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Autora: Profa. Camila Kimie Ugino 
Colaboradores: Prof. Maurício Manzalli
 Profa. Ivy Judensnaider
Economia Política
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Professora conteudista: Camila Kimie Ugino
Possui graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Campinas (2005), mestrado em Economia 
Política (2011) e doutorado em andamento em Ciências Sociais com ênfase em Ciência Política pela Pontifícia 
Universidade Católica de São Paulo. Atualmente, é professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da 
Universidade Paulista, ministrando disciplinas de Introdução à Economia, Economia Política, Economia Internacional 
e Economia do Setor Público. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Economia dos Programas de 
Bem-Estar Social, Economia Política e Políticas Públicas.
Atuou no mercado financeiro nos bancos Unibanco e Citibank nas áreas de planejamento corporativo e área de 
risco e em empresa privada em Campinas no ramo farmacêutico-veterinário.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
U26p Ugino, Camila Kimie.
Economia política. / Camila Kimie Ugino. – São Paulo: Editora 
Sol, 2016.
172 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXII, n. 2-016/16, ISSN 1517-9230.
1. Economia política. 2. Valorização de capital. 3. Teorias do 
imperialismo. I. Título.
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Lucas Ricardi
 Juliana Mendes
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Sumário
Economia Política
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 MARX E A ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA INGLESA ....................................................................... 11
1.1 Economia Política e Economics ...................................................................................................... 11
1.2 A evolução da problemática da Economia Política ................................................................ 15
1.2.1 O problema da Teoria do Valor no mercantilismo ..................................................................... 15
1.2.2 Adam Smith e a problemática da Economia Política clássica .............................................. 19
1.2.3 David Ricardo e a estruturação da Teoria do Valor-Trabalho ............................................... 32
1.3 Conflitos sociais e o declínio da Economia Política clássica .............................................. 37
2 O PERCURSO TEÓRICO DE MARX ATÉ O CAPITAL .............................................................................. 43
2.1 Da Filosofia à crítica da Economia Política ................................................................................ 43
2.2 Uma obra considerável, multiforme e inacabada ................................................................... 48
2.3 A crítica de Marx ao objeto da Economia Política .................................................................. 51
3 O PENSAMENTO ECONÔMICO DE MARX COMO ANÁLISE CRÍTICA DO CAPITALISMO ........ 56
3.1 Introdução ............................................................................................................................................... 56
3.2 Mercadoria, duplo caráter do trabalho e fetichismo ............................................................. 64
3.3 Capital e mais-valia ............................................................................................................................. 80
3.3.1 As definições de capital ........................................................................................................................ 80
3.3.2 O que é e qual a origem da mais-valia? ........................................................................................ 84
4 O PROCESSO DE VALORIZAÇÃO DE CAPITAL ....................................................................................... 93
4.1 Formas de mais-valia: mais-valia absoluta e mais-valia relativa ..................................... 98
4.2 Métodos de produção de mais-valia: cooperação, manufatura e 
grande indústria .........................................................................................................................................100
Unidade II
5 REPRODUÇÃO DO CAPITAL E TENDÊNCIAS DA ACUMULAÇÃO ..................................................112
5.1 Reprodução simples e reprodução das relações de classe ................................................114
5.2 Reprodução ampliada e lei geral da acumulação capitalista ...........................................118
6 LEI GERAL DA ACUMULAÇÃO CAPISTALISTA E TENDÊNCIAS DA ACUMULAÇÃO ................120
7 TEORIAS DO IMPERIALISMO: HOBSON E HILFERDING ...................................................................129
7.1 Hobson e o estudo do imperialismo ...........................................................................................132
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7.2 Hilferding e o fenômeno do capital financeiro ......................................................................137
8 TEORIAS DO IMPERIALISMO: LUXEMBURG E LENIN.......................................................................146
8.1 Rosa Luxemburg e a acumulação de capital...........................................................................146
8.2 Lenin e o imperialismo como etapa superior do capitalismo ..........................................150
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APRESENTAÇÃO
A Ciência Econômica, que usualmente tratamos simplesmente como a Economia, não é uma ciência 
unificada e homogênea. Por mais que tenhamos contato com ela em livros-textos e manuais, que versam 
sobre os grandes campos da análise econômica (microeconomia, macroeconomia etc.), a composição 
e o material que embasa essa ciência são bastante diversificados. Ao estudarmos macroeconomia, por 
exemplo, lidamos com correntes às vezes opostas de pensamento econômico – “novos clássicos” versus 
“pós-keynesianos” etc.
Reconhecer o caráter plural da CiênciaEconômica, em que é muito difícil se defender ideias 
inquestionáveis, é indispensável para a discussão de Economia Política. Uma piada recorrente entre 
economistas é a de que se dois economistas forem questionados sobre um assunto, é muito provável 
que tenhamos três posições diferentes. O que esse tipo de anedota destaca é justamente esse caráter 
plural de abordagens sobre os fenômenos econômicos.
Essa pluralidade, e as polêmicas subjacentes a ela, revela-se de maneira intensa quando tratamos de 
Economia Política.
A Economia Política, que historicamente é nome de “batismo” de toda a Ciência Econômica, carrega 
desde sua gênese uma série de polêmicas. Polêmicas entre mercantilistas, posições diferentes sobre o 
problema do valor, debates sobre a Teoria do Valor-Trabalho etc.
Mas a Economia Política, por ser o nome original da Ciência Econômica e hoje com pouco uso 
pelos economistas em geral, não é apenas um ramo da história do pensamento econômico. A própria 
definição de Economia Política, mesmo na atualidade, continua a carregar um conjunto de problemas 
sobre como se abordar a realidade econômica, e é dado esse conjunto de questões que o presente livro-
texto se estabelece.
De início, cabe destacar que este livro-texto de Economia Política trata centralmente das considerações 
do pensador alemão Karl Marx em sua crítica da Economia Política. Mas isso não significa, por si só, 
que as considerações aqui trazidas se refiram a socialismo, comunismo ou algo semelhante. O ponto é 
justamente outro, é apresentar a contribuição crítica de Marx ao entendimento das relações sociais que 
se estabelecem no modo de produção capitalista, isto é, compreender com certo rigor qual é a lógica da 
economia capitalista de acordo com Marx.
Atenção: como veremos durante nosso percurso, essa discussão não é um exercício de arbitrariedade 
política. Pelo contrário, ela é uma forma de aprofundarmos nosso contato com as polêmicas inerentes 
ao debate econômico. Ao final do curso, espera-se que o aluno tenha uma compreensão mais 
sistematizada não apenas sobre Marx, mas inclusive sobre essa Ciência Econômica a que dedicamos 
nossos estudos. Seu objetivo é estimular a percepção crítica dos fenômenos político-econômicos 
que cercam a Economia e que são indispensáveis para uma análise mais cuidadosa dos cenários 
econômicos brasileiro e internacional.
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INTRODUÇÃO
Se Economia Política é o nome que se dava à Ciência Econômica em sua gênese, nosso primeiro 
desafio é precisar o que significa hoje o seu estudo.
Estudar hoje Economia Política é estudar história do pensamento econômico?
Como veremos de início, a abordagem aqui oferecida aponta que não. Contudo, para explicar por 
que Economia Política não é simplesmente história, temos de retornar às suas primeiras discussões, 
especialmente o chamado problema do valor. O que dá valor aos objetos produzidos pelos seres 
humanos numa economia de mercado? Essa pergunta, que pode parecer não ter muito sentido hoje 
em dia, quando colocada em seu contexto histórico (isto é, no período da transição histórica para o 
capitalismo, o que, lembremos, nem sempre existiu), revela sua importância até mesmo nos dias atuais.
Considerando que hoje vivemos em uma economia centrada num mercado mundial, as perguntas 
sobre o valor das mercadorias e sobre as condições de produção desses valores são ainda elucidativas e 
têm muito a contribuir para uma análise ponderada da realidade social e histórica, não só do Brasil, mas 
também do mundo.
Sem embargo, ao aceitarmos que a Economia Política pode contribuir para nossas análises da 
atualidade, temos um novo desafio pela frente. Ao recuperarmos os problemas abertos pela Economia 
Política, percebemos que junto a autores como Adam Smith, David Ricardo e John Stuart Mill está 
também um autor que destoa dos demais: Karl Marx.
Esse nome é facilmente reconhecido quando relacionado às experiências históricas do socialismo 
(por exemplo, da antiga União Soviética), ou quando encontramos nele a referência a uma série de 
críticas ao capitalismo (ou, como comumente é chamado, à “economia de mercado”). Contudo, além 
de ser considerado um dos fundadores do chamado “socialismo científico”, Marx foi um profundo 
estudioso do capitalismo. Vale lembrar que, de sua vasta obra, uma parte expressiva é dedicada ao 
estudo do modo de produção capitalista. Se compararmos esse estudo às considerações sobre socialismo 
ou comunismo, veremos que a análise das condições concretas do comunismo é bastante resumida.
Não significa aqui defender que Marx não tenha relação alguma com o comunismo. Não apenas ele 
tinha, como sua análise sobre o modo de produção capitalista tem sua razão de ser como um objetivo 
de desvendar as condições de superação do capitalismo.
Todavia, em nosso curso esse não é o assunto. O assunto é fundamentalmente compreender a análise 
de Marx sobre O Capital, isto é, elucidar sua crítica à Economia Política.
Recorrentemente, teremos de precisar de que “crítica” se trata e examinar qual o método desenvolvido 
por Marx em sua “obra magna” O Capital. Essas considerações, como veremos, são indispensáveis a uma 
compreensão rigorosa da análise de Marx.
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Como sabemos, Marx foi um autor que escreveu sua obra no século XIX. Porém, não podemos concluir 
daí que aquilo que ele escreveu esteja superado historicamente. Cabe primeiro entendermos sua teoria, seu 
objeto de análise e seu método, para com isso talvez examinar a atualidade de suas formulações.
Ademais, a obra de Marx não foi tratada historicamente como uma obra acabada. Seja pelos méritos 
de sua análise e das tendências que ela apontava, seja pela afinidade política aberta por ela para outras 
gerações, o marxismo, entendido aqui como um conjunto amplo de tradições de pensamento que 
declaradamente se inspiram em Marx (e Engels, seu maior parceiro intelectual), buscou sempre avançar 
a compreensão crítica do capitalismo.
Em nosso curso, nós abordaremos uma parte da chamada tradição clássica do marxismo, 
especificamente aquela que desenvolveu a temática do imperialismo.
Tem-se por imperialismo o modo pelo qual ficou conhecido o momento histórico que antecede a 
Primeira Guerra Mundial, como também o conjunto de teorias sobre ele que se difundiram no início 
do século XX. Vale dizer que inicialmente esse tema e sua tentativa de teorização e precisão não 
foram algo inaugurado por autores marxistas. Ele começou a se destacar e a expressão imperialismo 
começou a se difundir muito antes das análises marxistas –, tanto pela qualidade e pelo impacto das 
análises empreendidas por diversos autores marxistas (Rosa Luxemburg, militante do amplo Partido 
Social-Democrata Alemão, e Vladimir I. Lenin, um dos líderes do Partido Bolchevique e da Revolução 
Russa) quanto pelos seus efeitos históricos concretos.
Por fim, ao final do curso, são apresentados de forma sintética alguns dos campos em que a Economia 
Política, particularmente em seu viés marxista, tem se desenvolvido pelo mundo na atualidade.
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ECONOMIA POLÍTICA
Unidade I
1 MARX E A ECONOMIA POLÍTICA CLÁSSICA INGLESA
1.1 Economia Política e Economics
Antes de começarmos a tratar de Marx e sua contribuição para as investigações e análises do 
capitalismo, é interessante compreendermos um pouco o estado da Ciência Econômica em sua época. 
Essa iniciativa pode nos trazer dois benefícios: i) desmitificar um pouco aquilo que, às vezes, em 
nosso senso comum, acabamos atribuindo a Marx e às tradições de pensamento nele inspiradas;ii) 
ajudar a entender melhor que tipo de trabalho foi realizado por Marx, qual a sua análise e sua crítica, 
particularmente em sua obra mais importante para o nosso campo de estudos, O Capital.
Nossa primeira tarefa é evitar considerar os sistemas teóricos construídos pelos economistas na 
história do desenvolvimento social como um mero conjunto de propostas práticas ou simples curiosidades 
teóricas de um tempo passado que não nos diz mais respeito.
Reconhecermos a necessidade de certa familiaridade, por exemplo, com as teorias de Adam Smith 
pode proporcionar condições mais favoráveis ao estudo dos problemas relacionados às teorias do valor. 
Esses não são problemas simples, eles se apresentam a nós em toda a sua magnitude e abrangência, e 
mesmo para leitores já familiarizados são de extraordinário valor intelectual e pedagógico.
Por exemplo, uma pergunta importante para a compreensão da dinâmica de alguns mercados hoje 
em dia é sobre o papel do conhecimento. É bastante comum se abordar o conhecimento como algo 
genérico (sem precisar exatamente de que tipo de conhecimento se trata), que as pessoas ou empresas 
adquirem de variadas maneiras e para variados objetivos (de maximização de ganhos particulares a até 
mesmo melhoria da “vida espiritual”). Contudo, seguem perguntas que podem nos colocar num outro 
patamar de investigação: é o conhecimento uma mercadoria? Como tal, pode o conhecimento ser 
transacionado em mercados específicos?
Ora, digamos que a resposta seja “sim” para ambas as perguntas. Isso nos coloca uma nova inquietação: 
qual o valor da mercadoria conhecimento? Como ela é produzida? Como se dá sua distribuição?
Outra forma de questionamento pode ser a seguinte: dadas as características do conhecimento na atualidade, 
como maximizar os benefícios sociais e individuais que ele pode trazer aos agentes econômicos?
Essas são perguntas a que a ciência que você está estudando procura responder. Mas, como se pode 
observar, elas são sensivelmente diferentes.
Aliás, tratando de perguntas, qual é a ciência que você estuda? Que curso você está fazendo no momento?
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Unidade I
Caso você tenha respondido “Eu estudo Economia”, você respondeu sobre o objeto que você estuda, 
mas não necessariamente sobre a ciência que lhe permite entender esse objeto.
Lembre-se: nos dias atuais, as ciências que estudam a dinâmica e os problemas da Economia 
são as Ciências Econômicas. De modo direto e polêmico, o curso que você faz não é Economia, mas 
sim Ciências Econômicas. Economia é apenas um dos objetos (o principal, pode-se dizer) que nós 
estudamos durante o curso.
Todavia, fique tranquilo (ou tranquila) se você respondeu Economia. Esse é o ponto que se busca 
destacar aqui: por mais que possa parecer algo óbvio, a própria definição de Ciência Econômica ou de 
Economia é envolvida em certa polêmica.
Tomando como referência a maioria dos manuais de Economia usados como material de ensino, é 
possível encontrar predominantemente a definição de Economia como a ciência que estuda a alocação 
(eficiente) e a administração (racional) de recursos escassos. Mas nem sempre essa foi a compreensão 
dominante do que seja a Ciência Econômica, tampouco ela é unânime, mesmo na atualidade.
Uma outra definição, que pode até parecer semelhante, é a de que a Ciência Econômica é 
a ciência (ou área do conhecimento) que estuda os problemas da sociedade relacionados com 
a produção, a acumulação, a circulação e a distribuição de riquezas (além das proposições práticas 
associadas a tais problemas).
É possível ilustrar essa diferença usando o manual de Introdução à Economia, de Nicholas 
Gregory Mankiw (2009), um livro bastante utilizado ao redor do mundo como material básico de 
cursos de graduação em Ciências Econômicas. O primeiro capítulo desse manual apresenta “Dez 
Princípios de Economia”, mas não é preciso discutir todos esses princípios para ilustrar a questão 
que se procura destacar aqui.
Considere o “Princípio 2”; esse princípio seria o de que “o custo de alguma coisa é aquilo de que 
você desiste para obtê-la” (MANKIW, 2009, p. 5). Pode parecer aceitável esse princípio; afinal, ele aponta 
para a existência de tradeoffs (expressão que indica a existência de escolhas conflitantes, isto é, quando 
eu escolho adquirir algo, essa escolha imediatamente elimina outras possibilidades – isso envolve a 
suposição de que os agentes econômicos em geral lidam com recursos limitados, ou seja, escolher uma 
coisa é abrir mão de alguma outra, já que é impossível se “ter tudo”). Todavia, quando eu afirmo que o 
“custo” se define desse modo, eu acabei estabelecendo o terreno inicial de discussão para uma teoria 
sobre o valor das coisas e sobre a forma de se atribuir preço aos fenômenos econômicos, e isso não é um 
“princípio” inconteste e completamente evidente de Economia.
Definir o custo de alguma coisa como aquilo de que se precisa abrir mão para se obter algo é defini-
lo como custo relativo (inclusive incorporando oportunidades) e como preço relativo e que implica 
geralmente uma determinação subjetiva (é a relação intersubjetiva existente na sociedade que determina 
a relação entre os preços – mediante preferências e restrições orçamentárias ao se escolherem bens e 
serviços –, aquilo que vimos quando estudamos microeconomia).
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ECONOMIA POLÍTICA
Ora, os princípios da interpretação dominante em microeconomia são apresentados por Mankiw 
(2009) como princípios gerais de Economia, sem polêmica ou questionamento.
Se nos perguntássemos no século XIX “O que é Economia”, certamente encontraríamos outras definições.
Mas o que tudo isso tem a ver com Economia Política?
Economia Política era precisamente o nome daquilo hoje chamado de Economia ou Ciência 
Econômica. Mesmo autores que são considerados precursores do pensamento marginalista (e da Teoria 
Neoclássica) deram a suas obras o título de Economia Política. Exemplos:
• William Stanley Jevons (1835-1882): The Theory of Political Economy (A Teoria da Economia 
Política), de 1870.
• Carl Menger (1840-1921): Princípios de Economia Política, também de 1870.
• Léon Walras (1834-1910): Eléments d’Economie Politique Pure (Elementos de Economia Política 
Pura), de 1874.
 Observação
Esses três autores são considerados os fundadores da chamada 
revolução marginalista, que é usualmente tratada como a fundação da 
Teoria Neoclássica (e da microeconomia). 
Como argumenta Aloísio Teixeira (2000), Walras é praticamente o único dos fundadores do pensamento 
neoclássico moderno que discute o conceito de Economia Política (o que para os outros autores não é uma 
deficiência teórica, afinal o termo era tão utilizado como definição da ciência particular que analisavam 
que era possível até mesmo dispensar maiores precisões e comentários sobre o assunto).
Para Walras (apud TEIXEIRA, 2000, p. 89), a Economia Política pura compreendia “a teoria do valor 
de troca e da troca, isto é, a teoria da riqueza social considerada em si própria”. Sem embargo, como 
aponta o mesmo Walras, a definição da Economia Política não é fácil, já que, “de todas as definições 
já feitas, nenhuma teve o consenso definitivo que é o signo das verdades conquistadas pela ciência” 
(WALRAS, p. 29, 1996). A primeira “lição” de Walras é justamente problematizar as definições propostas, 
de Adam Smith a Jean-Baptiste Say, algo em si muito diferente daquilo desenvolvido por Mankiw ao 
apresentar, sem problematização, os seus “dez princípios de Economia”.
Por ora, cabe ressaltar que é com a obra de Alfred Marshall, Principles of Economics (Princípios de 
Economia), de 1890, que a Economia Política passa a ser tratadaapenas como Economia (Economics). 
Como afirma Aloísio Teixeira (2000), é com essa troca de nomes (de Economia Política – Political Economy 
– para simplesmente Economia – Economics) que o termo Economia Política começou a perder seu 
sentido original e passou a receber outras acepções.
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Unidade I
A primeira acepção seria uma de caráter muito mais “ideológico”, mas que seria quase um 
sinônimo de Economics, utilizando as mesmas categorias de análise e aceitando até mesmo conclusões 
semelhantes. Reivindicar a investigação como Economia Política seria per se uma tomada de posição 
diante de conflitos sociais, o que de certo modo vai ao encontro do seguinte comentário de Marx (ainda 
no prefácio de O Capital):
No domínio da economia política, a livre investigação científica não só 
se defronta com o mesmo inimigo presente em todos os outros domínios 
[como proceder à investigação científica], mas também a natureza peculiar 
do material com que ela lida convoca ao campo de batalha as paixões 
mais violentas, mesquinhas e execráveis do coração humano, as fúrias do 
interesse privado (MARX, 2013, p. 80).
Uma segunda acepção é a que utiliza o termo Economia Política para se referir a um momento da 
história do pensamento econômico, para designar os pensadores da escola clássica (inclusive também 
Karl Marx). Nessa acepção, Economia Política seria o mesmo que economia clássica, referindo-se 
basicamente a uma pré-história do pensamento econômico, não tendo, portanto, grande atualidade, 
e que apresentaria problemas que em geral já teriam sido resolvidos no desenrolar histórico da Ciência 
Econômica. Essa é, aliás, como lembra Aloísio Teixeira (2000), o “ponto de vista que se tornou ‘oficial’ no 
Brasil”, dadas as regulamentações do Ministério da Educação.
Já se adianta ainda neste tópico que não são essas as acepções adotadas neste livro-texto.
Uma terceira acepção é aquela que vem sendo adotada não só por economistas, mas 
destacadamente por cientistas políticos que visam produzir entendimentos mais amplos dos 
fenômenos sociais. Nessa linha, Economia Política poderia ser entendida de modo bastante geral 
como Economia mais (e, com) política.
Segundo a argumentação de Aloísio Teixeira (2000), mesmo essas três acepções para o termo 
Economia Política, considerando o conteúdo substantivo que as reveste (do que elas tratam e o que 
produzem), não conseguem recuperar o vigor analítico que se tinha no passado.
Se Economia Política é entendida como sinônimo de Economia, não há razões científicas relevantes para 
avançar nessa temática. Assim, introdução à Economia é simplesmente introdução à Economia Política e 
vice-versa. Iniciar a análise econômica discutindo economia clássica ou elementos introdutórios a microeconomia 
e macroeconomia não traz diferenças significativas aos resultados obtidos pela teoria e pela prática.
Se Economia Política é entendida como a “pré-história” do pensamento econômico (ou uma 
“economia clássica”, encerrada com John Stuart Mill), sendo sua história marcada inicialmente pelos 
trabalhos pioneiros dos primeiros marginalistas, tem-se um vazio, no qual Marx não encontra lugar 
(TEIXEIRA, 2000).
No entanto, se Economia Política é compreendida como as doutrinas econômicas que se baseavam 
na teoria do valor-trabalho, seria possível ler Smith, Ricardo e mesmo Marx como uma linha sucessória 
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ECONOMIA POLÍTICA
de análise, podendo-se chegar à conclusão, talvez, de que Marx não passaria de um “ricardiano menor” 
(como sugeriu Schumpeter em sua História da Análise Econômica).
A questão de fundo, que se buscará destacar no decorrer do livro e que é indispensável ao aprendizado 
da crítica da Economia Política de Marx (e de alguns de seus sucessores), é que, ao criticar as ideias de 
seus antecessores, notadamente Adam Smith e David Ricardo, Marx não apenas constitui um método 
diferente de pesquisa em Economia Política como, em especial, aborda um novo objeto de investigação, 
com uma também nova teoria.
Inicialmente, trataremos do estado da Economia Política na época de Marx. Posteriormente, veremos 
seu percurso teórico até O Capital, obra que será nossa referência para as discussões mais detalhadas 
apresentadas na sequência, já que ela é não apenas sua obra mais robusta, mas também aquela que 
se dedica a investigar o modo de produção capitalista e suas correspondentes relações de produção 
e circulação. Retomaremos posteriormente essa questão da mudança de objeto, método e teoria 
empreendida por Marx em O Capital, que ficará mais clara apenas depois de iniciado nosso percurso. 
Afinal, como nos lembra Marx (2013, p. 77): “todo começo é difícil, e isso vale para toda ciência”.
1.2 A evolução da problemática da Economia Política
Já na primeira página de O Capital, nós nos deparamos com nomes como Nicholas Barbon e John 
Locke. O próprio Marx reconhece (no prefácio da primeira edição de O Capital) que “a compreensão 
do primeiro capítulo, em especial da parte que contém a análise da mercadoria, apresentará a 
dificuldade maior”. Ora, “na análise das formas econômicas não podemos nos servir de microscópio 
nem de reagentes químicos. A força da abstração [Abstraktionskraft] deve substituir-se a ambos” 
(MARX, 2013, p. 78).
Um estudo impaciente da obra O Capital poderia concluir que isso não passa de sutilezas, mas, 
novamente seguindo a apresentação de Marx, essas sutilezas são semelhantes àquelas que analogamente 
interessam à anatomia micrológica quando estudamos Biologia.
Desse modo, o resgate e o posicionamento da problemática da Economia Política (anterior a Marx) 
não devem ser vistos como um capricho ou apenas a demonstração de domínio da literatura existente; 
sua causa é muito mais séria e profunda.
1.2.1 O problema da Teoria do Valor no mercantilismo
Ainda dentro da literatura mercantilista inglesa (em meados do século XVII), a necessidade de se 
justificar algumas medidas práticas como as proibições à exportação de moedas exigiu uma crescente 
preocupação com a teoria (RUBIN, 2014).
Nesse período sequer havia isso que chamamos de Ciência Econômica; e muito menos 
uma sistematização teórica que fosse reconhecida como Economia Política; mesmo assim, já com uma 
forma moderna, surgiu o problema do valor.
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Unidade I
Figura 1 – Pátio da antiga Bolsa de Amsterdã, que reunia os mais importantes mercadores da Europa
A figura representa a importância de Amsterdã como um dos centros do capitalismo comercial. As 
práticas mercantilistas predominaram na Europa entre os séculos XV e XVIII.
O momento histórico, em que o problema do valor é exatamente aquele da formação dos Estados 
nacionais e de expansão e generalização de relações mercantis, colocava a questão da gestão da 
Política Econômica na ordem do dia daqueles interessados por assuntos econômicos (TEIXEIRA, 2000). 
Essas questões atraíam desde pensadores de Filosofia Política até aqueles voltados para problemas 
eminentemente práticos (gestão das moedas nacionais, formas de tributação, práticas comerciais, 
processo de formação dos preços nos mercados etc.).
Mas, afinal, que problema é esse?
Ora, durante o período das oficinas medievais (guildas e corporações de ofício baseadas ainda em 
vínculos sociais feudais), os preços dos bens eram determinados e regulados pelas guildas de artesãos e 
comerciantes, bem como pelas autoridades municipais. Esses preços eram fixados com vistas a garantir 
um “retorno digno”1 pelo trabalho empreendido.
É com o desenvolvimento da economia capitalistaque a questão da formação dos preços passa a ser 
tratada como um problema prático2 (e teórico). Aquela regulação feudal estava sendo substituída pela 
1 Já nos escritos canônicos do século XIII – por exemplo, em São Tomás de Aquino –, encontramos a afirmação de 
que o preço de um produto depende da quantidade de trabalho e dos gastos em sua produção. Contudo, o que esses 
textos apontavam não era para um preço estabelecido pela concorrência em mercados, mas sim o chamado preço justo, 
que deveria ser estabelecido pelas autoridades medievais para manter as condições de vida dos artesãos. Ou seja, trata-se 
de um terreno econômico de produção artesanal, e não de produção capitalista moderna.
2 Observando a “trajetória profissional” de alguns dos precursores da Economia Política, eles não poderiam ser 
considerados “economistas profissionais”; os problemas econômicos costumam ser examinados muito mais por meio da 
apropriação de métodos e perspectivas de outras ciências do que de reflexões específicas de uma nova ciência. Como 
afirma Aloísio Teixeira (2000, p. 94): “Basta lembrar que Wiliam Petty e Quesnay eram médicos; Say trabalhou em bancos e 
companhia de seguro, posteriormente foi jornalista e empresário têxtil, e, finalmente, professor de Economia; Ricardo foi 
um homem de negócios que fez fortuna na Bolsa; Malthus era sacerdote da Igreja Anglicana; Marx estudou Direito, em 
Bonn e Berlim, mas defendeu sua tese de doutoramento em Filosofia; David Hume vem da Filosofia Moral, bem como Adam 
Smith. O mais próximo da exceção foi Stuart Mill – filho de um economista, James Mill –, que não só teve uma educação 
acadêmica formal, mas desde cedo iniciou-se no estudo dos problemas econômicos, orientado pelo pai”.
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ECONOMIA POLÍTICA
formação dos preços em mercado, resultado de novos fenômenos como a concorrência e a relação entre 
produtores e consumidores de mercadorias.
A questão normativa [o dever ser] do “preço justo”, baseada em noções particulares de justiça e 
autoridade, agora deveria ser tratada de uma outra forma. A pergunta não é mais “Qual deve ser o 
preço? ”, mas sim “Como construir uma teoria científica capaz de responder o que regula a formação 
dos preços tal qual ela ocorre no mercado? ”.
Essa vai ser uma das perguntas que terão uma resposta sistemática e consistente teoricamente 
apenas com Adam Smith, autor que expressa precisamente o ápice das investigações naquilo que 
posteriormente a ele será chamado de Economia Política.
Não se trata aqui de considerarmos que os autores anteriores a Smith tenham sido menos capazes 
cientificamente em dar uma boa resposta. A questão é que, durante o desenvolvimento primitivo do capitalismo, 
encontrar uma regularidade para a formação dos preços não era uma tarefa fácil para ninguém, afinal a 
livre-concorrência era ainda uma realidade bastante limitada e atacada pelas corporações medievais e mesmo 
pelas regulações mercantilistas (por exemplo, os direitos de monopólio atribuídos a companhias de comércio).
Hoje em dia, pode parecer algo supérfluo continuarmos “perdendo tempo” com esse tipo de 
questão. Isso deveria ser algo para estimular apenas a curiosidade de historiadores e que não teria 
mais muita relação com a Economia propriamente dita. Afinal, sabemos hoje que o que regula os 
preços é precisamente a relação entre oferta e demanda, informação essa que é, aliás, cotidianamente 
reafirmada no jornalismo econômico.
Mas o que nos diz a chamada Lei da Oferta e da Demanda? Em termos mais simples, dado um bem 
específico, se há um volume de demanda superior à capacidade de oferta, é de se esperar que o preço 
desse bem suba; já se a relação entre oferta e demanda for inversa (mais oferta do que demanda), é de 
se esperar que o preço caia.
Bem, como aponta Rubin (2014), essa resposta, que pode parecer satisfatória e atual, não é tão 
nova assim. Apenas a título de ilustração, em 1691, o filósofo John Locke, em Considerações sobre as 
Consequências da Redução do Juro, já afirmava isso.
Em certo sentido, é possível afirmar que essa ideia, inserida nos primeiros passos da Teoria da 
Oferta e da Demanda, é basicamente uma alternativa ao insucesso de descobrir alguma regularidade 
determinada por leis econômicas objetivas para o problema da formação dos preços.
Por que é possível afirmar isso?
Quando se trata assim da chamada Lei da Oferta e da Demanda, o que temos é simplesmente aquilo 
que a Economia Política clássica chamou de valor de troca (e que exploraremos em mais detalhes no 
decorrer do curso). Esse valor de troca só pode ser tomado como algo singular, casual, já que ele só pode 
ser entendido num determinado lugar e num dado momento.
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Unidade I
Assim, a conclusão só pode ser a de que nenhuma mercadoria possui um valor ou um preço 
determinável de modo preciso, conclusão essa que, como sabemos, é uma das bases das teorias 
subjetivas do valor.
Cabe apontarmos aqui uma pergunta curiosa. Seguindo nossa discussão, os primeiros elementos da 
Teoria da Oferta e da Demanda e mesmo das teorias utilitaristas são anteriores à obra de Adam Smith, 
tendo sido já colocados por escritores considerados mercantilistas. Por que então Adam Smith, David 
Ricardo e mesmo Karl Marx não trabalharam nessa problemática?
Há mais de uma resposta para essa questão. Por ora, mencionaremos apenas uma primeira resposta 
(outras serão apresentadas mais adiante): o próprio desenvolvimento econômico capitalista, com a 
expansão da livre-concorrência e o surgimento do capitalismo industrial, apontou o aspecto insuficiente 
de se considerar a formação dos preços como algo quase acidental, ou simplesmente natural.
O capitalista industrial já não considerava seu preço de venda como o mero resultado acidental 
entre oferta e demanda. Esse industrial deveria avaliar qual o nível esperado de demanda no futuro, e 
seu preço de venda deveria, no limite, compensar seus custos de produção (o que hoje comumente 
chamamos de considerar os custos mais a margem de lucro para formar o preço).
Desse modo, podemos afirmar que o próprio desenvolvimento econômico alterou a problemática 
dos preços para além da relação entre oferta e demanda. Para precisar esses custos, se deveria calcular 
a quantidade de mercadorias produzidas pelos trabalhadores, o valor dos meios de subsistência 
dos trabalhadores, o valor das matérias-primas e dos insumos utilizados na produção e o valor dos 
instrumentos de trabalho envolvidos na atividade.
Essa é, como aponta Rubin (2014), a Teoria dos Custos de Produção de James Steuart (1712–1780), 
um dos últimos “economistas mercantilistas”. Segundo sua análise, o somatório desses elementos 
envolvidos na produção (o “valor real” da mercadoria) não poderia ser maior do que o preço de venda do 
bem. A diferença entre o preço da mercadoria e seu “valor real” (noutros termos, o mais-valor expresso 
por essa diferença) seria precisamente o lucro do manufaturador.
Resta assim apenas uma pequena questão: o que determina a magnitude desse lucro?
Ainda segundo Rubin (2014), esse foi precisamente um limite fundamental da teoria de James 
Steuart (1713–1780), pois ela foi incapaz de responder satisfatoriamente a essa questão.
Para os mercantilistas, uma nação se tornava rica quando mantinha uma balança comercial favorável, 
isto é, exportava mais do que importava. Assim, seria possível acumular metais preciosos a partir da 
comercialização de produtos.
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ECONOMIA POLÍTICA
Exportações
Importações
Figura 2 
 Saiba mais
James Steuarté o autor de An Inquiry into the Principles of Political 
Economy, Being an Essay on the Science of Domestic Policy in Free Nations 
(1767), tido por muitos como provavelmente o primeiro tratado sistemático 
escrito em inglês sobre economia e o primeiro livro em inglês com o termo 
Economia Política no título.
STEUART, J. An inquiry into the principles of Political Economy, being an 
essay on the science of domestic policy in free nations. Londres: Millar and 
Cadell, 1767.
Com o já mencionado desenvolvimento econômico capitalista, esse ponto, que pode ficar em aberto 
durante o período mercantilista, se estabeleceu como algo central na problemática estabelecida pela 
Economia Política clássica (especialmente Adam Smith e David Ricardo), tendo importantes repercussões 
e centralidade no arcabouço teórico de Marx.
1.2.2 Adam Smith e a problemática da Economia Política clássica
É importante lembrarmos que, diferentemente de alguns escritores mercantilistas, Smith não poderia 
ser considerado um “homem prático” (entendido como um debatedor de questões práticas cotidianas), 
tendo se voltado desde a juventude ao estudo de Filosofia.
Aos 28 anos, ele se estabeleceu como professor na Universidade de Glasgow, ministrando ali um 
admirável curso de Filosofia Moral que não se limitava somente à ética, indo desde Teologia e Direito 
Natural ao que hoje podemos chamar de Política Econômica.
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Unidade I
 Lembrete
Na época de Smith, a Universidade de Glasgow não tinha um curso 
específico de Economia Política, afinal ela não era considerada uma ciência 
independente. Será após Smith que isso mudará. 
Novamente, é interessante destacar que a menção à trajetória de Smith não é simples ilustração. 
Ela aponta para um ponto importante: a Teoria Econômica de Smith é profundamente vinculada a sua 
doutrina do direito natural.3 
Podemos estabelecer, de modo simplificado, o problema central da Filosofia Política de sua época da 
seguinte maneira: como compreender a vida social sem necessariamente recorrermos a pressupostos 
metafísicos (por exemplo, os seres humanos são naturalmente bons ou os seres humanos são 
naturalmente egoístas)?
A resposta dada na Idade Média era a de que a coesão social é mantida por dois princípios 
fundamentais, a autoridade e a fé, sendo ambos sustentados pela suposição da existência de Deus.
Com o desenvolvimento de um pensamento social moderno, o problema tornou-se o seguinte: 
Como é possível a vida em sociedade se esses dois princípios e a sua justificação metafísica são 
deixados de lado?
As primeiras tentativas modernas consagradas de resposta afirmavam que, sendo os seres humanos 
naturalmente egoístas, é impossível a existência de vida social sem um Estado absoluto.
A autoridade desse Estado, por sua vez, não está fundamentada na fé ou na obediência religiosa, 
mas se baseia no monopólio do poder (que não necessita de legitimação). Os cidadãos, por sua vez, 
conscientes de um “contrato social” e motivados pelo instinto de sobrevivência e desejo de segurança, 
não podem fazer outra coisa senão obedecer.
Assim, é o poder que dá fundamento ao Estado, e é esse Estado que torna possível a vida social harmoniosa.
Contudo, com as chamadas revoluções burguesas do século XVII (a Revolução Gloriosa, de 1688, 
e a Declaração dos Direitos do Homem, de 1689), temos um novo questionamento: se é verdade que 
“dinheiro é poder”, as classes sociais emergentes (criadas pelo desenvolvimento capitalista) têm direitos 
(que não são reconhecidos pelos Estados absolutistas).
3 Conjunto de teorias que apontam haver uma “ordem natural” que pressupõe a livre expressão da atividade 
humana. Nessa linha, a “ordem positiva”, baseada em leis e convenções estatais, só será legítima se não estiver em conflito 
com a “ordem natural”.
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ECONOMIA POLÍTICA
Ora, é necessária então uma nova Filosofia Política capaz de justificar a sociedade civil de um modo 
independente do Estado.
A grande genialidade de Smith vai se assentar exatamente no modo pelo qual ele responde a esses 
questionamentos abertos pela Filosofia Política.
Continuemos pacientemente um pouco mais nessa trilha; em breve ela nos oferecerá respostas 
bastante interessantes.
Primeiro, vamos sintetizar as questões colocadas anteriormente numa só, tomando a Filosofia 
Política de Thomas Hobbes (aquele da famosa afirmação de que “o homem é o lobo do homem”):
Se o Leviatã assumiu o egoísmo natural dos indivíduos para justificar o Estado, agora se torna 
necessário demonstrar como uma vida social livre é possível, mesmo na presença de indivíduos egoístas.
 Observação
Como uma esfera de destaque do egoísmo é a atividade econômica, 
veremos que a resposta passará pela mudança de foco da política para a 
economia, com uma “Economia Política”. 
Como apontam Screpanti e Zamagni (2005), uma resposta é aquela articulada em torno das 
filosofias do direito natural, mas que traz consigo um outro problema: como o direito natural, balizado 
por uma certa base “igualitarista”, é capaz de justificar a desigualdade na distribuição da propriedade e 
da riqueza?
Outra resposta, alternativa, é pressupormos não o egoísmo, mas sim a existência de uma “benevolência 
natural” (ou “sentimento moral“) que os seres humanos experimentam entre si. Nessa linha, não 
sendo naturalmente egoístas, as pessoas tendem espontaneamente a associar-se (sem necessidade de 
intervenção externa que dê sentido à vida social). O infortúnio dessa resposta é que ela simplesmente 
assume uma estrutura diferente de comportamento humano, ou seja, ainda carrega uma suposição 
metafísica arbitrária, e, para piorar, contrária ao senso comum.
O percurso teórico de Smith se dá inicialmente na trilha dos sentimentos morais; contudo, em 
Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações (1776), temos um retorno à 
problemática estabelecida pelo naturalismo egoísta.
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Unidade I
Figura 3 
Ora, mas se na obra A Riqueza das Nações Smith volta a transitar no terreno do egoísmo natural, 
quais são afinal sua tão citada genialidade e seu brilhantismo?
Sua principal contribuição, que o tornaria tanto um dos pais fundadores da Ciência Econômica 
como do liberalismo moderno, foi inovar dentro dessa tradição do Direito Natural.
A superação está em aceitar a existência de um “princípio de altruísmo” como dominante em todas 
as esferas do comportamento humano, exceto uma em particular, na qual impera o egoísmo, sendo essa 
justamente a que se relaciona com a obtenção de riquezas materiais (TEIXEIRA, 2000).
O procedimento “genial” de Smith é seguir nessa trilha até as suas últimas consequências lógicas, 
o que significa excluir inclusive a hipótese arbitrária de benevolência. Sua proposta se baseará em 
demonstrar única e simplesmente que os indivíduos servem ao interesse coletivo, precisamente, 
por serem guiados por interesses próprios (SCREPANTI; ZAMAGNI, 2005).
Aliás, é basicamente assim que devemos entender o chamado teorema da mão invisível de Smith. 
Isso porque, como destaca Rubin (2014), para o autor, o progresso econômico abre um caminho para si 
mesmo, independentemente da estrutura jurídica ou do regime político. Escreve Smith:
[...] no organismo político, o esforço natural que cada pessoa faz 
continuamente para melhorar sua própria condição representa um princípio 
de preservação suscetível de evitar e corrigir, sob muitos aspectos, os maus 
efeitos, até certo ponto, de uma Economia Política parcial e opressiva. Tal 
Economia Política,ainda que indubitavelmente retarde, em grau maior ou 
menor, o impulso natural de uma nação rumo à riqueza e à prosperidade, 
nem sempre é capaz de sustentá-lo inteiramente, e muito menos de fazê-lo 
retroceder. Se uma nação não pudesse prosperar a não ser desfrutando de 
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liberdade e justiça completas, jamais haveria no mundo uma única nação 
que conseguisse ter prosperado (SMITH, 1985, livro 2, p. 159).
Essa passagem é ilustrativa desse fundamental procedimento teórico que significa separar o estudo 
da Economia Política do estudo do direito natural. Como aponta Smith, as forças econômicas baseadas no 
egoísmo e no princípio da preservação são superiores e dispensam o exame do ambiente político no qual 
se dá “o esforço natural de cada pessoa” (SMITH, 1985, livro 2, p. 159). Podemos dizer que é através da 
radicalização dos pressupostos do direito natural, a ponto de torná-lo dispensável, que Smith apresenta uma 
das mais importantes realizações da Economia Política clássica: converter-se em uma ciência autônoma.
A necessidade do Estado é simplesmente garantir que quando cada indivíduo buscar realizar seus 
interesses, isso não impeça os demais de buscarem realizar os deles. Contudo, os resultados alcançados 
por Smith não serão sem custos, algo que será apontado posteriormente por Marx ao executar sua 
crítica da Economia Política.
Ao mesmo tempo que a proposição básica do autor escocês assinala uma concepção sociológica 
que vê nos fenômenos socioeconômicos o resultado das ações individuais ditadas pelo autointeresse, 
portanto, dotados de um aspecto “natural” (as leis econômicas apresentam uma regularidade “natural”, 
lembre-se, independentemente do corpo político), faz de Smith um dos fundadores dos economistas 
teóricos (RUBIN, 2014), e um dos mais importantes porta-vozes do liberalismo econômico. Isso porque 
essa “naturalidade” tem também um sentido prático: quando os fenômenos econômicos se dão 
“naturalmente”, leia-se sem a interferência do Estado, eles trazem o máximo de benefício para todos os 
indivíduos e, portanto, para toda a sociedade.
Essa é uma das razões pelas quais Marx utilizará, às vezes de modo intercambiável, os termos Economia 
Política clássica e Economia Política burguesa, apontado para o fato de que é impossível separar completamente 
o teórico do ideológico (porta-voz do interesse de um grupo ou uma classe social particular).
Isso ficará mais claro ainda se resgatarmos um pouco da Teoria da Distribuição da Riqueza Econômica, 
de Smith.
Antes de apresentar sinteticamente alguns elementos da Teoria da Distribuição de Smith, avalie o 
seguinte: “O governo civil, na medida em que é instituído para garantir a propriedade, de fato o é para a 
defesa dos ricos contra os pobres, ou daqueles que têm alguma propriedade contra os que não possuem 
propriedade alguma” (SMITH, 1985, livro 2, p. 192). Essa frase, que num outro contexto muitos poderiam 
presumir ser de Marx, é na realidade uma passagem de A Riqueza das Nações. Ela pode ser examinada 
no quadro da Teoria Sociológica existente no texto de Smith.
Como apontam Hunt e Lautzenheiser (2013), o tipo de relação de propriedade existente num 
dado território pode ser considerado a chave para se determinar e compreender a forma de governo. 
Além disso, segundo esses autores, há em Smith uma análise própria das circunstâncias particulares 
de subordinação social (tanto institucionalizada quanto coercitiva). Colocando esse tópico de maneira 
clara, em Smith (bem como em Ricardo), a Teoria da Distribuição parte da descrição da sociedade 
dividida em classes sociais.
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Temos assim já um ponto relevante de desmistificação e tentativa de superação de algumas 
incompreensões e resistências a argumentos de Marx. A existência de classes sociais, bem como o 
reconhecimento de conflitos entre elas, não é produto exclusivo do pensamento de Marx. A propósito, 
o próprio Marx reconhece não ter sido ele o primeiro a identificar tais fenômenos.
De fato, a inventividade analítica dessa divisão social em classes se tornaria um ponto pacífico 
para todas as obras relevantes da Economia Política clássica. Dessa forma, é inevitável reconhecer 
que a genialidade de Smith não se resume no modo pelo qual ele “resolve” o problema da Filosofia 
Política de sua época; ela é mais ampla e, nesse mesmo sentido, mais intricada. Ao mesmo tempo que 
será considerado um dos arautos do liberalismo econômico, o mesmo Smith apresenta uma Teoria da 
Distribuição que reconhece classes sociais e lutas de classes.
Como é possível essa curiosa conciliação entre liberalismo e análise de classes? A resposta apontada 
por Marx, e sustentada por muitos historiadores do pensamento econômico, está no momento histórico 
da obra de Smith.
Segundo Isaac Rubin (2014):
As visões otimistas de Smith – que, com todas as reservas que ele pôs sobre 
elas, fizeram dele o fundador do liberalismo econômico – só podiam 
aparecer numa época em que a burguesia industrial ainda desempenhava 
um papel progressivo e seu interesse coincidia com as necessidades do 
desenvolvimento econômico global da sociedade. O objetivo de Smith 
nunca foi de defender os interesses estreitos de mercadores e industriais, 
aos quais ele não nutria qualquer simpatia particular (RUBIN, 2014, p. 220, 
grifos do autor).
Mas, afinal, como Smith operacionaliza seu raciocínio de modo a ser levado a concluir que os 
interesses da burguesia coincidem com os interesses gerais da sociedade? Vejamos:
• A Teoria da Distribuição da Renda considera as “classes sociais básicas” (capitalistas, trabalhadores 
e proprietários de terra). Os critérios de diferenciação dessas classes são dados pelos recursos 
produtivos que possuem (capital, trabalho e terra) e pelo tipo de rendimento que auferem (lucros, 
salários e aluguéis).
• Dada a relação entre recursos produtivos possuídos pelas classes e as formas de gasto de seus 
rendimentos, temos que:
— Proprietários de terras:
– não possuem capital produtivo;
– não se interessam por crescimento;
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– não têm estímulos para poupar e acumular capital, logo eles têm uma “propensão a poupar” 
igual a zero.
– Conclusão parcial: não contribuem para o crescimento da riqueza da nação.
— Trabalhadores:
– só possuem o seu trabalho;
– “caracterização sociopolítica”: a coalização dos capitalistas e sua influência no governo e no 
parlamento, além da competição no mercado de trabalho, tendem a empurrar os salários 
reais a níveis de subsistência.
– Assim, a “propensão a poupar” também é zero.
— Conclusão parcial: contribuem para a produção, mas não para o crescimento da riqueza de 
uma nação.
— Capitalistas:
– possuem capital produtivo e buscam sua ampliação. Logo, têm uma alta “propensão a poupar”.
– Conclusão parcial: mais lucros significam maior crescimento da riqueza da nação.
A conclusão geral desse raciocínio é que o interesse geral da nação coincide com o da classe 
capitalista (burguesa). Afinal, essa é a única classe que, além de contribuir para a produção de riqueza, 
tem capacidade de fazer a riqueza da nação se expandir.
Junto a essa dimensão socioeconômica colocada por Smith, que parte de uma caracterização das 
classes e seus papéis, há ainda aquilo que Hunt e Lautzenheiser (2013) denominam de Teoria da História 
de Smith.
Percorrendo com atenção a discussão colocada pela Riqueza das Nações, é possível concluir que a 
maneira pela qual os seres humanos produzem e distribuem as necessidadesmateriais é para Smith o 
mais importante determinante das instituições sociais de qualquer sociedade (o que engloba as relações 
interpessoais e de classe). Mais uma vez, cabe apontar que ela está nas críticas mais recorrentes não a 
Smith, mas, curiosamente, a Marx.
Para algumas opiniões “razoáveis” e “sensatas”, ainda que se possa afirmar que Marx seja um autor 
relevante para o pensamento econômico, ele seria datado e superado, dentre outras coisas, pelo seu 
determinismo e economicismo. A crítica é que em Marx tudo acaba sendo subordinado a esse “negócio 
chamado capital”, não reconhecendo outras esferas tão ou mais importantes da vida social.
Por ora, nesta etapa de nosso livro-texto, cabe desmistificar um pouco esse ponto.
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Cabe considerar que o modo pelo qual os seres humanos estabelecem relações para produzirem e 
reproduzirem a riqueza social é determinante para se entender a sociedade; é completamente diferente de 
afirmar que esse “modo de produzir”, em sua dimensão meramente econômica, esgota a análise da vida social.
Na verdade, muito da confusão em torno dessa questão da relação entre Economia e sociedade 
está ligada a incompreensões em torno da Teoria do Valor, aquele problema que persegue o estudo do 
âmbito econômico desde pelo menos os escritos mercantilistas (para fazer um corte desse ponto apenas 
no seu aspecto mais “moderno”).
É importante passarmos por esse terreno, muito mais árido e argucioso, do problema do valor, já que, 
em O Capital propriamente dito, assunto que abordaremos mais adiante, a dificuldade mais evidente de 
compreensão é ser o seu início uma discussão exaustiva da Teoria do Valor.
Longe de ser algo trivial, ou mesmo supérfluo para o estudo contemporâneo de Ciência Econômica, 
os problemas vinculados a teorias do valor estão na base de desafios teóricos e práticos mais avançados, 
como economia monetária e financeira.
Nesse ponto, é possível indagar o seguinte: que questão é essa que perpassa pela Teoria do Valor, e 
por que a insistência nesse ponto?
A compreensão usual é que uma Teoria do Valor deve servir basicamente para permitir a explicação 
dos preços de mercado das mercadorias, ou seja, explicar as proporções pelas quais as mercadorias se 
trocam no mercado.
Não é assim que, por exemplo, nós iniciamos a discussão em microeconomia? Depois de se discutir 
um pouco sobre mercado, para entrar no tema da escola do consumidor, coloca-se a questão das 
preferências e da utilidade (uma teoria subjetiva do valor).
Contudo, mais uma vez, no caso de Smith, isso não é tão simples assim. Como lembra Carcanholo 
(2012), o próprio título de sua mais importante obra (Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas 
da Riqueza das Nações) já aponta para o fato de que produzir uma Teoria do Valor capaz de explicar os 
preços de mercado não era, necessariamente, o objetivo central de seu trabalho.
Atentando-nos ao título de sua obra, é possível afirmar que, dentre seus objetivos, a Teoria do Valor 
aparece para subsidiar a compreensão e a análise da natureza da riqueza (na época capitalista).
Desse modo, a problemática mercantilista (a relação direta de troca entre mercadorias), que será 
colocada novamente na realidade por David Ricardo, é atribuída equivocadamente também a Smith 
como questão central.
Esse tipo de leitura, que acaba sendo autoritária – já que exige do autor respostas para aquilo que 
não coloca como questão –, atribui à Teoria do Valor a obrigatoriedade de ser imediatamente uma 
explicação para os preços de mercado das mercadorias.
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ECONOMIA POLÍTICA
Tanto no caso de Smith como no de Marx (que veremos adiante), para se entender a relação entre 
valores e preços é indispensável compreender antes a natureza da riqueza.
De acordo com a resposta sobre o caráter da riqueza, particularmente na época capitalista, é possível 
distinguir que valor e preço não são sinônimos, mas sim referem-se a fenômenos de níveis diferentes.
O que é importante reter nesse momento é que, a despeito de leituras “ricardianas” ou “neoclássicas” 
de Smith e também de Marx, para se apreender as relações de troca é preciso responder antes a algumas 
questões sobre riqueza: i) Qual é a forma social específica e o propósito da riqueza?; ii) Qual a magnitude 
da riqueza e como ela é distribuída?
Dessas duas questões surge uma terceira: qual é a medida específica da riqueza? Smith desenvolve sua 
resposta nos primeiros capítulos de A Riqueza das Nações problematizando a questão em termos “históricos”.
Nos três primeiros capítulos de sua obra (mais gerais), a riqueza (seja ela social ou individual) é concebida 
como um conjunto maior ou menor de bens materiais úteis que são produto do trabalho humano, ou seja, 
um conjunto heterogêneo de bens, cujo crescimento é explicado pela divisão do trabalho.
No quinto capítulo, todavia, a riqueza recebe uma outra distinção. Riqueza (social ou individual) é 
concebida como a capacidade de comandar, ou controlar, trabalho humano alheio (CARCANHOLO, 
2012), ou seja, a forma social específica da riqueza, particularmente na época capitalista, é de uma 
relação social de domínio sobre seres humanos.
Esse é na realidade um dos pontos de partida de Marx em O Capital e será indispensável para a 
superação das dificuldades encontradas pela Teoria Clássica do Valor-Trabalho.
Podemos nos perguntar aqui o seguinte: apresentar duas concepções sobre a natureza da riqueza 
não seria algo incoerente?4
A resposta é negativa por dois motivos. O primeiro é que devemos reconhecer que o terreno da 
discussão nesses capítulos é histórico, ele diferencia o pré-capitalismo da época moderna. O segundo 
motivo é que tal diferenciação acaba estabelecendo uma dupla determinação para a riqueza – de um 
lado há o conteúdo material da riqueza (bens úteis, produtos do trabalho) e, de outro, há a forma 
social específica da riqueza (que é fruto da expansão das relações mercantis e da transformação da 
sociedade em um corpo social subordinado ao mercado).
O problema de fato que existe em Smith é o de que o próprio autor não aceitará essa dupla 
determinação da riqueza descoberta por ele, buscando assim representá-la ora de uma forma, ora de 
outra (CARCANHOLO, 2012).
4 Essa indagação é, aliás, feita por David Ricardo, que aponta haver em Smith uma confusão na sua Teoria do Valor 
entre trabalho contido e trabalho comandado.
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Unidade I
Localizar e apreender essa problemática da Economia Política clássica inglesa é indispensável para o 
entendimento mais preciso dos procedimentos desenvolvidos por Marx em O Capital.
Para destacar essa posição, tomemos o começo do capítulo 5 do livro I de A Riqueza das Nações. 
Afirma Smith:
O preço real de cada coisa — ou seja, o que ela custa à pessoa que deseja 
adquiri-la — é o trabalho e o incômodo que custa a sua aquisição. O valor 
real de cada coisa, para a pessoa que a adquiriu e deseja vendê-la ou trocá-la 
por qualquer outra coisa, é o trabalho e o incômodo que a pessoa 
pode poupar a si mesma e pode impor a outros. O que é comprado 
com dinheiro ou com bens, é adquirido pelo trabalho, tanto quanto 
aquilo que adquirimos com o nosso próprio trabalho. Aquele dinheiro ou 
aqueles bens na realidade nos poupam este trabalho. Eles contêm o valor 
de uma certa quantidade de trabalho que permutamos por aquilo que, na 
ocasião, supomos conter o valor de uma quantidade igual. O trabalho 
foi o primeiro preço, o dinheiro de compra original que foi pago por 
todas as coisas. Não foi por ouroou por prata, mas pelo trabalho, 
que foi originalmente comprada toda a riqueza do mundo; e o valor 
dessa riqueza, para aqueles que a possuem, e desejam trocá-la por novos 
produtos, é exatamente igual à quantidade de trabalho que essa riqueza 
lhes dá condições de comprar ou comandar (SMITH, 1996, livro 1, p. 87-88, 
grifos nossos).
Como apontam Screpanti e Zamagni (2005), há pelo menos duas maneiras de “interpretar” a teoria 
smithana do valor (que são, de fato, produto de correntes diferentes de pensamento econômico).
Aquela que será apropriada pela Economia Política clássica e problematizada por Marx coloca a 
ênfase do argumento na produção dos valores das mercadorias (na quantidade de trabalho). Trabalho 
é assim assimilado como um investimento de energia, no limite, um serviço produtivo que pode ser 
especificado e medido.
Nessa linha de interpretação, as relações de produção são fenômenos objetivos, assim como são 
objetivas as relações de troca. Isso significa que o papel produtivo do trabalho e o valor são independentes 
das escolhas dos indivíduos e de fatores psicológicos.
Dentre as implicações dessa perspectiva, a Teoria da Distribuição deve se basear em noções de salário 
(salário natural, valor da força de trabalho etc.), e o excedente econômico (lucro) é visto como uma 
dedução do produto do trabalho, ele não necessita de fundamentações microeconômicas.
Assim, a Teoria do Valor baseada no trabalho (seja ele incorporado, seja sua capacidade de 
comando de outros trabalhos) não pode deixar de ser uma teoria objetiva do valor e não requer 
fundamentos psicológicos.
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ECONOMIA POLÍTICA
Uma outra interpretação, que se difundirá após Marx (veremos brevemente um dos porquês na 
próxima unidade), é aquela aceita por praticamente todos os economistas de origem “neoclássica”.
Nessa outra linha, o destaque da citação de Smith é dado à dificuldade do trabalho (“o incômodo que 
a pessoa pode poupar a si mesma e pode impor a outros”). Trabalho é assim entendido como qualquer 
esforço doloroso da mente ou do corpo com vista a uma condição futura melhor do agente econômico.
A implicação dessa outra linha interpretativa é a de que o trabalho é vinculado a uma utilidade 
negativa, sendo sua medida dada em dor, portanto impossível de ter uma definição objetiva. Afinal, 
cada indivíduo tem sua própria ideia de como o seu próprio trabalho é “doloroso”.
A Teoria do Valor, vista como uma teoria subsidiária à teorização sobre preços, necessita fundamentos 
microeconômicos, pois ela centra sua análise nas escolhas individuais. Isso significa que tanto a Teoria 
da Distribuição da Riqueza como a Teoria do Valor são subjetivas (SCREPANTI; ZAMAGNI, 2005).
Assim como Ricardo o fará, Marx não considerará como cientificamente válida a teorização subjetiva 
do valor – o que, apesar das possíveis críticas indevidas de Ricardo a Smith, pode ser considerado mais 
consoante com o sistema econômico do autor escocês.
Seguindo as considerações de Carcanholo (2012), em Smith, a riqueza expressa uma relação social 
de domínio sobre trabalho alheio (dá a ideia de trabalho comandado). O trabalho, por sua vez, deve ser 
compreendido como o fundamento da riqueza. Sendo ele o fundamento da riqueza, a quantidade de 
trabalho é a grandeza da riqueza (sua magnitude).
Essas considerações, portanto, nos permitem avaliar que a posse de uma mercadoria representa 
uma determinada riqueza, e a quantidade dessa riqueza é medida pela capacidade de comandar 
trabalho alheio.
Tais elementos, ainda que insuficientes para termos uma visão ampliada do pensamento de Smith, o 
que também não é nosso objetivo aqui, contribuem para avaliarmos alguns elementos:
• Existem classes sociais e elas são indispensáveis para se analisar e compreender a sociedade 
capitalista (“moderna”).
• A Ciência Econômica é uma ciência autônoma e tem como objeto de estudo o modo pelo qual os 
seres humanos se organizam para produzir, circular e distribuir a riqueza socialmente criada.
• O valor é um fenômeno objetivo, e a Teoria do Valor-Trabalho é porta de entrada para o 
esclarecimento dos demais pontos colocados à Ciência Econômica.
• A mercadoria, expressão de uma forma social particular de produção de riqueza, possui um duplo 
caráter (conteúdo material e forma social), assim como a riqueza possui – sendo essa uma das 
mais importantes descobertas da Economia Política clássica.
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Unidade I
Ora, mas se de Smith podemos extrair todas essas considerações, o que haveria de novo nos 
economistas clássicos a ele subsequentes?
Apesar de termos em Smith o ápice da sistematização científica para um conjunto de questões 
colocadas pela economia pré-clássica, há nele algumas contradições e incongruências (as primeiras 
delas tendo sido difundidas e reconhecidas amplamente com a obra de David Ricardo).
Apoiado no próprio Marx, Francisco Teixeira (1995) enfatiza que em Smith parece haver uma 
contradição entre o fundamento/aspecto essencial dos fenômenos e a expressão positiva desses 
fenômenos existentes na produção capitalista, o que faz seu pensamento se mover sobre uma série de 
inconsistências (e mesmo incoerências).
Em alguns momentos, Smith sustenta a dimensão essencial do problema, renunciando à devida 
compreensão da forma pela qual os fenômenos aparecem na realidade; noutros momentos, ele faz o 
movimento inverso.
Contudo, mesmo aí há uma demonstração da genialidade de Smith, como destacam Carcanholo 
(2012) e Francisco Teixeira (1995). O nosso autor escocês acaba descobrindo algo que será exaustivamente 
enfatizado por Marx: o fato de que a realidade capitalista é contraditória. Nos termos colocados pelo 
próprio Marx:
Smith move-se com grande ingenuidade em contradição contínua. Ora 
investiga as conexões causais das categorias econômicas ou a estrutura 
oculta do sistema econômico burguês. Ora junta a essa pesquisa as conexões 
tais como se exteriorizam na aparência dos fenômenos da concorrência, se 
manifestam, portanto, ao observador não científico e, do mesmo modo, ao 
que na prática está preso e interessado no processo da produção burguesa 
(MARX, 1980, p. 597-598).
A quais contradições mais precisamente refere-se Marx?
Sabemos que um dos objetos centrais de estudo por Smith é o valor de troca e que há uma diferença 
de cunho histórico entre os primeiros capítulos de A Riqueza das Nações e do quinto capítulo em diante.
Nos primeiros capítulos, Smith estabelece sua Teoria do Valor com base num estágio primitivo da 
sociedade, o que para o autor significa, dentre outras coisas, a inexistência de propriedade privada. Nesse 
grau de desenvolvimento social, todo o produto do trabalho é de propriedade dos próprios trabalhadores, e, 
assim, a quantidade de trabalho incorporado nesses produtos é o único elemento que regula as relações de 
troca entre as mercadorias (a possibilidade de comandar o trabalho alheio mediante o próprio trabalho).5
5 A linha de raciocínio da possibilidade de comandar trabalho é relativamente simples e bastante interessante. 
Numa relação de troca entre os sujeitos A e B, tem-se um aspecto social importante: quando A troca sua mercadoria com 
a mercadoria de B, ele foi capaz de comandar o trabalho executado por B, que criou uma mercadoria diferente daquela 
produzida por A e que por ele agora é apropriada.
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ECONOMIA POLÍTICA
Ora, seguindo os preceitos do direito natural, o valor produzido pelo trabalhador lhe pertence 
integralmente e, como a relação de troca se dá entre equivalentes, a remuneraçãodo trabalhador é igual 
ao valor do produto (salário e valor são de magnitudes idênticas). Contudo, com o desenvolvimento 
social para uma forma capitalista de produção de riqueza, é possível e esperado que o trabalho contido 
nas mercadorias seja capaz de comandar quantidades de trabalho alheio superiores.
Como indica Rubin (2014), Smith herda dos mercantilistas o problema de encontrar uma medida 
para o valor. Ou seja, a tarefa da Teoria do Valor é encontrar a medida do valor. Além disso, o próprio 
raciocínio individualista de Smith lhe coloca como questão prática a ser respondida aquilo que diz 
respeito imediatamente ao indivíduo: “Qual a importância que uma mercadoria tem para mim?”, isto é, 
“Qual é a medida do valor de troca?”.
A resposta apontada é que a medida do valor de uma mercadoria é a quantidade de trabalho que 
pode ser adquirida e comprada em troca dessa mercadoria.
Seguindo Rubin (2014, p. 238), quando dizemos que numa sociedade de simples produtores de 
mercadorias todos os seus membros trocam o seu próprio trabalho, usamos o termo troca em dois 
sentidos diferentes. Nesse estágio “primitivo” (sem propriedade privada), os produtos do trabalho 
(mercadorias) são efetivamente trocados no mercado, contudo a atividade laboral dos indivíduos (o 
“trabalho”) não é comprada ou vendida, ela é apenas equiparada.
Desse modo, afirmar que há uma troca de trabalho significa apenas que eles são socialmente 
iguais, mas não significa que eles são igualados no mercado.
Esse é um ponto fundamental para a compreensão dos primeiros capítulos de O Capital de Marx: não 
existe troca entre trabalhos, mas tão somente entre produtos do trabalho. É apenas assumindo isso que 
podemos chegar à diferenciação entre trabalho e força de trabalho.
Cabe apontar ainda que esse ponto persegue não apenas a Ciência Econômica em seus primórdios, 
mas praticamente todo o pensamento econômico contemporâneo que não diferencia capitalismo de 
uma economia de produtores livres e iguais. Isso fica claro no próprio Smith, quando ele passa ao 
estágio capitalista de desenvolvimento social.
Se com a introdução da propriedade privada capitalista e da acumulação de capital há de se remunerar 
o empresário (garantir seu lucro na distribuição dos rendimentos), o trabalhador deve receber menos 
que a quantidade de trabalho comandável pelas mercadorias criadas. Colocando a questão noutros 
termos, o trabalhador deve trabalhar por um tempo superior ao tempo necessário para pagar o seu 
salário e, assim, garantir o lucro do capitalista.
Detalhe: essa conclusão é do próprio Smith, e não de Marx.6
6 Ainda que a conclusão de Marx possa parecer semelhante, ela é sensivelmente mais sofisticada, como 
veremos adiante.
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Unidade I
Resgatando a citação anterior de Marx, ingenuamente, Smith chega a um limite conclusivo: a 
necessidade de se diferenciar o trabalho como função social e o trabalho como mercadoria, conclusão 
essa que ele é incapaz de extrair, mas que já se encontra em sua própria obra, algo que não passará 
despercebido por Marx.
Se o trabalho atua na sociedade capitalista como objeto passível de compra e venda, como pode ele 
mesmo servir como medida de valor?
Caso Smith sustente que as mercadorias são trocadas de acordo com o tempo de trabalho nelas 
contido, ele deve ser obrigado a reconhecer que a troca entre capital e trabalho é uma troca de não 
equivalentes – posto que o trabalhador recebe uma quantidade de trabalho menor que aquela que ele 
entrega ao capitalista. Já no caso de Smith abandonar o tempo de trabalho como base da relação de 
equivalência entre mercadorias, é impossível explicar, seguindo seu próprio sistema teórico, o lucro a 
partir do trabalho (TEIXEIRA, 1995).
Mas, afinal, é esse um limite de toda a Teoria do Valor-Trabalho? Muitos economistas e historiadores 
do pensamento econômico afirmarão que sim (em Ricardo, a situação apenas se complicará). E Marx, 
não sabia disso quando formulou sua Teoria do Valor? Como pôde ele insistir em uma teoria incoerente 
já em sua época?
Sem dúvida Marx sabia desses problemas. Apenas adiantando um ponto, a saída de Marx será alterar 
a pergunta, que deixará de ser sobre o valor de troca, e alterar a problemática, que não será mais a de 
uma Teoria do Valor voltada para a medida dos valores, além de fazer modificações mais profundas, 
como de método e de objeto de análise.
1.2.3 David Ricardo e a estruturação da Teoria do Valor-Trabalho
É razoavelmente aceito que a Teoria do Valor de David Ricardo, em seus aspectos mais precisos, não 
é de fácil apropriação, vide as diferentes versões que o autor apresentou para o primeiro capítulo de 
Princípios de Economia Política e Tributação (1817, com reedições em 1819 e 1821), como destaca, por 
exemplo, Carcanholo (2012).
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Figura 4 – Primeira edição dos Princípios de Economia Política e Tributação, de Ricardo
É também reconhecido que a motivação inicial de suas investigações teóricas não era científica, mas 
eminentemente política, o que se evidencia com as reações a sua doutrina praticamente imediatamente 
após a sua morte e que se sustentaram pelo menos até a chamada Revolução Marginalista.
Sem embargo, coube a Ricardo consolidar algumas das características mais gerais daquilo que ainda 
hoje chamamos de Economia Política. Primeiramente, já com o seu Ensaio Acerca da Influência do 
Baixo Preço do Cereal sobre os Lucros do Capital (1815), e, posteriormente, com os Princípios, tem-se 
o estabelecimento de um estilo específico à Economia Política: a construção de modelos abstratos (e 
dedutivos) de interpretação da dinâmica econômica (SCREPANTI; ZAMAGNI, 2005).
O objeto da Economia Política também recebe uma definição precisa: determinar as leis que regem 
a distribuição do produto (da terra, por meio de trabalho, máquinas e capital) entre as três classes 
fundamentais (proprietários de terras, donos de capital e trabalhadores).
Sabemos que dentre as “incoerências” de Smith está aquela em que se evidenciam suas próprias 
influências: a produção de uma Teoria do Valor que se concentra ora na quantidade objetiva de 
trabalho despendido (e suas relações também objetivas), ora em determinantes subjetivos dos esforços 
e “utilidade negativa” do trabalho.
No interior das questões abertas por Smith, a saída formal encontrada por Ricardo para construir 
sua Teoria do Valor-Trabalho foi abandonar as tentativas de encontrar uma medida dos valores que 
fosse invariável. Na sua visão, o problema enfrentado por Smith se devia basicamente a se utilizar dois 
conceitos diferentes para o valor.
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Para superar os dilemas enfrentados por Smith, a própria noção de riqueza e o conceito de valor 
serão modificados e, pode-se dizer, inclusive empobrecidos. Riqueza será entendida como simplesmente 
um conjunto heterogêneo de bens e valor definido apenas pela dificuldade de se produzir mercadorias 
(particularmente, a quantidade de trabalho).
Além disso, valor é sempre tratado como valor de troca (valor relativo ou preço relativo). Inclusive, 
a leitura de Marx inspirada numa visão proveniente de Ricardo e um dos elementos que prejudicam 
a compreensão da Teoria Marxiana. Se para Ricardo valor e valor de troca são sinônimos e devem 
expressar os preços relativos, para Marx não apenas valor é diferente de valor de troca, como eles não 
necessariamente expressam preços relativos.
Dentre os méritos de Ricardo está o de deslocar definitivamente a problemática da economia 
capitalista doâmbito da circulação (que no caso do valor aparece sob a forma de trabalho comandável 
via mercado) para o âmbito da produção (valor determinado pelo trabalho incorporado nas mercadorias).
Ricardo, quando publicou sua obra-prima em 1817, já havia incorporado nos seus estudos os avanços 
da Revolução Industrial inglesa. A seguir, uma imagem das máquinas industriais britânicas:
Figura 5 
Como ainda veremos, umas das operações de Marx será realizar uma “síntese” entre forma e 
conteúdo (fundamento e expressão dos fenômenos) que apareciam cindidas em Smith e que foram 
unilateralmente definidas em Ricardo.
Outro elemento importante, e que ainda hoje nos ajuda a entender a tranquilidade com a qual Marx 
transita pelos resultados da Economia Política clássica, é a discussão apresentada por Ricardo já nas 
primeiras páginas dos seus Princípios sobre por que a utilidade (e mesmo o valor de uso) não é um tema 
relevante para reflexão.
Primeiro, é óbvio que para um bem ter valor de troca ele deve ser útil, logo, a utilidade é indispensável 
para as mercadorias, mas disso não deriva ser ela determinante do valor.
É usual se afirmar que a própria Ciência Econômica é a ciência que estuda a alocação eficiente de 
recursos escassos; porém, dentro do quadro colocado pela Economia Política clássica, e na crítica a esse 
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ECONOMIA POLÍTICA
sistema teórico empreendida por Marx, isso não passa de uma compreensão “ingênua” (ou proveniente 
de má-fé, diria Marx) do objeto de análise.
Ainda que, segundo Ricardo, o valor de troca tenha duas fontes – a escassez e a quantidade de 
trabalho –, ao se ter como objetivo analisar a reprodução da acumulação de capital, é indispensável 
reconhecer que a escassez não é tão relevante para a análise. Nas palavras de Ricardo:
Sem dúvida, a maioria dos bens que são demandados é produzida pelo 
trabalho. E esses bens podem ser multiplicados não apenas num país, mas 
em vários, quase ilimitadamente, se estivermos dispostos a dedicar-lhes o 
trabalho necessário para obtê-los.
Ao falar, portanto, das mercadorias, de seu valor de troca e das leis que regulam 
seus preços relativos, sempre nos referiremos somente àquelas mercadorias 
cuja quantidade pode ser aumentada pelo exercício da atividade humana, e 
em cuja produção a concorrência atua sem obstáculos (RICARDO, 1996, p. 24).
Essa passagem não deve ser vista como uma colocação trivial ou ingênua proferida por um 
economista do início do século XIX. Como destaca Rubin (2014), essa é na realidade uma demonstração 
de profunda maturidade de pensamento, na medida em que delimita sua investigação a um quadro de 
desenvolvimento que pressupõe uma produção industrial de grande escala e de livre-concorrência (o 
que tende a expandir a variedade de bens reprodutíveis pelo trabalho humano).
Outro avanço de Ricardo está em como ele responde às questões ligadas à reprodução determinada 
pela quantidade de trabalho despendido na produção. Por exemplo, quando nós examinamos o trabalho 
despendido, devemos considerar apenas o trabalho gasto diretamente na criação de um produto, ou 
devemos incluir todo o trabalho previamente despendido na manufatura (ferramentas, implementos, 
edificações etc.)?
Essa pergunta, como aponta Rubin (2014), de fato questiona se o exame do trabalho despendido 
deve partir de seu aspecto subjetivo (direto) ou objetivo (mediado).
A resposta adotada por Ricardo é que o valor deve ser examinado em seu aspecto objetivo, 
eliminando assim qualquer dúvida relacionada a esforços realizados no trabalho ou determinação de 
valor pela capacidade de comando de trabalho na esfera da circulação (mercado).
Novamente, nos termos colocados por Ricardo, temos:
Que este é realmente o fundamento do valor de troca de todas as coisas, 
à exceção daquelas que não podem ser multiplicadas pela atividade 
humana, eis uma doutrina de extrema importância na Economia 
Política; pois de nenhuma outra fonte brotam tantos erros nem tanta 
diferença de opinião, nesta ciência, quanto das ideias confusas que estão 
associadas à palavra valor.
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Se a quantidade de trabalho contida nas mercadorias determina o seu valor 
de troca, todo acréscimo nessa quantidade de trabalho deve aumentar 
o valor da mercadoria sobre a qual ela foi aplicada, assim como toda 
diminuição deve reduzi-lo (RICARDO, 1996, p. 25).
Tal posição adotada por Ricardo não apenas o colocou contra a dualidade conceitual presente em 
Smith, levando-o a abdicar da busca de uma medida constante do valor (investigação aberta desde os 
escritores mercantilistas), como também abriu a possibilidade de se exporem exaustivas críticas à frágil 
Teoria da Oferta e da Demanda.
Em seu sistema teórico, as mudanças quantitativas do valor (preço relativo, lembremos) das 
mercadorias são causalmente dependentes de mudanças na própria quantidade de trabalho 
despendido na produção.
A relação entre oferta e demanda pode ter apenas um efeito temporário sobre o preço das mercadorias, 
sendo a produtividade do trabalho a causa última das mudanças de valor.
Ainda nessa perspectiva, de acordo com o modo pelo qual o valor das mercadorias é determinado, 
não há uma relação entre a determinação do valor (dado na produção) e a forma pela qual o valor é 
repartido entre trabalhadores e capitalistas (dado na circulação).
Segundo Ricardo, o “preço natural do trabalho”, o valor das mercadorias que o trabalhador recebe 
sob a forma de salário, é determinado pelo preço de bens necessários para sustento e reprodução do 
trabalhador e de sua família.
Temos assim um avanço em direção a algo que será posteriormente precisado por Marx: a existência 
de uma diferença entre preço do trabalho e valor da força de trabalho. Contudo, para se realizar essa 
diferenciação, algo que estava latente em Smith deveria ser resgatado, a saber, a forma social do valor 
(para além de seus aspectos quantitativos).
Essa não é uma questão menor, curiosidade de um tempo passado da Ciência Econômica, mas 
produz impactos importantes sobre a forma pela qual também o dinheiro deve ser analisado. Caberá 
a Marx resgatar a questão qualitativa da forma social específica da riqueza e o modo pelo qual ela se 
apresenta na realidade capitalista: valor, dinheiro, capital.
Ora, se os preços relativos de duas mercadorias devem ser proporcionais aos trabalhos contidos 
nelas, o preço relativo de uma mercadoria claramente “depende da quantidade relativa de trabalho 
necessário para sua produção, e não da maior ou menor remuneração que é paga por esse trabalho” 
(RICARDO, 1996, p. 23).
Como destacam Hunt e Lautzenheiser (2013), ao formular sua teoria, Ricardo primeiro afirma que os 
preços relativos das mercadorias são estritamente proporcionais ao trabalho nelas empregado (durante 
o processo produtivo), o que na realidade é uma hipótese simplificadora. Ao detalhar a discussão, ele é 
obrigado a reconhecer que esse princípio é modificado, dadas algumas circunstâncias.
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Supondo a uniformidade de taxa de lucro nos diferentes ramos empresariais (algo estabelecido 
pela livre concorrência), surge uma questão: uma modificação salarial acaba implicando uma alteração 
inversa na taxa geral de lucro. Isso se deve ao fato de que algumas empresas (mais intensivas em 
trabalho) serão mais afetadas que outras (que utilizam menos trabalho em relação ao capital).
Desse modo, devido à alteração salarial, há uma tendência a se encontrar taxas de lucro diferentes. 
O reajuste nas taxas de lucro (movidopela concorrência entre os capitalistas) implica um reajuste em 
toda a estrutura de preços relativos (alguns preços se elevam e outros baixam). Assim, aquele princípio 
da proporcionalidade entre preços relativos e trabalho despendido acaba desaparecendo.
Esse é um limite objetivo ao qual Ricardo não será capaz de oferecer uma resposta satisfatória 
(CARCANHOLO, 2012). De modo mais preciso, o que é colocado em questão com esse problema de 
diferentes composições produtivas (relação entre volume de capital e trabalho) é a explicação consistente 
da formação do excedente econômico (o processo de geração de mais-valor). Afinal, Ricardo não é capaz 
de explicar por que a jornada de trabalho, se materializada numa determinada magnitude de valores dos 
produtos, deve ser maior que o valor dos salários.
A implicação, já reconhecida pelo próprio Adam Smith, é a de que na sociedade capitalista, com 
a acumulação de capital e sua exigência de lucros (supostamente uniformes), os preços não podem 
ser proporcionais aos trabalhos incorporados. Esse será tido como um limite crucial da Teoria do 
Valor-Trabalho formulada pela Economia Política clássica.
Figura 6 – A vista aérea da cidade industrial inglesa de Sheffield, em 1855, permite observar as transformações geográficas na cidade
1.3 Conflitos sociais e o declínio da Economia Política clássica
Os quarenta anos que separaram a publicação de A Riqueza das Nações (1776) de Smith dos 
Princípios de Economia Política e Tributação (1817) foram marcados por grande entusiasmo e otimismo. 
A Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789) marcavam uma nova fase 
política e social na Europa e que se espraiava pelo mundo.
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Unidade I
Figura 7 – A Revolução Francesa, inauguradora dos ideais de liberdade, igualdade e... propriedade. Posteriormente, seria apropriada 
como referência para a emancipação humana
Não é casual que, por exemplo, a obra de Smith seja capaz de transmitir uma visão progressista 
e harmoniosa da vida social inaugurada como mundo burguês. Não se tratava de romanticamente 
defender relações tradicionais feudais, vínculos de servidão e mesmo de agitação religiosa.
Esse novo mundo burguês que se constituía exigia a compreensão não do “sentimentalismo”, mas das 
relações de troca generalizadas, do comportamento dos mercados, da nova divisão social do trabalho, 
não mais fundada em fé ou autoridade feudal. Foi, portanto, um período revolucionário que marcou um 
redesenho da Europa (sem contar a América).
Contudo, a perspectiva de harmonia social apresentada pela Economia Política nascente conflitava 
com a eclosão de novos conflitos sociais, abertos pela revolução industrial e pela reorganização da 
divisão social. Por exemplo, ainda durante a gênese da revolução industrial, surgiram dentre as formas 
de rebelião dos trabalhadores as ações de destruição de máquinas. A compreensão dos trabalhadores 
era usualmente de que as máquinas haviam tomado seus empregos (e não de que elas haviam sido 
introduzidas para garantir maximização de lucros capitalistas). Em 1758, Hunt e Lautzenheiser (2013) 
apontam que, após ações de trabalhadores ingleses que destruíram muitas das primeiras máquinas de 
tosar lã, o parlamento inglês, em pânico, aprovou uma lei que ameaçava executar qualquer trabalhador 
que fosse apanhado destruindo uma máquina.
Ainda segundo Hunt e Lautzenheiser (2013), a década de 1790, na Inglaterra, marcada pelo furor da 
Revolução Francesa, foi de generalizada inquietação trabalhista e de frequentes tentativas de criação de 
sindicatos. O temor com a crescente influência de autores radicais e com os movimentos sindicais fez 
que “os ingleses ricos” instituíssem a Lei da Associação (de trabalhadores), de 1799. O objetivo dessa lei 
era destruir o movimento sindical e preservar a fraqueza política dos trabalhadores.
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ECONOMIA POLÍTICA
Figura 8 – Movimento cartista, manifestação dos trabalhadores como “classe social”
 Saiba mais
O filme As Vinhas da Ira, de John Ford, retrata a Grande Depressão 
estadunidense e as consequências sociais. Neste filme, uma família pobre 
de trabalhadores rurais planeja migrar para a Califórnia, pois lá não faltava 
trabalho. O filme percorre toda essa expectativa de encontrar um lugar 
melhor. Veja o filme para saber o que aguardava a família:
AS VINHAS da ira. Dir. John Ford. EUA: 20th Century Fox, 1940. 
128 minutos.
Como atestam Hunt e Lautzenheiser (2013), o cumprimento da lei era exercido com muita severidade, 
bastando muitas vezes argumentos acusatórios falhos, sem razoáveis evidências, para que as punições 
fossem aplicadas.
A publicação dos Princípios de Ricardo se inscreve no momento histórico que ficou conhecido 
como Era da Restauração (período entre o Congresso de Viena de 1815 e as revoluções de 1848). Esse 
período foi marcado por transformações econômicas e sociais profundas, bem como por mudanças 
políticas significativas. A Restauração foi a tentativa aristocrática de restaurar a ordem absolutista 
tradicional, abalada pelos impactos da Revolução Francesa, particularmente pelas guerras napoleônicas. 
As características mais marcantes desse período podem ser extraídas dos dois países mais avançados da 
Europa na época: Inglaterra e França.
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Unidade I
Como apontam Screpanti e Zamagni (2005), é possível compreender o sistema político desses dois 
países dividindo as forças políticas em três grandes “partidos”: reacionário, liberal e democrata.7
A fase de 1815 a 1830 é, segundo os autores, o período estrito da Era da Restauração, em que o 
poder foi mantido firmemente pelas forças reacionárias. Em 1830, com a frente política entre as duas 
outras forças (liberais e democratas), foram instituídos os regimes parlamentaristas e constitucionais na 
França e na Inglaterra.
 Observação
O Reform Act 1832 na Inglaterra, também conhecido como Grande 
Lei de Reforma, visou eliminar o sistema de bairros pobres, em que as 
regiões do campo, controladas pelos proprietários de terra, tinham maior 
representação parlamentar que os distritos eleitorais das cidades mais 
populosas, onde a maioria dos trabalhadores industriais e burgueses vivia. 
Após as reformas, a burguesia estava razoavelmente satisfeita. Todavia, o Partido Democrata se tornou 
cada vez mais radicalizado, adquirindo contornos socialistas. É nesse período que, na Inglaterra, alguns 
radicais se juntam ao movimento sindical, criando o Partido Cartista – uma agremiação política que lutava 
pela extensão dos direitos políticos a trabalhadores e que batalhavam por melhores condições sociais para 
o proletariado. Não foram poucas as tentativas de unificar reivindicações políticas democráticas e liberais 
a objetivos mais abrangentes de emancipação social (SCREPANTI; ZAMAGNI, 2005).
Sem embargo, em vez de diminuírem, as lutas de classes se intensificaram a partir da década de 1830. 
O conflito de destaque até esse momento era aquele entre “proprietários de terras” e “capitalistas”. É nessa 
chave política que se deve ler as Teorias da Distribuição de Adam Smith e David Ricardo. A partir de 1830, 
o destaque passou a se dar na sociedade com o conflito entre massas populares e classes privilegiadas.
 Lembrete
Em ambas as teorias, de Smith e Ricardo, os proprietários de terra 
são considerados uma classe social improdutiva. Ela não apenas vive 
de rendas provenientes das classes produtivas como compromete o 
crescimento econômico. 
Era nesse contexto de mudanças políticas e sociais que se moviam asinvestigações teóricas e 
propostas práticas da Economia Política.
7 Como ressaltam Screpanti e Zamagni (2005), esses “partidos” assumiam diferentes nomes, programas e estruturas políticas. 
O destaque é que essa estrutura “tripartite” do sistema político se manteve constante durante o período. O conceito adotado de 
partido é, portanto, diferente daquele usualmente utilizado, de uma agremiação política com objetivos político-eleitorais. Partido é 
aqui utilizado para identificar forças sociais bem-definidas em um contexto político também específico.
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Após a morte de David Ricardo (em 1823), começaram a surgir diversas críticas a sua teorização 
econômica. Mesmo em vida, Ricardo se deparou com correntes de pensamento econômico opostas à 
sua. Muito das polêmicas se estabelecia explicitamente em torno da contraposição entre protecionismo 
e livre-comércio. Além disso, a Teoria da Acumulação de Ricardo (sua discussão sobre a tendência à 
redução do valor de troca das mercadorias com o progresso técnico e as tendências da taxa de lucro) 
também era recorrentemente combatida, muitas vezes por meio de censuras morais (DOBB, 1973).
No que se refere especialmente ao problema do valor, os ataques se deram criticando a noção 
de valor como algo incorporado na mercadoria. Para muitos críticos, o caso correto seria retornar à 
temática do valor relativo, como algo determinado pela interação entre oferta e demanda basicamente.
Segundo Dobb (1973), a doutrina de Ricardo conseguiu manter sua influência até meados do século 
XIX, muito pela divulgação e pelos trabalhos de John Stuart Mill.
Os ataques “reacionários” (no sentido de reagir e recuperar um momento anterior do passado) serão 
lidos por Marx (e mesmo por John Stuart Mill) como um “retrocesso” da investigação científica produzida 
pela Economia Política. Essa é uma das razões por que Marx chamará a maioria dos economistas 
posteriores a Ricardo e Mill de “economistas vulgares”.
Num contexto de intensificação de lutas sociais, tomado pelos atores políticos envolvidos como luta 
de classes, considerar os interesses dos proprietários de terra opostos ao interesse de toda a sociedade 
(como sugeria Smith e como apresentou Ricardo) significava oferecer instrumentos teóricos para a 
prática política radical, já de viés socialista.
Poderia dizer uma pessoa dessa época, razoavelmente ilustrada e comprometida com as condições 
de vida dos trabalhadores, o seguinte: “Ora, se segundo Ricardo o que cria valor é o trabalho, por 
que então a classe social que vive do trabalho tem condições de vida tão desfavoráveis? Não são os 
trabalhadores aqueles que produzem a riqueza da sociedade?”.
A resposta a essas questões foi dada, por exemplo, por Thomas Hodgskin (1787-1869), um autor que 
exerceu forte influência sobre o movimento operário inglês (isso na década de 1820). A sua formulação 
sobre lucros e capital seguia claramente uma perspectiva aberta pela Teoria do Valor-Trabalho 
estabelecida por Ricardo. Mesmo que não apresentasse de modo sistematizado uma teoria sobre o 
problema do valor ou a origem do lucro, sua visão radical adquiriu razoável penetração social. Em sua 
análise, se o capital é produto do trabalho e o lucro nada mais é que parte dos produtos do trabalho, o 
lucro e a renda são na verdade “roubo legalizado”, nada mais.
Está claro o perigo de se aceitar a teoria de Ricardo, ou qualquer teoria do valor fundamentada no 
trabalho. Isso, tempos depois, não passaria despercebido a Marx. Nos termos de nosso autor:
Tomemos o caso da Inglaterra. Sua economia política clássica coincide com 
o período em que a luta de classes ainda não estava desenvolvida. Seu último 
grande representante, Ricardo, converte afinal, conscientemente, a antítese entre 
os interesses de classe, entre o salário e o lucro, entre o lucro e a renda da terra em 
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ponto de partida de suas investigações, concebendo essa antítese, ingenuamente, 
como uma lei natural da sociedade. Com isso, porém, a ciência burguesa da 
Economia chegara a seus limites intransponíveis (MARX, 2013, p. 85).
Não são problemas de ordem científica que se impuseram como limite à Economia Política; foi o 
desenvolvimento dos conflitos sociais e das lutas de classes. Enquanto essas lutas eram ainda incipientes 
e marcadas pelo conflito entre capitalistas e proprietários de terras, a Economia Política foi capaz de 
sistematizar cientificamente a oposição entre os interesses de classes (como atestam Smith e Ricardo); 
porém, com a intensificação dessas lutas e a ascensão das lutas dos trabalhadores, a Economia Política 
encontraria seu limite intransponível (já que era intimamente vinculada a posições burguesas de classe).
É diante desse contexto que Marx, por exemplo, dedicará severas considerações sobre os chamados 
“economistas vulgares”. Nesse contexto de difusão de movimentos sindicais, voltada para a obtenção de 
melhores condições de trabalho, uma das lutas importantes da época foi aquela pela regulamentação 
da jornada de trabalho de 10 horas e que contou com ferrenha oposição de economistas políticos 
(“vulgares”, qualificaria Marx).
Um desses economistas foi Nassau Senior (1790-1864). Senior foi um dos primeiros formuladores da 
chamada Teoria da Abstinência, que afirma que o juro é um prêmio pela poupança. Em sua formulação, 
quando o capitalista se abstém de consumir, ele disponibiliza recursos a terceiros, recebendo uma 
remuneração pelo uso de sua renda poupada. Essa remuneração é o juro, um prêmio por não consumir. 
Algo parecido não é ensinado em manuais de Economia até hoje?
Pois Senior tinha plena consciência das implicações sociais de suas formulações, sendo notória sua 
violenta oposição ao sindicalismo. Como apontam Hunt e Lautzenheiser (2013), o grande perigo na 
visão de Senior era que os sindicatos lutassem para estabelecer e difundir a ideia de que os salários 
deveriam refletir as necessidades da família de cada operário, e não somente o livre jogo entre oferta e 
demanda. Para Senior, as Leis dos Pobres, que se baseavam em um sistema de remuneração familiar para 
desempregados e pessoas carentes, diminuíam o incentivo dos empregados para o trabalho e geravam 
posturas arrogantes nos operários, que passavam a achar que suas famílias tinham direito a existir. 
Posição essa que, vale dizer, encontra eco mesmo nos dias atuais.
Esse é também um dos motivos por que Marx identificava os “economistas vulgares” como sicofantas. 
Sobre esse tema, afirmaria Marx em O Capital:
Tão logo os trabalhadores desvendam, portanto, o mistério de como é possível 
que, na mesma medida em que trabalham mais, produzem mais riqueza 
alheia, de como a força produtiva de seu trabalho pode aumentar ao mesmo 
tempo que sua função como meio de valorização do capital se torna cada 
vez mais precária para eles; tão logo descobrem que o grau de intensidade da 
concorrência entre eles mesmos depende inteiramente da pressão exercida 
pela superpopulação relativa; tão logo, portanto, procuram organizar, 
mediante trade’s unions [sindicatos] etc., uma cooperação planificada 
entre empregados e os desempregados com o objetivo de eliminar ou amenizar 
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as consequências ruinosas que aquela lei natural da produção capitalista 
acarreta para sua classe, o capital e seu sicofanta, o economista político, 
clamam contra a violação da “eterna” e, por assim dizer, “sagrada” lei da 
oferta e demanda (MARX, 2013, p. 715-716, grifos nossos).
De modo sintético e esquemático,Screpanti e Zamagni (2005) dividem os economistas políticos 
ingleses após Ricardo em três grupos: ricardianos, ricardianos socialistas e antirricardianos. Na 
obra de Marx, é possível uma diferenciação sutilmente distinta; além dos evidentes antirricardianos, 
encontramos os ricardianos de esquerda e os ricardianos de direita (que Screpanti e Zamagni 
denominam socialistas e simplesmente ricardianos, respectivamente).
Como veremos adiante, é muito difícil enquadrar Marx nessas linhas de pensamento pós-David Ricardo 
– primeiramente, porque Marx terá um contato com o movimento operário francês, muito mais radicalizado 
que na Inglaterra, e segundo, porque seu contato com a Economia Política já se inaugurará com um texto 
seminal de um jovem alemão que morava na Inglaterra chamado Engels. Como lembraria Marx já em sua 
maturidade, esse texto teria sido responsável por partir sua cabeça ao meio, o que veremos a seguir.
Ainda neste livro-texto, discutiremos em mais detalhes o caráter da crítica empreendida por Marx.
2 O PERCURSO TEÓRICO DE MARX ATÉ O CAPITAL
2.1 Da Filosofia à crítica da Economia Política
Marx nasceu na cidade de Trier8 em 1818, ano em que Simón Bolívar declara a Venezuela independente 
da Espanha. Em outubro de 1836, matricula-se no curso de direito em Berlim. A universidade era marcada 
pela sobriedade (diferente da outra, em Bonn, que frequentara até meados de 1836) e pela influência 
intelectual de seu fundador e maior filósofo que o mundo tivera pouco tempo antes: Georg Wilheim 
Hegel, falecido em 1831 (KONDER, 1983; MEHRING, 2014).
Seu primeiro trabalho de razoável fôlego foi sua tese de doutorado sobre A Diferença da Filosofia da 
Natureza em Demócrito e Epicuro, defendida em 1841.
 Observação
Ter defendido uma tese de doutorado não significa que Marx fez o 
doutorado que hoje conhecemos, um curso de pós-graduação stricto 
sensu. Quem integralizava o curso (graduação) de Filosofia, escrevendo 
uma monografia, recebia o título de doutor, o que dava a possibilidade de 
lecionar na universidade. 
8 Cidade na região da Renânia (próxima da fronteira com a França e Luxemburgo), atual estado de 
Renânia-Palatinado na Alemanha. Entre 1798 e 1814, a cidade havia pertencido à França. Com a derrota de Napoleão, a 
Prússia anexou a região ao seu reinado.
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Para além de um trabalho maçante, ele já sugere alguns dos temas fundamentais que serão 
perseguidos durante sua trajetória intelectual. Numa obra em parceria com Engels intitulada A Sagrada 
Família (uma crítica a pensadores de influência hegeliana), bem como em A Ideologia Alemã, ficam 
claras as dívidas com o materialismo filosófico clássico (COLLIN, 2010).
Ainda em 1841, Marx não consegue uma vaga como professor, e a situação se mostra agora mais 
adversa, com a ascensão de Frederico Guilherme IV ao trono da Prússia. O projeto de se tornar professor 
universitário é interrompido.
Marx assume um emprego como jornalista, tornando-se editor-chefe de um jornal de oposição 
burguesa ao governo prussiano. É nesse período que nosso autor toma contato com a chamada miséria 
alemã. De modo menos filosófico, essa miséria alemã era compreendida como a profunda defasagem 
entre as instituições sociais e políticas da Alemanha, que não experimentou uma revolução burguesa de 
tipo clássica (em referência à Revolução Francesa) e que sequer se constitui como um Estado Nacional – 
o que havia era uma confederação germânica composta por cerca de 40 estados ainda marcados pelos 
vínculos com a religião. A miséria alemã se expressa como uma contradição entre uma cultura erudita 
e instituições sociopolíticas provenientes ainda do antigo regime.
Aquele filósofo interessado em Filosofia grega, agora como editor de um jornal, precisa a partir de então 
lidar com os mais diversos assuntos e temas, e isso num contexto, como mencionado anteriormente, de 
intensos conflitos sociais. Por exemplo, responder filosoficamente a um conflito envolvendo “roubo” de 
lenha (com a mudança de uma lei, passou a ser crime pegar lenha de terras comunais) por camponeses. 
Sem contar as temáticas da publicidade dos debates parlamentares, a independência do Estado em 
relação à religião e liberdade de imprensa.
Em vez de se resignar diante dessa “miséria”, Marx se opõe a ela, o que, é importante notar, é per 
se uma “tomada de partido”. Diante de um quadro marcado pela censura do Estado prussiano, após seu 
casamento Marx estabelece como projeto editar um periódico em Paris.
Nesse momento, Marx já é um democrata radical e um materialista. Seu objetivo é articular o melhor 
do pensamento filosófico alemão à crítica social francesa, e encontra no liberal alemão Arnold Ruge as 
condições iniciais para tanto.
No final de 1843, Marx chega a Paris (e ficaria ali até fevereiro de 1845). Mas uma pergunta relevante 
é: quem é (intelectualmente) esse Marx que chega a Paris?
Ele é, ainda, um filósofo materialista. É na sua estadia em Paris que Marx terá os encontros decisivos 
de sua vida, que alterariam todo o seu horizonte e demarcariam seu universo intelectual.
Tomando os debates filosóficos, que pela temática e pelo peso da censura já haviam se tornado 
eminentemente políticos, Marx empreende uma “revisão crítica da Filosofia do Direito de Hegel”. Sua 
polêmica é com a questão da monarquia constitucional, que aparece na obra de Hegel como uma das 
expressões da realização da razão.
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Estando envolvido e preocupado com política, dada sua experiência como jornalista, Marx assume que 
para entender a política é indispensável entender o Estado. Como não adianta uma teorização do poder 
sem uma Teoria do Estado, Marx se dispõe, ainda como filósofo, a analisar a obra filosófica mais autorizada 
de sua época: Hegel. A introdução de seu estudo é publicada no periódico organizado por Arnold Ruge.
Além da Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (a introdução publicada e o manuscrito completo 
disponibilizado ao público no século XX), Marx redige seus Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 
(também conhecidos como Manuscritos de Paris). Nos Manuscritos, seguindo Engels (que publicara um 
Esboço de Crítica da Economia Política no mesmo periódico organizado por Arnold Ruge), Marx recusa a 
Teoria do Valor, tal qual ela se apresentava na Economia Política inglesa. Pouco tempo depois, em 1847, na 
Miséria da Filosofia, uma crítica ao socialismo utópico, o mesmo Marx passa a recuperar a Teoria do Valor.
Mas o que essa descrição de obras e trajetória tem a ver com nosso curso?
Essa “descrição” é uma demonstração de que, desde suas obras de juventude, o pensamento de 
Marx é um pensamento aberto, não apenas a novas questões, como destacadamente à retificação 
de equívocos. Não se trata de doutrina ou dogma. Durante um trabalho intelectual que duraria quatro 
décadas, uma das características de Marx e Engels será o comprometimento da investigação teórica 
com a realidade concreta, e, como a realidade muda, o modo consequente de proceder é também 
transformando o pensamento.
Sem embargo, a grande guinada intelectual de Marx se dá entre 1844 e 1846. É nesse período que 
se encontra o seu caráter verdadeiramente inovador. Aquele jovem que queria ser professor (aliás, por 
isso sua tese foi um estudo comparado entre dois filósofos gregos – dentre as exigências para assumir 
o cargo de professor estava a de avaliar se o candidato tinha domínio das línguas clássicas da Filosofia) 
é agora um materialista, um crítico da filosofia hegeliana e do idealismo filosófico alemão (inclusive 
criticando seus próprios amigos).
Ao estudar a filosofia de Hegel, Marx identifica que háuma inversão no tratamento da sociedade 
civil (o reino dos interesses privados e de operação do mercado). Na perspectiva filosófica de Hegel, 
a sociedade é tomada como reino da miséria física e moral; é o Estado que introduz o princípio de 
racionalidade à totalidade social. A universalização racionalizada é introduzida pelo Estado (que tem 
como forma superior, lembremos, a monarquia constitucional).
Contrapondo a Filosofia do Direito (e da História) de Hegel à realidade, a conclusão de Marx é de 
que não é possível que o Estado represente qualquer universalidade, exceto se essa tal universalidade 
for tomada de forma abstrata, sem parâmetro na realidade. Na perspectiva de Marx, um democrata 
radical, uma verdadeira universalidade concreta apenas poderia se realizar num regime inverso ao da 
monarquia, isto é, apenas na democracia.
Todavia, mesmo observando essa inversão e já tendo uma posição clara, suas “conclusões” são 
articuladas apenas como oposição política à perspectiva de Hegel. Marx não dispõe de elementos 
teóricos para superar ou resolver a operação empreendida por Hegel. Se os princípios da universalidade 
e da racionalidade não estão no Estado, como sustenta a filosofia de Hegel, mas sim na sociedade, 
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é necessário entender a sociedade e, depois, o Estado. O problema é: como entender a sociedade, 
considerando que o maior representante da Filosofia (clássica) alemã não oferece condições para tanto?
Em Paris, as chaves de resposta lhe serão apresentadas. O jovem filósofo e jornalista encontraria 
simultaneamente algumas figuras histórico-concretas (em aproximadamente seis meses).
Primeiro, ele tem um encontro com a classe operária. Enquanto na Alemanha o operariado era 
ainda incipiente, Paris já dispunha de um forte movimento de trabalhadores. A título de ilustração, 
pouco tempo antes, em 1839, uma associação clandestina havia tentado tomar o poder na cidade. 
A crítica teórica de Marx encontra um sujeito histórico visto como capaz de realizar a transformação 
prática da sociedade, o sujeito da transformação política e material do mundo – o proletariado, cuja 
tarefa histórica é transformar radicalmente a realidade, fazer a “revolução”. (NETTO, 2012). De democrata 
radical, Marx torna-se comunista.
Veja a figura a seguir. As revoluções de 1830 e 1848 tiveram como epicentro a França. Ao se espalharem 
pela Europa, elas foram marcadas pelo nacionalismo e pelo internacionalismo (socialista). As revoluções 
de 1848 ficaram conhecidas como Primavera dos Povos. Povos com uma mesma cultura, etnia e língua 
clamavam contra a partilha do Congresso de Viena. Além disso, essas revoluções apresentaram, pela 
primeira vez, um claro potencial socialista, com destaque para o proletariado urbano.
Figura 9 
A relação estabelecida com os trabalhadores é o que dará sentido à vida e à pesquisa de Marx. 
Mesmo que ele tenha plena consciência de não ser um proletário e de muito menos querer se passar 
por um, Marx faz uma opção política de classe.
Começa aqui uma relação, a relação com os trabalhadores, que dará sentido à vida e à pesquisa de 
Marx – o comunismo marxiano, na medida em que sua opção toma corpo, é um comunismo proletário: 
Marx faz uma opção de classe. Ele tem plena consciência de que não é um proletário, nem quer fazer-se 
passar como tal – sem abrir mão de sua condição de intelectual, que lhe impõe requisições específicas 
(teóricas), vincula-se ao proletariado assumindo a sua perspectiva de classe e os seus interesses 
emancipatórios universais.
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O segundo encontro (lembremos, não necessariamente nessa ordem, eles foram “simultâneos”) foi 
com a Economia Política. Se esse campo do conhecimento é a ciência da propriedade privada e do 
enriquecimento (aliás, algo que até os dias atuais costuma ser apresentado dessa forma, pois estudar 
economia é aprender o bom uso do dinheiro e do capital), é nela que se encontra a chave da crítica social. 
Ao ter contato com um artigo de um jovem filho de industrial, chamado Friedrich Engels, Marx passa a 
se dedicar ininterruptamente ao estudo de seus principais teóricos (Adam Smith, David Ricardo, John 
Stuart Mill etc.). O encontro com Engels em 1844 inauguraria uma das maiores parcerias intelectuais do 
mundo moderno.
Aquele jovem, que em 1843 considerava o comunismo uma abstração dogmática, em 1844 se afirma 
comunista e se decida à Economia Política. Expulso da França, sob pressão do governo alemão, em 
fevereiro de 1845, Marx emigra para a Bélgica. Em 1847, no prefácio de A Miséria da Filosofia, Marx se 
coloca como “alemão e economista”.
Como lembra Collin (2010), o socialismo e o comunismo da década de 1840 eram bandeiras de seitas 
que se fechavam sob a boa vontade de quimeras, por meio de utopias e invenções de engenharia social, 
além de uma alta carga de religiosidade.
Se o socialismo é ainda utópico, a Economia Política clássica é naturalista. Reconhecendo que “no 
princípio era a ação”, não basta com isso simplesmente incitar a ação. Após avançar sobre a crítica 
da Filosofia idealista alemã, é preciso passar para a crítica da Economia Política, essa ciência que 
recorrentemente se dá o desfrute de apresentar a lei do juro como se fosse semelhante às Leis de 
Newton (COLLIN, 2010).
Figura 10 – Frontispício da primeira edição do Manifesto Comunista, de 1848. Escrito por Marx e Engels, foi o primeiro panfleto de 
lançamento de um partido que inicia sua apresentação com uma discussão “teórica” e de “conjuntura” econômica, política e social
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Contudo, criticar a Economia Política não significa diferenciar nos economistas o conhecimento 
“bom” do “mau”. A crítica do conhecimento “consiste em trazer ao exame racional, tornando-os 
conscientes, os seus fundamentos, os seus condicionamentos e os seus limites – ao mesmo tempo 
em que se faz a verificação dos conteúdos desse conhecimento a partir dos processos históricos reais” 
(NETTO, 2011, p. 18).
Um exame racional só é possível, na concepção de Marx, justamente pela tomada de posição 
junto à classe operária e à perspectiva comunista. Como afirma Marx em certa altura de O Capital: “A 
economia política clássica chega muito próximo à verdadeira relação das coisas, porém sem formulá-la 
conscientemente. Ela não poderá fazê-lo enquanto estiver coberta com sua pele burguesa” (MARX, 
2013, p. 612).
Como apresenta José Paulo Netto (2012), é no período de 1857 a 1865 que Marx começar a apresentar 
os primeiros resultados concretos de sua crítica da Economia Política. Nesse período, agora em sua plena 
maturidade intelectual e política, e apoiado em mais de dez anos de estudos, Marx começa a consolidar 
sua crítica.
Desde o final da década de 1840, Marx anunciava aos amigos o desenvolvimento de uma pesquisa 
crítica sobre Economia Política. Contudo, com a crise econômica de 1857, ele interrompe parcialmente a 
pesquisa e publica em 1859 seu livro Contribuição à Crítica da Economia – na realidade, uma introdução 
crítica com comentários ainda não plenamente acabados. Os rascunhos que deram origem a esse material 
e que formam o primeiro “ensaio geral” do que seria publicado posteriormente como O Capital vieram à 
luz pública apenas no século XX, recebendo o título de edição de Grundisse – Manuscritos Econômicos 
de 1857-58 (Grundisse quer dizer rascunho em alemão). Como afirma Rosdolsky (2001), esse material 
dispõe a “gênese e estrutura de O Capital”.
O Capital propriamente dito seria publicado quase uma década após a elaboração dessesmanuscritos 
e a publicação da Contribuição à Crítica... Além disso, quando publicada em 1867, a obra apresentava 
apenas o Livro I, sobre o processo de produção, com o compromisso de Marx de publicar mais dois livros 
(sobre a circulação e a reprodução do capital). Como veremos adiante, Marx não chegaria a publicar em 
vida esses dois livros, tarefa essa que seria assumida por Engels.
2.2 Uma obra considerável, multiforme e inacabada
Como afirma Collin (2010), a obra de Marx, a despeito do que possam sugerir algumas críticas 
vulgares, é: i) considerável, ii) multiforme; iii) inacabada.
Ela é considerável em volume. Ainda hoje não há nenhuma edição das obras completas de 
Marx e Engels, ainda que tenham existido projetos para tanto. Desses projetos, cabe destacar as 
Marx-Engels Werke (MEW), publicadas pelas antiga República Democrática Alemã, e a Marx-Engels 
Gesamtausgabe (Mega).
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Figura 11 –Karl Marx e O Capital (primeira edição alemã)
Como lembra Gerald Hubmann (2012, p. 33), “as dificuldades no trato da obra completa e com o 
legado póstumo de Marx começaram já imediatamente depois da sua morte”. A obra econômica madura 
de Marx que recebe o nome O Capital compreende três livros.
Vale destacar que existe um quarto livro (Livro 4), publicado com o título Teorias da Mais-Valia. 
Por não ter sido publicado por Engels, mas sim por Karl Kautsky (em 1905), ele não recebeu o título 
O Capital. Esse livro é, apesar de disponível, muito pouco estudado e conhecido, especialmente pela 
tradução que costuma receber (como História das Ideias Econômicas), o que acaba sugerindo ser uma 
obra de história do pensamento econômico, o que na realidade não é.
 Saiba mais
Caso tenha interesse, esse livro pode ser facilmente encontrado na 
internet. Há, por exemplo, diversas versões disponíveis no excelente site 
<www.marxists.org>. Lá você pode encontrar não apenas muitas obras 
de Marx como também de autores marxistas e mesmo de não marxistas 
mencionados por Marx e importantes para o marxismo (por exemplo, textos 
de John Locke e James Steuart).
O Livro 1, que analisa o processo de produção do capital, foi publicado originalmente em 1867, 
recebendo uma segunda edição em 1872. O Livro 2, sobre o processo de circulação do capital, foi 
publicado pela primeira vez em 1885, isto é, dois anos após a morte de Marx; esse livro foi organizado e 
editado por Friedrich Engels a partir dos manuscritos deixados por Marx. O mesmo ocorreu com o Livro 
3, que trata do processo global de reprodução do capital, também publicado por Engels, mas já em 1894. 
Ou seja, o próprio Marx publicou apenas um livro de O Capital.
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Unidade I
Hubmann (2012) destaca que, apenas entre 1864 e 1875, Marx deixou ao todo 847 folhas de caderno e 
que apenas sobre as três primeiras seções do capítulo 1 foram deixadas mais de duzentas páginas manuscritas.
Uma pergunta que pode surgir ao leitor é: por que então Engels se deu ao exaustivo trabalho de 
decifrar (afinal, num manuscrito quase ninguém se preocupa com a qualidade da caligrafia), organizar e 
mesmo redigir (inclusive algumas partes incompletas nos manuscritos originais) através de manuscritos 
de diversas épocas a obra de um defunto?
Como ressalta Hubmann (2012), e que se pode extrair do próprio Engels (1986; 2013), o que tornou 
necessária a publicação dos livros foram as expectativas políticas criadas com a obra. Vale lembrar que, 
em diversos momentos da exposição no Livro 1, Marx faz menção a um posterior retorno do tema 
discutido nos Livros 2 e 3 (de modo mais concreto e mais sistematizado), o que acabava criando o 
caráter de suspense com o desenrolar do livro.
Tanto companheiros e aliados políticos quanto adversários queriam saber o que eram esses livros 
faltantes de O Capital, chegando muitos a suspeitarem de que Marx jamais teria escrito nada sobre eles.
Dentre os objetivos políticos estava também aquele de tornar o legado de Marx politicamente funcional 
e acessível aos trabalhadores. Aqui também vale lembrar que o “público-alvo” planejado por Marx para O 
Capital eram trabalhadores (tendo sido alguns capítulos de O Capital publicados inclusive sob a forma de 
fascículos de jornais operários). Voltaremos em breve a esse ponto sobre público-alvo e a atualidade.
A primeira empreitada de realizar uma edição completa de Marx e Engels se deu logo após a Revolução 
Russa de 1917 com a criação do Instituto Marx-Engels, sediado em Moscou. O planejamento original 
envolvia quarenta volumes e abarcaria todo o material deixado pelos dois autores alemães. Esse é o 
projeto que foi chamado de primeira Mega (totalizaria 43 volumes, tendo sido efetivamente publicados 
11 volumes). Em 1975, depois de diversos percalços políticos e ideológicos envolvidos no contexto da 
Guerra Fria e do estalinismo, foi organizado o primeiro volume da segunda Mega; essa nova edição foi 
organizada para ter 165 volumes duplos (o texto editado e o seu aparato crítico correspondente – com 
explicações dos editores, indicações textuais e correções feitas pelos próprios Marx e Engels). A título de 
curiosidade, esse foi o maior empreendimento de cooperação internacional entre soviéticos e alemães 
na área de ciências humanas, tendo envolvido cerda de 150 pessoas (HUBMANN, 2012).
Retomando a afirmação inicial de Collin (2010), além de considerável, a obra de Marx é multiforme. 
Ela compreende obras propriamente filosóficas (destacadamente no período 1846-1847), obras de 
Economia Política (dentre as quais O Capital, nosso referencial de discussão no livro-texto, é a obra 
magna), ensaios, panfletos e artigos de intervenção política e social na realidade, com análises perspicazes 
e seminais sobre processos sociopolíticos concretos – por exemplo, O Dezoito de Brumário de Luís 
Bonaparte (sobre o golpe de Estado perpetrado na França em 1851) e As Lutas de Classe na França (sobre 
a Comuna de Paris, de 1871), em que a tomada de posição política e a centralidade da “luta de classes” 
passam a figurar com destaque.
Para “complicar ainda mais”, além de ser considerável e multiforme, a obra de Marx é essencialmente 
inacabada. Exemplos: i) a primeira exposição filosófica do chamado materialismo histórico, fundado 
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por Marx e Engels, deu-se com A Ideologia Alemã, um livro que nunca foi publicado pelos autores, 
tendo sido “dedicado à crítica roedora dos ratos”, e que veio à luz apenas na década de 1930. Isto é, 
os primeiros marxistas e revolucionários do final do século XIX e início do século XX nunca tiveram 
contato com esse material; ii) um manuscrito responsável por reacender os debates no interior do 
marxismo (dominado pela visão oficial imprimida pelo estalinismo), que recebeu o título de Manuscritos 
Econômico-Filosóficos de 1844 (ou simplesmente Manuscritos de Paris), só foi descoberto no século 
XX, tendo sua primeira edição ao público apenas em 1932. Nesses manuscritos, Marx pela primeira vez 
esboça um empreendimento de crítica filosófica à Economia Política inglesa (destacadamente Adam 
Smith, Jean Baptiste Say e David Ricardo).
Não é de surpreender a variedade de usos (práticos e políticos, teóricos e analíticos, e variadas 
interpretações) que O Capital e as demais obras de Marx (e Engels) tenham adquirido na vida social até 
os dias de hoje.
No caso do O Capital, como qualquer outra obra considerada socialmente um “clássico” (o que 
se dá independentemente de nossa posição individual sobre o assunto), sua compreensão não é 
imediatamente acessível,e seu alcance só se dá através da espessura histórica e da cultura. Como 
lembra Bidet (2010), a diversidade possível de acolhimento de O Capital provém ao mesmo tempo das 
divergências entre os variados “marxismos”, da divisão de trabalho entre as especialidades acadêmicas 
nas quais Marx é lido e destacadamente dos diversos tipos de interesses dirigidos à teoria – e que 
recebe as marcas das lutas sociais.
2.3 A crítica de Marx ao objeto da Economia Política
À primeira vista, a grande obra de Marx, O Capital, parece ser um tratado de Economia Política. Seu 
assunto seria o mesmo de A Riqueza das Nações de Adam Smith ou dos Princípios de Economia Política 
e Tributação de David Ricardo. É isso que sugere o seu subtítulo, Crítica da Economia Política. Contudo, 
é precisamente o subtítulo que merece maior atenção. O que significa a crítica da Economia Política?
Os críticos e detratores de O Capital, desde a época de Marx, censuraram a obra por ser demasiadamente 
filosófica, com um excessivo recurso à filosofia hegeliana. Além disso, seria uma obra evidentemente 
“tendenciosa”, dado o fato de recorrentemente se referir à luta de classes, como se o autor fosse um 
correspondente de guerra (COLLIN, 2010). Diante dessa série de “problemas”, essa obra, por volumosa 
que seja, não teria a capacidade de oferecer muitos instrumentos a quem pretendesse fazer da Economia 
Política uma ciência.
Contudo, o que O Capital apresenta é algo muito mais profundo e rico.
Primeiramente, o objetivo da obra não é ser uma teoria geral das sociedades humanas. Devemos 
assumir rigorosamente o título da obra: ela trata de uma crítica da Economia Política, e como o objeto 
da Economia Política é o modo de funcionamento das economias de mercado, a crítica deve ser a essa 
“coisa” chamada capital, que parece mover essas economias. Ou seja, o objeto de O Capital é justamente 
o capital, ou, mais precisamente, um certo tipo particular e histórico de relação social, uma forma sócio-
histórica de produção e distribuição de riqueza humana.
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Se o objeto do capital não é uma teoria geral da riqueza, ele também não é a sociedade capitalista. 
Isso que nós às vezes podemos chamar de sociedade capitalista não existe em estado puro. Quando 
nos referimos a sociedades capitalistas, nós estamos nos referindo a formações sociais, isto é, um 
todo social, em seu sentido mais vasto, em um dado momento de existência histórica – por exemplo, a 
Inglaterra da Revolução Industrial, os Estados Unidos de Barack Obama, ou seja, formações sociais são 
“objetos” sempre originais e singulares.
O objeto de O Capital é o capital como relação social particular de um modo de produção. Esse modo 
de produção (capitalista) é uma espécie de ideal-tipo, como sugere Collin (2010). É um objeto “abstrato-
formal” que, a rigor, não existe concretamente na realidade. Isso não significa dizer então que a análise de 
Marx é metafísica ou idealista. A questão é que, para analisar as formações sociais concretas, o procedimento 
adequado é, seguindo as descobertas de Marx, examinar o modo de produção dominante na formação social.
 Observação
Uma formação social pode ter mais de um modo de produção. Pense 
no Brasil no início do século XX. Podemos dizer que o Brasil no início do 
século XX era um país capitalista, já que o modo de produção dominante 
era capitalista, mas isso não significa dizer que não existiam outros modos 
de produção. Por exemplo, no interior do país ainda existiam regiões 
marcadas por baixíssima troca monetária e voltadas para uma economia 
de subsistência. 
Marx, sem dúvida, aponta que é preciso entender as relações sociais de produção de riqueza como 
realidades históricas, identificando inclusive esse como o principal erro da Economia Política clássica 
(ela “naturaliza” relações “históricas”). Contudo, como ressalta Collin (2010), a ordem de exposição de O 
Capital nos conduz a uma discussão muito mais lógica do que exatamente histórica.
Esse é, aliás, um dos desafios dos primeiros capítulos de O Capital. Ele nos oferece uma espécie 
de anticlímax. Em vez de começar a discutir Economia propriamente dita, como algumas pessoas 
esperariam, Marx realiza uma discussão sobre a mercadoria, sobre as formas do valor das mercadorias, 
o que cria um certo suspense ou até mesmo enfado para alguns.
Há uma razão para isso. Como apontara Marx cerca de dez anos antes da publicação do Livro 1 
de O Capital:
Se consideramos um dado país de um ponto de vista político-econômico, 
começamos com sua população, sua divisão em classes, a cidade, o campo, 
o mar, os diferentes ramos de produção, a importação e a exportação, a 
produção e o consumo anuais, os preços das mercadorias etc.
Parece ser correto começarmos pelo real e pelo concreto, pelo pressuposto 
efetivo, e, portanto, no caso da economia, por exemplo, começarmos pela 
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população, que é o fundamento e o sujeito do ato social de produção como 
um todo. Considerado de maneira mais rigorosa, entretanto, isso se 
mostra falso. A população é uma abstração quando deixo de fora, por 
exemplo, as classes das quais é constituída. Essas classes, por sua vez, são 
uma palavra vazia se desconheço os elementos nos quais se baseiam. P. 
ex., trabalho assalariado, capital etc. Estes supõem troca, divisão do trabalho, 
preço etc. O capital, p. ex., não é nada sem o trabalho assalariado, sem o 
valor, sem o dinheiro, sem o preço etc. Por isso, se eu começasse pela 
população, esta seria uma representação caótica do todo e, por meio de 
uma determinação mais precisa, chegaria analiticamente a conceitos cada 
vez mais simples; do concreto representado [chegaria] a conceitos abstratos 
[Abstrakta] cada vez mais finos, até que tivesse chegado às determinações 
mais simples. Daí teria de dar início à viagem de retorno até que finalmente 
chegasse de novo à população, mas desta vez não como a representação 
caótica de um todo, mas como uma rica totalidade de muitas determinações 
e relações. A primeira via foi a que tomou historicamente a Economia 
em sua gênese. Os economistas do século XVII, p. ex., começam sempre 
com o todo vivente, a população, a nação, o Estado, muitos Estados etc.; 
mas sempre terminam com algumas relações determinantes, abstratas e 
gerais, tais como divisão do trabalho, dinheiro, valor etc., que descobrem 
por meio da análise. Tão logo esses momentos singulares foram mais ou 
menos fixados e abstraídos, começaram os sistemas econômicos, que se 
elevaram do simples, como trabalho, divisão do trabalho, necessidade, 
valor de troca, até o Estado, a troca entre as nações e o mercado 
mundial. O último é manifestamente o método cientificamente correto. 
O concreto é concreto porque é a síntese de múltiplas determinações, 
portanto, unidade da diversidade. Por essa razão, o concreto aparece 
no pensamento como processo da síntese, como resultado, não como 
ponto de partida, não obstante seja o ponto de partida efetivo e, em 
consequência, também o ponto de partida da intuição e da representação 
(MARX, 2011, p. 54).
Essa longa passagem sobre o método da Economia Política é indicativa da riqueza e da profundidade 
mencionadas anteriormente. Começar a análise pela maneira como a realidade se apresenta 
imediatamente a nós é um equívoco.
Por exemplo: tomar o Brasil em 2016 e sua população como objeto de análise é assumir uma 
representação completamente caótica e que não passa de uma abstração mental. Primeiro teríamos 
de definir o que se entende por Brasil: um Estado nacional, composto por agrupamentos sociais 
diferenciáveis, com dinâmicas econômicas regionais diferentes, com característicasdemográficas 
variadas, regido por um direito moderno – que, portanto, trata todos os cidadãos abstratamente como 
sujeitos jurídicos iguais –, marcado por relações econômicas de produção modernas, mas que, ao mesmo 
tempo, apresenta casos que podem ser configurados como análogos a trabalho escravo, de significativa 
desigualdade social, que exigem investigar as origens dessa desigualdade etc.
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O Brasil em 2016, a respeito do qual as pessoas têm em geral uma opinião e uma posição, é concreto, 
e dele podemos até falar porque ele é o resultado de uma série de sínteses, de determinações. Esse Brasil 
é um resultado mental, mas que não obrigatoriamente deve ser nosso ponto de partida para entendê-lo.
No entanto, uma categoria econômica como o valor, que, conforme vimos anteriormente, supõe uma 
população, relacionando-se de forma historicamente determinada, supõe também um tipo de Estado (não 
faz sentido perguntar-se sobre o valor das mercadorias em uma sociedade que não produz mercadorias 
– objetos úteis voltados para venda, por exemplo). Poderíamos também querer investigar relações de 
propriedade (para examinar os ganhos provenientes dela, como os ganhos de capital), mas a propriedade 
significa um tipo de relação de posse sobre objetos. Contudo, novamente entrando nesse círculo abstrato, 
rigorosamente a posse supõe a existência de famílias e também de relações de dominação.
O mérito da Economia Política identificado por Marx foi realizar esse movimento de abstração, 
eliminando o caráter caótico que encontramos imediatamente na realidade. Como comenta Marx (2011), 
um imenso progresso de Adam Smith foi descartar todas as singularidades do trabalho, tratando-o como 
atividade criadora de riqueza, como simplesmente trabalho (não um trabalho comercial, um trabalho 
manufatureiro, um trabalho agrícola), com a universalidade criadora de riqueza abstrata. E, a partir daí, 
elaborar seu sistema teórico.
O problema da Economia Política, como destacamos anteriormente, estava em elaborar sistemas 
econômicos com vistas a produzirem recomendações de ordem prática. Isso fica evidente em Ricardo, 
que na defesa da classe capitalista produz uma Teoria da Renda da Terra que aponta como a classe 
dos proprietários de terra é no fundo de “parasitas” do excedente econômico produzido pelas demais 
classes. As teorias que fundamentavam as recomendações práticas dos economistas políticos tinham 
um caráter instrumental, que com o desenrolar de contradições e conflitos sociais foram inclusive 
perdendo seu caráter científico. Lembre-se, Adam Smith é tomado por Marx como um economista 
político sério, comprometido com descobertas científicas; o mesmo não se poderia falar de Nassau 
Senior, um economista vulgar que elabora argumentos com vistas a defender suas posições (e da classe 
que lhe provê seu sustento – os capitalistas) contra os trabalhadores e a massa popular, sendo, na 
perspectiva de Marx, um sicofanta.
Como se enquadra a crítica da Economia Política? Como destaca Louis Althusser:
[...] “criticar” a economia política não pode significar a censura ou retificação 
desta ou daquela inexatidão ou questão de pormenor de uma disciplina 
existente – nem mesmo o preenchimento de lacunas, de espaços em 
branco, dando prosseguimento a um trabalho de exploração já amplamente 
feito. “Criticar a economia política” significa contrapor-lhe uma nova 
problemática e um novo objeto: portanto, questionar o objeto mesmo da 
economia política. (ALTHUSSER, 1980, p. 105).
Simplificando a discussão realizada por Althusser sobre o objeto da Economia Política, Aloísio 
Teixeira (2000) aponta que ao executar a crítica da Economia Política, Marx elabora um novo programa 
de pesquisa, reconceituando o domínio em que se dão as investigações econômicas científicas.
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Remetendo àquela longa citação sobre o método da Economia Política, Marx aponta que a crítica 
é, antes de tudo, metodológica. Os economistas tomavam os dados diretamente da realidade e os 
formulavam imediatamente como conceitos, ficando presos à superficialidade do real, à percepção 
imediata das coisas.
Vejamos um exemplo atual daquilo que é criticado por Marx.
Ao começarmos o estudo de microeconomia neoclássica (matriz dominante do pensamento 
econômico contemporâneo, essa microeconomia que nós aprendemos em todos os cursos de graduação 
em economia), é usual adotar seguinte procedimento:
• Considerando o modo de escolha dos agentes econômicos entre dois bens A e B, como se estabelece 
a escolha ótima?
• É de se supor que a renda dos agentes não é infinita, logo os agentes dispõem de uma restrição 
orçamentária.
• Os agentes têm preferências subjetivas próprias, mas que podem ser reveladas tomando um 
plano que relacione os diversos preços das duas mercadorias. Há diversos pontos nesse plano que 
representam as “cestas” dessas mercadorias e que podem ser ligados, formando uma curva de 
indiferença de acordo com a utilidade extraível.
• A escolha ótima do consumidor é o ponto de encontro entre a reta de restrição orçamentária e a 
curva superior de indiferença que tangencia essa reta restritiva.
• Ou seja, como diria Paul Samuelson, há apenas um princípio simples no núcleo dos problemas 
econômicos: o estudo matemático de funções de maximização sob condições de restrição. Esse 
“método” se assenta no “princípio universalmente válido” (para os neoclássicos) de recursos 
escassos para a satisfação de necessidades ilimitadas.
Seguindo a fundo a crítica da Economia Política de Marx, esse procedimento que acabamos 
de ilustrar tem a mesma validade científica que a observação da atuação da gravidade. Ele 
simplesmente constata que, no planeta Terra, devido à gravidade, os objetos soltos no ar caem. 
A título de ilustração (lembre-se), tomando a explicação sobre a escolha ótima dos “agentes”, 
tem o mesmo estatuto científico de se observar objetos caírem, isto é, nulo. Ou, de modo mais 
generoso, esse exercício é de praxiologia (um estudo, que pode até ser interessante, sobre atuação 
e comportamento).
Marx não se satisfazia em repetir que toda ciência seria supérflua se a aparência e a 
essência das coisas coincidissem. Fazer ciência seria apenas um exercício enfadonho – afinal, se 
houve tal coincidência imediata, bastaria olhar as coisas meticulosamente. A minha opinião sobre 
Economia e a de meu pai (que nunca estudou Economia), por exemplo, teriam o mesmo estatuto, 
seriam opiniões.
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Para Marx, “fazer ciência” não se trata de descrever fenômenos concretos tal qual eles são 
percebidos na realidade, oferecendo uma explicação organizada. Trata-se de construir o concreto como 
um concreto pensado (TEIXEIRA, 2000).
Mas esse “fazer ciência” é simultaneamente criticar a Economia Política, posicionar um novo objeto 
e desenvolver e assumir uma nova teoria e um novo método.
Algo que encontraremos em O Capital é uma lógica diferente daquela com que usualmente nos 
deparamos em outras obras, como nos demais economistas políticos. É uma lógica dialética, herdada 
da Filosofia clássica alemã, porém também criticada, invertida, negada e reorganizada em novas bases.
Como nosso curso é de economia, não cabe aqui se tecer muitos comentários sobre esse tema, que 
não é simples e que, “para variar”, também se envolve em suas próprias polêmicas.
A menção a essa lógica é para um indicativo de leitura.
Marx trabalha em O Capital com variados níveis de abstração, isso em todos os livros que compõem a obra. 
Não devemos,portanto, supor que o Livro 1 contenha o essencial da contribuição de Marx e que os demais livros 
vão apenas acrescentando elementos da realidade ao que foi exposto no primeiro livro. Na realidade, ao ler O 
Capital, descobrimos que afirmações presentes no Livro 1 serão negadas posteriormente. Mas isso se deve não a 
um erro do autor, mas a uma imposição do próprio objeto de análise (o modo de produção capitalista).
O nível geral de abstração de Marx, como destacado neste tópico, não é o capitalismo, tal qual se 
manifesta concretamente no real. Isso não porque o termo capitalismo só tenha se difundido depois da 
obra de Marx (como sugerem alguns comentadores), mas sim porque o objeto concreto de análise, para 
o qual são tomadas ilustrações sobre a Inglaterra ou o período histórico em que escreve, é um objeto 
abstrato-formal, o modo de produção capitalista.
O objeto de Marx está nas leis do movimento do capital e, como destaca Aloísio Teixeira (2000, p. 107): “o 
conceito de economia política que constrói, a partir da crítica de seus antecessores, é o da ciência que estuda 
essas leis”. Isto é, a dinâmica (contraditória) da reprodução do capital (e das relações sociais capitalistas).
Nesses termos, se numa formação social imperasse e dominasse o modo de produção capitalista, 
a crítica da Economia Política empreendida por Marx continuaria válida. De modo direto, afirmar que 
a crítica de Marx é superada, justificando simplesmente que assim o é porque estamos em um século 
diferente do seu, significa desconhecer por completo o objeto de análise do autor.
3 O PENSAMENTO ECONÔMICO DE MARX COMO ANÁLISE CRÍTICA DO 
CAPITALISMO
3.1 Introdução
De início, é interessante resgatarmos uma questão que já se coloca na abertura do primeiro 
capítulo de O Capital e que diz respeito a um questionamento presente na Economia Política desde 
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pelo menos Adam Smith: qual o propósito da produção em sociedades em que a riqueza é criada sob 
a forma de mercadorias?
Um dos objetivos dessa pergunta é precisamente radicalizar um elemento latente no sistema teórico 
smithiano a possibilidade de “desnaturalizar” as relações sociais. Como é possível extrair de Smith 
nos primeiros capítulos de A Riqueza das Nações, a produção de objetos que têm a forma social de 
mercadorias não é um dado natural.
O próprio percurso e a “decadência” da Economia Política clássica (esta última expressa num autor 
como John Stuart Mill) já nos permitem extrair uma observação interessante. Muito aquém de uma 
visão otimista e harmônica sobre o progresso social, simplesmente não existem elementos capazes de 
sustentar de modo inconteste que a introdução da maquinaria no capitalismo atue de modo a reduzir 
a labuta diária dos trabalhadores.
Como enfatizará Marx, a maquinaria é fundamentalmente um meio de produção de mais-valor.
Contudo, essas considerações só podem ser avaliadas em sua exaustão caso nós partamos de uma 
compreensão diferente acerca da riqueza material no capitalismo.
Esse procedimento não tem nada de absurdo, afinal, ele diz respeito a questionamentos 
tradicionais em economia, por exemplo: quanto há de riqueza? Como a riqueza é distribuída? 
Remete também a uma questão incluída decisivamente por Marx: quais são o propósito e a forma 
social específica da riqueza? (MURRAY, 2004).
Na perspectiva inaugurada por Marx, é apenas caracterizando o propósito e a forma social da 
riqueza que podemos responder às demais questões (crescimento e distribuição de riqueza). Daí uma 
das razões de Marx iniciar O Capital com a discussão sobre o valor das mercadorias. Como veremos, 
uma das conclusões dessa análise é a de que a finalidade da produção capitalista é basicamente a 
valorização de mais-valor (em termos convencionais, lucro), algo que vai de encontro a interpretações 
“ingênuas” (ou deliberadamente opostas) que afirmam ser a produção capitalista um meio para se 
maximizar o bem-estar social.
Desconsiderar ou abstrair da análise a forma social e do propósito específico da riqueza significa 
esvaziar da historicidade a produção teórica. Essa é, aliás, umas das primeiras críticas de Marx à Economia 
Política clássica: ela foi capaz de compreender apenas o duplo caráter das mercadorias (dispõem de 
valor de uso e valor de troca).
Esse limite da Economia Política clássica se manifesta com a necessidade imposta de se definir de 
modo unilateral o caráter determinante da riqueza. Por exemplo, resgatando aquilo que já vimos, em 
Adam Smith parecem existir duas definições de valor – uma determinada pelo trabalho contido e outra 
pelo trabalho comandado –, o que cria um problema para se examinar a formação dos preços; já para 
David Ricardo, a definição do valor é precisa (como trabalho contido), mas essa definição se complica 
porque valor é tomado como preço relativo (valor de troca), o que torna quase impossível essa Teoria do 
Valor chegar a uma teoria satisfatória dos preços.
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Como Marx efetivamente avança nessa problemática do caráter da riqueza, do valor e do trabalho?
A especificidade da teoria produzida por Marx é de que ela mantém aberto esse conjunto de questões 
em toda a sua análise, o que nos leva a retermos uma observação importante: é por isso que não 
encontraremos definições unilaterais em O Capital – sobre o que é valor, o que é capital ou mesmo quais 
as tendências da acumulação de capital.
Para esclarecer um pouco mais esse ponto, façamos aqui uma breve comparação com uma 
definição convencional em Economia: o que é capital – afinal, esse é o próprio título da obra mais 
importante de Marx.
Usualmente, capital é tratado com uma definição bastante simples: ele é qualquer forma de riqueza 
que possa ser usada para produzir mais riqueza. Nessa linha de argumentação, mesmo a capacidade de 
trabalho, que pode ser negociada no mercado, é vista como capital, como um “capital humano”. Seguindo 
esse raciocínio, em linhas gerais, todo indivíduo é um capitalista em potencial – afinal, qualquer um 
possui pelo menos esse chamado “capital humano”.
Contudo, há um problema aqui. Se não há diferença entre rendas de capital e rendas provenientes 
do trabalho (salário é visto também como uma renda de capital), como se pode discutir questões 
econômicas relevantes relacionadas à distribuição de renda? Além disso, se todo rendimento provém 
de algum tipo de capital (capital humano, capital cultural, capital de conhecimento etc.), nós podemos 
encontrar em toda a história alguma forma de capital, portanto não haveria nenhuma especificidade 
histórica no capital (e, no limite, no capitalismo).
O que temos como resultado dessa definição convencional simples de capital, como riqueza que gera mais 
riqueza, é que o capital não é resultado de qualquer processo histórico particular; suas bases são naturais. Não 
existiria, portanto, nenhum vínculo entre o conceito de capital e o conceito de modo de produção.
Enfatizando esse ponto, temos que, no limite, nossa compreensão se torna demasiadamente 
genérica e a-histórica, não carregando nenhum tipo de determinação histórica particularizada em 
relações sociais (MURRAY, 2004), ou seja, teríamos capital (e capitalismo) sem relações sociais, o que 
está relacionado a uma outra crítica, de cunho mais metodológico, também presente em todo o percurso 
teórico desenvolvido em O Capital.
Para abordá-la, seguindo Lebowitz (2009), vamos estabelecer agora duas novas perguntas.
• O que é válido para a prática individual tomada isoladamente também é aplicável para todos os 
indivíduos simultaneamente? Em termos mais gerais, o que se pode extrair da análise de atos 
individuais e isoladospode ser extrapolado para a totalidade daquilo que visamos analisar?
• Afinal, de onde provém efetivamente aquele mais-valor que se agrega à riqueza durante a 
atividade econômica? Para além da produtividade natural da terra (como se defendeu antes do 
advento da Economia Política moderna), pensando numa ampla economia de mercado, de onde 
provém o lucro?
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A primeira pergunta está relacionada com o individualismo latente no método da Economia Política 
clássica, particularmente em Smith. A segunda se refere a uma questão fulcral para o desenvolvimento 
da análise econômica moderna; como se imaginava na época de transição do feudalismo para o 
capitalismo, lucro é resultado simplesmente de se comprar barato e vender caro?
Veremos pelo modo de ambas as respostas serem desenvolvidas que elas são interdependentes e têm 
implicações gigantescas sobre o método estabelecido por Marx e as suas descobertas.
Tomemos a liberdade de adiantar alguns pontos, reposicionando nossa discussão num terreno mais 
próximo de nossa realidade cotidiana.
Por exemplo, um empresário capitalista pode ampliar sua margem de lucro elevando o preço da sua 
mercadoria? Pela observação cotidiana, podemos afirmar que sim. Contudo, é possível que todos os 
capitalistas, simultaneamente elevando seus preços, expandem a lucratividade? A resposta é não.
Claro que essa pergunta pode parecer uma pegadinha, afinal a generalização do argumento nos 
leva diretamente à noção de inflação (aumento generalizado do nível de preços). Contudo, o mais 
interessante é a estrutura subjacente da pergunta.
Seguindo Lebowitz (2009), é possível reformular esse tipo de pergunta para temas aparentemente 
desconexos. Por exemplo: em qualquer país se pode reduzir drasticamente os salários para aumentar 
a competividade internacional (pense no caso da China), mas se todos fizerem o mesmo... Outra 
formulação capciosa (já nos aproximando do estilo de Marx) é a seguinte: pode um trabalhador se 
tornar um capitalista? Ora, claro que sim, qualquer trabalhador, tomado isoladamente, pode se tornar 
capitalista, não há nenhum obstáculo a isso. Mas se todos os trabalhadores se tornassem capitalistas, 
quem trabalharia?
Outra questão interessante, próxima da realidade macroeconômica, é a de que empresários podem 
decidir emprestar seu capital-dinheiro a juros, em vez de empregar tal capital na indústria. Novamente, 
qualquer indivíduo (ou grupo de capitalistas) tem plena liberdade de escolha do seu portfólio; contudo, 
todos os capitalistas não podem simplesmente aplicar seu capital a juros e não produzirem nada.
O que podemos extrair desse conjunto de questões é que, tomando o geral, isto é, considerando 
a totalidade do capital social, muitas possibilidades colocadas para o ato individual e isolado não são 
válidas para o todo, sendo algumas completamente absurdas.
Mas atenção, o que temos não é apenas um apontamento sobre as condições e características diferentes 
estabelecidas entre o todo e suas partes, mas especialmente a forma pela qual a interação das partes afeta 
suas condições de existência e a constituição do todo. A perspectiva de análise deve visar a esse todo, que, 
ratifiquemos, não é a soma das partes individualizadas e separadas, mas sim reconhecer a diferença entre 
o modo pelo qual as coisas aparecem e a essência (o fundamento) dessa aparência.
Não obstante, esse procedimento não significa argumentar que todos os atores individuais são 
iludidos (ou alienados, tomando esse termo pelo seu senso comum). O que Marx enfatiza é precisamente 
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o contrário: o capitalista individual e o trabalhador isolado não estão errados ao tomarem o modo pelo 
qual as coisas aparecem como verdade. A aparência da realidade também é uma parte importante e 
constitutiva do real.
Pense como as coisas aparecem para o capitalista individual, ou melhor, como verdadeiramente são 
para ele. O que busca um capitalista (ou empresa capitalista)? Nem precisamos de Marx para responder 
a isso, basta um pouco de elementos de microeconomia para saber que a busca é de lucro (certamente 
não qualquer lucro, mas lucro máximo).
O que é esse lucro para o capitalista? Bem, ele pode ser visto basicamente como a diferença entre 
o preço de venda e o preço de custo de sua mercadoria. Esses preços não são o resultado do somatório 
das remunerações dos salários, aluguéis, juros de capital adiantado e, por fim, o que sobra é o lucro? 
Nada mais “correto” então do que uma das teorias de preços de Smith: preço é igual ao somatório das 
remunerações (salários, aluguel de terras, juros do capital-dinheiro e lucro do capital produtivo), ou, 
em termos mais modernos, de acordo com as suposições elementares da Teoria Microeconômica, preço 
(em condições de equilíbrio perfeito) é igual ao custo marginal (que remunera adequadamente todos os 
fatores de produção – trabalho, capital e terra).
Assim, é plenamente compreensível que qualquer pessoa que tome a perspectiva do capitalista 
isolado como verdade jamais poderá aceitar que a exploração da mercadoria força de trabalho tenha 
algo a ver com a origem de um mais-valor criado no processo produtivo.
É plenamente consequente que, portanto, dentro de uma perspectiva de Economia clássica (e mesmo 
variantes neoclássicas, como a microeconomia, que nos é ensinada durante a graduação), examinar 
os preços relativos é uma questão central. Se em um país os salários e a renda são relativamente 
baixos, enquanto noutro país o juro é baixo, será de se esperar que no primeiro país se utilizem mais 
trabalho e terra, e que um capitalista do outro país utilize relativamente mais capital. Algo difundido 
exaustivamente desde David Ricardo.
Contudo, não é apenas buscando obter insumos pelo menor preço possível que um capitalista 
individual é capaz de alcançar seu objetivo (de lucro máximo), mas destacadamente usando esses insumos 
eficientemente. Assim, quase qualquer meio para se ampliar a produção com uma dada quantidade de 
insumos deve ser buscado.
As consequentes avaliação e radicalização desse raciocínio nos permitem observar que há uma 
lógica para se expandir a jornada de trabalho (intensificando-a ou prolongando-a). Desse modo, não 
apenas o capitalista pode obter uma maior produção de cada trabalhador, como também, relativamente, 
ele economiza com capital fixo.
Ainda neste ponto, pode-se compreender por que todo capitalista (mesmo tomado isoladamente) 
tem interesse no aumento da produtividade. Maior produtividade significa precisamente mais produtos 
no mesmo tempo, o que reduz o custo das mercadorias em comparação com os concorrentes (que não 
introduziram aumentos de produtividade).
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As ações do capitalista expressam a consciência de imposição da realidade: a existência da 
concorrência. O desempenho dos capitalistas individuais é avaliado de acordo com a habilidade 
apresentada na concorrência (seja um capitalista responsável pela inovação, seja aquele que segue uma 
inovação bem-sucedida de outros).
Visando, por exemplo, ampliar sua rentabilidade, o capitalista, após uma expansão de sua 
produtividade, é capaz de baratear seu produto, mesmo que seja um percentual um pouco menor que 
o de seus concorrentes.
Essa ação se impõe sobre os demais capitalistas do ramo ou setor como um imperativo para a 
adoção generalizada desse novo método de produção que foi capaz de ampliar a produtividade.
O resultado importante é que, diante da ação da concorrência que moveu, digamos, um capitalistaa introduzir a inovação, o novo preço que pode ser formar após a generalização desse método tende a 
ser menor para todos, fazendo desaparecer aquele ganho diferencial do início da rodada.
Esse é um ponto destacado pelo próprio Marx e que nos serve de um exemplo para as duas colocações 
anteriores: i) a ação individual não é um erro, mas dispõe de racionalidade e finalidade próprias; ii) 
o resultado coletivo, a reprodução global, produz um resultado diferente da simples soma das ações 
individuais e, por seu turno, deve ter uma explicação diferente da racionalidade individualizada.
Todavia, a particularidade do raciocínio de Marx não está no destaque desses dois pontos, que, 
aliás, podem ser extraídos também de uma leitura inspirada em David Ricardo, por exemplo. Essa 
particularidade está na conexão estabelecida por Marx entre o avanço da produtividade presente na 
ação isolada dos capitalistas e a evolução do valor da força de trabalho, bem como a capacidade de 
extração de mais-valor pelo capital.
Não há nenhuma relação para o ato individual e isolado entre a redução de preços produzida pela 
concorrência, que aparece na realidade capitalista, e a expansão da mais-valia extraída, aspecto esse sim 
essencial para a continuidade da acumulação de capital
Como destaca Lebowitz (2009), o problema, em suma, não é com os atores individuais, afinal eles percebem 
corretamente a realidade – do modo pelo qual ela se impõe imediatamente a eles. Uma das críticas centrais 
expostas em O Capital é às análises econômicas que tentam explicar a reprodução do sistema capitalista 
tomando como base o modo pelo qual as coisas aparecem imediatamente aos agentes.
É esse tipo de postura, inclusive, que Marx chama de economia vulgar (a que se fará menção aqui 
em breve). Essa economia vulgar “de fato apenas traduz as estranhas concepções dos capitalistas, 
perturbados pela concorrência, para uma linguagem aparentemente mais teórica, generalizante, e se 
esforça em construir a correção dessas concepções” (MARX, 1986, p. 176).
O que essa “perspectiva econômica” (vulgar) não é capaz de apreender é que a própria reprodução 
do modo de produção capitalista produz as condições adequadas para si – não somente reproduzindo 
as condições materiais necessárias, mas especialmente as relações sociais indispensáveis a ela.
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Para avaliar essa questão, tomemos o modo pelo qual os direitos naturais dos seres humanos 
aparecem no capitalismo como quase o Jardim do Éden, seguindo a crítica de Marx.
É notório que os trabalhadores sob o capitalismo são livres, afinal os contratos de trabalho são 
voluntários e estabelecidos entre sujeitos juridicamente iguais. Ademais, o sustento do trabalhador e 
de seus dependentes é de responsabilidade praticamente exclusiva do próprio trabalhador (o contrato 
de trabalho não exige garantias à família do trabalhador, exceto em casos muito excepcionais que 
envolvem autorrisco, mas não no geral). Ora, se o trabalhador não tiver autoconfiança e autoestima em 
sua atividade, o risco será dele e de seus dependentes.
Além disso, o trabalhador assalariado trabalha para si, o seu salário é de uso livre; logo, para garantir as 
melhores condições para si, ele deve atuar de forma “egoísta”. Como os salários são pagos em dinheiro, e 
o trabalhador pode livremente escolher o que comprar com seu dinheiro, a responsabilidade do controle 
do dinheiro é exclusivamente dele.
Se é com dinheiro que tanto os trabalhadores como os capitalistas adquirem bens, na esfera da 
circulação das mercadorias eles são qualitativamente iguais, portanto somos todos (independentemente 
do lugar ocupado na produção) consumidores.
Qualquer trabalhador sabe que existe uma variabilidade nos salários; trabalhos diferentes são remunerados 
em magnitudes diferentes. Logo, é o trabalhador, ao escolher sua atividade, que determina o seu destino. A 
conclusão usual é a de que o tamanho do salário depende da escolha e do talento individual.
Por fim, como a riqueza no capitalismo aparece sob a forma de mercadorias, e essas mercadorias 
são adquiridas com dinheiro, é de se imaginar que toda atividade econômica tem como finalidade gerar 
dinheiro, não existindo diferenças qualitativas (só de quantidade) entre salários, lucros, juros ou aluguéis.
Assim, é quase óbvio que os trabalhadores, e também os capitalistas, são apenas consumidores, 
que devem ser egoístas, autointeressados e autoconfiantes e que recebem dinheiro de acordo com seu 
talento, além de que riqueza é igual a dinheiro.
Seguindo essa linha de raciocínio, não é porque é possível assumir que os agentes econômicos em 
geral tenham certas características psicológicas que essas características devam ser tomadas como o 
ponto de partida da análise. Elas são na realidade o ponto de chegada. A teoria deve ser capaz de explicar 
inclusive por que os agentes têm essas tais características, e não simplesmente tomá-las como naturais.
Dentre as críticas de Marx, particularmente à “economia vulgar” (mas também à Economia Política 
clássica inglesa), está o fato de que a explicação não se encontra numa dita natureza humana evidente, 
mas que cabe à ciência explicar por que certas características aparecem como naturais e qual a 
relação entre essa aparência e as condições essenciais da reprodução do próprio modo, historicamente 
determinado, de se produzir riqueza pelos seres humanos.
Como destaca Lebowitz (2009), o problema, em suma, não é com os atores individuais, afinal 
eles percebem corretamente a realidade – do modo pelo qual ela se impõe imediatamente a eles. 
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Uma das críticas centrais expostas em O Capital é às análises econômicas que tentam explicar a 
reprodução do sistema capitalista tomando como base o modo pelos quais as coisas aparecem 
imediatamente aos agentes.
Seguindo Murray (2004), daí a importância de questionarmos antes de tudo o que é riqueza e, na trilha 
de Marx, radicalizar (no sentido de ir à raiz) o porquê de determinada forma de aparecer da realidade.
Muito longe de um trabalho datado e superado, essa crítica de Marx pode ser, como aponta 
Lebowitz (2009), direcionada inclusive à Teoria Econômica Neoclássica, que toma essa linguagem 
ostensivamente mais teórica e generalizada (porém vulgar para Marx ) – que a cada passo de 
sua teorização toma como ponto de partida a maneira pela qual as coisas aparecem para os 
atores individuais e que são de fato os resultados da própria reprodução do capitalismo (relações 
juridicamente livres entre capitalistas e trabalhadores, trocas sob a forma-dinheiro, responsabilidade 
individual pelo seu destino etc.)
A “vulgaridade” está em começar com a pressuposição de certas condutas individuais que, ao final, 
apenas são reafirmadas pelas conclusões, ou seja, uma explicação pretensamente científica da realidade 
que apenas reafirma a aparência dessa mesma realidade.
Tomando a aparência como a totalidade disponível do real, é certamente impossível se apresentar e 
explicar qualquer coisa parecida com mais-valia ou qualquer relação coercitiva que permeie a realidade 
impondo certos padrões de conduta econômica aos agentes.
Uma das chaves para a compreensão da mais-valia está precisamente na diferenciação exigida 
desde os resultados da Economia Política clássica, que é a diferenciação entre trabalho e força de 
trabalho. O que um trabalhador vende não é o seu trabalho, mas sim a sua força de trabalho. Essa é uma 
diferenciação teórica importante, condição para se fazer ciência, mesmo que na superfície da sociedade 
o salário apareça como um preço do trabalho, como uma certa quantidade de dinheiro que é paga parauma determinada quantidade do trabalho. Afinal, se o modo pelo qual as coisas aparecem fosse idêntico 
à realidade, fazer ciência seria mesmo algo completamente dispensável; bastaria olhar para as coisas e 
compreendê-las imediatamente, sem nenhum tipo de reflexão.
Mas uma das tarefas elementares da ciência é nos oferecer a capacidade de diferenciar o essencial 
do secundário, desvendar as relações não evidentes e que inclusive contrariam a observação cotidiana. 
Como afirma Marx:
Parece também paradoxal que a Terra gire ao redor do Sol e que a 
água seja formada por dois gases altamente inflamáveis. As verdades 
científicas serão sempre paradoxais, se julgadas pela experiência de 
todos os dias, a qual somente capta a aparência enganadora das coisas 
(MARX, 1996, p. 98).
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3.2 Mercadoria, duplo caráter do trabalho e fetichismo
A riqueza das sociedades em que domina o modo de produção capitalista 
aparece como uma “imensa coleção de mercadorias” e a mercadoria 
individual como sua forma elementar. Nossa investigação começa, portanto, 
com a análise da mercadoria (MARX, 1996, p. 165).
Essa citação é do primeiro parágrafo de O Capital. Como apontado anteriormente, logo na abertura 
de sua exposição Marx apresenta seu objeto de estudo.
Apenas isso já o coloca na contramão de outras análises econômicas: a reflexão não é sobre como 
se formam os preços, quais as condições ótimas para o funcionamento dos mercados, como deve ser a 
política econômica de um país ou qual a melhor estratégia para o desenvolvimento econômico. Ainda 
que essas questões sejam muito importantes e devam ser bem-respondidas, não é tomando-as como 
perguntas elementares que chegamos às melhores respostas, afinal elas mesmas são respostas fruto da 
análise de objetos produzidos pelo conhecimento e pela ciência.
Também nesse primeiro parágrafo já se evidencia algo que percorreu nossa discussão até este 
momento: a riqueza é o objeto de estudo e ela aparece como uma imensa coleção de mercadorias. 
Atenção (as palavras não são fortuitas, e seus sentidos são fundamentais para a elaboração conceitual): 
Marx não afirma que a riqueza é, mas sim como ela aparece (ela parece ser). Ela aparece assim porque 
isso é uma “obviedade”: para nos alimentar, vestir, para viajar e mesmo trabalhar (pense no transporte), 
precisamos adquirir mercadorias. Aqueles que têm muitas mercadorias não são considerados ricos?
Claro, como lembra Carcanholo (2011), alguém poderia afirmar que riqueza é dinheiro, mas para 
que serve intuitivamente o dinheiro senão para adquirir mercadorias? Ou guardar um papel sujo sob o 
colchão tem alguma outra serventia?
Assim, o ponto de partida da análise, não por uma arbitrariedade pessoal, mas sim por necessidade 
da investigação, deve ser essa tal mercadoria, olhada com um pouco mais de cuidado.
Nos dois parágrafos seguintes, ainda da abertura de O Capital, afirma Marx:
A mercadoria é, antes de tudo, um objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas 
propriedades satisfaz necessidades humanas de qualquer espécie. A natureza 
dessas necessidades, se elas se originam do estômago ou da fantasia, 
não altera nada na coisa. Aqui também não se trata de como a coisa satisfaz 
a necessidade humana, se imediatamente, como meio de subsistência, isto é, 
objeto de consumo, ou se indiretamente, como meio de produção.
Cada coisa útil, como ferro, papel etc., deve ser encarada sob duplo ponto de 
vista, segundo qualidade e quantidade. Cada uma dessas coisas é um todo de 
muitas propriedades e pode, portanto, ser útil, sob diversos aspectos. Descobrir 
esses diversos aspectos e, portanto, os múltiplos modos de usar as coisas é um 
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ato histórico. Assim como também o é a descoberta de medidas sociais para 
a quantidade das coisas úteis (MARX, 1996, p. 165, grifos nossos).
Como já fora apontado pela Economia Política clássica, que Marx resgata, essa tal mercadoria tem 
um duplo caráter: ela é um valor de uso, que satisfaz necessidades humanas; e também é valor de troca, 
já que tem a capacidade de se trocar por outras mercadorias.
Ainda seguindo essa última citação, a descoberta da medida social (o valor de troca) da quantidade 
de coisas úteis (valor de uso) é um ato histórico, o que afasta Marx da definição oferecida por Ricardo e 
seus sucessores. Valor de troca não é um dado qualquer, mas um dado social.
Contudo, rapidamente já aparece uma questão curiosa: “o valor de troca aparece, de início, como 
a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de uma espécie se trocam” (MARX, 1996, 
p. 166). Tem-se, por ora, o seguinte:
• Mercadoria é valor de uso e valor de troca.
• Valor de troca é a relação de troca entre os valores de uso.
Considerando essas duas afirmações, parece que temos a definição do valor de troca como uma 
contradição em termos: ele é algo inerente à mercadoria e, ao mesmo tempo, relativo, posto que a 
relação de troca entre duas mercadorias pode variar constantemente no tempo e no espaço.
Para esclarecer esse ponto, é necessário continuar a reflexão colocando o foco no valor de troca. Isso 
porque, segundo a colocação de Marx, fora de uma relação de troca a mercadoria nada pode responder 
a respeito de seu valor de troca (ou valor).
De modo mais preciso, de acordo com Marx, fora de uma relação de troca sequer podemos afirmar 
categoricamente que um determinado objeto ou atividade é uma mercadoria, já que esse objeto não 
experimenta nenhuma relação social de produção (ele sequer tem valor de troca). Por exemplo, não faz 
o menor sentido considerarmos o almoço produzido pelos nossos familiares e consumido por nós como 
mercadorias, ainda que se possa ver nesse almoço um valor de uso.
Nos termos de Marx, quando um valor de uso é indiferente a qualquer determinação econômica 
formal (tomado como um valor de uso isoladamente de qualquer outro elemento), ele sequer entra no 
domínio da Economia Política. Apenas quando esse valor de uso serve como uma base material para 
uma relação econômica é que se pode falar do valor de troca de uma mercadoria.
Isso pode parecer uma obviedade, especialmente quando nos lembramos dos argumentos da 
Economia Política clássica; contudo, já se coloca uma questão fundamental para a reflexão de Marx: a 
relação de troca é, portanto, uma relação social e, como tal, é determinada historicamente.
Além disso, pode-se considerar uma outra condição “óbvia” para que uma relação de troca faça 
sentido: os objetos trocados devem ser qualitativamente diferentes (afinal, não faz sentido trocar um 
litro de leite de vaca por um outro litro idêntico de leite de vaca).
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Contudo, outra vez, essa obviedade coloca para o começo da análise alguns pontos que, à medida 
que a análise avança, vão se transformando:
• A necessidade não possuidora de um indivíduo precisa coincidir com a posse não necessária 
de outro.
• Aqueles “objetos” que não têm valor de uso efetivo para seus proprietários (não valores de uso) 
precisam ser valores de uso para os não proprietários.
Retornando então ao valor de troca, é ainda possível dizer que uma mercadoria tem tantos valores 
de troca quanto a quantidade de mercadorias diferentes dela que existirem no mercado e que por ela 
pudessem ser trocadas.
Por exemplo:
1 camiseta = 10 quilos de chá
 = 40 quilos de café
 = 0,5 bermuda
 = 10 meias
 = 1/x carro popular
 etc.
A única alternativa é reconhecer que na realidade o valor de troca só pode ser a manifestação de 
algodiferente dele. O valor de troca só pode ser a expressão de uma outra substância que dele se pode 
distinguir. Após se prescindir do valor de uso da mercadoria, resta-lhe simplesmente a propriedade de 
ser produto do trabalho.
Nos termos colocados por Marx:
Na própria relação de troca das mercadorias seu valor de troca apareceu-nos 
como algo totalmente independente de seu valor de uso. [...]. O que há de 
comum, que se revela na relação de troca ou valor de troca da mercadoria, 
é, portanto, seu valor (MARX, 1996, p. 168).
Para ilustrar seu argumento, Marx nos lembra um exemplo geométrico que conhecemos. Quando 
é necessário comparar a área de figuras retilíneas, o procedimento é decompor essas figuras em 
triângulos. Para encontrar a área desses triângulos é preciso multiplicar a base pela altura e dividir o 
produto pela metade.
O que Geometria tem a ver com Economia Política? A ilustração é apenas para nos lembrar que para 
se obter uma resposta científica, muitas vezes é necessário alterar os termos de comparação. Segundo 
Marx, com a questão dos valores de troca ocorre algo semelhante: esses valores devem ser reduzidos a 
algo comum (que eles representam).
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Mas, no nosso caso, esse algo comum não é geométrico, físico, químico ou qualquer coisa natural, 
ele é algo puramente social (e histórico). Como apontado, a resposta dada por Marx é que o que 
resta da redução dos valores de troca a algo comum é o fato de as mercadorias serem produtos do 
trabalho humano.
Bem, essa realmente parece uma afirmação arbitrária. Um jovem estudante de Economia poderia 
simplesmente afirmar que não, outras coisas podem ser definidas como “o algo em comum” das 
mercadorias (por exemplo, uma utilidade subjetiva).
Primeiro vamos recapitular alguns pontos:
1. A mercadoria tem um duplo caráter: ela é valor de uso e é valor de troca.
2. O valor de uso isoladamente sequer faz de um objeto útil uma mercadoria, para ser uma mercadoria 
esse objeto útil deve ser direcionado à troca.
3. Valor de troca é precisamente a relação de troca entre as mercadorias. Mas valor de troca parece 
algo variável (muda no espaço e com o tempo) e relativo (é uma característica que aparece 
quando duas mercadorias são colocadas em igualdade).
4. Existe algo comum às mercadorias que lhes permite manifestar seus valores de troca, já que 
o mercado coloca mercadorias qualitativamente diferentes como iguais (mudando apenas as 
quantidades trocadas).
O ponto 4 parece ser pacífico e evidente; contudo, ao chegarmos a ele, algo se alterou na discussão. 
Podemos nomear esse algo comum de uma forma diferente de valor de uso ou valor de troca, já que ele 
é outra coisa. A esse algo comum Marx dá o nome de valor.
Atenção, isso significa que em Marx valor e valor de troca não são sinônimos. O valor de troca é a 
forma de manifestação do valor, a expressão do valor.
O valor é uma qualidade da mercadoria, uma propriedade dela. Essa propriedade é a capacidade que 
ela tem de comprar outras mercadorias. Quando essa capacidade se manifesta, ela é chamada de valor 
de troca.
Carcanholo (2011) oferece uma ilustração perspicaz de um fenômeno conhecido que é semelhante: 
um ímã é capaz de atrair um objeto metálico, pois ele tem uma propriedade chamada magnetismo. 
Como lembra o autor, é possível olhar um ímã de todos os lados, mas jamais veremos ou saberemos da 
existência de sua imantação, exceto pela sua manifestação – a capacidade de atração ou repulsão.
Do mesmo modo, só o valor de troca é evidente. Mas devemos tratar esse “evidente” em dois sentidos: 
i) ele é visível; ii) ele evidencia algo (diferente dele, chamado valor).
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Assim, o procedimento de Marx que o leva até o valor não é algo arbitrário. É “apenas” o reconhecimento 
de que as mercadorias (esses produtos do trabalho humano), ao serem trocadas, adquirem uma realidade 
socialmente homogênea, distinta da sua heterogeneidade como objetos úteis (perceptíveis aos sentidos).
Diferentemente do que um jovem estudante de Economia poderia sugerir, ao se encontrar com Marx 
após seus primeiros estudos de microeconomia (ou de elementos de Economia), de que esse algo valor 
pode ser muitas coisas, e não só trabalho, cabe ressaltar que, no caso de Marx:
Essa propriedade-valor que as coisas possuem na sociedade mercantil 
não é natural a elas. Em outras palavras, as coisas não têm valor por serem 
coisas; só possuem valor porque encontram-se dentro de uma sociedade 
mercantil. É essa sociedade, ao igualar o trigo com o milho no mercado [por 
exemplo], que confere ao trigo sua propriedade de ser valor; ela e só ela lhe 
confere o poder de comprar.
Então, o valor é uma qualidade entregue às coisas pela sociedade, mas 
não por qualquer sociedade, exclusivamente pela sociedade mercantil. Logo, 
o valor é uma qualidade social e histórica das coisas.
Algo, quando é produto do trabalho humano, adquire valor porque na 
sociedade ocorre intercâmbio mercantil. Este é resultado da existência 
de certo tipo de relações sociais entre os produtores, de relações entre 
produtores formalmente independentes e autônomos, que produzem uns 
para os outros, para a troca (CARCANHOLO, 2011, p. 35-36, grifos nossos).
O que Carcanholo nos apresenta ao abordar a questão do valor em Marx é que, na verdade, o autor 
alemão apenas pressupôs algo já sugerido no seu primeiro parágrafo de O Capital: de que vamos tratar 
do modo de produção capitalista. Assim, em sua perspectiva, o valor é produto não de uma qualidade 
natural das mercadorias, mas sim de um conjunto de relações sociais de produção estabelecidas 
historicamente entre os seres humanos – relações essas que inclusive fazem da mercadoria o que ela é 
(mercadoria também não é algo natural, afinal nem sequer sempre existiu na história como expressão 
generalizada e aparente da riqueza).
Esse algo em comum das mercadorias, chamado valor, não é um simples dado de pesquisa para se 
formular a teoria, ele é a própria manifestação de um conjunto de relações sociais que atribuem uma 
qualidade social às coisas, fazendo delas mercadorias. Ainda segundo Carcanholo (2011, p. 36): “o 
valor é uma espécie de carimbo que a sociedade estampa sobre a materialidade física de cada valor de 
uso, transformando-o em mercadoria. Essa marca indelével, impressa na face da mercadoria, diz: Valor. 
Indelével, mas invisível”.
Tem-se então que aquela primeira afirmação (sobre o modo pelo qual a riqueza aparece) de que 
“mercadoria é valor de uso e valor de troca” deve ser ajustada, de acordo com a essência das relações 
sociais de produção, para mercadoria é valor de uso e valor.
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Considerando ainda o modo pelo qual as trocas são efetuadas na realidade, e considerando que as 
mercadorias são produtos da atividade humana que transforma a realidade (ou seja, trabalho), devemos 
reconhecer um outro ponto, descoberto por Marx.
Se a Economia Política clássica já havia descoberto o duplo caráter da mercadoria (valor de uso e 
valor de troca determinado pelo tempo de trabalho), é Marx quem demonstrará que por trás desse duplo 
caráter das mercadorias há um duplo caráter do trabalho que as cria.
É bastante difundido que, para Marx, valor é quantidade de trabalho, muitas vezes apresentando 
as suas conclusões em bastante proximidade com aquelas de David Ricardo. Para compreendermos o 
porquê dessa afirmação e precisar seus argumentos, vamos abordar antes a que trabalho se refere Marx.
Voltando à questão da relação de troca,sabemos que ela opera uma cisão nos próprios produtos do 
trabalho (as mercadorias): de um lado, como coisas úteis (valores de troca), e, de outro, como valores 
sociais. Essa cisão é feita, segundo Marx, a partir do momento em que os objetos são produzidos para 
serem trocados, ou seja, quando os objetos se tornam mercadorias. Cabe examinar que atividade é essa 
que constituiu a mercadoria.
De início, temos um trabalho útil, um trabalho privado de um produtor voltado para a satisfação 
de uma determinada necessidade (e como esse produtor visa à troca, essa necessidade já deve ser vista 
como indiretamente social). em contrapartida, quando o produto do trabalho chega ao mercado para 
ser trocado por outra mercadoria, o que se coloca socialmente é o valor.
Essa propriedade da mercadoria de comprar outras mercadorias, que chamamos de valor, tem uma 
substância. Essa substância é precisamente o elemento que torna permutável um tipo de trabalho 
privado por outro tipo de trabalho privado.
Quando duas mercadorias são igualadas no mercado, os seus valores de uso são “suspensos” (eles não entram 
na cena social), e o que se tem é uma operação curiosa que é capaz de igualar trabalhos úteis diferentes (por 
exemplo, o trabalho de um pedreiro pode ser igualado ao trabalho de um padeiro, já que ambos têm valor).
Esses dois trabalhos que são concretamente diferentes (a atividade de um padeiro é visivelmente 
diferente da atividade de um pedreiro) são colocados lado a lado sob a mesma forma, como trabalhos 
privados que satisfazem necessidades sociais (como componentes do trabalho total da sociedade).
Devemos reconhecer que os trabalhos privados também têm um duplo caráter: eles são, ao mesmo 
tempo, trabalhos diferentes (atividades diferentes) e trabalhos iguais (já que podem ser comparados no 
mercado). Enquanto trabalhos concretos, eles são incomparáveis, mas quando chegam ao mercado e 
são colocados em igualdade, suas características que os diferenciam são abstraídas, e eles são tomados 
simplesmente como trabalho humano em geral.
Colocando a discussão em termos mais precisos, quando se abstrai o valor de uso (como foi apontado 
anteriormente), abstrai-se também o trabalho que concretamente criou a mercadoria, restando apenas 
a propriedade de que as mercadorias envolvidas na troca são produtos de trabalho em geral.
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Como afirma Marx:
Deixando de lado então o valor de uso dos corpos das mercadorias, resta a elas 
apenas uma propriedade, que é a de serem produtos do trabalho. Entretanto, o 
produto do trabalho também já se transformou em nossas mãos. Se abstraímos 
o seu valor de uso, abstraímos também os componentes e formas corpóreas 
que fazem dele valor de uso. Deixa já de ser mesa ou casa ou fio ou qualquer 
outra coisa útil. Todas as suas qualidades sensoriais se apagaram. Também já 
não é o produto do trabalho do marceneiro ou do pedreiro ou do fiandeiro 
ou de qualquer outro trabalho produtivo determinado. Ao desaparecer o 
caráter útil dos produtos do trabalho, desaparece o caráter útil dos trabalhos 
neles representados, e desaparecem também, portanto, as diferentes formas 
concretas desses trabalhos, que deixam de diferenciar-se um do outro para 
reduzir-se em sua totalidade a igual trabalho humano, a trabalho humano 
abstrato (MARX, 1996, p. 167-168).
Assim, diante de um processo de abstração e desaparecimento, as diferenças vão sendo reduzidas 
até uma igualdade completa de diferentes trabalhos. A abstração é precisamente a abstração do 
desigual, fenômeno social capaz de os igualar.
Se as mercadorias são diferentes, como elas se igualam e se comparam no mercado? Esta parece 
uma pergunta simples, que nem se precisaria fazer quando estudamos Economia, afinal ela já está dada.
Se as mercadorias se igualam no mercado, cabe ao economista entender quais os determinantes 
dessa igualdade, quais os determinantes dos preços e suas condições de otimização.
A dificuldade desse começo de O Capital é precisamente porque Marx nos desloca do lugar comum, 
das obviedades da observação. A pergunta “Como é possível que objetos desiguais entrem em igualdade?” 
não é nada óbvia!
Segundo Marx, apenas se analisando o duplo caráter do trabalho que produz as mercadorias 
(trabalho concreto e trabalho abstrato) se chega à compreensão rigorosa de como é possível e efetivada 
a igualdade dos desiguais.
No caso, é a própria forma assumida pelo trabalho no capitalismo que lhe torna possível produzir 
mercadorias. A mercadoria, que aparece inicialmente como duas coisas – valor de uso e valor de troca –, 
guarda ainda um duplo caráter no próprio trabalho que a criou. Como trabalho concreto se cria valor de 
uso e como trabalho abstrato gera valor.
Assim, não é o simples fato de as mercadorias serem fruto do trabalho que permite a Marx afirmar que 
valor é trabalho, como muitos pensam. A simples atividade concreta de seres humanos que transforme a 
realidade (um trabalho concreto) não é suficiente para que os produtos desse trabalho sejam constituídos 
como produtos para outras pessoas. A forma social da riqueza, expressa como mercadoria, e que é 
igualada em um espaço social específico chamado mercado (que também é expressão de relações sociais 
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de produção historicamente determinadas), produz uma abstração na própria realidade, que Marx 
chama de trabalho abstrato.
O que devemos reter aqui é que essa abstração destacada por Marx não é uma simples escolha 
intelectual dele, não é uma construção mental do pesquisador, mas algo produzido pela própria 
realidade. Como afirma o próprio Marx:
Esta redução [de diferentes trabalhos a um trabalho abstrato] aparece como 
uma abstração que se faz diariamente no processo de produção social. A 
redução de todas as mercadorias a tempo de trabalho não é uma abstração 
maior nem menos real que a redução a ar de todos os corpos orgânicos 
(MARX, 2003, p. 15).
Tem-se então que, diferentemente de David Ricardo, para quem valor, valor de troca ou preços relativos 
podem ser tomados como termos análogos, a exposição de Marx, já no primeiro capítulo de O Capital, 
aponta para uma diferença entre a noção de valor de troca (ou preço relativo) e o conceito de valor.
Essa distinção é indispensável para a devida compreensão do problema do valor (que, lembremos, 
remete aos primórdios da Economia Política) em Marx. A simples análise do valor de troca é incapaz de 
capturar as particularidades histórico-sociais abertas pela forma da riqueza capitalista. O valor de troca 
é a forma de manifestação do valor. Logo, as suas características denotam apenas as características 
quantitativas do valor.
Todavia, o valor não tem apenas características quantitativas, ele tem forma (que se revela na 
própria mercadoria) e tem uma substância (que o constitui).
Como afirma Marx:
Portanto, um valor de uso ou bem possui valor, apenas, porque nele está 
objetivado ou materializado trabalho humano abstrato. Como medir então a 
grandeza de seu valor? Por meio do quantum nele contido da “substância 
constituidora do valor”, o trabalho. A própria quantidade de trabalho é 
medida pelo seu tempo de duração, e o tempo de trabalho possui, por sua 
vez, sua unidade de medida nas determinadas frações do tempo, como hora, 
dia etc. (MARX, 1996, p. 168).
Uma leitura convencional, despreocupada com o método de exposição aplicado por Marx, poderia 
concluir que o valor é medido pela quantidade de trabalho, à imagem e semelhança da formulação de 
David Ricardo. Mas, para a surpresa de muitos (inclusive de um vasto contingente de economistas), essa 
afirmação está, a rigor, equivocada.
Nacitação que acabamos de apresentar, Marx não afirma apenas que valor é trabalho; sua análise 
é mais tênue e precisa. O que se tem é que um bem tem valor por ser a materialização do trabalho 
humano, mas não qualquer trabalho humano, e sim o “trabalho humano abstrato”. Como já apontado, 
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ele é a substância do valor, uma substância que não apresenta um átomo sequer de “natural”, sendo 
uma substância puramente social. Como medir a grandeza do valor?
Como sabemos, os modos de se medir os fenômenos são diferentes, de acordo com as características 
desses fenômenos. Por exemplo, para se medir distância podemos usar o sistema métrico; já para medir 
pressão, o sistema métrico não tem muito sentido, e o mais adequado pode ser usando um barômetro 
(um tubo cheio de mercúrio). O que Marx aponta é que, para se avaliar a grandeza da substância social 
do valor, que é o trabalho humano, o modo mais adequado é pela própria quantidade desse trabalho.
Sendo obrigados a reconhecer isso, qual a medida mais adequada? A resposta apontada por Marx 
(2003) é meramente que a medida imanente (inerente) da existência (afinal, o trabalho existe) é o 
tempo. Aliás, o que são nossos anos de vida? Eles não são a medida no tempo de nossa existência? É isso 
o que permite a Marx afirmar ser, “portanto, apenas o quantum de trabalho socialmente necessário ou 
o tempo de trabalho socialmente necessário para produção de um valor de uso o que determina a 
grandeza de seu valor” (MARX, 1996, p. 169, grifos nossos).
Ainda que aparentemente sutil, o procedimento de Marx nada tem de absurdo. Simplesmente 
devemos reconhecer que substância, grandeza e medida do valor são coisas diferentes – ainda que o 
fundamento seja o trabalho humano.
 Lembrete
Resgatando o que foi discutido anteriormente, essa é uma diferença 
significativa entre a Teoria do Valor de Marx e a Teoria do Valor-Trabalho 
desenvolvida pela Economia Política clássica. 
Recapitulando a discussão, “a mercadoria apareceu-nos, inicialmente, como algo dúplice, valor 
de uso e valor de troca. Depois, mostrou-se que também o trabalho, à medida que é expresso no 
valor, já não possui as mesmas características que lhe advêm como produtor de valores de uso” (MARX, 
1996, p. 171, grifos nossos). Devemos diferenciar valor de troca e valor, substância e medida do valor. 
Essa tarefa é resultado da análise do duplo caráter do trabalho que produz as mercadorias (trabalho 
concreto e trabalho abstrato). Ainda segundo Marx: “Essa natureza dupla da mercadoria foi criticamente 
demonstrada pela primeira vez por mim. Como esse ponto é o ponto crucial em torno do qual 
gira a compreensão da Economia Política, ele deve ser examinado mais de perto” (MARX, 1996, 
p. 171, grifos nossos).
Uma visão um pouco mais cética em relação a Marx poderia questionar o seguinte: mas, se Marx 
afirma que o que abstrai as diferenças dos trabalhos concretos, tornando-os homogêneos, é o mercado, 
essa não é uma afirmação compatível com a Economia Política clássica e mesmo com algumas tradições 
econômicas heterodoxas não marxistas?
Para responder a esse questionamento, primeiro precisamos resgatar que o tipo de abstração a que 
se refere Marx não é uma abstração mental simplesmente, mas uma abstração que é realizada pela 
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própria realidade. Segundo, o duplo caráter do trabalho, no qual se concretiza o trabalho abstrato, é um 
resultado histórico e, portanto, localizado em um modo particular de produção de riqueza humana – na 
economia capitalista (BORGES NETO, 2007).
Como afirma Borges Neto (2007), de acordo com Marx, algo como uma “utilidade em geral” pode ser 
concebida apenas como uma generalização mental sem existência própria, daí porque ela deve ser 
descartada como possível fundamento dos valores. A problemática colocada por Marx não é se uma teoria 
do valor baseada na utilidade tem ou não consistência lógica (aliás, ela pode até ter, como é o caso geral 
do pensamento neoclássico), mas sim se essa chamada utilidade em geral tem alguma existência real.
Ainda segundo Borges Neto (2007), podemos explicar isso do seguinte modo: é impossível usar 
alimentos sólidos para matar a sede de alguém; em um deserto não há quantidade de alimento sólido 
que seja capaz de saciar a sede. Ora, se a utilidade em geral realmente existisse, isso seria possível, já que 
a distinção seria apenas relativa e quantitativa. Essa relação quantitativa e relativa se manifesta apenas 
na esfera do mercado, como valores (fruto da abstração real, que é o trabalho abstrato), e não como 
objetos úteis (simples valores de uso tomados subjetivamente).
Porém, o duplo caráter do trabalho, ainda que nos ajude a precisar o teor da crítica de Marx a outros 
modos de explicação do valor e da relação entre os valores, não é um ponto de conclusão da análise 
sobre mercadoria e fundamentos do valor. Isso porque, como lembra Andrade (2010), a abstração real 
não resolve a oposição interna à mercadoria entre valor de uso e valor.
Dentro de um processo de circulação simples de valores (supondo que as relações de troca sejam 
generalizadas e que, desse modo, os indivíduos sejam todos produtores livres de mercadorias voltadas 
para trocas), as mercadorias precisam se realizar como valores antes de poderem se realizar como 
valores de uso, e vice-versa.
Como destaca Marx, antes da troca as mercadorias precisam evidenciar ao conjunto da 
sociedade que são valores de uso (esses valores de uso devem ser reconhecidos como tais). Isso 
significa que o trabalho desempenhado na produção das mercadorias precisa receber aquele selo 
chamado valor. Todavia, esse signo de valor recebido pelas mercadorias só é confirmado com a 
troca efetiva de mercadorias.
Como afirma Andrade (2010, p. 36), “isso significa que uma mercadoria não pode expressar o seu 
valor e sua utilidade [social] se não for vendida, não importando quanto tempo de trabalho foi gasto 
para produzi-la”.
Esse ponto reabre, sob novos termos, a discussão sobre valor. Não é porque uma mercadoria é 
produzida visando à troca e porque o “mercado” produz uma abstração real dos trabalhos efetuados 
que se pode afirmar categoricamente que a mercadoria tem valor.
Por exemplo, digamos que eu produza chá de boldo engarrafado visando vender meus produtos 
no mercado. Caso a minha quantidade produzida seja vendida, isso significa que o valor das minhas 
mercadorias foi “chancelado” (considerado) como uma cota-parte do tempo de trabalho da sociedade. 
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Contudo, caso eu não consiga vender minha mercadoria, na prática, o meu trabalho individual não teve 
reconhecimento social. Logo, é como se esse trabalho não existisse, desaparecendo inclusive o seu valor.
Não foi destacado que o valor é social? Se a sociedade não o reconhece, mesmo que se tenha 
dispêndio de trabalho humano concreto, o valor não existirá.
A implicação desse argumento desenvolvido por Marx é que, novamente, valor não é trabalho 
(contido), uma simples qualidade dada das mercadorias; o valor deve ser constantemente ratificado 
como social nas relações sociais de produção.
Essa é uma das razões pelas quais, já nos primeiros capítulos de O Capital, Marx afirma que o 
trabalho humano abstrato aponta para o fundamento da crise (GRESPAN, 1994). Em linhas gerais, 
quando uma imensa coleção de mercadorias não encontra consumidores no mercado, o que se tem é 
o questionamento não meramente do preço dessas mercadorias, mas fundamentalmente do valor, o 
caráter social dos trabalhosprivados nelas materializados.
Essa questão, da constituição dos diversos trabalhos privados (trabalho concreto) em um tempo não 
diferenciado (tempo de trabalho abstrato), é abordada por Marx da seguinte maneira:
Cada possuidor de mercadorias só quer alienar sua mercadoria por outra 
mercadoria cujo valor de uso satisfaça sua necessidade. Nessa medida, a 
troca é para ele apenas um processo individual. Por outro lado, ele quer 
realizar sua mercadoria enquanto valor, em qualquer outra mercadoria que 
o agrade do mesmo valor, quer a sua própria mercadoria tenha ou não valor 
de uso para o possuidor da outra. Nessa medida, a troca é para ele um 
processo genericamente social. Mas o mesmo processo não pode ser 
simultaneamente para todos os possuidores de mercadorias apenas 
individual e, ao mesmo tempo, apenas genericamente social.
Vista a coisa mais de perto, percebe-se que para todo possuidor de mercadoria 
toda mercadoria alheia funciona como equivalente particular de sua 
mercadoria, sua mercadoria, portanto, como equivalente geral de todas as 
outras mercadorias. Mas como todos os possuidores de mercadorias fazem o 
mesmo, nenhuma mercadoria é equivalente geral e por isso as mercadorias 
não possuem também nenhuma forma valor geral relativa, na qual elas possam 
equiparar-se como valores e comparar-se como grandezas de valor. Portanto, 
elas não se defrontam, de modo algum, como mercadorias, mas apenas como 
produtos ou valores de uso (MARX, 1996, p. 210-211, grifos nossos).
Como afirma Borges Neto (2002), isso parece um círculo vicioso. Para o possuidor isolado de uma 
mercadoria, o ato de troca de sua mercadoria é puramente individual. Todavia, para que a troca ocorra, 
sua mercadoria deve ter o seu valor reconhecido diante de todas as outras mercadorias – logo, sua 
ação deve se inserir em um processo social. Como é possível que o mesmo ato seja, ao mesmo tempo, 
individual e social?
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Digamos que:
1 casaco = 20 metros de linho.
O que se tem é que, na relação de troca dessas duas mercadorias (casaco e linho), o valor (do 
casaco) precisa tomar a forma de uma mercadoria completamente diferente para se expressar (o linho). 
É possível dizer, então, que o valor se autonomizou de seu valor de uso, fazendo-se valer pelo valor de 
uso de outra mercadoria.
Pensando essa forma bastante simples de troca entre duas mercadorias, é necessário que o trabalho 
específico que criou a mercadoria (o casaco, em nosso exemplo) seja reconhecido como unidades 
abstratas de trabalho social, sendo o valor de uso do linho o suporte para sua manifestação (a expressão 
do valor de troca).
Novamente, sendo o trabalho abstrato uma realidade social historicamente determinada, ele 
apenas tem existência quando a troca é tomada pela sociedade como uma forma econômica geral de 
sociabilidade, e é a extensa generalização dessa forma que exige a constituição de um equivalente geral 
(uma mercadoria que seja o equivalente de todas as demais) – ou seja, do dinheiro.
Colocando noutros termos, essa objetividade impalpável que é o trabalho humano abstrato precisa 
ser expressa de uma forma capaz de suspender (no duplo sentido de suprimir e elevar) o confronto 
entre os múltiplos valores de uso das mercadorias, restando às mercadorias apenas o fato de elas serem 
simples “geleia de trabalho humano indiferenciado” (MARX, 2013, p. 116).
Mas afinal, como superar esse tal “círculo vicioso”?
Segundo Marx:
Toda pessoa sabe, ainda que não saiba mais do que isso, que as mercadorias 
possuem uma forma comum de valor, que contrasta de maneira muito marcante 
com a heterogeneidade das formas naturais que apresentam seus valores de uso 
– a forma dinheiro. Aqui cabe, no entanto, realizar o que não foi jamais tentado 
pela economia burguesa, isto é, comprovar a gênese dessa forma dinheiro [...]. 
Com isso desaparece o enigma do dinheiro (MARX, 1996, p. 176-177).
Novamente, em vez de recorrermos a alguma abstração ideal, cabe examinar a origem (ainda que 
lógica) disso que chamamos dinheiro e que desempenha um papel real que é capaz de superar essa 
aparente contradição de um ato que é individual e social, simultaneamente.
Desse modo, para que o mais simples trabalho individual possa ser capaz de operar uma troca, o 
tempo de trabalho individual precisa colocar-se como um tempo de trabalho geral, e, além disso, a própria 
ação social precisa fazer de uma determinada mercadoria o equivalente geral. Isso significa afirmar que 
o “dinheiro, como medida do valor, é a forma necessária de manifestação da medida imanente do valor 
das mercadorias: o tempo de trabalho” (MARX, 1996, p. 219).
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Seguindo o argumento de Marx, é a própria ação social, desempenhada pelo conjunto das 
mercadorias, que elege uma mercadoria específica para ser a representante dos valores. O curioso é que 
essa representação é inscrita no próprio corpo da mercadoria, independentemente de um valor de uso 
natural. Assim, “ser equivalente geral passa, por meio do processo social, a ser a função especificamente 
social da mercadoria escolhida. Assim ela torna-se – dinheiro” (MARX, 1996, p. 211).
É por isso que mesmo um “pedaço de papel sujo” – se fôssemos olhar apenas para a natureza óbvia 
de nosso dinheiro mais aparente – pode ser tomado socialmente como dinheiro. Jogar fora um papel 
sujo qualquer é totalmente compreensível; rasgar o “papel sujo que foi eleito como dinheiro”, bem, 
dizem que isso é loucura.
O que Marx aponta com sua discussão sobre esse aparente círculo vicioso das trocas é que, 
diferentemente da economia burguesa – que trata o dinheiro como um simples instrumento, como uma 
conveniência –, o dinheiro é uma “necessidade lógica, econômica e social” (ANDRADE, 2010, p. 39). Ele é 
a própria expressão da oposição entre valor de uso e valor e entre trabalho concreto e trabalho abstrato 
(BORGES NETO, 2002).
Tratando desse caráter necessário e histórico do dinheiro, afirma Marx:
O cristal monetário é um produto necessário do processo de troca, no qual 
diferentes produtos do trabalho são, de fato, igualados entre si e, portanto, 
convertidos em mercadorias. A ampliação e aprofundamentos históricos 
da troca desenvolvem a antítese entre valor de uso e valor latente na natureza 
da mercadoria. A necessidade de dar a essa antítese representação externa 
para a circulação leva a uma forma independente do valor da mercadoria 
e não se detém nem descansa até tê-la alcançado definitivamente por 
meio da duplicação da mercadoria em mercadoria e em dinheiro. Na 
mesma medida, portanto, em que se dá a transformação do produto do 
trabalho em mercadoria, completa-se a transformação da mercadoria em 
dinheiro (MARX, 1996, p. 211-212, grifos nossos).
Desse modo, é possível afirmar que o próprio desenvolvimento histórico das relações de troca, 
um dos pressupostos do modo de produção capitalista, impõe a necessidade econômica prática da 
duplicação da mercadoria em mercadoria e dinheiro como uma necessidade lógica capaz de garantir 
a consistência social e a regularidade econômica das trocas.
Com a constituição do dinheiro como o equivalente geral e, portanto, como a mercadoria universal, 
todas as demais mercadorias são convertidas em simples equivalentes singulares do dinheiro.
Tem-se com isso que, em Marx, a análise da mercadoria e, consequentemente, do valor não está 
separada da análise do dinheiro. Como destaca Andrade (2010), não se pode afirmar que dinheiro e 
mercadoria sejam simplesmente coisas diferentes; isso faz sentido apenas quando se contrapõem as 
várias mercadorias entre si, mas quando a oposição é entre dinheiro e mercadoria,tem-se uma espécie 
de tensão entre ambos (eles se atraem e se repelem mutuamente).
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O dinheiro (forma de expressão necessária do valor das mercadorias) agora pela sua própria 
forma social pode se apresentar de modo autônomo em relação às mercadorias. Com isso, o valor, 
autonomizado na forma de dinheiro, aparece simplesmente como algo intrínseco a ele, quase como 
algo natural, como se o dinheiro fosse a verdadeira encarnação do valor.
O problema é que esse fenômeno social explicado por Marx é, ainda hoje, usualmente tomado de 
duas formas: i) por um convencionalismo, ou ii) com um caráter fetichista.
O convencionalismo significa supor que, no caso do dinheiro, ele seja simplesmente o produto de 
uma decisão coletiva e arbitrária dos seres humanos – como algo convencionado pelos seres humanos 
para facilitar as trocas, por exemplo.
Já o fetichismo implica uma naturalização das relações sociais que dão suporte para a existência da forma 
do dinheiro, ou seja, avalia-se como se o dinheiro não fosse o resultado da expressão dos valores de todas as 
mercadorias (como afirma Marx), mas sim que as mercadorias se expressam no dinheiro simplesmente por ele 
ser dinheiro (por exemplo, como se ouro e prata, quando eram referências paras as moedas nacionais, fossem 
naturalmente dinheiro e, por serem dinheiro, as mercadorias naturalmente devessem ser trocadas por eles).
Seguindo o raciocínio de Marx exposto até agora, tem-se que o valor é resultado do processo de 
abstração real, um desdobramento não do duplo caráter das mercadorias, mas sim do duplo caráter do 
trabalho que produz mercadorias. O valor é, portanto, a objetivação (no sentido de se tornar objeto e de 
se considerar objetivo – e não algo subjetivo) da abstração real das diferenças dos trabalhos concretos. 
Já o dinheiro, como forma de autonomização do valor, coloca-se como uma exteriorização (patente e 
visível aos olhos de todos) dessa mesma abstração real, como a abstração “aí no mundo”.
A figura a seguir resume, brevemente, parte de nosso trajeto até aqui.
Abstração real 
(produzida pelo 
“mercado“)
Expressão das relações 
sociais de produção
Trabalho objetificado
Objetivação da abstração 
real do trabalho
Forma de existência 
imediata do valor
Exterioração da 
abstração real
Ser-aí do valor
Dinheiro como 
mercadoria universal
Desdobramento da 
própria forma-valor
Trabalho abstrato
Valor
Dinheiro
Resultado
Figura 12 – Do trabalho abstrato ao dinheiro
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Antes de dar sequência a uma discussão pormenorizada do dinheiro e de como ele expressa o valor, 
é importante retomar o que foi mencionado anteriormente sobre fetichismo (e convencionalismo).
O fetichismo, que tem como uma de suas características o aspecto de naturalizar as relações sociais, 
não é um fenômeno exclusivo do dinheiro.
A rigor, Marx trata desse fenômeno ainda no primeiro capítulo de O Capital. Afirma nosso autor 
alemão: “à primeira vista, a mercadoria parece uma coisa trivial, evidente. Analisando-a, vê-se que ela 
é uma coisa muito complicada, cheia de sutileza metafísica e manhas teológicas” (MARX, 1996, p. 197).
Tomadas pelos seus valores de uso, as mercadorias não apresentam nenhuma surpresa, elas 
simplesmente atendem a necessidades humanas (das mais diversas).
Consideradas pelas determinações (quantitativas) do valor, as mercadorias também não carregam 
nenhum segredo. Assim como é evidente que os seres humanos modificam a natureza (matérias naturais) 
ao produzir mercadorias, é compreensível que o dispêndio ou a quantidade de trabalho envolvido nessa 
transformação influenciam a grandeza do valor.
Desse modo, as sutilezas metafísicas da mercadoria não provêm nem do valor de uso, nem da 
grandeza do valor.
A questão colocada por Marx é, então, a seguinte: “De onde provém, então, o caráter enigmático do 
produto do trabalho, tão logo ele assume a forma mercadoria?” (MARX, 1996, p. 198). O interessante é 
a resposta dada por Marx em seguida: “Evidentemente, dessa forma mesmo” (MARX, 1996, p. 198). Ou 
seja, o caráter misterioso da mercadoria provém da própria forma-mercadoria.
Essa forma reflete aos seres humanos as características dos produtos do trabalho como meras 
propriedades naturais das coisas. As relações sociais de troca aparecem como relações físicas entre 
coisas físicas, mesmo que saibamos que tanto a mercadoria quanto o valor não são dados da natureza.
Com essa inversão, colocada pela própria realidade, os produtos da atividade humana aparecem 
como independentes de qualquer ação humana.
Portanto, os homens relacionam entre si seus produtos de trabalho como 
valores não porque consideram essas coisas meros envoltórios materiais 
de trabalho humano da mesma espécie. Ao contrário. Ao equiparar seus 
produtos de diferentes espécies na troca, como valores, equiparam 
seus diferentes trabalhos como trabalho humano. Não o sabem, mas o 
fazem. Por isso, o valor não traz escrito na testa o que ele é. O valor 
transforma muito mais cada produto de trabalho em um hieróglifo 
social (MARX, 1996, p. 200, grifos nossos).
Mais uma vez o destaque está não na construção mental, mas na dinâmica da realidade. É a própria 
dinâmica social (capitalista) que converte os produtos do trabalho em mercadorias, mas que, ao mesmo 
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tempo, encobre as características sociais do trabalho humano, apresentando-as como propriedades 
inerentes à coisa criada pelo trabalho.
Com isso, tem-se um processo de “coisificação” das relações sociais (como se a relação de troca 
se desse unicamente entre coisas e não envolvesse seres humanos em sociedade), o que converte a 
forma mercadoria em praticamente um “hieróglifo social”. A própria relação de troca, que transfere de 
mãos as mercadorias trocadas, opera como se transferisse inclusive o lugar social dos seres humanos 
nessa troca – como se a relação fosse simples e unicamente entre as mercadorias, sem intervenção 
humana.
Em vista disso, aquela afirmação de Marx (de que a mercadoria parece algo trivial, mas que, na 
verdade, guarda sutilezas metafísicas) deve ser tomada com bastante cuidado. Como destaca Andrade 
(2010), o sentido do argumento de Marx não é o de que seja possível esclarecer, com a devida análise 
crítica, que aquilo que parece ser algo misterioso tem na verdade sua origem em um fenômeno ordinário 
da vida real. O argumento de Marx é precisamente o contrário: aquilo que, à primeira vista, parece algo 
trivial, após a análise crítica é que revela suas sutilezas e artimanhas.
Slavoj Žižek dá um exemplo desse argumento do seguinte modo:
[...] quando um marxista crítico encontra um sujeito burguês mergulhado no 
fetichismo da mercadoria, a censura do marxista não é: “A mercadoria pode 
lhe parecer um objeto mágico dotado de poderes especiais, mas na verdade 
é apenas a expressão reificada das relações entre pessoas”; a verdadeira 
censura marxista é antes: “Talvez você ache que a mercadoria lhe pareça mais 
uma simples encarnação das relações sociais (que o dinheiro, por exemplo, é 
apenas um tipo de vale que dá direito a uma parte do produto social), mas 
não é assim que as coisas realmente lhe parecem; em sua realidade social, 
por meio de sua participação na troca social, você comprova o fato estranho 
de que a mercadoria realmente lhe parece ser um objeto mágico dotado de 
poderes especiais”. Em outras palavras, podemos imaginar o sujeito burguês 
tomando aulas de marxismo que falam sobre o fetichismo da mercadoria;entrando, depois do curso, ele procura novamente o professor, queixando-se 
de ainda ser vítima do fetichismo da mercadoria. O professor lhe diz: 
“Mas agora você sabe como as coisas são, que as mercadorias são apenas 
expressões das relações sociais, que não há nada de mágico nelas!”, e o 
aluno retruca: “É claro que sei, mas parece que as mercadorias com que 
trabalho não sabem!” (ŽIŽEK, 2008, p. 459).
Como explica Andrade (2010), a anedota de Žižek indica precisamente os limites de uma crítica 
desmistificadora do fetichismo. Esse é um dos fatores que separam Marx da Economia Política clássica.
Não é a determinação do valor em Marx, ou a noção de valor como algo social, nem mesmo a 
necessidade do dinheiro, que o separa da Economia Política clássica (especialmente de Ricardo e dos 
ricardianos de esquerda), mas sim destacadamente o caráter da crítica desenvolvida por Marx.
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Se comparado diretamente com Smith, um mérito de Ricardo, como vimos, foi o de deslocar os 
problemas da Economia Política do reino fascinante da circulação (de mercadorias e valores) para a esfera 
da produção (condições materiais objetivas de produção de valor e extração de lucro). O movimento 
realizado por Marx não é o de criticar o feito de Ricardo, retornando assim novamente a Smith, mas sim 
dar um “duplo giro” em toda a Economia Política clássica.
Não é que a forma (expressa na circulação das mercadorias) não importe, interessando somente 
a essência ou o conteúdo das relações. Não se pode descartar a forma, tampouco considerá-la uma 
simples forma qualquer, trivial e sem segredos. Quando Marx afirma que eles não sabem o que fazem, 
mas ainda assim o fazem, já temos, como afirma Žižek (2008), um nível fundamental daquilo que pode 
ser chamado, em termos marxistas, de ideologia.
A ideologia não é uma ilusão que mascara a verdade das coisas, ou um desconhecimento do 
funcionamento das coisas – como se fosse um dado subjetivo –; ela é, digamos, uma ilusão objetiva, 
uma fantasia que desempenha um papel indispensável na estruturação da própria realidade social.
Após essa exposição sobre o fetichismo, podemos retomar a discussão sobre dinheiro e avançar 
sobre as considerações de Marx a respeito de capital.
3.3 Capital e mais-valia
3.3.1 As definições de capital
A explicação sobre o que é capital e sua origem é oferecida por Marx por meio da análise de dois 
circuitos de troca. O primeiro é o circuito mercadoria, dinheiro e mercadoria (M – D – M), ou seja, duas 
mercadorias diferentes são trocadas através da mediação do dinheiro. O outro circuito é o do dinheiro, 
mercadoria e novamente, dinheiro (D – M – D).
Carcanholo e Sabadini (2011) apresentam uma simulação do pensamento de Marx, como se fosse 
um raciocínio imaginário de Marx discorrendo em sua própria cabeça, recapitulando algumas de suas 
descobertas até o momento. Vejamos:
a) Pelo que já sei da mercadoria e do valor, entendo perfeitamente a 
circulação, que pode ser expressa da seguinte maneira:
M1 – D – M2
b) O que isso representa? O produtor da mercadoria do tipo 1 troca sua 
mercadoria pela do tipo 2, troca esta intermediada pelo dinheiro. M1 não 
era um valor de uso para o primeiro produtor, mas M2, sim. É justamente 
o contrário o que acontece com o segundo produtor. Depois da troca 
efetuada, ambos os produtores são possuidores de bens que consideram 
respectivamente valores de uso para si. Ambas as mercadoria sairão agora 
da circulação e se destinarão ao consumo.
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c) No entanto, observo agora a realidade e vejo que há um tipo de circulação 
que até este momento não me é compreensível teoricamente:
D – M – D’
d) Trata-se de uma lógica diferente da circulação anterior: o dinheiro 
é lançado na circulação para se obter mais dinheiro, pois D’ é maior que 
D. O objetivo não é a troca de valores de uso, mas, sim, ganhar dinheiro. 
Dissemos que essa circulação não é compreensível teoricamente, embora 
sejam perfeitamente claros seus objetivos.
e) Darei um nome a esse dinheiro que é lançado na circulação para se 
incrementar: o nome é capital. Ainda não sei sua natureza, ainda não tenho 
explicação sobre sua existência e sobre como funciona, mas já lhe dei um 
nome (CARCANHOLO; SABADINI, 2011, p. 123-124, grifo dos autores).
Seguindo esse raciocínio de Marx, podemos nomear também os circuitos apresentados. O circuito 
M1 – D – M2, ou simplesmente M – D – M, é o circuito de troca da circulação simples. A suposição é que 
todos os agentes econômicos são produtores livres independentes, que trocam suas mercadorias nesse 
lugar social chamado mercado, utilizando o dinheiro como equivalente geral para essas trocas. Já o 
circuito D – M – D é aquele característico de relações capitalistas plenamente constituídas.
Como se pode observar, a diferença entre ambos os circuitos é que enquanto na circulação simples 
(M – D – M) temos duas mercadorias nos extremos, o que evidencia o objetivo final da atividade, a saber, 
a satisfação de necessidades, no circuito D – M – D (fórmula geral do capital, como veremos) é o próprio 
valor de troca (manifestação do valor), transfigurado sob a forma dinheiro (exteriorização do valor), o 
objetivo da atividade.
Na circulação simples, o dinheiro opera como meio para que o detentor de uma mercadoria seja 
capaz de satisfazer suas necessidades (trocar a mercadoria que tem por outra que deseja). Isso se inverte 
com o circuito D – M – D: nele, a mercadoria não é um meio de vida, já que sua finalidade é conseguir, 
ao final do processo, dinheiro. Com efeito, temos que a existência de necessidades humanas capazes de 
serem satisfeitas com a mercadoria é que é um meio para se acessar o dinheiro (a mercadoria universal).
Essas são constatações empíricas que “apenas” reconhecem a diferença entre a circulação simples e 
a circulação do dinheiro (como capital). Sem embargo, mesmo essa constatação novamente diferencia 
Marx de outras abordagens (“vulgares”). Considerar capitalismo como uma simples economia de mercado 
baseada na interação dentre agentes livres, que trocam mercadorias, é tomar o movimento do capital 
um movimento de circulação simples. Ora, a mera constatação de que M – D – M é diferentemente de 
D – M – D já aponta para o fato de que isso que chamamos de capitalismo não é uma singela economia 
de mercado.
Indiscutivelmente, parece haver algo de errado com esse circuito D – M – D, afinal, por que alguém 
buscaria trocar dinheiro por mercadorias para depois reaver dinheiro? Isso só poderá fazer sentido se a 
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magnitude de dinheiro extraída ao final for superior ao volume de dinheiro desembolsado no início do 
processo (D – M – D’).
Então, o circuito D – M – D significa exatamente que o valor (autonomizado sob a forma dinheiro), 
inserido num processo, deve alterar sua magnitude, obtendo ao final desse processo um mais-valor 
(dinheiro acrescido de dinheiro). Essa é a definição elementar daquilo que Marx apresenta como 
mais-valia, que podemos tratar de modo mais preciso como um mais-valor.
Recordando a conceituação do dinheiro, o agente desse circuito iniciado com o dinheiro é o próprio valor.
Tomando o circuito D – M – D em sua radicalidade (lembre-se, tomando-o pela sua raiz), o que ele 
expressa é um movimento do próprio valor, agora em processo, que é capaz de alterar a sua magnitude, 
convertendo-se num valor-capital. Capital é basicamente o nome reduzido do valor-capital.
Essas são as definições elementares de mais-valia e capital. Colocadasassim, chegam até a 
surpreender as censuras apresentadas pelos detratores de Marx ou de qualquer coisa semelhante. Mas 
tão logo se avança na discussão, começam a ficar um pouco mais claras algumas raízes dessas censuras.
Retomemos: a atividade na circulação simples (Mercadoria – Dinheiro – Mercadoria) serve de meio a um 
fim que se dá fora da circulação (satisfazer necessidades humanas por meio do consumo de mercadorias, 
que são retiradas do mercado e, portanto, da circulação); já na circulação do dinheiro como valor-capital, a 
satisfação de necessidades é que é um meio, enquanto a atividade tem uma finalidade em si (dinheiro que 
retorna como dinheiro) e de forma ilimitada (dinheiro que gere mais dinheiro crescentemente).
Como lembra Andrade (2010), essa é a principal distinção de Marx diante da Economia Política 
clássica ao caracterizar a economia capitalista. O desenvolvimento inicial e elementar do conceito de 
capital já nos aponta que o impulso à acumulação crescente de riqueza não é um desvio moral ou uma 
falha de qualquer ordem; ele é parte constituinte e fundante da lógica interna à acumulação.
Dessa forma, é necessário passar a reconhecer que a mudança do circuito M – D – M para o circuito 
D – M – D não é simplesmente uma inversão de ordem, essa mudança se inscreve também na própria 
conceituação de capital.
Se, como afirmado anteriormente, capital (o valor-capital) significa o movimento do valor em 
processo, não se pode afirmar que capital seja então simplesmente dinheiro ou que seja simplesmente 
mercadoria, muito menos afirmar que ele seja dinheiro e mercadoria. Ele é exatamente o processo, ou 
seja, dinheiro a se tornar mercadoria e mercadoria a se tornar dinheiro. Essa é a primeira dificuldade 
encontrada quando se busca definir de modo fixo o capital; ele não tem uma definição firme, imóvel, já 
que o próprio conceito aponta para um movimento, um deixar de ser algo e vir a ser outro, mantendo-se 
o mesmo durante todo o processo.
Novamente, cabe destacar que a acumulação de dinheiro pelo dinheiro não tem nada de louca ou 
bárbara. Para se constituir socialmente como capitalista, o possuidor do dinheiro deve obrigatoriamente 
assumir como sua finalidade subjetiva o movimento objetivo de expansão do valor.
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Esse ponto é interessante, pois ele nos ajuda a desconstruir uma pré-noção (preconceito) em relação 
à abordagem crítica de Marx. Nesse ponto da análise, capitalista é basicamente o possuidor de dinheiro 
que o lança na circulação visando obter racionalmente mais dinheiro. Observe, portanto, que não há 
nenhum critério moral envolvido na definição de capitalista, muito menos um juízo sobre a conduta 
social desses sujeitos (os tais capitalistas).
Como reconhece Andrade (2010, p. 53): “na realidade a própria subjetividade do capitalista é 
comprometida nesse processo, motivo pelo qual o próprio Marx localiza não na pessoa do capitalista, 
mas no ‘seu bolso’ a origem e ‘eterno retorno’ do movimento do valor”. É desse modo que Marx se 
refere ao capitalista quando desenvolve o conceito de capital (como portador consciente do movimento 
insaciável do capital).
Tomando o movimento do capital como sua finalidade subjetiva, qualquer capitalista sabe que “todas 
as mercadorias, por mais esfarrapadas que elas pareçam ou por pior que elas cheirem, são, na verdade e 
na fé, dinheiro [...] meios milagrosos para fazer de dinheiro mais dinheiro” (MARX, 1996, p. 274).
O que se coloca em jogo é tão somente que o valor criado nesse movimento do valor em processo 
(do capital) possa ser superior ao valor originário. Como afirma Marx (1996, p. 261): “Ele se distingue, 
como valor original, de si mesmo como mais-valia, assim como Deus Pai se distingue de si mesmo como 
Deus Filho, e ambos são de mesma idade e constituem, de fato, uma só pessoa”.
A analogia de Marx com a doutrina cristã da Santíssima Trindade ressalta o fato de que o valor-
capital em processo parece dispor de uma propriedade oculta que lhe permite gerar mais valor, tão 
naturalmente quanto uma pereira dá peras.
Como é de se supor, esse fenômeno certamente não é lá tão natural quanto parece, mas é mesmo 
assim que ele tende a aparecer.
Por quê? E, afinal, qual a definição de capital para Marx? Vejamos:
[...] Na circulação D – M – D, pelo contrário, ambos, mercadoria e dinheiro, 
funcionam apenas como modos diferentes de existência do próprio valor, 
o dinheiro o seu modo geral, a mercadoria o seu modo particular, por assim 
dizer apenas camuflado, de existência. Ele passa continuamente de uma 
forma para outra, sem perder-se nesse movimento, e assim se transforma 
num sujeito automático. Fixadas as formas particulares de aparição, que 
o valor que se valoriza assume alternativamente no ciclo de sua vida, então 
se obtêm as explicações: capital é dinheiro, capital é mercadoria. De fato, 
porém, o valor se torna aqui o sujeito de um processo em que ele, por 
meio de uma mudança constante das formas de dinheiro e mercadoria, 
modifica a sua própria grandeza, enquanto mais-valia se repele de si 
mesmo, enquanto valor original, se autovaloriza. Pois o movimento, pelo 
qual ele adiciona mais-valia, é seu próprio movimento, sua valorização, 
portanto autovalorização (MARX, 1996, p. 273-274).
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Essa passagem nos permite apreender sinteticamente a riqueza da definição do que é capital: é um 
movimento que tem formas de existência alternadas (forma dinheiro e forma mercadoria); é valor em 
expansão, um movimento que modifica sua própria grandeza; é um movimento de valor que se valoriza, 
dinheiro que gera dinheiro, ou seja, um movimento repetitivo (tautológico); é o próprio sujeito do 
movimento de capital, um agente que se relaciona consigo mesmo etc.
 Observação
Como já pode ter ficado claro nessa altura de nossa discussão, a rigor, 
segundo o método apresentado por Marx em O Capital, não existem 
definições fixas, o mais importante é a apreensão da realidade semovente 
(que se move por si) através de um pensamento que seja capaz de reproduzir 
no cérebro esse movimento. 
É por essa riqueza de definições (móveis) de capital que diversas abordagens marxistas, como o 
próprio título da principal obra de Marx denota, se referem usualmente ao Capital como se ele fosse um 
sujeito, afinal é ele o protagonista do seu processo de valorização.
O que se tem não é nem mesmo aquele fetichismo da mercadoria abordado anteriormente (que 
oculta as relações sociais e as apresenta como relações entre coisas), mas um tipo de fetichismo mais 
abrangente, à imagem e semelhança de seu próprio protagonista, um fetiche do capital que apresenta 
seu movimento como uma relação privada consigo mesmo, como se o capital dispusesse de um impulso 
vital próprio e independente dos outros viventes.
3.3.2 O que é e qual a origem da mais-valia?
Até o momento, tratamos do conceito de capital e, de forma mais elementar, da noção de mais-valia. 
Cabe expor a origem concreta desse mais-valor que é resultado e motor do movimento do capital.
Retomando a fórmula geral D – M – D, todas as mudanças de forma e indicativos de alteração na 
quantidade de valor não são capazes de explicar como o valor se altera no processo. Isso porque D – M 
– D significa que o montante de dinheiro do início é o mesmo do final. Contudo, um dos elementos que 
definem o movimento do capital é necessariamente a expansão da grandeza do valor. Logo, como aponta 
Marx, toda a discussão deve se tratar na verdade de D – M – D’, em que D’ = (D + ∆D), ou seja, fixar a 
reflexão no modo pelo qual é possível que dinheiro lançado na circulação seja capaz de gerar mais dinheiro.Uma primeira sugestão de resposta pode ser a de que o capitalista (personificação do capital em 
processo) compra a mercadoria de um agente econômico por um preço e revende essa mesma mercadoria 
a outro por um preço maior. Dessa forma, o capitalista, na prática um intermediário comercial, obtém 
um lucro (um mais-valor ou uma mais-valia).
Sem embargo, surge uma questão: quando o capitalista comprou inicialmente a mercadoria, ele a 
pagou pelo seu valor, ou não?
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Se considerarmos que ele não pagou o valor no início (e apenas depois é que a revendeu pelo 
valor), temos que um outro agente (que produziu efetivamente a mercadoria comprada pelo capitalista 
para ser revendida) então não recebeu pela venda o valor integral da mercadoria. Dessa forma, somos 
obrigados a reconhecer que, do ponto de vista agregado, não houve criação de valor novo, mas apenas 
a transferência de valor entre os agentes econômicos (comprar barato e vender caro implica que alguém 
saiu perdendo uma cota-parte de valor na transação).
Porém, podemos considerar que o capitalista, ao comprar a mercadoria, paga o valor e, quando 
revende essa mercadoria, recebe um mais-valor. Estamos assim supondo que o simples ato de troca 
(o comércio) é capaz de produzir mais valor. Mas como é possível que a simples troca da posse de 
mercadorias possa ser capaz de aumentar o valor social? Temos ainda um outro problema vinculado a 
essa consideração: ninguém é apenas (comerciante) capitalista, não consumindo mercadoria alguma; 
assim, mesmo que o comércio seja capaz de criar mais valor para quem revende, em toda transação 
alguém terá de arcar com essa diferença (no caso, todo ato de consumo é um ato de perda, já que é 
preciso pagar pela mercadoria o seu valor e também um mais-valor).
Com efeito, explicar a origem do mais-valor (mais-valia, ou simplesmente o lucro) tomando a esfera 
da circulação nos permite, tão somente, encontrar modos de transferência de valor. Não é possível 
explicar como se cria valor sem que alguém seja ludibriado, ou que saia perdendo na relação de troca.
O próprio Marx atesta que a relação capitalista não pode ser considerada uma relação de generalização 
de enganação e/ou fraude universalizada. Em vista disso, devemos supor que os preços das mercadorias 
transacionadas no mercado correspondem aos valores.
Uma explicação rigorosa do lucro, para Marx, não pode estar simplesmente na circulação. Ela até pode 
aparecer na circulação, mas seu fundamento deve ser encontrado noutra esfera econômica, provavelmente 
no âmbito da produção dos valores. Cabe destacar que a simples diferença material entre as mercadorias 
(as diferenças entre os valores de uso ou mesmo a utilidade subjetiva que os agentes atribuem às coisas) 
não é capaz de explicar a origem do mais-valor (da mais-valia), posto que essa diferença é exatamente 
o motivo da troca (troca-se precisamente para se trocar os valores de uso, pelo menos é o que podemos 
extrair do senso comum – adiante veremos que é possível trocar sem ter como objetivo valores de uso).
Para analisar a esfera da produção é necessário ampliar a visão sobre o circuito D – M – D’. A forma 
estendida desse circuito pode ser expressa da seguinte maneira:
D – M ... p ... M’ – D’
Dinheiro acrescido de 
mais dinheiro
Mercadoria acrescida de 
mais-valor
Processo produtivo
Figura 13 – Processo de produção de mais-valor
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Cabe destacar que o processo que acabamos de apresentar é de uma lógica em nada surpreendente, 
ele é simplesmente o fruto da observação da fórmula geral do capital. Sem embargo, é importante 
notar que esse processo e sua lógica não exigem nenhum questionamento sobre ética, moral, princípios 
ou práticas do capitalista. Aliás, não é preciso sequer apontar a presença do capitalista, ele pode 
simplesmente ser pressuposto.
Isso, que pode parecer evidente, é um dos pontos destacados por Marx quando ele afirma ser o 
valor-capital o sujeito do processo. Nesse nosso grau de abstração, podemos afirmar tranquilamente 
que quem paga os fatores de produção, quem determina a produção e quem vende é o próprio capital.
Mas como o capital é capaz de acrescentar valor às mercadorias, após o processo produtivo, e 
realizar esse valor quando vende a mercadoria e recebe seu dinheiro acrescido de dinheiro?
Considerando o momento M’ – D’, ou seja, a mercadoria acabada (após o processo produtivo), 
ela já está acrescida de algum valor novo que será trocado por dinheiro. O mesmo pode ser dito 
do momento inicial D – M, o dinheiro apenas é convertido em mercadorias, sem alterar os valores 
(estamos supondo que o volume de dinheiro despendido na compra de mercadorias paga o valor 
dessas mercadorias).
Pelas leis mercantis os produtos são trocados de acordo com seus valores, e isso vale inclusive para o 
dinheiro. Como destacamos, não há engodo ou transferência de valor na relação de troca.
Isso significa então que o problema não está nos valores das mercadorias, mas possivelmente nas 
próprias mercadorias. A pergunta que surge é a seguinte: será que não existe no mercado alguma 
mercadoria que tenha um valor de uso capaz de aumentar os valores? Recorrendo à Teoria do 
Valor de Marx, que já vimos, será que não existiria “uma mercadoria cujo próprio valor de uso tivesse a 
característica peculiar de ser fonte de valor, portanto, cujo verdadeiro consumo fosse em si objetivação 
de trabalho, por conseguinte, criação de valor?” (MARX, 1996, p. 285).
A resposta de Marx é que sim, existe essa mercadoria, ela é a força de trabalho (a capacidade 
de trabalho).
Por força de trabalho ou capacidade de trabalho entendemos o conjunto 
das faculdades físicas e espirituais que existem na corporalidade, na 
personalidade viva de um homem e que ele põe em movimento toda vez 
que produz valores de uso de qualquer espécie (MARX, 1996, p. 285).
Mas por que essa tal força de trabalho?
De modo geral, é pacífico aceitar que a atividade criadora dos seres humanas é aquilo capaz de 
transformar a realidade. Podemos até radicalizar um pouco mais o argumento: o que diferencia os seres 
humanos dos outros animais ou seres vivos? Muitos responderiam que é a razão, o intelecto; contudo, 
é plenamente concebível imaginar uma cenoura pensante.
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O simples fato de a cenoura pensar, ter consciência de sua existência, não alteraria em nada o 
fato de ela continuar debaixo da terra, sem poder se mover ou alterar o seu meio. De modo um pouco 
mais materialista, devemos reconhecer que o que diferencia o ser humano de outros seres orgânicos 
é precisamente a sua capacidade de transformar a realidade, e essa não é qualquer capacidade, essa 
capacidade é o trabalho. Claro, para que a realidade possa ser transformada de acordo com a vontade 
humana, é indispensável que o ser humano seja capaz de raciocinar com vistas ao seu objetivo.
Como destaca Marx em O Capital, caso comparemos um enxame de abelhas ao mais inábil pedreiro, 
é possível que as abelhas sejam capazes de fazer uma colmeia muito mais exuberante que a construção 
do pedreiro. Todavia, há uma diferença fundamental entre as abelhas e o pedreiro, por mais inapto que 
ele seja: antes de construir, ele é capaz de imaginar uma casa completamente acabada, definir uma 
finalidade para sua ação, estabelecer um momento ideal e alcançar o objetivo com seu trabalho.
Esse é também um dos motivos pelos quais Marx aponta para a centralidade da categoria trabalho 
humano. Mas, lembremos, o trabalho enquanto atividadetransformadora da realidade, como trabalho 
concreto, é apenas o conteúdo material das mercadorias. No modo de produção capitalista, essa 
atividade genérica chamada trabalho recebe uma forma social (e histórica) muito particular que faz 
dela também trabalho abstrato.
A questão é que, nesse espaço social que muitos chamam de mercado de trabalho, o que os 
trabalhadores vendem não é o trabalho. É impossível vender trabalho, trabalho é uma capacidade 
humana. O que os trabalhadores vendem é a força de trabalho, um tempo específico de suas vidas, 
que dá direito ao capitalista de utilizar visando produzir algo.
É interessante notar que, como as palavras não são inocentes, a própria noção de mão de obra 
obscurece e mascara a questão da força de trabalho. Quando acordamos pela manhã e pegamos um 
ônibus, nós vemos um amontoado de mãos isoladas se deslocando, ou vemos pessoas inteiras carregando 
suas forças de trabalho ao lugar onde são empregadas?
Se os trabalhadores vendem força de trabalho, ela é uma mercadoria e, como qualquer outra 
mercadoria, deve ter um valor de uso e um valor de troca.
O valor de troca da força de trabalho é o salário, afinal o valor de troca de uma mercadoria (seu 
preço) é a quantidade de dinheiro (equivalente geral) que se recebe ao vendê-la. Mas é o valor de uso 
da força de trabalho?
Para encontrar o valor de uso de qualquer mercadoria, devemos nos perguntar a finalidade 
de sua aquisição. Se alguém compra água é porque tem interesse em seu valor de uso, nas 
propriedades materiais da água, que podem ser matar a sede ou irrigar uma plantação. E quem 
compra a força de trabalho?
Quem compra força de trabalho é a pessoa que detém dinheiro e deseja produzir alguma coisa, ou 
seja, que pretende inserir esse dinheiro no circuito D – M ... p ... M’ – D’. Já sabemos quem é esse sujeito, 
ele é o capitalista (aquela pessoa qualquer que personifica o movimento do capital).
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O empresário capitalista compra a força de trabalho precisamente porque pretende combiná-la a 
meios de produção para ampliar o valor (gerar mais-valia). É justificável reconhecer então que o valor 
de uso da força de trabalho é a capacidade de produzir valor e mais-valia.
E como se tem acesso ao valor de uso das mercadorias? Consumindo-as. E como se consome o valor 
de uso da mercadoria força de trabalho? Colocando-a para produzir valor, ou seja, colocando-a para 
trabalhar. Como a mercadoria força de trabalho é uma capacidade que não pode ser separada do corpo 
do trabalhador que a vendeu, é necessário que o trabalhador esteja presente, trabalhando, para que o 
valor de uso da sua mercadoria vendida possa ser consumido.
Respondemos assim, inclusive, o que é trabalho (no capitalismo). Trabalho é exatamente o ato de 
consumir o valor de uso da força de trabalho.
Temos agora algumas respostas:
• O que os trabalhadores vendem não é trabalho, mas força de trabalho.
• O valor de troca da força de trabalho é o salário.
• O valor de uso da força de trabalho é a capacidade de produzir valor e mais-valia.
• Trabalho é o ato de consumir o valor de uso da força de trabalho.
Já encontramos a mercadoria específica capaz de produzir mais valor, já sabemos o seu valor de 
troca e compreendemos o seu valor de uso. Mas há um detalhe: como vimos anteriormente, valor de 
troca e valor são categorias diferentes para Marx.
O valor de troca é a manifestação, a objetivação do valor. O valor de troca pode variar em função do 
lugar e no tempo, sem que o valor tenha se alterado. Felizmente, já sabemos que a substância do valor é 
trabalho, e como estamos tratando de força de trabalho as coisas ficam mais simples. Precisamos saber 
apenas qual a grandeza do valor dessa mercadoria força de trabalho.
Como expõe Marx, lá no começo de O Capital, a grandeza do valor é a quantidade de trabalho 
socialmente necessário para se produzir a mercadoria. Já que estamos tratando de uma mercadoria que 
está inserida num processo sem limites (que é o movimento do capital), podemos afirmar que o valor 
da força de trabalho é a quantidade de trabalho socialmente necessária para reproduzir a mercadoria 
força de trabalho.
Bem, a mercadoria força de trabalho não pode ser separada materialmente do seu vendedor, que é o 
trabalhador; logo, reproduzir a mercadoria força de trabalho representa reproduzir o trabalhador.
Reproduzir o trabalhador significa reproduzir as condições necessárias para que o trabalhador possa 
continuamente consumir o valor de uso de sua mercadoria, ou seja, trabalhar. Isso implica alimentação, 
moradia, transporte até o lugar de trabalho, saúde etc. Claro, estamos pensando já em trabalhadores 
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adultos, mas como o movimento do capital é contínuo e os seres humanos são finitos, reproduzir a força 
de trabalho implica também garantir as condições de reprodução da parte da população que trabalha 
(ou seja, garantir a sobrevivência não somente do trabalhador, mas também de sua família). Desse modo, 
deve-se incluir também a educação e a formação profissional. Tudo isso deve ser contabilizado como 
valor da força de trabalho.
E onde está a mais-valia?
A mais-valia se verifica porque o trabalhador, via de regra, produz mais valor ao trabalhar do que o 
valor de sua força de trabalho.
Exemplo:
Digamos que para repor o valor da sua força de trabalho uma pessoa precise trabalhar duas horas 
por dia durante o mês. Acontece que esse valor da força de trabalho que deve ser reposto (para garantir 
a reprodução da mercadoria força de trabalho) não tem influência direta sobre a jornada de trabalho. 
Podemos imaginar tranquilamente que esse mesmo trabalhador estabeleceu um contrato de oito horas 
diárias de trabalho. A mais-valia se efetua porque o capitalista, ao comprar a mercadoria força de 
trabalho pelo seu valor, paga na prática duas horas diárias de trabalho, enquanto o trabalhador, pelo 
contrato firmado, trabalha oito horas por dia. Assim, apesar de o capitalista pagar a força de trabalho 
pelo seu valor, é direito afirmar que a mais-valia, apropriada pelo capitalista, é de seis horas diárias, ou 
seja, a diferença entre a jornada de trabalho e o valor da força de trabalho.
Agora temos elementos necessários para discutir mais a fundo a mais-valia (o mais-valor que surge 
com o movimento do capital).
Observe que até agora não apareceu em nenhum momento a palavra exploração e, muito menos, 
capitalista explorador. Dentro dos objetivos que foram apontados anteriormente, desmistificar a análise 
de Marx é indispensável para a compreensão do autor.
Para entrar na discussão sobre exploração, sigamos o procedimento desenvolvido por Carcanholo 
e Sabadini (2011), na trilha aberta pelo método de Marx. Tratemos da mais-valia sob dois “pontos de 
vista”: i) do ato individual e isolado; ii) da perspectiva global, totalizante, da questão.
• Ponto de vista individual e isolado (relação entre um empresário e um trabalhador):
— O empresário compra matérias-primas, equipamentos, meios de trabalho, edificação e força 
de trabalho pagando todas as mercadorias pelos seus respectivos valores (ou seja, ele paga o 
valor da força de trabalho).
– Digamos que o contrato de trabalho seja de oito horas diárias. Nessas oito horas, no processo 
de produção, temos a transformação dos meios de produção e o consumo da força de 
trabalho, criando um valor novo incorporado às novas mercadorias produzidas.
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– O empresário pretende vender essas mercadorias segundo o valor. Para isso,ele irá 
contabilizar os valores consumidos das máquinas, equipamentos e instalações e a parte 
dos valores que foram transferidas para a nova mercadoria, além de incluir o valor criado 
pela força de trabalho (que, seguindo nosso exemplo anterior, foi de oito horas – o tempo 
completo da jornada de trabalho).
– Onde está a mais-valia? Bem, do ponto de vista do empresário, ele pagou todas as 
mercadorias pelo seu valor; logo, não se pode falar de nenhum tipo de exploração.
– Portanto, para o capitalista não faz o menor sentido querer estabelecer relações entre esse 
negócio chamado força de trabalho e a jornada de trabalho. O que importa é que não houve 
qualquer tipo de coação, pelo contrário, o contrato de trabalho firmado com o trabalhador 
foi um contrato entre iguais (juridicamente) e estabelecido livremente. O trabalhador 
poderia simplesmente não aceitar os termos do contrato caso não lhe interessasse.
— O trabalhador recebeu, de acordo com todos os pré-requisitos da lei, o salário negociado por 
oito horas de trabalho. O combinado foram exatamente essas oito horas (nem mais, nem menos).
– É até possível que por uma variedade de determinantes o trabalhador considere que ele seja 
“explorado”, que ele trabalhe demais; contudo, se o contrato foi estabelecido livremente não 
há muito que ele possa fazer (pelo menos não isoladamente, que é o nosso foco aqui).
• Perspectiva global, totalizante, da questão:
— Sendo uma perspectiva global, já não se trata de considerar o empresário e o trabalhador 
isoladamente.
— Qual o significado do dinheiro que é recebido pelo conjunto dos trabalhadores sob a forma 
de salário? O salário é um amontoado de equivalentes gerais (dinheiro) que permite aos 
trabalhadores adquirem as mercadorias que necessitam e/ou desejam.
— Que agentes econômicos foram responsáveis pela criação do valor novo gerado pela produção? 
Ou seja, quem trabalhou e, portanto, consumiu o valor de uso da força de trabalho, garantindo 
a geração do mais-valor? Resposta: os próprios trabalhadores.
— Então, os trabalhadores recebem, sob a forma de salários, uma parte do produto criado por eles 
mesmos. E o que acontece com os salários recebidos pelos trabalhadores? Ora, eles são usados 
para adquirir bens que serão vendidos pelos próprios capitalistas.
— Logo, é de se concluir que o que os empresários capitalistas gastaram coletivamente sob a 
forma de salários retornará a eles como pagamento das mercadorias, que foram produzidas 
pelos trabalhadores, mas que esses trabalhadores terão de pagar para as adquirir. Seguindo 
esse raciocínio, somos obrigados a concluir que há alguma coisa que pode ser chamada de 
exploração nessa relação entre o conjunto dos trabalhadores e o conjunto dos capitalistas.
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O que esse raciocínio, com base nos argumentos de Marx e apresentado por Carcanholo e Sabadini 
(2011), nos permite avaliar é que, na sociedade capitalista, há e não há exploração. Se tomarmos 
apenas a perspectiva do capitalista isoladamente, seremos forçados a concluir que não há exploração. 
Contudo, ao se examinar a totalidade das relações produtivas envolvidas, devemos reconhecer que há 
exploração – não do trabalho, mas sim da força de trabalho, que, “por acaso”, envolve diretamente 
o conjunto dos trabalhadores. Tomar como perspectiva única e privilegiada de análise a perspectiva 
isolada do capitalista é chamado por Marx de adotar uma perspectiva burguesa da realidade social – o 
que, por ser limitado, capaz de observar apenas a superfície das relações sociais, pode ser tratada como 
uma ideologia burguesa.
Antes de dar prosseguimento, cabe uma precisão sobre o termo exploração, adotado por Marx em O 
Capital. É muito comum se atribuir forte conotação moral ao termo exploração; todavia, é importante 
apontar para as diferenças entre uma dimensão moral e o aspecto econômico da exploração.
Como apontado noutros momentos de nosso livro-texto, a crítica de Marx não é uma crítica moral 
do capitalismo, e, no caso da mais-valia, tem-se basicamente a identificação de que a exploração do 
valor de uso de uma mercadoria particular (a força de trabalho) é capaz de produzir um excedente (um 
mais-valor, ou mais-valia) que não é apropriado pelo produtor direto. Esse excedente é apropriado pelo 
sujeito que personifica o capital em processo (o capitalista), já que como comprador da mercadoria 
força de trabalho ele tem o direito de consumir seu valor de uso. Desse modo, exploração aqui se 
assemelha muito mais ao ato de explorar a jazida de algum minério do que a um abuso da boa-fé ou 
da ignorância de alguém.
Considerando uma das principais reivindicações trabalhistas do século XX, o direito ao emprego (que 
poderia ser lido, no limite, como o direito a ser explorado por algum capital), essa questão da exploração 
sequer é uma questão colocada por muitos trabalhadores assalariados. Todavia, mesmo que ela não se 
manifeste (apareça) dessa forma na realidade, sendo soterrada pela perspectiva capitalista do ato individual 
e isolado, ela não é nem um pouco natural e envolve condições históricas particulares relevantes.
 Saiba mais
Para ter uma dimensão sobre essa discussão acerca da exploração e 
o poder das empresas, o filme-documentário A Corporação apresenta a 
exploração da força de trabalho barata no Terceiro Mundo e as consequências 
sobre a natureza com o aumento da produção.
A CORPORAÇÃO. Dir. Mark Achbar e Jennifer Abbott. Canadá: Big Picture 
Media Corporation, 2003. 145 minutos.
É importante assinalar que a transformação das pessoas em trabalhadores assalariados e a conversão da 
força de trabalho em uma mercadoria (muito especial, como vemos, já que é capaz de produzir um excedente 
apropriável pelo capitalista) foi um fator indispensável para a constituição do capital e do capitalismo.
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Primeiramente, para que o detentor da mercadoria força de trabalho possa dela dispor, é indispensável 
que ele seja considerado juridicamente como um sujeito capaz de exercer atos de vontade e que seja 
concebido como um livre-proprietário. Além disso, o livre-contrato exercido entre os sujeitos (de direito) 
deve versar sobre uma relação de venda com prazo determinado, nunca sendo uma venda definitiva. A 
venda definitiva implicaria a venda de si, transformando esse vendedor num escravo (de um possuidor 
livre de uma mercadoria, ele mesmo se converteria em mercadoria).
A segunda condição, apontada por Marx para que o detentor de dinheiro possa encontrar a força 
de trabalho convertida em uma mercadoria, é a de que o detentor da mercadoria força de trabalho 
precise vendê-la, não sendo capaz de vender outras mercadorias (nas quais sua força de trabalho estaria 
materializada). Nos termos de Marx:
Para transformar dinheiro em capital, o possuidor de dinheiro precisa 
encontrar, portanto, o trabalhador livre no mercado de mercadorias, livre 
no duplo sentido de que ele dispõe, como pessoa livre, de sua força 
de trabalho como sua mercadoria, e de que ele, por outro lado, não tem 
outras mercadorias para vender, solto e solteiro, livre de todas as coisas 
necessárias à realização de sua força de trabalho (MARX, 1996, p. 287, 
grifos nossos).
Como a “natureza não produz de um lado possuidores de dinheiro e de mercadorias e, de outro, meros 
possuidores das próprias forças de trabalho” (MARX, 1996, p. 287), a ênfase de Marx na liberdade vai de 
encontro a um conjunto de temas tratados pelas filosofias políticas do direito natural (algo com que 
tivemos contato quando discutimos Adam Smith). Mesmo a noção de liberdade deve ser tomada em 
seu caráter social e histórico: ela aparece, numaspecto, como a liberdade individual e, por outro, como a 
liberdade em relação a todos os meios necessários à reprodução individual das condições de vida.
Com isso, a explicação sobre o que é e qual a origem da mais-valia, bem como a exposição dos 
pontos de vista inerentes aos agentes envolvidos na troca da mercadoria força de trabalho com o 
dinheiro, Marx apresenta por que a esfera da circulação (bastante privilegiada em outras abordagens 
econômicas) aparece como um verdadeiro “Éden dos direitos naturais do homem”.
Ao final de seu capítulo sobre como o dinheiro se transforma em capital, afirma Marx:
[...] O que aqui reina é unicamente Liberdade, Igualdade, Propriedade e 
Bentham. Liberdade! Pois comprador e vendedor de uma mercadoria, 
por exemplo, da força de trabalho, são determinados apenas por sua 
livre-vontade. Contratam como pessoas livres, juridicamente iguais. O 
contrato é o resultado final, no qual suas vontades se dão uma expressão 
jurídica em comum. Igualdade! Pois eles se relacionam um com o outro apenas 
como possuidores de mercadorias e trocam equivalente por equivalente. 
Propriedade! Pois cada um dispõe apenas sobre o seu. Bentham! Pois cada 
um dos dois só cuida de si mesmo. O único poder que os junta e leva a um 
relacionamento é o proveito próprio, a vantagem particular, os seus interesses 
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privados. E justamente porque cada um só cuida de si e nenhum do outro, 
realizam todos, em decorrência de uma harmonia preestabelecida das coisas 
ou sob os auspícios de uma previdência toda esperta, tão-somente a obra de 
sua vantagem mútua, do bem comum, do interesse geral.
Ao sair dessa esfera da circulação simples ou da troca de mercadorias, 
da qual o livre-cambista vulgaris [economista vulgar] extrai concepções, 
conceitos e critérios para seu juízo sobre a sociedade do capital e do trabalho 
assalariado, já se transforma, assim parece, em algo a fisionomia de nossa 
dramatis personae [personagens do drama]. O antigo possuidor de dinheiro 
marcha adiante como capitalista, segue-o o possuidor de força de trabalho 
como seu trabalhador; um, cheio de importância, sorriso satisfeito e ávido 
por negócios; o outro, tímido, contrafeito, como alguém que levou a sua 
própria pele para o mercado e agora não tem mais nada a esperar, exceto 
o – curtume (MARX, 1996, p. 293).
4 O PROCESSO DE VALORIZAÇÃO DE CAPITAL
O processo de produção capitalista não é um fenômeno natural. Ele envolve uma dimensão 
material, aparentemente: uma das condições para a vida humana é a produção de valores de uso, de 
elementos capazes de atenderem às necessidades humanas. A essa dimensão do processo de produção 
da capitalista, Marx dá o nome de processo de trabalho. Contudo, o processo de produção capitalista 
não é simplesmente um processo de criação (e distribuição) de valores de uso, ele é destacadamente um 
processo de valorização de capital.
Recapitulando elementos anteriores: se, quando pensamos numa situação de mera circulação 
de mercadorias (M – D – M), o valor expresso em dinheiro aparece como um meio para a satisfação 
de necessidades humanas, o que caracteriza e diferencia a circulação de capital é que nela são as 
necessidades humanas que servem de meio (de suporte) para a valorização do valor-capital (D – M – 
D’). Isto é, o que marca o caráter específico da produção capitalista é ser sua finalidade a valorização 
do valor (que foi adiantado pelo capitalista para produzir mercadorias voltadas à venda). Ou alguém 
imagina que uma empresa capitalista que, por exemplo, vende água engarrafada atua para satisfazer 
necessidades humanas? Essas necessidades são meios para se obter lucro (mais valor do que aquele 
adiantado inicialmente no negócio).
Como afirma Marx:
O produto – a propriedade do capitalista – é um valor de uso, como o fio, 
as botas etc. Mas apesar de as botas, por exemplo, constituírem, de certo 
modo, a base do progresso social e nosso capitalista ser um “progressista” 
convicto, ele não as fabrica por elas mesmas. Na produção de mercadorias, o 
valor de uso não é, de modo algum, a coisa qu’on aime pour lui-même [que 
se ama por ela mesma]. Aqui, os valores de uso só são produzidos porque e 
na medida em que são o substrato material, os suportes do valor de troca. 
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E, para nosso capitalista, trata-se de duas coisas. Primeiramente, ele quer 
produzir um valor de uso que tenha um valor de troca, isto é, um artigo 
destinado à venda, uma mercadoria. Em segundo lugar, quer produzir uma 
mercadoria cujo valor seja maior do que a soma do valor das mercadorias 
requeridas para sua produção, os meios de produção e a força de trabalho, 
para cuja compra ele adiantou seu dinheiro no mercado. Ele quer produzir 
não só um valor de uso, mas uma mercadoria; não só valor de uso, 
mas valor, e não só valor, mas também mais-valor (MARX, 2013, p. 263).
A diferença entre processo de trabalho e processo de valorização é significativa. Como processo 
de trabalho, a produção capitalista considera os valores de uso qualitativamente, eles são trabalhos 
concretos de diferentes qualidades e características. Contudo, quando se examina o processo de 
valorização, que também constitui a produção capitalista, o que importa é produzir valores de uso que 
disponham de um valor superior à soma dos valores das mercadorias gastas na sua produção; o que 
importa é a diferença quantitativa entre os valores.
E como se forma exatamente esse tal mais-valor no processo de produção capitalista?
Seguindo o exemplo apresentado por Marx, vamos supor que as transações se deem pelo valor 
expresso em dinheiro. O exemplo de Marx é da produção de fio (vamos substituir as unidades de 
medida utilizadas por Marx por outras mais próximas de nosso cotidiano – esse procedimento em nada 
compromete o exemplo).
Para essa produção de fio, são necessários 10 quilos de algodão, que “valem” 10 reais; essa produção 
utiliza e desgasta os fusos (bobinas de fiar) num valor de 2 reais. O valor dos meios de produção (algodão 
mais o fuso) é de 12 reais.
Ao converter esses valores em horas de trabalho necessárias à produção, Marx supõe que os 10 quilos 
de algodão junto com o uso e o desgaste do fuso consumiram dois dias de trabalho (duas jornadas de 
trabalho, cada uma de 12 horas).
Como sabemos, o valor da força de trabalho não tem relação direita com as condições materiais de 
produção, ele é dado pelas condições de reprodução da mercadoria força de trabalho. Vamos considerar 
que o valor da força de trabalho seja de três reais (esse valor corresponde a seis horas de trabalho, a 
quantidade de trabalho requerida para produzir a quantidade média dos meios de subsistência diários 
do trabalhador).
O total de horas gastas para produzir essas mercadorias foi:
Valor dos meios de produção + Valor da força de trabalho
12 h x 2 (já que são duas jornadas de trabalho) + 6 h
24 h + 6 h = 30 horas
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Se o capitalista resolvesse fazer as contas de quanto ele gastou, qual deverá ser o valor do seu produto?
Ora, ele gastou 15 reais (12 reais com os meios de produção e 3 reais com a força de trabalho). Mas 
com isso teríamos que ele não lucrou nada com essa atividade. E sua parte, como fica?
Como muitos tendem a suspeitar, parece que a única alternativa para que o lucro capitalista exista 
é que ele venda sua mercadoria acima do valor.
Mas mesmo essa alternativa tem problemas, afinal ele não é o único capitalista existente. Caso ele 
venda acima do valor, não há nadaque impeça os demais capitalistas de fazerem o mesmo.
Ele vai poder até ter lucro em seu negócio quando for vender, mas quando ele for a mercado 
consumir, ele perderá seu ganho. Supor isso, que pode parecer evidente para quem dispõe apenas de 
sua força de trabalho e que necessita gastar quase tudo o que ganha, no caso da produção capitalista 
em geral não faz sentido. Significaria dizer que não existe acumulação de capital e que o lucro é apenas 
um fenômeno momentâneo (ele só existe na circulação das mercadorias).
Aliás, sendo um pouco mais contundente, o capitalista poderia pensar ser melhor nem ter se envolvido 
com o negócio; bastaria ele comprar o produto já acabado no mercado. Nesse ponto, Marx é sarcástico:
É possível que o capitalista, instruído pela economia vulgar, diga que 
adiantou seu dinheiro com a intenção de fazer mais dinheiro. Mas o caminho 
para o inferno é pavimentado com boas intenções, e sua intenção poderia 
ser, igualmente, a de fazer dinheiro sem produzir nada. Ele ameaça todo tipo 
de coisa e está resolvido a não se deixar apanhar novamente. De agora em 
diante, em vez de ele próprio fabricá-la, comprará a mercadoria pronta no 
mercado. Mas se todos os seus irmãos capitalistas fizerem o mesmo, onde ele 
encontrará mercadoria no mercado? E dinheiro ele não pode comer. Prega, 
então, um sermão. Diz que é preciso levar em conta sua abstinência. [...]
Ele se empertiga, desafiante, apoiando-se nas patas traseiras. Poderia 
o trabalhador, apenas com seus próprios meios corporais, criar no éter 
configurações do trabalho, mercadorias? Não é verdade que ele, nosso 
capitalista, forneceu ao trabalhador os materiais com os quais – e nos quais 
– ele pode dar corpo a seu trabalho? E considerando-se que a maior parte 
da sociedade consiste de tais pés-rapados [Habenichtsen], não prestou ele 
um inestimável serviço à sociedade por meio de seus meios de produção, 
seu algodão e seus fusos, para não falar do serviço prestado ao próprio 
trabalhador, a quem ele, além de tudo, ainda guarneceu dos meios de 
subsistência? E não deve ele cobrar por esse serviço prestado? [..]
E eis que nosso amigo, até aqui tão soberbo, assume repentinamente a 
postura modesta de seu próprio trabalhador. Ele próprio, o capitalista, não 
trabalhou? Não realizou ele o trabalho de controle e supervisão do tecelão? 
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E esse seu trabalho também não gera valor? Mas seu próprio overlooker 
[supervisor] e seu gerente dão de ombros. Enquanto isso, ele já assumiu, 
com um largo sorriso, sua fisionomia usual. Ele nos rezou toda essa ladainha, 
mas não dá por ela nem um tostão. Esses e outros subterfúgios e truques 
baratos ele deixa aos professores de economia política, que são pagos 
para isso. Já ele, ao contrário, é um homem prático, que nem sempre sabe o 
que diz quando se encontra fora de seu negócio, mas sabe muito bem o que 
faz dentro dele (MARX, 2013, p. 268-269, sublinhado nosso).
Seguindo Marx, enquanto os economistas e professores de Economia (lembre-se: na época de 
Marx, Economia Política era o nome dado à Ciência Econômica em geral) se encarregam de encontrar 
justificativas para o lucro do capitalista, este, como ser prático, já teve sua resposta. Vejamos:
O capitalista sabe, e assim pregam as leis naturais da Economia (uma ironia recorrente de Marx, 
já que não existe nada de natural na discussão), que quem compra uma mercadoria tem o direito de 
consumi-la. O capitalista comprou a mercadoria força de trabalho, e seu consumo lhe pertence, como o 
de qualquer outra mercadoria utilizada na produção.
O processo de trabalho não se encerra simplesmente quando se recuperam os valores dos meios de 
produção e da força de trabalho. O trabalhador vende sua força de trabalho por 3 reais, e esse dinheiro 
corresponde a seis horas de trabalho (para produzir os meios de produção que ele necessita diariamente 
para se reproduzir). Onde está registrado que, após vender sua força de trabalho, ele trabalha por apenas 
seis horas?
Ao comprar a força de trabalho, o capitalista pode muito bem ter negociado, segundo a média do 
mercado de trabalho, uma jornada diária de trabalho de 12 horas.
Pode parecer um exagero para alguns supor uma jornada de trabalho diária de 12 horas para um 
trabalhador nos dias atuais. Contudo, como mostra o próprio Marx em O Capital (destaque para o 
capítulo 24 do Livro 1), baseando-se em estatísticas e documentos oficiais ingleses de sua época, essa 
era uma jornada mais do que comum (encontravam-se jornadas de, por exemplo, 14 ou 16 horas diárias 
durante a Primeira e a Segunda Revolução Industrial).
 Saiba mais
Uma sugestão, aos mais céticos especialmente, é o livro de Engels 
intitulado A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra: Segundo a 
Observação do Autor e Fontes Autênticas. Bem, o título já diz alguma coisa.
ENGELS, F. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra: segundo as 
observações do autor e fontes autênticas. São Paulo: Boitempo, 2010.
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Se o trabalhador agora trabalha 12 horas, e não apenas seis, a quantidade de meios de produção 
consumidos também aumentou. Vamos imaginar que a situação tenha dobrado como as horas de trabalho.
Nesse novo caso, temos:
• Força de trabalho = 3 reais (o valor da força de trabalho não se altera simplesmente porque 
alguém trabalha mais; quando fez o seu contrato, o trabalhador negociou 3 reais por 12 horas de 
trabalho).
• Algodão = 20 reais.
• Fusos (bobinas de fiar) = 4 reais.
• Valor adiantado = 27 reais.
Esse é o valor adiantado pelo capitalista para produzir os fios. Mas qual é o valor do produto?
Se o dinheiro expressa o valor no nosso exemplo, o valor do algodão é 20 reais e o valor dos fusos 
é 4 reais.
O detalhe está na força de trabalho:
O capitalista pagou por ela 3 reais, mas esses 3 reais correspondem a seis horas e, pelo exemplo, o 
trabalhador negociou trabalhar 12 horas, logo o valor incorporado pelo trabalho na mercadoria é de 6 
reais. O valor do produto é 30 reais.
O lucro do capitalista é de 3 reais (diferença entre o valor do produto e o valor adiantado) justamente 
porque ele pagou 3 reais ao trabalhador. Ele pagou ao trabalhador o valor da sua força de trabalho.
Essa força de trabalho pode ser reproduzida diariamente com apenas 6 horas de trabalho – ela 
corresponde a seis horas de trabalho. Mas o trabalhador teve uma jornada de 12 horas de trabalho, 
negociada em contrato. O que o contrato não revela é que em seis horas o trabalhador criou um valor 
novo igual ao valor de sua força de trabalho e nas outras seis horas o seu trabalho não teve contrapartida.
O tempo a mais despendido pelo trabalho não tem relação direita com as condições de sua compra. 
Na esfera da circulação, a relação se deu livremente e entre iguais. Como destaca Marx:
No final das contas, o truque deu certo. O dinheiro converteu-se em capital.
Todas as condições do problema foram satisfeitas, sem que tenha ocorrido 
qualquer violação das leis da troca de mercadorias. Trocou-se equivalente por 
equivalente. Como comprador, o capitalista pagou o devido valor por cada 
mercadoria: algodão, fusos, força de trabalho. Em seguida, fez o mesmo que 
costuma fazer todo comprador de mercadorias: consumiu seu valor de uso. 
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Do processo de consumo da força de trabalho, que é ao mesmo tempo 
processo de produção da mercadoria, resultou um produto de 20 libras de fio 
com um valor de 30 xelins [no nosso exemplo, 30 reais] (MARX, 2013, p. 271).
É esse fenômeno,que ocorre no processo de produção capitalista, que Marx define como exploração 
da força de trabalho. Essa exploração é uma censura moral, ela é a constatação do seguinte: o capitalista 
adiantou seu capital em meios de produção e em força de trabalho, mas foi a força de trabalho que gerou 
um mais-valor (uma mais-valia) apropriado pelo capitalista e sem nenhuma contrapartida ao trabalhador.
Como o capitalista não é capaz de explorar o trabalho sem adiantar capital (para comprar de 
máquinas, equipamentos, matérias-primas etc.), isso produz a percepção de que seu lucro é resultado 
de todo o seu capital disponibilizado na produção.
4.1 Formas de mais-valia: mais-valia absoluta e mais-valia relativa
A partir da compreensão do processo de constituição do valor de uma mercadoria no processo 
produtivo, Marx decompõe esse valor, de acordo com sua composição, em c + v + m.
Nessa expressão, c indica aquilo que Marx denomina como capital constante. Ele corresponde ao 
valor das máquinas e equipamentos que se desgastaram durante o processo produtivo e também o 
valor das matérias-primas que é repassado inteiramente ao produto final. Por sua vez, v denomina o 
capital variável, que corresponde ao valor da força de trabalho, que é completamente repassado para 
o valor da mercadoria. E, por fim, m designa a mais-valia, o valor excedente criado durante a jornada de 
trabalho e que é apropriado pelo capitalista, isto é, trabalho não pago.
A equação c + v + m pode ser entendida também da seguinte maneira: o capital constante (c) é em 
sua essência trabalho passado que se materializou nos meios de produção, enquanto v + m representam 
o novo valor que é criado durante a jornada de trabalho (seja esse trabalho pago, como v, seja ele não 
pago, como m).
A mais-valia pode ser obtida de mais de uma forma, ela não é resultado apenas da extensão da jornada 
de trabalho para além do valor da força de trabalho, como foi sugerido na explicação sobre a mais-valia.
A forma que o capital utiliza para aumentar a massa de mais-valia produzida por um trabalhador, 
que consiste em prolongar a jornada de trabalho, ou a intensificar, é chamada de mais-valia absoluta.
Tomemos um exemplo:
• Suponha que a jornada diária de trabalho seja de oito horas.
• Em três horas o trabalhador produz valor novo da mesma magnitude do valor da reprodução de 
sua força de trabalho, sendo as cinco horas restantes caracterizadas como mais-valia.
• Se a jornada de trabalho for estendida para nove horas, a mais-valia passará de cinco para seis horas.
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Outra forma de expandir a mais-valia absoluta é através da intensificação da jornada de trabalho. A 
intensificação consiste de elevar o ritmo de atividade dos trabalhadores, fazendo que eles produzam um 
volume maior de mercadorias no mesmo tempo (trabalhem mais durante o mesmo período).
Certamente, a expansão da mais-valia absoluta apresenta limites. Por óbvio, é impossível elevar 
a jornada de trabalho para além de 24 horas diárias, mas não só isso, se o capital ampliar a jornada 
de trabalho diária além do que a capacidade humana pode realizar, ele corre o risco de incapacitá-la. 
Ademais, há de se considerar também limites políticos para essa expansão. A intensificação da jornada, 
por ser mais evidente o desgaste humano que ela produz aos trabalhadores, tende a instigar lutas de 
trabalhadores contra os excessos da exploração capitalista.
Uma outra forma de ampliar a produção de mais-valia sem aumento ou intensificação da jornada 
de trabalho é por meio da chamada mais-valia relativa.
Para explicá-la, vamos retomar a suposição do exemplo anterior:
• A jornada diária de trabalho é de oito horas. Vamos expressá-la por meio da linha A-C:
A_______________________C
• Em três horas, o trabalhador produz valor novo da mesma magnitude do valor da reprodução 
de sua força de trabalho, sendo as cinco horas restantes caracterizadas como mais-valia. Vamos 
estabelecer um ponto B entre o trabalho necessário (3 h) e o trabalho excedente (5 h).
A________B______________C
 3 h 5 h
• Supondo que não seja possível expandir a jornada de trabalho (nem intensificá-la), a única 
maneira de expandir a mais-valia (segmento BC) é reduzindo o que é pago pelo valor da força de 
trabalho (segmento AB).
A___A’___B______________C
 2 h 1 h 5 h
• Nessa nova distribuição da jornada de trabalho, a mais-valia agora é expressa pelo segmento A’C, 
representando seis horas da jornada de trabalho, e o valor do trabalho pago reduzido para duas 
horas (segmento AA’).
A explicação oferecida por Marx não exige que o salário pago ao trabalhador caia; ele continuará a 
receber o mesmo salário real. A produção da mais-valia relativa (relativa a uma mesma jornada e aos 
valores nela expressos) é possível caso o valor da cesta de bens que representam o valor da força de 
trabalho caiam. Isso é possível com a elevação da produtividade.
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Essa elevação da produtividade é tratada por Marx como elevação da força produtiva do trabalho.
Por elevação da força produtiva do trabalho entendemos precisamente 
uma alteração no processo de trabalho por meio da qual o tempo de trabalho 
socialmente necessário para a produção de uma mercadoria é reduzido, de 
modo que uma quantidade menor de trabalho é dotada da força para produzir 
uma quantidade maior de valor de uso (MARX, 2013, p. 389, grifo nosso).
Digamos que, dado um avanço na produtividade, o valor da força de trabalho não seja de três 
horas horas diárias, mas apenas de duas horas. Isto é, sem alteração na intensidade de trabalho, é 
possível produzir os mesmos bens (os mesmos valores de uso) em menos tempo (portanto, tendo um 
valor menor). A elevação da produtividade significa precisamente a redução do tempo de trabalho 
socialmente necessário para a produção de uma mercadoria; ao consideramos os bens necessários à 
reprodução dos trabalhadores, o valor pode cair mesmo que os trabalhadores continuem consumindo 
a mesma cesta de bens.
4.2 Métodos de produção de mais-valia: cooperação, manufatura e 
grande indústria
Segundo Marx, a produção capitalista (síntese de processo de trabalho e processo de valorização) 
só começa de fato quando o mesmo capital individual emprega simultaneamente um maior número 
de trabalhadores.
Isso pode sugerir que a diferença entre produção capitalista e outras formas de produção de riqueza 
(que também envolvem troca de produtos no mercado) é meramente quantitativa. Aliás, essa é a forma pela 
qual muitos apologistas do modo de produção capitalista tendem a diferenciar esse modo de produção 
dos anteriores. Para eles, tudo não passaria de uma questão de tamanho (da produção, dos mercados etc.).
Contudo, como explica Marx (2013, p. 399): “mesmo quando o modo de trabalho permanece 
o mesmo, o emprego simultâneo de um número maior de trabalhadores opera uma revolução nas 
condições objetivas do processo de trabalho”.
Mesmo considerando uma base técnica de produção inalterada, a cooperação, entendida inicialmente 
como a reunião de vários trabalhadores em um mesmo local de trabalho, permite a expansão da 
mais-valia relativa.
Do ponto de vista do capital constante, a economia no uso de meios de produção é perceptível. Marx 
dá o seguinte exemplo:
Uma sala em que trabalham vinte tecelões com seus vinte teares tem de ser 
mais ampla do que a sala em que trabalham um único tecelão independente 
e seus dois ajudantes. Mas como a produção de uma oficina para vinte 
pessoas custa menos trabalho do que a produção de dez oficinas para cada 
duas pessoas, o valor dos meiosde produção coletivos e massivamente 
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concentrados não aumenta, em geral, na proporção de seu volume e efeito 
útil. Meios de produção consumidos em comum transferem uma parte 
menor de seu valor ao produto individual, em parte porque o valor total 
que transferem é simultaneamente repartido por uma massa maior de 
produtos [...] (MARX, 2013, p. 399, grifo nosso).
Sem embargo, além da economia com meios de produção, a cooperação significa também economia de 
trabalho vivo, de força produtiva do trabalho. Como afirma Marx (2014), do mesmo modo que o poder 
ofensivo de um esquadrão de cavalaria ou de um regimento de infantaria militar difere dos poderes de 
cada cavaleiro ou soldado tomado individualmente, a soma das forças exercidas por trabalhadores isolados 
também difere da força social gerada quando muitas mãos atuam simultaneamente na mesma operação.
O efeito combinado criado pelo trabalho não pode ser produzido pela simples soma de trabalhos 
isolados. A cooperação é um ato de criação de uma nova força produtiva (além de estender o 
âmbito espacial do trabalho – pense, por exemplo, em obras de construção civil).
Figura 14 – A manufatura e a expansão das forças produtivas do trabalho
Acontece que o capital não paga por essa força produtiva resultante da cooperação. Como a compra 
de força de trabalho é uma relação estabelecida entre sujeitos atomizados, quando o trabalhador se 
depara com o capitalista, ele se defronta como proprietário apenas de sua mercadoria individual força 
de trabalho. Nesse sentido, argumenta Marx:
A força produtiva que o trabalhador desenvolve como trabalhador social é, 
assim, força produtiva do capital. A força produtiva social do trabalho se 
desenvolve gratuitamente sempre que os trabalhadores se encontram sob 
determinadas condições, e é o capital que os coloca sob essas condições. 
Pelo fato de a força produtiva social do trabalho não custar nada ao capital 
e, por outro lado, não ser desenvolvida pelo trabalhador antes que seu 
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próprio trabalho pertença ao capital, ela aparece como força produtiva 
que o capital possui por natureza, como sua força produtiva imanente. 
(MARX, 2013, p. 408).
A própria cooperação, um método de extração de mais-valia (de extração de sobretrabalho), aparece 
como se fosse uma força produtiva do capital, e não do trabalho. A percepção burguesa assume como 
fato natural o capital possuir força produtiva – ou, conforme aprendemos com a Teoria Neoclássica, 
como se o capital tivesse uma produtividade que lhe fosse intrínseca.9
Mas a cooperação não significa simplesmente produção em maior escala; ela envolve, de modo mais 
complexo, a possibilidade de maior divisão do trabalho. Um exemplo histórico disso é demonstrado por 
Marx com a manufatura.
É com a manufatura que torna possível a proposta de “qualificação de mão de obra” (TEIXEIRA, 1995). 
Nela, cada trabalhador passa a se especializar em determinada etapa ou função no processo de trabalho.
Referindo-se ao artesanato (característico das corporações de ofício pré-capitalistas), Marx apresenta 
a dupla dimensão de surgimento da manufatura.
O modo de surgimento da manufatura, sua formação a partir do artesanato, 
é portanto duplo. Por um lado, ela parte da combinação de ofícios 
autônomos e diversos, que são privados de sua autonomia e unilateralizados 
até o ponto em que passam a constituir meras operações parciais e 
mutuamente complementares no processo de produção de uma única 
e mesma mercadoria. Por outro lado, ela parte da cooperação de artesãos 
do mesmo tipo, decompõe o mesmo ofício individual em suas diversas 
operações particulares, isolando-as e autonomizando-as até que cada uma 
delas se torne uma função exclusiva de um trabalhador específico. Por um 
lado, portanto, a manufatura introduz a divisão do trabalho num processo 
de produção, ou desenvolve a divisão do trabalho já existente; por outro, ela 
combina ofícios que até então eram separados. Mas seja qual for seu ponto 
de partida particular, sua configuração final é a mesma: um mecanismo de 
produção, cujos órgãos são seres humanos (MARX, 2013, p. 413).
A qualificação da mão de obra estimulada pela manufatura é, porém, um processo aparentemente 
paradoxal. A maior divisão do trabalho, bem como o aperfeiçoamento dos instrumentos de trabalho a 
ela também relacionado, produz uma contínua desqualificação dos trabalhadores. Na mesma medida 
em que a manufatura desenvolve a especialização unilateral do trabalho, ela faz da falta de todo esse 
desenvolvimento uma falta. Ao lado da hierarquização das especialidades, surge a simples separação 
entre trabalhadores qualificados e trabalhadores não qualificados (MARX, 2013).
9 Essa é uma demonstração prática de por que Marx toma como subtítulo de sua obra Crítica da Economia Política. 
A investigação crítica do modo de produção capitalista oferece os elementos de crítica às compreensões “naturalizantes” 
das relações sociais.
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Esse aparente paradoxo, como se tratasse de uma contradição problemática ao capital, é 
um elemento que na verdade o dinamiza, a despeito do trabalhador envolvido nessa história de 
qualificação de mão de obra. Como ressalta Marx, a especialização tem como efeito reduzir os custos 
de aprendizagem da força de trabalho, gerando uma “desvalorização relativa da força de trabalho, [...] 
[que] implica imediatamente uma maior valorização do capital, pois tudo o que encurta o tempo de 
trabalho necessário para a reprodução da força de trabalho estende, ao mesmo tempo, os domínios 
do mais-trabalho” (MARX, 2013, p. 424).
 Saiba mais
O filme A Classe Operária Vai ao Paraíso é uma indicação para entender 
esses conceitos. O principal personagem, Lulu Massa, é um operário que 
é consumido pelo capital. Ele não reconhece que seu trabalho garante 
a produção daquilo que sustenta o sistema capitalista. As condições de 
trabalho não são das melhores, pelo contrário: há uma maior intensidade 
da produção com as quotas ou metas, o operário é hostilizado pelos outros 
companheiros de chão de fábrica e além disso ele perde um dedo na 
máquina, o que vai mudar sua vida e sua forma de enxergar a exploração a 
que está submetido. Certamente, um filme a ser visto para compreender as 
transformações do indivíduo no capitalismo.
A CLASSE operária vai ao paraíso. Dir. Elio Petri. Itália: Euro International 
Film, 1971. 112 minutos.
Temos também com a manufatura a possibilidade de nos aproximar um pouco mais daquilo que é 
específico ao modo de produção capitalista.
Lembremos que nos primeiros capítulos de O Capital a exposição da discussão supõe uma divisão de 
trabalho na sociedade que é apenas a existente entre compradores e vendedores de diferentes produtos 
do trabalho. Afinal, essa é uma suposição indispensável à discussão do processo de troca (que a troca 
seja entre produtos diferentes). Agora, com a discussão da manufatura, a conexão que se manifesta é 
outra: é a da venda de diferentes forças de trabalho ao mesmo capitalista, que as emprega como força 
de trabalho combinada.
Analisar as relações sociais capitalistas tomando como referência somente a circulação dos produtos 
do trabalho e as trocas por ela geradas não permite problematizar o seguinte: a divisão manufatureira 
do trabalho tem como condição a concentração dos meios de produção nas mãos de um capitalista.
A concentração da produção, baseada na concentração dos meios de produção por um agrupamento 
social específico,não é uma falha do modo de produção capitalista ou um problema enfrentado por ele; 
essa dupla concentração é uma condição necessária ao funcionamento desse modo de produção.
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Se, de início, o trabalhador é precisamente aquele que vende sua força de trabalho ao capital por não 
dispor de meios materiais próprios para produzir uma mercadoria, agora, com a manufatura, a própria 
força individual de trabalho é insuficiente caso não seja vendida ao capital.
Contudo, um dos produtos mais importantes para a possibilidade de reprodução do capital foi a 
criação, pela manufatura, da oficina para a produção dos próprios instrumentos de trabalho.
A especialização não é apenas especialização do trabalho. Trata-se, a rigor, da divisão social do 
trabalho necessário às condições de reprodução das relações capitalistas. Isso implica se estabelecerem 
condições para o desenvolvimento de um setor especializado na produção de máquinas e equipamentos, 
um setor voltado para a produção específica de capital constante.
A necessidade de constante revolução do processo de produção com vistas a maximizar a produção 
de mais valor produz uma nova forma de organização do processo de trabalho: a grande indústria. É 
ela a base adequada à valorização do capital.
O desenvolvimento da grande indústria não é uma consequência natural da manufatura. Em certo 
sentido, é correto afirmar que a grande indústria nega a divisão do trabalho colocada pela manufatura.
Com a manufatura, eram os trabalhadores que utilizavam os meios de produção, enquanto na grande 
indústria são os meios de produção que empregam o trabalhador (o trabalhador se reduz à condição de 
um “apêndice” da maquinaria).
Figura 15 – A grande indústria (moderna) e o trabalhador, “apêndice” da maquinaria
Já no início do capítulo sobre maquinaria e grande indústria de O Capital, temos uma precisão 
do conceito de maquinaria. Diferentemente de uma concepção ingênua que vê na maquinaria uma 
invenção voltada para aliviar o esforço humano, Marx afirma que a maquinaria, como qualquer outro 
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desenvolvimento das forças produtivas do trabalho, tem como objetivo “baratear mercadorias e 
encurtar a parte da jornada de trabalho que o trabalhador necessita para si mesmo, a fim de prolongar 
a outra parte de sua jornada, que ele dá gratuitamente para o capitalista. Ela é meio para a produção de 
mais-valor” (MARX, 2013, p. 445).
A maquinaria existente no modo de produção capitalista, portanto, não é um produto “neutro” da 
invenção humana. Ela é o produto de condições históricas específicas e que assume um caráter 
social adequado ao modo de produção no qual se encontra inserida. No capítulo “Maquinaria e 
Grande Indústria” de O Capital, a dimensão histórica da transformação dos instrumentos de trabalho em 
máquinas é um dos determinantes centrais da análise.
Mas o que isso significa?
A análise desenvolvida por Marx visa destacar que, em vez de o desenvolvimento da cooperação, da 
grande indústria e da maquinaria serem resultados de um simples desenvolvimento histórico da inventividade 
humana, com a constituição da forma capitalista de produção de riqueza e excedente, tem-se uma oposição 
entre uma economia camponesa ou produção artesanal independente e a cooperação capitalista.
A partir das considerações sobre o papel da cooperação sobre a produção de mais-valia, Marx afirma:
Assim como a força produtiva social do trabalho desenvolvida pela cooperação 
aparece como força produtiva do capital, também a própria cooperação 
aparece como uma forma específica do processo de produção capitalista, 
contraposta ao processo de produção de trabalhadores autônomos e 
isolados, ou mesmo de pequenos mestres. É a primeira alteração que o 
processo de trabalho efetivo experimenta em sua subsunção ao capital 
(MARX, 2013, p. 410).
A noção de subsunção é central no argumento de Marx sobre as modalidades de produção de 
mais-valia. De modo mais simples e direto, essa noção ressalta a subordinação do processo de trabalho 
às necessidades capitalistas (de acumulação), isto é, o princípio da cooperação e da divisão manufatureira 
do trabalho adquire um caráter social particular quando o processo de trabalho é organizado de acordo 
com um sistema que objetiva a valorização do capital.
Todavia, cabe destacar que, no seu desenrolar histórico, o capital (e as relações sociais que o 
sustentam) imprime uma subsunção (subordinação) formal. O aspecto formal dela se deve ao fato 
histórico de que os trabalhadores, num sistema de cooperação simples, detêm razoável controle sobre o 
processo de trabalho. Por exemplo, numa oficina de artesãos que trabalha para um capitalista comercial, 
os trabalhadores ali ocupados têm o conhecimento técnico de praticamente todo o processo de trabalho; 
o capitalista é o agente que opera a intermediação dos produtos dos artesãos até o mercado e realiza 
uma extração de mais-valia absoluta de acordo com a jornada de trabalho definida por ele.
O mesmo já não se pode afirmar quando se analisa uma organização de grande indústria. Nessa 
grande indústria, as atividades particulares desenvolvidas durante o processo de trabalho são plenamente 
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subordinadas e coordenadas por uma unidade técnica, baseada em princípios técnico-científicos. Nesse 
caso, é inclusive compreensível a percepção de que o processo de trabalho não é executado pelos 
trabalhadores, mas pelo próprio capital, personificado na figura de seus gestores. Os trabalhadores não 
dominam o processo de trabalho, eles devem se subordinar ao ritmo de trabalho definido pela indústria 
e expresso materialmente na dinâmica da maquinaria instalada.
Mas não é só o ritmo de trabalho que é controlado pelo capital, o que, lembremos, garante 
condições eficientes para elevação de produtividade e alteração da intensidade do trabalho. O próprio 
conhecimento do processo de trabalho é retirado dos trabalhadores. O processo de qualificação e 
especialização dos trabalhadores significa que cada trabalhador domina uma parte insignificante do 
conhecimento necessário à realização de todo o processo produtivo. Logo, esse processo de qualificação 
é, simultaneamente, um processo de desqualificação. A subordinação (subsunção) do trabalho ao capital 
é agora um fenômeno real, materializado na forma de máquinas.
Figura 16 – Trabalhadores em uma linha de montagem
Nesse sentido, afirma Marx:
Tão logo a redução da jornada de trabalho – que cria a condição subjetiva 
para a condensação do trabalho, ou seja, a capacidade do trabalhador 
de exteriorizar mais força num tempo dado – passa a ser imposta por 
lei, a máquina se converte, nas mãos do capitalista, no meio objetivo 
e sistematicamente aplicado de extrair mais trabalho no mesmo 
período de tempo. Isso se dá de duas maneiras: pela aceleração da 
velocidade das máquinas e pela ampliação da escala da maquinaria 
que deve ser supervisionada pelo mesmo operário, ou do campo de 
trabalho deste último. A construção aperfeiçoada da maquinaria é, em 
parte, necessária para que se possa exercer uma maior pressão sobre 
o trabalhador e, em parte, acompanha por si mesma a intensificação 
do trabalho, uma vez que a limitação da jornada de trabalho obriga o 
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capitalista a exercer o mais rigoroso controle sobre os custos de produção 
(MARX, 2013, p. 484, grifos nossos).Essa subordinação real permite, além do destacado por Marx, que o capital possa executar 
uma rotatividade de trabalhadores (substituindo trabalhadores por outros com salários menores) 
sem que isso implique uma interrupção do processo de trabalho. Além disso, com essa divisão social 
do trabalho particular à grande indústria, descarta-se a necessidade de empregar trabalhadores 
altamente especializados à medida que o processo de trabalho se complexifica. A complexificação 
do processo de trabalho é simultaneamente um processo de simplificação das atividades individuais 
exercidas pelos trabalhadores.
Nesse mesmo processo de desenvolvimento da grande indústria, a ciência passa a ter um papel 
específico. Ela se converte em uma tarefa particular, que permite também a apropriação e o direcionamento 
produtivo de conhecimentos humanos gerais com vistas à extração de maior sobretrabalho.
Recapitular a discussão feita até o momento pode contribuir para tornar mais claras as conclusões 
de Marx sobre os métodos de produção de mais-valia.
Mudanças qualitativas introduzidas com a cooperação:
• Com uma escala ampliada de produção, as diferentes habilidades dos trabalhadores começam a 
se equilibrar o suficiente, a ponto de se apresentarem como um caráter socialmente médio do 
trabalho para cada ramo de produção.
• Mesmo que não se considere uma alteração no método de trabalho, o emprego simultâneo 
de um grande número de trabalhadores produz já uma “revolução” nas condições objetivas 
do processo de trabalho. Exemplos: economia de escala (economia de meios de produção e 
barateamento de produtos) e, com isso, aumento da mais-valia e redução do valor da força 
de trabalho (dado o barateamento de produtos, inclusive dos bens que compõem a cesta de 
consumo dos trabalhadores).
• Certas tarefas podem ser realizadas somente cooperativamente. A cooperação possibilita a 
realização de grandes tarefas (por exemplo, construção de uma barragem ou de vastas áreas de 
produção agrícola). Além disso, a cooperação permite maior concentração espacial dos esforços 
de trabalho, o que, por sua vez, possibilita maiores reduções de despesas.
Essas novas condições do processo de trabalho, que aparecem na esfera da circulação como fruto de 
relações livres e igualitárias entre trabalhadores e capitalistas, revelam um aspecto formal já mencionado 
por Marx quando ele tratava da origem da mais-valia.
São essas condições que permitem ao capitalista monopolizar os meios de subsistência dos 
trabalhadores e adquirir no mercado os meios de produção, os instrumentos de trabalho e a força 
de trabalho. Com a subordinação formal do trabalho ao capital, o caráter de classe da produção 
capitalista não se expressa em posições fixas, dadas, por exemplo, pelo nascimento. Independentemente 
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da origem social dos agentes, coloca-se que um agrupamento social reconhecível pelo seu papel na 
produção tem suas condições de subsistência determinadas pelo processo produtivo controlado por 
outro agrupamento social. De modo bastante elementar, esse agrupamento social subordinado é 
aquele chamado classe trabalhadora, enquanto o outro, que personifica o capital em seu processo de 
valorização, é o que se entende por classe capitalista.
A localização estrutural (determinada no processo de subordinação) de classes não é uma localização 
determinada moralmente, muito menos um exagero discursivo radicalizado de um socialista delirante. 
Ela é o resultado da análise das condições de produção e da tão difundida divisão social do trabalho, tão 
comemorada e destacada pela Economia Política clássica.
A divisão social do trabalho separa isso que é chamado de sociedade em pelo menos duas classes 
sociais fundamentalmente diferentes e opostas. É desenvolvendo esse ponto de modo mais sistemático 
que Marx passa a discutir o processo de acumulação de capital.
 Resumo
Esta unidade apresentou as origens da problemática tratada pela 
Economia Política inglesa. Essa problemática se concentrou largamente em 
torno da questão do valor.
Essa é uma das razões pelas quais a discussão de Marx também se inicia 
por aí. Sendo o objetivo estabelecido por Marx executar uma crítica da 
Economia Política, essa crítica toma como ponto de partida aquele que foi 
reconhecido como adequado pelo seu próprio objeto de crítica. Todavia, 
essa não é a única razão. De fato, a mercadoria, que revela de forma mais 
imediata, entre suas “qualidades”, a de ter valor, é a forma elementar em 
que aparece a riqueza capitalista. Logo, é por ela que se deve iniciar a 
análise da forma social e histórica que a riqueza assume.
Esse ponto de partida da mercadoria, porém, é um ponto de partida 
já retrabalhado por Marx. É um mérito da Economia Política clássica ter 
descoberto o duplo caráter da mercadoria (valor de uso e valor de troca); 
o que ela não foi capaz de identificar é que por trás desse duplo caráter 
da mercadoria está o duplo caráter do trabalho, que produz mercadorias 
(trabalho concreto e trabalho abstrato).
É a compreensão crítica desse duplo caráter do trabalho que abre a 
possibilidade de um novo entendimento sobre a forma social que os produtos 
do trabalho recebem – a forma mercadoria –, mesmo supondo condições de 
circulação simples. Longe de ser algo trivial e evidente, essa forma carrega 
sutilezas metafísicas e argúcias teológicas, fenômeno a que Marx dá o nome 
de fetichismo. O fetichismo se deve ao deslocamento objetivo produzido pelas 
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ECONOMIA POLÍTICA
relações sociais: a relação social entre produtores se converte numa relação 
entre coisas (os produtos do trabalho, as mercadorias) e a relação entre as 
coisas (mercadorias) é que assume o caráter de relação social. Contudo, o 
fetichismo não é um fenômeno restrito e localizado na mercadoria: ele é um 
fenômeno relacionado ao próprio valor.
O valor em Marx não é trabalho contido, como poderia sugerir alguma 
aproximação de sua abordagem às demais abordagens da Economia 
Política. O valor é, antes de tudo, uma relação social. Essa relação social 
tem uma grandeza, que é determinada pela quantidade de trabalho 
socialmente necessário (e reconhecido) para a produção da mercadoria, 
mas sua medida efetiva é o próprio dinheiro. Novamente, dados a forma 
social da riqueza e o caráter fetichista assumido por essas relações, o 
dinheiro aparece como o valor.
Não é para menos que a fórmula geral do capital tenha seus extremos 
expressos em dinheiro (D – M – D’). O capital, versão resumida de 
valor-capital, é justamente o valor que se metamorfoseia (em mercadorias, 
meios de produção e força de trabalho), assumindo formas distintas, mas 
que tem como finalidade a expansão quantitativa do próprio valor. Nesse 
sentido, é correto considerar que o capital (valor em processo) se torna o 
sujeito de um processo que formalmente não tem limites.
A questão que emerge é: como o valor é capaz de gerar mais-valor 
(mais-valia)? Como explicita Marx, não é possível que esse mais-valor seja 
resultado de algum mecanismo presente na circulação; ele é resultado de 
algum fenômeno que ocorre durante o processo de produção.
A análise de processo de produção permite a Marx encontrar a origem 
desse mais-valor, da mais-valia. Ela é fruto de trabalho realizado pelo 
trabalhador e que é apropriado pelo capitalista como trabalho não pago.
Agora, conhecendo a origem da mais-valia, cabe examinar os métodos 
de sua extração. Esses métodos são destacadamente a mais-valia absoluta 
(que se refere à extensão da jornada de trabalho) e a mais-valia relativa (que 
se dá por meio da redução do valor da força de trabalho). Mas esses métodosnão se desenvolvem num campo de análise vazio. Eles se materializam em 
formas (inclusive históricas) de extração de mais-valia, a cooperação, a 
manufatura, e têm como seu ápice a maquinaria e a grande indústria. Com 
esta última, a subordinação do processo de trabalho e dos trabalhadores ao 
capital se materializa na própria maquinaria e na organização da produção.
A crítica da divisão social do trabalho, esse fenômeno tão aplaudido pela 
Economia Política clássica, leva Marx a abordar as condições de reprodução 
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Unidade I
do capital, agora tomando não mais a perspectiva individual da relação 
contratual entre um capitalista e um trabalhador. Trata-se de examinar a 
reprodução do ponto de vista da totalidade da produção capitalista.
 Exercícios
Questão 1. Segundo a Teoria da Acumulação do Capital, de Marx, não basta que o capital se apodere 
do processo de trabalho e apenas alongue sua duração. O capital tem de “revolucionar as condições 
técnicas e sociais do processo de trabalho, portanto o próprio modo de produção, a fim de aumentar a 
força produtiva do trabalho, [e] mediante o aumento da força produtiva do trabalho reduzir o valor da 
força de trabalho e, assim, encurtar parte da jornada de trabalho necessária para a reprodução deste 
valor” (MARX, K. O Capital. São Paulo: Abril Cultural. 1984, p. 251). Nessa passagem, Marx identifica uma 
das características centrais do modo de produção capitalista. Indique-a.
A) Elevação constante da mais-valia absoluta decorrente do prolongamento da jornada de trabalho.
B) Tendência à pauperização absoluta da classe trabalhadora por efeito da introdução de progresso técnico.
C) Apropriação do resultado das horas trabalhadas pelo operário, mas não pagas, ou seja, da 
mais-valia.
D) Aumento progressivo da importância da mais-valia relativa devido à introdução de máquinas.
E) Redução do tempo de trabalho socialmente necessário para a produção, por meio da introdução 
de progresso técnico.
Resposta correta: alternativa C.
Análise das alternativas
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: nos processos capitalistas, o prolongamento da jornada de trabalho não é a única 
forma (ou a forma mais frequente) de aumentar a extração de mais-valia. O aumento da extração da 
mais-valia também ocorre com a manutenção dos salários em níveis suficientes apenas para a 
sobrevivência do trabalhador e para a reprodução da força de trabalho.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa: a classe trabalhadora não é levada à pauperização absoluta em função única e exclusiva 
da introdução de novas tecnologias; o que leva a classe trabalhadora à pauperização absoluta é a 
elevação da apropriação da mais-valia somada à manutenção dos salários ao nível da sobrevivência e à 
mera reprodução da força de trabalho.
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C) Alternativa correta.
Justificativa: esse mecanismo – o de apropriação das horas trabalhadas e não pagas – é central no 
processo de acumulação capitalista.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: a mais-valia diminui com a introdução de tecnologia, já que ela só pode ser extraída do 
trabalho humano, ou seja, da mão de obra utilizada na produção.
E) Alternativa incorreta.
Justificativa: a quantidade de horas necessárias para a sobrevivência do trabalhador não é reduzida 
em função do progresso técnico.
Questão 2. “Numa de suas frases mais famosas, escrita em 1845, o pensador alemão Karl Marx 
(1818-1883) dizia que, até então, os filósofos haviam interpretado o mundo de várias maneiras. “Cabe 
agora transformá-lo”, concluía. Coerentemente com essa ideia, durante sua vida combinou o estudo das 
ciências humanas com a militância revolucionária, criando um dos sistemas de ideias mais influentes 
da história” (Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/aprendizagem/karl-marx-307009.
shtml>. Acesso em: 10 nov. 2010). Pelo pensamento de Marx e seus sucessores, a “extração da mais-valia” 
é a base do processo de acumulação de capital (= processo de acumulação de capacidade produtiva = 
processo de acumulação de riqueza):
A) Na etapa mercantil do capitalismo.
B) Somente na fase inicial do capitalismo industrial concorrencial.
C) Apenas no processo de produção tipicamente capitalista, caracterizado pela posse dos meios 
de produção por determinada classe social e pela venda da força de trabalho por outra; é essa 
relação que permite a apropriação do resultado de horas trabalhadas e não pagas.
D) Apenas nos sistemas de arrendamento de terra, para benefício dos proprietários em detrimento 
aos empresários agrícolas.
E) Somente na etapa do capitalismo concentrado e estatizado.
Resolução desta questão na plataforma.

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