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Apresentação da disciplina e noções introdutórias sobre Direitos Reais Direitos Reais ou DIREITO DAS COISAS COISAS suscetíveis de apropriação pelo homem COISAS do mundo físico, sobre as quais se pode exercer o PODER DE DOMÍNIO BENS CORPÓREOS, existentes no mundo físico, tangíveis pelo homem ATENÇÃO! Há bens jurídicos que não são coisas, como a liberdade, a honra, a vida... É indispensável a compreensão, logo de início, da distinção que há entre PROPRIEDADE e POSSE PROPRIEDADE Entendida como o mais completo direito real, do qual se extraem ou se visualizam, por seus poderes, todos os demais direitos reais, a propriedade é tratada e garantida como direito fundamental no Art. 5º, XXII, da CF. POSSE MATRÍCULA DO IMÓVEL POSSE ● DOMÍNIO FÁTICO da pessoa sobre a coisa: Pode ou não, o possuidor, ser o titular do direito a que a posse se refere A posse há de ser vista como uma CIRCUNSTÂNCIA FÁTICA tutelada pelo Direito O direito real consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos No polo passivo: os membros da coletividade No polo ativo: o titular do direito real sobre a coisa Todos devem abster-se de qualquer atitude que possa TURBAR O DIREITO DO TITULAR Ao violar-se o dever de não turbar o direito real alheio, determina-se o sujeito passivo até então indeterminado Efeito erga omnes Direitos Reais x Direitos Pessoais DIREITO REAL: é o que afeta a coisa direta e imediatamente, sob todos ou sob certos respeitos Domínio Elementos no Direito Real ● sujeito ativo (sujeito de direito) ● a coisa (objeto de direito) ● o domínio sobre a coisa Servidão Elementos no Direito Pessoal DIREITO PESSOAL: relação jurídica de pessoa a pessoa, por meio da qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação ● sujeito ativo (titular de direito) ● sujeito passivo (devedor) ● determinada prestação (objeto de direito) Caracteres distintivos Prévia publicidade a obrigar a sociedade (sujeito passivo) a abster-se de praticar qualquer ato contrário ao direito sobre a coisa (obrigação negativa), sob pena do ajuizamento de uma: Direito real modo de exercício Quanto ao direito real, sua EFETIVAÇÃO é DIRETA, sem a intervenção de quem quer que seja. Não depende da colaboração de nenhum sujeito passivo para existir e ser exercido No direito pessoal, supõe-se necessariamente a intervenção de outro sujeito de direito. AÇÃO REAL Direito Pessoal ● O OBJETO DO DIREITO REAL há de ser, necessariamente, uma COISA DETERMINADA No direito pessoal, a prestação do devedor pode ter por objeto COISA GENÉRICA, bastando que seja DETERMINÁVEL ● A VIOLAÇÃO DE UM DIREITO REAL consiste sempre em um FATO POSITIVO O mesmo não se verifica sempre com o direito pessoal ● O DIREITO REAL só encontra um sujeito passivo concreto no momento em que é violado. ENQUANTO NÃO HÁ VIOLAÇÃO, dirige-se contra todos, em geral, e contra ninguém, em particular O DIREITO PESSOAL dirige-se, desde o seu nascimento, contra uma pessoa determinada, e somente contra ela. ● O DIREITO REAL concede ao titular um GOZO PERMANENTE, porque tende à perpetuidade DIREITO PESSOAL é eminentemente TRANSITÓRIO. Extingue-se no momento em que a obrigação correlata é cumprida Principiologia dos Direitos Reais Princípios fundamentais dos direitos reais ● PRINCÍPIO DA ADERÊNCIA, ESPECIALIZAÇÃO OU INERÊNCIA Estabelece um vínculo, uma relação direta, imediata e de SENHORIA ENTRE O SUJEITO E A COISA, não dependendo da colaboração de nenhum sujeito passivo para existir A aderência do direito real à coisa diz respeito à permanente incidência desse direito (o real) sobre o bem, ainda que este bem circule de mão em mão e se transmita a terceiros. O direito real segue a coisa, em poder de quem quer que ela se encontre. A tutela do direito real é sempre mais enérgica e eficaz que a do direito de crédito (direito pessoal). Alusão ao filme Onde os fracos não têm vez, em que um sinalizador é inserido em uma maleta com dinheiro, seguindo a coisa em poder de quem com ela se encontra. Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de USAR, GOZAR e DISPOR da coisa, e o direito de REAVÊ-LA do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha. O PRINCÍPIO DA ADERÊNCIA se encontra no Art. 1.228 do CC Usar Gozar Dispor Reaver PODERES INERENTES À PROPRIEDADE Fruir Usar Dispor Reaver O DIREITO REAL adere à coisa como a LEPRA AO CORPO. Acompanhará sempre a coisa, independentemente de usurpações GRAVADO DETERMINADO BEM, como no caso da servidão, nenhuma transmissão o afetará, pois, seja qual for o proprietário do prédio serviente, terá de suportar o encargo Como ferro em gado. PRINCÍPIO DO ABSOLUTISMO DIREITO REAL se exerce ERGA OMNES, ou seja, CONTRA TODOS, que devem se abster de molestar o titular, de onde surge o DIREITO DE SEQUELA ou DE PERSEGUIR a coisa e de reivindicá-la em poder de quem quer que esteja (ação real), bem como o DIREITO DE PREFERÊNCIA. PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE OU DA VISIBILIDADE Os direitos reais sobre IMÓVEIS só se adquirem com o REGISTRO DO RESPECTIVO TÍTULO no Cartório de Registro de Imóveis. Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com o REGISTRO NO CARTÓRIO de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos expressos neste Código. Já sobre os MÓVEIS, só depois da tradição Art. 1.226. Os direitos reais sobre coisas móveis, quando constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem com a TRADIÇÃO. Por serem oponíveis erga omnes, faz-se necessário que todos possam conhecer os seus titulares, para não molestá-los. O REGISTRO e a TRADIÇÃO atuam como meios de publicidade da titularidade dos direitos reais PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE OU NUMERUS CLAUSUS A lei enumera os direitos reais de forma taxativa, não ensejando, assim, aplicação por analogia. O número dos direitos reais é, portanto, limitado, taxativo, considerados somente os elencados na lei (numerus clausus) Art. 1.225. São direitos reais: I. PROPRIEDADE VIII. PENHOR II. SUPERFÍCIE IX. HIPOTECA III. SERVIDÕES X. ANTICRESE IV. USUFRUTO XI. CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS DE MORADIA V. USO XII. CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO VI. HABITAÇÃO XIII. LAJE VII. DIREITO DO PROMITENTE COMPRADOR DO IMÓVEL PRINCÍPIO DA TIPICIDADE Somente os direitos “constituídos e configurados à luz dos tipos rígidos (modelos) consagrados no texto positivo é que poderão ser tidos como reais. Estes tipos são previstos pela lei de forma taxativa”. PRINCÍPIO DA PERPETUIDADE A propriedade é um direito perpétuo, pois NÃO SE PERDE PELO NÃO USO, mas somente pelos meios e formas legais: ● desapropriação ● usucapião ● renúncia ● ABANDONO O NÃO USO NÃO SE CONFUNDE COM ABANDONO PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE NÃO PODE HAVER DOIS DIREITOS REAIS, DE IGUAL CONTEÚDO, SOBRE A MESMA COISA. Duas pessoas não ocupam o mesmo espaço jurídico, deferido com exclusividade a alguém, que é o sujeito do direito real. Assim, não é possível instalar- se direito real onde outro já exista. No condomínio, cada consorte tem direito a porções ideais, distintas e exclusivas PRINCÍPIO DO DESMEMBRAMENTO Conquanto os direitos reais sobre coisas alheias tenham normalmente mais estabilidade do que os obrigacionais, são também transitórios, pois, como exposto, desmembram-se do direito-matriz, que é a propriedade. Quando se extinguem, como no caso de morte do usufrutuário, por exemplo, o poder que existia em mão de seus titulares retorna às mãos do proprietário, em virtude do princípio da consolidação. Este, embora seja o inverso daquele, o complementa e com ele convive. Obrigações propter rem FIGURAS HÍBRIDAS OU INTERMEDIÁRIAS DIREITO DE PROPRIEDADE Direito real por excelência CRÉDITO DE QUANTIA CERTA Direito pessoal mais característico Há uma grande variedade de figuras que, à medida que se distanciamdos extremos, tendem a se confundir. Muro comum: Direito real ou obrigação?! DIREITOS REAIS INOMINADOS OBRIGAÇÕES PROPTER REM OBRIGAÇÕES “PROPTER REM” Recaem sobre as pessoas, por força de determinado direito real Art. 1.277. O proprietário ou o possuidor de um prédio tem o direito de fazer cessar as interferências prejudiciais à segurança, ao sossego e à saúde dos que o habitam, provocadas pela utilização de propriedade vizinha. Só existem tais obrigações em razão da situação jurídica do obrigado, de titular do domínio ou de detentor de determinada coisa. São obrigações que, embora atreladas a direitos reais, com eles não se confundem. Enquanto os REAIS REPRESENTAM DIREITOS SOBRE AS COISAS ou nas coisas, as OBRIGAÇÕES PROPTER REM SÃO CONCEBIDAS COMO DIREITOS POR CAUSA DAS COISAS ou advindos das coisas ● Obrigação imposta ao condômino de concorrer para as despesas de conservação da coisa comum (Art. 1.315 do CC) ● Obrigação de não alterar, o condômino, a fachada do prédio (Art. 1.336, III) ● Obrigação de dar caução pelo dano iminente (dano infecto) quando o prédio vizinho estiver ameaçado de ruína (Art. 1.280); ● Obrigação que tem o dono da coisa perdida de recompensar e indenizar o descobridor (Art. 1.234) ● Obrigação de os donos de imóveis confinantes concorrerem para as despesas de construção e conservação de tapumes divisórios (Art. 1.297, § 1º) ou de demarcação entre os prédios (Art. 1.297); ● Obrigação de indenizar benfeitorias (Art. 1.219) etc. ÔNUS REAIS ≠ OBRIGAÇÕES PROPTER REM Ônus reais são obrigações que LIMITAM O USO E GOZO DA PROPRIEDADE, constituindo gravames ou direitos oponíveis erga omnes, como, por exemplo, a RENDA CONSTITUÍDA SOBRE IMÓVEL. Aderem e acompanham a coisa. Por isso se diz que QUEM DEVE É A COISA E NÃO A PESSOA. a) A RESPONSABILIDADE pelo ônus real é LIMITADA AO BEM ONERADO, não respondendo o proprietário além dos limites do respectivo valor, pois É A COISA QUE SE ENCONTRA GRAVADA; na obrigação propter rem, diferentemente, responde o devedor com todos os seus bens, de forma ilimitada, pois é o devedor que se encontra vinculado; a) Os ônus reais desaparecem, perecendo o objeto, enquanto os efeitos da obrigação propter rem podem permanecer, mesmo havendo perecimento da coisa; a) Os ônus reais implicam sempre uma prestação positiva, enquanto a obrigação propter rem pode surgir com uma prestação negativa; a) Nos ônus reais, a ação cabível é de natureza real; nas obrigações propter rem, é de índole pessoal. OBRIGAÇÕES COM EFICÁCIA REAL São as que, sem perder seu caráter de direito a uma prestação, transmitem- se e são oponíveis a terceiro que adquira direito sobre determinado bem. Certas obrigações resultantes de contratos alcançam, por força de lei, a dimensão de direito real. Art. 576. Se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro. § 1o O registro a que se refere este artigo será o de Títulos e Documentos do domicílio do locador, quando a coisa for móvel; e será o Registro de Imóveis da respectiva circunscrição, quando imóvel. § 2o Em se tratando de imóvel, e ainda no caso em que o locador não esteja obrigado a respeitar o contrato, não poderá ele despedir o locatário, senão observado o prazo de noventa dias após a notificação. Noções gerais sobre a posse Noções gerais sobre POSSE ● Domínio fático da pessoa sobre a coisa: O possuidor encontra-se em uma situação de fato, aparentando ser o proprietário Pode ou não, o possuidor, ser o titular do direito a que a posse se refere A posse há de ser vista como uma circunstância tutelada pelo Direito FATO DO QUAL DERIVAM EFEITOS DE IMPORTÂNCIA JURÍDICA E SOCIAL TEORIAS DA POSSE ● Teoria SUBJETIVA de Decomposta em 2 (dois) elementos: 1) ANIMUS Intenção de ter a coisa 2) CORPUS O poder material sobre a coisa Possuidor seria aquele que, além da intenção de se assenhorar do bem (animus), dispõe do poder físico/material sobre ele (corpus) Friedrich Karl Von Savigny 1779 - 1861 Desdobramentos e dificuldades da TEORIA SUBJETIVA: ● ANIMUS na posse direta em casos de locação e comodato. ● ANIMUS DOMINI ≠ ANIMUS POSSIDENDI Em tais casos, não há intenção do possuidor, EM REGRA, de ter a coisa como sua. O ANIMUS DOMINI como a intenção de exercer em nome próprio o direito de propriedade. ANIMUS POSSIDENDI como a intenção de exercer o direito real, como sendo o seu titular, prática que se traduz nos correspondentes atos materiais do proprietário. TENDÊNCIA GENERALIZADORA: O ANIMUS como a intenção de o possuidor exercer sobre as coisas um poder no interesse próprio ● Teoria OBJETIVA de Possuidor seria aquele que, mesmo sem dispor do poder material sobre o bem, comporta- se como se seu proprietário fosse, inclusive imprimindo-lhe destinação O critério para a verificação da existência da posse é a maneira pela qual o proprietário exerce, DE FATO, sua propriedade Rudolf Von Ihering TEORIA SOCIOLÓGICA DA POSSE A posse se explica e se justifica pela sua função social, e não pelo mero interesse pessoal de quem a exerce A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela Enunciado 492 da V Jornada de Direito Civil TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL Na visão de Pablo Stolze o Código Civil brasileiro adota a teoria objetiva de IHERING Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem DE FATO o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade. Mesmo não sendo proprietário, o sujeito comporta-se como tal Distinção entre posse e DETENÇÃO ● Aquele sujeito do poder de fato que quer ser considerado proprietário, que SE COMPORTA COMO SE EXERCESSE UMA PROPRIEDADE é um POSSUIDOR. Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. Já o DETENTOR: Exemplo de DETENTOR Ver RESP 1.188.937/RS – págs. 64 a 65 FÂMULO DA POSSE Aquele que, em relação de dependência com o proprietário do bem, age de acordo com as determinações deste. Detentor que exerce sobre a coisa, não um poder próprio, mas dependente. Há mera detenção também nas hipóteses previstas no Art. 1.208 do Código Civil Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE ● POSSE DIRETA ● POSSE INDIRETA Quanto ao exercício de gozo: Exercida mediante o poder material ou contato direto com a coisa. Exemplo: locatário Exercida por via oblíqua. Exemplo: locador ● POSSE JUSTA Quanto à existência de vício: A que não for violenta, clandestina ou precária. Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. É a posse sem vício. A violência empregada para a recuperação incontinenti da posse, nos termos do Art. 1.210, § 1º, do CC, não a torna viciada. ● POSSE INJUSTA violenta, clandestinaou precária. Violenta: a posse que se adquire por ato de força, natural ou física, moral ou resultante de ameaças que incutam na vítima sério receio. Clandestina: a posse que se adquire por via de um processo de ocultamento, em relação àquele contra quem é praticado o apossamento. Precária: é a do fâmulo na posse, isto é, daquele que recebe a coisa com a obrigação de a restituir, e arroga-se a qualidade de possuidor, abusando da confiança, ou deixando de devolvê-la ao proprietário, ou ao legítimo possuidor. ● POSSE DE BOA-FÉ Quanto à legitimidade do título: O possuidor desconhece o vício que macula a sua posse ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. (Art. 1.201 do CC) ● POSSE DE MÁ-FÉ As circunstâncias fazempresumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. (Art. 1.202) ● POSSE NOVA Quanto ao tempo: Menos de ano e dia. (Art. 558 do CPC) ● POSSE VELHA Mais de ano e dia. (294 a 304 e 311 do CPC) Ver Pág. 77. ● AD INTERDICTA Quanto à proteção: Gera direitos de defesa da posse, mas não conduz à usucapião. ● AD USUCAPIONEM Tem aptidão de resultar na aquisição da propriedade Ex.: Posse do locatário COMPOSSE Situação excepcional, Traduz a ideia de posse em comum (Art. 1.199 do CC). Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros compossuidores. COMPOSSE ● Pro diviso: quando os possuidores, posto tenham direito à posse de todo o bem, delimitam áreas para o seu exercício (Ex.: irmãos, condôminos e compossuidores do mesmo imóvel, resolvem delimitar a área de uso de cada um). COMPOSSE ● Pro indiviso: quando os possuidores indistinta e simultaneamente exercem atos de posse sobre todo o bem Exemplo ilustrativo de COMPOSSE é a exercida pelos herdeiros em face do acervo, durante o inventário Aquisição, perda e efeitos da posse ● Os momentos de aquisição e de perda da posse? ● A legitimação para adquiri-la e quem poderá perdê-la? ● De que forma a aquisição e a perda ocorrem? INTERESSA-NOS SABER: Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos PODERES INERENTES À PROPRIEDADE. Usar Gozar Dispor Reaver PODERES INERENTES À PROPRIEDADE Fruir Usar Dispor Reaver ● MOMENTO de aquisição Fruir Usar Dispor ● Elemento subjetivo. Em nome alheio não há posse, apenas detenção. da coisa Alguém, em nome próprio passa a A delimitação do MOMENTO DA AQUISIÇÃO DA POSSE é fundamental para diversos efeitos jurídicos, a exemplo da AQUISIÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE, na usucapião. O TEMPO em sua dimensão dinâmica, gerador de um específico efeito jurídico: A AQUISIÇÃO DO DIREITO DE PROPRIEDADE, MEDIANTE O EXERCÍCIO DA POSSE COM O ÂNIMO DE SER DONO O reconhecimento da POSSE, COMO ESTADO DE FATO, importa na possibilidade também da sua TRANSMISSÃO ENTRE VIVOS (inter vivos) e ENTRE A PESSOA FALECIDA E OS SEUS HERDEIROS (mortis causa) Nesse sentido, os artigos 1.206 e 1.207 do CC: Art. 1.206. A POSSE TRANSMITE-SE AOS HERDEIROS ou LEGATÁRIOS DO POSSUIDOR com os mesmos caracteres. HERDEIROS A posse transmite-se aos HERDEIROS ou LEGATÁRIOS com os mesmos caracteres. Portanto, eventual vício na posse do antecessor permanece na do sucessor POSSUIDORA ATENÇÃO! lembrar que a LEGATÁRIA é SUCESSORA SINGULAR e não UNIVERSAL LEGATÁRIA A LEGATÁRI A SUCESSORA SINGULAR Art. 1.207. O SUCESSOR UNIVERSAL continua de direito a posse do seu antecessor; Sucessor universal Sucessores universais Caso de herança legítima, em que a lei preconiza a continuidade (...) Sucessor singular Caso de compra e venda, doação ou legado, em que a lei preconiza a união de posses Art. 1.207. (...) ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais. Sucessor singular X + Y = Z Amplitude da posse Art. 1.209. A posse do imóvel faz presumir, até prova contrária, a das coisas móveis que nele estiverem. A presunção aqui é juris tantum, isto é, relativa, condicional da existência de um fato, até que se apresente prova em contrário. ● A LEGITIMIDADE para aquisição da posse Art. 1.205. A posse pode ser adquirida: I - PELA PRÓPRIA PESSOA QUE A PRETENDE ou por seu representante; II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação. Em leitura do artigo acima, Pablo Stolze não vê óbice para a AQUISIÇÃO DA POSSE POR PESSOA INCAPAZ. A explicação, em grande medida, está na CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, direitos esses ratificados, no Brasil, pelo Decreto Legislativo nº 186, de 09 de julho de 2008, cujo Art. 12, item 2, dispõe: Artigo 12 - Reconhecimento igual perante a lei 2. Os Estados Partes reconhecerão que as pessoas com deficiência gozam de capacidade legal em igualdade de condições com as demais pessoas em todos os aspectos da vida. “Se se trata, a posse, de uma situação de fato, a sua aquisição independe da capacidade de quem, no plano da realidade, exerce os poderes inerentes à propriedade.” Pablo Stolze, pág. 84 do Vol. 5 do seu Novo Curso de Direito Civil “Se os direitos decorrentes da posse serão administrados pelo representante do incapaz, segundo o seu melhor interesse, trata-se de um aspecto lógico consequencial que não vai de encontro à sua causa aquisitiva.” Pablo Stolze, pág. 84 do Vol. 5 do seu Novo Curso de Direito Civil “a pessoa com deficiência – a quem, sem dúvida, pode ser reconhecida a legitimidade para possuir – não é mais considerada civilmente incapaz.” Pablo Stolze, pág. 84 do Vol. 5 do seu Novo Curso de Direito Civil ● Modalidades de PERDA DA POSSE A posse é uma SITUAÇÃO DE FATO Circunstâncias fáticas, portanto, operam a perda da posse Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o Art. 1.196. Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá- la, é violentamente repelido. Conforme o Art. 1.223 do CC, opera-se a perda da posse quando há a extinção do exercício, de fato, sobre o bem, dos poderes inerentes à propriedade ESBULHO: Ato violento, em virtude do qual uma pessoa é despojada ou desapossada de um bem legítimo, caracterizando crime de usurpação. Crime contra o patrimônio consistente em invadir terreno ou edifício alheio, com o intuito de adquirir a posse. Difere da TURBAÇÃO, que apenas impede o exercício pleno da posse 1) PERCEPÇÃO DOS FRUTOS E PRODUTOS 2) RESPONSABILIDADE PELA PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA 3) INDENIZAÇÃO PELAS BENFEITORIAS REALIZADAS Efeitos da Posse 1) PERCEPÇÃO DOS FRUTOS E PRODUTOS a) NATURAIS: gerados pelo bem principal sem necessidade da intervenção humana direta. Decorrem do desenvolvimento orgânico vegetal (laranja) ou animal (crias de um rebanho) QUANTO A NATUREZA b) INDUSTRIAIS: decorrentes da atividade industrial humana (bens manufaturados) c) CIVIS: utilidades que a coisa frutífera periodicamente produz, viabilizando a percepção de uma renda. Por exemplo: juros ou aluguel. a) COLHIDOS OU PERCEBIDOS: já destacados da coisa principal, mas ainda existentes QUANTO À LIGAÇÃO COM A COISA PRINCIPAL b) PENDENTES: ainda se encontram ligados à coisa principal, dela não destacados d) ESTANTES: já destacados, estocados e armazenados para venda e) CONSUMIDOS: não existem mais c) PERCIPIENDOS: deveriam ter sido colhidos mas não o foram 2) RESPONSABILIDADE PELA PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA Art. 1.217. O possuidor de boa-fé NÃO RESPONDE pela perda ou deterioração da coisa, A QUE NÃO DER CAUSA. TJRS - Apelação Cível 00685042420188217000 Art. 1.218. O possuidor de má-fé RESPONDE pela perda, ou deterioração da coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam dado, estando ela na posse do reivindicante. Exemplo dado em Direito Civil III - Contratos, especificamente na locação, quando o locatário de traje não o devolve dentro do prazo e a coisa se perde ou se deteriora. 3) INDENIZAÇÃO PELAS BENFEITORIAS REALIZADAS Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das benfeitorias NECESSÁRIAS e ÚTEIS, bem como, quanto às VOLUPTUÁRIAS, se não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias necessárias e úteis. Art. 96. As benfeitorias podem ser VOLUPTUÁRIAS, ÚTEIS ou NECESSÁRIAS. § 1o São VOLUPTUÁRIAS as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor.§ 2o São ÚTEIS as que aumentam ou facilitam o uso do bem. § 3o São NECESSÁRIAS as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. Art. 1.220. Ao POSSUIDOR DE MÁ-FÉ serão ressarcidas SOMENTE AS BENFEITORIAS NECESSÁRIAS; não lhe assiste o direito de retenção pela importância destas, nem o de levantar as voluptuárias. Se não lhe forem pagas, o POSSUIDOR DE BOA-FÉ poderá levantar as benfeitorias voluptuárias, medida que o POSSUIDOR DE MÁ-FÉ NÃO PODERÁ ADOTAR. DISTINÇÃO ENTRE BENFEITORIA E ACESSÃO BENFEITORIA em coisa já existente ACESSÃO cria coisa nova Sistema de proteção possessória A PROTEÇÃO POSSESSÓRIA está presente tanto no campo do Direito Material (DIREITO CIVIL) quanto na disciplina normativa processual (DIREITO PROCESSUAL CIVIL) PREVISÕES NORMATIVAS DE TUTELA JURÍDICA DA POSSE AUTODEFESA REINTEGRAÇÃO MANUTENÇÃO SEGURANÇA CONTRA VIOLÊNCIA IMINENTE PROTEÇÕES POSSESSÓRIAS DE DIREITO MATERIAL § 1º. O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se POR SUA PRÓPRIA FORÇA, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição da posse. Duas formas de AUTOTUTELA da posse a serem exercidas com prudência e proporcionalidade: Art. 1.210. O possuidor tem direito de ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado Em caso de TURBAÇÃO Diante da perturbação ou embaraço da posse, pode-se atuar em LEGÍTIMA DEFESA Em caso de ESBULHO Diante da privação da posse, pode-se empreender DESFORÇO INCONTINENTI ou IMEDIATO POR PRÓPRIA FORÇA AUTODEFESA contanto que o faça logo... Mais abrangente do que a ideia de resposta imediata, como delimitação temporal Manifestação no PRIMEIRO MOMENTO POSSÍVEL CONDIÇÃO PARA AGIR “POR PRÓPRIA FORÇA” CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL Seção II Da Manutenção e da Reintegração de Posse Art. 560. O possuidor tem direito a ser MANTIDO na posse em caso de TURBAÇÃO e REINTEGRADO em caso de ESBULHO. As ações possessórias, no CPC, vão do Art. 554 até o 598 TURBAÇÃO Perturbação da posse A posse não é perdida Ação de MANUTENÇÃO DA POSSE, em que se discute entraves que impedem o amplo e irrestrito exercício da posse. ESBULHO Ação de REINTEGRAÇÃO DE POSSE, em que se discute exclusivamente a posse do bem que foi perdida. Desapossar, despojar, usurpar Posse perdida AMEAÇA INTERDITO PROIBITÓRIO, diante do justo receio de ser molestado na posse, pode-se requerer ao juiz que segure o possuidor direto ou indireto de turbação ou esbulho iminente, mediante mandado proibitório em que se comine ao réu determinada pena pecuniária caso transgrida o preceito Art. 561. Incumbe ao autor provar: I - sua posse; II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu; III - a data da turbação ou do esbulho; IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de reintegração. posse II -I - TURBAÇÃO ESBULHO III - DATA IV - Continuação da posse Art. 562. Estando a PETIÇÃO INICIAL DEVIDAMENTE INSTRUÍDA, o JUIZ DEFERIRÁ, sem ouvir o réu, a EXPEDIÇÃO DO MANDADO LIMINAR DE MANUTENÇÃO OU DE REINTEGRAÇÃO, CASO CONTRÁRIO, determinará que o autor justifique previamente o alegado, citando-se o réu para comparecer à audiência que for designada Parágrafo único. Contra as pessoas jurídicas de direito público NÃO SERÁ DEFERIDA A MANUTENÇÃO OU A REINTEGRAÇÃO LIMINAR SEM PRÉVIA AUDIÊNCIA DOS RESPECTIVOS REPRESENTANTES JUDICIAIS. AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO Apenas deve ser designada se o juiz não se convencer suficientemente quanto ao atendimento, pelo autor, dos requisitos do Art. 561 do CPC Autodefesa Reintegração Manutenção Violência já consumada Prevenção para evitar que a violência se consuma Imissão de posse Apesar do nome, não protege a posse Assegura que o titular de direito real, principalmente da propriedade, possa nela ingressar, pois ainda não a teve Direito material Interdito proibitório Art. 1.210. O possuidor tem direito de ser mantido na posse em caso de turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver justo receio de ser molestado REINTEGRAÇÃOESBULHO MANUTENÇÃOTURBAÇÃO INTERDITO PROIBITÓRIOAMEAÇA IMISSÃO DE POSSE NECESSIDADE DE INGRESSAR NA PROPRIEDADE Art. 554 do CPC. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos estejam provados. PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE Ver, também, Art. 557 do CPC, quanto à PENDÊNCIA DE AÇÃO POSSESSÓRIA Art. 557 do CPC. Na pendência de ação possessória é vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor ação de reconhecimento do domínio, exceto se a pretensão for deduzida em face de terceira pessoa. Juízo POSSESSÓRIO Juízo PETITÓRIO Só se discute POSSE Discute-se DOMÍNIO Atenção! O DETENTOR não possui legitimidade para as ações possessórias As ações PETITÓRIAS versam sobre o direito de propriedade ou qualquer outro direito real As ações POSSESSÓRIAS se fundam na simples posse As ações POSSESSÓRIAS se fundam na simples posse Reintegração Manutenção Interdito proibitório Perda da posse Impossibilidade do exercício pleno da posse Ameaça da perda ou de impossibilidade do exercício pleno da posse As ações PETITÓRIAS versam sobre o direito de propriedade ou qualquer outro direito real REIVINDICATÓRIA Imissão na posse Busca-se recuperar uma posse perdida, com base no domínio Nunca se exerceu a posse Exemplo: Noções gerais sobre propriedade PROPRIEDADE Entendida como o mais completo direito real, do qual se extraem ou se visualizam, por seus poderes, todos os demais direitos reais, a propriedade é tratada e garantida como direito fundamental no Art. 5º, XXII, da CF.MATRÍCULA DO IMÓVEL PROPRIEDADE DOMÍNIO DIREITO DE PROPRIEDADE Direito mais amplo que domínio, abrangente de bens materiais e imateriais Restrito aos bens corpóreos, traduz uma perspectiva material de poder, de submissão da coisa DIREITO À PROPRIEDADE Direito constitucional, fundamental à moradia, de acesso à propriedade, de bens voltados para possibilitar a efetivação de direitos fundamentais anteriores. Para Pablo Stolze, a distinção entre DIREITO DE PROPRIEDADE e DIREITO À PROPRIEDADE se mostra importante justamente para o reconhecimento do DIREITO À PROPRIEDADE como um direito fundamental, podendo o DIREITO DE PROPRIEDADE ser suprimido, quando não atender à sua função social. ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DIREITO DE PROPRIEDADE: direito real, oponível erga omnes, de USAR, GOZAR ou FRUIR, DISPOR e REAVER a coisa, nos limites da sua função social ● USAR: aproveitar o bem sem que haja alteração em sua substância, de todas as formas previstas e não vedadas em lei; ● FRUIR ou GOZAR: direito de perceber os frutos, fruir ou gozar os benefícios lícitos que a propriedade possa proporcionar; ● DISPOR: prerrogativa de transferir o bem, a qualquer título, o que também abarca a possibilidade de consumi-lo, sem o cometimento de abusos; ● REIVINDICAR / REAVER: buscar o bem de quem injustamente o detenha. CARACTERÍSTICAS ● COMPLEXO: pois é formado por um conjunto de poderes ou faculdades, sendo o mais completo de todos os direitos reais; O direito de propriedade é: ● ABSOLUTO: não no sentido de que se possa fazer dele o que bem entender, mas porque a oponibilidade é erga omnes, podendo o titular desfrutar dele como lhe aprouver, desde que respeitadas as limitações legais e constitucionais; ● EXCLUSIVO: ressalvadas certas situações, a exemplo do condomínio e da multipropriedade, o poder dominial de alguém exclui o de outrem, concomitantemente, sobre a mesma coisa, sendo essa, portanto, a regra geral; ● PERPÉTUO: não se extingue, simplesmente, pelo não uso, podendo ser transmitido indefinidamente por gerações; ● ELÁSTICO: pode ser distendidoou contraído na formação de outros direitos reais sem perder sua essência. EXEMPLIFICANDO O ELÁSTICO: USUFRUTO USUFRUTUÁRIO NU-PROPRIETÁRIO EXTENSÃO A propriedade do solo, a teor do Art. 1.229 do CC, abrange a do espaço aéreo e subsolo, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura e profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em impedi-las Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais. OBJETO COISA ESPECIFICAMENTE DETERMINADA, BEM CORPÓREO móvel ou imóvel Admite-se a PROPRIEDADE DE BENS IMATERIAIS, a exemplo dos valores mobiliários (ações) ou OBRAS DO INTELECTO, em uma concepção não tradicional de propriedade CLASSIFICAÇÃO ● Quanto à EXTENSÃO do direito do titular (alcance subjetivo) Quanto todos os poderes inerentes à propriedade (usar, fruir, dispor e reaver) se acham reunidos na pessoa do titular, tem-se a PROPRIEDADE PLENA Quanto ocorre o desmembramento de elementos, passando um ou alguns desses poderes para o exercício de outrem, fala-se PROPRIEDADE LIMITADA OU RESTRITA (Ex: Usufruto, locação...) ● Quanto à PERPETUIDADE do domínio (alcance temporal) Por exceção, uma vez que o direito de propriedade tem caráter perpétuo, pode-se falar em PROPRIEDADE RESOLÚVEL Resolúvel: propriedade que encontra em seu próprio título constitutivo uma razão para sua extinção, que permite retirar a perpetuidade do sujeito proprietário. Ex.: RETROVENDA, PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA Também é possível conceber o surgimento de uma causa superveniente juridicamente apta a pôr fim ao direito de propriedade Ex.: REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO ● Quanto à LOCALIZAÇÃO e DESTINAÇÃO (alcance finalístico) Distinção entre propriedade URBANA e RURAL IPTU e ITR CLT e Lei 5.889/73 Propriedade Fiduciária CONCEITO E DISTINÇÃO NECESSÁRIA Propriedade RESOLÚVEL x Propriedade AD TEMPUS RESOLÚVEL: no próprio título da sua constituição, ENCERRA O PRINCÍPIO QUE A TEM DE EXTINGUIR, realizada a condição resolutória, ou advindo o termo extintivo, SEJA POR FORÇA DE DECLARAÇÃO DA VONTADE, SEJA POR FORÇA DE LEI. AD TEMPUS: não há causa extintiva previamente estipulada, mas sim a ocorrência de uma CIRCUNSTÂNCIA SUPERVENIENTE, NÃO PREVISTA. A Propriedade Fiduciária é espécie de propriedade resolúvel Essencialmente decorre da pactuação de um contrato de alienação fiduciária em garantia Lei nº 9.514/97 O Código Civil restringe-se a tratar da propriedade fiduciária de bens MÓVEIS IMÓVEIS são tratados em lei específica: Art. 1.361. Considera-se fiduciária a PROPRIEDADE RESOLÚVEL de coisa móvel infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. § 1o Constitui-se a propriedade fiduciária com o registro do contrato, celebrado por instrumento público ou particular, que lhe serve de título, no Registro de Títulos e Documentos do domicílio do devedor, ou, em se tratando de veículos, na repartição competente para o licenciamento, fazendo-se a anotação no certificado de registro. CONCEITO BENS FUNGÍVEIS são aqueles que podem ser substituídos por outros de mesma espécie, qualidade e quantidade. Código Civil. Art. 85. São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Exemplo: dinheiro BENS INFUNGÍVEIS são os que não podem ser substituídos por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Exemplo: obra de arte O Código Civil não traz definição, mas não resta dúvida que se trata de termo oposto ao definido em seu artigo 85. § 3o A propriedade superveniente, adquirida pelo devedor, torna eficaz, desde o arquivamento, a transferência da propriedade fiduciária. § 2o Com a constituição da propriedade fiduciária, dá-se o desdobramento da posse, tornando-se o devedor possuidor direto da coisa. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA A propriedade fiduciária, em caráter resolúvel, é da INSTITUIÇÃO FINANCEIRA, até que o devedor cumpra a sua obrigação, pagando o valor financiado. Negócio jurídico bilateral, por meio do qual se realiza a TRANSFERÊNCIA DA PROPRIEDADE DE UMA COISA AO CREDOR, em caráter resolúvel, com a finalidade de garantir determinada obrigação O DEVEDOR (FIDUCIANTE) permanece como possuidor direto, ao passo que o CREDOR (FIDUCIÁRIO) detém a posse indireta e a propriedade resolúvel da coisa, até o adimplemento da dívida Protagonistas da dinâmica negocial ● ALIENANTE; ● DEVEDOR FIDUCIANTE; ● CREDOR FIDUCIÁRIO O Contrato deve conter: ● Total da dívida ● Prazo ● Taxa de juros ● Descrição da coisa Art. 1.364. Vencida a dívida, e não paga, fica o credor obrigado a vender, judicial ou extrajudicialmente, a coisa a terceiros, a aplicar o preço no pagamento de seu crédito e das despesas de cobrança, e a entregar o saldo, se houver, ao devedor. Em um entendimento tradicional, fundado no Decreto-Lei nº 911/69 e na súmula 284 do STJ, admitia-se que o devedor pagasse o débito em atraso, desde que houvesse adimplido, ao menos, 40% do preço financiado. Exemplo: 30 prestações, pagas as 12 primeiras, atraso de 3, o banco ingressa com busca e apreensão, poder-se-ia liberar o veículo com o pagamento das 3 em aberto. NOVA REALIDADE Por força da Lei nº 10.931/04: Ao devedor caberia PAGAR A INTEGRALIDADE DA DÍVIDA, inclusive as prestações vincendas, não lhe assistindo mais o direito de purgar a mora adimplindo apenas as prestações em atraso. Exemplo: 30 prestações, pagas as 12 primeiras, atraso de 3, concedida liminar em busca e apreensão, apenas será possível conservar o bem pagando as 18 prestações remanescentes. Art. 1.366. Quando, vendida a coisa, o produto não bastar para o pagamento da dívida e das despesas de cobrança, continuará o devedor obrigado pelo restante. ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA E ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL Não se aplica em caso de obrigação alimentar Lei nº 9.514/97 g A propriedade fiduciária de bens IMÓVEIS constitui-se mediante registro do contrato que lhe serve de título no Registro de Imóveis Opera-se, a partir do registro do contrato no Registro de Imóveis, o DESDOBRAMENTO DA POSSE O FIDUCIANTE (devedor) torna-se POSSUIDOR DIRETO e o FIDUCIÁRIO (credor) converte-se em POSSUIDOR INDIRETO da coisa imóvel. Adimplido o débito, cabe ao devedor (FIDUCIANTE) o direito de reaver a propriedade plena do bem HAVENDO INADIMPLEMENTO O credor (FIDUCIÁRIO) consolidará a propriedade em seu nome, podendo valer-se, inclusive, da AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE, para a retomada do bem Visão geral sobre as formas de aquisição de propriedade Flávio Tartuce, Direito Civil - Volume 4 (2019), pág. 185 Atenção: não se deve confundir a AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE com o seu título legitimador. Não é a celebração de um contrato de compra e venda que permite, por si só, a aquisição da propriedade Tal negócio jurídico (contrato de compra e venda) traduz apenas o “justo título” para a aquisição A AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE somente se dará: Com o REGISTRO, para os bens IMÓVEIS Com a TRADIÇÃO, para os bens MÓVEIS CLASSIFICAÇÃO das formas de AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE ORIGINÁRIAS Decurso do tempo Acessões NATURAIS ARTIFICIAIS DERIVADAS Registro de título Sucessão hereditária AVULSÃO USUCAPIÃO ALUVIÃO ORIGINÁRIAS Para Sílvio Venosa, usucapir é adquirir a propriedade pela posse continuada durante certo lapso de tempo Decurso do tempo NATURAIS ILHAS ÁLVEO ABANDONADO PLANTAÇÕES CONSTRUÇÕES ARTIFICIAIS Acessões NATURAIS ILHAS Interessam ao Direito Civil somente ilhas formadas em rios NÃO NAVEGÁVEIS (particulares), por pertencerem ao domínio particular, conforme prevê o Código de Águas ( Art. 23 do Decreto nº 24.643/34) Art. 20. São bens da União: Constituição Federal IV as ilhas fluviais (rios) e lacustres (lagos) nas zonas de fronteira; asilhas oceânicas e as costeiras, e as referidas no art. 26, II (bens dos Estados); NATURAIS ILHAS Maria Silvia Zanella Di Pietro, doutrinadora do Direito Administrativo, entende que NÃO HÁ MAIS, sob a égide da CF/88 e da Lei nº 9.433/97, ÁGUAS PARTICULARES e, portanto, RIOS PARTICULARES, o que impossibilitaria a concepção de ilhas particulares. A água, nessa visão, é concebida como um BEM DO DOMÍNIO PÚBLICO, conforme Art. 1º, I, da citada lei, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. “ÁGUAS PARTICULARES” Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos seguintes fundamentos: I - a água é um BEM DE DOMÍNIO PÚBLICO; NATURAIS ILHAS Apesar dessa visão do Direito Administrativo, de que a água é um BEM DO DOMÍNIO PÚBLICO, permanece para os civilistas a classificação dos rios em NAVEGÁVEIS (públicos) e NÃO NAVEGÁVEIS (privados). “ÁGUAS PARTICULARES” A despeito das ilhas que se formarem em correntes comuns ou particulares, estas pertencem aos proprietários ribeirinhos fronteiros, segundo as três regras seguintes: 1ª 2ª 3ª NATURAIS ILHAS “ÁGUAS PARTICULARES” 1ª As ilhas que se formarem no meio do rio consideram-se acréscimos sobrevindos aos terrenos ribeirinhos fronteiros de ambas as margens, na proporção de suas testadas, até a linha que dividir o álveo em duas partes iguais. No caso acima a ilha foi formada bem no meio do rio, no traço que representa o meio da formação de água ou álveo. Assim, a propriedade da ilha será metade do Proprietário X e metade do Proprietário Y. Art. 1.249, inciso I, do CC NATURAIS ILHAS “ÁGUAS PARTICULARES” 2ª As ilhas que se formarem entre a linha que divide o álveo em duas partes iguais e uma das margens consideram-se acréscimos aos terrenos ribeirinhos fronteiros desse mesmo lado Aqui, se a ilha se formar do lado esquerdo do meridiano, será de propriedade de X e, se se formar do lado direito, será de Y. Art. 1.249, inciso II, do CC NATURAIS ILHAS “ÁGUAS PARTICULARES” 3ª As ilhas que se formarem pelo desdobramento de um novo braço do rio continuam a pertencer aos proprietários dos terrenos à custa dos quais se constituíram Art. 1.249, inciso III, do CC Já a ilha que se formar pelo desdobramento de um novo braço do rio continua a pertencer ao proprietário do terreno à custa do qual se constituiu. No caso do desenho acima, será do Proprietário Y. ALUVIÃO NATURAIS O acréscimo paulatino de terras às margens de um curso de água, de forma lenta e imperceptível; os depósitos naturais ou desvios das águas pertencem aos donos dos terrenos marginais, segundo a regra de que o acessório segue o principal. O instituto é a ALUVIÃO PRÓPRIA, em que a “terra vem”. No exemplo acima, o Proprietário A tem um imóvel à beira de um rio, destinado às suas pescarias. Aos poucos, a sua propriedade vai aumentando, pois o movimento de águas traz terra para a sua margem. Eis um exemplo de aquisição originária da propriedade. ALUVIÃO NATURAIS As partes descobertas pelo afastamento das águas de um curso, denominadas ALUVIÃO IMPRÓPRIA, hipótese em que a “água vai”, o rio vai embora. Aqui, o Proprietário A percebe que adquiriu propriedade, pois o rio que fazia frente ao seu imóvel recuou. Surge, então, um espaço maior para construir, por exemplo, um deck destinado as suas pescarias. ALUVIÃO NATURAIS Quando a ALUVIÃO IMPRÓPRIA, hipótese em que a “água vai”, o rio vai embora, se formar em frente a imóveis pertencentes a proprietários diversos, far-se-á divisão entre eles, em proporção à testada que cada um dos imóveis apresentava sore a antiga margem. Há de se dividir, portanto, entre os Proprietários A e B, na proporção das testadas dos imóveis de cada um. AVULSÃO NATURAIS Segundo estabelece o Art. 1.251, caput, do CC, quando, por força natural violenta, uma porção de terra se destacar de um imóvel e se juntar a outro, o dono deste último adquirirá a propriedade do acréscimo, se indenizar o dono do primeiro ou, sem indenização, se, em um ano, ninguém houver reclamado. No exemplo acima, verifica-se que o Proprietário A ganhou propriedade, enquanto B perdeu parte de sua faixa de terra ribeirinha. B poderá pleitear valores indenizatórios, no prazo de 1 ano. ÁLVEO ABANDONADO NATURAIS ÁLVEO: o rio ou a corrente de água que seca, que desaparece Como determina o Art. 1.252 do CC, o álveo abandonado pertence aos proprietários ribeirinhos das duas margens, sem que tenham indenização os donos dos terrenos por onde as águas abrirem novo curso, entendendo-se que os imóveis marginais se estendem até o meio do álveo. No exemplo, a distribuição deve ser igual entre os Proprietários A e B, uma vez que a distância de suas margens ao centro do rio é a mesma. ARTIFICIAIS PLANTAÇÕES CONSTRUÇÕES Decorrem da atuação humana (Artigos 1.253 a 1.259 do CC) Exemplo: Ponte sobre córrego Exemplo: Cana de açúcar CONSTRUÇÕES e PLANTAÇÕES Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que se prove o contrário (presunção relativa). Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. As construções e plantações têm natureza acessória, uma vez que constituem bens imóveis por acessão física artificial, nos termos do Art. 79 do CC, segundo o qual: PRINCÍPIO DA GRAVITAÇÃO JURÍDICA Refere-se simplesmente à lógica de que O ACESSÓRIO DEVE SEGUIR, EM REGRA, O PRINCIPAL. Em questão de concurso para juiz do Tribunal de Justiça do Amazonas, a banca da Cespe (http://www.cespe.unb.br/concursos/TJ_AM_15_JUIZ/) trouxe como correta a seguinte assertiva: “Pelo PRINCÍPIO DA GRAVITAÇÃO JURÍDICA, a propriedade dos bens acessórios segue a sorte do bem principal, podendo, entretanto, haver disposição em contrário pela vontade da lei ou das partes”. DA VEDAÇÃO AO ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA Art. 884. Aquele que, sem justa causa, se enriquecer à custa de outrem, será obrigado a restituir o indevidamente auferido, feita a atualização dos valores monetários. Parágrafo único. Se o enriquecimento tiver por objeto coisa determinada, quem a recebeu é obrigado a restituí-la, e, se a coisa não mais subsistir, a restituição se fará pelo valor do bem na época em que foi exigido. Art. 886. Não caberá a restituição por enriquecimento, se a lei conferir ao lesado outros meios para se ressarcir do prejuízo sofrido. 1ª REGRA. Aquele que semeia, planta ou edifica em TERRENO PRÓPRIO com sementes, plantas ou materiais alheios, adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu de má- fé. TERRENO PRÓPRIO SEMENTES, PLANTAS OU MATERIAIS ALHEIOS ADQUIRE A PROPRIEDADE DESTES Mas fica obrigado a pagar-lhes o valor Além de responder por perdas e danos, se agiu de má-fé. Exemplo da 1ª REGRA: alguém está guardando, por ato de amizade, cimento de outro em sua propriedade. Certo dia, se utiliza do cimento e constrói um galpão ali. Aquele que se utilizou do cimento terá a propriedade do que foi construído, mas por óbvio terá que pagar ao outro o cimento; sem prejuízo de danos, pois claramente agiu de má-fé, por saber perfeitamente que o cimento não era seu. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. 2ª REGRA. Aquele que semeia, planta ou edifica em TERRENO ALHEIO perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas ou construções. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo Se procedeu de boa-fé: terá direito a indenização Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terádireito a indenização. Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se não houver acordo. Do artigo 1.255, e do seu parágrafo único, podem ser retiradas duas situações: 1ª (MÁ-FÉ). Alguém está ocupando a casa de um parente que se encontra viajando para o exterior por um ano. Aproveitando a ausência do familiar, esse alguém constrói, com material próprio, uma piscina no fundo da casa. O ocupante não terá qualquer direito, pois agiu de má-fé, eis que sabia que a propriedade não seria sua. 2ª (BOA-FÉ). Se realizada alguma construção ou mesmo eventual plantação em valor superior ao do imóvel, aquele que construiu ou plantou adquirirá a propriedade do imóvel, tendo apenas que pagar uma indenização a ser fixada judicialmente, se não houver acordo entre as partes. Nesta segunda hipótese, considera-se a construção ou a plantação como principal e o imóvel como acessório, em uma consagração do que se denomina como ACESSÃO INVERSA OU INVERTIDA, de acordo, inclusive, com o Princípio da Função Social da Propriedade. 3ª REGRA. Se de ambas as partes houver má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões. Presume-se má-fé do proprietário quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua. Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões. Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua. A título de exemplo, imagine-se a situação em que o proprietário de um imóvel permite que alguém construa, com material próprio, pensando esse alguém que poderá adquirir o domínio do bem principal. Nesse caso, há má-fé recíproca ou bilateral, pois ambos pretendem o enriquecimento sem causa. A conclusão é que o proprietário ficará com o que foi construído, mas deverá indenizar quem construiu pelos valores gastos com a construção. Em complemento... Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de NÃO PERTENCEREM AS SEMENTES, PLANTAS ou MATERIAIS A QUEM DE BOA-FÉ OS EMPREGOU EM SOLO ALHEIO. Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor. De acordo com o caput do Art. 1.257, as sementes, plantas ou materiais, além de aplicados em solo alheio, não pertencem a quem ali os empregou. Já no parágrafo único, quando não for indenizado pelo plantador, o proprietário das sementes poderá cobrar do proprietário do solo a indenização devida Plantador Proprietário das sementes Proprietário do solo 4ª REGRA. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à 20ª parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente (texto do Art. 1.258, caput) Tartuce traz o exemplo de alguém que constrói em sua propriedade uma churrasqueira com cobertura que invade o terreno alheio em percentual não superior a 5% deste (um vigésimo ou 1/20 avos). Se a construção foi de boa-fé, ou seja, se o construtor não sabe da invasão, poderá adquirir a parte invadida, desde que a construção exceda o que se invadiu. Todavia, o construtor deverá indenizar o vizinho pela área perdida e por eventual desvalorização do imóvel restante. 5ª REGRA. Está na previsão do parágrafo único do Art. 1.258. Prevê a indenização quando ocorre a construção em pequena parte do terreno vizinho, sendo maior a indenização na hipótese de má-fé. O dispositivo pretende resolver os conflitos surgidos nos grandes centros urbanos onde, não raro, é frequente a invasão de pequena parte do terreno vizinho pelo construtor. FERE O BOM SENSO MANDAR DERRUBAR TODA UMA CONSTRUÇÃO, ÀS VEZES ENVOLVENDO UM PRÉDIO DE ATÉ VINTE ANDARES, ATINGINDO ADQUIRENTES DE BOA-FÉ. Art. 1.258. Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção. 6ª REGRA. Art. 1.259. Invasão SUPERIOR a 5% Em uma primeira situação, se a invasão superior a um vigésimo for de boa-fé, o construtor invasor adquire a propriedade do que foi invadido, mas responde por perdas e danos correspondentes ao valor que a invasão acrescer à sua construção, ao valor da área perdida e ao correspondente à desvalorização da área remanescente. Todos esses danos materiais devem ser provados por quem os alega, nos termos do Art. 402 do CC e do Art. 373, I, do CPC. Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro. Em complemento... Em uma primeira situação, se a invasão superior a um vigésimo for de boa-fé, o construtor invasor adquire a propriedade do que foi invadido, mas responde por perdas e danos correspondentes ao valor que a invasão acrescer à sua construção, ao valor da área perdida e ao correspondente à desvalorização da área remanescente. TODOS ESSES DANOS MATERIAIS DEVEM SER PROVADOS POR QUEM OS ALEGA, nos termos do Art. 402 do CC e do Art. 373, I, do CPC. O dispositivo (Art. 1.259) determina que, se a invasão superior a um vigésimo ou 5% tiver sido de má-fé, o proprietário do imóvel invadido poderá requerer a sua demolição, sendo cabível, do ponto de vista processual, a ação demolitória. Além disso, poderá pedir as perdas e danos em dobro. Consagra-se, neste dispositivo, o CARÁTER PUNITIVO DA RESPONSABILIDADE CIVIL. USUCAPIÃO Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 m² cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex- companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Art. 1.240-A É o modo de aquisição da propriedade pelo possuidor da coisa móvel, possuindo-a como sua, durante 3 anos, com JUSTO TÍTULO e BOA-FÉ, contínua e incontestadamente (Art. 1.260 do CC). USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS E se essa posse se prolongar por 5 anos, também haverá aquisição por usucapião, independentemente de título ou boa-fé (art. 1.261 do mesmo Código). O JUSTO TÍTULO é um documento que faça o possuidor acreditar que é dono e a BOA-FÉ é o seu estado de espírito de sentir-se proprietário. No primeiro caso, trata-se de USUCAPIÃO ORDINÁRIA de bem móvel; no segundo caso, a usucapião será EXTRAORDINÁRIA de coisa móvel. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS USUCAPIÃO ORDINÁRIA ● Posse mansa, pacífica e com intenção de dono (animus domini) por 3 (TRÊS) ANOS. ● Justo título e boa-fé. Para caracterização do que seja justo título, aplica-se o enunciado nº 86 do CJF/STJ, segundo o qual a expressão justo título, contida nos artigos 1.242 e 1.260 do CC, abrange todo e qualquer ato jurídico hábil, em tese, a transferir a propriedade, independentemente de registro. USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA ● Posse mansa, pacífica e com intenção de dono (animusdomini) por 5 (CINCO) ANOS. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS ESPECIFICAÇÃO (Arts. 1.269 a 1.271) Consiste na transformação da coisa em uma espécie nova, diante do trabalho do especificador, não sendo mais possível o retorno à forma anterior. (Art. 1.269) Art. 1.269. Aquele que, trabalhando em matéria-prima em parte alheia, obtiver espécie nova, desta será proprietário, se não se puder restituir à forma anterior. É uma operação jurídica, espécie de ato jurídico lícito (Art. 185), diferente do negócio jurídico. É um modo de adquirir, diferente da acessão, porque não se trata, como é o caso da acessão, de atribuir ao proprietário da coisa principal aquilo que lhe advenha como acessório. Na especificação, A AQUISIÇÃO SE DÁ PORQUE SE COGITA DA MANIPULAÇÃO DE MATÉRIA-PRIMA QUE, DEPOIS DE TRABALHADA, JÁ NÃO PODE RETORNAR AO ESTADO ANTERIOR e, por isso, faz desaparecer a coisa que, como no caso desse artigo, era parcialmente alheia e faz surgir outra, fruto do trabalho criador da espécie nova. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS ESPECIFICAÇÃO (Arts. 1.269 a 1.271) Regras de especificação: 1ª REGRA: A ESPÉCIE NOVA SURGIDA SERÁ DE PROPRIEDADE DO ESPECIFICADOR, SE NÃO FOR POSSÍVEL RETORNAR À SITUAÇÃO ANTERIOR. (Art. 1.269). Regra geral e fundamental da especificação. A norma se justifica, pois há uma alteração substancial da coisa, o que faz com que, por uma reação física, surja outra. O TRABALHO DE ALTERAÇÃO É CONSIDERADO PRINCIPAL, enquanto A MATÉRIA-PRIMA É ACESSÓRIA, razão pela qual A ATUAÇÃO DO ESPECIFICADOR DEVE PREVALECER. De qualquer maneira, pelo que consta no Art. 1.271, o especificador deve indenizar o valor da matéria-prima ao seu dono. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS ESPECIFICAÇÃO (Arts. 1.269 a 1.271) Regras de especificação: 2ª REGRA: SE TODA MATÉRIA-PRIMA FOR ALHEIA e não se puder reduzir à forma precedente, SERÁ DO ESPECIFICADOR DE BOA-FÉ A ESPÉCIE NOVA (Art. 1.270). EXEMPLO: ESCULTOR ENCONTRA PEDRA SABÃO E REALIZA UMA ESCULTURA. Após elaborar o trabalho, o escultor (especificador) vem a descobrir que a pedra é de terceiro. Nesse caso, A ESCULTURA SERÁ SUA, POIS AGIU DE BOA-FÉ. Entretanto, o escultor deverá indenizar o dono da pedra pelo seu valor, o que veda o enriquecimento sem causa, em relação à matéria-prima. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS ESPECIFICAÇÃO (Arts. 1.269 a 1.271) Regras de especificação: 3ª REGRA: Sendo possível a redução ao estado anterior, ou quando impraticável, se A ESPÉCIE NOVA SE OBTEVE DE MÁ-FÉ, PERTENCERÁ AO DONO DA MATÉRIA-PRIMA (Art. 1.270, § 1º, do CC). Como a má-fé induz à culpa, não poderá o especificador que age por ela guiado adquirir a propriedade do produto da transformação. Desse modo, o dono da coisa nova será o proprietário da matéria-prima. Para o caso em que é impraticável a volta ao estado anterior, prevê o Art. 1.271 que O ESPECIFICADOR DE MÁ-FÉ NÃO TERÁ DIREITO SEQUER À INDENIZAÇÃO PELO TRABALHO. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS ESPECIFICAÇÃO (Arts. 1.269 a 1.271) Regras de especificação: 4ª REGRA: EM QUALQUER CASO, inclusive no da pintura em relação à tela, da escultura, escritura e qualquer outro trabalho gráfico em relação à matéria-prima, A ESPÉCIE NOVA SERÁ DO ESPECIFICADOR, SE O SEU VALOR EXCEDER CONSIDERAVELMENTE O DA MATÉRIA-PRIMA (Art. 1.270, § 2º, do CC). Esse excesso considerável deve ser analisado caso a caso, levando-se em conta o valor de mercado da matéria-prima (que também pode ser relevante) e a gravidade do trabalho efetuado. Também aqui, pelo que consta no Art. 1.271, o especificador que adquire a coisa nova deve indenizar o dono da matéria-prima pelo seu valor. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS DA CONFUSÃO, DA COMISTÃO (ou COMISSÃO) e DA ADJUNÇÃO (Arts. 1.272 a 1.274) Os três institutos jurídicos por igual constituem formas derivadas de aquisição da propriedade móvel e estão presentes quando coisas pertencentes a pessoas diversas se misturam de tal forma que é impossível separá-las. CONFUSÃO Mistura entre coisas líquidas (ou mesmo gases), em que não é possível a separação. Exemplo: ÁLCOOL E GASOLINA. As espécies confundidas podem ser iguais ou não USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS COMISTÃO ou COMISSÃO Mistura entre coisas sólidas ou secas, não sendo possível a separação. Exemplo: AREIA E CIMENTO. Serve também de exemplo a mistura de cereais de safras diferentes, em que não é possível identificar a origem. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS ADJUNÇÃO Justaposição ou sobreposição de uma coisa sobre outra, sendo impossível a separação. Exemplo: TINTA EM RELAÇÃO À PAREDE. Quanto à CONFUSÃO, COMISTÃO (ou COMISSÃO) e ADJUNÇÃO, 4 REGRAS são extraídas dos artigos 1.272 a 1.274 do CC, vide slides seguintes. USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS 1ª REGRA: As COISAS PERTENCENTES A DIVERSOS DONOS, confundidas, misturadas ou adjuntadas sem o consentimento deles, continuam a pertencer-lhes, SENDO POSSÍVEL SEPARÁ-LAS SEM DETERIORAÇÃO. (Art. 1.272, caput, do CC) 2ª REGRA: NÃO SENDO POSSÍVEL A SEPARAÇÃO DAS COISAS, ou exigindo DISPÊNDIO EXCESSIVO, permanece o estado de indivisão, cabendo a cada um dos donos quinhão proporcional ao valor da coisa com que entrou para a mistura ou agregado. (Art. 1.272, § 1º, do CC) Sendo possível retornar ao estado anterior (status quo ante), sem que isso desvalorize as coisas misturadas, esse é o caminho a ser percorrido. Cada um dos proprietários dos bens móveis terá direito ao valor que corresponder ao seu quinhão. COMO NÃO É POSSÍVEL DETERMINAR O QUINHÃO REAL, PROCURA-SE UM QUINHÃO IDEAL. Ainda quanto à 2ª REGRA: Se uma das coisas puder ser considerada principal, o dono desse principal o será do todo, indenizando os demais pelos valores que corresponderem aos seus quinhões (Art. 1.272, § 2º, do CC) Exemplo: Havendo mistura de areia e cimento e sendo impossível o retorno ao estado anterior, o dono da parte mais valiosa, no caso, do cimento, considerado principal, ficará com o todo, devendo indenizar o dono do acessório, no caso, o dono da areia. Aplicação inequívoca do PRINCÍPIO DA GRAVITAÇÃO JURÍDICA 3ª REGRA: Se a CONFUSÃO, a COMISTÃO (ou COMISSÃO) ou a ADJUNÇÃO se operou de má-fé, À OUTRA PARTE QUE ESTIVER DE BOA-FÉ CABERÁ ESCOLHER ENTRE: ● Adquirir a propriedade do todo, pagando o que não for seu, abatida a indenização que lhe for devida; ● Renunciar ao que lhe pertencer, caso em que será indenizado de forma integral (Art. 1.273 do CC 2002); OU A norma tem a sua razão de ser, punindo o proprietário que agiu de má-fé no ato de misturar, o que induz à sua culpa. Por isso é que são colocadas à disposição do proprietário de boa-fé DUAS OPÇÕES, de acordo com a sua livre vontade. 4ª REGRA: Se da união de matérias de natureza diversa se formar espécie nova, à CONFUSÃO, COMISTÃO (ou COMISSÃO) ou ADJUNÇÃO, aplicam-se as normas dos artigos 1.272 e 1.273, conforme prevê o Art. 1.274 do CC. Para Flávio Tartuce, como o caso se iguala à ESPECIFICAÇÃO, houve um erro no Código Civil ao mencionar os artigos 1.272 e 1.273. Para o autor, em razão de tal igualação, HÁ DE SE APLICAR OS TERMOS DOS ARTIGOS 1.270 E 1.271. Dando seguimento, ainda quanto à USUCAPIÃO DE COISAS MÓVEIS DA TRADIÇÃO (Art. 1.267, caput) A TRADIÇÃO pode ser: ● REAL: se dá pela entrega efetiva ou material da coisa; ● SIMBÓLICA: ato representativo da transferência da coisa, colocada à disposição da outra parte. ● FICTA: se dá por presunção, como ocorre na tradição em que o possuidor possuía em nome alheio e passa a possuir em nome próprio (traditio brevi manu) ou, de modo inverso, quando possuía em nome próprio e passa a possuir em nome alheio (constituto possessório); (ver Art. 1.267 do CC) Constituto possessório, também conhecido como cláusula constituti, trata-se de uma operação jurídica que altera a titularidade na posse, de maneira que aquele que possuía em nome próprio, passa a possuir em nome alheio. Ex.: vendo um imóvel que possuía em nome próprio e insiro no contrato de compra e venda uma cláusula que prevê minha permanência nele na condição de locatário, ouseja, passo a possuir o imóvel em nome alheio. Essa cláusula é a constituti. O inverso do constituto possessório ocorre quando a pessoa que possuí em nome alheio passa a possuir em nome próprio. Ex.: o locatário que possui o imóvel em nome alheio o adquire e passa a possuí-lo em nome próprio, neste caso a cláusula será da traditio brevi manu. Ainda em tradição, tem-se a ALIENAÇÃO A NON DOMINO (Art. 1.268) ALIENAÇÃO A NON DOMINO: aquela realizada por quem não é dono da coisa móvel, situação em que a tradição não aliena a propriedade, exceto se a coisa, oferecida ao público, em leilão ou estabelecimento comercial, for transferida em circunstâncias tais que, ao adquirente de boa-fé, como a qualquer pessoa, o alienante se afigurar dono. De início, o disposto no Art. 1.268 deixa claro que o caso é de INEFICÁCIA DA VENDA, atingindo o terceiro degrau da ESCADA PONTEANA. EXISTÊNCIA VALIDADE EFICÁCIA Para que um negócio gere efeitos, é preciso que exista e que seja válido Para que seja válido, é preciso que exista Há casos em que é possível um negócio inválido gerar efeitos, quando, embora haja vício do consentimento, não se propõe a ação anulatória. A TRADIÇÃO, no esquema do slide anterior, na “escada Ponteana”, situa-se, em regra, no PLANO DA EFICÁCIA. A título de ilustração, em casos envolvendo compra e venda de bens móveis e imóveis, a TRADIÇÃO e o REGISTRO estão no último degrau desses atos, respectivamente. Entretanto, em casos envolvendo CONTRATOS REAIS, como ocorre no comodato, no mútuo, no depósito e no contrato estimatório, a TRADIÇÃO situa-se no PLANO DA VALIDADE, pois tais contratos somente têm aperfeiçoamento com a entrega da coisa. Havendo um problema no segundo degrau da Escada Ponteana (problema de validade do título), não há como se chegar ao terceiro degrau (eficácia, tradição). Sendo nulo o contrato, também será nula a tradição. DA SUCESSÃO HEREDITÁRIA (Art. 1.784) Conforme Art. 1.784 do CC, o direito sucessório também pode gerar a aquisição derivada da propriedade móvel, seja a sucessão legítima ou testamentária. Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários. DA PERDA DA PROPRIEDADE MÓVEL (Art. 1.275) ● ALIENAÇÃO: transmissão do direito de propriedade de um patrimônio a outro, como ocorre nos casos de COMPRA e VENDA, de TROCA ou PERMUTA e no de DOAÇÃO. Não é demais frisar que, em se tratando de bens móveis, para a aquisição da propriedade, exige‐se a TRADIÇÃO (Art. 1.267). ● RENÚNCIA: ato unilateral pelo qual o proprietário declara, de forma expressa, a sua vontade de abrir mão do seu direito sobre a coisa. Atenção: não confundir renúncia com remissão, que é ato bilateral consubstanciado no perdão de uma dívida. ● ABANDONO: o proprietário deixa a coisa com a intenção de não mais tê‐la consigo. Surgindo a coisa abandonada, qualquer pessoa pode adquiri‐la, seja por meio da ocupação, seja por intermédio da usucapião, ambas formas de aquisição originária da propriedade. ● PERECIMENTO: perda do objeto, como no caso em que uma pessoa que está em um navio deixa cair uma joia em alto‐mar. USUCAPIÃO DE BENS IMÓVEIS USUCAPIÃO A expressão vem do latim USUCAPIO (tomar/adquirir pelo uso) Aquisição do domínio, ou mesmo de outro direito real (usufruto ou servidão), pela posse prolongada, por permitir a lei que essa DETERMINADA SITUAÇÃO DE FATO, alongada por certo intervalo de tempo, se transforme em: AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA DA PROPRIEDADE. Essa DETERMINADA SITUAÇÃO DE FATO ALONGADA nada mais é do que a POSSE AD USUCAPIONEM OU USUCAPÍVEL. Art. 1.208. Não induzem posse os ATOS DE MERA PERMISSÃO ou TOLERÂNCIA assim como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandestinidade. Importante lembrar: Conforme Art. 1.208 do CC, EM SEDE DE PRINCÍPIO não é possível alegar usucapião na vigência de um contrato em que a posse é transmitida, por exemplo, como na locação e no comodato. * POLÊMICA surge quanto aos atos de mera permissão e tolerância em relação, por exemplo, ao BEM EM CONDOMÍNIO, particularmente nos casos envolvendo herdeiros Recurso Especial 1631859 Posse exclusiva Maria Helena Diniz sintetiza a referida polêmica a respeito da possibilidade de usucapião no condomínio: Para que se torne possível a um condômino usucapir contra os demais, NECESSÁRIO SERIA DE SUA PARTE UM COMPORTAMENTO DE PROPRIETÁRIO EXCLUSIVO, ou a INVERSÃO DA SUA POSSE, abrangendo o todo e não apenas uma parte. O condômino para pretender a usucapião deverá TER SOBRE O TODO POSSE EXCLUSIVA, de maneira a cessar o estado de comunhão. POSSE EXCLUSIVA Mediante aplicação do PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA, particularmente a SUPRESSIO, que é a perda de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exercício no tempo, o julgado (Resp 214680) possibilitou, de forma indireta, a usucapião de uma área comum em um condomínio edilício – parte do corredor que dava acesso a alguns apartamentos. Art. 1.208. MERA PERMISSÃO ou TOLERÂNCIA de uso por parte dos condôminos, não haveria que se falar em usucapião. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS da posse ad usucapionem ou usucapível ● POSSE COM A INTENÇÃO DE DONO (animus domini) A intenção do usucapiente de SE TRANSFORMAR EM DONO DA COISA. Neste particular, é fundamental tomar conhecimento e destacar‐se a possibilidade de ALTERAÇÃO NA CAUSA DA POSSE (interversio possessionis), por meio da qual se admite a usucapião em casos excepcionais, como na hipótese em que um LOCATÁRIO permanece no imóvel por cerca de trinta anos, não pagando os alugueis por cerca de vinte anos, tendo o locador desaparecido. No julgamento do REsp 154733, o STJ, mediante relatoria do Ministro Cesar Asfor Rocha, decidiu que: “NADA IMPEDE QUE O CARÁTER ORIGINÁRIO DA POSSE SE MODIFIQUE, motivo pelo qual o fato de ter havido no início da posse da autora um vínculo locatício, não é embaraço ao reconhecimento de que, a partir de um determinado momento, essa mudou de natureza e assumiu a feição de posse em nome próprio, sem subordinação ao antigo dono e, por isso mesmo, com força ad usucapionem. ● POSSE MANSA E PACÍFICA É aquela exercida sem qualquer manifestação em contrário de quem tenha legítimo interesse, ou seja, sem a oposição do proprietário do bem. Pois, se em algum momento houver contestação dessa posse pelo proprietário, desaparece o requisito da mansidão e, assim, a posse ad usucapionem. ● POSSE CONTÍNUA E DURADORA Somente possibilita a usucapião a posse sem intervalos, ou seja, sem interrupção. O Art. 1.243 do CC, contudo, admite a soma de posses sucessivas. Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé. De acordo com o enunciado 497 da V Jornada de Direito Civil, e o disposto no Art. 493 do CPC, “o prazo, na ação de usucapião, pode ser completado no curso do processo, ressalvadas as hipóteses de má‐fé processual do autor”. ● POSSE JUSTA A posse usucapível deve se apresentar sem violência, clandestinidade ou precariedade. Se a situação fática for adquirida por meio de atos violentos ou clandestinos, não induzirá posse para os fins de usucapião, enquanto não cessar a violência ou a clandestinidade. ● POSSE DE BOA‐FÉ E COM JUSTO TÍTULO Para a usucapião ORDINÁRIA, seja de bem móvel ou imóvel, a lei exige a boa-fé e o justo título (Arts. 1.242 e 1.260). A noção de justo título está intimamente ligada à boa-fé. O justo título exterioriza-se e ganha solidez na boa-fé. Aquele que sabe possuir de forma violenta, clandestina ou precária não tem justo título. Documento que faz crer a todos transferir a propriedade é justo título. Cabe ao impugnante provar a existência de má-fé, porque (a) boa-fé se presume. Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidorignora o vício, ou o obstáculo que impede a aquisição da coisa. Parágrafo único. O possuidor com JUSTO TÍTULO tem por si a PRESUNÇÃO DE BOA- FÉ, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta presunção. USUCAPIÃO ORDINÁRIA (Art. 1.242 e parágrafo único) Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com JUSTO TÍTULO e BOA-FÉ, o possuir por DEZ ANOS. Parágrafo único. Será de CINCO ANOS o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou REALIZADO INVESTIMENTOS DE INTERESSE SOCIAL E ECONÔMICO. DUAS MODALIDADES de USUCAPIÃO ORDINÁRIA 1) REGULAR ou COMUM (Art. 1.242, caput) ▪ POSSE MANSA, PACÍFICA e ININTERRUPTA com animus domini por 10 ANOS; ▪ JUSTO TÍTULO (todo e qualquer ato jurídico hábil, em tese, a transferir a propriedade, independentemente de registro); ▪ Boa-fé (Art. 1.201); 2) POR POSSE-TRABALHO (Art. 1.242, parágrafo único) Posse qualificada pelo cumprimento de uma função social, em sentido positivo, por 5 ANOS Para Flávio Tartuce: A existência de um DOCUMENTO HÁBIL registrado e cancelado posteriormente, como um compromisso de compra e venda, por exemplo, SERIA DISPENSÁVEL. Bastando apenas, para o citado autor, a POSSE-TRABALHO, que seria o bastante para se presumir a existência da boa-fé (boa-fé objetiva, no plano da conduta) e do justo título. Neste contexto... USUCAPIÃO ORDINÁRIA USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA (Art. 1.238) Art. 1.238. Aquele que, por QUINZE ANOS, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, INDEPENDENTEMENTE DE TÍTULO E BOA-FÉ; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a DEZ ANOS se o possuidor houver ESTABELECIDO NO IMÓVEL A SUA MORADIA HABITUAL, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. DUAS MODALIDADES de USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA ● REGULAR ou COMUM (Art. 1.238, caput) Posse mansa, pacífica e ininterrupta, com animus domini por 15 ANOS; ● POR POSSE-TRABALHO (Art. 1.238, parágrafo único) O prazo cai para 10 ANOS se o possuidor houver estabelecido no imóvel sua MORADIA HABITUAL ou houver realizado OBRAS OU SERVIÇOS DE CARÁTER PRODUTIVO, ou seja, se a função social da posse estiver sendo cumprida pela presença da posse‐trabalho. Percebe-se, nos dois casos, que NÃO HÁ necessidade de se provar a BOA-FÉ e o JUSTO TÍTULO, havendo uma presunção absoluta (iure et de iure) da presença de tais elementos. Art. 1.228. (...) PODERES INERENTES À PROPRIEDADE. § 4o O proprietário também PODE SER PRIVADO DA COISA se o imóvel reivindicado consistir em EXTENSA ÁREA, na posse ininterrupta e de boa-fé, por mais de CINCO ANOS, de CONSIDERÁVEL NÚMERO DE PESSOAS, e estas nela houverem realizado, em conjunto ou separadamente, OBRAS E SERVIÇOS CONSIDERADOS PELO JUIZ DE INTERESSE SOCIAL E ECONÔMICO RELEVANTE. § 5o No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a JUSTA INDENIZAÇÃO DEVIDA AO PROPRIETÁRIO; pago o preço, valerá a sentença como título para o registro do imóvel em nome dos possuidores. A propósito da POSSE-TRABALHO POSSUIDORES PROPRIETÁRIA Ação dominial REIVINDICATÓRIA DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL e INDENIZAÇÃO devida pelos possuidores à proprietária • Desapropriação judicial. Posse-trabalho . A norma cria a DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL, considerada uma inovação “do mais alto alcance, inspirada no sentido social do direito de propriedade, implicando não só novo conceito desta, mas também novo conceito de posse, que se poderia qualificar como sendo de posse-trabalho” (Miguel Reale, Exposição de motivos ao Ministro da Justiça, Diário do Congresso Nacional, Seção I, Suplemento B ao n. 061, 13.6.1975n. 27 c, p. 121). • Constitucionalidade da desapropriação judicial. A norma é constitucional porque resolve a aparente antinomia entre o direito de o proprietário reivindicar a coisa de quem injustamente a possua e a FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE, com a manutenção do bem com aquele que lhe deu função social com a posse-trabalho (Teori Albino Zavascki. A tutela da posse na Constituição e no Projeto do Novo Código Civil [Martins-Costa. Reconstrução, p. 854]). No mesmo sentido, entendendo que a garantia do DIREITO DE PROPRIEDADE não pode estar acima do PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA FUNÇÃO SOCIAL. O que não se pode permitir de maneira alguma é que se deixe de fazer o pagamento da indenização. Esta, a qual deverá consistir numa SOMA CAPAZ DE COBRIR O VALOR DO BEM, tem como finalidade a salvaguarda do justo equilíbrio entre o direito de propriedade e as exigências do interesse geral, e deverá ser calculada com coerência razoável e compatível com a perda experimentada pelo desapropriado. • Desapropriação judicial. Conceito. É o ato pelo qual o juiz, em ação dominial (v.g., reivindicatória) ajuizada pelo proprietário, ACOLHENDO DEFESA DOS RÉUS QUE EXERCEM A POSSE-TRABALHO, fixa na sentença a justa indenização que deve ser paga por eles, réus, ao proprietário, após o que valerá a sentença como título translativo da propriedade, com ingresso no registro de imóveis em nome dos possuidores, que serão os novos proprietários (CC 1228 § 5.º). • Desapropriação judicial. Elementos. Compõem o direito de desapropriação judicial: a) COM RELAÇÃO AO IMÓVEL: propriedade de outrem, área extensa; b) QUANTO À POSSE: ser ininterrupta e de boa-fé por cinco anos; ter sido exercida por número considerável de pessoas; ser caracterizada como posse-trabalho, isto é, exercida por pessoas que realizaram no imóvel, em conjunto ou separadamente, obras e serviços de interesse social ou econômico relevante. ● COM RELAÇÃO AO IMÓVEL: propriedade de outrem e área extensa; ● QUANTO À POSSE: ininterrupta e de boa-fé por cinco anos, exercida por número considerável de pessoas, caracterizada como posse-trabalho, isto é, com a realização, no imóvel, em conjunto ou separadamente entre as pessoas que o possuem, obras e serviços de interesse social ou econômico relevante. REPITA-SE E DESTAQUE-SE: A CF garante a todos que a propriedade exerça função social e o Art. 1.228, parágrafos 4º e 5º, diz, na hipótese que menciona, que A DESAPROPRIAÇÃO JUDICIAL É MANIFESTAÇÃO DA FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE. Norma de ordem pública (Art. 2.035, parágrafo único, do CC), tem aplicação imediata. USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL (Art. 191 da CF e Art. 1.239 do CC) Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por CINCO ANOS ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os IMÓVEIS PÚBLICOS NÃO SERÃO ADQUIRIDOS POR USUCAPIÃO. 1 hectare = 10.000 m² Também conhecida como USUCAPIÃO AGRÁRIA ou ESPECIAL RURAL Requisitos para a USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL, AGRÁRIA ou ESPECIAL RURAL ● Área não superior a 50 hectares (50 ha), localizada na zona rural. 50 hectares = 500.000 m² ● Posse de 5 ANOS ininterruptos, sem oposição e com ANIMUS DOMINI. Animus domini: uma vontade exercida sobre a coisa, elemento anímico, a intenção de tê‐la para si, como proprietário. ● Utilização do imóvel para subsistência ou trabalho, que pode ser na agricultura, na pecuária, no extrativismo ou em atividade similar. O fator essencial é que a pessoa ou família esteja tornando produtiva a terra, por força de seu trabalho. ● Não ser proprietário de outro imóvel, seja ele rural ou urbano. NÃO HÁ, na usucapião constitucional, qualquer previsão quanto ao JUSTO TÍTULO e à BOA-FÉ, pois tais elementos se presumem de forma absoluta pela destinação que se dá ao imóvel, com o atendimento à sua função social. USUCAPIÃO
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