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Pensamento e Produção Científica 1

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Núcleo de Educação a Distância
R. Maria Matos, nº 345 - Loja 05
Centro, Cel. Fabriciano - MG, 35170-111
www.graduacao.faculdadeunica.com.br | 0800 724 2300
GRUPO PROMINAS DE EDUCAÇÃO.
Material Didático: Ayeska Machado
Processo Criativo: Pedro Henrique Coelho Fernandes
Diagramação: Ayrton Nicolas Bardales Neves
PRESIDENTE: Valdir Valério, Diretor Executivo: Dr. Willian Ferreira, Gerente Geral: Riane Lopes, 
Gerente de Expansão: Ribana Reis, Gerente Comercial e Marketing: João Victor Nogueira
O Grupo Educacional Prominas é uma referência no cenário educacional e com ações voltadas para 
a formação de profi ssionais capazes de se destacar no mercado de trabalho.
O Grupo Prominas investe em tecnologia, inovação e conhecimento. Tudo isso é responsável por 
fomentar a expansão e consolidar a responsabilidade de promover a aprendizagem.
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Prezado(a) Pós-Graduando(a),
Seja muito bem-vindo(a) ao nosso Grupo Educacional!
Inicialmente, gostaríamos de agradecê-lo(a) pela confi ança 
em nós depositada. Temos a convicção absoluta que você não irá se 
decepcionar pela sua escolha, pois nos comprometemos a superar as 
suas expectativas.
A educação deve ser sempre o pilar para consolidação de uma 
nação soberana, democrática, crítica, refl exiva, acolhedora e integra-
dora. Além disso, a educação é a maneira mais nobre de promover a 
ascensão social e econômica da população de um país.
Durante o seu curso de graduação você teve a oportunida-
de de conhecer e estudar uma grande diversidade de conteúdos.
Foi um momento de consolidação e amadurecimento de suas escolhas
pessoais e profi ssionais.
Agora, na Pós-Graduação, as expectativas e objetivos são
outros. É o momento de você complementar a sua formação acadêmi-
ca, se atualizar, incorporar novas competências e técnicas, desenvolver 
um novo perfi l profi ssional, objetivando o aprimoramento para sua atua-
ção no concorrido mercado do trabalho. E, certamente, será um passo
importante para quem deseja ingressar como docente no ensino supe-
rior e se qualifi car ainda mais para o magistério nos demais níveis de
ensino.
E o propósito do nosso Grupo Educacional é ajudá-lo(a)
nessa jornada! Conte conosco, pois nós acreditamos em seu potencial.
Vamos juntos nessa maravilhosa viagem que é a construção de novos 
conhecimentos.
Um abraço,
Grupo Prominas - Educação e Tecnologia
Olá, acadêmico(a) do ensino a distância do Grupo Prominas! .
É um prazer tê-lo em nossa instituição! Saiba que sua escolha 
é sinal de prestígio e consideração. Quero lhe parabenizar pela dispo-
sição ao aprendizado e autodesenvolvimento. No ensino a distância é 
você quem administra o tempo de estudo. Por isso, ele exige perseve-
rança, disciplina e organização. 
Este material, bem como as outras ferramentas do curso (como 
as aulas em vídeo, atividades, fóruns, etc.), foi projetado visando a sua 
preparação nessa jornada rumo ao sucesso profi ssional. Todo conteúdo 
foi elaborado para auxiliá-lo nessa tarefa, proporcionado um estudo de 
qualidade e com foco nas exigências do mercado de trabalho.
Estude bastante e um grande abraço!
Professor: Willians Alexandre Buesso da Silva
O texto abaixo das tags são informações de apoio para você ao 
longo dos seus estudos. Cada conteúdo é preprarado focando em téc-
nicas de aprendizagem que contribuem no seu processo de busca pela
conhecimento.
Cada uma dessas tags, é focada especifi cadamente em partes 
importantes dos materiais aqui apresentados. Lembre-se que, cada in-
formação obtida atráves do seu curso, será o ponto de partida rumo ao 
seu sucesso profi sisional.
Esta unidade versa sobre o desenvolvimento do pensamento 
antropológico a partir das primeiras concepções da prática de obser-
vação, descrição e compartilhamento sobre informações de culturas 
diferentes desde a Grécia Antiga, passando pelos métodos e técnicas 
principais desta área de conhecimento até as diferentes escolas de pen-
samento antropológico. Em conjunto com as escolas de pensamento 
antropológico, são apresentados autores que foram fundamentais para 
a consolidação desta disciplina como campo científi co. As diferentes 
escolas de pensamento antropológico são apresentadas de acordo com 
seus autores, métodos e técnicas utilizadas. Cada escola teve sua con-
tribuição para este campo de conhecimento e não se caracteriza como 
uma apresentação cronológica e progressiva do desenvolvimento da 
Antropologia, pelo contrário, são apresentadas as críticas feitas a cada 
escola, assim como a forma como cada uma estimulou o amadureci-
mento desta ciência como uma produção intelectual plausível.
Pensamento Antropológico. História da Antropologia. Ciência.
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CAPÍTULO 01
PRIMEIROS CAMINHOS DA ANTROPOLOGIA
Apresentação do módulo ______________________________________ 10
CAPÍTULO 02
A PRODUÇÃO ANTROPOLÓGICA E SEUS OBJETIVOS CIENTÍFICOS
CAPÍTULO 03
ESCOLAS DE PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO
Funcionalismo _________________________________________________
Culturalismo ___________________________________________________
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56
Considerações Finais __________________________________________ 63
Recapitulando _________________________________________________ 64
Novas Fronteiras da Antropologia ______________________________ 62
Interpretativa __________________________________________________ 59
Pensando uma Prática _______________________________________
Oralidade e Pensamento Antropológico ________________________
12
15
Os Primeiros Passos Dados por Durkheim e Mauss ______________ 22
Recapitulando _________________________________________________ 26
A Antropologia Dentro das Ciências Sociais _____________________ 20
Relativizando a Origem da Antropologia ________________________ 17
Métodos e Técnicas da Antropologia ___________________________
O Que Defi ne a Antropologia Enquanto Ciência? _______________
36
32
Recapitulando _________________________________________________ 45
Novas Perspectivas a Partir da Etnografi a _______________________ 44
Escolas de Pensamento Antropológico e o Etnocentrismo _______ 38
Fechando Unidade ____________________________________________ 69
Referências ____________________________________________________ 72
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A história do pensamento antropológico está relacionada a dois 
aspectos principais: às escolas que pertencem a este segmento acadê-
mico, como também, à concepção do que é a prática antropológica e de 
que maneira ela foi sendo incorporada enquanto campo científi co.
Em um primeiro momento, iremos detalhar sobre as principais 
ideias da prática antropológica a partir dos primeiros passos dados na 
intenção de entender culturas diversas. Este caminho passa pelo fi ló-
sofo grego Heródoto (V a.C.) e seu trabalho de registro de diferentes 
culturas, assim como, o ato de compartilhar em aulas públicas suas 
experiências. Essa prática também será dimensionada entre a impor-
tância da escrita e da oralidade, sendo assim, está inserido no trabalho 
do antropólogo o desafi o de lidar com sociedades que não se baseiam 
na escrita para registrar sua história.
A partir dessas afi rmações, prosseguimos sobre o pensamento 
antropológicona unidade tratando sobre sua adequação ao meio cien-
tífi co. A possibilidade da Antropologia ser reconhecida enquanto ciência 
passou pela necessidade de reconhecer seus próprios métodos e técni-
cas, já que a prática de observar, descrever e compartilhar informações 
sobre culturas diversas não defi ne unicamente o trabalho do antropó-
logo. Neste sentido, detalhamos os principais aspectos dos métodos 
utilizados nesta área de conhecimento a fi m de reconhecer posterior-
mente seus usos durante a explanação sobre as diferentes áreas do 
pensamento antropológico. 
As técnicas também são apresentadas com intuito de diferen-
ciar o seu emprego em uma pesquisa com relação aos métodos. Pode-
mos considerar o método como o arcabouço teórico que irá nortear a 
pesquisa do antropólogo, e as técnicas, as ferramentas pelas quais o 
pesquisador irá obter seus dados de pesquisa com o objeto seleciona-
do.
A todo o momento, na unidade, passamos por refl exões. Cabe 
aqui ressaltar que a Antropologia é uma ciência auto-refl exiva, que com-
pete a ela adotar as críticas feitas a suas concepções para expandir 
enquanto produção de conhecimento efi caz sobre os fenômenos so-
ciais. Neste sentido, podemos questionar se os primeiros “antropólogos” 
como Heródoto tinham em mente a interferência de suas proposições e 
a produção da escrita sobre diferentes culturas.
Essa e outras dúvidas nortearão as explicações sobre as di-
ferentes escolas de pensamento antropológico, com o intuito de apre-
sentar as críticas feitas a cada uma, ou quando não, suas principais 
contribuições que ajudaram a amadurecer, de forma construtiva, esta 
área do conhecimento.
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Antes mesmo de detalhar as escolas de pensamento antropo-
lógico, apresentaremos as contribuições de Emile Durkheim e Marcel 
Mauss para a área. Apesar de estarem relacionados tanto à Sociolo-
gia quanto à Antropologia, a atuação dos dois pesquisadores foi funda-
mental para estabelecer critérios para a pesquisa dentro das chamadas 
Ciências Sociais.
A partir deste início, abordaremos separadamente duas esco-
las de pensamento antropológico que possuíram maior vínculo com os 
primórdios da formação acadêmica da Antropologia, o Evolucionismo e 
o Difusionismo. 
Apesar de tratarmos aqui sobre uma ciência social, a Antro-
pologia nasceu vinculada às ciências naturais, e este fato teve impacto 
sobre as suas concepções e argumentos que justifi cavam suas práti-
cas. Não podemos romper a atuação da Antropologia de seu contexto 
histórico, a produção acadêmica, no fi nal do século XIX, também estava 
relacionada com o pensamento colonial e a justifi cativa imperialista de 
países que buscavam entender as diferenças culturais a partir de ques-
tões biológicas.
Portanto, as duas escolas mencionadas são separadas das de-
mais a partir do ponto de vista do “etnocentrismo”, conceito muito caro à 
Antropologia e que será detalhado ao longo desta unidade e de outras, 
pois é considerada uma ferramenta fundamental para compreender 
diversos problemas sociais e de interpretações científi cas dentro das 
ciências sociais.
Já o começo do século XX começou a dar indícios de outras 
abordagens sociológicas, o Funcionalismo e o Estrutural-Funcionalismo 
inovaram as pesquisas ao dar ênfase à pesquisa de campo e ao método 
etnográfi co. É a partir da concepção de que o antropólogo deveria ir a 
campo para conhecer o objeto de pesquisa estudado, que algumas limi-
tações das pesquisas anteriores passaram a ser colocadas em cheque.
Neste caminho, o conceito de cultura ganhou bastante força 
e ampliou o debate antropológico sobre as diferenças culturais e esti-
mulou novas escolas como o Culturalismo, o Estruturalismo e a escola 
Interpretativa.
Ao fi nal da unidade, trataremos sobre alguns autores respon-
sáveis pela revisão da Antropologia no fi nal do século XX, e seus ques-
tionamentos sobre a produção científi ca desta área.
Esta unidade é fundamental para compreender de que manei-
ra a Antropologia desenvolveu ao longo de sua trajetória acadêmica a 
produção do conhecimento científi co sobre as diferenças culturais entre 
etnias/comunidades e sociedades diversas.
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PRIMEIROS CAMINHOS
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PENSANDO UMA PRÁTICA
O termo Antropologia vem do grego anthropos, cujo signifi cado 
é homem, já logos ou logia, representa estudo, sendo assim, podemos 
identifi car o nome da disciplina como o estudo do homem ou do ser 
humano enquanto um ser social. Dentro dos estudos antropológicos po-
demos compreender três segmentos principais que se debruçam sobre 
os fatores: biológicos; socioculturais e fi losófi cos.
São exemplos de cada uma dessas áreas: a Antropologia/ 
Física/Biologia (fatores biológicos e físicos); a Antropologia Cultural (fa-
tores sócio culturais); e a Antropologia Filosófi ca (fatores fi losófi cos que 
questionam e refl etem o fazer da Antropologia). De certa forma, os três 
segmentos se completam, nunca estão totalmente isolados um do ou-
tro, mas procuram dar mais destaque a um determinado objeto do que 
outro.
Alguns autores, como Marina de Andrade Marconi e Zélia Ma-
ria Neves Presotto (1985) em “Antropologia: uma introdução”, conside-
ram que a origem da Antropologia tenha ocorrido entre os gregos, pois 
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seus registros de informações sobre outras civilizações, para além da 
cultura grega, foram os primeiros a serem encontrados. 
Todavia, o que devemos levar em consideração, é que a An-
tiguidade é uma fonte muito rica de exemplos de formas diversas de 
organizações sociais e seus devidos registros, como exemplo, a exis-
tência dos mesopotâmicos, persas, hebreus, fenícios, sírios e egípcios, 
todos em contato próximo com suas diferentes culturas pela ligação do 
Mar Mediterrâneo.
O que podemos destacar do pioneirismo dos gregos é a con-
tribuição do fi lósofo Heródoto, que viveu o século V (a.C.), pois foi o 
primeiro a sistematizar a descrição e informação sobre modos de vida 
de outras civilizações antigas, em destaque para os egípcios, gregos 
e persas. Sua fonte de registro eram as viagens para outros territórios 
tendo como ferramenta principal as anotações sobre costumes e manei-
ras de sobrevivência de outros povos. 
Em sua principal obra “Histórias” estão organizados, em ordem 
cronológica, os registros de suas viagens, os quais utilizou para dar au-
las públicas sobre as manifestações sociais de outros povos para além 
dos costumes de sua origem.
Neste ponto, podemos nos indagar se o trabalho do antropólo-
go se resume a viajar, conhecer outros povos e recolher registros sobre 
estes. Certamente responderíamos que não, os registros nos levam a 
conhecer outra realidade condicionada por práticas sociais que muitas 
vezes podem nos diferenciar enquanto seres humanos, mas nos levam 
ao mesmo caminho: a invenção e construção de formas de sobrevivên-
cia e permanência da espécie humana sobre a Terra.
Por este motivo, a iniciativa do contato com o outro, conhecer 
outros costumes, registrá-los e compartilhar com outras pessoas colo-
cou em evidência a própria cultura vivida por Heródoto, e esta sim, pode 
representar o trabalho do antropólogo, colocar sua cultura em contato 
com a diversidade de outras. Não por acaso, o fi lósofo grego é conside-
rado o pai da História, da Antropologia e da Etnologia.
Entre as três áreas de conhecimento, podemos destacar que 
a História procura compreender experiências humanas do passado, re-
lacionar com o presente e perceber noções de temporalidades. Jáa 
Antropologia, como já vimos, estuda sobre o homem, enquanto a Etno-
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logia, é o resultado do trabalho que Heródoto deu início ao registro dos 
costumes e características de um determinado povo, sendo esta a área 
de conhecimento que deu origem à Antropologia moderna e contempo-
rânea. 
Até agora vimos como a Antropologia possui sua historicidade, 
ou seja, uma origem e cronologia de nascimento. Entretanto, perceba 
também que a História também pode ser um método dentro da própria 
Antropologia, pois o historiador quando registra os fatos históricos tam-
bém usa como fonte descrições, o que os diferencia é o enfoque sobre 
o objeto de estudo.
Filme: Antropólogos (2016 – Associação Portuguesa de 
Antropologia)
Observação: esta seção é importante para o aluno se 
ambientar com o tema e se aproximar mais ao trabalho do 
antropólogo.
Arte: A produção da arte Grega mesmo antes de Heráclito, é 
um importante caminho para perceber a preocupação que esta civiliza-
ção tinham com os registros culturais. Abaixo, um exemplo desta mani-
festação:
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Antefi x, head of Medusa, 4th Century, Greek, South Italian
Fonte: https://www.metmuseum.org/art/collection/search/248338?
searchField=All&ft=*&off set=0&rpp=20&pos=5
ORALIDADE E PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO
No subitem anterior demos destaque para as origens do pen-
samento antropológico a partir de registros escritos, tendo como prin-
cipal expoente deste pioneirismo o fi lósofo grego Heródoto. Entretanto, 
ao elencarmos apenas a escrita como forma de descrever costumes 
e práticas de outros povos, podemos nos questionar: e como pensar 
povos que possuem sua historicidade mas não utilizam a escrita como 
forma de registro?
Respondendo a esta questão compreendemos como a orali-
dade sempre esteve presente como forma de transmissão histórica e 
meio de conhecimento sobre outros povos. Essa mesma dúvida tam-
bém nos remete a um embate antigo entre História e Antropologia, o 
qual questiona sobre a importância menor dada a civilizações sem a 
escrita (ágrafas).
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Um dos maiores exemplos sobre este embate podemos reco-
nhecer em pleno território brasileiro e ao mesmo tempo, sobre a nossa 
própria história. Antes mesmo da chegada dos europeus, o território 
americano era povoado por diferentes etnias1 com características cultu-
rais específi cas.
As principais eram de origem de dois troncos linguístico e so-
cial chamados Macro-Jê e Macro-Tupi, sendo esta última a que deu 
origem a outras etnias como Tupi e Guarani, as que mais se destacaram 
em território brasileiro devido ao maior contato com o homem branco 
europeu.
O que essas etnias tinham em comum era a oralidade enquan-
to forma de registro de sua história, sendo assim, a palavra possuía um 
peso e responsabilidade maior do que em comparação às civilizações 
dependentes diretamente da escrita.
Para qualquer membro de uma etnia originária desses dois 
troncos linguísticos, pertencer a uma determinada tribo representava 
saber sua própria história, sendo assim, a oralidade era o único meio de 
ter acesso ao passado. 
Para as etnias que utilizavam a oralidade como ferramenta cen-
tral para saber sobre seus ancestrais, podemos perceber que o esforço 
em manter viva a história, respeitando o conhecimento de pessoas mais 
velhas, demarca diferenças entre civilizações o que, mais uma vez, nos 
remete ao trabalho do antropólogo ao tratar os costumes de diferen-
tes povos que, concomitantemente, refl ete também sobre seus próprios 
costumes.
Ao percebermos o poder da oralidade reconhecemos também 
que a noção do que é o ser humano está dotada de saberes que ele 
carrega consigo para sua sobrevivência em comunidade, assim como, 
conhecer etnias sem a escrita ressalta o poder da oralidade, pois ela di-
mensiona as esferas da linguagem e do pensamento ao mesmo tempo.
Ainda sobre o caso brasileiro, observamos pela nossa história 
que a vinda de diferentes etnias africanas trouxe novos costumes e prá-
ticas sociais registradas pela mesma oralidade que aqui então etnias já 
utilizavam. É interessante pensar que mesmo sem um prontuário, um 
livro de nascimentos e mortes, ou histórico feito em qualquer linguagem 
escrita, esses povos trouxeram a memória coletiva transmitida de forma 
1 Etnia: termo de origem latina, que resumidamente signifi ca povos.
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oral e resistida com o uso signifi cativo da palavra falada.
O choque cultural entre europeus, e diferentes etnias, trouxe 
um rompimento no uso da palavra como expressão histórica de costu-
mes e práticas sociais. A escrita veio de forma arbitrária ocupar o lugar 
da ancestralidade, contudo, também acabou por dar outros rumos para 
história dessas tribos. Até aqui podemos perceber que a relação entre a 
escrita e a oralidade sempre estabeleceu características diferentes para 
distintas etnias.
A própria Antropologia, enquanto área do conhecimento, tam-
bém reconheceu o limite entre ambas ao se debruçar sobre os métodos 
de pesquisa. Transcrever a ancestralidade transmitida pela oralidade 
através da escrita não necessariamente proporcionaria a manutenção 
de uma cultura, se os membros que pertencem a esta etnia não levam 
consigo sua ancestralidade e não a transmitem para seus herdeiros é 
como se ela estivesse fadada a deixar de existir.
Portanto, conhecer outros povos pode estar relacionado direta-
mente com o contato com a oralidade de uma determinada etnia.
Saiba mais:
Site: www.tradicaodigital.wordpress.com – 
projeto sobre a importância da oralidade entre tribos indígenas.
Filme: Narradores de Javé (2003 – Direção: Eliane Café) 
O fi lme é um grande exemplo da importância da oralidade. 
Em um contexto contemporâneo, moradores da cidade de 
Javé tem o desafi o de provar que possuem um legado histórico apesar 
da ausência de registros escritos, cabe a eles desvendarem sua própria 
história pelo uso da palavra falada.
RELATIVIZANDO A ORIGEM DA ANTROPOLOGIA
Aqui trabalhamos com o consenso de que a Antropologia teria 
nascido a partir dos trabalhos do fi lósofo grego Heródoto, trabalho este 
que se propôs a sistematizar informações sobre costumes, crenças e 
práticas de outros povos, conseguidos por meio da oralidade.
Segundo o antropólogo Roberto DaMatta, em “Relativizando2. 
Uma introdução à antropologia social” (1987), não podemos afi rmar um 
2 O conceito de relati vismo cultural, o qual será estudado no terceiro capítulo, é parte das 
ferramentas da Antropologia em conjunto com a ideia de estranhamento, a qual signifi ca tornar 
estranho aquilo que é familiarizado (seja social ou culturalmente), e tornar familiar aquilo que nos 
é estranho.
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único marco para a origem da disciplina, pois ela vai além dos registros 
sobre o que é exótico para uma determinada sociedade (1987, p.86).
Trouxemos este outro ponto de vista para perceber que esta 
área do conhecimento não está atrelada apenas a uma metodologia de 
observação e anotações sobre fatos pertinentes à disciplina, mas tam-
bém, a um comportamento e capacidade dos seres humanos refl etirem 
sobre suas diferenças e perceberem julgamentos sobre outras culturas.
É interessante notar que antes mesmo da Antropologia se con-
solidar enquanto ciência, outros profi ssionais fi zeram papéis semelhan-
tes (DAMATTA, 1987, p.89), principalmente pessoas em grande fl uxo 
de deslocamento entre diferentes comunidades, como comerciantes e 
viajantes, e outros pesquisadores da chamada Ciências Sociais no sé-
culo XIX.
Aqui podemosfazer um paralelo entre as ciências humanas e 
as ciências naturais. O próprio autor Roberto DaMatta (1987) na obra 
mencionada identifi ca que há diferenças entre ambas no que tange aos 
resultados obtidos por cada uma. Ao tratarmos sobre outras civilizações 
que não a ocidental, estamos sujeitos a praticar generalizações, contu-
do, não podemos classifi car de maneira absoluta os fatos levantados.
A situação muda quando observamos as colocações das ciên-
cias naturais, pois há defi nições que procuram enquadrar o seu objeto 
de pesquisa e cristalizar normas e regras para sua classifi cação. O iní-
cio da refl exão sobre as espécies de seres vivos, por exemplo, passou 
por este debate.
O termo homo sapiens é fruto da ciência entre cientistas na-
turais e sociais. Essa denominação foi criada por Carolus Linnaeus 
(1707-1778), cientista sueco que com sua obra Systema Naturae, de 
1735, propôs uma normatização das classifi cações dos seres vivos de 
um modo geral, dando origem à chamada Taxonomia Lineana. Para 
tal feito, o cientista incumbia alunos na missão de serem enviados a 
diversos lugares do mundo para conhecerem e descreverem as mais 
várias espécies, e para cada nova espécie, seria considerada uma nova 
taxonomia.
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Apenas em 1859 foi publicada a primeira edição da obra “A ori-
gem das espécies”, de Charles Darwin, que está relacionado ao mesmo 
esforço de Lineu em conhecer o universo geral dos seres vivos, mas 
com propostas diferentes.
Foi também o mesmo autor que deu início à ideia de raças 
entre os seres humanos, sendo diferenciados e classifi cados conforme 
sua cor de pele, traços físicos, tamanho de sua estrutura óssea e sua 
origem. 
Como vimos, o trabalho do antropólogo foi permeado pelos 
desdobramentos que tanto as ciências naturais como as ciências hu-
manas tiveram. Esses desdobramentos resultaram em impactos sobre 
a própria concepção do que é o ser humano em suas diferentes formas 
de se organizar socialmente e manter sua sobrevivência.
Caso fi zermos uma troca de personagens na História da Ciên-
cia, colocando índios guaranis como protagonistas de novas taxono-
mias de seres vivos, e entre eles, os seres humanos, e condenassem os 
europeus à condição de coadjuvantes nesta história, poderíamos inferir 
se a noção de sociedade exótica não seria outra. 
Essa é uma das maneiras de relativizarmos paradigmas, pois 
ao descrever e classifi car uma determinada sociedade, o antropólogo 
não deixa de ser europeu, latino-americano ou asiático, ele carrega 
também os valores de sua cultura, fato este que retrata os primeiros 
percalços desta área do conhecimento e quais seus efeitos sentidos até 
os dias de hoje em suas refl exões.
O exemplo entre as diferentes ciências também confi rma o ato 
de relativizar a própria origem da Antropologia. Somos gratos ao esforço 
de Heródoto, como um articulador do conhecimento que mais tarde se-
ria incorporado às Ciências Sociais, como também, não podemos negar 
que além do registro e classifi cação sobre outras espécies, etnias e 
civilizações, repensar sobre a nossa própria origem é fundamental.
Saiba mais:
Documentário: Roberto DaMatta e seus carnavais, 
malandros e heróis (2013 – Direção Clarice Peixoto)
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A ANTROPOLOGIA DENTRO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS
A Antropologia tal como ciência foi reconhecida durante o sécu-
lo XIX, como refl exo de movimentos do século XVIII como o Iluminismo, 
a Revolução Francesa de 1789 e a primeira Revolução Industrial, mo-
difi caram as relações sociais em sociedade. Essas mudanças também 
foram concomitantes ao contato entre europeus e outras civilizações, 
o que gerou a necessidade de reconhecer as variantes da espécie hu-
mana, as quais estão atreladas ao que já trabalhamos aqui sobre os 
cientistas naturais.
Entre eles, podemos destacar o trabalho de Charles Darwin 
(1809-1882), que revolucionou a forma como se pensava a existência 
e permanência não só dos seres humanos na face da Terra como os 
demais seres vivos.
A evolução das espécies e a seleção natural proposta por 
Darwin, no século XIX, para explicar a relação entre os seres vivos e 
sua sobrevivência na Terra trouxe mudanças não só na Biologia, como 
também para a ciência como um todo.
Contudo, a junção entre as ideias de Darwin e as teorias so-
ciais acabaram por legitimar os fatos históricos que ocorriam ao longo 
do século XIX. Ao pensarmos sobre o contexto histórico vigente, a se-
gunda Revolução Industrial expandiu territórios colonizados por euro-
peus além daqueles explorados até o século XVIII, o advento do motor 
elétrico ampliou a produção fabril e instigou a busca por maior quantida-
de de matéria prima e mercado consumidor.
Neste contexto, o chamado “darwinismo social”, termo cunha-
do pelo fi lósofo inglês e defensor do liberalismo Hebert Spencer (1820-
1903), acabou por justifi car a relação entre a metrópole e suas colônias 
ao ter como afi rmativa a ideia de que aqueles que estão mais aptos a 
encarar os obstáculos da sobrevivência pela vida tendem a ocupar pa-
tamares superiores nas relações sociais.
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Sociedades “mais desenvolvidas” teriam este lugar de desta-
que na História universal ao se sobressaírem tecnicamente, enquanto 
as sociedades “menos desenvolvidas” seriam incumbidas de fornecer 
a mão de obra e matéria prima necessária para este desenvolvimento 
técnico-científi co. Notamos aqui que a noção de temporalidade história 
também pode infl uenciar o conhecimento de outras etnias, é ela que es-
tipula o ponto de partida e o ponto de chegada ao comparar civilizações 
distintas.
Voltando um pouco ainda no início do primeiro capítulo desta 
unidade, enfatizamos o choque entre culturas que possuíam ou não a 
escrita como uma ferramenta de registro histórico e a sua transmissão 
da ancestralidade étnica. A seleção pautada no “darwinismo social” se-
guiu a lógica da sobreposição da escrita sobre as demais formas de 
transmissão de saberes, foi arbitrário o uso da palavra escrita para o 
processo de colonização.
A dúvida que nos cabe até aqui é: a Antropologia sofre infl uên-
cias negativas das ciências naturais até conseguir sua independência 
enquanto ciência social? O que podemos afi rmar é que toda ciência é 
produzida dentro de uma época e contexto, mas o isolamento dos cam-
pos científi cos não trouxe superações absolutas. Portanto, as diferentes 
áreas da Antropologia, comportadas como áreas do conhecimento, se-
rão sempre interligadas. Uma manifestação deste dilema fi cou expressa 
quando a Associação Americana de Antropologia divulgou uma repor-
tagem no jornal New York Times (2010) com a pergunta: “Antropologia 
não é Ciência?”. 
Em matéria para a Revista Fapesp, o autor Marcio Ferrari 
(2011) explica o ocorrido e detalha como ainda é evidente segmentos 
diferentes dentro da própria área, sendo que de um lado se valoriza o 
propósito científi co do conhecimento antropológico, e de outro, aquilo 
que já explanamos aqui sobre a competência e percepção de diferen-
ças culturais que não cabe apenas ao antropólogo observar, e sim a 
diferentes indivíduos que possuem esta sensibilidade sem necessaria-
mente trabalhar e produzir com o rigor do texto científi co:
Descontadas as questões de contingência, resta uma discussão epistemoló-
gica que tem raízes bem antigas e exige um aprofundamento no debate dos 
próprios conceitos em jogo, além de uma prospecção histórica. “Questionar o 
status de ciência da antropologia supõe que se saiba inequivocamente o que 
é ciência e quais os critérios para uma prática aspirar ao status de ciência”, 
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diz Marcio Goldman, do MuseuNacional/UFRJ. “Mas as discrepâncias entre 
diferentes concepções de ciência são tão grandes quanto as discrepâncias 
entre diferentes concepções de antropologia (FERRARI, 2011, p.1).
OS PRIMEIROS PASSOS DADOS POR DURKHEIM E MAUSS
Apesar de não intitularmos aqui como uma das fases do pen-
samento antropológico, Émile Durkheim (1858-1917) e Marcel Mauss 
(1872-1950) – respectivamente tio e sobrinho -, tiveram papéis funda-
mentais nas proposições desta área de conhecimento entre o fi nal do 
século XIX e início do século XX. Émile Durkheim tendeu muito mais 
para a compreensão das ciências sociais, em especial da Sociologia, 
como uma ciência dotada de características próprias. Marcel Mauss 
ampliou as questões propostas por Durkheim ao inserir a etnografi a e o 
método comparativo para suas análises dos fenômenos sociais. 
Ambos trabalharam com pesquisas empíricas, ou seja, em que 
o experimento é peça fundamental para se chegar a alguma conclusão. 
Durkheim, principalmente, é considerado um dos pais da Sociologia 
clássica em conjunto com Karl Marx (1818-1883) e Max Weber (1864-
1920), sendo responsáveis respectivamente pelos métodos, funciona-
lista, materialismo histórico e método compreensivo.
A obra “As formas elementares da vida religiosa” publicada pri-
meiramente em 1912, marca a visão de Durkheim sobre a religião, a 
qual aparece como um dos elementos sociais fundamentais da coesão 
social, e vai além ao declarar que a religião não é apenas explicativa 
sobre fenômenos considerados “sobrenaturais” em sociedades determi-
nadas como “primitivas”.
A religião é apresentada como um fato social, elemento este 
que o autor aborda como um item que mantém o funcionamento da 
sociedade, sendo assim, o indivíduo tende a conviver com as regras 
sociais independente de sua vontade. 
Estudar os “fatos sociais” representa compreender o funcio-
namento de uma sociedade, como cita na obra “As regras do método 
sociológico” (1987) publicado em 1895. Apropriando-se do conceito de 
fato social de Durkheim, Marcel Mauss reconheceu na dádiva um exem-
plo ideal que ilustra este conceito em sociedades que não foram domi-
nadas pela lógica consumista do mercado. 
 
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Sua explanação acerca do exemplo está contida na obra “En-
saio sobre a dádiva: forma e razão da troca nas sociedades arcaicas” 
(1925). Neste escrito, o autor detalha como a dádiva acontece em so-
ciedades até então denominadas como sendo primitivas, o qual o con-
ceito podemos resumidamente elencar em três momentos: dar, receber 
e contribuir. 
Além da prática da dádiva estar relacionada com um mecanis-
mo em que quem recebe é socialmente obrigado a retribuir, Mauss con-
tribuiu para a Antropologia ao reconhecer a dimensão simbólica deste 
ato, pois a mesma prática estaria relacionada com importantes institui-
ções como a religiosa, a moral, a jurídica, entre outras, concatenando a 
vida social dos membros que pertencem a aquela sociedade.
Outro texto importante de Mauss é “As técnicas corporais” 
(1926) em que o autor reconhece a cultura como um fator gerador e 
formador das relações sociais presentes em todas as sociedades. Esta 
afi rmativa para o período – entre o fi nal do século XIX e início do século 
XX – foi importante para desconstruir a ideia de comportamentos natu-
ralizados. No trecho a seguir, o autor defi ne sua concepção de técnica 
e consecutivamente de técnica corporal:
Chamo de técnica um ato tradicional efi caz (e vejam que, nisto, não difere do 
ato mágico, religioso, simbólico). É preciso que seja tradicional e efi caz. Não 
há técnica e tampouco transmissão se não há tradição. É nisso que o homem 
se distingue sobretudo dos animais: pela transmissão de suas técnicas e 
muito provavelmente por sua transmissão oral.
 (...) Nessas condições, é preciso dizer muito simplesmente: devemos 
lidar com técnicas corporais. O corpo é o primeiro e mais natural instrumento 
do homem. O mais exatamente, sem falar de instrumento, o primeiro e mais 
natural objeto técnico, e ao mesmo tempo meio técnico do homem é seu 
corpo (MAUSS, 1974, p. 217)3.
Apesar de ter reconhecido a manifestação dos comportamen-
tos e os usos corporais da cultura já no século XX, o contexto histórico 
da produção de Marcel Mauss para a Sociologia e para a Antropologia 
não coibiu diretamente a associação entre fatores biológicos e cultura.
3 Aqui nos cabe relembrar que, conforme estudamos as fontes de pesquisa dentro da 
Antropologia, o corpo pode ser reconhecido como uma manifestação e fonte de dados para o an-
tropólogo a partir do conceito de técnica corporal. 
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O termo “imitação prestigiosa” está contido neste texto e o 
autor representa a ideia de que o próprio corpo na sociedade é local 
de manifestação da cultura ao perceber que certos comportamentos 
são valorizados em detrimento de outros, de maneira que haja um tipo 
de corpo, e manifestação do mesmo, em determinadas sociedades de 
acordo com o contexto histórico e cultural. A seguir, o autor defi ne a 
questão da imitação prestigiosa e seu valor:
A noção de educação podia sobrepor-se à noção de imitação. Pois há crian-
ças, em particular, que têm faculdades muito grandes de imitação, outras que 
as têm bem fracas, mas todas passam pela mesma educação, de sorte que 
podemos compreender a sequência dos encadeamentos. O que se passa é 
uma imitação prestigiosa. A criança, como o adulto, imita os atos que obtive-
ram êxito e que ela viu serem bem sucedidos em pessoas em quem confi a 
e que têm autoridade sobre ela. [...] O indivíduo toma emprestado a série de 
movimentos de que ele se compõe do ato executado à sua frente ou com ele 
pelos outros. (MAUSS, 1974, p. 215). 
A ideia de “imitação prestigiosa” foi importante para reconhecer 
como a cultura pode defi nir fatores sociais na vida humana desde a es-
fera mais íntima e inconsciente. A proposta de Marcel Mauss se apro-
xima da ideia de Durkheim sobre o fato social ao propor que tudo que 
há na sociedade de maneira simbólica é fruto da produção coletiva, e 
sendo assim, os indivíduos tendem a se apropriar desta produção para 
pertencer a uma determinada comunidade.
Pensar os corpos como uma manifestação da cultura também 
contribuiu para outras escolas de pensamento antropológico ao trata-
rem do conceito de “performance”4, como veremos no terceiro capítulo 
desta unidade. Há no entanto, a diferença clara já apontada aqui sobre 
os objetivos dos dois autores ao produzirem ciência. Como já citado, 
para o período histórico na virada do século XIX para o XX, Durkheim 
estava muito mais preocupado com as defi nições científi cas da Socio-
logia
Essa proposta teve impacto sobre suas conclusões, o que, por-
tanto, repercutiu em sua teoria o caráter determinista sobre os fenôme-
nos sociais, e o exemplo deste detalhe pode ser percebido pela própria 
ideia de fato social do autor, ao reconhecer as instituições sociais de 
extrema importância para o funcionamento da sociedade, há um exces-
4 Aqui é necessário alertar que não há uma relação direta entre o conceito de técnica cor-
poral, imitação prestigiosa e performance, mas os conceitos trabalham com perspectivas próximas, 
os quais procuram detalhar o uso social do corpo como um meio de interpretar questões culturais 
de uma determinada sociedade.
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sivo peso da coerção social, dos valores da sociedade sobre as vonta-
des do indivíduo. 
Sem descartar as proposições de Durkheim, Mauss procurou 
ampliar as possibilidades da prática sociológica e se aproximou de ou-
tras ferramentas, como já citado aqui, a própria etnografi a, o que está 
presente em sua obra “Manual de Etnografi a”, publicado em 1947, pou-
cos anos antes de seu falecimento.
O quepodemos mais uma vez destacar sobre esses dois au-
tores e suas contribuições ao pensamento antropológico é de que eles 
não estão vinculados diretamente a uma escola, como serão detalha-
das as contribuições posteriores nos próximos capítulos desta unidade.
Apesar de representarem esforços que foram aproveita-
dos pela escola de pensamento antropológico funcionalista e a es-
trutural-funcionalista, assim como também pelo antropólogo Lévi-S-
trauss, Émile Durkheim e Marcel Mauss são responsáveis por uma 
fase incipiente das ciências sociais, os dois autores são responsáveis 
por contribuições teóricas que deram base posteriormente a novos 
conceitos na Antropologia.
INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS
MARCONI, Marina de Andrade, PRESOTTO, Zélia Maria 
Neves. 1923. Antropologia: uma introdução. 
São Paulo: Atlas, 2001.
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QUESTÕES DE CONCURSOS
QUESTÃO 1
Ano: 2006 Banca: NCE Órgão: Eletrobras Prova: Técnico de meio 
ambiente Nível: Superior
A organização política é um aspecto da cultura encontrado em to-
dos os grupos humanos e abrange o conjunto de instituições que 
regulam e controlam a vida em sociedade. No caso das sociedades 
ágrafas, três são os elementos considerados básicos na constitui-
ção do seu aspecto político. São eles:
a) lei, parentesco e governo;
b) religião, governo e povo;
c) religião, povo e território;
d) parentesco, religião e economia;
e) economia, lei e parentesco.
QUESTÃO 2
Ano: 2015 Banca: IMPARH Órgão: Prefeitura de Fortaleza Prova: 
Antropólogo Nível: Superior
Roberto Cardoso de Oliveira (1988) tenta captar as características 
de algumas tradições antropológicas a partir do que defi ne como 
a “matriz disciplinar da antropologia”. Essa matriz é caracterizada 
pelos paradigmas que marcaram e marcam o pensamento antro-
pológico. Tais paradigmas são pensados no âmbito de duas tra-
dições, defi nidas pelo autor como a intelectualista e a empirista. 
Eles supõem ainda uma referência à categoria “tempo”, traduzida 
em termos como “sincronia” e “diacronia”. Sobre tais paradigmas, 
seria INCORRETO afi rmar que:
a) o paradigma racionalista, que tem como caso exemplar a Escola 
Francesa de Sociologia, e, em sua forma moderna, o Estruturalismo, 
pode ser pensado como um paradigma marcado pela tradição intelec-
tualista, estabelecendo com o tempo uma relação sincrônica.
b) o paradigma hermenêutico, cujo caso exemplar seria a Antropologia 
Interpretativa, é marcado por uma tradição intelectualista, mas, no que 
tange à categoria “tempo”, estabelece com este uma relação diacrônica.
c) o paradigma culturalista não estabelece conexão com nenhuma das 
tradições ressaltadas pelo autor e, no que se refere à temporalidade, 
recusa a historicidade, defi nindo-se como atemporal.
d) o paradigma estrutural-funcionalista é sincrônico no que diz respeito 
à temporalidade e se inscreve em uma tradição empirista de pesquisa.
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QUESTÃO 3
Ano: 2015 Banca: IMPARH Órgão: Prefeitura de Fortaleza Prova: 
Antropólogo Nível: Superior
A descoberta das diferenças pelos viajantes do século XVI intro-
duziu a dúvida no edifício do pensamento europeu e constitui os 
prolegômenos ou a “pré-história” da antropologia. O renascimen-
to, diz Laplantine (1994, pp. 37-53, com adaptações), começou a ex-
plorar espaços até então desconhecidos e passou a elaborar dis-
cursos sobre os habitantes que povoavam esses espaços. Analise 
as assertivas abaixo sobre esses discursos e sobre o confronto 
visual com alteridade, indicando, a seguir, a alternativa correta.
I. As primeiras observações e os primeiros discursos sobre esses 
povos “distantes” provêm de, pelo menos, duas fontes: as reações 
dos primeiros viajantes, a chamada “literatura de viagem”, e os 
relatórios dos missionários.
II. As grandes questões então colocadas que nasciam desse “pri-
meiro confronto visual com a alteridade” eram as seguintes: Aque-
les que acabaram de ser descobertos pertenciam à humanidade? 
O “selvagem” tem uma alma? O pecado original também lhe diz 
respeito? O critério essencial para saber se lhes convinha atribuir 
um estatuto humano era, nessa época, religioso. Os missionários 
se perguntavam pela possibilidade de levar a revelação aos “selva-
gens” e assim catequizá-los.
III. As respostas ideológicas relativas à descoberta das diferenças 
pelos viajantes do século XVI concorriam para um duplo discurso: 
havia aqueles que recusavam o estranho, apreendido a partir da 
falta, cujo corolário era a boa consciência que se tem sobre si e 
sua sociedade, e metendo a atitudes que iam desde a condescen-
dência e a proteção paternalista do outro até sua exclusão; havia 
ainda aqueles que nutriam uma fascinação pelo estranho, cujo co-
rolário era a má consciência que se tem sobre si e sua sociedade. 
Daí teríamos dois antípodas ou fi guras para pensar o selvagem e o 
civilizado: para os primeiros, aqueles que recusavam o estranho, a 
fi gura era a do “mau selvagem e do bom civilizado” e, para aqueles 
fascinados pelo estranho, a fi gura era aquela do “bom selvagem e 
do mau civilizado”.
São corretas as assertivas:
a) I e II são corretas.
b) I, II, III são corretas.
c) apenas I é correta.
d) nenhuma é correta.
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QUESTÃO 4
Ano: 2006 Banca: NCE Órgão: Eletrobras Prova: Técnico de meio 
ambiente Nível: Superior
Segundo Adan Kuper em seu livro “Antropólogos e Antropologia”, 
o objeto de estudo desta ciência foi defi nido com razoável clareza 
no início do século XX e, embora lhe fossem dados nomes diver-
sos, sua essência era o estudo do(s):
a) homem primevo;
b) grupos humanos;
c) homem capitalista;
d) modelos sociais;
e) códigos morais.
QUESTÃO 5
Ano: 2014 Banca: PROPEGE Órgão: UFPR Prova: Antropólogo Ní-
vel: Superior
Em relação ao paralelo entre missionários e antropólogos mencio-
nado no texto, identifi que as seguintes afi rmativas como verdadei-
ras (V) ou falsas (F):
( ) A produção de conhecimento sobre os povos indígenas na Amé-
rica do Sul por parte das missões católicas desde o século XVI 
teve grande impacto no modo como fi lósofos e teólogos europeus 
assimilam a questão da alteridade em seu pensamento, fato que 
infl uencia o modo como a antropologia viria a conceber seu objeto 
de pesquisa a partir do século XIX.
( ) A atividade missionária e a antropologia, embora sejam marca-
das por profundas diferenças, podem ser comparáveis na medi-
da em que são ambas iniciativas gestadas pelo ocidente moderno 
para compreender (e por vezes incorporar) as diferenças culturais.
( ) Os relatos de missionários são fontes de grande importância 
para a produção de conhecimento em antropologia, pois fornecem 
dados detalhados e valiosos acerca da vida de comunidades indí-
genas e povos tradicionais no passado.
( ) A continuidade entre antropólogos e missionários, apontada 
pela autora do texto, como difusores de valores como “cultura”, 
“dinheiro”, “trabalho” e “higiene”, restringe-se ao trabalho da cha-
mada “antropologia engajada”, sendo
que os antropólogos científi cos não interferem nas populações 
que estudam e evitam introduzir qualquer inovação que possa pôr 
em risco a sua cultura.
Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima 
para baixo:
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a) V – V – V – F.
b) V – F – V – F.
c) V – V – F – F.
d) F – V – F – V.
e) F – F – V – V.
QUESTÃO 6
Ano: 2006 Banca: UNAMA Órgão: SECULT (PA) Prova: Técnico em 
Gestão Cultural Nível: Superior
Um dos princípios metodológicos amplamente defendidos na prá-
tica antropológica é o exercício de estranhamento. Tal princípio 
defende a tese de:
a) transformar o conhecido em desconhecido, estabelecendo uma neu-
tralidade do pesquisador em relação ao objetode estudo.
b) transformar o desconhecido em conhecido, estabelecendo uma neu-
tralidade do pesquisador em relação ao objeto de estudo, buscando 
assim a compreensão superfi cial do fato.
c) transformar o exótico em familiar e o familiar em exótico.
d) transformar o exótico em algo conhecido, garantindo a neutralidade 
entre duas fontes distintas de conhecimento – o pesquisador e o objeto, 
mas prevalecendo a percepção do primeiro em relação ao segundo.
QUESTÃO 7
Ano: 2008 Banca: UNAMA Órgão: SEJUDH Prova: Antropólogo Ní-
vel: Superior
A Antropologia Contemporânea tem primado por estudos que am-
pliem o conhecimento do homem sobre si mesmo e considera es-
ses estudos como moral e socialmente equivalentes e, por isso 
mesmo, infi nito em sua profundidade e grandeza. Identifi que nas 
opções abaixo as categorias conceituais que vão ao encontro da 
tese acima explicitada:
a) etnocentrismo e alteridade.
b) relativismo e unidade humana.
c) relativismo e alteridade.
d) etnocentrismo e diversidade humana.
QUESTÃO DISSERTATIVA – DISSERTANDO A UNIDADE
A oralidade foi apresentada, aqui neste capítulo, como um dos fatores 
importantes para se entender uma determinada cultura. É a partir dela 
que muitas etnias expressam seus valores e suas histórias pelo fato de 
não terem a escrita como principal ferramenta de registro e transmissão 
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de sua ancestralidade. Pensando em trabalho de campo onde o antro-
pólogo possui apenas seu gravador de áudio para registrar os dados 
sobre uma determinada tribo ágrafa – aquela que não utiliza a escrita 
-, descreva quais fatores seriam relevantes para se conhecer a cultura 
desta tribo.
TREINO INÉDITO
A importância dada a Heródoto (V a.C.), como pai da Antropologia é 
devido:
a) assumir um departamento pioneiro desta área na Grécia Antiga.
b) ao seu esforço em conhecer, descrever e registrar culturas de dife-
rentes civilizações.
c) ao fato de ter dado início aos estudos sobre a antropometria.
d) ao seu esforço de recepcionar diferentes estrangeiros de outras cul-
turas em território grego.
e) ao aplicar na prática estudos utilizando a técnica da craniologia.
NA MÍDIA
Por que há uma centena de povos que querem seguir isolados?
Há cerca de uma centena de povos isolados ou não contatados, a maior 
parte na América do Sul e na Nova Guiné, e em menor número no cen-
tro da África e em algumas ilhas do Índico. Estes últimos incluem os 
sentineleses, que habitam a ilha de Sentinela do Norte, no arquipélago 
de Andaman (Índia). Nos últimos dias, eles entraram no radar das notí-
cias, depois do desaparecimento do missionário norte-americano John 
Allen Chau, que entrou na área com o objetivo de evangelizá-los. A sus-
peita é que ele tenha sido assassinado pelos membros da etnia.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/11/
28/ciencia/1543389679_616043.html
NA PRÁTICA
Hoje em dia a prática do antropólogo está relacionada às diversas fun-
ções com vínculo ao tema cultura. No Brasil, por exemplo, há diversos 
concursos para o trabalho de antropólogo quando se trata de dialogar 
com grupos, comunidades e etnias que passam por alguma mudança 
estrutural. O chamado “laudo antropológico” é um dos documentos que 
representa esta atuação, é a partir dele que é possível fazer a demarca-
ção de terras de tribos indígenas por exemplo. 
Outro tipo de atuação do antropólogo, relacionado aos temas que vimos 
até aqui, é a pesquisa com relação à diversidade cultural, ainda temos 
este destaque na área, a qual tende a ser valorizada como uma das 
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principais vertentes que valoriza o reconhecimento da cultura do outro 
sem julgá-la de acordo com a moralidade preconcebida.
A notícia apresentada acima retrata a necessidade de perceber tribos 
que se isolam sem ter que invadir o seu espaço. A FUNAI – Fundação 
Nacional do Índio, criada em 1967, é um dos órgãos principais que de-
fendem as demandas indigenistas no Brasil. Em conjunto com o INCRA 
– Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, criado em 1970, 
são os órgãos que mais admitem antropólogos no país por seu trabalho 
estar relacionado diretamente à esta área do conhecimento. 
PARA SABER MAIS
Site: http://www.portal.abant.org.br/ - O site da Associação Brasileira de 
Antropologia representa uma das grandes instituições de Antropologia 
no Brasil. Além das diretrizes da organização, é possível acompanhar 
eventos, chamadas para publicação de artigos e lançamento de revistas 
relacionadas a esta área de pesquisa. A própria ABA possui também 
uma revista de publicação própria a qual trabalha com diferentes temas 
dentro da Antropologia.
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S O QUE DEFINE A ANTROPOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA?
Independentemente do embate entre as diversas áreas da An-
tropologia, podemos considerar que seu objeto de estudo é o ser huma-
no e suas diferentes maneiras de se relacionar com seus semelhantes, 
com o universo em que vive e como sobrevive, sendo assim, ela se 
preocupa com a humanidade como um todo, não apenas a aspectos 
morais.
Sendo assim, a Antropologia está preocupada em reconhecer 
a pessoa humana em suas diferentes condições, enquanto ser biológi-
co, que refl ete sobre estar no mundo e ser capaz de produzir as suas 
ferramentas de sobrevivência.
É preciso desconstruir a ideia romantizada de que ser humano 
refere-se apenas a pessoas com características morais positivas, mas 
A PRODUÇÃO 
ANTROPOLÓGICA & SEUS 
OBJETIVOS CIENTÍFICOS
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sim, que representa um ser dotado da capacidade de transmitir seus sa-
beres por meio de uma linguagem e de seu acumulo de conhecimento 
e cultura.
Cada segmento da Antropologia tem um enfoque em especial 
sobre o ser humano e suas inter-relações. Como vimos até o momento, 
a história do pensamento antropológico nasceu no século XIX muito 
voltada para as características biológicas do ser humano, chamada de 
Antropologia Biológica ou Física.
Essa área contempla cinco divisões diferentes dentro de seu 
próprio campo de atuação, são elas:
a) Paleontologia: ciência relacionada à Biologia que estuda 
a origem e a evolução das espécies a partir de restos de seres 
vivos;
b) Somatologia: estuda as adaptações do corpo humano 
aos diferentes ambientes físicos;
c) Raciologia: ciência que reconheceu o conceito de raça 
como distintivo para compreender sua evolução histórica;
d) Antropometria: trabalha com técnicas de medição do 
corpo humano com o intuito de colher informações sobre 
indivíduos ou grupos, também está relacionada à Arqueologia;
e) Antropometria do crescimento: ciência que estuda hábitos 
relacionados ao corpo como alimentação e atividades físicas, 
vinculadas ao crescimento de indivíduos.
Outra área dentro da própria Antropologia é a chamada Antro-
pologia cultural. Antes de detalha-la, é importante entender uma prévia 
sobre o que é cultura. Podemos considerar que uma colmeia de abe-
lhas vive em sociedade, são organizadas e trabalham em conjunto, mas 
não possuem a consciência sobre seus padrões de valores, práticas e 
costumes de forma coletiva, a essa diferença com os seres humanos 
damos o nome de cultura, uma noção clara que temos das nossas rela-
ções sociais as quais são transmitidas de geração para geração.
O conceito de cultura na verdade é muito amplo dentro da An-
tropologia, e está relacionado de acordo com a perspectiva teórica que 
cada escola de pensamento objetivou estudar. No entanto, podemos 
citar que suadiferença com a Antropologia Biológica/Física está no in-
teresse em estudar questões sociais como hábitos, práticas e costumes 
que não necessariamente estariam vinculados com um condicionamen-
to físico e genético.
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Portanto, o interesse da Antropologia Cultural e o ser humano 
enquanto sujeito que produz cultura e pertence a um determinado gru-
po/comunidade/coletividade, que compartilha de um mesmo padrão de 
valores sociais, é a área que se desenvolveu dentro deste campo cien-
tífi co e hoje possui uma abrangência muito signifi cativa5.
Podemos tomar como exemplo o hábito em comum dos seres 
humanos de se alimentar, difi cilmente encontraremos algum indivíduo 
de uma determinada etnia que não tenha o hábito de se alimentar. Con-
tudo, não podemos afi rmar que todas etnias se alimentam de maneira 
idêntica, cada qual desenvolveu sua cultura alimentar para suprir esta 
necessidade.
Em “Feijão com Arroz e Arroz com feijão: o Brasil no prato dos 
brasileiros” (2007), a autora Lívia Barbosa retrata como o hábito alimen-
tar dos brasileiros está pautado em uma combinação tradicional, ora 
complementada por outras refeições, mas o principal é que na cultura 
alimentar de brasileiros, o arroz e feijão do almoço, por exemplo, jamais 
seria substituído diariamente por lanches de fast foods.
A seguir, um trecho da obra que demonstra as conclusões da 
autora a partir de sua metodologia de pesquisa:
O que os dados dessa pesquisa sinalizam é a presença clara de hábitos 
alimentares compartilhados e socialmente sancionados pela população bra-
sileira urbana, tanto no que concerne ao conteúdo das refeições como nas 
atitudes em relação a elas, que transcendem tanto a renda, como os gêne-
ros, as regiões e as faixas etárias. São indicativos disso as altas porcenta-
gens de ingestão de um mesmo cardápio, a presença reduzidíssima de itens 
considerados “regionais” e de ideologias alimentares contemporâneas nas 
refeições cotidianas, o atendimento regulado das preferências individuais e a 
mãe/esposa como a responsável pela escolha da comida em 70¢ dos casos 
(cujo processo de seleção, baseado nas antinomias, leva em consideração 
as questões econômicas, estéticas e de saúde do grupo doméstico como um 
todo e não apenas o que os membros individualmente gostariam de comer). 
Isso não signifi ca que não existam variações. Elas existem, tanto no que 
concerne às faixas etárias, às de renda e às regionais (não se verifi cam prati-
camente quaisquer diferenças entre os gêneros). Mas, além de serem na sua 
grande maioria pequenas, em termos proporcionais no contexto de amostra, 
ocorrem a partir dos trios feijão, arroz e carne, no caso do almoço e do jantar, 
e café, leite e pão no caso do café da manhã. Ou seja, aquilo que vamos ter 
para o café da manhã, o almoço ou o jantar começa de uma base de comidas 
em comum. (BARBOSA, 2007, p.109).
5 Um dos exemplos sobre a abrangência que a Antropologia Cultural, e também como um 
todo, possui nos dias de hoje, está no número de Grupos de Trabalhos possíveis para apresenta-
ção de pesquisas do encontro bienal da Associação Brasileira de Antropologia.
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O pensamento antropológico desenvolveu-se de tal maneira 
que as mais ínfi mas possibilidades de se pensar formas e manifesta-
ções de cultura são pesquisadas nos dias de hoje, não se restringindo 
apenas às suas condições biológicas, como também, à variedade de 
adaptação cultural a diversas necessidades.
Dentro da Antropologia Cultural podemos distinguir cinco 
principais campos:
a) Arqueologia: parente próxima da Paleontologia, estuda 
resquícios materiais de culturas extintas que resistiram ao 
tempo.
b) Etnografi a: já mencionada no primeiro capítulo, estuda 
comportamentos, práticas e organizações sociais por meio 
da análise, observação e registro de suas descrições. 
O trabalho etnográfi co também depende de cada escola 
antropológica e sua metodologia aplicada.
c) Etnologia: análoga a Etnografi a, este segmento da 
Antropologia procura relacionar os dados obtidos durante a 
etnografi a sobre uma determinada etnia e fazer interpretações, 
como por exemplo, formas de parentesco, divisão social do 
trabalho, entre outros.
d) Linguística: pesquisa sobre a linguagem e formas de 
um determinado grupo étnico se comunicar por meio da 
oralidade ou da escrita, área muito abrangente e 
normalmente associada a outras disciplinas das 
ciências humanas.
e) Antropologia Social: trata sobre os aspectos relacionados 
entre a sociedade e suas instituições sociais, como exemplo, 
a família, a política, a religião, entre outros. De certa forma, ela 
engloba todos os itens anteriores e procura fazer analises 
macro sobre o ser humano em sociedade.
Nas Ciências Sociais, a Antropologia não costuma trabalhar 
sozinha, apesar de sua grande variedade de caminhos para pesquisa, 
é imprescindível sua junção com outras áreas, como a Ciência Política, 
Geografi a, Sociologia, Filosofi a, Psicologia, Economia e História.
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Em certa medida, tanto a Antropologia quanto a Sociologia po-
dem parecer ter o mesmo objeto de pesquisa, o homem em sociedade. 
Entretanto, como vimos, a Antropologia procura estudar mais as carac-
terísticas culturais, enquanto a Sociologia procura detalhar melhor a vi-
vência em sociedade e a experiência derivada desta prática. As regras e 
métodos de pesquisa de cada uma também podem produzir diferentes 
dados sobre um mesmo objeto em questão.
MÉTODOS E TÉCNICAS DA ANTROPOLOGIA
Os diferentes segmentos da Antropologia, seja ela Física, 
Biológica, ou Cultural são respaldados por métodos e técnicas que 
procuram dar credibilidade ao conhecimento produzido por esta área. 
É necessário compreender que todos os métodos e técnicas a serem 
apresentados aqui fi zeram parte na história do pensamento antropológi-
co a uma ou mais escolas específi cas, sendo assim, também estão rela-
cionados a um contexto de desenvolvimento da área enquanto ciência.
Podemos elencar os sete principais métodos da Antropologia:
a) Método histórico: talvez o mais esclarecido até o momento 
na unidade, desde Heródoto, por meio da História, o antropólogo busca 
entender as construções socais de um determinado objeto de pesquisa 
por meio de fatos históricos.
b) Método estatístico: representa um dos principais métodos 
quantitativos dentro das Ciências Sociais, procura quantifi car práticas 
que se repetem ou desviam de um padrão de comportamento em um 
determinado contexto social.
c) Método etnográfi co: derivado da Etnografi a e utilizado não 
só Antropologia, consiste em descrições sobre uma determinada socie-
dade/etnia e suas práticas.
d) Método comparativo: estuda diferentes sociedades a partir 
de dados ou materiais coletados, muitas vezes o entendimento de uma 
etnia pode consistir na contraposição com outra semelhante, mas perde 
seu valor caso entre em uma escala hierárquica de progresso.
e) Método monográfi co ou estudo de caso: procura detalhar 
de forma sucinta um grupo em especial ou biografi a de um indivíduo ou 
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coletividade, não se trata de um método exclusivo da Antropologia, mas 
representa a sistematização fi nal do trabalho de um antropólogo. 
f) Método genealógico: utilizado para organizar o parentesco 
de uma determinada etnia/grupo.
g) Método funcionalista: procura estudar um grupo, etnia ou 
sociedade a partir das funções que as instituições sociais possuem e 
sua relação com a cultura de um modo geral.
A grande diferenciação entre os métodos dentro da Antropo-
logia não exclui a possibilidade do antropólogo/pesquisador trabalhar 
com mais de um método,ou mesmo, ter que criar alguma ferramenta 
nova de acordo com as demandas que o campo de pesquisa possui.
As principais técnicas são divididas em três:
a) Observação: consiste no trabalho que o antropólogo possui 
de levar consigo toda sua bagagem de experiências pessoais e refe-
rencial teórico a campo para lidar em primeira pessoa com o objeto em 
pesquisa. É de suma importância perceber que, para cada escola de 
pensamento antropológico, há uma consideração sobre a técnica de 
observação, em outros casos, essa observação pode ser indiretamente, 
quando observa a relação de outras pessoas com o objeto de pesquisa 
em questão, mas em ambas é imprescindível a presença do pesquisa-
dor em campo6.
b) Entrevista: representa uma oportunidade prevista entre en-
trevistador e pesquisado, e com questões a serem debatidas. Ela pode 
ocorrer de forma estruturada – quando há um roteiro a ser seguido -, 
como também semiestrutura – quando há a liberdade de condição para 
a entrevista se desenvolver.
c) Formulário ou questionário: consiste no preenchimento por 
parte do pesquisado de questões dirigidas pelo pesquisador a fi m de 
responder questões pontuais.
6 “Campo” dentro da Antropologia representa todo o espaço que o pesquisador emerge 
para fazer sua pesquisa. Na atual conjuntura do pensamento antropológico, campo pode signifi car 
tanto estar em contato com uma etnia afastada de áreas urbanas, como participar de redes sociais 
virtuais para obter dados de sua pesquisa.
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Perceba que da primeira técnica à ultima, há um grau de pro-
ximidade que vai da participação efetiva em campo (1), ao distancia-
mento com o que ocorre ao redor do objeto de pesquisa (3). Esse fator 
implica sobre os dados que serão obtidos ao longo da pesquisa e refl ete 
as escolhas que foram objetivadas pelo projeto proposto.
Saiba mais
Filme: Os Mestres Loucos (1955 – Direção: Jean Rouch)
Observação: Como citado neste capítulo, há diversas 
formas de se fazer pesquisa em Antropologia, o fi lme acima 
é um exemplo de como o audiovisual pode servir como 
uma metodologia de trabalho.
ESCOLAS DE PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO E O ETNOCEN-
TRISMO
Até o momento, vimos uma ideia geral do que seria o pen-
samento antropológico, como ele se consolidou e por quais caminhos 
passou a ser reconhecido enquanto um campo científi co. Neste subitem 
iremos conhecer as principais escolas de pensamento antropológico 
que possuíam grande vínculo com o início da Antropologia entre o fi nal 
do século XIX e início do século XX.
Evolucionismo
As primeiras escolas responsáveis pela ascensão científi ca da 
área foram as escolas evolucionista e a difusionista. Os teóricos do sé-
culo XIX tentaram dar um novo rumo às discussões sobre a espécie 
humana ao aprofundar o conceito de cultura de acordo com a tempo-
ralidade em constante mutação de cada sociedade, a este fenômeno 
damos o nome de diacronia.
Tanto na História como na Antropologia é importante ressaltar 
a diferença entre diacronia e sincronia, pois ambos termos estão rela-
cionados a formas de entender o tempo histórico mas em percepções 
diferentes, o que também determinou diferenças entre escolas antropo-
lógicas. 
A diacronia está relacionada a sucessão de acontecimentos 
históricos, nela podemos perceber a história guiada por uma linha cro-
nológica em que os anos e séculos demonstram o passar do tempo em 
uma sucessão de fatos. Sendo assim, a percepção diacrônica da histó-
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ria estuda os fenômenos através do tempo. Já a sincronia se assemelha 
a uma fotografi a do tempo histórico em que não há uma preocupação 
sobre a sucessão dos fatos, e sim, a busca pelo entendimento daquele 
evento, como um recorte histórico.
Fica claro entre as duas percepções que a noção de progresso 
e movimento pode ter signifi cados diferentes. Quanto às escolas evolu-
cionistas e difusionistas podemos reconhecer a preocupação com um 
sentido evolutivo da histórica. O evolucionismo tinha como pressuposto 
a ideia de uma formação essencial dos seres humanos, em que o cará-
ter biológico e psíquico levavam todos a um mesmo desenvolvimento e 
caminho evolutivo da espécie. 
Estudar as sociedades “primitivas” seria o mesmo que estudar 
o começo de toda sociedade, assim como, o reconhecimento de suas 
instituições formadoras do meio social, como por exemplo, a religião e 
a família.
Não por acaso, a noção de desenvolvimento tecnológico este-
ve relacionado com o progresso evolutivo, o que portanto, fez entender 
que sociedades europeias eram mais avançadas a partir da conside-
ração de seu aparato industrial comparada a tribos sem produção em 
larga escala e recursos sofi sticados de sobrevivência.
Ao longo do subitem 2.3 desta unidade trataremos sobre a in-
fl uência de teorias das ciências naturais atreladas a ciências humanas. 
A ideia de evolução está relacionada a obra “A Origem das Espécies” 
(2859) de Charles Darwin, em que a linha de sucessões progressivas 
também são atribuídas aos estágios de desenvolvimento de uma socie-
dade, de seu comportamento e de suas práticas.
Dentro do pensamento fi losófi co e sociológico, o progresso na 
histórica também deu fruto ao positivismo de Augusto Comte (1798-
1857), em que o avanço das sociedades resultaria em um estágio mais 
“racional”.
Não por acaso, a escola antropológica do evolucionismo este-
ve relacionada ao período em que muitas metrópoles europeias ainda 
possuíam diversas colônias pela América, África e Oceania no século 
XIX.
O principal método de abordagem dessa escola foi o método 
comparativo. Dentro da ótica diacrônica, o tempo evolutivo de diferen-
tes sociedades pode resultar em dados de acordo com o ponto de vista 
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de quem faz a pesquisa. Por exemplo, a pesquisa feita pelos europeus 
sobre etnias africanas tem como ponto de partida a própria cultura eu-
ropeia neste sentido, o que colocava as culturas estudadas sob os va-
lores sociais europeus, sua concepção de moralidade, relações sociais 
e culturais.
Alguns dos principais autores dessa escola foram: Lewis Hen-
ry Morgan (1818-1881); Edward Burnett Tylor (1832-1917) e George 
Frazer (1854-1941). Morgan, advogado norte-americano, foi um dos 
primeiros a utilizar a pesquisa de campo como fonte de dados para a 
Antropologia. Em sua concepção, as sociedades poderiam ser enqua-
dradas em três estágios7 diferentes:
A Selvageria: surgimento da raça humana, com uma dieta ali-
mentar limitada a caça e a pesca, desenvolvimento do uso do fogo e 
invenção do arco e da fl echa.
A Barbárie: posterior a selvageria, estágio em que há a domes-
ticação dos animais, desenvolvimento da agricultura familiar, constru-
ção de casas de alvenaria e pôr fi m a fundição do ferro para o aperfei-
çoamento de ferramentas de metal.
A Civilização: último estágio da sociedade, em que há uma sis-
tematização alfabética e uso da escrita.
Mais uma vez vimos como o pensamento antropológico pas-
sou pelo dilema da escrita e da oralidade. Iremos constatar este fator 
em outras escolas de pensamento, mais adiante. Essa percepção nos 
faz reconhecer a importância do termo etnocentrismo na Antropologia.
Tylor foi um dos responsáveis pela organização do curso de 
Antropologia em Oxford nos Estados Unidos. Apesar de ter nascido em 
Londres, foi no México e em Cuba que desenvolveu suas concepções 
teóricas, sendo elas muito semelhantes à noção de seleção natural de 
Charles Darwin. 
7 A partir da ideia de estágios também podemos comparar a prática da Antropologia até 
então com a ideia de História linear, em que os acontecimentos se sucedem de maneira serial e 
organizados de maneira cronológica.
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Para Tylor, ao estudar a religião entre etnias locais por onde 
passou, desenvolveu uma sistematização de como funcionaria esta ins-
tituição de um modo geral incluindo as formas ocidentais de manifesta-
ção religiosa, para ele, haveria três estágios de evolução até chegar em 
seu aperfeiçoamento: do animismo ao politeísmo, até o monoteísmo.
O animismo se refere à oferendas a seres superiores incorpo-
rados a formas animais, seres da natureza e objeto inanimados como 
dotados de uma alma.
O segundo estágio, o politeísmo, seria o culto a divindades su-
periores com uma divisão por segmentos sobre a vida humana.
Por fi m, o monoteísmo representa a presença de um único ser 
superior onipresente, onisciente e onipotente.
Frazer, escocês de origem, se dedicou a entender a evolução 
do pensamento humano a partir do folclore, da mitologia e das religiões. 
Chegou à conclusão de que a mente humana respeita uma linha de pro-
gresso que vai do estado mágico ao religioso, e por fi m, ao estado cien-
tífi co. Sua principal obra, “O ramo de ouro” (1890), representa um dos 
grandes esforços dentro da Antropologia para tentar entender rituais e 
comportamentos mágicos, que posteriormente, sua linha de pesquisa 
seria dada continuidade por outros antropólogos.
Difusionismo
O difusionismo aparece como parte do primeiro subitem deste 
mesmo capítulo, pois sua forma de interpretar o tempo histórico tam-
bém está relacionada à diacronia. Apesar de ter ganhado força enquan-
to teoria no século XX, muito se assemelha às concepções teóricas do 
século XIX.
Comparado ao evolucionismo, o difusionismo demarca diferen-
cial ao postular que o que distinguia as sociedades entre si não eram 
apenas o estado de desenvolvimento no qual se encontravam, e sim, 
a origem de cada invenção que determinava a cultura de uma etnia, 
sendo então, incorporada ao longo do tempo pela identidade local. As 
culturas então, possuem uma mesma origem sob esta ótica, e seriam 
propagadas por meio da difusão, migração, apropriação, aculturação e 
assimilação. Cada uma representa:
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Difusão: fusão de uma cultura matriz com outras locais;
Migração: movimento de deslocamento de um grupo que 
carrega consigo determinada cultura;
Apropriação: uso prestigioso sobre determinados saberes 
de uma cultura e inserção em uma cultura local;
Aculturação: processo imperativo de uma cultura em 
detrimento de outra;
Assimilação: associação entre culturas de diferentes lugares e 
fusão entre si.
Na história do pensamento antropológico não há uma linha 
evolutiva de progresso, muito menos uma linearidade dos fatos ocorri-
dos. Podemos até supor que estamos diante mais de uma interpretação 
sincrônica do que diacrônica das escolas antropológicas. No entanto, 
podemos compreender que há superações entre elas, e uma delas foi 
provocada pelo difusionismo ao desconstruir em partes o pensamento 
colonial, ou seja, argumentos que legitimavam social, histórico e eco-
nomicamente a condição privilegiada de colonizadores e colonizados, 
enquanto explorados.
É possível afi rmar que a partir dessa escola duas etnias tão dis-
tantes geografi camente e temporalmente, como por exemplo, os nagôs 
na África, e os visigodos na Europa, tivessem semelhanças quanto a 
suas origens culturais, sendo assim, algumas das teorias evolucionistas 
cairiam por terra ao afi rmar que o progresso se tratava de um enquadra-
mento qualitativo, onde apenas algumas civilizações teriam destaque.
O racismo, um dos efeitos do evolucionismo e do “darwinismo 
social”, estava pautado sobre a crença da superioridade da biológica de 
uma raça sobre outra e a justifi cativa da submissão de povos a outros. 
O conhecido médico e antropólogo Paul Broca (1824-1880) desenvol-
veu no período técnicas da Antropometria o sufi ciente para reconhecer 
que havia mais diferenças entre indivíduos de uma mesma etnia do 
que quando comparados a outras. No entanto, veremos adiante que o 
mesmo médico e suas contribuições teóricas serviram para transferir as 
diferenças culturais para características biológicas8.
8 Mesmo auxiliando a desmitifi car preceitos coloniais, o difusionismo esteve longe de aca-
bar por vez dos argumentos que legitimara a exploração liderada pelas metrópoles.
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Após as primeiras críticas ao colonialismo no início do século 
XX, fi cou em destaque o quanto a presença de europeus em regiões 
que se tornaram colônia afetou a diversidade cultural de etnias locais. 
Como já sinalizamos, o uso autoritário da palavra escrita, colocou no 
pedestal um modelo de cultural em detrimento de outras.
Sobre a forma de trabalho da pesquisa difusionista, podemos 
destacar que o método comparativo deu continuidade às suas bases 
teóricas, contudo, o foco não se estabeleceu mais nas instituições de 
uma determinada etnia, e sim, às características culturais de uma insti-
tuição ou etnia relacionada a uma localidade geográfi ca.
Note que até o momento trabalhamos com escolas que se 
preocupavam com a cultura de grupos diversos, mas que esta mesma 
cultura nunca esteve dissociada da noção biológica do ser humano até 
então.
Algumas das teorias centrais defendidas pelo difusionismo fo-
ram as seguintes ideias:
Unidades culturais ou traços de uma cultura, em que um 
bem material ou imaterial pudesse ser reconhecido em 
outras regiões;
A circularidade desta unidade cultural, muito cara a ideia 
de difusão em outros territórios;
A localidade geográfi ca dessa unidade de cultura;
A transmissão cultural, que determina o movimento dos 
traços culturais entre etnias distintas.
Ao invés de tratarmos os autores que produziram pesquisas 
dentro do difusionismo, iremos apresentar alguns dos segmentos deste 
campo da Antropologia de acordo com suas principais acepções. Toda-
via, alguns nomes são importantes citar como Leo Frobenius (1873—
1938), na Alemanha, William James Perry (1868—1949), no Reino Uni-
do, e Emeterio Villamil de Rada (1804–1876) e Florentino Ameghino 
(1854–1911) na América do Sul9.
9 Vale lembrar que mesmo que haja registros de trabalhos dentro da escola de pensa-
mento antropológica difusionista na América do Sul, esta produção esteve voltada para os paradig-
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Um dos países que mais se apropriou dessa escola, a Alema-
nha, conseguiu consolidar o difusionismo germânico caracterizado pela 
percepção de que não havia uma única origem de todas as culturas, 
pois possuíam distintas formas de serem transmitidas. Mas ainda as-
sim, carregava uma visão etnocêntrica ao associar traços culturais con-
sideradas “avançadas” originada em civilizações brancas. Já no Reino 
Unido, a escola fi cou conhecida como hiperdifusionismo por levar ao 
extremo suas teorias de difusão da cultura, e esta teria sua origem única 
no Egito Antigo.
O difusionismo presente na América do Sul, também conheci-
do como Sul-Americano ou Autonomista, tinha como principal afi rmativa 
a ideia de que a origem de todas culturas não estaria no Egito, como 
pressupunha a escola britânica, mas sim, na Amazônia boliviana.
Além dessas escolas, podemos mencionar que outras pos-
teriores, como a culturalista de Franz Boas (1858-1942) nos Estados 
Unidos no início do século XX, se aproveitou da produção acadêmica 
de do método comparativo para suas pesquisas, o que também fi cou 
conhecido como difusionismo mitigado.
Podemos observar que mesmo havendo características a se-
rem superadas de uma escola a outra, todo esforço em refl etir sobre as 
práticas e costumes de etnias e civilizações contribuíram para o desen-
volvimento do pensamento antropológico. 
NOVAS PERSPECTIVAS A PARTIR DA ETNOGRAFIA
A partir do próximo capítulo iremos observar como a Etnogra-
fi a teve

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