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Psicopedagogia Como 
Campo Teórico e de 
Atuação Profissional
A Aprendizagem como Objeto de Estudo
Responsável pelo Conteúdo:
Prof.ª Dr.ª Laura Marisa Carnielo Calejon
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos:
• Contextualização;
• Aprendizagem na Perspectiva da Educação Libertadora;
• Diferentes Concepções de Aprendizagem 
Elaboradas no Século XX.
Fonte: iStock/Getty Im
ages
Objetivos
• Compreender as diferentes teorias e explicações sobre a Aprendizagem como objeto de 
estudo e sua importância para a Educação Escolar e para a atuação do Psicopedagogo.
Caro Aluno(a)!
Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o 
último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material 
trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas.
Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você 
poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns 
dias e determinar como o seu “momento do estudo”.
No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões 
de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e 
auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de 
discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de 
propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de 
troca de ideias e aprendizagem.
Bons Estudos!
A Aprendizagem como Objeto de Estudo
UNIDADE 
A Aprendizagem como Objeto de Estudo
Contextualização 
Para dar início a esta Unidade, quero convidar você a pensar sobre a Pedagogia Crítica. 
Você já ouviu falar sobre esse termo?
Vamos assistir ao Paulo Freire – Pedagogia Crítica 1, que apresenta elementos a serem 
refletidos, de modo a ampliar a discussão e a compreensão, acerca do tema. Disponível em: 
https://youtu.be/Xr4h5hNldIQ
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Aprendizagem na Perspectiva 
da Educação Libertadora
Aprendizagem e Educação são termos que aparecem associados, ainda que o signi-
ficado deles seja bastante diversificado, conforme a concepção de mundo e de homem 
que possamos assumir. 
Para o Psicopedagogo que assume a Aprendizagem, em suas múltiplas condições, 
como seu objeto de estudo, compreender a multiplicidade de sentidos dada a esses con-
ceitos é fundamental. 
Aprender é um ato social que ocorre de modo natural, formal ou informal, que resulta 
de uma complexa atividade mental em que estão envolvidos processos de pensamento, 
percepção, emoções, memória, motricidade, mediação e conhecimentos prévios.
Aprendizagem e desenvolvimento humano são processos inter-relacionados e expli-
cados pela Psicologia e pela Pedagogia de modos diferentes, em função da base episte-
mológica assumida pela explicação. 
A Sociedade, em geral, e os pais depositam na Educação grandes esperanças na 
promoção do desenvolvimento de seus filhos. Os resultados observados no Sistema 
Educacional brasileiro não confirmam essas esperanças e desafiam Educadores, Psico-
pedagogos, Pedagogos e Psicólogos a repensar a questão. Como demonstram os resul-
tados de avaliações internacionais feitas pelo Programa Internacional de Avaliação de 
estudantes (PISA), em 2015, o Brasil ocupava a posição 50 em leitura, 63 em Ciências 
e 66 em Matemática. No topo do ranking encontramos Cingapura, Japão e Estônia 
em Ciências, em Leitura encontramos Cingapura Hong-Kong, Canadá e Finlândia; em 
Matemática encontramos Cingapura, Hong-Kong e Macau. As avaliações nacionais não 
oferecem resultados mais animadores. Os dados estimulam a reflexão sobre a relação 
entre a qualidade do desempenho escolar e do próprio desenvolvimento do sujeito, da 
cultura e da sociedade e o projeto societário assumido por uma nação.
Brasil tem desempenho escolar abaixo da média internacional. 
Disponível em: https://goo.gl/cihDLg
Assim, na formação de especialistas que tem como tarefa principal pensar o papel da 
Educação na promoção do desenvolvimento do sujeito e da própria Sociedade, a reflexão 
sobre a Aprendizagem numa perspectiva emancipadora ou libertadora ganha relevância. 
Pensar nessa perspectiva obriga a mencionar e entender o que Freire chamou de 
Educação Libertadora contraposta à Educação Bancária e o impacto do trabalho desse 
pensador na década de 1965 e, mais recentemente, nos movimentos do cenário brasi-
leiro, com a proposição do movimento Escola sem Partido.
O que você e outros professores sabem sobre a obra de Paulo Freire?
O que você pensa sobre o movimento Escola sem Partido?
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UNIDADE 
A Aprendizagem como Objeto de Estudo
Educação Bancário x Educação Problematizadora. Acesse: https://youtu.be/dNK41Err0jE
O Almanaque Histórico, publicado em 2005, no Projeto Memória, demonstra a 
relação estreita entre a Escola e a vida e o papel que a segunda deve ter na organização 
da primeira. 
Entre os múltiplos fatos mencionados no documento, cabe destacar o que Freire con-
sidera sua primeira iluminação:
Em Jaboatão experimentei o que é a fome e compreendi a fome dos 
demais. Em Jaboatão criança ainda, converti-me em homem graças 
a dor e ao sofrimento que não me submergiam nas sombras da 
desesperação. Em Jaboatão joguei bola como os meninos do povo. 
Nadei no rio e tive minha primeira iluminação: um dia contemplei uma 
moça despida. Ela me olhou e se pôs a rir [...] (FREIRE, 1979, p. 9). 
O relato aparece num texto que trata da Conscientização e da Teoria e Prática da 
Libertação. Ilumina nosso pensar quando nos mostra a relação necessária entre a vida 
e a Escola. 
Experimentar a fome é um caminho para compreendê-la sem ser imobilizado pelo 
desespero; jogar bola com os meninos; nadar no rio são caminhos para compreender o 
contexto em que se vive e produzir consciência de quem somos, em que realidade vive-
mos, que mundo e que Sociedade gostaríamos de colaborar para construir. 
A Educação, a Escola, a Aprendizagem podem ter papel fundamental nesse proces-
so, desde que tenhamos consciência do nosso papel como especialistas e de que con-
cepções sobre Educação e Aprendizagem defendemos.
Para ampliar a compreensão sobre a Educação, numa perspectiva libertadora, desta-
camos algumas das proposições do seu idealizador. 
Sobre o analfabeto, Freire nos permite vislumbrar uma posição astuta ou ingênua, 
que omite a causalidade política e o discurso ideológico, quando se refere aos analfabe-
tos como seres indolentes, incapazes ou preguiçosos.
Assim, Freire (1981) denuncia que ninguém é analfabeto por eleição, mas como 
consequência das condições objetivas em que se encontra.
Apenas 2,1 % dos alunos pobres do país têm bom desempenho escolar. 
Acesse: https://goo.gl/DytBTc
Merece destaque, também, o que Freire sistematizou como Círculos de Cultura e 
como temas geradores. Círculos de cultura, criados em suas primeiras experiências com 
Educação de adultos, ocupavam o lugar das salas de aula tradicionais, com aulas exclu-
sivamente expositivas. 
O professor orador transformava-se em coordenador de debates e animador cultural 
e o aluno em participante ativo do grupo mobilizado por temas geradores que resulta-
vam da discussão crítico-criativa da realidade do professor e dos alunos.
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O Programa Nacional de Alfabetização, criado por Freire, em 1963, objetivava al-
fabetizar, despertando no jovem e no adulto um processo de conscientização sobre a 
realidade vivida, possibilitando uma transformação dessa mesma realidade. 
A proposta era assustadora para a liderança política da época. O Mobral (Movimento 
Brasileiro de Alfabetização), criado pelo Governo Militar e extinto em 1985, com o fim 
desse Governo, ainda que anunciasse usar o Método de Freire, esvaziou o sentido políti-
co dos temas ou palavras geradoras, substituindo seu conteúdo por palavras padroniza-das para todo o país, desconsiderando as realidades locais (VALE, 2005).
Em 2016, surge, no nosso contexto, o movimento da Escola sem Partido, analisado 
por vinte autores que desmontam esse discurso e revelam os temores que Freire ainda 
desperta em alguns governantes. 
Sobre o tema diz Gadotti:
Na formação política há uma cultura da indiferença e uma cultura 
de compromisso com os mais empobrecidos. A primeira cultura 
forma a massa desorganizada a ser manipulada politicamente pela 
mídia fascista e golpista; a segunda cultura forma o povo consciente 
e organizado que luta pelos seus direitos (GADOTTI, 2016, p.150).
É, portanto, necessário, que o especialista com objetivo de promover uma Educa-
ção de qualidade e uma Aprendizagem importante para o desenvolvimento do sujeito 
compreenda os múltiplos significados e a visão de homem e de mundo implícitas nas 
diferentes concepções de educação e de Aprendizagem.
Como Freire apontava, a leitura das letras e do sentido das palavras precisa ser ante-
cedida pela leitura do mundo em que o sujeito vive. A compreensão do significado das 
palavras está relacionada ao desenvolvimento da função simbólica, tema que vem sido 
investigado por Arias Beatón, pesquisador da Cátedra Vigotski, da Universidade de Ha-
vana, e colaborador do nosso programa. 
Como demonstra o pesquisador Arias Beatón (2014), no I Seminário Internacional 
de Inclusão Escolar, realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, todas as crian-
ças e escolares podem aprender a ler, escrever e calcular, incluindo aquelas que muitas 
vezes são consideradas com deficiência intelectual. 
Além disso, o pesquisador postula, desde o Enfoque Histórico-cultural, comprovado 
pela prática pedagógica de vários países, que os deficientes intelectuais se desenvolvem 
de acordo com as mesmas Leis gerais válidas para outros sujeitos ou escolares, consi-
derados sem deficiência, desde que sejam adotadas práticas educativas condizentes com 
suas necessidades.
A Educação é um caminho para a humanização e a formação política que produz 
cidadania, consciência e a possibilidade de que o sujeito possa ter para lutar por seus 
direitos e compreender seus deveres na vida em Sociedade. 
O preconceito, a exploração dos mais frágeis, o individualismo e o oportunismo são 
marcas de uma cultura da indiferença ou de uma concepção de homem e de mundo que 
acredita na herança biológica do sujeito e não reconhece o valor da herança cultural e 
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UNIDADE 
A Aprendizagem como Objeto de Estudo
nem que para a sobrevivência do sujeito e do Planeta é preciso entender que vivemos em 
coletividade e precisamos dos outros para resolver nossas necessidades básicas.
A compreensão desses princípios e postulados pode ser ampliada pelas explicações 
oferecidas pelo Enfoque Histórico-cultural para os processos de aprendizagem e do 
desenvolvimento humano e pela leitura crítica das diferentes Teorias elaboradas pela 
Psicologia para explicar tais fenômenos.
Inclusão escolar e social não acontece apenas pelas Leis e Decretos, requerendo edu-
cadores capazes de analisar políticas públicas, compreender o Sistema Educacional e o 
projeto de Sociedade que cria tal Sistema. 
A Educação pode ser um Sistema de reprodução das desigualdades sociais e das in-
justiças existentes no Projeto Social que cria o Sistema Educacional. 
Em outras palavras, se o Projeto de Sociedade é marcado pelo individualismo, pela 
competição, pela meritocracia e pela desigualdade social, o Sistema Educativo e a pró-
pria Escola carregam essas marcas.
Educar para humanizar. Acesse: https://youtu.be/blw9t4RBITU
Diferentes Concepções de Aprendizagem 
Elaboradas no Século XX
Como fenômeno multideterminado e complexo, a Aprendizagem foi estudada a par-
tir de diferentes ângulos, enfatizando-se diferentes condições para estudá-lo. 
Durante o século XX, encontramos diferentes teorias que procuram explicar o fenô-
meno da Aprendizagem. No nosso contexto, Pávlov (1849-1936) é conhecido como o 
autor da teoria do reflexo condicionado e sistematizador do condicionamento respon-
dente, analisado criticamente por Skinner. 
Shuare (2017) demonstra, no contexto da Psicologia Soviética, a relação entre o 
pensamento fisiológico e a constituição da psicológica. 
Nesse contexto, menciona Pávlov que considerou o reflexo condicionado como a for-
ma evolutiva mais recente no processo de adaptação do organismo ao meio, resultando 
do acúmulo da experiência individual. 
O reflexo condicionado demonstra o fenômeno da Aprendizagem, na medida em que 
a salivação do cachorro não é provocada pelo pó de carne colocado na boca do animal, 
mas pelo prato, agora vazio, que esteve, anteriormente, associado à comida, sendo o 
recipiente que a servia, ou pelo som de uma campainha sistematicamente apresentada 
pelo experimentador antes da comida ser colocada na boca do animal.
Ivan Pavlov. Acesse: https://goo.gl/k25Sq4
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O cão de Pavlov. Acesse: https://youtu.be/YhYZJL-Ni7U
Pávlov (1849-1936) ingressou, em 1870, na Faculdade de Direito, passando ime-
diatamente para a Seção de Ciências Naturais da Faculdade de Física e Matemática, da 
Universidade de Petersburgo, especializando-se em Fisiologia Animal. 
De 1896 até 1924, foi chefe da Cátedra de Fisiologia da Academia Militar de Me-
dicina. De 1891 até sua morte, dirigiu a Secção de Fisiologia do Instituto de Medicina 
Experimental que contribuiu para organizar. 
De 1925 até sua morte, foi diretor do Instituto de Fisiologia da Academia de Ciências 
da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), recebendo, em 1904, o Prêmio 
Nobel por seus trabalhos em fisiologia das glândulas digestivas (Shuare, 2017). 
Os dados biográficos destacados permitem compreender o papel da fisiologia na ex-
plicação da Aprendizagem e à valorização de Pavlov no cenário da Psicologia soviética, 
contexto de emergência do Enfoque Histórico-Cultural.
Cabe ressaltar, ainda, que a produção de Pávlov surge no final do século XIX e 
começo do século XX, período em que a Psicologia buscava constituir-se como Ciência, 
e que o paradigma de Ciência vigente era o das Ciências Naturais, com forte impacto da 
Filosofia Positiva, sistematizada por Comte (1798-1857), filósofo francês, considerado 
o fundador do Positivismo. 
Augusto Comte. Acesse: https://goo.gl/Y9X1mh
Esse foi o cenário que Vigotski criticou na década de 1924, quando sistematiza as 
bases do Enfoque Histórico-cultural. 
Para compreender de modo mais amplo os desafios propostos pelas diferentes ex-
plicações da Aprendizagem, vamos considerar outros movimentos teóricos ocorridos 
em diferentes partes do mundo e que também receberam o impacto do paradigma das 
Ciências da Natureza.
Nas primeiras décadas do século XX, Watson lidera, nos Estados Unidos, um movi-
mento denominado Behaviorismo, que impactou a Psicologia deste século, principal-
mente, no Ocidente. 
Watson defendia que se a Psicologia nascente queria ser uma Ciência respeitável, pre-
cisava seguir o paradigma das Ciências da Natureza ou das Ciências Exatas, construído a 
partir da influência da Filosofia Positiva de Conte. 
Skinner (1904-1990), na década de 1940-1950, como uma das figuras do Movi-
mento Behaviorista que impactou a Educação, sistematizou princípios de Aprendizagem 
conhecidos como condicionamento operante. 
O autor faz, em Ciência e Comportamento Humano (1953-2003), uma análise críti-
ca dos reflexos condicionados, demonstrando que eles explicam uma parte do repertório 
comportamental do sujeito humano e animal. 
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UNIDADE 
A Aprendizagem como Objeto de Estudo
Defende, ainda, em contraposição ao comportamento respondente (Pavlov) a exis-
tência de um comportamento que opera ou atua sobre o meio e produz consequências, 
denominado, por ele, de comportamento operante.
Skinner, assim como Pávlov, sistematizou vários princípios sobre aprendizagem tais 
como o princípio do reforçamento positivo, do reforçamento negativo, dos esquemas 
de reforçamento, da punição, do condicionamento de fuga ede esquiva, a partir de 
pesquisas com animais. 
Em todos esses princípios, o que Skinner destaca é a consequência produzida pela 
resposta ou pelo comportamento do indivíduo. A relação entre a resposta e a conse-
quência pode ocorrer de diferentes formas e constitui-se no conceito de Contingência. 
Assim, no reforçamento positivo, a resposta ou o desempenho do sujeito produz, 
como consequência, a apresentação e um estímulo e, no reforçamento negativo, a res-
posta ou desempenho do sujeito produz como consequência a remoção de um estímulo. 
Se uma criança realiza a atividade escolar de modo satisfatório e recebe um elogio, 
um sorriso ou parabéns do professor e a frequência do comportamento que produziu 
a resposta aumenta, então, o elogio ou o sorriso é um estímulo reforçador positivo e o 
comportamento de realizar a atividade corretamente está sendo positivamente reforçado. 
Quando a criança percebe, pela expressão facial da mãe, que vai ser repreendida ou 
que pode apanhar e sai correndo, ela elimina, ao correr, o tapa ou o puxão de orelhas. 
Nesse caso, o comportamento de correr está sendo negativamente reforçado e tem sua 
frequência aumentada.
Os professores, muitas vezes, usam esses estímulos e procedimentos sem ter clareza 
suficiente sobre eles. O aluno que foge de uma aula pouco interessante pode ter seu 
comportamento negativamente reforçado. Estar fora da sala é um comportamento que 
elimina a aula pouco compreensível e desagradável.S
Skinner procurou demonstrar a aplicabilidade desses conceitos na organização do 
ensino, publicando, na década de 1970, um livro sobre Tecnologia do Ensino (1972).
Burruhus Frederic Skinner. Acesse: https://goo.gl/Q158uh
Dessas proposições, surgiu a Instrução Programada, valorizada no nosso contexto 
nesse período. 
Skinner insistiu no princípio da imediaticidade do reforço. Para que o estímulo refor-
çador seja eficiente, ele deve ser apresentado logo após a emissão do comportamento. 
Muitas vezes as mães, para controlar o comportamento dos filhos, anunciam que irão 
contar para o pai o que aconteceu. O que ocorre, em geral, é que o pai só volta para 
casa no final do dia. 
Nesse caso, o discurso da mãe tem apenas uma função ameaçadora para a criança 
ou de alívio da própria ansiedade da mãe, mas não tem nenhuma função na modificação 
do comportamento da criança, ou não reduz a probabilidade de ocorrência do compor-
tamento que a mãe considera inadequado. 
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Para Watson e Skinner, o comportamento observável deveria ser o objeto de estudo 
da Psicologia e a experimentação, o método. 
A Aprendizagem era compreendida como uma modificação do comportamento re-
sultante da experiência do sujeito. A Aprendizagem era analisada a partir das relações 
existentes entre o comportamento e os estímulos do ambiente.
Skinner – Modelagem. Acesse: https://youtu.be/cFoDe9KoK74
Nas décadas de 1960-1970, encontramos o movimento da Psicologia Cognitiva, que 
faz uma crítica à valorização dada à consequência da resposta, assinalando que, além 
das consequências, deveriam ser considerados também os processos psicológicos, que 
podiam ser inferidos a partir do comportamento.
Surge o modelo da Aprendizagem Significativa sistematizado, por Ausubel, em 1968.
David Ausubel. Acesse: https://goo.gl/UAuBYV
O autor defende que a Aprendizagem que assegura maior retenção do conteúdo 
aprendido ocorre quando o aluno é capaz de estabelecer uma relação não arbitrária e 
intencional entre o conteúdo a ser aprendido e a estrutura cognitiva do sujeito. 
O autor valoriza a estrutura cognitiva existente, ainda que afirme a importância da 
relação não arbitrária, ou seja, uma relação intencional entre o material a ser aprendido 
e a estrutura cognitiva já desenvolvida no sujeito.
Ausubel menciona no modelo da Aprendizagem Significativa a importância da moti-
vação, das variáveis da personalidade do aluno, mas não inclui essas variáveis de modo 
explícito na definição, dando destaque para a estrutura cognitiva do sujeito e a qualidade 
do material que lhe é apresentado.
Nesse modelo, a Aprendizagem consiste na reorganização da estrutura cognitiva exis-
tente, a partir das relações estabelecidas entre o material novo e os componentes da 
estrutura cognitiva do sujeito. 
Uma decorrência desse modelo de Aprendizagem são os chamados Mapas Concei-
tuais que, às vezes, são apresentados como Estratégias de Ensino e outras vezes como 
Estratégias de Avaliação. 
Atualmente, no nosso contexto, esse modelo tem sido usado como fundamento teó-
rico por muitos pesquisadores no ensino da Matemática, da Física, da Biologia etc.
Mapas Conceituais no Processo de Ensino-Aprendizagem. Acesse: https://goo.gl/YauCqv
Outra explicação para a Aprendizagem pode ser encontrada na Epistemologia Ge-
nética, sistematizada por Piaget (1896-1980), que considera os recursos que o sujeito 
desenvolve nos diferentes períodos para construir conhecimento. 
A Aprendizagem, como tal, foi tema bastante explorado pelos comportamentalistas, 
inicialmente, e pelos cognitivistas, posteriormente. 
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UNIDADE 
A Aprendizagem como Objeto de Estudo
Se entendemos que a ênfase dos cognitivistas está na estrutura cognitiva do sujeito, 
então podemos considerar Piaget nessa perspectiva.
Piaget era biólogo de formação e não encontrando na Biologia todos os elementos que 
precisava para explicar o processo de construção do conhecimento, foi buscá-los em outras 
áreas do conhecimento. Não se considerava Educador ou Psicólogo, mas um Epistemólogo, 
ou seja, alguém interessado em compreender como o ser humano constrói conhecimento. 
Jean Piaget . Acesse: https://goo.gl/pAHbux
A palavra Genética, que adjetiva sua Epistemologia, sugere gênesis, ou seja, a ori-
gem dos processos que permitem a construção do conhecimento.Por essa razão, Piaget 
observou crianças, iniciando pelos próprios filhos.
Piaget faz distinção entre informação e conhecimento, compreendendo o conheci-
mento como o resultado da ação do sujeito sobre os objetos do conhecimento. 
Dessa concepção, surge a perspectiva interacionista e a construtivista. O que Piaget 
destaca na construção do conhecimento é a interação do sujeito com o objeto de estudo. 
Esse conceito não entendido de modo claro produz a confusão entre interação e 
relações interpessoais. 
Piaget defende que nas diferentes etapas evolutivas (período sensório-motor, período 
pré-operacional, período das operações concretas e período das operações formais) 
surgem diferentes recursos para a construção do conhecimento, assim como diferentes 
qualidades do pensamento. 
Ele sistematiza os conceitos de Linguagem ou fala egocêntrica e fala socializada, de-
monstrando que na primeira não existe intenção de comunicação.
Epistemologia genética. Acesse: https://youtu.be/FWYjDvh3bWI
Nos anos de 1924 a 1934, surge no contexto da Psicologia Soviética um pensador 
que propõe uma revolução no quadro da Psicologia como Ciência, e da própria Educação. 
Como demonstra Shuare (2017), é pouco afirmar que Vigotski (1896-1934) abriu 
um novo caminho na Psicologia. Sua concepção definiu, e define até hoje, o desenvol-
vimento mais frutífero da Psicologia Soviética. 
Entendemos que, ao propor a origem histórica e cultural do psiquismo humano 
Vigotski e o Enfoque Histórico-Cultural, sistematizado em colaboração com Luria e 
Leóntiev, permitem, quando bem compreendidos, uma revolução na própria Educação. 
Lev Vygotsky. Acesse: https://goo.gl/Cb9LBP
Shuare (2017) demonstra que Vigotski introduz o psiquismo no tempo, quer dizer, 
que os processos psicológicos não se desenvolvem no tempo, depreendendo suas ca-
racterísticas intrínsecas, como ocorre com uma semente que contém em si todas as 
possibilidades a serem desenvolvidas. 
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O tempo para Vigotski é o tempo histórico, a história da sociedade humana, e para 
entender essa história, é preciso compreender a atividade produtiva do homem, que tem 
como principal característica ser colaborativa e transformadora da Natureza. 
De modo diferentede outros animais, o homem não usa apenas os recursos da Na-
tureza, mas a transforma com sua atividade, construindo a cultura que atua como força 
constituinte do sujeito. 
Analisando as funções psíquicas superiores e as funções psíquicas naturais, Vigotski 
demonstra o papel dos recursos da cultura no desenvolvimento das primeiras e a impor-
tância delas nos Processos de Aprendizagem e Desenvolvimento (CALEJON, 2012). 
Analisando as relações entre Aprendizagem e Desenvolvimento humano, Vigotski 
demonstra a existência de um Desenvolvimento real ou atual, que resulta das funções 
psíquicas já desenvolvidas e de um desenvolvimento potencial ou proximal, que resulta 
de funções psicológicas em desenvolvimento. 
Sinaliza que a Organização do contexto de Ensino, assim como a Avaliação Educa-
cional e mesmo a Avaliação Psicológica considera pouco o desenvolvimento proximal e 
a importância de considerar esses dados para a compreensão do desempenho escolar. 
A zona de desenvolvimento proximal demonstra que a aprendizagem promove o 
desenvolvimento, sendo uma tarefa colaborativa entre o sujeito e outros que se consti-
tuem em portadores dos conteúdos da Cultura, num contexto de relações interpessoais 
e sociais. 
São consideradas relações interpessoais na medida em que modificam ou sujeitos que 
participam dessas relações, diferindo de interação, que são relações mais próprias daquelas 
estabelecidas por outros animais ou das relações entre o sujeito e o objeto do conhecimento. 
No nosso contexto, encontramos com frequência expressões como interação so-
cial, enfoque sócio-histórico e sócio-construtivismo como referência ao pensamento 
Vigotskiano, sinalizando uma confusão entre o conceito de social e cultural que, de 
alguma forma, nega a essência do pensamento desse teórico. 
A Aprendizagem, defende Vigotski, começa antes que a criança ingresse na Escola. 
Nesta perspectiva, ganham relevância os diferentes contextos em que a Aprendizagem 
pode ocorrer: a família, a escola, os grupos sociais, o trabalho, os adultos e os coetâneos 
estavam propostos pelo autor, no início do século, como outros portadores da Cultura.
No final do século XX e início do século XXI, temos de considerar, ainda, os recursos 
da Tecnologia da Comunicação e da Informação e a mídia como outros importantes 
fatores na constituição do sujeito.
Lev Vigotsky - Breve vida e obra. Acesse: https://youtu.be/YJla-2t-HRY
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UNIDADE 
A Aprendizagem como Objeto de Estudo
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
A Ideologia do Movimento Escola Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso
Frei Betto... Escola sem Partido? In: A Ideologia do Movimento Escola Sem Partido: 
20 autores desmontam o discurso/Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação 
(org.) São Paulo: Ação Educativa, 2016;
 Vídeos
Pedagogia Crítica
Apresenta a obra de Paulo Freire e alguns conceitos sobre alfabetização.
https://youtu.be/Qi3dLhtD7Q0
 Leitura
Trabalho, educação e lazer: contribuições do enfoque histórico-cultural para o 
desenvolvimento humano
https://goo.gl/jQpdWf
Paulo Freire: da denúncia da educação bancária ao anúncio de uma pedagogia libertadora
https://goo.gl/k3ZP4G
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Referências
BEATON, A. Guilhermo. Condições para uma Escolarização Oportuna dos Escolares 
com Deficiência Intelectual. 2014. Trabalho apresentado no I. SEMINÁRIO INTERNA-
CIONAL DE INCLUSÃO ESCOLAR: práticas em diálogo, Rio de Janeiro, 2014.
CALEJON, M. C. Laura. Desenvolvimento humano: uma reflexão a partir do enfoque 
histórico-cultural.  In: LIMA E DIAS, Marián A.; FUKUMITSU, K.; MELO, A. Temas 
contemporâneos em psicologia do desenvolvimento. São Paulo: VETOR, 2012.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao 
pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Morales, 1979.
FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
GADOTTI, Moacir. A Escola cidadã frente à Escola sem Partido. In: A Ideologia do 
Movimento Escola Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso/Ação Educativa 
Assessoria, Pesquisa e Informação (org.) São Paulo: Ação Educativa, 2016.
SHUARE, Marta. A Psicologia soviética: meu olhar. Tradução de M. Calejon e de M. 
C. Laura. São Paulo: Terracota, 2017. 
VALE, Maria José; JORGE, S. M. G.; BENEDETTI, S. Paulo. Freire, educar para 
transformar: almanaque histórico. São Paulo: Mercado Cultural, 2005.
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Mais conteúdos dessa disciplina