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livro - direito do consumidor

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DIREITO DO CONSUMIDOR
Professor Jesualdo Eduardo de Almeida Junior, Pós-Doutor pela Universidade de Coimbra, Mestre e Doutor em Sistema Constitucional de Garantia de Direitos. Professor de Direito do Consumidor da UNIMAR – Universidade de Marília, onde é vinculado ao programa de Mestrado. Professor de Direito do Consumidor e de Direito Civil da TOLEDO de Presidente Prudente, da FEMA-Assis, e do Atrium Cursos Jurídicos. É autor de diversos livros e artigos jurídicos
Meu pai, meu orgulho, meu exemplo, meu esteio. Nesse ano de tantas conquistas você se foi e tive a maior perda. Que paradoxo da vida! Mas sua lembrança, seus ensinamentos, sua torcida, sua vibração e nosso orgulho recíproco fazem-me mais forte. 
A você, sempre! Tudo o que tenho e sou devo a você e lhe serei eternamente grato! Que Deus me ajude a cumprir o pedido de minha irmã: de ser um pai maravilhoso para meus filhos como você foi para nós!
“O consumidor é o elo mais fraco da economia; e nenhuma corrente pode ser mais forte do que seu elo mais fraco” (Henry Ford).
I – NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
1. Considerações iniciais
A proteção do consumidor ganhou especial destaque com o constituinte de 1988. De fato, é um dos poucos direitos que recorrentemente é citado pela Constituição em trechos diferentes. 
Com efeito, pelo art. 5º., XXXII da Constituição Federal, é guindado em nível de Direito Fundamental ao se estabelecer que “o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. 
Ainda no art. 150, ao tratar da ordem tributária, previu que “a lei determinará medidas para que os consumidores sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam sobre mercadorias e serviços”.
Em outro trecho, agora no art. 170 que trata da ordem econômica, dispôs que esta será “fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor”.
No art. 175 lê-se que “incumbe ao Poder Público, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a prestação de serviços públicos. Parágrafo único. A lei disporá sobre: II - os direitos dos usuários;”
E como grand finale, nos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, determinou que “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.”
Digno de nota o fato de o constituinte não prever a exigência de nenhum outro código, afora o de defesa do consumidor. A existência do Código Penal, Código de Processo Penal, Código Civil etc., decorrem da nossa tradição jurídica de codificação. Entretanto, a ocorrência do Código de Defesa do Consumidor depreende-se da exigência constitucional.
2. Sistema de Proteção do Direito do Consumidor
 Conforme Lei 10.504/02, “É instituído o Dia Nacional do Consumidor, que será comemorado, anualmente, no dia 15 de março.” E pelo art. 2º. desta lei, “Os órgãos federais, estaduais e municipais de defesa do consumidor promoverão festividades, debates, palestras e outros eventos, com vistas a difundir os direitos do consumidor”.
Percebe-se a importância que o constituinte e o legislador dão à proteção do consumidor. Neste passo, um arcabouço legal foi editado para concretizar esta proteção. E o principal e mais importante texto legislativo sem dúvida é o Código de Proteção e Defesa do Consumidor, Lei 8.078, de 11 de Setembro de 1.990, que “dispôs sobre a proteção do consumidor e dá outras providências”.
A denominação Código deve-se ao fato do constituinte ter exigido um. Sim, pois a natureza jurídica do Código de Proteção e Defesa do Consumidor é tipicamente de estatuto, na medida em que regulamenta de forma unitária uma categoria de pessoas (consumidores) dentro de um modelo de microssistema ou monossistema[footnoteRef:1], técnica que basicamente avoca um assunto de uma categoria de pessoas e pretende esgotar sua proteção, com normas de direito material, processual, administrativo e mesmo tipificando crimes[footnoteRef:2]. [1: A tendência dos monossistemas é descodificada para uma realidade fragmentada pela pluralidade de estatutos autônomos com uma formação polissistêmica. A legislação geral agora sofre a concorrência da legislação especial. ] [2: Citem-se como exemplos de outros microssistemas o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto do Idoso etc. ] 
Porém, embora este seja o documento legislativo mais importante, a proteção do consumidor nele não se esgota. Há tantos outros textos legais que tem o mesmo condão, como a Lei 9.656, de 03 de Junho de 1.998, que “dispõe sobre os planos e seguros privados de assistência à saúde”, a Lei 10.671, de 15 de Maio de 2003, que “dispõe sobre o estatuto de proteção e defesa do torcedor”, entre outras.
3. Princípios atinentes à proteção do consumidor
Princípios de Direito são normas munidas do mais alto grau de abstração, que permeiam o sistema jurídico como um todo. São mais do que meras regras jurídicas. Encarnam valores fundamentais da sociedade, servem como fontes subsidiárias do Direito e conferem critérios de interpretação de normas e regras jurídicas em geral.
Já se disse amiúde que o Direito está em crise, em especial dentro das concepções positivistas, que o limitam às regras escritas. Nas palavras de Luiz Roberto Barroso (2006, p. 26), o direito positivista vive uma grave crise existencial na medida em que não consegue entregar com eficiência os produtos que fizeram sua reputação ao longo dos séculos, ao passo que a “a injustiça passeia pelas ruas com passos firmes e a insegurança é a característica da nossa era”. 
O pós-positivismo representaria, então, exatamente o anseio por um novo fôlego, a busca de uma nova perspectiva; a ousadia de erguer a cabeça e olhar por sobre as ondas... (MARANHÃO, 2015, p. 30)
O pós-positivismo não surge com o ímpeto da desconstrução, mas como uma superação do conhecimento convencional. Ele inicia sua trajetória guardando deferência relativa ao ordenamento positivo, mas nele reintroduzindo as ideias de justiça e legitimidade[footnoteRef:3]. [3: Barroso, Luiz Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito. Revista da Escola Nacional da Magistratura. Ano I, n. 02, outubro de 2006, Brasília : Escola Nacional da Magistratura – ENM, p. 27.] 
E o pós-positivismo tem como principal marca a admissão da normatividade dos princípios. Neste passo, apesar das leis, decretos e regras escritas em geral serem elementos imprescindíveis para a construção do Direito, são os princípios que assumem papel fundamental ao colocarem de lado uma perspectiva dogmática presa nas normas programáticas. 
A normatividade dos princípios percorreu três fases distintas: a jusnaturalista, a positivista e a pós-positivista. Na primeira, os princípios estavam fora do Direito num campo metafísico, associados à dimensão ético-valorativa inspiradora do Direito. 
Na fase positivista os princípios ingressaram nos códigos e leis como fonte normativa subsidiária, com a função de garantir a inteireza e coesão do sistema.
 Por fim a fase pós-positivista atual, na qual os princípios constitucionais têm um papel fundamental, consagrando-se não apenas como direito, mas como “pedestal” normativo sobre o qual assenta todo o edifício jurídico dos novos sistemas constitucionais.
Dworkim[footnoteRef:4] atesta grosso modo que os princípios existem porque as regras não dão conta do recado. Para ele o Direito de uma comunidade é um conjunto de regras que detém pedrigree, que podem ser usadas para distinguir regras válidas de espúrias; e esse conjunto de regras coexiste com o Direito. [4: Levando os direitos a sério. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010, p. 32
] 
Neste passo, os princípios podem promover uma maior harmonização e otimização do sistema jurídico.
A expressão ‘princípios jurídicos’ tem sido empregada com diferentes significados. E, com maioresou menores variações, podemos identificá-los com as seguintes características:
· Normas providas de alto grau de generalidade; 
· Normas providas de alto grau de indeterminação; 
· Normas de caráter programático; 
· Normas de posição hierárquica elevada; 
· Normas de importância fundamental no sistema jurídico e político; 
· Normas dirigidas aos órgãos de aplicação, cuja função é a escolha dos dispositivos ou das normas aplicáveis aos casos concretos.
Deste modo, os princípios são claramente normas. Normas com características próprias. Porém, normas! E, assim, poderíamos diferenciar as normas-princípios das normas-regras: 
	DIFERENÇAS
	PRINCÍPIOS
	REGRAS
	Qualitativamente
	Ratio das regras. Posição privilegiada e superior
	Expressão dos princípios
	Densidade normativa
	Menor
	Maior
	Vagueza
	Maior
	Inexistente. Especificidade
	Generalidade
	Ao número de atos e fatos destinados
	uma série indefinida de aplicações.
	Plasticidade (polimorfia)
	Presente
	Difícil
	Otimização
	Podem ser cumpridos em maior ou menor grau
	Podem ou não ser cumpridas. Não há graus
	Colisão
	Um cede ao outro, mas não a invalida
	Uma invalida a outra. Interpretação “ab-rogante”
3.1. Princípios da Ordem Econômica Constitucional
Dentro da perspectiva do estudo dos princípios há alguns que merecem destaque para a proteção do Consumidor. Inicialmente abordaremos os princípios da ordem econômica. Neste diapasão, quando o constituinte “olhou” para a ordem econômica nacional, estabeleceu algumas premissas principiológicas a serem seguidas obrigatoriamente. Ei-las:
a) soberania nacional (art. 1º., I)
Estabelecida como fundamento da república, a soberania nacional é um dogma intangível. Em linhas gerais é o poder e domínio dentro de seus limites territoriais, estando ao menos em tese livre da influência ou comando exercido por outros Estados.
b) propriedade privada
Parece truísmo num estado capitalista afirmar que há direito à propriedade privada. Todavia, pense que em 1.988, data da nossa Constituição, ainda estávamos sob a guerra fria e pelo menos 1/3 do mundo vivia sob a influência comunista, que basicamente limita o direito à propriedade privada.
A propriedade é assegurada como direito humano fundamental e deverá atender à função social que se lhe reserva. Todavia, a Constituição assegurou o “direito” à propriedade. Mas não dá a ninguém a propriedade propriamente dita.
Há apenas algumas ressalvas constitucionais, sobretudo quando se pensa em aquisição de propriedade rural por estrangeiros. No art. 190 da Constituição Federal previu-se que “a lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional”. E assim se deu pelo legislador infra constitucional, que limitou a aquisição de imóveis rurais a estrangeiros a no máximo 50 módulos, não podendo ultrapassar 25% da área do município, e no máximo 10% para cada nacionalidade.
A Constituição Federal aborda questões envolvendo a impenhorabilidade da pequena propriedade rural (CF, art. 5., XXVI – “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”).
A questão da propriedade fora tão relevante ao constituinte, que este a elegeu como princípio geral da atividade econômica (CF, art. 170, II, III - “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: II - propriedade privada; III - função social da propriedade”;)
c) função social da propriedade
A função social da propriedade depende do justo equilíbrio entre o interesse coletivo e o interesse individual. Nos termos do art. 182 da Constituição Federal, § 2º. “A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor”.
O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão urbana.
O descumprimento da função social da propriedade urbana autoriza o Município que tenha lei específica neste sentido a determinar: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
Já a propriedade imobiliária rural atinge a função social quando atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores (CF, art. 186).
Caso a propriedade rural não atinja a função social, competirá à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro.
Porém, são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária: I - a pequena (01 a quatro módulos fiscais) e média propriedade rural (04 a 15 módulos fiscais), assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; II - a propriedade produtiva (art. 185).
d) liberdade de iniciativa econômica (art. 170, par. Único)
O Estado brasileiro, durante certo período de sua história, foi um grande fomentador da economia. Antes da égide da Constituição Federal eram comuns “estatais” participarem diretamente em atividades econômicas diferenciadas, como a EMBRATEL nas telecomunicações, a CSN – Companhia Siderúrgica Nacional, a Vale do Rio Doce em mineração etc. No Estado de São Paulo tínhamos a VASP no setor da aviação, a TELESP nas telecomunicações, a CESP na geração de energia elétrica, o BANESPA como banco público etc.
Todavia, o modelo adotado pelo constituinte, num perfil nítido de “estado mínimo” na economia, determina no art. 173 que o Estado somente atuará diretamente nesta por imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse coletivo. Deste modo, a rigor, a iniciativa econômica é particular.
Contudo, o Estado deverá ser um agente regulador e normativo (CF, art. 174) da economia. E basicamente assim se faz através das agências reguladoras (teoria dos ordenamentos setoriais), que desempenham papel de normatização e fiscalização dos ramos privados da economia, como a ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações - , que fiscaliza e normatiza o setor das telecomunicações, a ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica - no setor elétrico, a ANP - Agência Nacional de Petróleo - para distribuição de combustível, a ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar - , que trata do setor da saúde privada etc.
e) livre concorrência e repressão ao abuso de poder econômico;
A livre concorrência é a base de um mercado saudável. Monopólios e oligopólios ofendem diretamente os interesses do consumidor. Com efeito, quanto mais concentrado for um mercado, menos alternativas qualitativas restam ao consumidor e fica muito mais fácil o ajuste sobre preços pelos fornecedores.
O Supremo Tribunal Federal editou a Súmula 646, que traduz o pensamento da liberdade de iniciativa: “Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentoscomerciais do mesmo ramo em determinada área.”
Eram comuns em várias cidades leis municipais estabelecendo que um posto de combustível não poderia estar a 300 (trezentos) metros de outro, que uma farmácia não poderia ser montada a menos de 500 (quinhentos) metros de outra, e assim sucessivamente. Estas leis são flagrantemente inconstitucionais pois, em última análise, ferem a livre concorrência e ofendem interesses dos consumidores.
f) defesa do meio ambiente.
g) redução das desigualdade
h) tratamento privilegiado às empresas de pequeno porte constituídas no, e sob as leis do Brasil.
i) defesa do consumidor;
Nota-se que a defesa do consumidor é um princípio da ordem econômica, dada a sua exponencial importância para toda a economia.
3.2. Princípios da ordem civil
Sem prejuízo dos princípios acima dispostos, alocados constitucionalmente, há ainda outros que interessam à ordem civil e que igualmente influenciarão todo o sistema de proteção ao consumidor. Há de se destacar os abaixo:
a) dignidade da pessoa humana
Conforme Luiz Roberto Barroso[footnoteRef:5], a dignidade da pessoa humana tornou-se um dos grandes consensos éticos do mundo ocidental. Ela é mencionada em incontáveis documentos internacionais, em Constituições, leis e decisões judiciais. No plano abstrato, poucas ideias se equiparam a ela na capacidade de seduzir o espírito e ganhar adesão unânime. [5: A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo: natureza jurídica, conteúdos mínimos e critérios de aplicação http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/LRB/pdf/a_dignidade_da_pessoa_humana_no_direito_constitucional.pdf
] 
Em tempos modernos, a expressão dignidade da pessoa humana e sua formulação clássica ganharam projeção nas lições de Imanuel Kant[footnoteRef:6], em sua famosa obra "Fundamentação da Metafísica dos Costumes" que defendia que as pessoas deveriam ser tratadas como um fim em si mesmas, e não como um meio (objetos): [6: KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes e Outros Escritos. Trad. Leopoldo Holzbach. São Paulo: Martin Claret, 2004, p. 58.] 
No reino dos fins, tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem preço, pode ser substituída por algo equivalente; por outro lado, a coisa que se acha acima de todo preço, e por isso não admite qualquer equivalência, compreende uma dignidade.
É dessa lição que advém a máxima kantiana de que “as coisas têm preço, as pessoas dignidade”. E nesta análise, concebe a dignidade como a capacidade comum a toda raça humana, de agir ou não agir, de acordo com uma lei moral. Sua dignidade decorre do seu livre-arbítrio e isso faz com que os homens devam ser considerados fins e não meios. Neste diapasão, a autodeterminação do indivíduo (por Kant chamada de autonomia), desempenha um papel proeminente.
Após a 2ª. Guerra Mundial, a ideia de dignidade da pessoa humana migra paulatinamente para o mundo jurídico. Desde o terror nazista, incluindo experiências científicas nos campos de concentração, a dignidade humana passou a ser salvaguardada nos principais documentos de direito internacional e constituições de Estados democráticos.
Além disso, o pós-positivismo reaproximou o Direito da filosofia moral e da filosofia política. E como consequência natural, discursos outrora eminentemente morais são incorporados em textos jurídicos. E neste sentido a dignidade da pessoa humana fez-se presente em várias Constituições, ora como direito do indivíduo, ora como princípio informativo do sistema, ora como fundamento da existência do Estado. Trata-se de uma das maiores conquistas da civilização em prol da valorização da pessoa humana, conforme Norberto Bobbio[footnoteRef:7]. [7: BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Editora Campos, 1992, p. 21.] 
Conforme Luiz Roberto Barroso[footnoteRef:8] a noção de dignidade humana varia no tempo e no espaço, sofrendo o impacto da história e da cultura de cada povo, bem como de circunstâncias políticas e ideológicas. Em razão da plasticidade e da ambiguidade do discurso da dignidade, muitos autores já sustentaram a inutilidade do conceito, referindo-o como ilusório e retórico. [8: A dignidade da pessoa humana no direito constitucional contemporâneo: natureza jurídica, conteúdos mínimos e critérios de aplicação. Disponível em <http://www.luisrobertobarroso.com.br/wp-content/themes/LRB/pdf/a_dignidade_da_pessoa_humana_no_direito_constitucional.pdf> Acesso em 10 nov. 2016.] 
Não se nega que a dignidade da pessoa humana seja um conceito jurídico. Resta, no entanto, buscar uma definição uniforme que corresponda ao que, de fato, seja esta dignidade de cunho jurídico e sua aplicação prática.
Curiosamente, muitas vezes é mais fácil reconhecer a dignidade quando esta é negada ou violada. Casos de tortura, violência sexual, privação de alimentos, humilhações de grupos vulneráveis, exploração de trabalhadores etc., remete-nos à ideia da dignidade exatamente pelo seu viés contraposto: agressões ao conceito da dignidade. 
A doutrina se debruça em tentar formular um conceito genérico o suficiente para abranger todas as vicissitudes desta dignidade. Neste propósito, Ingo Wolfgang Sarlet[footnoteRef:9] traz sua contribuição: [9: SARLET, Ingo Wolfgang. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007. p.62.] 
Temos por dignidade da pessoa humana a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que asseguram a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos
Habermas distingue a dignidade humana da dignidade da vida humana. A “dignidade humana” inclui sua inviolabilidade e indisponibilidade, enquanto que a “dignidade da vida humana” alicerça apenas a indisponibilidade.
Fábio Konder Comparato[footnoteRef:10] assinala que a dignidade da pessoa humana não consiste apenas no fato de ser essa pessoa, diferentemente das coisas, um ser considerado e tratado como um fim em si e nunca como um meio para a consecução de determinado resultado. Ela resulta também do fato de que, pela sua vontade racional, só a pessoa vive em condições de autonomia. Portanto, também por esse autor a dignidade tem especial projeção na autonomia do indivíduo. Por conseguinte, a dignidade assegura a autodeterminação do indivíduo e proteção desta autonomia pela sociedade e pelo Estado. [10: COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 2.ª ed. São Paulo: Saraiva. p.1] 
Essa dignidade é extensível a qualquer pessoa, independentemente de suas crenças, etnias, condições sociais etc. Neste diapasão são as lições de Fábio Konder Comparato[footnoteRef:11]: [11: COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 2.ª ed. São Paulo: Saraiva. p.1] 
Todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que os distinguem entre si, merecem igual respeito, como únicos entes no mundo capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza”. Em razão desse reconhecimento universal, conclui: “ninguém – nenhum indivíduo, gênero, etnia, classe social, grupo religioso ou nação – pode afirmar-se superior aos demais”.
Vaclav Havel[footnoteRef:12] enfatiza a dignidade humana como algo tão elementar na vida humana que dispensaria, inclusive, conceituação literal: [12: O Tribunal da humanidade. Folha de São Paulo. São Paulo, 28 jun. 1998, p. A-3.] 
Tomemos o conceito de dignidade humana. Ele permeia todos os direitos humanos fundamentais e os documentos relativos aos direitos humanos. Para nós, isso é tão natural que achamos que nem sequer faz sentido indagar o que realmentesignifica a dignidade humana, ou por que a humanidade deveria possuí-la, nem tampouco nos indagamos por que razão faz sentido que todos nós a reconheçamos uns nos outros e uns para os outros. [footnoteRef:13] [13: Apud ALMEIDA JUNIOR, Jesualdo Eduardo de. Técnicas de reprodução assistida e o biodireito. Disponível em < http://www.ibdfam.org.br/novosite/artigos/detalhe/110>. Acesso: 25 jan. 2014.] 
Neste propósito, “o constituinte de 1988 erigiu a pessoa humana como valor supremo do ordenamento jurídico[footnoteRef:14].” Deste modo, foi guindada no texto constitucional brasileiro como fundamento da República[footnoteRef:15]. Não bastasse, surge ainda expressamente em três outras passagens do diploma constitucional, quais sejam: art. 226, parágrafo 6º, quando trata do planejamento familiar; art. 227, que aduz à proteção constitucional da criança e do adolescente; e, art. 230, que trata da defesa dos idosos. [14: FACHIN, Zulmar. Teoria geral do direito constitucional. Londrina: IDCC, 2006, p. 197.] [15: Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana;] 
Ademais, segundo o art. 3º, da mesma Constituição, constitui “objetivo fundamental da República”, “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”[footnoteRef:16], em clara alusão à proteção à dignidade da pessoa humana. [16: Constituição Federal do Brasil, art. 3º, IV.] 
b) autonomia privada limitada pelo razoável
A expressão “autonomia da vontade” está ligada à vontade como fonte das obrigações, com predominância do individualismo. Já a “autonomia privada” é mais apropriada recentemente para questões negociais, com um predominância social.
Durante o período romano, cujo dogma é rejuvenescido nas revoluções e Códigos Civis burgueses, em especial o Código napoleônico, valeu de forma intangível o princípio “pacta sunt servanda”, pelo qual os contratos deveriam ser cumpridos nos exatos termos em que contratados.
Hoje, esta autonomia privada está limitada pelo razoável e mitigada pelo “dirigismo contratual”, pelo qual há clara interferência do Estado nos contratos particulares, que confere ao Estado-Juiz o poder/dever de modificar relações negociais que se mostrem descompassadas com a função social e com os ditames da boa-fé (CC, arts 422 e 423). De tal sorte que Gustavo Tepedino[footnoteRef:17] prega que [17: Op. cit., p. 55-71] 
Com o advento de avanços científicos e tecnológicos, no seio de uma sociedade massificada, aliadas a uma nova modalidade legislativa de dirigismo contratual, fica difícil uma cristalina diferenciação entre o que seja afeto ao direito público e o que esteja atrelado ao direito privado. Urge “uma redefinição de limites e uma profunda revitalização conceitual
Deste modo, pelo dirigismo contratual admite-se a interferência do Estado nos contratos particulares, com a clara possibilidade de revisão, modificação e anulação de cláusulas contratuais desproporcionais ou abusivas, tal como previsto no art. 51 do CDC.
Pietro Perlingieri[footnoteRef:18] sustenta que está superado o “dogma sacro e inviolável” da autonomia privada. Hoje, ela se condiciona ao que diz a lei e, principalmente, aos princípios constitucionais, e na falta destes pelos usos e pela equidade. Irineu Strenger[footnoteRef:19] ensina que a [18: Perfis do direito civil, p. 277.] [19: Op. cit., p. 111] 
A autonomia da vontade sofreu as inevitáveis vicissitudes do processo histórico, que nas suas projeções culturais não poderia deixar de abranger o mundo do direito, provocando a revisão de muitos de seus esquemas tradicionais, e, em muitos sentidos, com impactos mais sensíveis, reformulando alguns conceitos básicos.	
O mesmo autor destaca que o interesse público deve sempre prevalecer em face da autonomia privada. “Ele (o interesse público) pode se referir a qualquer tipo de função contratual sem mudar, nem mesmo minimamente, as suas características”[footnoteRef:20]. [20: Op. cit., 288] 
c) solidariedade social. A função social do contrato
Segundo Maria Stela Gregori[footnoteRef:21] é a função social do contrato é princípio implícito constitucionalmente (fl. 140) e a partir do Código Civil atual tornou-se princípio expresso[footnoteRef:22]. [21: Op. cit., p. 139] [22: Código Civil brasileiro, art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.] 
Paulo Luiz Netto Lôbo[footnoteRef:23] prega a existência do contrato social. Para este autor, o contrato somente será admitido à luz da Constituição, se, assim como a propriedade, atingir sua função social. Neste andar, [23: Constitucionalização do direito civil, p. 107] 
Uma das mais importantes realizações legislativas dos princípios constitucionais da atividade econômica é o Código do Consumidor, que regulamenta a relação contratual de consumo (...) Assim, o Código do Consumidor subtraiu da regência do Código Civil a quase totalidade dos contratos em que se inserem as pessoas, em seu cotidiano de satisfação de necessidades e desejos econômicos vitais
Destarte, está cada vez mais claro que o espaço reservado para que os particulares autorregulem suas relações será reduzido por normas imperativas, como, por exemplo, do Código de Defesa do Consumidor.
d) boa-fé objetiva.
Miguel Reale, na obra "A Boa-fé no Código Civil[footnoteRef:24]" menciona que “a boa-fé subjetiva é relativa ao sujeito, indivíduo, “corresponde, fundamentalmente, a uma atitude psicológica, isto é, uma decisão da vontade, denotando convencimento individual da parte de obrar em conformidade com o direito” (2003, p. 3-4). Contudo, a boa-fé ora tratada é a “objetiva”. E o mesmo Miguel Reale a define: [24: Disponível em <http://www.miguelreale.com.br/artigos/boafe.htm> Acesso 10 Abr. 2018] 
A boa-fé objetiva apresenta-se como uma exigência de lealdade, modelo objetivo de conduta, arquétipo social pelo qual impõe o poder-dever que cada pessoa ajuste a própria conduta a esse arquétipo, obrando como obraria uma pessoa honesta, proba e leal. Tal conduta impõe diretrizes ao agir no tráfico negocial, devendo-se ter em conta, como lembra Judith Martins Costa, ‘a consideração para com os interesses do alter, visto como membro do conjunto social que é juridicamente tutelado’. Desse ponto de vista, podemos afirmar que a boa-fé objetiva, é assim entendida como noção sinônima de ‘honestidade pública’.” (2003, p. 4).
A boa-fé objetiva estabelece um padrão ético de conduta para as partes nas relações negociais. É um um standard criado, pelo qual alguém crê no comportamento do outro porque tem razões legítimas para tanto, e espera que este comportamento se realize.
Com o CDC a boa-fé torna-se um dos princípios fundamentais das relações de consumo e como cláusula geral para controle das cláusulas abusivas. E com o advento do Código Civil brasileiro de 2002, passou a ser regra expressa nos art. 422: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”. 
E, doravante, passa a ser orientador de várias decisões dos nossos Tribunais. Alias, do site do Superior Tribunal de Justiça, www.jus.gov.br, extraem-se as decisões abaixo que tangenciam pela boa-fé objetiva:
“O STJ já tem jurisprudência firmada no sentido de que a seguradora não pode extinguir unilateralmente contrato renovado por vários anos. Num dos casos julgados na Terceira Turma em 2011 (REsp 1.105.483), os ministros entenderam que a iniciativa ofende o princípio da boa-fé. A empresa havia proposto à consumidora, que tinha o seguro de vida havia mais de 30 anos, termos mais onerosos para a nova apólice.
Em 2011, a Segunda Seção também definiu que, em caso de suicídio cometido durante os dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, período de carência, a seguradora só estará isenta do pagamentose comprovar que o ato foi premeditado (Ag 1.244.022).
A Terceira Turma apontou ofensa ao princípio da boa-fé objetiva quando o plano de saúde reajusta mensalidades em razão da morte do cônjuge titular. No caso, a viúva era pessoa de 77 anos e estava vinculada à seguradora como dependente do marido fazia mais de 25 anos (AREsp 109.387).
Contraria a boa-fé das relações negociais o livre oferecimento de imóvel, bem de família, como garantia hipotecária. Esta é a jurisprudência do STJ. Num dos precedentes, analisado em 2010, a relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, entendeu que o ato equivalia à entrega de uma garantia que o devedor, desde o início, sabe ser inexequível, esvaziando-a por completo (REsp 1.141.732)”.
Destarte, tem-se que a proteção do consumidor se faz não apenas por regras escritas, como também pela adoção de princípios com força normativa.
II – NOÇÕES DE RELAÇÃO DE CONSUMO
Para sabermos se uma relação está a mercê do Código de Defesa do Consumidor faz-se imprescindível encontrar-se a figura do consumidor e do fornecedor simultaneamente.
Se ambos estiverem presentes desloca-se o caso para a aplicabilidade do CDC; caso um dos dois elementos não se faça presente, aplicam-se as regras do Código Civil. Em bom tempo a lição de Cláudia Lima Marques[footnoteRef:25]: [25: Manual de direito do consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 68.] 
(...) se dois civis, duas vizinhas amigas, contratam (compra e venda de uma joia antiga), nenhuma delas é consumidora, pois falta o fornecedor (o profissional, o empresário); são dois sujeitos 'iguais', regulados exclusivamente pelo Código Civil. Sendo assim, à relação jurídica de compra e venda da joia de família aplica-se o Código Civil, a venda é fora do mercado de consumo. Se dois comerciantes ou empresários contratam (compra e venda de diamantes brutos para lapidação e revenda), o mesmo acontece: são dois 'iguais', dois profissionais, no mercado de produção ou de distribuição, são dois sujeitos iguais regulados pelo Código Civil (que regula as obrigações privadas, empresariais e civis) e pelas leis especiais do direito comercial, direito de privilégio dos profissionais, hoje empresários. Já o ato de consumo é um ato misto entre dois sujeitos diferentes, um civil e um empresário, cada um regulado por uma lei (Código Civil e Código Comercial), e a relação do meio e os direitos e deveres daí oriundos é que é regulada pelo CDC. É direito especial subjetivo e relacional. 
A diferença está no fato do Código Civil estabelecer que todos são iguais e tratar todos de forma paritária. Já o Código de Defesa do Consumidor reconhece que o consumidor é elo vulnerável, eventualmente hipossuficiente, e como tal deve ser protegido. Deste modo, concede-lhe algumas prerrogativas adicionais não encontradas no Código Civil. É, em linhas gerais, tratar os desiguais desigualmente.
1. CONCEITO DE CONSUMIDOR:
1.1. Consumidor propriamente dito (aspecto econômico – jurídico): CDC, art. 2º. “Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos ou serviço como destinatário final.”
1.1.1. Elementos para caracterização de consumidor como destinatário final de produtos e serviços:
a) sujeito (pessoa física ou jurídica). FICA LIGADO: Há dissenso sobre a aplicabilidade do CDC às pessoas jurídicas como consumidoras. O STJ já se posicionou pela não aplicabilidade: 
REsp 541867/BA; RECURSO ESPECIAL
2003/0066879-3 – Relator Ministro Barros Monteiro COMPETÊNCIA. RELAÇÃO DE CONSUMO. UTILIZAÇÃO DE EQUIPAMENTO E DE SERVIÇOS DE CRÉDITO PRESTADO POR EMPRESA ADMINISTRADORA DE CARTÃO DE CRÉDITO. DESTINAÇÃO FINAL INEXISTENTE. – A aquisição de bens ou a utilização de serviços, por pessoa natural ou jurídica, com o escopo de implementar ou incrementar a sua atividade negocial, não se reputa como relação de consumo e, sim, como uma atividade de consumo intermediária. Recurso especial conhecido e provido para reconhecer a incompetência absoluta da Vara Especializada de Defesa do Consumidor, para decretar a nulidade dos atos praticados e, por conseguinte, para determinar a remessa do feito a uma das Varas Cíveis da Comarca.
Porém, também há decisão do mesmo STJ no sentido de aplicar-se o CDC às pessoas jurídicas. A turma considerou que uma transportadora se enquadra no conceito de consumidora, pois é a destinatária final do serviço de seguro. O ministro Luis Felipe Salomão, relator do recurso, afirmou que “em se tratando de seguro contra danos a terceiros e para a proteção de sua frota, a transportadora ocupa posição jurídica de destinatária final do seguro, não se havendo cogitar de consumo intermediário ou de insumos de produção”[footnoteRef:26]. [26: Disponível em http://www.stj.jus.br/sites/STJ/default/pt_BR/noticias/noticias/Cl%C3%A1usula-restritiva-livra-Ita%C3%BA-Seguros-de-ressarcir-transportadora-segurada)
] 
A tendência da banca dos exames da OAB é aceitar as pessoas jurídicas como consumidoras quando foram hipossuficientes.
b) aquisição de produtos ou utilização de serviços
Para o escopo de aplicação do CDC é consumidor não apenas quem compra um produto, mas também quem toma um serviço, como serviços médicos, hospitalares, de construção, de transporte, de segurança privada etc.
c) destinatário final do produto
Nos termos do art. 2º. acima transcrito, consumidor é todo aquele que adquire produtos ou serviços como destinatário final. É, portanto, o último elo da cadeia produtiva.
É aquele que adquire o produto para si, para seu uso. A contrario senso, se adquire o produto para revendê-lo deixa de ser destinatário final e não há aplicação do CDC, mas sim do Código Civil.
O problema surge em relação àquele que adquire o produto para si, porém para sua atividade profissional. E neste passo surgem as seguintes teorias:
- Teoria Finalista (restritiva): analisa caso a caso a identificação do consumidor como destinatário final, sem que haja a continuidade da atividade econômica. Para esta teoria, se alguém adquire produtos para sua atividade profissional, não haveria a incidência do CDC. Por exemplo, “caso, um barbeiro adquira um creme para usar nos clientes de seu estabelecimento, não haverá, para os adeptos da teoria finalista, relação de consumo nesta aquisição. Afinal, o creme foi novamente introduzido no mercado. Essa teoria, assim, dá uma interpretação restrita ao termo “destinatário final”. Dessa forma, ao menos em uma interpretação apegada ao texto da lei, não se podem considerar consumidores os intermediários da relação de consumo. A terceira Turma do STJ assim já decidiu: 
STJ. TERCEIRA TURMA. Agravo Regimental NO RECURSO ESPECIAL Nº 1386938. REL. MIN. SIDNEI BENETI. DJE DATA: 06/11/2013 EMENTA: PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO REVISIONAL. CÉDULA DE CRÉDITO COMERCIAL. RELAÇÃO DE CONSUMO. INEXISTÊNCIA. REDUÇÃO DA MULTA MORATÓRIA. DESCABIMENTO. 1.- O critério adotado para determinação da condição de consumidora da pessoa jurídica é o finalista. Desse modo, para caracterizar-se como consumidora, a pessoa jurídica deve ser destinatária final econômica do bem ou serviço adquirido. 2.- Na hipótese, o Acórdão recorrido, examinando o contrato firmado pelas partes, conclui que a Cédula de Crédito Comercial teve por finalidade o fomento da atividade empresarial do recorrente. Consequentemente, a ele não se aplicam os ditames contidos no art. 52, § 1º da Lei consumerista. 3.- Não havendo relação de consumo entre as partes, não cabe a redução da multa moratória com fundamento no Código de Defesa do Consumidor. 4.- Agravo Regimental improvido. (BRASIL, 2013, p. 1).
- Teoria Maximalista: aplica indistintamente o CDC quando da aquisição de um produto ou serviço, não importando se haverá uso particular ou profissional do bem.
Deste modo, no exemplo do barbeiro, haja vista que este adquiriu o produto para si, pouco importa se se destinava à atividade profissional ou não. E o STJ, pela sua Quarta Turma, já decidiu neste sentido:
STJ. QUARTA TURMA. RECURSO ESPECIAL Nº 142042. REL. MIN. RUY ROSADO DE AGUIAR. DJ DATA:11/11/1997 EMENTA: CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Incidência.  Responsabilidade do fornecedor. É de consumo a relação entre o vendedor de máquina agrícola e a compradora que a destina á sua atividade no campo. Pelo vício de qualidade no produto respondem solidariamente o fabricante e o revendedor (art. 18 do CDC).  (BRASIL, 1997, p.1)
- teoria finalista mitigada ou aprofundada: nos dizeres de Cláudia Lima Marques, “é uma interpretação finalista mais aprofundada e madura, que deve ser saudada. Em casos difíceis envolvendo pequenas empresas que utilizam insumos para a sua produção, mas não em sua área de expertise ou com uma utilização mista, principalmente na área dos serviços, provada a vulnerabilidade, concluiu-se pela destinação final de consumo prevalente” (2009, p.73).
Pela relatividade da teoria finalista tem-se autorizado a pessoa jurídica ser consumidora quando estiver em posição de insuficiência. 
FICA LIGADO: Embora ainda haja dissenso, a banca das provas da OAB dá preferência à teoria finalista ou restritiva.
1.2. Consumidor equiparado: CDC, art. 2. Parágrafo único. “Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo”.
Também é considerado consumidor uma coletividade, ainda que de pessoas indetermináveis, que tenha intervindo potencialmente nas relações de consumo. Depreendem-se, assim, alguns elementos:
a) coletividade de pessoas: grupo, classe, categoria;
b) determináveis ou não;
c) efetividade ou potencialidade da relação de consumo;
d) Ideia de proteção coletiva (art. 81 e seguintes do CDC).
Tipicamente tem-se a figura do consumidor equiparado nos casos de publicidade enganosa e abusiva, em que uma coletividade de pessoas, ainda que não determináveis, efetiva ou potencialmente foram vítimas desta publicidade, cabendo proteção judicial coletiva por meio de ações coletivas ou ações civis públicas.
1.3. Consumidor equiparado por ser vítima do evento (bystander (expectador)): CDC, art. 17. “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.”
Ampliando o alcance da definição de consumidor, o CDC estabelece que aqueles que forem vítimas do evento danoso também serão reputados consumidores. Neste particular, o indivíduo não precisa ter comprado nenhum produto ou serviço. Basta que tenha sido vítima de alguma atividade fornecida no mercado.
Imaginemos um avião de uma companhia conhecida que decola do aeroporto e cai em cima de casas. Aqueles que estavam no avião eram consumidores como destinatários finais do produto (CDC, art. 2º.). Porém, o avião caiu sobre casas, causando danos a pessoas que talvez nunca tenham viajado de avião e que sequer conhecessem aquela companhia. Todavia, por serem vitimas daquele evento (acidente aéreo) também são consideradas consumidores. Veja, neste sentido, interesse julgado:
DIREITO CIVIL E DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER E INDENIZATÓRIA. INSTALAÇÃO DE ANTENA DE CELULAR (ERB). DESRESPEITO À RESOLUÇÃO 303/2002 DA ANATEL. INOBSERVÂNCIA ÀS DISTÂNCIAS PREVISTAS NO DECRETO DISTRITAL Nº 22.395/2001 E NA LEI DISTRITAL Nº 3.446/2004. DESVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. DANOS MATERIAIS DEMONSTRADOS. 1. Cuida-se de ação ordinária por meio da qual o autor pugna pelo pagamento de indenização por danos materiais, em razão de antena de celular instalada perto de seu imóvel, o que ocasionou a desvalorização de propriedade, em decorrência do temor pelos problemas que as radiações poderiam ocasionar à saúde. (...) 5. Ainstalação da antena não observou a Resolução nº 303/2002 da Anatel, que previa os limites para a exposição humana a campos elétricos, magnéticos e eletromagnéticos na faixa de radiofreqüências, nem a Lei Distrital nº 3.446/2004, que previa o distanciamento de 50 metros de residências. 6. O art. 17 do Código de Defesa do Consumidor afirma que se equiparam aos consumidores todas as vítimas do evento. Esta pessoa é denominada pela doutrina de bystander, que é justamente o terceiro atingido pela atividade empresarial, sem que configure o consumidor final de serviços e sem qualquer relação com o fornecedor. (...) 8. Recurso improvido. (Acórdão n. 841982, 20100110154879APC, Relator: JOÃO EGMONT, Revisora: LEILA ARLANCH, 2ª Turma Cível, Data de Julgamento: 17/12/2014, Publicado no DJE: 20/01/2015. Pág.: 477)
FICA LIGADO PORQUE JÁ CAIU:
XXIII EXAME DE ORDEM - Heitor foi surpreendido pelo recebimento de informação de anotação de seu nome no cadastro restritivo de crédito, em decorrência de suposta contratação de serviços de telefonia e Internet. Heitor não havia celebrado tal contrato, sendo o mesmo fruto de fraude, e busca orientação a respeito de como proceder para rescindir o contrato, cancelar o débito e ter seu nome fora do cadastro negativo, bem como o recebimento de reparação por danos extrapatrimoniais, já que nunca havia tido o seu nome inscrito em tal cadastro. Com base na hipótese apresentada, na qualidade de advogado(a) de Heitor, assinale a opção que apresenta o procedimento a ser adotado. 
A) Cabe o pedido de cancelamento do serviço, declaração de inexistência da dívida e exclusão da anotação indevida, inexistindo qualquer dever de reparação, já que à operadora não foi atribuído defeito ou falha do serviço digital, que seria a motivação para tal pleito. 
B) Trata-se de cobrança devida pelo serviço prestado, restando a Heitor pagar imediatamente e, somente assim, excluir a anotação de seu nome em cadastro negativo, e, então, ingressar com a medida judicial, comprovando que não procedeu com a contratação e buscando a rescisão do contrato irregular com devolução em dobro do valor pago. 
C) Heitor não pode ser considerado consumidor em razão da ausência de vinculação contratual verídica e válida que consagre a relação consumerista, afastando-se os elementos principiológicos e fazendo surgir a responsabilidade civil subjetiva da operadora de telefonia e Internet. 
D) Heitor é consumidor por equiparação, aplicando-se a teoria do risco da atividade e devendo a operadora suportar os riscos do contrato fruto de fraude, caso não consiga comprovar a regularidade da contratação e a consequente reparação pelos danos extrapatrimoniais in re ipsa, além da declaração de inexistência da dívida e da exclusão da anotação indevida.
ALTERNATIVA CORRETA: D
1.4. Consumidor equiparado por exposição à práticas nocivas (práticas comerciais – oferta, publicidade, órgãos de proteção ao crédito, cobranças de dívidas): CDC, Art. 29. “Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas”.
Igualmente serão consumidores aqueles que estejam expostos à praticas comerciais, ainda que não tenham adquirido nenhum produto ou serviço. Novamente a proteção se dá numa perspectiva coletiva, numa defesa abstrata e hipotética. Por exemplo, cite-se novamente a publicidade enganosa e abusiva.
2. CONCEITO DE FORNECEDOR:
A definção de fornecedor está estampada no art. 3º. do CDC, onde se lê: “Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.
Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.”
Desta definição depreendem-se importantes conclusões, e todas elas no sentido de se alargar o conceito de fornecedor. 
2.1. Elementos:
a) pessoa física ou jurídica
Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica. Logo, um médico será fornecedor, como também uma clínica; um pedreiro será fornecedor, como também uma construtora; um vendedor de frutas e verduras em uma feira será fornecedor, como também um supermercado.Os profissionais liberais estão incluídos neste conceito. Aliás, o art. 14, § 4º. do CDC trata expressamente da responsabilidade destes profissionais.
Também pouco importa se a pessoa jurídica é regularmente constituída, ou se mera sociedade em comum, que o CDC denomina de ente despersonalizado. Igualmente estas podem ser consideradas fornecedoras. E FICA LIGADO porque já caiu:
XVII EXAME DE ORDEM - Saulo e Bianca são casados há quinze anos e, há dez, decidiram ingressar no ramo das festas de casamento, produzindo os chamados “bem-casados”, deliciosos doces recheados oferecidos aos convidados ao final da festa. Saulo e Bianca não possuem registro da atividade empresarial desenvolvida, sendo essa a fonte única de renda da família. No mês passado, os noivos Carla e Jair encomendaram ao casal uma centena de “bem-casados” no sabor doce de leite. A encomenda foi entregue conforme contratado, no dia do casamento. Contudo, diversos convidados que ingeriram os quitutes sofreram infecção gastrointestinal, já que o produto estava estragado. A impropriedade do produto para o consumo foi comprovada por perícia técnica. 
Com base no caso narrado, assinale a alternativa correta. 
A) O casal Saulo e Bianca se enquadra no conceito de fornecedor do Código do Consumidor, pois fornecem produtos com habitualidade e onerosidade, sendo que apenas Carla e Jair, na qualidade de consumidores indiretos, poderão pleitear indenização. 
B) Embora a empresa do casal Saulo e Bianca não esteja devidamente registrada na Junta Comercial, pode ser considerada fornecedora à luz do Código do Consumidor, e os convidados do casamento, na qualidade de consumidores por equiparação, poderão pedir indenização diretamente àqueles. 
C) O Código de Defesa do Consumidor é aplicável ao caso, sendo certo que tanto Carla e Jair quanto seus convidados intoxicados são consumidores por equiparação e poderão pedir indenização, porém a inversão do ônus da prova só se aplica em favor de Carla e Jair, contratantes diretos. 
D) A atividade desenvolvida pelo casal Saulo e Bianca não está oficialmente registrada na Junta Comercial e, portanto, por ser ente despersonalizado, não se enquadra no conceito legal de fornecedor da lei do consumidor, aplicando-se ao caso as regras atinentes aos vícios redibitórios do Código Civil.
ALTERNATIVA CORRETA: B
Interessante é o caso dos advogados. Nos termos do Recurso Especial no. 1.150.711 - MG (2009/0143715-5), o CDC seria aplicável a estes. Porém, pelo Recurso Especial 1.228.104-PR, não. Isto porque as relações contratuais entre clientes e advogados são regidas pelo Estatuto da OAB, aprovado pela Lei 8.906/94, excluindo-se da abrangência do CDC.
Em uma prova de OAB recomenda-se adotar a segunda teoria, conquanto pareça-nos a primeira muito mais consentânea com o espírito da proteção ao consumidor.
b) nacional ou estrangeira
Empresas nacionais e estrangeiras que operem em território nacional estão a mercê do CDC. Contudo, há de se lembrar do art. 9º., da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem.” Neste passo, por óbvio, se um brasileiro comprar um produto em Miami ou no Paraguai, a esta compra não se aplica nossa legislação.
O mesmo se diga em relação a compras realizadas pela internet cujas empresas vendedoras sejam sediadas ou tenham links de acesso estrangeiros, a teor do § 2o  do mesmo artigo: “A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente”.
Assim, o Código de Defesa do Consumidor não poderá ser aplicado nos casos que envolvam sites estrangeiros que não pertencerem a uma empresa com filial no Brasil nem marketing direcionado ao mercado brasileiro.
c) pública
Quanto aos serviços públicos, é imperioso distingui-los em serviços impróprios e próprios. Impróprios são aqueles prestados mediante concessão ou permissão, ou remunerados por preço público. Já serviços públicos próprios são aqueles prestados pelo Estado e mantidos pela tributação (como segurança, saúde, educação). 
Quando se tem um serviço público próprio, sua disciplina se dá pelas regras de Direito Administrativo e tem base no art. 37, § 6º da CF, que determina: “As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.” Portanto, nestas hipóteses não se aplica o CDC.
Todavia, em se tratando de serviço público remunerado por preço público, ou mediante concessão ou permissão, a aplicabilidade do CDC é de rigor, nos termos, inclusive, do art. 22, que prevê: “Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.”
Impende também notar que o art. 4º., VII, estabelece como princípio da ordem consumerista a racionalização e melhoria dos serviços públicos, em clara alusão destes como relação de consumo.
d) Fornecimento de produtos e/ou serviços;
Produtos são bens móveis e imóveis. A clareza do texto não deixa margem à dúvida de que agência de imóveis, imobiliárias etc. estão disciplinados pelo CDC.
Também há menção de bens materiais e imateriais. Logo, quando se compra um software, uma assinatura de streaming, também haverá a aplicação do CDC.
Não apenas o fornecimento de bens, mas também o de serviços, implica na aplicabilidade do CDC. E neste último entram os serviços de natureza bancária, financeira, de crédito, securitária, salvo os de relações trabalhistas.
Porém, a 4ª turma do STJ entendeu que, o contrato de fomento mercantil - factoring - não se sujeita às regras do CDC por não ser um produto voltado ao consumidor final. De acordo com a decisão, se o serviço é usado na cadeia produtiva, uma empresa não pode alegar ser mera consumidora[footnoteRef:27]. [27: Disponível em <http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI159646,31047-Contrato+de+factoring+nao+se+sujeita+as+regras+do+CDC> Acesso 10 abr. 2018.] 
Quanto à aplicabilidade do CDC aos bancos, vozes se levantavam no sentido de não haver ao argumento de que dinheiro não se consome. Ademais, argumentava-se que nos termos do art. 192, da Constituição Federal, o Sistema Financeiro seria regulado por Lei Complementar, ao passo que o CDC seria mera lei ordinária.
Entretanto, por ser remunerado, por ser fornecido de maneira despersonalizada, por serem vulneráveis os tomadores de tais serviços, pela habitualidade e profissionalização dos serviços e por expressa disposição legal (CDC, art. 3º., § 2º.), prevaleceu a tese de que o Sistema Financeiro está sob o jugo do CDC. Aliás, o STJ sumulou a questão: Súmula nº 297. “O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.” E o próprio STJ editou outras súmulas no mesmo sentido: 
- Súmula nº 285. Nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor incide a multa moratória nele prevista
- Súmula nº 563. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas. 
- Súmula nº 566. Nos contratos bancários posteriores ao início da vigência da Resolução-CMN nº 3.518/2007, em 30/4/2008, pode ser cobrada a tarifa de cadastro no início do relacionamento entre o consumidor e a instituição financeira. (DJe 29/2/2016).
- Súmula 479: As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias.
Há incidência do CDC aos planos de saúde. A segunda seção do STJ aprovou a Súmula 469, com a seguinte redação: "Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano de saúde". 
e) presença de um fornecedor com habitualidade da mercancia:
A habitualidade na prestação dos serviços é essencial.Deste modo, se você aluga uma casa de mim, que tenho apenas um imóvel, embora você seja destinatário final do imóvel eu não serei fornecedor por faltar-me habitualidade na locação de bens. Contudo, se este mesmo imóvel fosse alugado por uma imobiliária, em razão exatamente desta habitualidade, haveria a incidência do CDC
f) não necessariamente onerosa a relação. 
Toda vez que o serviço ou o produto foram disponibilizados gratuitamente, mas com a intenção de captar clientela, haverá a incidência do CDC. Colham-se como exemplos estacionamento gratuito de supermercado, manobrista gratuito de restaurante, curso gratuito com cobrança de material, e amostras grátis.
Casuísticas interessantes: Abaixo, situações em que não se aplica o CDC:
a) Não aplicação: Investidores em mercado mobiliário: A atividade dos investidores do mercado mobiliário (compra e venda de ações na bolsa de valores) não é uma relação de consumo, tendo em vista haver lei especial que regula o assunto (Lei n. 7.913/89).
b) Não aplicação : Serviço notarial;
c) Não aplicação: Condomínios e condôminos;
d) Não aplicação: Locação sem presença de imobiliárias;
e) Não aplicação: Contratos de crédito educativo;
f) Não aplicação: Benefícios previdenciários - INSS.
3. PRINCÍPIOS DO DIREITO CONSUMERISTA
O art. 4º. do CDC alista os princípios de proteção ao consumidor. São normas inderrogáveis e irrenunciáveis. Ei-los: 
“A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:”
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
O CDC reconhece e faz presumir que o consumidor seja vulnerável. Deste modo, todo consumidor é reputado vulnerável, ao passo que alguns são reconhecidos como hipossuficientes. A hipossuficiência decorre de comprovação, apurada segundo as regras de experiência comum do juiz, podendo redundar, por exemplo, na inversão do ônus da prova (CDC, art. 6º., VII).
A vulnerabilidade, presumida pelo CDC e extensível a todos os consumidores, pode ser analisada sob múltiplos vieses:
a) vulnerabilidade econômica: é a vulnerabilidade pela falta de capacidade econômica em face de um fornecedor. 
Por exemplo, em 2014 o Walmart registrou um faturamento de 476,290 bilhões de dólares e 16,020 bilhões de dólares de lucro. Se fosse um país, seria o 25º. maior PIB do mundo. Deste modo, a vulnerabilidade de um consumidor que busca defender-se contra um gigante deste é elementar.
b) Vulnerabilidade técnica: falta de conhecimento sobre o objeto que está adquirindo. 
Bill Gates é o homem mais rico do mundo. Por certo não detém vulnerabilidade econômica. Mas muito provavelmente não deve conhecer como funciona um veículo, como se constrói uma casa e coisas deste tipo. Neste passo, embora não seja vulnerável do ponto de vista econômico, é vulnerável técnico quando adquire estes produtos.
c) Vulnerabilidade jurídica: falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus reflexos nas relações de consumo;
d) Vulnerabilidade informacional: dados insuficientes ou incompreensíveis sobre o produto ou o serviço, sobretudo aqueles farmacêuticos e médicos;
e) Vulnerabilidade casuística: podem surgir outras vulnerabilidades no caso concreto.
Para que o consumidor seja reputado como vulnerável não se faz necessário a presença de todos os elementos, mas apenas de um deles.
FICA LIGADO porque já caiu:
Maria e Manoel, casados, pais dos gêmeos Gabriel e Thiago que têm apenas três meses de vida, residem há seis meses no Condomínio Vila Feliz. O fornecimento do serviço de energia elétrica na cidade onde moram é prestado por um única concessionária, a Companhia de Eletricidade Luz S.A. Há uma semana, o casal vem sofrendo com as contínuas e injustificadas interrupções na prestação do serviço pela concessionária, o que já acarretou a queima do aparelho de televisão e da geladeira, com a perda de todos os alimentos nela contidos. O casal pretende ser indenizado. 
Nesse caso, à luz do princípio da vulnerabilidade previsto no Código de Proteção e Defesa do Consumidor, assinale a afirmativa correta. 
A) Prevalece o entendimento jurisprudencial no sentido de que a vulnerabilidade no Código do Consumidor é sempre presumida, tanto para o consumidor pessoa física, Maria e Manoel, quanto para a pessoa jurídica, no caso, o Condomínio Vila Feliz, tendo ambos direitos básicos à indenização e à inversão judicial automática do ônus da prova. 
B) A doutrina consumerista dominante considera a vulnerabilidade um conceito jurídico indeterminado, plurissignificativo, sendo correto afirmar que, no caso em questão, está configurada a vulnerabilidade fática do casal diante da concessionária, havendo direito básico à indenização pela interrupção imotivada do serviço público essencial.
 C) É dominante o entendimento no sentido de que a vulnerabilidade nas relações de consumo é sinônimo exato de hipossuficiência econômica do consumidor. Logo, basta ao casal Maria e Manoel demonstrá-la para receber a integral proteção das normas consumeristas e o consequente direito básico à inversão automática do ônus da prova e a ampla indenização pelos danos sofridos. 
D) A vulnerabilidade nas relações de consumo se divide em apenas duas espécies: a jurídica ou científica e a técnica. Aquela representa a falta de conhecimentos jurídicos ou outros pertinentes à contabilidade e à economia, e esta, à ausência de conhecimentos específicos sobre o serviço oferecido, sendo que sua verificação é requisito legal para inversão do ônus da prova a favor do casal e do consequente direito à indenização.
ALTERNATIVA CORRETA: B
II - ação governamental no sentido de proteger efetivamente o consumidor.
III - harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores.
Os princípios contratuais impõem que numa relação privada contratual haja o equilíbrio das contraprestações. Neste passo, o art. 4º., II, prega a harmonização dos interesses dos participantes das relações de consumo e compatibilização da proteção do consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre consumidores e fornecedores. 
Assim, uma relação justa deve ter equilíbrio nas contraprestações. Se o escopo é a proteção do consumidor, igualmente não se deve perder de vista em não prejudicar-se o fornecedor indevidamente. Esse é o argumento que os planos de saúde trazem quando decisões judiciais surpresa determinam que prestem atendimentos fora das hipóteses contratuais e fora das regras da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
É famoso o caso de consumidores americanos que processaram a Red Bull porque tomaram o enérgico e não ganharam asas. O slogan da empresa é: “Red Bull te dá asas”. E, pasmem, a empresa fez acordo de $13.000.000,00 para por fim ao processo[footnoteRef:28]. [28: https://exame.abril.com.br/marketing/red-bull-pagara-us-13-mi-a-clientes-que-nao-ganharam-asas/] 
Dentro da realidade brasileira, uma pretensão indenizatória deste jaez esbarraria no equilíbrio e fundamentalmente na boa-fé. Ora, somente um idiota (ou verdadeiramente mal intencionado) imaginaria que beber Red Bull lhe daria asas no sentido literal da palavra.
IV - educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo;
V - incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de controle dequalidade e segurança de produtos e serviços, assim como de mecanismos alternativos de solução de conflitos de consumo; 
VI - coibição e repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo, inclusive a concorrência desleal e utilização indevida de inventos e criações industriais das marcas e nomes comerciais e signos distintivos, que possam causar prejuízos aos consumidores;
VII - racionalização e melhoria dos serviços públicos; 
VIII - estudo constante das modificações do mercado de consumo.
5. DOS DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR 
O CDC, no art. 6º., elenca os “direitos básicos do consumidor”. Por direitos básicos entendam-se os mínimos, num rol não exaustivo, uma vez que a tais direitos se somam outros previstos no próprio CDC, bem como em legislação complementar.
Estes são os direitos básicos:
I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos.
A proteção à vida, à segurança e à saúde é a preocupação primordial deste inciso, sendo complementado pela disciplina dos arts. 8º. a 10ª. A rigor, produtos perigosos não podem ser colocados no mercado de consumo. Entretanto, há de se ponderar quanto ao nível desta periculosidade: 
a) periculosidade inerente: risco normal, previsível e intrínseco, ligado a sua própria qualidade, normal e previsível. Ex: faca de cozinha; arma de fogo; remédios, veículos (em especial motocicletas).
São conhecidos os riscos que uma faca proporciona. É elementar que uma motocicleta possui periculosidade inerente ao seu uso. Neste tipo de periculosidade não se fala de vício e não há indenização caso o dano decorra do uso normal do produto. Assim, se alguém se corta com uma faca num churrasco, ou alguém cai de uma moto e se machuca, não pode pleitear reparação de danos. Este é um dos motivos pelos quais as ações de indenização contra fabricantes de cigarros e bebidas não prosperam, como se depreende do julgado abaixo:
RESPONSABILIDADE CIVIL. BEBIDA ALCOÓLICA. - Trata-se, na origem, de ação indenizatória por danos morais e materiais promovida pelo ora recorrido em desfavor da ora recorrente, companhia de bebidas ao fundamento de que, ao consumir, por diversos anos, conhecida marca de cachaça, tornou-se alcoólatra, circunstância que motivou a degradação de sua vida pessoal e profissional, vindo a falecer no curso da presente ação. Sustentou, nesse contexto, que a publicidade do produto da recorrente violou as disposições do CDC, notadamente quanto à correta informação sobre os malefícios decorrentes do uso de bebida alcoólica. O juiz antecipou o exame da controvérsia e julgou improcedente o pedido. Interposto recurso de apelação, o tribunal de origem, por maioria de votos, deu-lhe provimento, ao reconhecer cerceamento de defesa e, ato contínuo, anulou a sentença, determinando, por conseguinte, a produção de prova técnica médica concernente à comprovação da dependência química do recorrido. No especial, a Turma, ao prosseguir o julgamento, por maioria, deu provimento ao recurso e entendeu, entre outras questões, que, embora notórios os malefícios do consumo excessivo de bebidas alcoólicas, tal atividade é exercida dentro da legalidade, adaptando-se às recomendações da Lei n. 9.294/1996, que modificou a forma de oferecimento ao mercado consumidor de bebidas alcoólicas e não alcoólicas, ao determinar, quanto às primeiras, a necessidade de ressalva sobre os riscos do consumo exagerado do produto. Ademais, aquele que, por livre e espontânea vontade, inicia-se no consumo de bebidas alcoólicas, propagando tal hábito durante certo período de tempo, não pode, doravante, pretender atribuir responsabilidade de sua conduta ao fabricante do produto, que exerce atividade lícita e regulamentada pelo poder público. Assim, decidiu que o tribunal a quo não poderia reconhecer de ofício o cerceamento de defesa sem a prévia manifestação da parte interessada no recurso de apelação, sendo vencida, nesse ponto, a Min. Nancy Andrighi, a qual entendeu que não é possível julgar o mérito sem antes cumprir toda a escada processual. Precedente citado: REsp 886.347-RS, DJe 8/6/2010. REsp 1.261.943-SP <http://www.stj.gov.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp?tipo=num_pro&valor=REsp%201261943> , Rel. Min. Massami Uyeda, julgado em 22/11/2011
b) periculosidade adquirida: os produtos tornam-se perigosos em razão de um defeito adquirido. Sua principal característica é a imprevisibilidade. A periculosidade não era esperada. Como exemplo cite-se alguém que cai de uma moto porque a roda dianteira travou por um defeito; alguém que se queima com fósforos porque a caixa explodiu.
Nestas hipóteses o fornecedor terá o dever de indenizar.
c) periculosidade exagerada. Esses produtos não poderão ser levados ao mercado de consumo (produtos de circulação restrita). Quem fornecer um produto de periculosidade exagerada terá responsabilidade integral. Ex: produtos radioativos.
Ademais, quem coloca um produto ou presta ou serviço que potencialmente causaria danos ao consumidor tem o dever de informar sobre os riscos e promover medidas para reparar estes danos. Seguindo o modelo americano, impõe-se o chamado recall, que já se incorpora na indústria brasileira. Conforme o jornal Valor Econômico (03/11/2005, p. B5), o recall, antes usual apenas em carros, hoje atinge de cafeteiras a ovos de páscoa. Isso porque “um consumidor insatisfeito passa seu descontentamento para 14 pessoas, enquanto o que está satisfeito somente para 06 pessoas.”
Como imposição ao dever de informar o consumidor pelos riscos dos produtos e serviços destacam-se as redações dos parágrafos 1º. e 2º., do art. 10 do CDC:
Nocividade futura: CDC, art. 10, § 1º. O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver, conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores, mediante anúncios publicitários.
Divulgação: CDC, art. 10, § 2º. Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto ou serviço.
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a igualdade nas contratações;
O consumidor tem direito de ser livre na escolha de seus produtos e serviços. Logo, são vedadas práticas que o obrigue a adquirir sem liberdade. É por isso que se vedam as vendas casadas, cuja restrição também se faz presente no art. 39, I, do CDC.
O STJ considerou que é venda casada condicionar a concessão de cartões de crédito à contratação de seguros e títulos de capitalização.
Em julgado de 2007, o STJ decidiu que os frequentadores de cinema não estão obrigados a consumir unicamente os produtos da empresa vendidos na entrada das salas (sim, podemos levar pipoca de casa). A decisão considerou que a situação é diferente da que ocorre em bares e restaurantes, em que a venda de produtos alimentícios constitui a essência da atividade comercial.
Famosa também é a Súmula 473 do STJ, para qual “O mutuário do SFH não pode ser compelido a contratar o seguro habitacional obrigatório com a instituição financeira mutuante ou com a seguradora por ela indicada”.
Por outro lado, o enunciado do inciso II assegura o direito de igualdade. Neste passo, consumidores em posição idêntica devem ter tratamento isonômico. Assim, é vedada cobrança diferenciada de mensalidades escolares entre calouros e veteranos (STJ – Resp 674.571-SC). 
Muitos se deparam com uma prática que afetam os beneficiários de planos privados de assistência à saúde. Ao tentar agendar uma consulta médica surge a pergunta da secretária: “é convênio ou é particular? Se for particular, existe vaga hoje, mas se for por convênio, só há horário disponível daqui a dois meses”. Essa prática é abusiva, fere a igualdade dos consumidores e é repudiada pelo próprio CREMESP – Conselho Regional de Medicina do Estado de SãoPaulo, que já se posicionou mediante o Parecer 09-2011.
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
Decorre evidentemente do dever de informar. Vale ressaltar que a falha de informação já torna o produto defeituoso, na esteira do disposto no art. 12, que declara: “O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.”
Em um caso interessante um consumidor importou um veículo diretamente de uma importadora sediada no Brasil. Após adquirir o produto, e após perceber que o veículo não funcionava adequadamente, foi informado que nosso combustível era incompatível com aquele modelo. E o STJ decidiu que “é de admitir que o consumidor deveria ter sido, pelo menos, informado de forma adequada, no momento da compra, que o veículo não poderia ser abastecido com combustível recomendado para a utilização em meio rural. Essa era uma informação que poderia interferir decisivamente na opção de
compra do bem e não poderia, por isso, ser omitida, sob pena de ofensa ao
dever de ampla informação” (REsp 1.443.268-DF). 
FICA LIGADO porque já caiu:
O fornecimento de serviços e de produtos é atividade desenvolvida nas mais diversas modalidades, como ocorre nos serviços de crédito e financiamento, regidos pela norma especial consumerista, que atribuiu disciplina específica para a temática.
A respeito do crédito ao consumidor, nos estritos termos do Código de Defesa do Consumidor, assinale a opção correta. 
A) A informação prévia ao consumidor, a respeito de taxa efetiva de juros, é obrigatória, facultando-se a discriminação dos acréscimos legais, como os tributos e taxas de expediente.
B) A liquidação antecipada do débito financiado comporta a devolução ou a redução proporcional de encargos, mas só terá cabimento se assim optar o consumidor no momento da contratação do serviço. 
C) As informações sobre o preço e a apresentação do serviço de crédito devem ser, obrigatoriamente, apresentadas em moeda corrente nacional. 
D) A pena moratória decorrente do inadimplemento da obrigação deve respeitar teto do valor da prestação inadimplida, não se podendo exigir do consumidor que suporte cumulativamente a incidência dos juros de mora.
ALERNATIVA CORRETA: C
XXIV EXAME DE ORDEM
Os arquitetos Everton e Joana adquiriram pacote de viagens para passar a lua de mel na Europa, primeira viagem internacional do casal. Ocorre que o trajeto do voo previa conexão em um país que exigia visto de trânsito, tendo havido impedimento do embarque dos noivos, ainda no Brasil, por não terem o visto exigido. O casal questionou a agência de turismo por não ter dado qualquer explicação prévia nesse sentido, e a fornecedora informou que não se responsabilizava pela informação de necessidade de visto para a realização da viagem. 
Diante do caso apresentado, assinale a afirmativa correta. 
A) Cabe ação de reparação por danos extrapatrimoniais, em razão da insuficiência de informação clara e precisa, que deveria ter sido prestada pela agência de turismo, no tocante à necessidade de visto de trânsito para a conexão internacional prevista no trajeto. 
B) Não houve danos materiais a serem ressarcidos, já que os consumidores sequer embarcaram, situação muito diferente de terem de retornar, às próprias expensas, diretamente do país de conexão, interrompendo a viagem durante o percurso. 
C) Não ocorreram danos extrapatrimoniais por se tratar de pessoas que tinham capacidade de leitura e compreensão do contrato, sendo culpa exclusiva das próprias vítimas a interrupção da viagem por desconhecerem a necessidade de visto de trânsito para realizarem a conexão internacional. 
D) Houve culpa exclusiva da empresa aérea que emitiu os bilhetes de viagem, não podendo a agência de viagem ser culpabilizada, por ser o comerciante responsável subsidiariamente e não responder diretamente pelo fato do serviço.
ALTERNATIVA CORRETA: A
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
Estudaremos esse inciso ao abordarmos as práticas publicitárias em capítulos futuros.
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;
O dirigismo contratual é tônica dos negócios que envolvam consumidores. Esta abordagem será ainda mais incisiva quando estudarmos os arts. 51 e seguintes deste Código.
Via de consequência, é possível que o consumidor exija judicialmente a modificação de cláusulas contratuais que sejam desproporcionais, em razão de fatos posteriores à contratação e que as tornaram muito onerosas.
O Código Civil tem regra semelhante no art. 478: “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.”
Em que pesem as semelhanças os tratamentos são diferenciados. O Código Civil permite a resolução (extinção) do contrato somente se a onerosidade decorrer de acontecimento “extraordinário e imprevisível”. É uma clássica adoção da “teoria da imprevisão”. Porém, o problema desta teoria é que basicamente nada era aceito pela nossa jurisprudência como imprevisível: geadas com frustração de safra; variação cambial; hiperinflação etc. Assim, ficavam prejudicados os pedidos de resolução ou modificação contratual.
Todavia, o CDC exige apenas fatos supervenientes que tornem a obrigação excessivamente onerosa. Prescinde-se, assim, da imprevisibilidade. E, claro, isto torna muito mais fácil a revisão contratual, haja vista que o consumidor pode pleitear a revisão contratual, e não apenas sua resolução, como na hipótese do Código Civil.
	Código Civil
	CDC
	Fato superveniente
	Fato superveniente
	Excessiva onerosidade
	Excessiva onerosidade
	Fato imprevisível e extraordinário 
	Nada a respeito
VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
Estudar-se-á com detalhes este inciso ao abordarmos os artigos 12 e seguintes do CDC.
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do Juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
Uma das maiores dificuldades de um consumidor num litígio judicial é demonstrar o fato que ampara sua pretensão. Num caso recente, um garoto de 18 anos torceu o joelho e foi para o hospital. Lá chegando, o médico, pouco atencioso, simplesmente engessou a perna do paciente. Ao passar a visita noturna o “nobre doutor” percebeu que o pé do garoto estava grangrenado. Foi necessária, então, amputar-se a perna do rapaz. 
Por uma simples torção de joelho o garoto perdeu sua perna. Parece elementar a culpa do médico. Todavia, como provar? O rapaz e seu advogado não detém conhecimento técnico específico para tanto.
Nestas hipóteses, o CDC incorporou a “Teoria da Aptidão da Prova” ou “Carga Dinâmica da Prova”. Em situações em que a tese do consumidor for verossímel, ou em que o consumidor seja reputado hipossuficiente (não basta ser vulnerável), poderá o juiz determinar a inversão do ônus da prova. Para tanto, estes elementos devem se fazer presentes:
a) somente no processo civil;
b) critério do juiz (portanto não

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