Buscar

A NECESSÁRIA REVISÃO DA SÚMULA 381 DO STJ


Continue navegando


Prévia do material em texto

A NECESSÁRIA REVISÃO DA SÚMULA 381 DO STJ
OLIVEIRA, Andressa Jarletti Gonçalves. A NECESSÁRIA REVISÃO DA SÚMULA 381/. Revista do Consumidor, vol. 110/2017, pág. 423 - 458
Redação da Súmula 381 do STJ:
“Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas”
Cláusulas abusivas são aquelas que colocam o consumidor em desvantagem nos contratos de consumo.
A súmula poderia ser interpretada assim: 
Um banco e um correntista celebram um contrato bancário repleto de cláusulas abusivas, mas o correntista, ao levar o caso à apreciação do judiciário, precisa elencar e requerer a revisão de todas as cláusulas que considera abusivas, pois o Juiz não pode conhecê-las de ofício, embora possa até ter ciência da existência delas.
Motivos que justificam a revisão da Súmula:
Infringe tanto normas de ordem pública do Código do Consumidor, como direitos fundamentais assegurados expressamente na Constituição Federal de 1988. 
SÚMULA N. 297 do STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras.  
Ou seja, a regra do artigo 51 do CDC deveria ser aplicado em toda demanda que trate de contratos bancários, em qualquer grau de jurisdição.
A Súmula 381, excluiu a possibilidade de aplicação da regra do art. 51, do CDC em toda demanda que trate de contratos bancários, em qualquer grau de jurisdição.
Art. 51: Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
Em síntese, a redação da súmula, resulta em inúmeros efeitos negativos, principalmente, viola-se o princípio da igualdade, pois implica no tratamento dado de forma desigual, ao tratar consumidores que se encontram em situações idênticas. Por exemplo, em tantas outras relações de consumo, o Superior Tribunal de Justiça admitiu a possibilidade do julgador, declarar, de ofício, a nulidade de cláusula contratual.
Além de trazer prejuízos a parte consumidora nos contratos bancários, viola as normas de ordem pública do CDC (LGL\1990\40), a qual possui matriz constitucional.
ART. 1° DO CDC: O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5º, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias.
ART. 5°, XXXII, “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor” e art. 170, inciso V, da CF/88 “A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: V - defesa do consumidor”. Não se abstendo disso, viola, igualmente, um direito fundamental, o direito de igualdade.
Submetem-se as normas do Código do Consumidor, não havendo duvidas em relação disso. 
Para atender ao comando dos artigos 5°, inciso XXXII, e artigo 170, inciso V, da CF/88, o Código de Defesa do Consumidor reconheceu e admitiu expressamente a vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo, com isso, a imposição de harmonização das relações, em decorrência dos princípios da boa-fé objetiva e da equidade (art. 4°, I e III). 
Boa fé: Entende-se tal princípio não como mera intenção, mas como objetivo primordial de conduta, exigência de respeito, lealdade, cuidado com a integridade física, moral e patrimonial, devendo prevalecer deste a formação inicial da relação de consumo.
Equidade: 
A equidade reforça a necessidade de se manter o equilíbrio contratual.
O CDC firmou um extensivo rol de direitos e proteções para os consumidores:
Informação adequada nos contratos (arts. 6°, III, e 52): DEVE SER CLARO E DE FÁCIL COMPREENSÃO, DEVE SER PRÉVIO,, sob a penalidade de não obrigar o consumidor, conforme dispõe os arts. 46, 53 e 54 do CDC. 
Assegurou o direito básico à modificação das condições contratuais, quando apresentem onerosidade excessiva ou desvantagem exagerada (art. 6°, V); 
A interpretação das cláusulas contratuais favoravelmente ao consumidor (art. 47); assim como a nulidade absoluta das cláusulas abusivas (art. 51). 
É nesse sentido, que permeia a luta pela revisão da súmula do STJ, pois a debilidade das cláusulas abusivas, como nulas de pleno direito, pelo CDC, é uma medida essencialmente protetiva do consumidor, pelas seguintes razões: limita a autonomia da vontade e orienta na formação adequada do contrato, de forma harmônica e atendendo aos princípios da boa-fé e equidade.
Hipossuficiência da parte consumidora na relação;
Pela escancarada e visível desigualdade de condições das partes no processo, o Código de Defesa do Consumidor, cogitou uma maneira de facilitar a defesa do consumidor em juízo, resultando na formação do art.6° VIII, como direito básico do consumidor, mediante a inversão do ônus da prova.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chega-se a conclusão de que o direito do consumidor é aplicável aos contratos bancários, possibilitando-se a revisão ou modificação de cláusulas abusivas. No entanto, a Súmula n. 381 do STJ que é aplicável apenas aos contratos bancários não merece ser mantida.
A natureza Constitucional, de ordem pública e interesse social do Código de Defesa do Consumidor (art. 1º) embasa o entendimento de que o julgador pode de ofício conhecer de cláusulas abusivas, nulas de pleno direito (art. 51, CDC), bem como de disposições contrárias aos princípios de direito do consumidor.
Evidencia-se então, que o STJ não levou em conta a natureza principiológica do estatuto consumerista, preferindo dar proteção a normas de direito processual em detrimento de normas de direito do consumidor que devem prevalecer sem qualquer ressalva, em qualquer hipótese, seja em contratos bancários ou não.
o impacto é muito grande aos consumidores, pois os contratos bancários são representativos de lides massificadas
JURISPRUDÊNCIA
APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO DE COBRANÇA. INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO. NULIDADE DA CITAÇÃO. CDC. APLICABILIDADE. ABUSIVIDADE. Não há falar em incompetência do juízo, pois além de se tratar do foro eleito no contrato, é aquele onde a obrigação buscada na demanda deve ser satisfeita. A cópia da memória de cálculo não se confunde com a cópia da inicial a que se refere o art. 250, V do CPC. Aplicabilidade do CDC que foi reconhecida na sentença, carecendo o apelante de interesse recursal no ponto. A impugnação às cláusulas contratuais deve ser específica, não se admitindo alegação genérica de abusividades. Inteligência da Sumula 381 do STJ. APELAÇÃO CÍVEL CONHECIDA EM PARTE E DESPROVIDA NA PARTE CONHECIDA. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70078576436, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Julgado em 18/09/2018).
(TJ-RS - AC: 70078576436 RS, Relator: Pedro Luiz Pozza, Data de Julgamento: 18/09/2018, Décima Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 24/09/2018)