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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Psicopedagogia Como Campo Teórico e de Atuação Profissional A Aprendizagem como Objeto de Estudo Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Dr.ª Laura Marisa Carnielo Calejon Revisão Textual: Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Contextualização; • Aprendizagem na Perspectiva da Educação Libertadora; • Diferentes Concepções de Aprendizagem Elaboradas no Século XX. Fonte: iStock/Getty Im ages Objetivos • Compreender as diferentes teorias e explicações sobre a Aprendizagem como objeto de estudo e sua importância para a Educação Escolar e para a atuação do Psicopedagogo. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o último momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! A Aprendizagem como Objeto de Estudo UNIDADE A Aprendizagem como Objeto de Estudo Contextualização Para dar início a esta Unidade, quero convidar você a pensar sobre a Pedagogia Crítica. Você já ouviu falar sobre esse termo? Vamos assistir ao Paulo Freire – Pedagogia Crítica 1, que apresenta elementos a serem refletidos, de modo a ampliar a discussão e a compreensão, acerca do tema. Disponível em: https://youtu.be/Xr4h5hNldIQ 6 7 Aprendizagem na Perspectiva da Educação Libertadora Aprendizagem e Educação são termos que aparecem associados, ainda que o signi- ficado deles seja bastante diversificado, conforme a concepção de mundo e de homem que possamos assumir. Para o Psicopedagogo que assume a Aprendizagem, em suas múltiplas condições, como seu objeto de estudo, compreender a multiplicidade de sentidos dada a esses con- ceitos é fundamental. Aprender é um ato social que ocorre de modo natural, formal ou informal, que resulta de uma complexa atividade mental em que estão envolvidos processos de pensamento, percepção, emoções, memória, motricidade, mediação e conhecimentos prévios. Aprendizagem e desenvolvimento humano são processos inter-relacionados e expli- cados pela Psicologia e pela Pedagogia de modos diferentes, em função da base episte- mológica assumida pela explicação. A Sociedade, em geral, e os pais depositam na Educação grandes esperanças na promoção do desenvolvimento de seus filhos. Os resultados observados no Sistema Educacional brasileiro não confirmam essas esperanças e desafiam Educadores, Psico- pedagogos, Pedagogos e Psicólogos a repensar a questão. Como demonstram os resul- tados de avaliações internacionais feitas pelo Programa Internacional de Avaliação de estudantes (PISA), em 2015, o Brasil ocupava a posição 50 em leitura, 63 em Ciências e 66 em Matemática. No topo do ranking encontramos Cingapura, Japão e Estônia em Ciências, em Leitura encontramos Cingapura Hong-Kong, Canadá e Finlândia; em Matemática encontramos Cingapura, Hong-Kong e Macau. As avaliações nacionais não oferecem resultados mais animadores. Os dados estimulam a reflexão sobre a relação entre a qualidade do desempenho escolar e do próprio desenvolvimento do sujeito, da cultura e da sociedade e o projeto societário assumido por uma nação. Brasil tem desempenho escolar abaixo da média internacional. Disponível em: https://goo.gl/cihDLg Assim, na formação de especialistas que tem como tarefa principal pensar o papel da Educação na promoção do desenvolvimento do sujeito e da própria Sociedade, a reflexão sobre a Aprendizagem numa perspectiva emancipadora ou libertadora ganha relevância. Pensar nessa perspectiva obriga a mencionar e entender o que Freire chamou de Educação Libertadora contraposta à Educação Bancária e o impacto do trabalho desse pensador na década de 1965 e, mais recentemente, nos movimentos do cenário brasi- leiro, com a proposição do movimento Escola sem Partido. O que você e outros professores sabem sobre a obra de Paulo Freire? O que você pensa sobre o movimento Escola sem Partido? 7 UNIDADE A Aprendizagem como Objeto de Estudo Educação Bancário x Educação Problematizadora. Acesse: https://youtu.be/dNK41Err0jE O Almanaque Histórico, publicado em 2005, no Projeto Memória, demonstra a relação estreita entre a Escola e a vida e o papel que a segunda deve ter na organização da primeira. Entre os múltiplos fatos mencionados no documento, cabe destacar o que Freire con- sidera sua primeira iluminação: Em Jaboatão experimentei o que é a fome e compreendi a fome dos demais. Em Jaboatão criança ainda, converti-me em homem graças a dor e ao sofrimento que não me submergiam nas sombras da desesperação. Em Jaboatão joguei bola como os meninos do povo. Nadei no rio e tive minha primeira iluminação: um dia contemplei uma moça despida. Ela me olhou e se pôs a rir [...] (FREIRE, 1979, p. 9). O relato aparece num texto que trata da Conscientização e da Teoria e Prática da Libertação. Ilumina nosso pensar quando nos mostra a relação necessária entre a vida e a Escola. Experimentar a fome é um caminho para compreendê-la sem ser imobilizado pelo desespero; jogar bola com os meninos; nadar no rio são caminhos para compreender o contexto em que se vive e produzir consciência de quem somos, em que realidade vive- mos, que mundo e que Sociedade gostaríamos de colaborar para construir. A Educação, a Escola, a Aprendizagem podem ter papel fundamental nesse proces- so, desde que tenhamos consciência do nosso papel como especialistas e de que con- cepções sobre Educação e Aprendizagem defendemos. Para ampliar a compreensão sobre a Educação, numa perspectiva libertadora, desta- camos algumas das proposições do seu idealizador. Sobre o analfabeto, Freire nos permite vislumbrar uma posição astuta ou ingênua, que omite a causalidade política e o discurso ideológico, quando se refere aos analfabe- tos como seres indolentes, incapazes ou preguiçosos. Assim, Freire (1981) denuncia que ninguém é analfabeto por eleição, mas como consequência das condições objetivas em que se encontra. Apenas 2,1 % dos alunos pobres do país têm bom desempenho escolar. Acesse: https://goo.gl/DytBTc Merece destaque, também, o que Freire sistematizou como Círculos de Cultura e como temas geradores. Círculos de cultura, criados em suas primeiras experiências com Educação de adultos, ocupavam o lugar das salas de aula tradicionais, com aulas exclu- sivamente expositivas. O professor orador transformava-se em coordenador de debates e animador cultural e o aluno em participante ativo do grupo mobilizado por temas geradores que resulta- vam da discussão crítico-criativa da realidade do professor e dos alunos. 8 9 O Programa Nacional de Alfabetização, criado por Freire, em 1963, objetivava al- fabetizar, despertando no jovem e no adulto um processo de conscientização sobre a realidade vivida, possibilitando uma transformação dessa mesma realidade. A proposta era assustadora para a liderança política da época. O Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), criado pelo Governo Militar e extinto em 1985, com o fim desse Governo, ainda que anunciasse usar o Método de Freire, esvaziou o sentido políti- co dos temas ou palavras geradoras, substituindo seu conteúdo por palavras padroniza-das para todo o país, desconsiderando as realidades locais (VALE, 2005). Em 2016, surge, no nosso contexto, o movimento da Escola sem Partido, analisado por vinte autores que desmontam esse discurso e revelam os temores que Freire ainda desperta em alguns governantes. Sobre o tema diz Gadotti: Na formação política há uma cultura da indiferença e uma cultura de compromisso com os mais empobrecidos. A primeira cultura forma a massa desorganizada a ser manipulada politicamente pela mídia fascista e golpista; a segunda cultura forma o povo consciente e organizado que luta pelos seus direitos (GADOTTI, 2016, p.150). É, portanto, necessário, que o especialista com objetivo de promover uma Educa- ção de qualidade e uma Aprendizagem importante para o desenvolvimento do sujeito compreenda os múltiplos significados e a visão de homem e de mundo implícitas nas diferentes concepções de educação e de Aprendizagem. Como Freire apontava, a leitura das letras e do sentido das palavras precisa ser ante- cedida pela leitura do mundo em que o sujeito vive. A compreensão do significado das palavras está relacionada ao desenvolvimento da função simbólica, tema que vem sido investigado por Arias Beatón, pesquisador da Cátedra Vigotski, da Universidade de Ha- vana, e colaborador do nosso programa. Como demonstra o pesquisador Arias Beatón (2014), no I Seminário Internacional de Inclusão Escolar, realizado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, todas as crian- ças e escolares podem aprender a ler, escrever e calcular, incluindo aquelas que muitas vezes são consideradas com deficiência intelectual. Além disso, o pesquisador postula, desde o Enfoque Histórico-cultural, comprovado pela prática pedagógica de vários países, que os deficientes intelectuais se desenvolvem de acordo com as mesmas Leis gerais válidas para outros sujeitos ou escolares, consi- derados sem deficiência, desde que sejam adotadas práticas educativas condizentes com suas necessidades. A Educação é um caminho para a humanização e a formação política que produz cidadania, consciência e a possibilidade de que o sujeito possa ter para lutar por seus direitos e compreender seus deveres na vida em Sociedade. O preconceito, a exploração dos mais frágeis, o individualismo e o oportunismo são marcas de uma cultura da indiferença ou de uma concepção de homem e de mundo que acredita na herança biológica do sujeito e não reconhece o valor da herança cultural e 9 UNIDADE A Aprendizagem como Objeto de Estudo nem que para a sobrevivência do sujeito e do Planeta é preciso entender que vivemos em coletividade e precisamos dos outros para resolver nossas necessidades básicas. A compreensão desses princípios e postulados pode ser ampliada pelas explicações oferecidas pelo Enfoque Histórico-cultural para os processos de aprendizagem e do desenvolvimento humano e pela leitura crítica das diferentes Teorias elaboradas pela Psicologia para explicar tais fenômenos. Inclusão escolar e social não acontece apenas pelas Leis e Decretos, requerendo edu- cadores capazes de analisar políticas públicas, compreender o Sistema Educacional e o projeto de Sociedade que cria tal Sistema. A Educação pode ser um Sistema de reprodução das desigualdades sociais e das in- justiças existentes no Projeto Social que cria o Sistema Educacional. Em outras palavras, se o Projeto de Sociedade é marcado pelo individualismo, pela competição, pela meritocracia e pela desigualdade social, o Sistema Educativo e a pró- pria Escola carregam essas marcas. Educar para humanizar. Acesse: https://youtu.be/blw9t4RBITU Diferentes Concepções de Aprendizagem Elaboradas no Século XX Como fenômeno multideterminado e complexo, a Aprendizagem foi estudada a par- tir de diferentes ângulos, enfatizando-se diferentes condições para estudá-lo. Durante o século XX, encontramos diferentes teorias que procuram explicar o fenô- meno da Aprendizagem. No nosso contexto, Pávlov (1849-1936) é conhecido como o autor da teoria do reflexo condicionado e sistematizador do condicionamento respon- dente, analisado criticamente por Skinner. Shuare (2017) demonstra, no contexto da Psicologia Soviética, a relação entre o pensamento fisiológico e a constituição da psicológica. Nesse contexto, menciona Pávlov que considerou o reflexo condicionado como a for- ma evolutiva mais recente no processo de adaptação do organismo ao meio, resultando do acúmulo da experiência individual. O reflexo condicionado demonstra o fenômeno da Aprendizagem, na medida em que a salivação do cachorro não é provocada pelo pó de carne colocado na boca do animal, mas pelo prato, agora vazio, que esteve, anteriormente, associado à comida, sendo o recipiente que a servia, ou pelo som de uma campainha sistematicamente apresentada pelo experimentador antes da comida ser colocada na boca do animal. Ivan Pavlov. Acesse: https://goo.gl/k25Sq4 10 11 O cão de Pavlov. Acesse: https://youtu.be/YhYZJL-Ni7U Pávlov (1849-1936) ingressou, em 1870, na Faculdade de Direito, passando ime- diatamente para a Seção de Ciências Naturais da Faculdade de Física e Matemática, da Universidade de Petersburgo, especializando-se em Fisiologia Animal. De 1896 até 1924, foi chefe da Cátedra de Fisiologia da Academia Militar de Me- dicina. De 1891 até sua morte, dirigiu a Secção de Fisiologia do Instituto de Medicina Experimental que contribuiu para organizar. De 1925 até sua morte, foi diretor do Instituto de Fisiologia da Academia de Ciências da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), recebendo, em 1904, o Prêmio Nobel por seus trabalhos em fisiologia das glândulas digestivas (Shuare, 2017). Os dados biográficos destacados permitem compreender o papel da fisiologia na ex- plicação da Aprendizagem e à valorização de Pavlov no cenário da Psicologia soviética, contexto de emergência do Enfoque Histórico-Cultural. Cabe ressaltar, ainda, que a produção de Pávlov surge no final do século XIX e começo do século XX, período em que a Psicologia buscava constituir-se como Ciência, e que o paradigma de Ciência vigente era o das Ciências Naturais, com forte impacto da Filosofia Positiva, sistematizada por Comte (1798-1857), filósofo francês, considerado o fundador do Positivismo. Augusto Comte. Acesse: https://goo.gl/Y9X1mh Esse foi o cenário que Vigotski criticou na década de 1924, quando sistematiza as bases do Enfoque Histórico-cultural. Para compreender de modo mais amplo os desafios propostos pelas diferentes ex- plicações da Aprendizagem, vamos considerar outros movimentos teóricos ocorridos em diferentes partes do mundo e que também receberam o impacto do paradigma das Ciências da Natureza. Nas primeiras décadas do século XX, Watson lidera, nos Estados Unidos, um movi- mento denominado Behaviorismo, que impactou a Psicologia deste século, principal- mente, no Ocidente. Watson defendia que se a Psicologia nascente queria ser uma Ciência respeitável, pre- cisava seguir o paradigma das Ciências da Natureza ou das Ciências Exatas, construído a partir da influência da Filosofia Positiva de Conte. Skinner (1904-1990), na década de 1940-1950, como uma das figuras do Movi- mento Behaviorista que impactou a Educação, sistematizou princípios de Aprendizagem conhecidos como condicionamento operante. O autor faz, em Ciência e Comportamento Humano (1953-2003), uma análise críti- ca dos reflexos condicionados, demonstrando que eles explicam uma parte do repertório comportamental do sujeito humano e animal. 11 UNIDADE A Aprendizagem como Objeto de Estudo Defende, ainda, em contraposição ao comportamento respondente (Pavlov) a exis- tência de um comportamento que opera ou atua sobre o meio e produz consequências, denominado, por ele, de comportamento operante. Skinner, assim como Pávlov, sistematizou vários princípios sobre aprendizagem tais como o princípio do reforçamento positivo, do reforçamento negativo, dos esquemas de reforçamento, da punição, do condicionamento de fuga ede esquiva, a partir de pesquisas com animais. Em todos esses princípios, o que Skinner destaca é a consequência produzida pela resposta ou pelo comportamento do indivíduo. A relação entre a resposta e a conse- quência pode ocorrer de diferentes formas e constitui-se no conceito de Contingência. Assim, no reforçamento positivo, a resposta ou o desempenho do sujeito produz, como consequência, a apresentação e um estímulo e, no reforçamento negativo, a res- posta ou desempenho do sujeito produz como consequência a remoção de um estímulo. Se uma criança realiza a atividade escolar de modo satisfatório e recebe um elogio, um sorriso ou parabéns do professor e a frequência do comportamento que produziu a resposta aumenta, então, o elogio ou o sorriso é um estímulo reforçador positivo e o comportamento de realizar a atividade corretamente está sendo positivamente reforçado. Quando a criança percebe, pela expressão facial da mãe, que vai ser repreendida ou que pode apanhar e sai correndo, ela elimina, ao correr, o tapa ou o puxão de orelhas. Nesse caso, o comportamento de correr está sendo negativamente reforçado e tem sua frequência aumentada. Os professores, muitas vezes, usam esses estímulos e procedimentos sem ter clareza suficiente sobre eles. O aluno que foge de uma aula pouco interessante pode ter seu comportamento negativamente reforçado. Estar fora da sala é um comportamento que elimina a aula pouco compreensível e desagradável.S Skinner procurou demonstrar a aplicabilidade desses conceitos na organização do ensino, publicando, na década de 1970, um livro sobre Tecnologia do Ensino (1972). Burruhus Frederic Skinner. Acesse: https://goo.gl/Q158uh Dessas proposições, surgiu a Instrução Programada, valorizada no nosso contexto nesse período. Skinner insistiu no princípio da imediaticidade do reforço. Para que o estímulo refor- çador seja eficiente, ele deve ser apresentado logo após a emissão do comportamento. Muitas vezes as mães, para controlar o comportamento dos filhos, anunciam que irão contar para o pai o que aconteceu. O que ocorre, em geral, é que o pai só volta para casa no final do dia. Nesse caso, o discurso da mãe tem apenas uma função ameaçadora para a criança ou de alívio da própria ansiedade da mãe, mas não tem nenhuma função na modificação do comportamento da criança, ou não reduz a probabilidade de ocorrência do compor- tamento que a mãe considera inadequado. 12 13 Para Watson e Skinner, o comportamento observável deveria ser o objeto de estudo da Psicologia e a experimentação, o método. A Aprendizagem era compreendida como uma modificação do comportamento re- sultante da experiência do sujeito. A Aprendizagem era analisada a partir das relações existentes entre o comportamento e os estímulos do ambiente. Skinner – Modelagem. Acesse: https://youtu.be/cFoDe9KoK74 Nas décadas de 1960-1970, encontramos o movimento da Psicologia Cognitiva, que faz uma crítica à valorização dada à consequência da resposta, assinalando que, além das consequências, deveriam ser considerados também os processos psicológicos, que podiam ser inferidos a partir do comportamento. Surge o modelo da Aprendizagem Significativa sistematizado, por Ausubel, em 1968. David Ausubel. Acesse: https://goo.gl/UAuBYV O autor defende que a Aprendizagem que assegura maior retenção do conteúdo aprendido ocorre quando o aluno é capaz de estabelecer uma relação não arbitrária e intencional entre o conteúdo a ser aprendido e a estrutura cognitiva do sujeito. O autor valoriza a estrutura cognitiva existente, ainda que afirme a importância da relação não arbitrária, ou seja, uma relação intencional entre o material a ser aprendido e a estrutura cognitiva já desenvolvida no sujeito. Ausubel menciona no modelo da Aprendizagem Significativa a importância da moti- vação, das variáveis da personalidade do aluno, mas não inclui essas variáveis de modo explícito na definição, dando destaque para a estrutura cognitiva do sujeito e a qualidade do material que lhe é apresentado. Nesse modelo, a Aprendizagem consiste na reorganização da estrutura cognitiva exis- tente, a partir das relações estabelecidas entre o material novo e os componentes da estrutura cognitiva do sujeito. Uma decorrência desse modelo de Aprendizagem são os chamados Mapas Concei- tuais que, às vezes, são apresentados como Estratégias de Ensino e outras vezes como Estratégias de Avaliação. Atualmente, no nosso contexto, esse modelo tem sido usado como fundamento teó- rico por muitos pesquisadores no ensino da Matemática, da Física, da Biologia etc. Mapas Conceituais no Processo de Ensino-Aprendizagem. Acesse: https://goo.gl/YauCqv Outra explicação para a Aprendizagem pode ser encontrada na Epistemologia Ge- nética, sistematizada por Piaget (1896-1980), que considera os recursos que o sujeito desenvolve nos diferentes períodos para construir conhecimento. A Aprendizagem, como tal, foi tema bastante explorado pelos comportamentalistas, inicialmente, e pelos cognitivistas, posteriormente. 13 UNIDADE A Aprendizagem como Objeto de Estudo Se entendemos que a ênfase dos cognitivistas está na estrutura cognitiva do sujeito, então podemos considerar Piaget nessa perspectiva. Piaget era biólogo de formação e não encontrando na Biologia todos os elementos que precisava para explicar o processo de construção do conhecimento, foi buscá-los em outras áreas do conhecimento. Não se considerava Educador ou Psicólogo, mas um Epistemólogo, ou seja, alguém interessado em compreender como o ser humano constrói conhecimento. Jean Piaget . Acesse: https://goo.gl/pAHbux A palavra Genética, que adjetiva sua Epistemologia, sugere gênesis, ou seja, a ori- gem dos processos que permitem a construção do conhecimento.Por essa razão, Piaget observou crianças, iniciando pelos próprios filhos. Piaget faz distinção entre informação e conhecimento, compreendendo o conheci- mento como o resultado da ação do sujeito sobre os objetos do conhecimento. Dessa concepção, surge a perspectiva interacionista e a construtivista. O que Piaget destaca na construção do conhecimento é a interação do sujeito com o objeto de estudo. Esse conceito não entendido de modo claro produz a confusão entre interação e relações interpessoais. Piaget defende que nas diferentes etapas evolutivas (período sensório-motor, período pré-operacional, período das operações concretas e período das operações formais) surgem diferentes recursos para a construção do conhecimento, assim como diferentes qualidades do pensamento. Ele sistematiza os conceitos de Linguagem ou fala egocêntrica e fala socializada, de- monstrando que na primeira não existe intenção de comunicação. Epistemologia genética. Acesse: https://youtu.be/FWYjDvh3bWI Nos anos de 1924 a 1934, surge no contexto da Psicologia Soviética um pensador que propõe uma revolução no quadro da Psicologia como Ciência, e da própria Educação. Como demonstra Shuare (2017), é pouco afirmar que Vigotski (1896-1934) abriu um novo caminho na Psicologia. Sua concepção definiu, e define até hoje, o desenvol- vimento mais frutífero da Psicologia Soviética. Entendemos que, ao propor a origem histórica e cultural do psiquismo humano Vigotski e o Enfoque Histórico-Cultural, sistematizado em colaboração com Luria e Leóntiev, permitem, quando bem compreendidos, uma revolução na própria Educação. Lev Vygotsky. Acesse: https://goo.gl/Cb9LBP Shuare (2017) demonstra que Vigotski introduz o psiquismo no tempo, quer dizer, que os processos psicológicos não se desenvolvem no tempo, depreendendo suas ca- racterísticas intrínsecas, como ocorre com uma semente que contém em si todas as possibilidades a serem desenvolvidas. 14 15 O tempo para Vigotski é o tempo histórico, a história da sociedade humana, e para entender essa história, é preciso compreender a atividade produtiva do homem, que tem como principal característica ser colaborativa e transformadora da Natureza. De modo diferentede outros animais, o homem não usa apenas os recursos da Na- tureza, mas a transforma com sua atividade, construindo a cultura que atua como força constituinte do sujeito. Analisando as funções psíquicas superiores e as funções psíquicas naturais, Vigotski demonstra o papel dos recursos da cultura no desenvolvimento das primeiras e a impor- tância delas nos Processos de Aprendizagem e Desenvolvimento (CALEJON, 2012). Analisando as relações entre Aprendizagem e Desenvolvimento humano, Vigotski demonstra a existência de um Desenvolvimento real ou atual, que resulta das funções psíquicas já desenvolvidas e de um desenvolvimento potencial ou proximal, que resulta de funções psicológicas em desenvolvimento. Sinaliza que a Organização do contexto de Ensino, assim como a Avaliação Educa- cional e mesmo a Avaliação Psicológica considera pouco o desenvolvimento proximal e a importância de considerar esses dados para a compreensão do desempenho escolar. A zona de desenvolvimento proximal demonstra que a aprendizagem promove o desenvolvimento, sendo uma tarefa colaborativa entre o sujeito e outros que se consti- tuem em portadores dos conteúdos da Cultura, num contexto de relações interpessoais e sociais. São consideradas relações interpessoais na medida em que modificam ou sujeitos que participam dessas relações, diferindo de interação, que são relações mais próprias daquelas estabelecidas por outros animais ou das relações entre o sujeito e o objeto do conhecimento. No nosso contexto, encontramos com frequência expressões como interação so- cial, enfoque sócio-histórico e sócio-construtivismo como referência ao pensamento Vigotskiano, sinalizando uma confusão entre o conceito de social e cultural que, de alguma forma, nega a essência do pensamento desse teórico. A Aprendizagem, defende Vigotski, começa antes que a criança ingresse na Escola. Nesta perspectiva, ganham relevância os diferentes contextos em que a Aprendizagem pode ocorrer: a família, a escola, os grupos sociais, o trabalho, os adultos e os coetâneos estavam propostos pelo autor, no início do século, como outros portadores da Cultura. No final do século XX e início do século XXI, temos de considerar, ainda, os recursos da Tecnologia da Comunicação e da Informação e a mídia como outros importantes fatores na constituição do sujeito. Lev Vigotsky - Breve vida e obra. Acesse: https://youtu.be/YJla-2t-HRY 15 UNIDADE A Aprendizagem como Objeto de Estudo Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Livros A Ideologia do Movimento Escola Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso Frei Betto... Escola sem Partido? In: A Ideologia do Movimento Escola Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso/Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação (org.) São Paulo: Ação Educativa, 2016; Vídeos Pedagogia Crítica Apresenta a obra de Paulo Freire e alguns conceitos sobre alfabetização. https://youtu.be/Qi3dLhtD7Q0 Leitura Trabalho, educação e lazer: contribuições do enfoque histórico-cultural para o desenvolvimento humano https://goo.gl/jQpdWf Paulo Freire: da denúncia da educação bancária ao anúncio de uma pedagogia libertadora https://goo.gl/k3ZP4G 16 17 Referências BEATON, A. Guilhermo. Condições para uma Escolarização Oportuna dos Escolares com Deficiência Intelectual. 2014. Trabalho apresentado no I. SEMINÁRIO INTERNA- CIONAL DE INCLUSÃO ESCOLAR: práticas em diálogo, Rio de Janeiro, 2014. CALEJON, M. C. Laura. Desenvolvimento humano: uma reflexão a partir do enfoque histórico-cultural. In: LIMA E DIAS, Marián A.; FUKUMITSU, K.; MELO, A. Temas contemporâneos em psicologia do desenvolvimento. São Paulo: VETOR, 2012. FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação: uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Morales, 1979. FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade. 5ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. GADOTTI, Moacir. A Escola cidadã frente à Escola sem Partido. In: A Ideologia do Movimento Escola Sem Partido: 20 autores desmontam o discurso/Ação Educativa Assessoria, Pesquisa e Informação (org.) São Paulo: Ação Educativa, 2016. SHUARE, Marta. A Psicologia soviética: meu olhar. Tradução de M. Calejon e de M. C. Laura. São Paulo: Terracota, 2017. VALE, Maria José; JORGE, S. M. G.; BENEDETTI, S. Paulo. Freire, educar para transformar: almanaque histórico. São Paulo: Mercado Cultural, 2005. 17