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RELAÇÃO SAÚDE-DOENÇA NA HOMEOPATIA Prof. Dsc. Alex Lucena ▪ Segundo Hahnemann, a vida não pode ser revelada pelas leis físicas, que prevalecem somente sobre as substâncias inorgânicas: ▪ “As substâncias materiais que compõem o nosso organismo não seguem, em suas combinações vitais, as leis às quais se submetem as substâncias na sua condição inanimada; elas são reguladas pelas leis peculiares à vitalidade”. ▪ O que a vida é, em sua essência, não é verificável pelo método científico. Ela só pode ser conhecida a partir de seus fenômenos e manifestações. ▪ O DNA, responsável pela formação das proteínas, por exemplo, é ele próprio uma proteína. Como entender esse paradoxo? ▪ O erro que a maioria dos cientistas comete é o de trabalhar no âmbito da estrutura e acreditar que, conhecendo-a cada vez mais, um dia conhecerão a vida. Eles jamais conhecerão o que é a vida enquanto continuarem atentos apenas nos seus aspectos estruturais. ▪ Diante da complexidade da vida precisamos de modelos conceituais para explicá-la. ▪ Os modelos não são necessariamente reais. Todavia, servem de instrumentos teóricos para descrever a realidade, ou seja, fornecem descrições simbólicas ou presumidas que nos ajudam a esclarecer os fenômenos da natureza. ▪ Tomemos como exemplo o modelo atômico. Sua validade não é contestada, pois ele esclarece muito bem os fenômenos físicos. Entretanto, os átomos nunca foram observados por alguém. Talvez eles nem existam da forma como os idealizamos. ▪ Nesse contexto, pode-se dizer que os modelos limitam a realidade em torno deles. Em uma metáfora: o mapa é o modelo do território; ele não é o território. ▪ Se o representasse fielmente teria o tamanho e os detalhes do território. Contudo, o mapa é necessário para nos conduzir a algum lugar. ▪ O modelo conceitual no qual a terapêutica homeopática se apoia é de origem vitalista. ▪ Somente quando aceitamos a noção de um princípio de causalidade para a vida, fora das dimensões físicas habituais, concordamos em considerá-lo um modelo para a homeopatia. ▪ Segundo o modelo filosófico homeopático, a condição do organismo depende apenas da saúde da vida que o anima. ▪ Assim, conclui-se que a doença consiste em uma condição alterada originalmente apenas nas sensibilidades e funções vitais, independentemente de toda consideração química ou mecânica, ou seja, a origem primária das doenças está na perturbação da força vital. ▪ É a força vital que mantém o organismo em harmonia. Sem ela, o organismo não age, não sente e se desintegra, sendo a força vital res ponsável pela integração dos diversos níveis dinâmicos da realidade humana (físico, emocional e mental). ▪ O organismo humano no estado de saúde encontra-se em equilíbrio nos seus aspectos físico, emocional e mental. Quando a força vital é perturbada, os mecanismos de defesa do organismo são acionados (sobretudo os sistemas imunológico e endócrino). ▪ A força vital pode ser influenciada negativamente por fatores exógenos, como ritmos de vida insalubres, alimentação de má qualidade, drogas etc., e por fatores endógenos, como tristeza, irritabilidade, ódio etc. ▪ Apesar de a força vital não ser diretamente observada, seus efeitos podem ser evidenciados pelo método da cristalização sensível desenvolvi do por Ehrenfried Pfeiffer. ▪ O princípio do método baseia-se na capacida de de soluções de sais cristalizantes modificarem-se especificamente pela adição de substâncias orgânicas. ▪ Na cristalização sensível, adiciona-se uma pequena quantidade do material orgânico a ser pesquisado (suco de planta, sangue, soro etc.) em uma solução de cloreto de cobre, que seca em placa de petri, sob temperatura, umidade e pressão constantes, em local totalmente isolado e isento de oscilações e vibrações. ▪ Ao utilizarmos um material inorgânico, ou uma folha em fase de fenecimento, em que a força vital está ausente ou bastante fraca, o cloreto de cobre cristaliza-se sob a forma de agulhas dispostas desordenadamente. ▪ Entretanto, com algumas gotas do suco extraído de folhas frescas, em que a força vital está bem ativa, veremos as agulhas dispostas de forma organizada, formando desenhos característicos. CRISTALIZAÇÃO SENSÍVEL ▪ Essas alterações são específicas e reproduzíveis para cada material orgânico pesquisado. ▪ Esse método permite verificar o grau de vitalidade presente nas substâncias orgânicas, bem como a presença ou ausência da força vital. ▪ Permite ainda elaborar diagnósticos de enfermidades humanas, animais e vegetais e controle de qualidade de extratos e tinturas. ▪ A homeopatia define saúde como um estado de equilíbrio dinâmico que abrange as realidades física e psicomental dos indivíduos em suas interações com o ambiente natural e social. ▪ A doença reflete, mediante os sintomas, o esforço da força vital na tentativa de restabelecer o equilíbrio. ▪ A força vital impede a matéria (o corpo físico) de seguir as leis químicas e físicas da natureza. ▪ O corpo físico, após o abandono da força vital, na morte, fica exposto às leis físico-químicas e mediante reações químicas entra em decomposição, retornando ao campo de ação física. ▪ A força vital, intimamente ligada ao corpo físico, é favorecida por atividades artísticas, sono, alimentação e ritmos de vida sadios. NÍVEIS DINÂMICOS ▪ Além da afirmação da interdependência entre o organismo e o ambiente, a homeopatia reconhece a interdependência entre os processos psicomentais e o corpo e o papel integrador da força vital, nesse contexto. ▪ Concebe, desse modo, a doença como um processo que pode ter se iniciado nos níveis emocional e mental dos indivíduos suscetiveis, e posteriormente se manifesta sob a forma de lesão orgânica. ▪ Uma vez que para a medicina moderna alopática o corpo físico é a única dimensão do organismo humano, o ponto inicial da doença é revelado quando se identificam essas lesões. ▪ Assim, o ponto final do adoecer para a homeopatia é o ponto inicial para a medicina alopática. Ou seja, enquanto para a homeopatia a causa primária dos desequilíbrios pode advir de diferentes níveis da realidade humana, para a medicina alopática ela se situa no componente celular. ▪ Como consequência, a homeopatia pode privilegiar a prevenção ao atuar sobre os níveis emocional e mental alterados por meio do fortalecimento da força vital. ▪ Existe uma hierarquia na constituição do ser humano: ▪ O nível mental é o mais importante e o físico, o menos importante. ▪ Já o nível emocional é menos importante que o nível mental, porém mais importante que o nível físico, existindo completa interação entre eles. ▪ Todavia, para o homeopata é necessário distingui-los para avaliar a evolução da doença. ▪ A força vital, não sendo forte o suficiente para eliminar a bronquite, transfere o problema para a pele. ▪ Momentaneamente, a pele passa a ser “a válvula de escape” do organismo. Isso é muito frequente nas doenças crônicas. Todavia, um indivíduo com pouca vitalidade, acometido de crise emocional prolongada, poderá ter uma piora no seu estado mental. É uma angústia que se transformou em depressão, por exemplo. ▪ O problema foi deslocado do nível emocional para o mental, uma vez que a força vital não estava fortalecida o suficiente para transferi-lo para o nível físico. Nesse caso, a homeopatia, com seus medicamentos, ao fortalecer a vitalidade do indivíduo doente, restabelece o equilíbrio entre os três níveis. ▪ A pele é muito importante no contexto geral do organismo. Não devemos atuar com um medicamento de uso tópico de forma paliativa, pois assim criamos um enorme obstáculo à tentativa de cura patrocinada pela força vital. ▪ Ao remover a totalidade dos sintomas antes da cura do problema original (um estado de tristeza profunda, por exemplo), além de não curar, impedimos a identificação do simillimum. LEIS DE HERING, SUPRESSÃO E EXONERAÇÃO ▪ Após o diagnóstico e correta administração do similimum (medicamento mais semelhante possível ao sujeito) como pode o médico avaliar se está ou não ocorrendo verdadeiracura? ▪ Para Hahnemann, cura é restabelecimento da “saúde de maneira rápida, suave permanente” (parágrafo 2 – Organon) e só ocorre se houver “restabelecimento integral da energia vital” (par. 12) que por ser imaterial só pode ser influenciada por uma força também imaterial (no caso, a energia do medicamento apropriado). ▪ Coube a um grande discípulo de Hahnemann, o médico Constatine Hering, observar quais são os passos desse “restabelecimento” da energia vital. Tais passos da cura são denominados Leis de Hering. Possuem grande valor na prática médica, ajudam a interpretar os diversos fenômenos que ocorrem com o paciente e possibilitam avaliar erros e acertos no tratamento. ▪ Não é a ação direta do remédio que promove a cura. A Homeopatia não quer simplesmente atuar nos sintomas, mas sim na raiz deles – na energia vital. Após ser estimulada, essa energia vital deve voltar a “governar” a saúde (par. 9). Enfim, o que o remédio homeopático faz é colocar o sujeito doente no caminho natural de cura, estimulando a força defensiva natural do organismo (vis medicatrix naturae, como fora nomeado por Hipócrates). ▪ Qual é esse caminho natural? Como saber se um paciente está melhorando após receber o medicamento? ▪ Hering, dois anos após a morte de Hahnemann, enuncia seus achados nestes termos: “Cada médico homeopata deve haver observado que a melhoria da dor ocorre de cima para baixo, e, das enfermidades, de dentro para fora (...) A cura completa de uma enfermidade (...) é indicada pelos órgãos mais importantes aliviados primeiro; a afecção se dissipa na ordem em que os órgãos foram afetados, sendo os mais importantes aliviados primeiro, logo os menos importantes e a pele ao final...”. LEIS DE HERING, SUPRESSÃO E EXONERAÇÃO ▪ Assim, um paciente que apresenta uma úlcera de estômago, não tem apenas seu estômago doente, pois todo um caminho foi percorrido desde a alteração da energia vital até o surgimento da úlcera, passando por manifestações mentais. ▪ Da mesma forma que a experiência mostrou aos homeopatas a hierarquia dos sintomas (1° mentais, 2° gerais e 3° físicos), também evidenciou uma ordem no processo de adoecimento: do centro da vida à periferia, do mais profundo no ser humano ao mais superficial. Assim se adoece e assim se cura. ▪ Os fenômenos vitais apresentam naturalmente esse sentido centrífugo, chamado de exonerativo. Quando essa “exoneração” é impedida falamos em “supressão”. CASO CLÍNICO ▪ Paciente masculino, 30 anos, diagnóstico clínico de asma e constipação intestinal. Está apresentando crises asmáticas semanais nos últimos meses. Na consulta o médico também descobre que o paciente é facilmente irritável, apresenta muito medo do escuro, medo de doenças e enorme ansiedade com relação ao futuro. Está com muita dificuldade para se concentrar no trabalho. É, então, instituída terapia convencional para as crises de asma e orientações para melhoria no hábito intestinal. ▪ Na consulta seguinte, o médico ouve do doente que a asma melhorou muito e que notou alguma melhora também na constipação. Questionando um pouco mais percebe que a irritabilidade do paciente piorou, está ainda mais ansioso e agora refere estar muito triste, pois sua dificuldade de concentração está levando a sérios problemas no emprego. ▪ Discussão do caso: Um médico convencional estaria satisfeito com o tratamento, pois sua preocupação era com a esfera física, ou seja, a entidade nosológica (Asma) que apresentou grande melhora. Sua próxima conduta seria encaminhar o paciente para um especialista a fim de tratar os “problemas psicológicos”. ▪ Um médico preocupado com a totalidade do paciente perceberia que os vários problemas não estão separados, mas intimamente relacionados. ▪ O que ocorreu nesse caso foi uma supressão por uma terapia paliativa. A perturbação da energia vital manifesta-se em todas as esferas. ▪ No início do caso, a esfera física estava afetada em maior grau, mas após a terapia convencional a principal manifestação está na esfera emocional. A doença se aprofundou. ▪ A cura verdadeira ocorreria, primeiramente, com a melhoria dos sintomas mentais e emocionais, com posterior e gradual melhoria das crises asmáticas e da função intestinal. Esse é um caminho de cura que respeita as leis de Hering, ou seja, uma cura de dentro para fora. ▪ Hahnemann desenvolveu a teoria dos miasmas para explicar a existência das doenças crônicas. ▪ Ao constatar que doentes crônicos nem sempre respondiam de maneira satisfatória ao simillimum, apresentando recidivas, observou que o quadro sintomático apresentado por eles era apenas um aspecto parcial e episódico da verdadeira enfermidade que permanecia oculta. ▪ Com exceção das doenças crônicas provocadas por abuso de drogas ou hábitos de vida insalubres, Hahnemann identificou três mias mas responsáveis pela eclosão das doenças crônicas: sífilis, sicose e psora.
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