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ANTROPOLOGIA

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Núcleo de Educação a Distância
R. Maria Matos, nº 345 - Loja 05
Centro, Cel. Fabriciano - MG, 35170-111
www.graduacao.faculdadeunica.com.br | 0800 724 2300
GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO.
Material Didático: Ayeska Machado
Processo Criativo: Pedro Henrique Coelho Fernandes
Diagramação: Ayrton Nicolas Bardales Neves
PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira, Gerente Geral: Riane Lopes, 
Gerente de Expansão: Ribana Reis, Gerente Comercial e Marketing: João Victor Nogueira
O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para 
a formação de profi ssionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por 
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.
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Prezado(a) Pós-Graduando(a),
Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!
Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confi ança 
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se 
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as 
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma 
nação soberana, democrática, crítica, refl exiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a 
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profi ssionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver 
um novo perfi l profi ssional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualifi car ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos 
conhecimentos.
Um abraço,
Grupo Prominas - Educação e Tecnologia
Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! .
É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha 
é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é 
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização. 
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como 
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua 
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profi ssional. Todo conteúdo 
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de 
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.
Estude bastante e um grande abraço!
Professor: Willians Alexandre Buesso da Silva
O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao 
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especifi cadamente em partes 
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao 
seu sucesso profi sisional.
Esta unidade pretende examinar a relação de proximidade en-
tre a História e a Antropologia, ancoradas pelo elo pautado no conceito 
de cultura. Para tal monta, apresentamos as discussões iniciais da in-
terdisciplinaridade entre as duas áreas e quais seus objetivos enquanto 
produção de conhecimento científi co. Ao longo dos capítulos, tratare-
mos sobre antropólogos que se dispuseram a pensar sobre a ques-
tão da historicidade dentro da Antropologia, desde o início de formação 
desta disciplina aos seus desdobramentos na Antropologia moderna, 
assim como, reconhecer os historiadores que se apropriaram do olhar 
antropológico para ampliar a noção de cultura presente em suas obras. 
A relação entre ambas proporcionou o amadurecimento entre as duas 
áreas, principalmente no desafi o de se desenvolver uma Antropologia 
não anacrônica, e uma História não etnocêntrica.
Antropologia; História; Conceito de Cultura.
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CAPÍTULO 01
PRIMEIROS CONTATOS ENTRE HISTÓRIA E ANTROPOLOGIA
Apresentação do módulo ______________________________________ 10
CAPÍTULO 02
DIÁLOGOS ENTRE ANTROPOLOGIA E HISTÓRIA
CAPÍTULO 03
DIÁLOGOS ENTRE A HISTÓRIA E A ANTROPOLOGIA
Emmaneul Le Roy Ladurie e a História Etnográfi ca _______________
Robert Darnton e a Antropologia Interpretativa _________________
47
50
Considerações Finais __________________________________________ 61
Recapitulando _________________________________________________ 62
Caminhos Distintos e Destinos Semelhantes ____________________ 57
Michel de Certeau e a Vida Cotidiana ___________________________ 54
História e Antropologia _________________________________________
Primeiros Contatos ____________________________________________
12
14
Recapitulando _________________________________________________ 26
A Nova História Cultural e a Antropologia Histórica ______________ 18
Lévi-Strauss e a História Dentro do Estruturalismo ______________
Debates e Embates da Antropologia com a História _____________
32
30
Recapitulando _________________________________________________ 43
Geertz e a “Descrição Densa” __________________________________ 37
Marshall Sahlins: Entre a Estrutura e o Evento ___________________ 35
Fechando Unidade ____________________________________________ 67
Referências ____________________________________________________ 70
Pierre Bourdieu: O Campo e o Hábitus __________________________ 39
Os historiadores e a Antropologia ______________________________ 47
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A proposta deste módulo é apresentar o debate entre a História 
e a Antropologia e as contribuições que cada uma ofereceu ao longo de 
suas trajetórias enquanto produção de conhecimento científi co citando 
como exemplos autores e obras que fi zeram parte deste diálogo.
No primeiro capítulo abordaremos alguns dos principais as-
pectos deste diálogo, tendo em vista a questão da interdisciplinaridade 
como um movimento histórico que buscou romper barreiras da fragmen-
tação do conhecimento científi co. Sendo assim, este diálogo entre as 
duas disciplinas é parte desta junção entre duas áreas muito vizinhas, 
que se desenvolveram separadamente e, em até determinados momen-
tos, negaram suas proximidades em seus princípios.
Alguns conceitos-chave são apresentados logo de início como 
parte das apropriações feitas da História sobre a Antropologia. A con-
cepção do que faz cada área também é abordada a fi m de relatar de que 
maneira uma está próxima a outra enquanto ciência.
Entre os conceitos elencados, o de cultura é o elo de maior 
destaque entre as duas áreas. Neste sentido, os subitens seguem de 
acordo com as escolas dentroda História que adotaram este conceito e 
de que maneira essa adoção infl uenciou esses escritos.
Podemos considerar a Escola dos Annales como uma das pri-
meiras a trabalhar com a proposta interdisciplinar em suas pesquisas e 
obtenção de dados sobre um determinado objeto ao relacionar as dife-
rentes áreas das chamadas Ciências Sociais em seu bojo. No entanto, 
a aplicação do olhar antropológico sobre a História teve maior impacto 
sobre a História Cultural a partir da década de 1970 e 1980, também 
chamado o período de Nova História Cultural.
É possível observar que, para a Antropologia, a presença da 
historicidade tem a ver com o processo de reconhecer as diferentes 
temporalidades de uma determinada cultura, este exercício passou des-
de a ideia de progresso pela escola Evolucionista até às transformações 
que esta temporalidade pode afetar nas estruturas. 
Sendo assim, apresentaremos, no segundo capítulo, perspec-
tivas dentro da Antropologia que trabalharam com esta ideia. Lévi-S-
trauss foi um ícone na defesa da diversidade de noções temporais sobre 
a questão histórica dentro da Antropologia, o qual se preocupou menos 
com a visão de progresso do tempo histórico e mais com a forma como 
são compreendidas as temporalidades de diferentes etnias.
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Em conjunto ao estruturalismo, Marshall Sahlins acrescentou 
críticas à questão dos eventos e mudanças que ocasionam transfor-
mações nas estruturas. O autor colocou o desafi o de perceber como a 
História e a Vida Social são feitas de ações humanas, as quais tendem 
a manter uma determinada cultura, assim como transformá-la.
O capítulo também trata sobre as contribuições de Cliff ord 
Geertz à História a partir de sua metodologia da “descrição densa”, mui-
to apropriada dentro da Nova História Cultural, o qual fez com que a 
noção de “interpretatividade” fosse incorporada à própria visão histórica 
sobre fatos e conjunturas.
Por último, trataremos das contribuições de Pierre Bourdieu, 
fi lósofo francês que deixou obras importantes e signifi cativas tanto para 
a Antropologia como para a História. Seus principais conceitos, como 
de campo e de hábitus são caros às duas áreas do conhecimento das 
ciências sociais, assim como, para autores que os utilizaram dentro da 
pesquisa historiográfi ca.
No terceiro capítulo, trataremos de alguns dos historiadores 
que se alçaram a trabalhar com o olhar antropológico dentro de suas 
metodologias e pesquisas históricas. Entre eles, o primeiro a ser apre-
sentado foi Emmanuel Le Roy Ladurie, francês que apresentou o tra-
balho do historiador muito próximo ao trabalho do etnógrafo em campo 
ao se debruçar sobre inquéritos da Inquisição dos séculos XIII e XIV 
na França, entre os autores, este é um dos únicos que foi associado à 
antropologia funcionalista de Malinowski.
Destacamos Robert Darnton, autor esclarecidamente infl uente 
com seu ex-colega de trabalho Cliff ord Geertz e a metodologia da “des-
crição densa”, sua produção científi ca teve bastante impacto por que-
brar com a visão economicista e demográfi ca sobre a História, amplian-
do as possibilidades de análise até então circunscritas ao materialismo 
histórico e dialético presente da própria História Cultural.
Michel De Certeau também ousou inovar ao adotar conceitos 
antropológicos de Tim Ingold, assim como, dar uma nova importância a 
fatores antes desconsiderados como fontes históricas, entre eles, a vida 
ordinária de pessoas de camadas populares e a vida cotidiana, como 
base para entender um determinado contexto social para além das for-
mas homogêneas de interpretação do comportamento humano.
Por último, faremos um balanço da relação entre essas duas 
áreas vizinhas e as possibilidades de diálogo entre elas.
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PRIMEIROS CONTATOS 
ENTRE HISTÓRIA &
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HISTÓRIA E ANTROPOLOGIA
A interdisciplinaridade representa uma tendência nas ciências 
hoje em dia e explica algumas fragilidades deixadas no início do século 
XX e questionadas até os dias de hoje. Em “A interdisciplinaridade como 
um movimento articulador no processo ensino-aprendizagem” (2008), o 
autor Juares da Silva Thiesen retrata a interdisciplinaridade dentro da 
área da Educação, mas que nos serve aqui para fazer um paralelo ao 
conhecimento antropológico e histórico:
O movimento histórico que vem marcando a presençado enfoque interdisci-
plinar na educação constituium dos pressupostos diretamente relacionados a 
umcontexto mais amplo e também muito complexo demudanças que abran-
ge não só a área da educação mastambém outros setores da vida social 
como a economia,a política e a tecnologia. Trata-se de uma grande mudan-
çaparadigmática que está em pleno curso. (THIESEN, 2008, p. 545)
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Esse movimento está relacionado com a grande fragmentação 
que as ciências, de um modo geral, sofreram desde o fi nal do século 
XIX até a primeira metade do século XX. Os diálogos interdisciplinares 
buscam resgatar aquilo que um dia foram as ciências, áreas que pos-
suíam vínculos diretos umas com as outras, de uma forma universal e 
versátil, e não universalizante.
Em “Lógica das diferenças e política das semelhanças: da lite-
ratura que parece história ou antropologia, e vice-versa” (1993), Walter 
Mignolo retrata a relação próxima entre as áreas da Literatura, da Histó-
ria e da Antropologia, a partir da ideia de que as diferenças e semelhan-
ças entre essas disciplinas estão muito mais voltadas para os objetivos 
que guiam os projetos de pesquisas e as análises feitas a partir de suas 
metodologias do que, de fato, uma essência natural que as distanciam.
Este fato requer observar que as ciências humanas nasceram 
de propósitos em comum, tanto a interdisciplinaridade quanto a proxi-
midade aceita entre as diferentes disciplinas, representa a necessidade 
de entendê-las a partir de aspectos em comum.
Neste capítulo iremos trabalhar com algumas abordagens re-
ferentes às duas áreas e o início deste diálogo. É preciso salientar que 
tanto a História quanto a Antropologia não pretendiam atuar como uma 
produção literária, essa crítica havia sido feita já por Cliff ord Geertz e 
acentuada por Robert Darnton, porém, não anula a própria literatura 
como uma fonte em comum entre ambas.
Aqui, iremos concentrar as principais questões que são rele-
vantes para os dois campos de conhecimento científi co, sendo primor-
dial reconhecer alguns conceitos iniciais como:
Cultura, como um conceito relativo às práticas e saberes so-
ciais de um determinado grupo, que possui demandas de acordo com 
as necessidades da vida social dos membros desta coletividade;
Etnicidade, como um conceito relacionado à etnia, representa 
o conjunto de características de um determinado coletivo em comum 
que os diferenciam de outros grupos.
Alteridade, como o exercício de reconhecer o lugar do outro e 
ao mesmo tempo se reconhecer na relação com este outro1; 
1 Veremos adiante que o exercício de alteridade não exclui a perspectiva de quem se 
propõe refl etir sobre o outro, ou seja, há limites reconhecidos – principalmente na teoria antropoló-
gica – neste exercício que não permitem se colocar integralmente dentro de outra etnia alheia à do 
observador, serve no entanto, como objetivo de refl exão.
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Relativismo, como proposta metodológica em que as culturas 
e seus costumes não são comparados a partir de um único referencial, 
e sim, de acordo com os valores que esta cultura possui;
Identidade,como representante do conjunto de características 
que identifi cam um determinado grupo ou pessoa;
Diferença, como características que diferenciam as peculiari-
dades de uma determinada sociedade, cultura e seu contexto histórico;
Etnocentrismo, como o reconhecimento de uma prática pauta-
da na negligência das diferenças culturas, assim como a eleição de uma 
única etnia como referência de valores e progresso.
Nos próximos capítulos iremos, de fato, apresentar autores 
que passaram pelo percurso de uma disciplina à outra, seja da História 
a caminho da Antropologia ou vice-versa.
PRIMEIROS CONTATOS
A aproximação entre as duas áreas de conhecimento, a Histó-
ria e a Antropologia, intermediadas pelo conceito de cultura, se deu a 
partir da abertura que cada uma sofreu para novas fontes de pesquisa. 
A relação entre ambas passa pela noção de temporalidades. 
Não nos cabe aqui fazer um retrospecto desde o início da His-
tória até as mudanças que ocorreram a favor de uma nova visão que 
abrangesse o pensamento antropológico, mas sim, ter como ponto de 
partida a infl uência do Positivismo, de um modo geral, como teoria in-
fl uente no tempo histórico e como ele deixou de fazer parte das con-
cepções historiográfi cas para dar espaço a outras visões científi cas do 
fazer do historiador e do antropólogo.
Antes de traçar este caminho, iremos conceituar o papel das 
duas áreas de conhecimento a partir do artigo “História e Antropologia: 
Relações Teórico-Metodológicas”, de Irineia Santos (2010). Segundo a 
autora, a História pode ser defi nida como:
[...] a ciência que estuda as transformações na sociedade humana no tem-
po e no espaço. Sua preocupação é descrever, analisar e interpretar essas 
transformações numa relação dialética entre passado e presente. É ciência
porque se esforça para que o conhecimento produzido tenha “validade em si 
mesmo” e não seja simplesmente “senso comum” ou meras opiniões erudi-
tas. Para isso, desenvolve um ferramental metodológico que sistematiza os 
passos para a pesquisa, sem amarrar o processo. (2010, p.3)
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Enquanto ferramenta metodológica podemos compreender a 
forma como as fontes são analisadas e em qual caminho se dirige a es-
crita na História. É a partir da discussão desse ferramental que podemos 
compreender a aproximação entre as duas áreas de conhecimento.
Quanto à Antropologia, podemos considerá-la como a prática 
de lidar e interpretar diferenças culturais a partir de um método, seja ele 
comparativo, histórico, estatístico ou etnográfi co, assim como o uso de 
técnicas para chegar a seus dados, como a observação participante, as 
entrevistas e questionários.
Podemos notar que o método histórico aparece como uma das 
possibilidades de ferramenta da Antropologia. Não por acaso esse mé-
todo se apropriou da História como forma de perceber diferenças cul-
turais, mas teve seus limites de acordo com as escolas de pensamento 
antropológico.
Até o fi nal do século XIX, a produção histórica pautava-se nas 
fontes de pesquisas ofi ciais, principalmente documentos institucionais 
que identifi cavam a veracidade dos fatos. A atenção também era volta-
da para as grandes batalhas e heróis dos fatos históricos.
A narrativa, muito voltada para uma ideia positivista da histó-
ria foi construída de maneira linear, com os acontecimentos históricos 
sendo trabalhados a partir da ideia de causa e efeito, sem espaço para 
outras temporalidades dos sujeitos históricos que não aqueles que re-
presentavam os protagonistas e seus grandes feitos.
Por outro lado, a antropologia também, infl uenciada pelo cien-
tifi cismo no fi nal do século XIX, estava voltada para os métodos rígidos 
da ciência para obtenção de dados sobre as diferenças culturais. Ainda 
no início do século XX, trabalhos como o de Malinowski (1884-1942), 
Evans-Pritchard(1902-1973) e Radcliff e-Brown (1881-1955) tinham cla-
ramente uma visão histórica pautada na ideia de sucessão de fatos de 
maneira linear, sem utilizar recortes sobre os acontecimentos. 
A preocupação da Antropologia, no período, fazia cindir a rela-
ção dialógica entre tempo e cultura, muito marcada pela dicotomia entre 
a linearidade do tempo e a busca por estruturas que se mantivessem ao 
longo do tempo, e de certa forma, identifi cavam o funcionamento das 
sociedades distantes da Europa.
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O estrutural-funcionalismo de Radcliff e-Brown foi uma das teo-
rias contemporâneas ao estruturalismo de Claude Levi-Strauss. Contu-
do, a proposta teórica de Levi-Strauss passaria ao longo do tempo por 
mudanças signifi cativas ao rever sua noção de tempo histórico.
Veremos ao longo deste debate que o termo “cultura”, aparece 
como interesse de pesquisas de ambos os lados, mas voltados para 
seus objetivos particulares, sem compartilhar um mesmo referencial 
teórico até o início do século XX.
Alguns trabalhos pioneiros na História como as obras de Karl 
Lamprecht(1856-1915) e Frederick Turner (1861-1932) foram pioneiros 
na aproximação entre a História e a Antropologia, mais especifi camen-
te, ao conceito de cultura. Contudo, podemos defi nir como um marco 
introdutório de novas abordagens nesta área do conhecimento as mu-
danças provocadas pela abordagem histórica da chamada Escola dos 
Annales, surgida na França durante a década de 1930.
No período, Marc Bloch (1886-1944) e LucienFebvre (1878-
1956) fundaram uma revista aberta a publicações com novas formas 
de abordagem histórica sobre diferentes e inusitados temas. Entre as 
propostas iniciais das pesquisas publicadas no periódico estaria a in-
terdisciplinaridade, pautados na ideia de que a História tinha como ne-
cessidade de renovação tratar sobre diversos aspectos que compõe 
um mesmo tema e a sociedade de um modo geral.De certo modo, se-
ria inviável se limitar apenas aos registros ofi ciais como fonte histórica, 
sendo assim, necessário o diálogo com as demais áreas das Ciências 
Sociais. 
Em “História e Antropologia. Possíveis diálogos”, Marcos Fe-
lipe Vicente retrata o que os autores desta escola chamavam de uma 
“história total”:
A interdisciplinaridade proposta por Bloch e Febvre na revista Annales d’His-
toireEconomique et Sociale tinha por objetivo realizar uma história total. Essa 
história deveria ser capaz de revelar não apensar a sucessão de eventos 
relacionados ao Estado, mas, principalmente, os aspectos econômicos e so-
ciais daquela sociedade, bem como suas estruturas mentais e formas de ma-
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nifestação cultural. Para essa análise total da História, o historiador deveria 
dialogar com outras ciências sociais, a fi m de adquirir um aporte teórico para 
a realização de suas análises.(2009, p.29)
Neste momento, podemos perceber que há um deslocamento 
de interesses que perpassam não só pela própria História, como pela 
Literatura, Geografi a, Economia, Arqueologia, para tratar interesses vol-
tados à cultura em especial, como um elemento fundamental para o 
entendimento de uma sociedade como um todo complexo.
Uma das consequências das propostas – principalmente for-
muladas por Fernand Braudel (1902-1985) -, foi o alargamento da noção 
da duração de tempo. Uma nova divisão entre curta, média e longa du-
ração foi além da visão única dos acontecimentos históricos encarados 
apenas como fatos sucessivos. A curta duração remete ao eventos, que 
de certa forma são passageiros na História, eles ocasionam mudanças 
mas cessam em um breve período de tempo, seus efeitos serão senti-
dos a médio e longo prazo.A média duração se refere a um conjunto de 
valores que perduram por um determinado período, como a moda, mas 
tendem a sofrer mutações conforme novos eventos ocorrem.
Já a longa duração se aproximava da ideia histórica do estru-
turalismo, pois reconhecefatores que resistiram ao tempo mesmo com 
eventos que sucederam transformações. É na longa duração que en-
contramos também estruturas cognitivas de pensamento, também cha-
madas de mentalidades, elas identifi cam os valores morais e sociais de 
uma determinada época que perdurou ao longo do tempo.
Além do alargamento das temporalidades, a mudança de foco 
para outras fontes históricas abriu o leque de possibilidades na pes-
quisa histórica. Como já citado, a literatura ganhou bastante destaque 
como uma fonte rica de conhecimento sobre o pensamento de uma 
sociedade e sua época.
Inclui-se nesta revisão das fontes históricas a utilização de 
documentos de cartórios, como registros de nascimento, certidão de 
casamento e óbito,fontes arqueológicas e cartas. Mais do que retratar 
uma época, essa pluralidade de fontes forneceu a possibilidade de re-
conhecer os vestígios sociais de um período e ampliar a compreensão 
de detalhes que estão muitas vezes guardados nas entrelinhas das fon-
tes escritas.
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O OLHAR ANTROPOLÓGICO E A HISTÓRIA CULTURAL
A Escola dos Annales abriu espaço para novas fontes de pes-
quisa em História, em decorrência deste amadurecimento, a Antropo-
logia como uma das áreas de interesses em comum com o historiador, 
também passou por transformações signifi cativas na segunda metade 
do século XX, a ponto de permitir-se também trabalhar com novas for-
mas de temporalidades.
A Escola dos Annales representa um movimento dentro de 
outro maior que se caracterizou como História Cultural, que dialogou 
bastante com a Antropologia, e durou desde o fi nal do século XIX até 
a década de 1980, quando passou por uma grande renovação. Essa 
escola foi formada em ordem por Jacob Buckhard(1818-1897), Johan 
Huizinga (1872-1945), Eric Hobsbawn (1917-2012), Edward Thompson 
(1924-1993), Lynn Hunt (1943- ) e Jacques Le Goff (1924-2014). 
Segundo Peter Burke, em “O que é História Cultural?” (2005), 
a inovação da desta escola não estaria tanto na metodologia aplicada, 
e sim, nos novos temas que se ampliaram na pesquisa dentro da His-
tória. Neste ponto, há um dialogo maior com outras áreas, entre elas a 
Antropologia. 
Uma das maiores contribuições que a Antropologia ofereceu às 
ciências sociais como um todo foi a possibilidade de reconhecer o ponto 
de vista nativo, a fala do outro se colocar no lugar de outra cultura para 
tentar entendê-lo. Este exercício, apesar de reconhecido seus limites, 
possibilitou pensar a História repleta de uma complexidade de detalhes 
a partir de uma visão total da realidade, assim como, perceber o outro e 
sua visão de mundo em outras temporalidades. 
A partir deste reconhecimento, é possível entendermos que a 
própria historiografi a2 passou por revisões também sobre o lugar da fala 
do historiador e sobre o objeto de pesquisa estudado. Muito dessa refl e-
xão se deve aos trabalhos do fi lósofo Paul Ricoeur (1913-2005) sobre a 
hermenêutica3 e a interpretação da História dando um signifi cado mais 
complexo à noção de pessoa e sujeitos históricos.
Não por acaso, o mesmo autor foi infl uente na metodologia de 
trabalho do antropólogo Cliff ord Geertz (1926-2006) ao adotar a pers-
pectiva interpretativa dentro da Antropologia. Geertz, autor que iremos 
dedicar um subitem sobre sua contribuições teóricas, é um dos autores 
que concatenou em sua obra discussões que transitassem ao mesmo 
tempo a Antropologia, A História e a noção de cultura. 
2 Historiografi a representa tanto a forma como é escrita a História, como também o estudo 
sobre os processos de produção da História. Poderíamos afi rmar que se trata de uma Ciência da 
História.
3 Hermenêutica se refere à área da Filosofi a que procura entender a interpretação como 
uma metodologia de pesquisa.
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Para o autor, é signifi cativo o ponto de vista do nativo, mas 
impossível de se colocar totalmente no lugar do outro, devido a diferen-
ças de valores morais, sociais. Todavia, é imprescindível em sua visão 
antropológica a tarefa de levantar informações e descrições o bastan-
te para que os elementos simbólicos de uma sociedade, seus hábitos 
e instituições estejam claros o bastante para que sejam interpretados 
à luz da realidade do objeto de pesquisa em questão. O grande risco 
que o pesquisador pode correr ao falar sobre passado e presente, no 
entanto, está no determinismo histórico, em que o passado recai sobre 
o presente e todas as explicações e interpretações sobre fenômenos e 
eventos são justifi cados pelo tempo passado.
Por este motivo, a interpretação, tanto sobre o presente quanto 
sobre o passado, passa pelo estranhamento de valores culturais entre 
épocas diferentes. Uma visão anacrônica da realidade, ou seja, um ro-
mantismo com o passado ou uma desatenção com práticas e hábitos do 
presente tendem a condenar tanto o trabalho de pesquisa do historiador 
como do antropólogo.
Além do determinismo histórico, outras formas de determinis-
mos tendem a condenar o trabalho de qualquer profi ssional dentro das 
ciências sociais. O determinismo se caracteriza pelo diagnóstico preci-
pitado, em que as conclusões são tomadas sem que as várias facetas 
de um mesmo problema ou situação sejam analisadas.
O termo cultura e culturas tanto na História quanto na Antro-
pologia se diferem e produziram mudanças de perspectivas teóricas. 
O primeiro entende a cultura como única e dotada de uma essência 
universal, enquanto o segundo termo reconhece a pluralidade de co-
nhecimentos, saberes e simbologias locais de uma etnia.
A NOVA HISTÓRIA CULTURAL E A ANTROPOLOGIA HISTÓRICA
A partir dos anos de 1980, um movimento conhecido como cul-
tural turn (giro cultural) expandiu o conceito de cultura como perspectiva 
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teórica em diversas áreas da pesquisa histórica, o episódio foi mais uma 
aproximação entre História e Antropologia e as demais ciências sociais.
Em “A escrita da História: dos positivismos aos pós-modernis-
mos” (2010), o autor James Aurrel, pesquisador sobre a produção histó-
rica, relata infl uências desse movimento:
No fi nal dos anos oitenta, as novas tendências relacionadas com a história 
cultural começaram a prevalecer sobre o resto. Num diagnóstico feito nos 
anos noventa, o historiador Patrick Joyce afi rmava que na Inglaterra, ‘se an-
tes éramos todos historiadores sociais, agora todos começamos a ser his-
toriadores culturais’. A história cultural parece ser, de fato, a nova fonte de 
atração da atividade acadêmica, especialmente nos países anglo-saxões e 
nos que recebem a sua infl uência. Nos Estados Unidos essa tendência cos-
tuma estar associada a um viés marcadamente intelectualista; na Alemanha, 
refl ete-se numa signifi cativa revitalização dos postulados de Max Weber. 
(AURREL, 2010, p.175)
O cultural turn deu força para a chamada Nova História Cultural, 
movimento que ecoou nos Estados Unidos, França e Inglaterra sobre 
novas produções temáticas. Podemos considerar que a Nova História 
Cultural foi refl exo de iniciativas que tiveram destaque durante a Escola 
dos Annales, mas os temas que encontramos em sua produção vão 
além de seus primeiros lampejos enquanto prática na década de 1950.
Como citado no subitem anterior, a infl uência da Antropologia 
trouxe a refl exão sobre a narrativa e o lugar da fala do objeto estudado 
e do historiador. Geertz, como um dos antropólogos de incentivo a este 
diálogo, foi inspiração para os trabalhos do historiador Robert Darnton 
(1939- ). 
Um dos trabalhos mais celebres de Darnton traduz os anseios 
desta escola de pensamento histórico. “O grande massacre de gatos” 
(1986), retrata a formação das classes baixas a partir de um evento em 
uma tipografi a francesa em 1730, em que aprendizes torturam e exter-
minam gatos querondavam o estabelecimento à noite perturbando o 
sono de todos.
No contexto, os trabalhadores,mau pagos, conviviam com as 
desigualdades e condições precárias de moradia e trabalho. O massa-
cre dos gatos envolve também os animais de estimação dos patrões 
burgueses da tipografi a. Aparentemente, sob um olhar marxista, pode-
ríamos considerar esta atitude um refl exo da luta de classes, mas a obra 
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do autor retrata de forma icônica o interesse da Nova História Cultural.
As explicações sobre a sociedade pautada na classe dominan-
te, aquela que determina as ideias vigentes de uma época e domina 
os meios de produção, encobriu o entendimento dos fenômenos e fa-
tos sociais a partir da classe baixa. Darnton, além de expor sobre esta 
condição, também remete ao folclore e à cultura popular as explicações 
sobre a realidade e espírito da época estudada.
O massacre de gatos vai além da luta de classes entre os 
aprendizes da tipografi a e seus patrões, o autor retoma valores da Ida-
de Média e do Renascimento para falar das crenças que delegavam aos 
gatos poderes misteriosos, como algo satânico. 
Além deste trabalho, o autor refl ete sobre sua narrativa, como 
meio de esclarecer este movimento de giro cultural e a infl uência de 
outras áreas das ciências sociais:
O método antropológico da História tem um rigor próprio, mesmo quando 
possa parecer, a um cientista social tarimbado, suspeitosamente próximo da 
literatura. Começa com a premissa de que a expressão individual ocorre den-
tro de um idioma geral, de que aprendemos a classifi car as sensações e a 
entender as coisas pensando dentro de uma estrutura favorecida por nossa 
cultura. Ao historiador, portanto, deveria ser possível descobrir a dimensão 
social do pensamento e extrair a signifi cação de documentos, passando do 
texto ao contexto e voltando ao primeiro, até abrir caminho através de um 
universo mental estranho. (DARNTON, 1986, p.XVII)
O trecho extraído da introdução da obra relata como os sujei-
tos históricos não vivem presos à condição histórica que o historiador 
prevê. Uma das críticas à visão materialista da História, provinda do 
marxismo, é que os trabalhadores – como esboçado nesta obra -, não 
acordam, vivem e dormem pensando na luta de classes. Por mais de-
sigual que seja as condições materiais de vida desses trabalhadores, o 
imaginário, o folclórico e o simbólico também estruturam essa vivência.
É neste sentido que algumas produções intelectuais neste pe-
ríodo se voltaram para a cultura popular. O determinismo demográfi co 
e econômico cedeu espaço aos atos, rituais, simbolismos e expressões 
da época para entender uma determinada realidade. Retrataremos al-
guns dos temas canônicos na História que passaram por revisões no 
período após o cultural turn.
O uso das imagens na historiografi a até as décadas de 1950 
e 1960 eram associadas a uma identifi cação real de uma sociedade e 
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sua época. A ideia de verossimilhança, ou seja, algo muito próximo à 
realidade que está representada na imagem, encobriu por muito tempo 
a possibilidade de desmitifi car ilustrações clássicas. A imagem, assim 
como o texto, é fruto de uma construção social, e passa pelos valores 
de quem a produz, o que fez com que a imagem passasse a ser fonte de 
interpretações sobre a representação de uma realidade, e não a cópia 
fi el sobre os fatos.
Assim como as imagens, a arte como um todo passou a ser 
pesquisada não só do ponto de vista de quem a produz, como também, 
a partir daqueles que recebem a produção artística.
O vestido rosa (Albertie-Marguerite Carré, later Madame 
Ferdinand-Henri Himmes, 1854–1935)
Berthe Morisot (French, Bourges 1841–1895 Paris)
Uma das grandes contribuições da Nova História Cultural so-
bre as discussões sobre sexualidade e gênero foi abrir espaço para o 
entendimento do sujeito histórico feminino e de seu cotidiano. 
Não é uma novidade exclusiva desta escola o debate sobre 
gênero na História, mas o período das décadas de 1980 e 1990 marca-
ram novos territórios sobre a perspectiva de gênero e sua interpretação 
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histórica consequentemente, o feminismo passou a ser abordado como 
uma linha de pensamento que reconheceu em diversas esferas as rela-
ções de poder estabelecidas entre homens e mulheres.
No Brasil, este movimento teve seus impactos sobre as repre-
sentações do papel feminino durante e após o fi m da escravidão. Ape-
sar de não se inserirem dentro da escola específi ca da Nova História 
Cultural, refl etem de maneira signifi cativa as ideias aqui expostas sobre 
este tipo de produção acadêmica.
Em “A Nova História no Brasil: Um estudo das apropriações 
teóricas e metodológicas no livro Festas e Utopias no Brasil Colonial de 
Mary Del Priore” (2017), o autor Thiago Granja Balieiro, faz um levan-
tamento sobre a infl uência da Nova História Cultural a partir da obra de 
Mary Del Priore, uma das principais historiadoras no Brasil com ênfase 
sobre a mulher como sujeito histórico na sociedade brasileira.
O autor retrata que a adesão aos textos da Nova História Cul-
tural no Brasil estão relacionados com o contexto dos anos de 1980 em 
que o país passava:
Os anos 80 são considerados anos de grande mudança no modo de fazer 
história no Brasil. As mudanças na organização da pós-graduação realizadas 
na década anterior deram grande impulso aos programas de pós em Histó-
ria de inúmeras universidades, sela pela consolidação dos mais tradicionais, 
sela pela ampliação de vagas e bolsas de estudos [...]. (BALIEIRO, 2017, p. 
73) 
Além dessas mudanças, o período político foi de grande in-
fl uência para a produção acadêmica. A década de 1970 foi intensamen-
te marcada pela produção historiográfi ca no Brasil de maneira engajada 
contra a Ditadura Militar (1964-1985), sendo assim, a perspectiva mar-
xista era predominante nas abordagens históricas, o que levou, com o 
tempo, a um esgotamento de temas e perspectivas apenas voltadas 
para o materialismo histórico e dialético quanto aos fatos históricos.
A mudança ocorreu na década de 1980 com uma abertura po-
lítica viável a publicações de livros com temas diversos, essa mudança 
também foi acompanhada da produção editorial de obras relacionadas 
à Nova História Cultural francesa, ou seja, a indústria cultural fomentou 
a leitura e referências de novos autores e temas dentro da própria His-
tória. 
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A partir dessa nova era acadêmica da historiografi a brasileira, 
houve um processo de desengajamento intelectual no sentido de que 
temas que não possuíam como objeto de pesquisa e metodologia po-
lítica relacionadas à teoria marxista passaram a ganhar novo espaço. 
Com esta abertura, os métodos da Nova História Cultural também pas-
sam a adentrar mais o terreno da produção acadêmica brasileira.
As mudanças provocadas foram acompanhadas de novas pu-
blicações de periódicos, livros, coleções, teses, dissertações, textos in-
dividuais temáticos dentro da História, assim como, novas traduções de 
autores até então encobertos pelo engajamento acadêmico marxista. 
Outro acompanhamento importante foram as criações de pro-
gramas de pós-graduação que se voltaram para temáticas relativas à 
Nova História Cultural, como a história das representações, sobre ima-
ginários coletivos, a vida material, entre outros, e foram desenvolvidos 
principalmente em universidades no estado de São Paulo.
Como exemplo deste momento de inspiração e guinada na 
historiografi a brasileira, as obras de Maria Odila Leite da Silva Dias, 
“Quotidiano e Poder em São Paulo no século XIX” (1984), e de Marina 
Maluf, “Ruídos da Memória” (1995), debateram sobre o lugar damulher 
na sociedade brasileira entre o fi nal do século XIX e início do século XX.
As duas obras esclarecem sobre o valor fundamental da res-
ponsabilidade feminina em administrar empreitadas de trabalho, assim 
como as diferenças entre mulheres de classes sociais distintas, e a for-
ma como a escravidão como um sistema político, econômico e social, 
norteou essas relações principalmente sobre a ótica dos problemas do 
patriarcalismo.
Em “Mulheres sem História” (1983), Maria Odila retrata como 
os próprios documentos ofi ciais devem ser reconsiderados de acordo 
com a época que foram produzidos, pois são carregados de valores 
morais pertinentes ao período, reconhecimento este que identifi cava as 
relações de poder na sociedade brasileira:
Processos administrativos, judiciais ou da polícia vem sobrecarregados de 
juízos de valor e de referências genéricas: ‘mulher vagabunda’, ‘desordei-
ras’, ‘turbulentas’, ‘depravadas’; de ‘má fama’, ‘cometeu ruindades’, ‘foi falsa’, 
‘prendeu-se por acusação de andar amancebada’[...] (DIAS, 1983, p.39)
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Aqui, podemos observar que a historiografi a brasileira tinha se 
fi xado até então no papel masculino na sociedade escravocrata e, pos-
teriormente, sobre o período republicano. Com todos esses detalhes, 
podemos observar que a História se tornou mais ampla e possível de 
ser refl etida por diversos ângulos a partir do conceito de cultura, muito 
caro também à Antropologia.
A Antropologia Histórica representa uma mescla desses esfor-
ços, ela está no bojo dessas ações ao propor uma “história dos hábitos” 
(VICENTE, 2009, p.34), em que os hábitos corporais, alimentares, afe-
tivos, entre outros, são estudados de acordo com os valores que são 
atribuídos a eles pela sociedade.
A Antropologia História acabou se ramifi cando como uma área 
que pesquisa temas que não foram muito explorados por historiadores 
e que são caros à Antropologia. Sendo assim, ela não possui, enquanto 
teoria, uma renovação metodológica, e se manifesta mais como uma 
forma de interpretar dados do que uma escola de pensamento.
Nos próximos capítulos iremos trabalhar com autores da Antro-
pologia e da História que dialogaramentre as fronteiras das duas áreas 
de conhecimento intermediadas pelo conceito de cultura como um elo 
em comum.
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QUESTÕES DE CONCURSO
QUESTÃO 1
Ano: 2018 Banca: CESPEÓrgão: IPHANProva: Técnico Nível: Mé-
dio e Superior
Acerca de diferentes abordagens historiográfi cas contemporâ-
neas, julgue o item que se segue. 
A micro-história defi ne-se, em geral, pelo foco em experiências 
e(ou) personagens do passado marcados por características ex-
traordinárias e, sobretudo, exóticas. 
a) Certo
b) Errado 
QUESTÃO 2
Ano: 2018 Banca: CESPEÓrgão: IPHANProva: Técnico Nível: Mé-
dio e Superior
Acerca de diferentes abordagens historiográfi cas contemporâ-
neas, julgue o item que se segue. 
Os primeiros praticantes da micro-história tinham o propósito me-
todológico de operacionalizar uma abordagem qualitativa de cultu-
ras e experiências ligadas a classes sociais subalternas. 
a) Certo
b) Errado
QUESTÃO 3
Ano: 2018 Banca: CESPEÓrgão: IPHANProva: Técnico Nível: Mé-
dio e Superior
Texto associado 
Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item se-
guinte, relativos à relação entre tempo e história.
Introduzida por Braudel, a categoria da longa duração adaptou e 
temporalizou a noção de estrutura proveniente da linguística e da 
antropologia e simbolizou uma defesa da importância da história 
diante dos avanços cognitivos e institucionais de outras ciências 
sociais na França de meados do século XX. 
a) Certo
b) Errado 
QUESTÃO 4
Ano: 2018 Banca: FCCÓrgão: TRT - 15ª Região (SP)Prova: FCC - 
2018 - TRT - 15ª Região (SP) - Analista Judiciário - História
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No processo de afi rmação da História como disciplina científi ca, 
no século XIX, 
a) aceitava-se como “verdade sobre o passado” as memórias comunitá-
rias orais que eram transcritas pelos historiadores e transformadas em 
documentos ofi ciais de Arquivo de historiadores.
b) predominava o documento escrito de caráter ofi cial como forma de 
conhecer os fatos ocorridos, em detrimento das formas de narrativa oral 
e comunitária sobre o passado.
c) considerava-se a memória como uma ciência auxiliar da história cien-
tífi ca, à medida em que ajudava a elucidar o conteúdo dos documentos 
escritos, prática que deu origem à Paleografi a.
d) valorizava-se a memória comunitária como base alternativa à história 
ofi cial dos Estados-Nação que surgiram no século XIX.
e) defendia-se que história e memória tinham uma relação de completu-
de, sendo a memória oral e coletiva utilizada para preencher as lacunas 
narrativas do discurso científi co da história.
QUESTÃO 5
Ano: 2018 Banca: FCCÓrgão: TRT - 2ª REGIÃO (SP)Prova: FCC - 
2018 - TRT - 2ª REGIÃO (SP) - Analista Judiciário - História
Em Apologia da história, depois de afi rmar que o modelo das ciên-
cias da natureza não se aplica à história, Marc Bloch discorre so-
bre a especifi cidade da ciência dos homens no tempo e defende a 
ideia de que cabe ao historiador:
a) render-se à evidência dos documentos, submetendo-os às críticas 
interna e externa.
b) descrever, o mais fi elmente possível, os acontecimentos do passado.
c) formular perguntas aos documentos e forçá-los a dar respostas.
d) isolar o tempo presente de seu universo de preocupações e referên-
cias.
e) eximir-se de interpretar os vestígios do passado, evitando toda e 
qualquer subjetividade.
QUESTÃO 6
Ano: 2016 Banca: NC-UFPRÓrgão: Prefeitura de Curitiba - PRPro-
va: NC-UFPR - 2016 - Prefeitura de Curitiba - PR - Docência I
No caso de imagens, como no caso de textos, o historiador ne-
cessita ler nas entrelinhas, observando os detalhes pequenos mas 
signifi cativos – incluindo ausências signifi cativas –, usando-os 
como pistas para informações que os produtores de imagens não 
sabiam que eles sabiam, ou para suposições que eles não estavam 
conscientes de possuir.
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(BURKE, Peter. Testemunha ocular: História e imagem. Bauru: 
EDUSC, 2004. p. 237) 
De acordo com o autor, em termos historiográfi cos, as imagens 
devem ser tratadas como 
a) documentos que traduzem o passado de forma objetiva.
b) recursos que complementam o conteúdo obtido através de textos. 
c) fontes indiciais que operam no campo das representações. 
d) registros precários que tendem a distorcer a realidade. 
QUESTÃO INÉDITA
Podemos considerar que a aproximação entre a História e a Antropolo-
gia foi:
a) benéfi ca para os dois lados, pois a produção de editoras passou a 
vender mais.
b) benéfi ca para os dois lados, pois antropólogos passaram a trabalhar 
como historiadores e vice-versa.
c) benéfi ca para os dois lados, pois ambas conseguiram se apropriar de 
ferramentas teóricas que as levaram a um amadurecimento intelectual.
d) prejudicial às duas áreas, já que o campo de atuação de ambas é 
limitado.
e) prejudicial à Antropologia, já que o historiador passou a fazer o tra-
balho específi co do antropólogo também ao se apropriar da etnografi a.
QUESTÃO DISSERTATIVA
A prática do racismo no Brasil está atrelada à formação da sociedade 
brasileira pautada em seu processo de colonização. A mão de obra es-
crava foi por séculos a principal fonte de trabalho da produção monocul-
tura de matéria prima de exportação. Com tantos anos de enraizamento 
no Brasil, o problema da escravidão foi empurrado para o século XX, 
décadas após o fi m da abolição da escravatura como um problema es-
trutural sem solução a ser resolvido pelas instituições públicas e gover-
namentais. Paralelo a este problema, a “teoria do branqueamento” da 
população,desenvolvida no fi nal do século XIX, foi um dos principais 
articuladores para esconder a prática do racismo e tratar esta doutrina 
a partir de argumentos científi cos e respaldados pela ideia da miscige-
nação entre as raças.
A partir deste contexto, explique de que maneira a História e a Antro-
pologia podem auxiliar nas relações entre passado e presente sobre a 
sociedade brasileira com relação ao racismo e às práticas derivadas do 
período escravista.
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NA MÍDIA
Interdisciplinaridade: um avanço na educação
Há três anos, um apagão obrigou a população a racionar energia e o 
Brasil a buscar alternativas. A crise, mostrada à exaustão nos noticiá-
rios, passou a ser o centro das discussões nas salas de aula. Seis pro-
fessoras do Colégio Santa Maria, de São Paulo, foram além e se reu-
niram em torno de um projeto interdisciplinar. Desde então, os alunos 
estudam fontes alternativas de energia, produzem aquecedores solares 
e ensinam a população a utilizá-los. O sucesso do projeto se explica 
principalmente porque os conteúdos de Ciências, Matemática, Geogra-
fi a, Língua Portuguesa, História e Ensino Religioso foram colocados a 
serviço da resolução de um problema real, de forma integrada.
Fonte: 
https://novaescola.org.br/conteudo/249/interdisciplinaridade-
um-avanco-na-educacao
NA PRÁTICA
Vimos acima no item “Na Mídia” como a interdisciplinaridade tende, 
cada vez mais, a dar espaço para resoluções de problemas que antes 
eram ancorados em áreas específi cas de campo de conhecimento A 
ou B. Essa tendência tem ocupado tanto a quebra de fronteiras entre 
as ciências como um todo como as humanas, biológicas e exatas, e 
também, entre si mesma, como no caso da História e da Antropologia, 
estimulado pelo debate entre as ciências humanas.
A quebra da rigidez entre uma área e outra tem proporcionado deba-
tes que amadureceram pesquisas e resultados para o conhecimento 
científi co, neste sentido, podemos citar que a produção intelectual de 
um historiador ou de um antropólogo está próximo do desafi o de saber 
lidar com outras áreas que aparentemente podem ilustrar obstáculos, 
mas que em seu bojo representam novas possibilidades de abordagem 
sobre um mesmo objeto em comum entre áreas diferentes.
Neste capítulo trabalhamos sobre os diferentes contatos entre as duas 
áreas do conhecimento. Analisando a atuação dos profi ssionais tanto 
da História quanto da Antropologia, podemos concluir que ambos estão 
no caminho de tentar entender um contexto social, conjuntura ou práti-
cas sociais a partir do conceito de cultura.
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DEBATES E EMBATES DA ANTROPOLOGIA COM A HISTÓRIA
Antes mesmo de apresentarmos os autores que dialogaram 
com bastante ênfase sobre a relação entre a Antropologia e a História, 
gostaríamos de relembrar algumas questões de trajetória entre as duas 
disciplinas e que repercutiram sobre os caminhos que cada uma tomou.
As diferenças entre a visão do tempo diacrônico e sincrônico 
na Antropologia fez com que as escolas de pensamento antropológico 
se contrapusessem teoricamente quanto à abordagem histórica. A pri-
meira escola, como o Evolucionismo, implantou de maneira crucial e 
condenatória a partir do método comparativo a visão histórica com base 
no progresso. 
Posteriormente, as críticas feitas a essa escola, com os teó-
ricos do Difusionismo, utilizaram dos argumentos históricos para de-
fender a ideia de que uma cultural possui suas origens a partir de um 
ponto em comum com outras, sendo assim, uma história da conjuntura 
ajudaria a explicar como culturas possuem suas diferenças e ao mesmo 
tempo, semelhanças o bastante para as colocarem em um mesmo pa-
tamar de respeito. No entanto, os argumentos não foram o sufi cientes 
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DIÁLOGOS ENTRE
ANTROPOLOGIA & HISTÓRIA
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para desgarrar a teoria difusionista da noção etnocêntrica europeia das 
análises antropológicas.
Diante desses impasses com a temporalidade histórica, o Fun-
cionalismo e o Estrutural-funcionalismo rompeu com a visão evolucionis-
ta e difusionista do tempo, mas sem se debruçar ou mesmo se apropriar 
do ferramental metodológico que a história já havia desenvolvido até 
então. Podemos supor que, na década de 1930, a Escola dos Annales 
já começava a dar suas contribuições para uma História interdisciplinar, 
com questões importantes que envolviam principalmente a noção de 
cultura em suas publicações no periódico lançado por seus autores.
No entanto, o diálogo entre as duas disciplinas, até a década 
de 1950, sempre foi limitado, pois a própria trajetória das duas áreas 
foi marcada por confl itos de interesses tanto sobre a noção de tempo 
por parte da Antropologia, como sobre a noção de cultura, por parte 
da História. Caso fossemos acrescentar um item a mais no título desta 
unidade, acrescentaríamos “tempo”, pois ele foi determinante para as 
pesquisas das duas áreas, assim como o conceito de cultura. 
Da mesma maneira, podemos considerar que a História tam-
bém teve seus problemas relacionados às noções de cultura e socie-
dade, a aproximação com a Antropologia foi justamente para tentar re-
solver este embate. Não por acaso, a macro-história chegou aos seus 
limites por não dar conta de determinadas realidades históricas tratando 
apenas a vida dos grandes e heróis e ilustres batalhas. 
No entanto, não podemos considerar como automática a rela-
ção entre uma e outra, esse dialogo também foi marcado por confl itos 
de interesses, como veremos adiante, nem todo historiador se apro-
priou da antropologia ou de uma só antropologia para desenvolver sua 
produção cultural. 
Assim como os campos científi cos e os paradigmas apresen-
tados por Thomas Khun, em “A estrutura das revoluções científi cas” 
(2011), cada campo científi co possui seus paradigmas, e quebrá-los 
signifi ca também abdicar de cargos, produção científi ca pautada em um 
método esgotado e mudanças metodológicas, portanto, a interdiscipli-
naridade, por mais que bem vinda às duas áreas, sempre sofreu para 
reconhecer espaço no outro lado do campo científi co com quem dialo-
ga. Talvez hoje em dia este dialogo esteja um pouco mais fl exível, mas 
ainda assim, historiadores atuam no campo da História e antropólogos 
atuam no campo da Antropologia.
Adiante, iremos apresentar autores que se aventuraram a dis-
correr sobre este debate tão produtivo dentro das ciências humanas, 
debate este que se encontra até hoje produzindo importantes questões 
históricas e antropológicas.
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LÉVI-STRAUSS E A HISTÓRIA DENTRO DO ESTRUTURALISMO
Lévi-Strauss (1908-2009), um dos grandes proponentes do 
estruturalismo dentro da Antropologia, exerceu alguns diálogos com a 
História que renderam diversas interpretações. A partir do artigo “Lévi-
-Strauss e os sentidos da História” (1999) de Márcio Goldman, iremos 
apresentar este debate e a contribuição do antropólogo para se pensar 
uma perspectiva antropológica sobre a História sem o olhar enviesado 
do etnocentrismo.
Os principais textos de Lévi-Strauss que fi zeram esse diálogo 
são “História e Etnologia” (1949), “Raça e História” (1952), “As descon-
tinuidades culturais e o desenvolvimento econômico” (1960), além de 
alguns capítulos de “O pensamento selvagem” (1962), “Voltas ao pas-
sado” (1998), fora aqueles textos em que o autor se refere à História in-
diretamente, sendo um interesse constante em suas análises e debates 
interdisciplinares.
Apesar de esclarecido seu ponto de vista quanto à relaçãoen-
tre História, Antropologia e a produção cultural de etnias, sua produção 
a cerca do tema caiu em interpretações confusas, levando seus concei-
tos ao contrário do que o autor propunha, o próprio etnocentrismo. O 
maior exemplo deste percalço é a distinção entre sociedades “quentes” 
e “frias”.
Entende-se por sociedades “quentes” aquelas que impulsio-
nam a História como um fator paralelo às estruturas sociais, ou seja, ela 
é viva e possível de ser percebida. Ao contrário, as sociedades “frias” 
são aquelas que a História acaba aparecendo como determinada pelas 
estruturas sociais. A interpretação que caiu em senso comum acadêmi-
co sobre esta teoria é de que em sua visão, há sociedades com e sem 
história.
Interpretar sociedades com ou sem História, na verdade, é um 
convite a entender a cultura como a escola evolucionista de Antropo-
logia tinha como proposta. Seria possível então conceber sociedades 
com desenvolvimento histórico e outras sem eles. No entanto, Lévi-S-
trauss estava lidando com um período em que a História aparecia como 
um fator imperativo sobre o entendimento de qualquer sociedade, esta 
visão histórica se arrastou desde o fi nal do século XIX até a primeira 
metade do século XX.
Neste sentido, o uso evolucionista do começo do século XX se 
trata mais de um aparato ideológico para afi rmar posições do que uma 
nova epistemologia para tratar fenômenos históricos. A obra que Lévi-
-Strauss caminha na contramão dessa proposta, assim como também, 
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propõe uma nova visão história para além das escolas culturalistas dos 
Estados Unidos, e o funcionalismo britânico, como cita Marcio Goldman:
[...] as críticas funcionalista e culturalista ao evolucionismo (e ao privilégio 
da história, consequentemente) são sobretudo de ordem “metodológica”. Ou 
seja, estão exclusivamente preocupadas com a quase impossibilidade de 
obter dados históricos confi áveis acerca das sociedades que, em geral, os 
antropólogos estuda. Ora, a crítica levistraussiana é muito mais ambiciosa. 
Partindo, certamente, das difi culdades encontradas pelo conhecimento his-
tórico em face das sociedades ditas primitivas, Lévi-Strauss não apenas diri-
ge um ataque verdadeiramente epistemológico ao evolucionismo social (em 
“História e Etnologia”, “Raça e História” e outros textos) como elabora uma 
crítica mais profunda ao imperialismo da história em geral – crítica que se 
encontra sobretudo nos dois últimos capítulos de O pensamento selvagem. 
(GOLDMAN, 1999, p.227)
A esse imperialismo histórico, Lévi-Strauss concebe na década 
de 1960, três propostas diferentes sobre o que é a história: 
a historicidade, aquela em que as sociedades agem sem saber 
ao certo qual o destino que irão tomar, pois representa uma 
época e os sujeitos pertencem como uma condição temporal;
a história dos historiadores, formulada e interpretada segundo 
seus valores e paradigmas;
a fi losofi a da história, que busca repensar suas próprias 
concepções.
Lévi-Strauss deixa claro que até a década de 1960, a História 
possuía uma forma de conceber a sociedade e seus fenômenos sociais 
de maneira tão rígida como qualquer outra ciência a fi m de produzir 
resultados. 
Aqui podemos perceber que havia um distanciamento até en-
tão entre historiadores e antropólogos, e a afi rmação da responsabilida-
de em especial de entender a diversidade cultural e, consequentemen-
te, perceber inúmeras temporalidades, resguardadas a Antropologia.
A contribuição de Lévi-Strauss abriu novas perspectivas para 
se pensar a História a partir da diversidade. Podemos entender diver-
sidade como o conjunto de características culturais de uma sociedade 
que possui explicações acerca de sua própria história.
É a partir desta afi rmativa que a ideia de sociedades “quentes” 
e “frias” se distinguem do modo como entendem suas temporalidades. 
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O fato de haver uma sociedade que não pense sobre sua própria tem-
poralidade não é defendida pelo antropólogo como uma banalidade – se 
é que de fato existem sociedades que não pensam sobre sua própria 
temporalidade -, mas de que nem sempre o tempo cronológico europeu-
-norte-americano dará conta de responder a todos os tipos de noção 
histórica.
Outro ponto importante de inovação da teoria de Lévi-Strauss 
entre a Antropologia e a História é a ideia de história “cumulativa” e 
história “estacionária”, as quais complementam adiante as ideias de so-
ciedades “quentes” e “frias”.
A proposição do autor que podemos encontrar sociedades com 
uma história cumulativa, ou seja, que possuem uma produção técnica e 
cultural que melhor dinamizam as suas relações sociais, como exemplo, 
sociedades que viviam na América antes da chegada do colonizador 
europeu e possuíam técnicas de sobrevivência hoje reconhecidas como 
avançadas.
Isso requer entender que desenvolvimento técnico nunca foi 
algo exclusivo a etnias originárias no berço do Mar Mediterrâneo (Euro-
pa, Norte da África e Oriente Médio).
O texto “Raça e História” de Lévi-Strauss foi um importante 
marco na quebra da ideia de sociedades avançadas e atrasadas. O pro-
gresso existe em diferentes graus de acordo com os interesses de uma 
sociedade, as quais muitas vezes estão relacionadas a valores subje-
tivos. Da mesma forma, pensar o progresso associado a raça também 
foi por muito tempo justifi cativa para teorias racistas da própria história, 
o que o autor procurou combater com o conceito de diversidade para 
entender a temporalidade de outras culturas.
A proposta do estruturalismo, no entanto, sempre levou em 
consideração de que maneira forças e instituições maiores que o indiví-
duo desse signifi cado para sua vida social, assim como para a História. 
Contudo, é preciso salientar que a visão de Lévi-Strauss não condenou 
particularidades, assim como fi zeram os estudos comparativos evolu-
cionistas no começo do século XX.
A própria ideia de história “estacionária” parece remeter à velha 
ideia de sociedades atrasadas em uma leitura desatenta, no entanto, o 
autor deixa em aberto mais uma vez a possibilidade de haver etnias que 
trabalhem dessa maneira de acordo com sua temporalidade.
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Podemos perceber, na aproximação que Lévi-Strauss faz entre 
História e Antropologia, uma abertura para encarar sociedades diferen-
tes da ocidental como dotadas de uma noção própria de temporalidade. 
A concepção de História, para além da ideia simples de sucessão e 
acontecimentos, depende muito de como a própria sociedade se en-
tende.
A proposta do antropólogo quebra com o progresso histórico 
ao perceber, por exemplo, que em sociedades “quentes” e com histó-
ria “cumulativa”, é muito mais comum encontrar guerras, disputadas e 
desigualdades do que em sociedades julgadas como “frias” e “estacio-
nárias”. Ou seja, a noção de história vinda do mundo ocidental e encon-
trada em outras sociedades com ideia semelhante, não garantem que o 
progresso estava atrelado ao seu desenvolvimento.
A História aparece não como uma temporalidade perdida e sol-
ta no universo social, mas dependente do entendimento da concepção 
de cultura que a fundamenta, caso contrário, corremos o risco de nos 
apoiarmos sobre uma visão etnocêntrica dos fatos.
MARSHALL SAHLINS: ENTRE A ESTRUTURA E O EVENTO
O antropólogo Marshall Sahlins (1930- ) possui suas bases 
teóricas associadas ao estruturalismo, mas podemos afi rmar que ele 
não está relacionado a uma única linha de pensamento antropológica. 
Se Lévi-Strauss pensou sociedades “quentes” e “frias”, “cumulativas” 
e “estacionárias”, Sahlins indagou sobre a noção de movimento dentro 
das estruturas sociais e de que modo as próprias estruturas também 
trabalham produzindo e dando novos signifi cados a símbolos.
São diversas as obras em que oantropólogo refl ete sobre a 
História e o impacto de eventos em mudanças estruturais. Entre elas, 
podemos citar “Cultura e Razão Prática” (1976) e “Ilhas de História” 
(1985), e “História e Cultura. Apologia a Tucídides” (2004)
Os principais interesses de debate teórico proposto pelo autor 
eram o estruturalismo francês, representado pela linguística de Fernand 
de Saussure (1857-1913), e infl uente na obra de Lévi-Strauss, e com a 
Escola dos Annales. A ambas teorias o autor propôs uma melhor acep-
ção dos eventos no estruturalismo e uma visão mais antropológica na 
História, devido às generalizações da noção temporal da longa duração 
na compreensão sobre os fatos históricos.
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Apesar de ter demonstrado a diversidade na compreensão do 
tempo histórico proposto por Lévi-Strauss, pouco apareceu em sua obra 
como as estruturas são modifi cadas ao longo do tempo. Dessa manei-
ra, a concepção que se cria sobre o tempo é de que as estruturas são 
imutáveis.
Apropriando-se do conceito marxista de práxis, que compreen-
de a ação humana em sociedade, Marshall Sahlins propôs o conceito 
de “mitopráxis”, que traduz a ideia de que os mitos explicam uma deter-
minada realidade como um sistema universal presente em diversas so-
ciedades, sendo assim, representa um fator estruturante para entender 
diversas culturas. 
Contudo, o entendimento da realidade pelo conceito do autor 
não pode congelar a sociedade, pois esta mesma sociedade não está 
isenta da ação humana, da práxis, sendo assim, a própria história é 
representada pela ação humana e tende a dar novos signifi cados aos 
símbolos e às estruturas de uma determinada sociedade. Os mitos ex-
plicam a ação humana sobre a realidade, assim como, são responsá-
veis também por mudanças e transformações.
Para compreender esse processo de dar novos signifi cados, é 
preciso entender que a reprodução das estruturas passa pelos valores 
culturais pertencentes a uma dada sociedade, e sendo assim, tendem a 
sofrer transformações.
Um dos exemplos clássicos da mitopráxis proposta por Sahlins 
está em “Ilhas de História” (1985) ao retratar a visita do capitão inglês 
James Cook ao Havaí entre 1778-1779. O encontro do capitão inglês 
com os colonos havaianos provocou um choque cultural mas, ao mes-
mo, tempo resultados que não seriam esperados pela tripulação de 
Cook.
Em um primeiro momento, o navegante havia sido identifi cado 
como Lonos, Deus responsável pela fertilidade e representante das fes-
tividades anuais de Makahiki. Esta associação com sua imagem rendeu 
prestígios, que até certo ponto, foram desfrutados pelo capitão e seus 
encarregados. Contudo, a própria mitologia havaiana considerava Lono 
como uma entidade a ser morta, pois também representa o usurpador 
do reino, e assim se deu o desfecho da relação entre havaianos e o 
capitão Cook.
O que Sahlins propõe, e provoca ao mesmo tempo, é que o 
contato real que havaianos tiveram com seu próprio mito é fruto da res-
signifi cação em contato com a realidade. Uma divindade presente não 
coibiu o ato de concluir a própria mitologia havaiana, assim como, a re-
lação imaginada entre chefe e pessoas comuns caiu por terra ao supor 
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que este Deus deveria morrer.
O que podemos perceber no trabalho de Marshall Sahlins é 
uma preocupação em não associar a Antropologia – representada pelo 
estruturalismo – à História diretamente, sem reconhecer o caráter mu-
tável que as culturas possuem, sendo elas mesmas responsáveis por 
mudanças que atingem as estruturas.
Neste sentido, podemos observar que, mais do que uma con-
tribuição entre as duas áreas do conhecimento, há debates ainda por 
serem percorridos, os quais não foram esgotados o sufi ciente enquanto 
pesquisas.
Saiba Mais
Arte: o artista John Cleverley (1712-1777) pintou diversas 
obras do universo das navegações, entre elas, uma tela que 
retrata a morte do capitão Cook, reconhecido como um 
importante fato histórico.
GEERTZ E A “DESCRIÇÃO DENSA”
Como apontado no primeiro capítulo desta unidade, Cliff ord 
Geertz (1926-2006) é um dos autores que mais compartilhou conceitos 
com a chamada Nova História Cultural. A chamada “descrição densa” 
é o que o coloca em devida importância ao tratar sobre problemas his-
tóricos.
‘A “descrição densa” está relacionada ao conceito de cultura 
que o antropólogo defende. No caso, ele se baseou na concepção de 
Max Weber (1864-1920) para falar sobre cultura:
Acreditando, como Max Weber, que o homem é um animal amarrado a teias 
de signifi cados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas 
teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em bus-
ca de leis, mas como uma ciência interpretativa, à procura do signifi cado. É 
justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais 
enigmáticas na sua superfície. (GEERTZ, 2002, p.4)
Caso fossemos detalhar o que representa a cultura enquanto 
conceito segundo a Antropologia, encontraríamos diversas defi nições. 
Como apresentado em “Cultura: A visão dos antropólogos” (2002), de 
Adam Kuper, há diferentes visões sobre este conceito, e sua defi nição 
depende a escola antropológica a que está inserido. O que aproveita-
mos aqui sobre esta diversidade de conceitos é que após o cultural turn
na década e 1980, não foi mais possível entender a cultura como um 
conceito unido e universal para todas as etnias.
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Como esboçado na citação acima, “teias de signifi cado” simbo-
lizam o termo cultura para Geertz e demonstram o quão diverso pode 
ser este conceito em cada contexto estudado. O entendimento de uma 
sociedade exige compreender as relações de signifi cados que os ele-
mentos simbólicos possuem entre si e qual os valores atribuídos a eles 
pelos próprios nativos.
Quantomaior o número de detalhes sobre os diversos aspec-
tos que formam essa “teia de signifi cados”, mais próximo de uma “des-
crição densa” sobre uma sociedade estaremos, e consequentemente, 
sobre as possibilidades de seu entendimento.
A mera descrição do antropólogo também não garante a inter-
pretação sobre valores culturais locais. Essa foi uma das críticas feitas 
à escola culturalista de Franz Boas (1858-1942) e suas pesquisas no 
início do século XX. É preciso diferenciar entre simples gestos e a sua 
interpretação à luz das intenções e ações de cada indivíduo por trás 
desses gestos, fato este que defi ne o que é a Antropologia Interpreta-
tiva.
O trabalho de Geertz abriu espaço para estudos de detalhes 
antes considerados apenas como abstratos ou desprezíveis. Em um 
dos trechos de sua obra o autor cita um exemplo simples, como o de 
uma piscadela, que pode representar diversos signifi cados dependendo 
do contexto em que está inserido:
O problema metodológico que a natureza microscópica da etnografi a apre-
senta é tanto real como crítica. Mas ele não será resolvido observando uma 
localidade remota como o mundo numa chávena ou como o equivalente so-
ciólogo de uma câmara de nuvens. Deverá ser solucionado - ou tentar sê-lo 
de qualquer maneira – através da compreensão de que as ações sociais são 
comentários a respeito de mais do que elas mesmas; de que, de onde vem 
uma interpretação não determina para onde ela poderá ser impelida a ir. 
Fatos pequenos podem relacionar-se a grandes temas, as piscadelas à epis-
temologia, ou incursões aos carneiros à revolução, por que eles são levados 
a isso.” (2002, p.16-17) 
Foi a partir desta contribuição à Antropologia que se desen-
volveu a ideia de microhistória, que reduz as análises a uma escala 
menor sendo possível a percepção dos indivíduos e suas ações. Essa 
apropriação da microanálise na História se deu em um momento na dé-
cada de 1980, em que as macroanálises dominavam a historiografia e 
o modo de expressar conteúdos simbólicos de uma determinada época 
e sociedade.
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As grandes análises de caráter generalizante tendiam a focar 
seus estudos sobre as relações de poder e grandes movimentos histó-
ricos, fechando-se, assim, ao tempo da longa duração. As grandes con-
junturas eram utilizadas como explicação de todo um contexto social, e 
detalhes eram engolidos como pormenores não infl uentes na História.
A narrativa apresentada por Paul Ricoeur utilizada por Geertz, 
e apropriada por historiadores como Carlo Ginzburg, em “O queijo e os 
vermes” (1976), deixa claro que o percurso metodológico tomado pelo 
pesquisador possa por decisões particulares e subjetivas, sendo assim, 
a objetividade científi ca e ortodoxa da História do século XIX até a me-
tade do século XX não representa o ideal de apoio para os resultados 
de pesquisa da microhistória. 
Da mesma forma, tanto a microhistória quanto a microanálise 
da Antropologia Interpretativa sofreram críticas. Entre as críticas, duas 
chamam a atenção: a primeira é de que há sobreposições exageradas 
sobre a importância dada aos detalhes microanalíticos em detrimento 
aos dados das macroanálises, o local se torna mais importante que o 
geral neste sentido, o que pode gerar um desequilíbrio entre as partes; 
em segundo lugar, a exaltação de métodos diretos de fonte de pesqui-
sa, como forma de desqualifi car fontes indiretas.
Todavia, apesar das críticas, podemos concluir que o contato 
entre a Antropologia Interpretativa e a microhistória fez amadurecer os 
dois campos de conhecimento. Foi a partir deste contato que temas 
antes desprezados pela macrohistória passaram a fazer mais sentido 
para outros historiadores.
PIERRE BOURDIEU: O CAMPO E O HÁBITUS
Pierre Bourdieu (1930-2002) foi um fi lósofo que, apesar de ser 
associado com a Sociologia, deu importantes contribuições à Antropo-
logia, assim como teve seus conceitos apropriados por historiadores 
também.
Tratando-se de contribuições e apropriações entre diferentes 
áreas do conhecimento, autores que produziram para as Ciências Sociais 
podem ser utilizados de diferentes maneiras tanto pela Antropologia, Socio-
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logia, Ciência Política, assim como pelas demais Ciências Humanas.
Em “História Cultural e Sociologia: contribuições de Bourdieu 
para uma ciência da obra cultural” (2011), o autor Claércio Ivan Sch-
neider analisa de que maneira os conceitos de Bourdieu foram caros 
à História Cultural a partir da obra do autor “As regras da arte” (1996). 
Nessa obra, o autor estabeleceu novos parâmetros de análise sobre a 
produção cultural e artística dentro da literatura, que servem também 
para as interpretações históricas no trabalho do historiador.
São alguns dos aspectos importantes levantados sobre a aná-
lise de obras culturais dentro da literatura:
[...] entender as regras que regem escritores e instituições literárias; atentar 
ao trabalho de produção, edição e distribuição da arte e do “artista”; estudar a 
gênese social do campo literário e jornalístico (crença que o sustenta; jogo de 
linguagem; interesses materiais e simbólicos); analisar a obra literária como 
um signo intencional habitado e regulado pelas regras de seu campo; e, por 
fi m, perceber os princípios de visão e de divisão dos problemas que eles se 
colocam, e das soluções que lhes dão os autores. 
(SCHNEIDER, 2011, p.6-7)
Esses são exemplos de como uma produção cultural é traba-
lhada. No caso de “As regras da arte”, Bourdieu enfatiza sobre a pro-
dução literária e como entender uma obra dentro de seu contexto. Dois 
conceitos são primordiais na teoria social de Bourdieu:
Campo, como uma estrutura de relações em que os 
personagens sociais ocupam espaços e defendem suas 
posições sociais;
Hábitus, como o comportamento aceito e criado dentro do c
ampo de acordo com os lavores que são defendidos nele.
Mais adiante iremos voltar a estes conceitos a partir do texto 
de Schneider, mas podemos reconhecer que estes são conceitos impor-
tantes para compreender também uma determinada cultural. O uso dos 
termos “código” se refere às características identitária de determinado 
campo e como de certa forma ele estipula os hábitus aceitos socialmen-
te.
A partir da literatura, Bourdieu buscou estabelecer parâmetros 
para compreender as normas de funcionamento de um grupo de escri-
tores relacionados a um contexto. A produção literária não está asso-
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ciada simplesmente ao ato de escrever, ela envolve jogos de posições 
e reconhecimentos estabelecidos dentro de si como uma lógica de fun-
cionamento.
Mais uma vez, o termo “estrutura” é utilizado por um cientista 
social e fi lósofo, mas novamente esta estrutura não possui os mesmo 
signifi cado que a Antropologia estruturalista ou mesmo a crítica feita 
por Marshall Sahlins sobre a relação entre estrutura e evento. A bus-
ca pelas regras que representam o funcionamento de um meio social 
para Bourdieu é o que identifi ca sua ideia de estrutura, entender essas 
regras resume entender o campo e como os hábitus estão associados 
a ele. No caso da literatura, é preciso compreender a análise sobre o 
campo literário, sua estrutura de funcionamento interno e a origem dos 
hábitus, como comportamentos derivados dos códigos estabelecidos 
dentro deste campo.
A partir do conhecimento dessas três operações, é possível 
reconhecer o contexto histórico da estrutura em questão, a qual envolve 
as posições que ocupam os personagens históricos e a concorrência 
que disputam entre si. Dentro desta lógica, podemos observar que para 
Bourdieu, o campo não é neutro, ele é permeado por disputas de poder 
que originam cargos e posições sociais. Associado à literatura, a pro-
dução de uma obra cultural está relacionada com a posição do escritor 
nas relações de poder dentro deste campo, como também, à maneira 
como os personagens agem com seus objetivos. Podemos perceber 
que Bourdieu trouxe um conceito diferente dentro da Antropologia ao 
tratar a organização social a partir do campo e do hábitus, pois esses 
dois elementos foram associados em outras escolas de pensamento an-
tropológico como instituições, comportamentos ou fenômenos sociais.
Outra questão importante é sobre a maneira como o autor re-
conhece esses campos. Como citamos no início deste módulo, a inter-
disciplinaridade foi e continua sendo um movimento histórico voltado 
para a quebra da fragmentação do conhecimento científi co cindidos em 
áreas específi cas, sendo assim, os conceitos que emergiram e foram 
apropriados entre a Antropologia e a História foram resultados de apro-
ximações e superações de fronteiras.
No caso de Bourdieu, ele aposta o reconhecimento de um 
campo justamente no recrudescimento das fronteiras, das disputas por 
mantê-las, e o que fazem delas possuírem uma lógica própria de auto-
-afi rmação interna. Para o historiador – reconhece o autor -, a ideia de 
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campo pode auxiliar a perceber a cultura de uma determinada época 
e sociedade. A partir da análise das estruturas e lógicas que regem o 
campo é possível compreender as posições e relações de poder assim 
como tornar evidente como a dominação simbólica dos indivíduos pos-
suem um impacto social.
Sendo assim, Schneider cita que:
O campo é aqui entendido como o locus em que se trava uma luta concorren-
cial entre os atores, no qual estes interagem em campos que se inter-relacio-
nam, porém em torno de interesses específi cos que caracterizam a área em 
questão. A estruturação do campo, conforme Bourdieu, é defi nida segundo 
as relações objetivas presentes em determinada estrutura, e sua reprodução 
é uma das questões

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