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Processo Civil I Apostila (Aulas 1 – 7) OBS: Esta apostila não substitui o caderno, livro didático e outras fontes de estudo. 1. Competência Internacional Osarts. 21 a 25 do CPC tratam dos “limites da jurisdição nacional”: competência internacional e litispendência internacional. Competência internacional:hipóteses em que o Judiciáriobrasileiro está autorizado a exercer função jurisdicional, sendo, portanto, legítima a instauração,no Brasil, do processo judicial. Os casos em que o Estado brasileiro exerce jurisdição estão enumerados nos arts. 21 a 23 doCPC. a) Competência internacional concorrente(arts. 21 e 22 CPC): o processo judicial pode instaurar-se perante o Judiciáriobrasileiro, mas não impede que se instaure perante órgãojurisdicional estrangeiro. Ocorrendo este último, a sentença estrangeira poderá produzir efeitos noBrasil (dependendo, se for o caso, para que isto ocorra, apenas de homologação). b) Competência internacional exclusiva (Art. 23 CPC):o processo judicial só podeinstaurar-se perante órgão jurisdicional brasileiro, e eventual sentença estrangeira não poderáproduzir efeitos no Brasil, devendo-se inclusive negar homologação a eventual provimentooriundo de Estado estrangeiro que se pretenda ver reconhecido no Brasil (art. 964 CPC). 1.2 Cooperação Internacional É cada vez mais frequente haver necessidade de que órgãos jurisdicionais (ou nãojurisdicionais, como o Ministério Público) de Estados soberanos distintos cooperem entre si. Um exemplo comum é a necessidade de colheita de provas em outro país. Se utiliza, para esta finalidade, essencialmente os tratados internacionais, na ausência de um tratado, acooperação se fará com base em reciprocidade manifestada por via diplomática (art. 26, § 1º CPC),salvo para homologação de sentença estrangeira, para a qual o Direito brasileiro dispensa aexigência de reciprocidade (art. 26, § 2º CPC). A cooperação judiciária internacional deve observar o respeito às garantias do devido processo legal no Estado requerente (art. 26, I); a igualdade de tratamento entre nacionais e estrangeiros, residentes ou não no Brasil, em relação ao acesso à justiça e à tramitação dosprocessos, assegurando-se assistência jurídica aos necessitados (art. 26, II); a publicidade processual, exceto nas hipóteses de sigilo previstas na legislação brasileira ou na do Estadorequerente (art. 26, III); a existência de autoridade central para recepção e transmissão dos pedidos de cooperação (art. 26, IV), que será – na falta de designação específica no tratado – o Ministério da Justiça (art. 26, § 4o); a espontaneidade na transmissão de informações aautoridades estrangeiras (art. 26, V). Na cooperação judiciária internacional não se admite a prática de atos que contrariem ouproduzam resultados incompatíveis com as normas fundamentais que regem o Estado brasileiro(art. 26, § 3o), como seria, por exemplo, a colheita de meios de prova que, para o Direitobrasileiro, sejam ilícitas (ainda que tidas como lícitas no Estado requerente). Os meios de cooperação judiciária mais importantes são o auxílio direto (arts. 28 a 34); acarta rogatória (arts. 35 e 36) e a homologação de decisão estrangeira (arts. 960 a 965). Cabe o auxílio direto quando a medida não decorrer diretamente de decisão de autoridadejurisdicional estrangeira a ser submetida a juízo de delibação (homologação de decisãoestrangeira ou concessão de exequatur a carta rogatória) no Brasil.O pedido de auxílio direto será encaminhado pelo órgão estrangeiro interessado àautoridade central brasileira, na forma estabelecida no tratado, cabendo ao Estado requerenteassegurar a autenticidade e a clareza do pedido (art. 29). Admite-se o pedido de auxílio direto, além dos casos previstos nos tratados internacionaisde que o Brasil seja parte, para os seguintes fins: obtenção e prestação de informações sobre oordenamento jurídico e sobre processos administrativos ou jurisdicionais findos ou em curso(art. 30, I); colheita de provas, salvo se a medida for adotada em processo, em curso noestrangeiro, de competência exclusiva de autoridade judiciária brasileira (art. 30, II); ouqualquer outra medida judicial ou extrajudicial não proibida pela lei brasileira (art. 30, III). A carta rogatória é o instrumento por meio do qual um juízo estrangeiro solicitaa realização de alguma diligência processual em juízo não nacional. Trata-sede umdocumento oficial que serve de veículo para um pedido de cooperação. Por meio dacarta rogatória a autoridade judicial (e somente ela) solicita ao Estado requerido queexecute ato jurisdicional já proferido, de modo que não cabe àquele outro Estadoexercer qualquer cognição de mérito sobre a questão processual. O art. 109, X, da Constituição determina que a competência para a execução decarta rogatória é de juiz federal, após a concessão de exequatur por parte do STJ(art. 105, “i”, da CF/1988). Exequatur nada mais é do que uma autorização préviaconcedida pelo STJ para que as diligências eventualmente requisitadas pelaautoridade estrangeira possam ser executadas no Brasil. O art. 36 do CPC/2015 descreve que o procedimento da carta rogatória peranteo Superior Tribunal de Justiça é de jurisdição contenciosa, devendo ser asseguradaàs partes as garantias do devido processo legal. Como neste mecanismo decooperação internacional é realizado apenas um juízo de delibação – juízo sumário esuperficial, sem entrar no mérito da decisão ou despacho oriundo da justiçaestrangeira –, a defesa é restrita à discussão acerca do cumprimento (ou não) dosrequisitos exigidos para que a decisão estrangeira produza seus efeitos no Brasil(art. 36, § 1º). O órgão jurisdicional brasileiro não detém, portanto, competênciapara julgar ou modificar a decisão de mérito proferida pela autoridade estrangeira(art. 36, § 2º). O art. 40 CPC estabelece que a execução de sentençaestrangeira dar-se-ápor meio de carta rogatória ou de ação de homologação de sentença estrangeira, segundo o disposto no art. 960 CPC. É por meio deste mecanismo que se reconhecerá, em umdeterminado Estado, decisão judicial definitiva proferida por autoridade estrangeira. Qualquer provimento, inclusive não judicial, proveniente de uma autoridadeestrangeira só terá eficácia no Brasil após sua homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 216 da Emenda Regimental nº 18/2014). Os requisitos indispensáveis à homologação de uma sentença estrangeira,segundo o art. 216Dda Emenda Regimental nº 18/2014, são: a) ter a sentença sidoproferida por autoridade competente; b) existir comprovação de terem sido as partescitadas ou haver-selegalmente verificado a revelia; c) ter a decisão transitado emjulgado; d) estar autenticada pelo cônsul brasileiro e acompanhada de tradução portradutor oficial ou juramentado no Brasil. O art. 963 do CPC/2015 acrescenta,ainda, a necessidade de a sentença ser eficaz no país em que foi proferida (inc. I),não ofender a coisa julgada brasileira (inc. IV) e não houver sido proferida commanifesta ofensa à ordem pública (inc. VI). O STJ deverá, ainda, analisar se adecisão proferida no estrangeiro não contraria os princípios fundamentais de direitoexistentes no nosso ordenamento jurídico. 2. Competência Interna O exercício da jurisdição pelo órgão que dela é investido, em si, não comportalimitações. O órgão jurisdicional é criado e existe para o fim exclusivo de tutelajurisdicional permitida. Havendo, porém, pluralidade de órgãos jurisdicionais, alei limita a atividade de cada um. Esta limitação se chama competência, que é a medida exata de jurisdição do órgão judicante, ou seja, a fração que lhe compete,no amplo exercício da função estatal de aplicação da justiça. 2.1 Critérios de determinação de competência Segundo Araújo Cintra, Ada Grinover e Cândido Dinamarco, a operação tendente a determinar acompetênciainterna, diante de cada caso concreto, se faz por meio de sucessivas etapas, cada umarepresentando um problema a ser resolvido, observada a seguinte sequência: (a) competência de Justiça: qual a Justiça competente? (b) competência originária: dentro da Justiça competente, o conhecimento da causa cabe aoórgão superior ou ao inferior? (c) competência de foro: se a atribuição é do órgão de primeiro grau de jurisdição, qual acomarca ou seção judiciária competente? (d) competência de juízo: se há mais de um órgão de primeiro grau com as mesmas atribuiçõesjurisdicionais, qual a vara competente? (e) competência interna: quando numa mesma Vara ou Tribunal servem vários juízes, qual ouquais deles serão competentes? (f) competência recursal: a competência para conhecer do recurso é do próprio órgão quedecidiu originariamente ou de um superior?Prevalecendo, outrossim, em nosso sistema jurisdicional o princípio de duplo grau de jurisdiçãocomo regra geral, há sempre, pelo menos, duas operações sucessivas de determinação decompetência para cada causa ajuizada: (a) uma inicial, tendente a determinar o órgão que tomará conhecimento originário da lide; e (b) outra posterior, que fixará o órgão a cuja competência será atribuído o julgamento do recursoeventualmente interposto das decisões daquele que conheceu da causa em primeiro grau dejurisdição. A primeira recebe a denominação de competência originária (juízo da causa) ea segunda, decompetência hierárquica (juízo do recurso). O CPC considera três critérios: O critério é denominado objetivo quando toma por base as características dademanda para a fixação da competência, isto é, a distribuição da competência se dácom base nos elementos da ação (partes, pedido e causa de pedir). Será funcionalquando o critério básico para determinação da competência relacionar-secom oconjunto de atribuições que as leis conferem aos diversos órgãos judiciários que vãoatuar no processo. Territorial quando o critério levar em conta a divisão dopoder jurisdicional em razão de foros ou circunscrições judiciárias em que estádividido o país. O novo Código reconhece duas modalidades de definição de competência interna: competência absoluta e competência relativa (NCPC, arts. 62 e 63)embasando-se em critérios ligados ora aointeresse público (conveniência da função jurisdicional), ora ao interesse privado (comodidade daspartes). Não procedeu, de maneira explícita, à antiga divisão doutrinária e da codificação de 1973,que levava em conta (i) o valor da causa; (ii) a matéria; (iii) a função; e, (iv) o território. OBS: O novo código parece manter esta lógica do código processual antigo, como, por exemplo, da leitura do novo CPC, o art. 62 considera inderrogável por convenção das partes a competência determinadaem razão da matéria, da pessoa ou da função. Por outro lado, o art. 63 admite que as partes possammodificar a competência estabelecida em razão do valor e do território, valendo-se de eleição deforo. Portanto, a divisão legal entre as competências absolutas e as relativas foi feita justamente emfunção dos antigos critérios de valor, matéria, função e território. Absoluta é a competência insuscetível de sofrer modificação, seja pela vontade das partes, sejapelos motivos legais de prorrogação (conexão ou continência de causas). Trata-se de regra fixada ematenção ao interesse público. Relativa, ao contrário, é a competência passível de modificação por vontade das partes ou porprorrogação oriunda de conexão ou continência de causas, porque atende principalmente ao interesseparticular. 2.2 Incompetência absoluta e relativa A incompetência absoluta apresenta as seguintes características: pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declaradade ofício pelo magistrado (art. 64, § 1º); pode ser objeto de ação rescisória (art. 966, II); não se altera pela vontade das partes (art. 62), tampouco por conexão oucontinência; não se altera pela vontade das partes, nem se prorroga. A incompetência relativa, por sua vez, apresenta características diferentes: diferentemente do que ocorre na incompetência absoluta, o juiz não podeconhecer de ofício a incompetência relativa (Súmula nº 33 do STJ e art. 337,§ 5º, do CPC/2015); as regras de incompetência relativa podem ser alteradas pelas partes (art. 63),bem como em razão da conexão/continência (art. 54); se ela não for alegada em tempo oportuno, o juízo relativamenteincompetente passará a ser competente para processar e julgar o feito (art.65). Nesse caso, ocorre o fenômeno da prorrogação da competência; pode ser alegada pelo Ministério Público nas causas em que atuar (art. 65,parágrafo único). O que é comum aos dois institutos: A incompetência absoluta e a relativa devem ser alegadas como questão preliminar na peça contestatória (art. 64). O órgão jurisdicional deve decidir imediatamente a alegação deincompetência, seja ela absoluta ou relativa. Se reconhecidas, os autos serãoremetidos ao juiz competente (art. 64, § 3º). Os efeitos da decisão proferida por juiz absoluta ou relativamenteincompetente serão conservados até que outra seja proferida (art. 64, § 2º).Aregra, no entanto, não é absoluta. O próprio CPC ressalva a possibilidade deser proferida decisão judicial em sentido contrário, afastando os efeitosdecorrentes das decisões proferidas pelo juiz incompetente. Ao alegar a incompetência absoluta ou relativa, deve o réu fundamentar einstruir a contestação com as provas disponíveis (se for o caso), podendo,inclusive, protocolizar a sua defesa no foro do seu domicílio (art. 340).Nesse caso, deve o juiz que recebeu a contestação comunicar o fato ao juiz dacausa, preferencialmente por meio eletrônico. 2.3 Modificação de competência Dá-seo nome “modificação da competência” ao fenômeno processual queconsiste em atribuir competência a um juízo que originariamente não a possuía. A prorrogação é uma forma de modificação da competência que ocorre pordisposição legal, somente na hipótese de competência relativa (art. 65). Como essaespécie não pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, é preciso que sejaexpressamente arguida pelo réu; caso este não o faça, haverá a prorrogação e o foroque originalmente era incompetente tornar-se- ácompetente. Reputam-seconexas duas ou mais ações quando lhes for comum o objeto ou acausa de pedir (art. 55). Vários herdeiros, em ações distintas, pleiteiam a nulidadedo testamento (objeto comum). Vários passageiros, em ações distintas, acionam aempresa de ônibus com fundamento no mesmo acidente (causa de pedir comum). Dá-sea continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quantoàs partes e à causa de pedir, mas o pedido de uma, por ser mais amplo, abrange odas demais (art. 56). A propõe contra B ação declaratória para reconhecimento dedívida. Em ação distinta, o autor da ação declaratória pleiteia a condenação de B nopagamento da mesma dívida (as partes e a causa de pedir são idênticas, mas o objetoda ação condenatória é mais amplo, abrangendo o da ação declaratória). Havendo conexão ou continência de uma demanda a ser ajuizada com uma anteriormente proposta, a distribuição será feita por dependência. As ações conexasou continentes serão distribuídas por dependência ao juízo da causa anterior, ou seja,ao juízo prevento (art. 286, I), ocorrendo prévia prorrogação da competência. Caso as ações conexas ou continentes já estejam em curso, e sendo relativa acompetência, elas deverão ser reunidas para decisão conjunta, salvo se em um dosprocessos já houver sido proferida sentença (art. 55, § 1º).15 A reunião, se for ocaso, far-se-áno juízo prevento (art. 58). Exemplo: há conexão entre duas ações,sendo que para uma delas o juiz prevento é incompetente em razão do território. Nesse caso, o juiz, em vezde se declarar incompetente, deverá determinar a reuniãodas ações propostas separadamente e julgá-las,prorrogando-sea competência (não esquecer de conferir o parágrafo terceiro do artigo 55 do CPC). 2.4 Conflito de competência Se encontra no artigo 66 do CPC. O conflito será positivo quando os juízes se declaram competentes; e negativona hipótese contrária. O conflito pode ser suscitado por qualquer das partes – exceto por aquela que,no processo, arguiu a incompetência relativa (art. 952) –, bem como pelo MinistérioPúblico ou pelo juiz ao tribunal hierarquicamente superior aos juízes envolvidos nadivergência (arts. 951 e 953). Nos conflitos que envolvam órgãos fracionários dostribunais, desembargadores e juízes em exercício no tribunal, o conflito decompetência será suscitado segundo as regras constantes do regimento interno norespectivo tribunal (art. 958). 3. Sujeitos do Processo Todas as pessoas, sem exceção, têm capacidade de ser parte, porque são titulares de direitos e obrigações na ordem civil. A regra abrange as pessoas naturais ou físicas e as jurídicas, de direito público ouprivado. O art. 75 do CPC trata da representação das pessoas jurídicas e dos entes despersonalizados, que têmcapacidade de ser parte. Dentre as pessoas físicas, nem todas terão capacidade processual, a aptidão para estar em juízopessoalmente. O art. 70 do CPC a atribui apenas àquelas pessoas que se acham no exercício dos seus direitos,que, de acordo com a lei civil, têm a chamada capacidade de fato ou exercício. Em outras palavras, às pessoascapazes. O art. 71 do CPC determina que os incapazes, no processo, serão representados ou assistidos por pais,tutores ou curadores, na forma da lei civil. Se a incapacidade é absoluta, há necessidade de representação; serelativa, de assistência. 3.1 Substituição processual Em regra, a titularidade da ação vincula se à titularidade do pretendido direito materialsubjetivo, envolvido na lide (legitimação ordinária). Assim, “ninguém poderá pleitear direito alheioem nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico” (NCPC, art. 18). Há, só por exceção, portanto, casos em que a parte processual é pessoadistinta daquela que éparte material do negócio jurídico litigioso, ou da situação jurídica controvertida. Quando issoocorre, dá se o que em doutrina se denomina substituição processual (legitimação extraordinária),que consiste em demandar a parte, em nome próprio, a tutela de um direito controvertido de outrem. Na sucessão de parte ocorre uma alteração nos polos subjetivos do processo. Uma outra pessoapassa a ocupar o lugar do primitivo sujeito da relação processual (ex.: o herdeiro passa a ser o novoautor ou o novo réu, na ação em que ocorreu o falecimento do litigante originário). Já na substituição processual, nenhuma alteração se registra nos sujeitos do processo. Apenas um deles age, porespecial autorização da lei, na defesa de direito material de quem não é parte na relação processual(ex.: a parte que aliena, durante o processo, o bem litigioso, e continua a defende-lo em juízo, nointeresse do novo proprietário, ou a associação que move uma ação não para a defesa de direitospróprios, mas de seus associados). 3.2 Deveres das partes Vêm enumerados no art. 77 do CPC, que tem seis incisos. Apesar do nome atribuído ao capítulo — dos deveresdas partes e seus procuradores — os incisos impõem deveres que transcendem tais personagens, estendendo-os às partes, a seus procuradores e a todos aqueles que, de qualquer forma, participam do processo, como osintervenientes, o Ministério Público, os funcionários do Judiciário, os peritos e assistentes técnicos, as testemunhas eas pessoas a quem são dirigidas as determinações judiciais. 3.3 Juiz. Ministério Público. Defensoria Pública. Advocacia. Advocacia Pública. Auxiliares da Justiça. Para que o processo se desenvolva regularmente é necessária a conjugação da atividade de no mínimo três pessoas – um autor que pede, um réu que se defende e um juiz que julga. Cada uma dessas pessoas tem um papel que lhe é reservado pela Constituição e pela legislação no processo. Nosso Código arrola como um dos seus princípios fundamentais a colaboração entre os participantes do processo (art. 6.º CPC). Isso não quer dizer, contudo, que as partes tenham o dever de cooperar entre si – como equivocadamente consta na nossa legislação. Vale dizer: cada qual persegue o seu próprio interesse. Essa é a razão pela qual as partes não têm o dever de cooperar entre si. Certamente, as partes têm o dever de agir de boa fé no processo (art. 5.º CPC) – mas é certo que a necessidade de boa fé não se confunde com a necessidade de colaboração. O processo civil brasileiro é dirigido pelo juiz (art. 139 CPC), que deve fazê- lo de forma paritária ao longo de todo procedimento, primando pelo diálogo com as partes, assumindo uma posição assimétrica apenas quando decide as questões da causa. 3.3.1 Juiz O poder judiciário brasileiro é formado por juízes e tribunais (art. 92, da CF), tendo em sua organização ainda o Conselho Nacional de Justiça, que não detém funções jurisdicionais, mas exerce controle administrativo sobre a magistratura. Os Juízes de primeiro grau que compõem a Justiça Estadual (art. 125, da CF) e a Justiça Federal (art. 109, da CF), bem como os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais Federais (art. 108, da CF), que se enquadram no gênero cortes de justiça, têm por função decidir os casos com justiça e prover adequada e tempestiva efetivação de suas decisões. O Supremo Tribunal Federal (art. 102, da CF) e o Superior Tribunal de Justiça (art. 105, da CF) são cortes de vértice, encarregadas de dar a última palavra a respeito da adequada interpretação do direito constitucional e do direito infraconstitucional federal respectivamente. O juiz é responsável pela condução do processo (art. 139 CPC) e pelo julgamento da causa (art. 141 CPC) no processo civil. O juiz tem deveres de esclarecimento, de diálogo, de prevenção e de auxílio para com os litigantes – a fim de que o processo possa de fato dar tutela aos direitos e refletir em seu resultado não um desfecho apenas formal, que extinga o processo sem resolução de mérito (art. 488 CPC), mas um fim que efetivamente enfrente o litígio existente entre as partes (art. 490 CPC), extinguindo o processo ou uma de suas fases com resolução do mérito da causa (art. 487 CPC). 3.3.2 Ministério Público Art. 127 CF O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Quando o art. 127 da CF/88 utiliza a expressão “instituição permanente”, trata-se de uma cláusula pétrea, não podendo, portanto, ser suprimida pelo poder constituinte derivado (art. 60, § 4º, da CF). Já no concernente à expressão “essencial”, significa dizer que, nas hipóteses em que sua intervenção for obrigatória, se não for chamado, será caso de nulidade do processo, isto é, não poderá haver jurisdição válida. A atuação do Ministério Público como custos legis, ou seja, fiscal da lei, seria a defesa da ordem jurídica. Já a atuação do Parquet em todos os processos de natureza eleitoral está fundamentada na defesa do regime democrático, também contido nesse dispositivo. A participação do Ministério Público pode-se dar de duas formas no processo: pela sua atuação ou por meio de sua intervenção. Fala-se em atuação quando o Ministério Público age como parte no processo promovendo a ação. A intervenção refere-se às hipóteses em que o Ministério Público funciona como fiscal da lei, como custos legis em uma ação que foi proposta por outrem. Percebe-se, então, que se o Ministério Público participa do processo como parte,ele detém o prazo em dobro para se manifestar. Caso o Ministério Público esteja participando como fiscal da ordem jurídica, ou seja, não foi ele quem propôs a demanda, mas sua intervenção é obrigatória por força da presença de uma das hipóteses do art. 178, seu prazo é de 30 dias. 3.3.3 Advocacia O novo CPC, por sua vez, trata dos advogados privados entre os arts. 103 e 107. Os arts. 133 da CF/88 e 2º da Lei n. 8.906/94 (Estatuto do Advogado), a advocacia é função essencial à administração da Justiça, ao lado do Ministério Público, da Advocacia Pública (Advocacia Geral da União e Procuradorias dos Estados e dos Municípios) e da Defensoria Pública. O advogado deve atuar com o instrumento de mandato, a procuração ad judicia. Como regra no ordenamento brasileiro, sem esse instrumento, o advogado poderá apenas, em nome da parte, intentar ação a fim de evitar a decadência ou a prescrição, bem como intervir no processo para praticar atos urgentes; mas, nesses casos excepcionais, deverá exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 dias, prorrogáveis por mais 15, por despacho do juiz. Um dos pressupostos processuais de existência é a capacidade postulatória que, em regra, não é atributo das pessoas em geral. Quem não a tem precisa outorgar procuração a advogado legalmente habilitado, que o represente. Há casos excepcionais, porém, em que a lei atribui capacidade postulatória a pessoas que normalmente não a têm, àqueles que não são advogados, nem integrantes do Ministério Público. É o exemplo do habeas corpus e das ações no Juizado Especial Cível, até vinte salários mínimos. 3.3.4 Advocacia Pública Igualmente essenciais à administração da Justiça e indispensáveis ao exercício da jurisdição são as atividades exercidas pela Advocacia Pública (bacharéis em direito inscritos no quadro de advogados da OAB, que atuam na defesa da União, dos Estados e dos Municípios). Têm atuação vinculada à proteção do erário e do patrimônio público. Ingressam por concurso público de provas e títulos. No âmbito da União, têm-se o Advogado da União e os Procuradores da Fazenda Nacional. A Advocacia Geral da União, criada pela Constituição Federal de 1988 (art. 131), é chefiada pelo Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República. Da Advocacia Pública dos Estados e do Distrito Federal trata o art. 132 da CF, segundo o qual os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal exercerão a representação judicial e consultoria jurídica das respectivas unidades federadas. No âmbito municipal, a Advocacia Pública é exercida pelas Procuradorias dos Municípios, que não se encontram previstas na Constituição Federal e que nem sempre existirão, cabendo a cada Município instituí-las se for do interesse da Administração. Os advogados públicos são tratados pelo novo CPC nos arts. 182 a 184. Enquanto o art. 182 dispõe que “incumbe à Advocacia Pública, na forma da lei, defender e promover os interesses públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios”, o art. 183 garante o prazo em dobro para todas as manifestações processuais, salvo se o contrário for expressamente ressalvado em lei (art. 183, § 2º). 3.3.5 Defensoria Pública Com atribuições previstas no art. 134 da CF e na LC n. 80/94514, foi instituída para o cumprimento da promessa constitucional de assistência jurídica integral, contida no art. 5º, LXXIV CF. No novo CPC, a Defensoria Pública é tratada nos arts. 185 a 187. O art. 185 dispõe que a Instituição “exercerá a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, em todos os graus, de forma integral e gratuita”. Assim como os advogados públicos, os defensores também gozam de prazo em dobro em todas as suas manifestações e ostentam a prerrogativa da intimação pessoal nos mesmos moldes do art. 183, § 1º. Isso se aplica aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito reconhecidas, bem como às entidades que prestam assistência jurídica gratuita mediante convênio com a própria Defensoria Pública (§ 3º). 4. Litisconsórcio Litisconsórcio, etimologicamente, significa consórcio (pluralidade de partes)nainstauração da lide; a mesma sorte na lide. Tecnicamente, dá-seo nome de litisconsórcio quando duas ou mais pessoaslitigam, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou passivamente (art. 113). Éhipótese, portanto, de cúmulo subjetivo (de partes) no processo. O litisconsórcio é disciplinado pela lei. Em alguns casos, emrazão da relevância do direito controvertido, o legislador condicionou a validade do processo à integração de marido e mulher no polo passivo (art. 73, § 1º). Em outros,o litisconsórcio, embora facultativo, só pode ser formado se entre os litisconsortes houver comunhão de direitos ou obrigações, conexão ou afinidade (art. 113, I a III). O litisconsórcio pode ser classificado sob diversos aspectos. Quanto à posição das partes: o litisconsórcio pode ser ativo, passivo ou misto.Ativo quando a pluralidade for de autores; passivo quando a pluralidade for de réus;e misto quando a pluralidade for de autores e réus. Quanto ao momento de sua formação: o litisconsórcio pode ser inicial ouincidental (ulterior). Inicial quando sua formação é pleiteada na petição inicial.Olitisconsórcio incidental ou ulterior ocorre quando o litisconsorte não é indicado napetição inicial (Ex: conexão, chamamento ao processo, denunciação da lide etc). Quanto à obrigatoriedade da formação:necessário (obrigatório) e facultativo. O litisconsórcio necessário decorre de imposição legal ou da natureza da relaçãojurídica, hipóteses em que ao autor não resta alternativa senão a formação dolitisconsórcio (ex: Ações que versem sobre direito real imobiliário devem ser propostas contramarido e mulher). OBS: A não citação de um litisconsorte necessário enseja extinção do processo ou nulidade da sentença (caso já tenha sido proferida – conferir artigo 115, p.ú CPC) A formação do litisconsórcio facultativo fica, a princípio, a critério do autor,desde que preenchidos os requisitos legais, isto é, quando entre os litisconsortes(ativos ou passivos) houver comunhão de direitos ou de obrigações relativamente àlide; quando entre as causas houver conexão pelo objeto ou pela causa de pedir; ouquando ocorrer afinidade de questões por ponto comum de fato ou de direito. Pode ocorrer de o número de autores ou de réus alcançar nívelextremamente elevado (litisconsórcio multitudinário), comprometendo a rápida solução do litígio (efetividade), dificultando a defesa ou o cumprimento da sentença.O desmembramento do litisconsórcio ativo multitudinário poderá ser decretado deofício pelo juiz ou a pedido da parte ré. Nesta última hipótese, o requerimentointerromperá o prazo de resposta, que recomeçará a correr da intimação da decisão. Quanto à uniformidade da decisão: podemos classificar o litisconsórcio emsimples e unitário. Será simples o litisconsórcio quando a decisão, embora proferidano mesmo processo, puder ser diferente para cada um dos litisconsortes. A merapossibilidade de decisões diferentes já tornará simples o litisconsórcio, como noscasos em que vários correntistas de um banco ajuízam, em conjunto, ação decobrança de expurgos inflacionários. Será unitário quando, ao contrário, a demandativer de ser decidida de forma idêntica para todos os que figuram no mesmo polo darelação processual. A caracterização do litisconsórcio unitário pressupõe a discussãode uma única relação jurídica indivisível, por exemplo, quando dois condôminosatuam em juízo na defesa da coisa comum. Quanto à classificação do litisconsórcio unitário, além de necessário, ele poderá ser facultativo. ATENÇÃO: Nem sempre uma obrigação solidária terá decisão unitária (ex: quando um dos devedores opõe exceçãopessoal em uma obrigação solidária passiva). 5. Intervenção de terceiros Dá-sea intervenção de terceiro, nas modalidades assistência, denunciação echamamento, quando uma pessoa (física ou jurídica), ingressa como parte ou coadjuvante (assistente) da parte em processo pendente. Na intervenção relacionadaao incidente de desconsideração da personalidade jurídica, o terceiro será o sócio oua pessoa jurídica, que integrará o polo passivo da lide. Já na intervenção do amicuscuriae, a assistência que se dá à parte leva em consideração a sua integração ao núcleo da sociedade o qual o amicus curiae representa(por exemplo: manifestaçãode associações civis em defesa dos direitos humanos na ADIn nº 3.510, queobjetivava declarar a inconstitucionalidade do art. 5º da Lei nº 11.105/2005 – Lei deBiossegurança). Nesse tipo de intervenção o amicus curiae atua não como parte noprocesso, mas como interessado na causa. Em síntese, terceiro quer dizer estranho à relação processual inicialmente estabelecida entre autor e réu. Essa característica distingue o instituto da intervenção de terceiro do litisconsórcio, uma vez que os litisconsortes são partes originárias do processo, ainda que, por equívoco, não sejam nomeados na petição inicial(litisconsórcio necessário). 5.1 Assistência Nos termos do art. 119, dá-sea assistência quando o terceiro, napendência de uma causa entre outras pessoas, tendo interesse jurídico em que asentença seja favorável a uma das partes, intervém no processo para lhe prestarcolaboração. Por exemplo: em uma ação de despejo movida contra o locatário, emrazão do fato de a sentença poder influir na sublocação, pode o sublocatárioingressar como assistente do réu. Do art. 119 extraem-seos pressupostos de admissibilidade da assistência: a) aexistência de uma relação jurídica entre uma das partes do processo e o terceiro(assistente); b) a possibilidade de a sentença influir na relação jurídica. Para definir a situação processual, poderes e ônus do assistente, é precisodistinguir as duas modalidades de assistência previstas em nosso ordenamento: aassistência simples e a assistência litisconsorcial. A diferença entre elas reside basicamente no interesse jurídico do assistente.Assim, quando o interesse do assistente for indireto, isto é, não vinculadodiretamente ao litígio, diz-seque a assistência é simples ou adesiva. No exemplo daação de despejo entre locador e locatário, a sublocação não figura como objeto dalide. A admissibilidade da assistência decorre de interesse indireto. Se a sentença forfavorável ao locatário, indiretamente beneficiará o sublocador. Entretanto, quando o interesse for direto, ou seja, o assistente defender direitopróprio, a assistência é denominada litisconsorcial (art. 124). Na ação reivindicatóriapromovida por um dos condôminos, o outro poderá figurar na demanda. Serálitisconsorte se figurar na petição inicial na qualidade de autor; será, entretanto,assistente litisconsorcial se a sua intervenção se der posteriormente ao ajuizamentoda demanda. A intervenção dessa parte material no processo posteriormente aoajuizamento da demanda denomina-se assistência litisconsorcial, uma vez que asentença terá influência direta sobre o direito material do assistente (art. 1.314 doCC). A assistência tem lugar em qualquer dos tipos de procedimento e em todos osgraus da jurisdição, mas o assistente recebe o processo no estado em que se encontra(art. 119, parágrafo único). Sendo formalizado o pedido de assistência (simples ou litisconsorcial), o juizdeterminará a intimação das partes para manifestação. Se não houver impugnação noprazo de quinze diase não for o caso de rejeição liminar do pedido, o assistenteserá admitido no processo. Por outro lado, se qualquer parte alegar que faltainteresse jurídico ao requerente, o juiz decidirá o incidente sem a suspensão doprocesso (art. 120). Contra essa decisão, seja ela favorável ao assistente ou não, caberá agravo de instrumento (art. 1.015, IX). 5.2 Denunciação da Lide Consiste a denunciação da lide em “uma ação regressiva, in simultaneusprocessus,proponível tanto pelo autor como pelo réu, sendo citada como denunciadaaquela pessoa contra quem o denunciante terá uma pretensão indenizatória, pretensão de reembolso, caso ele, denunciante, vier a sucumbir na ação principal”. A finalidade do instituto é a economia processual. A denunciação da lideconstitui “verdadeira propositura de uma ação de regresso antecipada, para aeventualidade da sucumbência do denunciante”. Trata-sede demanda incidente, em processo já emcurso, que acarreta a ampliação subjetiva ulterior do processo. Ou seja, proposta adenunciação, o processo passará a ter duas demandas: a principal, envolvendo autore réu; e a incidental, envolvendo denunciante e denunciado. De tal sorte, se odenunciante for vencido na ação principal, o juiz passará ao julgamento dadenunciação da lide; se vencedor, a ação de denunciação não terá o seu pedidoexaminado (art. 129). A denunciação feita pelo autor será requerida na própria petição inicial (art. 126,1ª parte). Nesse caso, cita-seprimeiro o denunciado, a fim de que ele possa sedefender quanto à ação regressiva e aditar a petição inicial, assumindo a posição delitisconsorte do denunciante, ou permanecer inerte, caso em que será reputado revelna demanda regressiva (art. 127). Somente após transcorrer o prazo para contestar aação regressiva e aditar a inicial é que o réu será citado. Quando o denunciante for o réu, a denunciação será requerida no prazo paracontestar (art. 126). A citação do denunciado deve ser promovida no prazo de 30(trinta) dias, sob pena de se tornar sem efeito a denunciação (art. 126, parte final, c/co art. 131). Caso o denunciado resida em outra comarca, seção ou subseçãojudiciárias, ou, ainda, em lugar incerto, o prazo para a citação será de dois meses. O juiz pode indeferir o pedido se entender não ser caso de denunciação, decisãoessa que enseja agravo de instrumento (art. 1.015, IX). Aceitando a denunciação, alide principal e a secundária tramitarão de forma simultânea e serão decididas emuma única sentença. Feita a citação do denunciado, este poderá adotar as seguintes posturas (art.128): contestar o pedido do autor e atuar ao lado do denunciante, como litisconsorte(art. 128, I); permanecer inerte, hipótese em que o denunciante poderá deixar deprosseguir em sua defesa, restringindo a sua atuação à ação regressiva (art. 128, II);confessar os fatos alegados pelo autor, podendo o denunciante prosseguir em suadefesa ou aderir ao reconhecimento e requerer apenas a procedência da açãoregressiva (art. 128, III). Procedente o pedido da ação principal, pode o autor, se for o caso, requerer ocumprimento da sentença também contra o denunciado, nos limites da condenaçãodeste na ação regressiva (art. 128, IV). Com relação à hipótese do art. 128, II, diferentemente do que estava previsto noCPC/1973,21 se o denunciado permanece inerte, não está o denunciante obrigado aprosseguir na defesa da ação principal. Poderá o denunciante, querendo, deixar deoferecer contestação ou usar de outros meios de defesa, na esperança de, ao final,ver julgada procedente a demanda incidental, em razão da revelia. Da mesma forma,mesmo se não revel o denunciado, o denunciante pode deixar de apresentar respostaà pretensão principal, arcando com as consequências de sua inércia.
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