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A Ideologia na Prática Pedagógica da Escola Pública

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UM PERFIL DA ESCOLA PÚBLICA: 
A IDEOLOGIA DA PRÁTICA PEDAGÓGICA 
Lucilene Poloto1
RESUMO 
Este trabalho teve como base a análise da função social da escola sob a 
perspectiva da prática pedagógica como produto e produtora de uma 
ideologia. Assim, o mesmo objetivou traçar um perfil da escola pública 
com os alunos do Colégio Estadual Castro Alves – Ensino Médio da cidade 
de Rondon, Estado do Paraná. Para alcançar o objetivo proposto buscou-
se, por meio de uma pesquisa de campo, de natureza descritiva e 
qualitativa, entender como alunos, pais de alunos, professores, 
pedagogos, direção e funcionários percebem a escola. Para tanto utilizou-
se um questionário que investigava qual a função da escola em suas 
vidas, as dificuldades percebidas e as mudanças pretendidas, bem como, 
como percebem a prática pedagógica. Tais dados possibilitaram visualizar 
um perfil geral da escola, no qual teve destaque a relevância da ideologia 
presente na prática pedagógica como determinante da escola que se tem. 
A conclusão obtida foi a de que o professor é o principal articulador dos 
resultados alcançados no processo educativo, cabendo a ele apropriar-se 
das ferramentas que possibilitem a construção de uma prática pedagógica 
mediadora determinante da escola que se quer.
Palavras-chave: Prática pedagógica. Perfil da escola. Função social da 
escola.
ABSTRACT
This work had as base the analysis of the social function of the school 
under the practical perspective of the pedagogical one as product and 
producer of an ideology. Thus, the same Average Education of the city of 
Rondon objectified to trace a profile of the public school with the pupils of 
the State College Castro Alves -, State of Paraná. To reach the considered 
objective one searched, through a research of field, descriptive nature and 
qualitative, to understand as pupils, parents of pupils, professors, 
pedagogos, direction and employees they perceive the school. For in such 
a way a questionnaire was used that investigated which the perceived 
function of the school in its lives, difficulties and the intended changes, as 
1 Professora Pedagoga do Programa de 
 Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná
 Universidade Estadual de Maringá – Paraná
 Colégio Estadual Castro Alves – EM
 Rondon – Paraná
 Especialista em Metodologia e Didática de Ensino
 e-mail: polotolucilene@gmail.com
well as, as they perceive practical the pedagogical one. Such data make 
possible to visualize a profile general of the school, in which it had has 
detached the relevance of the pedagogical practical present ideology in as 
the determinative one of the school that if has. The gotten conclusion was 
of that the professor is the main articulador of the results reached in the 
educative process, fitting it to assume itself of the tools that make 
possible the practical construction of one pedagogical determinative 
mediating of the school that if wants.
Word-key: Practical pedagogical. Profile of the school. Social function of 
the school.
1 INTRODUÇÃO 
Este artigo discute a função social da escola na vida dos alunos, 
pais, professores e demais pessoas da escola, ao mesmo tempo que 
desnuda o processo pedagógico à luz da ideologia que o rege.
Baseia-se nas teorias de estudiosos em educação que investigam e 
discutem o assunto sob a ótica escolhida. FREIRE(2000) propõe que a 
educação está presente em toda a sociedade e a serviço desta; SAVIANI 
(2005), no bojo de sua teoria histórico-crítica, coloca como questão 
central o saber; VASCONCELLOS (1994, p. 12) com sua metodologia 
dialética, propõe “que nossa atenção deve estar em torno da sala de 
aula”; GÓMEZ (1998), ao analisar o que acontece em sala de aula, 
ressalta que o professor deve conhecer as múltiplas influências que 
acontecem, pois o desafio da escola é formar o cidadão para atuar 
eficazmente no cenário social; ESTEVE (1995) mostra o que tem 
acontecido no interior da escola e o papel a que o professor foi reduzido, 
apontando os fatores que influenciam na prática pedagógica; MOYSÉS 
(1995) apresenta a competência profissional como fator de peso para a 
melhoria da qualidade de ensino; FRANCIOLLI (2005) aponta os fatores 
intervenientes na prática docente; ZAGURY (2006) propõe a necessidade 
de estudos abrangentes sobre os problemas ligados à educação, segundo 
ela é preciso mais pesquisa em educação; CAVACO (1995) destaca a 
interferência do desenvolvimento biológico, dos processos estruturais 
2
socialmente organizados, dinâmicas institucionais e aspectos específicos 
de cada pessoa no processo ensino-aprendizagem.
Diante da atual situação de crise presenciada na educação 
brasileira, é preciso entender o que está acontecendo, como e porque está 
acontecendo, para tanto é necessário muitos estudos e pesquisa concreta 
que permitam a análise de todas as variáveis que interferem no processo 
ensino-aprendizagem. Isso requer muito esforço dos envolvidos, mas 
principalmente cabe aos educadores a tarefa de desvendar, entender e 
divulgar as reais causas e conseqüências, traçando linhas de ações. 
Existem muitos estudos e estudiosos defendendo diversas teorias, mas é 
evidente que grandes problemas educacionais existem. O caminho certo a 
seguir é preciso descobrir.
Assim, a partir da realidade da nossa escola de atuação, é preciso 
buscar ações efetivas, voltadas para a melhoria do quadro apresentado. 
Não se pode ignorar os dados obtidos tampouco negligenciar as mudanças 
necessárias.
 Por meio de uma pesquisa de campo, de natureza descritiva e 
qualitativa, buscou-se entender como alunos, pais de alunos e 
professores percebem a escola e as práticas nela exercitadas. Essa 
pesquisa é efetivada com a aplicação e a tabulação de dados de um 
questionário que busca investigar questões tais como a função da escola 
em suas vidas, as dificuldades percebidas e as mudanças pretendidas, e 
ainda, a percepção sobre a prática pedagógica. 
Os dados obtidos possibilitaram visualizar um perfil geral da escola, 
no qual teve destaque a relevância da ideologia presente na prática 
pedagógica como determinante da escola que se tem. 
A conclusão obtida foi a de que o professor é o principal articulador 
dos resultados alcançados pelo processo educativo, cabendo a ele 
apropriar-se das ferramentas que possibilitem a construção de uma 
prática pedagógica mediadora determinante da escola que se quer.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
3
Muitos estudos sobre a situação de nossas escolas têm mostrado 
que são inúmeros os problemas que se apresentam no cotidiano escolar. 
Muitas situações, tais como a indisciplina, a evasão, o desinteresse pelo 
que é ensinado e pela escola, dificuldades de interação entre professor-
aluno, dificuldades de aprendizagem e outros tantos problemas devem ser 
estudados e as possíveis soluções buscadas e/ou sugeridas.
Assim, ao definir nosso objeto de estudo que foi traçar um perfil da 
escola, havia a pretensão de efetuar um levantamento de dados que 
possibilitassem vislumbrar todas as escolas públicas do Estado. À medida 
que se foi aplicando os questionários, procedendo a tabulação e a análise 
dos dados, percebeu-se que os dados permitiam contextualizar apenas a 
escola foco da aplicação da pesquisa, e somente por ela e pelos 
envolvidos, dar as respostas aos questionamentos colocados.
2.1 ENTENDENDO A FUNÇÃO DA ESCOLA
Existem muitas teorias que discutem a função da educação, mais 
especificamente da educação escolar. É preciso conhecê-las para elaborar 
as idéias, estabelecendo conclusões que permitam direcionar a prática 
pedagógica, cientes que toda prática traz no seu bojo uma ideologia. É 
preciso que oentendimento do que acontece no contexto escolar 
possibilite a compreensão da realidade da nossa escola, foco da pesquisa.
Primeiramente, buscando entender a função da escola e o que se 
pode esperar dela, é preciso ter claro que a educação sempre esteve 
presente nas sociedades, desde as mais primitivas até a atualidade, num 
processo que foi assumindo diversas funções e formatos de acordo com a 
realidade vivenciada em determinada época, sempre fazendo parte de um 
contexto social e ainda é um continnum.
FREIRE (2000, p.67) propôs um modelo de educação considerando 
que “Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela 
tampouco a sociedade muda”. Portanto, é importante a aceitação de que 
a educação está presente em toda sociedade a serviço desta para a sua 
preservação. 
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Com a consciência de que se vive numa sociedade capitalista, que 
se é fruto dessa sociedade, é preciso adquirir a clareza que ela tem 
determinado a prática pedagógica, bem como, a vida dos professores, faz-
se necessário o entendimento de que toda a situação educacional 
vivenciada em nossas escolas tem uma finalidade e atende a algum 
interesse. 
Essas colocações delineiam a realidade que se vive em educação, 
uma vez que as mudanças impostas decorrem das necessidades sociais e 
expressam a força do mercado econômico “mundializado”. O que se tem 
é uma educação voltada para as necessidades de mercado econômico, 
cujos direcionamentos visam construir indivíduos capazes de atuar e 
satisfazer as necessidades desse mercado, induzidos pela crença de que 
esse é o caminho para melhorar sua condição de vida e viver plenamente 
a democracia, enfim há uma descaracterização do indivíduo, ele deve 
pensar e fazer aquilo que interessa ao crescimento econômico.
Hoje a escola deixou de cumprir seu papel principal de educar e 
formar o cidadão, está centrada no “assistencialismo”, na “maquiagem 
estatística” e na “onda de privatizações”. Deve-se ter presente a 
tendência de diferenciar as escolas das massas e das elites. O discurso 
que justifica as mudanças induz à idéia de que as mudanças realmente se 
fazem necessárias, sendo esse o único caminho viável para a democracia. 
É preciso considerar os fatores alienantes presentes nos discursos e nas 
políticas educacionais que vão se sucedendo na medida em que florescem 
novos interesses econômicos. De acordo com SAVIANI (2002, p.2)
outro componente dessa visão ideológica é que os 
conhecimentos que a população precisa dominar são mais os 
do dia a dia. O importante não é estar empregado, mas ser 
empregável. Ser empregável significa ter flexibilidade e 
capacidade de adaptação. E você se adapta na medida em 
que você convive, se relaciona. Então os conhecimentos 
sistemáticos tendem a ser secundarizados. A questão que se 
põe que precisa ser pensada é se isto tenderia a alterar 
substantivamente o caráter da escola. Se isto é um indicador 
de que a sociedade está mudando e que, com a mudança da 
sociedade, a natureza da escola também está mudando. 
5
O entendimento do que acontece em nossas escolas, passa pelo 
entendimento da ideologia presente nas idéias transmitidas e/ou 
comunicadas. 
SAVIANI (2005), no bojo de sua teoria Histórico-Crítica, coloca como 
questão central o saber. O saber é o que deve direcionar todo o trabalho 
educativo. Na escola devemos ter presente como fim a atingir a 
tramsmissão-assimilação do saber sistematizado, elaborado, científico, a 
cultura letrada.
Isto porque o homem não se faz homem naturalmente; ele 
não nasce sabendo ser homem, vale dizer, ele não nasce 
sabendo sentir, pensar, avaliar, agir. Para saber pensar e 
sentir; para saber querer, agir ou avaliar é preciso aprender, 
o que implica o trabalho educativo.Assim, o saber que 
diretamente interessa à educação é aquele que emerge 
como resultado do processo de aprendizagem, como 
resultado do trabalho educativo. Entretanto, para chegar a 
esse resultado a educação tem que partir, tem que tomar 
como referência, como matéria-prima de sua atividade, o 
saber objetivo produzido historicamente. (SAVIANI, 2005, 
p.7)
2.2 O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM
A escola como espaço que prima pela aprendizagem tem toda uma 
organização, que prioriza a construção gradual de conhecimentos, isto é, 
conforme as etapas vão sendo vencidas, há a complementação desses 
conhecimentos. Nesse espaço destaca-se a importância do educador ter 
definido sua concepção teórica, porque isto significa ter claro que 
indivíduo quer formar e que metodologia vai utilizar, possuindo a clareza 
da forma como o aluno se apropria do conhecimento e das possibilidades 
de efetivar sua prática educativa.
Para o entendimento de como se dá o processo ensino-
aprendizagem, é preciso que todo educador conheça as teorias que se 
referem ao processo de aprendizagem, para poder definir que caminhos e 
quais mecanismos serão mais efetivos para atender ao aluno, sendo 
evidente a necessidade de buscar nos pensadores da educação o 
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embasamento teórico que o capacite a entender a problemática 
educacional ora vivenciada.
Definir como se aprende é importante, porém mais importante ainda 
é definir quem são nossos alunos, quais são suas condições e perspectivas 
de vida e de futuro. Isso possibilita o entendimento, pelos professores, da 
maioria das problemáticas presentes hoje em nossas salas de aula.
Que o ser humano é fruto da história isso é fato, mas é preciso 
considerar que a história se constrói a cada dia, assim o que se vive hoje é 
parte histórica da construção de vida de nossos alunos. Essa construção 
não se dá ao acaso, ela é determinada pelas interações decorrentes do 
sistema vigente. Por se viver numa sociedade capitalista é preciso o 
entendimento de que, com a globalização mudaram-se as relações de 
trabalho, ampliando-as para esferas que exigem um novo perfil de homem 
e de trabalhador, sendo que a educação deve servir de instrumentalização 
do homem para atender a essa demanda capitalista. 
O educador, consciente dessa realidade, deve definir qual vai ser 
sua prática pedagógica, quais caminhos seguir, que conhecimentos 
considera importante trabalhar junto aos seus alunos. Enfim, que 
diferença pretende fazer na vida deles. 
VASCONCELLOS (1994, p.34, grifo do autor), com sua metodologia 
dialética entende que em sala de aula “O conhecimento tem sentido 
quando possibilita o compreender, o usufruir ou o transformar a 
realidade”. A finalidade do conhecimento é que possa colaborar na 
formação global do educando (consciência, caráter e cidadania), assim, o 
educador deve ter clareza dos objetivos que pretende atingir, deve ter 
convicção daquilo que pretende com o seu trabalho, deve saber o 
conteúdo e saber muito bem para poder fazer as mediações que 
desencadeiem em seus alunos as relações e as problematizações 
necessárias à transformação da realidade social. 
SAVIANI (2005, p.15), trata da apropriação do saber 
elaborado/sistematizado, “a escola existe, pois, para propiciar a aquisição 
dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciência), 
7
bem como o próprio acesso aos rudimentos do saber”, fazendo distinção 
entre pedagogia geral (noção de cultura como tudo que o homem produz) 
e pedagogia escolar (ligada ao saber sistematizado), clareando as idéias 
quanto ao papel da escola e em conseqüência o caminho que o educador 
deve seguir:
Ora, clássico na escola é a transmissão-assimilação do saber 
sistematizado. Este é o fim a atingir. É aí que cabe encontrar 
a fonte natural para elaborar os métodos e as formas de 
organização do conjunto das atividades da escola,isto é, do 
currículo. E aqui nós podemos recuperar o conceito 
abrangente de currículo: organização do conjunto das 
atividades nucleares distribuídas no espaço e tempo 
escolares. Um currículo é, pois, uma escola funcionando, 
quer dizer, uma escola desempenhando a função que lhe é 
própria. (SAVIANI, 2005, p. 18) 
2.3 A REALIDADE EDUCACIONAL
É necessário considerar a inserção de todos num contexto mundial e 
por esse fato não se pode ficar à margem dos acontecimentos e das 
conseqüências, nem sempre positivas. A educação deveria ser beneficiada 
e privilegiada com os avanços tecnológicos, porém, infelizmente não é 
devidamente contemplada como deveria, afinal, mesmo considerada 
prioridade pelos órgãos governamentais, continua de modo geral, obsoleta 
em tecnologia e elitista, na qual os menos favorecidos lutam por uma 
escola pública de maior qualidade e por um acesso à universidade mais 
democrático e menos excludente. 
Por estar inserido nesse contexto, os alunos observam uma situação 
crítica, o que lhes provoca desestímulo e falta de perspectiva em relação 
às suas vidas e ao futuro. Isso tudo, acaba por desencadear elevados 
índices de repetência e evasão escolar, ou seja, o insucesso do processo 
ensino-aprendizagem. Somam-se a isso outros problemas de ordem 
pessoal, social e familiar que comprometem o processo ensino-
aprendizagem, uma vez que afloram na escola e no meio próximo a esta. 
8
Essa realidade induz e faz acreditar que em educação tudo vai mal, 
que nada mais tem jeito e que não há nada para se fazer. Instala-se um 
conformismo generalizado, em que o professor faz de conta que ensina e 
o aluno faz de conta que aprende.
Ora, o que se pode fazer diante de tal situação? É preciso não só 
teorização, pois esta desvinculada de qualquer prática não tem nem ao 
menos, razão de ser. É preciso reflexão sobre o que realmente tem 
acontecido em nossas escolas, nossas salas de aula, com nossos alunos e 
com os professores que ali atuam. É preciso nesse momento, concordar 
com FREIRE (1996, p. 22), quando diz que “ A reflexão crítica sobre a 
prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a 
teoria pode ir virando blábláblá e a prática, ativismo”.
É necessário ter clareza que a escola como um todo, no nosso caso 
as escolas públicas, não atuam a esmo, antes são direcionadas por leis 
federais e estaduais, sendo que toda a sua ação é regida pelos órgãos 
competentes (Ministério da Educação e Cultura e Secretaria Estadual de 
Educação). Porém, ainda o que se vê atualmente é uma escola que não 
ensina, que não consegue satisfazer as orientações e exigências das 
instâncias superiores, uma escola que vive atolada em tantos afazeres, 
em cumprir tantos projetos, que os conteúdos acadêmicos mínimos ficam 
impossibilitados de serem desenvolvidos plenamente e como seria de 
direito dos alunos e de obrigação da escola enquanto instituição 
educativa. MOYSÉS (1995, p. 10) evidencia isso ao afirmar que “um dos 
problemas mais graves da nossa escola em todos os níveis é o baixo nível 
de aproveitamento dos alunos; a aprendizagem dos conteúdos escolares é 
algo que envolve os processos mentais superiores e se dá no interior de 
um ser social e historicamente contextualizado”. E o sistema gestor não se 
apercebe dessa realidade e continua a inundar a escola com novos 
afazeres, novas teorias e exigências, destituindo-se de qualquer culpa.
Ao considerar o que já foi exposto aqui, é preciso ter como ponto de 
partida a análise do que acontece em nossas salas de aula, sendo de 
9
suma importância as intervenções do professor. GÓMEZ (1998, p.70) nos 
mostra isso:
O ensino nas sociedades contemporâneas se desenvolve em 
instituições sociais especializadas para cumprir essa função. 
A aprendizagem do alunos/as ocorre em grupos sociais nos 
quais as relações e as trocas físicas, afetivas e intelectuais 
constituem a vida do grupo e condicionam os processos de 
aprendizagem. Assim para que o professor/a possa intervir e 
facilitar os processos de reconstrução e transformação do 
pensamento e da ação dos alunos/as deve conhecer as 
múltiplas influências que, previstas ou não, acontecem na 
complexa vida da aula e intervêm decisivamente no que os 
estudantes aprendem e nos modos de aprender. 
O que tem acontecido com nosso(s) aluno(s)? Por que tanto 
desinteresse? Por que não aprendem? De quem será a culpa? São 
justamente essas a grandes questões da problemática educacional, pois 
as respostas a estas perguntas parecem não interessar a quem de direito 
tem a responsabilidade.
Observa-se que nesse contexto tem sido mais fácil jogar a culpa no 
aluno ou no professor. A escola e o professor não podem se isentar 
totalmente de culpa, mas é preciso antes, entender a problemática ou 
parte desta, envolvida no cotidiano escolar. Assim, é importante entender 
o que acontece no interior da sala de aula.
Busca-se em VASCONCELLOS (1994, p.12) o entendimento de “que 
nossa atenção deve estar em torno da sala de aula, onde todo dia o 
professor tem sua prática, seleciona os conteúdos, passa posições 
políticas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores”. A posição do 
professor em sala de aula, diante do processo ensino-aprendizagem que 
se instaura a todo momento, nas dinâmicas educativas estabelecidas, é 
fator de análise. Pois, parodiando SACRISTÁN (1995, p.68), os professores 
não produzem o conhecimento que são chamados a reproduzir, nem 
determinam as estratégias práticas de sua ação.
ESTEVE (1995, p. 100) mostra o que tem acontecido no interior da 
escola e a que o professor foi reduzido.
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Há um autêntico aumento das exigências que se fazem ao 
professor, pedindo-lhe que assuma um número cada vez 
maior de responsabilidades. No momento atual, o professor 
não pode afirmar que a sua tarefa se reduz apenas ao 
domínio cognitivo. Para além de saber a matéria que leciona, 
pede-se ao professor que seja facilitador da aprendizagem, 
pedagogo eficaz, organizador do trabalho de grupo, e que, 
para além do ensino, cuide do equilíbrio psicológico e 
afectivo dos alunos, da integração social e da educação 
sexual, etc.; a tudo isto pode somar-se a atenção aos alunos 
especiais integrado na turma.
Dito de outra forma, a prática social inevitavelmente está atrelada à 
cultura e aos contextos sociais de seus personagens, como mostra 
SACRISTÁN (1995, p. 66) ao afirmar que “o ensino é uma prática social 
[...] reflectem a cultura e contextos sociais a que pertencem”. 
ESTEVE (1995), aponta ainda outros fatores que influenciam na 
prática educativa do professor e nos resultados de sua ação: aumento das 
exigências em relação ao professor; inibição da responsabilidade da 
família como agente de socialização; aumento das fontes de informações 
alternativas; presença multicultural e multilíngüe no seio da escola; 
aumento das contradições no exercício da docência; a configuração do 
sistema educativo passou de um ensino para as elites para um ensino 
para as massas; o apoio da sociedade mudou pais incertos quanto ao 
futuro dos filhos e a extensão e massificação do ensino também não 
produziu a igualdade e a promoção social esperada; caiu o status social do 
professor; o avanço das ciências e a transformação das exigências sociais 
requerem uma mudança profunda dos conteúdos curriculares; a 
massificação do ensino e o aumento das responsabilidades dos 
professores não se fizeram acompanhar de uma melhoria efetiva dos 
recursos materiais e das condições de trabalho em que se exerce a 
docência. Hoje em dia, o ensino de qualidade é mais fruto do voluntarismo 
dos professoresdo que conseqüência natural de condições de trabalho 
adequadas às dificuldades reais e às múltiplas tarefas educativas; as 
relações entre professores e alunos tornaram-se conflituosas; 
fragmentação do trabalho do professor . Os mesmos “para além das 
aulas, devem desempenhar tarefas de administração, reservar tempo para 
programar, avaliar, reciclar-se, orientar os alunos e atender os pais, 
11
organizar atividades várias, assistir a seminários e reuniões de 
coordenação, de disciplina ou de ano, porventura mesmo vigiar edifícios e 
materiais, recreios e cantinas.” (ESTEVE, 1995, p. 108)
É fácil chegar à definição de que a posição do professor é muito 
delicada. Se por um lado lhe é imposta uma culpa pelo fracasso, pelo 
insucesso do processo ensino-aprendizagem no formato que acontece em 
nossas escolas, concordando com MOYSÉS (1995, p. 11), que o “professor 
a quem falta quase tudo: das condições materiais de trabalho ao apoio 
pedagógico; da boa formação ao reconhecimento do seu valor 
profissional”.
Tudo o que acontece no contexto escolar, bem como no meio social 
ao qual se insere, marca a vida de todos os indivíduos envolvidos, em 
relação à prática pedagógica do professor, salientando que 
o professor trabalha de forma fragmentada, perdendo a 
autonomia, o conhecimento do todo e fica incapaz de 
trabalhar independentemente do capital; a atomização do 
trabalho pedagógico inibe as forças intelectuais do 
professor, já que a produção intelectual, o conhecimento, 
concentra-se a serviço do capital e confronta-se com o 
trabalhador como força estranha e dominadora; a 
mecanização do trabalho docente expropria o saber do 
professor sobre suas ações pedagógicas, tornando-o incapaz 
de pensá-lo e concebê-lo na sua totalidade; a 
desqualificação docente priva-o do debate das grandes 
questões sociais: salários, desemprego, guerras; 
transformando o espaço escolar em espaço do silêncio, da 
aceitação e do conformismo; a forma como o sistema 
educacional atende às necessidades do capital, obriga o 
professor a um trabalho cansativo, apático, indiferente, 
condicionando-o a produzir algo que lhe permita ganhar a 
vida. Quando o sistema exige mudanças de concepções, de 
metodologias – e isto ocorre, quase sempre, a cada mudança 
de governo – do educador exige-se a mudança de sua 
prática pedagógica e o cumprimento da nova ordem 
estabelecida. (FRANCIOLI, 2005, p. 47-48)
1.4A PRÁTICA PEDAGÓGICA POSSÍVEL
Mudanças são necessárias, mas o que de fato pode ser modificado 
que leve a uma ação pedagógica de sucesso? São muitas as 
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variáveis envolvidas no processo educativo, no entanto a ação docente é 
considerada fator determinante do que acontece dentro da sala de aula.
É preciso considerar a idéia de VASCONCELLOS (1994, p. 11) sobre a 
importância do professor estar “antenado” com todas a variáveis 
envolvidas no processo educativo: “conhecer como se dá o conhecimento 
no processo pedagógico é ajudar a eliminar a determinação social dos 
destinos dos alunos. Para o professor, é importante esse conhecimento a 
fim de melhor saber como interagir com a criança, no sentido de favorecer 
seu desenvolvimento e sua emancipação.”
O professor deve assumir-se enquanto educador, acreditando como 
FREIRE (1996), que o ato de ensinar cria as possibilidades para a 
produção ou construção de conhecimentos, sendo que na relação 
docente / discente “Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende 
ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.23). Assim,
Sou tão melhor professor, então, quanto mais eficazmente 
consiga provocar o educando no sentido de que prepare ou 
refine sua curiosidade, que deve trabalhar com minha ajuda, 
com vistas a que produza sua inteligência do objeto ou do 
conteúdo de que falo. Na verdade, meu papel como 
professor, ao ensinar o conteúdo a ou b, não é apenas o de 
me esforçar para, com clareza máxima, descrever a 
substantividade do conteúdo para que o aluno o fixe. Meu 
papel fundamental, ao falar com clareza sobre o objeto, é 
incitar o aluno a fim de que ele, com os materiais que 
ofereço, produza a compreensão do objeto em lugar de 
recebe-la, na íntegra, de mim [...] (FREIRE, 1996, p. 118)”
Portanto é de suma importância a percepção de que a prática não 
pode ser neutra, exige sim, uma definição, uma tomada de posição, pois 
tão importante quanto ensinar os conteúdos é o testemunho ético, a 
coerência com os alunos.
É preciso lembrar MOYSÉS (1995, capa/verso e p.14) que busca 
entender “Qual a razão de bons resultados que alguns professores obtêm 
com seus alunos? O que os distingue de seus pares? Como é a sua 
prática?”. A autora considera ainda que saber ensinar é “ tarefa complexa, 
requer preparo e compromisso; envolvimento e responsabilidade. É algo 
que se define pelo engajamento do educador com a causa democrática e 
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se expressa pelo seu desejo de instrumentalizar política e tecnicamente o 
seu aluno, ajudando-o a construir-se como sujeito social.” .
MOYSÉS (1995, p.14) ressalta também a competência profissional 
como fator de peso para a melhoria da qualidade de ensino, sem deixar de 
considerar que “é óbvio que ele, o professor, por si só, não é capaz de 
transformar a realidade que extrapola a própria escola e tem suas raízes 
no econômico e no sóciopolítico”. 
Preocupada também com os percalços enfrentados pela educação 
hoje, ZAGURY (2006, p.12-13) propõe a necessidade de estudos 
abrangentes sobre os problemas ligados a educação, é preciso mais 
pesquisa.
Quem não tem por hábito questionar ou investigar as 
informações que recebe (origens e autores) começa a repetir 
o que ouviu. Muitos dos que falam sobre Educação ( e que 
por vezes nunca deram aulas, por exemplo, no Ensino 
Básico) o fazem com tal segurança e até certo ar de 
superioridade, que inibem os que os escutam. Em geral, 
começam assim: “todos sabem que...”; “como é de 
conhecimento geral”... Quem os ouve, e não está embasado, 
acaba achando que é um pressuposto incontestável. E assim 
se criam mitos, modas e manias em educação [...].
 Propõe como pontos fundamentais para a educação a 
“Continuidade nas experiências e projetos pedagógicos iniciados; [...] 
Acompanhamento e avaliação sistemáticos e abrangentes de processo e 
de produto [...] e Análise final dos resultados” (ZAGURY, 2006, p.13-14), 
sendo que sem eles dificilmente corrigiremos os desvios, insucessos, 
influências e contaminações não desejadas na escola, como seu uso 
político, por exemplo. 
Ainda, ZAGURY (2006, p.18 e 19) evidencia, ao questionar se a 
educação brasileira não está tomando rumos equivocados, escolhendo 
“estratégias ou reformas educacionais sem embasar essas escolhas na 
realidade das salas de aula” que a culpa do fracasso não pode estar no 
professor, deve situar-se no sistema. Vai além quando apresenta como 
uma medida para evitar fracassos, “ouvir o docente”, considerando suas 
colocações, fazendo-o “como rotina, com respeito profissional e levando 
14
em conta, de fato, o que foi dito”. É o docente que pode realmente 
expressar o que acontece no interior da sala de aula e que apesar de toda 
gama de dificuldades, “continuam dispostos em busca de ensinar 
qualitativamente bem”.
2.5 PESQUISAS EM EDUCAÇÃO 
Essa pesquisa iniciou-se com a proposição de traçar um perfil da 
escola pública, investigando, junto aos vários atores da realidade da 
escola, a opinião que têm desta, as mudanças pretendidas, a forma como 
percebem a prática pedagógica e a função da escola em suas vidas. 
Porém, obteve-se um perfil referente apenasà população envolvida na 
pesquisa, já que os dados obtidos não permitem generalizações. 
Considerando os resultados obtidos pelo levantamento de dados, 
seguidos de uma análise embasada em estudiosos da educação deu-se o 
direcionamento da intervenção na realidade da escola junto ao corpo 
docente, pois o professor é que produz a prática pedagógica, cabendo-lhe 
a responsabilidade pela condução de sua aula, o sucesso ou insucesso 
desta depende de inúmeras variáveis, que nem sempre ele está apto para 
dominar e superar, afinal é preciso que ele seja visto como um ser 
humano. 
Muitas pesquisas vêm acontecendo no interior das escolas tendo em 
vista investigar suas rotinas e conseqüentemente estimular novas 
práticas, que vão de encontro ou complementam esta.
A fim de entender o percurso profissional de cada professor numa 
trajetória seqüenciada, CAVACO (1995, p. 160) desenvolveu um estudo 
que destaca a interferência “tanto do desenvolvimento biológico, como 
processos estruturais socialmente organizados e dinâmicas institucionais e 
ainda aspectos específicos de cada pessoa.” Os resultados dos estudos 
mostraram-se afirmativos, portanto o presente trabalho se entrelaça as 
proposições de Cavaco.
15
FRANCIOLI (2005, p. 70) buscou obter uma descrição densa sobre a 
prática pedagógica de um grupo de professores, com o “objetivo de 
analisar o trabalho docente, vivido no cotidiano da escola, e os fatores que 
afetam, transformando esse trabalho em trabalho alienado”, revelando a 
alienação vivida pelos professores em que ele, o professor, sente-se um 
estranho na sua ação durante a prática vivenciada em sala de aula e 
aponta ainda os maiores problemas levantados durante a sua pesquisa em 
relação a uma prática pedagógica mais efetiva, tais como: a falta de 
interesse dos alunos, a rotina do trabalho docente, a sobrecarga de horas-
aula, a falta de qualificação profissional, a falta de conhecimento dos 
professores sobre as outras disciplinas, a que classe trabalhadora 
pertence com oprofessor. Dados parecidos aparecem no presente 
trabalho, obtidos da intervenção junto aos professores. 
Na tentativa de mostrar que existem possibilidades de mudanças e 
melhoras, MOYSÉS (1995, p. 11) realizou uma pesquisa com o objetivo de 
“ verificar porque certos professores conseguem fazer com que seus 
alunos compreendam aquilo que lhes está sendo transmitido. Por que 
conseguem ensinar bem? Qual a razão dos bons resultados que obtém 
com os alunos, a despeito do enorme fracasso que ronda a escola? O que 
os distingue de seus pares? Como é a sua prática? E o seu discurso? Quais 
são as representações sociais que tem sobre a educação, aprendizagem e 
seus alunos?” Para entender as respostas a estas questões, faz uma 
análise do desafio de saber ensinar, a ênfase na aprendizagem por 
compreensão, disciplina e motivação: conquistas necessárias e o 
Professor e sua representações. Sob essa perspectiva, o presente 
trabalho dá continuidade ao trabalho de MOYSÉS (1995), uma vez que 
propõe direcionamentos à prática pedagógica de professores.
Numa mesma linha de pensamento ZAGURY (2006, p. 19) 
desenvolveu uma pesquisa buscando colher dados concretos sobre o 
pensamento do professor brasileiro e propõe “ouvir o docente” sobre 
todas as variáveis que interferem no ensino, educação brasileira, pois é 
ele que está na sala de aula e está apto a indicar o que precisa ser 
mudado e como deve ser a mudança. Buscando as causas do fracasso, 
16
coloca a disciplina como uma das problemáticas. No entanto, o trabalho 
ora apresentado permite observar que nada tem acontecido, nesse 
sentido, no sistema educacional vigente. 
Tanto os estudos já efetuados pelos estudiosos em educação, 
quanto o presente trabalho levantam dados e situações que expressam a 
realidade educacional brasileira, seus problemas e agravantes. Assim, é 
preciso que intervenções sejam feitas e responsabilidades assumidas e 
cobradas.
3 METODOLOGIA DA PESQUISA 
Dentro de uma proposta de trabalho iniciada com o Programa de 
Desenvolvimento Educacional (PDE), num trabalho conjunto com outras 
três orientandas, pedagogas, atuantes em diferente Núcleos Regionais de 
Educação do Estado do Paraná, sob a orientação da Professora 
Orientadora da IES, em conjunto com duas co-orientadoras, da mesma 
linha de ação, havia a pretensão/proposição de traçar um perfil das 
escolas públicas do Estado do Paraná (Região Noroeste) sob a perspectiva 
de alunos, pais e professores, tendo como campo de pesquisa as nossas 
escolas de atuação.
A pesquisa foi realizada junto aos alunos, professores e famílias dos 
alunos da minha escola de atuação, investigando qual a visão que 
possuíam da escola e as perspectivas de mudanças e sobretudo buscando 
identificar quais os maiores anseios da comunidade escolar em relação à 
escola, ao que está sendo ofertado por ela, o que ela representa em suas 
vidas, na perspectiva presente e futura qual a função que creditam à 
escola. Os dados levantados permitem definir o perfil desse grupo 
pesquisado e, somente em relação a ele proceder a análise e 
direcionamento de ação. 
As ações dizem respeito à proposta de intervenção na realidade da 
escola pesquisada, em função dessa pesquisa realizada e em 
17
concordância com as diretrizes do PDE. A intervenção ocorreu junto aos 
professores e possibilitou um levantamento de dados que permitiu uma 
análise da prática pedagógica enquanto produtora e ou reprodutora de 
uma ideologia e da função social desta escola para os seus atores.
Foi realizada uma pesquisa de campo, com a aplicação de 
questionários específicos. Com o objetivo de levantar dados e 
informações concretas, busquei um levantamento qualitativo, utilizando 
questionários de questões abertas, tais como: Qual a sua opinião sobre a 
escola? O que mudaria na escola? Como é a prática pedagógica? Qual a 
função da escola sem sua vida? Essas questões foram aplicadas para 
cada segmento da comunidade escolar: alunos, professores e pais dos 
alunos. Resultando em dados que, após tabulação e análise, permitiram 
delinear um perfil da escola, apontando aspectos positivos e negativos.
O trabalho teve início com a aplicação dos questionários na primeira 
semana do mês de agosto de 2007, a 03 (três) turmas do período noturno, 
uma de cada série do Colégio Estadual Castro Alves – Ensino Médio, 
cidade de Rondon, Estado do Paraná. O estabelecimento atende 450 
alunos de 1ª a 3ª séries do Ensino Médio e tem no seu quadro funcional 21 
professores, 02 pedagogas, 03 funcionários administrativos e 05 
funcionários de serviços gerais. 
O levantamento de dados pela aplicação dos questionários e 
tabulação dos dados se deu por amostragem. Os questionários foram 
aplicados aos alunos e professores no horário normal de aula e o dos pais 
foi levados para casa pelos filhos.
A tabulação dos dados, aconteceu considerando todas as respostas 
dadas. Sendo que o questionário era com questões abertas, foi necessário 
proceder o levantamento de todas as respostas dadas para cada questão 
proposta, a seguir agrupar essas respostas em categorias que 
apresentavam características próximas e/ou redundantes de expressão de 
idéias, o que permitiu analisar os dados quantitativamente.
A partir desses dados iniciou-se o trabalho de intervenção na escola, 
numa proposta de implementação do projeto de pesquisa junto aos 
18
professores, abordando o tema “A função social da escola e o processo 
ensino-aprendizagem”, apresentado para fins de estudos, num caderno 
pedagógico de nossa autoria,dentro do qual destacou-se a função da 
escola, o processo ensino-aprendizagem, a prática pedagógica, a 
realidade educacional e as possibilidades de mudanças. 
Esse estudo possibilitou também aos professores a discussão acerca 
de novos encaminhamentos metodológicos e pedagógicos. Procedendo 
paralelamente um levantamento das possíveis dificuldades encontradas 
em relação aos alunos, aos conteúdos a serem trabalhados, ao tempo de 
aula, e ainda dificuldades para perceber, resgatar e implementar a função 
da escola, bem como sugerir alternativas nesse sentido.
Possibilitou ainda, aos educadores, a busca de subsídios para uma 
ação mais efetiva, voltada para os interesses dos alunos e suas famílias, 
adotando estratégias e mecanismos de ação, com a finalidade de 
melhorar a escola como um todo.
4 RESULTADOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DA PESQUISA 
Através da aplicação de questionários de questões abertas foi 
possível levantar diversas informações acerca da escola, do trabalho dos 
professores, da postura dos alunos frente aos estudos e da função que 
acreditam ter a escola.
Foram obtidos os seguintes dados referentes à aplicação dos 
questionários e devolução dos mesmos respondidos: dos 76 
questionários dos alunos, 76 foram devolvidos, dos 76 questionários dos 
pais enviados apenas 24 foram devolvidos, dos 21 questionários dos 
professores, 16 responderam, dos 03 questionários da equipe pedagógica 
foram respondidos os 03 e dos 08 questionários dos funcionários, os 08 
foram respondidos. Os questionários dos pais foram levados para casa 
pelos filhos.
19
Não havia a obrigatoriedade de responder aos questionários e a 
participação era voluntária. Vale salientar que nem todos os questionários 
foram devolvidos como mostram os dados acima, sendo o questionário 
dos pais o de menor retorno, o que reforça a idéia de que os pais dos 
alunos do ensino médio se isentam da responsabilidade com os filhos.
Assim, na pretensão de uma análise dos vários pontos de vista dos 
diversos segmentos escolares: alunos, pais e professores, foi dada 
atenção as questões básicas e comuns a todos os questionários, para o 
estabelecimento de parâmetros que permitiram uma intervenção mais 
efetiva no processo ensino-aprendizagem e conseqüente melhoria da 
escola, finalidade esta do PDE. Desta forma, foi investigada a opinião de 
todos sobre a escola, as mudanças pretendidas, a forma como percebem 
que se dá a prática pedagógica e qual a função da escola.
Considerando o foco dessa pesquisa e pela grande quantidade de 
dados obtidos, foi dada prioridade à análise das questões referentes a 
função da escola, a prática pedagógica e ainda, aos depoimentos dos 
professores resultantes dos estudos propostos na implementação, 
efetuada na escola junto aos mesmos.
Os dados colhidos nos questionários foram submetidos a uma 
avaliação, selecionando os que interessavam mais de perto ao objeto de 
estudo.
 Em primeiro lugar fez-se uma listagem de todos os dados, que 
foram agrupados por categorias de expressão de idéias. Em seguida 
procedeu-se uma análise crítico-comparativo, buscando nas respostas 
registradas, os elementos que se direcionavam ao objeto principal da 
pesquisa, ou seja a função social da escola na perspectiva da prática 
pedagógica.
Nesse contexto o objetivo do estudo foi analisar a visão de todos os 
personagens da escola sobre a função da escola, definida pela ideologia 
presente na prática pedagógica. 
Consideram-se pertinentes as colocações de FREIRE (2000, p.67) 
que “ Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela 
tampouco a sociedade muda” e de SAVIANI (2002, p.2) 
20
outro componente dessa visão ideológica é que os 
conhecimentos que a população precisa dominar são mais os 
do dia a dia. O importante não é estar empregado, mas ser 
empregável. Ser empregável significa ter flexibilidade e 
capacidade de adaptação. E você se adapta na medida em 
que você convive, se relaciona. Então os conhecimentos 
sistemáticos tendem a ser secundarizados. A questão que se 
põe que precisa ser pensada é se isto tenderia a alterar 
substantivamente o caráter da escola. Se isto é um indicador 
de que a sociedade está mudando e que, com a mudança da 
sociedade, a natureza da escola também está mudando. 
É preciso o entendimento de que a questão da mudança da 
sociedade diz respeito diretamente a nossa realidade, pois em todas e por 
todas instâncias há relação direta com o que acontece na nossa escola, 
com os nossos professores, com nossos alunos e com suas famílias.
Ao se tentar estabelecer qual a função que atribuem à escola, foi 
preciso considerar os posicionamentos observados no questionamento 
sobre qual a função da escola.
Os alunos, a partir de indicações, colocam que a função da escola é 
preparar para o futuro, para um futuro melhor, é ensinar, preparar para a 
vida, prepará-los para ser alguém na vida, para vencer na vida, para 
conseguir um bom trabalho, educar, aprimorar e enriquecer 
conhecimentos. Nesse sentido pode-se elencar expressões como: “tenho 
um grande sonho, me formar e ter um bom emprego, acho que está aí a 
função da escola”, “fazer de nós cidadãos, homens de bem”, e finalizando 
“preparar para os obstáculos futuros em nossa vida”. 
Assim, ficou claro que colocam na escola suas esperanças de vida, 
onde se espera a aquisição de conhecimentos que vão possibilitar a 
transformação de suas vidas. SAVIANI expõe muito bem essa função 
através da sua pedagogia histórico-crítica.
Isto porque o homem não se faz homem naturalmente; ele 
não nasce sabendo ser homem, vale dizer, ele não nasce 
sabendo sentir, pensar, avaliar, agir. Para saber pensar e 
sentir; para saber querer, agir ou avaliar é preciso aprender, 
o que implica o trabalho educativo. (SAVIANI, 2005, p.7)
Os pais têm pontos de vistas diversificados, mas colocam como 
função da escola: ensinar, ajudar seus filhos, preparando-os para um 
futuro melhor, para ter um bom emprego, alguns abordam os professores 
21
e a prática pedagógica tal como, “minha filha vai as aulas mas tem notas 
baixas”, “tem que ter bons professores, competentes e responsáveis, e 
nessa escola é exemplo”, outros a escola “ a escola tem muitas regras, 
mas tudo o quem acontece a gente sabe”, a escola tem que formar e 
informar e ela tem cumprido essa função”, “ a escola tem cumprido sua 
função, meu filho sabe muito mais coisas que eu”. 
Todas essas colocações evidenciam a satisfação dos pais com a 
escola, mesmo com algumas dificuldades, ainda acreditam na escola 
como uma instituição onde o saber elaborado, sistematizado, adquire 
forma e tem vez. 
Assim, o saber que diretamente interessa à educação é 
aquele que emerge como resultado do processo de 
aprendizagem, como resultado do trabalho educativo. 
Entretanto, para chegar a esse resultado a educação tem 
que partir, tem que tomar como referência, como matéria-
prima de sua atividade, o saber objetivo produzido 
historicamente. (SAVIANI, 2005, p.7)
Os professores, por sua vez, colocam que a função maior da escola é 
ensinar, preparar para a vida, para enfrentar o mundo, para ser um 
cidadão responsável. Também apontam problemas tais como, evasão, 
repetência, dualidade entre ensinar para a vida e preparar para o 
vestibular, alunos e professores desmotivados por longas jornadas de 
trabalho, falta da presença da família no contexto escolar, desinteresse 
pelos estudos e falta de perspectiva no futuro, assistencialismo imposto as 
escola em detrimento do pedagógico, no entanto ressaltam os sucessos 
observados: esforço em “organizaro trabalho pedagógico centrado no 
aluno” e muitos ex-alunos formados e trabalhando com sucesso.
VASCONCELLOS (1994) dá suporte teórico a essas idéias, com sua 
metodologia dialética entende que em sala de aula “O conhecimento tem 
sentido quando possibilita o compreender, o usufruir ou o transformar 
a realidade” (grifo do autor) e GÓMEZ (1998, p.70) nos mostra também 
que
A aprendizagem do alunos/as ocorre em grupos sociais nos 
quais as relações e as trocas físicas, afetivas e intelectuais 
22
constituem a vida do grupo e condicionam os processos de 
aprendizagem. Assim para que o professor/a possa intervir e 
facilitar os processos de reconstrução e transformação do 
pensamento e da ação dos alunos/as deve conhecer as 
múltiplas influências que, previstas ou não, acontecem na 
complexa vida da aula e intervêm decisivamente no que os 
estudantes aprendem e nos modos de aprender. 
Tais posicionamentos permitiram visualizar uma imagem da escola, 
que, via de regra, parece não se diferenciar das demais. Possibilitou 
ainda, perceber que os estudos realizados sobre a função da escola 
situam a realidade desta escola num contexto globalizado.
No questionamento sobre a forma como percebem que se dá a 
prática pedagógica, foi necessário considerar a prática pedagógica 
como determinante da aprendizagem que se tem, nas quais os pontos 
apontados permitiram definir o que vem ocorrendo e ainda as mudanças 
necessárias. 
Os alunos apontam a prática pedagógica que acontece em sala de 
aula como boas, os professores “explicam bem”, “alguns professores além 
de darem aula, também dão conselhos, idéias sobre as nossas 
dificuldades do dia-a-dia” e “ aprende quem presta atenção”, porém 
alegam que “algumas aulas poderiam ser mais dinâmicas” e “alguns nos 
escutam, outros nos ignoram, tenho medo de perguntar”. Essas 
considerações conduzem ao entendimento do que aponta VASCONCELLOS 
(1994, p.12), “que nossa atenção deve estar em torno da sala de aula, 
onde todo dia o professor tem sua prática, seleciona os conteúdos, passa 
posições políticas, ideológicas, transmite e recebe afetos e valores”.
Nas colocações dos alunos ficou evidente como percebem as formas 
dos professores ensinar, agir e de conduzir a aulas.
Os pais demonstram claramente que esperam da escola a 
responsabilidade quanto à competência pedagógica, com depoimentos 
tais como, “confio na escola, sei que utiliza somente o certo”, “ a gente 
procura saber um pouco sobre o ensino, confiamos nos professores que 
estão dando o melhor, um ensino de qualidade”, porém quando avaliaram 
a escola apresentaram sugestões de melhorar o nível de ensino de alguns 
professores. Também apresentam visão sobre a participação dos alunos “ 
23
pelo meu filho digo que os alunos não levam os estudos a sério”. Isso 
evidenciou um descompromisso com a aprendizagem de seus filhos, que 
fica a cargo da escola e dos professores toda a responsabilidade pelo que 
seus filhos aprendem, transferem toda a responsabilidade da família para 
a escola. ESTEVE (1995) mostrou muito bem o que vem acontecendo no 
interior da escola e a que o professor vem sendo reduzido. 
Esse descompromisso do pais em relação a aprendizagem de seus 
filhos, como fruto de um momento atual da realidade em sociedade, 
remete a SACRISTAN (1995, p.66) que afirma que “o ensino é uma prática 
social [...] reflectem a cultura e contextos sociais a que pertencem”.
Os professores descrevem sua prática pedagógica, na maioria como 
tradicional, porém procurando relacionar a teoria à prática, verificando as 
possibilidades de aprendizagem para o planejamento de atividades. Fica 
evidente por suas respostas que têm consciência do trabalho que 
desenvolvem demonstrando a necessidade de mudar, Afirmativas como 
“Acho que preciso melhorar muito, mas procuro fazer o melhor no sentido 
de estabelecer uma prática que leve meu aluno a se sentir motivado em 
aprender o que quero transmitir. Percebo que o mais importante é que 
tenho consciência de que erro e quero melhorar” foram percebidas. 
Destacam também que necessitam de metodologias que possam 
favorecer a aprendizagem dos alunos.
As respostas dadas pelos professores permitiram vislumbrar um 
quadro angustiante vivenciado, pois a eles é incutida toda a 
responsabilidade pela aprendizagem dos alunos, do sucesso que obterão 
na vida, cabendo ainda sanar-lhes as necessidades mais imediatistas que, 
em muitos casos, assumem cunho assistencialista. Sabem que precisam 
ensinar, que tem erros e que precisam melhorar, mas não conseguem, 
com seus conhecimentos, achar os caminhos para mudar essa situação 
vivenciada. 
Muitos estudos e pesquisas acontecem, procurando evidenciar a 
realidade vivenciada pelos professores que refletem diretamente na sua 
prática pedagógica e nos resultados desta. ESTEVE (1995, p. 108) 
apresenta que o professor 
24
Para além das aulas, devem desempenhar tarefas de 
administração, reservar tempo para programar, avaliar, 
reciclar-se, orientar os alunos e atender os pais, organizar 
atividades várias, assistir a seminários e reuniões de 
coordenação, de disciplina ou de ano, porventura mesmo 
vigiar edifícios e materiais, recreios e cantinas.
MOYSÉS (1995, p. 11) ressalta ainda, o “professor a quem falta 
quase tudo: das condições materiais de trabalho ao apoio pedagógico; da 
boa formação ao reconhecimento do seu valor profissional”
Assim, tudo o que acontece no contexto escolar, bem como no seu 
meio social ao qual se insere, marca a vida desses indivíduos, em relação 
à prática pedagógica do professor e vale a pena salientar que 
o professor trabalha de forma fragmentada, perdendo a 
autonomia, o conhecimento do todo e fica incapaz de 
trabalhar independentemente do capital; a atomização do 
trabalho pedagógico inibe as forças intelectuais do 
professor, já que a produção intelectual, o conhecimento, 
concentra-se a serviço do capital e confronta-se com o 
trabalhador como força estranha e dominadora; a 
mecanização do trabalho docente expropria o saber do 
professor sobre suas ações pedagógicas, tornando-o incapaz 
de pensá-lo e concebê-lo na sua totalidade; a 
desqualificação docente priva-o do debate das grandes 
questões sociais: salários, desemprego, guerras; 
transformando o espaço escolar em espaço do silêncio, da 
aceitação e do conformismo; a forma como o sistema 
educacional atende às necessidades do capital, obriga o 
professor a um trabalho cansativo, apático, indiferente, 
condicionando-o a produzir algo que lhe permita ganhar a 
vida. Quando o sistema exige mudanças de concepções, de 
metodologias – e isto ocorre, quase sempre, a cada mudança 
de governo – do educador exige-se a mudança de sua 
prática pedagógica e o cumprimento da nova ordem 
estabelecida. (FRANCIOLI, 2005, p. 47-48)
Mais uma vez, os resultados que foram colhidos junto aos atores da 
escola indicam que o que acontece no interior desta escola é reflexo do 
vem acontecendo na maioria das escolas, onde a função que assume a 
escola está em relação direta ao que se espera dela, refletida na ideologia 
presente no fazer pedagógico ali existente.
O resultado dessa pesquisa permitiu a análise e o confronto entre o 
prescrito e o realizado e, desta forma, desvelou-se o que realmente vem 
25
acontecendo em nossa escola, assim, foi proposto um aprofundamento de 
estudos junto aos professores, numa proposta de implementação desse 
projeto de pesquisa.
FREIRE (1996, p.22) destaca a necessidade desses estudos ao 
afirmar que “a reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da 
relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blábláblá e a 
prática,ativismo”.
Assim, foi discutido com os professores temas diretamente 
relacionados a sua prática pedagógica, a sua atuação em sala de aula, 
buscando efetivamente uma melhoria do quadro educacional 
apresentado. Essa é a idéia, melhorar nosso meio próximo, a nossa escola.
O que embasou esses estudos foi a idéia de que o professor como 
principal articulador do processo ensino-aprendizagem, precisa, conforme 
VASCONCELLOS (1994, p. 11) estar “antenado” com todas a variáveis 
envolvidas no processo educativo: “conhecer como se dá o conhecimento 
no processo pedagógico é ajudar a eliminar a determinação social dos 
destinos dos alunos. Para o professor, é importante este conhecimento a 
fim de melhor saber como interagir com a criança, no sentido de favorecer 
seu desenvolvimento e sua emancipação.” 
Conforme FREIRE (1996), o ato de ensinar cria as possibilidades para 
a produção ou construção de conhecimentos e, de acordo com ZAGURY 
(2006, p.12-13) existe a necessidade de estudos abrangentes sobre os 
problemas ligados a educação, é preciso mais pesquisas e também sugere 
como medida para evitar fracassos, “ouvir o docente”, considerando suas 
colocações, fazendo-o “como rotina, com respeito profissional e levando 
em conta, de fato, o que foi dito”. É o docente que pode realmente 
expressar o que acontece no interior da sala de aula e que apesar de toda 
gama de dificuldades, “continuam dispostos em busca de ensinar 
qualitativamente bem”.
Assim, foi aprofundado o estudo com os professores sobre a função 
social da escola e o processo ensino-aprendizagem, momento no qual 
também foi apresentado os dados levantados com a pesquisa.
26
Os resultados dessa pesquisa causaram certa inquietude entre os 
professores, pois apontaram, os problemas que requeriam soluções 
urgentes, destacando a prática pedagógica de alguns professores.
Seguindo um cronograma de estudos estabelecido com os 
professores, efetivou-se a implementação na escola, o que possibilitou um 
levantamento de dados sobre a prática pedagógica por eles realizada, 
bem como dos problemas e soluções apontados.
a) As dificuldades em relação aos alunos, aos conteúdos a serem 
trabalhados, ao tempo de aula e a outras variáveis observadas: 
desinteresse generalizado, sem objetivo de vida, sem empenho nas 
atividades escolares, comodismo; a preocupação maior dos alunos é 
passar de ano; falta de apoio e estrutura familiar; sem limites, desconhece 
seus deveres e obrigações; violência contra o professor; muita burocracia 
legal, com a preocupação constante de documentar o que acontece em 
relação aos alunos, considerando os fatores citados; dinamicidade 
histórica que traz angústia aos alunos e ao professor que não sabe o quê, 
como e porque ensinar; falta de maturidade e pré-requisitos necessários 
ao desenvolvimento dos conteúdos; o número de aulas é insuficiente para 
trabalhar os conteúdos mínimos necessários das disciplinas; os conteúdos 
previstos são ditados pelo sistema que atende aos interesses dos que 
mandam, cabendo ao professor através da sua prática pedagógica, 
socializá-lo aos alunos;
b) As dificuldades para perceber, resgatar e implementar a função da 
escola: a função da escola não está clara nem aos professores, nem 
aos pais; escola presa a burocracia como mecanismo de defesa dos 
problemas sociais que estouram no interior da escola; falta de 
discernimento da sociedade, principalmente dos dirigentes, sobre a 
função da escola; a imposição da função do assistencialismo à escola 
quando as demais instituições sociais falham; descaracterização da sua 
função, quando lhe é imposta assumir a função da família; grande 
burocracia que a escola tem enfrentado, se trabalha muito com 
levantamento de dados, índices e apontamentos de situações, projetos 
impostos pela SEED, ficando os conteúdos e os projetos reais da escola 
27
relegados a segundo plano, nunca atingindo os objetivos previstos; 
dificuldade de transpor teoria para a prática sem os recursos e tempo 
necessários;
c) Possíveis soluções e alternativas propostas a partir dos estudos: 
produzir aulas dinâmicas e criativas, tendo o professor como produtor 
dessas aulas, a sala de aula como um laboratório de conhecimento, e o 
aluno criando suas próprias idéias; maior envolvimento escola-família e 
comunidade; “Procurar novos meios de avaliar o aluno, sem esta 
preocupação com “nota”, isto me parece muito capitalista, quanto vale 
o conhecimento de um aluno? 0 ou 10?”; valorização dos profissionais 
da educação, principalmente dos professores; ampliação do tempo 
escolar dos alunos, com ampliação de estudos efetivos, alimentação e 
orientações práticas para a vida; diálogo permanente, atrelado ao 
compromisso ético do profissionais da educação; trabalho conjunto de 
professores e equipe pedagógica; mais espaço para estudo 
direcionados ao tema; “ a reflexão sobre a ideologia que dá suporte à 
minha prática docente, possibilitou que eu fizesse uma reavaliação da 
metodologia, que buscasse novas estratégias motivadoras voltadas à 
aprendizagem significativa”; maior disponibilidade de tempo para o 
professor e maior salário possibilitando ao professor estudar, planejar, 
aplicar e avaliar os resultados de sua prática pedagógica; os conteúdos 
e a escola devem buscar a reflexão, deixar de ser meros reprodutores; 
seleção crítica dos conteúdos; seleção e autonomia de escolha na 
participação naqueles projetos que dizem respeito a realidade dos 
alunos e represente ganhos significativos para estes; maior 
investimento em material didático; dar oportunidades iguais de 
capacitação aos professores; escola em tempo integral; enfim, buscar o 
conhecimento do aluno através da troca de experiências, o bom 
relacionamento com o grupo através do diálogo, as normas para a 
convivência em grupo com a formulação de regras com o próprio 
grupo; o trabalho com a afetividade por meio de dinâmicas, o 
embasamento teórico através de pesquisas; o domínio de conteúdos 
através da formação continuada; a reflexão das ações através de 
28
avaliações diagnósticas, o respeito a diversidade com a aceitação do 
diferente e a compreensão da singularidade dentro dessa diversidade;
Todos esses dados vem subsidiar a busca constante pelos 
professores e equipe pedagógica do entendimento do que realmente vem 
acontecendo com a realidade escolar. Achar culpados não é suficiente, é 
necessário empenhar esforços de todos os envolvidos para melhorar o que 
está aí posto. 
É preciso entender como se dá a prática pedagógica e buscar nas 
pesquisas realizadas, subsídios e dados complementares. Vale citar as 
pesquisas de CAVACO (2005), FRANCIOLLI (2005), MOYSÉS (1995) e 
ZAGURY (2006), anteriormente expressas nesse trabalho.
5 CONCLUSÃO
Esse estudo não esgota todas as possibilidades de compreensão do 
objeto de pesquisa proposto. A idéia de analisar a função social da escola 
sob a perspectiva da prática pedagógica como produto e produtora de 
uma ideologia, foi impulsionada a princípio pela necessidade de realização 
de um trabalho de pesquisa dentro do PDE, porém muito mais pela 
necessidade de entender e modificar o cotidiano escolar vivenciado. 
Problemas para os quais, na maioria das vezes, não temos respostas e que 
tem levado educadores e alunos ao desestímulo, ao desânimo, e ao final 
de um ano letivo, a um sentimento de impotência e de fracasso.
Por isto, fez-se necessário entender o que realmente acontece na 
sala de aula, os pontos de vista de alunos, professores e pais. Enfim, 
como tem se efetivado o processo ensino-aprendizagem.
Dessaforma, ao discutir a função social da escola na vida dos 
alunos, pais, professores e demais pessoas da escola, desnuda-se o 
processo pedagógico à luz da ideologia que o rege, ficam transparentes os 
sucessos e os fracassos obtidos em educação junto a clientela pesquisada. 
Assim, aparece o perfil dessa escola pública na qual teve destaque a 
29
relevância da ideologia presente na prática pedagógica, pois vivemos em 
uma sociedade capitalista, voltada para o mercado de consumo, num 
mundo globalizado, onde todas as diretrizes que regem a educação estão 
voltadas para o atendimento dessa ideologia.
Mudanças são necessárias, mas o que de fato pode ser modificado 
que nos leve a uma ação pedagógica de sucesso? São muitas as variáveis 
envolvidas no processo educativo, mas o professor e a sua ação docente 
são fatores determinante do que acontece dentro da sala de aula.
Portanto, o professor é figura de destaque e determinante da ação 
pedagógica efetivada em sala de aula, perpassada por uma ideologia 
capitalista. Todas as variáveis apontadas indicam o professor como a mola 
mestra do ensino, nesse enfoque cabe a ele tomar as rédeas do que 
realmente está acontecendo no seio da escola, como determinante da 
escola que se tem. 
Tendo presente todas essas considerações, é preciso reflexão sobre 
a ação educativa procurando delinear possíveis caminhos. Não é tarefa 
fácil ser educador, mas é preciso assumir a função com responsabilidade 
e respeito.
Enfim, a conclusão é que o professor é o principal articulador dos 
resultados obtidos através do processo educativo, cabendo a ele 
apropriar-se das ferramentas que possibilitem a construção de uma 
prática pedagógica mediadora determinante da escola que se quer.
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