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PP - Descrição sensorial - olfato e paladar

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Descrição sensorial
O olfato e o paladar
Redação e escrita criativa
Uma capacidade humana
Sabe-se que o homem é capaz de sentir mais de 400 mil odorantes, é capaz também de sentir um aroma completamente novo, ou seja, um aroma que ainda não tenha sido produzido de forma natural ou artificial. 
Emoções
Para Malnic, o olfato sempre foi considerado pelos cientistas o sentido menos importante e o mais negligenciado: “não prestamos atenção ao que nosso nariz está nos dizendo. Os cheiros que nos cercam induzem emoções e comportamentos que muitas vezes não são conscientemente percebidos” (2008, p. 14). 
A memória olfativa
De todos os sentidos, o olfato é o que está mais intimamente ligado às regiões do cérebro envolvidas em emoções e memórias, o sistema límbico.
O olfato na literatura
Gargantua e Pantagruel, de François Rabelais, Tristam Shandy, de Lawrence Sterne, Cyrano de Bergerac, de Edmond Rostand, O nariz, de Nicolai Gogol, Pinocchio, de Carlo Collodi, e Zwerg Nase, de Wilhelm Hauff. 
O teórico alemão Ralf Hertel (2005) destaca as obras acima como exemplos literários que fazem amplo uso do simbolismo nasal, mas, também ressalta que ainda assim o interesse literário no nariz é bastante subdesenvolvido. Hertel fala da utilização marginal deste sentido em detrimento de outros como a visão e a audição.
Observemos os seguintes fragmentos retirados de O perfume:
(agradável)
“O suor dela odorava tão fresco quanto a brisa do mar, o sebo dos seus cabelos, tão doce quanto o óleo das amêndoas, o seu sexo como um buquê de lírios-d’água, a pele como flores de pessegueiro” (SÜSKIND, 1985, p. 42);
(desagradável)
 “O calor pairava como chumbo por sobre o cemitério e empurrava para as suas vizinhanças os gases da putrefação que cheiravam a um mistura de melões podres e chifre queimado”(SÜSKIND, 1985, p.12) ;
Olfato e linguagem
Podemos observar em tais parágrafos a utilização de uma linguagem que não está propriamente relacionada ao vocabulário olfativo. Hertel marca fortemente essa questão: Como podem os cheiros ser capturados pelo papel?
Resposta
Segundo Hertel (2005) para descrevermos cheiros precisamos lançar mão de analogias (isso cheira como...) ou tomar de empréstimo palavras de outros domínios (outros sentidos).
O cheiro e as narrativas
O cheiro pode ser um recurso utilizado para caracterização de personagens, cenários, atmosfera ou ainda um recurso para definir mudanças dramáticas na história. É um artifício sutil, mas bastante significativo na criação dos principais elementos de uma narrativa. A presença de um cheiro específico ou a ausência dele pode determinar a existência, a identidade e o caráter de uma personagem.
Curiosidade
Não há personagem, na Literatura Ocidental, que cheire tão mal quanto o diabo. Enxofre, borracha queimada, ovo podre. Mesmo que tenha força e fama suficientes para se opor a Deus, o Diabo não tem poderes para se livrar do seu verdadeiro cheiro. Um cheiro associado à decadência, a morte e ao fim. 
Fonte
Gomes, Cristina. O cheiro das palavras: o olfato na narrativa literária (tese mestrado). PUC-RS, 2009. 
O paladar
O paladar é um dos cinco sentidos que permite aos seres humanos reconhecer os gostos das substâncias colocadas sobre a língua. Nesta, existem as papilas gustativas que têm a função de reconhecer as substâncias do gosto e enviar a informação obtida para o cérebro, que posteriormente a interpreta e a avalia. Para além da língua, também o palato existente no teto da boca é sensível aos gostos. 
     Ao conjunto das sensações de gosto e aroma dá-se o nome de sabor. Quando uma substância não provoca qualquer reação sensitiva nos órgãos do paladar diz-se insípida. 
Os sabores de Jorge Amado
Ao viajar pela obra de Jorge Amado, é impossível não desejarmos compartilhar das mesas de seus personagens, provar os gostos, os aromas e os temperos saídos das panelas de dona Flor ou de Gabriela. Em seus romances, o escritor utilizou os sabores para captar melhor a atmosfera de sua Bahia, e conquistou-nos com essas comidas tão reais que podíamos sentir seus perfumes.
Os quitutes
Como relembra Lilia Schwarcz com relação aos quitutes descritos nas obras de Jorge Amado,  "em Cacau (1932), as personagens comem carne-seca, feijão, farinha e fruta colhida no pé e bebem também muita cachaça. Em Mar morto (1936) e Capitães da Areia (1937), o prato mais saboreado é a moqueca de peixe. Mas o casamento de Guma e Lívia é celebrado com uma feijoada. O capitão-de-longo-curso (1961) traz a primeira receita completa e prática para o leitor. Em Os pastores da noite (1964), dividindo uma jaca doce e melada, dois amigos apaziguam os ânimos. Dona Flor (1966) ensina a preparar diversos pratos: carurus de Cosme e Damião, comida especial para velórios, merendas para a tarde, alimentos preferidos e proibidos para os santos. A festa de casamento de Tereza Batista (1972) é um almoço baiano completo, com sarapatel, leitões, cabritos, frigideiras, perus, cinco tipos de cocada".
Gabriela, cravo e canela
			
		"A fama dos salgados e doces de Gabriela circulara, desde os primeiros dias, entre os viciados do aperitivo, trazendo gente dos bares do porto [...]. Seus acarajés, as fritadas envoltas em folhas de bananeira, os bolinhos de carne, picantes, eram cantados em prosa e verso..."
(Gabriela, cravo e canela)	
Atividade (individual)
 descrição sensorial
Você e (mais alguém ou um grupo de pessoas) estão à mesa e o jantar será servido. 
Descreva os aromas e os sabores dos pratos.
Dicas
Concentre-se exclusivamente no jantar. O seu texto será apenas um momento de uma obra maior que não nos interessa agora. Fuja das descrições visuais. Lembre-se que você pode descrever cenários, personagens e atmosferas explorando “apenas” o paladar e o olfato. Deixe seus leitores com vontade. Bom jantar!
Formato
Criação de um texto com aproximadamente 1400 caracteres (aproximadamente 20 linhas).
Formato: 
Digitado, corpo 12.
Data:
Consultar cronograma de trabalho.
Pós aula
Autor: Rubem Braga
Crônica: Almoço Mineiro (São Paulo, 1934)
	
Texto extraído do livro "Morro do Isolamento", editora Record - Rio de Janeiro, 1982, pág. 121.
Havia arroz sem colorau, couve e pão. Sobre a toalha havia também copos cheios de vinho ou de água mineral, sorrisos, manchas de sol e a frescura do vento que sussurrava nas árvores. E no fim de tudo houve fotografias. É possível que nesse intervalo tenhamos esquecido uma encantadora lingüiça de porco e talvez um pouco de farofa. Que importa? O lombo era o essencial, e a sua essência era sublime. Por fora era escuro, com tons de ouro. A faca penetrava nele tão docemente como a alma de uma virgem pura entra no céu. A polpa se abria, levemente enfibrada, muito branquinha, desse branco leitoso e doce que têm certas nuvens às quatro e meia da tarde, na primavera. O gosto era de um salgado distante e de uma ternura quase musical. Era um gosto indefinível e puríssimo, como se o lombo fosse lombinho da orelha de um anjo ouro. Os torresmos davam uma nota marítima, salgados e excitantes da saliva. O tutu tinha o sabor que deve ter, para uma criança que fosse gourmet de todas as terras, a terra virgem recolhida muito longe do solo, sob um prado cheio de flores, terra com um perfume vegetal diluído mas uniforme. E do prato inteiro, onde havia um ameno jogo de cores cuja nota mais viva era o verde molhado da couve — do prato inteiro, que fumegava suavemente, subia para a nossa alma um encanto abençoado de coisas simples e boas.
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