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UNIDADE II Avaliação, Currículo e Projeto Político- Pedagógico Mª. Janaina Mourão de Ciganda Projeto Político-Pedagógico e Avaliação Educacional Introdução Olá, estudante, bem-vindo(a) à segunda Unidade. Iremos estudar sobre a relação entre os documentos norteadores da ação escolar e a prática de avaliação educacional. Nesta aula, o foco está no projeto político-pedagógico e no seu papel na construção de uma prática avaliativa que tenha significado na vida cotidiana dos sujeitos participantes. Bons estudos! Projeto Político-Pedagógico O projeto político-pedagógico (PPP) é a identidade da escola e indica as metas que se deseja alcançar para oferecer uma educação de qualidade. O conjunto dos desejos e a forma como esses desejos serão alcançados é o que dá forma e vida ao chamado PPP. O próprio nome já traz em si algumas definições: Aula 01 1 Projeto: propostas concretas de ação para serem executadas durante determinado período de tempo. Político: a escola é um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos. Esses cidadãos irão atuar de forma individual e/ou coletiva na sociedade. Pedagógico:define e organiza ações e projetos educativos fundamentais ao processo de ensino e aprendizagem. O PPP é um guia da ação, indica a direção a seguir para todos os sujeitos envolvidos no processo educativo: gestores, professores, funcionários, estudantes e famílias. O projeto deve ser bem estruturado, não permitindo dúvidas sobre onde se quer chegar, e flexível o bastante para atender às necessidades de aprendizagem dos alunos. Por isso, a sua elaboração precisa contemplar os seguintes tópicos (LOPES, 2010): missão; clientela; dados sobre a aprendizagem; relação com as famílias; recursos; diretrizes pedagógicas; Figura 1 - Projeto político-pedagógico. 2 plano de ação. O PPP é uma ferramenta de planejamento e avaliação que deve ser consultado sempre que houver a necessidade de tomar uma decisão. O projeto de uma escola ficar apenas dentro de uma gaveta, é o momento de mobilizar a comunidade escolar para resgatar e repensar esse documento. “O PPP se torna um documento vivo e eficiente na medida em que serve de parâmetro para discutir referências, experiências e ações de curto, médio e longo prazos”, conforme Paulo Roberto Padilha, diretor do Instituto Paulo Freire, em São Paulo (apud LOPES, 2010). O projeto político-pedagógico entende a escola em todas as suas dimensões, em seu aspecto estratégico e em sua dimensão pedagógica. É um documento para a gestão que ajuda a escola a definir suas prioridades de ação e a converter as prioridades em objetivos educacionais. Ajuda também na decisão sobre o que fazer para alcançar esses objetivos de aprendizagem e a avaliar se os resultados foram atingidos. A importância de um projeto escolar está no planejamento que desvia da improvisação, da ação mal-realizada, do desperdício de tempo e de dinheiro. Com planejamento, é possível entender qual o objetivo e o que deve ser feito para se chegar aonde se quer. Um bom PPP dá segurança à escola. Figura 2 - Alunos aprendendo. 3 Nele, constam as melhores estratégias que facilitam o trabalho dos sujeitos envolvidos. Essa é uma condição sem a qual não seria possível saber a meta a ser alcançada, no sentido de ter resultados mais eficientes, intensos, rápidos e seguros. A escola deve buscar um ideal comum: fazer com que todos os alunos aprendam. O artigo 15 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN – Lei nº 9.394/96) concede à escola certa autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira. Isso quer dizer que a escola deve se constituir em um espaço de liberdade e responsabilidade para a elaboração do próprio plano de trabalho com seus objetivos e planejamento de ações que respondam aos anseios da sociedade. Ao ser autônoma, escola constrói sua identidade e a equipe escolar se torna sujeito histórico de sua própria prática. Elaborar um PPP exige uma reflexão sobre seu significado e importância. A seguir, veremos como a LDBEN destaca a importância desse documento em vários de seus artigos: No artigo 12, inciso I, que vem sendo chamado o “artigo da escola”, a lei dá aos estabelecimentos de ensino a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica. O artigo 12, inciso VII, define como incumbência da escola informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica. No artigo 13, chamado o “artigo dos professores”, aparecem como incumbências desse segmento, entre outras, as de participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso I) e elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino (Inciso II). No artigo 14, são definidos os princípios da gestão democrática. O primeiro deles é a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola. Com esses destaques, é possível perceber que o texto da lei detalha aspectos pedagógicos da organização escolar mostrando o quanto isso é importante. A construção do PPP é exigência legal que precisa se tornar realidade em todas as escolas do país. É valoroso ressaltar que não 4 se trata apenas de cumprir com e legislação em vigor, mas, sobretudo, garantir a autonomia de organização e decisão da escola. Avaliação Educacional e sua Relação com o PPP A avaliação educacional não pode ser separada da avaliação institucional, mesmo que sejam diferentes. Enquanto a institucional diz respeito à instituição, a educacional se refere especificamente ao rendimento escolar do estudante. São diferentes, mas andam juntas. O rendimento escolar do estudante depende também das condições institucionais e do PPP da escola. Nos dois casos, a avaliação, vista pela ótica dialógica (ROMÃO, 1998), dirige-se à emancipação das pessoas e não à sua punição, à inclusão e não à exclusão ou, como diz Luckesi (1998) “à melhoria do ciclo de vida”. VÍDEO No vídeo a seguir está a fala do professor Vasco Moretto sobre a importância do projeto político pedagógico (PPP). Na oportunidade, ele falou com a Revista Gestão Educacional sobre o tema, abordando a importância do PPP, como estruturar bem um projeto e outros aspectos relevantes. Assista! 5 Nesta disciplina, muito já se falou sobre as concepções de avaliação e dos modelos avaliativos, já deu para entender que avaliar não é medir, não podemos mais entender a avaliação como uma simples mensuração de notas. Já compreendemos que, no processo avaliativo, diferentes fatores e variáveis interagem, portanto, definir uma filosofia que sirva de base é imprescindível para seu êxito. É essa filosofia de base que irá definir o modelo de avaliação, os objetivos, o planejamento e os métodos a serem utilizados. A avaliação para ser estruturada precisa de uma referência. Dentro da escola, essa referência é o PPP, um projeto institucional, que determina as metas a serem atingidas, em função das quais a avaliação tem sentido. A avaliação é uma ferramenta que acompanha a implantação e proporciona a correção dos rumos do PPP. A avaliação meramente classificatória, seja a institucional ou a da aprendizagem, não transforma nada. Para não ser autoritária e conservadora, a avaliação terá de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento de identificação de novos rumos. Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos. (LUCKESI, 1998). Especificamente, na avaliação da aprendizagem, a avaliação “deverá ser assumida como um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que se encontra o aluno, tendo Figura 3 - Avaliação educacional. 6 em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para que possa avançar no seu processo de aprendizagem” (LUCKESI, 1998). O principal objetivo da avaliação é aproximar a escola a sociedade com a intenção de que a cultura e o conhecimentocientífico se transformem em bens que todos podem possuir. Esse tipo de questão deve estar explicitada no PPP, ou seja, é essencial que este apresente claramente quais são os referenciais de ação da escola. Dessa forma, podemos pensar em dois tipos de racionalidade que fundamentam o paradigma do PPP da escola: uma racionalidade instrumental (de dominação) e uma racionalidade comunicativa (intersubjetiva) (HABERMAS, 1987). As discussões acerca da avaliação colocam em xeque não só os modelos de escola e as políticas educacionais, mas também o tipo de racionalidade que as fundamenta. A razão instrumental que tem fundamentado o fazer pedagógico e a estrutura das relações no interior da escola leva a uma ação educativa burocrática e rotineira. A partir dos assuntos abordados nesta aula já deu para compreender que é no encontro dos sujeitos da comunidade escolar que se constrói um projeto. A intersubjetividade (Habermas) e o diálogo (Paulo Freire) são fundamentais para o entendimento entre as pessoas e para a realização dos objetivos finais da escola. Uma escola comunicativa é a base para a construção de processo avaliativo emancipatório e facilita o cumprimento da função social da escola como “serviço público” e formador de cidadãos. A avaliação de uma maneira geral não pode ser considerada apenas como um processo técnico, pois esta deve estar inserida em um projeto de educação e de sociedade, ou seja, um projeto político-pedagógico. Como nos diz Vasconcellos (1998), na busca de uma “práxis transformadora” a avaliação deve ser entendida como um “compromisso com a aprendizagem de todos” e “compromisso com a mudança institucional”. 7 Fechamento Nesta aula, conhecemos como o PPP está profundamente relacionado ao processo de avaliação escolar. Compreendemos como se constrói um PPP e quais são suas implicações na escolha dos métodos e ferramentas utilizados para avaliar a aprendizagem dos estudantes. Termina aqui nossa primeira aula desta unidade. Continue os estudos desta disciplina e até breve! SAIBA MAIS No link a seguir está uma reportagem sobre a relação entre o PPP e a avaliação. A leitura será fundamental para sanar possíveis lacunas no entendimento do conteúdo estudado nesta aula. Avaliação Institucional: Conhecer a escola para planejar mudanças e intervenções. 8 https://tinyurl.com/y6xzdyfx Influência do Currículo na Definição do Tipo de Avaliação Introdução Nesta aula, iremos conhecer a relação entre o currículo escolar e as formas de avaliação adotadas pelas diferentes escolas. Começaremos a aula com uma breve explicação sobre as teorias de currículo, a partir desse entendimento, poderemos começar a refletir sobre como esse currículo interfere na escolha das ferramentas avaliativas a serem utilizadas. Vamos à aula? O Currículo O currículo é um dos fatores que exerce maior influência na qualidade do ensino. Porém, não existe apenas uma noção de currículo, mas sim várias possibilidades de currículo. De uma maneira geral, o currículo continua a ser entendido, com o “plano de estudo”. Nesse caso, currículo significa, o elenco e a sequência de disciplinas propostas para um ciclo de estudos, donde a frequência e término dos estudos levam o estudante a graduar-se nesse ciclo. Em termos práticos, o plano curricular concretiza-se na atribuição de tempos letivos semanais a cada uma das disciplinas que o integram, de acordo com o seu peso relativo no Aula 02 9 conjunto dessas matérias e nos vários anos de escolaridade que tal plano pode contemplar. (RIBEIRO, 1989). Como se pode ver, esse conceito de currículo muito se aproxima do conceito de programa, que foi formulado por Bobbit (1922). Atualmente, o pensamento sobre currículo saiu da superficialidade, passando ser entendido de uma forma mais ampla, que leva em consideração o contexto escolar e todos os fatores que nele interferem. Na tentativa de contemplar as novas concepções, Ribeiro (1989) apresenta a seguinte definição de currículo: “Plano estruturado de ensino-aprendizagem, incluindo objetivos ou resultados de aprendizagem a alcançar, matérias ou conteúdos a ensinar, processos ou experiências de aprendizagem a promover”. É importante compreender que o currículo não é apenas a definição de conteúdos, mas também é a prática na qual se estabelece o diálogo entre a comunidade escolar: agentes sociais, técnicos, famílias, professores e estudantes. O currículo é determinado pelo contexto e, nele, adquire diferentes sentidos, conforme os diversos protagonistas. Teorias Curriculares Figura 4 - Currículo. 10 Existem diferentes teorias sobre o currículo, teremos a oportunidade de aprofundar esse estudo na disciplina Currículo e Diversidade. Aqui, nos cabe entender que as teorias curriculares se diferenciam pelo foco que dão a conceitos como aprendizagem, conhecimento, dimensão humana, cultura ou sociedade. Vamos a elas? Teorias Curriculares Não Críticas É a visão pedagogia tradicional e tecnicista do currículo. Este deve ser neutro e o foco é ter uma escola que funcione como uma fábrica. Essa teoria se guia pelos princípios do Taylorismo e do Fordismo. O Taylorismo aplicado nas escolas aponta para a padronização do processo pedagógico, os estudantes são considerados como produtos de uma fábrica. A escola deve transmitir conhecimentos acumulados ao longo da história como verdade absoluta e os estudantes se enquadram para serem capazes de atuar na sociedade. Esses conhecimentos são passados de forma ordenada e numa sequência lógica, a avaliação é entendida como forma de mensurar se os estudantes conseguiram alcançar os objetivos propostos. O professor é o centro do processo, o grande detentor dos conhecimentos e como tal deve ser respeitado com regras e disciplina rígida. Teorias Curriculares Críticas Em meados dos anos 1960, surgem as primeiras críticas à pedagogia tradicional, isso por causa dos movimentos sociais e culturais da época, que passaram a questionar as desigualdades provocadas pelo sistema de ensino, que não valorizava o ensino aprendizagem, mas sim privilegiava um modelo pronto e ideológico de conhecimento. Figura 5 - Estudante considerado como produto de uma fábrica. 11 A visão crítica se opunha ao sistema pronto e ideológico de conhecimento, no qual apenas a elite tinha acesso. Aos que não faziam parte da elite cabia seguir regras. Nas teorias críticas, o importante é o que o currículo faz, ele é uma lente cultural pela qual professores e estudantes podem observar e refletir sobre os acontecimentos do dia a dia. E é exatamente na escola que os indivíduos têm acesso à cultura de uma forma sistematizada e pautada em experiências humanas significativas. Nas teorias críticas de currículo, a cultura é entendida como algo que se deve lutar e não receber. Autores como Freire, Saviani, Libâneo, Apple e Passeron utilizam essa teoria em seus trabalhos. A visão crítica demonstra que o currículo deve servir como instrumento de emancipação e libertação para os estudantes. Nesse caso, o papel do professor é propor a interação entre conteúdo e uma realidade concreta, sempre buscando à transformação da sociedade. O professor é um mediador para a construção do saber do aluno. Teorias Curriculares Pós-Críticas No século XXI, surgem as teorias curriculares pós-críticas baseando o seu pensamento sobre o currículo no vínculo entre conhecimento, identidade e poder. A partir dessa “trilogia”, essa visão trabalha com temas como gênero, raça, etnia, sexualidade, subjetividade, multiculturalismo, entre outros. O currículo é entendido como uma linguagem de significados, imagens, falas que apresentam histórias esquecidas, vozes silenciadas, códigos distintos. Figura 6 - Paulo Freire, educador, pedagogista e filósofo brasileiro (à esquerda); e Dermeval Saviani, filósofo e pedagogo brasileiro (à direita). Fontes: http://tinyurl.com/negpzu3 e http://tinyurl.com/hsaoqco 12 http://tinyurl.com/negpzu3 http://tinyurl.com/hsaoqco Tipos de Currículo Currículo formal, oficial, prescrito, explícito: é tudo aquilo que é impostopelo sistema de ensino, como a LDBEN, PCNs, proposta pedagógicas. Currículo real, em ação: o que será realizado em sala, ou seja, é o planejamento de aula que o professor faz e vai praticar em sala de aula. Muitas modificações nesse processo podem ocorrer. É o planejamento e ação. Currículo oculto, nulo: são todas as manifestações em ambiente escolar. São as simbologias que formam o ambiente escolar que não estão expressos em palavras ou não estão formalmente no papel. Avaliação e Currículo Um dos grandes desafios que a escola vem enfrentando é o de aproximar os conteúdos estudados em sala de aula à realidade cotidiana dos estudantes. É fazer com que os assuntos abordados dentro da escola tenham significado e utilidade no dia a dia dos sujeitos que fazem parte da comunidade escolar. Segundo Werneck (2003), o que é ensinado nas escolas aos alunos está muito distante de sua realidade, motivo pelo qual há a defasagem escolar, a nota baixa na hora da avaliação e, consequentemente, muitas reprovações. Esse desafio cai, objetivamente, nas mãos do professor, que precisa estar em constante processo de pesquisa, ou seja, observando sua sala de aula e tomando decisões conscientes VÍDEO A seguir, você poderá ver uma entrevista com a professora doutora Sonia Penin, da Universidade de São Paulo. No vídeo, a professora fala sobre o currículo nas escolas brasileiras. Assista! 13 para a realização de um processo ensino-aprendizagem que seja significativo. Diante disso, muda a postura do professor e muda a atitude do estudante. O professor passa a ser um mediador, e o estudante, o construtor do seu próprio conhecimento. Por isso é tão importante que o professor conheça as teorias e conceitos da educação, para que possa fazer as escolhas de acordo com a realidade que ele tem dentro da sua sala de aula. Nesse sentido, o currículo e avaliação devem dialogar e se adequar ao ambiente ao qual vão servir. Isso mesmo! Servir! O currículo e as modalidades de avaliação devem ser entendidas como ferramentas que contribuem para a realização do processo ensino-aprendizagem, e não como algo que trava e obstrui tal processo. A Utilidade Motiva Quem nunca se sentiu frustrado ou ansioso ao lidar com algo que desconhece ou não tem utilidade? O estudante, para se sentir seguro e confiante, precisa estabelecer relação entre o ensinado pelo professor e a sociedade que ele vive. A escola é parte da sociedade e não oposta a ela. Segundo Werneck (2003, p. 53) se uma pessoa chega a conclusão de que sua vida é inútil, isso a torna depressiva e desanimada. Quando essa pessoa percebe que pode fazer coisas úteis, sua autoestima melhora, a alegria contagia todo o seu organismo. O mesmo acontece com Figura 7 - Avaliação e currículo. 14 estudantes, se uma sala de aula é cheia de coisas e assuntos desinteressantes, o desânimo é praticamente certo; se, ao contrário, ele realmente perceber a utilidade dos assuntos trabalhados, sentirá muito mais prazer em estudar. A forma como os conteúdos do currículo têm sido avaliados em nossas escolas exige que todos estejam aptos em todas as áreas do conhecimento, como se todos tivessem grau máximo nas múltiplas inteligências (WERNECK, 2003). O resultado disso é um desânimo enorme diante das dificuldades que se apresentam quase que impossíveis de serem superadas. O acesso ao saber tem sido feito de forma estática e passiva, os estudantes ouvem, decoram a matéria exposta pelo professor e, depois, não conseguem ver utilidade naquilo que lhes foi ensinado. A escola não deve se limitar a avaliar se o estudante aprendeu ou não a disciplina proposta, mas sim oferecer a ele elementos básicos que contribuam para seu crescimento. O importante não é a quantidade, mas sim a qualidade, o que vale é o desenvolvimento cognitivo. O currículo escolar deve ser trabalhado de maneira diferenciada, acrescida de novas habilidades que surgiram com o avanço da tecnologia e da arte. O professor deve mostrar ao estudante as possibilidades de se chegar ao conhecimento, instigá-lo, e não entregar pronto. Desse modo, desde cedo, o estudante terá o hábito de pesquisar e ter suas próprias conclusões, ampliando sua capacidade de refletir sobre o mundo que vive. Mesmo sendo um dos elementos mais importantes da teoria da educação, o currículo vem sendo entendido como algo de pouca utilidade. Só se fala em currículo escolar quando se discute a inserção ou a eliminação de uma disciplina em um currículo já existente. A globalização e o avanço das tecnologias aconteceram e acontecem de forma tão rápida que a Figura 8 - O aluno desmotivado. 15 educação não conseguiu acompanhar. Todo esse ambiente de modificações fez com que os currículos escolares refletissem uma realidade de um mundo social que não mais existe. Dessa forma, as escolas precisam repensar a condição atual de aprendizado e caminhar para o objetivo de formar cidadãos e indivíduos competentes para atuarem na sociedade. Avaliar, um Ato Amoroso Para que o planejamento se realize de maneira positiva, o professor deverá realizar seu trabalho com prazer e não com o simples objetivo de dar nota. Todo o planejamento almeja um trabalho a ser realizado sobre um determinado assunto. Após a realização do trabalho, verifica-se o aprendizado através de uma avaliação. Porém, como foi demonstrado, a avaliação não precisa ser somente através de provas e pode sim ser feita através de outras ferramentas e modalidades. Também como já vimos, a prova escrita tem um peso que as outras formas de avaliação não possuem. Com ela é muito mais fácil diagnosticar o grau de entendimento do aluno sobre um determinado assunto. Luckesi (2005) entende que o ato avaliativo é amoroso porque o professor recebe as dificuldades dos alunos, percebe o grau de aprendizagem e, num ato amoroso, busca soluções. SAIBA MAIS Neste link , está um artigo da revista científica Espaço do Currículo, da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Paraíba. O artigo faz uma abordagem das políticas de currículo e avaliação. No texto, são analisadas as relações entre políticas e práticas de currículo e avaliação, com base na percepção de gestores de escolas públicas de educação básica a respeito das repercussões dos recentes processos avaliativos na escola. Acesse e aprenda ainda mais! 16 https://assets.website-files.com/5db72a9fcf5cf1103007dce4/5dc02c104f3e3557ef097d2f_texto01.pdf Fechamento Nesta aula, estudamos a relação entre o currículo escolar e as formas de avaliação adotadas. Podemos perceber que a relação entre eles é bem íntima e que a forma como um é entendido e utilizado determina a forma como o outro será realizado. É uma relação dialética e dialógica! Até a próxima aula! 17 A Formação do Professor e Avaliação e Prática Pedagógica Introdução Nesta aula, vamos refletir sobre a avaliação educacional no processo de formação dos professores. Realizar essa reflexão é fundamental, visto que é o professor quem executa, conduz e utiliza as informações adquiridas da prática avaliativa. Também iremos estudar como a avaliação se configura na prática pedagógica e como ela pode influenciar e modificar essa prática. Fique atento e bons estudos! Por Que Falar de Avaliação da Aprendizagem na Formação de Professores? Proporcionar a reflexão sobre a temática da avaliação da aprendizagem nas ações pedagógicas dos docentes não tem sido algo muito comum. Isso é preocupante, porque é nos cursos de formação de professores onde se deve concretizar a reflexão conjunta, o questionamento e o Aula 03 18 estudo aprofundado sobre o que é avaliação educacional, como se avaliar e qual a importância dessa ação. Os sujeitos formados pelos cursos de licenciatura quase sempre destacam o pouco tempo de estudo dedicado à questão da avaliação durante seus cursos de formação. A verdade é que os estudantes passam por avaliações sem entender ou aprender a respeito delas. No entanto, em turmas de futuros professores, quando convidados a debater sobre o tema da avaliação educacional, esses estudantesconstroem debates amplos, reflexões acerca do papel do professor e especificamente sobre o que é a ação avaliativa. Isso demonstra o entendimento da necessidade de modificar o cenário avaliativo que se faz presente em todas os níveis da educação do nosso país. Dessa forma, os cursos de formação de professores devem, além da preparação teórica e prática, preparar os futuros docentes para serem protagonistas nas escolhas sobre a avaliação da aprendizagem de seus alunos. Formação de Professores para Avaliar Por muito tempo, o estudo sobre avaliação nos cursos de Licenciatura esteve pautado em teorias de medidas educacionais. Ensinava-se como elaborar provas e como mensurar notas Figura 9 - Formação de professores. 19 (HOFFMANN, 2007). Talvez por isso, até hoje é tão comum vermos nas instituições educativas esse tipo de prática avaliativa. Tardif (2006) diz que os docentes acumulam muitas horas de formação quando na posição de alunos, o que proporciona um convívio estreito com as escolhas e as formas de ser de seus mestres. Isso serve de porto seguro na hora da incerteza da prática. Daí a importância de se estudar e debater o tema avaliação nos cursos de formação de professores, de qualificar o processo avaliativo e de provocar mudanças, tanto na formação docente como na ação que esse sujeito irá exercer em sala de aula. O exemplo do professor formador é ponto principal da constituição docente: os estudantes da licenciatura não podem aprender discurso inovador sobre avaliação se convivem com um formador de professores que, entre outras atitudes, não discute a metodologia avaliativa, faz unicamente provas para avaliar os conteúdos de forma segmentada e apresenta a nota como único resultado válido de todo um processo de aprendizado. Os estudos de Berbel (2001), em relação a avaliar no ensino superior, reforçam que “há a necessidade de coerência entre o que se ensina e o que se pratica na formação de futuros professores ou na formação continuada de pessoal que já atua no ensino” (BERBEL, 2001, p. 6). Figura 10 - Formação de professores para avaliar. 20 O que se deseja é que os professores construam com seus estudantes experiências significativas que permitam a relação entre a teoria e prática. Para que isso aconteça, é preciso que a formação docente esteja pautada em situações equivalentes de ensino e aprendizagem. Porém, a falta de relação entre teoria e prática avaliativa não é algo contemplado no ensino superior, isso porque, provavelmente, os docentes formadores não percebem problemas em sua prática. Muitos deles tiveram uma formação que valorizava conhecimentos específicos em detrimento dos conhecimentos pedagógicos, ou seja, são resultado de um modelo educativo pautado na racionalidade técnica. Nos dias atuais, já podemos entender o processo educativo como sendo: [...] a construção da identidade profissional se dá no somatório do perfeito domínio dos conteúdos específicos da matéria na qual o licenciado se especializará e do preparo básico nas metodologias e técnicas pedagógicas. (KRAHE, 2009, p. 104). Sobre esse aspecto podemos pontuar duas questões: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/96) não exige formação pedagógica para atuação docente no nível superior e, conforme nos aponta Hargreaves (2004), os professores estão cada vez mais ocupados com tarefas burocráticas e exaustivas, consequentemente, solitários, sem ter tempo para se preocupar com questões essenciais da educação como esta. O exemplo docente é fundamental para construir concepções e prática avaliativas que estejam comprometidas com a aprendizagem. Dessa forma, a pertinência entre o que se diz e o que se faz no quesito avaliação é vital na formação de professores. Freire (1996) chama atenção para o fato de os professores reconhecerem a importância de seu exemplo, empenhando-se em oferecer aos educandos lucidez e engajamento. Ele reafirma a importância da figura dos mestres para seus educandos: O professor autoritário, o professor licenciado, o professor sério, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum desses passa pelos alunos sem deixar sua marca. (FREIRE, 1996, p. 73). Para que se construa uma formação dos professores para avaliar, a relação entre o futuro docente e o formador deve estar embasada em confiança, em respeito, no diálogo, na troca de 21 conhecimentos. Para Tardif (2006), os professores constituem os seus saberes na interação com o outro, na convivência diária, na capacidade de dialogar e argumentar, “na troca discursiva entre seres sociais” (TARDIF, 2006, p. 197). E isso precisa estar presente nas salas de aula de nossos cursos de licenciatura. Os Professores e as Avaliações que Realizam O núcleo principal da prática educativa é a relação que se estabelece entre professor, estudante e o conhecimento a ser trabalhado. Pensando nas atividades de avaliação, professores e estudantes são os interessados imediatos dos resultados obtidos. Em segundo lugar, estão os familiares dos estudantes, a Secretaria da instituição, a Coordenação, a Secretaria de Educação responsável pela unidade de ensino e a sociedade de uma maneira geral. No universo da avaliação, o professor assume um papel bastante delicado, pois, além de ser um dos principais interessados nos resultados, é ele quem demanda a avaliação que será realizada Figura 11 - Participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em Brasília, no ano de 2007. Fonte: http://tinyurl.com/hhmqqdk 22 http://tinyurl.com/hhmqqdk e é ele o responsável pela avaliação interna. Sendo assim, o professor é quem controla todo o processo avaliativo, desde a concepção até as consequências resultantes da ação avaliativa. Quando os estudantes são submetidos a avaliações externas à escola, como Avaliação da Educação Básica (SAEB) e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) ou até mesmo o próprio vestibular, é que o professor percebe que não só os conhecimentos dos seus estudantes estão sendo avaliado, mas também o trabalho do docente. A partir da compreensão que a formação inicial para avaliação não é muito robusta, em alguns casos até inexistente, podemos refletir sobre: quais concepções de avaliação esses professores podem formar ao longo de sua prática profissional? Quais seriam as bases de apoio para superar a falta de formação para um procedimento complexo e importante como a avaliação? Que fatores influenciam as concepções avaliativas do professor, já que a aprendizagem acontece ao longo da vida toda? Podemos pensar como respostas para as questões colocadas os seguintes aspectos: a cobrança da sociedade sobre a escola; a forma de reagir dos alunos; o volume de trabalho; a visão dos colegas sobre o que deve ser o trabalho; o posicionamento da instituição (diretores e coordenadores). A atitude dos pais é muitas vezes geradora de pressão sobre a prática docente, isso porque a escola e os professores são cobrados a trabalhar com os conteúdos de forma tradicional. Podemos explicar essa postura dos pais pelos fatos de que muitos deles não compreendem a nova forma de trabalhar dos professores ou porque se preocupam com a formação dos filhos, que irão enfrentar o vestibular em algum momento de suas vidas. Essa forma de agir gera pressão porque coloca em dúvida as práticas docentes, o que gera desconforto nas relações que se estabelecem entre pais e escola, professores e coordenação, corpo docente e equipe de direção. É importante perceber que a forma de ser e agir dos estudantes e a cobrança da sociedade influenciam na avaliação realizada pelo professor. 23 Essas influências estão relacionadas às preocupações que o professor tem em realizar um trabalho de qualidade. De fato, esses fatores não influenciam em grande profundidade o fazer avaliativo, mas o volume de trabalho diário e semanal do professor, sim. Por causa da pressão social pelos resultados, presente na atitude dos pais, os estudantes estabelecem umarelação material e mercadológica com a nota, o que acaba por dificultar o trabalho do professor, que, além de realizar tudo para a concretização do processo ensino aprendizagem, precisa fazer os estudantes entenderem que existem outros aspectos de suas produções que são fundamentais para o seu desenvolvimento, que não só as notas. Isso demanda grande esforço e experiência do professor, que precisa propor dinâmicas que resultem em entendimentos sobre o trabalho em sala de aula, fazendo com que os estudantes diminuam seu apego à nota. Por fim, um aspecto que precisamos refletir é sobre a influência ou interferência dos professores a respeito do trabalho dos outros colegas docentes. Essas podem ser positivas, contribuindo para abertura de um espaço para discussão, construção de possibilidades de avaliação; ou negativas, do ponto de vista em que os professores podem estar em diferentes estágios de desenvolvimento profissional e as interferências causam desconforto ou até impossibilitam mudanças. Figura 12 - Pressão social pelos resultados. 24 O professor, a partir de sua formação, passa a se perceber como parte do sistema educacional. A vivência, as leituras e discussões, a troca de experiências nas salas do curso de formação inicial e a convivência diária com o estudo e a reflexão despertam o desejo pela mudança, bem como o reconhecimento das limitações e amarras em que se encontram. Passam por uma fase de impotência, dúvidas e inquietações, sendo esta substituída por ações concretas na sua prática diária, ainda que pequenas e, às vezes, inconscientes. Deixam de esperar que as mudanças se processem verticalmente e buscam efetivar novas formas de ações avaliativas. Essas formas se traduzem em uma ação avaliativa que inicia um movimento de ação-reflexão- ação. Ou seja, uma abordagem mais dialético-libertadora de avaliação, como propõe Vasconcellos (1998) e mediadora como concebe Hoffmann (2005). Nessa perspectiva, os professores entendem que a avaliação pode ser realizada por meio de relações dinâmicas e dialógicas, pautada na prevalência dos aspectos qualitativos sobre os quantitativos e construída continuamente, onde o professor está sempre acompanhando o aluno, observando-o e percebendo como se efetiva a construção do seu conhecimento. Dessa forma, faz-se necessário estar continuamente revendo a formação do professor. Pimenta et al. (2002) dizem que essa necessidade vai além da avaliação, abarca todo o processo de formação. É necessário reformular os cursos de formação de professores, visando a formar um profissional comprometido com o processo educativo, inovador, reflexivo e sem medo de ousar. Avaliação e Prática Pedagógica Para começo de conversa, nos vídeos a seguir está disponível uma entrevista com o professor Celso Vasconcellos sobre o assunto. Confira! VÍDEO No vídeo a seguir está uma entrevista com a professora Bernadete Gatti, que é especialista em formação de professores da Fundação Carlos Chagas. Ela fala sobre os desafios da profissão de professor. A fala dela complementa o conteúdo desta aula, vale a pena conferir! 25 Compreender a questão da avaliação da aprendizagem na prática pedagógica é estudar a maneira como se desenvolveram as concepções pedagógicas diante das políticas públicas educacionais. A mudança de paradigma e os seus reflexos na prática pedagógica nos levam a perceber a existência de forças que, em nome de uma pedagogia para a qualidade, afirmam valores de uma suposta democracia feita através da educação concretizada na definição dos conteúdos. Freire (1996) afirma que A ação política junto aos oprimidos tem de ser, no fundo, “ação cultural” para a liberdade, por isto mesmo, ação com eles. A sua dependência emocional, fruto da situação concreta de dominação em que se acham e que gera também a sua visão inautêntica do mundo, não pode ser aproveitada a não ser pelo opressor. Este é que serve desta dependência para criar mais dependência. (FREIRE, 1996). VÍDEO Avaliação - Parte 1: VÍDEO Avaliação - Parte 2: 26 Como vimos anteriormente, a avaliação já foi entendida como um mero instrumento de transmissão de conceitos e absorção mecânica de conteúdos que resulta em estagnação e repressão. A forma como o professor, comprometido com uma educação significativa, realiza a avaliação da aprendizagem de seus estudantes é fundamental para o entendimento da própria avaliação como uma atividade socialmente regida por posições políticas previamente estabelecidas. Dessa maneira, o professor é aquele que acredita que o ato de educar consiste tanto em um trabalho pedagógico quanto num ato político que luta na rua por um outro tipo de mundo. O mundo tem se transformado ao longo dos tempos, principalmente pela ciência e pela tecnologia. Contudo, nos últimos séculos, a educação passou ser fonte de preocupação como instrumento de realização do homem. Existem diversas teorias que explicam o trabalho pedagógico, e essas foram fortemente influenciadas pelos paradigmas científicos. Sobre essa questão, Morin (2000, p. 15) diz: [...] os desenvolvimentos disciplinares das ciências não só trouxeram as vantagens da divisão do trabalho, mas também os inconvenientes da superespecialização, do confinamento e do despedaçamento do saber. Não só produziram o conhecimento e a elucidação, mas também a ignorância e a cegueira. (MORIN, 2000, p. 15). Figura 13 - Transmissão de conceitos. 27 Dessa afirmação, pode-se perceber a separação do ensino em diversas e diferentes disciplinas, levando a dissociação dos problemas, reduzindo o complexo ao simples, separando o que está ligado, decompondo e eliminando o que causa desordem ou contradição ao que está preestabelecido. Por muitos anos, os paradigmas conservadores em educação realizaram no Brasil a ênfase no papel do professor como elemento imprescindível à transmissão dos conhecimentos. Com os novos paradigmas, é possível verificar que o conhecimento significativo é aquele capaz de ser aplicado em qualquer contexto, principalmente naquele vivido pelo sujeito que está lidando com esse conhecimento (MORIN, 2000). A ciência e seu desenvolvimento influenciaram a educação em todos os níveis, principalmente no que diz respeito à organização dos saberes. Para o professor da educação básica, o que se colocou foi o desafio de fazer com que esses novos paradigmas resultem em uma vida mais digna no interior das sociedades. A mudança necessária na avaliação educacional gira em torno de ter como parâmetro de análise a relação indivíduo-sociedade numa perspectiva histórica. Por isso, existe a necessidade de se conhecer a realidade social, identificando as desigualdades que causam diferenças e desequilíbrio. Portanto, compreender o indivíduo é demonstrar a especificidade da sua atuação no contexto social, é conhecer as suas motivações e metas. Isso tudo, mediado pelo pensamento e pela linguagem, concretizam-se em uma forma de agir no meio ambiente em que vive. Figura 14 - Forma de agir no ambiente em que vive. 28 No âmbito da avaliação, esse entendimento se traduz não em reproduzir um modelo, mas sim em buscar soluções para as situações, criar e reinventar soluções. Nessa perspectiva, o processo ensino-aprendizagem deve promover a interação entre estudantes diferentes, aumentando, assim, a possibilidade de registro e acompanhamento dos conflitos da experiência vivida. Behrens (2010, p. 109) propõe como desafio para uma prática pedagógica transformadora: “Buscar resultados consensuais, nos seminários, nas discussões coletivas, nas proposições de grupo, como exercício efetivo da cidadania, instrumentalizando a vivência do voto e do consenso como recursos para a vida em comunidade”. O sujeito aprende à medida que vivencia os conflitos e os soluciona a partir da utilização de conhecimentos prévios. A avaliação deverá ir além da aplicação de provas e testes, ela irá verificar o aprendizado por meio de livres reproduções, expressões próprias, relacionamentos, explicações práticas, simulações e etc. Para Pozo (2002, p. 40): As característicasdessa nova cultura da aprendizagem fazem com que as formas tradicionais da aprendizagem repetitiva sejam ainda mais limitadas que nunca. Em nossa cultura, a aprendizagem deveria estar direcionada não tanto para reproduzir ou repetir saberes que sabemos parcialmente, sem mesmo sem pô-los em dúvida, como para interpretar sua parcialidade, para compreender e dar sentido a esse conhecimento, duvidando dele. A cultura da aprendizagem direcionada para reproduzir saberes previamente estabelecidos deve dar passagem a uma cultura da compreensão, da analise crítica, da reflexão sobre o que fazemos e acreditamos e não só do consumo, mediado e acelerado pela tecnologia, de crenças e modos de fazer fabricados fora de nós. (POZO, 2002, p. 40). Dessa maneira, para falarmos em uma avaliação diferenciada, devemos ter em mente que estamos falando em uma prática pedagógica transformadora, mais aberta, ativa, individualizada, dando espaço para a descoberta, para a pesquisa e os projetos. Em se pensando a avaliação como um feedback, tanto para o estudante como para o professor, quando feita de forma qualificada, demonstra as necessidades de tomada de decisão e registros, análises e interpretação de dados. Colocada dessa forma, a avaliação contribui para tomada de consciência dos indivíduos partícipes do processo. Sendo assim, cria-se um espaço de liberdade e autonomia que favorece a assimilação de novos conhecimentos e a estruturação de um pensamento mais complexo. 29 Avaliação Continuada É nesse contexto que se caracteriza a avaliação continuada, que é avaliação ao longo do processo ensino-aprendizagem, o qual tem objetivos muito mais significativos do que apenas aprovar ou reprovar. A continuidade da avaliação previne a repetência, pois coloca em evidência a necessidade de reajuntar as ações ao longo do ano letivo. Dessa forma, fica sem sentido aplicar apenas uma prova ao final do período, depois que todas as aulas já foram ministradas, e pautar, com base apenas neste resultado, a aprovação ou reprovação do estudante. Essa perspectiva de avaliação lança mão de vários instrumentos: provas, testes, trabalhos individuais e de grupo, observações sistemáticas, trabalhos de casa etc. A avaliação continuada é processual e diagnóstica. Para a realização da avaliação contínua, é desejável que o currículo esteja organizado em ciclos, e não em regime de seriação. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) orientam a organização curricular em ciclos de dois anos: o primeiro se refere às primeira e segunda séries; o segundo ciclo, à terceira e à quarta séries; e assim subsequentemente para as outras quatro séries (BRASIL, 1997). A estrutura curricular organizada em ciclos contribui para uma maior flexibilidade necessária para se trabalhar as diferenças entre os estudantes e evita a fragmentação do processo educativo, pois abre espaço para adaptações na ação pedagógica, respeitando os tempos individuais de aprendizagem. A concretização dessa prática depende de uma estrutura de sustentação que inclui a formação do professor, condições institucionais de espaço e tempo e a parceria com as famílias. Diferentes Formas de Avaliar A prova é apenas uma das formas de se gerar nota, que, por sua vez, é apenas uma das formas de se avaliar (VASCONCELLOS, 1998). 30 Existem ainda algumas questões que precisam ser colocadas sobre as diferentes formas de avaliar. Não se deve descartar como um todo a utilização de provas e testes, mas estas também não podem ser a única alternativa. Existem muitas outras ferramentas que devem ser utilizadas para complementar a avaliação do desempenho escolar dos estudantes. Podemos citar como exemplo a autoavaliação, que é uma maneira de o professor compartilhar com os estudantes a responsabilidade pela avaliação e proporcionar, ao estudante, o desenvolvimento de estratégias de análise e interpretação de seu próprio desempenho e das ferramentas utilizadas para avaliar. A diversidade de instrumentos de avaliação é a estratégia mais segura para obter informações a respeito dos processos de aprendizagem. É fundamental a utilização de diferentes códigos, como o oral, o escrito, o gráfico, o pictórico, o numérico. Além da prova e do teste, podem-se acrescentar a observação sistemática (através de registros em tabelas, listas de controle, diário de classe etc.) e a análise das produções dos alunos (BRASIL, 1997). Dentro dessa perspectiva, o erro é entendido como elemento-chave que revela as lacunas de compreensão. O trabalho com os erros dos estudantes deve ser feito forma de construção do conhecimento. A correção enérgica do erro provoca medo, culpa e perda de dignidade; três obstáculos à aprendizagem (VASCONCELLOS, 1998). Figura 15 - Diferentes formas de avaliar. 31 Sendo assim, a utilização de diferentes instrumentos de avaliação e a avaliação continuada possibilitam ao professor o acompanhamento individualizado do aprendizado de seus estudantes e, dessa forma, pode adequar o ritmo para o cumprimento do programa do curso. Antes de avançar, verifica, pelas avaliações, se a turma está preparada para isso. O professor deve estar disposto e preparado para situações em que não consegue “sinal verde” para avançar. O desafio é buscar formas diferentes de trabalhar o conteúdo, e a escola deve exercer a sua responsabilidade de apoiar, principalmente facilitando o trabalho de equipe dos professores. Percurso duro e demorado, recheado de imprevistos e novos começos, exige firmeza, foco e esperança – valores que, com certeza, não faltam aos educadores brasileiros. Fechamento Estudantes, nesta aula, vimos como se estabelece a relação entre a prática avaliativa e a formação de professores. Podemos ver o quão incipiente é a abordagem da temática nos cursos de formação inicial e disso resultam as práticas pouco criativas e emancipatórias de avaliação educacional. Refletimos sobre a atuação pedagógica na prática da avaliação educacional. Foi possível compreender que o principal agente transformador dessa prática é o professor, que está presente coordenando as ações pedagógicas dentro da sala de aula. Continue conosco e até a próxima aula! VÍDEO A seguir está o vídeo de uma palestra do professor doutor Jaime Zorzi sobre o entendimento do erro como oportunidade de aprendizagem. 32 As Diversas Facetas do Olhar Avaliativo Introdução Nesta aula vamos refletir sobre a multiplicidade do processo avaliativo. Ao longo das aulas anteriores foi possível perceber que a avaliação é uma atividade que envolve diferentes dimensões do universo educativo. O professor – por ser também o avaliador – precisa desenvolver um olhar atento e amplo diante das situações que se apresentam em sala de aula. Bom estudo! Avaliação Enquanto Controle Avaliação é sinônimo de controle? Com certeza! Negar essa certeza é não compreender a avaliação em sua completude. Entre outras coisas, a avaliação é controle institucional, social e público. É controle da qualidade da ação da sociedade, do poder público, do professor, do estudante e dos pais. Sempre que o processo avaliativo levar à tomada de decisão sobre a vida de um sujeito, ele estará exercendo um tipo de controle. O poder judiciário, por exemplo, exerce forte controle social. Da mesma forma, aos professores de uma escola, recai a responsabilidade de decidir Aula 04 33 sobre promoção e certificação de estudantes pelo sistema educacional. O que precisa ser questionado, entretanto, é o conjunto de princípios e valores morais, sociais, educacionais, que fundamentam, orientam, tais decisões, porque tomá-las é inerente ao compromisso profissional de um educador. Desse modo, a prática avaliativa eliminatória e classificatória praticada na escola pública é uma das responsáveis pela exclusão social e manutenção de desigualdades socais no país. O fundamental é perceber o sentido da avaliação na essência humana (julgamento de valor, ação que reflete), compreendendo a finalidade dos processos avaliativos que, dependendo da sua base teórica, pode ser favorável ou desfavorávelao estudante. Sendo assim, o controle deve ser exercido de forma que não limite, não cerceie, não se centre em interesses ou determinações de adultos. É um controle pautado em rigorosidade amorosa, como diz Freire (1996)FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996., pois permite à criança crescer, experimentar, ousar, tornar-se autônoma e consciente de suas próprias ações. Já vimos nesta disciplina que em avaliação é muito importante fazer registros, coletar informações sobre o estudante, utilizar tabelas de pontos e pesos e até mesmo fórmulas estatísticas. Porém, cabe à escola e ao professor elaborar registros confiáveis do controle que fazem do alcance ou não de padrões que demostrem a suposta capacidade do estudante. Dessa forma o controle não beneficia o estudante, mas apenas cumpre um papel burocrático de seguir regras neutras, objetivas e supostamente justas. Figura 16 - Avaliação enquanto controle. 34 Por outro lado, se a intenção é o acompanhamento para ajudar no trajeto, faz-se necessário percorrer o caminho junto, sentindo as dificuldades, apoiando, conversando, sugerindo direções adequadas a cada estudante. Visto assim, o compromisso de quem acompanha é muito forte. Numa visão bastante abrangente, estabelecer objetivos é decidir sobre o destino das ações educativas As Exigências e As Ações Avaliativas As fragilidades do processo avaliativo surgem exatamente da complexidade que faz parte do ser humano enquanto ser social, dessa forma, verificar a construção de conhecimentos requer uma analise de múltiplas dimensões. Essas fragilidades do processo avaliativo ocorrem, justamente, por conta da complexidade inerente ao ser humano. Por sua complexidade e dinamismo, o conhecimento acarreta uma análise de múltiplas dimensões. Os objetivos educacionais não são pontos exclusivos de chegada, mas sim, pontos de passagem, direções para a continuidade do processo educativo. Os objetivos devem sempre levar em consideração a realidade e o contexto que poderão influenciá-los. Por causa da sua complexidade, o processo avaliativo deve sempre antecipar questões. Questões que não tenham respostas definitivas e irrevogáveis, e, por isso, respostas que alimentem a produção de novas perguntas, que mobilizem a permanente reflexão do Figura 17 - Ações avaliativas. 35 professor, que leve ele a olhar para trás fazendo uma análise do caminho percorrido, dos obstáculos vencidos, podendo assim redimensionar o tempo e a direção do processo educativo. Essa é uma postura de um professor flexível e reflexivo, participante de uma formação continuada. Nesse sentido, avaliar exige uma visão ampla do processo, amplitude essa conseguida por meio da utilização de diversificados procedimentos, da utilização de situações complexas de aprendizagem e de reflexão sobre as dimensões que se fazem presentes em cada resposta ou manifestação do estudante. Ou seja, é perceber o desenvolvimento de competências. Avaliar competências é observar o estudante em sua capacidade de pensar e agir satisfatoriamente em uma situação, buscando soluções para enfrentá-la, apoiado em conhecimentos. O aprender envolve situações interativas, engajamento pessoal e busca de conhecimentos em momentos sucessivos e complexos. Para termos melhor visão sobre o que observar quando o estudante está em atividade ou quando analisamos uma de suas tarefas, Hoffmann (2007) apresenta o quadro abaixo com situações de equívocos comuns, vividas no cotidiano escolar. O aluno encontra dois resultados diferentes a uma idêntica questão matemática e na mesma tarefa; Escreve a mesma palavra com grafias diferentes, no mesmo texto: de repente e derrepente; Responde a uma questão reproduzindo textos do livro ou do seu caderno; Resolve uma questão revelando compreender o assunto, mas apresenta muitos erros de escrita, bem como redação confusa; Expressa conhecimentos do senso comum ao realizar a tarefa; Não realiza a atividade ou tarefa proposta, nem tenta fazê-la; Resolve o exercício, mas de forma diferente da qual foi solicitada. Fonte: HOFFMANN, 2007, p. 63 Como realizar uma análise qualitativa de aprendizagem diante de uma diversidade de situações como as vividas no cotidiano escolar? Para isso é necessário analisar a partir de múltiplos referenciais de interpretação no plano epistemológico, didático e relacional. Dessa maneira é preciso olhar cada situação vivida pelo estudante e as múltiplas dimensões de sua aprendizagem, os conteúdos, os objetivos propostos, as formas de ensinar e de aprender, o 36 cenário educativo/avaliativo. O núcleo de todas as dimensões da aprendizagem é o estudante. Como demonstra o esquema acima, a análise das manifestações dos estudantes não pode ser feita apenas no âmbito do certo e do errado, essa interpretação precisa ser compreendida em toda sua complexidade. Há respostas certas dos estudantes que podem estar incompletas; fórmulas bem aplicadas na solução de problemas, mas respostas erradas por erros de cálculo; experiências ou atividades bem realizadas, mas relatadas com pouca clareza; textos coerentes, mas pobres de argumentos (HOFFMANN, 2007). Para que a interpretação das múltiplas dimensões da aprendizagem aconteça, é preciso que o professor faça a leitura das situações de aprendizagem, ancorado por um domínio das teorias da aprendizagem. Precisa ser uma leitura curiosa e investigativa. A organização curricular pode contribuir ou não para uma avaliação qualitativa do processo educativo. Os conteúdos podem apresentar um caráter de transversalidade, mesmo que o educador não perceba. A construção do conhecimento pelo estudante não acontece de forma isolada, resultando em conceitos separados para cada uma das disciplinas. As respostas dos estudantes são resultantes de uma multiplicidade de informações, de relações estabelecidas, habilidades, valores e sentimentos que o(a) constituem como sujeito(a) aprendiz. Muito se tem Figura 18 - O estudante é o núcleo de todas as dimensões da aprendizagem. 37 discutido sobre interdisciplinaridade e temas transversais, mas a análise do desenvolvimento do estudante ainda se dá de forma fragmentada. A escola pode trabalhar com uma infinidade de conhecimentos, porém sem a mobilização cognitiva do estudante o resultado será memorização, aprendizagens não significativas e fragmentadas. Para fazer com que os estudantes queiram buscar informações, construam sentido é preciso oferecer momentos diversificados de aprendizagem. A transversalidade é um caminho para o professor trabalhar os conteúdos em sua progressão, fazendo provocações graduais aos estudantes em cada disciplina e entre elas. Não há, portanto, uma resposta esperada, mas a curiosidade pelo pensamento do aprendiz, pelas hipóteses que constrói ao longo do processo. A ação avaliativa deve, portanto, suscitar e acompanhar a progressão do estudante, assim o professor volta sua atenção para as novas aquisições em relação às anteriores. A avaliação é ao mesmo tempo, sistemática e intuitiva levando o professor a reformular objetivos, ajustar propostas e tarefas para que se adequem às situações inesperadas do cotidiano e às diversas necessidades dos estudantes. É papel do professor fazer contribuições e sugestões individuais e coletivas. Assim, cada estudante segue o seu próprio rumo, sempre inusitado, encaminhando-se a questões e/ou descobertas inesperadas para o educador. A análise qualitativa dos seus avanços, de suas etapas de indagação e superação, pressupõe uma interpretação muito cuidadosa, de modo a refletir sobre as múltiplas referências conceituais e interdisciplinares presentes em suas respostas. Dessa forma, os avanços individuais exigem a análise continuada das suas produções, textos, exercícios e manifestações que irão representar o seu pensamento em construção. VÍDEO Disponível a seguir, está um vídeo do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de São Paulo, em que está muito clara a visão do que é transversalidade. Além disso, o vídeoapresenta algumas dicas interessantes para a concretização da transversalidade e interdisciplinaridade em nossas salas de aula. Confira! 38 Para que o diálogo entre estudante e professor aconteça de maneira fluida é preciso que essa relação seja baseada em uma reflexão séria e profunda sobre o saber construído por ambos, é preciso que o estudante tenha a necessidade de colocar suas ideias e dúvidas em todos os momentos. Essa necessidade surge a partir da confiança na intenção do professor de ajudar o estudante na progressiva apropriação do saber. Essa confiança não é ensinada, é conquistada pela orientação continuada e competente de cada professor. Dessa forma, as possibilidades de aprendizagem definem as condições de avaliação, pois ao criar situações de investigação e intervenção adequadas a observação da evolução de cada estudante se torna ampla, continuada e capaz de compreender as dimensões abordadas. Antes mesmo de iniciar o período letivo, o professor já está inserido no processo de avaliar. Isso porque ele constrói expectativas sobre o grupo de estudantes que irá trabalhar e isso influencia suas decisões. O professor planeja as atividades usando como referência as “supostas” possibilidades cognitivas dos estudantes, dessa forma, ele cria o cenário da avaliação. Se o professor escolhe trabalhar com tarefas escritas individuais e proporcionar aos estudantes o papel de ouvinte na maioria do tempo, esses serão os limites de sua observação da aprendizagem. Por isso, as novas concepções de avaliação exigem o repensar do trabalho pedagógico, dando nova configuração à prática educativa e às relações entre professores e estudantes. Isso, com certeza, é um grande desafio para a escola. Figura 19 - Diálogo entre estudante e professor. 39 Pensando assim, avaliar é questionar, formular perguntas, propor tarefas, disponibilizar tempo, recursos, condições para que os estudantes construam suas respostas. Os conteúdos não deixam de existir e eles são muito importantes e também é o entendimento da interdisciplinaridade. O foco está em oferecer aos estudantes muitas e diversificadas possibilidades de pensar, buscar conhecimentos, engajar-se na resolução de problemas, comprometido com seus avanços e dificuldades. As vivências coletivas possibilitam construções individuais (cada estudante aprende do seu jeito, no seu tempo e à sua maneira), a interpretação das respostas construídas pelos estudantes, leva o professor a compreender as necessidades e interesses individuais (análise qualitativa). As novas experiências educativas devem ser propostas e negociadas com os estudantes, e também devem ter o potencial de acompanhar o estudante em sua evolução. Fechamento Nesta aula, vimos detalhadamente as diversas possibilidades de observação e coleta de informações que os professores podem lançar mão a fim de realizar uma avaliação mediadora que seja eficiente e eficaz. Na próxima aula, iremos aprofundar a reflexão sobre a avaliação enquanto mediação da aprendizagem. Até lá! VÍDEO Para finalizar nossa aula, segue no link a seguir um vídeo com vários estudiosos da área de Avaliação Educacional, em que eles fazem um panorama da situação de nosso país e demonstram as possibilidades de se construir uma prática avaliativa que de fato resulte em aprendizagens significativas. 40 Avaliação e Mediação Introdução Prezado(a) estudante, chegamos à nossa última aula desta Unidade, e vamos aprofundar nosso entendimento sobre avaliação e mediação. Iremos ver que toda ação avaliativa pressupõe uma ação por parte do professor, bem como por parte do estudante. Dessa forma, a construção do espaço avaliativo é vista como um espaço coletivo em que todos estão comprometidos com a busca de uma aprendizagem de fato significativa. Boa aula! Avaliação Mediadora Podemos pensar na avaliação mediadora como um processo de permanente troca de mensagens e de significados, um processo interativo, dialógico, espaço de encontro e de confronto de ideias entre e professor e estudantes em busca de níveis qualitativamente superiores de conhecimentos. Avaliar é ampliar as oportunidades e ter um posicionamento aberto diante das disponibilidades reais de cada estudante. Essas disponibilidades serão interpretadas sob múltiplas dimensões por parte do professor ao longo do processo de aprendizagem. Aula 05 41 Vygotsky ressalta que o estudante atribui sentidos próprios às informações, a partir de experiências e aprendizagens anteriores, gerando, para si, novos conhecimentos. Na sua teoria, a interação social no desenvolvimento do indivíduo se dará pela aprendizagem da linguagem, instrumento de caráter simbólico essencial ao processo de internalização dos saberes. Para Piaget, o sujeito constrói a si mesmo em um processo de interação dialética com o meio sociocultural. Ao interagir com o objeto, o sujeito recria seu pensamento. Esse objeto agora é um novo objeto, uma nova representação para esse sujeito. O objeto da interação do estudante pode ser o professor, a noção estudada, o colega, um texto lido. Todos eles são considerados mediadores, uma vez que serão elementos de objetivação do pensamento do estudante, acarretando a construção de novos significados. A linguagem, para Vygotsky e Piaget, é a mediação do pensamento. Quando o estudante ouve o professor, ele interpreta a sua fala e, por meio dela, o pensamento do professor. Ao interpretar, entretanto, um novo pensamento se cria, que não é mais a própria fala, nem o pensamento do professor, mas um entendimento do próprio estudante. Figura 20 - À esquerda, Lev Vygotsky e à direita, Jean Piaget Fontes: http://tinyurl.com/otrtr2n e http://tinyurl.com/gkvwpzv 42 http://tinyurl.com/otrtr2n http://tinyurl.com/gkvwpzv A relação entre professores e estudantes se constrói por diferentes dimensões de diálogo: orientar, informar, questionar, aconselhar, criticar, observar, responder, explicar, corrigir, ouvir. Essas ações podem motivar diferentes reações, atitudes de receptividade ou de divergência nos estudantes. O ponto está em garantir a verdadeira compreensão entre os sujeitos dessa relação a partir da confiança e da aceitação das diferentes formas de pensar e expressar o pensamento. Sabemos que realizar uma avaliação na perspectiva mediadora é algo que exige muito dos sujeitos envolvidos no processo, sabemos que muitas vezes é impossível acompanhar estratégias de aprendizagem de todos os estudantes todo o tempo. De fato, esse intento pode resultar numa observação esporádica, intuitiva, de caráter não intencional, centrada nos estudantes que chamam mais atenção e nas atividades programadas pelo professor. Prática comum nas salas de aulas brasileiras é a de os estudantes receberem conceitos e notas por tarefas de pesquisa, por exemplo, na verdade essa atividade representa o levantamento de uma situação problema, a mobilização dos estudantes para um tema que está sendo introduzido ou desenvolvido. É nesse momento que o estudante aprende a aprender, na busca por informações, ao lidar com diferentes tipos de textos, ao trocar informações com colegas, familiares e de outras formas. Atribuir um resultado por essa tarefa é partir do pressuposto de que o estudante já está em tempo de apresentar conceitos construídos, o que muitas vezes não é verdade. Quando percebem que tais tarefas não representam indicadores de aprendizagem do estudante, os professores optam por atribuir notas e conceitos pelo atributo “fazer” a tarefa. Somam-se, ao final de períodos letivos, pontos pelo “fazer” e pontos pelo “aprender”. Se o estudante participa de todas as atividades propostas, mesmo que não venha a aprender com elas, a soma de pontos equilibra os resultados, prejudicando a percepção das dificuldades individuais. VÍDEO No vídeo a seguir está uma pequena animação que apresenta um diálogo entre Vygotsky e Piaget, na conversa eles abordam como suas teorias entendem a construção do conhecimento pelos indivíduos. 43 Uma produção coletiva de um texto, por exemplo, nem sempre expressa aprendizagemde cada estudante, mas de alguns que lideram a tarefa. Reuni-los em grupo representa criar espaço de troca de ideias e conflitos cognitivos. Não há sentido em se julgar tarefas coletivas, atribuindo- se resultados individuais, ou pior ainda, somar pontos por participação e outras atitudes. Momentos de trabalho coletivo devem ser de natureza interativa, possibilitando a formulação de questionamentos. Não representam pontos de chegada, mas a passagem pelo no caminho do conhecimento. Qual o sentido de se julgar a aprendizagem de um estudante, tomando como definitivas as etapas que ele está a percorrer? É compromisso do professor avaliar permanentemente, mas é diversa a natureza da sua intervenção a cada momento do processo, com ações diferenciadas e ajustadas à dinâmica da aprendizagem de cada um e do grupo. As teorias do conhecimento são categóricas ao afirmar que, para promover aprendizagens significativas é preciso levar em consideração as concepções espontâneas dos estudantes, dessa forma, os novos conhecimentos se relacionam com as estruturas cognitivas que ele já possui. Avivar os conhecimentos prévios é um bom ponto de partida para a prática educativa e isso não se encerra no planejamento inicial do período letivo, mas se estende ao trabalho continuado do professor. Com isso a ação avaliativa é redefinida a cada momento do processo ensino-aprendizagem e será mais ou menos eficaz de acordo com a clareza que o professor tem sobre o momento vivido pelos estudantes. Figura 21 - Produção coletiva. 44 Como se desencadeia o processo de aprendizagem? Toda proposta pedagógica implica, inicialmente, um convite ao estudante a buscar novos conhecimentos. O estudante irá aprender, na escola, a partir de experiências educativas organizadas pelo professor, que traduzem objetivos delineados de aprendizagem. Ou seja, o professor pretende mobilizar os estudantes a responderem determinadas questões de saber, que podem ou não estar explícitas, mas que são sempre inerentes às propostas desencadeadas. Aprendizagem Ativa O protagonismo no processo de aprender, surge quando o estudante se sente mobilizado, para isso é preciso que sejam criadas condições significativas para o estudante. Embora a Figura 22 - Aprendizagem ativa. VÍDEO Para descontrair um pouco, veja um vídeo em que o Professor Madruga exemplifica com muita propriedade o que é a aprendizagem significativa. 45 mobilização dependa do próprio estudante, são as condições criadas pelo professor que poderão favorecer o seu acontecimento. Professor, condições favoráveis e mobilização são os principais mediadores do desejo dos estudantes em aprender. No que se refere à avaliação, a finalidade essencial do educador, ao desencadear novas propostas ou introduzir novos saberes é, então, a de mediar a mobilização, o que nos remete de volta à discussão sobre aprendizagem significativa e concepções prévias. O papel do educador/avaliador é mediar a mobilização e se manter flexível, atento e crítico sobre seu planejamento. Propor sem delimitar, questionar e provocar, mas sem antecipar respostas possíveis. A avaliação tem por finalidade conhecer os estudantes cada vez melhor, propondo questões que verdadeiramente os levem à ação e à escuta de suas próprias questões. É propor em conjunto situações que sejam problematizadoras e despertem a curiosidade. Às vezes a provocação parte do professor, outras vezes, são os próprios estudantes que trazem para sala de aula tais provocações. Sobre as condições prévias, é importante perceber que mediá-las é mediar a mobilização, é abrir espaço para o encontro em sala de aula. É planejar o tempo para que haja a descoberta, o espaço para conversas, para troca de experiências e expectativas. Esse diálogo não é apenas inicial, porque os estudantes vivem problemas cotidianos que interferem em suas reações a todo tempo. Promover o espaço do convívio e de troca é compromisso permanente do avaliador e tarefa essencial, em termos de mobilização para aprendizagem. De fato mediar a mobilização é provocar o desejo de aprender e esse talvez seja um dos mais difíceis compromissos do professor. Não só os teóricos em educação têm demonstrado a necessidade de a escola mudar, mas a insatisfação dos estudantes com o modelo de escola que está colocado pode ser também bastante motivadora de mudanças. Tal insatisfação se caracteriza exatamente pela falta de desejo de crianças, jovens e adultos ficarem, por vários anos, em ambientes escolares que não fazem sentido e que não são desafiadores (estimulantes), enquanto a vida social fora de sala de aula se apresenta muito mais agitada e desafiadora. 46 Para provocar o pensar, a curiosidade, a formulação e a reformulação de diferentes hipóteses por diferentes aprendizes, o professor deve realizar uma avaliação problematizadora sem a intenção de resolver problemas ou chegar a resultados. Não é fácil, mas é possível provocar o desejo de aprender pela necessidade do enfrentamento a questões bem colocadas pelo educador. É preciso equilibrar desejo e necessidade. Uma questão bem-posta e desafiadora pode suscitar diferentemente um ou outro sentimento nos estudantes. Experiências educativas são situações vividas pelos estudantes no ambiente escolar e possuem por objetivo de sua atividade intelectual: a realização de tarefas de todas as naturezas, experimentação em laboratórios, jogos individuais ou em grupos, visitas e passeios, assistir filmes, frequentar teatros, realizar atividades em computador, manuseio de materiais diversos, brincadeiras, debates, enfim, toda a enorme gama de alternativas didáticas que poderão ser organizadas nesse sentido. Mediar a experiência educativa significa acompanhar o estudante em ação-reflexão-ação. O professor acompanha o estudante nos sucessivos processos da prática educativa: o aprender (buscar novas informações), o aprender a aprender (refletir sobre procedimentos de aprendizagem), o aprender a conviver (interagir com os outros) e o aprender a ser (refletir sobre si próprio enquanto aprendiz). Figura 23 - Provocar no aluno o desejo de aprender. 47 Toda intervenção do professor provoca nele e no estudante diferentes graus de compreensão. O professor reflete sobre o seu entendimento do aluno e o aluno pergunta-se também sobre o seu entendimento acerca das instruções do professor. São momentos reflexivos (mediadores) altamente significativos para ambos. Essa ação avaliativa é de natureza intuitiva e espontânea, dependendo da sensibilidade do professor, mas não se dá sem a clareza dos propósitos da experiência educativa, através das seguintes indagações: quais os saberes que estarão sendo construídos pelos alunos naquela situação? Como contribuir para tornar a experiência ainda mais rica e provocativa a cada um? Esta é a grande questão do educador/avaliador: acompanhar e interpretar as aprendizagens do estudante, segundo Hoffmann (2007), consciente de que: VÍDEO Assista a um pequeno vídeo com depoimento de professores sobre uma escola pública de Campinas (SP). VÍDEO O vídeo a seguir pode nos ajudar a responder tais questões. Nele, Rubem Alves fala com muita propriedade e carinho sobre o papel do professor no processo educativo. Confira! 48 Os sentidos que constrói estão em permanente evolução, e o acompanhamento do professor precisa ajustar-se a tal dinâmica, ultrapassando as anotações de caráter somativo em direção a anotações gradativas e complementares. Sua aprendizagem não é observável, apenas a expressão de sua aprendizagem, através de diferentes condutas e linguagens que suscitam, por sua vez, a intepretação do professor. Os seus enunciados podem revelar, com sutileza, saltos qualitativos que, para serem percebidos, exigem grande domínio de conhecimento do professor em sua disciplina e em teorias de conhecimento. Fechamento Ao final desta segunda Unidade, é possível perceber a complexidade do ato avaliativo e com isso compreender o papel do professor nesse processo. Na perspectiva que estudamos, a mediação e a mobilização sãobases para a ação educativa comprometida com o desenvolvimento de aprendizagens significativas. Vamos continuar nosso caminho, na próxima Unidade passaremos a refletir sobre pontos mais específicos do processo de aprendizagem e sobre as ferramentas de avaliação e sua elaboração. 49 capa_unidade2 Aula 2-1 Aula 2-2 Aula 2-3 Aula 2-4 Aula 2-5
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