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- -1 Acordos e convenções coletivas Giordana Bruno Leite de Oliveira Introdução Você já deve ter ouvido falar em acordo ou convenção coletiva, certo? É por meio deles que se resolvem grande parte dos conflitos coletivos entre trabalhadores e empregadores, por meio destes documentos chamados acordos ou convenções coletivas de trabalho, aprenderemos sobre tais negociações e sobre os dissídios coletivos, o que eles são e como funcionam. Veremos a importância da assembleia geral e os prazos a serem obedecidos para que as decisões que ela toma sejam válidas. Você sabe como funciona a regra da condição mais favorável para o trabalhador? Além deste conceito, vamos entender também como ocorrem as prorrogação, renúncia, revisão e revogação da representação sindical. Ao final desta aula, você será capaz de: • identificar e distinguir os conceitos de acordo, convenção e dissídio; • identificar a função e relevância de uma assembleia geral no Direito Sindical; • conhecer os prazos que devem ser obedecidos para que haja validade das deliberações das assembleias gerais; • identificar a prevalência das cláusulas mais favoráveis ao trabalhador nos acordos, convenções e dissídios; • distinguir e compreender as hipóteses de prorrogação, revisão, renúncia e revogação da representação sindical. Acordo O acordo coletivo de trabalho é uma negociação ocorrida entre um sindicato dos empregados e uma ou mais empresas, está regulamentado no artigo 611, § 1º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Lapa e Kertzman (2018) pontuam que ele se formalizará sempre que o sindicato que representa uma categoria profissional (ou seja, dos empregados) celebrar um contrato formal com uma ou mais empresas de determinada categoria econômica. • • • • • - -2 Figura 1 - Acordo coletivo Fonte: kmlmtz66, Shutterstock, 2018 Para Cassar (2018, p.1286), “o acordo é o negócio jurídico extrajudicial efetuado entre sindicato dos empregados e uma ou mais empresas, onde se estabelecem condições de trabalho, obrigando as partes acordantes dentro do período de vigência predeterminado e na base territorial da categoria”. Convenção Coletiva de Trabalho A convenção coletiva do trabalho é o acordo formal por meio do qual dois ou mais sindicatos, representando empregados e empregadores, estipulam condições de trabalho aplicáveis durante determinado tempo aos seus representados. Está regulamentada pelo artigo 611, (cabeçalho do artigo), da CLT.caput - -3 Figura 2 - Empregador x Empregado Fonte: Shutterstock, 2018 Cassar (2018, p.1287) anota que “a convenção coletiva do trabalho é um negócio jurídico extrajudicial pactuado entre o sindicato dos empregados e o sindicato dos empregadores, para estabelecer condições de trabalho para toda a categoria”. De acordo com os artigos 611 e 614 da CLT ela possui vigência temporária e aplicação na base territorial dos respectivos sindicatos. Assim, temos que a validade do convênio coletivo, conforme dito nos artigos 613 e 614 da CLT é necessário que ele seja escrito, tenha prazo de vigência (dois anos no máximo), que a negociação seja autorizada pela Assembleia sindical e que uma via seja protocolada no DNT ou no Ministério do Trabalho e fixada de maneira visível na empresa acordante. De acordo com Renzetti (2018), as diferenças entre Acordo e Convenção Coletivos são: · Quanto aos signatários: nos Acordos as partes são um sindicato de empregados de um lado e uma ou mais empresas do outro; nas Convenções tem-se de um lado o sindicato dos empregados e do outro o sindicato dos empregadores. · Quanto à abrangência: as convenções alcançam toda a categoria profissional e econômica representada pelos FIQUE ATENTO É preciso memorizar que ACT (Acordo Coletivo de Trabalho) = SINDICATO DOS EMPREGADOS X UMA OU MAIS EMPRESAS é diferente de CCT (Convenções Coletivas de Trabalho) = SINDICATO DOS EMPREGADORES X SINDICATO DOS EMPREGADOS. Lembre-se que as diferenças são os sujeitos da negociação e o seu alcance, outro ponto importante é que os termos de acordos coletivos e as convenções tem que ser por escrito e uma via depositada no Ministério do Trabalho ou no Departamento Nacional do Trabalho (DNT), sendo também fixada visivelmente na empresa. - -4 · Quanto à abrangência: as convenções alcançam toda a categoria profissional e econômica representada pelos sindicatos que as assinarem e nos acordos a negociação só alcança os empregados que prestam serviços para as empresas signatárias. Dissídio Coletivo do Trabalho Martins (2018) expressa que no dissídio coletivo se discute a criação de novas normas ou condições de trabalho para a categoria, ou a interpretação de certa norma jurídica. A competência para julgar e decidir os dissídios coletivos é dos Tribunais da Justiça do Trabalho (TRTs ou TST, Regionais ou Superior), como expresso no artigo 114, § 2º, da Constituição Federal de 1988. Saraiva (2010) ensina que dissídio é uma ação que tem como objetivo acabar com os conflitos coletivos de trabalho por meio de decisão da Justiça do Trabalho, seja impondo novas normas e condições de trabalho para determinadas categorias, seja interpretando normas jurídicas já existentes. O Dissídio se dá com a entrada de um processo judicial, em que são expostas todas as reivindicações dos trabalhadores. Sindicatos, federações, confederações, empresas e comissões de trabalhadores não sindicalizados são partes legítimas para instaurá-los. Após sua instauração, será designada audiência de conciliação pelo Presidente do Tribunal em 10 dias, e havendo acordo, este será homologado pelo Tribunal, e caso não haja, o dissídio será julgado. Estas decisões são as sentenças normativas e serão aplicadas aos contratos de trabalho dos profissionais da categoria, usando as suas cláusulas. Os dissídios coletivos podem ser de extensão, quando sua decisão é estendida para todos os trabalhadores da empresa ou para todos os empregados da mesma categoria profissional, e de revisão, quando houver passado mais de um ano de sua vigência e tenha havido alguma mudança significativa nas circunstâncias que a influenciaram, tornando-a injusta. Assembleia Geral A Assembleia Geral compõe a organização sindical juntamente com a diretoria e o Conselho fiscal, ela é o órgão superior de todas as entidades sindicais e é composta por todos os associados do sindicato. Possui soberania para tomar as decisões em uma entidade sindical sendo responsável pela eleição dos demais órgãos da entidade. De acordo com o artigo 524 da CLT, alguns dos assuntos sobre os quais a Assembleia Geral deve deliberar são: a eleição de associado para representação da respectiva categoria, tomada e aprovação de contas da diretoria, aplicação do patrimônio do sindicato, julgamento dos atos da diretoria relacionados aos associados e pronunciamento sobre relações ou dissídio de trabalho. - -5 Figura 3 - Deliberação em Assembleia Geral Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018 É absolutamente necessário que os assuntos de maior relevância passem pela análise e deliberação da Assembleia Geral. Ela possui poderes para suspender ou cassar o mandato da Diretoria ou Conselho Fiscal quando houver grave perturbação da ordem interna, grave violação estatutária, dilapidação ou malversação do patrimônio e/ou de desvirtuamento aos objetivos da entidade. O artigo 612 da CLT expressa que os sindicatos só poderão celebrar convenções ou acordos coletivos de trabalho por deliberação da Assembleia Geral especialmente convocada para esse fim, de acordo com as disposições dos estatutos da entidade sindical. O quórum para validade da Assembleia será de 2/3 (dois terços) dos associados, se tratando de convenção coletiva, e dos interessados no caso do acordo e, em segunda convocação, de 1/3 dos mesmos. Geralmente as assembleias gerais são convocadas pelo presidente do Sindicato através de Edital de Convocação. Prazos Para que haja a validade das deliberações feitas pela Assembleia Geral, além do quórum, que seria a quantidade de associados com poder de voto, específico para cada caso, devem serobservados os prazos para a sua convocação. De acordo com a Orientação Jurisprudencial 35 do Tribunal Superior do Trabalho, deve-se respeitar o prazo - -6 De acordo com a Orientação Jurisprudencial 35 do Tribunal Superior do Trabalho, deve-se respeitar o prazo mínimo para a publicação da convocação para a Assembleia e sua realização: “Se os estatutos da entidade sindical contam com norma específica que estabeleça prazo mínimo entre a data de publicação do edital convocatório e a realização da assembleia correspondente, então a validade desta última depende da observância desse interregno. ” Geralmente estipula-se o prazo de 10 (dez) dias entre a publicação do edital de convocação em jornal de grande circulação e a realização da Assembleia para que as deliberações feitas durante esta reunião dos associados sejam válidas. O procedimento é disciplinado pela CLT nos artigos 612 a 617. Importante destacar também que o prazo de validade das convenções e acordos coletivos é de no máximo dois anos, conforme estipulado no § 3º do artigo 614 da CLT. Após o período máximo deve haver nova negociação para produção de novo acordo ou convenção coletiva. Prevalência das causas mais favoráveis Um dos princípios norteadores do Direito do Trabalho é o da norma mais favorável, que objetiva o equilíbrio da desigualdade entre empregador e empregado, não importando se a norma mais favorável for hierarquicamente inferior na pirâmide normativa. FIQUE ATENTO Importante anotar que os sindicatos e empresas, quando provocados, não podem se recusar à negociação coletiva, conforme o artigo 616 da CLT. Caso haja recusa, a Delegacia Regional do Trabalho deve tomar ciência quando então deverá convidar as partes para que possam entrar em um acordo. Caso, ainda assim, não haja acordo, pode ser levado à justiça do trabalho, como um dissídio coletivo ou ainda dar início a um movimento de greve. - -7 Figura 4 - Justiça Social Fonte: Shutterstock, 2018 De acordo com Lapa e Kertzman (2018), existem exceções à aplicação deste princípio que seriam: as normas estatais heterônomas proibitivas, expressas no artigo 623 da CLT e a que dispõe que prevalece o acordo coletivo sobre as convenções coletivas de trabalho, no artigo 620 da CLT. - -8 Temos ainda a hipótese do empregado hipersuficiente, quando as negociações podem conter determinações menos favoráveis, mas ainda serão aplicadas no caso concreto, mesmo que o empregado fique em prejuízo. Esta nova categoria de empregados também foi um produto da Reforma Trabalhista. Considerada até mesmo uma aberração, porque a sua hipersuficiência advinda do seu diploma superior e salários acima do teto do INSS não lhe tira a condição de hipossuficiência econômica com relação ao seu empregador. Às vezes o hipersuficiente por ter uma condição melhor dentro da empresa se torna até mais subordinado e se sujeita muito mais aos desmandos dos patrões por medo de perder seu emprego. Prorrogação, Revisão, Denúncia e Revogação Cassar (2018) ensina que a prorrogação ocorre quando o prazo de vigência da convenção ou acordo é estendido, mantendo as condições iguais, porém o § 3º do art. 614 da CLT fala que tal prorrogação somente pode ocorrer dentro do prazo máximo de dois anos. A revisão ocorre quando os interessados acordam alterações parciais ou totais da norma coletiva ainda durante a sua vigência, podendo ser mais ou menos favoráveis por não ferir qualquer direito adquirido, já que tais benesses não incorporam definitivamente o contrato de trabalho. A denúncia é ato unilateral e acontece quando uma das partes notifica a outra de que não vai mais cumprir a norma coletiva, mas a extinção da obrigação se dará apenas se a outra parte concordar. Caso não concorde poderá haver intervenção de um terceiro mediador, ou seja, uma pessoa estranha à relação que sirva para intermediar a situação até a renegociação entre as partes. A revogação é ato bilateral e ocorre quando as partes, de comum acordo, resolvem desfazer a negociação total ou SAIBA MAIS Para saber sobre mais sobre algumas mudanças nas normas e negociações coletivas trazidas pela Reforma Trabalhista de 2017, remetemos o aluno à leitura do artigo com esse tema disponível em: http://www.contabeis.com.br/artigos/4235/normas-e-negociacoes-coletivas- .mais-algumas-mudancas-da-reforma-trabalhista/ EXEMPLO Como exemplo de empregado hipersuficiente podemos mencionar aquele profissional portador de diploma de nível superior e que recebe um salário mensal superior ou igual a duas vezes o limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência social. Empregado hipersuficiente é aquele que possui um padrão financeiro mais raro de ser encontrado no mercado de trabalho. http://www.contabeis.com.br/artigos/4235/normas-e-negociacoes-coletivas-mais-algumas-mudancas-da-reforma-trabalhista/ http://www.contabeis.com.br/artigos/4235/normas-e-negociacoes-coletivas-mais-algumas-mudancas-da-reforma-trabalhista/ - -9 A revogação é ato bilateral e ocorre quando as partes, de comum acordo, resolvem desfazer a negociação total ou parcialmente. Todos os casos ficarão subordinados à aprovação de Assembleia Geral dos Sindicatos convenentes ou partes acordantes, registro e arquivamento no Departamento Regional do Trabalho, observando-se o disposto no artigo 612 da CLT. Fechamento Neste tema aprendemos sobre as negociações coletivas de trabalho, que são os acordos, convenções e dissídios coletivos. Estudamos a importância da Assembleia Geral sindical, qual é a sua importância dentro de um sindicato e os prazos que devem ser obedecidos para que suas deliberações tenham validade. Por fim, estudamos como se dá a prevalência da cláusula mais favorável e suas exceções, concluindo com as hipóteses de prorrogação, revisão, denúncia e revogação e suas diferenças. Referências BRASIL. Decreto-Lei nº 5452 de 1º de maio de 1943. . maio, 1943.Consolidação das Leis do Trabalho Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm >. Acesso em 20/06/ 2018. CASSAR, V. B. – 15ª ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO,Direito do Trabalho 2018. LAPA, A.N. da; KERTZMAN, I. Salvador: JUSPODIVM, 2018.Curso Prático de Direito do Trabalho. MARTINS, S. P. – 34ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2018.Direito do Trabalho RENZETTI, R. . - 4ª ed. rev. atual. ampl. – São Paulo: Forense,Direito do Trabalho, teoria e questões práticas 2018; São Paulo: MÉTODO, 2018. TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO. Disponível em < >Seção de Dissídios Coletivos. http://www.tst.jus.br Acesso em: 20/06/2018. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm http://www.tst.jus.br Introdução Acordo Convenção Coletiva de Trabalho Dissídio Coletivo do Trabalho Assembleia Geral Prazos Prevalência das causas mais favoráveis Prorrogação, Revisão, Denúncia e Revogação Fechamento Referências
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