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55 M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Capítulo 6 Microempresa e empresa de pequeno porte Neste capítulo, serão apresentadas algumas características que di- ferenciam as microempresas, empresas de pequeno porte, empresa in- dividual e empresa individual de responsabilidade limitada. Ainda serão destacados alguns dos benefícios de cada um desses tipos societários. Esses tipos societários foram criados por lei especial após a entrada em vigência do Código Civil (BRASIL, 2002), com o intuito de tirar da informalidade muitos pequenos e médios empreendedores do Brasil. Com esse objetivo, verificaremos que esses tipos societários têm privilégios de ordem jurídica, tributária, administrativa, o que incentiva a adesão desses pequenos e médios empreendedores à legalidade. Todavia, existem outros tipos societários regulamentados por lei es- pecial, tão importantes quanto esses que possuem privilégios. 56 Introdução ao direito Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .A sociedade anônima é um exemplo. Esse tipo empresarial é mais comum em empresas multinacionais de grande porte, já que a emissão de ações favorece a captação de recursos em larga escala. Também não têm os privilégios dos pequenos e médios empreendedores, em- bora sua importância seja indiscutível em razão do grande número de empresas que assim se configuram. 1 Microempresa A microempresa foi regulamentada em 2006 pela Lei Complementar nº 123 (BRASIL, 2006). Antes disso, a Constituição Federal determinou que fosse estabelecido tratamento diferenciado e favorecido para as microempresas e empresas de pequeno porte em seus artigos 146, in- ciso III, letra d, artigo 170, inciso IX e artigo 179. A Constituição estabele- ceu para as microempresas a simplificação, a redução ou a eliminação das obrigações tributárias, administrativas, previdenciárias e creditícias, dando-lhes tratamento jurídico diferenciado. O regime tributário de caráter diferenciado e simplificado criado pela própria Lei Complementar nº 123/2006 (BRASIL, 2006), conforme artigo 1º, para ser aplicado às microempresas, chama-se Simples Nacional. Microempresas são assim consideradas pela Lei Geral (Lei Complementar nº 123 – BRASIL, 2006), artigo 3º: as sociedades empre- sárias,1 as sociedades simples,2 as empresas individuais de responsabi- lidade limitada3 e os empresários, devidamente registrados nos órgãos 1 Sociedades empresárias ou empresas individuais são aquelas cuja atividade empresarial são desenvolvidas, conforme Fábio Ulhoa Coelho (2012) pela “própria pessoa física ou natural, respondendo os seus bens pelas obrigações que assumiu, quer sejam civis, quer comerciais”. 2 Sociedades simples são aquelas constituídas mediante contrato escrito, cujas cláusulas devem conter o disposto no artigo 997 do Código Civil. Diferencia-se da sociedade empresária porque permite o exercício de atividade intelectual. O contrato deve ser levado a registro no Cartório de Registro Civil de Pessoas Jurídicas. 3 Empresas individuais de responsabilidade limitada serão objeto de estudo deste capítulo. 57Microempresa e empresa de pequeno porte M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. competentes, que recebam, em cada ano, a receita bruta igual ou infe- ior a R$ 360.000,00. Vários tipos societários podem enquadrar-se como microempresa. parágrafo 4º do artigo 3º da Lei Complementar nº 123/2006 estabele- e as situações em que a empresa não pode se beneficiar desse regime special (BRASIL, 2006): I – que tenha outra pessoa jurídica como sócia; II – que tenha como sede pessoa jurídica no exterior; III – que tenha como sócio pessoa física inscrita como empresá- rio ou pessoa física que seja sócia de outra empresa que também receba tratamento jurídico diferenciado, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de R$ 4.800.000,00 (quatro milhões e oi- tocentos mil reais); IV – que tenha como sócio pessoa com mais de 10% do capi- tal de outra empresa não beneficiada pela Lei Complementar 123/2006, desde que a receita bruta global ultrapasse o valor de R$ 4.800.000,00; V – que tenha por sócio administrador ou outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de R$ 4.800.000,00; VI – cooperativas, com exceção das de consumo; VII – que participe do capital de outra pessoa jurídica; VIII – que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora de títulos, valores mobiliários e câmbio, de em- presa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de capita- lização ou de previdência complementar; IX – que sejam fruto da cisão ou qualquer outra forma de desmem- bramento de pessoa jurídica, ocorrido em um dos 5 (cinco) anos- -calendário anteriores; X – constituída sob a forma de sociedade por ações; XI – cujos sócios tenham vínculo empregatícios com o contratante do serviço. r O c e 58 Introdução ao direito Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .A Lei Complementar também estabelece uma flexibilização com re- lação a algumas obrigações trabalhistas. Dentre elas, destaca-se que as microempresas poderão, inclusive, ser representadas na Justiça do Trabalho por pessoas que apenas conheçam os fatos e não necessa- riamente por pessoa que tenha vínculo trabalhista com a empresa, tal como ocorre com as demais empresas, que não desfrutam deste trata- mento diferenciado. Na Justiça Cível, as microempresas são equiparadas às pessoas físi- cas e se beneficiam da lei dos juizados especiais para a defesa de seus direitos. As microempresas poderão estabelecer consórcios para realizar ne- gócios e para compra e venda de bens e serviços. O acesso ao crédito é facilitado mediante linhas de crédito específicas. O protesto de títulos das microempresas também se sujeita a condi- ções especiais. A lei ainda concede a possibilidade de as microempresas procede- rem a baixa definitiva, independentemente do pagamento de impostos, taxas ou multas decorrentes da falta de entrega das declarações fiscais a que estão sujeitas. 2 Empresa de pequeno porte As disposições da Lei Complementar nº 123 de 2006, relativas à Microempresa, aplicam-se também à empresa de pequeno porte. O que as diferencia é o valor da receita bruta anual. São consideradas empresas de pequeno porte as sociedades em- presárias, as sociedades simples, as empresas individuais de responsa- bilidade limitada e os empresários, devidamente registrados nos órgãos competentes que possuam receita bruta anual superior a R$ 360.000,00 e igual ou inferior a R$ 4.800.000,00. 59Microempresa e empresa de pequeno porte M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham entodigital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Conforme dispõe o parágrafo 14 do artigo 3º da lei em comento, o enquadramento da empresa de pequeno porte não será perdido se obti- ver adicionais de receitas de exportação até o limite de R$ 4.800.000,00. Todo tratamento diferenciado e favorecido de âmbito jurídico, tributá- rio, administrativo, previdenciário ou creditício, aplicado às microempre- sas são também aplicáveis à empresa de pequeno porte. São eles: inclu- são no regime do Simples Nacional, flexibilização na Justiça do Trabalho e nos juizados especiais, acesso facilitado ao crédito e à formação de consórcios, protestos de títulos sujeitos a condições especiais, previstas em lei, bem como facilidade na baixa definitiva, dentre outros. 3 Empresário individual No capítulo anterior, vimos que há necessidade de a pessoa física ter ca- pacidade para o exercício da atividade empresarial. A capacidade é “aquela que o Estado garante aos indivíduos, para que pratiquem, por si mesmos, os atos da vida civil” (PANTALEÃO; PANTALEÃO, 2006, p. 33). A capacidade de direito é dada ao indivíduo para adquirir direitos e contrair obrigações. Vimos, por fim, que existem pessoas que estão impedidas de exercer a atividade empresarial, tal como o menor de 16 anos. O empresário individual é a pessoa física capaz que exerce ativida- de econômica organizada para a produção de bens e serviços. Para Pantaleão e Pantaleão (2006), pessoa física é o “ser humano que convi- ve em sociedade e é sujeito de direitos e obrigações”. Não se enquadra nesta categoria aquele que exerce profissão inte- lectual, de natureza científica, literária ou artística, exceto se houver uma organização da atividade com intuito de lucro. Se o exercício da atividade empresarial ocorrer por uma pessoa físi- ca, dizemos que é empresário individual. Por outra via, se a atividade for exercida por uma pessoa jurídica, denominamos sociedade empresária. 60 Introdução ao direito Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .O empresário individual deve ter seu registro perante os órgãos com- petentes, antes do início da sua atividade. Quanto à responsabilização do empresário por dívidas ou outro tipo de responsabilidade civil, é certo que os bens do empresário individual se confundem com os bens da empresa, exceto com relação ao bem de família e aos bens inalienáveis. O nome empresarial a ser adotado pelo empresário individual é a firma, ou seja, tem por base necessariamente um nome civil, geralmente do pró- prio empresário individual, acompanhado ou não do seu ramo de atividade. 4 Empresário individual de responsabilidade limitada Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, ou EIRELI, é uma modalidade de empresa de único sócio criada pela Lei 12.441 de 2011 (BRASIL, 2011). O grande diferencial dessa modalidade de sociedade refere-se ao fato de que ela permite a separação entre o patrimônio do sócio e o patrimônio da empresa, exceto nos casos de fraude. Isso significa que o patrimônio da empresa individual de responsabilidade limitada será utilizado para pagar as dívidas da pessoa jurídica, não se confundindo com o patrimônio da pessoa natural que a constitui (BRASIL, 2011). Para que haja essa separação de patrimônio, é necessário que, no momento do registro, a empresa possua um capital social4 igual ou maior do que 100 vezes o salário mínimo. Na Eireli, o empresário adquire personalidade jurídica, mas só poderá ser classificado legalmente como pessoa física. 4 Capital social, de acordo com Coelho (2012, p. 91), é “o montante de recursos que os sócios disponibilizam para a constituição da sociedade”. 61Microempresa e empresa de pequeno porte M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. Diferentemente de outras modalidades de empresa, a empresa indi- vidual de responsabilidade limitada abrange todas as atividades comer- ciais e de serviços, inclusive rurais e industriais. Qualquer modalidade societária, prevista no Código Civil ou em legis- lação esparsa,5 que culmine na acumulação das cotas nas mãos de um único sócio, pode se transformar em Eireli. Ademais, a lei possibilitou ao empresário a escolha do regime tribu- tário que melhor lhe aprouver, seja o Simples6 ou o regime ordinário. Os atos constitutivos da Eireli devem ser arquivados no registro com- petente. Somente por meio desse ato a empresa adquire a personalida- de jurídica. Se não houver esse arquivamento ou o registro de eventuais alterações, configura-se irregularidade. 5 Breves considerações sobre as sociedades anônimas Outro tipo societário regido por lei esparsa é a sociedade anônima ou sociedade por ações. Normalmente é a forma societária de grandes empresas, multinacionais, que precisam de grandes recursos para se- rem captados no mercado e serem investidos na companhia, mediante a emissão de ações. As ações referem-se às fatias do capital da empresa e são negocia- das na bolsa de valores. Ao adquirir uma ação, o acionista está investin- do o valor da referida ação na empresa. Os valores das ações são determinados por vários fatores: resul- tados da administração (se positivo ou negativo), lei da oferta e da 5 Legislação esparsa é a que não está contida em um código. 6 Simples é um regime tributário diferenciado e simplificado, instituído pela Lei Complementar nº 123/2006, especialmente para as microempresas e empresas de pequeno porte. 62 Introdução ao direito Ma te ria l p ar a us o ex cl us ivo d e al un o m at ric ul ad o em c ur so d e Ed uc aç ão a D is tâ nc ia d a Re de S en ac E AD , d a di sc ip lin a co rre sp on de nt e. P ro ib id a a re pr od uç ão e o c om pa rti lh am en to d ig ita l, s ob a s pe na s da L ei . © E di to ra S en ac S ão P au lo .procura, situação econômica e política do país, dentre outros. Adquirir ações, portanto, é considerado um negócio de risco. Para que as empresas emitam ações para comercialização na bolsa de valores, elas devem obedecer a rigorosos procedimentos administra- tivos, de modo que o mercado e todos os potenciais compradores das ações possam ter mínimas garantias da seriedade da empresa. É importante destacar que existem sociedades por ações com ca- pital fechado, em que os poucos sócios são proprietários da totalidade das ações, que não são negociadas na bolsa de valores. Por ser um modelo societário comum em grandes empresas e multina- cionais, deve ser objeto de estudo aprofundado pelo futuro administrador. Considerações finais Neste capítulo, vimos algumas características das modalidades em- presariais contidas em legislação especial. Bastante comum na atividade empresarial, a microempresa, a em- presa de pequeno porte, a Eireli e o empresário individual despertam o interesse de pequenos e médios empreendedores em razão da simplifi- cação em seu regime jurídico, tributário e administrativo. Sem dúvida, essas modalidades empresariais visaram fomentar o empreendedorismo e combater a informalidade, especialmente no que se refere à área tributária. Não somente a carga tributária foi amenizada nessas modalidades, mas também, ressaltamos, que todas as obriga- ções acessórias ao pagamento dos tributos, tais como escriturações, manutenção de registros, etc., foram simplificadas em razão do trata- mento diferenciado trazido por essas leis. São, portanto, modalidades disponíveis aos administradores que pretendemgerir um negócio próprio. 63Microempresa e empresa de pequeno porte M aterial para uso exclusivo de aluno m atriculado em curso de Educação a Distância da Rede Senac EAD, da disciplina correspondente. Proibida a reprodução e o com partilham ento digital, sob as penas da Lei. © Editora Senac São Paulo. O assunto não se esgota neste estudo, motivo pelo qual incentiva- mos o estudante a continuar suas pesquisas relativas a essas modali- dades de empresa, inclusive a sociedade anônima, que, apesar de não possuir uma simplificação em seu regime administrativo e tributário, é modalidade de uso comum das grandes empresas. Referências BRASIL. Casa Civil. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406. htm>. Acesso em: 20 out. 2016. BRASIL. Casa Civil. Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp123.htm>. Acesso em: 20 out. 2016. BRASIL. Casa civil. Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2011. Altera a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil), para permitir a constituição de empre- sa individual de responsabilidade limitada. Disponível em: <http://www.planal- to.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm>. Acesso em: 28 out. 2016. COELHO, Fábio U. Curso de direito comercial. v. 1, 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. NERY JR., Nelson; NERY, Rosa M. de A. Código Civil comentado. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. PANTALEÃO, Leonardo; PANTALEÃO, Juliana. Direito civil: parte geral. Barueri, São Paulo: Manole, 2006. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp123.htm http://www.planal/ http://to.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12441.htm
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