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resumo maquiavel

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MAQUIAVEL: SUA ÉPOCA, SUAS IDEIAS E A DITADURA DE TRANSIÇÃO.
1) Considerações introdutórias:
 Maquiavel defendia que política e moral são dois universos incomparáveis, cada um regendo-se por suas próprias regras. Ou melhor, não há que se falar de impoliticidade da moral ou, de outro modo, de imoralidade da política, pois essas duas searas obedecem às suas próprias leis. Maquiavel mostrava a política de fato, como ela é. Este, era um republicano e não o defensor do absolutismo como o senso comum consagrou.
2) Contexto histórico, vida e obra:
 O homem e o ambiente onde vive estão umbilicalmente ligados. Como já diria o filósofo espanhol, José Ortega: “eu sou eu e minha circunstância.”
Para que possamos entender o que Maquiavel quer nos dizer ao longo dos cinco séculos de sua morte, faz-se determinante compreender que ele foi um homem típico do Renascimento, período histórico que, carregado de transformações e inventividade, marca o nascimento do mundo moderno com a preponderância das verdades científicas – demonstradas empiricamente – sobre as verdades reveladas e estabelecidas pela fé. Sendo seus livros, extremamente influenciados por todo esse apego às coisas terrenas que caracterizam a experiência renascentista. 
 Individualismo, antropocentrismo, empirismo, racionalismo, humanismo e anticlericalismo, eis os ideais que vão nortear os textos dos pensadores do período e que são encontrados, também, nos escritos maquiavélicos.
 Maquiavel nasceu no dia 3 de maios de 1469, filho de um casal que pertencia a um ramo empobrecido dos Manchiavelli. Seu pai, era doutor em leis e um amante dos livros. Apesar de advogado, ao contrário de seus conterrâneos, era pobre, conseguindo com muita dificuldade, formar uma biblioteca que reunia obras de filósofos gregos e romanos; à sua mãe, eram atribuídas composições poéticas de caráter sacro em louvor da Virgem Maria, o que demonstra ser religiosa e culta. Logo, o escritor teria herdado, do pai, o amor aos livros e da mãe, a fantasia poética. Apesar do pouco patrimônio da família, Nicolau teve uma boa educação.
 Após quatorze anos de serviços prestados à República, o secretário florentino sofre os reveses das mudanças políticas que ocorreram em sua cidade, em 1512. Os espanhóis entram na península, derrotam o exército francês e marcham sobre Florença, inimiga do papa Júlio II, esmagando a milícia que Maquiavel havia preparado seis anos antes. Esse fato, possibilita o retorno dos Medici ao controle da política.
 Em decorrência desses acontecimentos, a vida de Maquiavel sobre drásticas mudanças. Ele é demitido do governo, preso e torturado sob a acusação de conspirar contra os novos senhores. Graças às festividades por conta da eleição de Giovanni de Medici para o trono de São Pedro, sob o título de Leão X, é anistiado, porém, desiludido com seu destino, retira-se para sua pequena propriedade em Sant’Andrea in Percissina, a apenas três quilômetros de San Casciano e a treze de Florença. 
 É no campo que o diplomata se transforma em pensador. Nesse momento, Maquiavel começa a refletir sobre sua experiência política, legando-nos suas obras imortais.
 Na verdade, diferente do que muitos pensam, Maquiavel, longe de ostentar um perfil austero e esnobe, era um homem simples e extremamente bem humorado, cujo único pecado foi dizer a verdade sobre o fenômeno do poder. Em 1525, aos 56 anos, depois de dois anos buscando aproximação com os Medici, é reabilitado pelo governo de Florença, voltando a exercer suas funções. Todavia, sua vida – nunca abençoada pela fortuna -, em 1527, sofre um novo revés. Instaura-se uma nova república em Florença, mas esta considerará Maquiavel um traidor por buscar a simpatia dos antigos senhores, o que coloca Maquiavel mais uma vez no ostracismo.
 Doente e deprimido, morre no dia 21 de junho do mesmo ano, pobre e alijado do poder. Entretanto, se não deixou grandes rendimentos para sua família, sua herança intelectual, além de indelével, é extremamente controversa, alcançando nosso pensador a um grau de ambiguidade tal que, mesmo após quase quinhentos anos de sua morte, os debates acerca de suas ideias são cada vez mais acalorados e reveladores. 
3) Alguns aspectos de seu pensamento:
4) ‘’O PRÍNCIPE’’ e a Ditadura de transição:
  O Príncipe, opúsculo que teve a infelicidade de lançar o nome do Segundo Chanceler De Florença no rol dos vilões perpétuos da história, é menos um livro de teoria política que de militância política. Esta fica clara no Capítulo XXVI de O Príncipe, quando ele exorta todos os italianos a se unirem, a fim de expulsar os bárbaros da Itália. 
 É essa força que nem sempre é observada, fazendo pairar uma atmosfera de perversidade sobre a personalidade impactante do velho diplomata; o eterno manual das monarquias absolutistas, como os desavisados o veem, nada mais é que um libelo à liberdade daqueles que ainda tinham na memória as glórias da antiga Roma. O Príncipe é sempre visto como o substrato teórico à opressão do absolutismo.
 A maior envergadura teórica, sem dúvida, tem os comentários, em que logo no início, Maquiavel faz a importante ressalva de que uma das principais causas da grandeza da República romana era o fato de ela estar assentada sobre um governo misto, no qual encontraríamos a presença das três formas clássicas de governo: monarquia, aristocracia e democracia, convivendo, ao mesmo tempo, harmonicamente no interior daquela estrutura republicana, representadas pelas instituições do Consulado, do Senado e dos Tribunos da Plebe.
 Daí resultava que as leis, as boas leis, eram criadas a partir do concurso de desses três ramos, sendo os conflitos sociais, que emergindo dos embates entre as classes, os responsáveis pela liberdade que reinava na República. Bobbio afirma que aí já se percebe uma antecipação da noção moderna sociedade civil, em que o bem-estar dos Estados não reside na harmonia forçada, mas nas lutas, nos conflitos, os antagonismos que correspondem a primeira proteção da liberdade. 
 Toda obra de Maquiavel, tem um aspecto revolucionário. Ainda mais quando se sabe que os humanistas de sua contemporaneidade viam as discórdias no interior do Estado como maior mal que poderia acontecer.
  O amor pela República, pela liberdade e pela força do povo se faz sentido de tal modo em todas as partes dos Comentários de Maquiavel, em dado momento, teoriza a respeito da estabilidade dos povos, os quais, segundo ele, são mais confiáveis que os príncipes. A lei então é único meio de sobrevivência para o estado. Assim, “Maquiavel claramente considerava a percepção fundamental do político: que ‘toda a legislação que favoreça liberdade decorre do choque’ entre as classes e, por isso, o conflito de classes não é o solvente, mas o cimento de uma república “.
   A concepção de o príncipe como repositório de maldade não é correta. O que se pode aprender dessa obra é o fato de ela servir, antes como manual de estratégia política - e a estratégia servir tanto aos bons quanto os maus - que propriamente de iniquidades.
 Maquiavel diz apenas que, para alcançar o poder, deve-se utilizar da estratégia, e esta pode ser usada por qualquer grupo ou facção. Para se alcançar um bem comum, meta maior em qualquer estado, pode-se ter que praticar o mal em alguns momentos. Qualquer grupo que pretenda conquistar o poder e mantê-lo, a fim de realizar o bem público, terá que usar dos artifícios ditos maquiavélicos. 
 A construção de O Príncipe obedece a uma conjuntura. O Maquiavel dessa obra é o que almeja ver a Itália liberta a qualquer custo, logo, para ele, só um poder forte seria capaz de unificar a península, desvencilhando do poderio estrangeiro.
 Poderíamos até, em um esforço especulativo, conjecturar se o governante de O Príncipe não seria a encarnação renascentista, e adequada aquela conjuntura italiana, da instituição da ditadura romana em sua época republicana.
 Corroborando as palavras Renato Janine Ribeiro, Rubens Pinto Lyra ressalta que: “O príncipe fundador funciona, pois, como um agente de transição”. O príncipe,destarte, não é outra coisa senão o rito de passagem, a ação do homem de transição, do ditador que, com plenos poderes, o possibilitará a inserção da Itália na m
 Modernidade, no mundo novo que se apresenta e não pode ser esquecido. Para Maquiavel, esse governante todo virtú serve apenas aqueles que este desespero - aquele momento de crise e, por isso, extraordinário - para que depois, em situação de normalidade política, a república, melhor forma de governo para o nosso autor, posso triunfar.
5) Considerações finais:
 Em nosso mundo contemporâneo, em que os Estados disputam, cada vez mais, espaço no cenário internacional, Maquiavel continua vivo, na verdade pétreo. A força de suas ideias sobre as reais feições da política sempre norteará todos aqueles que, não sendo hipócritas, reconhecem ser o domínio público regulado por uma própria moral, não transcendental, proporcionando suas regras particulares. 
 O interesse coletivo, a realização dos desígnios maiores de uma nação, deve ser a bússola do dirigente estatal. Principalmente o pragmatismo vazio que, obedecendo apenas às aspirações individuais é, tão somente, a arma dos detentores do poder contra os cidadãos. Maquiavel demarca a zona limítrofe entre a moral pública e a moral privada, é também certo que tem a firme convicção de que a força só deve ser usada em conjunturas excepcionais. No dia-a-dia deve prevalecer a monótona, porém sólida, estabilidade legislativa.
 As medidas de exceção apenas justificam-se pela sua transitoriedade. Isto é, o principado, que, no caso da Itália, é o principado novo, é a forma de governo ditatorial para uma circunstância de emergência. Estável mesmo, duradoura e próspera só a República, pois só nela é possível o dissenso que, longe de ser uma doença incurável, é a luz solar a cauterizar as feridas e o governo decadente, sendo a causa do engrandecimento dos povos. A República Romana, maior exemplo de grandiosidade para o nosso autor, só prosperou porque nela os conflitos sociais legítimos engendraram a construção de uma formulação democrática para a vida social.
 Maquiavel é um republicano não sendo o seu O Príncipe o panegírico das monarquias absolutas, senão a defesa de que ocasiões excepcionais requerem remédio não menos extremos, bem como a realidade de que a violência dos períodos de transição, com o tempo, edifica sua legitimidade e dará lugar a liberdade das instituições republicanas.

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