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- -1 Direito de greve e “lock out” Giordana Bruno Leite de Oliveira Introdução Todos os anos vemos paralisações seja dos bancários, sejam dos policiais. Mas, você sabe o que significa greve ou ? Neste tema iremos estudá-los, seus conceitos, procedimentos obrigatórios, seus efeitos e sualockout legitimidade. Veremos também o direito dos grevistas, em que ocasiões existe a suspensão e rescisão do contrato de trabalho, bem como as proibições na greve e como fica a situação em atividades essenciais Ao final desta aula, você será capaz de: • Definir o direito de greve, a legitimidade do seu exercício pelos trabalhadores e os direitos dos grevistas. • Identificar as atividades essenciais e a possibilidade do exercício da greve. • Conhecer as proibições na greve, os casos de suspensão e rescisão do contrato de trabalho. Direito Constitucional de Greve O Direito de greve está amparado no artigo 9º da Constituição Federal de 1988 (CF/88), que expressa ser ele assegurado aos trabalhadores e sobre quais interesses devam defender por meio dele. Foi reconhecido na legislação infraconstitucional (aquela inferior à Constituição Federal ) com o advento da Lei nº 7.783/1989 (Lei de greve). Conceito de greve Para Renzetti (2018), a greve é uma modalidade típica e permitida pela constituição de autotutela que ocorre pela suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação de serviço ao empregador, tendo como foco a negociação entre os trabalhadores e empregadores. • • • - -2 Figura 1 - Greve Fonte: Shutterstock, 2018 Encontramos também o conceito de greve no artigo 2º da Lei nº 7783/89, que expressa ser legítimo como exercício do direito de greve a suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços ao empregador. Identificamos aqui as principais características da greve: - -3 Figura 2 - Características da greve Fonte: Realizado pela autora com base no artigo 2º da Lei de greve, 1989 Martins (2018) pontua que o exercício do direito de greve é assegurado apenas para o trabalhador subordinado (aquele com vínculo empregatício) e pelo avulso (cuja relação de emprego é intermediada por um sindicato ou por um órgão gestor de mão de obra), não podendo ser exercido pelo autônomo (que é aquele que trabalha por conta própria, suportando os riscos da sua atividade). A suspensão das atividades deve ser coletiva, pois a paralisação de um trabalhador só não é greve e poderia ensejar a dispensa motivada. Classificação do direito de greve De acordo com Renzetti (2018) o direito de greve é classificado da seguinte forma: · Quanto aos limites do seu exercício a greve pode ser abusiva (extrapola as determinações legais) e não abusiva (exercida dentro dos limites da lei). · Quanto à sua extensão pode ser global (alcança todos os trabalhadores de uma categoria) e parcial (deflagrada apenas por alguns empregados ou setores da empresa). Requisitos indispensáveis à instauração da greve Conforme os artigos 3º e 4º da Lei de Greve existem três requisitos indispensáveis para que possa haver a paralisação: · Só poderá ocorrer após a negociação coletiva ter sido frustrada. · Convocação da Assembleia Geral com o fim específico de decidir sobre a paralisação coletiva, autorizando-a ou não. · Aviso prévio ao empregador que em regra será, para as atividades comuns, de 48 horas, e 72 horas para as Atividades Essenciais. - -4 Figura 3 - Como deve ser a convocação Fonte: Realizado pela autora: com base nos artigos 3º e 4º da Lei de Greve, 1989 Lapa e Kertzman (2018) explicam que tais procedimentos e prazos devem ser observados antes da deflagração do movimento paredista sob pena deste ser considerado ilegal ou abusivo. Legitimidade do Exercício do Direito de Greve O direito de greve pertence aos trabalhadores, mas de acordo com Martins (2018) e com o artigo 8º, inciso IV da CF/88 a legitimidade para sua instauração é da entidade sindical dos trabalhadores (sindicatos, federações ou confederações) por se tratar de um direito coletivo, sendo sua participação obrigatória. Cassar (2018) fala que como exceção, na falta de qualquer um desses entes, seja por recusa em assumir as negociações ou por inexistência de representação sindical, pode ser nomeada uma comissão de negociação para o andamento do procedimento da greve. Direito dos grevistas O direito dos grevistas encontra-se expresso no artigo 6º da Lei nº 7.783/1989, que fala que eles têm direito ao emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou a aliciar os trabalhadores a aderirem à greve; à arrecadação de fundos e à livre divulgação do movimento. Quanto ao direito de arrecadação de fundos, a entidade sindical pode constituir taxa assistencial aos sindicalizados com a finalidade de custear os gastos advindos da divulgação da greve. EXEMPLO Exemplo de persuasão panfletagem, comícios, e carros de som. Quanto à livre divulgação os grevistas podem usar os meios de comunicação para divulgar o movimento, com suas reivindicações e justificativas, não podendo o empregador adotar meios capazes de coibir ou frustrar a divulgação, pois a livre divulgação é um direito dos grevistas, estando prevista no artigo 6º da lei de greve. - -5 Os não grevistas podem ser convencidos pelos líderes da greve, por meio de argumentos que despertem seu senso de solidariedade, mas nunca devem ser obrigados a fazer o que não desejam, muito menos ameaçados, nem pelos grevistas, nem pelos empregadores. Proibições na greve Lapa e Kertzman (2018) expressam que os excessos cometidos por empregados, empregadores ou seus sindicatos durante a greve, podem configurar ato criminoso. Constranger alguém mediante violência ou grave ameaça a trabalhar ou não trabalhar durante certo período, abrir ou fechar seu estabelecimento de trabalho, praticar violência durante a greve contra pessoa ou coisa, e paralisar obra pública ou serviço de interesse coletivo, são crimes previstos nos artigos 197, 200 e 201 do Código Penal. Todos os tipos penais citados são exemplos dos excessos que podem ser cometidos durante os movimentos grevistas e estão sujeitos a sanções penais e trabalhistas. Lock out Renzetti (2018) diz que ocorre o (locaute) quando a paralisação das atividades da empresa se dá pelolockout empregador, objetivando frustrar a negociação ou dificultar as reivindicações dos trabalhadores. O é vedado pela lei de greve, caso ocorra, o período em que se der será considerado como de interrupçãolockout FIQUE ATENTO Aos trabalhadores que não são grevistas é assegurado o direito da não adesão ao movimento de greve, deixando claro que não há um dever de greve. Nem a opinião unitária dos trabalhadores é indispensável, embora seja importante que a maior parte delibere positivamente sobre a parada. FIQUE ATENTO Considera-se ato abusivo a ocupação ameaçadora de estabelecimento; sabotagem ou boicote aos serviços da empresa e associados; piquetes obstativos (impedir a entrada dos não grevistas no trabalho) ou o piquete depredatório do patrimônio do patrão; agressão física ou moral aos colegas, aos superiores hierárquicos ou empregadores; dentre outros previstos nas Orientações Jurisprudenciais de números 1, 10, 11 e 38 da Seção de Dissídios Coletivos (SDC) do Tribunal Superior do Trabalho (TST). - -6 O é vedado pela lei de greve, caso ocorra, o período em que se der será considerado como de interrupçãolockout do contrato de trabalho, ficando assegurado aos trabalhadores os salários e os dias de paralisação. Tivemos um exemplo recentemente com a histórica paralisação dos caminhoneiros, o motivo da paralisação (aumento do combustível) era de comum interesse entre os trabalhadores e as empresas, ou seja, para muitos a referida paralisação foi um misto de greve e locaute, por haver participação e apoio de ambos. Além disso o pode dar causa à rescisão indireta do contrato de trabalho por parte do empregado.lockout Suspensão e rescisão do contrato de trabalho Garcia (2013) fala que a greve é considerada hipótese de suspensão de contratode trabalho, conforme expresso no artigo 7º da Lei de Greve (nº 7.783/1989), seus efeitos ficam absolutamente paralisados. O empregador não é obrigado a pagar os dias de paralisação, podendo descontar os dias de salário do período, também não é obrigado a contagem de tais dias no período aquisitivo de férias, salvo os casos expressos em cláusulas de acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho. Cassar (2018) ensina que é proibida a demissão dos empregados grevistas, sem justa causa. O artigo 7º da lei de greve fala que o empregador também não poderá, durante a paralisação, contratar empregados substitutos ou temporários, salvo os casos em que não houver sido mantida uma equipe de empregados com o objetivo de assegurar aqueles serviços cuja paralisação poderia ensejar em prejuízo irreparável, como a manutenção de algumas máquinas que não podem ser desligadas sob o risco de estragar, por exemplo, os altos fornos nas siderúrgicas. Atividades essenciais As atividades essenciais estão listadas de forma taxativa no artigo 10 da Lei 7.783/1989 abaixo: I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis; II - assistência médica e hospitalar; III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos; IV - funerários; V - transporte coletivo; VI - captação e tratamento de esgoto e lixo; VII - telecomunicações; VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares; IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais; X - controle de tráfego aéreo; XI - compensação bancária. SAIBA MAIS Para saber um pouco mais sobre as diferenças entre os institutos da greve e do Lock out, recomenda-se a leitura do artigo de Paulo Roberto Bessera de Lima, intitulado Diferença entre Greve e Lockout. Disponível em https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=9439 https://www.jurisway.org.br/v2/dhall.asp?id_dh=9439 - -7 X - controle de tráfego aéreo; XI - compensação bancária. Falam os artigos 9ª, 11 e 12 da lei de greve, que os sindicatos, empregadores e os trabalhadores, em serviços ou atividades essenciais, ficam obrigados, de comum acordo, a garantir durante a greve a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade (aquelas que se não atendidas coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população), caso não ocorra poderá ser ajuizado pelo Ministério Público do Trabalho. A competência para o julgamento do Dissídio Coletivo é da Justiça do Trabalho. Figura 4 - Paralisação das atividades essenciais Fonte: Nosyrevy, Shutterstock, 2018 Fechamento Estudamos neste tópico o conceito de greve, descobrimos quais são os requisitos necessários para sua instauração e quem tem legitimidade para tal. Vimos também o conceito de e outras proibições ao direitolockout de greve. Perpassamos pelas consequências advindas do movimento grevista para ao final conhecermos as atividades essenciais e suas nuances. Referências BRASIL. Lei nº 7.783 de 28 de junho de 1989. . Presidência da República, Brasília, DF 28 de junho deLei de Greve 1989. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.htm >. Acesso em 26/06/ 2018. BRASIL. Constituição (1988). . Brasília, DF: Senado Federal:Constituição da República Federativa do Brasil http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.htm - -8 BRASIL. Constituição (1988). . Brasília, DF: Senado Federal:Constituição da República Federativa do Brasil Centro Gráfico, 1988. CASSAR, V. B. : de acordo com a reforma trabalhista Lei 13.467/2017 / Vólia BomfimDireito do Trabalho Cassar – 15ª ed. rev., atual. e ampl. – [2. Reimpr.] – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. GARCIA, G. F. B. . – 7ª. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense, 2013.Curso de Direito do Trabalho MARTINEZ, L. : relações individuais, sindicais e coletivas do trabalho / LucianoCurso de direito do trabalho Martinez. – 2 ed. – São Paulo: Saraiva. 2011, MARTINS, S. P. / Sérgio Pinto Martins. – 34ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.Direito do Trabalho RENZETTI, R. . - 4ª ed. rev. atual. ampl. – São Paulo: Forense,Direito do Trabalho, teoria e questões práticas 2018; São Paulo: MÉTODO, 2018. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Disponível em < >Seção de Dissídios Coletivos. http://www.tst.jus.br acesso em 20/06/2018. http://www.tst.jus.br Introdução Direito Constitucional de Greve Conceito de greve Classificação do direito de greve Requisitos indispensáveis à instauração da greve Legitimidade do Exercício do Direito de Greve Direito dos grevistas Proibições na greve Lock out Suspensão e rescisão do contrato de trabalho Atividades essenciais Fechamento Referências
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