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TRABALHO SOBRE A LUTA ANTIMANICOMIAL

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1. INTRODUÇÃO
A partir do surgimento da negação do manicômio e a busca por novas configurações no relacionamento do louco com o seu meio social, a luta antimanicomial se apresenta como uma reflexão sobre a delicadeza humana do doente mental e, dessa forma, traz à tona as implicações éticas no cuidado psicológico da loucura. Tal movimento, insere-se num contexto histórico e de transformações políticas, no qual surgiram outros movimentos como a Reforma Psiquiátrica, em meados dos anos 70, que muda a percepção de tratamento comum as instituições hospitalares e leva para uma Rede de Atenção Psicossocial o doente mental.
Nesse contexto, inicia-se uma tentativa por parte do Movimento de Trabalhadores da Saúde Mental ( MTSM ), de incriminar os maus tratos nos Hospitais Psiquiátricos e a violência irracional e deletéria nos manicômios do país, fazendo urgente a criação de novas intervenções que respeitassem a dignidade humana do louco. O movimento antimanicomial tem como característica fundamental, a luta pela defesa e garantia dos direitos humanos e estabelecimento de novas alternativas no tratamento do doente mental. 
Nesse sentido, entendeu-se relevante problematizar o protagonismo da ética na luta antimanicomial e desconstruir o pensamento comum sobre o doente mental. Além disso, o presente trabalho propõe uma reflexão sobre a existência de uma razão por trás da loucura e desafia os psicólogos a desenvolverem a capacidade e sensibilidade de olhar para o louco como um indivíduo social, condenando visões preconceituosas e o resgate do pensamento higienista do início do século XX.
Segundo Antunes ( 1999 ), médicos e higienistas reivindicavam a salubridade da sociedade por meio da reclusão daqueles que fossem considerados anormais, propondo a criação de hospícios e separando o louco da sociedade. A teoria da degenerescência da época, propunha a higienização da sociedade, além de pregar uma hierarquia social. Entende-se, portanto, o porque da criação de instituições asilares : eles são espaços de exclusão e controle de uma ideia social higienista apoiado no movimento eugenista que predominava no início do século XX. Daí a importância de atacar essa forma de preconceito neste trabalho.
Nessa perspectiva, a luta antimanicomial vem conseguindo lograr e a Saúde Mental no Brasil está passando por um processo de intensas pesquisas e reflexões a cerca do cuidado e tratamento do doente mental. A Reforma Psiquiátrica aborda em sua manifestação a criação de dispositivos substitutivos e a iniciativa de modelos alternativos como o Centro de Assistência Psicossocial ( CAPS ) e Núcleo de Atenção Psicossocial ( NAPS )que já são políticas públicas em assistência à Saúde Mental.
A fim de apresentar a concepção da loucura e a sua história, além de desenvolver uma argumentação que justifique a luta antimanicomial, abordaremos brevemente como surgiu à necessidade de enclausuramento do louco, apontando as razões que subjaz a ética da criação do hospício. Em seguida, apresentaremos uma breve história da loucura e por último exploraremos o início do movimento antimanicomial no Brasil e no mundo e as suas contribuições para a Saúde Mental.
2. DEFINIÇÃO DE MANICÔMIO/ HOSPITAL PSIQUIÁTRICO 
O manicômio é uma instituição cujo o fim é abrigar, recolher ou dar algum tipo de assistência aos "loucos". 
Trata-se de um hospital psiquiátrico especializado na qual trabalha profissionais que atendem pacientes portadores de doenças mentais. Sem dúvida o termo manicômio tem certas conotações negativas em termos sociais. Hoje em dia, muitos profissionais preferem utilizar o termo hospital psiquiátrico ao invés de manicômio.
A prática de retirar os doentes mentais do convívio social para colocá-los em um lugar específico surge em um determinado período histórico. Segundo Michel Foucault, em A história da loucura na idade clássica, ela tem origem na cultura árabe, datando o primeiro hospício conhecido do século VII.
Cada caso é único e exclusivo na qual cada paciente precisa para atender suas necessidades específicas. Neste sentido, a duração de um tratamento pode ser menor ou maior dependendo das conotações do caso. Para poder estabelecer um tratamento adequado, em primeiro lugar, é determinante detectar a causa do mal-estar.
Com o tempo, a saúde mental passou a ser integrante da sociedade do ponto de vista positivo como um motor do desenvolvimento integral da pessoa. Por isso, os centros psiquiátricos atuais oferecem uma imagem muito mais saudável em sua presença física e estrutura, uma vez que não se pode deixar de saber que a parte humanitária é a mais importante. Em última instância, é importante romper com certos preconceitos equivocados de que o manicômio é um lugar de gente louca.
3. HISTÓRICO NO BRASIL E NO MUNDO
Na idade média, o fenômeno da loucura aconteceu como uma visão de perda da humanidade do ser, e dessa forma, estava associada a eventos demoníacos que transcendiam a questão humana. A Santa Inquisição da Igreja Católica, nessa época, tratou dos loucos como pessoas hereges e, por conta disso, os doentes mentais eram não só martirizados em tribunais religiosos como também queimados em fogueiras (STOCKINGER, 2007). No período medieval, os loucos eram enjaulados como animais, e apresentados publicamente nessas condições (FOCAULT, 1997). 
Na maior parte das cidades da Europa, existiu, na Idade Média, lugares em que eram deixados os insanos. Em primeiro plano, surgiram os lugares de peregrinação, mas em outras cidades, os loucos eram mantidos em prisões, privados de vida social e torturados, além de serem chicoteados publicamente (FOCAULT, 1999).
 A criação de hospitais psiquiátricos se deu no século XVII, com o objetivo de tirar da sociedade aqueles que fossem considerados anormais ou ameaçassem a ordem social. Nesses manicômios, no qual se misturavam loucos, blasfemadores, doentes venéreos, homossexuais e libertinos, não havia condições mínimas de higiene ou qualquer preocupação com o cuidado humanizado com essas pessoas. A única preocupação que existia era a separação dos mais perigosos, que eram amarrados às camas. Não existia, ainda, qualquer forma terapêutica (FOCAULT, 1997). 
Foi somente com Philippe Pinel (1745-1827), no século XIII, e o surgimento da Psiquiatria como especialidade médica, que surgiu o pensamento de tratar clinicamente os loucos em instituições asilares e hospitais psiquiátricos. Apoiado nos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade da revolução francesa, Philippe Pinel iniciou a sua medicalização no Hospital Geral de Paris. Ele propôs, primeiramente, que os loucos fossem desacorrentados e tirados dessas formas prisionais nos internamentos, e lhe deixassem apenas isolados para tratamentos com medicalização e acompanhamentos médicos de caso. Pinel acreditava não ser viável a exclusão do isolamento, porque considerava que os prejuízos mentais implicavam um risco social, que precisava ser assegurado. Além disso, o isolamento ajudava nas observações e diagnósticos, facilitando o estabelecimento de uma psiquiatria. 
No Brasil, durante o período colonial, a forma como se dava o tratamento aos doentes mentais, acontecia normalmente vinda da Igreja Católica, através dos padres e curandeiros. A inexistência de médicos psiquiátricos, e a dificuldade em encontrar até mesmo médicos cirurgiões contribuíam para a ausência de cuidados aos loucos nessa época. Os hospitais da Santa Casa, se encarregavam apenas dos doentes mais necessitados que não tivessem casa, ou nenhum recurso financeiro (MIRANDA-SÁ, 2007). Dessa forma, os doentes mentais, eram jogados nos porões, sendo que os mais agitados ou agressivos eram espancados pelos guardas (BASTOS, 2007). 
Em 1808, com a chegada da corte portuguesa no Rio de Janeiro, o Brasil ganhou um novo status político e houve uma crescente urbanização das cidades, que trouxe como consequência problemas sanitários para a sociedade. Os doentes mentais, nessa época, representavam uma grande perturbação para a zona urbana e causavam desordem social, além de seremimprodutivos do ponto de vista econômico. O cuidado com essas pessoas se tornou algo urgente (MIRANDA-SÁ, 2007). 
Nesse contexto, o Brasil foi responsável, apoiando-se no alienismo francês, a fundar o primeiro grande manicômio da América Latina (STOCKINGER, 2007). Em 18 de julho de 1841, foi promulgado o decreto n° 82, no qual Dom Pedro II relatou que seria fundado um hospital destinado ao tratamento de alienados (CANABRAVA, et al., 2010). Esta instituição foi inaugurado em 1852, com a denominação Hospício Dom Pedro II, e renomeado mais tarde para Hospício Nacional dos Alienados. 
Nessa instituição o médico clínico era responsável por todas as intervenções e cuidados com os doentes mentais. Todos os procedimentos de coerção e repressão poderiam ser usados quando estes médicos clínicos achassem pertinentes, como forma de controlar os alienados e criar um espaço de dominação e obediência. Entre esses procedimentos estão: privação de visitas, recreios e outros passeios, diminuição de alimentos, reclusão solitária, colete de força e banhos de emborcação. 
Nesse período, a higiene mental e a eugenia, eram pensamentos que evidenciavam o modelo preventivista da época. A higiene mental funcionava como uma tentativa de preservar e estimular o desenvolvimento mental que fosse considerado normal. O seu objetivo era diminuir a exposição das pessoas a situações de riscos para transtornos mentais. A eugenia se configurava como um pensamento de melhoria da raça, tanto fisicamente quanto intelectualmente. 
Em 1941, Adauto Botelho, psiquiatra discípulo de Juliano Moreira, assumiu a direção do Serviço Nacional de Saúde Mental (SNDM), órgão recém criado pelo Ministério da Saúde e Educação. Sua administração se caracterizou pela expansão dos hospitais públicos, sendo que no final de sua gestão, houve um aumento de mais de 16 mil leitos psiquiátricos no país, no entanto, esse aumento não foi acompanhado por uma melhora na assistência, fazendo com que nos anos 50 os hospitais psiquiátricos estivessem superlotados e em total abandono. 
Nas décadas de 1940 e 1950, o tratamento institucional teve grande ênfase na eletroconvulsoterapia e lobotomia. Surgida na Itália, em 1938, pelos pesquisadores Ugo Cerleti e Lucio Bini, a eletroconvulsoterapia consistia provocar uma convulsão generalizada por meio de uma corrente elétrica no cérebro. Era a era dos eletrochoque. Com relação à lobotomia, trata-se de uma substância branca dos lobos temporais do cérebro que é destruída, causando alteração da personalidade. Esta intervenção causa dano cerebral irreversíveis. O desaparecimento da lobotomia aconteceu em 1955, substituída pelos psicofármacos.
Na Europa, nos anos 1950, novos modelos de intervenção e cuidado dentro dos hospitais psiquiátricos eram ensaiados com o objetivo de instrumentalizar os manicômios. Surgiam ali, as comunidades terapêuticas. Esses procedimentos de ressocialização, iniciados na Inglaterra, nessa época, eram sustentados pela troca de vivências entre membros de pequenos grupos dentro do hospital. Na França, também eram iniciados na Clínica Lá Borde os tratamentos com psicoterapia e análise institucional (STOCKINGER, 2007).
Nesse mesmo período, a assistência psiquiátrica no Brasil, cuidava dos doentes mentais e suas psicoses com fármacos psicotrópicos, fazendo com que estes se tornassem pacientes ambulatoriais. A busca pelo lucro por parte da previdência social pública, além de desumanizar ainda mais o tratamento por considerar a questão lucrativa mais importante que o cuidado com o doente mental, agravou a situação nos manicômios do país. 
Nas décadas de 1950 e 1960, a ambulatorização teve seu modelo ampliado pela assistência pública direta. O Estado passou a envolver os pacientes em tratamentos com grupos de discussão e grupos operativos. Nesse momento, todas as pessoas deveriam assumir a função terapêutica. Para tanto, assembleias e reuniões foram criadas para se discutir os problemas das instituições. Essas Comunidades Terapêuticas eram institucionalizadas com o objetivo de mudar os papéis sociais, em uma luta contra a hierarquização no tratamento. 
A partir de 1964, com a instituição da ditadura militar, essa situação foi muito agravada, pois se instalou no país um regime no qual a participação popular foi totalmente negada. Naquele período, psiquiatras, psicanalistas e o governo descobriram na figura do portador de transtorno mental um manancial de lucro. Dessa forma, o número de internações por neurose em hospitais psiquiátricos, que em 1965 era de 5.186, passou em 1970 para 18.932, no ano de 1975 aumentou para 70.383, e em 1977, já estava em 200.000. Estima-se que de 1950 a 1970, a população de portadores de transtornos mentais se elevou em 213%, enquanto o crescimento da população geral no Brasil foi de 82% (SANTOS, 1994). Foi principalmente no período da ditadura militar que se consolidou a ligação entre internação asilar e privatização da assistência. Ocorreu a crescente contratação pelo Governo de leitos nas clínicas e hospitais conveniados (TENÓRIO, 2002).
Nos anos de 1960, nos Estados Unidos, o presidente John F. Kennedy aprovou um decreto que se fundamentava na Psiquiatria Preventiva de Gerald Caplan e redirecionava a política da assistência psiquiátrica. Assim, a redução do número de casos de doença mental na comunidade passou a ser uma meta. Nessa perspectiva, enfatizava-se a promoção de um novo objeto de ação: a saúde mental.
No início de 1970, o Brasil foi influenciado pelas propostas da psiquiatria comunitária desenvolvidas nos Estados Unidos e na Europa. Todavia, mesmo com a postura preventivista, as condições precárias da assistência psiquiátrica brasileira apresentavam níveis alarmantes. Havia mais de sete mil pessoas internadas sem cama e hospitais psiquiátricos sem especialistas. O tempo médio de permanência de casos agudos em hospitais chegava a sete meses e o índice de mortalidade de doentes crônicos nas colônias era seis vezes e meia maior que nos hospitais para doenças crônicas de outras especialidades.
Durante a década de 1970, surgiram algumas iniciativas de regulamentação de medidas voltadas para a área da saúde mental; entretanto, tiveram pouco impacto diante da gravidade da situação (GOULART, 2006). Apesar desse cenário caótico na assistência psiquiátrica, nesse período houve uma inclusão de noções advindas da saúde pública e a constante introdução de outras áreas do conhecimento, como psicologia, serviço social, sociologia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, artes, entre outras. Passaram a ser crescentes os questionamentos acerca das relações entre fatores causais biológicos e psicológicos, tutela e níveis de autonomia do usuário, e aspectos sociais, culturais, políticos e ideológicos e cidadania envolvidos nesse processo. Desse modo, iniciou-se a trajetória de um padrão hospitalocêntrico e disciplinarista de mão única para uma interdisciplinaridade psicodinâmica que começou a dar o tom da saúde mental (STOCKINGER, 2007).
Naquela época, já havia sido iniciado na Itália o Movimento da Psiquiatria Democrática liderado por Franco Basaglia. Este psiquiatra defendia a antipsiquiatria, que se contrapunha ao ambiente hospitalar e afirmava que o hospício tinha como propósito controlar e reprimir pessoas que haviam perdido a capacidade de responder aos interesses produtivos do capitalismo e que o tratamento aplicado não passava de uma camisa de força alienante (MACHADO, 2005).
Basaglia foi responsável por comandar em Trieste e Gorizia as experiências mais importantes de superação do modelo manicomial. Ele foi o primeiro a colocar em prática a extinção dos manicômios, ao criar uma nova rede de serviços e estratégias para atender as pessoas com sofrimento mental. Além das modalidades substitutivas, foram criados ambientes de caráter social e cultural, como cooperativas laborais, ateliês de arte, centros de cultura e lazer, oficinas de geração de renda, residências assistidas, entre outros (AMARANTE, 2006).
A experiência de Basaglia se tornou referência mundial paraa reformulação da assistência em saúde mental, sendo destacada em 1973 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela foi fundamental para a aprovação da Lei italiana 180, em 1978, também conhecida como Lei Basaglia, que previa a extinção dos manicômios e a substituição do modelo psiquiátrico por outros dispositivos de cuidado e assistência (AMARANTE, 2006).
No Brasil, a experiência italiana de desinstitucionalização em psiquiatria e a crítica ao modelo manicomial que emergia pelos profissionais serviram de inspiração para o início do movimento da reforma psiquiátrica. O estopim foi a crise na Divisão Nacional de Saúde Mental (DINSAM), Departamento do Ministério da Saúde (MS), responsável pela elaboração das políticas de saúde mental. Esse órgão era formado por quatro unidades: o Centro Psiquiátrico Pedro II, o Hospital Pinel, a Colônia Juliano Moreira e o Manicômio Judiciário Heitor Carrilho, todas localizadas no Rio de Janeiro.
Os estabelecimentos da Dinsam enfrentavam muitas dificuldades, entre elas os recursos humanos que estavam defasados e antigos pela não realização de novos concursos públicos. Isso acarretou na contratação de bolsistas, categoria constituída por profissionais ou graduandos da área da saúde que atuavam como médicos, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais, e muitas vezes esses bolsistas assumiam cargos de chefia e direção. Além disso, as condições de trabalho eram precárias e chegavam a envolver ameaças e violência tanto aos funcionários quanto aos pacientes dessas instituições (AMARANTE, 1995).
O contexto que caracterizava a crise da Dinsam acabou por se agravar em 1978 com a repercussão de irregularidades em uma das instituições, o Centro Psiquiátrico Pedro II. Três médicos desse local registraram em documento oficial uma série de denúncias de violações aos direitos humanos das pessoas portadoras de transtorno mentais lá internadas. Isso resultou em uma demissão em massa, que abrangeu esses médicos e mais 263 profissionais que os defenderam ou confirmaram suas denúncias.
Como consequência das demissões, teve origem o Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental (MTSM) que objetivava constituir um espaço de luta, debate e mobilização de profissionais da saúde, associações de classe e entidades da sociedade em geral para propor mudanças na assistência psiquiátrica. Durante o ano de 1978, esse movimento por meio de grande destaque na imprensa e por documentos produzidos fez denúncias e reivindicações acerca de aspectos salariais e regularização dos profissionais, formação e aperfeiçoamento de recursos humanos e condições de atendimento. Quanto à assistência, o movimento denunciou e reivindicou a falta de medicação, número reduzido de leitos, falta de conforto mínimo para os pacientes internados, existência de filas nos ambulatórios e prontos-socorros e precárias condições de higiene (AMARANTE, 1995).
Dessa forma, o MTSM passou a protagonizar a denúncia da violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia da rede privada de assistência e a construir coletivamente uma crítica ao saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico para o tratamento de portadores de transtorno mental.
As ações do movimento da reforma psiquiátrica começaram a ter maior visibilidade com a I Conferência Nacional de Saúde Mental, realizada em 1987, no Rio de Janeiro, e com o II Congresso Nacional dos Trabalhadores em Saúde Mental, que ocorreu nesse mesmo ano, na cidade de Bauru (SP). A partir desse momento, foi evidenciada uma renovação ideológica do movimento, deixando claro à sociedade que não bastava humanizar os hospitais psiquiátricos, melhorar o ambiente institucional ou aumentar o número de trabalhadores. A ideia era mais ampla, a proposta visava à desinstitucionalização, trazer o “louco” de volta ao convívio social para a garantia dos seus direitos de cidadania. Inaugurava-se um novo rumo: a Luta Antimanicomial. Com esse panorama, o movimento incorporou os usuários e seus familiares (AMARANTE, 1995).
4. LUTA ANTIMANICOMIAL
O Movimento da Luta Antimanicomial já vinha tendo avanços desde 1980, e em 1987 no Encontro Nacional da Saúde Mental, em Bauru, com base em denúncias de tratamentos desumanos, abusos e violação dos direitos humanos, estabeleceu-se o lema: “por uma cidade sem manicômios”. Este movimento se caracteriza pela luta pelos direitos das pessoas com sofrimento mental, vai contra a idéia do isolamento do paciente para tratá-lo.
Visam sempre tratamentos humanizados, garantia dos direitos dos pacientes, incluindo o direito à liberdade e esta inserção da pessoa na sociedade. Tem como meta a substituição progressiva dos hospitais psiquiátricos tradicionais por serviços abertos de tratamento e a inserção de diversas formas de tratamento, de acordo com a necessidade. Esta luta teve uma grande conquista em 2001, com aprovação da lei 10.216, que defende o direito das pessoas que precisam de tratamentos e propõe a criação de serviços que ofereçam este tratamento sem que haja a exclusão da vida social ou perda dos direitos de cidadão. 
Em 1987, surgiu uma nova modalidade assistencial, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS). O primeiro CAPS do Brasil foi inaugurado em São Paulo e recebeu o nome do Professor Luiz da Rocha Cerqueira. Esse novo dispositivo serviu como modelo para todo o país (AMARANTE, 1995).
Em 1989, ocorreu em Santos a primeira e expressiva experiência de desospitalização. Após a comprovação de uma série de denúncias de maus tratos e mortes de pacientes na Casa de Saúde Anchieta, uma clínica psiquiátrica particular, a prefeitura decidiu intervir e fechá-la. Em seu lugar foram implantados os Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS), que prestavam atendimento 24 horas por dia, sem internação. Além disso, houve a criação de oficinas de geração de renda, cooperativas de trabalho, projetos culturais de inserção social, como a Rádio e a TV Tamtam, residências para os egressos do hospital e associações (AMARANTE, 1995).
Ainda em 1989, após o fechamento da instituição em Santos, o deputado federal Paulo Delgado, um dos líderes do Movimento Antimanicomial, apresentou o Projeto de Lei nº. 3.657 de sua autoria, que propunha a substituição progressiva dos manicômios (AMARANTE, 2006). Esse aparato legal foi o início das lutas do movimento da reforma psiquiátrica nos campos legislativo e normativo. Logo após, a partir da década de 1990, passaram a ser aprovadas as primeiras leis em vários estados brasileiros e normas federais em conformidade com a construção da reforma psiquiátrica.
As Portarias do MS nº. 189, de 19 de novembro de 1991, e nº. 224, de 29 de janeiro de 1992, tornaram-se importantes para o processo de transformação do modelo assistencial de saúde mental no país, pois mencionam, entre outras coisas, novos ambientes para o tratamento psiquiátrico, como hospitais gerais, hospitais-dia e CAPS, com equipes multidisciplinares e uma diversificação de métodos e técnicas terapêuticas. Dessa forma, por meio dessas duas normas, constatou-se a oficialização inicial das primeiras e significativas mudanças legais nos modos de tratar, na ampliação de espaços, procedimentos, equipe, entre outros avanços em prol da reforma psiquiátrica.
A partir daí, foram criadas várias portarias que regulamentam a criação de diversos serviços. A promulgação dessa lei impõe novo ritmo para o processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. Logo em seguida, o Ministério da Saúde destinou recursos financeiros específicos para a rede territorial com base na sustentação legal da lei recém-aprovada através da portaria 336, de fevereiro de 2002, que criou as diversas modalidades de CAPS (Centro de Atenção Psicossocial).
Desta forma então, o número de leitos diminuiu de 75.514 em 1996 para 42.076 em 2005. Por outro lado, o número de CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) aumentou de 92 em 1996 para 689 em 2005. Porém, mesmo com todos esses avanços, há setores conservadores que defendem o retorno dos hospitais psiquiátricos.
Este Movimento conta com o apoiodos usuários de serviços de saúde mental, seus familiares, profissionais, estudantes e outros interessados no assunto.
Resumidamente, a luta deste movimento é pelo fechamento dos hospitais psiquiátricos e pela ampliação dos CAPS 24 horas e melhoria dos serviços oferecidos.
5. CONHECENDO O MODELO CAPs
Os Centros de Atenção psicossocial, também conhecidos como CAPS, são serviços de saúde mental para tratar pessoas com sofrimento psíquico ou transtornos relacionados as substancias psicoativas. Esses serviços são gratuitos e fazem parte do sistema único de saúde (SUS). O trabalho realizado dentro de um CAPS é feito por uma equipe multiprofissional, desde médicos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais entre outros. 
O objetivo do CAPS é reinserir seus usuários na sociedade por meio de ações intersetoriais, envolvendo educação, saúde, trabalho, esporte, lazer, etc.
Existem quatro modelos de CAPS na cidade de São Paulo, por exemplo, e suas características quanto à equipe profissional podem variar em cada um. Os tipos são:
· CAPS II: atendimento diário de adultos.
· CAPSIII: atendimento diurno e noturno durante sete dias para adultos.
· CAPS i II: atendimento diário de crianças e adolescentes.
· CAPS ad III: atendimento diário de usuário de álcool e outras drogas. 
O CAPS não tem como objetivo principal a medicalização e internação como resposta para o sofrimento psíquico. Uma das primeiras e importantes funções é o acolhimento. O CAPS não são unidades de emergência, porém devem acolher tanto pacientes que agendaram previamente (demanda programada) quanto paciente de urgência e sem agendamento prévio (demanda espontânea). 
Atividades Realizadas pelos CAPS adulto, infância e adolescência, álcool e drogas:
– Acolhimento ao usuário de saúde mental, incluindo álcool e outras drogas, seguindo a estratégia da política nacional de redução de danos. 
– Acolhimento das situações de crise, realizando contato com outras unidades de saúde, caso necessário. 
– Promoção de saúde, participação nas campanhas realizadas pela SMSDC. 
– Realização de ações intersetoriais (educação, justiça, assistência social, trabalho, habitação, cultura e lazer). 
– Atendimentos em grupo e/ou individuais por equipe multiprofissional. ŏ Atendimento a familiares (em grupo ou individual). 
– Realização de Assembléias de Usuários e Familiares e/ou apoio à forma de associação de usuários e familiares. 
– Realização e incentivo a participação de profissionais em fóruns de saúde mental, participação nos conselhos distritais, visando à integração e construção de articulação e parcerias intersetoriais. 
– Acompanhamento nas internações, principalmente as psiquiátricas.
– Visitas domiciliares e institucionais, de acordo com o projeto terapêutico do usuário.
– Realização de oficinas terapêuticas.
– Atividades e eventos coletivos regulares (internas e externas). 
– Projetos de geração de trabalho e renda. 
– Projetos artísticos e culturais. 
– Supervisão clínico-institucional. 
– Articulação permanente com a rede setorial (Estratégia de Saúde da Família, Núcleo de Apoio à Saúde da Família, Ambulatório Emergência Psiquiátrica, Hospital Geral ou Psiquiátrico). 
– Ações de matriciamento. 
– Ações de Desinstitucionalização
– Acompanhamento das pessoas em situação de internações de longa permanência (visita ao hospital para contato com o usuário, entrevista com a família, caso ainda existente, construção de projeto terapêutico com a equipe do hospital a fim de construir a ‘porta de saída’ ou ‘alta’); 
– Gestão de residências terapêuticas; 
– Acompanhamento de usuários do programa de bolsas de Desinstitucionalização; 
– Acompanhamento de usuários em moradias assistidas.
– Acompanhamento de usuários em abrigos, albergues, clinica de apoio da saúde.
Atividade Especifica dos CAPS III: 
– Acolhimento noturno e nos finais de semana dos usuários em acompanhamento no serviço. 
Atividade Especifica dos CAPS ad: 
– Acompanhamento de internações em Hospital Geral (leitos de atenção integral). 
– Ações de redução de danos no território, realizada por profissionais capacitados em redução de danos. 
– Distribuição de insumos para ações de redução de danos: Panfletos; Cachimbos; Seringas e agulhas; Preservativos; Material de higiene (sabonete, escova e pasta dental); Achocolatado. 
– Gestão das Unidades de Acolhimento (UA) e Unidades de Acolhimento Infanto-Juvenis (UAis). 
– Acompanhamento dos Consultórios na Rua. 
– Solicitante de vagas nos leitos eletivos ad em Hospital Geral. 
Atividade Especifica dos CAPS i: 
– Acompanhamento de internações em Hospital Geral (leitos de atenção integral).
– Acolhimento da demanda por medicalização. 
– Reuniões regulares com profissionais da educação, conselho tutelar, justiça. 
– Inclusão de responsáveis e familiares no tratamento. 
– Gestão de Unidades de Acolhimento Infanto-Juvenis (UAis)
6. SERVIÇOS DE ATENDIMENTO PSIQUIÁTRICO NA ATUALIDADE
Apesar dos CAPS serem um modelo de excelência conhecido no mundo todo, na pratica, a rede existente não suporta a demanda da sociedade e deveria ser urgentemente ampliada. Os hospitais psiquiátricos, ainda em funcionamento, continuam cheios de pacientese, aqueles que possuem condições, acabam recorrendo a serviços particulares ou conveniados na busca de atendimento psiquiátrico.
O oferecimento de serviços da rede privada é grande e conta com diversos tipos e propostas de tratamento. 
Encontramos clinicas de internação com centro dia e atendimento ambulatorial, semelhante ao modelo dos CAPS, contam com atendimento multiprofissional, grade de atividades terapêuticas e programas de ressocialização através de residenciais e outros serviços.
A reforma psiquiátrica e a luta antimanicomial são fenômenos recentes diante da história da loucura e muitos desses serviços, apesar de referirem um tratamento humanizado, não o fazem adequadamente. Isso acontece pelas más gestões que ainda são arraigadas de preconceito e falta de preparo para o manejo com pacientes psiquiátricos. 
Práticas de contenção sem necessidade e isolamento por mal comportamento ainda são comuns em alguns estabelecimentos que não recebem fiscalização, orientação e capacitação adequada. 
O estereótipo daquele que sofre com distúrbios mentais ainda é muito forte e negativo. A sociedade em geral possui dificuldade em entender a complexidade da doença e como oferecer assistência adequada para quem sofre com ela. Os próprios familiares acabam muitas vezes sendo pouco participativos no tratamento de seus entes o que dificulta ainda mais a evolução do quadro. Além disso, as comunidades terapêuticas ainda são uma alternativa para os pacientes crônicos com dificuldade de conviver em sociedade. 
Outro serviço de atendimento psiquiátrico na atualidade é o manicômio judiciário, alvo de grande discussão na luta antimanicomial. 
Os manicômios judiciários são instituições voltadas para o tratamento psiquiátrico de infratores da lei. Esses locais permanecem muitas vezes abandonados e com pouca estrutura para a oferta de assistência humanizada. A falta de recursos somada ao descaso no trato com essa demanda faz com que esses pacientes não recebam tratamento adequado, sendo tratados como simples “presos”, deixando de lado sua condição de doentes. 
A eletroconvulsoterapia consiste na passagem de corrente elétrica sobre a região temporal para provocar dessincronização traumática da atividade cerebral do paciente.
O conhecido e criticado eletrochoque hoje já não é mais realizado como antigamente. A prática denominada de eletroconvulsoterapia é realizada com voltagens elétricas mais seguras e com anestesia e aparelhagem adequadas, minimizando os efeitos colaterais e o sofrimento do paciente. Além disso, a indicação é bastante específica e pensada caso a caso. Isso não impede que determinados locais possam abusar da prática, assim como nos casos de excesso de psicofármacos, trazendo danos aos pacientes (SALLEH et al, 2006). 
7. COMO O TEMA É TRATADO EM OUTROS PAÍSESO sistema de saúde mental tem alcançado grandes reformas em muitos países e essas reformas foram inicialmente estimuladas por fatores ideológicos, pelo desenvolvimento de novos tratamentos farmacológicos e psicoterapêuticos e pela crença de que algumas formas alternativas de tratamento comunitárias seriam mais eficazes em relação ao custo.
A desinstitucioalização psiquiátrica tem sido implementada em diversos países desde meados do século passado. 
Um importante marco na história da reforma psiquiátrica, que repercutiu em todo o mundo, foi à perspectiva Basagliana que surgiu na Itália, a partir de 1961, com a experiência de Franco Basaglia, no hospital psiquiátrico de Gorizia. Este movimento veio produzir uma modificação na forma de assistência prestada aos doentes mentais, ou seja, uma modificação dos saberes e práticas prestada pela assistência psiquiátrica clássica. A reforma psiquiátrica veio modificar os serviços prestados aos doentes mentais de forma gradual trazendo uma atenção mais humanizada ao sujeito ao qual deveria ser visto de forma integral onde o todo não pode ser separado das partes; levando a garantia de uma inclusão social.
Conclui-se que faz parte da essência do homem gritar o que existe no mais profundo do seu ser quando este, não consegue retirar do meio que o cerca o necessário para suprir suas necessidades. Este enunciado só vem retificar a luta antimanicomial a buscar apenas o poder de voz e uma vida digna com direitos e deveres. Uma luta que procura, acima de tudo, sensibilizar a sociedade contemporânea de hoje da importância de se continuar lutando para a ampliação da reforma psiquiátrica e do processo de inclusão social e seus serviços substituídos.
Atualmente a desinstitucionalização vem acontecendo nos EUA e Europa fortemente estimulada pela Organização Mundial de Saúde (órgão vinculado às Nações Unidas).
Em se tratando da posição do Brasil no ranking internacional de bom desempenho dos sistemas públicos de saúde, sua posição é a 125ª. Os primeiros colocados são: França, Itália, San Marino, Andorra, Omar, Malta, Singapura, Espanha, Omar, Áustria e Japão
8. QUESTÕES ÉTICAS
Toda profissão define-se a partir de um conjunto de práticas que buscam atender uma demanda, norteada por padrões técnicos e éticos que garantam uma reflexão do indivíduo acerca de sua práxis, de modo a responsabilizá-lo, pessoal e coletivamente, por ações e conseqüências decorrentes do exercício profissional. Contudo um código de ética visa não apenas fiscalizar o exercício da profissão, mas também assegurar valores relevantes para a sociedade, mantendo um padrão de conduta que fortaleça o reconhecimento social da categoria. Sendo assim, partindo do princípio que o Código de Ética serve para dar base ao trabalho do profissional, ressaltamos informações referentes às práxis presentes no Código de Ética Profissional do Psicólogo, vigente desde 2005. De acordo com alguns itens do Art. 2º do Código de Ética, ao psicólogo é vedado: 
a) Praticar ou ser conivente com quaisquer atos que caracterizem negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade ou opressão; 
b) Induzir a convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando do exercício de suas funções profissionais;
c) Utilizar ou favorecer o uso de conhecimento e a utilização de práticas psicológicas como instrumentos de castigo, tortura ou qualquer forma de violência; 
d) Acumpliciar-se com pessoas ou organizações que exerçam o exercício ilegal da profissão de psicólogo ou de qualquer atividade profissional; 
e) Ser conivente com erros, faltas éticas, violação de direitos, crimes ou contravenções penais praticados por psicólogos na prestação de serviços profissionais.
f) Prestar serviços ou vincular o título de psicólogo a serviços de atendimento psicológico cujos procedimentos, técnicas e meios não estejam regulamentados ou reconhecidos pela profissão; g) Emitir documentos sem fundamentação e qualidade técnico-científica; 
h) Interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas; 
i) Induzir qualquer pessoa ou organização a recorrer a seus serviços; 
j) Estabelecer com a pessoa atendida, familiar ou terceiro, que tenha vínculo com o atendido, relação que possa interferir negativamente nos objetivos do serviço prestado; 
k) Ser perito, avaliador ou parecerista em situações nas quais seus vínculos pessoais ou profissionais, atuais ou anteriores, possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados da avaliação;
l) Desviar para serviço particular ou de outra instituição, visando benefício próprio, pessoas ou organizações atendidas por instituição com a qual mantenha qualquer tipo de vínculo profissional; 
m) Prestar serviços profissionais a organizações concorrentes de modo que possam resultar em prejuízo para as partes envolvidas, decorrentes de informações privilegiadas; 
n) Prolongar, desnecessariamente, a prestação de serviços profissionais; 11 
o) Pleitear ou receber comissões, empréstimos, doações ou vantagens outras de qualquer espécie, além dos honorários contratados, assim como intermediar transações financeiras; 
p) Receber, pagar remuneração ou porcentagem por encaminhamento de serviços; 
q) Realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou apresentar resultados de serviços psicológicos em meios de comunicação, de forma a expor pessoas, grupos ou organizações.
Com base nessas informações, a ação ética pressupõe o respeito pela dignidade e pelos direitos das pessoas; o cuidado com o bem-estar das pessoas; o zelo pelos dados coletados e pelo modo de armazená-los; o cuidado com o modo como a informação ou os resultados derivados da avaliação serão utilizados (para evitar o mau uso dessas informações); o zelo pela segurança e preservação dos testes, entre outras questões relevantes. Além disso, o Sistema Conselho é acessível a qualquer cidadão ou profissional para tratar de dúvidas relativas a direito, dever, ética ou normas regulamentares do psicólogo e da Psicologia. Este é um serviço efetivo da função do Sistema Conselho, por meio do qual ele cuida dos interesses da sociedade e da Psicologia relativos à avaliação psicológica e ao uso dos testes.
Sabe-se então que ao psicólogo, sendo peça fundamental no tratamento de transtornos mentais, é vedado praticar atos de violência, negligência e discriminação referentes aos seus pacientes, assim como induzir ou contribuir para o preconceito, utilizar técnicas psicológicas para torturar e castigar, ser cúmplice de exercício ilegal da profissão e erros cometidos durante a prestação dos serviços. Se por ventura, essas atitudes ocorrerem, o mesmo enfrentará uma série de penalidades, sendo aplicadas de acordo com a gravidade e o número de vezes do ocorrido. Tudo isso para zelar a integridade física e mental do atendido, assim como sua dignidade e respeito.
9. POSICIONAMENTO DO CRP E CFP (ÉTICA E FISCALIZAÇÃO)
A Lei Federal n.º 5.766, de 20 de dezembro de 1971, criou o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Psicologia, que constituem o Sistema Conselhos de Psicologia. O Estado delega-lhes a responsabilidade de acompanhar o exercício profissional de psicólogos, tendo em vista oferecer à sociedade a qualidade técnica e ética dos serviços prestados pelos psicólogos. A finalidade dos Conselhos de Psicologia é de orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de psicólogo e zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe. Cada Conselho Regional de Psicologia tem, sob sua jurisdição, um conjunto de psicólogos que elegem por voto direto as diretorias e os conselheiros que participarão da gestão do Regional e do Conselho Federal por um período de três anos de trabalho. Existem 23 Conselhos Regionais em todo o País, distribuídos por Estados ou regiões. O CRP SP mantém uma sede na capital e nove subsedes no interior: Assis, Baixada Santistae Vale do Ribeira, Bauru, Campinas, Grande ABC, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Sorocaba e Vale do Paraíba e Litoral Norte.
As metas e formas de trabalho do Conselho Federal (CFP) e dos Conselhos Regionais (CRPs) são pautadas pelas deliberações do Congresso Nacional de Psicologia, realizados a cada três anos, quando são aprovadas teses sobre a estrutura funcional dos Conselhos e os princípios que norteiam suas ações quanto aos exercícios, à formação e à ética profissional.
Princípios Fundamentais 
I. O psicólogo baseará o seu trabalho no respeito e na promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano, apoiado nos valores que embasam a Declaração Universal dos Direitos Humanos. 
II. O psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
III. O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.
IV. O psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática.
V. O psicólogo contribuirá para promover a universalização do acesso da população às informações, ao conhecimento da ciência psicológica, aos serviços e aos padrões éticos da profissão. 
VI. O psicólogo zelará para que o exercício profissional seja efetuado com dignidade, rejeitando situações em que a Psicologia esteja sendo aviltada. 
VII. O psicólogo considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre as suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios deste Código.
O Conselho Federal de Psicologia (CFP) atua em defesa de um tratamento humanizado dos portadores de sofrimento mental com base no respeito aos Direitos Humanos, da liberdade e da cidadania, No ano de 1989, um ano após a criação do SUS (Sistema Único de Saúde), fora dado à entrada no Congresso Nacional o Projeto de Lei do deputado Paulo Delgado, que propunha a regulamentação dos direitos do indivíduo com transtornos mentais e a extinção progressiva dos hospícios no país. O Projeto de Lei tramitou no Congresso Nacional durante 12 anos, sendo aprovada apenas em 2001. A Lei nº 10.216, de 6 de abril de 2001, também conhecida Lei Paulo Delgado, sancionada pelo ex presidente da República Fernando Henrique Cardoso, dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais. 
O Art. 1º e 2º, afirmam ser direito do portador de doença intelectual, independente de sua raça, cor, sexo, orientação sexual, religião, opção política, nacionalidade, idade, família, recursos econômicos, e grau de gravidade de seu transtorno: 
I. Ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, correspondente às suas necessidades; 
II. Ser tratado com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; 
III. Ser protegido contra qualquer forma de abuso e exploração; 
IV. Ter garantia de sigilo nas informações prestadas; 
V. Ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização involuntária; 
VI. Ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; 
VII. Receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; 
VIII. Ser tratado em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; 
IX. Ser tratado, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental. Em relação á internação, ela só será indicada quando os recursos extra-hospitalarias forem insuficientes. Sendo esta, aceita apenas em instituições adequadas, descartando instituições com características asilares, ou seja, que tenham como finalidade a reinserção social do paciente, oferecendo em sua estrutura, serviços médicos, assistência social, psicológica, ocupacionais, lazer e outros. 
Segundo o Art. 6º, a internação só pode ser realizada mediante laudo médico onde devem constar os motivos para a realização desta. São considerados os tipos de internações psiquiátricas: 
I. Internação voluntária: aquela que se dá com o consentimento do usuário; 
II. Internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; 
III. Internação compulsória: aquela determinada pela Justiça. 
Caso o paciente fique a longo tempo internado, criando assim, dependência institucional, será de autoridade sanitária competente, a assistência á reabilitação psicossocial, supervisionada por instância a ser definida pelo poder executivo, com continuidade ao tratamento quando necessário.
Com base aos princípios acima os psicólogos, tem que respeitas os direitos humanos, e a diversidade, valorizando os valores de cada um, promovendo a saúde e a qualidade de vida de seus pacientes, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática. Não podendo desrespeitar os mesmos. Como penalidade conforme o art. 21 – As transgressões dos preceitos deste Código constituem infração disciplinar com a aplicação das seguintes penalidades, na forma dos dispositivos legais ou regimentais:
a) Advertência; 
b) Multa; 
c) Censura pública; 
d) Suspensão do exercício profissional, por até 30 (trinta) dias, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia;
e) Cassação do exercício profissional, ad referendum do Conselho Federal de Psicologia.
10. CONCLUSÃO
Entender a história da loucura e como surgiu a necessidade de internamento do doente mental, além de pensar quais são as implicações éticas no tratamento do louco nos hospitais psiquiátricos foram o fio condutor das proposições desse referido trabalho. Pode-se afirmar, apoiado na literatura estudada através de pesquisa bibliográfica, que foi possível compreender a importância do movimento antimanicomial e determinar as questões éticas que acompanham essa luta no Brasil e no mundo.
Destaca-se que a Reforma Psiquiátrica é um processo contínuo e os apontamentos seguem na direção de novas construções de serviços alternativos com um olhar cada vez mais humano em relação ao doente mental, o que contribuiu significativamente para esse trabalho, sendo possível constatar que a luta antimanicomial vem conseguindo lograr na mudança de paradigmas.
No que se refere à história da loucura, foi possível constatar que o doente mental era, em primeiro plano, visto na Idade Média como um ser demoníaco, passando por novas interpretações acerca da ausência de sua razão nos séculos seguintes, até o nascimento da Psiquiatria que instituiu um olhar médico para o louco. Isso nos apresenta novas definições a respeito do tratamento desumano dado aos doentes mentais nos manicômios, determinando esse olhar ignorante em direção ao louco como causa dos maus tratos e atrocidades que estão na história dos hospitais psiquiátricos.
Ainda nesse sentido, percebeu-se que o cuidado do doente mental nesse início do século XXI está apoiado na ideia de leitura do louco como uma possibilidade social, dispensando na maioria dos casos a necessidade de internamento. A criação de dispositivos alternativos como o CAPS ( Centro de Assistência Psicossocial ) nos mostra que o movimento antimanicomial está conseguindo mudar a configuração no tratamento do louco, e o esforço por parte dos profissionais da saúde mental estão sendo reconhecidos e postos em prática. É necessário ter ciência da complexidade que é a relação social e psicológica do paciente nesse sistema e, portanto, pensar na capacitação de profissionais nessa área.
Diante disso, pensarmos a negação do manicômio como um movimento pela humanização no cuidado com os doentes mentais é fundamental. Tanto a visão social como o aspecto psicológico apontam para a uma única saída : o cuidado dessas pessoas dever ser feitosempre respeitando a sua dignidade humana. O doente mental também é um ser completo, racional, consciente e humano. Esta postura deve desconstruir qualquer justificativa que desafie a luta antimanicomial.
Aos psicólogos cabe a missão de posicionar-se politicamente em defesa dessa causa e capacitar-se para trabalhar com a promoção da integração social e adequação psicológica do doente mental.
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