carlos Velloso, j. 13/11/1996, DJ 19/12/1996; STF, 2ª Turma, RHC 122.279/RJ, Rel. 
Min. Gilmar Mendes, j. 12/08/2014, DJe 213 29/10/2014. 
 
c. Existe um dever de advertência quanto ao direito a não-autoincriminação: a pessoa precisa ser 
informada do seu direito ao silêncio? 
A Constituição Federal dispõe que “o preso SERÁ INFORMADO de seus direitos, entre os quais, o 
de permanecer calado...”. Pelo teor do texto constitucional, chegamos a conclusão de que existe sim um 
dever de advertência quanto a existência desse seu direito. 
Denota-se assim a obrigatoriedade do dever de advertir o referido sobre o direito em comento, sob 
pena de se considerar ilícita eventual confissão. 
Cumpre destacarmos, ainda que, a Nova Lei de Abuso de Autoridade tipificou entre os seus tipos 
penais a conduta da autoridade que prossegue com o interrogatório, mesmo que a pessoa tenha decidido 
exercer o seu direito ao silêncio. Vejamos: 
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função, ministério, ofício ou 
profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo: 
 
 
 
 
21 
21 
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório: 
I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio; ou 
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a presença de seu 
patrono. 
 
3.2.3.1.1 Aviso de Miranda 
 Os Miranda rights ou Miranda warnings têm origem no famoso julgamento Miranda V. Arizona, 
verificado em 1966, em que a Suprema Corte americana, por cinco votos contra quatro, firmou o 
entendimento de que nenhuma validade pode ser conferida às declarações feitas pela pessoa à polícia, a 
não ser que antes ela tenha sido claramente informada de: 
1) que tem o direito de não responder; 
2) que tudo o que disser pode vir a ser utilizado contra ele; 
3) que tem o direito à assistência de defensor escolhido ou nomeado. 
No referido julgamento, a Suprema Corte americana adotou a posição de que a mera ausência dessa 
formalidade era o bastante para inquinar de nulidade as declarações da pessoa, especialmente a confissão e 
as provas conseguidas a partir dela (Manual de Processo Penal, Renato Brasileiro, 2017, pág. 71). 
Jurisprudência 
STF: “(...) Gravação clandestina de “conversa informal” do indiciado com 
policiais. Ilicitude decorrente - quando não da evidência de estar o suspeito, na ocasião, 
ilegalmente preso ou da falta de prova idônea do seu assentimento à gravação ambiental 
- de constituir, dita “conversa informal ”, modalidade de “interrogatório” sub- reptício, 
o qual - além de realizar-se sem as formalidades legais do interrogatório no inquérito 
policial (C.Pr.Pen. , art. 6º, V) -, se faz sem que o indiciado seja advertido do seu direito ao 
silêncio. O privilégio contra a auto-incriminação - nemo tenetur se detegere -, erigido em 
garantia fundamental pela Constituição – além da inconstitucionalidade superveniente da 
parte final do art. 186 C.Pr.Pen. - importou compelir o inquiridor, na polícia ou em juízo, ao 
dever de advertir o interrogado do seu direito ao silêncio: a falta da advertência - e da sua 
documentação formal - faz ilícita a prova que, contra si mesmo, forneça o indiciado 
ou acusado no interrogatório formal e, com mais razão, em “conversa informal” gravada, 
clandestinamente ou não. (...)”. (STF, 1ª Turma, HC 80.949/RJ, Rel. Min. Sepúlveda 
Pertence, DJ 14/12/2001). 
 
 
 
 
22 
22 
3.2.3.1.2 O dever de advertência deve ser observado pela imprensa? 
 “Existe obrigatoriedade de advertência quanto ao direito ao silêncio por parte da 
imprensa”?! 
 
Parcela ainda que minoritária defende que esse dever de advertência também se aplicaria a imprensa, 
como decorrência da eficácia horizontal dos direitos fundamentais (aplicação e respeito dos referidos direitos 
nas relações privadas). Essa posição, todavia, não é seguida pelo STF. HC 99.558. (Não obstante, muito 
acertadamente considerou a 2ª Turma, em julgamento unânime, que não procedem tais argumentos, pois “o 
dever de advertir os presos e os acusados em geral de seu direito de permanecerem calados consubstancia-se 
em uma garantia processual penal que tem como destinatário precípuo o Poder Público”, razão pela qual 
“não há que se arguir qualquer nulidade na relação estabelecida entre o paciente e o veículo de imprensa”). 
Em síntese, o STF entendeu que O DEVER DE ADVERTÊNCIA SÓ PODERIA SER EXIGIDO DAS 
AUTORIDADES (PODER PÚBLICO), E NÃO DE PARTICULARES. 
 Vejamos: 
STF: “(...) Alegação de ilicitude da prova, consistente em entrevista concedida pelo paciente ao jornal “A 
Tribuna”, na qual narra o modus operandi de dois homicídios perpetrados no Estado do Espírito Santo, na 
medida em que não teria sido advertido do direito de permanecer calado. Entrevista concedida de forma 
espontânea. Constrangimento ilegal não caracterizado. Ordem denegada”. (STF, 2ª Turma, HC 99.558/ES, Rel. 
Min. Gilmar Mendes, j. 14/12/2010). 
 
 
d. Desdobramentos do Princípio do Nemo Tenetur se Detegere: 
Do exercício desse direito e de seus demais desdobramentos não pode resultar nenhum tipo de prejuízo. 
São desdobramentos do princípio do nemo tenetur se detegere: 
➢ Direito de não declarar contra si mesmo; 
➢ Direito de não confessar; e 
➢ Direito de não falar à verdade (que se distingue do “direito de mentir”!). 
Vamos analisar cada uma das circunstâncias? 
3.2.4.1.1 Direito ao silêncio ou de permanecer calado: o direito ao silêncio, previsto na Carta 
Magna como direito de permanecer calado, apresenta-se apenas como uma das várias 
decorrências do nemo tenetur se detegere, segundo o qual ninguém é obrigado a 
produzir prova contra si mesmo. 
 
 
 
 
23 
23 
3.2.4.1.2 Direito ao silêncio no Tribunal do Júri e sua utilização como argumento de autoridade: 
o direito ao silêncio também pode ser exercitado no procedimento do Júri. Nesse 
contexto, cumpre destacar que o exercício desse direito não pode ser usado como 
argumento de autoridade para a formação de convencimento dos jurados (art. 478, II, 
CPP). 
O prof. Renato Brasileiro explica que em tempos anteriores, era comum o 
acusado no júri ficar calado no início e o promotor usar isso em seu desfavor no 
momento dos debates. Isso, no entanto, não pode mais ser feito desde que a Lei 
11.689/2008 alterou o CPP, determinando que o exercício do direito ao silêncio não 
pode ser utilizado como argumento para convencer os jurados, principalmente porque 
esse seria um argumento apto a impressionar o jurado e, facilmente,convencê-lo, já 
que ele não precisa fundamentar seu voto. 
Vejamos o regramento legal: 
Art. 478. Durante os debates as partes não poderão, sob pena de nulidade, fazer referências: II – ao 
silêncio do acusado ou à ausência de interrogatório por falta de requerimento, em seu prejuízo. 
 
3.2.4.1.3 Direito a mentira ou inexigibilidade: a mentira não constitui direito do acusado, sendo 
apenas tolerada pelo Ordenamento Jurídico Brasileiro, se e quando necessária para 
viabilizar o direito de autodefesa com a pretensão de afastar a responsabilização 
criminal, observadas a razoabilidade e a proporcionalidade. No Ordenamento Jurídico 
Brasileiro, não existe o crime de perjúrio (quanto o próprio acusado opta por mentir). 
Nesse cenário, não devemos entender que o Ordenamento admite e assegura o direito 
à mentira, na verdade, por interpretação, deve-se entender que há uma inexigibilidade 
em se dizer a verdade. 
 
STF: “(...) O direito de permanecer em silêncio insere-se no alcance concreto da cláusula 
constitucional do devido processo legal. E nesse direito ao silêncio inclui-se até mesmo por 
implicitude, a prerrogativa processual de o acusado negar, ainda que falsamente, perante a 
autoridade policial ou judiciária, a prática da infração penal”. (STF, 1ª Turma, HC 68.929/SP, 
Rel. Min. Celso de Mello, DJ 28/08/1992). 
 
Obs.: Atenção quanto ao limite que deve ser observado no tocante as chamadas “mentiras agressivas”. 
 
 
 
 
24 
24 
- Mentiras agressivas: ocorre quando há a incriminação de terceiros inocentes. Por exemplo, acusado que 
cria uma versão dos fatos, de modo que incrimina terceiros. Nesse caso, essa mentira não está assegurada 
pelo direito de não autoincriminação, podendo, inclusive, constituir crime, por exemplo, denunciação 
caluniosa. 
Corroborando ao exposto, preleciona Renato Brasileiro (Manual de Processo Penal, 2018): 
Se essa mentira defensiva é tolerada, especial atenção deve ser dispensada às denominadas 
mentiras agressivas, quando o acusado imputa falsamente a terceiro inocente a prática do 
delito. Nessa hipótese, dando causa à instauração de investigação policial, processo 
judicial, investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa 
contra alguém que o sabe inocente, o agente responderá normalmente pelo delito de 
denunciação caluniosa (CP, art. 339), porque o direito de não produzir prova contra si 
mesmo esgota-se na proteção do réu, não servindo de suporte para que possa cometer outros 
delitos. Também é crime a conduta de acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente 
ou praticado por outrem (CP, art. 341, autoacusação falsa). 
 
3.2.4.1.4 Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa vim a incriminá-lo: 
por força do direito de não produzir prova contra si mesmo, doutrina e jurisprudência 
têm adotado o entendimento de que não se pode exigir um comportamento ativo do 
acusado, caso desse facere possa resultar a autoincriminação. 
É cediço que alguns meios de prova demandam um comportamento ativo, 
como a reconstituição do fato delituso. Outros, um comportamento meramente 
passivo, como o reconhecimento de pessoas e coisas. No primeiro caso, incide a 
proteção do nemo tenetur, motivo pelo qual o investigado/acusado não é obrigado a 
realizar qualquer ação. No segundo caso, porém, a proteção não incide, de modo que 
a recusa do acusado pode, mesmo assim, implicar na produção da prova. 
Vejamos: 
Comportamento Ativo Comportamento Passivo 
O acusado está protegido pelo princípio do 
Nemo tenetur se detegere. 
Haverá observância do princípio. 
Referidos comportamentos passivos não estão 
abrangidos. 
Não haverá proteção pelo referido princípio. 
 
Comportamento Ativo 
Exemplos: 
• Reconstituição do crime; demanda do sujeito um comportamento ativo. Nesse caso, o acusado não é 
obrigado a participar. 
• Doação de sangue para submeter a DNA. 
 
 
 
 
25 
25 
• Exame grafotécnico: acusado não está obrigado a submeter-se; 
• O acusado não está obrigado a fornecer padrões vocais necessários a subsidiar prova pericial de 
verificação de interlocutor. Nesses casos, o acusado estará amparado pelo princípio do nemo tenetur se 
detegere. 
Jurisprudência 
STF: “(...) O privilégio contra a auto-incriminação, garantia constitucional, permite ao paciente o exercício 
do direito de silêncio, não estando, por essa razão, obrigado a fornecer os padrões vocais necessários a 
subsidiar prova pericial que entende lhe ser desfavorável. Ordem deferida, em parte, apenas para, 
confirmando a medida liminar, assegurar ao paciente o exercício do direito de silêncio, do qual deverá ser 
formalmente advertido e documentado pela autoridade designada para a realização da perícia”. (STF, 
2ª Turma, HC 83.096/RJ, Rel. Min. Ellen Gracie, DJ 12/12/2003 p. 89). 
 
Comportamento Passivo 
• Reconhecimento; 
• Identificação criminal; 
O Supremo entendeu que o direito a não autoincriminação não assegura ao acusado o direito de 
ocultar ou falsear a sua identidade. E também: STF, P Turma, RE n2 561.704, Rei. Mio. Ricardo 
Lewandowski, DJe 64 02/04/2009. Em sentido contrário, a Turma do STJ já entendeu que não comete o 
crime de falsa identidade previsto no art. 307 do CP o agente que mente a sua identidade perante a autoridade 
policial para furtar-se à prisão em flagrante, pois tal atitude infere-se no exercício de autodefesa, não se 
vislumbrando a intenção de obter vantagem ou de causar dano a outrem: STJ, 6-Turma, HC nS 97.857/SP, 
Rei. Min. Og Fernandes, Dje 10/11/2008. 
CP, Art. 307. Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em 
proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três meses a 
um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave. 
 
Súmula 522 do STJ: A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é TÍPICA, ainda 
que em situação de alegada autodefesa. 
 
 
Acessar: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/05/sc3bamula-522-stj1.pdf 
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/05/sc3bamula-522-stj1.pdf
 
 
 
 
26 
26 
3.2.4.1.5 Direito de não permitir a prática de prova invasiva: é importante entender o que se 
entende por intervenções corporais, assim como o conceito de provas invasivas e não 
invasivas. 
Vamos Esquematizar? 
Prova invasiva Prova não invasiva 
São as intervenções corporais que pressupõem 
penetração no organismo humano. Estão 
abrangidas pelo nemo tenetur se detegere, ou 
seja, só podem ser produzidas se houver 
concordância por parte do imputado. 
 
Exemplo: extração de sague para exame de 
DNA. 
Consistem numa inspeção ou verificação 
corporal. São aquelas em que não há 
penetração no corpo humano, nem implicam a 
extração de parte dele, como as perícias de 
exames de materiais fecais, os exames de 
DNA realizados a partir de fios de cabelo 
encontrados. 
 
3.2.4.1.6 É possível a análise do material descartado? 
Nas lições do Professor Renato Brasileiro, quando se trata de material descartado pela pessoa 
investigada, é impertinente invocar o princípio do nemo tenetur se detegere. Nesse caso, é plenamente 
possível apreender o material descartado, seja orgânico (produzido pelo próprio corpo, como saliva, suor, 
fios de cabelo), seja ele inorgânico (decorrentes do contato de objetos com o corpo, tais como copos ou 
garrafas sujas de saliva, etc.) Por exemplo, se não é possível retirar à força um fio de cabelo de um suspeito 
para realizar um exame de DNA, nada impede que um fio de cabelo desse indivíduo seja apreendido em um 
salão de beleza (Manual de Processo Penal, 2017, 76). 
- Caso Glória T: o STF entendeu pela a legalidade da determinação de coleta da placenta no procedimento 
médico do parto da cantora chilena G. T., a fim de que fosse possível, posteriormente, a realização do exame 
de DNA, de modo a dirimira dúvida quanto a quem era o pai da criança. Nessa situação, a intervenção 
médica era necessária e não houve a coleta à força da placenta, uma vez que esta é expelida do corpo humano 
como consequência natural do processo de parto. 
Jurisprudência 
STF: “(...) Coleta de material biológico da placenta, com propósito de se fazer exame de 
DNA, para averiguação de paternidade do nascituro, embora a oposição da extraditanda. 
(....) Mantida a determinação ao Diretor do Hospital Regional da Asa Norte, quanto à 
realização da coleta da placenta do filho da extraditanda. (...) Bens jurídicos constitucionais 
como “moralidade administrativa”, “persecução penal pública” e “segurança pública” 
 
 
 
 
27 
27 
que se acrescem, - como bens da comunidade, na expressão de Canotilho, - ao direito 
fundamental à honra (CF , art. 5°, X), bem assim direito à honra e à imagem de policiais 
federais acusados de estupro da extraditanda, nas dependências da Polícia Federal, e direito 
à imagem da própria instituição, em confronto com o alegado direito da reclamante 
à intimidade e a preservar a identidade do pai de seu filho. (...) Mérito do pedido 
do Ministério Público Federal julgado, desde logo, e deferido, em parte, para autorizar 
a realização do exame de DNA do filho da reclamante, com a utilização da 
placenta recolhida, sendo, entretanto, indeferida a súplica de entrega à Polícia Feder al do 
“prontuário médico” da reclamante”. (STF, Tribunal Pleno, Rcl-QO 2.040/DF, Rel. Min. 
Néri da Silveira, DJ 27/06/2003 p. 31). 
 
Candidato, o exame de raio X, é considerado prova invasiva ou não invasiva? 
O STJ entendeu que o exame de raio X é uma prova NÃO INVASIVA. Assim, o referido exame 
poderá ser realizado mesmo contra a vontade do individuo. Ademais, é importante a realização do referido 
como forma de proteção ao bem jurídico maior, vida. 
Nesse sentido, o prof. Renato Brasileiro explica que no caso das chamadas “mulas”, que transportam 
drogas no organismo humano, não é possível obrigar a pessoa a realizar uma cirurgia para retirada ou, no 
mínimo, que ela tome algum tipo de remédio para expelir o conteúdo da droga. É possível, no entanto, a 
realização de um raio-x, que é modalidade de prova não invasiva. 
Jurisprudência 
STJ: “(...) A Constituição Federal, na esteira da Convenção Americana de Direitos 
Humanos e do Pacto de São José da Costa Rica, consagrou, em seu art. 5º, inciso LXIII, o 
princípio de que ninguém pode ser compelido a produzir prova contra si. Não há, 
nos autos, qualquer comprovação de que tenha havido abuso por parte dos policiais 
na obtenção da prova que ora se impugna. Ao contrário, verifica-se que os pacientes 
assumiram a ingestão da droga, narrando, inclusive, detalhes da ação que culminaria no 
tráfico internacional da cocaína apreendida para a Angola, o que denota cooperação com a 
atividade policial, refutando qualquer alegação de coação na colheita da prova. 
Ademais, é sabido que a ingestão de cápsulas de cocaína causa risco de morte, motivo pelo 
qual a constatação do transporte da droga no organismo humano, com o posterior 
procedimento apto a expeli-la, traduz em verdadeira intervenção estatal em favor da 
integridade física e, mais ainda, da vida, bens jurídicos estes largamente tutelados pelo 
 
 
 
 
28 
28 
ordenamento. Mesmo não fossem realizadas as radiografias abdominais, o próprio 
organismo, se o pior não ocorresse, expeliria naturalmente as cápsulas ingeridas, de 
forma a permitir a comprovação da ocorrência do crime de tráfico de entorpecentes. (...) 
Ordem denegada”. (STJ, 6ª Turma, HC 149.146/SP, Rel. Min. Og Fernandes, julgado 
em 05/04/2011). 
 
e. Nemo tenetur se detegere e a prática de outros ilícitos: o princípio em estudo, nemo tenetur se 
detegere não tem natureza absoluta, podendo constituir conduta criminosa, determinados 
comportamentos que forem empregados a pretextos de estar amparado pelo referido princípio. 
Assim, apesar de ninguém ser obrigado a produzir provas contra si mesmo, nenhum direito pode 
ser usado como escudo protetor para a realização de atividades ilícitas. 
Nesse sentido, vejamos alguns exemplos. 
Exemplo 1: Crime de Fraude Processual – previsto no art. 347 do Código Penal. 
Fraude processual 
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de 
lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: 
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. 
Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não 
iniciado, as penas aplicam-se em dobro. 
Foi o que aconteceu no caso do Casal Nardoni →qual foi acusado e condenado por fraude 
processual. A defesa, no caso deste crime específico (alteração da cena do crime), alegou o 
princípio do nemo tenetur se detegere, afirmando que ninguém é obrigado a produzir provas 
contra si mesmo. Entretanto, tal princípio não dá direito à pessoa de cometer outras infrações para 
se eximir da anterior. 
 
Jurisprudência 
O Superior Tribunal de Justiça assim se pronunciou no habeas corpus impetrado em favor 
de A. N. e A. C. J, denunciados pelo homicídio triplamente qualificado de Isabela Nardoni, 
e também por fraude processual, em decorrência da alteração do local do crime: “(...) O 
direito à não auto-incriminação não abrange a possibilidade de os acusados alterarem a cena 
do crime, inovando o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, para, criando artificiosamente 
outra realidade, levar peritos ou o próprio Juiz a erro de avaliação relevante (...)”. (STJ, 5ª 
 
 
 
 
29 
29 
Turma, HC 137.206/SP, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, j. 01/12/2009, DJe 
01/02/2010). 
 
Exemplo 2: Crime de Falsa Identidade – previsto no art. 307 do Código Penal. 
Falsa identidade 
Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para obter vantagem, em proveito 
próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: 
Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais 
grave. 
 
É muito comum que o acusado por qualquer delito e que esteja foragido, ao ser preso, falseie a 
sua identidade. Os Tribunais Superiores entendem que, neste caso, também não é possível alegar 
o princípio do nemo tenetur se detegere, pois o princípio não dá o direito de a pessoa falsear a sua 
própria identidade. Esse entendimento foi sumulado pelo STJ (Súmula 522). Vejamos: 
 
Súmula 522-STJ. A conduta de atribuir-se falsa identidade perante autoridade policial é típica, ainda que em 
situação de alegada autodefesa. 
Em outra ocasião a Corte Suprema (STF) já tinha se manifestado nesse sentido também. Vejamos: 
“O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele 
que atribui falsa identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus 
antecedentes, sendo, portanto, típica a conduta praticada pelo agente (art. 307 do CP). O tema 
possui densidade constitucional e extrapola os limites subjetivos das partes. STF. Plenário. RE 
640139 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2011”. 
 
 
Acessar: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/05/sc3bamula-522-stj1.pdf 
 
 Exemplo 3: Art. 305 do CTB – Atençãããão, pois o exemplo é atualizadíssimo. 
CTB, “Art. 305. Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à 
responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída: 
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.” 
 
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2015/05/sc3bamula-522-stj1.pdf
 
 
 
 
30 
30 
No caso de crimes de trânsito, o afastamento do condutor do local do acidente causa algumas 
polêmicas. Alguns doutrinadores consideram talcrime seria inconstitucional. Entretanto, no fim de 2018, o 
STF considerou este crime constitucional, afirmando que o condutor tem o dever de permanecer no local, 
mas não é obrigado a produzir provas contra si mesmo. 
 Vejamos: 
STF: “(...) “A regra que prevê o crime do art. 305 do CTB é constitucional posto não infirmar 
o princípio da não incriminação, garantido o direito ao silêncio e as hipóteses de exclusão 
de tipicidade e de antijuridicidade”. À semelhança do que já fora decidido pelo Supremo no 
julgamento do RE 640.139, quando se afirmou que o princípio constitucional da 
autoincriminação não alcança aquele que atribui falsa identidade perante autoridade 
policial com o intuito de ocultar maus antecedentes, prevaleceu o entendimento de que não 
há direitos absolutos e que, no sistema de ponderação de valores, há de ser admitida certa 
mitigação, até mesmo do princípio da não autoincriminação. Na visão da Corte, a exigência 
de permanência no local do acidente e de identificação perante a autoridade de trânsito não 
obriga o condutor a assumir expressamente sua responsabilidade civil ou penal e tampouco 
enseja que seja aplicada contra ele qualquer penalidade caso assim não o proceda. Na 
verdade, a depender do caso concreto, a sua permanência no local pode até constituir um 
meio de autodefesa, na medida em que terá a oportunidade de esclarecer, de imediato, 
eventuais circunstâncias do acidente que lhe sejam favoráveis”. (STF, Pleno, RE 
971.959/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/11/2018). 
 
Limites da Autodefesa 
A autodefesa é um direito ilimitado? Não. A autodefesa não é um direito absoluto. Exemplo disso, já 
consagrado há muito tempo, é o fato de que se o réu, em seu interrogatório, imputar falsamente o crime a 
pessoa inocente, responderá por denunciação caluniosa (art. 399, CP). 
Autodefesa e uso de documento falso (art. 304 do CP) 
Candidato, como expressão do direito à autodefesa, o réu pode apresentar um documento falso para não 
se prejudicar criminalmente? Ex.: João é parado em uma blitz da PM e, sabendo que havia um mandado de 
prisão contra si expedido, apresenta a cédula de identidade de seu irmão com sua foto no lugar. Isso é 
permitido? 
 
 
 
 
31 
31 
Não. Na hipótese retratada, João poderia ser condenado por uso de documento falso. Esse é o entendimento 
do STF e STJ: 
O fato de o paciente ter apresentado à polícia identidade com sua foto e assinatura, porém com 
impressão digital de outrem, configura o crime do art. 304 do Código Penal. Havendo adequação entre a 
conduta e a figura típica concernente ao uso de documento falso, não cabe cogitar de que a atribuição de 
identidade falsa para esconder antecedentes criminais consubstancia autodefesa. STF. 2ª Turma. HC 92763, 
Rel. Min. Eros Grau, julgado em 12/02/2008. 
O STF entende que há crime quando o agente, para não se incriminar, atribui a si uma identidade que 
não é sua. Essa questão já foi, inclusive, analisada pelo Pleno do STF em regime de repercussão geral: 
O princípio constitucional da autodefesa (art. 5º, inciso LXIII, da CF/88) não alcança aquele que atribui falsa 
identidade perante autoridade policial com o intento de ocultar maus antecedentes, sendo, portanto, típica a 
conduta praticada pelo agente (art. 307 do CP). O tema possui densidade constitucional e extrapola os limites 
subjetivos das partes. STF. Plenário. RE 640139 RG, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/09/2011. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
32 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
SUMÁRIO DA AULA 
Princípio do contraditório. Princípio da ampla defesa. Princípio do juiz natural. Princípio da publicidade. Princípio 
da proporcionalidade. Princípio da busca da verdade. Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios 
ilícitos. Lei processual no tempo. Interpretação da lei processual penal. 
 
Conteúdo 02: Princípios (princípio do contraditório; princípio da ampla defesa; princípio do 
juiz natural e princípio da publicidade); Lei processual no tempo e Interpretação da lei 
processual penal. 
 
3.3 Princípio do Contraditório: nos termos do art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal, aos litigantes, em 
processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla 
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. 
 
a. Conceito: é a ciência dos atos processuais e a possibilidade de contrariá-los. Em um primeiro 
momento é dado ao acusado a (1) ciência da imputação delitiva que lhe esta sendo feita e em 
seguida, a (2) oportunidade de contrariar. 
 
Nessa esteira, corroborando ao exposto, Renato Brasileiro “o contraditório consiste na ciência 
bilateral dos atos ou termos do processo e a possibilidade de contrariá-los. Eis o motivo pelo 
qual se vale a doutrina da expressão audiência bilateral, consubstanciada pela expressão em 
latim audiatur et altera pars (seja ouvida também a parte adversa)”. 
Binômio: ciência da imputação + possibilidade de manifestação (contrariar a acusação). 
 
b. Elementos do contraditório: direito à informação e direito de participação. 
a) direito à informação: 
b) direito de participação: 
Esses elementos correspondem a uma concepção original do princípio do contraditório. Isso 
significa que a parte tem direito à informação, o que justifica a importância dos atos de 
comunicação (citação, intimação, notificação), além da possibilidade de contrariar, 
materializando assim o direito de participação. 
 
 
 
 
 
33 
33 
Dessa forma, o contraditório seria, assim, a necessária informação às partes e a possível reação a 
atos desfavoráveis. 
 
 
Súmula 707 do STF. Constitui nulidade a falta de intimação do denunciado para oferecer 
contrarrazões ao recurso interposto da rejeição da denúncia, não suprindo a nomeação de defensor 
dativo. 
 
c. Contraditório efetivo e equilibrado 
Na atualidade, há uma concepção mais moderna de contraditório, trabalha-se com o chamado 
“contraditório efetivo e equilibrado”. Desse modo, em uma posição moderna o contraditório não 
se restringe a mera possibilidade de contrariar o ato, essa contrariedade deve ser efetiva. Assim, 
temos que houve uma mudança objetiva e subjetiva. 
Desse modo, segundo Brasileiro “hoje, em uma posição mais moderna, o princípio do 
contraditório sofreu mudança objetiva e subjetiva, não sendo suficiente a possibilidade de reação. 
O contraditório deve ser efetivo”. 
 
d. Contraditório para a prova (contraditório real) e contraditório sobre a prova (diferido) 
O contraditório para a prova deve ser compreendido como contraditório real, ao passo que o 
contraditório sobre a prova é diferido. 
Contraditório para a prova Contraditório sobre a prova 
Por ocasião da produção da prova (regra). 
Exemplo: prova testemunhal. As partes 
estarão presentes no momento da produção 
das provas, podendo questionar. 
CONTRADITÓRIO REAL. 
A concretização do contraditório é realizado 
em momento posterior. 
Exemplo: interceptação telefônica. 
 
CONTRADITÓRIO DIFERIDO. 
 
Nessa linha, corroborando ao exposto, Renato Brasileiro (Manual de Processo Penal, 2017): o 
contraditório para a prova (ou contraditório real) demanda que as partes atuem na própria 
formação do elemento de prova, sendo indispensável que sua produção se dê na presença do órgão 
julgador e das partes. É o que acontece com a prova testemunhal colhida em juízo, onde não há 
qualquer razão cautelar a justificar a não intervenção das partes quando de sua produção, sendo 
obrigatória, pois, a observância do contraditório para a realização da prova. Por outro lado, o 
contraditório sobre a prova, também conhecido como contraditório diferido ou postergado, 
 
 
 
 
34 
34 
traduz-se no reconhecimento da atuação do contraditório após a formação da prova. Em outras 
palavras, a observância do contraditório é feita posteriormente, dando-se oportunidade ao acusado 
e a seu defensor de, no curso do processo, contestar

Outros materiais